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Como Ser um Pegador em 12 Lições Por Jéssica Biana.

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A história de Fred e Júlia e de um amor que começou com uma aposta.

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Como Ser um Pegador em 12 Lições

Por Jéssica Biana.

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Capítulo 1: Os caras populares.

Fred

Eram sete horas da manhã quando meu celular tocou Rebel, Rebel de David Bowie me despertando de um sono profundo. Tentei me levantar da cama com um pouco de dificuldade, estava meio zonzo por causa de ontem. Mesmo com um pouco de ressaca pude identificar onde estava: na casa do meu amigo André, mais conhecido como Deco.Cocei meus olhos preguiçosamente tentando lembrar onde eu tinha colocado as minhas calças.Sem sucesso,sentei na cama com um ar de cansando.Chateado por ainda estar um pouco bêbado,com dor de cabeça e uma leve vontade de ir ao banheiro pra vomitar e ainda tinha o pior de tudo:era segunda-feira.

Era assim que na maioria das vezes começamos a nossa semana e tudo por causa da nossa brilhante ideia de fazer festinhas insanas num domingo morgado. Quando falamos de festas na casa do Deco pode ter certeza que irá ter bebidas –muitas bebidas –, música, garotas, amigos e várias competições de PS3!

Eu estava um lixo.

Molemente, peguei meu celular e tinha não uma ou duas ligações perdidas, mas vinte da minha mãe e 14 do meu pai. Ótimo, eu pensei. Agora os velhos deviam estar achando que eu tinha fugido ou algo parecido. Mas nunca pensaram o óbvio ou fingiam não pensar. Meus pais odiavam quando eu vinha pra casa de André me juntar com os caras pra fazer um som ou simplesmente fazer nada. Vamos ser sinceros, é bom fazer nada com muita gente do que só!

Vencido pelo horário,levantei de novo com a intenção de achar de uma vez por todas a minha calça. Procurei em todos os cantos do quarto de hospedes, até a encontrar de baixo da cama.

-Achei você! – falei num tom feliz. Vestia-a rapidamente, calçando meu tênis e pescando em uma das gavetas do quarto uma blusa do colégio que eu tinha deixado há alguns dias no mesmo quarto.

Abri a porta do quarto e não vi ninguém no corredor. Provavelmente estavam todos dormindo.

E foi aí que tive uma ideia genial.

Fui até a cozinha, peguei uma panela e uma colher de pau, subi as escadas rumo ao meu primeiro alvo.

O quarto do Rafa.

Eu sabia que toda vez que passávamos noites aqui, Rafa ficava no terceiro quarto à direita.

Com muita cautela, andei lentamente pelo hall. Abri a porta devagar, entrando em seu quarto. Fui de pé ante pé até sua cama, prendendo o riso.Rafael estava dormindo inocentemente, babando no travesseiro.

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Eu sabia, era agora.- Acorda pra cuspir, vagabundo! – gritei com toda força que os meus pulmões fumantes podiam ter e bati a colher na panela, rápido e com muita força. Rafa,assustado pulou da cama e eu sem pensar duas vezes,caí na gargalhada.- Tá doido, seu mal comido? Era capaz de eu ter morrido de susto! – falou, sentado em sua cama com a mão no peito. Mulherzinha.- Deixa de frescura! Vamos acordar o resto. – falei,dando uma gargalhada maldosa e ele concordou, se levantando.

Fomos até o segundo quarto a esquerda, o da irmã de André. Claro que a gente não iria acordar a irmã mais velha do Deco!Quem queria levar um tapa de uma garota de quase 21 anos que era maior que dois garotos de 17 anos juntos?!

Por sorte nossa e de Deco,a família Fontes – menos o seu caçula – fazia um tour interminável pela Europa.E por que o nosso baterista não foi? Por um motivo que move jovens pelo país inteiro: recuperação!Os pais de André decidiram não deixaram o filho ir porque tinha bombado em quase todas as matérias e ainda teve audácia de falarem que nós, os amigos, eram os principais culpados.

Pausa pra falar uma coisa:agradecemos formalmente pela o Sr. e Sra.Fontes deixarem seu filho e sua casa aqui pra gente se divertir.Muito obrigado!

Rafa e eu entramos no quarto lilás rindo cúmplices. Pus o dedo indicando na boca pedindo silêncio a ele.Vimos um corpo deitado em meio a ursinhos de pelúcia,era Guto adormecido com o seu pijaminha azul escuro com estrelas amarelas que ele deixava na casa de Deco sempre.

Guto nunca ia crescer.

O lençol branco com babado em suas pontas estava enroscado pelas pernas do nosso amigo.Rafa meu olhou já imaginando o que íamos fazer.- Puxa o lençol no três! – sussurrei pra que estava indo para o outro lado da cama. – Um, dois... AGORA!- Luiz Gustavo, a casa tá pegando fogo! – gritei em seu ouvido e bati a panela. Nessas horas, eu não tinha pena, não.- Mulheres e crianças primeiro! –ouvi Rafa gritando e correndo com a mão na cabeça no meio do quarto pra dar veracidade a nossa farsa. Guto, com o susto,começou a dar socos no ar ainda dormindo.

Com que ele estava sonhando, afinal?

-Fogo?Onde? - já acordado e com os olhos arregalados,Guto gritou desesperado tentando absorver a informação.Quando deu por si,percebeu que era uma brincadeira – Seu idiotas!Eu tava quase me mijando de medo!

Rafael e eu nos entreolhamos e começando a rir,não nos aguentando mais!

-Mas me conta, com que você estava sonhando? Seus socos no ar me assustaram – perguntei curioso ao parar de rir.

-Eu tava num ringue de boxe,lutando com o Mike Tyson.E acredite,eu estava ganhando.

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-Claro. – Rafa falou ironicamente – Só em sonho mesmo você ganhar do cara.Um peteleco dele e você voa! – ele riu,sentando na cama.Guto cruzou suas pernas feito índio e com um expressão maliciosa falou:

-É o que tem pra hoje, acordar meninos indefesos? - eu assenti com a cabeça, afirmando. Sabia que vinha ideia boa vindo por aí.

Guto se levantou e saiu do quarto, nos deixando com caras de tontos. Ele nos fez esperar bons minutos. A porta se abriu e Guto entrou com um ovo,um prato e um garfo na mão.

Ok.Agora eu não tinha entendido nada.

-O que é isso? - Rafa perguntou mais confuso que eu.Arqueei a sobrancelha olhando para aquelas coisas.

Pra quê um ovo? E pra quê um garfo e um prato?

Guto sentou no chão ignorando todas as nossas caras de interragação.

-Certo,escutem. – concentrado,Guto falou - Ontem fizemos uma festa.Teve vários amigos do colégio,meninas e principalmente bebida.O André bebeu mais do que todos aqui,porque ele apagou e eu tive que leva-lo pro quarto.

-Beleza,qual é o plano? - eu quis saber,sentando no chão ao lado de Guto.Rafa fez o mesmo.Ansioso,esfreguei as mãos para ouvir o que meu amigo tinha a dizer.

Depois de Gutão explicar,nós três fomos pro primeiro quarto do corredor,o do André.Rafa fez sinal e eu abri a porta.Fiz com o maior cuidado possível.Entrei primeiro,e logo atrás,Guto com as coisas na mão.Rafael se aproximou da cama rindo,e com olhos,briguei com ele pra fazer silêncio.Com sinais,pedi ao mesmo botasse em prática.

Rafa tirou o lençol e o tirou da cama,jogando no chão.Guto foi em direção à mesa,colando o prato em cima e tentou quebrar o ovo.

-Vai logo! – sussurrei.

-Calma, to quase conseguindo. Espera aí,me dá mais alguns minutos – ele ainda tentava quebrar a casca sem fazer barulho.Depois de algumas tentativas ouvimos um “creck” – Consegui.Vou separar a clara da gema agora.

André se remexeu na cama ainda dormindo e eu fiquei com medo de ele acordar.Aproximei de Guto e sussurrei:

-Dá pra acelerar?

-Pronto. – ele deu um sorrisinho de lado.Guto pegou o conteúdo que estava no prato e passou na bunda.Sim,na bunda do nosso amigo Deco.

-Tem certeza que ele vai fazer o que acha que vai? - Rafa nos perguntou do outro lado da cama.Guto assentiu com uma muita certeza e eu ainda estava desconfiado que isso ia dar certo.

-Certa absoluta – afirmou passando a clara batida. – Pra ficar mais real,me ajuda a tirar a samba-canção dele,Fred – deu o prato pro Rafa e me olhou.

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-O que? Eu não vou tirar a samba-canção de macho nenhum! – falei me afastando.

-Você quer tirar onda ou não da cara dele? Sempre tem um sacrifício! – Guto pareceu um pouco irritado.

-É cara,faz logo! – Rafa me pressionou.

-Por que você não faz? - eu disse bravo.

-Porque eu to segurando o prato – ele deu uma desculpinha muito da idiota e voltou a falar – Agora vai,ajuda o Guto! – eu não tive escolha. Fiquei de joelhos na cama e ajudei a tirar a cueca do Piu-piu de Deco.Agradeci mentalmente por ele ser uma pedra dormindo.

-Me dá o prato! – pedi já chateado com a situação. Se era pra fazer isso,que seja rápido.Com o prato na mão,derramei o resto da clara na bunda branca de André.

-Ok,agora saiam.Vamos fazer tudo que estava combinado – Guto pediu – Ajam normalmente.Fred,já sabe o que vai fazer? - assenti com a cabeça feito criança obediente – Beleza,hora do show.

Saímos quase correndo e loucos pra rir, mas nos seguramos. Fechei a porta atrás de mim, Guto me olhou em sinal de que era pra pôr a segunda parte do plano

Bati na porta.- André, acorda. Temos que ir pra aula. – falei com uma voz leve.Sabendo que André não acordaria tão facilmente,gritei um pouco

- André,cara!Acorda,a gente tem que ir pra aula! – bati na porta com mais força – Os caras já estão lá em baixo. Anda logo! – olhei pros meninos que estavam com a mão na boca, segurando a risada.- To indo! – finalmente ele deu sinal de que estava acordado. – Mas que...? O que droga é isso? Não,não...não pode ser! Fui comido!Caras,venham aqui rápido! Apontei pra escada, a gente ia fingir que estávamos subindo. Nós três – os amigos do bem – forjamos os barulhos nos degraus e entramos com tudo no quarto dele.Ele estava em pé. E pelado.Era agora que eu tinha que fazer valer as aulas de teatro do colégio!- O que foi que aconteceu? Perdeu a cueca? – Rafa perguntou sério.- Eu fui comido! Fui comido!Tenho certeza disso! Olha a minha cueca. Olha como ela está! – peguei a cueca dele e prendi o riso.- Eca,cara. O que é isso? – joguei a cueca na cama fingindo estar enojado.- Eu não sei! – André passou a mão em sua bunda – Tem na minha bunda também! Eu virei gay?É isso? – ele falou com voz chorosa e sentou na cama – O que vou dizer pro meu pai? O que eu vou dizer quando ele chegar de viagem? – a cada frase dele, André se balançava pra frente e pra trás nos olhando, e a gente fazendo se fazendo de preocupado.-Calma cara. Relaxa, vai ver tu cagou água! –  Guto tentou amenizar a situação.- Será que vou virar mesmo gay? Eu não me lembro de nada! Só lembro de poucas coisas,da gente jogando, bebendo com vários amigos e umas minas.Espera!Amigos!Tinha homem com a gente! – de uma hora pra outra, Deco tinha ficado completamente branco.Seu rosto ficou pálido e seus olhos,esbugalhados.Eu não aguentei mais, ri até chorar.Rafa e Guto me acompanharam.Fizemos um aperto de mão do nosso grupo e rimos muito alto.  

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Incrédulo, André nos olhou.

-Quê? – perguntou, ainda sentado se lamentando com sua nova sexualidade, perplexo com as nossas risadas – Eu aqui, cheio de problemas e vocês rindo da minha desgraça? Linda essa nossa amizade!- Seu tonto. Fomos nós! Os créditos vão para o nosso querido Gutão aqui! – eu meio que dei um abraço de lado no meu amigo que ria abertamente.Rafa bateu na mão de Guto,comemorando.- Oi? Isso tudo era brincadeirinha de vocês? Eu não acredito! E jurando que tinha virado gay! – Deco disse se levantando – Bando de babacas! Agora vão se arrumar porque a gente tem uma escola pra ir! – ele apontou pra porta e saímos rindo.

Agora imagina um cara esguio,de pele branca bravo,com o rosto todo velho de raiva e ah,pelado.Isso ia ficar pra história.E assim, mais um dia começava para os garotos mais populares do Colégio Cruz Almeida

Nós éramos quatro adolescentes cheios de planos e claro,hormônios.Nossa amizade vinha desde de muito pequenos,nos conhecemos porque nossas mães eram amigas e participavam de um tal de clube das socialites da cidade.Enquanto elas falavam de roupas,lojas e maquiagem nós brincávamos de tudo que era brincadeira de garoto até que nós crescemos e passamos a brincar com outras coisas,se que você me entende.

Os meninos foram tomar banho enquanto eu comia. Minha manhã tinha começado relativamente bem naquela segunda. Uma ressacazinha ali,uma brincadeirinha aqui...

Suspirei.

As coisas estavam tudo na perfeita harmonia.

Estávamos na garagem da casa dos Fontes, entrando na Pajero prata do pai do André e falando nele,o cara ainda estava com raiva do episodio de mais cedo.

-Desculpa, cara. Fica assim não, você sabe que sempre rola uma brincadeira assim. Foi mal. – me desculpei em nome dos três, mas não tava adiantando.- Te juro que a gente não faz mais isso... – foi a vez de Guto se desculpar.- Foi minha ideia, não desconta neles. Se você não quiser falar comigo, eu entendo. – falou olhando pra fora da janela, claramente se arrependendo do que tinha feito.O Guto era daqueles que faziam brincadeiras e as vezes não ligava se tinha pego pesado ou não,até perceber que tinha magoado algum amigo.-Vai. Ter. Volta. – só isso que o André falou no trajeto inteiro.

Capítulo 2: A aposta

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Fred

1ª Lição: Fica aqui, morre aqui. Se você, pegador, arma com seus amigos pra ficar com uma garota e esse plano não é lá muito ortodoxo, atenção: tenha cuidado pra não vazar. Obs.: é muito difícil cumprir essa lição. Sempre tem alguém que dá com a língua nos dentes.

Chegamos ao colégio calados, o clima estava tenso entre nós. O Cruz Almeida tinha uma bela fachada brancas e algumas árvores ao seu redor. Um dos melhores colégios da cidade,abrigava todo tipo de aluno. Os mais estudiosos, os estranhos e a gente.

Automaticamente, cruzamos o pátio que era um local aberto e cheio de mesas. As pessoas nos olhavam com um ar invejoso,sem pressa fomos até a nossa mesa de sempre,a que ficava no meio.

Sentados, acenávamos para as meninas que passavam. Nós éramos consideramos os mais pegadores daquele colégio e modéstia à parte, era eu quem pegava mais.- Acho que vou chamar aquela loira pra sair – quebrei o gelo chato que estava entre a gente. Apontei discretamente pra uma menina linda que tinha cabelos loiros lisos perto da cantina – To afim dela desde a semana passada.- Nem vem, Fred. Já tinha pensando nisso. – Rafa fez um movimento com os braços exclamativo – Eu vou ficar com ela!- Não! Eu vou pegar primeiro! Você sabe que ninguém resiste a mim. – eu disse com um meio egocêntrico – Eu posso ter qualquer uma aqui, na minha mão. – Rafa rolou os olhos, entediado. Sabia no que aquilo ia dar: numa confusão pra saber quem era que tinha o maior número de conquistas e claro,eu ia ganhar.André ainda calado, olhou pra o outro lado do pátio – pra parte sombria da escola, onde só havia gente estranha que usava preto – e deu um sorrisinho.- Eis a minha vingança: se você acha que pode ter qualquer uma, aposto que não pega aquela. – ele apontou pra a parte sombria do colégio. - Quem? O cabeludo ali? –  Guto perguntou.- Não, aquela. – por trás do cabeludo, havia uma menina baixinha ouvindo música no seu Ipod.Não, não podia ser.

Júlia Torres não.

Eu não estava acreditando no que acontecia. Meu amigo tinha mesmo feito que fez?

- Eu não acredito!Poxa Deco,quer me matar de uma vez? – falei num to desesperado – Nem fui eu que tive a ideia do ovo, foi o Guto! – apontei pro meu outro amigo que estava do meu lado – Joga essa aposta pra ele, não pra mim!- A ideia pode até ser do Guto, mas quem inventa essas idiotices de manhã é você. E aí, acha que consegue? Eu aposto cem reias que não. – sua voz veio num tom totalmente desafiador.

Virei pro os outros dois pedindo ajuda e eles só levantaram a mão como se dissessem que não podiam fazer nada.

– Você se diz o rei, que pode pegar qualquer uma aqui, então eu aposto você pegar a Júlia Torres.- Mas a mina não é lésbica?! –perguntei.

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- Rapaz, isso já não é problema meu. – André levantou as mãos não ligando pro meu desespero.- Isso é um desafio? – voltei a perguntar! Se a mina era lésbica, vai ter que voltar a gostar de homens!- Desafio, aposta, entenda como quiser... – Deco deu de ombros.- E se ficar com ela, o que eu ganho?- Além de cem pratas, uma bela de uma ficada e a moral dos seus amigos. Agora, se você perder...- O que... Você vai fazer?- Espalho pra todo mundo que naquela viajem pra Noronha, você ficou com um instrutor de mergulho e que toda essa fama de pegador aqui em Costa Nova é fachada. Você sabe que eu posso provar, não sabe? – é, eu sabia. André tinha uma grande habilidade em Photoshop e afins. Ele podia fazer uma montagem perfeita de uma foto minha com um cara gostosão pelado com um equipamento de mergulho escondendo os seus documentos. Vendo minha cara de pânico, perguntou: – Vai arregar?

O que eu poderia fazer? Se eu não aceitasse seria um completo idiota entre meus amigos e ser um arregão.E se eu conseguisse?Se eu tentasse domar a menina mais estranha e arisca do colégio e ganhasse a aposta?

- Arregar? Parece que nem me conhece. Beleza, aposto com você que fico com a Júlia mãos de tesoura e mais, vou pro Baile de Verão com ela. – disse simplesmente.- Tem certeza, cara?– Guto perguntou. Engoli em seco.- Tenho. E aí, fechou? – falei pro Fontes, jogando minha mão em sua frente pra selar nosso pequeno acordo. Eu tinha que mostrar que era capaz de ganhar a aposta. Deco arqueou a sobrancelha e logo menos juntou nossas mãos.- Só quero ver.- Agora, essa aposta morre aqui. Nada de dizer pra alguém. – falei olhando diretamente pro Rafa propositalmente. - Se isso foi uma indireta, saiba que estou extremamente ofendido.- Não interessa, eu te conheço muito bem. E a qualquer momento, sem querer isso pode sair da sua boca. Por isso, fica aqui e morre aqui, ok? – todos assentiramE agora? Além de pegar a louca lá, tinha que ver se ela era mesmo lésbica. Como é que vou me aproximar do projeto de Satã?

O que eu sabia daquela garota?

Pensando bem, só dei conta de sua presença no meu colégio poucas vezes. Ouvia os outros falarem que Júlia participava de rituais macabros, tinha um ex-namorado traficante e gostava de usar drogas.O que era meio obvio para uma garota que andava no darkside do colégio.

O darkside era o lado mais sombrio do pátio. Ali ocupavam roqueiros, esquisitos,nerds,estranhos que jogam RPG e os drogados.Nós,os normais,nunca nos misturamos com eles por medo de certos integrantes e por medo de se juntar a parte dos excluídos.

Nunca queira mexer com um deles e principalmente com ela. Havia muitas histórias envolvendo aquela garota. Alguns diziam que Júlia entrou em várias casas para jovens problemáticas. Outros, diziam que ela tinha pegado o hábito do ex-

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namorado e vendia drogas. E havia aqueles que diziam que Jú – assim que a chamavam – era lésbica. E isso estava me deixando meio nervoso.

Como conquistar uma menina que gostava de meninas? Nunca procurei saber se era verdade, mas também nunca a vi com um menino.

Júlia era famosa por suas notas e seu desempenho em lutar a favor dos direitos dos alunos, principalmente os das meninas. Estudei com ela no primeiro ano e presenciei várias brigas com professores e coordenadores. Todos os dias, ela chegava atrasada e com cara de sono. Usava muito moletom preto e esmalte da mesma cor. Já me falaram que tinha feito pacto com diabo, e que eu não duvido muito.Eu não a achava bonita e nem feia, mas com certeza não fazia meu estilo de garota.

-Qual vai ser a primeira aula? - Rafa me tirou do meu pequeno transe. Pegou meu caderno a procura do horário – Só tem escrito aqui a hora dos intervalos, Fred! – ele meio que riu de lado – Por quê?

-Porque essa é a única informação que sei – ri um pouco – Vamos pra sala, daqui a pouco o sinal toca.

Saímos da mesa e fomos em direção à entrada principal do prédio antigo. Subindo as escadas, eu pensava calado em como me aproximar de Júlia.

Ela era um enigma pra mim.

Ao entrar na sala 258, coloquei minha mochila em cima da carteira. Ignorando a conversa dos meus amigos, sentei e fixei meu olhar na lousa.

Ainda estava com Júlia Torres no pensamento. Ela não era tão feia assim pra ser bem sincero.

Ela tinha cabelos castanhos escuros ondulados, usava uma franja longa que de vez em quando cobria um dos seus olhos. Júlia tinha uma pele branca e um corpo magro – o que me deixava um pouco desanimado, já que eu gostava mais de uma carne. Sabia que andava em lugares estranhos e com pessoas mais estranhas ainda.

E era só isso que eu sabia de da garota freak.

Capítulo 3 – O lado darkside da vida.

Júlia

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Era quase a hora de começar a aula quando eu estava andando até o Colégio Cruz Almeida. Meus All Stars pretos quase se partiam ao meio de tão velhos ao andar, minhas unhas estava com esmaltes saindo e meu piercing ao lado do lábio inferior me incomodava um pouco.

Ascendi meu primeiro e derradeiro cigarro antes de entrar no colégio,já que não podia fumar lá dentro.Entre tragos,virei a última esquina e cheguei à masmorra.

Eu tinha problemas ao entrar naquele lugar. O primeiro é que a maioria das pessoas eram completamente babacas e não é opinião de uma revoltada com a vida. Elas eram sim babacas.

Ali, a galera só pensava em coisas fúteis como roupas, celular da moda,festas chiques com garotos da alta sociedade e claro,humilhar os outros alunos – que era o grupo menor,o grupo em eu que participava.

O darkside.

Os excluídos, os estranhos, os roqueiros e rebeldes... Era assim que eram conhecidas as pessoas que ficavam no lado esquerdo do pátio.

E era onde eu meus amigos ficavam.

Entrei no pátio acenando rapidamente para o José, o porteiro. Sozinha, sentei em um dos banquinhos que ficava no darkside,observando o movimento dos alunos.

Peguei meu Ipoid e comecei a ouvir Spanish Bomb, do The Clash, uma das minhas preferidas deles, quando Mike, um dos meus melhores amigos, sentou perto de mim me oferecendo um cigarro. Como eu já tinha fumado uma antes de chegar, dispensei.- Você não sabe que não pode fumar dentro das dependências desse colégio? – perguntei.- E você não sabe que eu to pouco ligando pras dependências desse colégio? Se to na vontade, eu fumo. Não interessa onde eu estou. –falou dando um trago profundo, parecendo que não havia fumado há dias.Mike era um dos meus mais queridos amigos no colégio. Seus cabelos loiros e longos e seu ar de problemático faziam com que algumas meninas enlouquecessem.

Antes de tragar mais uma vez, perguntou:

- O que você tá ouvindo?- The Clash, tá afim? – tirei o fone esquerdo pra Mike pegar. Normalmente não faço isso, acho chato dividir fone, mas como era o Mike, então estava tudo certo.Ficamos ouvindo a música até quando não aguentei. Tirei o cigarro da boca dele e coloquei na minha.-Desculpa, é mais forte que eu. – sorri, e em resposta, Mike deu uma piscadinha.

Nós éramos amigos há muito tempo, eu dava liberdade a ele pra falar de qualquer coisa sobre a minha vida e ele o mesmo. Passamos por muita coisa juntos. Por isso o considero tanto.Estudamos em outros colégios e aprontamos também. Aprendi a tocar bateria por causa dele, porque ele tinha a ideia fixa de montar uma banda e eu queria seguir seus passos. Pra mim, Mike era meu irmão mais velho, meu porto seguro. Ele me ensinou tudo o que sei, desde tocar bateria até a dar murros em pontos

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estratégicos em garotos.Ele era uma referência. E eu era muito agradecida a ele. Mike me entendia como ninguém, sabia de todos os meus problemas e como me ajudar.

Minhas amigas, eu conheci aqui. Bia, Cris e Sophia são as únicas amigas que eu tenho na vida! Vestiam-se de preto, usavam piercing... Com exceção de Sophia. Elas ouviam bandas que eu curtia, gostavam desses lances de protestos também.

Se você ouvir por aí que eu sou mulher do capeta, que me acho por falar o que quero sem medir as palavras, que sou a feminista lésbica e que sempre faço uma orgia com as minhas amigas toda sexta...Saiba que tudo isso é mentira.

Primeiro, acha mesmo que o capeta ia casar comigo com tanta mulher bonita por aí? Tá, piada sem graça. Segundo, só porque falo o que eu penso e o que acredito mesmo sem ligar pro que as outras vão falar, tiram conclusões precipitadas de mim. E na real? Nem ligo! E terceiro, feminista eu sou, mas quanto ao ponto do lesbianismo... Pergunta ao meu ex-namorado se sou lésbica.

- Jú! – voz de piou Cris, me chamando. – Você tá preparada pra notícia?Ah, oi Mike – seu tom mudou de voz ao ver que Mike estava no meu lado.Cris não gostava dele,o odiava pra ser mais sincera. - Se for não for boa, não precisa nem dizer!Não rola notícias ruins a essa hora da manhã-  Deixa de drama. A notícia é ótima! Envolve você, eu, a galera e uma banda.- Calma, que meu coração não aguenta. – coloquei uma mão no peito esquerdo. -A gente vai pro show da Sounds Of Darkness! – Cris gritou e eu não acreditei!

-EU NÃO ACREDITO! – falei fazendo uma dançinha da vitória. Eu tava muito feliz! Sabe quanto tempo estou faz que eu estou esperando essa banda? Dois anos. Eu tenho que ir pra esse show. Eu vou pra esse show.- E as meninas estão sabendo?- É claro! – quase gritou – Eu só não falei pra você nesse final de semana porque não te achei. Falando nisso, onde estava? - Er... Eu fui ver uns amigos – olhei pro Mike que se fez de desentendido.- Hm... Vou fingir que acredito. – era daquelas que desconfiava de tudo, e pra mim era um desvantagem, porque eu não sabia esconder coisas não muito legais das minhas amigas. – Você também vai Mike ao show? - Cris perguntou meio a contra gosto.

-Vou. É uma das minhas bandas favoritas também e uns amigos também vão... – ele assoprou a fumaça de seu cigarro e logo em seguida, jogou sua bituca fora. Cris rolou os olhos, tediosa.

-Hm... – ela olhou pra mim – Você tem aula de que agora?

-Tenho de biologia no laboratório e você?

- História com o resto das meninas. Nos vemos no intervalo? – assenti com a cabeça e ela foi pro pátio central.Nós estudávamos separadas por um simples motivo: fazíamos muita bagunça juntas. Desde o primeiro ano, ouvíamos reclamação dos professores, e como eu não levava desaforo pra casa, sempre acabava numa detençãozinha básica.No segundo ano, tudo mudou. Ficamos em salas separadas e como viram que

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melhoramos,não pensaram duas vezes em nos deixar assim no terceiro ano.

Mike e eu fomos pro Laboratório de Ciências Naturais do Cruz Almeida. Mike era loiro de olhos azuis e tinha uma argola no nariz como piercing. Ele era bonito demais, mas nosso relacionamento não passava de amizade. Nós éramos mais amigos do que um casal.Sentamos lado a lado. Era normal ele ser a minha dupla de qualquer coisa naquela escola. Nós não éramos bem aceitos – pra não dizer que éramos excluídos– pelos colegas de classe.O professor Jorge passou uma prática de queimar alguma coisa com alumínio. Eu fui acender a o material pra queimar o alumínio quando ouço alguém dizer:- Já está acostumada a usar utensílios pra queimar alguma coisa, né não Torres? Aposto que já usou um desses pra ficar chapada. – João, o ogro, falou.- Eu sou tão boa em queimar coisas que se fosse você, ficaria com medo de eu “sem querer” queimar o que você tem no meio das pernas. – e toda sala riu.- Já chega! João, pode, por favor, parar de mexer com a Júlia? E você, não pode ficar ameaçando seus colegas de classe assim. – o senhor de bigode disse com gentileza, mas sinceramente, fiquei revoltada.- Mas me chamar de drogada diante da sala toda ele pode, né?- Não ligue pro que esse garoto fala. Ele é um monte de músculo ambulante, desconsidere. – sussurrou em meu ouvido. – E tenho certeza que drogada você não é.Professor, eu não teria tanta certeza assim.E aula prosseguiu. Queimando coisas sem importância e fazendo coisas que o professor pedia.E ainda era segunda. Será que se eu fechasse meus olhos bem forte, a sexta chegava?

Capitulo 4 – A garota que batia em garotos.

Fred

Era o tempo de Ed. Física e todos os alunos dos terceiros anos estavam fazendo essa aula. Todos, com exceção de nós e tudo porque não suportávamos fazer aquela aula e outra,a gente adorava ficar ali do alto das arquibancadas assistindo as garotas com seus shorts apertados!Claro que não íamos ficar olhando marmanjo jogar bola.

Eu sentei um pouco mais afastado dos meus amigos, pensativo.Foi aí que vi quem tava jogando também:a from hell.

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- E aí, já sabe o que vai fazer pra ficar com a Júlia? – Rafa chegou de surpresa e apontou a cabeça para mesma direção que eu olhava, preocupado. Ele sabia mais que eu que André não estava brincando com aquela aposta. Achei legal da parte dele ter aflição com os meus problemas. - Olha, que lindo, todo preocupadinho comigo! – falei com a voz afeminada o abraçando e ele riu- Sai,seu louco! Eu to preocupado, porque ninguém sabe o que essa doida é capaz de fazer com você. Imagina se a descobre dessa apos... -Rafa! Cala a boca! Depois ainda pergunta se as indiretas de ficar com a boca fechada são pra você. Esse assunto a gente só pode falar em casa. Para todos os efeitos, ela tem que achar que eu realmente estou afim dela. – eu acho que falei com tanta raiva que ele assentiu sem titubear.

Ele foi conversar com os outros dois em uma das arquibancadas de baixo, me deixando com os pensamentos sobre a garota que eu olhava. Júlia era assustadora.

Mas até pra uma garota assustadora tinha um corpo incrível. Sem aquela armadura preta que ela chamava de casaco Foi quando ouvi uma gritaria e um aglomerado de pessoas – no meio, uma em especial. 

Olhei para os meus amigos sem acreditar no que estava acontecendo. Rafa tinha aberto a boca com certa incredulidade e os outros fizeram o mesmo.E do nada,olharam pra mim.

- Ela bateu num cara? - Guto perguntou não acreditando no que havia visto.

Julia

Eu estava exausta. Eu tinha acabado de ganhar no Handball por quinze a onze e só pensava em beber água. Fui até o bebedouro enxugando a minha testa suada, abaixei minha cabeça pra beber e foi quando ouvi uma voz conhecida irritante.

-Não é que a punk é gostosa mesmo – João falou se aproximando com seus amigos enormes e fedorentos. Ignorando,voltei a beber minha preciosa água.

Fui quando tudo aconteceu.

-Se estou falando com você, é pra você olhar pra mim! – ele alisou descaradamente a minha bunda.

E na minha cabeça só veio uma coisa: ele não tinha feito isso.Não tinha!

Com toda raiva que contida dentro de mim,fechei meus olhos tentando me segurar.O que não deu muito certo.

Então, esbravejei:

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-Você não fez isso!- Que foi? Não sabe o que é carinho de homem não? – respirei algumas vezes tentando manter a calma, mas foi tudo em vão.

Sem pensar duas vezes, fechei meu punho dando um soco em seu nariz logo em seguida. Ouvi meus colegas de classe gritarem.

- Você tá louca? – João falou com as mãos no nariz sagrando. - Isso é pra você aprender a nunca mais mexer comigo! – apontei o dedo indicador raivosa .Algumas pessoas me seguraram com medo de que eu avançasse nele,e foi em uma dessas vaciladas que cuspi em sua cara.

A verdade era que João mexia comigo desde que eu entrara naquela maldita escola. Seu divertimento era me ver ser humilhada na frente dos outros,achava que com isso teria respeito e medo mas comigo não.Comigo as coisas eram bem diferentes! A gota d’água foi ter alisado a minha bunda. Ninguém podia tocar em mim. Não daquele jeito. 

Mas aí a coisa toda estava feita.

Tentei me recuperar, mas já era tarde demais,vi meu professor de Ed.Física chegando e tudo que pensei foi o quanto eu estava ferrada.

-Você – apontou pra mim – vem comigo e você – apontou pra um João caído no chão com as mãos no rosto – vá direto pra enfermaria.

***

Roendo as unhas, entrei na sala da diretora mais gorda da face da Terra. Sua bochechas deixavam sua boca pequena, seus cabelos loiros encaracolados vinham de algum lugar dos anos 80 e suas roupas grandes me faziam tremer de tanto mau gosto.

-Sente-se Júlia – parou de morder um biscoito de chocolate pra falar comigo. Assustada, sentei sem falar nada – Soube do acontecido na aula de Ed.Física.Quer me explicar como foi isso?

-Ele me tocou e eu revidei. – disse simplesmente. Ela me olhou nos olhos e fez um barulho parecido com “hum”

-Achei muito corajoso de a sua parte bater em um garoto do tamanho do João...

-A gente faz o que pode – dei uma risada de lado.

-Mas confesso que não foi uma atitude boa.

-Diretora Beth, ele passou a mão em mim e isso eu não admito

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-Júlia, você bateu em alguém, machucou o próximo, e isso não é adequado. Tinha que chamar o responsável pela aula, ou seja, o professor Marcos. Antes que pergunte, dei a ele três dias de suspensão. - Só três dias? – falei me levantando – Como assim três dias? O menino me alisa e você só dá três dias de suspensão?Isso é um absurdo!

-Eu acho melhor você se acalmar se não a sua detenção aumenta! – ela juntou seus braços gordos na mesa.

-Detenção?! - exclamei revoltada

- Você, além de bater em uma pessoa, cuspiu. Uma semana de detenção. - Uma semana? – eu devo ter feito uma expressão bastante perturbadora porque a diretora gorducha me olhou assustada.

-Se quiser água, minha filha é só pedir. – disse tremula e fiz que não com a cabeça - Agora escute. Você não pode sair impune, Júlia. Desculpe mas são normas do Colégio.- Diretora, por favor, eu nunca fui de pedir nada. Deixe-me livre dessa detenção. Eu posso fazer um trabalho - fiz força pra chorar pra ver se ela tinha pena de mim. – Por favor!- Não. Desculpe-me, você vai cumprir essa detenção. Vai pensar no que fez. 

Fred

O que era aquilo? A menina desceu a mão no cara três vezes maior do que ela? 

Júlia era barra pesa mesmo!E eu não ia mentir, tava morrendo de medo de chegar perto dela!

A confusão foi tão grande que o tempo tinha passado rápido e o intervalo havia chegado. Sentamos na mesma mesa de sempre, e já acomodados peguei meu cigarro ainda nervoso e pensando no que ia fazer em relação à menina que batia em caras - Fiquei sabendo que a Júlia pegou detenção. – André sentou perto de mim – E aí, conquistador, já sabe como vai domar a fera? - Estou pensando em alguns ataques, mas calma... Estou chegando lá. – ascendi o cigarro tremulo- Só quero ver, você ficando com a menina estranha! – Gutão falou – E você já ta cansado de saber que não pode fumar aqui – jogou meu pobre cigarro no chão.

-Situações como essa pedem medidas desesperadoras - e peguei de novo um cigarro.-Parece que não tem medo de ficar em detenção... – Rafa disse um pouco distraído enquanto tomava seu suco - Detenção... – pensei – Bem que eu podia ficar em detenção pra me aproximar de Júlia– falei passando a mão no cabelo em sinal de nervosismo. - Caramba, to louco pra ir ao banheiro!Vamos ao banheiro! – Rafael disse com sua bexiga frouxa, falou e fez com que a gente fosse ao banheiro. 

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- Cara, eu tava muito apertado. – Rafael disse lavando as mãos. - Não queremos saber da situação da sua bexiga,Rafa– Deco falou rindo. Saí da cabine do vaso sanitário. Olhei pra baixo e vi um rolo de papel higiênico. Papel higiênico. 

Tive uma ideia. - Galera, peguem todos os rolos de papel higiênico que puderem. Tive uma ideia genial! – gritei no meio do banheiro.- Qual o objetivo disso tudo? – Guto ia perguntando enquanto abria os armários do banheiro. - Vou pra detenção, fazer amizade com a querida e amada Júlia. – dei um sorrisinho. Meus amigos me ajudaram com os rolos e foi quando ouvi o sinal tocar. Saímos do banheiro e eu já o que fazer - Tudo certo? – assentiram com a cabeça – Ótimo! Me ajudem a enrolar os papéis no corrimão e vamos jogar alguns pro alto, ok? 

E assim foi que tudo aconteceu. Pegamos uns dez rolos de papel higiênico e fizemos o que havíamos planejado. André enrolou o máximo que pôde nos corrimãos do corredor principal. Objetivo principal era que todos do colégio vissem o que a gente estava fazendo. Vi alguns rolos voarem fazendo zigue-zague e outros enrolados nos corrimãos. Tava lindo. - O que você não faz pra ter uma garota... – Guto disse enquanto pegava mais rolos. - Não, querido Luiz Gustavo. O que eu não faço pra ter uma garota e um dinheiro fácil. Certo gente, podem sair. Valeu pela ajuda, mas não quero que vocês saiam prejudicados. – disse por fim, percebendo que o trabalho tava mais que suficiente. - Tá, vou mandar alguém avisar à diretora. Boa sorte. – André falou me abraçando fortemente. Acho que ele sentiu que eu estava levando um pouco a sério a aposta e pela primeira vez, sentiu pena. 

Fui andando com o último rolo de papel na mão quando ouvi: - Frederico Maia! – parei na hora e juro, morrendo de medo. - Pois não, querida diretora. – meu sorriso cínico destacava no meu rosto.- Que furdunço é esse? – a gorda pôs as mãos em sua cintura enorme. - Estava com problemas e meu psicólogo falou que seria importante eu liberar o estresse. Olhei pros papeis higiênicos e pensei: por que não? - O único problema aqui, mocinho, é a falta de comunicação que tenho com seus pais! – ela levantou o dedo indicador. – Quero que limpe essa porcaria e vá até a minha sala. Teremos uma conserva séria. E a gordinha foi bufando até a sua sala.Conversa séria... O meu maior medo mesmo era de ela não me mandar pra uma detenção e sim,uma suspensão gigante!Não sei o que faria com os meus pais se isso acontecesse!Eu tinha que correr o risco! Tirei todo o papel e o joguei no lixo. Demorou, já que tinha muito papel. Fui pensativo pra sala da diretora, com medo de levar uma suspensão e meu tiro sair pela culatra. Respirei fundo. Bati na porta e ouvir um “entre”. - Estou ao seu dispor. – falei com uma voz de galanteador. 

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- Sente Frederico. Vamos conversar. – fiz o que ela mandou e a esperei abrir a boca – Frederico, eu sei que seus pais viajam muito, que não tem tempo pra você e isso é um problema. Você fica sem supervisão, querido.E hoje foi a gota d’água.Para toda ação há uma reação e o que você fez com certeza tem uma consequência. – agora era hora!- E seria uma...? – perguntei ansioso.- Detenção. – prendi o riso e fiz cara de decepcionado – É claro que você esperava uma suspensão pra ficar livre da escola, mas como eu digo, aqui não, violão! Se seus pais não lhe criam, eu vou criar! – quase disse “mamãe!”–Agora vá pra aula e não se esqueça que sua detenção será durante a semana, depois das aulas, na sala de estudos. Parte um: completa.

Capitulo 5 – Tudo isso por um cigarro?

Julia

Finalmente a hora da saída tinha chegado. Peguei minhas coisas e vi Mike me esperando na porta da sala. Fui em direção a ele e me encontrei com as meninas. - Fiquei sabendo. Poxa, o que você tinha na cabeça de socar o João? – Sophia me perguntou. Sophia era a menos estranha de todas. Ela era a mais meiga do grupo. E eu me perguntava o motivo pelo qual ela andava conosco. Ela era linda, vestia roupas normais – para os padrões do colégio – mas nunca quis fazer amizade com as outras meninas. Um dia, ela disse que se sentia deslocada apesar de ser bonita, vestir roupas boas e essas coisas. - Eu não me aguentei, tinha que fazer isso. – falei pegando meu Ipod.- Mas nem rola de você fazer essa detenção! Super injusto. O cara te alisa e você ainda paga o pato? Que mundo é esse, meu Deus? –  Bia levantou as mãos. - Bia, você não é ateia?  - Cris perguntou rindo.- E só porque não acredito em Deus, não posso citá-lo? – revirou os olhos. - Enfim, segundo a diretora, socar e cuspir não são atitudes legais e preciso pensar nelas na detenção. Tentei explicar que podia pensar nas minhas atitudes em casa, mas ela não quis ouvir essa proposta... - Jú, tá na hora da detenção! – Mike gritou do outro lado do corredor. - Ih, Júlia teu pai tá te chamando! – Cris disse com um arzinho mangador e as outras riram. Elas sempre zoaram minha amizade com Mike. Elas o chamavam de meu pai ou irmão mais velho. Eu nem ligava.

- To indo! Meninas, tenho que ir! De noite rola reuniãozinha lá em casa? - Pode deixar, a gente dá uma passada lá. – Bia respondeu por todas.Fui até Mike e descemos pela escada em direção à sala de estudos. - Vou ficar na casa de um amigo meu esperando você sair. Me liga que eu venho te buscar, tá bom? – Mike falou e eu balancei a cabeça positivamente. - Mike, se for à casa do amigo que eu to pensando... Cuidado, ouça bem o que eu to te dizendo! – falei e ele me olhou rindo. - Não é ele. Depois do que rolou, eu nem quero saber dele. – nós já estávamos perto

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da sala e Mike me beijou na testa – Prometo que não vou me envolver com esse tipo de gente. Por mim e por você. Vai, que o povo mais louco que a gente ta te esperando. – ele bateu na minha bunda em sinal de incentivo. - Olha que da última vez que fizeram isso, teve gente que quase saiu com nariz quebrado. - Nem me lembre. A sorte dele eu tava cabulando aula...- Isso, meu super-herói! Me proteja! To indo. – dei um beijo em sua bochecha e entrei na sala. 

Não havia professor ou nenhum responsável. Só umas quatro pessoas sentadas em pontos totalmente diferentes. A primeira pessoa era uma menina loira com um casaco rosa e um diadema rosa bebê. O segundo elemento era um dos caras do lado sombrio do colégio, o Lucas. Ele olhou pra mim, fez uma cara de poucos amigos e continuou a brincar com seu isqueiro. O terceiro era o Felipe, o cara dos computadores. Provavelmente, entrou em algum sistema proibido do colégio. O quarto era nada mais nada menos que Frederico Maia, que provavelmente foi pego ficando com alguém no almoxarifado. Sentei na última cadeira, peguei minha bolsa a colocando na mesa e fazendo dela um travesseiro.Abaixei a cabeça e daqui a minutos tiraria um cochilinho maravilhoso. Falei muito cedo. Ouvi a porta se abrindo e depois se fechando. Reconheci meu professor lindo de música,Gabriel,colocar seu material na mesa e sentar na sua cadeira. Uma semana com aquela visão perfeita? To amando a detenção. - Bom pessoal, vocês devem perguntar o motivo que me trouxe aqui, mas a pergunta certa é: porque vocês estão aqui? Começando por Felipe! - Entrei mais uma vez no sistema do colégio e fui pego. - Hm... Há um hacker entre nós. Vou ficar de olho no meu Notebook. Agora você, Denise. - Cabulei aula de matemática pra ficar lendo revista sobre Colíros. – “acéfala” pensei. -Júlia? - Bati em um cara cinco vezes maior que eu e não me arrependo. Posso ir embora? - Eu soube dessa história e não, não pode sair. E você, Fred? - Rolos de papel higiênico, longa historia. – Frederico falou e eu ri. De repente, Frederico me olhou por cima do ombro, o que me fez corar um pouco.Com isso,virei meu rosto fingindo que não era eu que tinha rido.Constrangedor. Assumo que ele não era de se jogar fora, mas nunca olharia pra mim e nem se interessaria por mim. - Professor, o que vamos fazer? - perguntei.

- Boa pergunta, Júlia. Ainda não sei o que vou fazer com vocês. A senhora Beth me chamou pra supervisionar de última hora e ainda por cima, passar um trabalho relacionado à arte e música. Por enquanto façam o que quiserem. Mas é só hoje, amanhã trarei alguma atividade que valerá nota. O professor gato falou e vi o resto das pessoas comemorando por não fazer nada durante o dia naquela sala. Se eu quisesse passar o dia fazendo nada, iria pra casa e dormia. Vida complicada essa a minha. 

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Enfim, peguei minha mochila, a fiz como travesseiro, liguei meu Ipod,abaixei a cabeça e fui dormir. Dormir faria o tempo mais rápido,com certeza.Senti alguém me cutucar mas mesmo assim,não levantei a cabeça. Senti de novo. Levantei a cabeça dessa vez e limpei uma pequena baba que saía da minha boca. - Todos já saíram, só falta você. – ouvi uma voz pouco conhecida falando e ainda sonolenta olhei para o relógio em cima da lousa. 15h30min. Ótimo. O professor nem pra me chamar... - Tá me ouvindo? – virei pro lado ainda com o cérebro devagar e fiquei assustada. Demorei pra processar quem estava falando comigo. – Você tá... - Já ouvi e já to indo. – abusada, me levantei pegando a mochila e saindo da sala o mais rápido que pude. Eu não sei o motivo do meu desespero pra sair daquela sala, mas ficar sozinha com Fred me deixava nervosa. Muito nervosa. - De nada! – o ouvi ainda gritar dentro da sala.

O que eu sabia de era a mesma coisa que todos. Riquinho metido à besta, Frederico tinha tudo o queria e quem queria. Ele era o típico cara bonito que tinha todas aos seus pés. Se estalasse os dedos, vinham cinco meninas no mesmo instante. Era um pouco alto para os meninos da sua idade, tinha um cabelo castanho e um pouco cacheado. Às vezes deixava a barba rala de um garoto de 17 anos crescer e confesso que isso me chamava atenção. Fred tinha um ar de inteligente, de uma pessoa que sabia usar as palavras e claro, usava isso ao seu favor. Tinha um andar próprio,até engraçado.Suas calças largas o deixavam com um jeito desleixado mas tudo não se passava de estilo.Ele tinha um alargador em uma das orelhas e tocava numa banda com três amigos.E a última coisa não menos importante: fazia tudo pra estar por cima.As meninas não ligavam em serem usadas, pelo contrário, batiam no peito pra dizer que já ficaram com ele. Sua banda que tinha com Rafael,André e Luiz Gustavo e se chamava ¡Go Lola! e tenho certeza que essa banda era mais uma tática pra arranjar mulher. Sempre é. 

Saí do colégio e a primeira coisa que fiz foi tirar meu maço de cigarros, pegando um e o acendendo com o meu isqueiro do Batman – presente de Mike.Dei uma tragada forte, nervosa com Fred e com o nosso pequeno diálogo. Eu não sei por que estava assim. Só foi uma acordada básica, chega de drama! Com esses dizeres em pensamento, abri a bolsa pra pegar meu celular. Fui apertar o número dois pra discagem rápida quando alguém falou:- Não precisava correr daquele jeito... – Fred estava perto do portão de ferro do colégio. - Se você quer ouvir um “obrigada” por ter me acordado... Obrigada. – falei, e depois soprei a fumaça do cigarro. - Eu não queria ouvir nada. Só vim pra pedir um cigarro, rola de dar ou não? – ele falou de um jeito engraçado. - Sempre uma coisa em troca. Mas quem nega um cigarro, nega um pão. – abri o bolso da minha bolsa, onde estava o maço, e tirei do mesmo um cigarro. – Pega e vê se some. – falei de uma forma assustadora. Meninas podem ser assustadoras quando se sentem ameaçadas em qualquer

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situação. E no meu caso, ser assustadora era motivo de sobrevivência. Como você acha que ninguém mexe comigo ali? Apesar do João... Frederico pegou o cigarro da minha mão e passou os dedos suavemente pelos meus e de imediato senti um arrepio na espinha. - Valeu. – ele falou com uma voz rouca. Engoli em seco. Mas o que estava acontecendo? - Ótimo, eu já te agradeci, você já me agradeceu. Agora, podemos voltar ao mundo normal, onde você não fala comigo e eu não te dou cigarros? – falei, me virando e saindo. Se eu fosse a Júlia de manhã estaria ali falando e poucas e boas pra ele, mas não sei por que decidi sair. Fiquei embaixo de uma árvore enquanto saía de perto do portão e ia em direção a um carro preto em frente do colégio. Entrou no carro, ligou e buzinou pra mim, dando tchauzinho. 

Idiota.

Fred

Todo um trabalho e concentração pra entrar numa detenção com objetivo de conseguir uma menina e só consegui um cigarro?Um cigarro? Tava perdido. Totalmente perdido.  

Fui pra casa ao som de batendo no volante ao som de uma música qualquer, e de repente, me veio o rosto dela dormindo. Ri. Quem a visse dormindo daquele jeito suave, nunca ia dizer que era a filha do capeta. dormindo não parecia a maligna menina do terceiro ano, não parecia a menina que batia num cara de trezentos quilos, não parecia a filha do capeta. Naquela hora, parecia um ser doce, sensível, uma pessoa totalmente diferente. E além de tudo, ela estava linda. Beleza que teve baba, mas quem não baba quando dorme?