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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRIT ÓRIOS EM SÃO PAULO
"Lá fora o corpo de São Paulo escorre vida ao guampasso dos
arranhacéus." (Mario de Andrade, in ANDRADE, 1928, p.266)
A trajetória da construção dos edifícios de escritórios na cidade de São Paulo se
confunde com a história da própria cidade. Desde sua fundação (1554), foi na virada do
século XIX para o século XX que São Paulo viveu o período de maior crescimento. E é
desde então que começam a surgir os primeiros edifícios de escritórios de uma única
empresa, muitas delas multinacionais que decidiram investir na cidade, ou empresas
fundadas no país por imigrantes.
Foi neste cenário que São Paulo se destacou no início do século XX como a cidade
brasileira que mais desenvolveu e investiu em infra-estrutura de comunicações e transportes
para, entre outros aspectos, se adaptar às mudanças nas relações sociais do trabalho.
Durante todo o século XX a cidade se manteve como o grande centro de negócios
do país. Passou por décadas de crescimento, sofrendo diversas transformações urbanas
que podem ser observadas através da quantidade de novas construções e do grande
número de pólos de econômicos que foram surgindo ao longo dos anos.
Esta parte do trabalho irá destacar a construção de edifícios de escritórios projetados
para serem sedes de uma única empresa na cidade de São Paulo. Através da observação
do que aconteceu com a cidade nas diversas épocas e regiões, poderemos entender melhor
em que contexto estão inseridos os tipos de escritórios que estamos estudando.
Para isso, vamos dividir a cidade de São Paulo em sete regiões a serem estudadas.
Essas áreas, consideradas as mais significativas para este trabalho por terem abrigado
construções de edifícios de escritórios para uma única empresa, estão listadas e localizadas
no mapa a seguir:
1ª Região − Centro
2ª Região − Avenida Paulista
3ª Região − Avenida Faria Lima
4ª Região − Chácara Santo Antônio
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5ª Região − Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini
6ª Região − Vila Olímpia
7ª Região − Marginal Pinheiros
Mapa parcial da rede viária estrutural da cidade de São Paulo
Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo / Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, 2006, mapa trabalhado pela
autora
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Percebemos no mapa que os pólos de negócio em São Paulo, que começaram no
Centro da cidade, proliferaram-se em direção à região sul e seguiram o traçado da Marginal
Pinheiros. Claro que existem alguns edifícios de escritórios representativos fora dessas
regiões, entretanto esse caminho demonstra claramente as áreas de crescimento da cidade.
A partir de agora observaremos algumas características e exemplares dos edifícios
de escritórios de uma única empresa em São Paulo, com base no desenvolvimento dessas
regiões, a fim de verificar como os conceitos de espaços de escritórios desenvolvidos no
mundo surgiram e se proliferaram na cidade.
2.1 O CENTRO DA CIDADE: INÍCIO DO SÉCULO XX
Foi com a chegada da ferrovia (1865), da iluminação pública a gás (1872), da
instalação da empresa Light (1890) (CUSHMAN, 2004, p.12), entre outros aspectos, mas
também e principalmente “a partir de 1890 quando São Paulo se torna o maior centro
produtor de café do Brasil” (SOMEKH, 1994, p.116-117), que a cidade se consolida como o
principal centro industrial do país, atraindo investimentos estrangeiros e nacionais.
“Em 1901, a The São Paulo Railway Light and Power Co. instala
a primeira hidroelétrica de porte do Brasil, em Santana do Parnaíba,
no estado de São Paulo. (…) A partir daí começa a industrialização
de São Paulo e do Brasil.” (BORGES, 1999, p.62)
O crescimento populacional na região nesta época foi altíssimo, devido
principalmente à vinda de novos imigrantes atraídos pelo avanço econômico: a população
saltou de 240.000 habitantes em 1900 para 587.000 em 1920, e depois para 888.000 em
1930. (CUSHMAN, 2004, p.12)
Os primeiros elevadores em edifícios são instalados entre 1918 e 1922 pela empresa
Pirie, Villares & Cia. (SOMEKH, 1994, p.124), que, junto com a disseminação da energia
elétrica, possibilitou o crescimento de edifícios na cidade.
A região central estava localizada na confluência das principais artérias da cidade,
por onde eram obrigados a passar os principais meios de transporte, e nela edifícios de
escritórios começaram a surgir e a se proliferar rapidamente. Segundo Maria Cecília
Naclério Homem, “a construção de prédios para renda destinados a escritórios, a
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comerciantes e profissionais liberais, tornou-se um ótimo negócio”. (HOMEM, 1984, p.46)
Posteriormente percebe-se que estas construções sempre seguiram os núcleos comerciais
e de negócios da cidade, que, por sua vez, eram direcionados pela expansão dos bairros
residenciais de alto padrão.
“Acreditava-se que o centro era impróprio para a construção de
edifícios altos. O subsolo ali é úmido, constituído sobretudo de argila
pastosa, areião. Naquela época, antes das calculadoras, os
engenheiros demoravam para fazer contas complexas, para a
segurança das fundações.” (CUSHMAN, 2004, p.13)
Inicialmente as empresas se organizavam sem planejamento, sem uma divisão clara
do trabalho e se instalavam em pequenos escritórios de edifícios que possuíam
características espaciais e arquitetônicas muito parecidas com os edifícios residenciais da
época. Não havia necessidade de grandes edifícios administrativos, até que nos anos 1920,
com a entrada definitiva de empresas multinacionais no mercado brasileiro, começou a
crescer rapidamente a quantidade de locais para escritórios e mudaram-se as formas de
organização e gestão empresarial, sob influência da cultura estrangeira. Nadia Somekh
descreve que das “318 empresas estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil entre 1911
e 1930” (SOMEKH, 1994, p.119), 111 eram americanas, a grande maioria vinculada ao
comércio de importação e exportação: entre elas instalava-se em 1917 no país a IBM (IBM,
1997, p.23).
Alguns registros mostram que o primeiro edifício considerado um arranha-céu26 a ser
construído em São Paulo (e também no Brasil) foi o Guinle (BORGES, 1999, p.81),
localizado na rua Direita n° 37/49, próximo à praça da Sé. Obra do arquiteto Hipólito
Gustavo Pujol Jr. e de Augusto Toledo, foi construído em 1912 (BORGES, 1999, p.97) para
abrigar o escritório paulista da família Guinle. Possui oito andares, estrutura de concreto
armado; mas atualmente possui comércio somente no pavimento térreo e os demais
andares (que foram totalmente descaracterizados) estão vazios.
Outros registros identificam o Sampaio Moreira como o primeiro edifício alto de São
Paulo, projetado pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves (1889-1982) e obra do então
comerciante português e construtor José de Sampaio Moreira, ele foi erguido no ano de
26 Arranha-céu: edifício de numerosos andares, só possível a partir da invenção do elevador. Combina a altura extraordinária com espaços vulgares, semelhantes aos edifícios de altura normal. O termo tem origem nos EUA no final da década de 1880, dez ou doze anos depois de os edifícios de escritórios atingirem doze andares ou cerca de 75m. Caracteriza cidades norte-americanas como Nova York e Chicago. Fonte: Dicionário de Termos de Arte e Arquitectura, 2005.
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1924 (BORGES, 1999, p.110). Com 596m² de terreno, 5.360m² de área útil, 50m de altura −
treze pavimentos, porão e ático −, ele foi na época de sua construção o prédio mais alto da
cidade. Localizado na rua Líbero Badaró, 344 a 350, hoje o Sampaio Moreira possui 180
espaços de escritórios e comércio no térreo.
(1) (2)
(1) Edifício Guinle – 1912 (2) Edifício Sampaio Moreira – 1924
Fontes: (1) www.piratininga.org (2) www.vivaocentro.org.br/images/bancodados/centrosp
Bem perto dali está o Edifício Martinelli, prédio que também foi considerado por
alguns escritores como o primeiro arranha-céu da cidade (CUSHMAN, 2004, p.15).
Idealizado pelo imigrante italiano Giuseppe Martinelli27 (BORGES, 1999, p.109), cujo
sobrenome deu origem ao nome do edifício, o projeto previa a construção de 25 andares de
100m de altura no total, com o objetivo de ultrapassar em altura e técnica o edifício Sampaio
Moreira. A construção foi realizada em duas etapas: foram construídos dezoito andares
entre 1925 e 1929 e mais doze andares até 1934 (CUSHMAN, 2004, p.15). Possui 46.123m²
de área construída e 105,65m de altura, e sua ocupação inicial era híbrida: residência do
proprietário e construtor Giuseppe Martinelli nos três últimos andares; outras moradias nos
andares 23º e 24º; e cinema, restaurantes, confeitarias, hotel, escritórios e lojas estavam
distribuídos nos demais andares.
Mesmo que externamente o edifício tenha causado bastante impacto, internamente a
planta possuía muitas saliências e elementos estruturais que dificultavam o fluxo ordenado e
circulação bem demarcada, causando pouco aproveitamento do espaço dos pavimentos de
escritórios.
27 Guiseppe Martinelli: nasceu em 1871, em Luca, na Itália, e chegou ao Brasil em 1892. Começou trabalhando como despachante em Santos e depois se tornou empresário do ramo bancário, tendo também comprado algumas minas de carvão. Ao final da vida dedicou-se à construção de edifícios em São Paulo e principalmente no Rio de Janeiro.
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Localizado em uma extremidade de quarteirão, possui três endereços: rua São
Bento, de 397 a 413, avenida São João, de 11 a 65, e rua Libero Badaró, de 504 a 518.
Hoje o edifício abriga apenas espaços com funções comerciais e institucionais.
(1) (2)
Edificio Martinelli – 1925-1929 (1) Fachada (2) Planta do 7º pavimento
Fontes: (1) PERRONE, 2000, p.8 (2) HOMEM, 1984, p.137
No final da década em 1920, a crise econômica internacional ao mesmo tempo que
dificultou a entrada de novos elementos construtivos no Brasil também ajudou a desenvolver
algumas técnicas construtivas nacionais, das quais o concreto armado foi a que mais se
destacou e se proliferou por todo o território, contribuindo com diversos setores sociais e
tecnológicos.
A indústria da construção necessitava de cimento e aço nacional. “A indústria do
cimento surge no período, em 1926, instalando-se com uma fábrica em São Paulo.”
(SOMEKH, 1994, p.122). A maior parte do aço utilizado no Brasil na virada do século XIX
para o XX era importada. Somente em 1943 a usina siderúrgica de Volta Redonda é
instalada (BORGES, 1999, p.58), mas trabalha apenas com 30% de sua matéria-prima local.
Desenvolveram-se técnicas de produção de ferro em barras e cimento; criaram-se
laboratórios para testes e normas técnicas de controle técnico.
Na década de 1930, surge o primeiro código de obras de São Paulo, chamado
Código Athur Saboya (1929/1934) (SOMEKH, 1994, p.45), que divide a cidade em zonas
comerciais, residenciais etc., além de estipular a altura máxima de seus edifícios. Ao mesmo
tempo, Prestes Maia (1896-1965) desenvolveu o Plano de Avenidas (1930): um grande
projeto viário para a cidade que viria a influenciar bastante o desenvolvimento urbano e a
construção de novos edifícios. (SOMEKH, 1994, p.76-78)
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Começa a verticalização da cidade, que também contribui para a construção de
edifícios de escritórios. De 1930 a 1960 foram realizadas diversas obras em concreto
armado; entre elas, diversos edifícios de escritórios. O crescimento rápido dessas
edificações também foi conseqüência das empresas multinacionais que se que instalaram
no país, trazendo uma nova forma de organização e de filosofia empresarial.
A primeira edificação de grande porte, com funções variadas (lojas, escritórios,
consultórios e residências) e com estrutura independente28 construída em São Paulo, foi o
edifício Esther, conforme descrito no livro Álvaro Vital Brazil: 50 Anos de Arquitetura. Obra
de Álvaro Vital Brazil (1909-1997) em parceria com Adhemar Marinho, datado de 1936
(BRAZIL, 1986, p.54), sua estrutura foi executada com distâncias simétricas entre os pilares;
as áreas de escadas, sanitários e outros serviços estão localizados de forma que em alguns
pavimentos de escritórios fosse possível haver um circulação central bem definida entre as
salas. Essas características permitiram maior flexibilidade na organização e na ocupação do
seu espaço interno e seu exemplo se proliferou em edifícios de escritórios posteriores: “O
Esther, além de ser o primeiro edifício comercial do Brasil com estrutura livre, fixou o
gabarito de dez andares da praça da República em sua época”. (BRAZIL, 1986, p.24)
(1) (2)
Edifício Esther – 1936 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo destinado a escritórios e consultórios
Fonte: (1) ATIQUE, 2004, p.272 (2) ATIQUE, 2004, p.167
Em 1939 foi inaugurado o Edifício Conde Matarazzo, uma das primeiras construções
destinadas a ser sede de uma única empresa: a Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo.
(CUSHMAN, 2004, p.17). Obra do arquiteto italiano Marcelo Piancentini e Vittorio Morpurgo
28 Estrutura independente: conjunto de elementos da estrutura da construção, como pilares e vigas, que são executados de forma independente dos demais elementos da mesma construção, como paredes e divisões internas.
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(PERRONE, 2000, p.9), possui dezesseis andares e quase 28.000m2 de área construída;
em 1947 o edifício passou a pertencer ao Banco do Estado de São Paulo e desde 2004 o
abriga a Prefeitura de São Paulo.
(1) (2)
Edifício Conde Matarazzo – 1939 (1) Fachada (2) Saguão de elevadores
Fontes: (1) www.vivaocentro.org.br/images/bancodados/centrosp (2) PERRONE, 2000, p.9
Segundo Claudio Amaral, o primeiro escritório brasileiro a adotar a organização do
trabalho segundo o taylorismo foi a empresa multinacional São Paulo Tramway Light
Company (AMARAL, 1993, p.52). Posteriormente, o taylorismo imperou no Brasil até a
década de 1940, quando o desenvolvimento industrial brasileiro foi enorme e as empresas
começaram a sentir necessidade da criação de espaços específicos para realizar a
administração da produção industrial; com ela, novos prédios de escritórios em São Paulo
começaram a surgir.
Devido à grande quantidade de edifícios de escritórios que surgiram na cidade na
década de 1940 e à imigração que continuava crescendo em São Paulo, alguns arquitetos
estrangeiros tiveram várias oportunidades de trabalho, trazendo novas técnicas construtivas
e novas experiências. Essas construções rompem com a linha arquitetônica adotada até
então, baseada no modelo europeu, e que era executada principalmente pelos arquitetos
Francisco de Paula Ramos de Azevedo29 (1851-1928) e Cristiano Stockler das Neves30
(1889-1982).
29 Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928): formou-se na Universidade de Gand, na Bélgica, era diretor da Escola Politécnica de São Paulo e autor de projetos como o Quartel da Polícia (1888), na região da Luz, e do Teatro Municipal de São Paulo (1903-1911).
30 Cristiano Stockler das Neves (1889-1982): formou-se nos Estados Unidos e fundou o curso de Arquitetura na Escola de Engenharia do Mackenzie; foi autor de projetos como a estação Sorocabana (ou estação Júlio Prestes), localizada no bairro da Luz.
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Em junho de 1947 foi concluída a obra e inaugurado o edifício Altino Arantes
(CUSHMAN, 2004, p.23), popularmente conhecido como edifício do Banespa, pois foi
construído para sediar o Banco do Estado de São Paulo. Projetado pelo arquiteto Plínio
Botelho do Amaral e obra da Construtora Camargo Mesquita (CUSHMAN, 2004, p.23), o
edifício possui 35 pavimentos e foi um dos primeiros prédios da linha norte-americana na
cidade de São Paulo; mas com uma planta bastante engessada e não muito grande. “O
autor do projeto original, Plínio Botelho do Amaral, inspirou-se em dois prédios famosos de
Nova York, o Empire State Building e o Chrysler Building31.” (CUSHMAN, 2004, p.23)
Sua ocupação original era bastante tradicional e correspondia à imagem que o banco
pretendia passar: escritórios tayloristas com móveis de madeira com designs robustos.
(1) (2)
Edifício Altino Arantes, ou edifício do “Banespa” − 1947 (1) Fachada
(2) Gabinete do presidente do banco na época da inauguração do edifício
Fontes: (1) URBS, 2003, n° 30, p.37 (2) www.piratin inga.org
Em 1946 (XAVIER, 1983, p.14), a Companhia Brasileira de Investimentos Esplanada
inaugurou sua sede no edifício projetado pelo arquiteto polonês Lucjan Korngold (1897),
mais conhecido como edifício CBI Esplanada. Com uma arquitetura inspirada na
verticalidade dos edifícios americanos do período pré-guerra, possui 33 andares, 50.000m²
de área construída e foi “a maior estrutura em concreto armado do mundo na época de sua
construção”. (XAVIER, 1983, p.14), além de um exemplo de edificação racionalizada para o
país.
31 Edifício Chrysler − Arquiteto William Van Alen, 1930. Edifício Empire State − Projeto de Shreve, Lamb & Harmon Arq., 1931. (DUPRÉ, 1996) Ambos edifícios de escritórios construídos em Nova York e no estilo art décoestilo arquitetônico muito utilizado entre 1925 e 1940 (Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2005) e foram, cada um em sua época, os mais altos do mundo.
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O pavimento tipo é formado por dois núcleos de escada e elevadores distintos,
sustentados por pilares circulares que começam aparentes no pavimento térreo de pé-direito
duplo e vão até a cobertura. Há um vazio entre os dois núcleos centrais que demonstra a
preocupação do arquiteto com a iluminação natural e a ventilação. O edifício era bastante
flexível para a época, já que os pavimentos eram idênticos e a estrutura era simétrica.
“O espaço interno do CBI Esplanada foi aplaudido na época. O
uso de pilares periféricos e os núcleos de circulação e banheiros
permitiam uma planta livre que poderia ser dividida – ou não – em
quatro ambientes.” (CUSHMAN, 2004, p.21)
(1) (2)
Edifício CBI Esplanada – 1946 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo
Fontes: (1) www.bolsaimoveis.com.br (2) XAVIER, 1983, p.14
2.2 A EXPANSÃO DO CENTRO: DE 1950 A 1980
Entre as décadas de 1950 e 1960 o centro da cidade se expande para a região entre
as praças Ramos de Azevedo e da República − ainda próximo ao centro da cidade −,, onde
se concentrava o maior número de empresas da cidade, pois os prédios eram mais
modernos e possuíam área útil mais adequada à instalação de espaços de escritórios. Até
1960 foram construídas as avenidas de Prestes Maia e o Elevado Costa e Silva − ou
Minhocão −, que acelerou a chegada de pessoas e empresas à região central.
Nesta época, a cultura brasileira fazia dos escritórios a extensão da casa, e a maioria
dos layouts distribuía os departamentos em salas fechadas (cada departamento ocupava
um sala), mesmo que a planta fosse suficientemente flexível para receber outros tipos de
organização espacial. Todas as divisões entre os espaços eram feitas segundo a hierarquia
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da empresa, ou seja, levando em consideração qual o cargo de quem iria ocupar cada
espaço, como, por exemplo, gerentes e executivos dispunham de salas fechadas individuais
bastante confortáveis e com muita privacidade.
A partir da década de 1960, a região da avenida Paulista torna-se definitivamente o
segundo centro da cidade de São Paulo (CUSHMAN, 2004, p.26), com a instalação de
dezenas de matrizes de bancos, e que ainda hoje hospeda centenas de sedes de empresas
de grande porte.
Apesar de não ter sido construído para uma única empresa, o Conjunto Nacional foi
o pioneiro como edifício de escritórios na avenida Paulista e anteviu a instalação de
shopping centers no bairro. Projeto de 1955 do arquiteto David Libeskind (XAVIER, 1983,
p.37), na verdade seu uso era misto: residências e escritórios ocupavam a torre de 25
pavimentos, as lojas localizavam-se nos pavimentos inferiores e ainda havia a previsão de
instalação de um hotel de luxo. Ainda hoje o edifício é bastante famoso, com 52
apartamentos, dois blocos comerciais, e continua sendo um marco na avenida.
(1) (2)
Edifício Conjunto Nacional − 1955 (1) Fachada (2) Planta de implantação
Fonte: (1) e (2) XAVIER, 1983, p.37
Em 1965 o Parque Avenida foi o primeiro edifício projetado pelo escritório Croce,
Aflalo & Gasperini Arquitetos Ltda. (CA&G) para a avenida Paulista (CROCE, 1999, p.20), o
qual merece destaque, pois tem um partido bem parecido com o edifício da IBM Tutóia (que
veremos mais adiante): os andares inferiores possuem plantas mais largas onde estão
localizados serviços de apoio; o pavimento tipo em formato retangular possui a planta livre
de pilares ao centro; há três núcleos de escadas de um lado da planta e mais três núcleos
de elevadores do outro lado, todos ressaltados na fachada; e, por fim, a modulação da
planta corresponde à mesma das esquadrias da fachada.
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(1) (2)
Edifício Parque Avenida – 1965 (1) Fachada
(2) Desenho superior: planta do pavimento tipo baixo; desenho inferior: planta do pavimento tipo alto
Fonte: (1) e (2) CROCE, 1999, p.20
Outro edifício construído para uma única empresa na avenida Paulista e bastante
significativo foi projetado pelos arquitetos Roberto Cerqueira Cesar e Luis Roberto Carvalho
Franco, em 1969: é a torre da Fiesp-Ciesp-Sesi (XAVIER, 1987, p.118), que; com 43.000m²
de área construída, se destacou pela forma e funcionalidade. A empresa tinha algumas
exigências quanto à imagem do edifício, que precisava ser forte e marcante; ter espaços de
convívio e flexíveis (tanto para a área de escritórios quanto para as áreas comuns). Os
autores do projeto foram pioneiros ao se preocuparem com a forma como a empresa se
organizava, e durante sua elaboração os profissionais pesquisaram o cotidiano da empresa
e de seus funcionários.
A construção tem dois blocos. O primeiro abrange o subsolo da garagem e o térreo,
onde estão localizados o teatro e o centro cultural; esse bloco aproveita o desnível entre a
avenida Paulista e a alameda Santos para a ocupação espacial. O segundo bloco possui
forma piramidal, com 25 pavimentos, e foi ocupado pelos escritórios da empresa. A forma
desse bloco trouxe algumas vantagens para o projeto:
“O edifício não teve que fazer recuos artificiais para respeitar a
legislação, a iluminação natural dos andares inferiores foi facilitada e
a ocupação pôde ser hierarquizada, levando-se em conta a
necessidade de ocupação por andar. O uso dos elevadores foi
beneficiado, já que grande parte dos ocupantes do prédio fica nos
andares inferiores”. (CUSHMAN, 2004, p.31)
A dinâmica interna do edifício foi uma das premissas do projeto: nos pavimentos de
escritórios, cada andar possui uma área distinta, e os departamentos da empresa são
localizados conforme a hierarquia – alta gerência nos andares superiores e subordinados
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nos andares inferiores; houve a preocupação de agrupar no mesmo andar serviços
correlacionados.
(1) (2) (3)
Edifício Fiesp – 1969 (1) Fachada (2) Planta de implantação (3) Esquema de plantas de alguns pavimentos
Fontes: (1) PROJETO DESIGN, 2001, n° 262, p.35 (2) XAVIER, 1987, p.118 (3) SAMPAIO, 2003, p.70
O final da década de 1960 e começo da de 1970 foram os anos em que a arquitetura
brasileira mais se difundiu, alavancada pelos programas de governo que queriam melhorar a
infra-estrutura de transportes e comunicações. Essa foi a época do ”milagre brasileiro”
(1968-1973), período econômico em que houve um forte declínio do valor imobiliário do
Centro (CUSHMAN, 2004, p.18), e a evasão das empresas e bancos para outras regiões foi
inevitável.
A partir da década de 1970 as mudanças na economia nacional e o embargo de
capitais contribuíram para que muitas empresas, nacionais e multinacionais, decidissem
investir na construção de edifícios de escritórios no país, trazendo novas construções para
as metrópoles brasileiras.
Aumentou e muito a construção de edifícios de escritórios e a economia ao seu
redor: intensificaram-se principalmente o uso de concreto na construção e as mudanças na
indústria moveleira brasileira. As fábricas especializadas na produção de mobiliário para
escritórios se especializaram, começaram a produzir móveis de madeira que seguiam o
conceito dos sistemas integrados. Mesmo assim, muitas empresas ainda importavam
mobiliário norte-americano para suas sedes brasileiras.
A organização interna dos escritórios brasileiros até a década de 1970 privilegia a
hierarquia organizacional: chefes ocupam espaços maiores, fechados e têm mais vantagens
comparados aos espaços utilizados por seus funcionários; quanto mais alto o cargo, maior a
sala de trabalho individual; os funcionários são divididos em departamentos.
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“O escritório panorâmico no Brasil foi introduzido em 1971, com
sucesso imediato, o que levou as grandes firmas moveleiras do país
a incluírem na produção mobiliário adequado a este conceito de
ocupação espacial. Mas este conceito e a teoria administrativa que o
originou tiveram uma aplicação particular no Brasil.” (AMARAL, 1987,
p.242)
O escritório panorâmico que rapidamente foi difundido no Brasil possuía
características específicas da cultura empresarial brasileira: havia áreas fechadas para
departamentos inteiros, onde gerentes e diretores ficavam em salas fechadas dentro dessas
áreas. A ocupação era influenciada pelas multinacionais, ou as empresas estrangeiras
instalavam seus escritórios com conceitos de ocupação idênticos aos de suas sedes nos
países de origem. O Brasil segue principalmente o modelo norte-americano, e o escritório
panorâmico europeu é pouco difundido.
Ao mesmo tempo que se consolidam os edifícios de escritórios da avenida Paulista,
próximo dali o edifício-sede da IBM Tutóia, projetado pelo escritório CA&G a partir de 1970
(XAVIER, 1987, p.121) e inaugurado em 1977 (data oficial considerada pela empresa), foi
considerado segundo algumas fontes de “impacto visual premeditado” (CUSHMAN, 2004,
p.43) para a época, já que na região da avenida 23 de Maio e do Parque do Ibirapuera havia
poucos edifícios, muito menos comerciais. Seguindo conceitos rígidos de arquitetura e de
ocupação interna, o programa e a ocupação foram planejados de acordo com critérios
organizacionais da empresa e conforme padrões da matriz no exterior. Segundo Gasperini,
a forma do edifício foi conseqüência de algumas influências, além das da empresa.
“Queríamos que o prédio nascesse realmente do chão. (...) o fato
de nascer mais largo e depois afinar para cima era uma coisa que
começou a me intrigar, pensando que realmente seria uma
possibilidade muito interessante. (...) E quando nós fizemos o prédio
da IBM naquela época, por que o prédio foi feito torre e depois
alargando em baixo assim? Porque o espaço reservado para o
computador no embasamento do prédio era muito grande.”
(GASPERINI, 2006)
O edifício formado de vinte pavimentos de escritórios possui ao centro um núcleo de
seis elevadores sociais, e nas extremidades outros dois núcleos opostos onde estão
localizados os elevadores de serviço, escadas, sanitários, shafts, salas de ar-condicionado e
elétrica. Todo o projeto, planta e dimensões das esquadrias, foi realizado levando-se em
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consideração uma malha espacial de 1,25mx1,25m, de acordo com as dimensões dos
materiais construtivos e de acabamento que se proliferavam na época. Veremos mais
detalhes desse projeto no capítulo do estudo de caso.
(1) (2)
Edifício IBM Tutóia −- 1970 (1) Fachada (2) Desenho do pavimento tipo
Fontes: (1) Foto de Christiane Morais (2) Desenho da autora
Dois outros projetos do escritório CA&G merecem ser apresentados para
observarmos as influências que os arquitetos tiveram ao projetar o IBM Tutóia.
O primeiro é o edifício do Tribunal de Contas do Município de São Paulo; projetado
em 1971 (CROCE, 1999, p.26) ele se destaca pela volumetria e estrutura em concreto
aparente, sem acabamentos: material muito utilizado na época como no IBM Tutóia. Os
quatro núcleos de elevadores que se encontram no centro do pavimento são bastante
marcados na estrutura da fachada, que também segue a modulação de 1,25mx1,25m nas
esquadrias e na planta.
(1) (2)
Edifício do Tribunal de Contas do Município de São Paulo – 1971 (1) Fachada (2) Planta do nível do plenário
Fonte: (1) e (2) CROCE, 1999, p.26
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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O segundo é o edifício construído em São Paulo mais semelhante ao edifício da IBM
Tutóia: o edifício Parque Iguatemi de 1971 (CROCE, 1999, p.22). Sua volumetria é dividida
entre torre de pavimento tipo e embasamento com planta mais larga; os acabamentos da
fachada são de concreto aparente e vidros fumê; o pavimento tipo é livre de pilares centrais
e os pilares perimetrais são destacados na fachada; na extremidade longitudinal do
pavimento tipo estão localizados dois núcleos opostos de sanitários, elevadores e escadas;
e foi projetado para ser ocupado por escritórios.
Todas essas características se repetem nos dois projetos. O Parque Iguatemi foi
inaugurado antes, provavelmente em 1972, já o IBM Tutóia, apesar de ter sido inaugurado
em 1977, seu projeto começou ainda em 1970.
O Edifício Parque Iguatemi nos remete a um novo pólo de negócios: a avenida Faria
Lima, que veremos ainda neste capítulo.
(1) (2)
Edifício Parque Iguatemi – 1971 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo
Fontes: (1) CROCE, 1999, p.22 (2) XAVIER, 1987, p.135
Como conseqüência da expansão do Centro e da avenida Paulista, alguns
empreendedores “espalharam” construções em locais da cidade ainda não reconhecidos na
época como pólo de negócios.
O empreendimento mais distante de todos foi o Centro Empresarial São Paulo
(Cenesp), projetado em 1970 pelo arquiteto João Henrique Rocha (CUSHMAN, 2004,
p.109), contratado pelo Grupo Bunge y Born, que tinha como objetivo “construir um único
lugar capaz de abrigar todas as suas companhias e centralizar suas operações no Brasil”
(CUSHMAN, 2004, p.109). O complexo é composto por sete torres: uma de serviços com
dois pavimentos e seis de escritórios com oito pavimentos. As plantas de pavimento tipo são
similares, medindo aproximadamente 53mx53m e chegando a 2.844m² de área útil, tudo
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construído de acordo com a modulação de 1,25mx1,25m. Cada andar possui: um núcleo
descentralizado de sete elevadores, escada e shafts; quatro pequenos shafts centralizados;
dois núcleos nas extremidades com sanitários femininos e copa; e mais dois núcleos nas
outras duas extremidades com sanitários masculinos e escadas. Entre os pavimentos há o
chamado “pavimento de manutenção”, que possui acesso pelos núcleos de serviços e por
onde uma equipe do condomínio executa a manutenção dos sistemas de infra-estrutura
elétrica, iluminação, telecomunicações e ar-condicionado, independente do acesso ao
pavimento.
Por estar localizado longe dos centros residenciais e comerciais, e ser de difícil
acesso através do transporte público, o Cenesp conta com diversos tipos de serviços
instalados no próprio complexo: Centro de Eventos Panamby (com oito salas de reuniões e
dois auditórios), restaurantes, lanchonetes, bancos, lojas, farmárcias, laboratórios, correios,
agência de viagens, posto de combustível, oficina mecânica, entre outros. Hoje todo o
complexo que possui espaços alugados ou para serem alugados passa por um retrofit e
continua bastante ativo, tanto que próximo a ele já foram construídos outros
empreendimentos, como, por exemplo, o Panamérica Park, de porte parecido.
(1) (2)
Cenesp – 1970 (1) Vista aérea do complexo (2) Planta do pavimento tipo de uma das torres
Fonte: (1) e (2) Arquivo CBRE
Ainda em 1976, em conseqüência da expansão do Centro e da avenida Paulista,
instalou-se do outro lado da Marginal Pinheiros o edifício sede do Unibanco, numa época
em que a região era quase deserta de edifícios de escritórios. Projetado por Salvador
Candia, o edifício de 22 andares foi construído para o Banco Mackell, e somente em 1982
foi ocupado pelo Unibanco. O edifício adiantou tendências da época: os andares são amplos
e flexíveis, proporcionando uma ocupação de ambientes mais funcional, em discordância
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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com o tempo de sua construção, quando compartimentações e salas individuais reinavam
nos escritórios brasileiros.
Só a partir de meados da década de 1980 surgem os primeiros escritórios com
plantas abertas, baseados no conceito importado dos Estados Unidos ou da Europa,
dependendo da empresa.
Entre os edifícios que mais se destacaram na década de 1980 na avenida Paulista
está a sede do Banco Real ABN-AMRO, projeto do escritório de arquitetura Adolpho
Lindemberg e construtora Figueiredo Ferraz (CUSHMAN, 2004, p.33). Apesar das
escavações dos subsolos terem início na década de 1960, ele só foi inaugurado no começo
da década de 1980 (CUSHMAN, 2004, p.33). Cinco subsolos foram escavados para
acondicionarem áreas destinadas aos computadores do banco, que precisavam de maior
segurança física e não necessitavam de iluminação natural. Assim, esse foi um dos
primeiros projetos a ter instalações específicas para computadores com rígido controle de
temperatura, através do sistema de ar-condicionado.
(1) (2)
(1) Edifício Unibanco – 1976 (2) Edifício Banco Real ABN-AMRO– 1980
Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.113 (2) Arquivo CBRE
A cada nova construção que era erguida na avenida Paulista, a modernidade das
instalações do mais recente empreendimento era superada. Foi o que aconteceu em 1986
com o edifício Citicorp Center, assinado por CA&G, e um marco na avenida e na cidade até
hoje. “Em 1987 foi inaugurado o primeiro prédio inteligente32 da cidade: edifício-sede do
Citibank na avenida Paulista.” (VEJA, 2005, p.27) Pelas inovações em tecnologia e nos
32 Prédio inteligente ou edifício inteligente: edificação projetada com extensivos sistemas automatizados, para detectar, diagnosticar e controlar as respostas a vários requisitos ambientais. Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2006.
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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materiais de acabamento, pela quebra de paradigmas, além de toda repercussão desse
empreendimento na mídia, é evidente que esse é um dos edifícios de escritórios mais
significativos de São Paulo.
Os escritórios de arquitetura da época encontravam muita resistência de seus
clientes para construir edifícios que não fossem tradicionais. Segundo um dos autores do
projeto do Citibank, Gian Carlo Gasperini:
“Tão logo nós conseguimos romper com essa resistência por
parte do cliente, surgiu o Citibank. E aí então o concreto ficou
afastado de uma vez”. (GASPERINI, 2006)
Assim, a construção é inovadora em diversos aspectos. A estrutura é marcada por
uma grelha periférica (muito utilizada nos projetos de CA&G) e pelos materiais de
acabamento, como o granito rosa (inédito na cidade) e os panos de vidros azuis, colocados
para deixar o edifício mais iluminado e reforçar a identidade da marca. As formas de fixação
do granito a seco com grampos metálicos e dos vidros nas esquadrias através do silicon
glazing33, assim como a instalação de uma fachada inteira com vidro colorido, eram inéditas
no país. O andar térreo é marcado pelo acesso tanto à avenida quanto à alameda
Campinas, que se transformou em um espaço de passagem entre as vias públicas, e onde
estão localizados um centro cultural do banco e uma agência bancária. O fluxo de
elevadores era comandado por computador, e para o sistema de ar-condicionado existem
tanques de produção de gelo que atendem à demanda de resfriamento no horário de pico,
tudo controlado a distância por computadores. Em vez de interruptores, a iluminação interna
era controlada por sensores de iluminação localizados em áreas específicas do escritório.
Foi o primeiro edifício a utilizar piso elevado34 em toda a área de escritórios, proporcionando
facilidade de manutenção da infra-estrutura elétrica e de telecomunicações e flexibilidade
para o layout − já que as instalações ficam independentes da localização de paredes. O
núcleo de sanitários, escadas, elevadores e shafts está localizado de um lado da planta,
enquanto todo o restante possui iluminação natural direta.
A flexibilidade de alteração de layout era extremamente necessária, principalmente
devido à instabilidade econômica pela qual o país estava passando. O projeto de interiores é
33 Silicon glazing: fachada construída por esquadrias não aparentes externamente, as quais sustentam os vidros, que cobrem toda a estrutura da fachada e são separados externamente por silicone.
34 Piso elevado: piso falso afastado da laje da edificação através de um sistema estrutural composto por logarinas, com o objetivo de promover isolamento acústico e espaço para a passagem de diversas instalações, como infra-estrutura de fiação elétrica e de comunicações.
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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do escritório do arquiteto Roberto Loeb, que, antes da primeira implantação de estações de
trabalho do sistema integrado com algumas salas fechadas para reuniões e chefes, chegou
a realizar mais de trinta layouts experimentais por andar, pois a cada mudança do quadro de
funcionários o banco exigia que o layout fosse revalidado.
(1) (2)
Edifício Citicorp Center – 1988 (1) Fachada (2) Pavimento tipo
Fonte: Arquivo A&G
Apesar do surgimento de outros pólos empresariais no início da década de 1990, a
avenida Paulista havia se transformado no maior centro empresarial financeiro da América
Latina, principalmente por agrupar diversos edifícios de escritórios, como sedes de diversos
bancos estrangeiros e nacionais, sedes de grandes empresas multinacionais e nacionais,
sedes de consulados e ministérios, emissoras de rádio e TV, além de comércio variado e
outras edificações para fins culturais, de lazer e residências.
2.3 A MUDANÇA DOS BAIRROS RESIDENCIAIS: DE 1970 A 2 000
No final dos anos de 1970, as residências invadiram as zonas Sul e Oeste da cidade,
e nos locais onde antes predominavam casas começaram a ser construídos edifícios, e
assim foram surgindo algumas outras regiões que concentravam edifícios de escritórios,
como a avenida Faria Lima e na seqüência o bairro da Chácara Santo Antônio, a avenida
Engenheiro Luiz Carlos Berrini e o bairro da Vila Olímpia.
A avenida Faria Lima sofreu uma rápida transformação: no início da década de 1970
a paisagem ali era composta por sobrados e casas térreas, já em meados da década o que
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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predominava eram os edifícios de escritórios. Por causa desta mudança brusca, a avenida
precisou ser alargada, mas a infra-estrutura (principalmente as redes telefônica e pluvial)
não acompanhou as mudanças, o que fez com que muitos empreendimentos continuassem
na Paulista (como veremos mais à frente os exemplos do Real ABN-AMRO e do Citibank).
Paralelamente, a partir de 1970, a Chácara Santo Antônio foi mais uma região que
concentrou vários edifícios de escritórios, e que, mesmo ao receber uma grande quantidade
de empresas de grande porte, conseguiu ao mesmo tempo manter vários de seus sobrados
e casas residenciais intactos.
“Estabeleceram-se no bairro várias empresas de grande porte,
como a Monark, Niagara, Timken, JC Marques, Paramount Lansul, a
engenharia Jaakko Pöyry. Um dos prédios mais conhecidos da
Chácara é o Nova São Paulo, que foi sede da Autolatina (...). Rafael
Birmann, dono de construtora com o mesmo sobrenome, foi o
primeiro construtor a apostar mais recentemente na região (...).”
(CUSHMAN, 2004, p.94)
Nessa região estabeleceram-se várias sedes de empresas de grande porte, e muitas
foram implantadas de acordo com o conceito de office park35, ideal para receber um só
ocupante e que foi introduzido por Rafael Birmann na região (CUSHMAN, 2004, p.101), que
tem ótima localização para a construção desse tipo de edifício, pois possui grandes terrenos
com baixos preços, está distante dos grandes centros e próxima de residências de alto
padrão. Dentro desse conceito, destacam-se edifícios que tiveram sua marca fixada através
da arquitetura de suas sedes, entre eles o edifício Arnon Birmann 8, projetado para o
Deutsche Bank pelo arquiteto Davino Pontual e equipe em 1989 (PROJETO, 1992, n° 153,
p.55). Localizado na esquina da rua Alexandre Dumas com a Marginal Pinheiros, esse
edifício possui duas torres de escritórios com planta em forma de octógono e interligadas
por um dos lados; área útil total de aproximadamente 13.300m²; oito pavimentos mais um
pavimento térreo com auditório e restaurante, além da grande área de garagem, comum às
construções tipo office park. O pavimento tipo possui 1.560m², onde na área central que
interliga as duas torres existe um núcleo principal de serviços (com elevadores, escadas,
35 Office park: conceito norte-americano de projeto para edifícios de escritórios, onde são projetados conjuntos de prédios horizontais (na maioria dos casos com poucos andares), com grandes lajes (geralmente acima de 1.000m²) e espaços internos sem a interferência de pilares para oferecer flexibilidade ao layout. Os edifícios são cercados por espaços livres, bastante arborizados, com grande preocupação paisagística e amplas áreas abertas de estacionamento.
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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sanitários, ar-condicionado e shafts), e quase no centro de cada torre há uma escada de
emergência. Em 2006 quase metade dos escritórios estava disponível para aluguel.
(1) (2)
Edifício Arnon Birmann 8 – 1989 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo
Fonte: (1) PROJETO, 1992, n°153, p.54 (2) PROJETO, 1992, n°153, p.55
O Centro Administrativo Pfizer também foi projetado para uma empresa que fixou
sua marca na região através da arquitetura de sua sede. Projeto do arquiteto Paulo de
Gasperi e do engenheiro Armando Bignone em 1998, o edifício possui características
arquitetônicas típicas de um empreendimento tipo office park: construção baixa de cinco
pavimentos de escritórios mais térreo, serviços e restaurante dentro do edifício e ampla área
de garagem. Na época de sua ocupação, os escritórios foram ocupados com mobiliário
integrado do fabricante brasileiro Forma.
“Usar o próprio prédio da empresa como um outdoor, para fixar
entre os consumidores a imagem da empresa, é uma das táticas
mais eficientes da propaganda moderna. É o que se vê no prédio da
Pfizer, na Chácara Santo Antônio. A garantia de um bom ambiente
de trabalho foi uma das prioridades da empresa.” (CUSHMAN, 2004,
p.105)
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
87
(1)
(1) Edifício Pfizer − 1998 − Fachada
Fonte: (1) CUSHMAN, 2004, p.105
Pouco antes do início da década de 1980 a avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini
também começou a se destacar. O arquiteto Carlos Bratke (1942) se uniu ao irmão Roberto
Bratke e ao primo Francisco Collet e “realizaram a partir de 1975 o mais notável esforço de
reestruturação urbana de que se tem notícia no Brasil” (CUSHMAN, 2004, p.78). Juntos
compraram cerca de trinta terrenos na Berrini, entre 1974 e 1976, e começaram a construir
prédios de escritórios com baixos custos para posterior aluguel. Em nenhuma outra região
da cidade tantos prédios foram erguidos em tão pouco tempo.
O sucesso da empreitada deve-se principalmente ao fato de que os custos dos
imóveis nas avenidas Paulista e Faria Lima eram altíssimos, e, segundo as premissas
utilizadas pelos três empreendedores, os terrenos na área eram baratos, com boa
acessibilidade e grandes possibilidades de expansão. Mas, sem o devido planejamento, pois
não havia infra-estrutura pública na região para receber tantos edifícios, o processo acabou
gerando problemas urbanos que foram agravados a cada nova construção, como destaca a
citação a seguir.
“... crescimento tão rápido, num bairro de história tipicamente
residencial, bateu de frente com a infra-estrutura existente. As ruas
estreitas eram sinônimo de trânsito caótico, todos os equipamentos
urbanos eram impróprios para a nova realidade”. (CUSHMAN, 2004,
p.67)
Os projetos de Bratke previam dar flexibilidade aos escritórios, para o layout, a fim de
facilitar as transformações organizacionais das empresas e as possíveis mudanças na
tecnologia. Assim, seus edifícios possuíam planta livre, com torres de elevadores, escadas
de emergência e áreas de serviços fora do bloco principal, favorecendo a liberação de
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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espaços internos dos pilares e aumentando a flexibilidade descrita acima. De acordo com
relato do próprio arquiteto:
“Percebi que a velha tendência do núcleo central de circulação
vertical e serviços não atendia a todos os casos. (...) as condições de
insolação e iluminação muitas vezes ficavam prejudicadas.”
(PUGLIESE, 2005, p.62)
Essa característica arquitetônica com os núcleos de serviços fora de um bloco único
de escritórios, que facilita a organização do espaço interno, pode ser observada no edifício
Morumbi Plaza, construído na avenida Faria Lima em 1979: a planta do pavimento tipo é
formada por um grande retângulo, com seis losangos periféricos, onde em dois deles estão
localizados elevadores (sociais em um núcleo e de serviços em outro), escadas, shafts e
áreas de serviço e nos demais, sanitários e depósitos.
(1) (2)
Edifício Morumbi Plaza – 1979 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo
Fonte: (1) PUGLIESE, 2005, p.55 (2) PUGLIESE, 2005, p.54
A avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini possui hoje cerca de 62 edifícios de
escritórios projetados pelo arquiteto Carlos Bratke (PUGLIESE, 2005, p.51). Outros muitos
escritórios de arquitetura deixaram sua marca na região. Entre eles, o escritório CA&G, que
em 1984 (CROCE, 1999, p.44) se destacou com o projeto do Centro Administrativo PSS.
Na década de 1980 a Philips decidiu construir sua sede numa região com potencial
de crescimento e onde houvesse bons terrenos e exigiu um projeto que fosse versátil o
suficiente para no futuro a empresa poder alugar o endereço para outro interessado. Assim,
o edifício que ficou pronto em 1984, somente foi inaugurado no início de 1991 (CUSHMAN,
2004, p.81) ao receber os escritórios centrais da Philips no Brasil. Hoje ele é ocupado pela
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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Nestlé: a flexibilidade na arquitetura foi um dos motivos que proporcionaram a mudança de
ocupação. A planta é quase um quadrado, com o núcleo central com sanitários, elevadores,
escadas, shafts e outros serviços; na sua primeira ocupação em 1991, tinha salas fechadas
próximas à fachada para gerentes e reuniões, e entre as salas e o núcleo central de
serviços havia as estações de trabalho abertas.
(1) (2)
Edifício Centro Administrativo PSS / Nestlé − 1991 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo
Fontes: (1) Arquivo A&G (2) CROCE, 1999, p.45
Entre as décadas de 1980 e 1990, a Vila Olímpia se destacou pela construção de
edifícios de escritórios, e os grandes empreendimentos da região foram – e ainda são –
ocupados por diversas empresas, com infra-estrutura predial bastante atual para cada
época de construção, com salas consideradas de alto padrão que ocupam espaços relativos
a um pavimento inteiro ou metade.
Na década de 1990, a avenida Faria Lima também já não suportava mais tantas
novas construções sem aumentar o sistema viário e a infra-estrutura local. A ampliação
total, da região, que seria chamada de Nova Faria Lima, somente aconteceu em 1996, mas
antes dessa reestruturação já se destacava nessa área o edifício-sede da revendedora de
automóveis Dacon (1976), projeto dos arquitetos Ricardo Julião e Marcos Tomanik, que
inovaram pela forma, com base curva e torre cilíndrica, o que permitiu que a construção
fosse realizada em duas etapas. O impacto do projeto na região no final da década de 1970
ajudou muito a divulgação e a fixação do nome da empresa no mercado local, o que faz dele
um exemplo da forte influência que a arquitetura da sede de uma empresa oferece ao
marketing da sua marca. Por outro lado, a área útil do pavimento de escritórios não era
totalmente aproveitada, principalmente por causa da planta em formato circular, o que
também não permitia muitos ajustes de layout.
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
90
Quando a ampliação da Nova Faria Lima foi finalizada, o primeiro edifício de
escritórios a ser construído foi o HSBC Tower (1995), projeto do Escritório Técnico Júlio
Neves: possui quatro subsolos de garagem, pavimento térreo e quatorze andares de
escritórios com 1.320m² cada um.
(1) (2)
(1) Edifício Dacon – 1976 (2) Edifício HSBC Tower – 1995
Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.47 (2) Arquivo CBRE
Logo depois, em 1996, foi inaugurado o edifício Birmann 29, sede do JP Morgan,
com projeto do escritório norte-americano SOM. Com dezesseis pavimentos de escritórios, a
planta do pavimento tipo de 1.450m² de área útil possui um único núcleo central de
elevadores, escadas, sanitários, shafts e ar-condicionado. Os elevadores são setorizados
em zona baixa e zona alta, característica típica dos projetos dos escritórios SOM no Brasil.
(1) (2)
Edifício Birmann 29 – 1996 (1) Fachada (2) Planta esquemática
Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.51 (2) Arquivo CBRE
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
91
Algumas sedes administrativas foram implantadas nos anos 1990 fora dos
tradicionais centros de negócios que descrevemos até aqui. A migração para regiões menos
valorizadas ocorreu principalmente devido a questões econômicas.
Um forte exemplo é o Centro Empresarial Itaú/Itaúsa, construído em três etapas.
Para unir todas as empresas do grupo Itaú em um só local, em 1985 foram inauguradas três
torres de edifícios no bairro do Jabaquara. Essas torres possuem estrutura de concreto
aparente, caixilhos de alumínio fixos com vidros ray-ban (especiais para proteção dos raios
solares) e anti-ruídos (principalmente por causa da proximidade com o aeroporto de
Congonhas). Como os pilares de sustentação estão localizados no perímetro de cada torre e
o núcleo de elevadores e serviços está localizado no centro dos pavimentos, a implantação
das torres a um ângulo de 45° em relação à avenida oferece ao interior dos escritórios a
vista de um horizonte aberto.
Uma quarta torre foi implantada em 1991, com foi projeto de Jaime Cupertino e
Javier Manubens. A planta em formato quadrado e núcleo de serviços no centro da
construção segue o mesmo conceito das torres anteriores. Por se tratar do edifício da
presidência do grupo, o que diferencia essa torre das demais são principalmente os
materiais de acabamento: toda fachada é de vidro.
A quinta e última torre, chamada Eldoro Villela, foi projetada entre 1989 e 1994, mas
somente em 2001 o projeto foi retomado pelo escritório CA&G, que manteve as mesmas
características arquitetônicas das três primeiras torres, adaptando-o para receber
acabamentos e características contemporâneas: acabamento em granito e infra-estrutura
mais moderna.
(1)
Centro Empresarial Itaúsa – 2003 (1) Vista do conjunto de cinco prédios
Fonte: PROJETO, 2003, n° 283, p.61
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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(2) (3)
Centro Empresarial Itaúsa – 2003 (2) Fachada da 5ª Torre de Escritórios Eldoro Villela (3) Planta pavimento tipo
Fonte: (1) PROJETO, 2003, n° 283, p.63 (2) PROJETO, 2003, n° 283, p.67
A mais recente região de negócios para onde os escritórios estão se encaminhando
é a Marginal Pinheiros. Seu desenvolvimento no lado mais próximo às avenidas Faria Lima
e Berrini se explica pela falta de vias de transporte acessíveis para o outro lado do rio e de
infra-estrutura desta outra região, que muitos apostam ser a próxima região de negócios da
cidade.
Do outro lado da marginal houve poucos casos de edifícios de escritórios e “só
recentemente começaram a surgir os empreendimentos de alto nível”. (CUSHMAN, 2004,
p.106). Um exemplo é o edifício Birmann 21, sede da Editora Abril em São Paulo e instalado
na Marginal Pinheiros, do lado oposto à avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini. Esse
projeto é resultado de um trabalho do escritório SOM em conjunto com o escritório de
arquitetura Kogan & Associados, que compatibilizaram as idéias norte-americanas com a
realidade brasileira.
Com 14.000m² (ANDRADE, 2000, p.159), a construção possui: uma torre principal de
26 pavimentos tipo, mais um mezanino, pavimento térreo, totalizando um bloco multiuso
para exposição, videolocadora e lanchonete; um bloco para restaurante e academia de
ginástica; e um subsolo onde estão localizadas áreas de serviços técnicos, subestação,
central de ar-condicionado e caixa d’água. As fachadas receberam tratamento diferenciado
entre si; há duas baterias de elevadores (zona baixa e zona alta); e a torre principal possui
pavimentos tipo diferenciados com piso elevado, totalizando 32.302m² de área útil.
Antes de a Editora Abril instalar-se no novo edifício, ela possuía onze escritórios
espalhados em algumas regiões da cidade, cada um com uma característica ocupacional de
acordo com a arquitetura do local e com a necessidade da divisão da empresa. Quando
ocupou o edifício, a Editora Abril possuía quatorze tipos de estações de trabalho, sendo sete
em salas fechadas e as demais em espaço aberto.
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
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(1) (2)
Edifício Birmann 21 – 1999 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo
Fontes: (1) Arquivo CBRE (2) AU, 2002, n° 386 , p.53
A estabilidade da economia brasileira favoreceu a construção de edifícios comerciais
para escritórios na última década do milênio:
“a torre de escritórios – os chamados edifícios inteligentes –
destinada a grupos empresariais nacionais e estrangeiros. Iniciou-se,
nessa área, uma queda–de-braço pela conquista desses projetos
entre os grandes escritórios brasileiros (...) e norte-americanos (...).
O mercado local permanece legalmente fechado à atuação de
profissionais do exterior, que acabam formando parcerias com os
colegas brasileiros, responsáveis pela ‘tropicalização’ do projeto”.
(PROJETO DESIGN, 2001, 251, p.89)
De acordo com a revista Projeto Design n° 251, os edifícios da década de 1990
podem ser divididos em dois grupos:
1. edifícios de médio e grande portes, que visavam a elaboração de projetos
condizentes com a arquitetura, métodos construtivos e materiais existentes no país
− defendida por profissionais brasileiros por meio da reafirmação ou negação do
modernismo;
2. edifícios de grande porte, com características arquitetônicas internacionais, ou seja,
importadas de outros países − projetados por grandes escritórios brasileiros ou
norte-americanos.
Assim, a década de 1990 se caracterizou por buscar uma arquitetura comercial
adequada àquela existente no Brasil e propôs uma revisão contemporânea do movimento
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
94
moderno. Para este trabalho, é relevante citar algumas das principais preocupações dos
projetos dos edifícios dessa década, que são:
1. o controle adequado da insolação no interior através dos revestimentos de fachada
e técnicas construtivas adequadas à realidade brasileira;
2. a discussão entre embasamento e torres, onde os espaços semipúblicos, serviços
de apoio e reuniões estão localizados nos andares inferiores, e nos andares
superiores estão os escritórios propriamente ditos;
3. o núcleo de serviços, elevadores e escadas projetados nas extremidades dos
pavimentos tipos.
Essa também foi a década em que as empresas mais sofreram modificações espaciais,
entre elas o extinto Banco Nacional, que segundo relatórios anuais “do período de 1991 a
1993 indicavam que cerca de 80% do seu espaço físico administrativo em todo o Brasil
(ANDRADE, 2005, p.4.30) sofreu mudanças no layout pelo menos uma vez ao ano. A IBM
também passou por um período de grandes mudanças espaciais entre 1996 e 1999 (o que
veremos no próximo capítulo).
Após a abertura do mercado brasileiro para internacionalização e a internalização,
houve uma grande contribuição para o desenvolvimento e a proliferação dos edifícios de
escritórios, pois facilitaram-se as importações de móveis, carpetes, forros e outros
componentes industrializados para interiores e para construção dos edifícios e de sua infra-
estrutura., Da mesma forma, foi simplificada a entrada de insumos para o aperfeiçoamento
dos produtos fabricados no país.
“Com as novas possibilidades de comércio internacional e com a
estabilização da economia brasileira, a arquitetura de interiores no
ramo específico dos escritórios entra definitivamente numa nova
fase. A cultura empresarial está mudando de forma consistente,
abrindo perspectivas favoráveis para os profissionais e as indústrias
comprometidas com a qualidade funcional e estética de suas
criações.” (CALDEIRA, nº10, p.6)
Algumas empresas brasileiras já fabricavam produtos específicos para os escritórios,
entretanto as mudanças do final do século passado tornaram o mercado mais competitivo e
têm permitido que empresas internacionais
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
95
“estabelecidas no Brasil há muitos anos possam atualmente
oferecer ao público local artigos produzidos por filiais de outros
países ou por outras empresas que passam a representar no Brasil
ou com as quais aqui se associam de forma mais global.”
(CALDEIRA, nº10, p.6)
Muitas empresas brasileiras de mobiliário juntaram-se a organizações internacionais,
como foi o caso da Oca com a Steelcase, ou, mais recentemente, a Voko com a Teknion.
Outras brasileiras são apenas representantes de produtos das estrangeiras. Adicionalmente,
o mercado local tem crescido bastante, e nossas empresas (não apenas de mobiliário, mas
também de outros segmentos que atendem a escritórios em geral) estão conseguindo
aumentar seus negócios para fora do país, principalmente para a América Latina.
Paralelamente, quase todas as empresas de grande porte que atuam no Brasil
possuem escritórios em São Paulo, dessas muitas sedes também estão na cidade –
principalmente quando falamos de empresas de telecomunicações, de informática e de
bancos.
2.4 OS ESCRITÓRIOS CONTEMPORÂNEOS: SÉCULO XXI
Segundo o Dicionário Aurélio, contemporâneo significa “que ou aquele que é do
mesmo tempo, ou do nosso tempo; coevo, coetâneo”. Primeiro vamos ver exemplos de
escritórios construídos entre 2000 e 2006. Observa-se que entre a Marginal Pinheiros e a
avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini a linguagem das edificações acompanha as novas
exigências tecnológicas e de aproveitamento de espaços.
Foi nesta região que foi erguido em 2002 o edifício corporativo mais comentado
deste início de século: a sede do Bank Boston. Projetado pelo escritório SOM e adaptado
pelo Escritório Técnico Júlio Neves, o edifício localizado quase no final da avenida
Engenheiro Luiz Carlos Berrini possui claramente o estilo arquitetônico contemporâneo,
perceptível pelo lado externo nos materiais de acabamento (esquadrias de alumínio, vidros
e granito). Uma evidência disso são as diversas publicações que o consideraram uma
referência para os escritórios contemporâneos.
No final da década de 1990, o Bank Boston resolveu reunir todos seus escritórios em
uma única construção “(...) que representasse melhor a marca do banco, além de servir às
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
96
necessidades operacionais da empresa”. (CUSHMAN, 2004, p.91). Assim, em 1999 o
escritório SOM se uniu aos profissionais brasileiros para projetar um edifício de alta
tecnologia e arquitetura contemporânea em São Paulo, que, segundo o arquiteto Adrian
Smith (um dos responsáveis pelo projeto no escritório SOM), criasse “uma imagem que
expressasse a natureza tropical da cultura nacional” (FACILITY, 2002, n° 24). Segundo
Smith, esse projeto “é um forte representante do estilo contemporâneo e do alto padrão
internacional de prédios para escritórios”. Durante a fase do anteprojeto, os arquitetos do
SOM visitaram o Brasil para, além de entender o programa, compreender melhor a cultura, a
história e as tradições brasileiras, e assim foram realizadas visitas com o objetivo descrito na
citação a seguir:
“Isso foi importante para dar tom local ao desenho
contemporâneo do edifício. As informações programáticas e culturais
foram sintetizadas, utilizando nossa aproximação com o desenho
esquemático, com o desenvolvimento do projeto e a seleção de
materiais. Isso requereu profundo entendimento das necessidades
do cliente, transformadas em arquitetura”. (SMITH, 2002)
O SOM é um dos maiores representantes do international style americano (estilo de
projetar que tem como base a cultura e os conceitos norte-americanos), como já
observamos em alguns de seus projetos no primeiro capítulo. Por se tratar da sede regional
de um dos maiores bancos americanos, o edifício foi projetado para ser mais um
representante do estilo americano no mundo, e, apesar do depoimento de Adrian Smith de
que o projeto teve que ser “tropicalizado”, esta foi uma das obras de engenharia e
arquitetura mais comentadas dos últimos anos no país, por causa de sua complexidade,
inovação e principalmente impacto visual. O custo total do projeto chegou a 150 milhões de
dólares, entretanto os benefícios para a marca são imensuráveis.
O edifício possui 80.000m² de área construída, distribuídos em três subsolos,
pavimento térreo, 28 andares e um heliponto; sendo que até o 18º pavimento as plantas têm
formato em “L”, e os andares superiores possuem plantas menores em formato retangular.
Há duas baterias de elevadores com zona alta e zona baixa (como observamos em todos os
projetos do SOM nesses trabalhos relatados), com comandos inteligentes e interligados ao
controle de acesso do edifício. A fachada é composta principalmente de alumínio e vidros
importados que reduzem em 45% a emissão de calor para o interior, auxiliando na economia
de energia e na melhoria da qualidade do ambiente de trabalho. Fachada e interiores são
modulados: “a fachada tem estrutura modulada em 4,5metros, equivalentes a duas estações
de trabalho” (PROJETO DESIGN, 2002, n°269, p.48). A “tropicaliza ção” da construção ficou
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
97
principalmente por conta dos materiais de acabamento externos e internos, algumas obras
de arte de Portinari expostas no lobby e dos jardins de Burle Marx.
O layout foi planejado para atender às necessidades do banco e, por isso, cada
pavimento de escritórios tem sua particularidade. O objetivo do banco era ocupar 90%
desses pavimentos com estações de trabalho, que variam de tamanho e o número oscila
entre 80 e 250 por pavimento. A grande maioria das estações é composta por divisórias
baixas do sistema de mobiliário integrado; há salas fechadas para executivos; as salas de
reuniões estão localizadas em quase todos os pavimentos em frente ao hall de elevadores
(assim os visitantes não precisam passar pelo escritório para chegar a elas); os andares da
presidência e vice-presidência possuem acabamento e layout diferenciados. Foram
implantadas áreas de convívio social nos pavimentos inferiores. No térreo há uma agência
do banco, um auditório para o público interno e externo e um coffee-shop que se estende
aos jardins − uma área de bastante descontração. No primeiro pavimento foi instalada uma
praça de alimentação de acordo com as necessidades dos funcionários do próprio banco
relatadas em uma pesquisa interna: possui um boa variedade de pratos para refeição, área
de restaurante com 130 mesas e um terraço ao ar livre
Atualmente o edifício ainda sedia escritórios de um banco, porém não mais do Bank
Boston, mas do Itaú Personalité, embora ainda continue sendo chamado de edifício do Bank
Boston, pelo menos por enquanto.
(1) (2)
Edifício-sede do Bank Boston – 2002 (1) Fachada (2) Planta do 18º pavimento e 25º pavimento
Fonte: (1) PROJETO DESIGN, 2002, n° 269, p.47 (2) P ROJETO DESIGN, 2002, n° 269, p.54
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
98
(3) (4)
Edifício-sede do Bank Boston – 2002 (3) Escritórios abertos (4) Sala de reunião
Fonte: (3) e (4) PROJETO DESIGN, 2002, n° 269, p.52
Também é deste início de século XXI o edifício-sede da Vivo. O projeto do arquiteto
Edo Rocha (2001) está localizado no final da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini e
nasceu mais uma vez da necessidade da empresa em unificar seus escritórios na cidade de
São Paulo − devido à união de três empresas de telefonia móvel. O projeto teve três
premissas estabelecidas ainda durante o concurso:
“1) adequação do edifício às necessidades daquela que viria a
ser a locatária; 2) melhor aproveitamento possível de espaço e
recursos (e conseqüente valorização do aluguel); 3) flexibilidade para
mudanças”. (CUSHMAN, 2004, p.93)
O edifício, inaugurado em 2003, é formado por duas torres de escritórios com
pavimento térreo e mais seis andares interligados por um átrio e um núcleo de elevadores.
Cada torre possui 1.250m² de laje, sem pilares internos e um núcleo central com escadas,
sanitários e áreas de serviço. Essa disposição da arquitetura permitiu boa flexibilidade para
a distribuição do layout e permitiu uma ocupação alternada de “escritórios fechados e
panorâmicos em cada andar, a fim de atender às necessidades operacionais da empresa”.
(PROJETO DESIGN, 2003, n°286, p.46) . O edifício possui infra-estrutura bastante atual:
“Transmissão de dados via fibra óptica, ar-condicionado insuflado pelo piso e elevadores
gerenciados por sistema que administra as viagens”. (PROJETO DESIGN, 2003, n°286,
p.46)
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
99
(1) (2)
Edifício-sede da Vivo – 2003 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo
Fonte: (1) PROJETO DESIGN, 2003, n° 286, p.43 (2) P ROJETO DESIGN, 2003, n° 286, p.47
Em 2006 muitas construções foram iniciadas ou estão quase finalizadas,
principalmente nas regiões da Vila Olímpia e da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini.
Mesmo assim, há relatos de que o próximo centro empresarial de São Paulo será na região
da Marginal Pinheiros: uma área bem mais extensa que as regiões anteriormente descritas,
entretanto ainda com algumas dificuldades de acesso.
Essa tendência para se construir edifícios na Marginal Pinheiros e a idéia de que
esse local seria um futuro novo centro de negócios vem se observando desde a construção
do Cenesp.
“No princípio, era o Centro. Depois foram a Paulista, a Faria
Lima. O futuro, já desencadeado, é a Marginal Pinheiros. O
desenvolvimento comercial da região teve início em 1977, quando o
poderoso grupo argentino Bunge y Born decidiu reunir num só
espaço suas empresas no Brasil (Tintas Coral e Moinho Santista,
principalmente). (...) Hoje, tem-se a impressão que o pioneiro Cenesp
instalou-se no lado errado da Marginal Pinheiros, pois foi na outra
margem que se consolidou o que o mercado imobiliário define como
centro metropolitano do futuro.” (CUSHMAN, 2004, p.106)
Há também uma corrente segundo a qual a tendência para construção de novos
edifícios de escritórios em São Paulo está na região próxima ao edifício do Bank Boston.
Adrian Smith explica que a localização de edifícios de escritórios e o seu desenho
arquitetônico são influenciados por diversos fatores, entre eles leis urbanas, clima local e
tendências tanto da arquitetura local quanto mundial.
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
100
“Em São Paulo, o zoneamento restringe as dimensões dos
edifícios ao máximo de área por piso. Devido a essas características,
a arquitetura paulistana adquire densidade e caráter singular. A
região onde o edifício está localizado representa nova região em
desenvolvimento para uma larga parcela de edifícios de escritórios,
similares a outros existentes em diversas partes do mundo. Esses
prédios são altos e respondem de forma eficiente às exigências
internacionais para edifícios comerciais, de alto padrão. A localização
à margem do rio Pinheiros permite belas vistas a seus ocupantes.”
(PROJETO DESIGN, 2002, n°269)
Diante dos exemplos vistos neste capítulo, percebe-se que a história do mercado
paulistano de arquitetura de edifícios de escritórios corporativos é bastante dinâmica e
geradora de novas tendências, não somente para São Paulo, mas também para o Brasil.
São esses edifícios que pretendem destacar a imagem das empresas através de seu
patrimônio.
Independentemente das vantagens de possuir um único edifício-sede, há empresas
que preferem descentralizar suas atividades, e, apesar de terem uma sede, optam por
escritórios satélites, já que São Paulo é uma cidade enorme, e, dependendo do negócio, é
preciso ficar próximo do cliente ou de algum pólo de negócios. Outro motivo que faz com
que as empresas se descentralizem ocorre quando o edifício onde ela se encontra não
comporta mais seu crescimento, e não há mais espaço suficiente nessa única construção
para atender às suas necessidades funcionais. É o que veremos ainda neste trabalho,
quando verificarmos que o IBM Tutóia, após diversas reformas, não comporta mais todas as
atividades da empresa e por isso está se instalando em outros edifícios da cidade.
Para acompanhar a nova demanda de negócios, e antes mesmo que uma empresa
pense em expansão, são necessárias várias adaptações e modificações dos ambientes
internos que atendam aos novos requerimentos de espaço. Essas transformações estão
sempre alinhadas com a ampliação do mercado específico, com o crescimento da cidade e
do país e com o constante surgimento de novas tecnologias.
Hoje o mercado imobiliário corporativo está bastante aquecido para os próximos
anos. Segundo Léa Lobo, o ano de 2005 apresentou “um importante crescimento do setor
imobiliário comercial”, o qual inclui os escritórios corporativos; e para 2006 “os momentos
prometem ser de crescimento econômico no Brasil (...) um incentivo à ascensão de todos os
setores, inclusive do mercado imobiliário.” (LOBO, 2005, p.4)
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
101
Os escritórios corporativos contemporâneos exigem baixo custo de instalações, da
mesma forma que precisam estar estabelecidos em edifícios flexíveis, com alta tecnologia e
localizados em boas regiões, com infra-estrutura, acesso fácil e meios de comunicação. O
baixo custo das instalações pode ser alcançado através de diversas ações como, por
exemplo, o aumento da densidade de funcionários através da implantação de novas formas
de ocupação. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias auxiliam os controles de ativos dos
escritórios, na infra-estrutura, nas formas de comunicação etc., o que torna necessário que o
escritório sempre invista em tecnologias mais recentes, com o objetivo de alcançar maior
eficiência do edifício a curto ou médio prazo.
Ao projetar um escritório, é primordial entendermos as necessidades da empresa e
as tendências e exigências do mercado de escritórios corporativos para executar projetos de
qualidade e conseguir suportar a demanda de novos espaços.
As construções e disposições espaciais internas precisam estar aptas para receber
diferentes perfis de usuários que exerçam diversas funções (administrativa, técnica ou
executiva), ou que ainda possuam diferentes características físicas ou de gênero (portador
de necessidade especial, homem ou mulher etc.). A divisão da organização nos escritórios
agora é feita de acordo com a necessidade espacial que cada ser humano necessita para
exercer determinada função, e não mais somente por hierarquia.
Para enfrentar a competitividade e reduzir custos com instalações, há uma grande
tendência nas empresas para criação e manutenção de espaços compartilhados por
diversos profissionais, otimizando, além do custo, a funcionalidade dos escritórios. O espaço
compartilhado caracteriza-se pela implantação de ambientes com estações de trabalho “sem
dono”, ou seja, onde uma estação poderá ter diferentes funcionários a cada momento da
sua utilização. Eles devem ter características impessoais, para poder receber qualquer
pessoa que ao exercer seu trabalho não precise estar fisicamente no escritório. Ao mesmo
tempo, o funcionário é questionado se ele precisa trabalhar dentro das instalações da
empresa ou se ele pode trabalhar em casa, já que com o avanço da tecnologia e
dependendo de sua função ele tem capacidade de exercer suas tarefas em qualquer lugar.
O home office, por exemplo, é um conceito de espaço, como o próprio nome diz, em
que o funcionário pode trabalhar no escritório em sua casa, oferecendo-lhe tanto a
flexibilidade de horário no trabalho como o gerenciamento de sua vida pessoal e
profissional. Por outro lado, a empresa deve prover o funcionário que trabalha em home
office equipamentos e infra-estrutura de comunicação suficientemente bons para a
execução de suas tarefas distante da empresa e continuar responsável pela qualidade do
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
102
ambiente de trabalho, mesmo que este seja na casa do funcionário (o que pode gerar
alguns problemas trabalhistas). Apesar de bastante conhecido e flexível, este conceito ainda
não é amplamente utilizado pelas empresas, principalmente por causa das dificuldades em
se conseguir uma boa infra-estrutura nas casas brasileiras, com custos acessíveis e boa
qualidade. Especialistas na área, como Tomás Berlanga, acreditam que o home office é
permanente e irreversível, mesmo que não atinja um número expressivo de funcionários por
falta de infra-estrutura nas cidades brasileiras (mesmo nos grandes centros urbanos).
“Os centros urbanos não agüentam mais o caos existente, e há
centenas de tarefas que não requerem a presença física no
escritório. A grande questão é a qualidade de vida quanto ao
gerenciamento do tempo, poder estar em casa. Mas,
fundamentalmente, está o marketing dizendo que devemos ficar mais
próximos do cliente: cada vez mais o mercado exige personalização
no atendimento. Essa proximidade traz mudanças sociais e
comportamentais. (...) Em São Paulo são 5 milhões de automóveis,
um para cada duas pessoas. Mais e mais prédios estão sendo
construídos na avenida Luiz Carlos Berrini, mas a infra-estrutura
continua a mesma. Isso é o caos.” (BERLANGA, 2000, p.11)
Sempre que escritórios contemporâneos são citados, fala-se em versatilidade do uso
de espaços imposta pela flexibilização das relações de trabalho, que precisa ser bastante
dinâmica, não tanto quanto à flexibilização dos espaços de escritórios, que, devido às
instalações elétricas e de telecomunicações, ainda precisam ser fixas a um local. Entretanto,
as novas tecnologias já estão auxiliando a flexibilidade dos espaços e diminuindo a rigidez
das estações de trabalho. Percebemos isso através das instalações de rede wireless, que
funciona por meio de sinais de transmissão e não precisa de cabeamento; ou da utilização
de laptops, que podem ser levados a qualquer lugar, além de possuírem um tempo
específico de bateria que permite o seu funcionamento por mais de três horas.
Enquanto dependemos da rigidez do layout, a sua flexibilidade também pode ser
implantada através da estação de trabalho compartilhada, que pode ser utilizada em tempo
alternado por diferentes funcionários. São ideais para ocuparem este tipo de espaço
pessoas que viajam muito e precisam estar em diversos lugares, ou exerçam alguma
determinada função – como consultoria e vendas –, que faz com que elas precisem estar
fora do escritório central da empresa, ou ainda que possuam trabalho temporário ou em
regime de tempo parcial. Elas recebem ferramentas específicas para realizarem suas
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
103
funções em locais de postos de trabalho compartilhados. Novamente, a tecnologia
(softwares, mídias eletrônicas etc.) auxilia e determina novas condições de trabalho.
Este conceito, que vem crescendo e criando raízes, principalmente entre 2000 e
2005, possui várias denominações, dependendo do país ou da empresa. Segundo Claudia
Andrade, existe o conceito de hoteling, que ela assim o define:
“Como o próprio nome sugere, está baseado nos serviços
oferecidos nos hotéis. Criado para atender a necessidade da média e
alta gerência, que viaja freqüentemente ou se encontra fora de sua
base de trabalho, este conceito é utilizado pelas empresas em suas
filiais ou escritórios situados em bairros mais distantes ou periféricos
da cidade. (...) São montados com foco no recebimento de clientes e
visitantes, para que funcionários atendam a esses clientes com todo
o suporte e conforto necessários. Para utilizá-los é preciso reservar a
sala com antecedência.” (ANDRADE, 2000, p.50-51)
Outro conceito de escritório flexível e utilizado por mais de um funcionário, também
segundo Claudia Andrade, é o free address, por ela assim definido:
“Conceituado para atender à gerência e ao restante dos
funcionários que despendem boa parte de seu tempo realizando
serviço fora da empresa, o free address pode ser caracterizado por
uma área repleta de estações de trabalho abertas para o uso
eventual. Ao chega,r o funcionário dirige-se a um computador que
representa a planta do pavimento com as estações disponíveis.
Através de um sistema touch screen, o funcionário informa qual a
estação de trabalho que irá ocupar. Automaticamente o sistema de
voz e dados é ativado para que o funcionário possa realizar suas
atividades o tempo que for necessário”. (ANDRADE, 2000, p.53)
Claudia Andrade ainda descreve um último e mais complexo escritório
compartilhado, o red carpet club:
“Sua configuração agrega componentes dos dois últimos
conceitos – hoteling e free address – conjugados com uma área de
convívio social intenso. (...) Haverá espaços compartilháveis para
trabalhos privados, tais como as salas fechadas do conceito do
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
104
hoteling, espaços abertos do tipo free address e espaços para
reuniões e conferências”. (ANDRADE, 2000, p.54-55)
Nesta pesquisa trabalharemos com o conceito de escritório compartilhado utilizado
no IBM Tutóia: o mobility. Este conceito consiste na implantação de um grupo de estações
de trabalho que podem ser compartilhadas em um dia por até quatro funcionários diferentes
em horário alternados. Para isso, o funcionário que for “elegível” à utilização do espaço
mobility deve exercer uma função de consultoria ou vendas e que requeira que ele
permaneça apenas 25% do seu tempo de trabalho na empresa. A IBM no Brasil implantou o
conceito de mobility em 1998, no IBM Tutóia, somente para funcionários de vendas. Em
2000, ela implantou o segundo centro de mobility no mesmo edifício para funcionários da
área de consultoria, só que nesse caso o funcionário só permanecia na empresa cerca de
15% do seu tempo de trabalho, por isso sua estação de trabalho podia ser compartilhada
por mais seis profissionais. No final de 2005 a empresa possuía 914m² de espaço útil
destinado somente às estações e armários de funcionários mobility (Arquivo IBM). Deste
total, 617m² estão localizados no edifício da sede da empresa em São Paulo, 271m² nos
escritórios do Rio de Janeiro e 26m² nos escritórios de Brasília. Somente em São Paulo há
602 funcionários que utilizam o espaço, ou seja, é 1,03m² ocupado por funcionário neste tipo
de ambiente, resultando em um altíssimo ganho de espaço e de custo. Veremos mais
detalhes desse conceito nos próximos capítulos.
O especialista no assunto Tomás Berlanga acredita que o hoteling, o free address e
outros conceitos de espaços compartilhados são modismos de época, como descrito na
citação a seguir.
“Alguém gera uma nova idéia, até com boa intenção, mas o
resultado não é o esperado. Uma pessoa que está na empresa
temporariamente, que não tem seu espaço de trabalho, sua
escrivaninha, digamos assim, sente que não é parte da empresa.
Como essa situação gera instabilidade, algumas empresas já estão
corrigindo o hoteling”. (BERLANGA, 2000, p.11)
Cabe ao profissional que está projetando o espaço junto com o empresário ou
executivo identificar a necessidade de tempo desses funcionários de trabalharem na
empresa ou fora dela. O sucesso do programa de mobility na IBM é fruto de alguns fatores:
1. facilidade de comunicação entre funcionário e qualquer pessoa da empresa através de
tecnologia (computadores de última geração, softwares adequados e celulares);
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
105
2. grande rotatividade entre profissionais desta área (cada hora estão em um cliente ou em
um projeto diferente);
3. dinâmica das atividades exercidas por estes profissionais;
4. tecnologia adequada (todos sistemas de dados e voz são automatizados);
5. instalações apropriadas (o espaço não se restringe à estação compartilhada, há também
armários e arquivos dedicados a estes profissionais).
Podemos dizer que os escritórios do século XXI abrem suas portas guiados por:
1. flexibilidade dos ambientes de trabalho e seus componentes, para que o escritório possa
atender “aos diversos tipos de atividade, possibilitar os contatos e suportar as mais
inovadoras idéias”. (ANDRADE, 2004)
2. inovações tecnológicas, fruto de anos de experiência;
3. comunicação, integração e agilidade no fluxo de informações;
4. ergonomia, bem-estar, qualidade de vida, necessários para melhor produtividade do
funcionário no ambiente de trabalho.
O escritório corporativo e contemporâneo de São Paulo deve, antes de mais nada,
procurar localizar-se em um edifício inteligente; seu interior pode possuir características que
estão relacionadas à arquitetura de sua construção, assim como a construção está sendo
pensada para justificar a integração da arquitetura corporativa. O planejamento de uma
arquitetura de escritórios integrada deve prever que todos os elementos relativos ao espaço
sejam planejados para tornar o ambiente coerente em sua totalidade.
Há uma grande dicotomia neste conceito: ao mesmo tempo que projetos de
escritórios contemporâneos seguem conceitos, regras e utilizam produtos pré-fabricados;
eles também precisam atender às necessidades do indivíduo, da empresa específica, das
novas tecnologias, através de um mobiliário diferenciado ou de um espaço físico inovador.
Por isso é valorizado o projeto único, criativo, humanizado e diferenciado dos demais, pois
as empresas se renovam dia a dia. Entretanto, nada é feito para ser provisório, e, ao
executar o projeto, é comum observar a volta de conceitos originais, como a padronização
máxima do desenho e das especificações de infra-estrutura e acabamentos.
No Brasil, há uma mistura dos modelos de escritórios europeu − panorâmico − e
norte-americano − panorâmico com mobiliário integrado. Ainda há muitos escritórios
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
106
corporativos com diversas salas fechadas para chefes e executivos e com um grande salão
para funcionários dispostos em cubículos de trabalho determinados por sistemas de
divisórias.
“Os norte-americanos estão muito voltados para a gestão
empresarial e os europeus estão mais ligados na ecologia. Quando
surge a ISO 14 000, e toda a problemática ambiental, diria que os
países europeus (..) estão levando mais a sério a questão ambiental,
não só externa, como também interna. Surgiram novos edifícios na
Europa recentemente, especificamente em Berlim (...), nos quais há
uma humanização geral da própria arquitetura. Está se saindo da
arquitetura fria ou metálica para a arquitetura comercial, porém com
características mais orgânicas. Voltam o tijolo e as texturas, por
exemplo.” (BERLANGA, 2000, p.9)
O escritório corporativo contemporâneo sempre foi guiado pelas mudanças operadas
pela tecnologia de informação incorporada aos componentes do edifício, e são elas que
alteram o conceito de planejamento de espaço e gestão empresarial. O grande desafio é
como criar edifícios que sejam ao mesmo tempo sustentáveis, econômicos, com flexibilidade
espacial e com alta tecnologia. É preciso investir em tecnologia para economizar custos.
As mudanças que estão ocorrendo nos edifícios contemporâneos decorrem da
análise de sua forma e dos novos materiais, que incorporam dispositivos autocontroláveis,
como, por exemplo, vidros autolimpantes, fotocélulas instaladas nos vidros da fachada etc.
A tecnologia está avançando e precisando cada vez menos que os sistemas de mobiliário a
suportem, como é o caso das redes wireless e VOIP, e das baterias de equipamentos que
estão substituindo a rede elétrica, mesmo que temporariamente, pois elas duram cerca de
duas a três horas sem energia elétrica. Assim, as funções atuais das divisórias de postos de
trabalho são basicamente a acústica e a segregação; por isso, esses sistemas podem ter
uma espessura menor e receber novos tipos de revestimento, como, por exemplo, o vidro.
O mobiliário, como principal elemento visual e integrador em um escritório, é a malha
por onde as pessoas andam, trabalham, convivem. Este dinamismo no surgimento de novas
tecnologias, novas formas de trabalho, faz com que bons projetos tornem-se obsoletos,
cada vez mais em menos tempo.
“Não é mais possível projetar um espaço sem conhecimento do
que acontece na empresa e nas novas tecnologias (...). Hoje as
coisas caminham com mais velocidade. A cultura de cada país, seus
CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO
107
usos e costumes, sua noção espacial, a forma como trabalham os
espaços influenciam tanto sistemas de mobiliário como de
planejamento espacial. O mercado norte-americano possui
particularidades, em contraposição aos europeus, que têm todos os
modelos, tanto em sistemas de mobiliário como em layout espacial.”
(BERLANGA, 2000, p.8-9)
O profissional de planejamento de escritórios deve estar profundamente ligado à
questão empresarial, e no Brasil a dificuldade está não somente na formação do arquiteto
(que dificilmente possui o conhecimento de uma gestão empresarial), mas também no valor
que as empresas dão à concepção de um bom projeto de arquitetura e numa boa gestão de
espaços de escritórios. Como nosso estudo é baseado em grandes corporações que
possuem edifícios inteiros de escritórios da própria empresa, a maioria delas valoriza o
profissional da arquitetura de escritórios (seja ele arquiteto, space planner, facility,
engenheiro etc.) Nosso foco será então oferecer ao profissional arquiteto fontes para a
realização de um trabalho melhor, pois sua formação é altamente técnica.
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
108
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
“Good design is good business.” (Um bom design é um bom
negócio) (Thomas Watson Jr., in WATSON, 1975, p.8)
Nosso propósito neste capítulo é demonstrar a importância que a IBM dá a seus
espaços de escritórios e relacionar algumas idéias que ela disseminou através deles..
Para entender os critérios que a empresa utilizou em suas construções, será
observada a importância que a cultura da empresa confere ao design e à arquitetura do
ambiente de trabalho. Na seqüência veremos: a história da IBM no Brasil com foco na
construção de seus edifícios; os padrões de espaço e os conceitos de ocupação que a
empresa adota.
Depois serão apresentados alguns de seus escritórios nos Estados Unidos e no
Brasil, a fim de exemplificar os padrões de organização de espaço. Vamos destacar os
aspectos relacionados à ocupação destes edifícios que do ponto de vista corporativo
representaram inovações para sua época e que, de alguma forma, foram seguidos no Brasil.
3.1 A CULTURA DA EMPRESA
A IBM é uma empresa de destaque no setor de tecnologia de informações e pode ser
considerada uma companhia tradicional, com uma forte relevância histórica, embasada em
aspectos econômicos e sociais. Ela impulsionou grande parte do desenvolvimento
tecnológico industrial do século passado e foi pioneira nos tipos de atividades exercidas com
recursos humanos e valorização de patrimônios históricos, especialmente no Brasil.
A empresa possui uma forte cultura organizacional, que, paralelamente a estratégias
bem-sucedidas, reafirmou seus valores, formas de comportamento e melhores práticas.
Segundo Claudia Andrade, a cultura organizacional é um “código genético” da empresa, o
qual define condições ou regras básicas que buscam a solução ou a convivência de
problemas de adaptabilidade externa e integração interna (ANDRADE, 2005, p.3.6). De
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
109
acordo com ela, a diferença entre empresas bem-sucedidas e empresas malsucedidas está
na cultura.
“A cultura organizacional é valiosa porque fornece ao indivíduo
um panorama pelo qual ele irá se mover em seu trabalho.
Consistência e coerência se transformam em práticas com os
mesmos princípios. Geralmente os modelos de pensamento e
comportamento se espelham naqueles fundadores cujos sonhos,
hábitos, recursos e capacidades de trabalho geraram os modelos de
negócios-base da organização.” (ANDRADE, 2005, p.3.9)
A preocupação da empresa com o bom design é antiga. Thomas J. Watson Jr.
(1914-1993), filho do fundador da empresa, Thomas J. Watson Sr. (1874-1956) e que
também a presidiu entre 1956 e 1971, foi o precursor da cultura good design is good
business (um bom design é um bom negócio). Este padrão de comportamento está presente
na empresa até os dias atuais e foi trazido para o Brasil através de processos de
gerenciamento de espaço, documentos e regras internas, como, por exemplo, o IBM Design
Standard (Padrões de Design da IBM), que inclui modelos de dimensões de mobiliário,
sinalização, acabamentos, entre outros.
É notório que a cultura do bom design dentro da empresa é uma das razões do seu
sucesso ao longo dos anos, já que a companhia acredita que uma corporação que destaca
seu valor oferece oportunidades de desenvolvimento para si própria, para seus funcionários
e para a sociedade em que está inserida. Segundo Watson, “we also know that you have to
pay a premium for good design, but that premium is paid back as many different benefits to
the corporation in its activities”. (WATSON, 1975, p.8) (Nós também sabemos que se paga
um alto valor por um bom design, mas este investimento retorna através de muitos
diferentes benefícios para as atividades da corporação.) Para constatar este retorno, basta
observar o peso que a marca tem na história do desenvolvimento da tecnologia no mundo.
As propagandas e reportagens da IBM no Brasil na década de 1990 demonstravam que a
empresa evoluiu não somente na tecnologia, mas também no design: os
microcomputadores que surgiam na época eram modernos, leves e bonitos. Ainda hoje a
imagem da IBM está relacionada com o bom design e as artes em geral: até na propaganda
vinculada em revistas nacionais em 2005 a empresa mostra que na chamada era on
demand (sob demanda) a tecnologia continua influenciando a arte e seus espaços.
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
110
(1) (2)
(1) Matéria sobre microcomputadores IBM (2) Propaganda da IBM em 2005 – MoMA On Demand
Fontes: (1) DESIGN INTERIORES, 1994, n° 40, p.56-57 (2) VEJA, 2005, n°26
A partir da década de 1950, Watson começa a se preocupar com o design não
somente das máquinas, mas também da arquitetura de seus edifícios, do interior nos
ambientes de trabalho e nos showrooms36. Nesta época, a empresa criou departamentos
que tinham como objetivo modificar ou criar o design de suas peças e de seus escritórios na
medida em que julgassem necessário, para tornar tudo mais atrativo e mais consistente com
o produto e a imagem que a empresa precisava passar. Era importante estabelecer uma
conexão entre o ambiente de trabalho e os objetivos organizacionais. Durante a gestão de
Thomas Watson Jr., a empresa construiu no mundo 150 prédios, entre fábricas, laboratórios
e edifícios de escritórios. Sempre que um novo prédio precisava ser construído o
departamento de design responsável selecionava bons e famosos arquitetos para realizar o
projeto: entre eles estavam nomes bastante conhecidos por nós, como Ludwig Mies van der
Rohe e os arquitetos dos escritórios SOM.
Com princípios rígidos de trabalho e disciplina, a empresa se destacou pela forte
cultura corporativa, disseminada a todos seus funcionários ao redor do mundo. Ao se
preocupar com o ambiente construído, a IBM sempre ofereceu edifícios de escritórios
marcantes, com segurança, ambientes motivacionais e uma arquitetura e design que
sempre foram inovadores, independentemente da época em que foram construídos.
No Brasil, especialmente na época da construção do edifício IBM Tutóia, a empresa
encontrava-se em uma fase de grande crescimento dos negócios no cenário nacional.
Conseqüentemente ela estabeleceu um plano de expansão para o qual foram comprados
vários terrenos, contratados diversos escritórios de arquitetura, construtoras etc., com o
36 Showroom: local de exposição e mostra de produtos.
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
111
objetivo de construir edifícios em diversos locais do país, sempre de acordo com sua
política organizacional.
Esta política previa que todos os edifícios construídos deveriam possuir as mesmas
características arquitetônicas e os mesmos conceitos de ocupação, que visavam sempre à
construção de instalações de última geração. Assim, observa-se a preocupação da empresa
em ter coerência entre a sua imagem no mercado em que atua, “moderna e solucionadora
de problemas, e sua imagem externa, no caso os edifícios, que devem demonstrar
racionalidade e funcionalidade”. (IBM Notícias Brasileiras, 1973, p.6)
“As novas sedes (...) seguem uma mesma norma: obter grandes
áreas abertas, livres de colunas, para assegurar flexibilidade nas
instalações. Da mesma forma, serão usados nos edifícios os
mesmos materiais de acabamento (...). O objetivo desta norma é
conseguir uma arquitetura moderna, funcional e racional, sem luxo
ou ostentação.” (IBM Notícias Brasileiras, 1973, p.6)
Até hoje a existência desse departamento responsável pelo programa de ambientes
de escritórios, inclusive no Brasil, é imprescindível para disseminar um bom local de trabalho
e um bom design em seus escritórios, sem o qual ela correria o risco de cair na mesmice de
seus ambientes de trabalho. Ao planejar ou cuidar dos escritórios da empresa, estes
profissionais consideram normas internas da empresa e normas locais (do país e da cidade
onde os escritórios estão instalados), sempre levando em consideração possíveis variáveis
das necessidades do ser humano no ambiente de trabalho. Segundo Watson, “in all cases,
the design plan is there only because people are there”. (WATSON, 1975, p.11) (Em
qualquer caso, o plano de design só existe porque as pessoas existem.)
Andrade identificou “três elementos-chave do ambiente de trabalho, por meio dos
quais a cultura organizacional se manifesta”. (ANDRADE, 2005, p.3.11). São eles:
1. formalidade versus informalidade: são as características expressas no partido
arquitetônico, nos materiais de acabamento e no estilo empregado e que também
podem ser observados nos dois próximos elementos;
2. padronização do espaço: compreende a definição dos componentes do layout
(estações de trabalho, circulações, salas de reuniões, áreas de convivência, locais
de armazenamento etc.) e as formas como esses componentes estão organizados;
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
112
3. conceito de ocupação: é a definição das características do espaço (dimensões da
estação de trabalho ou sala, tipo de mobiliário etc.) que cada profissional da empresa
irá ocupar de acordo com o seu nível hierárquico ou de acordo com a sua função.
Vamos a seguir analisar esses três elementos nos escritórios da IBM no Brasil. O
primeiro será observado através de um pouco da história da empresa no Brasil com foco na
construção de seus escritórios. O segundo e o terceiro serão um pouco mais detalhados e
eventualmente será realizado um paralelo com alguns escritórios.
3.2 A IBM NO BRASIL
A empresa começou a atuar no Brasil em 1917, com o nome de Computer-
Tabulating-Recording Company (CTR), através de um escritório de representações no Rio
de Janeiro após ter estabelecido um contrato com a Diretoria de Estatística Comercial para
a apuração do Censo brasileiro de 1920 (IBM, 1997, p.23). Em 31 de dezembro de 1924 o
nome International Business Machines Corporation (IBM) foi adotado pela empresa, já
definitivamente estruturada no Brasil.
Ela chegou ao país na época da Primeira Guerra Mundial, quando a economia do
país, que era baseada na fabricação e exportação de café, enfrentava uma crise, já que o
mercado externo estava praticamente paralisado por causa da guerra.
“Em decorrência do conflito e da necessidade de substituir
importações, verificava-se um ambiente relativamente próspero no
âmbito da indústria nacional.(...) O desenvolvimento industrial e o
acelerado processo de urbanização e complexidade das atividades
daí decorrentes foram fatores extremamente favoráveis à instalação
no país de empresas como a CTR.” (IBM, 1997, p.21)
Primeiramente, a empresa se instalou na então capital federal, a cidade do Rio de
Janeiro, em locais não identificados. O início da década de 1930 registrou que “no setor de
processamento de dados intensificaram-se as experiências com invenções eletrônicas”.
(IBM, 1997, p.32) Por causa das grandes mudanças econômicas, políticas, sociais e
principalmente tecnológicas daquela época, em 1931 a empresa inaugurou sua primeira filial
no território nacional, em São Paulo.
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
113
“Além de estabelecer contratos com órgãos públicos estaduais e
municipais, a filial de São Paulo foi responsável pela administração
do início das atividades propriamente industriais da empresa no
Brasil. Ainda em 1931, começaram a ser produzidos na fábrica do
Bom Retiro, em São Paulo, cartões para perfuração, peças para
máquinas elétricas de contabilidade e para relógios de ponto e de
registro de tempo. Apesar da precariedade das instalações, esse
incipiente processo de fabricação registrou constante crescimento,
atendendo satisfatoriamente às demandas do mercado nacional
naquele período.” (IBM, 1997, p.33)
Em 1933 (IBM, 1997, p.33) foram abertas mais cinco filiais ou representações no
país: Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Niterói. Por volta de 1936, começou a
construção de uma fábrica em Benfica no Rio de Janeiro,
“idealizada para substituir as instalações de São Paulo, que
estavam com sua capacidade totalmente saturada. A obra consumiu
cerca de três anos, vindo a nova unidade a ser inaugurada em 1939”.
(IBM, 1997, p.34)
(1) (2)
Fábrica de Benfica, Rio de Janeiro – 1933 (1) Vista aérea (2) Entrada da fábrica
Fonte: (1) IBM, 1997, p.40 (2) IBM, 1997, p.71
Com instalações industriais apenas no Rio de Janeiro, de 1939 até 1960 (IBM, 1997,
p.40) a empresa manteve seus negócios no país através de filiais. Os escritórios eram
espaçosos, com mobiliários robustos de aço, e a distribuição lembrava o taylorismo, com
uma mesa atrás da outra e supervisores ao redor. Através de relatos de funcionários mais
antigos, sabe-se que nessa época a grande maioria dos trabalhadores da empresa eram
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
114
homens, as poucas mulheres ocupavam cargos de suporte, como secretárias, datilógrafas e
telefonistas. Dos homens era exigida uma aparência impecável e coerente com a imagem
séria e de respeito que a empresa queria passar, e para isso todos vestiam terno azul, uma
analogia à cor da empresa.
(1) (2) (3)
(1), (2) e (3) Escritórios da IBM no Brasil até a década de 1960
Fonte: (1) e (2) IBM Notícias, 1975, p.10 (3) IBM Notícias, 1975, p.11
As salas de reunião e treinamento eram muito utilizadas, e o que se pode ver em
todas as fotos da época são apenas homens nesses locais. As áreas para disposição de
máquinas de processamento de dados e grandes computadores eram muito amplas, com
piso frio e luminárias suspensas, e para cada computador havia um supervisor.
(1) (2)
(1) e (2) Escritórios da IBM no Brasil até a década de 1960
Fontes: (1) IBM Notícias Brasileiras, 1972, p.6 (2) IBM, 1997, p.54
Acompanhando a velocidade do desenvolvimento brasileiro desse período, esta foi
uma época de crescimento para empresa. Relógios de pontos, relógios para registro do
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
115
tempo (entre eles o relógio do Parque do Ibirapuera em São Paulo e o relógio da Central do
Brasil no Rio de Janeiro), máquinas de calcular, máquinas de processamento de dados,
computadores, máquinas de escrever etc., todos esses equipamentos que, entre outros
aspectos, auxiliam no desempenho do trabalho em escritórios eram fabricados em Benfica.
Considerando que a demanda por essas máquinas na época era enorme e levando-se em
conta a pouca concorrência neste setor, a empresa foi construindo novas edificações no
terreno da fábrica em Benfica até chegar a sua completa saturação em meados da década
de 1960.
“A diversificação e a complexidade dessas atividades, aliadas à
urgência na modernização da administração pública, impunham uma
demanda cada vez maior por recursos de processamento de dados.”
(IBM, 1997, p.60)
Na década de 1960, os escritórios filiais ao redor do país eram diversos e foi nessa
ocasião que a alta gerência da companhia sentiu necessidade de construir novos prédios e
um complexo industrial.
No Brasil, o departamento da empresa responsável pelos escritórios e novas
construções surgiu em janeiro de 1970 com o nome de Divisões de Construções e Bens
Patrimoniais (IBM Notícias Brasileiras, 1971, p.10) em razão da demanda de criação de
novos espaços que abrigassem os escritórios da empresa em constante crescimento. Os
responsáveis pelos estudos financeiros e pelas orientações técnicas a empresas de
engenharia e arquitetura nesta época, passaram a ter uma atuação enorme, já que nos anos
subseqüentes surgiriam muitas novas construções da empresa no país.
Para a construção de edifícios no Brasil, a IBM também contou com famosos
arquitetos, entre eles destacam-se: Henrique Mindlin, que projetou a fábrica de Sumaré,
Claudio Cavalcanti, que projetou o edifício da IBM em Brasília e Belo Horizonte, e CA&G,
que projetaram a IBM Tutóia, entre outros.
A primeira sede própria no Brasil, e em toda a América Latina, foi inaugurada em 5
de agosto de 1971 na região da Cidade Alta na cidade de Salvador (IBM Notícias
Brasileiras, 1971, p.4), numa época em que o estado da Bahia se encontrava em franca
expansão.
“A decisão da IBM em adquirir essa sede própria se deve ao fato
de ser, em termos de investimento, muito melhor construir suas
próprias dependências, atendendo às suas próprias necessidades.
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
116
Isto permite uma flexibilidade para o crescimento da companhia,
assim como ajuda a estabelecer uma imagem da IBM no nordeste
brasileiro.” (IBM Notícias Brasileiras, 1969, p.5)
O projeto dos escritórios de Alvarez e Pontual Arquitetos (IBM Notícias Brasileiras,
1969, p.5), que uniu todos os escritórios filiais da empresa na cidade em um único endereço,
possuía 2.835m² distribuídos em um subsolo e sete pavimentos de escritórios.
(1) (2)
Edifício IBM Salvador – 1971 (1) Detalhe do topo do edifício em construção (2) Fachada no dia da inauguração
Fonte: (1) IBM Notícias Brasileiras, maio-1971, p.13 (2) IBM Notícias Brasileiras, agosto-1971, p.4
No final da década de 1960, a empresa chamou o arquiteto Henrique Mindlin (IBM:
The Buildings of IBM, 2005) para projetar o novo complexo industrial. Levando-se em
consideração a disponibilidade de terrenos com grandes dimensões e com custos
apropriados, proximidade de fornecedores e consumidores e facilidade de comunicação e
transporte, decidiu-se que a segunda unidade industrial da empresa no país seria localizada
no então distrito de Sumaré, hoje município de Hortolândia, no interior de São Paulo.
“A fábrica da IBM do Brasil, em Sumaré (...) não parece uma
indústria, mas um escritório moderno: não emanam gases, não há
barulho nem oscilações de temperatura ambiente.” (EXAME, 1984,
p.6).
A fábrica de Sumaré começou a ser construída em julho de 1970 (IBM, 1997, p.72), e
em 1971, antes da inauguração oficial, já estava em operação. Seu terreno tinha
1.000.000m² e sua área construída era de 45.000m² na inauguração. Em 1984 a fábrica de
Sumaré possuía 1.220 profissionais (EXAME, 1984, p.6), que ocupavam menos de um terço
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
117
dos 45.000m² de área construída. Até 2005 todas as áreas de fábrica foram transformadas
em escritório ou CPD37 e 3.000 profissionais ocupam mais de 55.000m². Alinhada com as
novas exigências do mercado (flexibilidade, baixo custo das instalações, novos conceitos de
ocupação etc.), a densidade aumentou muito: passou de aproximadamente 37m² para 18m²
por pessoa.
(1) (2)
Fábrica de Sumaré, São Paulo – 1971
(1) Foto da entrada do prédio principal – 1975 (2) Vista aérea do complexo – 2001
Fontes: (1) Arquivo IBM (2) IBM Notícias, 1975, p.12
(3) (4)
Fábrica de Sumaré, São Paulo – 1971 (3) Área de estoque no prédio principal – década de 1970
(4) Foto da mesma área agora com escritórios – 2005
Fontes: (3) IBM Notícias Brasileiras, 1972, p.5 (4) Arquivo IBM
Essa foi a época do “milagre brasileiro” (1968-1973) (IBM, 1997, p.78). Entre 1972 e
1981 (IBM, 1997, p.82), o crescimento do mercado de computadores e o alto grau de
complexidade dos negócios fizeram com que nesta década a empresa aumentasse seus
37 CPD: Centro de Processamento de Dados.
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
118
investimentos ao redor do país, principalmente na expansão e na modernização de suas
instalações.
“Foram inauguradas novas sedes de filiais, em prédios próprios e
projetados exclusivamente para esse fim, em Fortaleza (1976), Porto
Alegre (1976), Recife (1977), São Paulo (1977) e Brasília (1981),
além do Centro Educacional Residencial da Gávea (1976), na Gávea
Pequena, e o edifício-sede (1980), na avenida Pasteur, em Botafogo
– ambos no Rio de Janeiro. Grandes investimentos foram também
dirigidos ao aprimoramento dos processos administrativos e
operacionais da empresa, que se tornavam cada vez mais
complexos.” (IBM, 1997, p.82 e p.87)
(1) (2)
(1) Edifício da IBM em Fortaleza – 1976 (2) Edifício da IBM em Porto Alegre – 1976
Fonte: (1) IBM, 1997, p.83 (2) IBM, 1997, p.84
(3) (4)
(3) Edifício da IBM em Recife – 1977 (4) Edifício da IBM em São Paulo – 1977
Fonte: (3) IBM, 1997, p.84 (4) IBM, 1997, p.85
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
119
(5) (6)
(5) Edifício da IBM em Brasília – 1981 (6) Edifício da IBM no Rio de Janeiro – 1980
Fonte: (5) IBM, 1997, p.85 (6) IBM, 1997, p.86
Também foram construídos alguns centros de treinamento, entre eles em 1972, o
Centro Educacional da Divisão Técnica de São Paulo e o Centro Educacional Residencial
da Gávea no Rio de Janeiro (IBM, 1997, p.100-101), o qual mereceu destaque interno na
época:
“(...) o Centro Educacional para Executivos (...) terá
características de arquitetura bastante avançadas, pois nessa
dependência serão ministrados cursos sobre os mais avançados
conceitos do campo tecnológico; havendo perfeito entrosamento
entre os assuntos tratados e o ambiente.” (IBM Notícias Brasileiras,
1973, p.6)
Esse centro de treinamento do Rio de Janeiro formava um conjunto de edificações
que foi inaugurado em 9 de setembro de 1976, em uma área de 260.000m² na Estrada das
Canoas e foi.projetado pelo escritório de arquitetura Pontual Associados em 1972 (XAVIER,
1991, p.159). Duas principais construções, uma residencial com 3.432m² de área útil, e
outra educacional, com 2.168m², eram interligadas por uma passarela. O bloco residencial
possuía três pavimentos com 62 apartamentos individuais, restaurante, área de estar e
jogos. No bloco educacional havia dois pavimentos com um auditório (com 73 lugares), trinta
salas de aula (equipadas com a mais moderna tecnologia), uma biblioteca e escritórios para
instrutores. Outras construções periféricas abrigavam recepção, sauna e vestiários próximos
à piscina. Todo o interior foi reformado em 1992 pelo escritório Janete Costa (DESIGN
INTERIORES, 1994, n° 42, p.77): o conjunto hoje não pertence mais à empresa, mas ainda
é conhecido por muitos como o mais famoso Centro de Treinamentos da IBM no Brasil.
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
120
(1) (2)
Centro Educacional Gávea, Rio de Janeiro –1976 (1) Fachada do bloco residencial
(2) Interior de uma das salas de treinamento
Fontes: (1) PROJETO, 1994, n°171, p.L.3 (2) IBM, 19 82, p.28
Na década de 1980 a IBM Brasil possuía instalações próprias em diversos estados
brasileiros. Até então, em qualquer escritório da empresa no Brasil, em qualquer cidade, era
possível identificar o mesmo tipo de ambiente, demonstrando unidade de integração mesmo
para escritórios tão distantes uns dos outros. Mas como a velocidade com que surgem
novos produtos e tecnologias faz com que os escritórios mais recentes se tornem comuns:
atualmente a empresa não possui todas suas instalações com o mesmo visual e infra-
estrutura nem tão pouco com a mesma tecnologia de rede de dados. Há padrões que são
rigidamente seguidos, mas não havia mais como padronizar acabamentos ou dimensões de
espaços e postos de trabalho durante um período tão longo (mais de uma década).
Ainda nos anos 1980 a IBM no Brasil se viu confrontada com inúmeros desafios e
buscou soluções criativas para superá-los. Às dificuldades decorrentes das duras regras
impostas pela reserva de mercado – a empresa passou por problemas financeiros devido à
forte concorrência com a entrada dos microcomputadores – somavam-se outras, derivadas
da instabilidade que caracterizou a economia brasileira ao longo de praticamente todo o
período.
Como conseqüência, durante a década de 1990 a empresa tomou a decisão de se
desfazer de alguns de seus prédios próprios (no Brasil e no mundo), a fim de poder
acompanhar as novas exigências de mercado. Para isso era preciso sair dos prédios
próprios, com grandes espaços e alto custo de manutenção, para ocupar prédios alugados,
com espaços mais densos e baixos custos das instalações. Ocorreu então uma grande onda
de reformas e mudanças de endereços de seus escritórios. Foi a oportunidade que a
empresa teve de modernizar suas instalações, implantar novos padrões organizacionais e
novos conceitos de espaço, bem mais modernos. Esses conceitos no Brasil foram criados
CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM
121
pelo próprio corpo técnico da empresa no país, com base nos padrões e regras
corporativos.
Dessa forma, em 1995 a IBM possuía nas principais capitais brasileiras dezessete
prédios próprios que haviam sido construídos a partir da década de 1970 e que eram
ocupados por escritórios da própria empresa, com modelos de ocupação semelhantes.
Apenas cinco anos depois, em 2000, restaram apenas três grandes edifícios (Arquivo IBM):
a fábrica de Hortolândia (originalmente Sumaré), que hoje não é mais fábrica e foi
totalmente adaptada para ter apenas escritórios; o edifício IBM Pasteur, no Rio de Janeiro; e
o edifício IBM Tutóia, em São Paulo. A empresa também passou a contar com treze
instalações de escritórios em espaços alugados em diferentes edifícios comerciais, a
maioria localizada nas mesmas cidades onde anteriormente ela possuía imóveis próprios.
No ano de 2005, a empresa continuava com seus três prédios próprios, mas agora
com dezenove instalações de escritórios em espaços alugados em diferentes capitais
brasileiras. Especificamente na cidade de São Paulo ela possui três endereços de escritório:
o primeiro e mais recente é o IBM Água Branca, localizado no bairro da Barra Funda; o
segundo é o IBM CENU, localizado na Marginal Pinheiros, próximo à avenida Engenheiro
Luiz Carlos Berrini; e o terceiro e mais antigo é o IBM Tutóia, sede da empresa no Brasil.
No final de 2005, a empresa possuía quase 137.000m² de escritórios no país, para
mais de 11.000 funcionários. A densidade chegou a 12,45m² pessoa, um número ainda alto.
Hoje a empresa passa por um novo desafio: suportar o crescimento acelerado de
seus negócios com a mesma velocidade com que surgem novas tecnologias, com baixos
custos de instalações, e conseqüente alta densidade em seus escritórios. Uma grande
dificuldade está no fato de que novas construções e mudanças de ambientes demandam
muito mais tempo para serem executadas do que a assinatura de um novo contrato,
diferentemente dos da década de 1970, quando tudo era mais lento.
Para atender a essa nova demanda, um dos critérios a serem revistos são os de
espaço. Novos padrões e conceitos estão sendo requeridos e já começaram a ser
implantados.
Veremos a seguir os padrões de espaço e os conceitos de ocupação utilizados
atualmente, e eventualmente fazer referência aos conceitos antigos ou novos. Na seqüência
veremos alguns escritórios paradigmáticos da empresa no mundo e no Brasil.