conhecimento popular de agricultores e agricultoras torna-se base para pesquisa

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Conhecimento popular de agricultores e agricultoras torna-se base para pesquisa Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1993 Abril/2015 Maravilha A ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), em parceria com o Insa (Instituto Nacional do Semiárido) desenvolveu o projeto “Sistemas agrícolas familiares resilientes a eventos ambientais no contexto do Semiárido brasileiro: Alternativas para enfrentamento dos processos de desertificação e mudanças climáticas”. O projeto está sendo desenvolvido desde o ano de 2013 no Semiárido brasileiro com o objetivo de pesquisar as estratégias desenvolvidas por agricultores e agricultoras em suas comunidades para enfrentar os períodos de estiagem e as ações para combater a desertificação. Além disso, visualiza futuras estratégias para políticas públicas de convivência com o Semiárido. No estado de Alagoas o projeto está sendo desenvolvido em parceria com o CDECMA (Centro de Desenvolvimento Comunitário de Maravilha) pela agrônoma Soraya Carvalho Lemos. Ao falar sobre a importância do projeto ela ressalta: “Em nosso estado e no município de Maravilha, onde a pesquisa é desenvolvida, encontra-se um alto índice de desertificação, e esse tema não é abordado com freqüência. Esse projeto é importante porque se propõe a discutir essa temática’’. Agricultores que se destacam no projeto Entre os 10 agricultores que fazem parte da pesquisa estão o casal Maria Rosivânia Lemos e José Soares Vitor Filho , residentes na comunidade Boa Vista em Maravilha, Alagoas. A família conta algumas estratégias usadas na época de estiagem prolongada. “Sempre tomamos o cuidado de guardar uma parte do feijão nas garrafas, então mesmo que em determinado ano não tenha lavoura, nós ainda temos o feijão guardado para comer”, disse Maria Rosivânia. Outra estratégia da família é diversificar a produção. Além do milho e do feijão plantam hortaliças e vendem o excedente nas feiras locais. Porém, na época de estiagem tem a estratégia de diminuir a produção e plantam apenas para o consumo da família. Também, tem a produção de ovinos, suínos, gado e galinha. “Aqui criamos de tudo, tanto para nosso consumo como também para vender. O agricultor tem que ser esperto, aqui o leite não tem muita venda, então fazemos o queijo para vender”, diz José Vitor. Os agricultores relembram que nas estiagens anteriores as coisas eram mais difíceis, e atribuem essa mudança as políticas públicas e as informações que chegam para o agricultor. “Hoje nós somos orientados como fazer e cuidar do solo em nossa propriedade, e essas orientações veio com o programa da ASA para nos ajudar a viver melhor no campo. Temos também as cisternas que é a melhor coisa do mundo, porque permite que a gente tenha água no quintal de casa, mesmo quando não chove”, conta José Vitor. ‘O agricultor tem que ser esperto’’, diz José Vitor

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O projeto desenvolvido pela parceria entre Insa e ASA é desenvolvido com base no conhecimento popular de agricultores e agricultoras, sobre as estratégias desenvolvidas nas comunidades para sobreviver as épocas de estiagem prolongada e o que tem feito para combater a desertificação. Além disso, busca desenvolver futuras políticas públicas.

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Conhecimento popular de agricultorese agricultoras torna-se base para pesquisa

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1993

Abril/2015

Maravilha

A ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), em parceria com o Insa (Instituto Nacional do Semiárido) desenvolveu o projeto “Sistemas agrícolas familiares resilientes a eventos ambientais no contexto do Semiárido brasileiro: Alternativas para enfrentamento dos processos de desertificação e mudanças climáticas”. O projeto está sendo desenvolvido desde o ano de 2013 no Semiárido brasileiro com o objetivo de pesquisar as estratégias desenvolvidas por agricultores e agricultoras em suas comunidades para enfrentar os períodos de estiagem e as ações para combater a desertificação. Além disso, visualiza futuras estratégias para políticas públicas de convivência com o Semiárido. No estado de Alagoas o projeto está sendo desenvolvido em parceria com o CDECMA (Centro de Desenvolvimento Comunitário de Maravilha) pela agrônoma Soraya Carvalho Lemos. Ao falar sobre a importância do projeto ela ressalta: “Em nosso estado e no município de Maravilha, onde a pesquisa é desenvolvida, encontra-se um alto índice de desertificação, e esse tema não é abordado com freqüência. Esse projeto é importante porque se propõe a discutir essa temática’’.

Agricultores que se destacam no projeto

Entre os 10 agricultores que fazem parte da pesquisa estão o casal Maria Rosivânia Lemos e José Soares Vitor Filho , residentes na comunidade Boa Vista em Maravilha, Alagoas.

A família conta algumas estratégias usadas na época de estiagem prolongada. “Sempre tomamos o cuidado de guardar uma parte do feijão nas garrafas, então mesmo que em determinado ano não tenha lavoura, nós ainda temos o feijão guardado para comer”, disse Maria Rosivânia.

Outra estratégia da família é diversificar a produção. Além do milho e do feijão plantam hortaliças e vendem o excedente nas feiras locais. Porém, na época de estiagem tem a estratégia de diminuir a produção e plantam apenas para o consumo da família. Também, tem a produção de ovinos, suínos, gado e galinha. “Aqui criamos de tudo, tanto para nosso consumo como também para vender. O agricultor tem que ser esperto, aqui o leite não tem muita venda, então fazemos o queijo para vender”, diz José Vitor. Os agricultores relembram que nas estiagens anteriores as coisas eram mais difíceis, e atribuem essa mudança as políticas públicas e as informações que chegam para o agricultor. “Hoje nós somos orientados como fazer e cuidar do solo em nossa propriedade, e essas orientações veio com o programa da ASA para nos ajudar a viver melhor no campo. Temos também as cisternas que é a melhor coisa do mundo, porque permite que a gente tenha água no quintal de casa, mesmo quando não chove”, conta José Vitor.

‘‘O agricultor tem que ser esperto’’, diz José Vitor

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Alagoas

Produção agroecológica

Outro agricultor que se destaca na convivência com o Semiárido é Francisco de Assis da Silva, popular Preguinho, da comunidade São Luiz em Maravilha, Alagoas. Ele tem alcançado bons resultados ao trabalhar com a agroecologia e combatendo a desertificação na propriedade onde vive. Essa prática tem contribuído para produção mesmo em épocas de estiagem. O agricultor conta orgulhoso: “Quando comprei esse pedaço de terra não tinha nenhuma árvore plantada. Nem uma vara pra fazer um espeto pra assar um pedaço de carne, então eu plantei umburana, sabiá, catingueira, craibera e outras árvores. No meio delas planto palma e hoje coloco minhas colmeias”.

Realização Apoio

As técnicas de uso sustentável do solo como cobertura morta, defensivos naturais, período de pousio, rotação de culturas, diversidade produtiva entre outras são desenvolvidas pelo agricultor. “Se eu usasse veneno contaminava a terra, os alimentos, minha saúde e as abelhas não iriam produzir mel de qualidade”.

Além do cultivo de espécies nativas, forragem e hortaliças ele também cria aves, ovinos e desenvolve a atividade de apicultura.

Boas práticas de convivência

Ainda na comunidade Boa Vista em Maravilha, Alagoas, o casal Roque Mendonça Rodrigues e Maria Cleide de Lima Rodrigues conseguem ter uma vida satisfatória no campo, mesmo nos períodos de estiagem prolongada. Segundo eles não existe segredo, e sim sabedoria adquirida. “Com o leite das vacas eu faço queijo para vender na cidade e na comunidade. Para aproveitar o soro do leite criamos os porcos, e para não comprar leitão deixamos alguns na reserva”, disse o agricultor Roque Mendonça.

De acordo com a agricultora Maria Cleide a resistência ao período de estiagem é devido as estratégias utilizadas no período chuvoso, ou seja, produzir em um período para colher no outro, e principalmente devido a conquista das cisternas para consumo humano e produção, além de outro reservatório que o esposo construiu.

Nesse Semiárido rico em potencialidade, agricultores mostram que é possível produzir com qualidade mesmo no período de estiagem. As práticas de convivência e resistência dos agricultores e agricultoras contribuirão para propostas de políticas públicas no projeto desenvolvido entre ASA e Insa.

O casal de agricultores aproveitam o leitepara fabricar queijos.

O agricultor Preguinho mostra que o Semiárido é rico em vidas.