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C L E P U L

em Revista

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Outubro de 2015

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2 Festival Literário Internacional de Óbidos

O que é o FOLIO?Uma festa literária.Em 11 dias de pura �c-ção, 200 autores de todoo mundo reúnem-se emÓbidos, uma Vila me-dieval Portuguesa, paraconjugar o verbo literar.É pura �cção.

O FOLIO AUTORESLiteratura � com o FO-LIO inventamos um no-vo verbo � o verbo �li-terar�. Queremos queÓbidos seja um localde encontro, não ape-nas em outubro, masdurante todo o ano, deescritores, de alunos, deprofessores, de editores,de estudiosos, de livrei-ros, de todos aquelespara quem a palavra e aliteratura são a sua pro-�ssão, a sua inspiração,a sua vida.Mais de uma centenade autores, nacionais einternacionais marcampresença em Óbidos pa-ra debates, mesas-re-dondas e entrevistas.É uma grande festa daliteratura, do livro edas ideias, muito focado

na língua portuguesa ena lusofonia, em par-ticular no Brasil, massem esquecer o restodo mundo. A intençãoé surpreender os leito-res, juntando autoresmuito conhecidos, e ou-tros ainda não tão di-vulgados em Portugal,mas de reconhecida qua-lidade, discutindo temasatuais. Estes debates,tendo início nos palcos,certamente alastrarãodepois às ruas e praçasde Óbidos durante todosos dias e noites do festi-val, num convívio entreos autores e os seus lei-tores. Um encontro coma presença de mais decinquenta escritores na-cionais e internacionais.Curadoria de JoséEduardo Agualusa.

A FOLIAO programa inclui mú-sica, teatro, cinema, ex-posições, aulas, marato-nas de leitura, muitassessões de conversa �a-da. Os artistas cele-bram o triângulo Portu-gal-África-Brasil, os au-

tores que admiramos enos inspiram, têm comomote a pândega. Vãoapresentar, quase sem-pre, uma intervençãooriginal, criada proposi-tadamente para a Folia.Cruzam o seu universoparticular com o dos te-mas do Folio, com a lite-ratura.Curadoria de AnabelaMota Ribeiro

O FOLIO EDUCAUma ambiciosa progra-mação que mostra quea leitura e a literaturaestão sempre envolvi-dos com todas as ou-tras áreas da vida, dasociedade. Ao longo dedez dias em Óbidos oFOLIO Educa reúne osmais importantes agen-tes, protagonistas epensadores relaciona-dos com temas educati-vos e com a literatura,a leitura e as literacias,tão atuais e urgentesdentro e fora de escolas,bibliotecas, museus, cen-tros de ciência. Duranteo FOLIO o programaorganiza-se por temas

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como �Música e Lite-ratura�, �Matemática eLiteratura�, �Artes Céni-cas e Literatura�, �Filo-so�a e Literatura�, entreoutros.Contando com parce-rias nacionais de relevo,tais como a da Rede deBibliotecas Escolares, econvidados nacionais einternacionais de refe-rência, o FOLIO Educainclui um Seminário In-ternacional de dois dias,formação de professorese professores bibliotecá-rios, dezenas de o�ci-nas de mediação de lei-tura, tertúlias temáticase workshops imprová-veis.Curadoria de TeresaCalçada e de Maria JoséVitorino

O FOLIO ILUSTRAAcontece em torno daPIM! � Mostra de Pala-vras, Ilustração e Movi-mentos de Leitura. Estamostra internacional deilustração conta com apresença dos mais pres-tigiados criadores portu-gueses e brasileiros naárea da literatura infan-tojuvenil, com uma cole-ção ímpar de ilustraçõesoriginais de livros edita-dos. É homenageado o

trabalho de Maria Keilque serve como lugar--raiz para uma viagempela obra de mais demeia centena de ilustra-dores que nos convidama ler a cor, a textura, aslinhas, as formas, as pa-lavras. Portugal redes-cobre o Brasil pela ilus-tração como forma deexpressão de técnicas eidentidades artísticas.Conceção e Curadoria deMafalda Milhões, coma colaboração especialde Dora Batalim Sotto-Mayor

INICIATIVAS PRO-MOVIDAS PELOCLEPUL

15 de OutubroExposição �Óbidos�, deSérgio CezarArtista carioca constróiÓbidos em miniatura, apartir de papelão, des-perdício, lixo, etc. Si-multaneamente, passamvídeos do seu trabalho.Telheiro da Praça deSanta Maria

16 de Outubro17h00, Galeria Pelouri-nhoExposição �Vim, vi e Li�,de Maria João Coutinhoe Simion Cristea

17 de Outubro18h00, Galeria Pelouri-nhoLeitura: Obra Completado Padre António Viei-ra. Leitura de excer-tos. Apresentação porJosé Eduardo Franco ePedro Calafate.

18 de Outubro18h00, Galeria Pelouri-nhoLançamento e apresen-tação de obras de mem-bros do CLEPUL

19 de Outubro11h00, Escolas de Óbi-dosLeitura / Debate paraGrupos EscolaresAfricanasTrabalho com os alunosdo quarto ano de escola-ridadeTextos: O gato e oescuro, de Mia Couto(duas linguagens/duasleituras), da responsabi-lidade de Maria RaquelÁlvaresConchas e Búzios, deManuel Rui Monteiro(leitura orientada e dis-cussão), da responsabili-dade de Carla FerreiraO Lobo e o Chibinho(leitura e Comentário),da responsabilidade deGlória Brito

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4 Festival Literário Internacional de Óbidos

20 de Outubro

18h00, Capela de SãoMartinhoCinema: Orfeu Negrode Marcel CamusPalma de Ouro do Fes-tival de Cannes, 1959,e Óscar de melhor �lmeestrangeiro em 1960.

Seguem-se comentáriosde Vania Chaves, Mada-lena Gonçalves e PaulaCarreira.

22 de Outubro18h00, Galeria Pelouri-nhoVladimir Queiroz, poetade Salvador da Bahia,

em conversa com Virgí-nia Carmo.

A programação inte-gral do festival en-contra-se disponível emhttp://www.foliofestival.com

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UNESCO 5

Colóquio e exposiçãoA Arte Chocalheira, candidata à lista da UNESCO como

Património Imaterial da Humanidade

No dia 5 de Setembropassado, a AssociaçãoCultural de MontalvãoVamos à Vila organi-zou um evento em Mon-talvão, pequena aldeiasituada no concelho deNisa, que constou de umColóquio e uma Exposi-ção, sob o tema geral AArte Chocalheira.Com esta realização,quis a Vamos à Vilaapoiar a primeira candi-datura, em Portugal, àlista da UNESCO de Pa-trimónio Cultural Ima-terial com Necessidadede Salvaguarda Urgente.Ao mesmo tempo, aAssociação celebrava ofacto de, embora for-malizada em Janeiro de2010, ser o resultado deuma anterior ideia de sefazer em Montalvão umaexposição de chocalhos,que veio a transformar--se num projecto, o qual,por sua vez, seria con-cretizado através de umAcordo de Cooperaçãoentre o então Centrode Tradições PopularesPortuguesas `Prof. Ma-nuel Viegas Guerreiro',

unidade de investiga-ção da Faculdade deLetras da Universidadede Lisboa e da FCT,em colaboração com aCâmara Municipal deNisa. O projecto, a quese chamou globalmenteMontalvão, um Povo,uma História, muitasMemórias, foi desen-volvido por Ana MariaPaiva Morão, investiga-dora do CTPP e hojedo CLEPUL e por RuiDiogo Correia, em duasvertentes que se com-pletavam mutuamente,traduzindo-se a primeirapor uma Exposição deobjectos ligados à pasto-rícia, onde naturalmente�guravam diversos tiposde chocalhos, e a se-gunda de um livro comDVD, intitulado A Pas-torícia Em Montalvão.Um Património Do Pas-sado Para Um Futuro,no qual se abordavamvárias questões relacio-nadas com a utilizaçãodos mesmos.Estando, pois, na géneseda Associação Vamos àVila uma certa ligação

com a Arte Chocalheira,entendeu a sua Direc-ção fazer todo o sentidoorganizar este evento,que se realizou na Casado Povo, cedida parao efeito pela Junta deFreguesia de Montal-vão. Não podendo estarpresente, não deixou aDirectora Regional daCultura do Alentejo,Dra Ana Paula Amen-doeira, de endereçar àAssociação as mais elo-giosas palavras, tantopelo trabalho anterior-mente realizado como,agora, pela importânciade mais esta realizaçãoem prol da Salvaguardado Património ImaterialPortuguês.

Foi este, precisamente,o tema da primeira in-tervenção do Colóquio,pela Presidente da Di-recção da Vamos à Vila,

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Ana Maria Paiva Mo-rão, que, começando porlembrar que já Leitede Vasconcellos alertavapara a premência de sal-vaguardar este patrimó-nio (�Acudi, enquanto étempo�), passou a refe-rir o papel crucial queas Associações Culturaispodem ou devem desem-penhar neste processo,dando como exemploa Vamos à Vila, que,apesar da exiguidadede apoios institucionais,tem realizado �pequenosmilagres�.O Colóquio organizou-seem dois painéis.No primeiro, dedicadoao fabrico e utilizaçãodos chocalhos, começoupor ser exibido um curtodocumentário preparadopela Vamos à Vila, combase na actividade daCasa Chocalhos Parda-linho, de Alcáçovas, enuma perspectiva decontinuidade e futuro deuma arte tradicional.O antropólogo PauloLima, coordenador des-ta candidatura, faloudo processo de inscriçãona Lista da UNESCOdo Património Imaterialtanto da Arte Choca-lheira como de outras

candidaturas e dos pro-blemas que lhes subja-zem, focando sobretudoa importância do pró-prio processo. Referiu,igualmente, o efeito dedesenvolvimento econó-mico e turístico que ascandidaturas podem terpara as regiões que aspropõem, não deixandode acentuar que algu-mas questões devem serobjecto de re�exão.Por sua vez, Ana Pa-gará, historiadora deArte e conservadora doMosteiro de Alcobaça,que acompanhou activa-mente este projecto dacandidatura, falou sobreas famílias de chocalhei-ros na Vila de Alcáçovas.A partir da aturada in-vestigação que fez sobreestas famílias, relatouas interligações pela viado casamento e falouda passagem da arte depais para �lhos, tendofocado que uma das ra-zões do declínio da artechocalheira foi o factode, a dada altura, sónascerem �lhas nestasfamílias, pois as rapari-gas, pela violência físicado processo de fabrico,não deram continuidadeao ofício dos pais.

Para fazer a ponte como 2o painel, este de-dicado aos diferentesusos dos chocalhos, foiexibido outro pequeno�lme com testemunhosde antigos pastores dazona de Montalvão earredores, que falaramnão só sobre o comoe o porquê do uso doschocalhos nos rebanhos,como referiram peque-nas histórias, tal comoo facto de, ao contráriodas grandes �mangas�do gado vacum, pro-priedade dos lavradoresmais abastados, os cho-calhos do gado �miúdo�(ovelhas e cabras) se-rem pertença dos pasto-res, que os compravampelas feiras e neles ti-nham brio, chegando aescolhê-los pelo som e atrocá-los entre si.

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Pretendia-se, nesta al-tura, e como com-plemento a estes teste-munhos, questionar umajovem agricultora quecria merinos da BeiraBaixa, sobre a razãopela qual usa chocalhosno seu rebanho, con-�nado a terrenos ara-mados, o que contrariaa ideia de que os cho-calhos serviam unica-mente para localizar osanimais. Na impossibi-lidade de estar presente,não deixou a jovem depedir que a sua respostafosse transmitida aospresentes. É que, disseela, através das altera-ções ao som dos choca-lhos consegue saber sehá qualquer agitação norebanho, que é por vezesprovocada pela presençano ar de abutres a ron-dar animais fragilizados;depois, simplesmente,porque gosta de os ou-vir. . .O 2o painel seria abertopor António Pita, Pre-sidente da Câmara Mu-nicipal de Castelo Vide,que apresentou o modocomo aquela vila alente-jana vive o período daPáscoa e onde, após aVigília Pascal na Igreja

Matriz, ao ser anuncia-da a Aleluia, centenasde pessoas, dentro dotemplo e outras cá fora,fazem soar ruidosamenteos seus chocalhos, per-correndo depois, du-rante a noite, as ruasde Castelo de Vide, numespectáculo impressio-nante que atrai milharesde visitantes.Como também em Mon-talvão essa tradição exis-te e se mantém, e de-pois de exibido um pe-queno documentário so-bre o anúncio da Aleluiacom chocalhos nesta al-deia e no qual era evi-dente a evolução de umatradição na qual hojeparticipam mulheres ecrianças pequenas, AnaMaria Paiva Morão,agora na qualidade deinvestigadora de Lite-ratura Oral e Tradicio-nal, completaria o painelabordando ainda outrosusos dos chocalhos.Depois de referir que es-tes, tal como os sinos,aparecem em lendas demouras encantadas aassinalar locais ondese encontram tesourosenterrados, a investiga-dora falou, então, sobreas �chocalhadas� de cen-

sura e punição, nas per-seguições e troças aosviúvos que contraíssemsegundas núpcias e di-rigidas aos casamentosconsiderados atípicosnuma sociedade conser-vadora (velhos com no-vos). No primeiro caso,mostrou um excerto deuma História de Vida,de uma recolha efectua-da em 2003 na MalhadaSorda, Guarda, e regis-tada no ADLOT (Ar-quivo Digital de Litera-tura Oral Tradicional),desenvolvido pelo entãoCTPP. Contava, então,a que fora uma noivavítima de chocalhada:�(. . . ) � Olhe eli, nós,vieram, apartaram-nosna Guarda, a cada umem sê carro, a ver seme metiam em casasem nos fazer a tcho-calhada. Era uns cho-calhos, era montar numcarro de burros ou dosbois (vá, p'rá menina in-tender bem) numa car-roça (que agora já sãocarroças), puseram noburro e à carroça e a elepuseram-no no cimodo carro com tantoschocalhos, chocalhosdos animais (nuncaviu à sua mãe? Ah,

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esta não é a da que estálá a viveri, mas à suatia, também às vacas eassim tchocalhos) e a to-carem os sinos da torre,tum- catalum, tum- ca-talum, a rebate comose fosse a fogo. (. . . )�.(http://www.adlot.�.ul.pt/community).A desaprovação socialaos casamentos dos viú-vos era logo incutida nascrianças, implicitamente(a negrito na quadraabaixo) nas Canções deRoda, como é o caso daconhecida Triste viuvi-nha, cuja segunda qua-dra reza: �Já lá leva doiscabaços* / Três ou qua-tro há-de levar / É bemfeito, é bem feito /Não acha com quem ca-sar� (* levar cabaço:sofrer uma não aceita-ção, uma negativa)Para a crítica aos ca-samentos entre novose velhos, recorreu AnaMorão a versões do Can-cioneiro: �O beijo queambos trocaram / Nanoite do seu casanço / Aela soube-lhe a queijo /A ele soube-lhe a ranço.�(Leite de Vasconcellos,Cancioneiro Português,II)

A investigadora relatou,embora contidamente, ocaso de uma chocalhadade que teve conheci-mento oralmente e quese deu em Montalvãoem tempos não muitorecuados, a uma mulherque, tendo abandonadoo marido, se apresentoucom um outro homemna terra, da qual teve defugir depois de o povolhe ter feito a choca-lhada à porta de casa, àqual nunca mais regres-saria.Outro dos usos dos cho-calhos que referiu foinas máscaras masculi-nas dos ritos de Inverno,salientando o valor sim-bólico da �chocalhada�aplicada às mulheres,em especial as jovens,tendo exibido outrocurto �lme, mostrandoos Caretos de Podence(Trás-os-Montes) e ou-tras máscaras ibéricas.O Colóquio encerrariacom uma surpresa paratodos os presentes e, até,para os conferencistas,ao ser exibido o originalChocalhofone, instru-mento musical compostopor chocalhos modelo�picadeira�, criado no

âmbito da Candidaturada Arte Chocalheira etocado em 21 de Ju-nho, num concerto rea-lizado na Igreja Matrizde Alcáçovas pela Or-questra Sinfónica Ju-venil, que interpretoua Pastorale, escrita ex-pressamente para a oca-sião pelo Maestro Chris-topher Bochmann, coma intenção de fazer aligação entre dois mun-dos sonoros � o som docampo e o da sala deconcertos.

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O instrumento, exclu-sivamente cedido pelaOrquestra à Vamos àVila para este evento,foi tocado em Montal-vão por Nuno JoãoCasteleiro, que estudoupercussão na Escola Su-perior de Artes Aplica-das, em Castelo Branco,cidade onde agora é pro-fessor no Conservató-rio. Numa inteligentee divertida actuação,Nuno Casteleiro apre-sentou à assistência osom do Chocalhofone,interpretando diversaspeças musicais, infantis,eruditas e tradicionaisalentejanas.Na Exposição que fa-zia também parte des-te evento, localizadana Casa do Forno,a Associação Vamos àVila reuniu vários ti-pos de chocalhos, des-de as grandes �man-gas�, �meias mangas�e �reboleiros� do gadovacum, pertença das an-tigas Casas Agrícolasmontalvanenses, até aoschocalhos e �esquiloas�do gado miúdo, cedi-dos por pastores locaisque ainda os conservam,passando pelos �casca-véis� (guizos usados na

arte da falcoaria) e cho-calhinhos de perus. Es-tava também expostaa sequência das váriasfases do fabrico dos cho-calhos, oferecida pelaCasa Pardalinho, e uma�serrana�, enorme cho-calho usado nos bodesdurante a �romaria dasovelhas� ou no 1o diada transumância, comdois tipos de badalos,que produzem sons di-ferentes consoante a re-gião que os encomenda,nortenha ou a sul, eoutro de ponta bicuda,destinado a terras bar-rentas. Na Exposiçãoestava também sugeridoo �canto do pastor�, ondeeste reparava os choca-lhos, com a enxó, meãs,badalos semi-talhados etoscas �cáguedas� / �tas-gas� ou �chavelhas�, bemcomo a arquinha cheiade farelo onde os choca-lhos eram protegidos dahumidade. Espalhadaspela sala, encontravam--se fotogra�as antigas euma colecção de �cágue-das� (cavilhas de pren-der as coleiras) adorna-das a canivete.Puderam também seradmirados, pela primei-ra e talvez única vez

fora de uma praça detouros, dois belíssimosconjuntos de chocalhosdos cabrestos de umadas mais conceituadasganadarias do País, aCasa Pinto Barreiros.No compartimento deentrada, a do forno, doismanequins vestidos arigor simulavam a jo-vem forneira prestes aser �chocalhada� por umCareto de Podence, �-gura insólita em terrasalentejanas. Aí �cou emexibição, igualmente, oChocalhofone.

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Saldou-se esta iniciativada Associação Cultu-ral de Montalvão porum elevado interesse porparte de um públicoecléctico, interessadoe bem documentado.Entre ele, especialistasde várias áreas �zeramquestão de demonstraro seu apreço.

A quem estranhar queeste tipo de eventos,que exigem tanto es-forço e empenho, sejarealizado numa aldeiacom talvez menos de400 habitantes, na suamaioria idosos e mui-tos iletrados, poder-se-áresponder que, se é aíque resiste ainda um

Património Imaterial deimensa riqueza, é aí que,ao colhê-lo, analisá-lo eestudá-lo, deverão os re-sultados serem tambémapresentados, minimi-zando, assim, o eternodivórcio entre Academiae Comunidades. AnaMaria Paiva Morão

Vieira Global

Com a publicação daObra Completa PadreAntónio Vieira peloCírculo de Leitores �caprovado o que muitosa�rmavam mais por in-tuição do que por conhe-cimento integral: Viei-ra é um dos maiorespensadores mundiais daÉpoca Moderna e, semdúvida, o Imperadorda Língua Portuguesa,como genialmente o de-�niu Fernando Pessoa.José Saramago, que nãoera propriamente entu-siasta dos Jesuítas, nãoteve hesitações em a�r-mar que a língua portu-guesa nunca foi tão belacomo quando foi faladae escrita pelo Padre An-tónio Vieira. Os doisdestacam o patamar es-tético mais alto a quechegou Vieira como es-

critor: mais do que umescritor, Vieira foi umartista da língua.Este que já é conside-rado o maior projetoeditorial de sempre, estáa ser continuado no qua-dro de um projeto maisvasto chamado �VieiraGlobal� que engloba apreparação em curso,cumprindo o �to datransferência de conhe-cimento, de um Dicio-nário de Vieira com ca-rácter pedagógico paraas escolas e as universi-dades, e, para atenderao ideário da internacio-nalização, a tradução deuma obra seleta de Viei-ra para 14 línguas.Numa iniciativa inéditada RDP, Antena 2, coma assessoria cientí�ca doCLEPUL foram prepa-rados e emitidos, com a

conceção e locução dojornalista Luís Caetano,40 programas a partirda Obra Completa deVieira e com leitura detextos e entrevistas àequipa dos seus coorde-nadores investigadores.Foi um momento únicoda rádio portuguesa quecontribuiu imenso paradivulgar e convidar umpúblico alargado a ler,estudar e conhecer me-lhor um do nomes maio-res da literatura portu-guesa e mundial.Luís Caetano assinalouo dia de aniversário damorte do padre Antó-nio Vieira com umaedição especial do pro-grama A Força das Coi-sas (http://www.rtp.pt/play/p321/e202089/a-forca-das-coisas). JoséEduardo Franco

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Ciclos e Movimentos

Ciclos e Movimentos foium programa mensaltransmitido na RTP2entre Abril e Setembro.Nos seis episódios, con-duzidos por Rui Pegoe coordenados por LuísCosta, abordaram-se astransformações sociaisocorridas desde 1989,num debate que con-tou com a opinião decinco personalidades:Fausto Neves (professorde música no Conserva-tório de Aveiro, pianista,dedica-se ao estudo e in-terpretação de músicacontemporânea), Fran-cisco Laranjo (artistaplástico, professor ca-tedrático e diretor daEscola de Belas Artesdo Porto), Isabel Poncede Leão (professora ca-tedrática e investiga-dora da UniversidadeFernando Pessoa, comtrabalho de investigaçãono domínio da litera-tura contemporânea eda sua interacção coma arte), Rui Andrade(professor catedrático einvestigador da Univer-

sidade de Aveiro, ocupa--se das novas tecnologiasda comunicação e do seuimpacto na sociedade) eVasco Magalhães (Padree Jesuíta).De facto, nos últimos25 anos � coincidentescom a queda do mu-ro de Berlim, daí areferência a 1989, re-gistaram-se profundasalterações na sociedadee na vida em comum.Intensi�cou-se a globa-lização, quebraram-seas �velhas ideologias�;mudaram-se as formasde olhar o mundo e asformas de criação artís-tica e cultural, com aintrodução da sociedadedigital; a literatura e amúsica passaram a terabordagens que re�etemessas mesmas alterações;a ciência e a tecnologiaconheceram o mais rá-pido desenvolvimento dahistória da humanidade;por outro lado, quandoa globalização deveriaaproximar os cidadãose esbater as diferençasculturais, cresceram as

intolerâncias e aparece-ram novas interpreta-ções do mundo.O �m das ideologias,o mundo virtual pro-porcionado pelas novastecnologias que conduza alterações na percep-ção do mundo real, narelação do Homem como transcendente, a di-nâmica entre os mediae a sociedade, a cen-tralidade do indivíduono universo mediático,a manipulação, a ilu-são do poder, a cidade:espaço de liberdade ourepressão, a cidadaniaactiva e as religiões fo-ram os principais temastratados nesta série dedebates que culminoucom uma síntese e res-pectivas conclusões.O CLEPUL esteve re-presentado por IsabelPonce de Leão.

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12 Feira do Livro do Porto

Feira do Livro do Porto

No presente ano, a Feirado Livro do Porto home-nageou Agustina Bes-sa-Luís. O CLEPUL,parceiro do Circulo Li-terário Agustina Bessa-Luís, foi chamado a co-laborar nas actividades

abaixo indicadas atravésde Isabel Ponce de Leão(membro integrado) e deMaria do Carmo Mendes(membro colaborador).Ainda no âmbito daFeira do Livro, IsabelPonce de Leão apresen-

tou, a 18 de Setem-bro, pelas 21h, a obrado membro integrado doCLEPUL, Carlos MotaCardoso, Rui Rio, Raí-zes de Aço da editoraVerso da História.

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Pascoaes 13

�Conversas no Café-Bar: Essa alma pública duma vila�

No dia 12 de Setem-bro, sob a égide dainauguração da escul-tura honorí�ca de Tei-xeira de Pascoaes a terlugar no Café-Bar pe-las 14h30, o Presidenteda Câmara Municipalde Amarante, José LuísGaspar e o proprietáriodo Café-Bar, RodrigoSilva, reuniram-se comtodos os interessados,pelas 10h00, no primeirociclo das �Conversas noCafé-Bar: Essa almapública duma vila�, mo-mento dedicado à cele-bração da palavra, dapoesia, da literatura, da�loso�a e da arte do vateamarantino, Teixeira dePascoaes.Celebrando a efemé-

ride em epígrafe, parteintegrante do TriénioPascoalino, António M.Feijó e Manuel FerreiraPatrício, professores ca-tedráticos, pensadorese autores de obras de-dicadas ao Pensador doGatão, convocaram asrazões ocultas, mas nãoobscuras, pelas quaisse torna imperativa aleitura da obra de Tei-xeira de Pascoaes, vendoneste encontro a possi-bilidade de re�ectir edialogar acerca da forçaheterodoxa, proteica erenovadora que habitao sistema poético e �-losó�co de Teixeira dePascoaes e da sua liga-ção poética e criacionalà cidade de Amarante.

Pela tarde, realizou-sea cerimónia de inau-guração da esculturahonorí�ca de Teixeirade Pascoaes que con-tou com a presença doPresidente da CâmaraMunicipal de Amarante,José Luís Gaspar, o Co-ordenador da CátedraInfante Dom Henriquepara os Estudos Insula-res Atlânticos e a Globa-lização (FCT / Univer-sidade Aberta / CLE-PUL / APCA / IAC)e Diretor-Adjunto doCLEPUL, José Eduar-do Franco, entre outraspersonalidades da cul-tura e do pensamentoportugueses. So�a A.Carvalho

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14 Chão de Oliva

Tardes Télmicas � Biblioteca Municipal de Sesimbra

As TARDES TÉLMI-CAS, actividade promo-vida pelo Projecto An-tónio Telmo: Vida eObra, parceiro do Trié-nio Pascoalino, regres-saram à Biblioteca Mu-nicipal de Sesimbra nodia 3 de Outubro, pelas15h00, com a realizaçãodo Colóquio No centená-rio da Arte de Ser Por-tuguês, de Teixeira dePascoaes. Na aberturado colóquio, So�a A.Carvalho, presidente daorganização do 2.o Con-gresso Internacional do

Triénio Pascoalino dedi-cado ao centenário daArte de Ser Português,apresentou este eventoa realizar-se entre 14 e16 de Outubro, em Lis-boa. Depois da apresen-tação do projecto e doCongresso, foram ouvi-dos os seguintes orado-res: Eduardo Aroso: �AArte de Ser Português,cem anos depois�; LuísAfonso: �António Telmoe Teixeira de Pascoaes:breve re�exão sobre oCapítulo VIII da His-tória Secreta de Portu-

gal�; e So�a A. Car-valho: �Da Arte de SerPortuguês, de Teixeirade Pascoaes, à Arte deContinuar Português, deAntónio Quadros�. So-�a A. Carvalho

As Criadas, de Jean GenetCompanhia de Teatro de Sintra / Chão de Oliva

SINOPSEEscrita por Jean Ge-net em 1947, a peçaAs Criadas apresenta ahistória de duas irmãs,Clara e Solange, quetrabalham como criadasnuma casa. Conscien-tes da sua insigni�cân-cia, levando uma vidade submissão, con�na-das ao apartamento deuma Senhora rica, belae bondosa que as man-

tém isoladas do mundoe mergulhadas na maisprofunda solidão, elassonham libertar-se dasua condição de servi-dão e para tal decidemmatar a Patroa. Na au-sência da Senhora, todasas noites se apoderam doquarto da própria, bemcomo das roupas e jóias,e aí ensaiam a sua mortenuma representação naqual uma faz o papel

de Senhora e a outra decriada. Neste jogo defaz de conta, no qualelas elegem a Senhoracomo objeto do seu ódioque também é amor, dasua admiração que tam-bém é inveja, descarre-gam todo o seu rancore raiva, mas nunca con-seguem concluir a cena.Tal como na vida real.No entanto, perante aiminência de os seus

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planos serem descober-tos, acabarão por darum desfecho inesperadoàs suas vidas.

COMPANHIA DETEATRO DE SINTRAA Companhia de Tea-tro de Sintra/Chão deOliva (CTS/CO) foi aprimeira estrutura pro-�ssional de teatro a sercriada em Sintra (1990).Desde então tem man-tido uma actividade con-tínua e de oferta perma-nente, assim como umprojecto artístico pecu-liar e coerente, particu-laridades que a diferen-ciam de outros projectospro�ssionais neste con-celho.Atributo importantedesta estrutura foi oprocesso que conduziu àsua formação, já que elenão �veio de fora�, masantes partiu do desen-volvimento do trabalhode animação teatral feitojunto das comunidadesescolar e associativa deSintra, e surgiu comouma necessidade natu-ral de desenvolvimentoqualitativo desse mesmotrabalho, só possível a-través da pro�ssionali-zação.

Quanto à dinamiza-ção da região onde estáimplantada, a Compa-nhia de Teatro de Sin-tra/Chão de Oliva, soli-di�cou uma forte ligaçãoao circuito escolar e umaboa percentagem do seupúblico é composto porespectadores que virampela primeira vez teatrona sua sala. Além dissoapoia regularmente asmontagens dos gruposde teatro amador acti-vos de Sintra através dacedência de material.Ainda ao nível da re-gião, num âmbito maisalargado da sua implan-tação, tem vindo a es-tabelecer relações detrabalho com autarquiasda Zona Oeste de Lis-boa, tendo em vista aassinatura de futurosProtocolos de colabora-ção.A nível nacional, o pres-tígio da Companhia temvindo a ser consolidado,com re�exo nos convi-tes para participaçãoem festivais e tambémno estabelecimento deacordos de co-produçãocom companhias e es-truturas de produção,portuguesas como sãoo caso de A Comuna

� Teatro de Pesquisa,Companhia de Teatrode Almada, Teatro emBranco, Teatro Praga,Transforma A.C., JGM,Arte Pública e estran-geiras: Compa CuartaPared, Madrid e TeatroMatarille, Santiago deCompostela.

CHÃO DE OLIVA.CENTRO DE DIFU-SÃO CULTURAL DESINTRAFundado em 1987, comoconsequência do múlti-plo trabalho de anima-ção cultural efectuadono meio escolar e as-sociativo de Sintra, oChão de Oliva � Cen-tro de Difusão Cultural(CO), desenvolve ac-tividades apoiadas emquatro eixos estruturan-tes: Criação, Produção,Acolhimentos e Forma-ção, tendo o teatro comoactividade-âncora.Em 1990, e para respon-der a inúmeras solicita-

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ções e à impossibilidadede a elas responder comuma estrutura amadora,foi criada, dentro doChão de Oliva, a Com-panhia de Teatro de Sin-tra, primeiro grupo pro-�ssional de teatro nas-cido em Sintra; em1994, e na sequênciade um programa deformação orientado porespecialistas, foi criadoum novo grupo pro�ssio-nal, o �Fio D'Azeite� Grupo de Marione-tas�, tornando-se as cria-ções destes dois gruposno eixo gravitacional dotrabalho do CO.Ampliando o trabalhode Criação, esta associa-ção sempre se distin-guiu pelas suas activi-dades de Produção na

área das artes dos espec-táculos. Começando nadécada de 90 por aco-lher propostas estéticase actividades de forma-ção relacionadas com vá-rias disciplinas, o Chãode Oliva depressa evo-lui para a organizaçãoestruturada de aconteci-mentos, como as �4 Esta-ções � Mostra de DançaContemporânea de Sin-tra�, e os �Sons de JuN-Lho/ Festival de MúsicaUrbana�. Tendo comoponto de re�exão estesdois eventos, o CO criouem 2010 um novo fes-tival, o �TranS_SintrA/ Prioridade ao Actual�,mantendo, entre 2008 e2011, um festival dedi-cado à arte da mario-neta, o Festival Inter-

nacional de Marionetasde Sintra (FIMS). EmMarço de 2012, ano emque completou 25 anosde trabalho contínuo, oCO lançou o seu fes-tival de maturidade, oPeriferias � Festival deArtes Performativas emSintra. Esta nova inicia-tiva, que passou a sera única no calendárioanual, engloba e con-densa a experiência acu-mulada ao longo de todoeste tempo na produ-ção de eventos, tantoem termos organizati-vos como de transversa-lidade artística, e convo-cará para Sintra as ex-periências que se vão fa-zendo por esse país forae também no mundo lu-sófono.

Crónica inédita de Lima Barreto encontrada na BN

A crónica �Portugue-ses na África�, escritapor Lima Barreto �provavelmente em 1907�, nunca foi publicada;nem mesmo na coluna�Echos�, da revista AFloreal, à qual ela se des-tinava, segundo indica-ção do autor no versode uma das folhas emque foi escrita. O ori-

ginal foi encontrado re-centemente numa pastado Arquivo Lima Bar-reto � que está preser-vado na Divisão de Ma-nuscritos � pelo dou-tor em Estudos Brasi-leiros (Literatura e Cul-tura) pela Universidadede Lisboa, João MarquesLopes, hoje bolseiro doPrograma Nacional de

Apoio a PesquisadoresResidentes (PNAP-R),da Biblioteca Nacional.João Marques Lopes es-tuda o modo como aobra de Lima Barreto,um dos mais importan-tes escritores brasileiros,foi recebida em Portu-gal.�Portugueses na África�faz duras críticas à ocu-

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pação de territórios dointerior de Angola atéentão sob o domínio depopulações nativas.A ocupação militar em1907, com a conquistada província de Gua-nato, foi saudada comregozijo pela maior parteda imprensa portuguesae também por algunsjornais brasileiros. LimaBarreto contestou compura mordacidade o tra-tamento colonialista eracista dado ao aconte-cimento: �Tenho paramim que esses negros�exíveis e adaptáveis atoda a sorte de miste-res, desde o de bestas decarga até o nobilíssimode adversários dos esfor-çados varões do Portugalmoderno, têm que aca-bar um dia. Se isso seder, a velha metrópolevai se ver atrapalhadapara arranjar quem sepreste à demonstraçãoexperimental de sua he-roicidade eterna [. . . ]�.Na mesma pasta tam-bém foi achado o pri-meiro parágrafo da cró-nica �Os Jornais�, cujotema é o assassinato dorei de Portugal, D. Car-los, em 1908.rrrrrrrrrrrr

Depoimento de JoãoMarques LopesTendo em atenção o tra-balho exigente e siste-mático de Beatriz Re-sende e Rachel Valençana edição dos dois volu-mes de Toda a crónica,de Lima Barreto (Riode Janeiro, Agir, 2004),não seria de esperar queainda houvessem cróni-cas ou esboços de cró-nicas do escritor cariocapor identi�car (e, conse-quentemente, por publi-car).Embora a jusante donosso projeto de pes-quisa, que consiste na�Recepção de Lima Bar-reto em Portugal: a do-cumentação na Funda-ção Biblioteca Nacional(1909-1922)�, foi, por-tanto, com grande sur-presa e alvoroço que, aomanusearmos uma pastacom seis tiras manuscri-tas e autógrafas de LimaBarreto, catalogada porDarcy Damasceno como�Pequeno Almanaque deCelebridades�, nos depa-rámos com duas crónicasdesconhecidas.Uma, intitulada �Portu-gueses em África�, estácompleta e centrava-sena denúncia de mas-

sacres de tribos índi-genas então cometidospelo colonialismo portu-guês nas possessões afri-canas no âmbito da cam-panha do Cuamato em1907. Augurava mesmoa eventualidade de fu-turos movimentos inde-pendentistas negros.A outra, cujo título seriaaparentemente �Os jor-nais�, está incompleta eo tema é o impacto doassassinato do Rei D.Carlos na imprensa ca-rioca. Impacto esse queLima Barreto taxava dedesmesurado e apenascompreensível à luz doentão domínio do jorna-lismo do Rio de Janeiropor capitalistas da co-lónia portuguesa na ci-dade.Embora não estejam as-sinadas ou datadas, a ca-ligra�a não deixa dúvidaquanto à sua autoriapor parte de Lima Bar-reto e existem indicado-res que permitem situarcom certeza tanto a dataquanto o lugar de publi-cação a que se destina-vam, sobretudo no casoda primeira crónica.Com efeito, �Os portu-gueses em África�, cujooriginal consta de três

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tiras manuscritas, au-tógrafas e numeradas,comporta no verso da úl-tima tira uma anotaçãoa referir que �devia serpublicada na A Floreal�e no canto superior es-querdo da primeira pá-gina tem a indicação dacoluna �Echos� a que sedestinava nessa mesmarevista. Trata-se, pois,de um texto escrito nosúltimos meses de 1907.Mas o mais importantenão tem a ver com taisminudências, mas simcom a divulgação e a lei-tura destas duas cróni-cas que jaziam esqueci-das e desconhecidas noFundo Lima Barreto daDivisão de Manuscritosda Fundação BibliotecaNacional.

PORTUGUESES NAÁFRICA [1]Os srs. já conhecem acoisa. De ano em ano,os jornais daqui e dealém-mar noticiam es-trondosas vitórias dosportugueses sobre osindígenas de suas pos-sessões de África. Notempo dos �Lusíadas�,talvez por não existiro jornalismo periódico,não davam tanta impor-rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

tância a feitos idênticos.Pelo menos não tenhonotícia que Lisboa feste-jasse retumbantementeAntônio Salema, que, aípelos �ns de Quinhen-tos, matou dez mil ín-dios perto de Cabo Frio;e se ainda nos resta me-mória das proezas dagente assinalada em Diue Goa é porque algunscronistas precavidos emeia dúzia de poetasentusiastas registaram--nas em prosa de bronze,ainda áspero, e em gran-diosos versos, um tantomonótonos.Hoje, não havendo fartamesse de ações heroicas,lá pelo velho Portugal,os jornais e o governonão deixam escapar umasó vitoriazinha. Os he-roísmos são narrados uma um, em frases chei-rando ainda à Ilíada;os retratos são publica-dos e os plutarcas a�ama pena para mais essacentena de varões ilus-tres.O que há em suma?Esta coisa simples: umdestacamento portu-guês, de cem ou du-zentas praças, derrotauma partida de desgraçados negros, duplamente

desgraçados por seremnegros e por viverem empossessões do Portugalnecessitado de vitórias.Pelo jeito, o governo lu-sitano precisa demons-trar a vitalidade da na-ção; precisa lembrar aomundo que o sangueheroico dos varões assi-nalados ainda não estáde todo acabado; e paratal organiza, de quandoem quando, umas jus-tas art-nouveau em quemorrem algumas deze-nas de negros (ora, osnegros!) e os portugue-ses praticam heroísmosdignos de versos gregose do triunfo romano.Tenho para mim queesses negros �exíveise adaptáveis a toda asorte de misteres, desdeo de bestas de cargaaté o nobilíssimo de ad-versários dos esforçadosvarões do Portugal mo-derno, têm que acabarum dia. Se isso se der,a velha metrópole vaise ver atrapalhada paraarranjar quem se presteà demonstração experi-mental de sua heroici-dade eterna; e, a me-nos que a gente a quemoutrora Marte obede-ceu queira combater os

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chimpanzés e os gorilasde África, Lisboa só teráfestas com franco cunhoguerreiro quando o go-verno das Necessidadessabiamente resolver con-decorar com grandiosassolenidades os valentõesda Baixa que se porta-rem heroicamente nasrijas com tripulaçõesde barcos estrangeirosde passagem pelo Tejo.Então é que havemos dever o indigesto Teó�loa explicar esse a�ora-mento do Heitor portu-guês na população dasarjeta alfacinha e o ve-lho Camões a bimbalharnas colunas dos jornais:Cale-se de Alexandre ede Trajano,A fama das vitórias. . .E poderá assim Portu-gal, e por muito tempo,achar nos seus regis-tos de nascimento, no-

mes que se possam con-tar naqueles outros emquem, como o Albuquer-que terrível e o Castroforte, a morte não tevepoder. É ainda de Ca-mões que, a meu ver,deve sofrer modi�ca-ções convenientes parase adaptarem ao novoheroísmo de Portugal,se os nossos irmãos doTejo querem um adap-tador excelente, temosaqui à mão alguns expe-rimentados em guerra.O Barão de Paranaguácalha, por exemplo. . .

[1] A ortogra�a foi atua-lizada

OS JORNAISO assassinato do Rei dePortugal vem demons-trar do modo mais elo-quente de que maneira anossa imprensa cariocaé uma pura e simples

exposição dos sentimen-tos e das opiniões docomércio português doRio de Janeiro. O assas-sinato do rei D. Carlos,em si coisa lastimávelpara a sua família e osseus amigos, não po-dia ser no Brasil senãoum caso secundário eprovocador de condolên-cias o�ciais. Nada haviaque o pudesse fazer umacontecimento capaz deenlutar e trazer cobertade tristeza uma grandecidade, de mais de oi-tocentos mil habitantes,situada a milhares deléguas do local do crimee em país estrangeiro.Graças, porém, à manhainaudita de um. . . [1]

[1] O manuscrito autó-grafo termina aqui. Noarquivo, apenas se con-serva esta versão parcial.

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Cátedra Convidada FCT/ Infante Dom Henrique para osEstudos Insulares Atlânticos e a Globalização

Sinopse / IdeárioCientí�coA CIDH � Cátedra In-fante Dom Henriquepara os Estudos Insu-lares Atlânticos e a Glo-balização institui-se àluz do ideário de pro-mover a investigaçãofundamental e aplicadada herança cultural ecientí�ca das ilhas lusó-fonas em relação com oprocesso moderno e con-temporâneo da globali-zação, articulada como escopo de renovar eenriquecer os conteúdospedagógicos das univer-sidades lusófonas e dosterritórios das diásporasinsulares provindas dasilhas atlânticas.Assente numa matrizepistemológica marca-damente interdisciplinare transdisciplinar, e naárea matricial das Ar-tes e das Humanidades,esta cátedra tem comodesiderato primordialdinamizar a pesquisaem torno do patrimóniomaterial e imaterial dasilhas atlânticas de línguao�cial portuguesa, demodo a contribuir para

o seu conhecimento maissistematizado e apro-fundado. Este conheci-mento crítico favoreceráa valorização das ilhasem termos de divulgaçãocultural e cientí�ca in-ternacional e o aprovei-tamento para o desen-volvimento da indústriado turismo e de outrasaplicações no plano daa�rmação da herançacultural nas instânciasde reconhecimento mun-dial.Com a crescente pro-liferação dos estudosnesológicos no plano in-ternacional através daconstituição de institui-ções em diferentes paísescom geogra�a insular,impunha-se a criaçãona Universidade Portu-guesa de uma cátedravocacionada, especial-mente, para os estudosda ilhas ligadas, histó-rica, política e cultural-mente, a Portugal.Esta cátedra, a partir daárea geral dos estudosde cultura, convocaráas mais diversas áreascientí�cas para desen-volver projetos de inves-

tigação e de formaçãoavançada, assentes nodesiderato de obter re-sultados marcados pelatransversalidade cientí-�ca e pela complexidadedas análises, com vistaa uma atualização doconhecimento sobre asmodalidades de criaçãocultural e cientí�ca emambiente insular.

A criação desta cáte-dra insere-se na pro-jeção programática darelevância da geogra�adas insularidades no sé-culo XXI, defendida porGrant MacCall, que con-siderou o nosso miléniocomo sendo o das ilhas.À luz desta convicçãotornada lema, foi lan-çado, no quadro de orga-nizações mundiais comoa UNESCO, um debate

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e programa de investi-gação cientí�ca em or-dem a conhecer o pa-pel das ilhas no contextodas sociedades hipermo-dernas e das relaçõesde rede em pleno apro-fundamento do processode globalização. Ascomunidades cientí�casestão cada vez mais sen-síveis ao lugar distintivodas ilhas e das redesque formam os arquipé-lagos, num estudo re-trospetivo e prospetivodestes espaços extracon-tinentais que tem emconsideração a sua im-portância geoestratégicae as suas particularida-des culturais e identitá-rias.

Objetivo principalConstituir-se como polodinamizador da investi-gação e ensino dos te-mas ligados à insulari-dade no quadro das ilhasatlânticas, em particularas ilhas lusófonas ou li-gadas à comunidade dosPaíses de Língua O�cialPortuguesa.

Plano de atividadesda CIDHObras Épicas Insulares:preparação da ediçãocriticamente anotadadas principais obras épi-

cas insulares (Açores eMadeira). Serão reco-lhidos dados a �m deserem identi�cadas asprincipais obras épicas eproceder-se-á à transcri-ção, �xação e enquadra-mento crítico das que sedestacarem como maissigni�cativas.

Dicionário Histórico dasOrdens nas ilhas atlân-ticas lusófonas (Açores,Cabo Verde, Madeira,São Tomé e Príncipe):dando continuidade aoprojeto desenvolvido noCLEPUL, que deu ori-gem à edição de umgrande Dicionário His-tórico das Ordens com oAlto Patrocínio da Pre-sidência da República,estenderemos esta inves-tigação aprofundada edetalhada às ilhas atlân-ticas de modo a dicio-narizar o conhecimentosobre a presença, açãoe legado das ordens econgregações nas ilhasatlânticas de língua o�-cial portuguesa.

Dicionário Enciclopé-dico da Madeira: levara bom termo o projetode redação, tradução epublicação de um di-cionário enciclopédicocom entradas sobre as

mais relevantes temáti-cas referentes à cultura,à história, à ciência, àgeogra�a e à educaçãoda Madeira, contem-plando verbetes sobre arelação em várias maté-rias com o arquipélagoaçoriano.

Preparação de ediçõesanotadas criticamentede obras completas deescritores insulares, no-meadamente dos Açorese da Madeira.

História da Solidarie-dade nos Açores e daMadeira: investigaçãosobre as manifestações einstituições de solidarie-dade entre a populaçãona superação das di�cul-dades inerentes à vidainsular.

Psicologia da insulari-dade: tendo em conside-ração o conceito de in-sularidade, serão investi-gados os traços psicoló-gicos que caraterizam ediferenciam o modo depensar, sentir, desejar eprojetar do ilhéu. A par-tir dos dados recolhidos,serão elaborados artigoscientí�cos e material di-gital pedagógico.

Biogra�as de empreen-dedores insulares: ela-boração de biogra�as so-

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bre as �guras empreen-dedoras que se destaca-ram no passado histó-rico das ilhas, bem comode personalidades atuaisque têm um per�l em-preendedor e que, porisso mesmo, podem ins-pirar a população em ge-ral a ter atitudes sem-pre mais empreendedo-ras e a efetivar uma cul-tura empreendedora.

Os Açores no Alma-naque de Lembranças(1851-1932). Textos eComentários: este pro-jeto visa reunir numsó volume o conjuntodos textos em prosa everso de autores e as-suntos açorianos edita-dos no Almanaque deLembranças � primeirodos três títulos do anuá-rio fundado por Ale-xandre Magno de Cas-tilho � a par com no-tas, comentários e estu-dos. Constituído por 86volumes publicados en-tre 1850 e 1931 e reu-nindo um enorme le-que de escritos de pro-veniência muito diversi-�cada, o Almanaque in-clui nas suas páginas in-teressante acervo de es-critos sobre os Açores,cujo isolamento não im-

pediu o seu acesso a esteespaço de ampla proje-ção cultural.

Linha de Estudos Insu-lares em programa deEstudos Globais: cria-ção de uma Linha deEstudos Insulares numprograma de EstudosPós-graduados (Mestra-do, Doutoramento, Pós--Doutoramentos e Agre-gação) em Estudos Glo-bais, que poderá ser oalicerce para a criaçãode um Instituto de Al-tos Estudos Insulares eda Globalização.

Cursos de Especializa-ção: conceção e imple-mentação de cursos li-vres e de especializaçãoem temas atinentes, emparticular, à vida so-cial e cultural das ilhasdos Açores, da Madeira,Cabo Verde e São Tomée Príncipe.

Reuniões Cientí�cas:Pplani�cação e realiza-ção de encontros cientí�-cos tanto sob a forma decongressos e de simpó-sios como de colóquios,seminários e workshops.Estas reuniões permiti-rão o aprofundamentointerdisciplinar das te-máticas re�etidas pelosinvestigadores da cáte-

dra e dos demais interes-sados nestas temáticas.Realização de um gran-de Congresso Internacio-nal do Espírito Santo:Génese, Evolução eAtualidade da Utopiada Fraternidade Univer-sal.

Laboratório MultimédiaEducativo: criação deum laboratório multimé-dia visando a construçãode produtos multimédiacom �ns pedagógicos epromocionais.

Produtos MultimédiaEducativos e Culturais:conceção e desenvolvi-mento de e-guias tu-rísticos e culturais, e--books, documentáriostemáticos de conteú-dos pedagógicos digitais,aplicativos para tabletse smartphones, áudio--aulas e vídeo-aulas, etc.

Academia de Formaçãode jovens investigadores:conceção de cursos deformação e treinamentode jovens investigadores.

Instituto de Estudos In-sulares e da Globaliza-ção: criação de um Ins-tituto de Culturas Insu-lares para potenciar otrabalho e a reunião derecursos humanos e ma-teriais que favoreçam e

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deem amplitude ao tra-balho da cátedra.Dedicar dois volumes doprojeto em curso intitu-lado �Dicionário da Ora-tória Impressa em Por-tugal� aos Açores e àMadeira.Liderança da preparaçãoe promoção do projetoObras Pioneiras da Cul-tura Portuguesa em 30volumes: este projetovisa selecionar e esta-belecer de forma atuali-zada e criticamente ano-tada para edição, em co-operação com diversasentidades cientí�cas por-tuguesas e lusófonas, as

Obras fundadoras da lín-gua e cultura portugue-sas de inscrição interdis-ciplinar.Conceção e realização deum projeto para identi-�cação, sistematização epreparação para ediçãodas Obras Pioneiras daCultura Açoriana e daCultura Madeirense.Conceber e promover oprojeto de preparaçãoda edição da Obra Com-pleta Pombalina em 32volumes, dando relevân-cia aos documentos rela-cionados com os Açores,Madeira e Cabo Verde.Concluir o projeto de in-

vestigação e redação doDicionário dos Antis: ACultura Portuguesa emNegativo, contemplandode forma bem patente asculturas açoriana e ma-deirense.Incluir os Açores e a Ma-deira de forma expres-siva no projeto �Imagensde Portugal: Identida-des em Jogo de Espe-lhos�: Portugal Segundoa Europa; A Europa Se-gundo Portugal; Portu-gal Segundo os PaísesLusófonos e Regiões Au-tónomas dos Açores e daMadeira. José Eduar-do Franco

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24 Noite Europeia dos Investigadores 2015

A Noite Europeia dosInvestigadores, conside-rada a maior festa deCiência da Europa, pro-movida pela ComissãoEuropeia no âmbito dasAções Marie Curie eprocurando aproximara Ciência da Sociedade,promover a investigaçãode excelência, decorreusimultaneamente em vá-rias cidades europeias.No âmbito desta inicia-tiva, que decorreu nopassado dia 25 de Se-tembro, no PríncipeReal, entre as 19h eas 24h, o CLEPUL, oCICSNOVA e a AMO-NET (apoiados pelaCIG) prepararam ainiciativa �As Cien-tistas Apresentam-se�.Com esta iniciativapretendeu-se dar a co-

nhecer algumas das maisemblemáticas mulheresque se a�rmaram nouniverso cientí�co emque as suas actividadesdecorreram e contribuirpara o mais amplo co-nhecimento das esferasde actuação das mulhe-res na Ciência.Foi a primeira vez queparticipámos e o factode termos estado emequipa multidisciplinarfoi extremamente im-portante e as sinergiascriadas levam já a pen-sar em projectos futuros,em plataformas colabo-rativas.As diferentes interac-ções com gerações muitodistintas acabou por serestimulante e enriquecero estudo que pretende-mos ampliar. De�nitiva-

mente, uma experiênciaa repetir!

O 10o aniversário daNoite Europeia dos In-vestigadores foi tambémoportunidade para umadupla celebração, dadoque a AMONET com-pleta o seu décimo ani-versário em 2015. Isa-bel Lousada

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Opinião 25

A construção na adversidade,ou a homenagem a José Eduardo Franco

Para uma geração, hojeé um dia feliz. Ironica-mente feliz. Mas sim,muito feliz!José Eduardo Francorecebe hoje a Meda-lha de Mérito Cultural,atribuída pelo EstadoPortuguês. Será o maisjovem cidadão a recebereste galardão.Para uma geração, aque hoje é tantas vezesdesignada como a maishabilitada de todas, amais instruída, a maiscapacitada, o EduardoFranco é sinónimo detrabalho, de esforço, decapacidade, de empreen-dedorismo em quadrosmuitas vezes adversos,mas sempre com umaforça e um sentido demissão que o levou asuperar todos os obs-táculos, mesmo aqueleslançados por quem te-ria todo o dever de oacolher, acarinhar e darapoio.Eduardo Franco fez todoum percurso, comum naminha geração, de bol-sas e de projectos. Co-meu o pão que o diaboamassou com milhares e

milhares de horas volun-tárias em projectos deoutrem. Deu o seu me-lhor em projectos queidealizou e dirigiu, eonde foi sempre o maiore inquali�cável motor.Foi o responsável pormuitos elementos alta-mente honrosos em rela-tórios de actividades demuitas instituições que,sem ele, pouco ou nadateriam para apresentar.E, contudo, após umpunhado de grandes en-contros cientí�cos in-ternacionais marcantes,após vários projectos deinvestigação onde conse-guiu reunir dezenas deinvestigadores e fundosimensos, após, dezenas edezenas de livros publi-cados, o Eduardo Francofoi �apenas� mais um denós na precaridade quenunca tiveram a cora-gem de lhe retirar, comose essa dimensão de ino-vação e de capacidade detrabalho fosse uma má-cula, uma culpa, mesmo,que transportava por serdinâmico e empreende-dor, por não se resignar.O Eduardo Franco tem

como maior prova dasua capacidade e ge-nerosidade o desprezoa que é votado pelosilustres da parte maisba�enta da nossa aca-demia que continuama achar que o Saberdeve estar fechado e re-tido entre paredes ondeapenas é gerido pelaspolíticas de progressãona carreira académicaou por simples mecanis-mos de tutela do podersimbólico que a culturapermite. Não, não sãoapenas alguns velhos doRestelo, nem mesmo ve-lhos, apenas. É algo quenos remete para umapassividade que engordaos que não se movem eos que não arriscam.O mais irónico é ver essaelite académica, parada,estática, tendente para aquietude, a ter de aplau-dir um homem que éa negação do estar pa-rado. O Eduardo Francoconcebe a cultura comouma realidade transver-sal a toda a sociedade e,em sentido de retorno,a ela regressando paraa alimentar. A Cultura,

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26 Opinião

a�nal, só faz sentido sefor direcionada para to-dos os grupos sociais. Sóassim uma identidade sepode construir no futuroatravés da análise dopassado. Tudo o restonão acaba por ser muitomais que um exercíciode ego entre iluminadosque numa mecânica au-tofágica se congratulamuns aos outros, esque-cendo que há mundopara lá das paredes dasua sala de aula.Felizmente, temos ge-nerosidades como a doEduardo Franco. Umagenerosidade de uma

cultura aberta, que olhapara a produção cultu-ral como uma realidadede todos e para todos,sorridente e não cabis-baixa, empenhada nofuturo e não resguar-dada nas paredes poei-rentas da academia ondeo estatuto correspondea autoridade, negando amais elementar naturezado trabalho cientí�co:o debate aberto para asuperação de ideias.Felizmente, temos oEduardo Franco paranos mostrar algo que,no campo das Humani-dades, até nos poderia

passar ao lado: a�nal, erecompondo a frase ba-tida mas muito actual,a universidade até podeiluminar o Povo antes dearder!É da mais elementarjustiça este acto de atri-buição desta medalha.A�nal, a existir, Ele es-creve direito por linhastortas!O maior abraço!Continua a trabalhar.Continua como és.Paulo Mendes Pinto[texto publicado nodia 18 de Setembrono blogue http://qeetempus.blogspot.pt/]

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Exposições 27

Da inquietude à transgressão: eis Bocage. . .Exposição patente na Biblioteca Nacional de Portugal

17 de Setembro a 31 de Dezembro de 2015

Comemoram-se, a partirde Setembro de 2015, os250 anos do nascimentode Bocage, um para-digma literário e cívicoda cultura portuguesa.A sua poesia multifa-cetada � cultivou comtalento todos os géne-ros poéticos da época �caracteriza-se pela au-tenticidade, pela singu-laridade e pelo univer-salismo, estando omni-presentes na sua obrao lirismo, a intervençãosocial, o erotismo e asátira.Acresce, por outro lado,que Bocage fez incur-sões pela arte cénicae traduziu com rigor ecriatividade os clássicosgreco-latinos � Ovídio,Lucano, Virgílio, Mu-seu e Moscho � e osescritores coevos, como,entre outros, Voltaire,La Fontaine, Tasso, Ra-cine, Delille e Madamedu Bocage, sua tia-avó.A sua vida caracterizou--se pela inquietude, a ir-reverência e a transgres-são. Per�lhou os prin-cípios do Iluminismo,

criticou os valores serô-dios do Antigo Regimeportuguês � a religiãopunitiva, a nobreza pa-rasitária, o ensino entor-pecedor, a moral sexual,o fanatismo e a ignorân-cia � e exaltou o corpo,compondo poesia eróticaque distribuiu clandesti-namente, a qual só pôdeser publicada legalmentecom o advento do 25 deAbril, ou seja, cerca de200 anos depois do seufalecimento.Bocage subscreveu doismanifestos iluministas,em verso, cuja actuali-dade é evidente. Nãopoderia deixar de ser,portanto, persona nongrata para Diogo Iná-cio de Pina Manique,que o pôs a ferros noLimoeiro, tendo sidoposteriormente liber-tado pela intervençãoconjugada de persona-lidades relevantes doregime. Este aconteci-mento dramático deixousequelas psicológicas efísicas inequívocas.Bocage faleceu em 1805,aos 40 anos, intensa e

freneticamente vividos.Os seus restos mortais,por incúria das auto-ridades, foram para avala comum. O seu le-gado, porém, vivi�ca opresente e incentiva autopia.A Biblioteca Nacionalde Portugal associa-seàs comemorações dos250 anos do nascimentode Bocage, evocando opoeta, o tradutor, o dra-maturgo e o cidadão.A exposição é comissa-riada por Daniel Pires,membro do CLEPUL,e principal estudioso eeditor de Bocage.

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28 Exposições

Entre Periódicos e Centenário: Revista Feminina

Galeria de Exposições da Biblioteca da FLUL7 a 18 de Outubro

O estudo de periódi-cos por diversas áreasdo conhecimento temsido realizado cada vezcom mais frequência nomeio académico. Anali-sados sob diversos focos,jornais, revistas e fo-lhetos têm conquistadocada vez mais leitores,possibilitando pesquisasengajadas, que visam arecuperação deste patri-mónio e o resgate nãosó do valor histórico,mas também literário demuitos textos que apare-cem nestas publicações.E não é difícil entender omotivo de tantos estudosvoltados à observaçãodos periódicos brasilei-ros do século XIX e XX.Realizando um breveretorno histórico e aden-trando no período derenovação da imprensano Brasil, ocorrido emmeados do século XIX,nota-se um importantemomento de progressonas técnicas de produ-ção de jornais e revistase por conta disso o sur-gimento de inúmeros pe-riódicos, alguns voltados

às questões políticas,como a proclamação daRepública (1889), outrosvoltados ao simples re-gisto dos acontecimentosquotidianos e os perió-dicos literários que sededicam à divulgaçãoda arte e da literatura.A preocupação destesjornais e revistas era ade oferecer uma maiordemocratização na lei-tura de obras literárias,uma maior acessibili-dade da arte àqueles quediariamente folheavamas páginas destas publi-cações. É o caso, porexemplo, do periódicocarioca Gazeta de No-tícias, que se distinguedos demais jornais desua época exatamentepor dedicar maior es-paço às obras literárias,usando dessa estratégiapara atrair mais leitorespara suas páginas.É por existirem muitostextos literários a seremexplorados, não só emjornais como tambémem revistas do �nal doséculo XIX e início doséculo XX, que muitos

estudiosos de literaturatêm sido atraídos parao estudo destas fontesprimárias de pesquisa.Considerando-se a ne-cessidade de se falar so-bre o estudo das fontesprimárias, e o fato deque temos em centená-rio a Revista Feminina,uma das publicações fe-mininas mais considerá-veis no contexto brasi-leiro, organizamos mo-mentos em que se privi-legiam, essencialmente,os textos de Literaturae de imprensa para colo-carmos em discussão suarelevância no âmbito daspesquisas cientí�cas.Além de mesas-redondase videoconferências so-bre o tema, coloca-seem exposição númerosda Revista Feminina,publicada no Brasil de1915 a 1936, para pro-piciar aos estudantes epesquisadores um maiorcontacto com esses es-critos que por vezes per-manecem sem consultanos acervos, mas queconstituem-se não só embases históricas, mas

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Exposições 29

em fontes riquíssimas deconteúdo cultural e lite-rário.Para mais informa-ções consulte o sitehttp://centenariorevista.wix.com/centenariorevista.Organização: Juliana C.

Bonilha; Isabel Lousada;Vania Chaves; MariaJoão CoutinhoEntidades promoto-ras: CLEPUL e Biblio-teca da FLUL (Uni-versidade de Lisboa);CICS.NOVA � FCSH(Universidade Nova de

Lisboa); UNESP � CE-DAP (Centro de Do-cumentação e Apoio àPesquisa); Arquivo Pú-blico do Estado de SãoPauloApoio: Embaixada doBrasil em Portugal eee-eeeee eeeeeeeeee

Arte de Ser Português

Mostra patente na Mezzanine da Biblioteca Nacional de Portugal,de 1 de Outubro a 31 de Dezembro

Assinalando o centená-rio da publicação daobra de Teixeira de Pas-coaes, a Arte de SerPortuguês, a BibliotecaNacional de Portugal eo Centro de Literaturase Culturas Lusófonas eEuropeias da Faculdadede Letras da Universi-dade de Lisboa (CLE-

PUL) realizam umamostra bibliográ�ca quereúne correspondênciade Teixeira de Pascoaes,exemplares das revistasA Águia e Seara Nova,entre outros documentosque espelham esta épocaáurea do pensamento eda cultura portugueses.Teixeira de Pascoaes

(1877-1952) foi, sobre-tudo na sua fase inicial,o principal inspirador eum dos representantes� juntamente com Ál-varo Pinto, Jaime Cor-tesão, Leonardo Coim-bra, António Sérgio eRaul Proença � do mo-vimento designado porRenascença Portuguesa,

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30 Exposições

cujo órgão representa-tivo foi A Águia, RevistaMensal de Literatura,Arte, Ciência, Filoso-�a e Crítica Social, eum dos expoentes má-ximos do Saudosismo,movimento teorético queaponta para uma cisãooriginária e a possívelrestauração da condiçãodecaída do ser humano.A sua obra, dividida porpoesia, prosa e re�exão,re�ete a experiência on-tológica, metafísica eteleológica da saudade,em que, além de umadimensão profético-mes-siânica está presentetambém um cunho pe-dagógico ligado à pre-servação da alma e domodo de ser português.O pensamento de Tei-xeira de Pascoaes as-sume ainda uma facetamístico-religiosa marca-da pela presença-ausên-cia (conceito bicéfalocomum na crítica pas-coalina) de Deus e daNatureza.rrrrrr

Simultaneamente, de-correu, entre 14 e 16de outubro de 2015, oColóquio InternacionalArte de Ser Português:no centenário da suapublicação, no qual sediscutiram os princípiosfundamentais da obrade Teixeira de Pascoaese do pensamento por-tuguês, evocando-se osprimeiros anos do sé-culo XX, as controvér-sias entre racionalismoe positivismo, o movi-mento da �loso�a portu-guesa, a predominânciade um providencialismomessiânico, a urgênciadisruptiva do moder-nismo e, por �m, a pre-sença de um projeto es-piritual do pensamentoportuguês que cruza atotalidade do século.Sublinhe-se que, alémda Arte de Ser Portu-guês, o ano de 1915 vêainda surgir, pela mãode Fernando Pessoa, Al-mada Negreiros e Máriode Sá-Carneiro, a revis-rrrrrr

ta Orpheu, bem comoO Pensamento Cria-cionista, de LeonardoCoimbra, que alterariaradicalmente o pensa-mento português.Esta mostra e congressoinserem-se no TriénioPascoalino, um conjuntode eventos que, entre2014 e 2017, evocarãoa �gura de Teixeira dePascoaes (1877-1952).

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Exposições 31

Esboços: Um breve olhar sobre a Cultura e TradiçãoPortuguesa no Século XX

Exposição de Haylane RodriguesBiblioteca Nacional de Portugal, 14 a 16 de Outubro de 2015

Ao longo de dois anosde descoberta e reen-contro pessoal com Por-tugal e a sua tradição,o contacto com certosnomes tornou-se por de-mais incontornável. Asdiferentes personalida-des associadas a distin-tos movimentos cultu-rais que procuraram aolongo de todo o séculoXX português estimularo reencontro de Portugalcom a sua alma e as suasgentes vislumbram-secomo vates aos olhosdos que buscam a ma-triz da portugalidade.Ainda durante o séculoXIX, a �gura icónica deSampaio Bruno, desa-

parecido há um século,marcou de forma de-�nitiva esse primeiromomento de derradeiraruptura com a moder-nidade estrangeiradasignota a matriz da almaportuguesa. Alimenta-do esse primeiro fogoígneo, seguiram-se qua-tro importantes movi-mentos que, utilizandodiferentes abordagensestético-�losó�cas, con-vergiram nas suas in-tenções de redescobrirPortugal, devolvendo--o à sua missão e gestanatural. São eles a Re-nascença Portuguesa, oIntegralismo Lusitano,os grupos de Orpheu e

da Filoso�a Portuguesa.Movimentos onde sedestacaram nomes tãodistintos como Teixeirade Pascoaes, LeonardoCoimbra, António Sar-dinha, Afonso LopesVieira, Fernando Pes-soa, Almada Negreiros,Álvaro Ribeiro, DalilaPereira da Costa, entreinúmeros outros.Esta mostra procurahomenagear alguns des-ses vultos maiores daportugalidade que sou-beram, melhor do queninguém amar e com-preender Portugal, sobos signos da Saudade,Paixão, Amor e Glória.

Aproximações ao imaginário fantástico de Teixeira dePascoaes: revoluções, visões e aparições

Exposição de Rouslam BotievÁtrio da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

14 a 30 de Outubro de 2015

Obras que integram amostra: Faculdade deDireito de Coimbra; Tâ-mega e a Igreja de

São Gonçalo; Teixeira dePascoaes e a Águia; Tei-xeira de Pascoaes, LievTolstói e Fiódor Dos-

toiévski; Pobre Tolo naponte de São Gonçalo;Cantai o que não existe. . . o resto é cinza; Toda

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32 Congressos e Colóquios

a alma é labareda, todoo ser é labareda; O dra-maturgo da existência;O leão do deserto e a ilhade Santa Helena; Pre�roo Adão expulso do Pa-raíso; O Verbo e a ampu-lheta; Ah, saudade mi-nha! Luz divina; Lu-

crécia um fantasma dan-tesco de mulher e a Vis-condessa da Tardinha;Sou todas as cousas e to-das as criaturas; A almaibérica e as suas expres-sões misteriosas; Cola-gens (V quadros).Todos os quadros em

acrílico sobre papel,com as dimensões de50x70cmA reprodução dos qua-dros encontra-se dispo-nível em http://congressobiogra�as-trieniopascoalino.blogspot.pt/p/blog-page_9.html

Colóquio InternacionalSéculo XXI: Que Modernidade, Hoje?

Teresa Martins Mar-ques (Raul Brandão:de Joyce ao NouveauRoman) e Ernesto Ro-drigues (Decadentes eModernidade) partici-param, em 25 e 26 deSetembro, em Praga, nocolóquio em epígrafe,organizado pelo Centrode Língua Portuguesa /Camões, Departamentode Estudos Lusobrasi-leiros da Faculdade deLetras da Universidade

Carolina e SociedadeCheca de Língua Por-tuguesa. Estudiosos daHungria, Polónia e Rús-sia juntaram-se a bra-sileiros e portugueses,entre os quais, IsabelPires de Lima, HelderMacedo, Zulmira Santose João Figueiredo. Avitalidade do Portuguêsna República Checa, re-presentada por SilvieSpankova e autorida-des académicas, é uma

realidade, segundo o lei-tor, Joaquim Ramos.Além da Embaixadorade Portugal, ManuelaFranco, que honrou osparticipantes com umarecepção, registe-se apresença de Marie Havlí-ková, peça fundamental(depois da docência) natradução de obras por-tuguesas na terra natalde Kafka.

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Congressos e Colóquios 33

Cultura(s) em NegativoPortugal, a Europa e o Mundo

Para uma sociedade mais (in)tolerante

Com o Alto Patrocínio do Presidente da Comissão Europeia

Olhar a história das so-ciedades vivas atravésde uma outra ótica, apartir daquilo que cha-mamos a(s) cultura(s)em negativo, é o que nospropomos debater numareunião internacional einterdisciplinar de in-vestigadores das maisdiferentes áreas do sa-ber, tendo os EstudosCulturais por área cien-tí�ca de partida.O desiderato que presi-diu à organização destecongresso consistiu empromover o estudo sis-temático de todas ascorrentes e discursoscentrados numa perce-

ção negativa do �Outro�(p. ex. antisemitismo,anticlericalismo, antibri-tanismo), na história dePortugal, mas tambémna sua articulação coma história europeia e deoutras mundividênciasculturais e civilizacio-nais. Utilizando a metá-fora do negativo fotográ-�co, abordou-se critica-mente e caracterizaram--se as mais diferentesformas de produção cul-tural que enquadramosno conceito de culturanegativa.Do congresso, onde par-ticiparam pessoas devários países, em 1, 2 e 3

de Outubro, em Braga,saíram duas iniciativasinteressantes.Será criado um ciclo decongressos trianuais sobo tema �culturas em ne-gativo�. O próximo seráem 2018 na Universi-dade Federal do Rio deJaneiro, organizado peloProf. Edgard Leite.O Prof. Fabrice d'Al-meida, da Universidadede Paris 2, vai, inspiradono congresso e no Dicio-nário dos Antis, proporuma série de programana televisão francesa,canal 5, sobre os Antisem França e no mundo.José Eduardo Franco

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34 Congressos e Colóquios

Congresso História e Mitologia: O Caos � As diferentes facesda desordem

Museu da Farmácia, 28 a 30 de Outubro de 2015

De 28 a 30 de Outubrorealizar-se-á a primeiraedição do Congresso deHistória e Mitologia, su-bordinado ao tema �OCaos: as diferentes fa-ces da desordem�. Esteevento terá lugar no Mu-seu da Farmácia e contacom a parceria do CLE-PUL.Neste congresso, se aideia inicial se cingiaa temáticas mitológi-cas, alargámos o con-ceito para as represen-tações do caos ao longoda história, procurando

obter uma visão maisabrangente. Lembra-mos, principalmente, asrepercussões sociais epolíticas re�ectidas nasdiferentes interpretaçõesdeste conceito e do im-pacto cultural que certoseventos como a fome, asepidemias, os desastresnaturais e a guerra, exí-mios causadores do caos,provocaram.Mais informações em:http://congressohistoriamitologia.weebly.com

II Jornada em Estudos de Género. A mulher no contextoitaliano e em países de língua portuguesaUniversità degli Studi di Napoli - L'Orientale

4 e 5 de Novembro de 2015

Dando seguinte ao de-bate aberto na �I Jor-nada de Estudos de Gé-nero. As Mulheres e aEscrita em contexto lu-sófono e italiano/ I Con-vegno sugli Studi di Ge-nere. Donne e Scrit-tura in ambito lusofonoe italiano�, realizada naFaculdade de Letras da

Universidade de Lisboaem Novembro de 2014,esta segunda edição vemretormar este mesmo de-bate, propondo-se tam-bém re�etir sobre os es-tudos de tradução, e asrelações interartes e osestudos de género, bemcomo a mulher no con-texto africano em língua

portuguesa. Apresenta--se, nesta segunda jor-nada, parte do projetoem andamento sobre odiálogo luso-italiano en-tre Ada Negri e FlorbelaEspanca.Alguns tópicos de aná-lise: As escritoras na his-tória da literatura ita-liana e as escritoras

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Congressos e Colóquios 35

na história da literaturaem língua portuguesa;As traduções em línguaportuguesa e italiana eos estudos de género; Os

estudos sobre a lingua-gem e o género; As artesvisuais e o estudo sobreas mulheres; A mulherno contexto africano em

língua portuguesa; Flor-bela Espanca e Ada Ne-gri, o diálogo e as pro-blemáticas de tradução.

Colóquio Internacional Arquitetura assistencial luso-brasileirada Idade Moderna à contemporaneidade:

espaços, funções e protagonistasFaculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Universidade Lusíada

de Lisboa, 9 e 10 de Novembro de 2015

O presente Colóquio,organizado por institui-ções parceiras na inves-tigação do Patrimónioda saúde, pretende reu-nir comunicações quecontemplem o enten-dimento da Arquiteturaassistencial no mais alar-gado escopo cronológicopossível, no contexto doespaço luso-brasileiro,provendo uma aborda-gem global e pluridisci-plinar com a caracteriza-ção das várias tipologiasarquitectónicas associa-das a esta importantefunção.A compreensão da arqui-tetura como resultado

de uma funcionalidadeconcreta e do imaginá-rio e repertório estéticodos encomendadores,mesclando instituiçõese personalidades, devesomar-se aos estudos de-dicados a conservação erestauro destes espaços,re�etindo interseções en-tre ideais e técnicas an-tigas e contemporâneas.A organização desteevento é da responsa-bilidade cientí�ca doARTIS � Instituto deHistória da Arte da Fa-culdade de Letras daUniversidade de Lisboa,do Gabinete de Inves-tigação �Misericórdias

e Instituições similares:assistência, patrimónioe cultura� (CLEPUL),ambos da Universidadede Lisboa, do Grupode pesquisa �Saúde eCidade: arquitetura, ur-banismo e patrimôniocultural�, registado noConselho Nacional dePesquisa � CNPq (Bra-sil), integrando inves-tigadores da Universi-dade Federal do Paráe da Fundação OswaldoCruz (FIOCRUZ), assimcomo do CITAD (Cen-tro de Investigação emTerritório, Arquitecturae Design) da Universi-dade Lusíada de Lisboa.

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36 Congressos e Colóquios

Colóquio Internacional Vida e Obra de Mário CláudioUniversidade da Beira Interior, 12 e 13 de Novembro de 2015

A Universidade da BeiraInterior, Covilhã (An�-teatro da Parada), aco-lhe, nos dias 12 e 13de Novembro de 2015,o Colóquio InternacionalVida e Obra de MárioCláudio. Este evento,que celebra os mais de 40anos de trabalho literá-rio de uma das mais bri-lhantes mentes da cul-tura portuguesa contem-porânea, dando conti-nuidade a um outro demenores dimensões rea-lizado a 12 de Abril de2013 na BMEL, Guarda,é organizado por CarlaSo�a Luís, AlexandreLuís, Miguel Real, An-dré Barata, MartinhoSoares, Gabriel Maga-

lhães e tem o apoio doDepartamento de Letrasda UBI, do Centro de In-vestigação LabCom.IFP,bem como do CLEPUL.Esta iniciativa, além dopróprio escritor homena-geado, contará com apresença de alguns dosmaiores especialistas daobra claudiana (oriun-dos de diversas Universi-dades de Portugal, Bra-sil, França e Itália), como lançamento dos livrosMário Cláudio e a Por-tugalidade (coordenaçãode Carla So�a Luís, Ale-xandre Luís e MiguelReal) e Astronomia, au-tobiogra�a �ccional deMário Cláudio, com umapequena exposição sobre

a vida e obra do escri-tor, com a exibição do�lme documental sobreTocata para Dois Cla-rins e ainda com umponto de venda de livros.

Congresso A Batalha e o Mosteiro de Santa Maria da Vitória.História de uma Vila e Construção de um Mosteiro

Batalha, 12 e 13 de Novembro de 2015

A construção do Mos-teiro de Santa Maria daVitória inicia-se no anode 1385 sob a égide deD. João I e tendo comomestre das obras AfonsoDomingues. A tão gran-

diosa obra de constru-ção durou cerca de trêsséculos, e possibilitouque a Escola ArtísticaBatalhina se tornasseuma referência nacio-nal. Consequentemente

desenvolveu-se a Vila daBatalha, que se torna-ria um lugar com bas-tante importância nacio-nal em termos artísticos,uma vez que lá residiame para lá caminhavam

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Congressos e Colóquios 37

e convergiam um grandenúmero de artistas na-cionais e europeus dasmais variadas áreas detrabalho, desde a arqui-tectura, escultura e tu-mulária, vitral, entre ou-tras. Assim sendo pode--se a�rmar que a Vilada Batalha nasce com aconstrução do Mosteirode Santa Maria da Vitó-ria e conjuntamente umaescola artística, o quepodemos constatar nãosó no Mosteiro, comotambém na Igreja Ma-triz, na Casa da Miseri-córdia e na Ponte de Boi-taca.É também a partir do sé-culo XIX que nasce no

Mosteiro de Santa Ma-ria da Vitória o primeiroRestauro Monumental,segundo os princípios deintervenção da época, le-vado a cabo inicialmentepor Luiz da Silva Mou-zinho de Albuquerque,originando a criação deum novo gosto e técnica,também estes seguidos anível nacional em outrosedifícios monumentais.A partir destas premis-sas e dos estudos recen-tes acerca da edi�caçãodo mosteiro e da vila,bem como dos seus artis-tas, os Centros de Inves-tigação ARTIS � Insti-tuto de História da Arteda Faculdade de Letras

de Lisboa, CIDH � Cá-tedra Infante Dom Hen-rique para os Atlânticose a Globalização, CIT-CEM da Universidadedo Porto e CLEPUL daUniversidade de Lisboa,em parceria com o Mos-teiro da Batalha, con-sideram ser o contextoe momento ideal para aorganização de um con-gresso subordinado aotema A Batalha e o Mos-teiro de Santa Maria daVitória. História de umaVila e Construção de umMosteiro, a realizar naBatalha, nos dias 12 e 13de Novembro de 2015.

Jornada Comemorativa dos 40 anos daIndependência de Moçambique

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 29 de Outubro

O Grupo de Investiga-ção de Literaturas Afri-canas do CLEPUL rea-liza no dia 29 de Outu-bro, na Faculdade de Le-tras da Universidade deLisboa, uma jornada co-memorativa do 40o ani-versário da independên-cia de Moçambique, como alto patrocínio da Em-

baixada da República deMoçambique em Portu-gal, na pessoa da Embai-xadora Dra. FernandaMoisés Chiale, do Mi-nistro Conselheiro Dr.Ananias Sigaúque e doDr. Assane Saíde.O evento é coordenadopelas investigadoras doCLEPUL Ana Paula Ta-

vares e Fátima Men-donça e conta com umaintervenção de aberturafeita por Helder Muteia,escritor moçambicano erepresentante da FAOem Portugal e junto daCPLP. Na sessão damanhã, moderada porAna Paula Tavares, par-ticipam os especialistas

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38 Congressos e Colóquios

de literaturas africanasElena Burgioni, da Uni-versidade do Minho, eJosé Luís Pires Laran-jeira, da Universidade deCoimbra assim como oescritor moçambicano edocente da UniversidadeEduardo Mondlane Lu-cílio Manjate.A sessão da tarde, mo-derada por Fátima Men-donça, consta de umaMesa-redonda subordi-nada ao tema �Diás-poras Cruzadas: mo-çambicanos em Portu-gal, portugueses em Mo-çambique�, a qual temnum primeiro momentoa apresentação de co-municações pelos inves-tigadores Sheila Khan(Universidade do Mi-nho) e Eugénio Santana(IGOT/UL � Institutode Geogra�a e Orde-namento de Territórioda Universidade de Lis-boa). Num segundo mo-mento, intervêm com de-

poimentos Delmar Gon-çalves (Associação deEscritores Moçambica-nos na Diáspora) e JoséTeixeira (ex-ConselheiroCultural da Embaixadade Portugal em Moçam-bique).A Embaixadora da Re-pública de Moçambiqueem Portugal encerra ajornada.A terminar o encontrohaverá um momento cul-tural com a participa-ção dos músicos AndréCabaço e Malenga e lei-tura de poemas por AnaPaula Tavares, DelmarGonçalves, Jorge Vie-gas e Luís Carlos Patra-quim.Embora a jornada pre-tenda assinalar especi�-camente os 40 anos daIndependência de Mo-çambique, pelo carác-ter abrangente dos te-mas focados, e cruza-mento de muitas ques-tões abordadas, acaba

por constituir um mo-mento de re�exão e de-bate sobre o signi�cadodas independências dospaíses que, tendo sidocolonizados por Portu-gal, mantêm hoje coma antiga potência co-lonizadora relações des-complexadas de respeitomútuo e convivialidade.Fátima Mendonça

29 de SetembroPalácio da Independên-cia: Seminário Interna-cional Pensamento Lín-gua & Literatura: Efei-tos de Encontro, organi-zado por Annabela Rita,

Fernando Gebra, PedroSaraiva e Renato Epifâ-nio e com a participa-ção de Amanda Scherer,Eliana de Almeida, Lu-cília Maria Abrahão eSousa, Renato Epifânio,

Vanise Medeiros, LuizaCastello Branco e Fran-cisco Nuno Ramos

14 a 16 de OutubroAcademia das Ciênciasde Lisboa, Faculdade de

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Conferências 39

Letras da Universidadede Lisboa e BibliotecaNacional de Portugal:Congresso InternacionalArte de Ser Portuguêsno centenário da sua pu-

blicação, iniciativa inte-grada no Ciclo TriénioPascoalino

28 e 29 de OutubroFaculdade de Letras daUniversidade de Lisboa

e Palácio da Indepen-dência de Portugal: Co-lóquio Internacional emHomenagem a JudithTeixeira. As Mulheres eo Modernismo

CONFERÊNCIAS

22 de SetembroBiblioteca Nacional dePortugal: Álvaro Ar-ranja, �Bocage visto porrepublicanos e anarquis-tas. O centenário de1905�, iniciativa no âm-bito da exposição Da in-quietude à transgressão:eis Bocage. . .

23 de SetembroAssociação Empresarialde Comércio e Serviçosdos Concelhos de Lou-res e Odivelas: AnaPaula de Sousa Assun-ção participou na Ceri-mónia de Valorização doPoeta Manuel FranciscoSoromenho

24 de SetembroFNAC Colombo: IsabelLousada e So�a A. Car-valho participaram noencontro �Congressos &etc. Na via dos en-contros cientí�cos: mo-dalidades, temáticas, in-

terdisciplinaridade, par-cerias e colaboração en-tre gerações�, iniciativaintegrada no ciclo Aca-demia(s) em Interface

30 de SetembroFaculdade de Letras daUniversidade de Lisboa:Vicente Alves do Ó, �Ci-nema Português: umcaso de amor�, no âm-bito da iniciativa GE-CAPA TALKS

5 de OutubroAgrupamento Verticalde Escolas D. Filipa deLencastre: Isabel Lou-sada, �Rostos Femininosda I República�

7 de OutubroFaculdade de Letras daUniversidade de Lisboa:Francisco Alves, �A im-prensa ilustrada caricatano sul do Brasil: repre-sentações femininas davida política do séculoXIX� e Juliana Bonilha

�Revista Feminina�, ini-ciativa integrada no ciclode conferências �EntrePeriódicos e Centenário:Revista Feminina�

8 de OutubroPalácio da Independên-cia: Charters de Al-meida, �As Cidades Ima-ginárias�, iniciativa pro-movida pela AcademiaLusófona Luís de Ca-mões

10 de OutubroSala das Sessões daJunta de Freguesia deVeiros: Joana Balsa dePinho, �Património ar-quitectónico da Miseri-córdia de Veiros: contri-butos para o seu estudo�,no âmbito das I Jorna-das de História Local deVeiros

13 de OutubroBiblioteca Nacional dePortugal: Ana Marga-rida Chora, �O Orien-

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40 Conferências

talismo em Bocage�,iniciativa no âmbito daexposição Da inquietudeà transgressão: eis Bo-cage. . .

16 de OutubroPalácio dos Marquesesda Praia: Ana Paula As-sunção, participação nopainel �Associação LuizPereira da Mota � 100anos de intervenção so-cial�

22 de OutubroBiblioteca Nacional dePortugal: �A transgres-são em Bocage�, inicia-tiva no âmbito da ex-posição Da inquietudeà transgressão: eis Bo-cage. . .

27 de OutubroFaculdade de Letras daUniversidade de Lisboa:Maria João Rocha, �Te-levisão, um electrodo-méstico?�, no âmbitoda iniciativa GECAPATALKSBiblioteca Nacional dePortugal: Claudia Pon-cioni, �A revista Atlân-tida na correspondên-cia de João Barreto aJoão de Barros�, e Virgí-nia Camillotti, �João deBarros e a imprensa bra-sileira�, integradas noencontro dedicado aoCentenário da RevistaAtlântidaFaculdade de Letras daUniversidade de Lisboa:

Gilda Santos, �Annona:o primeiro periódico deculinária em língua por-tuguesa�, iniciativa inte-grada no ciclo de con-ferências �Entre Periódi-cos e Centenário: Re-vista Feminina�

30 de OutubroFaculdade de Ciên-cias Sociais e Huma-nas da UniversidadeNova de Lisboa: Ál-varo Simões Júnior,�Ecos do decadentismo--simbolismo portuguêsna imprensa brasileira�,iniciativa integrada nociclo de conferências�Entre Periódicos e Cen-tenário: Revista Femi-nina�

OUTRAS ACTIVIDADES

8 de OutubroBiblioteca Nacional dePortugal: recital deLuiza Sawaya subordi-nado à temática �Riode Janeiro, berço esplên-

dido da Modinha e doLundu�

8 e 18 de OutubroVisita comentada porAugusto Moutinho Bor-ges à �Casa do Cipreste

� uma casa de família.São Pedro de Sintra. Pa-trimónio Icónico da Ar-quitetura Portuguesa daautoria de Raúl Lino1914-1917�

Edição: Ernesto Rodrigues, Luís Pinheiro

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