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32RELATO DE EXPERIÊNCIA

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, supl. 1, p. 32-37, mar 2015

RESUMOObjetivo: O projeto visa possibilitar um espaço social aos adolescentes de 10 a 19 anos, priorizando o acesso ao esporte, à saúde, ao lazer, à profi ssionalização, à cultura, ao respeito, à convivência comunitária e ao envolvimento familiar, criando abertura para ações conjuntas na promoção à saúde, formando, através dessa proposta, um núcleo básico de abordagem. Métodos: As temáticas escolhidas foram sendo desenvolvidas ano a ano: em 2010 as ações se voltaram para a prevenção de drogas, cuidados em saúde bucal e prevenção aos ruídos, incentivo às atividades esportivas, de dança e culturais; em 2011 foram realizadas ações voltadas à cidadania, profi ssionalização e cultura (música), sendo essa etapa denominada "Juventude e Cidadania"; em 2012 trabalhou-se com o tema saúde integral, proteção social e a cultura da paz. Houve também inserção do curso de Inglês. Essa etapa foi voltada às ações interdisciplinares e da aproximação da equipe de Saúde da Família das atividades na escola, através do intercâmbio com o Programa Saúde na Escola (PSE). No dia Nacional do Adolescente, realizou-se uma ação cooperativa, multidisciplinar, coordenada pela atenção primária à saúde. Em 2013, foi realizada uma pesquisa sobre avaliação e diagnóstico nutricional, com os adolescentes dentro do eixo esporte. Resultados: A proposta mostrou-se efetiva em curto prazo em relação ao indicador de violência, baixando-se em 90% as infrações envolvendo adolescentes na comunidade. Conclusão: Durante todo esse período, os resultados obtidos foram consequência dessa estratégia de trabalho planejado, que pode ser utilizada como ferramenta em longo prazo na atuação em saúde do adolescente.

PALAVRAS-CHAVESaúde do adolescente, participação social, ação intersetorial.

Experiência em saúde da família - Projeto Jovem Vencedor Experience in family health - Project Youth Winner

Célia Riqueta Diefenbach1

Franciele de Lurdes Colatusso2

Arminda Custódia Marcos Alves3

Raquel Costa e Silva de Anhaia4

Laura Gomes5

Fabio Fernandes da Rosa6

Maria Alzira Lopes dos Santos7

Célia Diefenbach ([email protected]) - Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Jardim Sofi a, Rua Professor Eunaldo Verdi, s/n, Bairro Jardim Sofi a, Joinville, SC, Brasil. CEP: 89223.620.Recebido em 02/12/2014 – Aprovado em 02/01/2015

1Especialista em Saúde da Família. Atua na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Jardim Sofi a como enfermeira da estratégia de Saúde da Família, tendo especialização em Saúde da Família. Joinville, SC, Brasil.2Odontóloga graduada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba, PR, Brasil. Especialização em Saúde da Família pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, SC, Brasil. Odontóloga da Equipe de Saúde da Família - Unidade de Saúde da Família Jardim Sofi a - Secretaria de Saúde. Joinville, SC, Brasil.3Ensino médio completo. Agente Comunitária de Saúde da Unidade de Saúde da Família Jardim Sofi a. Joinville, SC, Brasil.4Ensino médio completo. Agente Comunitária de Saúde da Unidade Básica de Saúde Jardim Sofi a. Joinville, SC, Brasil.5Ensino médio completo. Técnico em Higiene Bucal - Equipe de Odontologia da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF). Joinville, SC, Brasil.6Médico formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, SC, Brasil. Médico de Saúde da Família da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), Jardim Sofi a. Joinville, SC, Brasil.7Ensino médio. Auxiliar de Enfermagem. Atuante na Unidade Básica de Saúde da Família(UBSF), Jardim Sofi a até 12/2012; hoje se encontra aposentada. Joinville, SC, Brasil.

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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 12, supl. 1, p. 32-37, mar 2015Adolescência & Saúde

Acrescente-se, ainda, conforme diag-nóstico da equipe de saúde, a importante vulnerabilidade a que os jovens estavam ex-postos em relação ao sexo inseguro, dro-gas, alimentação não saudável e violência.Este trabalho foi desenvolvido a partir do Plane-jamento Local de Saúde em 2010 para enfrenta-mento destes indicadores. A equipe, sendo uma fonte de recursos para a comunidade, mobilizou e articulou uma rede de apoio para compatibili-zar políticas públicas saudáveis e ampliar medi-das de proteção à saúde do adolescente.

OBJETIVO

Possibilitar um espaço social aos adolescen-tes de 10 a 19 anos na área de abrangência da equipe, priorizando o acesso ao esporte, à saú-de, ao lazer, à profi ssionalização, à cultura, ao respeito, à convivência comunitária e ao envolvi-mento familiar, criando abertura para ações con-juntas na promoção à saúde, formando, através deste espaço, um núcleo básico de abordagem.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Envolver e fortalecer vínculos com a família dos adolescentes;

INTRODUÇÃO

A infância e a adolescência são períodos do ciclo de vida marcados por grande vulnerabili-dade, por se apresentarem como fases em que o ser humano está crescendo e se desenvolvendo, tanto física quanto intelectualmente, merecen-do atenção redobrada. Por isso, é estratégica e necessária uma educação voltada para a saúde, com impacto que resultará em maior autono-mia das pessoas em relação ao cuidado consigo mesmas, com o outro e com o meio em que vivem, para a conquista da melhor qualidade de vida (GUIMARÃES, 2003).

O adolescente está exposto a fatores de risco, como sexo inseguro, consumo de álcool, tabaco e outras drogas, alimentação não saudá-vel e sedentarismo, os quais possibilitam o apa-recimento de problemas de saúde que podem se agravar no decorrer do tempo (ROSA, 2003).

Conforme o diagnóstico social da criança e do adolescente de Joinville em 2010, o bair-ro Jardim Sofi a, território de abrangência da Estratégia Saúde da Família (ESF) Jardim Sofi a apresentava: 2,9% de medidas protetoras aplicadas (classifi -cadas como péssimo);

2,44% de violência física e psicológica (classifi -cadas como regular).

ABSTRACTObjective: The project aims to provide a social space for adolescents aged from 10 to 19 years giving priority access to sport, health, leisure, professional training, culture, respect, life in community and family involvement, fostering joint actions in health promotion, forming through this proposal a basic nucleus for approach to them. Methods: The chosen topics were programmed to be developed as follows: in 2010, the actions aimed at prevention against drugs, oral health care, prevention of noises, encouragement to activities such as sports, dance and culture; In 2011 actions called "Youth and Citizenship" were performed with focus on citizenship, and professional culture (music); in 2012, the work turned to the comprehensive health, social protection and the culture of peace and there was also the insertion of an English course. This third stage was focused on interdisciplinary activities and the Family Health Team approach to activities in school, through interchange with the School Health Program (PSE). In the National Adolescents Day, a cooperative, multidisciplinary activity was held, coordinated by the primary health care. In 2013, a survey was conducted on nutritional assessment and diagnosis with adolescents within the sports activities. Results: In short-term the proposal proved to be effective in relation to the index of violence infractions involving adolescents in the community dropping to 90%. Conclusion: Throughout this period, the results were obtained from this planned work strategy which can be used as a long-term tool in the adolescent health activity.

KEY WORDSAdolescent health, social participation, intersectorial action.

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Buscar ações que promovam a saúde de for-ma inter e intrassetorial, parcerias elencadas dentro de um contexto biopsicossocial, que é o atual conceito de saúde;

Acompanhar os adolescentes do projeto em todos os setores de saúde da atenção básica (médico, odontológico e de enfermagem), as-segurando o cuidado através da Caderneta de Saúde do Adolescente;

Envolver as academias nas pesquisas e traba-lhos curriculares com os adolescentes;

Fomentar a participação do adolescente como agente transformador na busca de melhores perspectivas de vida;

Oportunizar atividades no tempo livre com hábitos saudáveis e estímulos positivos, volta-dos à cultura da paz.

MÉTODOS

Período para o qual foi desenvolvido:

O Projeto foi elaborado para o período entre 2010 e 2013;

2010 – Prevenção de drogas e violência, cui-dado em saúde bucal, prevenção aos ruídos e prevenção em DST; criação e incentivo de atividades esportivas, de dança e culturais;

2011 – Cidadania, profi ssionalização e cultura; 2012 – Saúde integral, proteção social, cultura da paz e saúde na escola;

2013 – Avaliação e diagnóstico nutricional (pesquisa) - Projeto Alimentação Saudável.

População-alvo

Adolescentes de 10 a 19 anos da área de abrangência da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Jardim Sofi a.

Instituições e setores envolvidos:

Infraero; CIEE (Centro de Integração Empresa - Escola); Faculdades: IELUSC (Instituto Educacional Lu-terano – cursos de Enfermagem e Nutrição) e Univille (curso de Odontologia);

Prefeitura Municipal de Joinville: Fundação de Esporte e Lazer de Joinville (FELEJ), Funda-ção Cultural: Casa da Cultura; Secretaria de Saúde: Núcleo de Apoio Técnico (NAT), Es-pecialidades (PAM Boa Vista); Vigilância Epi-demiológica: Núcleo de Proteção a Violência e Acidentes (NPVA); Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), DST e Saúde Mental: CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas);

Secretaria de Assistência Social (Geração e Renda);

Ministério Público (Promotoria da Infância e da Juventude);

Igrejas: Católica (Cristo Bom Pastor e Nossa Senhora de Fátima) e Assembleia de Deus;

Empresas Locais; Conselho Local de Saúde Jardim Sofi a.

Descrição das técnicas, ferramentas,métodos ou processos de trabalho utilizados

Processo que envolveu um diagnóstico com dados ofi ciais do município e um planejamen-to da equipe de Saúde da Família para ser de-senvolvido em longo prazo.

Estratégia de elaborar um projeto para qua-tro anos (2010, 2011, 2012 e 2013) e traba-lhar temas previamente escolhidos dentro do contexto proposto, desenvolvendo de forma contínua as atividades concretizadas durante os eventos anuais, o que se mostrou ser um facilitador e aproximou a equipe de saúde de todos os setores e da comunidade em geral.

Propostas de corresponsabilidade, envolven-do a família, a comunidade, as lideranças, as escolas e as igrejas para a importância da promoção à saúde do adolescente; de inter-setorialidade, que permite o acesso à saúde integral e se tornou um dos métodos mais efi -cazes para a equipe ter tido motivação e con-solidar um trabalho contínuo voltado à saúde do adolescente; de discussão dos problemas levantados em nossos indicadores e em pes-quisas sobre adolescentes da comunidade.

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O entendimento da equipe de saúde em rela-ção ao modo de produzir saúde foi conside-rado um dos componentes mais importantes para a mudança do processo de trabalho.

FACILIDADES E DIFICULDADES

Facilidades:

1. Equipe comprometida;2. Parceria das empresas locais;3. Parceria dos diversos setores da Prefeitura

Municipal;4. Criação da comissão de pais;5. Parceria do Conselho Local de Saúde e apoio

de lideranças;6. Realização de pesquisas acadêmicas;7. Divulgação na mídia.

Difi culdades:

1. Perdas (aulas de inglês e do Esporte/Taekwon-do) na construção da continuidade do proje-to durante troca de gestão, necessitando res-gatar ações já efetivadas do projeto;

2. A Escola Estadual Senador Rodrigo Lobo, da área de abrangência, não pactuou com a continuidade do trabalho (Programa Saúde na Escola) desde o ano de 2013;

3. Das sete microáreas, cinco são descobertas, sendo só duas assistidas por Agentes Comu-nitários de Saúde. Com pouca cobertura não foi possível acompanhar os adolescentes.

RESULTADOS

Diretos do projeto

Participação de 140 adolescentes no esporte, divididos em cinco grupos no Jardim Kelly e Jardim Sofi a;

Diminuição de 90% dos casos de infração cometidos por adolescentes no bairro Jardim Sofi a, conforme dados do Conselho Tutelar do Município (em um ano e meio após o Projeto).

175 adolescentes formados em cursos profi s-sionalizantes (parceria Infraero/CIEE) e enca-minhados ao primeiro emprego pelo CIEE;

Alcance do público-alvo com estimativa de mais de 50% dos adolescentes em nossa área de abrangência benefi ciados em algum eixo de ação e nos eventos anuais realizados nesse período.

Aumento da procura de adolescentes na Uni-dade Básica de Saúde da Família, reforçando a questão do vínculo que foi consolidado.

Desdobramentos

Participação e envolvimento dos pais (criação da Comissão de Pais) e das lideranças em cada fase do projeto e nas ações programadas;

Acompanhamento (pela equipe, pela escola, pelos instrutores) dos adolescentes em risco e de seus familiares no enfrentamento de problemas;

Resposta de toda rede inter e intrainstitucional de cuidado e proteção social ao jovem;

Entrega de equipamentos de proteção para todos os alunos do esporte;

Participação em eventos esportivos, campeo-natos regionais e mundiais, com conquistas de medalhas e troféus;

Motivação e empoderamento dos jovens.

CONCLUSÃO

A partir deste Projeto foi possível concluir que, mesmo com as difi culdades de não haver no sistema respostas às necessidades para uma atenção integral ao adolescente em situação de vulnerabilidade e risco social, é possível atuar na promoção à saúde e intervir de forma preventiva nas vulnerabilidades a que estão expostos esses adolescentes. Observa-se, ainda, a importância da governabilidade da equipe de saúde, para colocar em prática as ações voltadas à promo-ção da saúde do adolescente e suas famílias, na resolutividade dos problemas e na continuidade da atenção, coordenando, desta forma, o cuida-do a eles devido. É fundamental a inserção do adolescente nas práticas de saúde e, principal-mente, a atuação de gestores que oportunizem a construção de políticas que abram espaço à ci-

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dadania, cultura, lazer e esporte, dentro da pro-posta de promoção à saúde do jovem. Consi-derando que o desenvolvimento desta proposta foi realizado por uma Unidade Básica de Saúde e sua comunidade, imagina-se o que se pode-ria conseguir se a meta da proposta fosse uma Gestão deste trabalho: seria muito mais simples e efetivamente a saúde do adolescente estaria sendo promovida, conforme apontam as diretri-zes em todas as teorias estudadas.

RECOMENDAÇÕES

Construção de uma política que efetive as ações de promoção à saúde do adolescente,

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com entendimento da mudança no modo de produzir saúde, a ser construído pelos profi ssio-nais e gestores.

“A atuação mais efi caz é aquela que inclui, faz alianças e se torna presente na vida cotidiana das famílias e na comunidade” – Ministério da Saúde 2011.

NOTA

Nosso agradecimento especial ao Profes-sor de Taekwondo Claudio José Correa por sua valiosa contribuição e efetiva participação nes-te projeto.



BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

Guimarães GRA. Promoção de saúde bucal na escola: saúde bucal como objeto de saber. [dissertação]. Rio de Janeiro: Faculdade de Odontologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2003.

Rosa AC. La salud de adolescentes en cifras. Salud Publica Mex. 2003;45:153-65.

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