comportamento mecÂnico de instrumentos...

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CÍNTIA BUENO DE PAULA COMPORTAMENTO MECÂNICO DE INSTRUMENTOS WAVEONE® E PROTAPER ® EM RELAÇÃO À TORÇÃO, DUREZA E TENACIDADE Programa de Pós-Graduação em Odontologia Av. Alfredo Baltazar da Silveira, 580 / cobertura Recreio dos Bandeirantes - Rio de Janeiro - RJ CEP: 20261-243 - Tels.: (21) 2497-8988

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i

CÍNTIA BUENO DE PAULA

COMPORTAMENTO MECÂNICO DE INSTRUMENTOS

WAVEONE® E PROTAPER®

EM RELAÇÃO À TORÇÃO, DUREZA E TENACIDADE

Programa de Pós-Graduação em Odontologia Av. Alfredo Baltazar da Silveira, 580 / cobertura Recreio dos Bandeirantes - Rio de Janeiro - RJ

CEP: 20261-243 - Tels.: (21) 2497-8988

ii

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

P324c PAULA, Cintia Bueno de.

Comportamento mecânico de instrumentos WaveOne e ProTaper em

relação à torção, dureza e tenacidade / Cintia Bueno de Paula - Rio de

Janeiro, 2014.

50f; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Odontologia) - Universidade Estácio de Sá,

2014.

Bibliografia: f.42

Orientadores: Prof. Mônica Aparecida Schultz Neves e Hélio Pereira

Lopes.

1. Liga NiTi M-Wire 2. Instrumentos WaveOne 3. Instrumentos

ProTaper 4. Tenacidade

CDD 617.643

ii

CINTIA BUENO DE PAULA

COMPORTAMENTO MECÂNICO DE INSTRUMENTOS

WAVEONE® E PROTAPER® EM RELAÇÃO À

TORÇÃO, DUREZA E TENACIDADE

Dissertação apresentada à

Faculdade de Odontologia da

Universidade Estácio de Sá,

visando à obtenção do grau de

Mestre em Odontologia

(Endodontia).

Orientadores:

Mônica Aparecida Schultz Neves

Hélio Pereira Lopes

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

RIO DE JANEIRO

2014

iii

DEDICATÓRIA

Aos meus pais Joaquim e Maria Concebida

que sempre me apoiaram em todos os momentos de minha vida!

Por acreditarem em mim e por serem sempre o meu sustento!

Ao meu querido e amado irmão Edson (in memorian),

por todo o incentivo dia após dia, por me ensinar tudo desta vida, por ser tão

articulado em cada conversa que tínhamos, por ser o meu exemplo, o meu

espelho em cada situação! Que saudades!!!

Amo cada um de vocês infinitamente!

“Amar o perdido deixa confundido este coração.

Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não.

As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão

Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.”

Carlos Drummond de Andrade (Memória)

iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus! Por me conceder tudo, principalmente a vida! Forças

para lutar e ter chegado até aqui! Por me conceder a graça da família que

tenho, agradeço também pelas dificuldades e obstáculos enfrentados nesta

vida, porque não?!

Ao Professor Hélio Pereira Lopes, meu segundo pai, pela confiança e por

também acreditar em mim. Pela sua tamanha competência e humildade, o que

faz de sua pessoa um ser mais que exemplar!

À Professora Mônica Aparecida Schultz Neves, pela sua colaboração e

dedicação, pela sua compreensão e por suas palavras de incentivo e apoio.

Ao Professor Carlos Nelson Elias e ao Instituto Militar de Engenharia do Rio de

Janeiro, por conceder as portas abertas para a realização deste trabalho, pelo

vasto conhecimento e valores que muito acrescentam à pesquisa.

Ao Professor Dr. José Freitas Siqueira Jr., por ser referência de profissional,

pesquisador e professor! Pelo exemplo de amor e dedicação no que faz!

Ao Professor Flávio Alves, pela sua compreensão em meio às dificuldades

enfrentadas. Pelo encantamento que sempre demonstrou ter em cada trabalho

realizado.

Ao Professor Victor Talarico Leal Vieira, pela sua disponibilidade de sempre!

Pela sua atenção e ensinamentos que muito contribuíram para a realização

deste trabalho.

À Professora Letícia Chaves pela simpatia e auxílio com suas sugestões.

Aos meus queridos professores e amigos da ABO-Alfenas/MG, Luiz Antônio

Lyon, Arlindo Costa e Eliana pelo carinho e ensinamentos que com certeza

fazem parte de mim!

Aos funcionários do laboratório de Biomateriais do IME-RJ, pela acolhida

durante os ensaios realizados.

v

À Márcia Valéria Vieira, pela sua ajuda durante o desenvolver do trabalho, com

as intermediações das informações.

Aos queridos amigos do Mestrado e Doutorado do PPGO, pela amizade.

Principalmente à Renata Soares, Renata Val, Sabrina, Helena, Eloana e

Edilene pelos bons momentos divididos em fraterno convívio e desabafos.

À todos os Professores e funcionários do PPGO, pela amizade e estímulo!

Agradeço também ao Dr. Pedro e a Maria de Lourdes que estiveram comigo

me apoiando e ensinando sempre: o meu muito obrigada!

vi

ÍNDICE

Pág.

RESUMO vii

ABSTRACT ix

LISTA DE FIGURAS x

LISTA DE TABELAS xi

LISTA DE ABREVIATURAS xii

1- INTRODUÇÃO 1

2- REVISÃO DE LITERATURA 5

3- JUSTIFCATIVA 18

4- HIPÓTESE 19

5- OBJETIVOS 20

6- MATERIAIS E MÉTODOS 21

7- RESULTADOS 28

8- DISCUSSÃO 36

9- CONCLUSÕES 43

10- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

11- ANEXOS 53

vii

RESUMO

Objetivo: Esse estudo avaliou a resistência à fratura por torção de duas

marcas de instrumentos mecanizados de NiTi, com formas geométricas

distintas e produzidas por ligas metálicas diferentes.

Materiais e Métodos: Quinze instrumentos WaveOne® Large e quinze

ProTaper® F4 foram selecionados e submetidos aos ensaios mecânicos de

torção, microdureza Vickers e tenacidade. No ensaio de torção foram avaliados

a deformação angular até a fratura e o torque máximo. As superfícies

fraturadas e as hastes helicoidais dos instrumentos foram analisadas por meio

de microscopia eletrônica de varredura (MEV).

Resultados: Os valores do ângulo máximo em torção foram maiores para o

ProTaper, enquanto que, o torque máximo em torção (N/cm) foi maior para o

WaveOne. Os valores de microdureza Vickers foram maiores para a liga NiTi

M-Wire enquanto que, o grupo controle apresentou maior tenacidade. O teste t

de Student demonstrou diferença significativa nos ensaios de torção (p < 0,05),

tenacidade e microdureza Vickers. A análise do MEV revelou deformação

plástica ao longo das hélices helicoidais de todos os instrumentos fraturados e

fratura tipo dúctil.

Conclusão: Os instrumentos fabricados em NiTi M-Wire apresentaram maior

resistência à fratura por torção e maior microdureza em comparação aos de

NiTi convencional. Devido ao maior ângulo de torção do ProTaper e a maior

deformação até a fratura, esses parâmetros tornam este instrumento mais

seguro do ponto de vista clínico.

Palavras-chave: Liga NiTi M-Wire; instrumentos WaveOne; instrumentos

ProTaper®; ângulo máximo em torção; torque máximo em torção; tenacidade.

viii

ABSTRACT

Objectives: This study evaluated the torsion fracture resistance of two brands

of mechanized NiTi instruments with similar geometry, but produced by different

metal alloys.

Materials and Methods: Fifteen Waveone Large and fifteen ProTaper®F4

instruments, were selected and subjected to mechanical torsion, Vickers

hardness and tenacity tests. The torsion test has evaluated the maximum

torque and angular deflection until fracture. Scanning electron microscopy

(SEM), analyzed the fractured surfaces and the helical shafts of the

instruments.

Results: The results of the maximum angle in the torsion test were greater for

ProTaper, whereas the maximum torque in torsion was higher for Waveone.

Vickers microhardness values were higher for M-Wire NiTi alloy, while control

group had a higher toughness. The Student t test showed a significant

difference in torsion test, toughness and Vickers hardness (p <.05). The SEM

analysis revealed plastic deformation along the helical blades of fractured

instruments and ductile fracture.

Conclusion: The endodontic instruments made of M-Wire NiTi showed greater

resistance to fracture torsional compared to conventional NiTi. Due to the larger

torsion angle of ProTaper and higher strain to fracture, these parameters make

this safer instrument clinical point of view.

Key words: NiTi M-Wire alloy; WaveOne instruments; ProTaper instruments;

maximum torsion angle; maximum torque in torsion; tenacity.

ix

LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 1 - Imagem representativa do instrumento WaveOne Large .......... 21

Figura 2 - Imagem representativa do instrumento ProTaper F4................ 21

Figura 3 - Fotografia do conjunto de torção................................................. 23

Figura 4 - Microdurômetro Micromet 2003 (A); corpo de prova embutido em

placa de resina (B), posicionamento do corpo de prova (C)..........................

25

Figura 5 - Fotografia do MEV Quanta FEG 250 ............................................ 26

Figura 6 – Média da tenacidade à fratura do instrumento WaveOne Large 30

Figura 7 - Média da tenacidade à fratura do instrumento ProTaper F4 30

Figura 8 - Instrumento WaveOne Large. (A e B) Haste de corte helicoidal;

(C, D e E); seções retas transversais ao longo da haste de corte helicoidal 32

Figura 9 - Instrumento ProTaper F4. (A) Haste de corte helicoidal; (B e C)

seções retas transversais ao longo da haste de corte helicoidal................... 32

Figura 10 - Deformação plástica na haste helicoidal do instrumento

WaveOne Large. Superfície fraturada com reversão da hélice junto ao

ponto de fratura ....................................................................................... 33

Figura 11 - Deformação plástica na haste helicoidal do instrumento

ProTaper F4. Superfície fraturada com reversão da hélice junto ao ponto

de fratura.................................................................................................. 34

Figura 12 - Superfície fraturada do tipo dúctil dos instrumentos WaveOne

Large e ProTaper F4. Ranhuras com trincas em diferentes

profundidades............................................................................................... 35

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Média e desvio padrão do ângulo máximo de torção em graus e em nº de voltas

Tabela 2. Média da força máxima (gf) e do torque máximo (gf.mm) em torção

Tabela 3. Média e desvio padrão da tenacidade à fratura por torção

Tabela 4. Média e desvio padrão dos valores da microdureza Vickers

28

28

29

31

xi

LISTA DE ABREVIATURAS

ADA - American Dental Association

D0 – Diâmetro da ponta da parte de trabalho de um instrumento endodôntico

EMF - Efeito Memória de Forma

IME – Instituto Militar de Engenharia

ISO - International Organization for Standardization

MEV – Microscópio Eletrônico de Varredura

MHV – Microhardness Vickers

NiTi – Níquel-Titânio

SCR – Sistema de Canais Radiculares

SE – Superelasticidade

1

1. INTRODUÇÃO

A periodontite apical é uma doença de natureza inflamatória e de origem

infecciosa, causada por micro-organismos presentes no sistema de canais

radiculares (SCR). Para que um bom resultado do tratamento endodôntico seja

alcançado, a comunidade microbiana que coloniza o interior dos canais

radiculares deve ser eliminada ou reduzida a níveis compatíveis com o reparo

das estruturas perirradiculares (SIQUEIRA & RÔÇAS, 2008; SIQUEIRA &

RÔÇAS, 2011).

Os principais objetivos do preparo químico-mecânico são a limpeza e a

modelagem do canal radicular. Para isso, empregam-se instrumentos

endodônticos, substâncias ou soluções químicas auxiliares, além da irrigação-

aspiração (LOPES et al., 2010c). A persistência de alguma espécie microbiana

após a instrumentação representa um fator de risco, podendo comprometer o

sucesso do tratamento endodôntico (SIQUEIRA & RÔÇAS, 2008).

Corroborando, KIM et al., (2012) afirmam que a eficácia na limpeza e

modelagem do canal radicular é o fator mais importante para alcançar os

objetivos biológicos e mecânicos da terapia endodôntica. Ao longo dos anos,

várias técnicas de instrumentação e tipos de instrumentos tem sido

introduzidos para este propósito. De acordo com SCHILDER (1974), o sucesso

da terapia endodôntica está diretamente ligado ao correto preparo do canal

radicular, seguindo os princípios baseados na limpeza e modelagem. A limpeza

do SCR visa à eliminação de irritantes como micro-organismos e seus

produtos, além do tecido pulpar vivo ou necrosado, criando um ambiente

propício para a reparação dos tecidos perirradiculares. A confecção de um

canal em formato cônico por meio da ampliação e modelagem favorece a uma

2

obturação tridimensional, preenchendo todo o espaço do canal radicular,

mantendo a forma original deste e o forame apical, em sua posição (LOPES et

al., 2010c).

Em canais curvos, a ampliação do volume acompanhado do

desenvolvimento de um formato cônico e a permanência do formato original do

canal, podem ser tarefas difíceis de serem alcançadas. A utilização de

instrumentos de aço inoxidável em canais curvos pode com frequência,

ocasionar iatrogenias durante a instrumentação do segmento apical do canal

(LOPES et al., 2010c). Deve-se ressaltar que o diâmetro da ampliação do

preparo do segmento apical não deve ser ditado pela vontade do profissional,

mas sim, pela anatomia do canal, forma e dimensões (geometria) do segmento

radicular apical e, principalmente, pela flexibilidade e conicidade do instrumento

endodôntico empregado (LOPES et al., 2009). Para PETRINI et al., (2009), os

instrumentos devem apresentar boa flexibilidade e um perfil de corte, a fim de

penetrar nas paredes do canal removendo a dentina contaminada.

Segundo LOPES et al., (2010a), o aço inoxidável passou a ser

empregado com maior frequência na fabricação de instrumentos endodônticos

a partir de 1961, pois até então eram comercializados apenas em aço carbono.

Os instrumentos de aço inoxidável foram ganhando cada vez mais preferência,

principalmente devido às vantagens com relação à tenacidade, dureza,

capacidade de corte, resistência à corrosão e à fratura. Em 1982, a American

Dental Association (ADA) propôs uma revisão na especificação de número 28,

retirando desta, os instrumentos de aço carbono.

Já em 2001 a ADA propôs uma nova revisão, a norma ADA 101 para

instrumentos mecanizados (American Dental Association, 1982).

3

Tradicionalmente, os instrumentos manuais de aço inoxidável vinham

sendo utilizados nos procedimentos de limpeza e modelagem do canal

radicular. Há muito se reconheceu que o uso desses instrumentos associados

às alterações indesejáveis da morfologia do canal radicular, dificulta o preparo

do mesmo e uma adequada obturação. Para superar esses efeitos

indesejáveis, instrumentos de níquel-titânio (NiTi) foram introduzidos no início

de 1990. Esses demonstraram um aumento significativo na flexibilidade, o que

permitiu a fabricação de instrumentos com novas geometrias em termos de

secção reta transversal e conicidade, além de serem utilizados em conjunto

com motores rotatórios, aumentando a eficiência no preparo do canal radicular.

Além do aumento da eficiência, os instrumentos rotatórios de NiTi produzem

resultados mais previsíveis na instrumentação do canal radicular, promovendo

melhor manutenção da morfologia do canal original, menor transporte apical e

manutenção da posição foraminal (GLOSSON et al., 1995; BAHIA et al., 2005;

AL-HADLAK et al., 2010).

Atualmente os instrumentos rotatórios de NiTi são comumente usados

na prática endodôntica, oferecendo muitas vantagens sobre os convencionais

de aço inoxidável, uma vez que são mais flexíveis e aumentam a eficiência de

corte (PETERS, 2004; SCHÄFER et al., 2004). A superelasticidade dos

instrumentos rotatórios de NiTi permite ao profissional produzir um canal

radicular de forma cônica desejável, com tendência reduzida ao transporte

deste. Apesar dessas vantagens, os instrumentos rotatórios de NiTi parecem

ter um risco elevado de fratura por fadiga ou torção (CHEN & MESSER, 2002;

PETERS, 2004).

4

A presença de pontos concentradores de tensão como defeitos de

acabamento superficial ou pontas com formas diferentes das preconizadas

pelos fabricantes, pode induzir à fratura do instrumento a níveis inferiores de

tensão dos teoricamente esperados. Uma das principais propriedades

mecânicas dos instrumentos endodônticos é sua resistência à fratura, ou seja,

a tensão máxima suportada pelo instrumento antes da fratura. A fratura pode

ser avaliada e analisada por meio de ensaios mecânicos ou pelo uso clínico

(LOPES et al., 2010b), ocorrendo sob duas circunstâncias: por torção e por

flexão rotativa (fadiga) (SATTAPAN et al., 2000b; LOPES & ELIAS, 2001).

Durante o preparo químico-mecânico, a fratura do instrumento endodôntico

geralmente está associada a alguns fatores como o desconhecimento das

propriedades mecânicas do material, a impossibilidade de observar defeitos de

fabricação e deformações criadas no instrumento, além da ausência de

habilidade do profissional (LOPES et al., 2000).

O movimento oscilatório foi desenvolvido visando reduzir a tensão

gerada durante a instrumentação, além de promover o conceito do uso de um

único instrumento para todo o preparo do canal, característica esta, que vem

despertando muito interesse pelos profissionais. No movimento oscilatório, o

risco de fratura por torção é reduzido porque, os ângulos de rotação são

menores do que 360º (rotação contínua) (YARED, 2008). Dados recentes da

literatura (VERSLUIS et al., 2012) demonstram que o movimento oscilatório

pode aumentar a resistência à fadiga de instrumentos de NiTi quando

comparado com o movimento de rotação contínua.

5

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Instrumentos Endodônticos de NiTi

Atualmente, as ligas NiTi são largamente utilizadas devido às suas

propriedades especiais como a superelasticidade (SE) e o efeito memória de

forma (EMF). Além disso, possuem elevada resistência à corrosão e

biocompatibilidade (THOMPSON, 2000; LEONARDO et al., 2009).

A liga NiTi foi desenvolvida no início da década de sessenta, por

pesquisadores que buscavam um material com propriedades antimagnéticas e

resistência à corrosão por pites em água do mar. Esta liga foi utilizada no

programa espacial americano para a fabricação de antenas, naves e satélites

espaciais. O termo NiTiNOL originou da associação de níquel “Ni”, titânio “Ti” e

“NOL”, Naval Ordnance Laboratory (Silver Springs, Maryland, EUA), local onde

foi a liga foi desenvolvida. NiTiNOL representa uma família da liga NiTi que

possui propriedades únicas: memória de forma e superelasticidade. Essas

características se devem principalmente à capacidade da liga NiTi em

recuperar deformações em torno de 8% após a retirada da carga, conferindo

grande flexibilidade aos instrumentos. Além disso, promove eficiente limpeza e

praticamente mantêm o trajeto original do canal, mesmo em curvaturas bem

acentuadas (PRUETT et al., 1997; THOMPSON, 2000; MELO et al., 2002;

LOPES et al., 2010a; GUTMANN & GAO, 2012; MORGENTAL, 2012).

Em um trabalho experimental, WALIA et al., (1988) introduziram a liga

NiTi na endodontia fabricando instrumentos de número 15, a partir de fios

ortodônticos de NiTi. De acordo com esses autores, a liga NiTi possui

propriedades de flexão e torção muito promissoras, demonstrando de duas a

três vezes mais elasticidade, do que os instrumentos de aço inoxidável de

6

tamanho e desenho similares, além da grande resistência à fratura por torção.

Com estas propriedades mecânicas, os instrumentos melhoraram o

desempenho em canal curvo, reduzindo o deslocamento apical e a alteração

da forma original do canal radicular.

As propriedades mecânicas da liga NiTi permitiram a fabricação de

instrumentos com novas geometrias em termos de seção reta transversal e

conicidade, além de possibilitar uma parceria com a engenharia que resultou

no desenvolvimento de instrumentos de NiTi acionados a motor (GLOSSON et

al., 1995; GUTMANN & GAO, 2012).

O desenvolvimento de ligas de melhor qualidade, movimentos

diferenciados e novos conceitos de utilização, representam três grandes

mudanças, que permitiram melhorar a segurança do instrumento de NiTi.

M-Wire é uma liga NiTi desenvolvida por um processo de tratamento

térmico inovador, o qual aumenta a flexibilidade e a resistência à fratura por

fadiga cíclica em quase quatro vezes (ARIAS et al., 2012; BÜRKLEIN &

SHÄFER, 2012). Segundo KIM et al., (2012), as informações sobre o

comportamento dos instrumentos que usam o movimento oscilatório e a

composição da liga ainda são limitadas, consistindo em segredo de fabricação.

2.1.1 Instrumentos Endodônticos ProTaper Universal

Os instrumentos do sistema ProTaper Universal (Dentsply Maillefer,

Ballaigues, Suíça) são fabricados por usinagem de um fio metálico de NiTi. O

sistema é constituído por dois tipos de instrumentos denominados modelador

(Shaping files) e de acabamento (Finishing files). Estes apresentam

conicidades variadas ao longo da haste de corte helicoidal, permitindo que o

7

instrumento trabalhe em uma área específica do canal durante a

instrumentação e ao ser empregado no comprimento de trabalho, promova a

modelagem no sentido coroa-ápice. Durante o preparo do canal, a conicidade

variável reduz o efeito de roscamento do instrumento, aumenta a conicidade do

segmento apical e promove uma adequada modelagem empregando poucos

instrumentos (LOPES et al., 2010a). Apresentam-se comercialmente nos

comprimentos úteis de 21, 25 e 31 mm, sendo 16 mm na parte de trabalho

(LOPES et al., 2010a). Os instrumentos ProTaper Universal são fabricados

tanto na versão manual (cabo), como na mecanizada (haste de fixação),

apresentando características geométricas (forma e dimensões) idênticas em

ambas versões. A haste de fixação e acionamento tem 13 mm de comprimento

e diâmetro de 2,30 mm (LOPES et al., 2010a).

BERUTTI et al., (2004) para avaliar a influência do pré-alargamento

manual e do torque na falha do sistema ProTaper Universal, utilizaram o

instrumento F2 em quatro blocos em baixo torque e onze blocos em alto

torque. Concluíram, que o pré-alargamento é uma manobra facilitadora, sendo

um fator determinante na redução da taxa de fratura desses instrumentos.

Em estudo avaliando transporte apical, YOSHIMINE & AKAMINE (2005)

compararam a modelagem de canais, utilizando três sistemas rotatórios de

NiTi: ProTaper Universal, K3 (SybronEndo, Orange, CA, EUA) e RaCe (FKG

Dentaire SA, La Chaux-de-Fonds, Suíça). Canais simulados em forma de “S”

confeccionados em bloco de resina transparente foram preparados por meio de

instrumentos acionados por motor elétrico (baixa velocidade) e pela técnica

coroa-ápice. As alterações foram avaliadas sobrepondo imagens pré e pós-

instrumentação, obtidas por meio de um microscópio óptico. O grupo ProTaper

8

proporcionou maior ampliação em comparação aos demais (K3 e RaCe). Os

resultados sugerem que o uso do sistema ProTaper Universal deve ser

combinado com outros sistemas de menor conicidade e mais flexíveis, a fim de

evitar a transportação apical em canais severamente curvos YOSHIMINE e

AKAMINE (2005).

ULMANN & PETERS (2005) ao testarem o ProTaper, salientaram que os

instrumentos de maior diâmetro, além de menos resistentes à fadiga, também

são mais sensíveis ao efeito do pré carregamento, após usos sucessivos.

Esses autores recomendam a utilização cuidadosa, principalmente em canal

com acentuado arco de curvatura e preferencialmente, descartar o instrumento

após um único uso.

2.1.2 Instrumentos Endodônticos WaveOne

Os instrumentos do sistema WaveOne (Dentsply Tulsa Dental

Specialties, Tulsa, OK, EUA) são fabricados por usinagem de um fio metálico

de NiTi, com tecnologia M-Wire. Esse sistema promove a utilização de um

único instrumento no preparo do canal, por meio do movimento reciprocante

(rotação oscilatória). Os instrumentos WaveOne® são comercializados nos

comprimentos de 21, 25 e 31 mm, diâmetros/conicidades de 21/.06 (Small),

25/.08 (Primary) e 40/.08 (Large) e com conicidade constante nos 3 mm

apicais, decrescendo até D16 (BÜRKLEIN et al., 2012). Outra característica

marcante desse sistema é a diferença nas seções retas transversais, ao longo

do eixo da haste de corte helicoidal.

9

2.2 Fratura dos Instrumentos Endodônticos

Durante o preparo químico-mecânico de um canal radicular, os

instrumentos endodônticos sofrem tensões extremamente adversas que variam

com a anatomia do canal, com as dimensões dos instrumentos e com a

habilidade do profissional. Essas tensões adversas, em conjunto com pontos

concentradores de tensão no instrumento, podem levar à fratura durante a

instrumentação do canal radicular (LOPES et al., 2010c; LOPES et al., 2011).

Limpar e modelar adequadamente os canais radiculares de forma

segura depende do comportamento mecânico dos instrumentos endodônticos.

Um conhecimento insuficiente das características dos instrumentos pode levar

a erros processuais (degraus e transporte) e/ou a fratura do instrumento.

Segundo alguns autores (CASTELLO-ESCRIVÁ et al., 2012; LOPES et al.,

2013), a flexibilidade e a resistência à fratura estão entre as principais

propriedades mecânicas que podem influenciar no desempenho dos

instrumentos, durante o preparo de canais curvos.

Segundo LOPES et al., (2010b), a fratura dos materiais quando

submetido a um carregamento, inicia-se na forma de trincas. Essas se

apresentam como descontinuidades abertas na superfície ou internas,

originadas de tensões localizadas, cujos valores excedem o limite de ruptura do

material. Qualquer processo de fratura envolve duas etapas: a formação

(nucleação) e a propagação de trincas, em resposta à imposição de uma

tensão.

A fratura dos instrumentos endodônticos pode ocorrer por carregamento

de torção, dobramento alternado, flexão rotativa e por suas combinações

(LOPES et al., 2010).

10

De acordo com alguns autores (SATTAPAN et al., 2000; AL-HADLAK et

al., 2010; GAMBARINI et al., 2012; KIM et al., 2012), a fratura por torção ocorre

quando a ponta ou qualquer outra parte do instrumento prende-se ao canal,

enquanto o seu eixo continua em rotação.

Para ocorrer a fratura por flexão rotativa, o instrumento endodôntico

precisa estar girando no interior de um canal curvo, dentro do limite elástico do

material. No ponto máximo de flexão da haste de corte helicoidal cônica,

localizada próximo ao ponto médio do arco, o instrumento sofre carregamentos

dinâmicos repetitivos (trações e compressões), até ocorrer a fratura por fadiga.

Segundo PRUETT et al., (1997), a ocorrência da fadiga é mais comum em

canal de curvatura aguda e com pequeno raio, sendo esta considerada a

principal causa da separação dos instrumentos de NiTi. Do ponto de vista

clínico, acredita-se que esta condição é um fator relevante para a fratura de

instrumentos rotatórios de NiTi (SATTAPAN et al., 2000; MELO et al., 2002;

AL-HADLAK et al., 2010; LOPES et al., 2011; GAMBARINI et al., 2012; KIM et

al., 2012).

A introdução da liga NiTi promoveu um grande avanço na endodontia,

principalmente devido à sua superelasticidade. Este comportamento elástico

atípico confere aos instrumentos maior flexibilidade e resistência à fratura por

torção, em comparação aos de aço inoxidável. Apesar dessas vantagens, o

risco de fratura durante a terapia endodôntica permanece, sendo a sobrecarga

de torção, uma das principais razões para a separação ortodôntica (NINAN &

BERZINS, 2013).

A força de torção está relacionada a quanto um instrumento pode torcer

antes de fraturar, e é desejável no preparo de canais estreitos, onde o

11

instrumento é submetido a altas cargas de torção. Da mesma forma, em canais

curvos, a resistência à flexão influencia na instrumentação. Portanto, o

conhecimento dessas propriedades pelo profissional é importante e valioso,

especialmente porque novos sistemas de instrumentação surgiram no mercado

(NINAN & BERZINS, 2013).

Dois sistemas inovadores introduziram instrumentos produzidos a partir

do fio de NiTi M-Wire e memória térmica controlada. Através de um tratamento

termomecânico especial no fio de NiTi (tecnologia M-Wire), o instrumento se

tornou mais flexível, permitindo um melhor acesso e preparo em canais curvos.

Apesar de diferenças quanto ao design, os instrumentos GT Série X e

Vortex (Dentsply Tulsa Dental Specialties, Tulsa, OK, EUA) são produzidos

com fio NiTi M-Wire.

Os sistemas CM Wire (D & S Dental, Johnson City, TN, EUA), HyFlex

CM (Coltene/Whaledent Inc, Cuyahoga Falls, OH) e Phoenix Flex (Instruments

Gold Standard, Brookfield, WI, EUA) representam a última geração de

instrumentos de NiTi rotatórios. Os dois primeiros fabricantes afirmam que seus

instrumentos possuem ''memória controlada'', e o último, ''memória térmica''.

De acordo com a literatura ortodôntica, ao contrário dos instrumentos de NiTi

convencionais que possuem uma transformação de fase induzida por estresse,

o comportamento desses novos instrumentos se aproxima mais do que se

denomina martensítico-ativo ou memória de forma (NINAN & BERZINS, 2013).

Buscando aliviar o estresse sobre o instrumento, dois sistemas

mecanizados de NiTi com movimento oscilatório (reciprocante) foram

recentemente introduzidos no mercado: Reciproc (VDW, Munique, Alemanha) e

WaveOne. Segundo os fabricantes esses instrumentos são impulsionados por

12

um motor próprio, com uma programação específica predefinida (DE-DEUS et

al., 2013). O movimento reciprocante reduz a torção periodicamente,

invertendo a rotação (Reciproc® a 150° no sentido anti-horário, seguido de uma

rotação de 30° no sentido horário; WaveOne 170° no sentido anti-horário,

seguido de uma rotação de 50° no sentido horário) (KIM et al., 2012). Segundo

DE-DEUS et al., (2013), essa cinemática aumenta a vida útil do instrumento de

NiTi e consequentemente, aumenta a resistência à fratura por fadiga, em

comparação com o movimento de rotação contínua. Certamente, isso se deve

ao fato de que o instrumento percorre uma distância angular, menor do que o

instrumento em rotação contínua, e portanto, está sujeito a valores inferiores de

estresse, prolongando a vida em fadiga (CASTELLÓ-ESCRIVÁ et al., 2012).

Para LOPES et al., (2013), o movimento oscilatório é em última análise, um

recurso para aumentar a vida útil do instrumento de NiTi mecanizado.

O conhecimento do comportamento mecânico é de muita valia na

previsibilidade do desempenho clínico do instrumento endodôntico, contudo os

fabricantes não disponibilizam essas informações para o profissional. Segundo

LOPES et al., (2013), existe uma hipótese de que uma nova geração de

instrumentos fabricados com liga NiTi modificada apresente um comportamento

mecânico superior, quando comparado aos fabricados a partir de liga NiTi

convencional.

2.3. Ensaios Mecânicos

O ensaio mecânico tem como objetivo determinar a relação existente

entre os esforços aplicados no material e sua reação a esses esforços.

Baseado nos resultados obtidos é possível predizer o comportamento

mecânico assim como, a condição de carregamento que produz deformação e

13

fratura do material. São realizados com corpo-de-prova de formas e dimensões

padronizadas, testadas em máquinas e equipamentos específicos. O preparo

do corpo de prova pode ser baseado nas especificações das normas ou

utilizando o produto no estado em que é comercializado, ou seja, como o

instrumento endodôntico. Portanto, por meio de ensaios são analisadas

determinadas propriedades mecânicas dos materiais ou de produtos acabados

(ELIAS & LOPES, 2007). De acordo com esses autores, não existe um ensaio

capaz de fornecer todas as propriedades mecânicas do material ou que simule

completamente o emprego do instrumento. Além disso, quanto maior o número

de propriedades mecânicas que se deseja determinar ou maior a complexidade

do carregamento real, mais diversificados serão os ensaios mecânicos. Por

esse motivo, os resultados obtidos por diferentes ensaios são complementares.

Com o objetivo de correlacionar resistência mecânica com

microestrutura, os ensaios mecânicos são complementados por exames de

microscopia óptica ou eletrônica do material ou instrumento. A análise da

microestrutura permite predizer o comportamento dos materiais, explicar a

diferença na resistência mecânica e propor modificações na fabricação, no

processamento e no tratamento térmico (ELIAS & LOPES, 2007; LOPES et al.,

2010a).

O aumento da resistência à fratura pode ser avaliado por meio de

ensaios mecânicos. O desenvolvimento de projetos inovadores de fabricação

tem sido o principal objetivo dos fabricantes, na tentativa de aumentar a

segurança dos instrumentos endodônticos, durante o preparo dos canais

radiculares (LOPES et al., 2010b).

14

2.3.1 Ensaio de Microdureza Vickers

A dureza pode ser definida como a capacidade de um material em

resistir à deformação plástica, ao desgaste, ao corte e a absorção de energia

de impacto. A principal vantagem na determinação da dureza de um material,

reside no fato dessa propriedade possuir proporcionalidade com outras

propriedades mecânicas (ELIAS & LOPES, 2007).

No ensaio de dureza, mede-se a resistência do material à deformação

compressiva aplicada por um penetrador acoplado a um equipamento especial.

A dureza é expressa por um número adimensional, o qual depende da carga

aplicada, do modo de duração da aplicação da carga, e do tipo de penetrador

empregado. O ensaio de dureza é bastante empregado em pesquisas, sendo

um parâmetro de referência na escolha dos materiais (ELIAS & LOPES, 2007).

A dureza de Vickers recebeu tal nome, devido ao fato da companhia

Vickers-Armstrong Ltda. ser a responsável pela fabricação das primeiras

máquinas para esse tipo de ensaio, proposta em 1925, por Smith e

Sanderland. Por meio de um penetrador de diamante piramidal, de base

quadrada e ângulo de 136° entre as faces opostas, as impressões são geradas

na forma de uma pirâmide invertida de base quadrada (ELIAS & LOPES,

2007).

Além da dureza convencional temos a microdureza, sendo empregada

na determinação da dureza de constituintes individuais de uma microestrutura,

de materiais frágeis, de peças extremamente pequenas ou finas. A diferença

entre o ensaio de dureza convencional e o de microdureza está na intensidade

da carga de compressão do penetrador, que deve ser no máximo de 1,0 kgf. A

edentação marcada na superfície da amostra pelo penetrador da máquina de

15

ensaio de microdureza é visualizada apenas por microscópio. As amostras são

pequenas e requerem o embutimento em resina acrílica ou epóxi para garantir

uma boa estabilidade durante o ensaio. Qualquer movimento da amostra

durante a aplicação da carga pode danificar o penetrador. A amostra deve ter

uma superfície plana e bem polida, a fim de permitir a observação da marca,

por meio de um microscópio acoplado ao equipamento. Quanto mais polida a

amostra, melhor a qualidade da leitura das dimensões da impressão (ELIAS &

LOPES, 2007).

2.3.2 Ensaio de Torção

O ensaio de torção consiste em aplicar uma força no instrumento

endodôntico para induzir um movimento de rotação em torno do seu centro de

resistência. Para a execução do ensaio, uma das extremidades do instrumento

é fixada, enquanto que um momento é aplicado na extremidade oposta. A

variação do ângulo de torção e o torque aplicado são mensurados durante o

ensaio, e este pode tanto ser realizado até a fratura do instrumento,

determinando o torque máximo de resistência, como também, ser interrompido

pelo operador, antes de ocorrer a fratura (ELIAS & LOPES, 2007).

Entre as vantagens desse ensaio, está a possibilidade de quantificar a

resistência à torção e o ângulo máximo em que os instrumentos rotatórios

resistem à determinação do módulo de cisalhamento, além das propriedades

mecânicas de produtos acabados (ELIAS & LOPES, 2007).

Alguns fatores devem ser considerados no ensaio de torção como: as

dimensões dos instrumentos junto ao ponto de imobilização; a conicidade da

parte de trabalho; a forma e a área da seção reta transversal; o acabamento

superficial e o número de instrumentos selecionados para o ensaio. Diversos

16

parâmetros podem ser determinados na avaliação do comportamento

mecânico de um instrumento em torção. Entre eles, o ângulo máximo de torção

até a fratura, o torque máximo antes da fratura e a tenacidade. Dentre esses, o

principal parâmetro avaliado é o ângulo máximo de torção e não o torque

máximo. Isto porque, esse parâmetro atua como um fator de segurança,

mantendo o torque aplicado, aquém do limite de resistência à fratura. Quanto

maior o ângulo de torção de um instrumento até a fratura, maior será a sua

deformação elástica e plástica, antes do início da fratura. Todavia, deve-se

determinar os dois parâmetros como descrito pela ADA n° 28 e ANSI/ADA

(1982) e ADA nº 101 ANSI/ADA (2001). A avaliação do torque na fratura

fornece ao profissional, o torque máximo possível aplicado ao instrumento. A

determinação do torque máximo no qual o instrumento resiste à fratura é

importante, pois permite comparar a resistência de diferentes tipos de

instrumentos, além de auxiliar no ajuste de motores elétricos com programação

de torque. Nesses motores, o torque programado para cada instrumento deve

ficar aquém do limite de resistência à fratura por torção (ELIAS & LOPES,

2007).

A tenacidade à fratura por torção do material é definida como a

resistência deste à propagação de uma trinca, ou seja, informa a capacidade

do material em resistir a carregamentos, sofrendo grandes deformações

elásticas e plásticas, porém sem atingir a ruptura. De acordo com LOPES et al.,

(2010a), os materiais classificados como frágeis apresentam baixa tenacidade,

enquanto que os dúcteis, alta tenacidade. Essa propriedade pode ser calculada

pela integral obtida da curva de tensão versus curva de deformação, até o

ponto de fratura do material (YUM et al., 2011).

17

3. JUSTIFICATIVA

O risco de fratura por torção de instrumentos endodônticos de NiTi

acionados a motor durante o uso clínico, ainda é motivo de preocupação aos

profissionais. Novos instrumentos de NiTi acionados a motor, utilizando o

movimento de alargamento com rotação oscilatória, tem sido propostos na

tentativa de minimizar o risco de fraturas, durante o preparo do canal radicular.

A fratura por torção ocorre quando a ponta do instrumento é imobilizada no

interior do canal, e o ângulo máximo em torção e o torque aplicado ultrapassam

o limite de resistência à fratura por torção do material. Todavia, os fabricantes

não informam esses parâmetros, durante o uso clínico do instrumento. De

acordo com a literatura, ainda existem poucos estudos avaliando a dureza da

liga NiTi M-Wire relacionando essa propriedade mecânica, à resistência à

fratura por torção e à tenacidade à fratura do instrumento endodôntico

acionado a motor.

18

4. HIPÓTESE

Instrumentos endodônticos mecanizados fabricados com a liga NiTi M-

Wire apresentam menor microdureza Vickers, maior resistência à fratura por

torção e maior tenacidade à fratura, em relação aos fabricados com a liga NiTi

convencional.

19

5. OBJETIVOS

O objetivo geral desse trabalho foi comparar a resistência à fratura por

torção dos instrumentos WaveOne fabricados com liga NiTi M-Wire e ProTaper

(grupo controle), fabricados com liga de NiTi convencional.

Os objetivos específicos foram:

1) Obter e comparar os valores da microdureza Vickers dos instrumentos

WaveOne Large e ProTaper F4;

2) Avaliar e comparar a tenacidade à fratura dos instrumentos WaveOne Large

e ProTaper F4, a partir da resistência em torção;

3) Comparar os resultados obtidos por meio do ensaio mecânico de torção;

4) Através da MEV, descrever o desenho das seções retas transversais, a

configuração das hastes de corte helicoidais adjacentes à linha de fratura, e as

características superficiais da fratura, nos instrumentos submetidos ao ensaio

de torção.

20

6. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1. Instrumentos

Trinta instrumentos endodônticos foram selecionados, sendo quinze

WaveOne Large (Figura 1) e quinze ProTaper F4 (grupo controle) (Figura 2).

Todos os instrumentos apresentaram valor nominal em D0 igual a 0,40 mm e

comprimento total de 25 mm. Os instrumentos ProTaper F4 apresentaram

conicidade 0,06 mm/mm, enquanto que o WaveOne Large, conicidade 0,08

mm/mm ao longo dos últimos 3 mm a partir da ponta.

Figura 1. Imagem representativa do instrumento WaveOne Large www.dentsply.com

Figura 2. Imagem representativa do instrumento ProTaper F4 www.dentsply.com

6.2. Ensaio de Torção

Dez instrumentos WaveOne Large, com rotação à esquerda e dez

ProTaper F4 (grupo controle), com rotação à direita foram selecionados

21

aleatoriamente para o ensaio de torção, seguindo a metodologia proposta por

ELIAS & LOPES (2007).

Por meio do ensaio de fratura em torção foram avaliados, o ângulo

máximo em torção antes da fratura e o torque máximo em torção suportado

pelos instrumentos endodônticos.

A torção foi aplicada por meio de um dispositivo acoplado a uma

máquina de ensaio universal EMIC, DL 10.000 (Emic Equipamentos e Sistemas

de Ensaio Ltda., São José dos Pinhais, Paraná, Brasil), que permitiu a

monitoração da rotação e a determinação da força aplicada ao instrumento. Os

instrumentos foram imobilizados a 3 mm da ponta por uma morsa metálica.

Para evitar a deformação plástica dos segmentos dos instrumentos ensaiados

às garras da morsa foram recobertas com lâminas de cobre e trocadas a cada

três ensaios mecânicos. Para impedir a indução de tensão compressiva no

instrumento durante o ensaio de torção, empregou-se uma montagem (peça

em U) que permitiu o deslizamento da morsa de latão, que imobiliza a ponta do

instrumento. A outra extremidade do instrumento foi fixada em um mandril

específico colocado junto à haste de rotação do dispositivo (CARMO, 2001). A

distância entre o ponto de fixação da amostra na morsa e o ponto de aplicação

da força foi de 22 mm (comprimento útil do corpo-de-prova) (Figura 3).

A torção foi realizada mediante o enrolamento de um fio de nylon

trançado, com diâmetro de 0,3 mm no eixo de rotação do dispositivo de ensaio,

que apresenta 8 mm de diâmetro (r = 4 mm). Este fio conectou o eixo de

rotação do dispositivo de ensaio a uma célula de carga de 20N, acoplada à

cabeça da máquina de ensaio universal (LOPES, 2013).

22

Figura 3. Fotografia do conjunto de torção (LOPES, 2013).

O torque ao instrumento foi induzido pelo tracionamento do fio na

velocidade de 1 mm/s, gerando no eixo de rotação do dispositivo de ensaio, um

movimento rotacional de 2 rpm (ANSI/ADA 1982). Por meio de um painel de

comando, a calibração da máquina de ensaio universal e a sensibilidade do

dispositivo empregado foram verificados antes de cada ensaio. Esse

procedimento objetivou assegurar ausência de cargas sobre o instrumento

(LOPES, 2013).

A força e o deslocamento do fio até a fratura do instrumento foram

registrados continuamente por um microcomputador acoplado à máquina de

ensaio. Por meio do programa M test versão 1.01 (Emic Equipamentos e

Sistemas de Ensaio Ltda., São José dos Pinhais, Paraná, Brasil), determinou-

se o ângulo máximo de torção antes da fratura e o torque máximo em torção

suportado pelos instrumentos (LOPES, 2013). Para determinar o ângulo

máximo de torção até a fratura foi considerado o deformação máxima do

instrumento, empregando-se as fórmulas:

23

Ângulo máximo de torção (graus) = Deformação máxima do instrumento

x 360/ 2πR

Ângulo máximo de torção em números de volta = Graus/360

Para determinar o torque máximo em torção suportado pelo instrumento,

foi empregada a fórmula: Torque máximo suportado (gf.mm) = Força máxima

(gf) x Raio (mm).

O raio de 4,15 mm foi considerado no cálculo do ângulo máximo de

torção e do torque máximo em torção. Esse valor foi obtido pela soma do raio

do eixo de rotação do dispositivo do ensaio de torção (R = 4 mm), com o raio

do eixo do fio de nylon trançado (R = 0,15) (LOPES, 2013).

6.3. Tenacidade à fratura

Por meio de um computador, a tenacidade foi avaliada da área abaixo

de um platô, para cada instrumento. A curva Força x Deformação (N.mm) foi

calculada pelo programa OriginPro (OriginLab, Northampton, MA, EUA) e a

tenacidade do instrumento até a fratura, calculada pela área abaixo da curva

por integração.

6.4. Ensaio de Microdureza Vickers

No ensaio de microdureza Vickers foram utilizados dois instrumentos de

cada grupo, os quais foram embutidos em resina cristal (Duque Fibras, Duque

de Caxias, RJ, Brasil) no sentido longitudinal e vertidos em cilindros de PVC

(Tigre DN 40 NBR 5688), previamente vaselinados.

Para a avaliação da seção reta transversal, utilizou-se três instrumentos

de cada grupo, embutidos no sentido vertical. No embutimento para o ensaio

24

de microdureza, a haste de fixação do instrumento foi mantida paralela à base

do recipiente, a fim de manter a ponta do instrumento, após o preparo da

amostra. Lixas Norton de granulações 200, 300, 400, 600 e 1200 foram

utilizadas no desgaste do instrumento e para o polimento, alumina de

granulações 1, 0,5 e 0,25 μm, seguido da pasta de diamante. Após esse

preparo inicial, os corpos de prova foram avaliados por meio de um

microdurômetro Micromet 2003 (Bueler, Lake Bluff, IL, EUA) (Figura 4) com

edentações de 100 gf durante 15s, sendo as imagens avaliadas em aumento

de 40x. Entre as dez endentações realizadas na parte central de cada

instrumento, cinco foram no núcleo e cinco no intermediário, totalizando dez

endentações em cada instrumento ensaiado.

6.5. Análise no MEV

Para observação dos instrumentos empregados no estudo em relação a

forma da seção reta transversal, três instrumentos de cada grupo foram

Figura 4. Microdurômetro Micromet 2003 (A); corpo-de-prova embutido em placa de resina (B), posicionamento do corpo-de-prova (C).

A

B

C

25

avaliados pelo MEV Quanta FEG 250 (FEI, Hillsboro, Oregon, EUA) (Figura 5),

do laboratório de MEV do Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro (IME).

Três instrumentos fraturados de cada grupo foram selecionados

aleatoriamente, para a avaliação das superfícies de fratura. Os segmentos

fraturados foram acondicionados em frascos de Becker contendo acetona e em

seguida depositados no cesto de unidade ultrassônica contendo água,

operando em 40 khz por 12 minutos. A seguir, foram fixados num porta

amostras e observados no MEV. Os instrumentos foram fotomicrografados e

gravados em arquivo digital para posterior análise. Durante a obtenção das

fotomicrografias, aumentos diferenciados foram adotados para observação da

superfície de fratura, da configuração das hastes de corte helicoidais junto ao

ponto de fratura, e da forma das seções retas transversais dos instrumentos

ensaiados. Estes resultados foram apresentados de maneira descritiva.

Figura 5. Fotografia do MEV Quanta FEG 250

6.6. Análise Estatística

Os dados estudados foram analisados estatisticamente através do teste

t de Student no nível de significância com 5%.

26

7. RESULTADOS

7.1 Ensaio de Torção

A média e o desvio padrão do ângulo máximo em torção em graus e

número de voltas obtidos a partir da deformação no teste de torção dos

instrumentos WaveOne Large e ProTaper F4 são apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Média do ângulo máximo de torção e desvio padrão da deformação máxima

Instrumentos Nº de instrumentos

Deformação máxima (mm)

Ângulo máximo (graus)

Ângulo máximo (voltas)

DP (mm)

WaveOne Large

10 44 609 1,7 7,56

ProTaper F4

10

65

900

2,5

5,67

O teste t de Student revelou que o grupo ProTaper F4 apresentou as

maiores médias de ângulo máximo em torção e em voltas até à fratura, em

comparação ao grupo WaveOne Large (p<0,05), com diferença estatística

significante. A tabulação completa dos resultados do ângulo máximo em torção,

medidos em graus e número de voltas para a fratura são apresentados no

anexo A e B.

A média e o desvio padrão da força máxima (gf) e do torque máximo em

torção para a fratura são apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Média da força máxima e do torque máximo em torção

Instrumentos

Nº de instrumentos

Força máxima

(gf)

Torque máximo (gf.mm)

DP (N)

WaveOne

Large

10

679

2818

0,50

ProTaper F4

10

574

2381

0,55

27

O teste t de Student com nível de significância em 5% revelou maior

torque máximo em torção para o grupo WaveOne, sendo essa diferença

estatisticamente significante. A tabulação completa dos resultados obtidos no

ensaio de torção (torque máximo e força máxima) encontra-se disponível no

anexo A e B.

7.2. Tenacidade à Fratura por Torção

O teste t de Student com nível de significância em 5% revelou menor

tenacidade à fratura por torção no grupo WaveOne em relação ao grupo

controle, sendo essa diferença estatisticamente significante. A tabulação

completa com os resultados da tenacidade à fratura está disponível no anexo

C. A tabela 3 e as figuras 6 e 7 representam a área calculada dos valores das

médias e do desvio padrão.

Tabela 3. Média e desvio padrão da tenacidade à fratura por torção (Força x deslocamento) (N.mm) e J (Joules)

WaveOne Large

ProTaper F4

Tenacidade (N.mm)

181,89

217,78

Tenacidade (J) 0,18 0,22

Média (N.mm) 181,8

217,7

Média (J)

38,3 27,02

DP(N.mm) 38,3 27,02

DP (J) 0,04 0,03

28

Figura. 6. Média da tenacidade à fratura do instrumento WaveOne Large

Figura.7. Média da tenacidade à fratura do instrumento ProTaper F4

29

7.3 Ensaio de Microdureza Vickers

Os valores das médias e do desvio padrão do grupo WaveOne foram

maiores em relação ao grupo controle. Os dados da microdureza Vickers dos

instrumentos foram submetidos ao teste t de Student com nível de significância

ajustado em 5%, o qual revelou diferença estatística significante entre os

grupos. Os dados obtidos no ensaio de microdureza Vickers dos instrumentos

avaliados estão apresentados na tabela 4.

Tabela 4. Média e desvio padrão dos valores da microdureza Vickers

Liga NiTi Média DP

M-Wire

356,12 36,18

Convencional 279,14 11,75

Portanto, o grupo WaveOne Large apresentou maior microdureza

Vickers que o ProTaper F4. A tabulação completa dos resultados dos ensaios

de microdureza Vickers está disponível no anexo D.

7.4. ANÁLISE NO MEV

Os instrumentos ensaiados apresentaram haste de corte helicoidal com

diferentes seções retas transversais (Figuras 8 e 9).

As superfícies de fratura dos instrumentos junto aos pontos de

imobilização, após o ensaio de torção apresentaram características

morfológicas do tipo dúctil, exibindo deformação plástica das hastes helicoidais,

caracterizada pela reversão dos sentidos das hélices, a partir do ponto de

imobilização. Defeitos de acabamento superficial oriundos do processo de

usinagem também foram identificados nos instrumentos analisados (figuras 10,

11 e 12).

30

A B

C D

A

Figura.8. Instrumento WaveOne Large. (A e B) Haste de corte helicoidal; (C, D); seções

retas transversais ao longo da haste de corte helicoidal (aumento 100x).

B C

Figura 9. Instrumento ProTaper F4. (A) Haste de corte helicoidal; (B e C)

seções retas transversais ao longo da haste de corte helicoidal (aumento

100x)

31

A

Figura 9. Instrumento ProTaper F4. (A) Haste de corte helicoidal; (B e C)

seções retas transversais ao longo da haste de corte helicoidal (aumento

100x)

B

Figura 10. (A) Deformação plástica na haste helicoidal do

instrumento WaveOne Large (aumento 100x). (B) Superfície

fraturada com reversão da hélice junto ao ponto de fratura

(aumento de 500x).

.

32

A

B

Figura.11. (A) Deformação plástica na haste helicoidal do

instrumento ProTaper F4 aumento (100x); (B) Superfície fraturada

com reversão da hélice junto ao ponto de fratura (aumento de 500x).

33

Figura.12. Superfície de fratura do tipo dúctil. (A) Superfície do WaveOne Large; (B) Superfície do instrumento ProTaperF4 (aumento

de 1000x).

A

B

34

8. DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo comparar a resistência em torção

(torque máximo), a tenacidade e a microdureza de dois instrumentos

endodônticos NiTi mecanizados: WaveOne Large e ProTaper F4. Os

instrumentos possuem o mesmo diâmetro em D0, desenhos da seção reta

transversal distintos e a mesma indicação para uso, isto é, instrumentação do

segmento apical de um canal radicular. Todavia, são fabricados com ligas

metálicas diferentes: WaveOne com liga NiTi M-Wire e ProTaper com liga NiTi

convencional. A conicidade da haste helicoidal é diferente sendo de

0,08mm/mm para o WaveOne Large e de 0,06mm/mm para o ProTaper F4,

sendo este último selecionado para o grupo controle.

A fratura por torção de instrumentos endodônticos pode ser avaliada por

meio de ensaios mecânicos ou uso clínico. O estudo da fratura por torção a

partir do uso clínico apresenta valor mecânico limitado. Isto porque, nos

estudos clínicos é praticamente impossível controlar as variáveis advindas do

operador e das condições anatômicas dos canais radiculares tais como:

comprimento do canal, raio de curvatura, comprimento e localização do arco do

canal e dureza da dentina. Além disso, devido às combinações de tensões que

ocorrem durante a instrumentação dos canais, é extremamente difícil classificar

e explicar o tipo de fratura (LOPES et al., 2011).

A fratura por torção ocorre quando a ponta ou alguma parte do

instrumento é imobilizada ou encravada na parede dentinária de um canal, mas

a haste de acionamento ou cabo continua a girar. Esta é a razão pela qual a

fratura por torção pode ocorrer em um canal radicular em linha reta (LOPES &

SIQUEIRA, 2010a).

35

Nesse trabalho realizamos dez ensaios para cada marca comercial de

instrumentos. Isso se justifica pelo fato dos instrumentos endodônticos

apresentarem dimensões com limites de tolerância altos e acabamento

superficial com grande número de defeitos oriundos do processo de fabricação

por usinagem. Esses defeitos atuam como pontos concentradores de tensões,

os quais podem influenciar nos resultados obtidos (ELIAS & LOPES, 2007;

KHUN et al., 2001; LOPES et al., 2010a)

Durante o ensaio de torção inicialmente ocorre a deformação elástica do

material. Quando a continuidade da carga ultrapassa o limite elástico do

material em torção, ocasiona uma deformação plástica da haste helicoidal do

instrumento, causando reversão do sentido da hélice. Com o aumento da

deformação plástica a liga metálica sofre encruamento, o qual aumenta a

resistência mecânica do material. Com a continuidade da aplicação da carga a

tensão cisalhante pode ultrapassar o limite de resistência em torção do

instrumento e promover a fratura (ELIAS & LOPES, 2007; CHEUNG; 2009).

Independente da marca comercial e da liga metálica, a fratura dos

instrumentos endodônticos ocorre sempre junto ao ponto de imobilização, ou

seja, a 3 mm da ponta e geralmente, a superfície de fratura é perpendicular ao

eixo do instrumento (LOPES & SIQUEIRA, 2009; SETO et al., 1990).

Nas avaliações do comportamento mecânico de instrumentos

endodônticos em torção, normalmente, determina-se o ângulo máximo em

torção até a fratura e o torque máximo. Segundo GAMBARINI (1999) e SVEC &

POWERS (1999), a medida da deflexão angular (ângulo máximo em torção)

nos fornece um parâmetro sobre o risco de fratura de um instrumento, com sua

ponta imobilizada às paredes do canal, quando submetidos à rotação adicional.

36

Deve-se ressaltar que, o principal parâmetro a ser avaliado durante o ensaio de

torção de instrumentos endodônticos, é o ângulo máximo em torção antes da

fratura e não o torque máximo que o material resiste antes da fratura. Quanto

maior o ângulo de torção, maior a sua deformação elástica e plástica antes da

fratura. De acordo com alguns autores (SETO et al., 1990; ROWAN et al.,

1996; LOPES et al., 2011), esse parâmetro atua como um fator de segurança,

porque o torque aplicado, se mantêm aquém do limite de resistência à fratura

em torção do instrumento (torque máximo antes da fratura),

Do ponto de vista clínico, estando a ponta do instrumento endodôntico

imobilizada parcial ou totalmente, quanto maior a deformação elástica e

plástica (ângulo máximo em torção), maior a possibilidade de visualização e

descarte do instrumento antes da fratura. Isso reforça a necessidade do

profissional examinar cuidadosamente o instrumento, todas as vezes que o

remover do canal radicular. Para canal atresiado e instrumento fino, este deve

ser retirado do canal radicular após duas ou três incursões no sentido apical,

obtido por meio do movimento de alargamento (LOPES & ELIAS, 2001).

Todavia, como descrito pela ADA n° 28 e ANSI/ADA (1982) para instrumentos

endodônticos submetidos ao ensaio de torção, deve-se determinar o ângulo

máximo em torção até a fratura e o torque máximo suportado antes da fratura.

A avaliação do torque máximo que o instrumento endodôntico resiste é

importante, porque permite comparar a resistência dos diferentes tipos de

instrumentos, auxiliando no ajuste de motores elétricos que possuem seleção

ou programação de torque. Nesses motores, o torque selecionado ou

programado para cada instrumento, deve ficar aquém do torque máximo que o

instrumento resiste antes da fratura. Conforme GAMBARINI (2000) e PETERS

37

e BARBAKOW (2002), o torque deveria ser personalizado para cada

instrumento.

Os resultados do presente estudo demonstraram que o ângulo máximo

em torção até a fratura foi estatisticamente maior para os instrumentos

ProTaper F4, em relação aos instrumentos WaveOne. Provavelmente, este

resultado ocorreu devido à menor conicidade e consequentemente, menor

diâmetro em D3 do ProTaper F4. Todavia, os estudos de GAMBARINI (1999),

SVEC & POWER (1999) e BAHIA (2004) não estabeleceram qualquer relação

direta entre os valores do ângulo máximo em torção e a conicidade dos

instrumentos.

Em relação ao torque máximo antes da fratura, os resultados obtidos

revelaram que os instrumentos WaveOne foram mais resistentes à fratura por

torção do que os instrumentos ProTaper F4. É provável que este resultado

esteja relacionado ao maior diâmetro em D3 do WaveOne, em comparação ao

ProTaper F4. Este resultado está em acordo com os relatos da literatura de

WOLCOTT e HIMEL (1997) SATTAPAN et al., (2000b); GUIKFORD et al.,

(2005). Pela natureza da liga, era de se esperar que o ângulo de torção do

WaveOne fosse maior que do ProTaper, todavia esse resultado não foi

encontrado. Talvez esses resultados estejam associados às diferentes formas

e áreas das seções retas transversais dos instrumentos, assim como, as

diferenças em relação às conicidades apresentadas ao longo da haste

helicoidal cônica.

Com relação à tenacidade obtida por meio do ensaio de torção, o

instrumento ProTaper se mostrou mais tenaz do que o WaveOne.

38

Tenacidade é a quantidade de energia que um material pode absorver

antes da fratura e indica a capacidade do material resistir à carregamentos

(vibrações, golpes e impactos). Define-se como tenacidade a fratura dos

materiais, a sua resistência contra a propagação de uma trinca. Os materiais

são caracterizados por baixa e alta tenacidade. Os primeiros são classificados

como frágeis e os últimos como dúcteis (YUM et al., 2011). A vantagem de se

obter a tenacidade também em Joules é apenas de deixar mais completo os

resultados da pesquisa.

O instrumento WaveOne possui menor capacidade de absorver energia

até a fratura por torção, estando isto relacionado à sua liga mais dura, que

pode ser traduzido pelo maior torque. Devido a maior tenacidade, o ProTaper

F4 registra melhor as tensões cisalhantes da torção, conforme observado no

seu ângulo em torção. A maior capacidade de absorver energia do ProTaper F4

é coerente com a menor dureza da liga.

Com relação à microdureza, o instrumento WaveOne apresentou maiores

médias do que o instrumento ProTaper, sendo observado diferença estatística

significante. O maior torque apresentado pelo WaveOne pode estar relacionado

à maior microdureza Vickers da liga NiTi M-Wire. A seção reta transversal dos

instrumentos WaveOne e ProTaper F4 sofreram modificações, o que pode ter

interferido nos resultados obtidos.

Dureza é a resistência do material a penetração, deformação plástica e

ao desgaste mecânico. Geralmente, materiais duros são também mais frágeis.

Quanto maior a dureza, maior a resistência mecânica ao desgaste. A diferença

entre o ensaio de dureza convencional e o de microdureza está na intensidade

da carga usada para comprimir o endentador onde a carga máxima é de 1gf.

39

O ensaio de dureza é muito empregado em pesquisa, sendo um

parâmetro de referência na escolha de materiais. A principal vantagem na

determinação da dureza de um material é que essa propriedade possui

proporcionalidade com outras propriedades mecânicas. Por exemplo, quanto

maior a dureza do material, maior a resistência à tração, ao corte, ao

dobramento e à abrasão. Na odontologia, os métodos de dureza ou

microdureza mais empregados são os ensaios Knoop (Hard-knoop - HK) e

Vickers (Hard-Vickers - Hk). Os números de dureza Hk e Hv obtidos pelas

escalas de dureza para ambos os métodos são aproximadamente

equivalentes. O valor da microdureza é adimensional. Uma grandeza

adimensional ou número adimensional é um número desprovido de qualquer

unidade física que o defina – portanto é um número puro.

Em relação a análise no MEV, ambas ligas metálicas exibiram

características dúcteis nas superfícies de fraturas, com presença de

microcavidades (dimples) de formas variadas. Os instrumentos endodônticos

apresentaram defeitos de acabamento superficial (ranhuras advindas do

processo de fabricação (usinagem) e as trincas sempre iniciaram nas

depressões das ranhuras.

A deformação plástica da haste helicoidal, próxima ao ponto de

imobilização do instrumento, representada pela reversão do sentido original

das hélices, ocorreu devido a aplicação da força no sentido contrário às

hélices, ou seja, à esquerda para no WaveOne e a direita, no ProTaper F4. Isto

porque, no WaveOne o sentido das hélices é da esquerda para a direita, e ao

contrário no ProTaper F4. Ambos apresentaram forma da seção reta

transversal semelhantes junto ao ponto de imobilização.

40

A relevância clínica deste trabalho se baseia no fato de avaliar o

comportamento mecânico de um instrumento lançado recentemente no

mercado, o WaveOne. Apesar de novo, quando comparado ao ProTaper, em

relação à segurança, os resultados obtidos ficaram aquém dos esperados.

Devido à maior tenacidade e ao maior ângulo de torção até a fratura, podemos

admitir que o instrumento ProTaper F4 é mais seguro do ponto de vista clínico.

Portanto, ainda existe pouca informação na literatura, quanto ao

comportamento mecânico do WaveOne em relação à fratura por torção, à

tenacidade e à microdureza.

41

9. CONCLUSÕES

Baseado na metodologia empregada e nos resultados obtidos é possível

admitir que:

1- A liga NiTi M-Wire apresentou maior microdureza Vickers em relação à

liga NiTi convencional;

2- Os instrumentos ProTaper F4 apresentaram maior tenacidade e maior

ângulo máximo até a fratura por torção, do que o WaveOne;

3- Os instrumentos do grupo NiTi M-Wire resistiram ao maior torque à

fratura por torção, em comparação aos NiTi convencional.

4- Em ambos os grupos a superfície de fratura apresentou características

dúcteis, com deformação plástica das hélices junto ao ponto de

imobilização. A haste de corte helicoidal dos instrumentos comparados

apresentaram diferentes seções retas transversais.

42

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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11. ANEXOS