cidades e missao no antigo testamento

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missiologia

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AGUINALDO LENIDAS GUIMARES

CIDADES E MISSO NO ANTIGO TESTAMENTO

Londrina2010AGUINALDO LENIDAS GUIMARES

CIDADES E MISSO NO ANTIGO TESTAMENTO

Tese apresentada em cumprimento s exigncias do curso de Ps-graduao Latu Senso, Doctor of Ministry em Misso Urbana e Crescimento de Igreja da Faculdade Teolgica Sul Americana.

Orientador: Dr. Jorge Henrique Barro

Londrina2010

Ficha catalogrfica elaborada por Uariton Barbosa BoaventuraBibliotecrio CRB 5/1587G963cGuimares, Aguinaldo Lenidas

Cidades e misso no antigo testamento / Aguinaldo Lenidas Guimares. Londrina, 2010

55 f. : il. ; 30 cm

Tese (Doutorado em Ministrio em Misso Urbana e Crescimento de Igreja) Faculdade Teolgica Sul Americana - Londrina, 2010Orientador: Dr. Jorge Henrique Barro

1. Missiologia. 2. Misso urbana. 3. Antigo testamento Missiologia. 4. Evangelizao urbana. I. Ttulo. II. Faculdade Teolgica Sul Americana.

CDD 266.009

DEDICATRIA minha amada esposa, Profa. Marziani Moura Mendes Guimares, por sua dedicao, compreenso, incentivo e apoio desprendido a minha pessoa, magistrio e ministrio. Que Deus a abenoe grandemente e lhe conceda sabedoria, graa e discernimento.

AGRADECIMENTOS

Ao Deus todo poderoso, por Sua infinita bondade e misericrdia para comigo. Pelas vitrias e alegrias obtidas ao longo de todo o curso. Pelo maravilhoso dom da vida.

Faculdade Teolgica Sul Americana, em sua viso de preparar vidas para servir o Reino de Deus e pelo seu comprometimento com a excelncia acadmica.

Ao Seminrio Adventista Latino-Americano de Teologia, sede IAENE, por providenciar os recursos e meios para mais este avano acadmico, bem como as condies necessrias para tal.

Ao Prof. Dr. Jorge Henrique Barro, por sua amizade e inspirao atravs de sua vida, suas aulas e seus escritos, alm de sua compreenso e sugestes oportunas na construo desta pesquisa.

Ao mestre e amigo, Prof. Lus Gonalo Silvrio, por seu comprometimento em servir, sua ateno e amizade.

Aos meus pais, Jos Paulo e Cleyde Guimares, pelo amor, carinho, orientao e experincia de vida transmitida a mim, alm das constantes oraes de intercesso.

minha esposa, por seu carinho, amor e apoio irrestrito ao ministrio a ns confiado por Deus e por sua pacincia em meio s muitas viagens e compromissos ministeriais.

Aos meus filhos, Yuri e Natasha, jias preciosas com as quais Deus me agraciou, pela compreenso diante da ausncia literal, ou no, em prol dos estudos e atividades ministeriais.

minha irm e cunhado, Sheyla Guimares Oliveira e Robson da Costa Oliveira, por toda ajuda que concederam para que esta pesquisa fosse concluda, pela amizade, carinho e amor que sempre dispensaram a minha pessoa.

Ao amigo, Prof. Dr. Elias Brasil de Souza, por seu apoio e motivao para com o avano acadmico. Deus o abenoe grandemente.

Ao amigo, Prof. Dr. Emilio Abdala, pelo incentivo, sugestes e constante apoio e inspirao em prol do avano do Reino de Deus.

RESUMO

Este trabalho analisa e define os termos relacionados misso, bem como a discusso que paira em torno dos mesmos, alm de verificar a realidade missionria no Antigo Testamento, apresentando argumentos favorveis e desfavorveis a uma inteno deliberada do cumprimento da misso no Antigo Testamento. Apresenta a Deus como o Verdadeiro Missionrio que envia o seu povo e a realidade centrpeta da misso no AT. Ademais, tem como finalidade demonstrar a realidade urbana no Antigo Testamento, bem como diversos ministrios urbanos que foram desenvolvidos, revelando o amor Divino pela Urbe e seus moradores, bem como Seu desejo de que a realidade urbana seja moldada e transformada atravs de Seus instrumentos. Em suma, nesse trabalho possvel compreender a idia de que o AT pode ser encarado como missiolgico e urbano e que corresponde aos cristos de hoje moldarem a realidade da urbe pelo poder divino.

Palavras-chave: 1. Misso urbana 2. Antigo Testamento 3. Evangelizao

ABSTRACT

This work analyzes and defines the terms related to mission, like the discussion that deals with the same terms. Besides, it also addresses the Old Testaments missionary reality showing favorable and unfavorable arguments about a deliberate intention of fulfillment of mission in the Old Testament. It presents God as the True Missionary that sends His people and the centripetal reality of mission in the Old Testament. It also aims at demonstrating the urban reality in the Old Testament, as well as the different urban ministries that were developed, revealing the divine love to cities and its residents, like His desire that the urban reality be molded and transformed through His instruments. In sum, in this work its possible to understand the idea that the Old Testament can be faced as missional and urban and that it is up to Christians nowadays to mold the urban reality by the divine power.

Key words: 1. Urban mission. 2. Old Testament. 3. Evangelism.

SUMRIO

INTRODUO...................................................................................................................8

I. DEFINIO DE TERMOS...........................................................................................11

1. Missio Dei..................................................................................................................11

2. Misso........................................................................................................................12

2.1. Misso Integral ........................................................................................................14

3. Misses.......................................................................................................................15

4. Evangelizar................................................................................................................16

5. Cidade........................................................................................................................17

6. Urbanismo.................................................................................................................18

7. Urbanizao..............................................................................................................19

8. Misso urbana...........................................................................................................20

II. A MISSO E O ANTIGO TESTAMENTO ..............................................................22

1. O Antigo Testamento no apresenta preocupao missionria ..........................22

2. Ao missionria no Antigo Testamento................................................................23

III. MISSO PARA AS CIDADES NO ANTIGO TESTAMENTO..............................30

1. A cidade no AT.........................................................................................................30

2. Ministrio urbano no AT.........................................................................................32

2.1. Jos e a Misso no Egito ........................................................................................32

2.2 A Misso e Jerusalm ..............................................................................................34

2.3 A Misso e Babilnia................................................................................................39

2.4 Esdras, Neemias e a Misso.....................................................................................41

2.5 A Misso e Nnive.....................................................................................................43

IV. CONSIDERAES CONCLUSIVAS....................................................................47

REFERNCIAS...............................................................................................................50

LISTA DE GRFICOS

Grfico 01 Populao Urbana X Rural.....................................................................20

ABREVIATURAS

ATAntigo TestamentoCACalifrniaCLADECongresso Latino-Americano de EvangelizaoCoMInConselho Missionrio InternacionalDCDistrito de ColmbiaFTLFraternidade Teolgica Latino-AmericanaILIllinoisKYKentuckymMetrosMDMarylandMIMichiganNTNovo TestamentoSBUSociedade Brasileira de UrbanismoTNTennesseeWAWashington

INTRODUO

O mundo vem sofrendo um processo cada vez mais intenso de urbanizao e essa realidade se faz notar acentuadamente no Brasil, onde o ndice de urbanizao chega a 85% (Barro, 2004, p. 9). Com esse processo, surgem srios problemas sociais que envolvem a pobreza, violncia, aglomerao de pessoas, realidades novas e desafiadoras, favelas, entre outros problemas. Essa realidade, somada a um mundo interligado, globalizado e ps-moderno, em que a felicidade se sobrepe ordem moral, os prazeres proibio, a fascinao ao dever (Lipovetsky, 2005, p. 29), torna imprescindvel buscar orientao e conhecimento sobre como enfrentar o processo e sobre como alcanar e transformar o contexto em que cada um se encontra engajado em harmonia com o Reino de Deus. Para tal, conhecer e verificar a realidade urbana da Bblia e sua proposta para a urbe essencial.A Igreja Adventista do Stimo Dia (IASD) tem tido seu maior crescimento nos grandes centros urbanos, o que pode ser considerado natural em relao ao quadro de urbanizao nacional. Essa uma realidade inegvel, mas muitas dessas igrejas continuam despreparadas para atender e suprir a necessidade de uma populao cada vez mais urbanizada. Muitos dos ministrios desenvolvidos e o estilo de atendimento pastoral continuam alheios urbanizao intensa e, por isso, no suprem as necessidades dos membros e interessados da igreja, que so cidados de um mundo globalizado, urbano e em constante mudana.Nos dias atuais, de tantos desafios, constatar que alguns falam sobre a necessidade de abandonar as cidades (Jones, 2004, p. 17) algo srio, em virtude da maldade, muitas vezes prevalecentes nas mesmas, sem, no entanto, avaliarem que poderiam ser agentes de mudana em seus aspectos polticos, sociais e culturais, gerando transformao da realidade. Ver a atitude de indiferena que muitos tm adotado para com as cidades e seus habitantes, leva cada sincero cristo, cada pesquisador a pensar seriamente sobre a importncia de uma clara compreenso das bases bblico-teolgicas da misso urbana. Afinal, na Bblia que o cristo deve encontrar a base e a autoridade para construir uma teologia de misso e de ministrio holsticos (Kuhn, 2008, p. 10).O propsito dessa pesquisa avaliar o que o Antigo Testamento apresenta sobre a realidade urbana. Ela iniciar, no primeiro captulo, abordando o debate sobre os termos relacionados com a misso e buscando definir os mesmos, para que haja uma clara compreenso do que de fato a misso e o papel de cada cristo diante da mesma.Em seguida, o segundo captulo abordar o debate em torno do envolvimento missionrio ou no no Antigo Testamento. Apresentar argumentos contrrios e favorveis tal envolvimento, revelando que toda a Escritura, e no apenas o NT, revela um Deus missionrio que envia Seu povo para alcanar todas as naes e cidades. O ltimo captulo analisar algumas cidades e ministrios urbanos, previamente selecionados, pois a pesquisa se limitar as cidades de Jerusalm, Babilnia e Nnive; os ministrios desenvolvidos nestas cidades, sendo os ministrios dos profetas em Jerusalm e Esdras e Neemias na reconstruo da mesma; Daniel e seus companheiros em Babilnia e Jonas em Nnive. Alm destes, ser visto o ministrio desenvolvido por Jos no Egito.Entre os membros e lderes leigos, bem como entre o ministrio da IASD, percebe-se a dificuldade de relacionamento com os centros urbanos, em desenvolver um ministrio relevante e contextualizado com a cidade. Ao se estudar sobre a misso urbana, ao se verificar como Deus ama a cidade e como a comunidade de cristos pode influenciar e modificar os centros urbanos pode-se perceber a importncia de se aprofundar o conhecimento bblico sobre a cidade e sobre a misso na mesma.Essa pesquisa foi construda sob uma viso adventista do stimo dia, considerando o propsito de atender primeiramente o pblico adventista do stimo dia sem, no entanto, perder seu papel inclusivo, cientfico e relevante ao meio acadmico e cristo. Diante disso, tal pesquisa foi edificada sob a pressuposio de que a Bblia a Palavra de Deus, apesar de a mesma no ser um compndio de misso urbana, ela o resultado da Missio Dei, ou seja, o Antigo e o Novo Testamento possuem um contexto e dimenso missionrios (cf. Bosch, 2007, p. 584-592). Eles formam e revelam a histria de amor do Deus todo-poderoso para reconciliar e transformar a raa humana Consigo, Sua completa imagem e semelhana.Os textos bblicos citados so da verso de Joo Ferreira de Almeida, edio revista e atualizada, fazendo-se meno caso outra verso seja utilizada, sendo a metodologia da pesquisa histrico-gramatical com o apoio da investigao bibliogrfica e da fundamentao bblica.

I. DEFINIO DE TERMOS

Para um claro entender da viso urbana de misso no Antigo Testamento, faz-se necessrio uma objetiva definio dos termos relacionados misso. Afinal, o ponto de vista mais antigo ou tradicional era o de igualar misso e evangelismo, missionrios e evangelistas, misses a programas evangelsticos (Stott, 2010, p. 17). Alm disso, os termos ainda so usados com os sentidos mais variados possveis, gerando confuso entre os mesmos e uma compreenso, muitas vezes, turva sobre o que de fato a misso.Tais termos seguem divididos em trs sees, sendo que a primeira tem por propsito apresentar o conceito de misso num sentido geral, envolvendo sua origem em Deus e seu papel para com a igreja e atravs dela. Em segundo lugar, adentrar-se- em termos ligados urbe e, por fim, o conceito de misso na cidade.

1.Missio DeiA expresso vem do latim para o envio de Deus, no sentido de ser enviado, uma frase usada na discusso missiolgica protestante, especialmente desde a dcada de 1950 (Mcintosh, 2000, p. 631). Em ingls significa "a misso de Deus".Tal expresso teve seu uso, pela primeira vez, num sentido missionrio, em 1934 por Karl Hartenstein, um missilogo alemo, que se inspirou na nfase que Karl Barth dava actio Dei (a ao de Deus), bem como numa palestra proferida em 1928, em que Barth disse que a misso est relacionada com a Trindade (Mcintosh, 2000, p. 632).A ideia da missio Dei, no o termo em si, teve seu auge no pensamento missionrio em 1952, na cidade de Willingen, por ocasio da Conferncia do CoMIn. Foi nessa ocasio que o termo foi entendido de forma clara, e a partir da, a misso passou a ser vista como proveniente do prprio Deus, procedente de Sua prpria natureza (Bosch, 2007, p. 467). Georg Vicedom tambm teve um papel na popularizao do conceito da missio Dei ao us-la na Conferncia da Cidade do Mxico (1963) e em seu texto The Mission of God (1965) (Moreau, 2000, p. 637).Foi ainda em Willingen que a missio Dei foi colocada no contexto da Trindade e no no da soteriologia e nem no da eclesiologia. O sentido clssico da expresso foi ampliado, como claramente o coloca David Bosch: a doutrina clssica da missio Dei como Deus, o Pai, enviando o Filho, e Deus, o Pai e o Filho, enviando o Esprito foi expandida no sentido de incluir ainda outro movimento: Pai, Filho e Esprito Santo enviando a igreja para dentro do mundo (2007, p. 467). Diante de tal conceito, fica claro que a misso um atributo divino, da qual a igreja convidada a fazer parte como um instrumento para a mesma. Moltmann definiu tal ideia: no a igreja que deve cumprir uma misso de salvao no mundo; a misso do Filho e do Esprito mediante o Pai que inclui a igreja (1977, p. 64). Com tal declarao o prximo conceito comea a ser definido.

2. MissoAt o sculo XVI o termo misso era usado para a Trindade, referindo-se ao ato do Pai enviar o Filho e, do Pai e o Filho enviarem o Esprito Santo. A conotao era compreendida no sentido da missio Dei (Bosch, op. cit., p. 17). A partir da uma nova conotao emergiu,[footnoteRef:1] especialmente a partir do sculo 18 se concebia a misso essencialmente em termos geogrficos: era quase sempre um cruzamento de fronteiras geogrficas com o propsito de levar o evangelho [...] para os campos missionrios do mundo no-cristo (os pases pagos) (Padilla, 2009, p. 14), mas hoje o conceito comea a ser visto, uma vez mais, como missio Dei. Como j visto, misso um atributo divino. Esse conceito difere do que tradicionalmente era aceito, ou seja, a propagao do cristianismo, historicamente falando. [1: Para uma compreenso mais ampla do debate sobre o termo, suas aplicaes e compreenso Cf. Bosch, 2007, p. 17-29; 442-608.]

Os Jesutas usavam o termo para descrever a ao da Igreja Catlica em difundir sua f entre os que no pertenciam ao seu redil (Raiter, 2005, p. 71). No ltimo sculo, a ideia de misso caminhou para o conceito de missio Dei, pois no existe misso desligada de Deus e tudo o que a igreja faz emana da ao de envio de Deus, o Pai, Deus o Filho e Deus o Esprito Santo.Dessa forma, misso e missio Dei tornam-se sinnimas, no entanto, a expresso misso por vezes utilizada para referir-se a missio ecclesiae (misso da igreja). Este sentido s real na concepo do comicionamento da Igreja por parte do Deus trino, como muito bem colocado por J. Verkuyl (1978, p. 3): Deus o Pai enviou o Filho, e o Filho ambos o Enviado e o Enviador. Juntos, o Pai e o Filho enviam o Esprito Santo, que, por sua vez, envia a Igreja, congregaes, apstolos e servos, colocando sobre eles a obrigao de cumprir seu trabalho. A missio ecclesiae nada mais do que a missio Dei. Deus no tem uma misso para a sua Igreja, mas uma Igreja para a Sua misso. Aqui se pode destacar outra nfase que surgiu na conferncia de Willingen e posterior conferncia da Cidade do Mxico que relacionou a missio Dei e a missio ecclesiae e afirmou queno h participao em Cristo sem participao em sua misso (Verkuyl, op. cit., p.4).A missio ecclesiae como o recebimento do envio, da missio Dei, ficou clara nas palavras de Cristo em Joo 20:21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu tambm vos envio. As palavras de Jesus evidenciam que [...] misso participar do envio de Deus entendido em seu ministrio trinitrio, cujo fundamento o amor por toda a humanidade, revelado cabalmente na encarnao de Jesus de Nazar. Ele o centro do envio de Deus e a misso que lhe corresponde segue os seus passos. Nesse sentido, misso antes uma ao divina do que da Igreja (Zwetsch, 2005, p. 214 e 215).O fato que a Igreja no tem uma misso em si, mas diante da entrada do pecado e do processo deformativo que este trouxe ao mundo, Deus concedeu ao ser humano, em Sua bondade e misericrdia, o privilgio de participar e se envolver em Sua misso, a missio Dei. Assim, misso manifestar o amor do Reino de Deus, como compartilhado em Cristo, no poder do Esprito Santo, atravs de palavras e obras com vistas transformao, a restaurao integral de toda a criao, para a glria divina (Barro, 2008).

2.1. Misso integralO termo misso integral recente nos crculos acadmicos, uma vez que comeou a ser usado em meados da dcada de 1970 e foi cunhado do espanhol missin integral por membros da FTL, com o intuito de apresentar uma concepo da misso crist que envolve a proclamao, mas tambm a demonstrao do evangelho do Reino. Os proponentes dessa concepo (como Ren Padilla, Samuel Escobar, entre outros) usaram a palavra integral como uma sinalizao de sua insatisfao pelas definies dicotmicas de misso[footnoteRef:2], ou seja, evangelismo e envolvimento social eram apresentados como separados em si, bem como para expressar um sentido mais amplo da Boa Nova e do amor cristo (Ministrio Shofar, 2010). Da dcada de 1970 at o presente momento, muitos livros foram publicados[footnoteRef:3] sobre a misso integral e seu conceito, bem como o conhecimento de sua teologia que tem crescido em compreenso e aceitao no meio evanglico. A FTL foi a principal fonte que gestou a Teologia da Misso Integral da Igreja na Amrica Latina, em dilogo com pensadores progressistas de outros continentes, e de grande repercusso em todo o mundo (Cavalcanti, 2010, p. 5). [2: Apesar da crescente aceitao do conceito de misso integral, os defensores de tal conceito so, por vezes, apresentados como um grupo de discipulado radical que considera a justia social como misso, assim como o evangelismo o , e no se deve dar prioridade a qualquer um destes (Moreau, 2000, p. 638).] [3: Na bibliografia da atual pesquisa, encontrar-se- uma lista de livros sobre o assunto, tanto em portugus como em espanhol.]

Ren Padilla (1992, p. 7), em sua palestra inaugural no CLADE III[footnoteRef:4], destacou o papel da misso integral como tendo os olhos postos no somente na extenso geogrfica e no crescimento numrico da igreja, seno no cumprimento cabal do propsito de Deus em todo aspecto da vida humana em sua dimenso pessoal e em sua dimenso social. [4: O CLADE III ocorreu entre os dias 24 de agosto a 4 de setembro de 1992, na cidade de Quito, no Equador, sendo que o primeiro ocorreu em Bogot em novembro de 1969, o segundo em Lima, entre os dias 31 de outubro e 8 de novembro de 1979. O quarto CLADE realizou-se em Quito de 2 8 de setembro de 2000. J o quinto encontro do CLADE se dar em 2012. Mais informaes sobre o CLADE V podem ser encontradas em: http://ftl.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=86:clade-v-2012]

Pode-se dizer que misso integral a misso que proclama e manifesta o evangelho do Reino de Deus, em todas as dimenses da vida, transformando pessoas, situaes e realidades para a glria de Deus (Barro, 2008).

3. MissesApesar do debate existente sobre os termos misso, misses e misso integral ser amplo e chegar a um consenso sobre esta complexa questo, continua a ser uma meta a ser alcanada no futuro, em vez de uma realidade presente (Moreau, 2000, p. 638). Percebe-se que a expresso misses tem sido mais utilizada como se referindo execuo da misso por parte da igreja e de seus membros. Pode-se dizer que o termo misses refere-se

[...] ao envio de pessoas autorizadas para alm das fronteiras da igreja do Novo Testamento e sua imediata influncia evanglica para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo em reas destitudas deste, para converter pessoas que tm f e que no tm f em Jesus Cristo, e para estabelecer o funcionamento e multiplicao de congregaes locais que iro cultivar o fruto do cristianismo nessa comunidade e neste pas (Peters, 2004, p. 16).

Pode-se dizer que a distino existente entre as palavras misso e misses, em seu aspecto e uso missiolgico, consiste no fato de que amisso singular (caso geralmente superior) refere-se missio Dei, a misso de Deus. As misses plural (caso geralmente inferior) refere-se s misses dos seres humanos(Terry, Smith & Anderson, 1998, p. 10).O vocbulo Misses traz mente de muitos a ideia de atividades missionrias exercidas em uma geografia e cultura distinta daquela a qual pertence o missionrio, sendo sua nfase colocada em outro pas, ou seja, misses como misso transcultural. Como claramente definiu Pratt (2000, p. 447), misses usado especialmente para se referir ao trabalho feito pelos cristos fora de sua prpria cultura. Tal conotao tem sido questionada, quando se entende misses com o sentido de misso no singular, j definida acima (Cf. Bosch, op. cit., p.27). Neill (1986, p. 572) chegou a declarar que a era das misses chegou ao fim, comeou a era da misso, mas quando se enxerga o termo significando as atividades exercidas pela igreja, no se encontra muita oposio. Misses (as missiones ecclesiae [misses da igreja]: os empreendimentos missionrios da igreja) designa formas particulares, relacionadas com tempos, lugares ou necessidades especficos, de participao na missio Dei (Bosch, op. cit., p. 28).Por fim, misses, no seu sentido mais amplo, so as atividades dirigidas a estender a f crist, mesmo em lugares onde a f j existe. As misses so o que a igreja tem feito bem ou mal na gesto de estender a f fora e dentro das fronteiras onde ela mesma est arraigada (Gonzlez & Orlandi, 2010, p. 23 e 24).

4. EvangelizarEvangelizar (ou suas variveis evangelismo, evangelizao) , muitas vezes, tratado como sinnimo de misses. Champlin e Bentes (1995, p. 306) usam os termos evangelismo e misses em trocadilho, como tendo o mesmo significado. Caso se concorde com tal feito, a expresso evangelizar pode ser definida como sendo as aes que a igreja desenvolve no sentido de alcanar outros com a mensagem do Evangelho.O termo vem do grego euangeliz, que significa trazer ou anunciar boas novas (Lc 1.19); proclamar as boas novas, anunciar o evangelho, evangelizar (At 5.42) (Azevedo Neto & Costa, 2010, p.169). Essa expresso e suas variveis (incluindo euangelion boas novas, evangelho) so todas derivadas de angelos, que significa mensageiro, ou de sua forma verbal angell, anunciar (Cf. Brown & Coenen, 2000, p. 758). O equivalente no AT seria , e tem o sentido geral de "proclamar boas notcias" (1 Rs 1:42), por exemplo, o nascimento de um filho (Jr 20:15) (Kittel, Bromiley & Friendrich, 1964, p. 707).Apesar de definir ambos os termos, misses e evangelizao, Peters (2000, p. 16) apresenta basicamente o mesmo sentido para ambos, diferenciando quase que apenas ao colocar o senso do envio em misses. J Weber diz que evangelismo o elemento central da misso da Igreja que envolve anunciar aos outros o evangelho da salvao, com o objetivo de lev-los ao arrependimento e f em Cristo (2000, p. 491). Lindsell (1967, p. 148) vai alm ao dizer que misses e evangelismo so, no fundo, termos sinnimos.Quem evangeliza um missionrio, se o seu trabalho realizado em casa ou no estrangeiro. Um missionrio no exterior um evangelista e se ele no um evangelista, ento no um missionrio. Assim, ele associa o termo evangelizar com misses no seu aspecto transcultural ou no e, ao mesmo tempo, com a atividade exercida por um indivduo (evangelista/missionrio), ou seja, pela igreja. Dentro deste escopo, esta pesquisa entende os termos evangelizar e misses como representando a atividade da igreja, baseada na misso (missio ecclesiae) que, por sua vez, oriunda, ou herdada, da missio Dei, mas deixando com misses o aspecto transcultural.

5. CidadeA cidade o ambiente natural para a evangelizao, ou execuo da misso, no de forma exclusiva, pois a mensagem do Reino de Deus precisa alcanar todos os seres, mas de forma lgica, pois o mundo vem sofrendo um processo cada vez mais intenso de urbanizao e essa realidade se faz notar acentuadamente no Brasil, onde o ndice de urbanizao chega a 85% (Barro, 2004, p. 9).Scarlato e Pontin, citando Sahop definiram a cidade como o

[...] espao geogrfico transformado pelo homem atravs da realizao de um conjunto de construes com carter de continuidade. Espao ocupado por uma populao relativamente grande, permanente e socialmente heterognea, no qual existem atividades residencial, de governo, industrial e comercial, com um grau de equipamento e de servios que assegure as condies de vida humana. A cidade o lugar geogrfico onde se manifestam, de forma concentrada, as realidades sociais, econmicas, polticas e demogrficas de um territrio (Sahop apud Scarlato & Pontin, 2010, p. 5).

As cidades tm se tornado um desafio misso, pois continuam crescendo e se tornando em grandes reas urbanas. Os urbanologistas tm definido as cidades ora por suas formas, geralmente analisando seus critrios estruturais de tamanho, heterogeneidade e densidade, ora por suas funes, frisando o aspecto de que o propsito da cidade incrementar a diversidade e rapidez, bem como extenso e continuidade do intercmbio humano (Deiros, 1997).Assim, por rea urbana entende-se uma cidade em crescimento, contendo 50.000 habitantes ou mais, e tambm os lugares incorporados e reas no incorporadas, densamente povoadas, que a rodeiam (Deiros, 1997).Para uma clara compreenso das expresses relativas urbe, como urbanismo e urbanizao, com vistas a se evitar confuses sobre tais termos, faz-se necessria uma sucinta definio.

6. UrbanismoUrbanismo como cincia surgiu entre o final do sculo XIX e incio do sculo XX como resposta necessidade oriunda do crescimento das cidades aps a revoluo industrial (Santos, 2010). De acordo com a Sociedade Brasileira de Urbanismo (2010), essa cincia um campo do conhecimento multi e interdisciplinar voltado ao ordenamento da cidade, de suas atividades distribudas no territrio a fim de que sejam alcanada melhor qualidade de vida para a populao.Santos, em seu artigo, ao buscar definir urbanismo, destaca que nos dias atuais

[...] ainda conserva-se um conceito tradicional sobre o mesmo, como preso a aspectos esttico-funcionais. Porm o Urbanismo ultrapassou largamente esta viso, no se limitando a uma simples tcnica do engenheiro ou do arquiteto para intervir no espao urbano, pois abrange o campo da comunidade, da planificao social. Por isto necessria uma abordagem sobre sua epistemologia, de forma mais crtica e ampla, rompendo paradigmas. O estudo sobre a realidade do espao urbano (e regional) e suas manifestaes concretas, para intervir na busca de uma melhor qualidade de vida constitui na essncia do urbanismo, sendo que este espao sofre transformaes permanentes.

7. UrbanizaoUrbanizao consiste no processo pelo qual a populao urbana cresce em proporo, superior populao rural. um fenmeno de concentrao e consequente crescimento e desenvolvimento das cidades (Bellei, 2010). No se deve deixar passar por alto que a urbanizao tambm ocorre pelo deslocamento de pessoas que saem de regies rurais, se dirigindo para os centros urbanos. Deste modo, a urbanizao acontece quando a populao rural passa a ser inferior populao urbana. O quadro abaixo ilustra a realidade da urbanizao brasileira, que continua crescendo vertiginosamente.

Grfico 1Populao Urbana X Rural

8. Misso UrbanaPor misso urbana compreende-se a missio Dei no ambiente da urbe, com toda a sua complexidade, aglomerao de indivduos e desafios sociais, polticos, econmicos e espirituais. Entende-se o processo de execuo da evangelizao, das misses, o da misso integral dentro da cidade.Como mencionado, optar por exercer a misso nas urbes um processo natural, pois a urbanizao mundial um fenmeno crescente e real. A realidade brasileira no difere, pelo contrrio, cresce de forma extremamente acentuada[footnoteRef:5]. [5: Ver grfico 1.]

A misso a mesma, seja em um ambiente rural ou urbano, todavia, o processo de execuo da misso atravs da evangelizao ou misses, precisa adaptar-se realidade da urbe sem, em contrapartida, perder seu referencial bblico ou deixar de ser norteada pelos princpios da Sagrada Escritura. Jorge H. Barro (2004, p. 10), acertadamente, disse que aquele que se envolve com a misso urbana precisa aprender que os mtodos devem ser construdos a partir da realidade da sua cidade ou bairro. exatamente nesse processo de adequao das metodologias que consiste o verdadeiro desafio, pois pouca ateno vem sendo dada ao gigantesco processo de urbanizao da atualidade. Bakke (2002, p. 35) ampliou ainda mais tal fato ao dizer que seminrios tm feito um bom trabalho em ser o banco de memria da Igreja, mas no to bem em realizar pesquisa e desenvolvimento para o futuro.Diante desse quadro, urge a imensa necessidade de se ampliar o envolvimento com a missio Dei no contexto urbano, pois onde a grande maioria dos seres humanos se encontra e de desenvolver com clareza uma teologia bblica de misso urbana.

II. A MISSO E O ANTIGO TESTAMENTO

Quando se trata do Antigo Testamento, surge um debate no tocante ao papel missionrio no mesmo. real o exercer da misso no Antigo Testamento? Como expressou Lyra (2004, p. 97), no difcil encontrarmos a crtica por parte de alguns telogos sistemticos de que no Antigo Testamento no h caractersticas de um povo missionrio enviado ao mundo no judeu. Algumas posies surgem neste tocante.

1. O Antigo Testamento no apresenta preocupao missionriaNelson Kilpp aponta o fato de que no AT no existe a preocupao missionria e chegou a esboar sete argumentos, ou teses, para demonstrar tal fato. Esses argumentos podem ser resumidos da seguinte forma:1) Israel no se preocupava em propagar a f no Senhor Jeov para povos que no o aceitavam;2) O conceito da eleio de Israel, aos poucos, entendido como tarefa diante dos outros povos (Am 3:2) e a ideia de ser uma bno s naes (Gn 12), que podia ser praticada de variadas maneiras;3) A mensagem dos profetas dos sculos VII e VIII apontava para a culpa do povo (denncia), bem como proclamava juzo para o futuro. Por vezes, tambm, conclamavam ao arrependimento, apontando a tal como caminho para a salvao, alm de anunciarem destruio das naes vizinhas, ou estas como sendo instrumentos de Deus. No entanto, a ao dos profetas no apresentava uma ntida perspectiva missionria;4) Isaas e Miquias apresentam o fato de que Deus far as demais naes subirem a Jerusalm, umbigo do mundo;5) No contexto do exlio em que os israelitas passaram a dar maior valor a instituies como a circunciso, o sbado e a sinagoga, devido necessidade de preservar a f fora de Israel, iniciou-se a reflexo sobre como deveria ser a relacionamento de um judeu com um no judeu. Nos cantos do Servo sofredor (Is 42; 49; 53-55), o Dutero-Isaas afirma que este ser luz das naes e mediador de aliana;6) Apenas aps a disperso dos israelitas no sculo VI a.C., aps a destruio de Jerusalm, poder-se-ia aderir f israelita sem a necessidade de pertencer nao e observar estritamente os seus ritos;7) No ps-exlio, a ortodoxia nacionalista se imps. Os samaritanos se afastaram em definitivo das demais naes, mas alguns grupos marginais mantiveram certa abertura, como exemplificado no livro de Jonas (Cf. Zwetsch, 2005, p. 200-201).Ainda dentro do contexto de que o AT no coloca a questo missionria, Bosch (2007, p. 35) afirma que Rzepkowski pode ter razo ao declarar que a diferena decisiva entre o Antigo e o Novo Testamento a misso.

2. A ao missionria no Antigo TestamentoContrrio ao que foi dito acima, Carriker declara que o relato bblico da criao j estabelece as peas principais do drama bblico de misses. O alvo e o foco so universais (Carriker, 2005, p. 20). Ele ainda argumenta que diante do fato de o AT enfatizar basicamente uma nica nao no desmonta o propsito universal de Deus, pelo contrrio, Israel vista como instrumento de Deus para atingir seu alvo maior o mundo inteiro (Carriker, 2005, loc. cit.). Que no AT no se v nenhuma ao missionria deliberada, por parte do povo de Deus, quase um fato, pois [...] os judeus deveriam vivenciar um relacionamento com Deus exemplar, uma espcie de nao modelo a ser imitada pelas demais. Por outro lado, no se pode negar que a perspectiva neotestamentria realmente diferenciada do perfil missiolgico que descobrimos no AT. Contudo, a teologia bblica de misses claramente mostra que no Antigo Testamento h muito material disposio que poderia servir tanto de base para formulao de uma teologia de misso urbana, quanto como orientao e regulagem da prtica missionria (LYRA, op. cit., p. 97).

dentro desse contexto que surge a ideia centrpeta e centrifuga de misso. No AT h uma concentrao centrpeta da misso, ou seja,a misso de Israel consiste no fato de que atravs desta nao Deus tornar conhecido o seu poder, visvel e tangvel vista de todas as naes e com vistas a todas as naes. [...] Os seus atos ocorrem para Israel, vista das naes, e, portanto, para as naes tambm (Blauw, 1966, p. 36). Tentar encontrar Israel buscando alcanar as demais naes ou uma justificativa para a realizao de misses no AT , quase se deparar com a decepo, pois os israelitas fecharam-se em torno de si, demonstrando um conceito equivocado de sua eleio, mas o que est em pauta no AT no a atividade humana, e sim os atos divinos com vistas salvao de Israel e, consequentemente, a salvao das naes, ao se depararem com os feitos divinos no meio dos israelitas (Blauw, 1966).Bosch descreveu essa realidade como se h um missionrio no Antigo Testamento, o prprio Deus que, como seu ato escatolgico por excelncia, levar as naes a Jerusalm para o adorar a juntamente com seu povo da aliana (Bosch, 2007, p. 37).Israel se equivocou no tocante eleio, ou caminhou de forma diferente do que Deus havia planejado, pois, como bem descreveu Seebass (1974, p. 83), o horizonte da eleio do povo de Israel so os povos do mundo, em relao aos quais, como um todo, o Israel individual foi escolhido. Pate reafirma tal conceito ao dizer que Deus chamou Israel para mostrar seu poder, a glria, a compaixo e o amor divinos s outras naes (Pate, 1987, p. 11).Deus desejava que Israel atrasse a si as demais naes, em realidade Deus tinha um plano especial para os israelitas, pois

Ele queria que Israel se distinguisse entre as naes como uma jia preciosa. Deus queria que a formosura da santidade de Israel atrasse para Ele os restantes dos povos! O fato de guardar as leis e a aliana de Deus faria que a sociedade israelita parecesse uma utopia, em contraste com o pecado, cobia e degradao das outras sociedades (PATE, op. cit., p.11).

Deus o verdadeiro missionrio, a misso pertence a Ele, a missio Dei. Em sua infinita bondade e misericrdia, o Senhor procura o homem aps sua queda (Gn 3: 8-15, 21), demonstra-lhe amor, prov-lhes vestimentas e promete-lhe o Salvador.A iniciativa divina, Ele ama o ser humano e o procura em meio ao Jardim. No o abandona, mas lhe expressa Seu amor e a esperana de redeno no Salvador que viria para redimi-los. Os argumentos de que no existe preocupao missionria no Antigo Testamento caem por terra diante da atitude do prprio Deus. Ao Senhor pertence a misso e Ele a comissiona Igreja.Desde a queda, j com o nascimento dos primeiros filhos de Ado, a humanidade comea a se dividir em duas classes no tocante confiana e fidelidade ao Deus criador. Caim marca o grupo dos rebeldes, enquanto que Sete o daqueles que escolhem confiar em Deus e, quando lhe nasce Enos dito que da se comeou a invocar o nome do Senhor (Gn 4:26).Quando o mal cresce de forma acentuada, Deus chama No e o comissiona a pregar entre os seus no foi misso como misses, no sentido alm mar, mas era a missio Dei, ou seja, a busca pela reconciliao e transformao dos seres criados com o seu Deus. Cento e vinte anos de misericrdia e pregao. A missio Dei foi compartilhada com o ser humano, a missio ecclesiae agora passa a ser vista de forma mais ntida. Desde o incio[footnoteRef:6] Deus compartilhou com os Seus a missio Dei, mas de maneira ainda mais clara isto percebido com No, que deveria pregar, e assim o fez, aos seus compatriotas. [6: Ado foi instrumento de Deus e cumpriu a missio Ecclesiae com seus filhos, Sete, Enos, Enoque, todos assim agiram (Cf. Jd 14-16), mas em No o texto claro sobre seu papel de pregao.]

Aps o dilvio e o pacto firmado com No e sua descendncia, o homem se afasta e comea a erigir a Torre de Babel, o que leva a disperso da humanidade pelos confins desta terra. Pouco a pouco, o povo se afasta uns dos outros, ligando-se pelo idioma e surge o conceito de naes (Gn 11:9).Posteriormente entra em cena Abro, que mais tarde tem seu nome mudado para Abrao. Ele chamado por Deus para sair de sua terra e firmar uma aliana onde seria abenoado, tornando-se pai de uma grande nao e levando a bno de Deus a toda humanidade (Gn 12:2-3). Esta aliana repetida a Abrao em pelo menos duas outras ocasies e refeita com Isaque e Jac (Gn 18:18; 22:18; 26:4 e 28:14).Um olhar rpido para tal aliana pode conduzir a uma compreenso de que

[...] o Deus de toda a terra parece, primeira vista estar a estreitar os seus interesses privados para com a histria de uma famlia e tribo apenas, mas na realidade nada poderia estar mais longe da verdade.Nas palavras de Groot, Israel a palavra de abertura em proclamar a salvao de Deus, no o Amm. Por um tempo, Israel, o povo de Abrao, separado das outras naes (Ex. 19:03 ss;.. Dt 07:14 ss), mas apenas para que atravs de Israel Deus pudesse abrir o caminho para conseguir seus objetivos mundialmente abrangentes (Verkuyl, op. cit., p. 91-92).

Hicks amplia o conceito exposto por Verkuyl, ou pelo menos o complementa ao afirmar que

[...] aclara inteno missionria do Todo-Poderoso vem tona com o seu plano para abenoar todas as famlias espalhadas pela terra atravs de Abrao e seus descendentes.O Senhor estabeleceu este plano de aliana com Abrao (Gn 12:1-3; 18:18-19; 22:15-18), depois confirmou-o, primeiro com Isaque (26:2-4) e, em seguida, com Jac (28:14).Ainda mais tarde, o Senhor estendeu este propsito trazendo todo o Israel sob o pacto como o seu "especial tesouro" [...], e declarando-os a serem "um reino de sacerdotes" para cumprirem o seu plano (xodo 19:4-8). (1998, p. 55).Dessa forma, a missio Dei chega nao de Israel, eleito como povo peculiar do Senhor para abenoar as demais naes. Deus opera por esta nao. Atravs de Seus feitos por intermdio do povo de Israel as naes vo conhecendo o Deus verdadeiro. Esse testemunho visto desde a sada dos israelitas do Egito, onde um misto de gente (Ex 12:38) seguiu com eles. A ao de Deus atravs de Moiss e as pragas que caram sobre o Egito testemunhavam de um Deus vivo e poderoso que cuida de Seu povo. Aps a sada do Egito Deus continua agindo em prol de Seu povo e testemunhando s demais naes. A travessia do Mar Vermelho, as aes de libertao em momentos de conflitos e o cuidado de Deus com o povo de Israel em seu caminhar pelo deserto sensibilizaram Raabe que reconheceu no Deus de Israel o Deus verdadeiro em cima nos cus e em baixo na terra (Js 2:9-13).Deus falava s demais naes por intermdio de Israel. O Deus todo poderoso escolheu um povo, uma nao, para ser Seu instrumento entre as naes, abenoando as mesmas e revelando Seu poder restaurador e redentor.A Rainha de Sab ao visitar Israel por ouvir da fama de Salomo, com respeito ao nome do Senhor e declarar: porque o Senhor ama a Israel para sempre (1 Rs 10:1-9), ou a orao de Salomo ao expressar seu desejo de que todos os povos da terra conheam o teu nome (1 Rs 8:43) e saibam que o Senhor Deus, e que no h outro (v. 60), revelam Deus agindo por e atravs de Israel para atrair as naes ao Seu redil e redeno.Essa era a inteno de Deus para com Israel, a de atrair a Si as naes do mundo que seriam reunidas como um s povo, redimido pelo sangue do Cordeiro.Essa mesma realidade tambm foi expressa pelos salmistas atravs de oraes, cnticos, exortaes e apelos. No Salmo 9:11 o salmista declara: Cantai louvores ao Senhor, que habita em Sio; proclamai entre os povos os seus feitos. Davi, no Salmo 18:49, se expressa afirmando seu desejo de ser uma testemunha entre os gentios, ele diz: Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, Senhor, e cantarei louvores ao teu nome. J em outra ocasio, quando fugia de Saul, Davi assim se expressou: Render-te-ei graas entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as naes (Sl 57:9). No Salmo 67:1 e 2, o salmista declara o sentido centrpeto da misso ao suplicar com as seguintes palavras: Seja Deus gracioso para conosco, e nos abenoe, e faa resplandecer sobre ns o seu rosto, para que se conhea na terra o teu caminho; em todas as naes, a tua salvao.Talvez o Salmo mais direto seja o 96: 2 e 3 ao conclamar cantai ao Senhor, bendizei o seu nome; proclamai a sua salvao, dia aps dia. Anunciai entre as naes a sua glria, entre todos os povos as suas maravilhas. No Salmo 105:1, o desejo de que as naes conheam o Deus verdadeiro expresso quando o salmista conclama o povo dizendo: Rendei graas ao Senhor, invocai o seu nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos. (Cf. tambm 22:27; 33:8; 47:1; 66:4; 67: 3 e 5; 83:16; 86:9; 100:1; 105:1; 108:3; 117:1).Os Salmos, visivelmente, apresentam a inteno missionria de Deus e tambm revelam pressgios de Seu povo, expressando esse desejo e conhecimento sobre a responsabilidade que possuam de apresentarem a Deus e Sua salvao diante de todas as naes, de todas as pessoas.Como afirmaram Senior e Stuhlmueller (2010, p. 208), um dos alcances mais fortes para a misso universal aparece na orao mstica do Salmo 22 e, consequentemente, em todos os Salmos.Muitos outros exemplos podem ser apresentados, e o sero, mas no contexto do desenvolver da misso na urbe. Por fim pode-se dizer que a histria de Israel no outra coisa seno o contnuo relacionamento de Deus com as naes ou etnias em seu intento por salv-las (Rode, 2006, p. 584).O Antigo Testamento apresenta um Deus missionrio, que elegeu um povo humilde e falho, que em meio a Sua misericrdia deveria revel-lo ao mundo. Esse povo distorceu o sentido de sua eleio, ou seja, no desempenhou seu papel como sacerdcio santo ou povo enviado a ser luz e abenoar as naes, apesar das excees encontradas no relato bblico. No entanto, isto no anulou o propsito Divino de levar adiante Seu intento de alcanar todos os povos da terra. Tal fato esclarecido surge, ento, o desafio de adentrar o papel ou lugar da cidade e a misso nesta, no contexto do AT.

III. MISSO PARA AS CIDADES NO ANTIGO TESTAMENTO

O papel da cidade no Antigo Testamento grande e relevante e desde o livro de Gnesis se l sobre a mesma. A frequncia de meno cidades na Bblia muito comum, sendo cerca de 1400 referncias (Greenway, 1981, p. 11). O Antigo Testamento tambm expressa essa realidade, alm de apresentar diversos modelos ou exemplos de ministrios urbanos. Existem pelo menos vinte e cinco exemplos do que se pode chamar ministrio urbano, somente nos livros histricos (Greenway, op. cit., p.11).

2 1. A cidade no AT inegvel o plano original de Deus para o ser humano em um jardim, mas tambm verdadeira a afirmativa de que a histria terrestre termina em uma grande megalpole (Cf. Ap 21:2, 10, 16), a Nova Jerusalm. A cidade surge cedo na histria bblica, pois em Gn 4:17 l-se que Caim estabeleceu a cidade de Enoque. provvel que Caim tenha agido na tentativa de escapar do juzo divino, como uma violao direta da determinao divina de que deveria ser um errante (Gn 4:12) e, quem sabe, na tentativa de propagar sua reputao atravs de seu filho (Matheus, 2001, p. 284 e 285). Caim estava a tentar superar o julgamento de Deus com base em seus prprios esforos (Hernndez, 2003). Desta forma, a cidade surge no cenrio bblico com uma conotao negativa de desconfiana da proteo divina, de desobedincia e de salvao pelas obras. Baseado neste episdio, e no acontecimento da Torre de Babel (Gn 11), alguns estudiosos concluem que a Bblia, ou pelo menos o Gnesis, tem uma predisposio contra a cidade. No entanto, outros contestam essa hiptese e alegam que este no o testemunho do AT, pois Deus prometera dar a Seu povo grandes e boas cidades (Dt 6:10), ademais o pecado, seja de Caim ou em Gnesis 11, no estava na ao de se construir a cidade (Harris, Archer Jr. & Waltke, 1998, p. 1111).Deste ponto em diante, as cidades crescem em nmero na Bblia e no AT. J na tbua dos descendentes de No (Gn 10) diversas cidades so mencionadas e apenas a expresso hebraica para cidade, r, aparece 1090 vezes, sem falar em outras expresses traduzidas por cidade, a exemplo de qeret, qiry ou mhz. (Harris, Archer Jr. & Waltke, op. cit., p. 825, 1111).A cidade, seja esta pequena ou grande, passa a reinar no cenrio bblico e Deus demonstra Seu amor e cuidado por Seu povo, usando a cidade para proteg-lo e pela cidade usando Seu povo para conduzi-la em sabedoria e justia. Na realidade por

[...] muitas vezes a palavra cidade na verdade significa habitantes. Uma cidade pode gritar (1 Sm 4.13; 5.12) e pode se agitar (Rt 1.19; cf. Mt 21.10). Ela pode ser caracterizada como justa (Is 1.26), fiel (Zc 8.3) e santa (Is 48.2; 52.1; Ne 11.1, 18). [...] Uma cidade pode experimentar alegria (Jr 49.25), estimular a confiana (Jr 5.17) e ter renome (Ez 26.17). Ela tambm pode ter qualidades indesejveis. Pode ser orgulhosa (Sf 2.15), opressora (Sf 3:1) e sanguinria (Ez 22.2; 24.6, 9, acerca de Jerusalm; Na 3.1, acerca de Nnive) (Harris, Archer Jr. & Waltke, op. cit., p. 1111-1112).

Como dito, diversas cidades prefiguram no AT. No entanto, algumas merecem destaque, sejam por seu papel na histria do povo de Deus, seja por seu destaque poltico-social, ou mesmo para destacar o mundo urbano do AT. Dentro deste ltimo aspecto vale salientar que Ur, a cidade de Abrao e seus antepassados, possua, por volta do ano 2000 a.C., 250.000 habitantes (Linthicum, 1993, p. 22). Alm disso, Ur dos caldeus apresentava a estrutura de uma cidade organizada e de grande influncia em seu perodo.

[...] a cidade possua uma cultura extremamente elevada.As casas eram bem construdas, e, geralmente, de dois andares.Quartos no piso trreo foram agrupados em torno de um ptio central, e uma escada levava at o segundo andar. A cidade tinha um sistema de esgoto eficiente [...].O nvel cultural avanado de Ur, na poca de Abro reduz ao silncio o escrnio daqueles que estigmatizam Abro como um nmade ignorante.Sua juventude foi passada em uma cidade altamente culta e sofisticada como o filho de um dos seus cidados ricos, e sem dvida ele era um homem bem-educado (Nichol, 1978; 2002, p. 290).O ministrio urbano, intencional ou no, do povo de Deus se destaca no ambiente do AT, especialmente em alguns contextos e cidades que merecem ser destacados como exemplos da misso urbana no Velho Testamento.

2. Ministrio urbano no ATDiversos episdios podem ser mencionados, mas a atual pesquisa deter-se- no papel exercido por Jos, no Egito; os profetas em Jerusalm, Daniel e seus companheiros em Babilnia e Jonas em Nnive.

2.1. Jos e a Misso no EgitoNa narrativa da vida de Jos (Gn 37-50), encontra-se o primeiro episdio de um judeu sendo levado cativo para terras estrangeiras. Este foi um dos meios usados por Deus para espalhar Sua mensagem pelo mundo. Tal fato ocorreu tambm com Daniel e seus companheiros, o que ser analisado mais adiante. O Esprito enviara a Jos de antemo. Seus irmos tambm tinham servido de instrumentos, embora no para o bem. Mas em tudo houve uma misso divinamente determinada (Champlin, 2001, V. 1, p. 271). No entanto, nesse episdio, Deus providenciou alm da propagao de Seu nome no Egito (Gn 41: 16, 38-39), um grande livramento (Gn 45: 5-8), que propiciou a conservao de muita gente em vida (Gn 50:20).Deus operou tal fato atravs da vida de Jos e sua fidelidade. Jos era ainda muito jovem ao ser vendido como escravo no Egito, para a casa de Potifar. Ao viver como um cristo, agindo em retido, Deus o abenoava e isto chamava a ateno dos que o rodeavam. Eles podiam ver que Deus era com ele (Gn 39:3). A casa de Potifar e tudo o que possua prosperou sob a mo de Jos (Gn 39:5).Quando no presdio, por ter sido caluniado pela esposa de Potifar (Gn 39: 17-18), Jos permaneceu firme e sob as bnos de Deus. Como a histria narra, por sua lealdade e humildade ao Senhor, Jos chegou a ser o governador de todo o Egito. Como tal, testemunhou de Deus em toda aquela nao e mesmo fora dela. O prprio Israel chegou a abenoar o Fara (Gn 47: 7 e 10), o nome de Deus foi exaltado[footnoteRef:7] e Seu povo liberto da fome e a linhagem de Abrao pde continuar. [7: Nichol (1978; 2002) atesta que seria fcil compreender a declarao do rei em que h o Esprito de Deus ao referir ser o Fara da dinastia dos Hicsos. Apesar de no haver um consenso entre os estudiosos no tocante a dinastia egpcia deste perodo, mesmo sendo a dos Hicsos, tal fato no deixa de enaltecer a Deus e propagar Seu nome nas terras egpcias e alm de suas fronteiras. No tocante ao debate sobre o fato da narrativa bblica de Jos ter se dado na dinastia Hicsa ou outra, bem como os argumentos favorveis a uma ou outra (Cf. Archer Jr., 1986, p. 130 et. Seq.; Nichol, 1978; 2002, V. 1, p. 437-439, 447; Travis, 1988, p. 1010-1012 & Archer, 1998, p. 228-233).]

O Egito era uma nao proeminente e, diante do que relata Gnesis, ampliou sua riqueza e prosperidade sob o governo de Jos. Ela refletia a disparidade social proeminente nos grandes centros de hoje. Camponeses viviam de forma humilde, com alimentao mais limitada e casas simples. A vida do arteso profissional era diferente, se ele era um carpinteiro, pedreiro, desenhista, pintor, escultor, ou escrivo.Ele morava na cidade, trabalhando tanto para o rei, rico funcionrio do governo, ou templo, tinha uma casa melhor do que o campons, melhores mveis, e uma variedade maior de alimentos, uma vez que seu pagamento lhe permitia alguns luxos. (Nichol, 1978; 2002, V. 1, p. 151).

Alm desta realidade, os aristocratas egpcios gozavam de regalias bem maiores, festas sociais realizadas com frequncia nas casas dos ricos, eles possuam suas vaidades, eram amantes da beleza, da natureza (Cf. Nichol, op. cit., p. 151-153).Jos viveu como escravo e servo, prisioneiro e como um governante rico e poderoso na capital do Egito. Diante desse quadro de opresso e injustia, de tentaes e vaidades, poder e riqueza, diante da realidade de uma das principais cidades de seus dias, em uma das maiores naes da poca, Jos foi fiel e cumpriu cabalmente sua misso, a missio Dei, pois era guiado pelo Esprito. No entanto, talvez o mais impressionante, seja o fato de Jos ter sido leal ao Egito, mesmo depois de toda injustia enfrentada, de este ser um reino considerado pago, ele foi fiel. Apresentou no apenas o significado do sonho a Fara, mas sugeriu a soluo, em detalhes, acumulando mantimentos em vrias cidades e trazendo prosperidade nao. Em sua lealdade, ele no apenas prosperou o Egito, mas salvou o povo de Deus da fome.

2.2. A Misso e JerusalmJerusalm a principal cidade bblica e chegou a ocupar um lugar to central na histria que passou a designar o prprio cu (Cf. Hb 12:22-23). A primeira meno a ela aparece em Gnesis 14:18 (Cf. Sl 76:2), mas foi quando Davi a conquistou dos Jebuseus (2 Sm 5: 6-9) e a escolheu como capital do reino, no lugar de Hebrom (territrio de Jud), que ela passou a ter uma maior influncia e um papel central na histria de Israel. Isto no foi apenas uma mudana ttica, mas tambm diplomtica, pela vantagem da cidade formar fronteira entre Benjamim-Jud podia ajudar a diminuir a inveja entre as duas tribos (Wood & Marshall, et al., 1996, p. 559-560). Alm disso, ela ficava no topo da colina de Ofel, cerca de 750 m acima do nvel do mar e rodeada pelos vales de Cedrom, Hinom e Tiropeon (Cf. Schultz, 1977, p.129). Tal geografia favorecia seu sistema militar e, ainda, a cidade desfrutava de gua da fonte de Giom, proveniente do vale de Cedrom, situado na regio leste da cidade (Harris, Archer jr. & Waltke, 1998, p. 912).Davi tornou Jerusalm capital civil e militar de toda nao, mas ele foi alm, pois quando mandou trazer a Arca de Quiriate-Jearim para Jerusalm valorizou toda a fora espiritual das antigas tradies israelitas, o que ajudou a unificar os sentimentos de todo povo de Israel (Bright, 1978, p. 261-262) tornando a cidade o centro religioso da nao.Depois da morte de Davi, Salomo construiu o templo [...]. Ele tambm adornou e fortaleceu grandemente a cidade, e ela veio a ser o grande centro dos assuntos civis e religiosos da nao (Deut. 12:5; comp. 12:14; 14:23; 16:11-16; Sl. 122) (Easton, 1996). Alm do templo, Salomo construiu palcios, casas, muralhas entre outros. Com a construo da nova muralha que foi estendida, ele ampliou os limites da cidade de 4,5 para 13 hectares, do mesmo modo a populao teve um crescimento de dois para seis mil (Myers, 1987, p. 570). Pode-se dizer que desde a sada dos judeus do Egito at a entrada na terra de Cana e, especialmente, a conquista de Jerusalm, o povo levou uma vida nmade, vagueando no deserto, mas em direo promessa feita por Deus de que lhes daria, grandes e boas cidades (Dt 6:10). O mesmo ocorreu antes do cativeiro egpcio, pois de Abrao e sua descendncia; at a entrada de Jos e, posteriormente seus familiares no Egito; estes viveram em reas rurais, mas, de certa forma, nas cercanias de cidades, como ocorrido com o prprio Abrao em relao Sodoma e Gomorra. Assim, correto afirmar que foi Davi quem iniciou em Israel a primeira estrutura de desenvolvimento urbano atravs de construes, ampliaes e governo centralizado e forte em uma cidade (Lyra, 2004, p. 108), o que foi ampliado por Salomo.Com o passar dos anos, a cidade ocupou cada vez mais um papel proeminente entre a nao de Israel. Ela deveria servir de luz para as naes e atrair todos os povos a si, no entanto, como dito anteriormente, Israel falhou em cumprir tal propsito. Jerusalm que deveria ser a cidade da paz, justia e segurana, como o prprio nome pode significar, se desvia tornando-se perversa e escravizadora. A paz, o Shalom, no conceito judeu possui um significado mais amplo do que o termo paz em portugus. Tal expresso representa o ideal para a vida, significa progresso, prosperidade, sade, justia e profundo contentamento espiritual. Dessa forma, no pode haver Shalom fora de Deus, nem pode se propagar o Shalom sem o cumprimento da lei de Deus (1 Reis 22; Mq 3:5-12; Jr 6:13-15) (LYRA, op. cit., p. 110).Apesar de ter abandonado a Deus, Jerusalm no deixou de ser alvo de Sua compaixo. O Senhor enviou seus profetas e mensageiros para advertirem a cidade. Como claramente dito por Van Engen (1996, p. 91), a misso, ou a mensagem dos profetas do AT direcionada s cidades e aos seus governantes, com vistas na restaurao das mesmas no Shalom ou ideal de Deus.Isaas, que teve o seu ministrio proftico voltado para o Reino de Jud, falou da grandeza que Jerusalm e Jud atingiram e como isto aviltou os homens (Is 2:5-11). Ento Jerusalm deixou a Deus, o que, como ressalta Brueggemann (1993), levou Deus a abandonar a cidade e Seu povo: Pois, tu, Senhor, desamparaste o teu povo (Is 2:6). Brueggemann ainda divide o livro de Isaas em trs grandes sees, sendo: 1) Jerusalm sobre assalto; 2) Jerusalm no exlio e 3) Jerusalm em restaurao e ressalta Isaas como tendo seu ministrio voltado para a cidade de Jerusalm e sendo um profeta de formao urbana.Apesar de a cidade ter cado e se afastado de Deus, ter se envolvido com injustias e idolatria, Deus continuava a amar a cidade e enviar Seus profetas com a mensagem de arrependimento, restaurao e justia integral:

Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos: cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei justia, repreendei ao opressor; defendei o direito do rfo, pleiteai a causa das vivas. Vinde, pois e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados so como a escarlate, eles se tronaro brancos como a neve; ainda que so vermelhos como o carmesim, se tronaro como a l. Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra (Is 1:16-19). No foi apenas Isaas, esta era a mensagem de quase todos os profetas diante da queda e afastamento de Jerusalm, do reino de Jud e Israel, dos princpios e da aliana com o Senhor Deus. Sofonias claramente conclamou dizendo que ai da cidade opressora, da rebelde e manchada! No atende a ningum, no aceita disciplina, no confia no Senhor, nem se aproxima do seu Deus (Sf 3:1-2). Por sua vez, Jeremias escreveu: Da voltas s ruas de Jerusalm; vede agora, procurai saber, buscai pelas suas praas a ver se achais algum, se h um homem que pratique a justia ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela (Jr 5:1). Sodoma e Gomorra haviam sucumbido no pecado e Abrao intercedeu pelas mesmas, mas foi este que parou de suplicar e no Deus que cessou de ter misericrdia (Lyra, op. cit., p. 116). Mesmo diante desse quadro exposto por Jeremias, Deus continua apelando e chamando Sua cidade ao arrependimento. Aceita a disciplina, Jerusalm, para que eu no me aparte de ti; para que eu no te torne em assolao e terra no habitada (Jr 6:8).No foram apenas Isaas, Jeremias e Sofonias, mas todos os profetas deste perodo a advertir e conclamar o povo para abandonarem seus pecados, sua idolatria, injustia e retornarem a Deus. Ams foi enftico ao acusar o pecado do povo dizendo: ouvi esta palavra, vacas de Bas, que estais no monte de Samaria, oprimis os pobres, esmagais os necessitados, e dizeis a vossos maridos: da c e bebamos (Am 4:1). No entanto, ele os conclamou ao arrependimento ao citar que deveriam buscar a Deus, pois assim diz o Senhor casa de Israel: Buscai-me, e vivei (Am 5:4). Habacuque advertiu sobre o derramamento de sangue e a iniquidade, Sofonias sobre a opresso, Ezequiel falou sobre o decreto do Senhor contra a cidade, devido a sua apostasia, derramamento de sangue, opresso, orgulho e imoralidade sexual (Ez 9-11; 16:1-63; 22:6-13; 24:6-9), mas tambm proferiu mensagens de esperana ao povo no cativeiro (Cf. Ez 20; 33-38) e assim agiram os profetas, como Atalaias de Deus a conclamar a cidade ao arrependimento. Apesar da realidade de total depravao, de perversidade, a ponto de no haver um justo sequer, Deus continuava amando a cidade, seus habitantes e clamando pelo arrependimento dos mesmos atravs de Seus servos os profetas. O que Deus condena na cidade so seus atos pecaminosos, a opresso, a idolatria, o crime, a imoralidade sexual, o derramar sangue, no a cidade em si, pois Ele a ama e no a deixa, no a abandona. Pelo contrrio, Deus apresenta uma nova oportunidade para a cidade e, atravs dos mesmos profetas que a advertiram, transmite uma mensagem de restaurao e esperana. Miquias diz: a voz do Senhor clama cidade (e verdadeira sabedoria temer-lhe o nome): ouvi, tribos, aquele que a cita (Mq 6:9). J Isaas claramente disse que chamar-vos-o: povo santo, remidos do Senhor; e tu, Sio, sers chamada a Procurada, a Cidade no deserta (Is 62:12)[footnoteRef:8]. O plano de Deus era e o melhor possvel para a cidade e Seu desgnio ser cumprido, pois em Cristo ele se torna assegurado (Barro, 2010). [8: Conferir tambm Isaas 26:1-6; 60:14-18; 65:17-25; Ez 48:35; Zc 2:4-5; 8:3-5; Js 20; Jr 33:8-9.]

Ela no permaneceu isenta do pecado e acabou se degradando novamente, como revela o NT, mas a esperana de restaurao final real e o papel do povo de Deus nas cidades e, sua atitude para com as mesmas, essencial.Hoje as urbes continuam da mesma forma, ora lembrando as cidades de refugio[footnoteRef:9] onde se podia buscar abrigo e uma oportunidade justa para a vida (Cf. Nm 35:11; Js 20), ou seja, prevenir-se da violncia generalizada e da prtica de injustias (Hoffmann, op. cit., p.54), ora se percebendo a opresso e corrupo da mesma, completo afastamento de Deus e Seus princpios. No entanto, os servos de Deus so Seus profetas que devem clamar aos cidados para que se arrependam, para que a justia possa reinar, para que o Reino de Deus se manifeste. Cabe ao povo de Deus interceder pela cidade, como Abrao o fez. [9: Uma compreenso pertinente do papel das cidades de refgio em seu aspecto mais amplo, ou escatolgico e bam colocado por Coon e Ortiz (2001, p. 89) ao declararem que as cidades de refgio estavam a ser smbolos da vida, no morte, da proteo divina em vez de auto-proteo.Assim, as cidades foram nomeadas em ordem cronolgica, aps a histria do xodo.Elas deviam ser os primeiros frutos urbanos da redeno do parente divino (J 19:25; Is 41:14; 44:21-22) e uma prvia da 'glria da Jerusalm celeste, quando o lugar do exlio do assassino passar a ser o local de refgio para todos os perdoados.]

O amor de Deus pela cidade algo que tange toda a Bblia e Jerusalm se torna um modelo de expresso de tal amor. O salmista j clamava gloriosas cousas se tm dito de ti, cidade de Deus! (Sl 87:3). Davi por sua vez escreveu orai pela paz de Jerusalm! Sejam prsperos os que te amam (Sl 122:6). Jerusalm a cidade de Deus, Ele habita nela, o Senhor tambm santifica e abenoa a cidade. Ele, portanto, protege a cidade contra todo o mal. A cidade santificada pela presena de Deus nela! Ela protegida contra o caos, a queda, e o domnio do mal pela presena divina. Assim, Deus ama a cidade (Linthicum, op. cit., p. 34).

2.3. A Misso e BabilniaAssim como Jerusalm, Babilnia e o papel exercido por esta, so destaques na Bblia, mas dessa vez como smbolo de confuso e rebelio contra Deus, e isto desde os seus primrdios (Cf. Gn 11). Do seu surgimento at sua destruio diante do imprio Medo-Persa a cidade e a nao passaram por momentos de auge (como o perodo de reinado de Hamurbi) e declnio (quando destruda por Senaqueribe). Mas foi sob o governo de Nabucodonosor que ela alcanou a sua maior glria e Babilnia tronou-se uma cidade imponente (Harris, Archer Jr. & Waltke, 1998, p. 147).A cidade de Babilnia era esplendorosa, seu permetro era de 16 km (Schwantes, 1983, p. 98), de forma que se uma parte da cidade fosse capturada, mensageiros teriam que informar do mesmo (Cf. Jr 51:31). Ela possua 100 portes em sua grande muralha de 7 e 4 metros de espessura, pois duas eram as muralhas que circundavam a cidade. Havia abundncia de gua, terras arveis e pastagem, alm de muitas construes como os jardins suspensos, cerca de 250 torres espalhadas pela muralha, o Zigurate, entre outros. Na cidade habitavam mais de um milho de pessoas. Babilnia era um grande centro urbano da poca (Champlin & Bentes, 1995, V. 1, p. 426-427). Na realidade, nenhuma capital no mundo antigo foi jamais centro de to grande poder, riqueza e cultura por um perodo to vasto (Rogers, 1992, p. 496). Foi para esta grande cidade que Daniel, Ananias, Misael e Azarias, entre outros, foram levados como cativos para serem educados na cultura dos caldeus e servirem ao rei babilnico (Cf. Dn 1). Deus tem formas diferentes de agir, pois ao repreender e levar o povo de Israel a reflexo e arrependimento de sua apostasia, atravs do cativeiro babilnico, Ele tambm tornou estes jovens missionrios urbanos na Babilnia.O ambiente religioso da Babilnia era pluralista, tanto que o autor do livro de Daniel usou a palavra Elohim, com o artigo, para fazer distino entre o verdadeiro Deus de Israel e os falsos deuses (Haney, 1994, p. 66). Essa era a realidade em que os jovens judeus foram colocados, realidade de pluralidade religiosa, grandiosidade, luxo, idolatria, licenciosidade em meio ao poder, corrupo e luta por posies. Tal realidade vai sendo descrita em cada captulo do livro de Daniel. Tal realidade similar das cidades de hoje, pluralista em sua religiosidade, idlatra, correndo em busca de posies e de poder, licenciosa etc.Foi nesse ambiente urbano que estes jovens testemunharam de Deus. A histria de Beltessazar, Sadraque, Mesaque, e Abdenego pode nos ensinar algumas verdades que so to cruciais e importantes para a vida no urbano sculo XXI como eram no sculo II a.C. (Haney, op. cit., p. 67). Eles demonstraram humanidade, respeitando cada pessoa e intercedendo pelos sbios da Babilnia (Cf. Dn 2:24), demonstraram f diante das presses para deixarem os princpios bblicos, mesmo correndo risco de perderem a prpria vida (Cf. Dn 1-3, 6) e, neste contexto, revelaram plena confiana em Deus (Cf. Dn 3:16-18).O fato que eles fizeram a diferena na Babilnia, com sua vida de f, coragem, confiana e respeito por todos, revelaram um Deus poderoso. Em seu cativeiro estes homens levaram adiante o propsito de Deus de alcanar as naes pags com as bnos que so oriundas do conhecimento do Senhor, o Deus todo poderoso e criador dos cus e da terra (White, 1992, p. 479).Daniel e seus companheiros seguiram o que j aconselhava o profeta Jeremias que disse: procurai a paz da cidade, para onde vos desterrei, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vs tereis paz (29:7). Como resultado, Nabucodonosor ouviu a advertncia divina (Cf. Dn 4:27), apesar que de forma mais tardia (Cf. Dn 4:34) e uma cidade opressora e com um governante pago pde ver mudanas e ter um lder rendido ao Senhor.O final de Babilnia no foi feliz, pois a maldade continuou reinando, assim como reina nas cidades de hoje, mas o amor de Deus pelas mesmas tambm prossegue e a paz pode ir sendo vista, mesmo que em pequenas gotas, mas a perfeita paz ser encontrada e o plano de Deus com as cidades ser concretizado, quando a Babilnia de cada cidade, de cada poca e gerao for, finalmente, redimida e completamente transformada. Este o desfecho bblico, a esperana e certeza dos servos de Deus, em Jesus Cristo (Cf. Ap 21-22).

2.4. Esdras, Neemias e a MissoJerusalm foi destruda e seu povo espalhado e levado para o cativeiro, no entanto ela foi reedificada. O livro de Neemias relata como os exilados regressaram at Jerusalm e chegaram a se reunir na praa diante da Porta das guas (Ne 8:1). Esdras e Neemias estavam presentes e o livro da Lei foi lido.

O retorno do povo escolhido realizou-se em trs etapas e sob vrios dirigentes. O primeiro e mais numeroso se efetuou em torno do ano 538 a.C., sob a direo de Zorobabel; o segundo perto do ano 458, dirigido por Esdras, (conforme a data da tradio apresenta, a qual alguns estudiosos colocam dvida); e o terceiro em torno do ano 444, dirigido por Neemias (Hoff, 1996, p. 280).

A preocupao de Esdras era de restaurar a cidade e todo o servio de adorao. Sua ateno e dedicao para que o culto fosse completo foi tal que ele convenceu uns 250 levitas para retornarem com suas famlias (Hoff, op. cit., p. 295), para que pudessem ajudar os sacerdotes.O ministrio de Esdras, como sacerdote e escriba e Neemias, como governador, foi de fato um grande ministrio urbano de reconstruo e restaurao. Neemias conclamou o povo para que agissem em prol da reedificao da muralha, para sarem do oprbrio em que Jerusalm se encontrava e todos se animaram e se colocaram a trabalhar (Ne 2: 17-18). Eles tiveram oposio (Ne 2:19), mas conseguiram superar e concluir o muro da cidade. Neemias demonstrou habilidades de liderana e envolveu todo o povo na misso de restaurar o muro e a cidade. Ele distribuiu o trabalho (Cf. Ne 3) e formou 44 grupos de trabalhadores para agirem em prol da reconstruo.Alm da reconstruo, Neemias nomeou pessoas para as diversas necessidades, restaurou o servio de adorao, ratificou a aliana com Deus e liderou vrias reformas junto cidade e compromisso do povo com Deus.A preocupao deles era com um restaurar completo, eles desenvolveram a misso de forma integral. O envolvimento e desenvolvimento da misso por parte de Esdras e Neemias foi desde a esfera do urbanismo, com o envolvimento de toda a populao, at reformas de conduta e adorao, com base no arrependimento e busca de uma renovao espiritual.O captulo 5 de Neemias mostra o cuidado para com os pobres e a reforma agrria feita, em que as terras e plantaes foram devolvidas aos seus donos originais, os quais se encontravam em situao extremamente complicada, alguns tendo os filhos escravizados. Neemias ficou irritado com esta situao (Ne 5:6), pois percebeu como isto poderia afetar a infra-estrutura e gerar uma forte desigualdade econmica na cidade (Breneman, 1993, p. 202). Em todo aspecto levou Neemias a reconstruo da cidade adiante.At mesmo o cuidado ao ler e explicar (Cf. Ne 8:8) o que se havia lido do Livro, da Lei de Deus, claramente revela uma preocupao e cuidado especial para que toda a populao fosse alcanada e restaurada com o ensinamento bblico. Greenway (1981) acredita que eles podem at mesmo ter traduzido os escritos, com o conceito de que muitos falariam apenas o caldeu aps o cativeiro e ele ainda acrescenta que em tal feito h um importante princpio para o apostolado urbano de hoje. As pessoas necessitam escutar a Palavra de Deus no idioma que melhor conhecem e no contexto cultural que lhes mais confortvel (1981, p. 52).

H um destaque para a experincia de Neemias como uma espcie de prottipo de missionrio urbano, algum capaz de encorajar e mobilizar a populao de uma cidade para sua restaurao. Os passos por ele seguidos sugerem um roteiro para a elaborao de um projeto de misso urbana que ultrapassa as fronteiras da religio enquanto grandeza autnoma ou diferenciada da cidade como um todo. Sua espiritualidade no se limita ao bem-estar de sua comunidade religiosa, mas reconstruo e restaurao da cidade arruinada (Hoffmann, 2007, p.12).

O relato de Esdras e Neemias desafia cada cristo a um envolvimento total e pleno com a cidade, ele fala de pegar uma cidade em meio do caos e conduzi-la aos ps de Cristo, restaurando no apenas suas estruturas fsicas, ou urbansticas, mas sua espiritualidade, sua compaixo, sua fidelidade a Deus. Fala de misso urbana integral.Neste relato cada igreja e cada cristo so desafiados a amarem e agirem em prol da cidade e sua populao. O desafio grande, pois as cidades hoje so maiores e a pluralidade tnica, cultural e religiosa gigantesca, mas a tarefa possvel, pois ela pertence a Deus, que usa Seus servos e os capacita a agirem em prol da urbe.

2.5. A misso e NniveNnive foi um dos grandes centros urbanos dos tempos bblicos do AT. Jonas a chama de grande cidade por trs vezes (1:2; 3:2; 4:11) e o livro relata que ela possua 120.000 crianas, ou seja, pessoas que no sabem discernir entre a mo direita e a mo esquerda (4:11). Ela se situava na margem oriental do rio Tigre. Nnive era uma ampla cidade, com numerosos subrbios fora de suas muralhas (Schultz, 1977, p. 364). Nnive ocupava uma posio central na grade estrada entre o Mediterrneo e o Oceano ndico, unindo assim o oriente e o ocidente, a riqueza flua a partir de muitas origens, de modo que ela se tornou a maior de todas as cidades antigas (Easton, op. cit.). Sendo que Nnive tinha 120.000 crianas[footnoteRef:10] se calcula que havia 600.000 habitantes na rea metropolitana. Alm disso, a cidade tinha grande importncia, talvez tenha sido a cidade mais importante do mundo naquela poca (Lloyd, 1991, p. 21). [10: Apesar de vrios escritores crerem que este nmero de 120.000 se refira a crianas, outros crem que se trata de adultos e a referncia de que no sabem discernir entre a mo direita e a mo esquerda refere-se a escurido espiritual. Carl E. DeVries (1988, p. 1555) argumenta que mais razovel concluir que significava toda a populao e que a clusula descritiva refere-se escurido espiritual absoluta dos ninivitas.]

Foi para essa cidade[footnoteRef:11], uma das capitais do imprio assrio, que alm de ser conhecida por sua grandiosidade poltica e militar, tambm o era por sua maldade e perversidade para com os povos que derrotavam e escravizavam e, que tinha Ishtar como sua divindade, que o profeta Jonas foi enviado (Devries, 1997, p. 33). [11: Possivelmente, ao se falar de Nnive, o autor bblico referia-se grande Nnive, ou seja, a expresso a grande cidade de Nnive denota no apenas a cidade murada, mas tambm a regio circunvizinha, incluindo-se talvez a cidade de Cal (Tell Nimrud), 40 km ao sul (cf. Gn 10.11-12) (Alexander, 2001, p. 112).]

Apesar de Bosch crer que o livro de Jonas no tem nada a ver com a misso na acepo normal da palavra (2007, p. 35) e, ainda outras hipteses serem sugeridas pelos os estudiosos para o propsito do livro, como: arrependimento, profecia no cumprida, atitudes judaicas com respeito aos gentios e teodicia (Alexander, 2001, p. 92-103), o aspecto missionrio e o amor de Deus pela cidade e seus habitantes no pode ser negado.Jonas prefigura a muitos que olham para as cidades modernas de hoje com olhar de repugnncia e desprezo, olhar de quem deseja que a cidade perea e s enxerga sua perversidade. Nnive representa as cidades modernas, muitas vezes sucumbidas pela explorao das classes minoritrias, cheia de sensualidade e violncia.Em Nnive reinava a explorao, a idolatria, a sensualidade e a violncia, de fato [...] toda a vida poltica e econmica da cidade se baseava na agresso militar, na explorao das naes mais dbeis e no trabalho de escravos. O profeta Naum no poupou adjetivos desonrosos ao descrever esta traidora das naes e cidade de sensualidades (Na 3:4). Nnive era mestra em feitiaria e uma capital do vcio. Suas obras artsticas foram pervertidas por obscenidades, sua cultura pelos dolos, e sua beleza pela violncia (Greenway, 1981, p.20).

Esta era a realidade de Nnive e a realidade das cidades de hoje. No entanto, Deus amou a Nnive e sua populao (Cf. Jn 4:11), como ama as cidades de hoje e seus habitantes.O resultado da pregao de Jonas foi surpreendente, pois todos os ninivitas creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior at o menor (Jn 3:5). O mesmo aconteceu com o rei e o palcio real, que expediu uma proclamao que exortava toda nao a abandonar seus pecados, atravs do arrependimento (Cf. Jn 3:6-9). O fato que Deus ama a Nnive, e v esperanas e possibilidades em Nnive que Jonas no v ou no quer ver. A viso de Deus mais ampla, o amor de Deus mais profundo, a compaixo de Deus bate mais forte do que Jonas pode facilmente compreender ou compartilhar. Deus tem mais f na cidade do que Jonas (Proctor, 2002, p. 38). Esta continua sendo a realidade de hoje, Deus ama a cidade e seus habitantes, mas Seus servos tm perdido a f na cidade, se que um dia a possuram. Outros crem na maldade inerente das cidades e que as mesmas devem ser abandonadas, pois podem colocar em risco a vida no Cu (Cf. Jones, 2004, p. 17). No entanto, toda a Palavra de Deus revela outro fato, o de Seu amor e preocupao com a cidade. Em Jonas 4:11 Deus pergunta: e no hei de eu ter compaixo da grande cidade de Nnive em que h mais de cento e vinte mil pessoas, que no sabem discernir entre a mo direita e a mo esquerda, e tambm muitos animais? Deus ama a cidade e seus habitantes e envia Seus servos para os advertirem. Em realidade, no verso acima, como bem disse Fernando (1988, p. 68), a nfase sobre o desamparo dos ninivitas. Isso nos leva ao corao do Evangelho. Ns estamos desamparados, sob o poder do pecado. Ns no temos nenhuma esperana, nenhuma habilidade para nos salvar. Mas Deus olhou para ns com misericrdia e forneceu um caminho para a nossa salvao.Jonas aborreceu-se pela misericrdia divina (Jn 4:1-2), apesar do arrependimento dos ninivitas ele ainda no consegui aceit-los ou am-los, pois seu preconceito era ainda muito grande. Esta questo ainda paira para os cristos modernos, que ministram em cidades que no amam, e que no esto dispostos a aceitarem as pessoas e perdo-las (Bakke, 1987, p. 67). No entanto, o imenso amor Divino pela urbe, pelo ser humano que nela vive, ou fora dela, e que deve compelir cada servo de Deus a amar e se envolver com atividades redentoras que promovam e construam o Reino de Deus na cidade, aceitando cada cidado como igual a si mesmo e merecedor da salvao pela graa de Cristo Jesus.A narrativa de Jonas revela o desejo de Deus de que todas as pessoas, de todas as naes sejam alcanadas. O mundo hoje um mundo urbano, mais da metade da populao vive em centros urbanos (Leiwen, Jovem & Hardee, 2010) e torna-se natural a escolha dos grandes centros no processo evangelstico, pois assim como Nnive, capital da antiga Assria, era o lugar lgico para realizar um esforo tendente para influenciar a nao inteira, as grandes urbes de nossos dias so os centros estratgicos que devem ser conquistados se as naes tm de ser convertidas. No ganhar as cidades no converter o mundo (Greenway, op. cit., p. 27).

IV. CONSIDERAES CONCLUSIVAS

Conforme visto, apesar do debate em torno da realidade missionria no Antigo Testamento, este apresenta modelos missiolgicos e de ministrio urbano. Predomina o sentido centrpeto da misso, em que Israel deveria ser um modelo para as demais naes, atraindo-as ao Senhor Deus.A misso real no contexto do Antigo Testamento, bem como sua esfera urbana. Deus o missionrio por excelncia, e atravs de Sua nao deveria abenoar as demais. Por diversas ocasies Israel foi negligente no cumprimento da misso, mas isto no impediu o plano de Deus de alcanar todos os povos e nem mesmo mudou Seu propsito.O Antigo Testamento menciona mais de 1000 vezes o termo cidade e esta mantm um sentido de poder e concentrao de recursos, apesar de muitas possurem um espao fsico menor em comparao com as cidades de hoje (Rogerson & Vincent, 2009, p. 4). No entanto, algumas cidades possuram uma populao expressiva, como Ur dos Caldeus, Babilnia, Nneve, entre outras.No AT, pode-se perceber que Deus ama a cidade e seus moradores. Tal realidade demonstrada na misericrdia estendidas s urbes, Seu desejo de v-la sendo moldada e transformada e a ao dos servos de Deus enviados para as cidades como agentes de transformao.Jos no Egito, Daniel na Babilnia, Jonas em Nnive, os profetas e mesmo alguns reis em Jerusalm, Esdras e Neemias e a reedificao de Jerusalm so alguns poucos exemplos do amor de Deus pela cidade e seus habitantes.Apesar de na cidade o mal poder ser encontrado em maior proporo, pois a maldade est no corao humano e este se concentra no ambiente da urbe, a misericrdia divina pode alcanar a cidade e transform-la atravs de Seus instrumentos, os cristos. O grande rei da Babilnia, Nabucodonosor foi transformado pelo testemunho de Deus atravs e por intermdio de Seus servos, Daniel, Ananias, Misael e Azarias.O Antigo Testamento apresenta sua esfera nmade e seminmade dos patriarcas, mas os mesmos viviam prximos a cidades, como Abrao em relao a cidades como Sodoma e Gomorra, mas apresenta o crescimento das urbes, bem como a promessa de que os israelitas herdariam boas e grandes cidades (Cf. Dt 6:10). O AT pode ser visto sob uma moldura urbana, com suas peculiaridades, obviamente, mas com expressividade de cidades e ministrios urbanos.A cidade surgiu em um contexto de rebelio e fuga do plano de Deus (Gn 4:17), mas passou a ser amada pelo Senhor de forma que o final da histria deste mundo se dar com a grande megalpole da Nova Jerusalm (Cf. Ap 21-22).

A cidade com todas as suas instituies tratada como uma entidade nica, em muitas passagens das Escrituras. Raymond Bakke afirma ter encontrado 119 cidades mencionadas na Bblia.No Antigo Testamento, os profetas foram envolvidos no s na evangelizao, mas tambm no planejamento urbano.Jonas chamou Nnive - como uma cidade, incluindo o seu rei -, ao arrependimento.Babilnia, o smbolo do mal coletivo, foi um alvo to bem-sucedido de evangelismo que seu estilo de vida e at mesmo seu governo foram afetados.Jos e Daniel foram chaves do planejamento urbano enquanto ocupavam cargos polticos poderosos.Jeremias modelou santidade em uma cidade estranha.Neemias foi o arquiteto de uma verdadeira renovao urbana em Jerusalm (Claerbaut, 1983, p. 18).

As Escrituras comearam apresentando o povo de Deus em um jardim, e este como um modelo ideal. No entanto, o ser humano acabou indo para a cidade e esta ocupou um lugar cada vez mais primordial na histria e a Bblia conclui informando que os remidos vivero na cidade da Nova Jerusalm.O amor de Deus pela cidade visvel e real e cabe a cada cristo de hoje interceder e permitir ser agente de transformao da realidade urbana das grandes cidades de hoje. O Antigo Testamento assim o testifica. Os exemplos vistos, os Salmos ao expressar o lugar especial das cidades, os ministrios desenvolvidos, cada testemunho revelado desafia os cristos de hoje a agirem em prol da cidade, local de habitao natural do ser humano do sculo XXI.A cidade no m em si e o cristo no precisa fugir da mesma, pelo contrrio, deve agir em prol de sua transformao. A maldade se faz presente no ambiente da urbe, mas a presena do povo de Deus e sua intercesso podem e devem mudar sua realidade. Cada cristo deve engajar-se na vida de sua cidade, deve testemunhar na mesma, deve ser um instrumento de mudana, social, poltica, urbanstica e espiritual da urbe.O desejo ou projeto de Deus para com Israel e os cristos de hoje, em relao s cidades foi muito bem descrito por Brueggemann (1997, p. 741):

A paixo de Yahweh pela justia, a paixo pelo bem-estar da comunidade humana, e paixo para o "shalom" da terra...[que] se recusa a entrar em acordo com o poder da morte, no importa sua forma particular de interesse pblico ou a sua roupagem ideolgica.

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