companhias militares privadas: ascensão no pós-guerra fria

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Companhias Militares Privadas são empresas que vendem produtos e serviços relacionados à guerra. As Companhias Militares Privadas podem ser classificadas em três tipos, de acordo com o serviço que fornecem: Companhias Prestadoras Militares, Companhias Consultoras Militares e Companhias de Apoio Militar. Essas empresas voltaram a ter relevância no cenário internacional no pós-Guerra Fria, e com a guerra do Iraque, se firmaram como um importante ator das Relações Internacionais. Alguns fatores podem ser elencados como responsáveis para esse ressurgimento em um contexto pós-Guerra Fria: o aumento no número de conflitos, a alta disponibilidade de material e pessoal, menor custo político ao contratar CMPs e mudanças na natureza da guerra. Conclui-se que estes fatores em conjunto explicam a rápida expansão que as CMPs tiveram no período analisado.

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  • CENTRO UNIVERSITRIO

    INSTITUTO DE EDUCAO SUPERIOR DE BRASLIA

    IESB

    RELAES INTERNACIONAIS

    Ruan Machado Leite

    COMPANHIAS MILITARES PRIVADAS: ascenso no ps-Guerra Fria

    BRASLIA, DF

    2013

  • Ruan Machado Leite

    COMPANHIAS MILITARES PRIVADAS: ascenso no ps-Guerra Fria

    Trabalho de Concluso de Curso

    apresentado ao curso de Relaes

    Internacionais do Centro

    Universitrio Instituto de Educao

    Superior de Braslia, como requisito

    parcial para obteno do grau de

    Bacharel em Relaes Internacionais.

    Orientador: Prof. MSc. Marco

    Antonio de Meneses Silva.

    BRASLIA, DF

    2013

  • Ruan Machado Leite

    COMPANHIAS MILITARES PRIVADAS: ascenso no ps-Guerra Fria

    Trabalho de Concluso de Curso a ser

    aprovado pela Banca Examinadora

    com vista obteno do grau de

    Bacharel em Relaes Internacionais

    do Centro Universitrio Instituto de

    Educao Superior de Braslia.

    Braslia DF, novembro 2013.

    Banca Examinadora:

    ___________________________________________

    Prof. MSc. Marco Antonio de Meneses Silva Orientador

    __________________________________________

    Examinador

    __________________________________________

    Examinador

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos meus familiares pelo apoio incondicional durante o curso, com

    dedicao especial para meu pai Elisnio, minha me Solange e meu irmo Luan.

    Tambm agradeo ao meu orientador, Marco Antnio, pela pacincia e

    inestimvel colaborao para a concluso deste trabalho.

    Agradeo aos colegas que ao longo do curso proporcionaram inesgotveis

    momentos de alegria e companheirismo: Felipe Sousa, Gustavo Zaffino, Johnatta

    Seabra e Vitor Gomide.

    Agradeo ao meu supervisor de estgio, Reginaldo Guedes e aos colegas

    Maurcio, Flvia, Henrique, Mariane e Telma que permitiram que eu me ausentasse

    por alguns dias para concluir o trabalho.

  • Nas reunies de governo,

    devemos precaver-nos contra a

    aquisio de influncia

    indevida, deliberada ou no,

    por parte do complexo

    industrial-militar. O potencial

    para o desastroso aumento de

    abuso de poder existe e

    continuar a persistir. (Dwight

    Eisenhower)

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Diviso de tipos de CMPs

    Figura 2 - Interesse pelos termos de busca Contractors in Iraq e Blackwater

    Figura 3 Tropas oficiais versus tropas contratadas

    Figura 4 Nacionalidade dos funcionrios das CMPs contratadas pelo Departamento

    de Defesa americano

    Figura 5 - Nmero de conflitos no mundo por regio

    Figura 6 Nmero de pessoal empregados pelas foras armadas americanas

    Figura 7 Data de fundao das CMPs

  • LISTA DE TABELAS

    Quadro 1 - Lista exemplificativa de CMPs e seu pas de origem

    Quadro 2 Opinio pblica americana sobre a interveno dos Estados Unidos em

    conflitos

  • LISTA DE SIGLAS

    CMP Companhia Militar Privada

    ONU Organizao das Naes Unidas

    SAS- Special Air Service

    TRADOC Training and Doctrine Command

    USAF United States Air Force

  • RESUMO

    Companhias Militares Privadas so empresas que vendem produtos e servios

    relacionados guerra. As Companhias Militares Privadas podem ser classificadas em

    trs tipos, de acordo com o servio que fornecem: Companhias Prestadoras Militares,

    Companhias Consultoras Militares e Companhias de Apoio Militar. Essas empresas

    voltaram a ter relevncia no cenrio internacional no ps-Guerra Fria, e com a guerra

    do Iraque, se firmaram como um importante ator das Relaes Internacionais. Alguns

    fatores podem ser elencados como responsveis para esse ressurgimento em um

    contexto ps-Guerra Fria: o aumento no nmero de conflitos, a alta disponibilidade de

    material e pessoal, menor custo poltico ao contratar CMPs e mudanas na natureza da

    guerra. Conclui-se que estes fatores em conjunto explicam a rpida expanso que as

    CMPs tiveram no perodo analisado.

    Palavras-chave: Segurana Internacional; Estados Unidos; Companhias Militares

    Privadas; Guerra do Iraque.

  • ABSTRACT

    Private Military Companies are companies who sell products and services related to

    war. The Private Military Companies can be classified into three kinds, according to the

    service they provide: Military Provider Companies, Military Consultants Companies and

    Military Support Companies. These companies recovered their relevance in the

    international scenario in the post-Cold War, and, with the Iraq war, have firmed as an

    important actor of International Relations. Some factors can be listed as responsible

    for this resurgence in a post-Cold War context: the increase in the number of conflicts,

    the high availability of materials and staff, less political cost when hiring CMPs and

    changes in the nature of war. It is concluded that these factors together explain the

    rapid expansion that had CMPs during the analyzed period.

    Palavras-chave: International Security; United States; Private Military Companies; Iraq

    War

  • SUMRIO

    1 INTRODUO..............................................................................................................12

    2 O QUE SO AS COMPANHIAS MILITARES PRIVADAS E COMO SO

    CLASSIFICADAS...............................................................................................................14

    2.1 Companhias Prestadoras Militares...........................................................................21

    2.2 Companhias Consultoras Militares.............................................. .............................22

    2.3 Companhias de Apoio Militar...................................................................................23

    2.3 Concluses parciais...................................................................................................23

    3 COMPANHIAS MILITARES PRIVADAS ATUANDO NO IRAQUE...................................25

    3.1 Servios prestados pelas CMPs no Iraque.......................................................... ......27

    3.2 Quantidade e nacionalidade de contratados atuando no Iraque.............................30

    3.3 Oramento destinado s CMPs.................................................................................32

    3.4 Questo legal..................................................................................................... .......33

    3.5 Concorrncia com o Estado por capital humano......................................................36

    3.6 Concorrncia com o Estado pelo direito ao uso da violncia...................................37

    4 CAUSAS PARA O CRESCIMENTO DAS CMPS...............................................................39

    4.1 Aumento no nmero de conflitos................................................................. ............39

    4.2 Disponibilidade de material humano e armamentos...............................................41

    4.3 Menor custo poltico.................................................................................................43

    4.4 Mudana na natureza da guerra...............................................................................44

    4.5 Polticas pblicas neoliberais....................................................................................45

    4.6 O futuro das CMPs....................................................................................................46

    5 CONCLUSO................................................................................................................48

    REFERNCIAS..................................................................................................................49

  • 12

    1 INTRODUO

    O crescimento do mercado de segurana privada internacional tem se mostrado

    contnuo aps a Guerra Fria, com notvel participao de atores privados em conflitos

    recentes. A ruptura na oferta e demanda das foras militares aps o fim da Guerra Fria criou

    um cenrio propcio para que as Companhias Militares Privadas (CMPs) ganhassem

    notoriedade.

    As CMPs so corporaes que vendem produtos ou servios intrinsecamente ligados

    guerra, que vo desde o treinamento de tropas at a execuo de atividades militares.

    O nmero CMPs em funcionamento ultrapassa a casa das centenas, com seu

    tamanho de mercado variando das centenas de milhares de dlares at dezenas de bilhes

    de dlares. O carter sigiloso das informaes dessa indstria no permite que se faa um

    apanhado exato do seu tamanho financeiro, mas as melhores estimativas supem que essa

    indstria esteja na casa dos 200 bilhes de dlares, e h uma expectativa de crescimento de

    85% nos prximos anos.

    Diversas atividades relacionadas segurana tm sido delegadas iniciativa privada,

    notavelmente nos Estados Unidos e em pases parceiros. A guerra do Iraque foi o ponto de

    virada, e foi onde as CMPs finalmente ganharam notoriedade pblica.

    A problemtica sobre as companhias militares privadas apresentada ao se fazer o

    questionamento sobre o porqu de um ator no-estatal ter ganhado tanta importncia no

    perodo ps-Guerra Fria.

    Dessa forma, o presente trabalho ir procurar explicar conceitualmente do que se

    trata as Companhias Militares Privadas, o motivo de elas no serem o mesmo que

    mercenrios, e como esse setor da indstria pode ser dividido para uma melhor

    compreenso do tema. Em seguida, ser dado um panorama da guerra do Iraque, e a

    importncia que as CMPs passaram a ter para os Estados Unidos nesse cenrio. Por fim, ser

    feita uma anlise sobre os motivos que levaram as CMPs a se expandirem em ritmo

  • 13

    acelerado aps a Guerra Fria, e uma prospeco do futuro desse mercado ainda em

    expanso.

  • 14

    2 O QUE SO AS COMPANHIAS MILITARES PRIVADAS E COMO SO

    CLASSIFICADAS

    Este captulo trar o histrico do uso de atores privados nas guerras desde a

    Antiguidade aos tempos modernos, para depois diferenciar conceitualmente as Companhias

    Militares Privadas dos mercenrios e ento classificar esse tipo de empresa de acordo com o

    mercado onde operam e o tipo de servio que fornecem.

    Desde as primeiras guerras de que se h registro h a presena de atores privados

    prestando papis militares. O uso da violncia por esses agentes era uma rotina nas relaes

    internacionais antes do sculo XX.1

    possvel encontrar registros de exrcitos contratados lutando em quase todas as

    guerras, desde as guerras do Fara Ramss II, passando pela Guerra do Peloponeso at

    chegar Idade Mdia, onde as tropas contratadas forneciam os servios especializados que

    os camponeses no podiam fornecer aos senhores feudais.2

    A Idade Mdia foi o perodo mais propcio para a ascenso de grupos mercenrios,

    porque os feudos no eram grandes o suficiente para investir recursos e pessoal no esforo

    de criar um exrcito em detrimento da produo de bens e alimentos. O uso de tropas

    contratadas tambm era apoiado pela nobreza, que temia o poder de uma populao de

    servos armados.3

    Por isso a Idade Mdia viu o nascimento de vrios grupos mercenrios, alguns

    famosos at hoje, como a Confederao Sua, formada em 1291, e que serviu aos reis da

    Frana at pouco depois das Guerras Napolenicas.4 At hoje o Papa protegido pela

    Guarda Sua, uma evoluo dos regimentos contratados pelo Papa Jlio II em 1502.5

    1 SINGER, P. W. Corporate Warriors: the rise of the privatized military industry. 2. ed. New York: Cornell University Press, 2008, p. 19 2 Ibid., p. 20 3 Ibid., p. 22 4 Ibid., p. 26

    5 Ibid., p. 27

  • 15

    Durante o sculo XIII, a formao dos burgos, as cidades onde se aglomeravam os

    comrcios, fomentou o aparecimento de companhias contratadas para proteg-las. Na Itlia

    ficavam os burgos mais notveis, como Veneza e Florena, que eram protegidos por

    companhias contratadas. A presena dessas companhias motivou posteriormente os

    estadistas italianos a recorrerem a esse tipo de servio para a defesa de seu territrio.6

    Entretanto, nesse perodo j se questionava os perigos de delegar a entes privados

    o poder da guerra. Maquiavel alertou o estadista italiano Loureno de Mdici sobre o perigo

    de confiar todo o poder militar a mercenrios:

    Digo, pois, que as armas com as quais um prncipe defende o seu Estado, ou so suas prprias ou so mercenrias, ou auxiliares ou mistas. As mercenrias e as auxiliares so inteis e perigosas e, se algum tem o seu Estado apoiado nas tropas mercenrias, jamais estar firme e seguro, porque elas so desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiis; galhardas entre os amigos, vis entre os inimigos; no tm temor a Deus e no tm f nos homens, e tanto se adia a runa, quanto se transfere o assalto; na paz se espoliado por elas, na guerra, pelos inimigos.7

    De fato, concordando com Maquiavel, Singer tambm evidencia que era melhor

    manter as tropas contratadas em operaes ofensivas, em provncias estrangeiras, porque

    em tempos de paz elas costumavam deixar as terras por onde passavam devastadas, e o

    custo social disso era muito grande se ficassem na provncia local. 8

    E assim o uso de tropas mercenrias foi comum, e em alguns momentos, a regra ao

    longo da histria. A Guerra dos Trintas Anos (1618-1648) foi a ltima representao das

    guerras mercenrias antes do nascimento do Estado Moderno. Todos os participantes

    tinham tropas contratadas lutando a seu favor, e quase todas as batalhas foram lutadas

    inteiramente por contratados.9

    O resultado da Guerra dos Trinta Anos foi que o conceito de soberania ganhou

    contra o conceito de imprio. Diversas naes individuais comearam a nascer a partir das

    provncias pertencentes dinastia Habsburgo. A guerra foi to devastadora que a nica

    soluo concebvel era deixar cada nao decidir seus prprios assuntos internos.10 A Paz

    6 SINGER, 2008, p. 23 7 MAQUIAVEL, Nicolau. O Prncipe. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1972, p. 17 8 SINGER, op. cit., p. 29 9 Ibid.

    10 Ibid.

  • 16

    de Westflia, que seguiu o fim da guerra, em 1648, marcou o nascimento do Estado, ao

    solidificar o conceito de soberania interna.11

    Desde ento, o monoplio das guerras pelo Estado perpetuou por sculos porque

    um Estado-Nao era o nico ator capaz de reunir pessoas, maquinrio e o dinheiro

    necessrio para mover uma guerra.12

    Apesar da ideia de entes privados participando de guerras ser um pouco confusa

    hoje, o Estado como ns conhecemos uma inveno de pouco mais de 300 anos.13 A ideia

    de guerras tomadas por militares a servio de um Estado e lutando por uma causa comum

    recente e tem origem no Tratado de Westflia. Na verdade, ao longo de toda a histria, o

    monoplio da violncia pelo Estado exceo, e no regra.14

    O objeto de estudo deste trabalho recebe nomes diferentes de cada autor.

    Engbrecht prefere usar o termo Private Military Contractors,15 enquanto Singer usa Private

    Military Firms,16 a ONU define como Private Military Security Companies,17 e por fim, Kinsey

    usa o termo Private Military Companies.18

    Todas as definies apontam para o mesmo objeto de estudo. Para os propsitos

    desse trabalho ser usado o termo cunhado por Kinsey, por entender que ele o que melhor

    representa o assunto, e remonta s origens histricas dos exrcitos privados. O termo

    Companhia derivado do latim con pane, que designava o po que era dado de

    pagamento aos soldados que dedicavam suas lanas a quem melhor pagasse. Esses soldados

    eram conhecidos como lanas livres, o que deu origem ao outro termo freelancer.19

    11 SINGER, 2008, p. 29 12

    Id. Corporate Warriors: The Rise of the Privatized Military Industry and Its Ramifications for International Security. International Security 26, no. 3 (Winter 2001/02). Cambridge: The MIT Press, 2001, p.196 13 SINGER, 2008, p. 29 14 Ibid., p. 19 15

    ENGBRECHT, Shawn. America's covert warriors: inside the world of provate military contractors. Dulles: Potomac Books, p. 3 16 SINGER, op. cit., p.8 17 Disponvel em: < http://www.un.org/documents/ga/res/44/a44r034.htm > Acesso em 06/11/2013 18 KINSEY, Christopher. Corporate soldiers and international security: the rise of private military companies. Oxon: Routledge, 2006, p. 8 19

    SINGER, op. cit., p. 24

  • 17

    Para um trabalho sobre Companhias Militares Privadas (CMPs), primeiro

    necessrio classificar conceitualmente do que se tratam essas empresas na atualidade e

    diferenciar elas da concepo clssica de mercenrios.

    Tanto o recrutamento quanto o uso, financiamento e treinamento de mercenrios

    so proibidos por Conveno Internacional (Conveno Internacional contra o

    Recrutamento, Uso, Financiamento e Treinamento de mercenrios). Apesar disso, a

    designao legal do termo mercenrio apresenta falhas. Devido a compromissos polticos, os

    Estados signatrios adicionaram caractersticas especficas demais para o enquadramento do

    que um mercenrio.20

    As caractersticas citadas na Conveno so:21

    (a) Mercenrio algum recrutado localmente ou fora do territrio para lutar em um

    conflito armado com o objetivo de:

    (I) Derrubar um governo ou minar a ordem constitucional de um Estado;

    (II) Debilitar a integridade territorial de um Estado;

    (b) motivado a participar de hostilidades essencialmente pelo desejo de ganhos

    privados, e, de fato, tem a expectativa de receber de uma das partes do conflito

    compensao material substancialmente superior quelas pagas aos combatentes de

    funes ou patentes similares das foras oficiais;

    (c) No um nacional e nem residente de territrio ocupado por alguma das partes do

    conflito;

    (d) No membro das foras armadas de alguma das partes do conflito;

    (e) No foi enviado em misso oficial por um Estado que no parte do conflito;

    Requerer que um indivduo preencha todos os critrios expostos consecutivamente

    para se enquadrar como mercenrio torna a Conveno impraticvel, j que ela s abarcaria

    uma situao muito especfica, fora da realidade.22

    20

    SINGER, 2008, p. 41 21 International Convention against the Recruitment, Use, Financing and Training of Mercenaries (1989), p. 1

    Disponvel em: < http://www.un.org/documents/ga/res/44/a44r034.htm > Acesso em 24/10/2013

    22 KINSEY, 2006, p. 19

  • 18

    Singer tambm define uma srie de caractersticas para os mercenrios.

    Diferentemente dos soldados servindo a um pas, os mercenrios devem lealdade somente

    aos seus prprios interesses, e no a alguma causa ou sentimento de dever. Eles tambm

    so distinguidos por sua autonomia. J que no esto ligados permanentemente a uma

    nao do mesmo modo que soldados regulares, mercenrios podem deixar a vida militar

    quando quiserem, sem incorrer no crime de desero.23 O recrutamento de foras

    mercenrias tambm peculiar. No existe um sistema de recrutamento oficial, como h

    nos Estados, ento eles frequentemente so chamados atravs de anncios em jornais locais

    nas reas em que seus servios so necessrios.24

    O resultado desse sistema de recrutamento que os soldados mercenrios so um

    grupo heterogneo, com treinamentos e habilidades diferentes e quase sempre nenhuma

    experincia de ao conjunta. Por isso, a ao de foras mercenrias limitada a pequenos

    grupos e pequenas misses especficas, diferentemente das CMPs, que podem fornecer e

    operar todo o aparato necessrio para uma guerra, alm de servir vrios clientes ao mesmo

    tempo.25

    O ponto de convergncia entre mercenrios e soldados de carreira que ambos so

    treinados pelo Estado. Todos os mercenrios so ex-soldados, ex-policiais ou ex-agentes de

    alguma fora de segurana pblica. Nas ofertas de emprego disponveis na web sempre h o

    requerimento de que o candidato tenha servido alguma fora de segurana,

    preferencialmente dos grupos de elite.

    Uma outra definio do termo mercenrio que converge com as definies acima

    dada por Tim Spicer, fundador da CMP Sandline International: Mercenrios comumente so

    indivduos recrutados para uma tarefa especfica. Eles no tm estrutura permanente,

    coeso de grupo, doutrina ou procedimentos de controle.26

    A definio de Spicer confirma a de Singer, de que mercenrios so um grupo

    heterogneo, sem doutrina comum, e que por isso, tm seu espectro de aes limitado.

    23 SINGER, 2008, p. 41 24 Ibid., p. 42 25

    Ibid. 26

    SPICER apud KINSEY, 2006, p. 67

  • 19

    J as Companhias Militares Privadas tm algumas caractersticas que as diferenciam

    dos mercenrios, como Singer define, as CMPS so empresas que comercializam servios

    profissionais intrinsecamente ligados guerra. Elas se especializam em prover produtos e

    servios ligados a operaes de segurana, incluindo operaes de combate, planejamento

    estratgico, inteligncia, anlise de risco, suporte operacional e treinamento militar. 27

    Portanto, na concepo de Singer, as CMPs fornecem uma gama de servios muito alm do

    que os mercenrios so capazes de fornecer.

    A ONU, no Montreux Document, um guia de boas prticas em relao s CMPs,

    adotou uma definio bem prxima da definio de Singer:

    PMSC [A ONU adota o termo Companhias de Segurana Militar Privadas] so entidades empresariais privadas que prestam servios militares e/ou de segurana, independentemente de como eles se descrevem. Servios militares e de segurana incluem, em particular, guarda armada e proteo de pessoas e objetos, tais como comboios, edifcios e outros locais, manuteno e operao de sistemas de armas, deteno de prisioneiros, e aconselhamento ou treinamento de foras locais e de segurana. 28

    A definio da ONU no inclui as CMPs que prestam servios de planejamento

    estratgico, inteligncia, anlise de risco e suporte operacional, como Singer definiu. Essa

    definio incompleta excluir alguns tipos de CMP, que no necessariamente prestam

    servios de combate, como ser explicado adiante.

    Kinsey adiciona que as CMPs so provedoras de servios que entregam um pacote

    completo que contm todos os elementos necessrios para dar vantagem militar ao

    contratante sobre seu inimigo. Portanto, na definio de Kinsey, grupos mercenrios no

    conseguiriam fornecer o mesmo tipo de servio que as CMPs fornecem.29

    Por fim, Singer define que a diferena essencial entre mercenrios e CMPs a

    corporatizao dos servios militares. As CMPs so estruturadas como empresas e operam

    27 SINGER, 2008, p. 8 28 Letter dated 2 October 2008 from the Permanent Representative of Switzerland to the United Nations addressed to the Secretary-General (2008), p. 2. Disponvel em: < http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/63/467 > Acesso em 15/10/2013 29

    KINSEY, 2006, p. 14

  • 20

    um modelo de negcios. Como entidades de negcios, elas esto frequentemente ligadas a

    outras empresas atravs de complexos laos financeiros.30

    J Engbrecht entende que a diferenciao entre mercenrios e CMPs um

    eufemismo criado pela indstria para que ela mesma no caia na definio de mercenrios

    adotada pela ONU, que proibida, e que tecnicamente ambos so a mesma coisa. 31

    Ao dizer que no h diferenas entre CMPs e mercenrios, Engbrecht comete o

    mesmo erro da ONU, porque ignora as CMPs que prestam outros tipos de servios no

    relacionados ao combate.

    Para o propsito deste trabalho ser usada a definio de CMPs dada por Singer.

    Entretanto, necessrio diferenciar os tipos de CMPs e a subdiviso do setor onde operam

    para entender as variaes da indstria, assim como as variaes na organizao das CMPs,

    suas operaes e os impactos que elas causam em um conflito armado. Embora todas caiam

    no rol da classificao de provedores de servios militares, h que se separar os mercados

    onde atuam. Essas empresas variam em nmero de pessoal, tipo de servio, experincia,

    tamanho e tipo de servio que oferecem.32

    A metodologia usada para classificar as CMPs neste trabalho ser a da ponta de

    lana, desenvolvida por Singer. Usando como exemplo a figura de uma lana e

    considerando o contexto militar, os grupos de soldados so distinguidos de acordo com sua

    proximidade do combate (a ponta da lana), que implica em como ser o treinamento, as

    funes, o prestgio daquele grupo, entre outros. Usando essa analogia com as CMPs,

    possvel dividi-las em trs grupos, e assim fazer uma classificao.33

    Dessa forma, de acordo com o tipo de servio oferecido, possvel alocar a CMP em

    algum lugar do corpo da lana, considerando sua proximidade com o combate real (a linha

    30 SINGER, 2008, p. 40 31 ENGBRECHT, 2011, p. 81 32

    SINGER, op. cit., p. 88 33

    Ibid., p. 9

  • 21

    de frente), e assim ela cair em um dos trs grupos em que se dividem: Companhia

    Prestadora Militar, Companhia Consultora Militar e Companhia de Apoio Militar.34

    Figura 1 Diviso de tipos de CMPs

    Fonte: Elaborada pelo autor

    Assim, cada tipo de CMP pode ser definido por um conjunto de caractersticas:

    2.1 Companhias prestadoras militares

    Esse tipo de CMP caracterizado por sua presena ativa no ambiente de combate.

    Em termos militares, elas esto na rea onde h o conflito conflagrado, e operam em

    combate real, seja com soldados comuns ou com soldados especializados (pilotos de

    combate, artilheiros, paraquedistas, etc.), seja trabalhando subordinadas s tropas oficiais

    do contratante ou autonomamente.35

    Os clientes tpicos desse tipo de CMP so aqueles com pouca fora militar, e que

    esto frente a um conflito iminente. Exemplos de pases que contrataram esse tipo de CMP

    so Serra Leoa, que contratou a Executive Outcomes em 1995 para conter as foras de

    guerrilha e a Etipia, que contratou a Sukhoi para fornecer servio de combate areo na

    guerra contra a Eritria em 1999.36

    Embora no esteja na situao acima, de ser um cliente com pouco poder militar, os

    Estados Unidos so um cliente tpico desse tipo de servio, assim como so clientes dos

    34 SINGER, 2008, p. 91 35

    Ibid., p. 92 36

    Ibid., p. 93

  • 22

    outros tipos de CMPs. A Blackwater um exemplo das vrias Companhias Prestadoras

    Militares contratadas pelos Estados Unidos na guerra do Iraque.

    As companhias prestadoras militares so mal vistas pela populao em geral por

    causa do tipo de servio que executam. A natureza das atividades de combate em pases

    instveis ou em guerra civil muitas vezes coloca as CMPs desse grupo em confronto com a

    populao civil. Por isso, Companhias Prestadoras Militares tendem a mudar o quanto antes

    sua rea da operao no corpo da lana. Mesmo as que se especializam nesse nicho e ficam

    nele negam que fornecem servios militares e se dizem conselheiros militares.37

    Um exemplo desse tipo de mudana para se desvencilhar da imagem negativa que

    criam a CMP Blackwater, que em 2009 mudou seu nome para Xe,38 e em 2011 mudou

    novamente de nome, desta vez para Academi.39

    2.2 Companhias consultoras militares

    As companhias consultoras militares fornecem servios de assessoramento e

    treinamento integral para a reestruturao das foras armadas de um cliente, alm de

    fornecer consultoria estratgica, operacional e organizacional.40

    Apesar de no atuar diretamente no conflito, o impacto da atuao desse tipo de

    CMP no menor que dos outros. Nos conflitos modernos, a aplicao do conhecimento e

    treinamento so to efetivos quanto a aplicao do poder de fogo.41

    Os clientes tpicos desse tipo de CMP so aqueles que procuram reestruturar suas

    foras militares, ou pretendem aumentar suas capacidades. Embora suas necessidades no

    sejam imediatas quanto s dos clientes que contratam as companhias prestadoras militares,

    os contratos com as companhias consultoras militares costumam ser mais lucrativos, por

    37

    SINGER, 2008, p. 95 38 AAMOTH, Doug. Top 10 Worst Corporate Name Changes. Time, 2010 Disponvel em < http://content.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1914815_1914808_1914739,00.html > Acesso em 06/11/2013 39 HODGE Nathan. Company Once Known as Blackwater Ditches Xe for Yet Another New Name. The Wall Street Journal, 2011. Disponvel em < http://online.wsj.com/news/articles/SB10001424052970204319004577089021757803802 > Acesso em 06/11/2013 40

    SINGER, op. cit., loc. cit. 41

    Ibid.

  • 23

    serem de maior durao.42 Um exemplo de cliente desse tipo de CMP a Arbia Saudita,

    que contratou a Vinnell para treinar seu exrcito.43

    2.3 Companhias de apoio militar

    E, finalmente, o terceiro setor da indstria militar privada so as companhias que

    fornecem servios suplementares aos da guerra, como logstica, inteligncia, suporte tcnico

    e transporte. Elas so capazes de fornecer esses tipos de servio com a eficincia que um

    cliente militar dificilmente conseguiria.44

    O tipo mais comum de clientes dessas empresas so os que engajam em campanhas

    militares de longa durao, e por isso, precisam de suporte em larga escala.45 Exemplos de

    clientes de companhias de apoio militar so os Estados Unidos e Reino Unido, que j

    terceirizaram quase todos seus setores logsticos.46

    Esse tipo de companhia dificilmente aparece nas anlises sobre companhias

    militares privadas. Na maioria das vezes eles so vistos apenas como contratados civis.

    Contudo, sua funo essencial para as tropas militares, uma vez que sem seus servios, o

    combate invivel.47

    Um ponto importante sobre as companhias de apoio militar que elas vm

    ganhando, ano a ano, concesses no setor de inteligncia. A inteligncia a capacidade de

    obter informaes sobre o adversrio ao mesmo tempo em que se nega informaes sobre

    si mesmo. A privatizao desse setor altamente sensvel para o Estado cresceu aps o fim da

    Guerra Fria, com a demisso em massa de agentes das agncias de inteligncia.48

    2.4 Concluses parciais

    42

    SINGER, 2008, p. 96 43 Ibid., p. 97 44 Ibid. 45 Ibid. 46 Ibid., p. 98 47

    Ibid., p. 97 48

    Ibid., p. 99

  • 24

    Ao fim deste captulo possvel perceber que h uma distino entre Companhias

    Militares Privadas e mercenrios, principalmente no que cerne ao tipo de servio e

    capacidade de fornec-lo, que ampliada nas CMPs.

    Tambm nota-se que a indstria de servios militares privados no homognea,

    variando amplamente em tipos de servios oferecidos. No h uma distino muito clara do

    setor. As mudanas de ramo ocorrem constantemente, isso quando a CMP j no atua em

    mais de um campo no corpo da lana.

  • 25

    3 COMPANHIAS MILITARES PRIVADAS ATUANDO NO IRAQUE

    Este captulo tratar da atuao moderna das CMPs, mais especificamente das CMPs

    atuando no Iraque, elencando o tipo de servio que fornecem, a formao do seu quadro de

    pessoal, o valor do oramento dos Estados Unidos destinado a essas empresas, o imbrglio

    legal que elas enfrentam e finalmente a disputa que as CMPs tm com o Estado por capital

    humano e pelo direito ao uso da violncia.

    A privatizao da mquina de guerra tem uma caracterstica que a difere da

    privatizao de outros setores da indstria: ela lucra a partir da existncia de conflitos

    armados ou da sensao de insegurana. Nesse contexto, o aumento da violncia est

    intimamente ligado ao aumento dos lucros.49

    A primeira vez que foi dirigida ateno grande participao das CMPs na guerra do

    Iraque foi no incidente da Blackwater em Fallujah. Em 31 de maro de 2004, quatro

    funcionrios dessa empresa, que viria a se tornar um cone controverso desse setor, foram

    mortos em uma emboscada no Iraque, e as imagens de seus corpos carbonizados rodaram o

    mundo.50

    Como se pode ver na figura abaixo, as pesquisas na ferramenta de buscar Google

    usando os termos Contractors in Iraq e Blackwater eram quase inexistentes at o

    incidente em Fallujah no final de maro de 2004.

    Figura 2 - Interesse pelos termos de busca Contractors in Iraq e Blackwater

    49 SCAHILL, Jeremy. Blackwater: a ascenso do exrcito mercenrio mais poderoso do mundo. So Paulo: Companhia Das Letras, 2008, p.55 50

    SCAHILL, op. cit., p. 72.

  • 26

    Fonte:Google Trends51

    De posse dos dados acima, nota-se porque a Blackwater tornou-se um cone do setor,

    e sempre uma referncia quando se trata de CMPs. Por esse motivo, ser dada ateno

    especial sua atuao durante a guerra do Iraque.

    Embora no seja a nica CMP atuando no Iraque poca do incidente de Fallujah, a

    Blackwater ganhou fama por causa de sua atuao controversa em relao aos direitos

    humanos e tambm por causa de seu rpido crescimento.

    H, atualmente, vrias CMPs de diversas nacionalidades atuando em todos os

    continentes, com exceo da Antrtida.52 O quadro abaixo apresenta uma lista

    exemplificativa de CMPs que de alguma forma atuaram na guerra do Iraque, seja

    diretamente ou fornecendo treinamento ou servios de logstica, assim como seus pases de

    origem.

    Quadro 1 - Lista exemplificativa de CMPs e seu pas de origem

    Companhia Pas de origem

    Academi (antiga Blackwater) Estados Unidos da Amrica Airscan, Inc. Estados Unidos da Amrica

    Aerial Tactical Advantages Co. Estados Unidos da Amrica

    AKE Group Reino Unido

    51Disponvel em: < http://www.google.com/trends/explore?q=private+military+companies#q=contractors%20iraq%2C%20blackwater&date=1%2F2004%2013m&cmpt=q > Acesso em 15/10/2013. 52

    SINGER, 2008, p. 9.

  • 27

    Companhia Pas de origem AMA Associates Limited Reino Unido

    ArmorGroup Limited Estados Unidos da Amrica

    ATCO Frontec Corporation Canad Braddock, Dunn and McDonald (BDM) Estados Unidos da Amrica

    Aegis Defence Services Limited Reino Unido

    Booz Allen Hamilton, Inc. Estados Unidos da Amrica

    CACI Estados Unidos da Amrica

    Control Risks Group, Ltd Reino Unido

    Cubic Corporation Estados Unidos da Amrica

    Custer Battles Estados Unidos da Amrica

    DynCorp, Inc Estados Unidos da Amrica

    Eagle Aviation Services & Technology Estados Unidos da Amrica

    Erinys International frica do Sul

    Falconer Systems frica do Sul

    Gurkha Security Guards Reino Unido HART GMSSCO Cyprus, Ltd Reino Unido

    Halliburton (ver Kellog Brown and Root) Estados Unidos da Amrica

    Janusian Security Risk Management Reino Unido Kellog Brown and Root, Inc (CMP subsidiria da Halliburton) Estados Unidos da Amrica

    Kroll Estados Unidos da Amrica

    MPRI Estados Unidos da Amrica Omega Air, Inc Estados Unidos da Amrica

    Olive Security Reino Unido

    Saladin Security Reino Unido SAIC, Inc Estados Unidos da Amrica

    SECOPEX Frana

    Titan Corporation Estados Unidos da Amrica

    Triple Canopy Estados Unidos da Amrica Zapata Engineering Estados Unidos da Amrica

    Fonte: Sample List of companies providing private military/security services53

    Hoje, por falta de gesto e acompanhamento, impossvel determinar exatamente

    quantas CMPs esto atuando no Iraque. O Congresso americano e o Pentgono no

    conseguem fornecer o nmero exato de contratados trabalhando para os Estados Unidos.54

    3.1 Servios prestados pelas CMPs no Iraque

    As companhias militares privadas tiveram atuao direta e indireta na Guerra do

    Iraque, em 2003, desde o primeiro desembarque de tropas. Isso no novidade, visto que a

    presena de entes privados em guerras no aps Westflia vem sendo documentada desde a

    53

    KINSEY, 2006, p.6 54

    SINGER, 2008, p. 245.

  • 28

    dcada de 1960. Vrias atividades relativas segurana dos Estados participantes da

    ocupao do Iraque e segurana de seus representantes, que at ento eram executadas

    exclusivamente pelo Estado, foram delegadas iniciativa privada.

    Podem ser citadas como exemplos de atividades delegadas s CMPs pelos Estados

    Unidos:

    (a) Manuteno e administrao de equipamentos estratgicos, como os

    bombardeiros B-2, F-117 e o avio de reconhecimento U-2;55

    (b) Proteo das instalaes da USAF (United States Air Force) pela Airscan;56

    (c) Treinamento em guerra ciberntica, operaes especiais e inteligncia pela

    BDM;57

    (d) Desenvolvimento de doutrina e treinamento para o TRADOC (Training and

    Doctrine Command);58

    (e) Operaes de reabastecimento em voo pela Omega Air Inc;59

    (f) Treinamento de pilotos da Marinha e Fora Area pela Aerial Tactical

    Advantages Co;60

    (g) Controle dos drones Global Hawk pela SAIC, Inc;61

    (h) Treinamento do novo Exrcito Iraquiano pela Vinnell Corp;62

    (i) Proteo do aeroporto de Bagd pela Custer Battles;63

    (j) Treinamento da polcia iraquiana pela Dyncorp;64

    (k) Servios de inteligncia e contrainteligncia pela Northbridge.65

    Outros servios foram delegados exclusivamente Blackwater. Dentre os servios

    delegados Blackwater pelo governo dos Estados Unidos na Guerra do Iraque estava a

    55

    SINGER, 2008, p. 15. 56 Ibid. 57

    Ibid. 58

    Ibid., p. 16. 59 Ibid. 60 Ibid. 61

    Ibid., p. 17. 62 Disponvel em : < http://www.sandline.com/hotlinks/Post-Gaz_priv-contractors.html > Acesso em 15/10/2013 63 SINGER, loc. cit., p. 17. 64 Ibid. 65

    BAUM, Joel A. C.; MCGAHAN, Anita M., Outsourcing War: The Evolution of the Private Military Industry after the Cold War, 2009. Disponvel em: < http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1496498 > Acesso em 03/11/2013.

  • 29

    proteo do embaixador Paul Bremer,66 chefe da Autoridade Provisria da Coalizo (agncia

    americana responsvel por supervisionar a reconstruo do Iraque ps-Saddam Hussein de

    maio de 2003 a junho de 2004, quando foi dissolvida)67 e de todos os embaixadores

    subsequentes naquele pas at 2009, quando os contratos com a Blackwater se encerraram.

    Tambm estava entre as responsabilidades da Blackwater a proteo da secretria de

    Estado Condoleezza Rice em sua visita quele pas e tambm das diversas delegaes do

    Congresso americano.68

    Porm, o leque de servios prestados pela Blackwater vai muito alm da proteo do

    corpo diplomtico americano. Como foi demonstrado anteriormente, as CMPs tendem a se

    mover no corpo da lana.

    A Greystone Ltd. uma filial da Blackwater que pode ser classificada como uma

    Companhia Prestadora Militar especializada em servios areos. Dentre os servios

    oferecidos por essa empresa em seu site, esto operaes areas (defesa civil, ataque

    areo, proteo de VIPs,69 segurana de permetro e servios armados70 e mantm uma

    frota de 32 aeronaves.71

    Outro brao da Blackwater que termina por coloc-la em todo o corpo da lana a

    Total Intelligence Solutions, uma Companhia de Apoio Militar que disponibiliza servios de

    inteligncia para contratao de governos ou empresas no mercado aberto.72

    Dessa forma, a Blackwater consegue prestar servios inerentes guerra em todas as

    fases, desde a inteligncia, at o treinamento e a execuo do combate, quando necessrio.

    No errado dizer que o caos no Iraque se converteu em sucesso financeiro para a

    Blackwater.73

    66 SCAHILL, 2008, p. 23. 67HALCHIN, Elaine L. The Coalition Provisional Authority (CPA): Origin, Characteristics, and Institutional Authorities, 2004. Disponvel em: < http://www.fas.org/man/crs/RL32370.pdf > Acesso em 15/10/2013 68 SCAHILL, op. cit., p. 23 69Disponvel em: < http://www.greystone-ltd.com/aviation_operations.html > Acesso em 15/10/2013 70 Disponvel em: < http://www.greystone-ltd.com/services_operations.html > Acesso em 15/10/2013 71 Disponvel em: < http://www.greystone-ltd.com/aviation.html > Acesso em 15/10/2013 72

    SCAHILL, op. cit., p. 52. 73

    SCAHILL, op. cit., p. 137.

  • 30

    3.2 Quantidade e nacionalidade de contratados atuando no Iraque

    Outro fator que comprova a importncia do papel das CMPs nas guerras modernas

    o nmero de empregados dessas empresas servindo em conflitos armados. Na Guerra do

    Golfo, em 1991, a proporo de empregados das CMPs eram de 1 para 60. Na Guerra do

    Iraque, em 2003, esse nmero era estimado em 1 para 3, no incio do conflito.74

    As estimativas do nmero de soldados contratados no Iraque variam muito. Em 2006,

    o Comando Central dos Estados Unidos estimou o nmero em 100 mil. No mesmo ano, o

    Diretor da Associao de Companhias de Segurana Privada do Iraque estimou o nmero em

    48 mil empregados.75 Cerca de 630 empresas empregavam 180 mil servidores particulares

    no Iraque em 2007, segundo dados do Departamento de Defesa americano. O nmero de

    soldados regulares do Exrcito norte-americano atuando no Iraque poca era 160 mil.76

    Mesmo essa estimativa foi considerada baixa por Oficiais do Exrcito, j que vrias das

    maiores CMPs no foram includas no censo.77

    Nas foras armadas britnicas nota-se a mesma tendncia. Em 2006 havia cerca de

    21 mil soldados trabalhando para CMPs britnicas no Iraque, enquanto haviam 7200

    soldados das foras armadas britnicas no pas.78

    De qualquer forma, sabe-se que o nmero de soldados privados atuando no Iraque

    bem maior do que o nmero de soldados de qualquer Diviso do Exrcito americano, e

    tambm maior do que as somas das tropas de todas as outras naes atuando em

    conjunto, que so estimadas em 12 mil, e esto em franco declnio.79

    Embora no haja um nmero preciso, as estimativas mostram o nmero de

    contratados acima do nmero de tropas oficiais. Mesmo com a retirada gradual das tropas

    do Iraque, o nmero de soldados contratados remanescentes foi maior que o de tropas

    oficiais em quase todos os perodos.

    74 SINGER, 2008, p. 210. 75 Ibid., p. 245. 76 Ibid., p. 55. 77 Ibid., p. 245. 78

    SCAHILL, 2008, p. 224. 79

    Ibid., p. 246.

  • 31

    Figura 3 Tropas oficiais versus tropas contratadas

    Fonte: Departament of Defense80

    A nacionalidade dos soldados contratados pelas CMPs varia tanto quanto seus

    servios prestados. Na maioria dos casos no h requisitos de nacionalidade para a

    contratao, somente qualificaes no uso de armas diversas e experincia profissional no

    uso dessas armas.

    Dessa forma, h nas CMPs funcionrios de vrias nacionalidades, entre elas,

    americanos, britnicos, sul-africanos, filipinos, nepaleses, chilenos, colombianos,

    equatorianos, salvadorenhos, hondurenhos, panamenses, peruanos,81 algerianos e

    israelenses.82

    Destes, Chile, Colmbia, Equador, Panam, Peru, Algria e Israel nunca enviaram

    tropas oficiais ao Iraque.

    80 SCHWARTZ Moshe; SWAIN Joyprada. Department of Defense Contractors in Afghanistan and Iraq: Background and Analysis, 2011. Disponvel em: < http://www.fas.org/sgp/crs/natsec/R40764.pdf> Acesso em 03/11/2013 81 SCAHILL, 2008, p. 420. 82

    Private Military Companies paying big bucks for elite soldier in Iraq. Disponvel em: < http://www.worldtribune.com/worldtribune/WTARC/2004/me_iraq_10_15.html > Acesso em 15/10/2013

  • 32

    Quanto nacionalidade dos contratados, o grfico a seguir mostra a diviso:

    Figura 4 Nacionalidade dos funcionrios das CMPs contratadas pelo Departamento

    de Defesa americano

    Fonte: Departament of Defense83

    Entretanto, percebe-se que a maior parte dos contratados pelas CMPs so cidados

    de pases em desenvolvimento, o que explicado pela procura por parte das CMPs de

    pessoas dispostas a receber salrios menores.

    3.3 Oramento destinado s CMPs

    Os contratos federais que a Blackwater mantinha com o governo dos Estados Unidos

    cresceram de cerca de 700 mil dlares em 2001 para 593 milhes de dlares em 2006, um

    crescimento de mais de 80 mil por cento em cinco anos.84

    Como Scahill demonstra, os lucros da Blackwater com a proteo do servio

    diplomtico americano escalaram substancialmente com o estado de insegurana no Iraque:

    Desde seu primeiro contrato no Iraque at o final de 2007, a Blackwater faturou 1 bilho de

    83 SCHWARTZ e SWAIN, 2011. Disponvel em: < http://www.fas.org/sgp/crs/natsec/R40764.pdf> Acesso em 03/11/2013 84

    SCAHILL, 2008, p. 55.

    Contratados locais; 15%

    Cidados americanos; 29% Cidados de pases

    em desenvolvimento;

    57%

  • 33

    dlares em contratos de segurana diplomtica apenas atravs do Departamento de

    Estado.85

    A Guerra do Iraque apresentou um perodo sem precedentes relativo aos lucros para

    o setor de CMPs. Considerando-se somente as companhias de origem britnica aumentaram

    suas receitas de 200 milhes de libras antes da guerra para 1 bilho de libras aps 2003,

    transformando a segurana no mais lucrativo item de exportao britnico para o Iraque no

    ps-guerra.86

    A Halliburton a maior contratada do governo americano,87 fornecendo os servios

    tpicos de uma Companhia Consultora Militar, e obtendo 39,5 bilhes de dlares somente na

    Guerra do Iraque.88 Para colocar esses nmeros em perspectiva, a soma de todos os

    contratos da Halliburton no Iraque at 2013 supera em oito vezes o custo para os Estados

    Unidos durante toda a Guerra do Golfo (US$4,9 bilhes) e supera em quase duas vezes os

    custos da Guerra da Coria (US$20 bilhes).89

    3.4 Questo legal

    Existe uma dificuldade em enquadrar sob qual legislao operam os contratados das

    CMPs. A Blackwater se aproveita dessa dificuldade para imunizar seus funcionrios. A

    companhia nega que seus funcionrios possam ser submetidos ao Cdigo Unificado de

    Justia Militar dos Estados Unidos porque eles so civis, ao mesmo tempo em que diz gozar

    de imunidade no tocante a processos civis nos Estados Unidos, porque suas foras seus

    empregados so parte da Fora Total,90 que a soma do efetivo militar ativo e reserva

    disponvel.91

    Como a prpria Blackwater alega:

    85 SCAHILL, 2008, p. 23. 86 The Baghdad Boom, 2004. Disponvel em : < http://www.economist.com/node/2539816 > Acesso em 15/10/2013 87

    SCAHILL, op. cit., p. 62. 88

    YOUNG, Agenlo. Cheneys Halliburton made $39,5 billion on Iraq War, 2013. Disponvel em: < http://readersupportednews.org/news-section2/308-12/16561-focus-cheneys-halliburton-made-395-billion-on-iraq-war > Acesso em 15/10/2013 89DAGGET, Stephen. Cost of Major U.S. Wars, 2010. Disponvel em : < http://www.fas.org/sgp/crs/natsec/RS22926.pdf > Acesso em 15/10/2013 90

    SCAHILL, op. cit., p. 66. 91

    Disponvel em: < http://www.apd.army.mil/pdffiles/ad2012_08.pdf > Acesso em 15/10/2013

  • 34

    Para que prestadores de servios responsveis possam acompanhar as Foras Armadas dos Estados Unidos no campo de batalha, essencial que sua iseno de responsabilidade por baixas seja protegida pelo governo federal e aplicada uniformemente nos tribunais federais. Nada poderia ser mais destrutivo ao conceito de Fora Total subjacente doutrina do poderio militar norte-americano conceito este que se apoia no amplo voluntariado- do que expor seus componentes privados aos sistemas de responsabilizao penal de cinquenta estados, transportados para campos de batalha no exterior.92

    Alm de aproveitar sua imunidade no campo cvel, a Blackwater liderou um esforo

    lobista para bloquear a tentativa de enquadrar as CMPs sob o Cdigo Unificado de Justia

    Militar. Sua principal alegao era de que o Cdigo no poderia ser aplicado a seus

    funcionrios porque eles no haviam entrado para as Foras Armadas, apesar de fazer parte

    da Fora Total. Apesar de seus esforos, em 2007 os funcionrios das CMPs finalmente

    foram submetidos ao Cdigo Militar.93

    O maior ato de apoio imunizao das CMPs foi a Ordem 17 da Autoridade

    Provisria da Coalizo. Essa Ordem foi assinada por Paul Bremer, embaixador americano no

    Iraque e que estava sob guarda da Blackwater. No dia 26 de junho de 2004, dois dias antes

    de deixar o Iraque, Bremer assinou a Ordem 17, que entre outras coisas, dispunha:

    Contratados pela Coalizo e seus subcontratados, assim como funcionrios no normalmente residentes no Iraque sero imunes do Processo Legal Iraquiano no que diz respeito aos atos praticados por eles em atividades oficiais em conformidade com os termos e condies de contrato entre um contratado e as Foras de Coalizo ou a Autoridade Provisria da Coalizo e todos os seus subcontratados.94

    Assim, as CMPs ficavam imunes ao Processo Legal no Iraque. Concluindo com as

    alegaes da Blackwater, elas estavam imunes civil e criminalmente no seu pas sede, assim

    como em seu principal teatro de operaes, que era o Iraque. Outro pargrafo vai alm na

    imunidade concedida a essas empresas:

    Contratados pela Coalizo e seus subcontratados, assim como funcionrios no

    normalmente residentes no Iraque sero imunes s leis e regulamentos iraquianos

    92 SCAHILL, 2008, p. 67. 93 SCAHILL, op. cit., p. 213. 94

    Coalition provisional authority order number 17, 2004, p. 1 Disponvel em : < http://www.usace.army.mil/Portals/2/docs/COALITION_PROVISIONAL.pdf > Acesso em 15/10/2013

  • 35

    em matria relacionada aos termos e condies de seus contratos com as Foras de

    Coalizo e a Autoridade Provisria da Coalizo.95

    Essa imunidade concedida s CMPs pode ser confirmada pelo fato de que at 2008

    nenhum funcionrio de uma Companhia Militar Privada operando no Iraque foi condenado

    sob sistema legal algum lei civil americana, lei militar ou legislao iraquiana - por crimes

    cometidos naquele pas.96 De 2005 a 2007 as autoridades iraquianas atriburam pelo menos

    seis incidentes com mortes Blackwater.97

    Apesar da imunidade concedida s CMPs e aos seus funcionrios, h esforos para

    regular o setor. No mesmo ms que a Ordem 17 foi assinada, o senador americano Patrick

    Leahy tentou acrescentar uma emenda ao Defense Authorization Bill, oramento de defesa

    para o ano subsequente. A emenda, se tivesse sido aprovada, teria criado jurisdio

    extraterritorial para crimes cometidos no exterior pelos funcionrios ou contratados, mas

    foi rejeitada.98

    Em sentido contrrio tendncia norte-americana de desregulamentao do setor,

    Kinsey elenca oito motivos importantes para que as CMPs sejam reguladas:

    a) Para garantir que elas no causem impacto na paz, na segurana ou na resoluo

    de conflitos;

    b) Para garantir que seu uso seja legal e legtimo e no entre em conflito com as

    convenes de direitos humanos;

    c) Para garantir que elas no enfraqueam polticas governamentais;

    d) Para evitar que elas causem danos econmicos a seus clientes;

    e) Para garantir que elas sejam responsabilizadas por suas aes e pelas aes de

    seus funcionrios;

    f) Para torn-las mais transparentes;

    g) Para evitar que elas mudem seu foco para aes ilegais;

    95 Coalition provisional authority order number 17, 2004, p. 2. Disponvel em : < http://www.usace.army.mil/Portals/2/docs/COALITION_PROVISIONAL.pdf > Acesso em 15/10/2013 96 SCAHILL, 2008, p. 31. 97

    Ibid,, p. 22. 98

    Ibid., p. 226.

  • 36

    h) Para garantir que elas, de forma alguma, ameacem a soberania dos Estados.99

    Alguns pases tm legislaes rgidas acerca do recrutamento de soldados privados

    ou de CMPs, mas a grande maioria dos pases, mesmo os signatrios da Conveno

    Internacional contra o Recrutamento, Uso, Financiamento e Treinamento de Mercenrios,

    no tem uma legislao especfica sobre CMPs, ou quando tem, no consegue classific-las

    de acordo com as caractersticas que a ONU exige.100

    3.5 Concorrncia com o Estado por capital humano

    Nos pases onde no h nenhum tipo de legislao vigente sobre o recrutamento de

    soldados para companhias privadas, ou onde essa legislao no suficiente para coibir o

    recrutamento, o Estado concorre com as CMPs por soldados treinados por ele prprio.

    Alguns lderes militares se queixaram em 2004 que a oferta de salrio que as CMPs

    faziam de quinhentos a mil e quinhentos dlares das por dia estava atraindo os melhores

    soldados de Operaes Especiais no Iraque, bem no momento que eles eram mais

    necessrios.101

    O problema da desero para se juntar s CMPs no afetava s os soldados

    americanos. Tambm foram documentados casos de ex-membros das foras de elite da

    Polnia atuando no Iraque que abandonaram o exrcito para trabalhar na Blackwater.102

    Atualmente h mais ex-soldados das tropas de elite britnicas SAS (Special Air

    Service) atuando por CMPs no Iraque do que h em todo o quadro de SAS do exrcito

    britnico.103

    Em 2006 havia trs mil chilenos no Iraque atuando sob o comando de diversas

    CMPs,104 apesar do Chile nunca ter enviado tropas quele pas.105 Para efeito de

    99 KINSEY, 2006, p. 135. 100 Private Military Companies: Options for Regulation, 2002. Disponvel em: < http://www.official-documents.gov.uk/document/hc0102/hc05/0577/0577.pdf > Acesso em 15/10/2013 101 Security Companies: Shadow Soldiers in Iraq, 2004. Disponvel em: < http://www.nytimes.com/2004/04/19/world/security-companies-shadow-soldiers-in-iraq.html?pagewanted=all&src=pm > Acesso em 15/10/2013 102 SCAHILL, 2008, p. 224. 103

    SINGER, 2008, p. 255. 104

    SCAHILL, op. cit., p. 260.

  • 37

    comparao, o Brasil mantinha 2.200 militares no Haiti em 2012, na Misso de Paz para

    Estabilizao do Haiti (Minustah).106

    3.6 Concorrncia com o Estado pelo direito ao uso da violncia

    As CMPs no concorrem com o Estado somente por soldados, mas tambm pelo

    direito ao uso da violncia. Vrios incidentes j foram registrados no Iraque pelo uso da

    violncia por parte das CMPs em casos onde no era necessrio.

    Um dos casos mais notveis foi o da priso de Abu Ghraib, quando imagens de

    soldados americanos torturando e humilhando prisioneiros americanos foram reveladas

    pelo programa 60 Minutes. Foi constatado que funcionrios da Titan Corporation e da CACI

    foram direta ou indiretamente responsveis pelos abusos em Abu Ghraib.107 Enquanto os

    soldados americanos foram julgados e condenados pela Corte Marcial, nenhum dos

    envolvidos pertencentes s CMPs foi sequer processado.108

    Outro caso relevante foi quando um vdeo divulgado na internet por um ex-

    funcionrio da Aegis mostrava funcionrios dessa companhia disparando contra veculos

    civis em uma estrada no Iraque. Uma investigao posterior da Diviso de Inteligncia

    Criminal do Exrcito americano concluiu que o incidente registrado no sugeria que um

    crime havia sido cometido e que as aes estavam dentro das regras estabelecidas para o

    uso da fora.109

    Um outro incidente foi registrado quando funcionrios da Zapata foram detidos por

    soldados americanos, que os denunciaram por estarem atirando indiscriminadamente em

    civis e nos prprios Marines.110

    105

    Chile descarta envio de tropas para o Iraque, 2003. Disponvel em: < http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI143518-EI865,00-Chile+descarta+envio+de+tropas+para+o+Iraque.html > Acesso em 15/10/2013 106

    Misso de paz da ONU no Haiti ter novos militares brasileiros, 2001. Disponvel em: < http://www.brasil.gov.br/defesa-e-seguranca/2011/01/missao-de-paz-da-onu-no-haiti-tera-novos-militares-brasileiros > Acesso em 15/10/2013 107 SCAHILL, 2008, p. 219. 108 SINGER, 2008, p. 251. 109

    SCAHILL, op. cit., p. 223. 110

    SINGER, loc. cit.

  • 38

    O incidente mais grave foi o que aconteceu na praa Nisour, em Bagdad, no dia 16 de

    setembro de 2007. Oito civis foram mortos e trinta ficaram feridos em um tiroteio

    envolvendo soldados da Blackwater. O acontecimento foi to grave que o governo iraquiano

    anunciou que revogaria a licena da Blackwater para operar no pas. Essa declarao do

    governo iraquiano demonstra a rea cinza em que as CMPs operam, j que a Blackwater no

    tinha uma licena de operao para ser revogada,111 assim como nenhuma outra CMP.

    111

    SINGER, 2008, p. 253.

  • 39

    4 CAUSAS PARA O CRESCIMENTO DAS CMPS

    O presente captulo tentar explicar os motivos e a conjuntura internacional que

    causaram o aumento no nmero de CMPs em conflitos ao redor do mundo. As causas do

    surgimento repentino das CMPs so complexas, e vo desde mudanas sociais a mudanas

    tecnolgicas. Trataremos aqui de quatro causas: o contexto ps-Guerra Fria, o aumento do

    uso de tecnologia nos equipamentos e armamentos, a implementao de polticas

    neoliberais e o menos risco poltico para o Estado que a contratao de CMPs acarreta. Ao

    final do captulo ser dado um panorama sobre o futuro prximo para o mercado das CMPs.

    4.1 Aumento no nmero de conflitos

    O fim da Guerra Fria criou um vcuo de poder em vrias partes do mundo. No

    perodo anterior queda do muro de Berlim, as duas superpotncias, Estados Unidos e

    Unio Sovitica, equilibravam as relaes de poder no mundo, e de certa forma,

    controlavam estritamente territrios possivelmente conflituosos.112

    O nmero de conflitos armados no mundo aumentou consideravelmente aps o fim

    da Guerra Fria, como mostra o grfico abaixo:

    Figura 5 - Nmero de conflitos no mundo por regio

    112

    SINGER, 2008, p. 50

  • 40

    Fonte: Departament of Peace and Conflict Research Uppsala University113

    O perodo com maior incidncia de conflitos foi 1991, quando a Unio Sovitica se

    dissolveu e deixou de existir. Isso evidencia que o vcuo de poder deixado pelo fim da

    disputa entre as duas superpotncias permitiu que conflitos antes reprimidos pelo mundo

    bipolar finalmente viessem tona.

    Durante a Guerra Fria, muitos Estados eram tratados por polticas clientelistas das

    duas superpotncias. Estes Estados eram frgeis financeiramente e politicamente, e por isso,

    altamente dependentes de apoio externo. Com o fim da Guerra Fria, esse apoio deixou de

    existir nos Estados financiados pela Unio Sovitica, e por consequncia, no era mais

    necessrio que os Estados Unidos financiassem mais nenhum Estado para mant-los em seu

    bloco ideolgico.114 Assim, o fim da Guerra Fria colapsou esses Estados, que entraram em

    guerra civil pelo poder ou por tenses tnicas.

    A ausncia de instituies burocrticas nesses Estados citados acima foi propcia para

    a contratao de CMPs, tanto por parte dos prprios Estados, como por parte das foras de

    insurreio presentes neles. Nesse sentido, o presidente exilado de Serra Leoa recorreu

    113

    Disponvel em: < http://www.pcr.uu.se/digitalAssets/196/196111_conflict_region_2012jpg.jpg > 114

    SINGER, 2008, p. 50

  • 41

    Sandline International para retomar o poder,115 enquanto a Crocia recorreu MPRI para

    reestruturar seu exrcito durante o conflito com a Srvia.116

    4.2 Disponibilidade de material humano e armamentos

    Outro fator positivo para a emergncia das CMPs aps a Guerra Fria foi a alta

    disponibilidade no mercado de pessoal treinado e armamentos.

    A Guerra Fria foi um perodo de hipermilitarizao.117 Com o fim do conflito, no

    havia mais necessidade de exrcitos to expressivos, ento houve uma reduo massiva no

    nmero de pessoal empregado nas foras armadas no mundo todo, especialmente nos

    Estados Unidos. Como possvel notar no grfico abaixo, o nmero de pessoal empregado

    nas foras armadas dos Estados Unidos caiu de 2.151.032 militares em 1985 para 1.807.177

    em 1992.

    Figura 6 Quantitativo de pessoal empregados pelas foras armadas americanas

    Fonte: Departament of Defenses human resource118

    O mesmo efeito foi notado em outros pases, como o Reino Unido, que chegou ao

    menor nmero histrico de seu exrcito em quase dois sculos,119 e, principalmente, no

    115 KINSEY, p. 72 116 STANGER, Allison; WILLIAMS, Mark Eric. Private Military Corporations: Benefits and Costs of Outsourcing Security. Yale Journal Of International Affairs, New Haven, Summer/Fall, 2006, p. 8. 117 SINGER, 2008, p. 53 118

    Disponvel em < https://www.dmdc.osd.mil/appj/dwp/getfile.do?fileNm=AD_1954-1993.zip&filePathNm=milTop > Acesso em 03/11/2013.

    1.600.000

    1.700.000

    1.800.000

    1.900.000

    2.000.000

    2.100.000

    2.200.000

    1985 1988 1990 1992

  • 42

    Bloco Sovitico, j que vrios Estados simplesmente desapareceram. A Unio Sovitica, com

    todos os pases do bloco, tinha 5,2 milhes de militares em sua fileiras em 1987, nmero que

    caiu para 1 milho em 2001 (dados referentes Rssia).

    Essa desmobilizao em massa das foras armadas criou uma superoferta de

    militares treinados desempregados.120 Baum aponta esse efeito:

    Um impacto primrio do fim da Guerra Fria foi o desemprego de um grande nmero de militares, muitos dos quais tinham habilidades especializadas, e todos compartilhavam uma familiaridade com a cultura administrativa e sistemas dos foras militares soberanas.121

    As CMPs costumam contratar ex-militares, e a grande oferta desse capital humano no

    mercado aps a Guerra Fria permitiu que elas compusessem seu quadro de pessoal a um

    custo relativamente baixo.

    A oferta de armas no mercado tambm aumentou nesse perodo. Com seus exrcitos

    desmantelados, as ex-repblicas soviticas no tiveram outra opo seno colocar venda

    seu armamento. Metralhadoras, tanques de guerra e avies de caa poderiam ser

    comprados por qualquer um que pudesse pagar por eles, e de fato foram.

    Um exemplo foi o leilo das foras armadas da Alemanha Oriental. Com a unificao,

    para padronizar os equipamentos, a nova Alemanha unificada vendeu todo o armamento da

    Alemanha Oriental em um leilo. A maioria dos armamentos foi vendido para entes

    privados.122 A consequncia dessa inundao de equipamentos militares no mercado que o

    Estado no detm mais controle dos meios de guerra.123

    possvel notar que as CMPs se beneficiaram desse perodo. A data de fundao da

    maioria delas remete logo ao fim da Guerra Fria, com maior presena na dcada de 1990.

    Figura 7 Data de fundao das CMPs

    119 SINGER, 2008, p. 53 120 Ibid. 121 BAUM e MCGAHAN, 2009, p. 21 122

    SINGER, op. cit., p. 54 123

    Ibid., p. 55

  • 43

    Fonte: Private military industry analysis: private and public companies124

    importante ressaltar que apesar de representadas no mapa como CMPs, algumas

    delas nasceram como outro tipo de empresa, por isso algumas so mostradas como se

    fossem fundadas em perodos anteriores. Por exemplo, a Kellog, Brown and Roots, que

    uma subsidiria da Halliburton, uma empreiteira de construo civil.125

    4.3 Menor custo poltico

    Outro fator favorvel para o surgimento das CMPs na dcada de 1990 o custo

    poltico de uma interveno em conflitos alheios.

    A opinio pblica, elemento primordial para a manuteno poltica de um

    determinado grupo, no mais apoia a interveno em conflitos que no ameacem

    diretamente a sobrevivncia de um Estado.

    A tabela abaixo mostra a opinio pblica para intervenes em conflitos diversos nos

    ltimos vinte e dois anos.

    Quadro 2 Opinio pblica americana sobre a interveno dos Estados Unidos em conflitos

    124 DUNAR, Charles J; ROBBINS, Donald L; MITCHELL, Jared L. Private Military Industry Analysis: Private and Public Companies. Monterey: Dudey Knox Library, 2007. 125

    Disponvel em : < http://www.halliburton.com/en-US/about-us/history-of-halliburton-of-halliburton.page?node-id=hgeyxt5y > Acesso em 07/11/2013.

    Pas/Regio Data das pesquisas A favor Contra No opinaram

    % % %

    Sria Setembro de 2013 36 51 13

    Iraque Fevereiro de 2003 59 37 4

    Afeganisto Outubro de 2001 82 14 4

    Golfo Prsico Janeiro de 1991 62 33 4

    Kosovo/Blcs Fevereiro de 1999 43 45 12

  • 44

    Fonte: Gallup126

    Pode-se observar que a intolerncia pblica com intervenes externas cresceu

    continuamente com o tempo, exceto em pases que possam ameaar a segurana interna

    dos Estados Unidos atravs da propagao de clulas terroristas ou armas nucleares, como o

    Afeganisto e o Iraque, no caso de 1991 e de 2003.

    Enquanto o pblico americano estava disposto a aceitar baixas na campanha do Afeganisto, j que essa era vista como uma luta necessria, o mesmo no acontecia para operaes em outros lugares, como a Somlia e os Blcs, onde a causa para a interveno no estava muito clara.

    127

    No Iraque, especialmente, a contratao de CMPs diminuiu muito o risco poltico de

    se empregar tropas oficias americanas.128 O fennemo chamado de body bag syndrome,

    que a volta de corpos de soldados dentro de sacos fnebres, tem efeitos negativos sobre o

    apoio pblico a qualquer conflito.

    Tim Spicer, fundador da Aegis, comenta que A transmisso ao vivo da CNN

    mostrando soldados dos Estados Unidos sendo mortos na Somlia teve efeitos

    impressionantes sobre a disposio dos governos em participarem de conflitos externos. 129

    4.4 Mudana na natureza da guerra

    Uma tendncia sem a qual o rpido crescimento das CMPs no teria acontecido a

    mudana na natureza da guerra. Antes era necessria grande quantidade de equipamentos,

    dinheiro e pessoal para se levar uma guerra adiante. Com o desenvolvimento tecnolgico

    dos armamentos, essa necessidade deixou de existir. Mudanas na natureza da tecnologia

    das armas significa que agora pequenos grupos possuem a habilidade de exercer um poder

    massivo.130

    Essa tendncia influenciou de duas maneiras as CMPs. A primeira que a o

    desenvolvimento tecnolgico permite que se tenha grandes foras militares sem

    126

    Disponvel em: < http://www.gallup.com/poll/164282/support-syria-action-lower-past-conflicts.aspx > Acesso em 03/11/2013 127 SINGER, 2008, p. 58 128 KINSEY, 2006, p. 107 129 GILLIGAN, Andrew. Inside Lt Col Spicer's new model army, 1998. Disponvel em: < http://archive.is/JPMoO > Acesso em 03/11/2013. 130

    SINGER, op. cit., p. 61

  • 45

    necessariamente precisar de grandes contingentes.131 A segunda que o desenvolvimento

    tecnolgico criou uma dependncia dos militares em tcnicos civis para operar os

    equipamentos.132

    Um dos motivos que fez com que o Estado-Nao fosse o ente mais efetivo para

    travar guerras era sua capacidade nica de reunir tropas, equipamentos, suprimentos e

    financiar uma operao de guerra. Entretanto, o desenvolvimento tecnolgico e financeiro

    tornaram possvel que organizaes menores pudessem sustentar guerras.133

    Entretanto, a evoluo tecnolgica deixou o Estado dependente de atores privados

    para operar alguns equipamentos, devido sua especificidade.

    Como foi elencado no captulo anterior, as atividades de manuteno e operao de

    algumas armas, como o bombardeiro B-2, o caa furtivo F-117 e o avio de reconhecimento

    U-2, s podem ser levadas adiante em parceria com a iniciativa privada, que detm o

    conhecimento tcnico necessrio para operar esse tipo de equipamento.

    O resultado que os conflitos se tornaram muito mais complexos, com militares

    lutando lado a lado com civis. Algumas unidades do exrcito americano demandam at cinco

    CMPs operando em conjunto para torn-las operacionais.134

    Em muitos campos, como microeletrnica, engenharia de software, biotecnologia e

    imagens de satlite, o setor civil j se tornou mais avanado que o setor militar.135

    A transferncia de vrias atividades militares para especialistas civis dificulta traar

    uma linha entre quem de fato um civil, que deve ter seus direitos resguardados em um

    conflito, e quem militar. Essa diferena pe em risco a imunidade que os civis alcanaram

    com os Tratados de Genebra.

    4.5 Polticas pblicas neoliberais

    131 SINGER, 2008, p. 61 132 KINSEY, 2006, p. 100 133 SINGER, op. cit., p. 61 134

    Ibid., p. 64 135

    Ibid., p. 61

  • 46

    O final do sculo XX foi um perodo marcante na implantao de polticas neo-

    liberais. As ltimas dcadas foram marcadas por uma externalizao massiva das funes

    que antes eram do Estado.136

    A onda global de privatizao teve incio no Reino Unido com as polticas de

    Margareth Thatcher, em 1979. Logo o modelo britnico se mostrou eficiente ao cortar

    custos do governo e outras naes seguiram o exemplo, algumas com mais e outras com

    menos sucesso.

    Logo reas antes intocveis do governo se tornaram disponveis iniciativa privada,

    como o sistema postal, o sistema prisional, e, como se pode perceber, a rea de

    segurana.137

    Inicialmente, a privatizao no que concerne s CMPs visava delegar iniciativa

    privada o que os militares faziam e que j era replicado pelo mercado, como logstica,

    processamento de dados e servios de sade, mas logo percebeu-se que na busca pela

    eficincia e corte de custos nenhuma rea poderia ser descartada.138 A ideia era liberar as

    tropas para a luta, enquanto prestadores de servio privado cuidavam da logstica de

    retaguarda.139

    4.6 O futuro das CMPs

    Com a manuteno do cenrio internacional que foi propcio para o crescimento das

    CMPs, a tendncia que elas continuem em franco crescimento, tanto em tamanho quanto

    em valor.

    O foco primrio das tarefas delegadas s CMPs continuar sendo prover logstica,

    manuteno e outros servios no ligados diretamente ao combate,140 beneficiando,

    portanto, as Companhias Consultoras Militares e as Companhias de Apoio Militar.

    136 SINGER, 2008, p. 66 137 Ibid., p. 67 138 Ibid., p. 68 139

    BRIODY apud SCAHILL, 2008, p. 99 140

    KINSEY, 2006, p. 102

  • 47

    Enquanto houver demanda para servios militares, as CMPs continuaro existindo, 141

    j que esse modelo de negcio se mostrou eficiente para quem deseja adquirir grande poder

    militar em um curto espao de tempo ou dirimir custos em empreitadas militares de longa

    durao.

    Outro fator contribui para que o crescimento das CMPs seja contnuo em um futuro

    prximo. A maior eficincia do setor privado em relao ao governo quando fornecer

    servios de mbito logstico ou que requerem alto grau de especializao, como

    equipamentos muito avanados tecnologicamente.

    Atualmente no parece haver nenhuma outra fora contrria a essa expanso. Alm

    disso, as foras que movem essa indstria no parecem estar perdendo fora, o que significa

    que enquanto a demanda pelos servios das CMPs continuar subindo, a habilidade da

    indstria em suprir essa demanda continuar subindo tambm.142

    Mesmo a reduo do nmero de intervenes externas por parte do maior cliente

    das CMPs, os Estados Unidos, no um empecilho para o contnuo crescimento das CMPs. A

    retirada das tropas do Iraque e a deciso de no atacar a Sria afeta principalmente as

    Companhias Prestadoras Militares, que so a menor parte do setor.

    Porm, a terceirizao das atividades de suporte continua e pode ser que at mude

    as caractersticas da guerra clssica, dividindo a guerra em atividades civis e militares,143 com

    as atividades civis sendo as concernentes ao suporte e as militares as atividades ligadas

    estritamente ao combate.

    141 KINSEY, 2006, p. 106 142

    Ibid. 143

    Ibid., p. 109

  • 48

    5 CONCLUSO

    Ao fim deste trabalho, possvel enumerar algumas consideraes acerca do

    questionamento proposto para elaborao desta pesquisa. Conclui-se que as CMPs so

    entidades diferentes dos clssicos mercenrios, porque apresentam estrutura fixa e similar a

    de outras empresas, e no caem dentro do rol de caractersticas utilizado pela ONU para a

    definio de mercenrios. Por fim, as CMPs fornecem vrios tipos de servios relacionados

    guerra de uma forma corporativa, empresarial.

    Tambm nota-se que as empresas do setor no so homogneas, podendo dividi-las

    em trs categorias distintas: Companhias Prestadoras Militares, que prestam servios

    diretamente relacionados ao combate; Companhias Consultoras Militares, que fornecem

    assessoramento e consultoria estratgica, operacional e organizacional; e as Companhias de

    Apoio Militar, que fornecem servios suplementares, como logstica, inteligncia, suporte

    tcnico e transporte.

    Foi montado um quadro exemplificativo das CMPs em atuao no Iraque, usando a

    Blackwater como maior expoente para ento demonstrar a importncia que essas empresas

    adquiriram nas guerras modernas.

    Mostrou-se os vrios tipos de servio delegados s CMPs durante a guerra do Iraque

    por parte dos Estados Unidos, destacando os que foram delegados Blackwater, que inclua

    a proteo do servio diplomtico. Tambm foram elencados outros elementos que

    demonstraram a importncia das CMPs durante a guerra do Iraque, como quantidade de

    contratados empregados, o crescente oramento destinado s CMPs e o imbrglio legal em

    que essas empresas operam, alm da concorrncia com o Estado por capital humano e pelo

    direito ao uso da violncia.

    No que se refere ao objetivo central deste trabalho, pode-se afirmar que foi possvel

    identificar e explicar alguns dos motivos que levaram as CMPs a ganharem notoriedade no

    cenrio de segurana internacional aps a Guerra Fria.

  • 49

    Foram apontadas como causas para a ascenso das CMPs no ps-Guerra Fria: o

    aumento no nmero de conflitos, que criou demanda para os servios das CMPs por parte

    de Estados mais fracos; a alta disponibilidade de material e pessoal no mercado aps a

    dissoluo da Unio Sovitica; um menor custo poltico ao contratar CMPs para

    desempenhar atividades militares quando a opinio publica no favorvel participao

    no conflito, e, finalmente, as mudanas na natureza da guerra, com maior emprego de

    tecnologia que requer pessoal altamente especializado.

    Todos esses fatores so necessrios para demonstrar a importncia que as CMPs

    ganharam como ator no cenrio internacional aps a Guerra Fria, e, finalmente, explicar as

    causas para seu crescimento sem precedentes no perodo analisado.

  • 50

    REFERNCIAS

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