capítulo 20 - just in time e operações enxutas (2)

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20 Just in Time (JIT) e Operações Enxutas O ESCRITÓRIO ENXUTO "Lembra o modelo de produção enxuta da Toyota? Funcionou nas fábricas. Agora, as empre- sas tentam levá-lo para a administração. Desde que começou a ser desenvolvido, após a Segunda Guerra Mundial, o modelo de produção enxuta da montadora japonesa Toyo- ta chamou a atenção e passou a ser copiado, com maior ou menor sucesso, por milhares de empresas em todo o mundo. Ar.é aí, nenhuma novidade. Agora vamos ao fato novo: palavras, expressões e conceitos que remetem ao mode- lo - como kanban, redução de estoques, just in time, nivelamento da produção e melhoria contínua - estão deixando de permear apenas o ambiente das fábricas para fazer parte do dia a dia dos escritórios das empresas. O objetivo é aproveitar o sistema da Toyo- ta - famoso por ajudar as corporações a elimi- nar desperdícios e, com isso, tomar mais efi- cientes os processos fabris - e tomar enxutos também os processos administrativos. A ideia vem despertando o interesse de empresas no Brasil e no mundo. Mas a tarefa de transpor os conceitos da linha de montagem para o escri- tório não é simples. fácil visualizar proces- sos que envolvem matérias-primas, máquinas e produtos', diz Flávio Picchi, diretor de projetos do Lean Institute, uma entidade com sede em São Paulo dedicada à difusão do conceito de produção enxuta no Brasil. 'Enxergar o proces- samento de algo intangível, como a informa- ção, é bem mais difícil.' Em um treinamento para implementação do sistema Toyota numa fábrica, os líderes não têm muito trabalho para mostrar aos funcioná- rios os focos de desperdício. 'Basta mostrar os produtos defeituosos ou levá-los até o estoque para que eles contem os itens', diz Picchi. No escritório, o desperdício também existe, mas se apresenta de maneira menos óbvia aos olhos dos funcionários. Onde estão os estoques? Nas dezenas de relatórios produzidos por um depar- tamento e parados dias nos computadores à espera de uma análise que deve ser feita por outra área. Os defeitos? Nos dados incorretos registrados nos contratos e no retrabalho de corrigi-los para que possam ser aprovados. Se na fábrica a parada repentina de uma máquina

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Administração de materais

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Page 1: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

20

Just in Time (JIT) e Operações Enxutas

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~ O ESCRITÓRIO ENXUTO

"Lembra o modelo de produção enxuta da Toyota? Funcionou nas fábricas. Agora, as empre­sas tentam levá-lo para a administração.

Desde que começou a ser desenvolvido, após a Segunda Guerra Mundial, o modelo de produção enxuta da montadora japonesa Toyo­ta chamou a atenção e passou a ser copiado, com maior ou menor sucesso, por milhares de empresas em todo o mundo. Ar.é aí, nenhuma novidade. Agora vamos ao fato novo: palavras, expressões e conceitos que remetem ao mode­lo - como kanban, redução de estoques, just in time, nivelamento da produção e melhoria contínua - estão deixando de permear apenas o ambiente das fábricas para fazer parte do dia a dia dos escritórios das empresas.

O objetivo é aproveitar o sistema da Toyo­ta - famoso por ajudar as corporações a elimi­nar desperdícios e, com isso, tomar mais efi­cientes os processos fabris - e tomar enxutos também os processos administrativos. A ideia vem despertando o interesse de empresas no Brasil e no mundo. Mas a tarefa de transpor os conceitos da linha de montagem para o escri-

tório não é simples. 'É fácil visualizar proces­sos que envolvem matérias-primas, máquinas e produtos', diz Flávio Picchi, diretor de projetos do Lean Institute, uma entidade com sede em São Paulo dedicada à difusão do conceito de produção enxuta no Brasil. 'Enxergar o proces­samento de algo intangível, como a informa­ção, é bem mais difícil.'

Em um treinamento para implementação do sistema Toyota numa fábrica, os líderes não têm muito trabalho para mostrar aos funcioná­rios os focos de desperdício. 'Basta mostrar os produtos defeituosos ou levá-los até o estoque para que eles contem os itens', diz Picchi. No escritório, o desperdício também existe, mas se apresenta de maneira menos óbvia aos olhos dos funcionários. Onde estão os estoques? Nas dezenas de relatórios produzidos por um depar­tamento e parados há dias nos computadores à espera de uma análise que deve ser feita por outra área. Os defeitos? Nos dados incorretos registrados nos contratos e no retrabalho de corrigi-los para que possam ser aprovados. Se na fábrica a parada repentina de uma máquina

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ou a falta de insumos pode causar desperdício, no escritório pode haver descontinuidade devi­do à perda de informações na passagem entre pessoas e departamentos.

A dificuldade não está apenas em aprender a ·enxergar desperdícios. Para colher os benefí­cios da aplicação do sistema Toyota, é preciso seguir à risca seus preceitos. Nem todos eles são vistos com naturalidade pelo pessoal do escri­tório. Um dos que causam mais estranhamento é a padronização. Os adeptos da mentalidade enxuta afirmam que é possível especificar a ma­neira e o tempo exato para realizar qualquer ta­refa repetitiva. Assim, as atividades são sempre feitas da maneira mais segura e eficiente. 'Mas o funcionário do escritório tende a achar que o seu trabalho, ao contrário das tarefas de um co­lega da linha de produção, não está submetido a uma rotina', diz José Roberto Ferro, presidente do Lean lnstitute.

Os resultados colhidos por empresas que já começaram a transferir o modelo levam a crer que enfrentar os desafios vale a pena. Uma delas é a americana Alcoa, a maior produtora mundial de alumínio. Adepta há cinco anos do sistema da Toyota, batizado internamente de Alcoa Bu­siness System (ABS) em suas fábricas, a empresa já economizou mais de 1 bilhão de dólares com redução de estoques, mudanças de layout e es­pecificação minuciosa de tarefas. Agora, a Alcoa

A reportagem ilustra as ideias por trás do Just in Time, uma técnica de gestão fabril surgida no Japão dos anos 40 e 50 que ganhou ares de filo­sofia de gestão em anos mais recentes, inclusive passando a ter seus princípios fundamentais apli­cados em operações não fabris. Este capítulo trata das técnicas e da filosofia Just in Time.

INTRODUÇÃO

O Just in Time (JIT) surgiu no Japão, em me­ados. da década de 1970, sendo sua ideia básica

também começa a ter bons casos de processos administrativos aprimorados com o uso do ABS. A operação brasileira da empresa, com fatura­mento de 894 milhões de dólares em 2001, é considerada o exemplo mais adiantado de uso do modelo da Toyota em escritórios. 'Passamos a enxergar a informação como um produto', diz Carlos Feitosa, consultor do ABS na América La­tina. ~ partir daí, adaptar os conceitos ficou fá­cil.' Menos avançada está a operação brasileira da alemã Bosch, fabricante de autopeças, equi­pamentos e ferramentas, com faturamento de 914 milhões de dólares em 2001. Na Bosch, a produção enxuta foi introduzida nos escritórios há três anos. Curiosamente, apenas seis meses após chegar ao chão de fábrica. 'Se não fizésse­mos isso, nossa produção acabaria tropeçando em processos administrativos pouco eficientes', diz Stefan Grosch, diretor de finanças, controla­doria e contabilidade da Bosch.

Questão para Discussão

1. A notícia acima fala de "tratar informação como um produto". Usando os conceitos que você estudou no Capítulo 4, quais são as vantagens e os desafios de "tratar infor­mação como um produto"?

Fonte: HERZOG, Ana Luiza. Exame, edição 789, 3 abr.

2003.

e seu desenvolvimento creditados à Toyota Mo­tor Company, que buscava um sistema de admi­nistração que pudesse coordenar, precisamente, a produção com a demanda específica de diferentes modelos e cores de veículos com o mínimo atraso. O sistema de "puxar" a produção a partir da de­manda, produzindo em cada estágio somente os itens necessários, nas quantidades e no momento necessários, ficou conhecido no Ocidente como sistema kanban, que é o nome dado aos cartões utilizados para autorizar a produção e a movi­mentação de itens, ao longo do processo produti­vo, como será visto mais adiante. Contudo, o JIT

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é muito mais do que uma técnica ou um conjunto de técnicas de administração da produção, sendo considerado como uma completa filosofia que in­clui aspectos de administração de materiais, ges­tão da qualidade, arranjo físico, projeto do produ­to, organização do trabalho e gestão de recursos humanos, entre outros.

Embora haja quem diga que o sucesso do sistema de administração JIT esteja calcado nas características culturais do povo japonês, mais e mais gerentes têm-se convencido de que essa fi­losofia é composta de práticas gerenciais que po­dem ser aplicadas em qualquer parte do mundo. Algumas expressões são geralmente usadas para traduzir aspectos da filosofia Just in Time:

• produção sem estoques;

• produção enxuta (lean production);

• eliminação de desperdícios;

• manufatura de fluxo contínuo;

• esforço contínuo na resolução de problemas.

Vejamos com mais detalhe os porquês, os ele­mentos dessa filosofia e os pressupostos para sua implementação.

POR QUE JUST IN TIME?

No Japão, após a derrota na Segunda Grande Guerra, foram disparados enormes esforços pela indústria e sociedade em sua totalidade no sen­tido da reconstrução e da retomada da atividade industrial, no que seriam as sementes do desen­volvimento do Just in Time. O Just in Time foi de­senvolvido na Toyota Motor Co. por um gerente de produção chamado Tahiichi Ohno. Atribui-se a ele uma parcela considerável de contribuição ao milagre industrial japonês, o qual levou o Ja­pão, que era em 1945 um país arrasado por uma guerra na qual saiu derrotado, a se tomar uma das maiores potências industriais do mundo, apenas três décadas depois. Não é surpresa que o sistema revolucionário japonês tenha nascido e florescido na indústria automobilística. Isso de certa forma foi deliberado pelo poderoso Miti (Ministery for In­temational Trade and Industry - ou Ministério de Comércio Exterior e Indústria), que definiu mui­to claramente as políticas industriais do Japão no

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pós-guerra, e a indústria automobilística estava em seu centro.

O Miti proveu direcionamento estratégico, proteção alfandegária (carros importados eram ta­xados em até 40% na alfândega) e financiamento, para as principais duas empresas automobilísticas japonesas da época: a Toyota e a Nissan (a Honda, na época fabricante de motocicletas, chegou a ter problemas com o Miti quando resolveu começar a produzir carros) . A ideia era criar um merca­do interno forte, criar uma concorrência interna que forçasse as empresas a gradualmente substi­tuírem importações e desenvolverem capacitação de produção compatível com as necessidades de exportação de produtos japoneses (as primeiras exportações de veículos japoneses para os Estados Unidos, um fracasso inicial de vendas, acontece­ram em 1957).

Em 15 de agosto de 1945, o Japão perdeu a guerra; essa data, entretanto, também marcou um reinício para a Toyota. A Toyota era uma em­presa que tradicionalmente produzia teares para a indústria têxtil.. Começou a produção de auto­móveis em 1934, sendo que em tomo de 1940 interrompeu sua produção de veículos de passeio para apoiar o esforço nacional de guerra, pro­duzindo apenas caminhões. Quando terminou a Segunda Grande Guerra, o líder da empresa à época, Toyoda Kiichiro, o presidente, falou: '1\1-cancemos os americanos em três anos (em termos de produtividade) . Caso contrário, a indústria automobilística japonesa não sobreviverá." Isso significava multiplicar a produtividade japonesa por 8 ou 9, o que não é de fato tarefa fácil. Traba­lho que estava sendo feito por 100 trabalhadores deveria então passar a ser feito por apenas 10! Ohno e seus colegas perguntaram-se: será mesmo' que um americano é capaz de um esforço físico' 10 vezes maior que um trabalhador japonês? Por certo, os japoneses estavam desperdiçando algu­ma coisa. E uma coisa que não podia acontecer num ambiente de recursos escassos como o Japão do pós-guerra era desperdício. Se fossem capazes de eliminar todo e qualquer desperdício, a pro­dutividade se decuplicaria. E essa se tornou a pe­dra fundamental do Sistema Toyota de Produção, renomeado mais tarde como Just in Time, numa clara racionalização da história - afinal o nome de um sistema de produção desenvolvido no Ja­pão é uma frase em inglês!

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Importante notar que os princípios e a moti­vação para o desenvolvimento do JIT foi a necessi­dade colocada pelas condições históricas em que o Japão se viu no pós-guerra.

OBJETIVOS

O sistema JIT tem como objetivos operacio­nais fundamentais a qualidade e a flexibilidade. Faz isso colocando duas metas de gestão acima de qualquer outra: a melhoria contínua e o ataque incessante aos desperdícios. A atuação do siste­ma JIT no atingimento desses dois objetivos dá-se de maneira integrada. Os objetivos de qualidade e flexibilidade, quando estabelecidos quanto ao processo produtivo, têm um efeito secundário so­bre a eficiência, a velocidade e a confiabilidade do processo.

A perseguição desses objetivos dá-se, princi­palmente, através de um mecanismo de redução dos estoques, os quais tendem a camuflar os pro­blemas do processo produtivo.

Tradicionalmente, os estoques ·eram utiliza­dos para evitar descontinuidades do processo pro­dutivo (veja o Capítulo 17), face a diversos pro-

1J

Estoques

Problemas

blemas de produção que podem ser classificados principalmente em três grandes grupos:

• problemas de qualidade: quando alguns estágios do processo de produção apresentam problemas de qualidade, gerando refugo de forma incer­ta, o estoque, colocado entre estes estágios e os posteriores, permite que esses últimos possam trabalhar continuamente, sem sofrer com as in­terrupções que ocorrem em estágios anteriores. Dessa forma, o estoque gera independência en­tre os estágios do processo produtivo, conforme visto no Capítulo 17;

• problemas de quebra de máquina: quando uma máquina passa por problemas de manutenção, os estágios posteriores do processo que são "ali­mentados" por ela teriam que parar, caso não houvesse estoque suficiente para que o fluxo de produção continuasse, até que a máquina fosse reparada e entrasse em produção normal nova­mente. Nessa situação, o estoque também gera independência entre os estágios do processo produtivo;

• problemas de preparação de máquina: quando uma máquina processa operações em mais de um componente ou item, é necessário prepa-

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Figura 20.1 Reduzindo os estoques para expor os problemas do processo.

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rá-la a cada mudança de item a ser processado. Essa preparação representa custos referentes ao período inoperante do equipamento, à mão de obra requerida na operação de preparação, à per­da de material no início da operação, entre outros. Quanto maiores esses custos, maior tenderá a ser o lote a ser executado, para que eles sejam "diluí­dos" por uma quantidade razoável de peças, redu­zindo, por consequência, o custo médio das unida­des produzidas. Lotes grandes de produção geram estoques de ciclo, pois a produção é executada an­tecipadamente à demanda, sendo consumida por esta em períodos subsequentes.

Como se vê, o estoque funciona como um in­vestimento necessário quando problemas como os citados estão presentes no processo produtivo. O objetivo da filosofia JIT é reduzir os estoques, de modo que os problemas fiquem visíveis e possam ser eliminados através de esforços concentrados e priorizados. Conforme ilustrado pela Figura 20.1, o estoque e o investimento que ele representa po­dem ser simbolizados pela água de um lago que encobre as pedras no fundo, representando os diversos problemas do processo produtivo. Desse modo, a produção (representada pelo veleiro na Figura 20.1) consegue fluir ininterruptamente às custas de altos investimentos em estoque. Redu­zir os estoques assemelha-se a baixar o nível da água, tomando visíveis os problemas que, quan­do eliminados, permitem um fluxo mais suave da produção, com menos necessidade de esto­ques. Reduzindo-se os estoques gradativamente, tomam-se visíveis os problemas mais críticos da produção; ou seja; aqueles que requerem maior volume de estoques, possibilitando um ataque priorizado. À medida que esses problemas vão sendo eliminados, reduzem-se mais e mais os estoques, buscando-se continuamente novos pro­blemas escondidos.

Com essa prática, o JIT visa fazer com que o sistema produtivo alcance melhores índices de qualidade, maior confiabilidade de se:us equipa­mentos e maior flexibilidade, principalmente atra­vés da redução dos tempos de preparação de má­quinas, permitindo a produção de lotes menores e mais adequados à demanda do mercado.

Vejamos a seguir mais detalhes da filosofia JIT.

594 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

FILOSOFIA E PRESSUPOSTOS POR TRÁS DO JIT: COMPARAÇÃO COM ABORDAGEM TRADICIONAL

O sistema JIT apresenta diversas diferenças de abordagem em relação aos sistemas tradicio­nais de produção . Talvez a principal seja sua ca­racterística de "puxar" a produção ao longo do processo, de acordo com a demanda. Nesse siste­ma ("puxado"), o material somente é processado em uma operação se ele é requerido pela operação' subsequente do processo, que, quando necessita, envia um sinal (que funciona como a "ordem de: produção") à operação fornecedora para que esta dispare a produção e a abasteça. Se um sinal não é enviado, a operação não é disparada.

Os sistemas tradicionais são sistemas que, diferentemente, "empurram" a produção, desde: a compra de matérias-primas e componentes até os estoques de produtos acabados. Nesse caso, as operações são disparadas por três condições:

1. pela disponibilidade de material e componen­tes a processar;

2. pela disponibilidade dos recursos necessá­rios; e

3. pela existência de uma ordem de produção, gerada por algum sistema centralizado que, a partir de previsões de demanda, elaborou pro­gramas de produção baseados nas estruturas dos produtos.

Um representante típico dos sistemas empur­rados é o MRP; descrito no Capítulo 18. Nesse tipo de sistema, as três condições citadas são necessá­rias e suficientes para uma atividade de produção ser disparada. Uma vez completada a operação, o lote é "empurrado" para a operação seguinte (defi­nida pela "ordem de produção"), onde espera sua vez de encabeçar a fila de lotes a serem processa­dos, de acordo com seu nível de prioridade. Note: que, no caso empurrado, se uma operação quebra, por exemplo, as operações anteriores continuarão, a "empurrar" para ela material, causando acúmulo de estoques. No sistema "puxado" isso é impossí­vel de ocorrer porque, se a operação quebrou, por exemplo, ela cessará de enviar a seu fornecedor imediato os sinais solicitando material.

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Empurrado: Condições para disparar a produção:

1. Disponibilidade do material 2. Presença da ordem no programa definida

a partir de previsões

li r o;spoofüUid•d• doo;;m•mo

Demanda

c)u

Puxado: Condições para disparar a produção:

1. Sinal vindo da demanda (quadrado kanban com menos de dois produtos, no exemplo)

2. Disponibilidade do equipamento 3. Disponibilidade do material

Figura 20.2 Diferença entre sistemas puxados e empurrados.

Outra característica importante do sistema JIT é a de ser um sistema ativo, enquanto os siste­mas tradicionais são sistemas passivos. Na aborda­gem tradicional, os sistemas de gestão da produção assumem uma série de características do processo produtivo, como, por exemplo, níveis de qualida­de geralmente obtidos, tempos de preparação de equipamentos para troca de produtos, frequência de quebras de máquinas, entre outros. Conhecidos os dados referentes a essas características, os sis­temas tradicionais procuram minimizar os custos envolvidos no processo, influenciados pelas deci­sões que sugerem.

Consequentemente, sugerem: ordens de pro­dução maiores, em função do índice esperado de peças defeituosas; produção de lotes que distribu­am os custos fixos de preparação de máquina a uma quantidade razoável de itens processados; e excesso de capacidade para dar conta das paradas de máquina por problemas de manutenção. O sis­tema JIT, por outro lado, incentiva o ataque àque-

las características do processo produtivo que não agregam valor à produção. Desse modo, os proble­mas do processo não são aceitos passivamente; ao contrário, a eliminação desses problemas, os quais são geralmente encobertos pelos estoques gera­dos, constitui um pressuposto para a utilização do sistema JIT. O objetivo de redução dos estoques, presente na filosofia JIT, é atingido, principalmen­te, pela eliminação das causas geradoras da neces­sidade de se manterem estoques.

Conforme discutido no Capítulo 17, pode­-se dizer que os estoques são mantidos por duas causas principais. A primeira refere-se à eventual dificuldade de coordenação entre a demanda de determinado item e o processo de obtenção deste, ou seja, ainda que se possa determinar o momen­to em que certa quantidade de um item será ne­cessária, pode ser difícil determinar com precisão o momento e a quantidade da produção. Essa di­ficuldade pode vir do grande número de itens di-

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ferentes a serem produzidos, da complexidade da estrutura dos produtos, da presença de custos de preparação de equipamentos, da presença de in­flexibilidade de fornecedores, da necessidade de consolidação de cargas para transporte logístico, da presença de restrições tecnológicas que impo­nham determinados lotes mínimos de produção, entre outros.

A segunda razão para a manutenção de esto­ques é dada pelas incertezas associadas à demanda dos itens a serem fabricados, em termos de quan­tidade e momentos, e ao processo de olbtenção ou produção dos itens. As incertezas em refação à ob­tenção referem-se à qualidade dos itens produzi­dos, resultando numa quantidade incerta de itens aproveitáveis, e referem-se, também, ao momento em que os itens estarão disponíveis em função da incerteza da disponibilidade dos equipamentos e da incerteza das filas de grandes lotes de itens a serem produzidos ou, ainda, a incertezas relacio­nadas à atividade de suprimentos (atrasos ou não confiabilidade de qualidade de fornecedores, in­ternos ou externos).

Enquanto sistemas do tipo MRPII procuram atacar o problema da coordenação entre deman­da e obtenção dos itens, aceitando passivamente as incertezas, o sistema JIT ataca prioritariamente essas incertezas e os problemas de coordenação. A seguir, serão discutidos alguns elementos da filo­sofia JIT que a diferenciam do enfoque dado pela abordagem tradicional.

0 PAPEL DOS ESTOQUES

Como foi comentado, na abordagem tradicio­nal os estoques são considerados úteis por prote­ger o sistema produtivo de problemas que podem causar a parada do fluxo de produção (falta de peças, atrasos de fornecedores, entre outros). Os estoques promovem independência entre as fases produtivas, de modo que os problemas de uma fase não atinjam as subsequentes. Na filosofia JIT, os estoques são considerados nocivos, tam­bém por ocuparem espaço e representarem altos investimentos em capital, mas, principalmente, por esconderem os problemas da produção que, geralmente, resultam em baixas qualidade e pro-

596 A DMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

dutividade. A presença de estoques tira a atenção da gerência para problemas sérios de qualidade e falta de confiabilidade de equipamentos, os quais a filosofia JIT procura eliminar. Ainda que, apesar do "conforto" dado pelos estoques, a gerência pro­cure manter a atenção na eliminação dos proble­mas do processo, a presença de estoques dificulta a identificação desses problemas. Quando há gran­de quantidade de estoque entre duas determina­das operações de produção, um problema gerado na operação anterior (causado por desatenção do operador, desregulagem do equipamento, entre outros) custa a ser identificado pela operação se­guinte, fazendo com que seja produzida uma gran­de quantidade de peças defeituosas, as quais irão requerer horas de retrabalho ou serão diretamente refugadas, tomando inúteis o material e a mão de obra gastos em sua produção.

Com a redução dos estoques proposta pela filosofia JIT, o problema gerado na operação an­terior é rapidamente identificado pelo operador da operação posterior, o qual, não podendo pros­seguir em seu trabalho por falta de peças, é in­centivado a auxiliar seu companheiro a resolver o problema ocorrido. As empresas que empregam a filosofia JIT reconhecem a necessidade de algum estoque em processo para que a produção possa fluir; contudo, argumentam que esse estoque é menor do que se imagina. Naturalmente, manter o fluxo de produção com pouco estoque em pro­cesso não é uma tarefa fácil, já que é necessário exercer certa pressão sobre os trabalhadores para que produzam segundo as taxas de produção espe­radas, para que nenhuma etapa seja interrompida por falta de material.

Essa pressão é muitas vezes exercida delibe­radamente, retirando-se os estoques ou, ainda, transferindo-se trabalhadores da linha de produ­ção para outros serviços, de modo a identificar os gargalos e os problemas de qualidade do processo para que possam ser atacados e eliminados.

TAMANHO DE LoTE DE PRODUÇÃO E COMPRA

Um dos principais pilares da filosofia JIT é a redução dos lotes de produção e de compra. Tradi-

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cionalmente, os princípios da boa gestão de esto­ques mandam que se determine o tamanho dos lo­tes de compra e produção através do lbalanço entre o custo da manutenção de estoques e outros cus­tos referentes à preparação de equipamento para a produção, custos fixos do processo de compra de materiais, descontos obtidos por quantidade com­prada, entre outros (veja o Capítulo 17).

Na abordagem tradicional, os custos uni­tários de manutenção do estoque e os custos de obtenção do material podem ser determinados de forma relativamente fácil pelos geren11:es. Contudo, essa teoria pressupõe a aceitação dos parâmetros utilizados na equação, estando aí a principal críti­ca da filosofia JIT. Inicialmente, pode-se argumen­tar que, como já visto em relação a sua influência sobre a qualidade, os estoques podem apresentar custos bem maiores do que os provenientes apenas

Custos

Custo de pedir

do espaço ocupado e do investimento em capital, que não estão considerados explicitamente em ne­nhuma das formas que a equação do lote econô­mico tem tomado. Por outro lado, e talvez mais importante, está o fato de que o custo de obtenção de um lote de ressuprimento do material, seja por produção ou por compra, é referente a determina­do processo de obtenção, o qual pode e deve ser revisto de modo que esses custos sejam reduzidos ao máximo.

No caso de compra de materiais, medidlas podem ser tomadas, visando reduzir a burocra­cia dos pedidos, e envolvendo uma mudança no relacionamento com os fornecedores. No caso da produção, a redução do custo de obtenção dá-se principalmente pela redução do tempo necessário à preparação do equipamento (setup time), quan­do da troca do produto a ser produzido.

Custos

Custo de pedir

Lote Econômico (tamanho de lote que

minimiza o custo total)

Tamanho do lote Tamanho do lote

Abordagem tradicional: determinação passiva do tamanho dos lotes "econômicos"

4= /2 X DA x e, v e.

r uzido

Abordagem JIT: esfor s contínuos na redução do tamanho dos lotes.

4= 2 x DA x C ~ e. Reduzir!

Figura 20.3 Filosofia JIT aplicada a '1otes" em operações.

ERROS

A abordagem tradicional encara os defeitos como inevitáveis, devendo ser considerados no planejamento para que a operação não seja sur­preendida. Dada a ocorrência de defeitos, a pro-

dução deve ser inspecionada e os itens defeituosos retrabalhados em estações de trabalho específicas ou, caso não seja possível, refugados. A filosofia JIT não conside:ra os defeitos como inevitáveis, as­sumindo explicitamente a meta de eliminá-los to­talmente. A situação pretendida de não ocorrência

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absoluta de defeitos pode ser considerada inatin­gível; contudo, o estabelecimento dessa meta é o que leva ao movimento de melhoria ou aprimora­mento contínuo, que pode resultar em índices de defeitos extremamente baixos.

Os erros e os defeitos, na filosofia JIT, têm uma importância fundamental como fonte de in­formações para o aprimoramento contínuo. Atra­vés da análise dos erros, pode-se descobrir por que o processo não é à prova de falhas e, com a in­vestigação persistente de cada defeito e sua causa, pode-se, gradativamente, projeto a projeto, apri­morar o processo para que ele não produza mais falhas. Aderir à meta de "zero defeitos" implica assumir o espírito do aprimoramento contínuo em todos os aspectos da empresa, desde o proje­to dos produtos até o desempenho do processo. O monitoramento da qualidade do produto e do processo exige que o desempenho nesses aspectos esteja visfvel a todos que podem contribuir para o aprimoramento. Gráficos de controle podem ser encontrados em toda parte nas fábricas que adota­ram a filosofia JIT. A própria organização da fábri­ca deve favorecer a visibilidade dos erros para sua fácil identificação.

A filosofia JIT coloca a ênfase da gerência no fluxo de produção, procurando fazer com que os produtos fluam suave e continuamente atra­vés das diversas fases do processo produtivo, se possfvel, com um tempo de ciclo cada vez menor. Com esse objetivo, não há sentido em priorizar o alto fndice de utilização dos equipamentos, quan­do estes são analisados individualmente. O prin­cípio já citado de "puxar" a produção a partir da demanda, ou seja, disparar a produção de dado produto ou componente em determinado centro de produção, de acordo com as quantidades re­queridas pelas operações seguintes, garante que os equipamentos sejam utilizados apenas nos mo­mentos necessários.

Nesse ponto pode surgir a questão: O que ocorre se a demanda é muito variável no tempo? Ou ainda, o que ocorre se a variedade de produtos e componentes é muito grande, fazendo com que a demanda de cada componente seja instável? Pro­duzir apenas segundo as necessidades não exigiria

598 ADMINISTRAÇÃO OE P RODUÇÃO E O PERAÇÕES • C ORRÊA

muita capacidade produtiva para garantir o aten­dimento aos picos de demanda, ao mesmo tempo em que se teriam períodos de alta ociosidade, re­sultando em taxas de utilização muito baixas? A resposta é sim. Exatamente por esses motivos im­põem-se alguns pressupostos para a implementa­ção da filosofia JIT: demanda razoavelmente está­vel ao longo do tempo e faixa de produtos restrita. Contudo, é bom que se diga que a ênfase no fluxo traduz-se em taxas de utilização de equipamentos geralmente mais baixas do que aquelas que se ob­têm com a abordagem tradicional, exigindo certa capacidade em excesso.

A estabilidade da demanda, quando esta não é a característica do mercado a ser atendido, pode ser conseguida às custas de estoques de produtos finais. A presença desses estoques dá certa inde­pendência à produção para que produza em re­gimes mais estáveis, adequados ao conjunto de princípios da filosofia JIT, sendo uma alternativa utilizada por várias empresas, inclusive japonesas. O problema da faixa de produtos será analisado com mais detalhe quando tratarmos do projeto para a manufatura JIT.

0 PAPEL DA MÃO DE OBRA DrRETA E INDIRETA

A filosofia m impõe um novo papel para a mão de obra direta da produção, a qual passa a ser responsável por atividades antes atribuídas a departamentos de apoio. Segundo a filosofia JIT, se a empresa pretende fazer as coisas certas da pri­meira vez, são os operários que as devem fazer, ou seja, são os operários os responsáveis pela quali­dade dos produtos produzidos. Os operários fabri­cam, montam, testam, movimentam os materiais, isto é, executam todas as atividades responsáveis pela qualidade "embutida" no produto; portanto, somente eles conhecem os problemas de se conse­guir fazer certo da primeira vez.

A mão de obra indireta, gerentes e enge­nheiros, tem o papel de apoiar com conhecimen­to técnico mais sofisticado o trabalho do pessoal de linha de frente no processo de aprimoramento do produto e do processo, ou seja, os operários. A identificação e a resolução dos problemas cabem aos operários, apoiados pelos especialistas. Nesse

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sentido, torna-se importante que os operários te­nham conhecimentos, ainda que rudimentares, de métodos de identificação e análise de problemas, controle estatístico do processo, entre outras téc­nicas, para que possam assumir as novas responsa­bilidades impostas pela filosofia JIT. Obviamente, nem todos os problemas poderão ser resolvidos diretamente pelos operários, de modo que a pre­sença dos especialistas continua fundamental, po­rém, com outro enfoque: os especialistas em qua­lidade, métodos e processos, entre outros, deverão apoiar os operários em sua tarefa e não traçar as diretrizes e os métodos de trabalho para que sejam seguidos sem questionamento pela mão de obra direta, como manda a boa prática da abordagem tradicional.

Na manutenção, o papel dos operários tam­bém é ampliado. Enquanto na abordagem tradicio­nal a responsabilidade pela manutenção preventi­va e corretiva é de uma equipe especializada que está na fábrica apenas para executar tais funções, na filosofia JIT a ênfase é dada prioritariamente à manutenção preventiva, sendo esta executada principalmente pelos próprios operários. A ideia é a de que a manutenção preventiva simples, aliada à operação suave e contínua dos equipamentos, é em boa parte responsável pela confiabilidade das máquinas. A atuação dos próprios operários na manutenção preventiva simples causa menores interrupções na produção, aumenta a responsa­bilidade da mão de obra em relação aos equipa­mentos que opera e aproveita o conhecimento do operário sobre a operação diária do equipamento, no trabalho de manutenção.

ORGANIZAÇÃO E LIMPEZA DA FÁBRICA

Na filosofia JIT, a organização e a limpeza são itens fundamentais para o sucesso de aspec­tos como a confiabilidade dos equipamentos, a redução de desperdícios, o controle da qualidade, a condição moral dos trabalhadores, entre outros. A sujeira e a poeira prejudicam os equipamentos, desgastam componentes mecânicos e prejudicam o funcionamento dos comandos eletrônicos. A com­placência com equipamentos sujos não incentiva os trabalhadores a executarem adequadamente

a manutenção preventiva, requisito fundamental para garantir a confiabilidade dos equipamentos e permitir a redução dos estoques.

Quando o piso da fábrica está limpo, qualquer coisa que caia no chão é imediatamente identifica­da e recolhida. Os desperdícios ficam facilmente visíveis, assim como tudo o que está fora do lugar. Esse é o princípio da visibilidade, tão importante na filosofia JIT: "Um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar."

A influência da organização da fábrica sobre a qualidade também é fundamental, pois torna os problemas visíveis. Recipientes padronizados para a movimentação de material permitem iden­tificar rapidamente os problemas: um grupo de três pistões em uma fábrica de motores de qua­tro cilindros deve disparar um esforço de investi­gação, pois algo deve estar errado. Identificar os problemas rapidamente contribui para sua rápida resolução, evitando que os atrasos pressionem os trabalhadores a deixarem de lado os bons hábitos de manutenção da limpeza e da organização; fe­chando o ciclo.

A limpeza induz, também, à disciplina dos trabalhadores e:m relação a todos os principais as­pectos da filosofia JIT. A preocupação da gerência com esses itens deixa claro aos trabalhadores que a empresa está realmente levando a sério a imple­mentação de uma nova filosofia na fábrica.

Uso DO JIT: FIM PARA D ESPERDÍCIOS E MELHORIA CONTÍNUA

Alguns autores definem a filosofia JIT como um sistema de manufatura cujo objetivo é otimizar os processos e os procedimentos através da red u­ção contínua de desperdícios.

Eliminar desperdícios significa analisar tod!as as atividades realizadas na fábrica e descontinuar as que não agregam valor à produção. Para que se possa compreender melhor de quais atividades estamos falando, utilizaremos a classificação pro­posta por Shigeo Shingo, uma reconhecida autori­dade em JIT e engenheiro da Toyota Motor Com­pany, no Japão. Shingo identifica sete categorias de desperdícios, que são comentadas a seguir.

J UST IN 1"1ME (JIT) E O PERAÇÕES ENXUTAS 599

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• desperdício de superprodução: o JIT considera um desperdício o hábito de produzir antecipa­damente à demanda, para o caso de os produ­tos serem requisitados no futuro. A produção ante-cipada, isto é, maior do que a necessária no momento, provém, em geral, de problemas e restrições do processo produtivo, tais como: altos tempos de preparação de equipamentos, induzindo à produção de grandes lotes; incer­teza da ocorrência de problemas de qualidade e confiabilidade de equipamentos, levando a pro­duzir mais do que o necessário; falta de coorde­nação entre as necessidades (demanda) e a pro­dução, em termos de quantidades e momentos; grandes distâncias a percorrer com o material, em função de um arranjo físico inadequado, levando à formação de lotes para a movimen­tação, entre outros. Desse modo, a filosofia JIT sugere que se produza somente o que é necessá­rio no momento e, para isso, que se reduzam os tempos de set-up (preparação do equipamento para mudança de atividade), que se sincronize a produção com a demanda; que se compacte o layout da fábrica (favorecendo-se os arranjos físicos em linha e celulares, veja o Capítulo 13) e assim por diante;

• desperdício de espera: esse desperdício refere-se ao material que espera para ser processado, for­mando filas que visam garantir altas taxas de utilização dos equipamentos. A filosofia JIT co­loca a ênfase no fluxo de materiais e não nas ta­xas de utilização dos equipamentos, os quais so­mente devem trabalhar se houver necessidade. A sincronização do fluxo de trabalho e o balan­ceamento das linhas de produção contribuem para a eliminação desse tipo de desperdício;

• desperdício de transporte: a atividade de trans­porte e movimentação de material não agrega valor ao produto produzido e é necessária de­vido a restrições do processo e das instalações, que impõem grandes distâncias a serem percor­ridas pelo material ao longo do processamento. Encaradas como desperdícios de tempo e recur­sos, as atividades de transporte e movimentação devem ser eliminadas ou reduzidas ao máximo, através da elaboração de um arranjo físico ade­quado, que minimize as distâncias a serem per­corridas. Muita ênfase tem sido dada às técnicas de movimentação e armazenagem de materiais,

600 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

enquanto o que realmente importa é eliminar as necessidades de armazenamento, reduzindo os estoques, e a necessidade de movimentação, através da redução das distâncias, para que, s6 então, se pense em racionalizar o transporte e: a movimentaçã·o de materiais que não puderem ser eliminados;

• desperdício de processamento: no próprio proces­so produtivo pode estar havendo desperdícios que podem ser eliminados. Deve-se questionar, por exemplo, "por que determinado item ou componente deve ser feito", "qual a sua fun­ção no produto", "por que esta etapa do pro­cesso é necessária". É comum que os gerentes preocupem-se em como fazer as coisas mais rápido, sem an1tes questionar se elas devem re­almente ser feitas afinal. Nesse sentido, toma­-se importante a aplicação das metodologias de: engenharia e análise de valor, que consistem na simplificação ou redução do número de compo­nentes ou operações necessários para produzir determinado produto. Qualquer elemento que adicione custo e não valor ao produto é candi­dato à investigação;

• desperdício de movimento: os desperdícios de: movimento estão presentes nas mais variadas operações que se executam na fábrica. A filoso­fia JIT adota as técnicas de estudo de métodos e: do trabalho (veja o Capítulo 11), visando alcan­çar economia e consistência nos movimentos. A economia dos movimentos aumenta a produ­tividade e reduz os tempos associados ao pro­cesso produtivo. A consistência contribui para o aumento da qualidade. A importância das téc­nicas de estudo de tempos e métodos é justifi­cada, pois o JIT é um enfoque essencialmente: de baixa tecnologia, apoiando-se em soluções relativamente s:imples e de baixo custo, ao invés de grandes investimentos em automação. Ainda que se decida pela automação, devem-se apri­morar os movimentos para, somente então, me­canizar e automatizar; caso contrário, corre-se º' risco de automatizar o desperdício;

• desperdício de produzir produtos defeituosos: pro­blemas de qualidade geram os maiores desperdí­cios do processo. Produzir produtos defeituosos significa desperdiçar materiais, disponibilidade: de mão de obra, disponibilidade de equipamen-

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tos, movimentação de materiais defeituosos, ar­mazenagem destes, inspeção de produtos, entre ou tros. O processo produtivo deve ser desen­volvido de maneira tal que previna a ocorrên­cia de defeitos, para que se possam eliminar as inspeções. Os defeitos não devem ser aceitos e não devem ser gerados. É comum nas fábricas que adotaram a filosofia JIT a utilização de "dis­positivos à prova de falhas", os quais procuram evitar os erros comuns causados pelo homem. Os poka yoke, como são chamados em japonês, são encontrados nas mais diversas formas e nas várias etapas do processo produtivo (veja o Ca­pítulo 6);

• desperd(cio de estoques: os estoques, como foi comentado, além de ocultarem outros tipos de desperdício, significam desperdícios de investi­mento e espaço. A sua redução deve ser feita através da eliminação das causas geradoras da necessidade de se manterem estoques. Redu­zindo-se todos os outros, reduz-se, por conse­quência, os desperdícios de estoque. Isso pode ser feito reduzindo-se os tempos de preparação de máquinas, reduzindo os lead times de produ­ção, sincronizando os fluxos de trabalho, redu­zindo as flutuações de demanda, tomando as máquinas confiáveis e garantindo a qualidade dos processos.

Além do esforço de eliminação de desperdí­cios, a filosofia JIT tem a característica de não-acei­tação da situação vigente ou mesmo de padrões de desempenho. Na abordagem tradicional, as metas costumam ser estáticas, ao menos para determi­nado período, geralmente o ano fiscal, após o que podem ser alteradas, visando a aprimoramentos. As metas funcionam como padrões, com base nos quais é exercida a atividade de controle, que pro­cura, então, minimizar os afastamentos que ocor­rem em relação a esses padrões. O controle man­tém o processo estável e os resultados dentro das tolerâncias aceitáveis.

As metas colocadas pelo JIT são nada menos do que:

• zero defeito;

• tempo zero d.e preparação (setup);

• estoques zero;

• movimentação zero;

• quebras zero;

• lead time zero;

• lote unitário (uma peça).

Embora pareçam muito ambiciosas, se não inatingíveis, aos olhos da abordagem tradicional, essas metas garantem o processo de esforço para melhoria contínua e não-aceitação da situação atual.

FORNECIMENTO DE MATERIAIS nT

Os elemen tos mais importantes do forneci­mento de materiais no sistema JIT são extensões lógicas da produção JIT e, em grande medida, são pré-requisitos necessários para uma implementa­ção de sucesso. Esses elementos são:

• lotes de fornecimento reduzidos: nesse caso, muitas vezes é necessário obter-se consolidação logística para conseguir entregas em pequenos lotes - veja o Capítulo 3;

• recebimentos frequentes e confiáveis;

• lead times de fornecimento reduzidos;

• altos níveis de qualidade.

A esses elementos deve-se acrescentar um relacionamento cooperativo com os fornecedores, ao invés de um relacionamento entre adversários, além da ênfase na redução do número de forne­cedores, objetivando uma única fonte de forneci­mento para cada material comprado. Na prática, a condição de fornecedor único é impraticável, po­dendo ser bastante arriscada, contudo, é um obje­tivo a ser perseguido.

Ao final, a filosofia JIT prega já há mais de 30 anos a gestão de toda a rede de suprimentos, do fornecedor de matéria-prima ao consumidor final, enfatizando a cooperaç.ão e a crescente integração dos atores da rede.

REDUÇÃO DA BASE DE FORNECEDORES

Há duas razões principais para a redução do número de fornecedores:

JUST INTIME {JIT) E O PERAÇÕES ENXUTAS 601

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• demonstração do estabelecimento de compro­missos de longo prazo;

• limitar esforços no desenvolvimento de forne­cedores.

Especificamente, o objetivo do JIT é tentar al­cançar a condição de fornecedor único na maioria dos casos.

O coração do fornecimento de materiais no sistema JIT é o estabelecimento de compromissos de longo prazo junto aos fornecedores, embora esse aspecto não seja exclusivo da filosofia JIT, re­fletindo as principais teorias atuais de gestão de suprimentos. De qualquer forma, é essencial que a empresa seja um cliente valorizado pe.lo fornece­dor e que o compromisso seja demonstrado pelos dois lados. Os contratos de longo prazo com um único fornecedor oferecem em retomo altos níveis de qualidade e entregas confiáveis.

Alguns fornecedores podem não ser capazes de atingir os níveis de qualidade desejados ou, ain­da, de garantir entregas confiáveis. Nesses casos, o auxílio da empresa cliente na forma de especia­listas em qualidade ou administração da produção pode ser de grande valia. Esse processo é conhe­cido por desenvolvimento de fornecedores. Essa situação costuma ocorrer em relação a uma série de empresas pequenas fornecendo para um gran­de cliente, como é o caso das redes de suprimentos da indústria automobilística.

Um dos resultados esperados do estabeleci­mento de contratos de longo prazo é o comparti­lhamento de informações, tanto comerciais como de projeto, entre o fornecedor e o clientt:e.

INFORMAÇÕES COMERCIAIS COMPARTILHADAS

A eficiência da produção é influenciada pelo processo de seu planejamento, o qual depende da confiabilidade da previsão de demanda realizada. Não há melhor maneira de se prever a demanda do que conhecer o programa de produção dos clientes. Por isso, é importante dar conhecimen­to aos fornecedores dos programas de produção da empresa, tanto no que se refere ao período já planejado e "congelado'', como em relação às pre-

602 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

visões de médio prazo. Isso permite que os forne ­cedores possam planejar-se com a antecedência necessária, principalmente em relação à capacida­de requerida.

O conhecimento da estrutura de custos dos fornecedores permite melhores negociações, fa­zendo com que o preço dos produtos seja reduzido no longo prazo, fruto de ajuda e informações que são repassadas pelo cliente.

INFORMAÇÕES DE PROJETO COMPARTILHADAS

O relacionamento cooperativo de longo pra­zo também permite que os fornecedores sejam tra­zidos ao processo de desenvolvimento de produtos ou componentes, nos primeiros estágios de proje­to. Com isso, a utilização das técnicas de engenha­ria e análise de valor, associada ao conhecimento' que os fornecedores têm de seus processos pro­dutivos, tendem a gerar produtos que podem ser produzidos economicamente. As especificações de projeto transmitidas aos fornecedores devem ser mais referentes a características de desempenho' esperadas do que tolerâncias rígidas, ao contrário do que é o hábito tradicional. Dessa forma, o for­necedor poderá estudar qual a forma mais econô­mica de produzir um produto que atenda a essas características de desempenho.

REDUÇÃO DOS CUSTOS DE AQUISIÇÃO

Como os fornecedores não mudam com fre ­quência, há redução imediata nos custos de nego­ciação de pedidos. A confiabilidade nas entregas praticamente elimina a necessidade de acom­panhamento (jolfow-up) dos pedidos dos forne ­cedores. A garantia da qualidade pode eliminar, também, os custos de inspeção e contagem do ma­terial recebido. Custos de movimentação de mate­riais podem ser reduzidos, da mesma forma, se º' material já for entregue no local de uso.

A redução dos custos de aquisição tem, sobre o dimensionamento dos lotes de compra, o mesmo efeito que a redução dos custos de setup sobre º' dimensionamento dos lotes de produção, ou seja, permite que as compras sejam mais frequentes e em lotes menores. Dessa forma, o fluxo contínuo

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e suave de materiais que se busca conseguir na lo­gística interna da fábrica pode ser estendido, tam­bém, aos fornecedores, que passam a fazer parte da mesma linha de fluxo contínuo, com todas as vantagens de redução de estoques, melhoria de qualidade e outras já mencionadas.

LoCALIZAÇÃO DOS FORNECEDORES

Com certeza, a distância que separa os forne­cedores dos clientes pode ser um obstáculo para o fornecimento de materiais segundo a filosofia JIT. Grandes distâncias exigem lotes de transporte mais volumosos para não tornar elevados os cus­tos cJle frete. Assim, da mesma forma que o JIT tra­ta das distâncias internas transformando o layout em celular, a localização dos fornecedores deve ser um aspecto a ser considerado em sua escolha. No Brasil, apesar de suas dimensões continentais, a concentração no parque industrial no Sudeste, principalmente no Estado de São Paulo, faz com que, na maioria dos casos, as distâncias entre for­necedores e clientes não sejam muito maiores do que são no Japão.

De qualquer forma, o estudo racional da lo­gística de fornecimento pode trazer grandes eco­nomias de transporte, possibilitando entregas frequentes de pequenos lotes. Nesse sentido, é im­portante que o controle do transporte fique sob a responsabilidade da empresa cliente, a qual deve­rá coordenar as entregas de diferentes fornecedo­res para que, eventualmente, vários componentes, provenientes de diferentes empresas, possam ser agregados em determinado ponto geográfico, de modo a utilizar um mesmo meio de transporte até a empresa cliente. Obviamente, essa estratégia so­mente se torna possível para clientes de determi­nado porte.

PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E

CONTROLE DA PRODUÇÃO PARA JIT

Como foi visto, os objetivos fundamentais do JIT são reduzir custos, obter alta qualidade e dar flexibilidade ao processo para que possa adaptar­-se às variações da demanda. Essa flexibilidade é conseguida, principalmente, através da redução

dos lead times, já que os estoques são retirados do sistema produtivo, esperando-se obter um flu­xo suave e contínuo de materiais na fábrica. Foi comentado, também, que a necessidade dessa fle­xibilidade está limitada principalmente no que se refere a mudanças no mix de produtos, já que no sistema JIT toma-se o cuidado de:

• restringir relativamente a variedade de produ­tos feitos, trabalhando-se com uma faixa de pro­dutos limitada, produzidos em grande quanti­dade; e/ou

• utilizar técnicas de projeto adequadas à manu­fatura e à montagem, de modo que o mercado perceba certa variedade de produtos, enquanto a fábrica perceba a produção de uma gama res­trita de componentes.

A transformaç.ão de todo o fluxo de produção em uma linha de fluxo contínuo que inclua não só a montagem final dos produtos, mas também a fabricação de componentes e submontagens, não admite grandes variações de curto prazo no volu­me de produção. Contudo, para ajudar a produção a responder efetivamente às variações possíveis de curto prazo da demanda, o sistema JIT procura adequar a demanda esperada às possibilidades do sistema produtivo, além de organizar esse sistema de modo que variações, relativamente pequenas, de demanda a curto prazo possam ser acomodadas sem muito problema para o sistema de produção. A técnica utilizada para esse fim é conhecida como amaciamento da produção.

Através dessa técnica, as linhas de produção podem produzir vários produtos diferentes a cada dia, de modo a responder adequadamente à de­manda do mercado. É fundamental, para essa téc­nica, a redução dos tempos envolvidos no proces­so, principalmente os tempos de preparação e os tempos de fila, que devem ser desprezíveis. A téc­nica de amaciamento da produção envolve duas fases, a da programação mensal e a da programa­ção diária da produção. A primeira fase adapta a produção mensal às variações da demanda ao lon­go do ano, enquanto a segunda adapta a produção diária às variações da demanda ao longo do mês.

A programação mensal é efetuada a partir do processo de planejamento mensal da produção

JUST INTIME {JIT) E OPERAÇÕES ENXUTAS 603

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que resulta em um programa mestre da produ­ção, expresso em termos da quantidade de pro­dutos finais a serem produzidos a cada mês. Esse programa fornece, também, os níveis médios de produção diária de cada estágio do processo, ga­rantindo que haja recursos suficientes para a exe­cução do programa, além da reserva de capacida­de necessária.

O planejamento é baseado em previsões de demanda mensais e o horizonte de planejamento depende de vários fatores característicos da em­presa, como as incertezas associadas ao processo de previsão e os lead times de produção, sendo três meses um valor típico. Quanto menores os lead times, mais curto pode ser o horizonte de pla­nejamento, possibilitando previsões mais seguras. Com um horizonte de três meses, o mix de produ­ção e as quantidades são sugeridos com dois meses de antecedência e o plano detalhado é fixado ou "congelado" com um mês de antecedência ao mês corrente. Os programas diários serão, então, defi­nidos a partir desse programa mestre de produção.

O amaciamento da produção inclui duas di­mensões: a distríbuição homogênea da produção mensal a cada dia ao longo do mês e a distribuição homogênea da produção mensal dos produtos, a cada dia, ao longo do mês.

Estabelecido o programa mestre de produ­ção e balanceada a linha de montagem final para atingi-lo, é necessário "puxar" a produção dos componentes.

PuxANDo O FLUXO DE MATERIAIS: 0 SISTEMA KANBAN

Kanban é o termo japonês que significa car­tão. Esse cartão age como disparador da produ­ção de centros produtivos em estágios anteriores do processo produtivo, coordenando a produção de tod·os os itens de acordo com a demanda de produws finais. O sistema de cartões kanban mais difundido atualmente é o sistema de dois cartões, utilizado inicialmente na fábrica da Toyota no Ja­pão. Esse sistema consiste na utilização de dois cartões kanban, um deles denominado kanban de produção e o outro kanban de transporte.

604 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

O kanban de produção dispara a produção de, um lote (geralmente, pequeno e próximo à unida­de) de peças de determinado tipo, em um centro• de produção da fábrica. Esse cartão contém, em geral, as seguintes informações: número da peça, descrição dela, tamanho do lote a ser produzido e colocado em contêiner padronizado, centro de produção responsável e local de armazenagem. A Figura 20.4 mostra um exemplo de kanban de pro­dução. Nenhuma operação de produção é execu­tada, exceto na linha de montagem, sem que haja um kanban de produção autorizando.

KP - produção

Número da peça: 1213 Descrição: Rotor tipo C Lote: 12 peças C.P.: célula J-32 Armazém: J-32

Figura 20.4 Kanban de produção.

O kanban de transporte autoriza a movimen­tação do material pela fábrica, do centro de pro­dução que determinado componente fabrica para o centro de produção que o consome em seu está­gio do processo. Esse cartão contém, em geral, as seguintes informações: número da peça, descrição dela, tamanho do lote de movimentação (igual ao lote do kanban de produção), centro de produ­ção de origem e centro de produção de destino. A Figura 20.S mostra um exemplo de kanban de transporte. Nenhuma atividade de movimentação· é executada sem que haja um kanban de transpor­te autorizando.

KT - transporte

Número da peça: 1213 Descrição: Rotor tipo C Lote: 12 peças C.P. origem: célula J-32 C.P. destino: posto L-45

Figura 20.5 Kanban de transporte.

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Para ilustrarmos o processo de puxar a de­manda utilizando o sistema kanban, utilizaremos um exemplo de uma planta que produz bombas hi­dráulicas, em particular os processos de produção dos rotores das bombas e sua montagem na linha. Em determinado posto da linha de montagem de bomibas, o operador monta os rotores nas carca­ças das bombas. Nesse local, o operador armazena determinada quantidade de rotores dos três tipos de bombas, para que possa utilizá-los, na medida do necessário. Vejamos a sequência dos passos do sistema kanban, analisando a Figura 20.6.

KT-A KT-B KT-B KT-C KT-C

:El<l"-'--'.

ct:'.5 Contêiner vazio

tf:::::J Contêiner com peças

Para o centro J-32 (produtor do rotor tipo C)

Figura 20.6 Kanban na linha de montagem.

1. o operador retira o último rotor de um contêi­ner padronizado que se encontra em seu posto de montagem;

KT KP

tED tED 1 A B c D E

o o o o tED o o tEO tED ttD tED Centro de tEO

Estoque de produção Estoque de entrada M-12 saída

Figura 20.7 O caminho do kanban na fabricação.

e

2. o contêiner tem preso a ele um kanban de transporte que permite sua movimentação até o centro produtivo que finaliza a fabricação dos rotores. Funcionários responsáveis pela movimentação de materiais levam o contêiner vazio e o kcmban de transporte ao centro pro­dutivo marcado no cartão;

3. na Figura 20.7, funcionários responsáveis pela movimentação de materiais dirigem­-se ao centro de produção de finalização dos rotores (J-32), deixam o contêiner vazio e levam um completo de rotores para a linha de montagem. O kanban de transporte que acompanhava o contêiner vazio é, então, transferido para o contêiner cheio levado à linha de montagem;

4. o kanban de produção que estava preso ao contêiner cheio de rotores é transferido para o painel de produção do centro J-32, para que um novo lote de rotores seja finalizado;

5. para produzir um lote de rotores que irá repor o estoque consumido; o operador do centro J-32 utiliza um contêiner de rotores semiaca­bados;

6. o operador libera o kanban de transporte que estava preso ao contêiner de rotores semiacaba­dos, para que o pessoal de movimentação possa transferir mais um lote de rotores semiacaba­dos do centro M-12 para o centro J-32;

KT

tEO tED tED r..-- ,. ~

---Estoque de entrada

Para a posição , da linha de ',,, montagem, ~---,,~

usuária do rotor""" "'à ""e KP

A B c D E l' 'F" T l

o o - u u lii' o o o o ttD o o tED tEO Centro de

~produção Estoque de J-32 saída

J UST IN 1"1ME (JIT) E O PERAÇÕES ENXUTAS 605

Page 17: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

7. na Figura 20.8, funcionários responsáveis pela movimentação de materiais dirigem-se ao centro de produção de fabricação dos roto­res (M-12), deixam o contêiner vazio e levam um completo de rotores para o centro J-32. O kanban de transporte acompanha toda a movi­mentação;

KT KP

tEO CLO o o o o "" LLD o

""' o lLD

LLD ( ~ lT u

8. o kanban de produção que estava preso ao contêiner cheio de rotores semi-acabados é transferido para o painel de produção do cen­tro M-12, para que um novo lote de rotores seja fabricado;

9. para produzir um lote de rotores que irá repor o estoque consumido, o operador do centro M-12 utiliza um contêiner de rotores fundidos;

KT KP

LLD CLO o o ( o o LLD o o o o lLD LLD o o

CLO (n ~ o ~ . l

L vum•!de @ lLD LT ~ '- e Centro de ...._

Estoque de -.....:. produção Estoque d~r Estoque de produção Estoque de entrada M-12 saída entrada J-32 saída

Figura 20.8 O caminho do kanban na fabricação.

10. o operador libera o kanban de transporte que estava preso ao contêiner de rotores fundidos, para que o pessoal de movimentação possa transferir mais um lote de rotores fundidos do centro fornecedor para o centro M-12;

11. o operador do centro J-32 termina o processa­mento no lote de rotores, prende o kanban de produção ao contêiner e deposita o conjunto no local de armazenagem.

r-·······-··--·1 :------------:

\HZÔ~ \:EE

v~~ L_ ........... __ J : __ __ ___ __ __ _ :

Fluxo de material --------• Fluxo de kanbans de transporte --···········----1> Fluxo de kanbans de produção

Desse modo, o sistema kanban coordena a produção dos diversos centros de trabalho, em qualquer estágio do processo. O kanban de trans­porte circula entr·e os postos de armazenagem de: dois centros de produção contíguos. O kanban de produção circula entre um centro de produção e: seu posto de armazenagem respectivo. O esquema simplificado de fluxo é ilustrado na Figura 20.9.

EE = Estoque de entrada ES = Estoque de saída

Figura 20. 9 Esquema simplificado do fluxo de kanban.

606 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E O PERAÇÕES • CORRÊA

Page 18: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

Determinado centro de produção pode pro­cessar peças para mais do que apenas outro centro. Nesse caso, terá em seu posto de armazenagem contêineres com diferentes tipos de peças e com­ponentes. Poderá ocorrer que vários kanbans de transporte sejam trazidos e levem diversos tipos de peças no mesmo momento. Consequentemen­te, vários kanbans de produção serão colocados no painel de produção do centro, indicando que vários lotes de diferentes peças deverão ser execu­tados. O operador dará prioridade ao material que tiver relativamente o maior número de kanbans no painel, pois isso indica que existe menos estoque entre seu centro de produção e o seguinte.

O número de cartões kanban entre dois cen­tros de produção determina o estoque de material entre esses dois centros, pois a cada um correspon­de um contêiner padronizado de peças. Em geral, o número de cartões kanban de transporte é igual ao número de cartões kanban de produção, distri­buindo o estoque entre os postos de armazenagem dos dois centros. Uma redução gradual do estoque pode ser conseguida retirando-se cartões kanban do sistema. Sem kanban de produção, o centro de trabalho não é acionado; sem kanban de transpor­te, o material não é movimentado.

O dimensionamento de cartões kanban entre dois centros de produção, considerando a soma

entre o kanban de produção e o de transporte, é feito da seguinte maneira:

Sejam: X = número total de kanbans;

D demanda do centro consumidor por unidade de tempo;

T = tempo de espera do lote no centro ' produtor;

T tempo de processamento do lote no p

centro produtor;

e tamanho do lote ou capacidade do contêiner (peças por kanban);

F = fator de segurança.

então:

X = D(T., + T) (1 + F) e

O número mínimo de cartões kanban pode ser obtido fazendo F = O. Mas esse número so­mente será alcançado quando todas as incertezas do processo forem eliminadas, eliminando-se, também, a necessidade de estoques de segurança. De forma inversa, a retirada deliberada de cartões do sistema deixa o processo mais vulnerável aos problemas que se tornam visíveis, permitindo ser atacados.

ê A BARIUA • o Jusr IN TIME DISTRIBUTION (JITDJ

Entendido o sistema JIT, no que diz res­peito à movimentação de materiais, utilizando o sistema kanban, fica mais fácil entender o porquê de a fabricante italiana de massas Ba­rilla denominar seu sistema de distribuição de produtos acabados ao longo de seu canais de distribuição, JITD ou Just in Time Di.stribution (dlistribuição Just in Time). Imagine a lógica de reposição de estoques que o JIT original propõe, com controles visuais, repondo, em pequenas

quantidades, uma quantidade preestabelecida de material no estoque de entrada do centro produtivo cliente interno, conforme ilustrado na Figura 20.9. Agora, lembre-se das discussões presentes no Capítulo 3, pense na rede de su­primentos de forma mais ampla, contemplando também os clientes externos. Imagine que uma empresa decida repor automaticamente, em pe­quenas quantidades, uma quantidade preesta­belecida de produtos no estoque de entrada de

JUST IN 1°lME (JIT) E O PERAÇÕES ENXUTAS 607

Page 19: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

seu ·cliente externo, de forma a manter lá essa quantidade de estoques. Observe que, em ter­mos gerais, o espírito é o mesmo do JIT interno. Reposição disparada por um sinal emitido pela demanda (o fato de que o estoque de entrada do cliente está menor que a quantidade prees­tabelecida), de forma contínua e em pequenas quantidades. A Barilla desenvolveu exatamen­te um sistema assim, ao qual, não por acaso, denominou Just in Time Distribution: neste, a Barilla tem acesso aos níveis de estoque de seus distribuidores, diariamente, através de um sis­tema de informação especificamente desenhado para isso. De posse dessa informação, compara o nível de estoques por produto que cada um de seus distribuidores tem com níveis pré-calcula­dos, "ideais", que cada distribuidor deveria ter, e repõe a diferença, diariamente.

Figura 20.10 Produtos da linha BariUa.

PROJETO DO S ISTEMA DE PRODUÇÃO PARA JIT

PROJETO PARA MANuFATIJRA J1T

Tradicionalmente, a maioria das empresas deseja aceitar todos os pedidos de clientes, ou ao menos oferecer uma larga faixa de opções de produtos para que os clientes possam escolher. Contudo, essa prática gera confusão na missão da manufatura (perda de foco), aumenta a probabi­lidade de ocorrência de erros e eleva os custos. Nas empresas que adotam o JIT, o mercado-alvo é

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Veja o caso discutido no Capítulo 3, sobre a General Motors e seu novo sistema de gestão de estoques de peças sobressalentes na rede de concessionárias. Você verá que é outro exemplo de distribuição Ju.st in Time. Embora haja simi­laridades entre o JIT interno e o que envolve clientes, quanto ao fluxo de materiais, também há diferenças. No JIT interno, crucial para o fornecedor conseguir entregar quantidades pe­quenas de produto, de forma o mais frequente possível, é a redução de tempos de preparação de máquina. No JIT Di.stribution, não há a figu­ra do "tempo de preparação de máquina", pois trata-se de fazer produtos já acabados fluírem por canais de distribuição.

Questões para Discussão

1. No caso do JITD, qual é o correspondente ao tempo de preparação de máquina? Como fazer para que o JITD viabilize-se em ter­mos de entregas frequentes e em pequenas quantidades?

2. Quais as resistências que você esperaria en­contrar quando uma empresa lança-se no projeto de implantar JIT internamente?

3. Quais as resistências que você esperaria en­contrar quando uma empresa lança-se no projeto de implantar JITD envolvendo seus parceiros na rede de suprimentos?

geralmente limitado e as opções de produtos sfo igualmente limitadas.

Como o JIT dá ênfase no fluxo de materiais, incentivando a velocidade de passagem dos ma­teriais pela fábrica, o ideal é que os produtos se­jam relativamente padronizados e produzidos em grande quantidade. Nessas condições, os princí­pios da filosofia JIT são mais aplicáveis e geram melhores resultados. Contudo, numa era de cons­tantes mudanças nas demandas do mercado, como a que estamos vivendo, é importante que as em­presas ofereçam ao mercado uma diversidade de produtos, dentro de determinada faixa. Conforme

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discutido no Capítulo 2, a competitividade envol­ve, entre outros aspectos, projetar produtos que antecipem as necessidades do mercado e incluam uma variedade suficiente para atender às expec­tativas dos diferentes consumidores, ao mesmo tempo em que sejam produzidos a um preço que o mercado esteja disposto a pagar. Isso ]pode ser con­seguido de diversas formas e uma delas é aumen­tar a variedade de produtos oferecidos sem simul­taneamente aumentar a variedade do processo, a qual vem sempre acompanhada de complexidade e elevação de custos. Entende-se por processo mais. variado aquele com o qual se podem fabri­car produtos mais diversificados. O enfoque dado pela filosofia JIT, através de técnicas como proje­to adequado à manufatura e projeto adequado à montagem, equipamentos flexíveis, mão de obra flexível, além de uma grande ênfase na redução do tempo de preparação de máquinas, é reduzir a variedade e complexidade do processo, mantendo alta variedade de produtos oferecidos ao mercado, como representado na Figura 20.11.

Variedade de produtos

Variedade de

processos

Variedade de produtos

D 4

Variedade de

processos

Variedade de produtos

Variedade de

processos

Abordagem tradicional Abordagem JIT

Figura 20.11 Relação entre variedade de produto e processo, segundo as abordagens clássica e JIT.

A abordagem dada pelo JIT consiste princi­palmente no projeto inteligente de produto (veja o Capítulo 10), associado a considerações sobre o processo durante o estágio de projeto do produto. Dess·e modo, consegue-se aumentar a variedade de produtos produzidos em determinada fábrica,

mantendo, quando não reduzindo, a variedade e a complexidade do processo. Embora esses concei­tos não sejam exclusivos da filosofia JIT, são carac­terísticos a ênfase que o JIT dá a esses tópicos e o fato de que o projeto do produto e o do processo têm igual importância e trabalham efetivamente juntos no processo de desenvolvimento.

Algumas das técnicas associadas ao projeto adequado à manufatura e à montagem, adotadlas pela filosofia JIT, são comentadas a seguir.

Projeto modular. Um dos resultados de um bom projeto é, frequentemente, a redução do nú­mero de componentes necessários à produção de determinado produto e, consequentemente, a re­dução do lead time de produção. Da mesma forma, os produtos podem ser projetados segundo um enfoque modular, de tal modo que vários compo­nentes e submontagens sejam comuns dentro da faixa de variedade de determinado produto, con­forme ilustra a Figura 20.12. É possível, também, ampliar a variedade de produtos oferecidos ao mercado, através da combinação múltipla de um número restrito de componentes e submontagens alternativos. Uma fábrica de motocicletas, num exemplo simplificado, pode, com três modelos de quadro, quatro modelos de motores e três mode­los de tanque, oferecer ao mercado até 36 mo­delos de motocicletas diferentes, ao mesmo tempo em que cada etapa do processo de fabricação está trabalhando com uma pequena variedade de com­ponentes. Isso se traduz por manter as diferenças entre os produtos nos níveis mais altos da estrutu­ra dos produtos.

Projeto visando à simplificação. O projeto vi­sando à simplificação procura projetar produtos que sejam relativamente simples de fabricar e montar. Os proJetos de novos produtos devem, na medida do possível, incluir itens "de prateleira", padronizados, ou componentes que possam ser fa­bricados com um mínimo de testes de ferramentas e moldes no início de produção. As características dos produtos, como tolerâncias e acabamento su­perficial, entre outras, devem ser determinadas, considerando as consequências, no processo pro­dutivo e nos custos de produção, da sofisticação desnecessária. Essa abordagem pode resultar em grandes simplificações nos processos de manufa­tura e montagem.

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Produto A Produto 8 Produto C

Componente Y Componente Componente Z

Módulo X Módulo X Módulo X

Módulo X comum a várias estruturas de produtos

Figura 20.12 Utilização de módulos comuns.

Projeto adequado à automação. O projeto ade­quado à automação consiste em conceitos gerais, ideias que irão, no caso de componentes monta­dos, por exemplo, ajudar a simplificar os proces­sos de alimentação, posicionamento e montagem das peças. Nesse contexto, sugere-se que a mon­tagem seja feita trabalhando-se em um número mínimo de faces do produto, preferencialmente com movimentos de cima para baixo, evitando montagens laterais ou de baixo para c:ima. Desse modo, os processos de montagem podem mais fa­cilmente ser automatizados, eventualmente com o uso de robôs.

LAYOVT PARA JIT

Os objetivos de redução de estoques, redução dos lotes de fabricação, envolvimento da mão de obra, fluxo contínuo de produção e aprimoramen­to contínuo, presentes na filosofia JIT, impõem al­gumas mudanças na forma de arranjar os recursos produtivos no espaço disponível da fábrica.

O layout tradicional para empresas que pro­duzem certa variedade de produtos era o layout por processo ou funcional (veja o CaJPÍtulo 13). Nesse tipo de arranjo físico, os fluxos de mate­riais são variáveis e os roteiros de produção são diversos, correspondendo aos diferentes produtos feitos na fábrica. A movimentação de material é intensa e os recursos são agrupados por função, isto é, agrupam-se máquinas semelhantes, como o grupo de tomos, furadeiras, frezadoras e plainas. As grandes distâncias a movimentar e o fato de

610 A DMINISTRAÇÃO OE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

que os equipamentos processam vários produtos diferentes, requerendo tempo para sua prepara­ção, impõem a produção em lotes, gerando filas, maior estoque em processo e maior lead time de produção.

O arranjo físico geralmente utilizado nas empresas que adotam o sistema JIT é o celular. O layout celular é uma tentativa de linearização do, layout funcional ou por processo (para maiores detalhes veja o Capítulo 13). O layout linear, no qual os equipamentos estão dispostos segundo º' roteiro de produção dos produtos, é o arranjo mais eficiente, pois reduz ao mínimo a movimentação de materiais, assim como as filas e tempos gastos com preparação, já que os equipamentos são dedi­cados a um ou poucos produtos similares. O espa­ço é ocupado também eficientemente e o estoque em processo é bastante reduzido, limitando-se, no caso ideal, ao material que está sendo processado, em determinado momento.

O layout linear, também denominado de layout por produto, é mais aplicável a processos que se destinam a produzir grandes quantidades de poucos produtos mais padronizados, sendo me­nos utilizado em empresas que pretendem ofere­cer maior variedade de produtos ao mercado. Nes­se caso, o arranjo físico celular procura trazer as vantagens do layout linear, sem restringir demais a variedade possível de produtos.

As células de manufatura serão formadas pelos equipamentos necessários para processar completamente os componentes de determinada família, dispostos segundo o roteiro de fabricação característico dela.

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Pode-se notar que a redução na movimenta­ção de material é evidente no layout celular. Con­sequentemente, a necessidade de espaço devido à movimentação também é bastante reduzida.

Em geral, a forma das células em JIT é em "U". O layout celular apresenta algumas vanta­gens .• compatíveis com as necessidades JIT:

• menos estoque de produtos em processo;

• menores custos de movimentação de materiais;

• menores lead times de produção;

• planejamento da produção mais simplificado;

• melhor controle visual das operações;

• menos trocas de ferramentas (menores tempos de preparação).

A célula de manufatura permite, também, obter as vantagens provenientes da aplicação do conceito de foco, discutido no Capítulo 2, ou seja, maior conhecimento do trabalho por parte dos operadores da célula com consequente redução dos custos operacionais e melhoria da qualidade.

É importante notar, também, que o layout celular traz algumas desvantagens, impondo al­gumas restrições ao processo. Tais desvantagens incluem a redução da flexibilidade do sistema de manufatura e a maior ocorrência de máquinas pa­radas, dado que os equipamentos são dedicados às células, não podendo ser compartilhados por produtos ou componentes fabricados em outras células, caso o mix de produtos varie substancial­mente ao longo do tempo, fazendo variar a carga de trabalho nas células. Outra desvantagem geral­mente presente é a maior necessidade de capaci­dade (quantidade de equipamentos) em relação ao layout funcional.

Para que as células sejam viáveis econômi­ca e operacionalmente a longo prazo, é necessá­rio que as máquinas sejam agrupadas de maneira bem próxima, que as células sejam razoavelmente flexíveis em relação ao mix de capacidade, que se­jam suficientemente grandes para que a ausência de um funcionário não interrompa sua operação e suficientemente pequenas para que os operadores identifiquem-se com a célula na qual trabalham e conheçam bem os produtos e equipamentos. Além

disso, é fundamental que os funcionários sejam flexíveis e multi-habilitados para operar várias má­quinas próximas e substituir operadores ausentes.

GERÊNCIA DA LINHA PARA JIT

As linhas de produção não são exclusivas do sistema JIT, tendo sido aplicadas em um número muito grande de empresas neste século. Contudo, o sistema JIT traz algumas diferenças na aplicação das linhas de produção, assim como na forma de gerenciá-las.

Já comentamos que no sistema JIT procura­-se transformar o processo de produção, fazen­do-o aproximar-se do fluxo contínuo, principal­mente através do aprimoramento do projeto dos produtos, fazendo-os utilizar componentes co­muns e padronizados, e da modificação do layout, utilizando o conceito de células de manufatura. Integrando toda a fábrica num fluxo contínuo de produção, o sistema JIT consegue aplicar as linhas de produção, reconhecidamente o processo mais eficiente de produzir, não só na montagem final dos produtos, mas também nas operações de sub­montagens e fabricação de componentes. Em ge­ral, nas fábricas em que predomina a abordagem tradicional, as linhas de produção somente são utilizadas na montagem final e não nas submon­tagens e fabricação. A utilização do layout celular, conforme descrito anteriormente, transforma pra­ticamente todas as seções da fábrica em linhas de produção, produzindo continuamente e integra­das entre si por um sistema de programação, de­nominado sistema kanban, descrito anteriormen­te. Além da aplicação mais extensiva das linhas de produção, o sistema JIT apresenta algumas peculiaridades em sua administração, que serão analisadas a seguir.

A gerência de uma linha de produção geral­mente tem ênfase no balanceamento da linha, ou seja, na alocação das diversas tarefas necessá­rias para a execução completa da montagem ou fabricação, aos postos de trabalho que compõem a linha, de modo a garantir que todos os postos tenham cargas de trabalho equivalentes. Desse modo, o tempo de ciclo da linha (intervalo de tem­po entre a finalização de dois itens consecutivos) é

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dado pelo tempo de ciclo das estações de trabalho, que devem ser iguais. Quando a linha está des­balanceada, determinada estação de trabalho tem um tempo de ciclo maior do que o das outras, fa­zendo com que esse seja o tempo de ciclo da linha. As estações que levam menos tempo para executar suas tarefas permanecem ociosas, pois somente re­cebem outro produto para processar a intervalos iguais ao tempo de ciclo da linha em sua totali­dade. Como consequência, grande ênfase é dada ao balanceamento das linhas, visando aumentar a produtividade. É comum que sejam utilizados sofisticados programas de computador para esse balanceamento que, uma vez executado, procura­-se manter por um longo período, produzindo-se uma grande quantidade de produtos para os quais a linha foi balanceada.

O balanceamento da linha, como foi descrito, assemelha-se à preparação de uma grande máqui­na, que, em virtude do alto custo da repreparação (mudança de produto na linha), deve produzir em grandes lotes. Já foi bastante evidenciada a pre­ocupação da filosofia JIT de reduzir os tempos e os custos de preparação de equipamentos e o enfoque nas linhas de produção é similar. A ên­fase prioritária do sistema JIT para as linhas de produção é a flexibilidade, ou seja, espera-se que as linhas de produção sejam balanceadas muitas vezes, para que a produção esteja ajustada às va­riações da demanda. Para conseguir essa flexibili­dade, a gerência da linha no sistema JIT apresenta algumas características especiais.

Um dos requisitos importantes para a flexi­bilidade da linha de produção é a utilização de mão de obra flexível. Esse aspecto contrapõe-se à abordagem tradicional, na qual as atribuições dos trabalhadores de uma linha são razoavelmente fi­xas, visando reduzir os tempos pela especialização e alta repetitividade das tarefas. Utilizando traba­lhadores flexíveis, a linha de produção pode ser rebalanceada com mais facilidade, pois os traba­lhadores podem ser deslocados para os pontos de maior carga de trabalho, sem que seja necessário um período de aprendizagem para que a linha es­teja trabalhando de forma produtiva novamente. Para isso, as fábricas que trabalham sob o regime

612 ADMINISTRAÇÃO OE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES ° C ORRÊA

JIT incentivam seus trabalhadores, através da re­muneração, a conhecer e dominar várias funções.

Outra característica importante é a autono­mia dada aos encarregados pela linha para mo­dificar o balanceamento, assim que percebam a ocorrência de gargalos, devidos a mudanças nas características da demanda. Obviamente, isso re­quer habilidade dos encarregados para que pos­sam rebalancear a linha rapidamente, eliminando os gargalos. Os defensores da filosofia JIT acredi­tam que a proximidade dos encarregados com as linhas, seus trabalhadores e as tarefas executadas, associadas à própria prática do rebalanceamento, favorecem o desenvolvimento dessa habilidade. Isso já não acontece quando o balanceamento é feito por uma equipe de apoio, distante da reali­dade da linha, baseado no auxílio de programas de computador, como é comum na abordagem tradicional. Note-se que não se está advogando contra o uso do computador como ferramenta de apoio, apenas pretende-se evidenciar a importân­cia, dada pela filosofia JIT, no desenvolvimento da autonomia dos encarregados.

O princípio de não aceitação dos erros e, de forma geral, da situação vigente, assim como o princípio de aprimoramento contínuo, estão in­corporados na gerência das linhas no sistema JIT. Ao contrário da abordagem tradicional, na qual as linhas são geralmente concebidas para traba­lhar em um ritmo constante, no JIT as linhas es­tão preparadas para trabalhar mais lentamente, podendo até ser paralisadas, caso problemas de qualidade estejam ocorrendo. Não existe a prática tradicional de afastar os produtos defeituosos da linha, evitando seus atrasos, para que sejam re­processados numa linha especial. Os funcionários, sendo flexíveis e participantes, são deslocados. para onde os problemas estão ocorrendo, até que sejam sanados, para que a linha possa acelerar­-se novamente, quando a qualidade for satisfató­ria. Por outro lado, quando não estão ocorrendo problemas, de qualidade ou de balanceamento (gargalos), a primeira atitude dos encarregados é desconfiar que haja trabalhadores em excesso na linha. Assim, a providência é retirar alguns trabalhadores, forçando a ocorrência de garga­los para que possam ser prontamente resolvidos,

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restabelecendo-se o balanceamento. Dessa forma, impõe-se um processo de melhoria contínua, seja em t·ermos de qualidade ou de produtividade, ca­racterística da filosofia JIT.

Outras características da administração das linhas de produção no sistema JIT são:

• ênfase na manutenção preventiva dos equipa­mentos, procurando minimizar a ocorrência de paradas não previstas, reduzindo a necessidade de estoques entre os postos de trabalho, tão usu­ais nas linhas tradicionais;

• layout em forma de U, conforme comentado, colocando os postos de trabalho bastante pró­ximos entre si, evitando a necessidade de equi­pamentos caros de movimentação de materiais, sujeitos a quebras e que limitam a flexibilidade das linhas;

• utilização de equipamentos menores, mais fle­xíveis, em geral desenvolvidos pefa equipe de engenharia da fábrica, de manutenção simples,

~ L EAN PRODUCTION

A partir de um estudo feito por um consór­cio de instituições de pesquisa do mundo todo, liderado pelo MIT (Massachusetts lnstitute of Technology), chamado IMVP (Intemational Motor Vehicle Program), que estudou detalha­damente as práticas e as técnicas de gestão na indústria automobilística, na segunda metade da década de 1980, os líderes da pesquisa con­cluíram que, para os anos vindouros, os fabri­cantes de automóveis teriam que se conformar a um modelo que se configurava como domi­nante nas empresas líderes. Os pesquisadores batizaram esse "novo modelo" de lean produc­tion (traduzido no Brasil, às vezes, como "pro­dução enxuta"). lnteressantemente, esse novo modelo diferia pouquíssimo dos princípios do Just in Time, desenvolvido na Toyota e ado­tado em fábricas do mundo todo. Fato é que, depois da publicação do livro que popularizou as conclusões do estudo, chamado A máquina

podendo-se agregar novas unidades para ajus­tar a capacidade à demanda.

O esforço na redução dos tempos de prepa­ração de equipamentos e a busca da flexibilida­de da produção, através da aplicação de todos os conceitos mencionados, reflete-se na ênfase que o sistema JIT dá à produção de modelos mesclados na montagem final dos produtos. Isso significa, em vez de se definir, em nível de plano mestre de produção, quantidades de, por exemplo, 200 bombas do tipo A, 300 do tipo B e 400 do tipo C, com intuito de redução de custos totais de prepa­ração, por trabalhar com lotes maiores, progra­mar a produção de ciclos repetitivos de 2 bombas do tipo A, 3 do tipo B e 4 do tipo C, de forma que a produção aproxime-se ao máximo do perfil de consumo dos produtos e, com isso, mantenham-se níveis mais suaves de flutuação das taxas de pro­dução de todos os produtos, numa lógica o mais repetitiva possível.

que mudou o mundo, muitas pessoas passaram a adotar essa denominação para se referir aos modelos baseados no JIT e mesmo a tentar di­ferenciar o chamado lean production do Just in Time. Reembalagem de um conjunto de técnicas para alavancar novos contratos de consultoria, novo nome mais "ocidental" para tentar des­caracterizar o conjunto de técnicas como algo de origem japonesa; muitas têm sido as razões apontadas para a "nova denominação". O fato é que, de concreto, os princípios principais do JIT e da chamada lean production são bastante parecidos.

Questão para Discussão

1. Faça uma pesquisa na Internet e tente es­tabelecer as diferenças entre o conceito de "lean production" (produção enxuta) e o conceito de JIT (just intime).

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QUALIDADE TOTAL E JIT

A qualidade é um beneficio gerado pelo siste­ma J1T e um pressuposto para sua implementação. Assim, constitui-se num dos elementos mais im­portantes da filosofia, ao lado da busca por flexi­bilidade. O conjunto de conceitos que traduzem a visão do JIT sobre a gestão da qualidade tem sido denominado controle da qualidade totaL Foi desen­volvido no Japão, a partir dos trabalhos de Joseph M. Juran, W Edwards Deming e A. V. Feigenbaum (veja o Capítulo 6).

O principal conceito do controle da qualida­de total é a atribuição da responsabilidade pela qualidade à produção. De forma mais ampla, isso quer dizer controle de qualidade na fonte, ou seja, garantir que os produtos sejam produzidos com qualidade e não apenas inspecioná-los após sua produção. Com a atribuição da responsabilidade pela qualidade à produção, passam a caber ao de­partamento de controle de qualidade as seguintes funções:

• trein ar os funcionários da produção em como controlar a qualidade;

• conduzir auditorias de qualidade aleatórias nos diversos setores da produção e nos forne­cedores;

• dar consultoria aos funcionários da produção no tocante aos problemas de qualidade que estão enfrentando;

• supervisionar os testes finais de produtos aca­bados; e

• auxiliar a difusão e a implementação dos con­ceitos de controle de qualidade pela empresa toda. Esta última tarefa está relacionada com uma inovação japonesa bastante difundida atu­almente no mundo todo, denominada círculos de controle da qualidade.

A meta do controle da qualidade total é atin­gir a perfeição através do aprimoramento contí­nuo. Como foi mencionado, enquanto as metas do controle da qualidade tradicional costumam ser estáticas, no controle da qualidade total as metas caminham continuamente para a perfeição, ou, como é mais conhecida entre empresas ocidentais, ca.minham para o "zero defeito". E bastante comum

614 A DMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

encontrar a expressão nível ótimo de qualidade en­tre os gerentes que adotam a filosofia tradicional de produção, significando que existe um nível de qualidade para o qual qualquer esforço adicional no sentido de melhoria de qualidade requer cus­tos que não são compensados pelos benefícios re­sultantes. Esse conceito é fortemente contestado pelos adeptos do JIT, que defendem que, quanto maior o nível de qualidade obtido, dentro da fi­losofia de qualidade obtida na fonte, menores as despesas referentes ao controle da qualidade. Como exemplo, pode-se citar a prática japonesa de inspecionar apenas a primeira e a última peça de um lote fabricado, pois, estando o processo sob controle, não há razão para supor que as tolerân­cias não tenham sido atingidas durante o proces­samento do lote, se a primeira e a última peças estão dentro das especificações.

A seguir, são listados alguns dos aspectos im­portantes do controle da qualidade total que são complementares ao JIT:

• controle do processo: controle de todas as fases do processo durante a produção. Essa tarefa re­quereria uma quantidade enorme de inspetores caso a qualidade não fosse responsabilidade da produção. Cada posto de trabalho é, também, um posto de inspeção e controle da qualidade do processo;

• visibilidade da qualidade: estabelecimento de padrões de qualidade mensuráveis e exposição da situação da produção em relação a esses pa­drões, através de quadros e cartazes por toda a fábrica. Dessa forma, todos, operários, gerentes e clientes, podem estar cientes da situação refe­rente à qualidade;

• disciplina da qualidade: enquadramento das ati­tudes de todos em relação às metas de quali­dade, não permitindo relaxamento dos esforços de aprimoramento contínuo ou valorização de objetivos que se oponham às metas de quali­dade (velocidade de fluxo, por exemplo, apro­vando ~ liberação de peças fora das especifica­ções). E necessário o total comprometimento da alta direção;

• paralisação das linhas: prioridade total para a qualidade, ficando em segundo lugar a quan­tidade produzida. As linhas devem reduzir sua

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velocidade, ou mesmo parar, caso a qualidade não esteja satisfatória, para que os problemas sejam resolvidos;

• correção dos próprios erros: os problemas de qua­lidade e os erros cometidos devem ser sanados por quem os gerou. Não devem existir linhas esjpeciais de retrabalho para peças defeituosas, pois isso contribui para a complacência com a ocorrência dos erros;

• inspeção 100%; deve haver esforço para inspe­cionar todas as peças produzidas, principalmen­te utilizando os próprios operários responsáveis por sua produção. A ideia do controle estatís­tico por amostragem contraria vários conceitos do controle da qualidade total: é importante procurar os erros, pois estes são fontes de infor­mações para o aprimoramento contínuo; não se deve assumir um nível de qualidade aceitável (NQA), qualquer que seja, pois contraria a meta de zero defeito e perfeição;

• lotes pequenos: os lotes pequenos constituem um dos pontos fundamentais da produção JIT e também do controle da qualidade total. A fa­bricação em lotes pequenos permite que as pe­ças cheguem rapidamente ao posto de trabalho posterior, no qual eventuais problemas de qua­lidade serão prontamente identificados. Lotes pequenos não geram grandes estoques, que ten­dem a esconder os problemas de qualidade;

• organização e limpeza da fábrica: a importância desse aspecto foi evidenciada anteriormente, as­sim como sua importância para a obtenção da qualidade na fonte;

• excesso de capacidade: manter certo excesso de capacidade contribui para viabilizar o princípio de paralisação da linha de produção ou redu­ção de sua velocidade, caso estejam ocorrendo problemas, referentes ou não à qualidade. A programação inferior à capacidade máxima per­mite, também, que as pessoas trabalhem e os equipamentos sejam operados em ritmos mais suaves, evitando desgastes excessivos;

• verificação diária dos equipamentos: atividades como lubrificação, ajustes, regulagens, afiação de ferramentas, entre outras, devem ser exe­cutadas diariamente, ao início do turno, pois ajudam a garantir a qualidade das peças pro­duzidas, no que se refere à situação dos equi-

pamentos. Máquinas desajustadas produzem peças defeituosas.

Ilustra-se a inter-relação do controle da qua­lidade total e outros elementos do JIT formando um ciclo positivo de aprimoramento contínuo da seguinte forma:. o JIT, com sua política de redução incessante dos estoques para pôr às claras os pro­blemas, localiza-os de forma seletiva. Localizado o problema, os conceitos denominados qualidade total encarregam-se de ir buscar as causas mais es­senciais dos problemas de qualidade e atacá-las, de forma a resolver o problema. Resolvido o pro­blema, o fluxo produtivo é restaurado, criando-se, segundo a filosofia JIT, oportunidade de maior re­dução de estoques, de forma a se perpetuar o es­forço de melhoramento contínuo. A Figura 20.13 ilustra esse ciclo interminável.

/;,fi!~~::::~c~,::,:::;., / recursos (estoques acentuada dosl

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Figura 20.13 Relações positivas entre o JIT e a qualidade total.

REDUÇÃO DE TEMPOS ENVOLVIDOS

NO P ROCESSO

A redução dos tempos envolvidos no processo de produção JI'f tem um efeito muito importante: a flexibilidade. Essa flexibilidade resulta do fato de a produção não estar comprometida com de-

J UST IN 1"1ME (JIT) E O PERAÇÕES ENXUTAS 615

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terminado programa de produção por um prazo muito longo, podendo adaptar-se de forma mais ágil às flutuações de curto prazo na demanda.

A importância da meta de reduzir a zero o lead time de produção não pode ser subestimada, principalmente considerando-se a pressão exerci­da pelo mercado junto às empresas de manufatu­ra, no sentido de responder rapidamente a pedi­dos de uma grande variedade de produtos.

Para a redução do lead time de produção, os produtos, o sistema de manufatura e o processo de produção devem ser projetados de forma a facili­tar o rápido fluxo das ordens de produção. Abor­dagens tradicionais tendem, como foi comentado, a tratar o projeto do produto e o projeto do proces­so separadamente. A filosofia JIT tem um enfoque sistêmico e reconhece a interdependência dessas atividades. Embora reduzir a zero o lead time de produção seja algo reconhecidamente impossí­vel, um sistema de manufatura que persegue essa meta e constantemente se esforça para reduzir o

Tramitação da ordem

lead time de produção dos produtos ao mínimo possível tenderá a operar com maior flexibilidade em relação a seus concorrentes.

A ideia de reduzir os lead times é reforçada pela constatação de que apenas numa pequena parcela do lead time total estão sendo realizadas atividades que agregam valor aos produtos. Para que se analisem estratégias de redução dos lead times, é conveniente que se entenda sua compo­sição. Em geral, o lead time de produção, tempo que decorre desde o momento que uma ordem de produção é colocada até que o material esteja disponível para uso, é composto pelos seguintes elementos:

• tempo de tramitação da ordem de produção;

• tempo de espera em fila;

• tempo de preparação da máquina;

• tempo de processamento;

• tempo de movimentação.

Preparação do equipamento Movimentação

! 1!1 ! ! !

l+-~~~~-Es_p_e_ra_e_m~fi l_ª~~~~~~~Pr_o_ce_s_sa_m~en_tº~~+ Lead time

Identificação da necessidade

do material

Figura 20.14 A composição do lead time.

A Figura 20.14 ilustra a composição do lead time de produção, mostrando o tamanho relativo aproximado dos diferentes elementos, principal­mente quando se trata de um processo do tipo ba­tch ou job shop. Analisemos o tratamento que o sistema JIT dá a esses elementos, na tentativa de reduzi-los ao máximo.

Tempo de tramitação da ordem de produção. O tempo de tramitação burocrática dar ordem de produção geralmente não é muito relevante, mas pode chegar a um ou dois dias, dependendo da

616 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

Material disponível para uso

empresa. Esse tempo tende a ser maior quando º' sistema que emite as ordens de produção é centra­lizado, como no caso do sistema MRP li. No JIT, o sistema de liberação de ordens está no nível da fábrica, sendo extremamente ágil, podendo utili­zar cartões (kanban) ou outro meio de fácil comu­nicação. Dessa forma, esse tempo é praticamente reduzido a zero.

Tempo de espera em.fila. Esta parcela do lead time responde, geralmente, por mais de 80% do

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tempo total, em processos batch ou job shop que utilizam a abordagem tradicional de administra· ção da produção. Consequentemente, esse é o ele­mento do lead time mais importante de ser atacado pela filosofia JIT. O tempo que uma ordem de pro­dução deve esperar em fila é resultante da soma dos tempos de preparação de máquina e proces­samento de cada uma das ordens que serão exe­cutadas anteriormente a esta. Consequentemente, uma forma de reduzir o tempo de fila é reduzir os lotes de produção de todas as ordens na fábrica, assim como reduzir os tempos de preparação de máquina. Essas duas providências já fazem parte do sistema JIT, como foi comentado. Outra pro· vidência é executar o balanceamento das linhas de maneira eficaz, não permitindo a formação de estoques entre os postos de trabalho. Finalmente, a coordenação dos diversos estágios da produção para que produzam somente o que e quando os estágios posteriores requererem também contribui para a redução do estoque em processo, reduzindo o tempo de fila. Esta última providência é garanti· da pelo sistema kanban, já visto.

Tempo de preparação do equipamento. A redu­ção dos tempos de preparação de máquina pode ser obtida com a ajuda das seguintes prescrições práticas:

1. enfoque a redução do tempo de preparação com as mesmas técnicas de engenharia indus­trial e métodos de melhoria que são geralmente aplicados ao projeto do trabalho. Isso significa documentar como o setup é feito atualmente (o uso de videoteipe é bastante comum) e procu­rar eliminar etapas e reduzir o tempo das eta· pas remanescentes;

2. separe o setup interno do externo. O primei­ro refere-se à parcela do tempo de preparação que requer que a máquina esteja parada para que seja realizado;

3. converta, na medida do possível, o setup inter­no em externo. Essa talvez seja a providência prática mais importante na tentativa de redu­zir o tempo de preparação a um período de apenas um dígito em minutos (SMED - Single Minute Exchange of Die). Para isso, deve-se ter

todo o material necessá.rio pronto e próximo à máquina antes que o processo de preparação inicie-se;

4. prepare o próximo processo de setup cuidado­samente e bem antes do momento em que será necessário;

5. modifique o equipamento para permitir uma preparação fácil e pequena necessidade de ajustes. Isso significa projetar conexões do tipo macho-fêmea com engate rápido, com múlti­plos pinos ou grampos especiais, usar código de cores para identificação de peças e posições, entre outras medidas. Os ajustes representam a maior par·cela do tempo de preparação e de­vem ser eliminados ao máximo;

6. possibilite a uma pessoa executar a maior par­te do setup. Isso significa projetar dispositivos especiais para armazenagem de ferramentas e dispositivos de fixação na mesma altura do ponto em que serão utilizados na máquina, além de usar mesas com roletes para partes pesadas, permitindo um mínimo de esforço;

7. saiba para que a máquina deverá ser prepa­rada. Não dê à máquina mais usos do que o necessário. Isso significa programar para uma máquina produtos e componentes que utilizem a mesma preparação ou exijam preparação simples na troca de um produto para outro;

8. pratique o processo de preparação da máquina. A prática é tão importante para a redução do tempo de set-up quanto o é para a redução do tempo de execução das tarefas de operação.

Tempo de processamento. Segundo a filoso­fia JIT, o tempo de processamento é o único que vale a sua duração, pois agrega valor ao produto. Consequentemente, o enfoque é utilizar o tempo necessário para que se produza com qualidade e sem erros.

Tempo de movimentação. O tempo de movi­mentação é naturalmente reduzido pela utilização do layout celular, descrito anteriormente, reduzin­do-se as distâncias a serem transportadas. Outra providência no sentido de reduzir esse tempo é trabalhar com lotes pequenos que podem ser movi­mentados rapidamente. Ainda que seja necessário produzir uma grande quantidade de determinado

JUST IN TIME (JIT) !! OPl!RAÇÕl!S E:-<XUTAS 617

Page 29: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

item, esta será uma soma de vários lotes pequenos de produção, os quais serão movimentados para as operações seguintes assim que terminados. Des­se modo, o lote de movimentação, no sistema JIT,

é sempre pequeno e eventualmente menor que º' lote real de produção, em determinado momento. Esse fato pode ser verificado na explicação do sis­tema kanban.

ê A EVOLUÇÃO H ISTÓRICA DO JUST l N TIME

O sistema JIT não foi todo desenvolvido de uma só vez. A abordagem foi muito mais evolu­tiva e incremental que na forma de salto quali­tativo. Segundo Ohno (1988), hoje considerado o pai do sistema Just in Time, ocorreu a seguin­te sequência de desenvolvimentos das técnicas que mais tarde vieram a compor o JIT:

1945-1947: grande esforço para reduzir os tempos de trocas de ferramentas, para permitir uma produção mini­mamente econômica de uma va­riedade de modelos em volumes ínfimos comparativamente àquela das fábricas americanas (em 1949, a produção japonesa de veículos leves foi só de 1.008 carros - com­pare com a produção de em tomo de 2.000.000 de carros que só a Ford fabricou em 1926!) que po­diam dar-se ao luxo de gastar tem­po com as trocas de ferramentas, já que trabalhavam por dias e dias dedicadamente a uma só peça, feita em volumes enormes. Nesse esforço, foi importante a contribui­ção de Shigeo Shingo, um gerente da Toyota à época que aplicou in­cansavelmente princípios de eco­nomia de movimentos às trocas de ferramentas, denominando seu método, mais tarde, SMED System (Single Minute Exchange of Dies, ou troca de moldes em minutos sin­gulares ~ menos de 10 minutos) (Shingo, 1985).

618 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

1947: reposicionamento das máquinas em "E'.

1948: produção "puxada" pelo processo subse­quente, em vez de empurrada pelo pro­cesso antecedente (modelo Ford).

1949: reposicionamento em layouts em "fer­radura" (células em U) para permitir que um operador cuidasse de várias máquinas.

1949: abolidos os grandes estoques interme­diários (buffers), criados em consequên­cia da produção empurrada não sincro­nizada.

1950: linhas de usinagem sincronizadas com a linha; controles visuais (gestão à vista).

1953: sistema de "supermercado". A linha bus­ca as peças na medida de suas necessida­des perto do ponto de uso; reposição do "supermercado" (peças no ponto de uso) Just in Time; nivelamento da produção.

1955: plantas de linhas de montagem e de pro­dução do corpo do carro ligadas; autono­mação; parada da linha pelo funcionário em caso de problema na linha; mixed model assembly (montagem de modelos mesclados ao invés de grandes corridas de linha para um só modelo); começa a integração de Just in Time (produção puxada) com fornecedores localizados próximos da montadora.

1957: adotado o painel de procedimento.

1958: abolidos os "recibos" de retirada do de· pósito de peças.

Page 30: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

1962: sistema kanban adotado em toda a fábri­ca; troca de ferramenta em 15 minutos na fábrica central; adoção de sistema poka yoke (alteração de produto e proces­so para tomá-los à prova defalhas).

1962: uso de círculos de controle de qualidade começa.

1965: adoção do kanban para comandar repo­sição de peças fornecidas por fornecedo­res externos; Just in Time se espalha pela Keiretsu (rede de empresas fornecedoras integradas).

Ohno (1988) assinala que é ilusão achar que o sistema Just in Time tenha-se espalhado para outros setores produtivos japoneses de for­ma simples ou rápida. Segundo o autor, só de­pois da crise do Petróleo de 1973 é que de fato (por uma outra crise) disparou-se um processo

de popularização dos princípios do JIT tanto dentro como fora do Japão.

Questões para Discussão

1. Quais as principais dificuldades que você imagina que uma empresa enfrente quando decide implantar os conceitos do JIT/pro­dução enxuta nas suas fábricas? E nos seus escritórios?

2. Quanto aplicáveis você imagina que sejam os conceitos do JIT/produção enxuta para uma operação com baixo grau de estoca­bilidade, alto grau de simultaneidade pro­dução-consumo, alto grau de intensidade e extensão da interação e baixo grau de obje­tivação possível na avaliação do desempe­nho (Capítulo 4)?

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Quais são os principais objetivos da filosofia JIT?

2. Comente a afirmativa: "O sistema JIT é mais do que um conjunto de técnicas, é uma filoso­fia de trabalho."

3. Explique como a redução dos estoques pode ajudar a encontrar problemas no processo ]produtivo. Quais são os tipos de problemas geralmente escondidos pelos estoques?

4. Quais são os principais aspectos que diferen­ciam a filosofia JIT da abordagem tradicional de administração da produção?

5. Quais são os principais tipos de desperdícios encontrados na produção? Como a filosofia JIT propõe eliminá-los?

6. Faça uma correlação entre as características do sistema JIT para a fábrica e as característi­cas do fornecimento de materiais JIT.

7. Qual a principal preocupação do planejamen­to da produção ao elaborar o programa mes­tre de produção, no sistema JIT?

8. Explique o funcionamento do sistema kanban de dois cartões.

9. Como o sistema JIT contribui para os objeti­vos estratégicos da empresa?

10. O que é Just in Time Distribution e quais rela­ções ele tem com o JIT tradicional, interno a uma unidade produtiva?

J UST IN 1"1ME (JIT) E O PERAÇÕES ENXUTAS 619

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EXERCÍCIOS

1. Imagine que uma empresa pretenda começar a utilizar kanban para a produção de três peças: A, B e C. Calcule o número de kanbans neces-

A

Demanda 150 por dia

Lead time 1 semana

Tamanho do lote 25 unidades

Estoque de segurança 10%

2. Caixas de câmbio são entregues para a linha de produção em contêineres com cinco unidades. O l.ead time para a entrega das transmissões é de uma hora. Na linha de produção, aproxi­madamente cinco caminhões são produzidos por hora, e a administração decidiu que um estoque de segurança equivalente a 40% da demanda esperada deve ser mantido. Quantos cartões de kanban são necessários?

3. Uma estação de montagem é solicitada a pro­duzir 150 circuitos eletrônicos por hora. De­mora 30 minutos para receber os componentes necessários da estação que a antecede. Após terminada a montagem dos circuitos, estes são colocados em um contêiner, que deve ter 25 peças para poder partir para a próxima esta­ção. Sabendo que a fábrica opera com fator de segurança de 10%, determine o número de kanbans utilizados no processo de montagem do circuito.

4. Com base no exercíco anterior, determine o número de kanbans necessários em cada caso:

a) A demanda aumenta para 250 circuitos por hora.

b) O lead time aumenta para 40 minutos.

c) O tamanho do contêiner cai para 15.

d) O fator de segurança aumenta para 20%.

620 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

sários para as peças A, B e C, dadas as seguin­tes informações:

B e

120 por semana 200 por dia

1 semana 2 semanas

2 unidades 50 unidades

20% o

BIBLIOGRAFIA E LEITURA ADICIONAL

RECOMENDADA

BERGGREN, C. The volvo experience: altematives for lean production. Londres: Macmillan, 1992.

CHASE, R. B.; AQUILANO, N. J.; JACOBS, F. R. Ope­rations management for competitive advantage. 9. ed. New York: McGraw-Hill: Irwin, 2001.

CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M. Planeja­mento, programação e controle da produção. São Paulo: Atlas, 2001.

DILWORTH, J. B. Operations management. Fort Worth: Dryden, 2000.

GAITHER, N.; FRAZIER, G. ôperations management. 9. ed. Cincinatti: South-Western, 2002.

GUNASEKARAN, A. (Ed.). Agile manufaturing: the 2l g century competitive strategy. New York: Elsevirer, 2001.

HARRISON, A. Just in time manufacturing in perspecti­ve. Londres: Prentice Hall, 1992.

HUTCHINS, D. Just in time. São Paulo: Atlas, 1993.

KRAJEWSKI, L. J.; RITZMAN, L. P. Operations manage­ment. 4. ed. Reading: Addison-Wesley, 1996.

MELNYK, S. A; DENZLER, D. R Operations manage­ment. New York: McGraw-Hill: Irwin, 1996.

OHNO, T. O sistema Toyota de produção. São Paulo: Bookman, 1997.

Page 32: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

SHINGO, S. A revolution in manufacturing: the SMED systern. Stanford: Productivity Press, 1985.

SCHONBERGER, R. J .; KNOD, E. M. Operations mana­gement. Chicago: Irwin, 1994.

TAGUCHI, G. Introduction to quality engineering. Tó­quio: Productive Organization, 1986.

WOMACK, J. P.; J ONES, D. T.; ROOS, D. The machine that changed the world. New York: Rawson Associates, 1990.

Caso para e studo: Lunch in the Box Catering

A "Lunch in the Box Catering Ltda." (LIB) é uma empresa brasileira de alimentação que fornece desde refeições rápidas em caixinhas (do tipo servido em companhias aéreas ou ôni­bus) até alimentação para festas e convenções. É hoje uma empresa respeitada no mercado e fo:i fundada em 1986 por um casal de advoga­dos, Ana Maria e José Carlos Castanheda. Os proprietários e até hoje gestores da empresa dividem a demanda dos clientes em "delivery apenas" (as refeições são entregues aos clientes, mas não são servidas pelo pessoal da LIB) e "de­livery e serviço" (refeições entregues e servidas pelo pessoal da LIB).

O lado "delivery apenas" consiste em cai­xinhas que podem conter sanduíches, saladas simples, frutas e barras de cereais, por exem­plo. O cardápio para esse tipo de demanda é restrito a seis tipos básicos de sanduíches, três tipos de saladas ou batatas fritas. tipo chips e poucos tipos de sobremesas simples. Pode ser solicitada uma bebida em caixinha longa vida para acompanhar a refeição. O nível geral de demanda desse tipo de produto é mais ou me­nos constante ao longo do ano, embora o mix solicitado possa variar. O lead time (tempo de entrega demandado pelo cliente) para esse lado do negócio é bem curto. Os clientes, em geral, solicitam seus pedidos não mais do que um dia antes da entrega. A LIB exige que os pedidos cheguem até às 10 horas da manhã para que a entrega seja feita no mesmo dia.

O lado "delivery e serviço" focaliza-se em atender a festas e convenções. O cardápio é bastante amplo e inclui uma completa seleção de entradas, salgadinhos, pratos principais, so­bremesas e bebidas e permite pedidos especiais. A demanda para esse tipo de produto é mui-

to mais sazonal, com a demanda mais pesada ocorrendo nos meses de abril, maio, novembro e dezembro. Entretanto, o horizonte de planeja­mento para esse "lado" do negócio da LIB é bem mais longo. Clientes reservam seus pedidos com semanas e até meses de antecedência.

As instalações da LIB atendem aos dois lados do negócio e são organizadas como um job shop (veja o Capítulo 10). Há cinco grandes áreas de trabalho: uma de fogões e forno para produtos "quentes'', uma fria para preparação de saladas, uma para preparação de "entradas" e salgados, urna de preparação de sanduíches e uma de montagem das caixinhas e embala­gens em geral. Três câmaras frias (grandes ar­mários frigorificados) armazenam alimentos perecíveis e uma grande despensa armazena alimentos que não requerem refrigeração. O es­paço e a perecibilidade dos alimentos limitam a possibilidade de armazenar grandes volumes (tanto de matérias-primas, como de alimentos preparados) por longos períodos. A LIB compra as sobremesas de fornecedores externos. Alguns entregam na própria LIB e outros, menores e mais especializados, exigem que a LIB colete as sobremesas.

A programação dos pedidos ocorre em dois estágios. Nas segundas-feiras, são programados os pedidos de "delivery e serviço" a serem en­tregues em cada um dos dias da semana. Tipi­camente, são vários pedidos desse tipo a serem programados e entregues em cada dia. Esse ní­vel de volume de pedidos permite que se tenha algum nível de ganho de escala (componentes de vários pedidos processados juntos). Os pe­didos de "delivery apenas" são programados dia a dia devido ao pouco tempo de antecedência com que chegam. Às vezes, itens para "delivery apenas" faltam devido às incertezas da deman-

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Page 33: Capítulo 20 - Just in Time e Operações Enxutas (2)

da combinadas com o limitado espaço para ar­mazenagem.

A LIB tem dez funcionários operacionais fixos, além dos administrativos: dois cozinhei­ros e oito preparadores que também trabalham eventualmente servindo no "delivery e serviço". Em períodos de mais alta demanda, são con­tratados funcionários temporários, e também pessoal para servir (incluindo garçons) é con­tratado por tarefa. A tarefa do cozinheiro é es­pecializada e requer treinamento e experiência. A tarefa de preparação nem tanto, permitindo que se realoquem funcionários de forma flexível entre diferentes atividades e áreas de trabalho.

O mercado de catering sempre foi bem competitivo e ficou mais ainda a partir dos anos 90. As prioridades competitivas para o especí­fico mercado da LIB são: qualidade da comida em si, confiabilidade, flexibilidade nas entregas e preço - nesta ordem. "Quem não prepara co­mida boa está fora do mercado'', diz José Car­los. Qualidade da comida é medida pelo fres­cor e sabor. Confiabilidade de entrega, segundo José Carlos, "inclui não só atender pontualmen­te como entregar rapidamente". Flexibilidade inclui amplitude do menu e capacidade para atender a pedidos especiais (na parte de "deli­very e serviço").

Recentemente, a LIB passou a sentir mais pressão competitiva: clientes mais exigentes

Fonte: Baseado em Krajewski e Ritzman, 1996.

Websites relacionados

<http://www.lean.org> - O website do Lean Enterpri­se Institute é talvez o melhor e mais atualizado sobre operações enxutas. Permite buscas por palavra-chave, tem material para download, programação de webinars, congressos sobre o tema entre outras atividades, além de comercializar material bastante vasto sobre a lógica de produção enxuta. Recomendamos explorar.

<http://www.lean.org.br> - Lean Enterprise Institute no Brasil. Praticamente os mesmos tipos de materiais e atividades do site internacional, mas com ênfase em atividades no Brasil e com materiais em Português. Re­comendamos explorar.

622 ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES • CORRÊA

(por variedade e rapidez) e a entrada de empre­sas de catering especializadas, temáticas (refei­ções árabes, japonesas etc.) ou de nichos especí­ficos (por exemplo, focalizando as empresas de ônibus que oferecem lanches, percebe-se que, para esse mercado, preço é a prioridade compe­titiva principal).

Os Castanheda tiveram contato com con­ceitos de Just in Time num curso de especializa­ção em gestão industrial que fizeram e ficaram impressionados com o potencial de o Just in Time aumentar a flexibilidade, reduzir os lead times (tempos de entrega) e baixar custos. O que o professor mencionou soou como música para eles, pois lhes parecia exatamente o que a LIB precisava.

Questões para Discussão

1. As operações da Lunch in the Box prestam­-se à aplicação dos princípios JIT?

2. Se não, por quê? Se sim, quais as principais barreiras à implantação que os Castanheda podem esperar?

3. Imagine que os Castanheda contrataram você para orientá-los nesta tarefa de trazer ao máximo só princípios e técnicas do JIT ao ambiente da LIB. Que tipo de recomen­dações você faria?

<http://www.youtube.com/watch?v=hj-FvgCfOVQ> - (parte I) Vídeo interessante sobre as origens e carac­terísticas do sistema Toyota de produção, que originou o just in time e a lógica de produção enxuta.

<http://www.youtube.com/watch ?v= nGSOavl MC7I> - (Parte II) Continuação do vídeo anterioi:

< http:/ /www.aidt.edu/ course _ documents/Manufac­turing_ Skills/ Just-In-Time%20Manufacturing/ Just­-ln-Time.pdf> - Interessante e simples apostila sobre manufatura just in time (em Inglês), para download

gratuito.