cap9 sistema hidrotermal

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Sistema Hidrotermal

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  • SISTEMA HIDROTERMAL 265

    IX SISTEMA HIDROTERMALCaptulo

    9.1 Introduo

    Em todos os ambientes geolgicos os fludos exercem um importante papel nos processos de

    mineralizao, e, tm se tornado assunto de diversos estudos (e.g. Fyfe, 1987; Foster, 1989;

    Groves et al, 1991). Uma das principais razes para esse forte interesse que as alteraes

    nos parmetros fsico-qumicos de um fludo, tais como, P, T, O2, CO2, H2S e pH, levam a

    desestabilizao dos complexos portadores de metal (e.g. ouro), resultando na sua precipitao.

    O estudo das incluses fludas associado dados analticos de istopos estveis, contribui para

    o entendimento do sistema hidrotermal, permitindo levantar importantes dados sobre a natureza

    do fludo mineralizante, elucidando: (i) as condies de P-T de precipitao da mineralizao e

    suas alteraes; e (ii) a natureza e fonte do fludo portador do metal.

    Os fludos originados sob condies de baixo a mdio grau metamrfico tm sido relativamente

    bem estudados (Roedder, 1984; Crawford & Hollister, 1986; Mullis, 1979; 1987). Entretanto,

    somente a partir da dcada de 90 a migrao do fludo e suas relaes com os eventos de

    deformaes, dctil a rptil, tm sido melhor compreendida. Cathelineau et al, (1993)

    desenvolveu importante pesquisa sobre as marcas deixadas durante o processo migratrio de

    um fludo, em funo da sua percolao na rocha, com base na investigao dos registros

    encontrados na rede de microfraturas. O estudo demonstrou que a trama estrutural formada

    pelas microfraturas favorece o trapeamento do fludo permitindo a sua preservao durante a

    selagem dessas feies. Lespinasse et al, (1991) pesquisou os planos ao longo dos quais se

    alojam as incluses fludas e relacionou os diferentes estgios de percolao com os sucessivos

    eventos deformacionais.

    Estudos genticos com base nas incluses fludas em depsitos do tipo lode-gold tm sido

    desenvolvidos por diversos pesquisadores em diferentes pases (Colvine et al, 1988; Groves et

    al., 1989), principalmente para os depsitos do tipo mesotermal formados sob condies de

    fcies metamrfica variando de greenschist a anfiboltica de baixo grau, hospedados em

    seqncias tipo greenstone belt. Ao mesmo tempo, controvrsias relacionadas fonte do fludo

    Maria Glcia da Nbrega Coutinho1 e Anthony Edward Fallick2

    1CPRM Servio Geolgico do Brasil2 Scottish University Research and Reactor Centre, Glasgow, Scotland

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  • 266 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    mineralizante em depsitos lode-gold de alto grau metamrfico e de idade do Pr-Cambriano

    tm sido estimuladas pelos trabalhos de Groves et al., (1991).

    Na dcada de 90 verificou-se um avano nas pesquisas dos fludos de depsitos aurferos, cujos

    processos deposicionais esto relacionados zona de cisalhamento (shear zone system),

    merecendo destaque, entre outros, os estudos de casos brasileiros (Xavier, 1991; Coutinho, 1994).

    Contudo, menor nfase tem sido atribuda as investigaes do sistema hidrotermal de depsitos

    aurferos formados sob diferentes condies crustais (hipozonal, mesozonal a epizonal) numa

    mesma provncia mineral. Mais recentemente a ateno tem sido dirigida para o entendimento

    da relao gentica entre zona de baixo stress e o fluxo hidrotermal resultando na formao de

    stios preferencialmente mineralizados (Groves et al, 1998; Phillips et al, 1996) em diferentes

    nveis crustais.

    O presente Captulo tem como objetivo a investigao do sistema hidrotermal responsvel pela

    deposio do ouro na Provncia Mineral do Tapajs, abrangendo o estudo das incluses fludas

    trapeadas nos veios de quartzo aurferos e dos istopos estveis de oxignio e hidrognio.

    9.2 Incluses fludas

    9.2.1 Introduo

    Registros da soluo hidrotermal original da qual um determinado mineral se precipita so

    freqentemente trapeados sob a forma de pequenas incluses gasosas, que so preservadas ao

    longo dos planos de crescimento do cristal durante a formao do mineral. O estudo dessas

    incluses tem contribudo muito para o conhecimento da composio do fludo hidrotermal

    original (Roedder, 1979).

    O processo de trapeamento dessas incluses, em geral ocorre sob condies de P e T

    relativamente altas. No momento do trapeamento o fludo pode ser homogneo (representado

    por uma fase) ou ser constitudo por um sistema heterogneo, que durante o resfriamento pode

    permanecer imiscvel (imiscibilidade de lquidos), ou ainda, se tornar saturado em relao a

    um ou mais componente da soluo e dar origem, isto , precipitar-se sob a forma de novos

    minerais (daughter minerals ou cristais de saturao). No processo de trapeamento do fludo a

    diferena de compresso no fludo e no mineral hospedeiro (por exemplo, o quartzo que constitui

    o veio quartzoso aurfero) pode resultar no surgimento de bolhas de vapor ou bolhas gasosas,

    formando as incluses fludas. No estudo dessas bolhas assume-se que aps o trapeamento das

    incluses fludas no ocorre perda ou adio de material, permanecendo o fludo com o mesmo

    volume e a mesma composio do fludo original.

    O estudo das incluses fludas tem por base as anlises microtermomtricas que consistem na

    observao e no reconhecimento das mudanas de fases envolvendo as transformaes das

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  • SISTEMA HIDROTERMAL 267

    fases slida, lquida e gasosa durante o aquecimento e resfriamento do fludo. Essas variaes

    podem ser registradas medindo-se a temperatura correspondente a cada transformao de

    fase, que permitem estabelecer consideraes sobre a composio qumica e a temperatura

    original do fludo mineralizante, e conseqentemente sugerir o ambiente de deposio mais

    provvel para um determinado depsito mineral.

    9.2.2 Mtodo de estudo

    O estudo das incluses fludas esteve restrito as amostras de veio de quartzo portadores de ouro

    na Provncia Mineral do Tapajs, encaixados em diversos tipos de rochas: granitides de

    diferentes composio e graus de deformao distintos; rochas bsicas; sedimentos antigos; e

    vulcnicas flsicas. A partir dos veios de quartzo foram preparadas sees polidas em dupla

    face com espessura de 100 m, as quais foram analisadas em microscpio de luz transmitida,

    objetivando o reconhecimento e a caracterizao dos diferentes tipos de incluses fludas. Das

    20 reas estudadas (ou reas de estudos de prospectos), 14 reas ou garimpos foram selecionados,

    e suas amostras consideradas em condies de se efetuar as anlises microtermomtricas com

    acurcia, cujas feies geolgico-estruturais foram previamente identificadas (Tabela 9.1).

    As medidas microtermomtricas foram efetuadas no estgio Linkam TH600 adaptado ao

    microscpio petrogrfico, pertencente ao Instituto de Geocincias da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro (UFRJ). Para a calibrao da instrumental contou-se com o apoio de um tcnico

    do Instituto de Fsica da UFRJ, tendo sido usados os seguintes padres sintticos de incluses

    fludas: ponto de fuso do CO2 puro (-56,6 0C); ponto de fuso do gelo (0 0C); e a temperatura

    crtica de homogeneizao da H2O pura (+ 374,5 0C). As anlises foram elaboradas num perodo

    de trs meses e a calibrao da instrumental monitorada semanalmente, durante o

    desenvolvimento da pesquisa. No processo procurou-se efetuar a tomada dessas medidas durante

    um mesmo ciclo de aquecimento (+ 700 0C) e resfriamento ou congelamento (-150 0C) para

    minimizar problemas de nucleao. A acurcia entre - 100 e - 20 0C de 0,5 0C, enquanto que

    acima de - 20 0C de 10 a at 5 0C. Durante os estgios de resfriamento e de aquecimento as

    mdias do aquecimento foram reduzidas para menos de 0,5 0C e 5 0C por minuto, respectivamente,

    para permitir elaborar medidas menores de 1 0C.

    A salinidade, a densidade e o contedo em CH4 foram calculados usando o procedimento adotado

    por Shepherd et al. (1985). A salinidade da fase aquosa calculada a partir da temperatura

    fuso do clatrato (composto molecular em que molculas de um tipo esto includas nos espaos

    vazios de uma rede formada por molcula de outro tipo), para as incluses de CO2, ou a partir da

    temperatura de fuso do gelo para aquelas registradas nas incluses aquosas. A densidade do

    CO2 calculada a partir da temperatura de homogeneizao da fase slida do CO2, tanto para as

    incluses de CO2 como para incluses de CO2-H2O. O contedo em CH4 (expresso como mol %

    de CO2) determinado pela temperatura de fuso final do CO2 slido. Os contedos em CO2 (wt

    %) so calculados combinando sua densidade e a estimativa visual das mdias das fases de

    H2O e CO2 a temperatura ambiente.

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    No clculo da composio das incluses fludas adotou-se o conceito de Ramboz et al., (1985).

    As condies de P-T foram definidas usando o processo desenvolvido por Schwartz (1989). Este

    mtodo pode ser empregado para prever a presso de homogeneizao quando os valores da

    frao molar e o volume da frao do CO2 so conhecidos. Entretanto, em funo do baixo

    contedo em CO2 essas determinaes foram prejudicadas, permitindo prever dados do volume,

    e conseqentemente a T e P, para apenas uma parte das amostras estudadas.

    9.2.3 Modo de ocorrncia das incluses fludas

    As relaes entre os diferentes tipos de incluses fludas em veios de quartzo so complexas e

    algumas vezes no so de fcil caracterizao. O mecanismo do trapeamento do fludo (Roedder,

    1972) e as relaes texturais entre as incluses fludas e o cristal hospedeiro sugerem a presena

    de trs tipos de distribuio de incluses fludas, no presente estudo:

    (i) Tipo I: incluses fludas associadas ao crescimento de cristal durante a formao inicial

    do mineral hospedeiro distribudas aleatoriamente.

    (ii) Tipo II: incluses fludas associadas ao crescimento do veio de quartzo por mecanismo

    tipo crack-seal durante o processo de selamento dessas fraturas.

    (iii) Tipo III: incluses fludas relacionadas a processos de crack healing ou microfraturas

    alinhadas segundo trails, em geral de tamanho muito pequeno (), originadas

    provavelmente durante algum evento tardio.

    Os dois primeiros tipos de incluses fludas so incluses primrias em relao ao crescimento do

    veio de quartzo, porm o tipo II secundrio no que diz respeito ao cristal individual de quartzo.

    Ambos tipos representam o fludo hidrotermal original que foi trapeado durante a formao do veio

    de quartzo. As incluses fludas do tipo III representam incluses secundrias, trapeadas durante

    os processos de fraturamento hidrulico extensional sob condies de alta presso de fludo e baixo

    stress na rocha. Este processo desenvolve-se durante um tempo indeterminado, aps o crescimento

    do cristal, quando a presso (stress) do fludo iguala a deformao (strenght) da rocha (Ramsay,

    1980). Essas incluses formam alinhamentos planares (trails), bem orientados e podem ocorrer: (i)

    dentro de um simples cristal; (ii) cortando limites de cristais; e (iii) cortando incluses dos tipos I e

    II, sugerindo que as incluses em trails so tardias em relao esses dois tipos.

    As relaes entre as incluses fludas dos tipos I e III esto bem representadas nos veios de quartzo

    portadores de ouro provenientes dos garimpos: Batalha (rea 2), Goiano (rea 12), Guarim (rea 4),

    Bom Jesus (rea 5), Carneirinho (rea 17), Abacaxis (rea 11), Joel e minerao Crepori, estes dois

    ltimos na regio do Creporizo (rea 18).

    9.2.4 Tipos de incluses fludas

    De acordo com as diferentes propores de lquido e vapor, os seguintes tipos de incluses

    fludas foram reconhecidos no presente estudo:

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  • 272 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    (i) Incluses ricas em H2O ou incluses aquosas: com forma esferoidal, apresentam os

    maiores tamanhos registrados, variando entre 10 a 25 m e valor mdio de 22 m. O

    grau de preenchimento ou degree of fill (DF), que a razo que expressa o volume (vol)

    que uma determinada fase fluda ocupa na cavidade de uma incluso fluda (IF),

    estimado visualmente, com base em tabelas padres, tendo sido registrados valores entre

    0,50 a 0,90, com valor mdio de 0,70.

    O DF expresso por: DF = vol.lquido/vol total da IF , onde

    Vol total da IF = vol lquido + vol gs + vol cristais de saturao.

    (ii) Incluses ricas em CO2 ou incluses monofsicas de CO2: com forma arredondada este

    tipo de incluso contm pequena quantidade de H2O, que pode ser reconhecida por um

    halo de aspecto molhado e escuro que adere a parede da cavidade da incluso. Com

    base nos estudos de Crawford & Hollister (1986), estima-se que entre 10 a 20 % mol de

    H2O no podem ser detectados oticamente devido ao alto contraste entre os ndices de

    refrao da incluso fluda e do cristal hospedeiro. Assim sendo, uma pequena quantidade

    de H2O pode ocorrer na incluso rica em CO2. Este tipo de incluso apresenta os menores

    tamanhos variando de 5 a 15 m e valor mdio de 20 m. O grau de preenchimento varia

    de 0,90 a 0,95.

    (iii) Incluses CO2-H2O: caracterizam-se pela presena de dois lquidos imiscveis, um aquoso

    e outro rico em CO2. Usualmente estas incluses exibem duas fases lquidas (H2O e CO2lquido), e raramente trs fases, que podem ser observadas a temperatura ambiente:

    H2O, CO2 lquido e CO2 vapor. Neste tipo de incluso o tamanho varia de 10 a 30 m com

    valor mdio de 20 m. O grau de preenchimento est compreendido entre 0,70 a 0,90,

    com valor mdio 0,90.

    Em geral, os trs tipos de incluses fludas podem ser observados nos veios de quartzo

    analisados, e reconhecidos ao longo de feies tipos crack-seal e crack heling ou nos contatos

    entre gros, porm as incluses ricas em CO2 concentram-se predominantemente ao longo das

    microfraturas healing (trails).

    Durante as anlises microtermomtricas, quando possvel, durante os estgios de aquecimento e

    resfriamento (congelamento) as seguintes mudanas de fases foram observadas e efetuadas as

    medidas das temperaturas correspondentes:

    (i) Temperatura de fuso (melting) do CO2 slido: (Tf CO2).(ii) Temperatura de fuso (melting) do clatrato: (Tf Cl)

    (iii) Temperatura de homogeneizao do CO2 (homogeneizao parcial): (Th CO2)

    (iv) Temperatura de homogeneizao total (da incluso fluda): (T-Th).

    (v) Temperaturas da primeira: (Tpf Aq) e da ltima fuso (melting) do gelo: (Tf H2O).

    9.2.5 Resultados microtermomtricos

    Os dados microtermomtricos foram obtidos em amostras de 14 garimpos (ou reas em estudo),

    totalizando 609 incluses, cujos resultados podem ser visualizados: (i) Tabela 9.2, os resultados

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  • SISTEMA HIDROTERMAL 273

    das incluses tipo CO2-H2O; (ii) Tabela 9.3, incluses CO2; e (iii) Tabela 9.4, os dados das

    incluses de H2O ou incluses aquosas. A pesquisa abrangeu os 3 tipos de incluses fludas

    reconhecidas ao longo de fraturas crack seal, crack healing (formando trails) ou contidas

    dentro do prprio cristal. Entretanto, devido ao tamanho muito pequeno das incluses

    localizadas ao longo dos trails (onde ocorre o tipo CO2 mais frequentemente) as medidas

    microtermomtricas concentraram-se nos outros dois tipos de incluses fludas, notadamente

    no primeiro tipo.

    Gros de quartzo exibindo evidncias de recristalizao (e.g. extino ondulante, deformao

    lamelar) no foram consideradas para medidas microtermomtricas. Durante o estudo as inclu-

    ses os tipos CO2-H2O e CO2 homogeneizaram para a fase lquida, com o desaparecimento da

    fase CO2 vapor, e raramente para a fase vapor. No houve registro de decrepitao nas incluses

    como tambm no foram reconhecidos daughter minerals.

    (a) Incluses fludas CO2-H2O (incluses bifsicas)

    Na temperatura ambiente as incluses CO2-H2O contm uma fase aquosa (H2O) e uma fase

    rica em CO2 lquido, embora, s vezes, podem ser vista duas fases de CO2: a slida (CO2 -S) e a

    lquida (CO2 - L), cuja fase vapor est em constante movimento. As incluses CO2-H2O contm

    23 a 31 wt % CO2. A temperatura de fuso do CO2 slido (Tf CO2) est compreendida entre

    - 56,2 a - 59,3 0C com um pico maior a - 57,5 0C. Os dados indicam que essas incluses contm

    pequena quantidade de outros gases, alm do CO2. A concentrao em CH4 foi estimada entre

    4,2 a 12,0 mol % do CO2. A temperatura de fuso do clatrato varia de 6 a 8,5 0C, indicando uma

    salinidade compreendida entre 3,5 a 8,0 wt % (valor mdio de 6,0 wt %) equivalente a NaCl.

    A homogeneizao das fases lquida e vapor do CO2 (homogeneizao parcial) ocorre sob uma

    variao de temperatura compreendida entre de 15,5 a 28,0 0C. Esses valores indicam uma

    variao de 0,70 a 0,85 g/cm3 para a densidade do CO2. A homogeneizao total da incluso

    fluda caracterizada por uma variao de T-Th com valores mdios compreendidos entre

    314 a 164 0C.

    Esses dados, por rea de garimpo, podem ser visualizados na Tabela 9.2.

    (b) Incluses fludas CO2 (incluses monofsicas)

    A fase de transio observada na incluso fluda do tipo CO2 ou incluso rica em CO2, durante

    os estgios de congelamento (resfriamento) e aquecimento permite classifica-la na categoria de

    tipo-H de Van den Kerkhof (1988). Este tipo de incluso tem alto contedo em CO2 e pequena

    quantidade de H2O (Crawford and Hollister, 1986), e comporta-se similarmente ao de CO2 puro.

    A temperatura de fuso do CO2 varia de - 58,4 a - 56,5 0C com valor mdio de - 57,0 0C. Os dados

    indicam que a fase CO2 contm uma pequena quantidade de outros gases associados (e.g. CH2,

    N2, H2S). A temperatura de homogeneizao do CO2 (Th CO2) varia entre 16 a 30 0C, enquanto

    que a temperatura de homogeneizao total difcil de ser observada, em funo, entre outros

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  • SISTEMA HIDROTERMAL 277

    aspectos do tamanho da incluso fluda. Entretanto este tipo de incluso homogeneza para o

    estado lquido pela expanso da fase vapor do CO2. Os dados obtidos da fuso (Tf CO2) e da

    homogeneizao do CO2 (Th CO2) indicam uma quantidade de CH4 dissolvida na fase carbnica

    que varia de 5,5 a 10,5 mol %. A densidade est compreendida entre 0,60 a 0,85 g/cm3, calculada

    com base nos valores de homogeneizao do CO2 .

    Os dados das anlises microtermomtricas para este tipo de incluso fluda constam na Tabela 9.3.

    (c) Incluses fludas H2O (Incluses Aquosas)

    A temperatura da primeira fuso da incluso aquosa (Tf H2O) difcil de ser medida, porm o

    movimento da incluso fluda por volta de - 31,0 0C (valor mdio) deve representar o ponto

    euttico (temperatura euttica), sugerindo a possvel presena de outros componentes no fludo,

    alm de NaCl, tais como NaCl.2H2O, CaCl2, MgCl2, e FeCl2. O dado indica que abaixo deste

    ponto somente slidos esto presentes, enquanto que acima desta temperatura slidos e

    lquidos coexistem. Algumas medidas acima deste valor, compreendidas entre - 33,0 0C e -

    42,0 0C, foram registradas indicando possivelmente a presena de sais de Ca, alm de NaCl e

    KCl. Temperaturas maiores (acima de -12,0 0C) no so consistentes com a temperatura euttica

    para um sistema H2O-NaCl (20,8 0C).

    A temperatura mdia de fuso da fase aquosa (Tf H2O) varia de - 3,1 a - 8,5 0C, sendo que o valor

    mais alto deve indicar a mistura gelo e sais hidratados. A salinidade est compreendida entre

    5,0 a 10,5 wt % equivalente NaCl. As incluses aquosas homogenezam a uma temperatura

    variando de 160 a 270 0C, e equivalem a um fludo de densidade moderada compreendida entre

    0,95 a 1,0 g/cm3.

    Os dados obtidos nas anlises microtermomtricas dessas incluses constam na Tabela 9.4.

    9.2.6 Composio das incluses fludas

    A composio total (bulk composition) dos diferentes componentes da incluso do tipo CO2-

    H2O foi estimada com base no conceito de Ramboz et al (1985) para um fludo H2O-CO2-CH4. Os

    resultados esto expressos na Tabela 9.5.

    Esses dados processados para um total de 390 incluses do tipo CO2-H2O mostram uma variao

    de 8,3 a 14,5 mol % CO2. A quantidade de CH4 varia de 0,5 a 1,2 mol %. A salinidade esta

    compreendida entre 2,5 a 5,7 mol % de NaCl. A quantidade de H2O varia de 83,5 a 90,1 mol %,

    enquanto que a densidade do fludo est entre 0,68 a 0,85 g/cm3.

    A reduzida dimenso da incluso fluda rica em CO2 (monofsica) no permitiu que se processasse

    as anlises microtermomtricas com acurcia, prejudicando a determinao da composio total

    nessa variedade de fludo.

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  • 278 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    9.2.7 Presso e Temperatura das incluses fludas

    Os valores mdios da composio de CO2, temperatura de homogeneizao da fase CO2 (Th

    CO2) e a densidade do fludo, plotados no sistema H2O-CO2-NaCl (Bowers & Helgeson, 1983)

    permitem estimar a presso mnima de trapeamento a partir das incluses CO2-H2O.

    No presente estudo, adotou-se o mtodo grfico desenvolvido por Schwartz (1989) para se aferir

    a presso de homogeneizao das incluses CO2-H2O. A tcnica consiste em se aplicando no

    diagrama dois valores das medidas microtermomtricas (e.g. T-Th; wt% do CO2; mol % do CO2;

    ou densidade do CO2), os valores das outras duas variveis podem ser conhecidos a partir das

    relaes entre as outras quatro variveis.

    No procedimento adotado para calcular a presso para o sistema CO2-H2O, os valores do wt% do

    CO2, a densidade e a temperatura homogeneizao (T-Th) foram derivados dos dados microter-

    momtricos plotados no diagrama para incluses H2O-CO2-NaCl a 6% wt eq. (Schwartz, 1989).

    Conforme mencionado por Schwartz (1989) o mtodo aplica-se bem para os casos onde os

    intervalos de miscibilidade das isotermas interceptam os contornos das linhas de densidade

    segundo um ngulo relativamente grande. Tendo em vista minimizar erro, nos casos onde

    esta situao no foi atendida, o valor da presso no foi determinado. Assim sendo, foi possvel

    estimar a presso para apenas algumas reas (vide Tabela 9.5).

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  • SISTEMA HIDROTERMAL 279

    De acordo com Robert & Kelly (1987) a temperatura de homogeneizao das incluses fludas

    aquosas pode no representar a temperatura de trapeamento, tendo em vista que esses fludos

    foram trapeados em diferentes fraturas, representando, portanto, fludos que no estavam em

    equilbrio entre si. Esse ponto de vista encontra consistncia em Kerrich (1989), quando defende

    que a temperatura de homogeneizao de uma incluso fluda aquosa pode ser significantemente

    menor em funo da efervescncia do CO2 como resultado de flutuaes na presso do fludo.

    Assim sendo, a temperatura de homogeneizao da incluso fluda no representa a temperatura

    de trapeamento do sistema hidrotermal, devendo esse resultado ser combinado com um

    geotermmetro independente, por exemplo, a temperatura de formao da clorita

    hidrotermalizada.

    A presso estimada para o sistema CO2-H2O indica dois grupos de intervalos de presso mnima

    de trapeamento para as incluses fludas, estando o primeiro compreendido entre 1,6 a 1,4 kb e

    o segundo entre 1,2 a < 1 kb. Essa variao de presso consistente com o espectro registrado

    para os depsitos de ouro do Arqueano, cujos valores esto entre 1,0 a 3,0 kb (Ho et al, 1985).

    Com base nesses dados e assumindo os efeitos litostticos, sugere-se duas fases de precipitao

    do ouro na Provncia Tapajs, sendo a primeira a uma profundidade entre 7 a 4 km, e a segunda,

    num nvel crustal mais elevado, a uma profundidade < 4 km.

    9.2.8 Discusso e comentrios

    Na Provncia Mineral do Tapajs trs tipos de fludos foram reconhecidos com base no estudo

    das incluses fludas associadas ao desenvolvimento dos veios de quartzo portadores de ouro:

    (i) Um fludo CO2-H2O caracterizado por baixa salinidade (2,7 a 5,7 mol % NaCl equivalente),

    contendo propores variveis de H2O (90,1 a 83,5 mol %) e CO2 compreendido entre

    8,3 a 14,5 mol %, e pequeno contedo em CH4, entre 0,5 a 1,1 mol %. Um baixo

    contedo em N2 foi detectado como fase voltil adicional por Klein et al (2001).

    (ii) Um fludo no salino rico em CO2 (> 89,5 mol % de CO2) contendo pequena quantidade

    de CH4 (5,5 a 10,0 mol % de CO2).

    (iii) Um fludo aquoso (H2O) de baixa a moderada salinidade (5,0 a 10,0 wt% NaCl

    equivalente ou 5,0 mol % NaCl equivalente).

    No foi identificada nenhuma relao significativa entre as diferentes populaes de incluses

    fludas e as diversas litologias hospedeiras dos veios de quartzo aurferos, tendo os trs tipos

    de fludos sido reconhecidos na maioria nos veios analisados. Entretanto, a freqncia na

    distribuio desses tipos de incluses fludas no veio quartzoso sugere uma relao entre

    essa distribuio e as condies de emplacement do veio hospedeiro. Incluses CO2-H2O,

    associadas ao tipo CO2, e em menor proporo incluses aquosas, dominam nos veios de

    quartzo formados sob condies dcteis (e.g. reas Nossa Senhora da Conceio, Abacaxis e

    So Jos) ou dcteis-rpteis (Goiano, Bom Jesus, Davi, Guarim e Batalha). Enquanto que, nos

    veios desenvolvidos sob condies tpicamente rpteis, as incluses so quase que

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM279

  • 280 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    exclusivamente aquosas, e ocorrem com freqncia expressiva. Nas reas dos garimpos:

    Majestade, Santa Isabel, Mamoal, Joel e minerao Crepori, as incluses fludas nos veios

    quartzosos com ouro so predominantemente do tipo H2O, enquanto que os tipos CO2-H2O e

    CO2 so menos freqentes ou at mesmo raras.

    Nas amostras onde predomina a coexistncia de incluses fludas dos diversos tipos, CO2-H2O,

    CO2 e H2O ao longo de fraturas e limites de gros, formando clauteres irregulares, cortando

    contatos entre gros, e ocorrendo em microfraturas, essas relaes sugerem alguma

    contemporaneidade. A coexistncia desses tipos de incluses tem sido referida com freqncia

    nos estudos de veios mesotermais aurferos do Archeano ao Proterozico, principalmente para

    depsitos lode-gold, e tem sido atribuda a processos de imiscibilidade de fludos (no mistura

    de fludos) do sistema H2O-CO2 (Ramboz et al, 1982; Ho et al, 1985; Robert & Kelly, 1987; Walsh

    et al, 1984).

    Determinadas feies nas amostras estudadas so consistentes com o processo de imiscibilidade

    de fludos. Um importante critrio desse processo, baseado no modo oposto de homogeneizao

    total das fases CO2 (para lquido e vapor para H2O-CO2 e CO2, respectivamente; Ramboz et al,

    1982) foi detectado nesse estudo. Na presente investigao ambos os tipos de incluses

    homogeneizaram para a fase lquida e vapor respectivamente, embora a primeira situao seja

    predominante. Um outro critrio favorvel a no mistura de fases (imiscibilidade) o

    fracionamento de sais preferencialmente para a fase aquosa durante a separao de fases. Nas

    amostras analisadas do tipo CO2-H2O as incluses aquosas tm salinidade (5,5 a 10,5 wt % NaCl

    eq.) maior do que as incluses depletadas em H2O (3,5 a 8,0 wt% NaCl eq.). Um outro ponto

    consistente com o processo de imiscibilidade a variabilidade na razo CO2/H2O em incluses

    com temperatura de homogeneizao total dentro de um espectro amplo de temperatura,

    sugerindo tratar-se de um fludo heterogneo.

    As evidncias acima abordadas so consistentes com o processo de imiscibilidade num sistema

    CO2-H2O-NaCl, favorecendo o trapeamento de um fludo heterogneo no sistema hidrotermal

    na provncia em estudo. A fase CO2 o resultado da imiscibilidade de fludo durante a separa-

    o da fase vapor.

    Um sistema hidrotermal heterogneo para o Tapajs tem sido defendido por Klein et al (2001)

    com base nos estudos de incluses fludas realizados no garimpo Guarim, na regio do Cui-

    Cui, cujo emplacement dos veios de quartzo portadores de ouro ocorreu em regime de condies

    dctil e rptil, coexistentes.

    Por outro lado, com base nas amostras analisadas caracterizadas pela abundncia de incluses

    fludas ricas em H2O, predominantes em relao s incluses CO2-H2O e CO2, presentes em

    veios de quartzo hospedeiros desenvolvidos em nvel crustal mais elevado, sugere-se um

    sistema hidrotermal adicional no Tapajs, marcado por forte componente aquosa, depletado

    em CO2, comparativamente ao sistema original. possvel que este novo fludo circulando

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM280

  • SISTEMA HIDROTERMAL 281

    dentro do domnio da shear zone, alm de ter herdado contribuio qumica do sistema original,

    deve ser o resultado da interao fludo/rocha, conforme ser abordado com base nos istopos

    estveis a seguir. A razo fludo / rocha pode resultar na desidratao do fludo ou na adio de

    um novo fludo, dependendo da quantidade do volume do fludo que interage com a rocha.

    Com base na presena de partculas de ouro que ocorrem nos veios quartzosos, e considerando-

    se a ausncia de feies de deformao nesses veios, assume-se que o ouro e o quartzo

    precipitaram-se durante o mesmo evento hidrotermal. Essas observaes, associadas s condies

    de deformao, leva a admitir a existncia de dois tipos de veios de quartzo aurferos formados

    por fludos distintos:

    (i) Veios de quartzo originados de um fludo do tipo CO2 que evoluiu para o tipo CO2-H2O,

    em funo de processos de imiscibilidade e de interao fludo/rocha, cujo emplacement

    ocorreu sob condies dctil a dctil-rptil. A presso mnima de trapeamento das

    incluses fludas compreendida entre 1,6 a 1,4 kb indica profundidade de formao

    dos veios entre 7 a 4 km.

    (ii) Veios de quartzo formados por um fludo depletado em fase CO2 com forte componente

    aquosa, desenvolvidos sob condies essencialmente rpteis. A presso mnima de

    trapeamento das incluses fludas entre < 1,4 a 1,0 kb permite inferir num nvel

    crustal de formao dos veios < 4 km de profundidade, aproximadamente.

    9.3 Istopos Estveis

    9.3.1 Introduo

    O estudo da fonte dos fludos hidrotermais como subsdio para o entendimento da gnese dos

    depsitos minerais tem sido um assunto extensivamente discutido, entretanto, ainda permanece

    um debate polmico quanto, por exemplo, a origem dos depsitos de ouro do Pr-Cambriano,

    no obstante o significativo volume de dados disponveis (Colvine et al, 1988; Kerrich, 1989;

    Groves et al, 1991; Groves, 1996). Vrias origens tm sido atribudas fonte do fludo

    mineralizante e componentes dissolvidos, tais como:

    (i) Fonte mantlica (Fyon et al., 1984; Colvine et al., 1984; 1988; Cameron, 1988).

    (ii) Fludo magmtico (Burrows et al, 1986; Wood et al, 1986; Burrows & Spooner, 1986;

    Spooner, 1991; Cameron & Hattori, 1987; Hattori, 1987).

    (iii) Processos metamrficos (e.g. perda dgua durante o metamorfismo retrogrado; Kerrich

    and Fryer, 1979; Kerrick and Fyfe, 1981; Kerrick, 1983; 1987; Golding & Wilson, 1987;

    Groves and Phillips, 1987).

    (iv) Alta contribuio de guas metericas (Nesbitt et al, 1986).

    As anlises dos istopos de oxignio (O), hidrognio (D) e carbono (C) das incluses fludas

    em minerais tm contribudo efetivamente para esclarecer a origem e histria do sistema

    hidrotermal dos depsitos minerais (Clayton et al, 1968; Taylor, 1979). Esses elementos so os

    principais componentes das rochas, dos minerais e dos fludos e suas composies isotpicas

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM281

  • 282 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    no so variveis em funo do tempo ou do comportamento qumico, como acontece com os

    istopos radiognicos. As razes isotpicas estveis estudadas com base na abundncia relativa

    () so: D/H (D = H = 0,01; H = 99,98); 18O/16O (16O = 99,75; 18O = 0,03); e 13C/12C (13C = 1,11;12C = 98,98). Os valores dos istopos

    18O e D em quartzo e do 13C das incluses fludas em

    veio de quartzo portador de ouro, aplicados no estudo do fludo hidrotermal, quando positivos

    ou negativos, significam o enriquecimento ou o empobrecimento (depleo), respectivamente,

    na amostra em relao ao padro. Os istopos de um determinado elemento podem fracionar-se

    entre fases em equilbrio ou participar de reaes que acompanham processos qumicos e fsicos

    na crosta terrestre. Desta forma, o fracionamento isotpico pode ocorrer entre mineral-mineral,

    mineral-fludo, e fludo-fludo. O fator de fracionamento isotpico (-alfa) entre dois compostos

    A e B expresso pela frmula:

    A-B = RA / RB = A + 103 / B + 10

    3 (fracionamento isotpico).

    Os valores de encontram-se prximos de 1 e, em geral, ocorrem no intervalo 1 0,0 x a 1

    0,00 x. Estes valores podem ser expressos em termos de (delta):

    A - B = 103 ln A-B (razo isotpica).

    9.3.2 Mtodo de estudo

    Vinte (20) amostras de veios de quartzo mineralizados em ouro hospedados em granitides

    diversos, rochas bsicas, sedimentos antigos e vulcnicas flsicas, foram analisadas para

    istopos estveis de oxignio e hidrognio. O baixo contedo de CO2 nas amostras em estudo

    no permitiu determinar a composio do 13C nas incluses fludas. Os resultados analticos

    obtidos podem ser visualizados na Tabela 9.6, enquanto que informaes dos veios estudados,

    tais como localizao e feies geolgico-estruturais constam na Tabela 9.1.

    As anlises de 18O e H foram realizadas no Scottish University Research and Reactor Centre,

    Glasgow University, Glasgow, Scotland.

    Amostras de veios de quartzo foram desagregadas mecanicamente em moinho (jaw-crusher),

    peneiradas para remover as fraes < 0,5 mm e > 2,0 mm, e, neste intervalo granulomtrico,

    foram selecionados gros de quartzo lmpido, aproximadamente 0,5 g para cada amostra, usando-

    se a lupa binocular. A seguir, para eliminar contaminao, os gros de quartzo, em cada amostra,

    foram submetidos ebulio em cido HNO3 concentrado, por vrias horas, e aps lavagem

    com gua, inicialmente destilada e depois idionizada, foram levados estufa para secagem a

    500C.

    O procedimento analtico, em aproximadamente 50 mg por amostra, para determinao da

    composio isotpica do oxignio no quartzo tem incio com a liberao do O2, por reao com

    o ClF3 numa bomba de nquel a vcuo a 600oC, seguida da converso do O2 para CO2 por reao

    com o rod de carbono quente, o qual analisado no massa espectrmetro (Micromass 602C). As

    composies isotpicas do hidrognio nas incluses fludas so medidas como H2 (gs), aps

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM282

  • SISTEMA HIDROTERMAL 283

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM283

  • 284 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    sua liberao na incluso H2O por reduo com zinco metlico quente. O contedo em H2O

    removido usando-se a variao de temperatura de nitrognio lquido. Os dados de istopos so

    mencionados como (delta), expressos em (per mil), relativos a padres isotpicos, como

    segue:

    amostra = 1000 [(Ramostra / Rpadro) - 1]

    sendo, R a razo isotpica na amostra e no padro. Os padres utilizados no presente estudo

    foram SMOV (standard mean ocean water) para O e H. A preciso analtica 0,1 (1 ) para

    o oxignio e 1 (1 ) para o hidrognio.

    9.3.3 Discusso dos resultados dos 18O em veio de quartzo

    Os valores de 18O dos veios de quartzo portadores de ouro na Provncia Mineral do Tapajs

    mostram uma variao de 9,4 a 15,0 (Tabela 9.6). Esses dados provenientes de 20 depsitos

    esto distribudos numa extensa rea, abrangendo toda a provncia (80.650 km2), cujos veios

    mineralizados ocorrem hospedados em diferentes litologias, conforme mencionado anteriormente.

    Nesse contexto, o espectro apresenta-se moderadamente amplo (Figura 9.1). O valor mais alto

    (18O =15,5 ) foi registrado em veio de quartzo cisalhado (veio tipo sheeted), desenvolvido em

    regime dctil a dctil-rptil, cujo emplacement ocorre ao longo de plano de falha de empurro

    (T), encaixado em sedimentos antigos do tipo Abacaxis, no garimpo de mesmo nome (rea 11

    de estudo de prospectos). Enquanto que, o valor mais baixo (18O = 9,4 ) foi identificado em

    veio extensional, desenvolvido ao longo do plano de falha extensional, regime rptil, diretamente

    relacionado zona de cisalhamento sinistral, reconhecida no garimpo Santa Isabel (rea 15 de

    prospectos), num contexto geolgico da Sute Intrusiva Maloquinha, e em contexto estrutural

    semelhante, sob condio rptil de emplacement do veio com ouro, em falha do tipo jog, na rea

    do garimpo minerao Crepori, regio do Creporizo, o valor de 18O = 9,7 .

    Entretanto, a consistncia entre o nvel crustal de formao do veio de quartzo e os valores de

    Figura 9.1 Representao dos valores de 18OH2O e 18O quartzo,

    em veios de quartzo portadores de ouro. Observar a correlao

    positiva entre esses valores.

    Figura 9.2 Representao dos valores de D e 18OH2O em

    incluses fludas de veios de quartzo portadores de ouro.

    Observar a no correlao entre esses valores.

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM284

  • SISTEMA HIDROTERMAL 285

    18O, acima mencionada, nem sempre mantida. Por exemplo, o valor do 18O = 13,9

    registrado no garimpo Jerimum de Cima, regio do Cui-Cui, aproxima-se dos valores obtidos

    para veios cisalhados que ocorrem ao longo dos planos de falhas de empurro, apesar de

    nesse garimpo o veio analisado do tipo extensional. Mesma situao verificou-se com os

    dados obtidos para os veios tipo stockwork nos garimpos Carneirinho (rea 17) e Fazenda

    Pison (rea 13), cujos valores do 18O iguais a 13,5 e 13,0 respectivamente, so relativamente

    altos, comparativamente queles dos veios desenvolvidos em condio rptil nas reas Santa

    Isabel e minerao Crepori.

    Embora as variaes nos valores de 18O no mineral quartzo estejam relacionadas um nmero

    independente de parmetros (Kerrick, 1989), as variveis primrias envolvidas so os dados da

    temperatura de deposio da mineralizao e os valores de 18O da gua. O valor do 18O da

    gua depende fortemente (i) de quanto a gua do fluxo inicial (nova) tem sido modificada por

    trocas isotpicas entre o fludo e a rocha previamente inalterada, durante a interao desse

    fludo na crosta, ou, (ii) por mistura entre fludos de origens diferentes (fludo heterogneo).

    O espectro dos valores de 18O no quartzo portador de ouro no Tapajs pode ser explicado pela

    variao de temperatura, em funo de diferentes condies crustais de emplacement dos veios.

    Conforme anteriormente referido, os veios de quartzo mineralizados apresentam condies

    crustais de desenvolvimento distintas, variando desde veios cisalhados (sheeted veins), formados

    sob condio dctil a dctil-rptil, relacionados strike-slip shear zone (falhas de empurro,

    transcorrentes, transpressivas), com espessura que pode atingir 80 cm (garimpo Ouro Roxo) at

    veios milimtricos de um sistema stockwork, desenvolvido em condies rpteis (e.g. garimpo

    Carneirinho).

    Por outro lado, investigaes em seces delgadas de veio de quartzo com ouro formado dentro

    da zona de cisalhamento (veio do tipo longitudinal), sugerem fenmeno de recristalizao do

    quartzo (forte extino ondulante). A ocorrncia de brechas hidrotermais nas zonas de alterao

    proximal registradas na regio do Cui-Cui, nos garimpos Guarim e Raimundinha (vide Figuras

    5.15 a 17, Captulo 5), bem como o desenvolvimento de textura brechide reconhecida no veio

    de quartzo aurfero no garimpo do Goiano (Figura 5.19b, Captulo 5), so evidncias de

    retrabalhamento dos veios mineralizados. Essas feies sugerem aporte de novos fludos no

    sistema, em funo de reativao tectnica. Como resultado, a composio isotpica nesses

    veios enriquecida em funo da composio isotpica herdada do fludo original.

    Na Figura 9.3, para efeito de comparao, esto representados os valores de 18O em quartzo dos

    veios quartzosos mineralizados em ouro do Tapajs e os dados provenientes de outros depsitos

    de idades do Arqueano e do Proterozico, relacionados fontes magmtica ou fludos

    metamrficos, em contextos geolgicos distintos, tais como terrenos tipo greenstone belt

    (Quadriltero Ferrfero, Rio Itapicuro, Zimbabwe e Western Austrlia) e terrenos acrescionrios

    (Provncia Borborema e Slave & Superior Province, Canad). Dados de depsitos de ouro de

    origem epitermal, de alta e de baixa sulfetao, podem tambm ser visualizados nessa ilustrao.

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM285

  • 286 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    9.3.4 Discusso dos resultados dos 18OH2O

    As trocas isotpicas entre o oxignio das incluses fludas e o oxignio do quartzo hospedeiro

    no permitem determinar a composio 18O do fludo (18OH2O) diretamente das incluses fludas.

    As composies do 18O dos fludos hidrotermais coexistindo com o quartzo devem ser calculadas

    indiretamente a partir das anlises do quartzo com base na equao do fracionamento do quartzo-

    H2O de Matsuhisa et al. (1979), aplicvel para um amplo intervalo de variao de temperatura

    250-5000 C :

    A - H2O = X + (Y x 106 x T -2)

    Onde: A = 18O quartzo ;T = temperatura em

    0K; X = - 3,34 (constante); e Y = 3,31 (constante). A

    temperatura assumida com base na geotermometria da clorita foi de 3000 C. Assim sendo, desde

    que os valores de 18O do quartzo sejam conhecidos, os valores do 18O de H2O podem ser calculados.

    Os dados por rea estudada (rea de garimpo ou de estudo de prospecto) podem ser visualizados

    na Tabela 9.6; (coluna nmero 4: 18OH2O ).

    Figura 9.3 Valores de 18 para veios de quartzo portadores de ouro na Provncia Mineral do Tapajs. Paracomparao observar os valores de 18 em outros depsitos de ouro de idades do Arqueano (1 a 5) e doProterozico (6), baseado em dados de: (1) Carter (1991); (2) Golding and Wilson (1987); (3)Colvine et al.,

    (1988); (4) Xavier (1991); (5) Ladeira (1988); (6) Coutinho (1994); e (7) Este estudo. Dados de depsitos

    epitermais tambm esto representados (8 e 9; Henderquist et al, 1996).

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM286

  • SISTEMA HIDROTERMAL 287

    Os resultados do 18OH2O do fludo hidrotermal responsvel pela formao dos veios de quartzo com

    ouro na Provncia Tapajs apresentam uma variao entre 2,6 a 8,7 , exibindo um espectro

    moderadamente amplo. Nas 20 reas em estudo, parte dos valores 18OH2O, registrada em 7 reas,

    apresentam dados consistentes com origem magmtica: Abacaxis, Nossa Senhora da Conceio, Jerimum

    de Cima, Fazenda Pison, Bom Jesus, Davi e Carneirinho, cujos dados esto dentro do espectro dos

    valores de fludo magmtico (tipicamente 6 a 9; Taylor, 1979), indicando fludo de origem de fonte

    profunda. A outra parte do espectro indica que o fludo deve conter uma substancial quantidade

    derivada de outra fonte, como por exemplo gua juvenil (reas Majestade, Almerita, Goiano, Chico

    Torres, Batalha , Esprito Santo, Mamoal, Ouro Mil e Guarim), alm de uma possvel contribuio de

    gua meterica (regio do Creporizo, minerao Crepori, Almerita e Davi), valores 18OH2O < 5,0.

    Possivelmente, o fludo aquoso observado no estudo das incluses fludas deve representar um

    fludo adicional incorporado ao sistema. Com base nesses dados, a variao na composio

    isotpica mais provvel est relacionada ao aporte de novos fludos e/ou a interao fludo/

    rocha, do que a modificaes na composio isotpica do fludo original (gua inicial).

    A distribuio dos valores de 18OH2O comparada com os valores registrados para 18Oquartzo, conforme

    representada na Figura 9. 1, exibe correlao positiva, indicando que o oxignio do fludo hidrotermal

    nas incluses fludas o mesmo que deu origem aos veios de quartzo portadores de ouro.

    9.3.5 Discusso dos resultados dos D

    Na Provncia Mineral do Tapajs a variao nos dados de D do sistema hidrotermal est

    compreendida entre - 17 a - 80 . Excetuando-se duas amostras (- 80 para a rea do garimpo

    Jerimum de Cima e - 66 no garimpo Nossa Senhora da Conceio), o espectro dos valores de

    D abrange o intervalo - 21 a - 55 . Os valores mais baixos registrados podem estar relacionados

    presena de slica, observada em seces delgadas de quartzo, sob a forma da variedade slica

    calcednica de textura fibrosa, que tem a propriedade de remover gua do sistema.

    Investigaes realizadas sobre a composio isotpica do H2O em fontes geotermais sugerem que

    o grau de alterao nos valores D depende da quantidade e temperatura do fluxo removido e do

    mecanismo de separao do fluxo (Viglino et al, 1985; In: Xavier, 1991).

    No presente estudo, enquanto se observa uma correlao positiva entre os dados de 18Oquartzo e do

    18OH2O, os valores de D do fludo e das incluses fludas no mostram consistncia (Figura 9.2).

    O espectro dos dados de D amplo e est compreendido entre - 17 a - 80 , indicando a

    provvel participao de um novo fludo no sistema hidrotermal.

    A distribuio dos valores de 18OH2O e de D, isto , os dados dos istopos de oxignio e de hidrognio

    do fludo, obtidos nas incluses fludas, como pode ser visualizado na Figura 9.4, mostra que os

    dados fixam dominantemente nos campos de fludos magmtico (6 amostras) e de gua juvenil (5

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM287

  • 288 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    amostras), enquanto que 6 amostras caem no limite entre esses dois campos, indicando que um

    total de 17 amostras exibem dados de composio isotpica consistentes com origem profunda para o

    fludo mineralizante. Apenas em 3 amostras os dados deslocam-se em direo a linha representativa

    de valores consistente com gua meterica, sugerindo que gua adicional foi introduzida no sistema.

    Entretanto, a depleo registrada em parte dos valores de D, pode ser interpretada como o resultado

    da condensao dos volteis tardi-magmticos (gua juvenil) em vez de serem atribudos a diluio

    por mistura com fluidos metericos (Sillitoe, 1991; In: Foster, 1991).

    Assim sendo, interpreta-se que o sistema hidrotermal em estudo reflete composies isotpicas

    relacionadas diferentes fludos (magmtico e juvenil), ao invs de variaes na composio

    isotpica do fludo inicial do reservatrio. Fyon et al (1983), demonstrou que a magnitude de

    disperso nos valores de D no pode ser atribuda a modificaes do fludo original do reserva-

    trio por mecanismos que resultem no seu enriquecimento e/ou depleo, porm, deve-se ao

    aporte de novos fludos de composio isotpica distintas no sistema hidrotermal.

    Figura 9.4 Diagrama dos valores de 18 O (per mil) x D/H (per mil, SMOW) em incluses fluidas em veios dequartzo portadores de ouro na Provncia Mineral do Tapajs. Referncias de dados para outros tipos de

    fluidos mineralizantes para comparao da composio isotpica so tambm representados: (i) magmtico,

    (ii) gua juvenil e (iii) metamrfico (Taylor, 1979). Em adio, a variao de D/H e 18OH2O para fluidos dediferentes tipos de depsitos de ouro est tambm representada pelos seus campos: (i) depsitos do Arqueano,

    originada dos depsitos mesotermais nas Provncias Superior e Slave, Canad (Kerrich, 1989) e do Cinturo

    Norseman-Wiluna, Western Australia (Golding & Wilson, 1988); (ii) depsitos da Cordilheira Canadense

    mesozica (Nesbitt & Muchlenbachs, 1988); (iii) depsitos tipo-Carlin, Arizona (Sawkins, 1990); (iv) depsitos

    tipo-prfiros com ouro da regio de British Columbia, Canad (Diron et al., 1995) e (v) depsitos epitermais

    (Field & Fifarek, 1985). Observar tambm as linhas de gua meterica e geysers (Hodgson, 1993).

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM288

  • SISTEMA HIDROTERMAL 289

    A distribuio dos valores de 18OH2O e de D consistente com o aporte de guas profundas de

    diferentes origens, magmtica e juvenil, e pequena contribuio superficial (meterica), responsveis

    pela formao dos veios mineralizados no Tapajs. Possivelmente, o fludo aquoso observado nas

    incluses fludas do tipo H2O deve representar o fludo adicional no sistema. Assim sendo, a

    variao na composio isotpica 18OH2O mais provvel est relacionada mistura de quantidades

    diferentes do fluxo de fludos distintos durante o mecanismo de interao fludo/rocha.

    Considerando-se que a variao dos valores de D depende tambm da quantidade do fluxo que

    interage com a rocha (Viglino et al, 1985; In: Xavier, 1991), pode-se afirmar que o espectro dos

    valores de D guarda estreita relao com o mecanismo da interao fludo (F) e rocha (R). No

    Tapajs esta razo varivel, tendo sido reconhecidas: (i) razo alta: F/R (F > R); e (ii) razo

    baixa: F/R (F < R). O condicionamento estrutural, bem como o desenvolvimento das zonas de

    alterao, atesta esta relao. Os depsitos aurferos geneticamente relacionados ao

    desenvolvimento de zona de transcorrncia (strike-slip shear zone) exibem amplas zonas de

    alterao com extensivas carbonatizao, sericitizao e silicificao (exemplos: garimpos Ouro

    Roxo, Pepeu, Chico Torres, Abacaxis), enquanto que nas reas mineralizadas originadas sob

    condio rptil, formando estruturas do tipo jog, o contato entre o veio de quartzo mineralizado

    e a rocha encaixante atravs de um contato sharp, onde o desenvolvimento de zonas de alterao

    inexpressivo (exemplo: garimpos Mamoal e Joel). Reaes progressivas de hidratao da rocha

    encaixante podem modificar o fludo residual, em funo do aporte de novo fludo no sistema

    (mistura de fludos). Por outro lado, uma baixa razo F/R, ou seja, um pequeno volume de

    fludo interagindo com a rocha, resulta na significante desidratao do fludo, e vice-versa.

    Conseqentemente, os valores menores de DH2O podem ser atribudos ao fludo CO2-H2O

    resultante da formao das primeiras incluses fludas, produto de processos de imiscibilidade,

    alm da mistura de fludos.

    Em sntese, os dados de istopos estveis de oxignio e hidrognio, indicam que o sistema

    hidrotermal na Provncia Mineral do Tapajs responsvel pela formao dos veios portadores

    de ouro tem uma assinatura isotpica prxima do fludo relacionados a depsitos aurferos

    arqueanos, distinta das assinaturas registradas para depsitos epitermais, porphyry-copper e

    tipo Carlin (Figura 9. 4). Conclui-se tambm que mais de um sistema hidrotermal foi responsvel

    pela formao dos veios portadores de ouro na provncia, sendo um originado a partir de

    fludo profundo (mantlico) e o outro de gua juvenil, com contribuio superficial de gua meterica,

    cujo emplacement das duas geraes de veios mineralizados ocorreu em nveis crustais diferentes.

    9.4 Fonte do sistema hidrotermal

    Na provncia em estudo, conforme demonstrado, o sistema hidrotermal tem origem profunda,

    no manto (fonte mantlica), passando para um sistema adicional de gua juvenil, originado a

    partir dos fludos liberados durante os processos acrescionrios e tardi-magmticos, que

    ocorreram num nvel crustal mais superior da crosta. O desenvolvimento progressivo do

    strike-slip fault system, pode ter favorecido o aporte de gua meterica para o sistema.

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM289

  • 290 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    Este modelo postula a presena de magma como fonte de energia e vapor, portador do CO2,

    responsvel pelo processo magmtico de fuso da crosta inferior. Este magma do tipo TTG,

    caracterizado por saturao em slica (e.g. tonalito-trondhjemito-granodiorito), permitindo a

    formao e liberao de CO2 (fase vapor), capaz de transportar metais, incluindo o Au, enquanto

    que H2O proveniente de processos de condensao dos volteis tardi-magmticos (Colvine et

    al., 1988; Frost et al, 1989).

    Esta premissa fundamenta-se, conforme demonstrado no Capitulo VI, que os granitides do

    Complexo Cui-Cui (ortognaisses diortico a granodirortico e tonaltico) constituem um

    trend calcioalcalino de mdio K, com termos peraluminosos. Seus padres em LILE (e.g.

    Rb, Sr, Ba) e HFSE (Zr, Nb, Y Ti) com fortes anomalias negativas em Nb, so consistentes

    com granitides do tipo I e representam corpos granticos gerados em arco continental imaturo

    (Coutinho et al, 1998). Essas feies associadas distribuio das curvas dos REE tm

    caractersticas consistentes com granitides no fracionados, tpicos dos terrenos TTG. Esta

    classificao confere aos granitides Cui-Cui importante papel na formao dos depsitos

    aurferos no Tapajs, no s como fonte do fludo hidrotermal, sob a forma de vapor de CO2,

    tambm, como o agente transportador do Au e metais associados.

    Por outro lado, as altas concentraes dos LILE comparadas com aquelas dos HFSE dos granitides

    do tipo Creporizo, gerados em ambiente de arco continental normal a maturo (Coutinho et al.,

    1998), com valores de Nd, variando de zero a valores positivos (Santos et al, 2000), e o

    desenvolvimento diferenciado de zonas de deformao (shear zones), predominantemente no

    ambiente tipo arco magmtico, reas estas mais prximas zonas de subduco, do que em

    ambiente de arco de ilhas que se posiciona mais no interior da placa, indicam para os granitides

    Creporizo origem relacionada crosta juvenil. Este desenvolvimento favoreceu o

    retrabalhamento de material crustal proveniente de arco mais antigo (Cui-Cui), cujo processo

    de fuso da crosta (partial melting) responsvel pela gerao de fludos que ascendem para

    nvel crustal menos profundo, com composio isotpica tpica de gua juvenil, ao qual so

    adicionados valores isotpicos herdados do fludo mais profundo mantlico (fludo magmtico).

    Nesses termos, os granitides Creporizo so responsveis pela gerao de um novo fludo

    adicionado ao sistema hidrotermal do Tapajs, cuja composio isotpica recebeu contribuio

    de istopos herdados do fludo matlico mais profundo.

    Estudos geoqumicos no sistema do arco Mariana (Woodhead & Frase, 1985) tem demonstrado

    que os fludos originados de subduco transportam substancial quantidade de elementos mveis

    da astenosfera para a litosfera. Parte desses elementos (LILE), de baixo potencial inico, so

    removidos do slab e adicionados ao manto, onde os arcos magmticos so gerados. Nesse sentido,

    a fuso do magma importante como fator lubrificador das shear zones na crosta inferior,

    representando os condutos que favorecem a migrao de fludos.

    Nesses termos, na rea em estudo, a composio isotpica do fludo original foi modificada

    em relao aos valores isotpicos de hidrognio. Isto pode explicar o amplo espectro nos

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM290

  • SISTEMA HIDROTERMAL 291

    valores D que no guardam relao com a distribuio dos valores de 18Oquartzo e do 18OH2O. O

    sistema hidrotermal teve sua composio overprinted, acrescida de valores D herdados, acar-

    retando um enriquecimento nesses valores em relao ao fludo original.

    Este modelo fundamenta-se tambm nos estudo de Pb-Pb em sulfetos (galena e pirita) associados ao

    ouro, cujos valores das idades-modelo (vide Captulo VIII), calculados a partir do modelo de evoluo

    de Pb de Stacey & Kramers (1975), apresentam um espectro variando de 2.012 a 1.875 Ma, que,

    quando colocados em um histograma de idades, nota-se que esses valores se distribuem com maior

    freqncia no intervalo entre 1.980 e 1.880 Ma. Essas idades so consistentes com as idades de

    desenvolvimento dos arcos magmticos tipo Creporizo (1.997 a 1.957 Ma) e Parauari (1.897 Ma).

    Entretanto a participao dos granitides Parauari deve representar apenas parte da histria termal

    do sistema, responsvel pela produo de energia, e no necessariamente gerador de fludo rico em

    CO2, haja vista que o estudo das incluses fludas sugere que o fludo hidrotermal do Tapajs

    responsvel pelo desenvolvimento dos depsitos relacionados a segunda fase da mineralizao

    relativamente depletado em CO2. Em algumas reas estudadas, as incluses aquosas prevalecem

    em relao s incluses portadoras de CO2 (e.g. garimpo Davi, Joel, Mamoal, entre outros).

    9.5 Relao estrutura x sistema hidrotermal

    Combinando-se a distribuio dos 141 pontos cadastrados de ocorrncia de ouro primrio com o

    padro estrutural, conforme exposto na Figura 9.5, fica demonstrada a ntima relao gentica

    entre o frame-work estrutural da provncia, gerado em funo da evoluo do strike-slip flaut

    system, e a mineralizao de ouro. As zonas de transpresso resultantes representam os condutos

    favorveis percolao de fludo portador de metais, inclusive o ouro, e possveis locais de alvio

    de presso, gerando condies propcias as modificaes dos parmetros fsico-qumicos do fludo

    mineralizante (P, T, pH, CO2, O2, HS2). A desestabilizao no fludo portador de metais (sulfetos

    e Au), resulta na precipitao do metal dando origem aos depsitos aurferos (sites mineralizados).

    Em escala de detalhe, observa-se que os sites aurferos variam em tamanho e forma, e que so

    funo da profundidade ou da deformao progressiva. Zonas de deformao (strenght) dctil,

    nucleadas podem ser desenvolvidas em nveis crustais mais superiores, em funo da ao da

    deformao de zonas de alterao hidrotermal ao longo de fraturas previamente formadas (Gibson,

    1990; Tourigny & Tremblay, 1997). As reas aurferas caracterizadas por padro estrutural distinto,

    refletem variaes crustais de formao e esto representadas por reas de descontinuidade, que

    constituem zonas de baixo stress, merecendo destaque: fraturas extensionais conjugadas a fraturas

    de cisalhamento (falhas de empurro), reas de inflexo do traado de falhas principais (jogs,

    duplex transcorrente); rea intensamente fraturadas (stockworks); e zonas de interseo de falhas

    com estruturas planares (contatos litolgico, diques, entre falhas).

    O reconhecimento dessas zonas de baixo stress em escala de detalhe fundamental para o

    mapeamento dos sites aurferos, haja vista a ntima relao gentica entre zonas de baixo stress

    x site aurferos (locais de deposio do ouro).

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM291

  • 292 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    Figura 9.5 Mapa estrutural com distribuio dos pontos mineralizados em ouro (141, incluindo 20 reas de estudo de prospectos).

    Observar a ntima relao entre estrutura / rea mineralizada.

    9.6 Condies de deposio do ouro

    Parmetros termodinmicos, tais como P, T, pH, fugacidades do oxignio (O2), do gs carbnico

    (CO2) e do enxofre (S2), so fatores importantes na capacidade do fludo hidrotermal

    transportar Au, exercendo forte influncia no mecanismo de deposio deste metal.

    Com base em diversos estudos experimentais sobre as condies de deposio do ouro, as

    assemblias minerais de sulfetos e silicatos com ouro associado, em conjunto com os dados

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM292

  • SISTEMA HIDROTERMAL 293

    de incluses fludas, permitem conhecer a composio do fludo mineralizante, alm de

    colaborar efetivamente na definio das condies de deposio do metal, bem como do

    mecanismo de transporte de precipitao do ouro (e.g. Bhlke, 1989).

    A assemblia mineralgica identificada no estudo do minrio (ore mineral; Capitulo VII), na

    primeira fase metalogentica do ouro (lode-gold deposits), e as evidncias das suas relaes

    texturais, com minerais portadores de Ti (ilmentita e rutilo) associados a magnetita e a sulfetos

    de Fe (pirrotita e pirita) sugere um limite superior de temperatura de 550 0C. A presena de

    textura milontica reconhecida na rocha hospedeira, associada veios com ouro, deformados,

    contendo biotita e minrio piritoso brechide, so consistentes com temperatura de formao

    em torno de 500 0C. No estgio tardio nessas condies, a correlao Au-Cu marcada por minerais

    de Pb e Cu (galena, calcopirita) com pirrotita, pirita e hematita sugere temperatura de >270 0C.

    Por outro lado, o estgio inicial da segunda fase metalogentica da mineralizao (predomnio de

    ouro do tipo veio/disseminado/stockwork), com o domnio de rutilo, e mais raramente molibdenita,

    associados a sulfetos de Fe (pirrotita e pirita) e de Fe+Cu (calcopirita), seguindo-se uma gama

    variada de sulfetos de Cu, Pb e Zn (vide Captulo VII), permite estimar temperatura de 350 0C.

    E, num estgio tardio, tomando-se por base a assemblia ouro/bismuto/telrio, e presena de Co

    + Cd, e considerando-se o melting point do bismuto de 271,5 0C (Barnes, 1979), sugere-se um

    limite superior de formao < 270 0C para esta segunda fase de deposio do ouro.

    Com base no campo de estabilidade dos alumono-silicatos de Na-K e Mg-K, veios com muscovita

    e albita substituindo K-feldspato em granito, e clorita e muscovita em granodiorito, indicam

    300 0C e 1,5 kb para as condies de deposio do ouro (Bowers et al, 1984). A ocorrncia de

    sericita, albita e K-feldspato nas zonas de alterao proximal sugerem valores de pH variando

    de 5,0 a 6,0, ou seja, prximo de neutro a levemente alcalino (pH neutro = 5,2 a 350 0C e 2

    kb), para um fludo de salinidade igual a 0,77 eq. NaCl (Ho et al,1992).

    Numa assemblia clorita e pirrotita associada a ouro, a fugacidade do oxignio (O2) est

    compreendida entre ~ 10 -55 a 10 -35 (Fayek & Kyser, 1995).

    No Tapajs, Juliani et al (2002) sugere condies redutoras prximas ao buffer NNO para a mineralizao

    de ouro na rea do garimpo Batalha, e postula que o sistema hidrothermal no Batalha difere dos depsitos

    porphyry-copper na sua profundidade de emplacement e na O2. Biotita de origem hidrothermal nos

    granitides nesse garimpo exibe afinidade com fludo de depsitos porphyry-copper e Sn-W-Bi. Entretanto,

    os valores estimados de log (H2O)/(HF) so mais baixos quando comparados aos dos depsitos porphyry,

    sugerindo afinidade da mineralizao do Batalha com o tipo intrusion-related gold system.

    Condies redutoras para o sistema hidrotermal portador de ouro na Provncia Mineral do

    Tapajs so tambm defendidas por Klein et al (2001), com base no estudo do fludo

    mineralizante na rea do garimpo Guarim, regio do Cui-Cui. Assumindo valores de O2variando de - 29 a - 34,5, os quais esto compreendidos entre os buffers HM (hematita-magnetita)

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM293

  • 294 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    e QMF (quartzo-magnetita-faialita) a 2 kbar, o autor apresenta valores do log S2 variando de

    -10 a -11, atribuindo carter redutor ao fludo mineralizante na regio do Cui-Cui, e, a

    partir de estudos de incluses fludas, estima o pH em torno de 5,2 a 6,2 (neutro a levemente

    alcalino), o que consistente com a presena de carbonato e mica branca na assemblia mineral

    nas zonas de alterao, confirmada no presente estudo.

    Com base no estudo das zonas de alterao (Captulo VII), a transformao pelo fludo

    hidrotermal de K-feldspato para muscovita e albita; epidoto e biotita para muscovita, clorita,

    carbonato, e quartzo; e pirita para clorita e pirrotita, decresce o pH, a O2 e a H2S

    suficientemente para desestabilizar o ouro sob a forma de complexo de bisulfeto e precipitar

    o ouro nativo. Num sistema pirrotita associada a ouro com pH < 6 e temperatura < do 500 0C,

    o H2S o sulfeto dominante no fludo, fato este consistente com a assemblia mineral da

    primeira fase de mineralizao em veios do tipo lode-glod na Provncia Tapajs.

    Estudo geoqumico sobre zonas de alterao em granitide Maloquinha, na rea do garimpo Batalha

    (Juliani et al, 2002), demonstra que a mineralizao de ouro est associada a um sistema hidrotermal,

    relacionado especialmente sericitizao, e que o enriquecimento em metais no ferrosos, em funo

    do matassomatismo sdico e potssico, bem como da sericitizao, so consistentes com processos

    hidrotermais ocorridos em condies que variam de ~ 500 0C e 2,6 kb para o metassomatismo potssico,

    e ~ 290 0C e 1,2 kb para a sericitizao.

    O presente estudo sobre os fludos sugere dois grupos de intervalos de presso mnima de trapeamento

    para as incluses fludas, sendo o primeiro compreendido entre 1,6 a 1,4 kb e o outro 1,2 a < 1 kb.

    Com base nesses dados e assumindo os efeitos litostticos, sugere-se duas fases de precipitao do

    ouro, sendo a primeira a uma profundidade entre 7 a 4 km, e a segunda, num nvel crustal mais

    superior, < 4 km.

    9.7 Modelo hidrulico para o ouro do Tapajs

    Entre os vrios modelos de dinmica de fludo e regime de presso durante a gerao de ouro mesotermal

    hospedados em shear-zones destacam-se, os seguintes:

    (i) Difuso lateral (Boyle, 1979);

    (ii) Movimento horizontal de fludo em reservatrio geopressurizado (advection of

    geopressurized fluid reservoirs; Kerrich & Allison, 1978);

    (iii) Modelo fault-valve (Allison & Kerrick, 1980; Kerrich, 1986; Sibson et al., 1988);

    (iv) Circulao de fludos de conveco interagindo com rochas metamrficas (Etheridge et

    al., 1983); e

    (v) Circulao da superfcie para a profundidade de guas metericas (Nesbitt et al., 1986).

    Com exceo dos modelos (i) e (vi) todos essas propostas envolvem bombeamento ssmico

    cclico do fludo para reas de dilatao (dilation site), por fraturamento hidrulico, seguido

    de descarga ps-ssmica do fludo com alvio de presso.

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM294

  • SISTEMA HIDROTERMAL 295

    Entretanto, nenhum desses modelos parece consistente com as caractersticas do ouro do

    Tapajs. Feies estruturais observadas nos depsitos aurferos na provncia em estudo so

    respostas a contnua evoluo do regime dctil para dctil-rptil e finalmente para rptil. O

    fludo espasmdico introduzido durante a evoluo da shear zone (Megasistema de Falhas

    Transcorrentes do Tapajs), em resposta aos processos magmticos em profundidade durante a gerao

    dos arcos magmticos. A formao dos veios de quartzo minealizados em ouro, desenvolvidos com

    formas, texturas e espessura distintas, deve ser o resultado das mudanas fsico-qumicas

    ocorridas durante a ascenso do fludo, causadas pela interao do fludo com a zona de

    alterao, sob condies variadas da razo fludo/rocha, (F > R ou F < R), e, possvel

    contribuio de processo de imiscibilidade de fludos, sob condies de P & T, varivel para

    cada depsito, no tempo de ascenso e precipitao do fludo.

    Nesse contexto, num espao de 140 Ma, quando se instalavam os arcos magmticos na provncia,

    pulsos espasmdicos de fludo devem ter ocorrido, de origens distintas, inicialmente um sistema

    mais profundo (origem mantlica) gerando depsitos do tipo lode-gold, e posteriormente num

    ambiente crustal mais superficial (formado por gua juvenil) com contribuio de gua meterica,

    responsvel pela formao de depsitos do tipo disseminado/stockwork.

    Os depsitos do primeiro tipo so classificados como ouro orognico (mesozonal) no conceito

    de Groves et al (1998), enquanto que o segundo tipo classificado como ouro epizonal, pode ser

    o correspondente ao tipo intrusion-related, no conceito de Sillitoe (1991), confirmando o

    previamente sugerido por Coutinho et al. (1997 e 2000), respectivamente.

    9.8 Concluses

    Na Provncia Mineral do Tapajs o estudo dos fludos sugere a presena de mais de um sistema

    hidrotermal, produtos de uma complexa evoluo de arcos magmticos, responsvel pela formao

    dos veios de quartzo portadores de ouro, desenvolvidos em diferentes nveis crustais.

    Durante a primeira fase de mineralizao, quando se formaram depsitos do tipo lode-gold, os

    processos hidrotermais responsveis pelo desenvolvimento das zonas de alterao ocorreram

    em condies de T e P de ~500 0C e 2,6 kb para enriquecimento potssico, e de ~290 0C e 1,2

    kb para processos de sericitizao. A presena de textura milontica reconhecida na rocha

    hospedeira, deformada, contendo biotita, e a presena minrio piritoso brechide, so

    consistentes com temperatura de formao em torno de 500 0C.

    Os veios de quartzo mineralizados em ouro originaram-se de um fludo do tipo CO2 com

    composio compreendida entre 8,3 a 14,5 mol % de CO2, que evoluiu para o tipo CO2-H2O. O

    fludo com densidade entre 0,70 a 0,85 g/cm3 e salinidade variando entre 2,7 a 5,5 mol %

    NaCl, apresenta pH < 6, prximo de neutro a levemente alcalino, e O2 entre ~ - 35 a - 55.

    CAP 9 NOVO.pmd 8/18/2008, 3:28 PM295

  • 296 PROVNCIA MINERAL DO TAPAJS: GEOLOGIA, METALOGENIA E MAPA PREVISIONAL PARA OURO EM SIG

    Processos de imiscibilidade, bem como fenmenos de interao fludo/rocha so os mecanismos

    responsveis pelo transporte do ouro sob a forma de complexo de biosulfeto de ouro. Num

    estgio tardio, a correlao Au-Cu marcada por associao de minerais de Pb e Cu (galena,

    calcopirita) com pirrotita, pirita e hematita indica temperatura de ~270 0C para a deposio do

    ouro. A razo Au/Ag foi determinada em torno de 10.

    Dados de 18O quartzo e 18OH2O indicam que o fludo hidrotermal e os veios mineralizados em ouro

    tm a mesma origem, enquanto que os valores 18OH2O e D so consistncia com os valores da

    composio isotpica do fludo de origem magmtica (mantlica).

    O emplacement dos veios ocorreu sob condies dctil a dctil-rptil. A presso mnima de

    trapeamento para as incluses fludas, indica presso de fludo de 1,6 a 1,4 kb, inferindo

    profundidade de formao variando de 7 a 4 km.

    Na segunda fase metalogentica, durante a qual se formaram os depsitos de ouro do tipo veio/

    stockwork/disseminado, os estudos petroqumicos das zonas de alterao sugerem temperaturas

    consistentes com o campo de estabilidade dos alumono-silicatos de Na-K e Mg-K; a formao de

    sericita, albita e K-feldspato; e a assemblia clorita e pirrotita associada a ouro.

    Os veios de quartzo tiveram origem num fludo depletado em CO2, com expressiva componente aquosa

    (> 84,0 mol % de H2O), caracterizado por um ambiente redutor com pH variando de 5,2 a 6,2, ou

    seja, de neutro a levemente alcalino; O2 variando de - 29 a - 34,5, e S2 entre -10 a 11.

    Os dados de 18O quartzo e 18OH2O apresentam significante consistncia, indicando que o fludo

    hidrotermal e os veios com ouro tm a mesma origem. A distribuio dos dados 18Oquartzo x D sugere

    um trend, cuja distribuio fixa predominantemente no campo de valores de gua juvenil (origem

    magmtica), e algumas poucos dados aproximam-se da linha caracterstica dos valores de composio

    isotpica da gua meterica. Por outro lado, os dados de D no so consistentes com os dados de

    18OH2O , os quais apresentam um amplo espectro, sugerindo composio isotpica de D herdada da

    crosta juvenil retrabalhada, mais antiga (fludo heterogneo).

    Num estgio tardio, tomando-se por base a assemblia ouro/bismuto/telrio, considerando-se

    o melting point do bismuto de 271,5 0C, sugere-se 270 0C a temperatura limite superior para

    deposio do ouro. A razo Au/Ag est em torno de 4.

    A presso mnima de trapeamento das incluses fludas permite inferir valores entre 1,2 a