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CETCC - CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL
ELIANA MARIA RECCHIA BOCCI
BULLYING E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
SÃO PAULO
2018
ELIANA MARIA RECCHIA BOCCI
BULLYING E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Trabalho de conclusão de curso Lato Sensu
Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental
Orientador: Prof. Dr. Luiz Ricardo Viera Gonzaga
Coorientadora: Prof.ª Msc Eliana Melcher Martins
SÃO PAULO
2018
Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a fonte.
BOCCI, Eliana Maria Recchia Bullying e Terapia Cognitivo-Comportamental
Eliana Maria Recchia Bocci, Luiz Ricardo Vieira Gonzaga, Eliana Melcher Martins – São Paulo, 2018
37 f. + CD ROM
Trabalho de conclusão de curso (especialização) - Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC).
Orientador: Prof. Dr. Luiz Ricardo Vieira Gonzaga Coorientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins
1. Bullying 2. Terapia Cognitiva Comportamental. I. Bocci, Eliana Maria Recchia II. Gonzaga, Luiz Ricardo Vieira. III. Martins, Eliana Melcher.
ELIANA MARIA RECCHIA BOCCI
Bullying e a Terapia Cognitivo Comportamental
Monografia apresentada ao Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental como parte das exigências para obtenção do título de especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental
BANCA EXAMINADORA
Parecer:________________________________________________________
Prof.___________________________________________________________
Parecer:________________________________________________________
Prof.___________________________________________________________
São Paulo, ____ de ____________ de _________
Agradeço a Deus por me conceder a
vida e as oportunidades que me são
outorgadas.
Agradecimento especial, meu esposo
e filhos pela ajuda, compreensão, apoio e
incentivo que me deram durante essa
jornada.
Aos professores e coordenadores e
orientador, que dedicaram o seu tempo para
transmitir seus conhecimentos e incentivar-
me ao aprendizado das propostas e
objetivos do curso de especialização e me
fazer uma pessoa mais capacitada.
Aos colegas de curso, pela ajuda,
contribuição, cumplicidade e amizade. A
todos os amigos e parentes que contribuíram
direta ou indiretamente nesta caminhada.
RESUMO
O bullying é uma preocupação universal, em muitos países é um importante
problema social que vem alarmando toda a sociedade. É definido pelo conjunto de
comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, adotados por um ou mais
alunos contra outro(s) em desvantagem de poder ou força física, sem motivação
evidente, sob a forma de “brincadeiras de mau gosto” que disfarçam o propósito de
maltratar, intimidar e humilhar, causando dor, angústia e sofrimento, colaborando
para o desenvolvimento de muitos transtornos psíquicos. Este trabalho busca
discorrer sobre este fenômeno entre crianças e adolescentes nas escolas brasileiras
assim como sobre a intervenção na abordagem cognitivo-comportamental.
Utilizaram-se as bases de dados pesquisadas: SciElo, Google Scholar e Livros
especializados na área. Foram utilizadas palavras chaves: Bullying e Terapia
Cognitivo-Comportamental. Através dos critérios de inclusão desse estudo, foram
selecionados 27 artigos. Os resultados desse estudo apontaram a eficácia dos
tratamentos comportamentais e cognitivo-comportamentais em crianças e
adolescentes, pois trabalharam-se aspectos da cognição e mudanças
comportamentais, o que possibilitou resultados mais satisfatórios. O treinamento em
Habilidades Sociais funcionou como uma alternativa de prevenção por meio de ação
integrada entre escola e família. Conclui-se que o bullying não pode ser encarado
como modismo, precisa ser esclarecido, divulgado, sugerindo-se o desenvolvimento
de políticas públicas eficazes e medidas de prevenção incluindo a participação ativa
dos pais.
Palavras-Chave: Bullying. Comportamento Agressivo. Vitimização. Terapia
Cognitivo-Comportamental. Habilidades Sociais.
ABSTRACT
Bullying is a universal concern, in many countries it is an important social problem
that has alarmed the whole society. It is defined by the set of aggressive, intentional
and repetitive behaviors adopted by one or more students against others who are
disadvantaged in power or physical strength, without obvious motivation, in the form
of "bad taste" that disguises the purpose of maltreat, intimidate and humiliate,
causing pain, anguish and suffering, contributing to the development of many psychic
disorders. This work seeks to discuss this phenomenon among children and
adolescents in Brazilian schools as well as intervention in the cognitive-behavioral
approach. The searched databases were used: SciElo, Google Scholar and
specialized books in the area. Key words were used: Bullying and Cognitive-
Behavioral Therapy. Through the inclusion criteria of this study, 27 articles were
selected. The results of this study pointed to the efficacy of behavioral and cognitive-
behavioral treatments in children and adolescents, since aspects of cognition and
behavioral changes were worked out, which allowed for more satisfactory results.
Training in Social Skills served as an alternative prevention through integrated action
between school and family. It is concluded that bullying can not be seen as a fad,
needs to be clarified, publicized, suggesting the development of effective public
policies and prevention measures including the active participation of parents.
Keywords: Bullying. Aggressive Behavior. Victimization. Cognitive-Behavioral
Therapy. Social Skills.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 9
2.1 Bullying .............................................................................................................. 9
2.2 Terapia Cognitivo-Comportamental ................................................................. 16
2.3 Intervenção com vítimas de bullying de acordo com a Terapia Cognitivo-
Comportamental .............................................................................................. 21
3 OBJETIVO ............................................................................................................. 26
3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 26
3.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 26
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 27
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 28
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 33
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35
7
1 INTRODUÇÃO
O termo bullying deriva de bully que em inglês significa “valentão”. O bullying
pode ser de natureza física, psicológica, agressões verbais e exclusão social severa
de outras. Essas situações despertam medos, isolamentos, tensões, e a vida desse
público são colocadas em risco, com os seus pensamentos e sentimentos sendo
afetados, comprometendo-as em várias facetas de suas vidas (LISBOA; WENDT;
PUREZA, 2014).
Pereira (2002) afirma que as vítimas de bullying exibem perda de
autoconfiança e confiança nos outros, baixa autoestima e autoconceito negativo,
falta de concentração e dificuldades de ajustamento social, podendo até mesmo vir a
cometer suicídio.
Também podem trazer consequências mais graves, como Depressão, Fobia
Social, assim como o desenvolvimento do Transtorno de Conduta na adolescência
ou Transtorno de Personalidade Antissocial na vida adulta, Transtorno de Estresse
Pós-Traumático e até mesmo a tentativa de suicídio (CONSTANTINI, 2004 apud
DORNELLES, 2012, p. 172).
Nos últimos anos muito tem se afirmado sobre bullying, todavia várias
pessoas ainda consideram este fenômeno como “uma coisa de moda”, “bullying é
frescura de psicólogo, antes não existia” ou, ainda, “bullying é só brincadeira de
criança” (LISBOA; WENDT; PUREZA, 2014).
No passado as situações de bullying eram consideradas brincadeiras naturais
e quem sofria o bullying era aconselhado a enfrenta-lo com equilíbrio e utilizá-lo para
tornar-se uma pessoa mais forte (CARPENTER; FERGUSON, 2011).
Braga e Lisboa (2010 apud LISBOA; WENDT; PUREZA, 2014) cita que em
um estudo sobre Estratégias de Coping para Lidar com o Processo de Bullying, os
autores escrevem que o que diferencia o bullying de uma brincadeira de criança é
exatamente o fato de que as atitudes agressivas, além de repetidas, são
intencionais, executadas dentro de uma relação desigual de poder, ocasionando
angústia, dor e humilhação.
Neste sentido, o interesse nesta área de estudo pela autora foi despertado
pela crescente procura na prática clínica por atendimento psicológico para crianças
e adolescentes. Esses pacientes chegam ao consultório com depressão, transtorno
8
de ansiedade generalizada, pânico, fobia social, automutilação e ideação suicida.
Esses pacientes apresentavam em comum o sofrimento através do bullying.
Assim, este trabalho teve como objetivo discorrer sobre o bullying entre
crianças e adolescentes nas escolas brasileiras assim como sobre a intervenção na
abordagem cognitivo-comportamental.
Será apresentado no conteúdo deste trabalho uma fundamentação teórica o
qual será abordado a visão do bullying e formas distintas de classificá-lo, os
preceitos da Terapia Cognitivo Comportamental e a intervenção com vítimas do
bullying de acordo com a Terapia Cognitivo Comportamental. Optou-se neste
trabalho, o método da revisão bibliográfica. Os resultados e a discussão serão
apresentados neste trabalho apontando os artigos elencados e analisados através
dos critérios de inclusão, sendo, por fim, finalizado com a conclusão.
9
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Bullying
Segundo o Manual de Proteção Escolar e Promoção de Cidadania (2009,
p.16), a escola é de natureza educativa, inclusiva e para promoção de cidadania.
Bullying é uma das formas mais comuns de violência entre jovens, inclusive no ambiente escolar. Define-se pelo conjunto de comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, adotados por um ou mais alunos contra outro(s) em desvantagem de poder ou força física, sem motivação evidente, sob a forma de “brincadeiras de mau gosto” que disfarçam o propósito de maltratar, intimidar e humilhar, causando dor, angústia e sofrimento. Trata-se de um fenômeno encontrado em escolas públicas e privadas em todo o mundo, dentro e fora das salas de aula. Manifesta-se em xingamentos, desenhos, ofensas morais, verbais, sexuais, pelo ato frequente de ocultar ou danificar materiais de uso pessoal, maus-tratos físicos e psicológicos, reais e virtuais. Este último, denominado ciberbullying, é decorrente das modernas ferramentas tecnológicas – como a internet, os celulares, as câmeras fotográficas – e da falsa crença no anonimato e na impunidade.
O estudo sobre o assunto já tem uma história de 25 anos, muito se aprendeu
e foram desenvolvidas muitas formas de intervir, com algum sucesso. É muito
importante que o conhecimento e as boas práticas sejam difundidos, para que pais,
professores, profissionais da saúde e aqueles que se preocupam com o bem-estar
dos jovens possam usá-los em seu próprio trabalho e ajudem a reduzir a gravidade
deste problema (LISBOA; WENDT; PUREZA, 2014).
Segundo Lisboa, Wendt, Pureza (2014), o bullying pode ser de natureza
física, psicológica, agressões verbais e exclusão social severa. Despertam nas
pessoas medos, isolamentos, tensões e adoecimento, comprometendo-as em várias
facetas de suas vidas, pois seus pensamentos e sentimentos são afetados, e a vida
desse público pode ser colocada em risco.
Alguns estudos de Lopes Neto (2005), Lisboa, Wendt, Pureza (2014), Calbo
(2009) apontam que há uma concordância entre os autores em assinalar que o
fenômeno bullying em muitos países é um importante problema social. Vem
alarmando toda a sociedade, é uma preocupação universal, além de estar tendo um
aumento significativo de situações de violência e precisa ser combatido da maneira
mais eficaz possível.
10
O Bullying sempre existiu, porém antigamente era considerado brincadeira de
criança, nos dias atuais algumas pessoas consideram este fenômeno como “uma
coisa de moda”, “bullying é frescura de psicólogo” (LISBOA; WENDT; PUREZA,
2014).
De acordo com Carpenter, Ferguson (2011), o bullying ocorre há décadas,
contudo os impactos negativos causados as crianças e adolescentes passaram a
ser discutidos apenas mais recentemente. No passado as situações de bullying
eram consideradas brincadeiras naturais e quem sofria o bullying era aconselhado a
enfrenta-lo com equilíbrio e utilizá-lo para tornar-se uma pessoa mais forte.
Um estudo sobre Estratégias de Coping para Lidar com o Processo de
Bullying, feito por Braga, Lisboa (2010), menciona que atitudes agressivas,
repetidas, intencionais, executadas dentro de uma relação desigual de poder,
ocasionando angústia, dor e humilhação é o que diferencia o bullying de uma
brincadeira de criança (LISBOA; WENDT; PUREZA, 2014).
Estas situações de violências envolvem repetidos ataques por um ou mais
indivíduos, contra uma pessoa mais “fraca” ou indefesa em uma relação desigual de
poder. Acontecem demasiadamente entre crianças e adolescentes no cotidiano das
escolas (LISBOA, WENDT; PUREZA, 2014). Há uma tendência a se considerar
bullying, as agressões acontecidas para além dos muros da escola, como em casas,
ruas, quartéis militares, presídios ou no local de trabalho (MEDEIROS, 2012).
Com relação à idade segundo estudos de Lopes Neto (2005) e Totorelli,
Carneiro, Araújo (2010), a maior prevalência de bullying acontece entre 11 e 13
anos, ou seja, entre o final da infância e início da adolescência, sendo assim
contraria a ideia (mito) de que as crianças não fazem bullying, somente os
adolescentes e de que só os meninos praticam o fenômeno, meninas não.
Segundo Lopes Neto (2005) explicita, a forma do bullying direta é utilizada
com frequência maior entre os meninos e a forma indireta pelas meninas.
Além de diferentes definições encontradas para o termo bullying, há também
formas distintas de classificá-lo. Bullying direto - físico e/ou verbal, inclui a agressão
física, abuso sexual, roubo ou deterioração de objetos de outra pessoa, insultos,
extorsão apelidos e comentários racistas. Bullying indireto - envolve a exclusão de
uma pessoa do grupo, apelidos que marginalizam o outro, fofocas e qualquer outro
tipo de manipulação cometida por um indivíduo ou um grupo contra o outro
(OLWEUS, 1993; SMITH; SHARP, 1995 apud CALBO, 2009, p. 74).
11
O bullying também pode ser classificado quanto à função assumida por cada
participante: vítimas, agressores, vítimas/agressores ou testemunhas.
As vítimas/alvos são os sujeitos expostos a ações praticadas por outro (s), de
forma repetida e durante um determinado período. Em geral, são pessoas inseguras,
pouco sociáveis e não dispõem de recursos para reagir à violência ou interrompê-la.
Os agressores tendem a serem indivíduos populares e dominadores em relação aos
seus alvos, além de se abarcarem em comportamentos antissociais. Cerca de 20%
dos sujeitos em situações do bullying podem representar tanto o papel de vítimas
como de agressores, dependendo do contexto em que se encontram. Essa dupla
função pode ser explicada pela união de atitudes agressivas e uma baixa
autoestima. Por fim, as testemunhas são sujeitos que não se envolvem diretamente,
mas testemunham passivamente à violência cometida e se calam por medo,
acobertando os agressores resultando na contribuição para a continuidade desses
atos (CARNEY; MERREL, 2001; DAWKINS, 1995; PEARCE; THOMPSON;
CHESSON, 1999; KALTIALA-HEINO et al., 1999; KUMPULAINEN et al., 2001;
DAWKINS, 1995; LOPES NETO, 2005 apud CALBO, 2009, p. 74).
Segundo Lisboa, Wendt, Pureza (2014) tanto as vítimas, quanto os
agressores e outras crianças envolvidas (testemunhas) sofrem com o processo de
bullying. Entretanto, há uma tendência por partes das pessoas em sentirem pena
das vítimas e raiva dos agressores, defendendo punições agressivas e severas para
os últimos. De acordo com essa lógica, muito difundida no ambiente escolar, parece
ser mais justo da atenção e cuidado à criança ou adolescente que é perseguido,
agredido e humilhado. Entretanto, o agressor dever receber um olhar atento de pais
e educadores porque, além de causar dano ao outro, o seu comportamento
agressivo, violento, está revelando seus próprios sofrimentos psíquicos, manifesta
que algo não vai bem com a criança. Os agressores, assim como qualquer outro
aluno, não deveriam percorrer grande parte de sua educação formal sendo
negligenciados em suas demandas de assistência psicológica, educacional e/ou
psiquiátrica.
Na atualidade vem acontecendo cyberbullying, uma nova forma de agressão
entre pares que ocorre através de instrumentos eletrônicos - telefones móveis e
internet, para intimidar, ameaçar, constranger, danificar a reputação e as amizades.
Dentre as atitudes mais comum de cyberbullying, encontram-se comportamentos
como: postagem de comentários ofensivos nas redes sociais; o uso de perfis falsos
12
para intimidar a vítima; violação de dados para acesso a e-mail, entre outros
(LISBOA; WENDT; PUREZA, 2014).
Tanto no ambiente virtual como no ambiente escolar as vítimas costumam
não reagir aos atos sofridos e exibem sentimentos de desconforto, tristeza, apatia,
irritabilidade. Os sentimentos dos agressores em relação às vítimas também são
semelhantes nos diferentes ambientes - escolas e eletrônicos. As vítimas são
percebidas pelos pares, como pessoas fracas (tímidas, inseguras e passivas) que
merecem castigo, não manifestando qualquer sentimento de compaixão ou remorso
(PLAN BRASIL, 2009).
Os jovens são mais suscetíveis a interações sociais negativas e o uso da
internet pode expô-los ao bullying. Nos últimos anos, há um maior número de
crianças e adolescentes utilizando a internet e, como o bullying está presente
também on-line, o risco desse público ser intimidado é maior (BERSON; BERSON;
FERRON, 2002; MITCHELL; YBARRA; FINKELHOR, 2007; ROSEN; CHEEVER;
CARRIER, 2008 apud DORNELLES, 2012, p. 37).
Segundo Lopes Neto (2005), as consequências do bullying podem ser físicas
ou emocionais. Podem envolver dificuldades acadêmicas, sociais, emocionais e
legais. As vítimas podem ficar mais quietas e introspectivas em razão do medo e da
esquiva de situações estressoras e podem impactar na autoestima e autoconfiança.
Pereira (2002) afirma que as vítimas de bullying exibem perda de
autoconfiança e confiança nos outros, baixa autoestima e autoconceito negativo,
falta de concentração e dificuldades de ajustamento social, podendo até mesmo vir a
cometer suicídio.
Também podem trazer consequências mais graves, como Depressão, Fobia
Social, assim como o desenvolvimento do Transtorno de Conduta na adolescência
ou Transtorno de Personalidade Antissocial na vida adulta, Transtorno de Estresse
Pós-Traumático e até mesmo a tentativa de suicídio (CONSTANTINI, 2004 apud
DORNELLES, 2012, p. 172).
O experimento da vitimização não é tão facilmente superado, as vítimas
assumem status de rejeitadas ou rechaçadas, e o processo todo de bullying resulta
em exclusão social (DORNELLES, 2012).
De acordo com Del Prette (2013) de uma maneira geral, pode-se afirmar que
os jovens abrangidos no processo de bullying, tendem a exibir ansiedade elevada,
sintomas depressivos, ideação suicida ou tentativas de suicídio.
13
O estudo da ocorrência do fenômeno bullying na população brasileira
começou há pouco tempo (PINHEIRO, 2006). Na revisão literária feita em sua
pesquisa de mestrado, a autora constatou que a maioria dos estudos sobre violência
escolar realizadas no Brasil não investigou a ocorrência de bullying. Encontrou
apenas duas pesquisas que tiveram como objetivo específico investigar a
prevalência desse comportamento entre estudantes brasileiros: A primeira,
ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e
Adolescência) que desde 2002 realiza pesquisas na cidade do Rio de Janeiro com
intuito de investigar ocorrência de bullying entre alunos de 5ª a 8ª série do ensino
fundamental e buscar estratégias de intervenção para prevenir e reduzir sua
ocorrência, e a segunda, Fante (2005) que realizou pesquisas sobre a prevalência
de intimidação entre pares em cidades do interior de São Paulo.
Nos anos subsequentes a preocupação com o bullying no Brasil, impulsionou
a Plan Brasil uma organização não governamental há produzir uma pesquisa de
levantamento no ano de 2009 com o objetivo de conhecer as situações de violência
entre pares e de bullying em escolas brasileiras. Foi realizado um levantamento de
dados inédito que permitiu conhecer as situações de maus tratos nas relações entre
estudantes dentro da escola, nas cinco regiões do País. A pesquisa explanou pontos
como incidência, causas, modos de manifestação e estratégias de combate e de
maus-tratos e de bullying no ambiente escolar, assim como o perfil das vítimas e dos
agressores.
Os resultados obtidos indicaram que o bullying prejudica o desempenho
escolar em todos os envolvidos, acarretando perda de concentração e do
entusiasmo em estudar; cerca 70% dos jovens da amostra presenciaram agressões
entre os colegas e 10% caracterizaram-se como agressores e/ou vítimas do bullying;
os resultados servirão de insumos para as ações da campanha “Aprender sem
Medo”, tendendo alertar e orientar estudantes, pais, gestores e docentes escolares,
bem como a sociedade civil como um todo, sobre a incidência de bullying, as graves
consequências que pode provocar para as pessoas envolvidas, as instituições de
ensino e o próprio processo de formação e de consolidação da cidadania e as
formas de reduzir sua frequência (PLAN BRASIL, 2009).
Pesquisadores desse fenômeno apontam que há necessidade de algumas
intervenções e programas antibullying, incluindo políticas públicas.
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Conforme Dornelles (2012), atualmente não há uma legislação específica
para punição de atos relacionados ao bullying, porém os direitos das crianças e
adolescentes estão amparados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Nº 8.069, de 13 de julho
de 1990, as crianças e os adolescentes passaram a serem considerados sujeitos de
direito em condição peculiar de desenvolvimento, evitando, assim qualquer termo
pejorativo e de discriminação, bem como punições inadequadas e que pudessem
ser injustas, considerando as especificidades dessa fase. O Art. 18 refere-se que - É
dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo
de qualquer tratamento desumano, violento, vexatório, aterrorizante ou
constrangedor.
Calhau (2009) afirma que dependendo do grau e da extensão dos danos
causados às vítimas, os autores do bullying ou seus responsáveis podem ser
responsabilizados por ações civis, trabalhistas ou criminais.
Segundo Lisboa, Wendt, Pureza (2014), diversos programas têm sido
desenvolvidos em todo o mundo com o objetivo de encontrar formas eficazes de
enfraquecer essa alta incidência e manejar adequadamente o bullying.
Murta (2005) refere que esses programas de intervenções de acordo com seu
objetivo principal, podem ser divididos, em três níveis de atuação: prevenção
primária - programas com foco em grupos ou pessoas que podem estar expostas a
alguns fatores de risco, porém ainda não foram acometidas e nem apresentam
sintomas, o objetivo do programa é de melhorar a relação interpessoal das crianças
e o clima escolar na infância, antes que os casos de bullying apareçam; prevenção
secundária – destinam-se a grupos ou pessoas que estão sofrendo algum impacto
destes fatores de risco e exibindo algum sintoma ou prejuízo em função disso, o
objetivo nesse nível é trabalhar com o grupo escolar e com diferentes participantes
envolvidos, assim que a situação de bullying é identificada; prevenção terciária –
buscam intervir em grupos ou pessoas que já sofrem suficientemente devido aos
fatores de risco, de modo minimizar as consequências e déficits que já estão
instalados (como, por exemplo, intervenções em psicologia clínica que procuram
tratar os prejuízos das vítimas e dos agressores devido à exposição a situações de
bullying).
De acordo com Lopes Neto (2005), no Brasil existem algumas intervenções
baseadas nos estudos europeus, que priorizam as ações de prevenção primária,
15
como a iniciativa “Diga não ao Bullying” – Programa de Redução do Comportamento
Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Associação Brasileira de Proteção à
Infância e Adolescência - (ABRAPIA). Esse programa divulgou resultados positivos
na redução de incidência do bullying através de ações efetivas em 11 escolas. Em
São Paulo há o programa "Educar para a Paz”.
De acordo com Lisboa, Wendt, Pureza (2014) apesar de uma gama de
possibilidades de intervenção, é comum encontrar dificuldade em definir quem é o
responsável por manejar a situação de bullying. Esse fato, muitas vezes, é reforçado
pela dificuldade em se obter orientações claras sobre como proceder, agir, nessas
situações. Além do mais, também é comum que os pais e a escola tenham
dificuldades, haja vista, que muitas vezes não identificam que seu filho ou a criança
está passando por esta situação, seja como vítima ou agressor. A falta de diálogo
com o filho e/ou distanciamento da escola, também podem dificultar que os pais
tenham conhecimento da ocorrência de bullying.
Para Orpinas (2009) apud Dornelles (2012, p. 293), escolas que apresentam
dificuldade na gestão escolar (alta rotatividade de pessoal, baixo nível de
negociação e desrespeito entre professores, falta de liderança efetiva) tendem a ter
problemas para implementar programas de prevenção. A autora sugere que se
devem solucionar os problemas organizacionais antes de qualquer tipo de programa
de intervenção em uma escola.
Como identificar se a criança ou adolescente está sendo vítima de bullying?
São mencionadas várias situações, escritas por vários autores, que nos possibilita
fazer uma lista de indícios que indicam que pode estar ocorrendo situação de
bullying com seu filho. Segundo os autores Lisboa, Wendt, Pureza (2014, p. 30-35).
Quanto à vítima
Desconfie se seu filho/aluno/conhecido estiver mais quieto;
A criança/adolescente tem apresentado dificuldades de aprendizagem;
A criança/adolescente não tem vontade de ir à escola;
A criança/adolescente tem apresentado lesões;
A criança/adolescente tem apresentado mudanças bruscas de humor;
A criança/adolescente está mais isolada.
16
Quanto ao agressor
A criança/adolescente tem apresentado atitudes hostis;
A criança/adolescente tem mentido;
A criança/adolescente volta para casa/aula com roupas amarrotadas ou
rasgadas;
A criança/adolescente tenta demonstrar autoridade sobre as outras
pessoas;
A criança/adolescente aparece com objetos e/ou dinheiro que não lhe
pertencem.
Ainda sobre a identificação se esteja ocorrendo o bullying, os pais, familiares,
educadores e profissionais da saúde devem estar atentos aos sinais que essas
crianças passam exibir ao serem vítimas dessas situações. Conforme Grossi e
Santos (2009), os principais sinais a serem observados seriam:
Sentir-se mal perto da hora de ir à escola, ou medo de ir ou voltar da
escola;
Evitar falar sobre o que se passa ou dar desculpas que não os convence;
Apresentar baixo rendimento escolar, faltas excessivas ou querer trocar
de escola;
Isolar-se do grupo ou ficar próximo do professor ou de um adulto durante
os intervalos;
Manifestar sintomas como cefaleia, enjoos, vômitos, tontura, dores de
estômago, etc;
Apresentar machucados inexplicáveis ou roupas e materiais danificados;
“Perder” repentinamente pertences e dinheiro;
Apresentar mudanças de comportamento, estar arredio, ansioso,
deprimido, ter baixa autoestima.
2.2 Terapia Cognitivo-Comportamental
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) foi desenvolvida por Aaron T.
Beck, na década de 60. Inicialmente com adultos e transtorno específico -
depressão. Beck dedicou-se a vários experimentos no qual os resultados levaram-no
17
à busca de outras explicações para a depressão, pois identificou cognições
negativas e distorcidas (principalmente pensamentos e crenças) como característica
primária da depressão e desenvolveu um tratamento de curta duração, cujo um dos
objetivos principais era o teste de realidade do pensamento depressivo do paciente
(BECK, 2013).
Os seres humanos têm um modo, um padrão de funcionamento (Esquemas),
ou seja, maneira de como o indivíduo funciona diante da vida, de como interpreta as
situações cotidianas.
Esquemas são padrões ordenadores da experiência que ajudam o indivíduo a
explicá-la, mediar sua percepção e nortear suas respostas (cognitivas, emocionais e
comportamentais). Dá a experiência sua forma e significação, fornecendo, dessa
forma, a estabilidade (estrutura) dos sistemas cognitivo, afetivo e comportamental ao
longo do tempo e dos eventos (CLARK; BECK; ALFORD, 1999).
Na história, o conceito de esquema está relativamente ligado aos teóricos
Piaget e Bartlett, primeiros a definir e descrever um esquema como “Estruturas que
interagem e atribuem significados aos eventos” (BECK; FREEMAN, 1993).
Na teoria cognitivo-comportamental, segundo Wright (2008), os esquemas
são princípios duradouros de pensamento, agem como matrizes para o
processamento de informações e servem a uma função crucial aos indivíduos, que
lhes permite selecionar, filtrar, codificar e atribuir significado às informações
advindas do meio ambiente. Começam se formar no início da infância e são
influenciados pelas experiências da vida, abrangendo os ensinamentos e modelo
dos pais, atividades educativas formais e informais, as experiências de seus pares,
os sucessos e insucessos.
De acordo com Aaron Beck os esquemas são estruturas cognitivas, englobam
crenças centrais/nucleares, que por sua vez envolve crenças
intermediárias/subjacentes e os pensamentos automáticos e erros ou distorções
cognitivas.
Nas diversas obras que descrevem a Teoria cognitivo-comportamental de A.
Beck, como: Wrigth (2008), Duarte, Nunes, Kristensen (2008), Beck, (2013) entre
outras, encontramos as definições para:
Crenças centrais/nucleares - são o nível mais fundamental do pensamento;
são regras globais, rígidas; ideias e conceitos fundamentais sobre nós mesmos, os
outros e o mundo; essas ideias são consideradas pelo indivíduo como verdades
18
absolutas para interpretar as informações ambientais; são formadas desde a infância
e se fortalecem com o tempo, de acordo com suas experiências de vida; tem uma
forte influência na autoestima da pessoa.
Crenças intermediárias/subjacentes – são regras condicionadas (eu tenho...
eu devo...); atitudes (é preciso que...); suposições (se eu...); expectativas (espero
atingir...conseguir); ou seja, são padrões, pressupostos, normas, premissas, que
adotamos e que guiam nossa conduta, influenciam a autoestima e a regulação
emocional; as crenças centrais influenciam o desenvolvimento das crenças
intermediárias.
Pensamentos automáticos - são cognições que passam rapidamente por
nossas mentes; parecem surgir espontaneamente quando estamos diante de uma
situação ou relembrando um acontecimento, mas estão ligados ao nosso sistema de
crenças centrais e subjacentes; podem ocorrer de forma verbal ou como imagem;
habitualmente são breves, porém aceitos como verdadeiros, sem avaliação crítica;
são influenciados pelas crenças adquiridas na infância e no meio cultural;
influenciam o comportamento, o que elegemos fazer ou não e a qualidade do nosso
empenho; frequentemente as pessoas estão mais cientes da emoção que sente em
decorrência do pensamento do que do pensamento em si.
Segundo Greenberger & Padesky (1999), os pensamentos automáticos
ajudam a definir qual estado de humor sentimos em determinada situação, por
exemplo, as pessoas com raiva pensam a respeito de como foram prejudicadas;
pessoas deprimidas pensam sobre quão suas vidas se tornaram infelizes; e pessoas
ansiosas veem perigo em toda parte.
Conforme Wright (2008), em suas formulações iniciais, Beck (1963, 1964) e
Beck et al. (1979) teorizou que existem equívocos característicos na lógica dos
pensamentos. Pesquisas posteriores confirmaram a importância de erros cognitivos
em estilos patológicos de processamento de informação.
Pessoas com transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade entre
outros, frequentemente vivenciam inundações de pensamentos automáticos que em
sua maioria podem ser distorcidos ou desadaptativos (processamento incorreto da
informação) e podem gerar reações emocionais dolorosas e comportamento
disfuncional, por exemplo, se uma determinada situação é avaliada erroneamente,
essas distorções fazem com que a pessoa possa chegar a conclusões equivocadas,
e por consequência comportar-se de maneira inadequada de acordo com seus
sentimentos e sua interpretação.
19
Wrigth (2008) cita, na página 19, que Clark, Beck, Alford (1999) descreveram
seis categorias principais de erros cognitivos: abstração seletiva, inferência
arbitrária, supergeneralização, maximização e minimização, personalização e
pensamento absolutista (dicotômico ou do tipo “tudo-ou-nada”).
Para Beck, o paciente deprimido elabora sua vivência de modo negativo, ou
seja, tem pensamentos disfuncionais na interpretação determinada situação onde
ele prevê ou antecipa resultados muitas vezes catastróficos e que talvez nem
venham acontecer, generaliza um fato específico estendendo à todos
acontecimentos de sua vida, desqualifica o positivo e maximiza o negativo entre
outros erros cognitivos que são desfavoráveis, desencadeando em si sentimentos de
inadequação, desesperança e baixa autoestima.
Segundo Peterson (2011), o modelo da Terapia Cognitivo Beck (TC) é
descrito como uma abordagem terapêutica estruturada, diretiva, com metas claras e
definidas, centrada no presente e utilizada no tratamento dos mais diferentes
transtornos psicológicos, cujo seu principal objetivo é o de produzir mudanças nos
pensamentos e nas crenças dos clientes, evocando uma transformação emocional e
comportamental duradouras.
A Terapia cognitivo-comportamental é um conjunto de estratégias e técnicas
terapêuticas com a finalidade de promover reflexão dos pensamentos, identificar
possíveis erros cognitivos, promovendo a mudanças dos mesmos,
consequentemente do seu padrão de comportamento. O papel do terapeuta é
encorajar seus pacientes a entenderem seus problemas para em seguida identificar
novas formas de enfrenta-los (BECK, 1997).
Na terapia cognitivo-comportamental é entendido que não é uma situação que
determina as emoções e os comportamentos dos indivíduos, mas sim as cognições
(pensamentos, percepções e crenças) que se tem a respeito dessa situação, como o
indivíduo interpreta essa situação, em outras palavras, o modelo cognitivo propõe
que o pensamento disfuncional (que influencia o humor e o comportamento do
cliente) é comum a todos os transtornos psicológicos (BECK, 2013). Com base
nesse princípio, quando as pessoas aprendem a avaliar seus pensamentos de forma
mais realista e adaptativa (flexibilização do pensamento) elas conseguem uma
melhora de seu estado emocional e no comportamento, à esse processo Beck
nomeou de reestruturação cognitiva.
20
Reestruturação cognitiva refere-se à modificação do sistema de esquemas
(pensamentos automáticos distorcidos e crenças disfuncionais) uma grande parte da
terapia é dedicada a ajudar o cliente para essa reestruturação, para atingir esse
objetivo, utilizam-se técnicas como questionamento socrático. Registros do
pensamento, sob forma escrita pode estimular um estilo mais racional do
pensamento, assim como o ensaio cognitivo que consiste em praticar uma nova
maneira de pensar por meio de gerações de imagens mentais ou role-play, entre
outras (WRIGHT, 2008).
A terapia cognitivo-comportamental, por sua vez, através da relação
terapêutica colaborativa, simples e voltada para ação (plano de intervenção, de
tratamento) poderá ajudar o paciente a modificar suas crenças, pensamentos,
melhorando seu estado de humor e comportamento, ensinar-lhes estratégias de
enfrentamento, soluções de problemas para melhor lidar com as situações
cotidianas.
Caballo (2011) menciona que a psicologia clínica comportamental ou
cognitivo comportamental está mais em voga nos dias de hoje do que nunca havia
estado antes. Justifica a afirmação dizendo que parece que a grande maioria dos
profissionais da saúde esta reconhecendo que os procedimentos cognitivo-
comportamental são eficazes para muitos transtornos mentais, porém a psiquiatria
continua privilegiando o tratamento medicamentoso, devido, às vezes, a um notável
desconhecimento das intervenções cognitivo-comportamental.
Segundo Petersen, Wainer et al. (2011), entre os avanços obtidos pela
psicologia clínica nas últimas décadas, as psicoterapias cognitivo-comportamentais
(TCCs) sem dúvida, ocupam lugar de destaque, pois essa colocação foi obtida em
decorrência de diversos fatores, dentre os quais se destaca a eficácia comprovada
de suas técnicas no tratamento de diversas psicopatologias.
Ainda segundo os autores citado acima, as psicoterapias cognitivo-
comportamentais são aplicadas por um número cada vez maior de terapeutas e em
quase todos os transtornos psicopatológicos conhecidos. Citam que segundo a
American Psychiatric Association (APA, 1998), diversas pesquisas comparativas
confirmam o seu poder terapêutico para diversos transtornos mentais (transtornos
alimentares, distúrbios de ansiedade, etc.) em relação a outros modelos clínicos
anteriores (PETERSEN; WAINER et al., 2011).
21
Em 2003, Caballo lançou um Manual para tratamento cognitivo-
comportamental dos transtornos psicológicos, oferecendo um variado conjunto de
programas estruturados para a intervenção em distintos transtornos
psicológicos/psiquiátricos com adultos e nos anos posteriores lançou outros
manuais: transtornos gerais clínica infantil e do adolescente e transtornos
específicos clinica infantil e do adolescente (CABALLO, 2011).
Friedberg (2011) compartilha que a pesquisa como fundamento da terapia
cognitivo-comportamental com crianças e adolescentes é metodologicamente
rigorosa e tem apresentado eficácia significativa em tratamentos empiricamente
embasados.
Caballo e Simón (2011) fizeram revisão para ver a evidência empírica relativa
à eficácia geral da psicoterapia com crianças e a eficácia dos tratamentos
comportamentais e cognitivo-comportamentais em crianças. Foi usada a meta-
análise para eficácia da psicoterapia com crianças e adolescentes, os resultados
indicaram que, em média as crianças tratadas encontravam-se melhor adaptadas
que 79% das não tratadas, também indicaram que os tratamentos comportamentais
eram mais eficazes que os tratamentos não comportamentais.
2.3 Intervenção com vítimas de bullying de acordo com a Terapia Cognitivo-
Comportamental
Como já enunciado, crianças ou adolescentes que sofrem ou sofreram
bullying poderá desenvolver sérios problemas psíquicos, emocionais e, apresentar
sintomas depressivos, ansiosos, pânico, fobia social, por exemplo. Diante das
agressões sofridas, porém, tem que ser avaliado seu histórico de vida, condições
sócios econômicas e culturais.
Segundo Petersen, Wainer et al. (2011), as práticas terapêuticas abrangendo
crianças e adolescentes através da psicologia cognitiva tem maior ênfase nos anos
1980.
A TCC focada na criança e adolescente segue os pressupostos teóricos
básicos da TCC com adultos, utiliza-se do modelo cognitivo (pensamento,
sentimento, comportamento), é estruturada, diretiva, colaborativa, psicoeducativa,
foco no presente, sigilo, tarefas de casa. Diferencia-se da TCC de adultos, pois faz-
se necessário à introdução do lúdico no processo terapêutico com um objetivo, o
22
método verbal utilizado com adultos necessita ser adaptado criativamente, utilizando
mais técnicas não verbais - jogos, marionetes, narração de história, geração de
imagens mentais, etc. (STALLARD, 2007).
O trabalho terapêutico para criança deve ser iniciado com construção de
vínculo sólido. Confiar no terapeuta e acreditar que ele está disposto e engajado em
resolver as dificuldades apresentadas é muito importante, pois em alguns casos ela
já recorreu à ajuda dos pais ou professores sem sucesso (DORNELLES, 2012).
Segundo Dornelles (2012), semelhante à Beck (1997), elabora-se com a
criança uma lista dos problemas que ela apresenta, baseada na percepção da
criança sobre as dificuldades que ela vem enfrentando, é possível elaborar
desenhos representativos dos problemas caso a criança não seja alfabetizada. Em
seguida, é recomendado fazer psicoeducação sobre o bullying com a criança, e
pode ser feita através de trechos de filmes que ilustrem situações semelhantes às
vivenciadas por ela. Filmes como “Sempre Amigos”, “Nunca fui Beijada”, “Um
Grande Garoto” e “Querido Frankie” são opções que abordam a temática.
Posteriormente deve-se entender como a criança interpretou o evento: Por que ela
acredita que foi vítima de bullying? A que ela atribui a vitimização? Identificar
pensamentos automáticos da criança diante da vitimização (elas tendem a se ver
como inúteis, descartáveis, inferiores e vê os outros como fortes). Quais as
consequências, ou seja, as crenças centrais que começaram a se formar? Uma vez
identificados os pensamentos automáticos da criança diante da vitimização, é
necessário averiguar se eles são distorcidos e disfuncionais.
Distorções cognitivas abrangem catastrofização: “o bullying nunca vai parar”,
minimização: “não é tão ruim, eu posso resistir” e magnificação “isso é horrível, eu
preferia estar morto” (DOLL; SWEARER, 2006 apud DORNELLES, 2012, p. 195).
Segundo Del Prette (2013), na atualidade vivemos em uma sociedade que
muda aceleradamente e a cada dia nos deparamos com situações que exigem
aprendizagem de novos conhecimentos para responder as necessidades da
infância. Pais e educadores sentem-se confusos e se queixam das diversas formas
de os jovens se comportarem, por outro lado, as crianças vivem situações
complexas: são pressionadas pelos grupos; percebem regras sociais contraditórias
na família e na escola; convivem com diferentes valores; depara-se com uma
realidade violenta exibida diariamente pelos meios de comunicação.
23
O tratamento para crianças envolvidas em casos de bullying na abordagem
cognitivo-comportamental pode abranger, por exemplo, o desenvolvimento de
habilidades, estratégias de enfrentamento e orientações para os pais (LISBOA;
WENDT; PUREZA, 2014).
Conforme Del Prette (2013), as crianças precisam desenvolver um repertório
cada vez mais elaborado de habilidades sociais para lidarem com os desafios e
demandas atuais. A competência social é considerada um indicador preciso de
ajustamento psicossocial e de perspectivas positivas para o desenvolvimento, o
programa de Treinamento em Habilidades Sociais funciona como uma alternativa de
prevenção por meio de ação integrada entre escola e família, pois o investimento na
qualidade dos relaciomento interpessoais da criança está, teoricamente, sob o
controle mais direto da família e das instituições responsáveis pela educação e
desenvolvimento.
Há três modos gerais para conduzir as relações interpessoais. O primeiro é considerar somente a si mesmo, desconsiderando os outros [...]. O segundo é sempre colocar os outros antes de você [...]. O terceiro é a regra de ouro [...] considerar a si mesmo e também os outros (JOSEPH WOLPE apud DEL PRETTE, 2013, p. 30).
Habilidade Social é a habilidade do indivíduo em se comportar de maneira
adequada em diferentes ambiente e com diferentes tipos de pessoa. Existem várias
classes de habilidades sociais. Del Prette (2013, p. 45) descreve classes e
subclasses de habilidades propostas como relevantes na infância.
Empatia – Habilidade de expressão de sentimentos positivos de
solidariedade e companheirismo, consiste em demonstrar interesse pelo
outro, se colocar no lugar do outro, fazer e agradecer, oferecer ajuda e
pedir desculpas, demonstrar respeito às diferenças, expressar
compreensão pelo sentimento ou experiência do outro;
Assertividade – Habilidade de afirmação e defesa de direitos e de
autoestima, expressar sentimentos negativos (raiva e desagrado) falar
sobre suas qualidades e defeito, expressar o que sente e pensa sem
desmerecer o outro, concordar ou não com outras opiniões, defender
seus próprios interesses, lidar com críticas e gozações, negociar
interesses conflitantes, defender-se de acusações injustas e resistir à
pressão do grupo;
24
Fazer amizades - fazer e responder perguntas pessoais, cumprimentar,
oferecer informação livre, aproveitar informação livre recebida, sugerir
atividade, elogiar, aceitar elogios, iniciar e manter conversação;
Solução de problemas interpessoais – acalmar-se diante de uma
situação-problema, pensar antes de agir, reconhecer e nomear diferentes
tipos de problemas, identificar e avaliar possíveis alternativas de solução,
escolher, implementar e avaliar uma alternativa;
Civilidade – cumprimentar pessoas, usar locuções como: por favor,
obrigado, desculpa, com licença, seguir regras ou instruções, aguardar
sua vez para falar, chamar o outro pelo nome.
Autocontrole e expressividade emocional – reconhecer e nomear as
emoções próprias e dos outros, acalmar-se, lidar com as próprias
emoções, controlar a ansiedade, tolerar frustrações, mostrar espírito
esportivo, expressar as emoções positivas e negativas.
Habilidades sociais acadêmicas – seguir regras ou instruções orais,
observar, prestar atenção, ignorar interrupções dos colegas, imitar
comportamentos socialmente competentes, fazer e responder perguntas,
aguardar a vez para falar, solicitar e agradecer ajuda, reconhecer a
qualidade de empenho do outro, cooperar e participar de discussões.
As estratégias de enfrentamento ou coping - são definidas como uma série de
esforços comportamentais e cognitivos das pessoas para lidar com demandas
arroladas com estresse, desse modo, é eficaz para lidar com o bullying, pois
promovem adaptação e desenvolvimento saudáveis, também podem ser
consideradas como um fator de promoção de resiliência (BRAGA; LISBOA, 2010
apud LISBOA; WENDT; PUREZA, 2014, p. 92).
Quanto às orientações para os pais, segundo Lisboa, Wendt, Pureza (2014),
quando se trata de terapia com crianças/adolescentes, esta orientação aos pais é
fundamental, pois visa à participação ativa dos mesmos no processo terapêutico dos
filhos, que auxiliará no progresso destes durante o tratamento.
Segundo Lopes Neto (2005), a precaução de futuros incidentes pode ser
conseguida com orientações e medidas de proteção a serem adotas: ignorar
apelidos, fazer amizades com colegas não agressivos, evitar locais de maiores
riscos e informar ao professor ou funcionário sobre o bullying. Os alvos/autores
25
apresentam maiores chances de desenvolverem doença mental, portanto, devem
ser considerados como de maior risco.
Ainda segundo o autor, o tratamento indicado para o autor de bullying deve
ser de adapta-lo para que tenha controle de sua irritabilidade, expresse sua raiva e
frustração de forma adequada, seja responsável por suas ações e aceite as
consequências de seus atos. As famílias dos autores/alvos devem ser ajudadas a
entender o problema, expondo a elas todas as possíveis consequências advindas do
bullying. Também se orienta os pais para buscarem parceria com a escola com
professores ou gestores que lhe pareça mais sensível e receptivo ao problema
(LOPES NETO, 2005).
26
3 OBJETIVO
3.1 Objetivo Geral
Realizar uma revisão bibliográfica sobre o fenômeno bullying entre crianças e
adolescentes nas escolas brasileiras e sobre a terapia cognitivo-comportamental
para ampliar o conhecimento teórico e oferecer melhor atendimento clínico.
3.2 Objetivos Específicos
Compreender o sofrimento das crianças e adolescentes e o quanto o bullying
impacta em sua vida.
Promover através das técnicas cognitivo-comportamental, a flexibilização dos
pensamentos e crenças disfuncionais, originar reestruturação cognitiva, para
redução de seu sofrimento auxiliando-os assim em uma melhor qualidade de vida.
27
4 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada por meio de revisão bibliográfica de artigos científicos
e livros especializados na área.
As bases de dados pesquisadas foram: Google Scholar, SciELO, Rede
Psicologia (RedePsi), e livros especializados sobre o tema. Foram utilizadas
palavras chaves: Bullying, Comportamento Agressivo, Vitimização, Terapia
Cognitivo-Comportamental e Habilidades Sociais.
A seleção dos artigos deu-se por meio da leitura prévia dos resumos dos
artigos. Os critérios de inclusão e exclusão dos artigos foram direcionados à
publicação dos artigos em português, crianças e adolescentes, nos últimos quinze
anos.
28
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente foram encontrados 537 artigos e 383 livros. De acordo com os
critérios de inclusão e exclusão do estudo, foram selecionados 27 artigos,
dissertações e livros especializados na área, como demonstrados na Tabela 1.
Tabela 1 – Distribuição das Bases de Dados e artigos selecionados
Bases de Dados
Total de artigos encontrados
Total de artigos selecionados
Autor/Ano
SciELO 30 02 Lopes Neto (2005),
Murta (2005)
Google Acadêmico (artigos – dissertações, livros PDF)
503 10 Calhau (2010);
Carpenter, Fergunson (2011);
Clark, Beck, Alford (1999);
Grossi, Andreia (2009);
Lei 8.069/1990 (2014);
Manual de Proteção Escolar e Promoção de Cidadania (2009);
Medeiros (2012);
Plan Brasil (2009);
Pereira (2002);
Pinheiro (2006).
Pepsic
3 3 Calbo (2009);
Duarte, Nunes, Kristensen (2008);
Tortorelli, Carreiro, Araújo (2010).
Livros 383 12 Beck, Freeman (1993);
Beck (1997);
Beck (2013);
Caballo (2011);
Caballo, Simón (2011);
Del Prette (2013);
Dornelles (2012);
Friedberger (2011);
Greenberger (1999);
Lisboa, Wendt, Pureza (2014);
Petersen; Wainer et al. (2011); Wrigth (2008).
Fonte: Elaborada pela autora.
Os vinte e sete artigos elegíveis segundo os critérios de inclusão
estabelecidos para esse estudo tiveram seus resultados apresentados e analisados
a seguir.
O estudo sobre o bullying tem uma história de 25 anos, muito se aprendeu e
foram desenvolvidas muitas formas de intervir, com algum sucesso (LISBOA;
WENDT; PUREZA, 2014).
Há uma concordância entre os autores Lopes Neto (2005), Lisboa, Wendt,
Pureza (2014), Calbo (2009) em assinalar que o fenômeno bullying é uma
29
preocupação universal e em muitos países é um importante problema social que
vem alarmando toda a sociedade, pois há um aumento significativo de situações de
violência e precisa ser combatido da maneira mais eficaz possível.
Segundo Lopes Neto (2005), no Brasil existem algumas intervenções
baseadas nos estudos europeus, que priorizam as ações de prevenção primária,
como a iniciativa “Diga não ao Bullying” – Programa de Redução do Comportamento
Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Associação Brasileira de Proteção à
Infância e Adolescência - (ABRAPIA). Esse programa divulgou resultados positivos
na redução de incidência do bullying através de ações efetivas em 11 escolas. Em
São Paulo há o programa "Educar para a Paz”.
Pinheiro (2006) encontrou apenas duas pesquisas que tiveram como objetivo
específico investigar a prevalência desse comportamento entre estudantes
brasileiros: A primeira, ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção a Infância e Adolescência) que desde 2002 realiza pesquisas na cidade do
Rio de Janeiro com intuito de investigar ocorrência de bullying entre alunos de 5ª a
8ª série do ensino fundamental e buscar estratégias de intervenção para prevenir e
reduzir sua ocorrência, e a segunda, Fante (2005) que realizou pesquisas sobre a
prevalência de intimidação entre pares em cidades do interior de São Paulo.
Alguns anos posteriores, pesquisadores desse fenômeno apontam que há
necessidade de algumas intervenções e programas antibullying, incluindo políticas
públicas. No artigo onde a Plan Brasil (2009) apresentou a pesquisa sobre o
bullying, foi constatado situações de maus tratos no relacionamento entre os
estudantes dentro das escolas, nas cinco regiões do país. Esses resultados
impulsionaram ações de campanha “aprender sem medo” e serve de alerta e
orientação para estudantes, pais, gestores e docentes escolares, assim como para a
sociedade civil, sobre a ocorrência e forma de reduzir a frequência e as graves
consequências do bullying.
De acordo com Carpenter, Ferguson (2011), o bullying ocorre há décadas,
contudo os impactos negativos causados as crianças e adolescentes passaram a
ser discutidos apenas mais recentemente.
Conforme Dornelles (2012), atualmente não há uma legislação específica
para punição de atos relacionados ao bullying, porém os direitos das crianças e
adolescentes estão amparados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
30
Apesar de uma gama de possibilidades de intervenção, é comum encontrar
dificuldade em definir quem é o responsável por manejar a situação de bullying.
Esse fato, muitas vezes, é reforçado pela dificuldade em se obter orientações claras
sobre como proceder, agir, nessas situações (LISBOA; WENDT; PUREZA, 2014).
Segundo Lisboa, Wendt, Pureza (2014), o bullying pode ser de natureza
física, psicológica, agressões verbais e exclusão social severa. Despertam nas
pessoas medos, isolamentos, tensões e adoecimento, comprometendo-as em várias
facetas de suas vidas, pois seus pensamentos e sentimentos são afetados, e a vida
desse público pode ser colocada em risco.
Pereira (2002) afirma que as vítimas de bullying exibem perda de
autoconfiança e confiança nos outros, baixa autoestima e autoconceito negativo,
falta de concentração e dificuldades de ajustamento social, podendo até mesmo vir a
cometer suicídio.
De acordo com Del Prette (2013), de uma maneira geral, pode-se afirmar que
os jovens abrangidos no processo de bullying, tendem a exibir ansiedade elevada,
sintomas depressivos, ideação suicida ou tentativas de suicídio.
As famílias dos autores/alvos devem ser ajudadas a entender o problema,
expondo a elas todas as possíveis consequências advindas do bullying. Também
orienta-se os pais buscarem parceria com a escola, com professores ou gestores
que lhe pareça mais sensível e receptivo ao problema (LOPES NETO, 2005).
Murta (2005) cita que programas de intervenções de acordo com seu objetivo
principal, podem ser divididos, em três níveis de atuação:
Prevenção primária - grupos ou pessoas sujeitadas alguns fatores de risco,
porém ainda não foram agredidas e nem exibem sintomas, o objetivo do programa é
de melhorar a relação interpessoal das crianças e o clima escolar na infância, antes
que os casos de bullying apareçam;
Prevenção secundária – grupos ou pessoas que já sofrem destes fatores de
risco e exibe algum sintoma ou prejuízo em função disso, o objetivo é trabalhar com
o grupo escolar e com diferentes participantes envolvidos, assim que a situação de
bullying é identificada;
Prevenção terciária – grupos ou pessoas que sofrem bullying, as
consequências e déficits já estão instalados, o objetivo é redução de danos, como,
por exemplo, intervenções em psicologia clínica que procuram tratar os prejuízos
das vítimas e dos agressores devido à exposição a situações de bullying.
31
Segundo Peterson (2011), o modelo da Terapia Cognitivo Beck (TC) é
descrito como uma abordagem terapêutica estruturada, diretiva, com metas claras e
definidas, centrada no presente e utilizada no tratamento dos mais diferentes
transtornos psicológicos, cujo seu principal objetivo é o de produzir mudanças nos
pensamentos e nas crenças dos clientes, evocando uma transformação emocional e
comportamental duradouras.
A Terapia cognitivo-comportamental é um conjunto de estratégias e técnicas
terapêuticas com a finalidade de promover reflexão dos pensamentos, identificar
possíveis erros cognitivos, promovendo a mudanças dos mesmos,
consequentemente do seu padrão de comportamento. O papel do terapeuta é
encorajar seus pacientes a entenderem seus problemas para em seguida identificar
novas formas de enfrenta-los (BECK, 1997).
Segundo Petersen, Wainer et al. (2011), entre os avanços obtidos pela
psicologia clínica nas últimas décadas, as psicoterapias cognitivo-comportamentais
(TCCs) sem dúvida, ocupam lugar de destaque, pois essa colocação foi obtida em
decorrência de diversos fatores, dentre os quais se destaca a eficácia comprovada
de suas técnicas no tratamento de diversas psicopatologias. As psicoterapias
cognitivo-comportamentais são aplicadas por um número cada vez maior de
terapeutas e em quase todos os transtornos psicopatológicos conhecidos.
Friedberg (2011) compartilha que a pesquisa como fundamento da terapia
cognitivo-comportamental com crianças e adolescentes é metodologicamente
rigorosa e tem apresentado eficácia significativa em tratamentos empiricamente
embasados.
Caballo e Simón (2011) fizeram revisão para ver a evidência empírica relativa
à eficácia geral da psicoterapia com crianças e a eficácia dos tratamentos
comportamentais e cognitivo-comportamentais em crianças. Foi usada a meta-
análise para eficácia da psicoterapia com crianças e adolescentes, os resultados
indicaram que, em média as crianças tratadas encontravam-se melhor adaptadas
que 79% das não tratadas, também indicaram que os tratamentos comportamentais
eram mais eficazes que os tratamentos não comportamentais.
Conforme Del Prette (2013) as crianças precisam desenvolver um repertório
cada vez mais elaborado de habilidades sociais para lidarem com os desafios e
demandas atuais. A competência social é considerada um indicador preciso de
ajustamento psicossocial e de perspectivas positivas para o desenvolvimento, o
32
programa de Treinamento em Habilidades Sociais funciona como uma alternativa de
prevenção por meio de ação integrada entre escola e família, pois o investimento na
qualidade dos relacionamentos interpessoais da criança está, teoricamente, sob o
controle mais direto da família e das instituições responsáveis pela educação e
desenvolvimento.
A participação ativa dos pais no processo terapêutico dos filhos auxiliará no
progresso destes durante o tratamento, pois a qualidade dos relacionamentos
interpessoais da criança está, teoricamente, sob o controle mais direto da família e
das instituições responsáveis pela educação.
33
6 CONCLUSÃO
O bullying é um fenômeno social complexo, com características próprias:
comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos com propósito de maltratar,
intimidar e humilhar pessoas tímidas, retraídas, inseguras, pouco sociáveis e que
não dispõem de recursos para reagir à violência ou interrompê-la, causando-lhe dor,
angústia, sofrimento e adoecimento das vítimas.
A importância de se estudar o fenômeno decorre do aumento da procura
clínica psicológica para crianças e adolescentes apresentando variados tipos de
transtornos e problemas emocionais, e do aumento da incidência da violência no
ambiente escolar nos últimos anos
O olhar para esse fenômeno passou a ser discutido mais veemente com
intuito de proteger as crianças. Estão se avaliado os impactos negativos, as
consequências sérias causadas às crianças/adolescentes que os leva cada vez ao
isolamento, incluindo casos de suicídio.
Porém os resultados e discussão mostram que no Brasil o olhar para este
fenômeno tem pouco tempo, sendo assim, há necessidade de se fazer mais
pesquisas, estudos, divulgação e esclarecimentos à população sobre o bullying,
assim como desenvolver políticas públicas eficazes e medidas de prevenção, pois
como apontado por Lisboa, Wendt, Pureza (2014) há dificuldade em definir quem é o
responsável por manejar a situação de bullying, esse fato, muitas vezes, é reforçado
pela dificuldade em se obter orientações claras sobre como proceder, agir, nessas
situações.
O uso da terapia cognitivo-comportamental seria um alicerce para o
tratamento das vítimas do bullying, pois a TCC procura ensinar a criança/
adolescente a identificar, avaliar, modificar seus pensamentos negativos, além
desenvolver habilidades sociais e estratégias de enfrentamento. Sabe-se que a
reestruturação cognitiva gera mudança de comportamento e, com auxilio das
técnicas cognitivas, pode-se alcançar resultados positivos.
Porém, como foi descrito, a participação ativa dos pais no processo
terapêutico dos filhos auxiliará no progresso destes durante o tratamento, pois a
qualidade dos relacionamentos interpessoais da criança está, teoricamente, sob o
controle mais direto da família e das instituições responsáveis pela educação. O
34
treinamento em Habilidades Sociais funciona como uma alternativa de prevenção
por meio de ação integrada entre escola e família.
35
REFERÊNCIAS
BECK, A. T.; FREEMAN, A. (Orgs) Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade. (A.E. Filman, Trad.). Trabalho original publicado em 1990. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
BECK, J. S. Terapia cognitiva: teoria e prática (S. Costa, Trad.). Obra original publicada em 1995. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática / Judith S. Beck; tradução: Sandra Mallmann da Rosa; revisão técnica Paulo Kanapp, Elisabeth Meyer. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
CABALLO, V. E. Manual para o tratamento cognitivo dos transtornos psicológicos: transtornos de ansiedade, sexuais, afetivos e psicóticos / coordenador Vicente E. Caballo; [tradução Magali de Lourdes Pedro]. – São Paulo: Santos, 2011.
CABALLO, V. E.; SIMÓN, M. A. Manual de psicologia clínica infantil e do adolescente: transtornos gerais /direção e coordenação Vicente E. Caballo, Miguel Ángel Simón; [tradução Sandra M. Dolinsky; revisão científica Maria Luiza Marinho]. 1.ed., 1reimpr. São Paulo: Santos, 2011.
CALBO, A. S. Bullying na escola: comportamento agressivo, vitimização e conduta pró-social entre pares / Adriano Severo Calbo. Contextos Clínic, v. 2, n. 2, São Leopoldo, dez. 2009. Disponível em:
CALBO, A. S. et al. Bullying na escola: comportamento agressivo, vitimização e conduta pró-social entre pares. Contextos Clínic, São Leopoldo, v. 2, n. 2, p.73-80, dez. 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-.34822009000200001>. Acesso em: 07 dez. 2018.
CALHAU, B. L. Bullying: o que você precisa saber: identificação, prevenção e repressão / Lélio Braga Calhau - Niterói, RJ: Impetus, 2010.
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