bússola n.º 13

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EQUIPA PROVINCIAL DE PASTORAL VOCACIONAL PROVÍNCIA PORTUGUESA DA SOCIEDADE SALESIANA N.º 13 NOVEMBRO 2011 bússola da mihi animas Se olharmos para os grandes da história, ficamos surpreendidos pelo facto de os vermos totalmente orienta- dos para uma única meta. Para Dom Bosco, este sonho, este pensamento único, foram os jovens… O seu futuro assenta as suas raízes exac-tamente num sonho: «Naquela idade (9 anos) tive um sonho que me fi- cou profundamente impresso na mente por toda a vida». O ORATÓRIO SONHADO No centro do sonho estão mesmo eles, os jovens, em grande número, a rir, a jogar e a dizer palavrões. «Eis o teu campo, eis onde deves trabalhar». É in- dicada a João Bosco a sua vocação: os jovens, pelos quais é chamado a gastar a vida, «até ao último respiro». A primeira inter venção de Joãozinho põe em relevo a sua índole: generosa, mas fogosa, intempestiva, a precisar DOM BOSCO FOI A REALIZAÇÃO DE UM SONHO, A INCARNAÇÃO DE UMA IDEIA! Dom Bosco: um sonho, uma ideia > ALDO GIRAUDO, GIANNI GHIGLIONE E ALBERTO ZANINI, IN «VOGLIA DI ORATORIO» > PE. SIMÃO CRUZ, SDB Dou comigo a folhear uma pequenina brochura. Os dedos parece que sentem o afagar da lã branca e fina de um cordei- rinho manso. Na capa, o rosto oval, bronzeado, cabelo e barbas louras, olhos no horizonte, um tanto quietos e profundos. Um manto de matiz rubro e azul escuro. Às costas, en- trançado, um cordeiro seguro e meigo. Um cajado no braço esquerdo. Já se adi- vinha. É a imagem cheia de ternura, que os evangelhos nos ajudaram a esculpir. Jesus, o Bom Pastor. Passo uma folha, uma fotografia; passo outra folha, outra fotografia; passo outra e outra e outra, em todas uma fotografia. Cinco fotografias, grupos de jovens, no meio alguns pré-adolescentes, jovens de fato e gravata, alguns já com o colarinho de padre. Reparo agora no título. Seminários. O livrinho foi espalhado nas comunidades cristãs no dia dos seminários. Traz um convite. Rezar pelos seminários e pelos jovens que fazem o seu dia-a-dia nessas «casas». Apoiar e animar jovens que «de- cidiram ser cristãos» a sério e que aspiram a seguir os passos de Jesus, o Bom Pas- tor. Ser sacerdote. Para dedicar toda uma vida ao serviço do rebanho de Cristo. Reparo nas caras daqueles rapazes. Fazem-se à fotografia smile… Não acho que seja só para ficar bem. São olhos a irradiar alegria, felizes. Para onde estão eles a olhar? Para quem? PARA ONDE ESTÃO ELES A OLHAR? em dia de muito controlo. «… Lancei-me ime- diatamente no meio deles dando mur- ros e dizendo palavras para os fazer calar». «Não é com pancadas, mas com a mansidão e com a caridade que deverás conquistar estes teus amigos». É indicado e esboçado um método, o da bondade, da amizade, que implica inte-resse e ajuda. Nos colóquios iniciais com Bar tolomeu Garelli, Miguel Magone, Domingos Sávio e tantos outros, Dom Bosco con- quistar-lhes-á o coração apresentan- do-se como «amigo», profundamente interessado pela sua vida e pelo seu futuro e pronto a dar-lhes a mão para os ajudar.

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Jornal da Equipa de Pastoral Vocacional da Província Portuguesa da Sociedade Salesiana. Número 13. Novembro 2011

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Page 1: Bússola n.º 13

EQUIPA PROVINCIAL DE PASTORAL VOCACIONAL

PROVÍNCIA PORTUGUESA DA SOCIEDADE SALESIANA

N.º 13NOVEMBRO 2011

bússola

da mihi animas

Se olharmos para os grandes da história, ficamos surpreendidos pelo facto de os vermos totalmente orienta-dos para uma única meta. Para Dom Bosco, este sonho, este pensamento único, foram os jovens…

O seu futuro assenta as suas raízes exac-tamente num sonho: «Naquela idade (9 anos) tive um sonho que me fi-cou profundamente impresso na mente por toda a vida».

O ORATÓRIO SONHADO

No centro do sonho estão mesmo eles, os jovens, em grande número, a rir, a jogar e a dizer palavrões. «Eis o teu campo, eis onde deves trabalhar». É in-dicada a João Bosco a sua vocação: os jovens, pelos quais é chamado a gastar a vida, «até ao último respiro».

A primeira intervenção de Joãozinho põe em relevo a sua índole: generosa, mas fogosa, intempestiva, a precisar

� DOM BOSCO FOI A REALIZAÇÃO DE UM SONHO, A INCARNAÇÃO DE UMA IDEIA!

Dom Bosco: um sonho, uma ideia> ALDO GIRAUDO, GIANNI GHIGLIONE E ALBERTO ZANINI, IN «VOGLIA DI ORATORIO»

> PE. SIMÃO CRUZ, SDB

Dou comigo a folhear uma pequenina brochura. Os dedos parece que sentem o afagar da lã branca e fina de um cordei-rinho manso.

Na capa, o rosto oval, bronzeado, cabelo e barbas louras, olhos no horizonte, um tanto quietos e profundos. Um manto de matiz rubro e azul escuro. Às costas, en-trançado, um cordeiro seguro e meigo. Um cajado no braço esquerdo. Já se adi-vinha. É a imagem cheia de ternura, que os evangelhos nos ajudaram a esculpir. Jesus, o Bom Pastor.

Passo uma folha, uma fotografia; passo outra folha, outra fotografia; passo outra e outra e outra, em todas uma fotografia. Cinco fotografias, grupos de jovens, no meio alguns pré-adolescentes, jovens de fato e gravata, alguns já com o colarinho de padre.

Reparo agora no título. Seminários. O livrinho foi espalhado nas comunidades cristãs no dia dos seminários. Traz um convite. Rezar pelos seminários e pelos jovens que fazem o seu dia-a-dia nessas «casas». Apoiar e animar jovens que «de-cidiram ser cristãos» a sério e que aspiram a seguir os passos de Jesus, o Bom Pas-tor. Ser sacerdote. Para dedicar toda uma vida ao serviço do rebanho de Cristo.

Reparo nas caras daqueles rapazes. Fazem-se à fotografia smile… Não acho que seja só para ficar bem. São olhos a irradiar alegria, felizes.

Para onde estão eles a olhar? Para quem?

PARA ONDE ESTÃO ELES A OLHAR?

� em dia

de muito controlo. «… Lancei-me ime-diatamente no meio deles dando mur-ros e dizendo palavras para os fazer calar». «Não é com pancadas, mas com a mansidão e com a caridade que deverás conquistar estes teus amigos».

É indicado e esboçado um método, o da bondade, da amizade, que implica inte-resse e ajuda.

Nos colóquios iniciais com Bartolomeu Garelli, Miguel Magone, Domingos Sávio e tantos outros, Dom Bosco con-quistar-lhes-á o coração apresentan-do-se como «amigo», profundamente interessado pela sua vida e pelo seu futuro e pronto a dar-lhes a mão para os ajudar.

Page 2: Bússola n.º 13

página 2n.º 13 Novembro 2011

boa leitura

E não é uma santa qualquer, mas uma santa jovem de 18 anos. Sim, porque os jovens também podem ser santos, tal como S. João Bosco defendeu e como mais tarde a Igreja corroborou: estamos todos chamados à santidade e, portanto, não há uma idade para se ser santo.Mas isto não significa, de modo algum, que é fácil ser santo. Até é fácil, mas exige querer e perseverança e isto é, sem dúvida, mais difícil, mas não impossível. Daí que, este mês, recomendo este livro porque acredito que o exemplo de Chiara possa ser um alento para a nossa santidade.O caminho de santidade proposto por Jesus a Chiara foi cumprir, com alegria, em cada instante, a vontade de Deus que sabe perfeitamente o que é melhor para nós.

Mas quem é Chiara? Era uma jovem normal, que amava a música e o desporto e que cedo se preocupa com os outros. Sonhava em ser médica e ir para África. Aos nove anos começa a fazer parte do Movimento dos Focolares, um grupo cristão.

� AS EDIÇÕES SALESIANAS ACABAM DE LANÇAR ESTE LIVRO. NÃO PODIA VIR MAIS A PROPÓSITO, NESTE MÊS DE NOVEMBRO QUE INICIÁMOS COM O DIA LITÚRGICO DE TODOS OS SANTOS, PORQUE CHIARA É JÁ UMA SANTA, EM-BORA AINDA SEJA BEM-AVENTURADA, DESDE O DIA 25 DE SETEMBRO DE 2010.

CHIARA LUCE, UMA GRANDE AVENTURA: ENTRAR NO JOGO DE DEUSMARIA GRAZIA MAGRINI, Edições Salesianas, pp. 31

> PE. DAVID TEIXEIRA

Mais tarde descobre: Jesus nos outros, o Evangelho, e o desejo de amar Jesus, aceitando as dificuldades. Já mais crescida, aprende a amar Maria, a Nossa Senhora, rezando diariamente o rosário.Aos dezassete anos, no decorrer de um torneio de ténis, ela sente uma dor aguda no ombro esquerdo e, depois de uns exames, confirma-se que é um cancro, que se alastrará até à medula espinal. Nesta doença, ela abandona-se confiadamente a Deus – “o importante é fazer a vontade de Deus”, diz ela –, enfrentando todos os contratempos e dores, e oferecendo a sua vida e sofrimento pelos jovens. Mesmo na doença, ela continua a preocupar-se mais com Jesus e os outros do que consigo mesma. É também nesta altura da doença que ela se entrega mais a Maria. E, talvez por isso, morre no dia 7 de Outubro, dia em que a Igreja celebra Nossa Senhora do Rosário.

Termino, dizendo que este é um livro breve, que se lê numa tarde, mas do qual guardaremos sentimentos que poderão durar para uma vida e ajudar-nos no nosso caminho em vista da santidade.

contemplar

Como acordou hoje o teu coração?

� “COMO É QUE ACORDOU HOJE O TEU CORAÇÃO?” PERGUNTAVA O AGRICULTOR AO JOVEM DA CIDADE QUE TINHA CHE-GADO À MONTANHA PARA PARTILHAR A VIDA SIMPLES E PURA DO CAMPONÊS. E O “CORAÇÃO” DAQUELE JOVEM NÃO SABIA O QUE HAVIA DE RESPONDER.

Isto passou-se durante alguns dias, até que o jovem, ao despertar, se pôs a es-cutar o seu coração em silêncio. Nos últi-mos dias da sua experiência na paz e no silêncio da montanha, já tinha descoberto que tinha coração; tinha-o tocado; tinha aprendido a olhar e a observar o mais pro-fundo do seu coração. Ao deixar a mon-tanha, perguntou ao camponês:

- Caro amigo, como é que acordou hoje o seu coração?

E o agricultor, abraçando-o sinceramente, disse-lhe:

> IR. ALZIRA SOUSA, FMA

- Hoje acordou bem, amanhã não sei. Durante este dia que Deus me oferece, vigiarei o meu coração e o vou tentar tê--lo desperto, para que, quando chegar a noite, esteja acesa a luz da fé e arda diante do Deus, que me conduz no silêncio ao meu íntimo.

O coração é o que de mais bonito e delicado habita dentro de ti.

Se o coração é puro, todo o teu ser será límpido.

Se o coração ama e sente, todo o teu ser estará disposto a ajudar, a abraçar, a encontrar e a encontrar-se.

O teu coração, como é que acordou hoje?

Pronto para acolher? Para escutar? Para fazer uma viagem ao interior de ti mesmo? © Jolka Igolka, Stock.xchng

Page 3: Bússola n.º 13

página 3n.º 13 Novembro 2011

a minha vez

Chamo-me Mai-bwe Tambwe Pier-re. Sou salesiano de Dom Bosco e Padre.

Nasci na República Democrática do Congo, numa famí-

lia de sete filhos.

Da minha tenra infância, lembro-me que a minha mãe ia connosco à igreja e que ficávamos sempre ao seu lado. Com ela, aprendi como nos comportamos na igreja. No domingo de manhã, a minha mãe dava a cada um de nós algumas moedas para oferecermos na igreja e velava para que as oferecêssemos.

Aos doze anos, entrei no grupo dos acólitos da nossa paróquia. Aí convivi muito de perto com os salesianos-missionários que animavam a missão. Acho que foi aí que apanhei “o vírus salesiano-missionário”. Esses homens de Deus, sem falar muito, viviam de tal maneira que nós nos perguntávamos como era possível! Era uma equipa composta de salesianos polacos, belgas e um austríaco. Mas o amor que os unia transparecia. Esses missionários não só viviam em harmonia entre eles, mas também eram apostólicos e faziam-nos participar no seu apostolado. Respondendo ao convite de um deles, cheguei a ser animador das crianças e adolescentes, catequista, sem deixar de ser acólito. Muitas vezes, me pediam que os acompanhasse nas missões que ficavam mais longe, nas aldeias. Quantas vezes éramos obrigados a deixar o carro e a pegar nas bicicletas para ir ter com povoações mais longínquas!

Pouco a pouco comecei a questionar-me: “porque é que eu também não poderia ser como eles? Se há mais alegria em dar do que em receber, eu também, em vez de receber, podia ser daqueles que dão a vida pelos outros!” Sentia como que uma voz no meu íntimo que me dizia: “preciso de ti”. Respondi, partilhando esta ideia com um deles. Depois de muitas conversas, encaminhou-me para a casa da formação. Lá declarei logo que queria ser Salesiano-Padre-Missionário. Estou muito feliz de o ser, primeiro na minha terra, o Congo, onde fiz toda a minha formação inicial, depois em Moçambique, onde me acolheram como jovem missionário e agora aqui em Portugal. E tu?

> PE. MAIBWE PIERRE, SDB

“Poderia ser como eles?”

Sou o Francisco Almendra, salesiano diácono.

Estou na comunidade salesiana do Lar da Paz, na Madeira, onde temos uma casa de acolhimento para crianças que atravessam diversas dificuldades, sobretudo ao nível familiar.

Somos apenas três salesianos (mas bons…) que trabalhamos com uma excelente equipa de colaboradores leigos, 24 horas por dia. Somos todos, acima de tudo, educadores salesianos, ao estilo de Dom Bosco.

O Lar da Paz, como até o nome indica, fica num lugar muito pacato, no meio do verde da serra, com uma vista fantástica para o mar e para o Aeroporto.

O meu dia-a-dia, como o de qualquer salesiano, é repartido entre os momentos comunitários, de oração comum e de partilha fraterna, e as tarefas previstas e imprevistas do trabalho próprio de um lar com estas características. Tenho responsabilidades ao nível do acompanhamento espiritual do Lar, da animação pastoral e, este ano, ocupo-me também da administração.

Posso dizer-vos que este foi um desafio novo para mim, pois nunca fui administrador numa casa salesiana, e tem sido uma aventura interessante, mas que me dá muito que fazer. Apesar da nossa casa ser pequena, há sempre assuntos a tratar relacionados com a organização dos ambientes, ir às compras necessárias para o governo da casa, falar com os nossos colaboradores, etc.

Há dias em que acompanho alguns dos nossos jovens às escolas, pois apesar de serem em pequeno número, 12 neste momento, frequentam diversas escolas, de acordo com a idade e os percursos formativos de cada um. Alguns frequentam o curso geral, outros estão em escolas profissionais e ainda há alguns deles que vão às aulas à Escola Salesiana do Funchal.

É ali que eu também passo algum do meu tempo, às segundas e quartas-feiras, pois dou lá algumas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica. Além disso, os sábados são também passados lá, pois participamos com os nossos jovens nas actividades do centro juvenil salesiano. Há actividades de ADS, ateliers, catequese e Eucaristia. Para os nossos amigos mais novos esse é um momento alto da semana, de grande convívio e formação.

Além disso, a Madeira é mesmo a pérola do Atlântico e, como tal, oferece muitas possibilidades de belos passeios e actividades ao ar livre e que, sempre que possível, mas sobretudo nas férias, aproveitamos para completar a rotina diária do nosso Lar.

Que mais vos posso dizer? Temos um grupo de miúdos excelentes e empenhados na construção do seu projecto pessoal de vida.

Os dias terminam sempre com um familiar e agradável momento de “boa-noite salesiana”.

> FRANCISCO ALMENDRA, SBD

Um desafio novo no Lar da Paz

indiscreto

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página 4n.º 13 Novembro 2011

Eu estava chocado!

Aquela criança, que nem uma dezena de primaveras devia contar, transpirava raiva por todos os poros e, em menos de cinco minutos, já havia descarregado mais insul-tos e palavrões que o número de crianças que nos rodeavam. E olhem que eram mui-tas…

A maior parte já se havia afastado do pequeno rapaz, na verdade, já era bem conhecido no bairro. Permanecia eu, o meu amigo alentejano e mais uns curiosos ob-servadores.

É incrível como a má educação e a falta de valores familiares influenciam a per-sonalidade de uma criança. Providenciar habitações sociais, subsídios, etc. a estas famílias ciganas (e não só), não é suficiente.

Já dizia Pitágoras há 2500 anos: “Educai as crianças e não será preciso punir os Ho-mens”. Apesar de considerarmos que vive-mos numa sociedade muito avançada con-tinuamos sem conseguir pôr isto em prática.

Pensava para comigo, dirigindo-me ao meu fiel JC, que a tarefa não se afigurava fácil. “Nada te perturbe, nada te espante, quem a Deus tem nada lhe falta!”, Ele lá acabaria por resolver a questão.

“Isso que estás a dizer aos teus amigos e a nós, que viemos esta semana para o vosso bairro fazer jogos e actividades convosco, apenas me deixa triste, muito triste Raúl*…” E afastei-me. Comigo vieram algumas cri-anças que não arriscavam ficar sozinhas com o Raúl sem nenhum “grande” por per-to. E ele confuso… Na verdade era-lhe es-tranho que comportamentos daqueles não fossem correspondidos com insultos ainda maiores, agressões e vinganças diversas. Que era isto de, ao invés de ripostar, dar a outra face?

Passado um pouco ouço-o a vir na minha direcção. “Desculpa”.”Não basta dizeres, Raúl, é necessário que te sintas arrependi-do e que queiras mudar”.

Sabia que o arrependimento ainda era mui-to ténue e, em grande parte, resultado de um repreendimento breve do irmão. Mas aproveitei a fenda na muralha do Raúl e convidei-o a sentar-se a meu lado.

Os momentos que passámos depois disso, na companhia do “Marido” (o irmão mais velho), da J. (uma menina cigana muito arisca e genuína) e de mais uns corajosos foram muito bonitos.

Foi uma bênção ter contemplado a mu-

dança do Raúl. Através de uns jogos e brin-cadeiras, lá lhe fomos mostrando como era muito melhor ser amável com os outros e divertir-se em grupo. Ele estava radiante e o brilho que agora tinha nos seus pequenos olhos azuis não tinha comparação com a frieza que transpareciam à menos de meia hora.

Antes de abandonarmos o bairro ainda tive direito a um grande abraço e a um sorriso do meu novo amigo – como diz o meu caro padrinho, tratavam-se de peque-nos rebuçados com que o JC me brindava. Restou-me dizer: Obrigado Senhor!

Quem diria, hein? Pois é, o terreno de mis-são não é de todo aplanado nem florido mas se alargarmos o horizonte e escavar-mos mais fundo encontramos verdadeiros diamantes em bruto.

Apesar de, por vezes ser difícil perceber, todos nós temos algo muito bonito dentro. Precisa de, com a graça do Espírito Santo, ser trazido à superfície.

Que o diga o Padre Américo:

“O Evangelho é uma exactidão tremenda! É uma força terrível! Se alguém te disser do doce Rabi da Galileia, não faças caso. São poetas a fazer renda. Mas quando os pre-gadores da Cruz falam do Revolucionário que veio ao mundo trazer a espada, então sim. Escuta. E se tens coragem faz-te tu também um revolucionário à Sua moda. E mais nada.”

*Nome fictício

vem aí� 26-27 DE NOVEMBRO

II FÓRUM NACIONAL DO MJS (FÁTIMA)

� 5 DE DEZEMBRO DIA MUNDIAL DO VOLUNTARIADO

� 27-29 DE DEZEMBRO ENCONTROS COM DOM BOSCO ESPECIAL NATAL

animais ferozes> FÁBIO SIMÕES

DIAMANTES EM BRUTO

Ser amável com os outros

Desculpa...

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salesiana?Queres receber este jornal no teu e-mail?

Bússola Jornal da Equipa de Pastoral Vocacional

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Casa Salesiana Imaculada Conceiçãot: 22 589 80 45 f: 22 589 80 46

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CAMINHOS DE MISSÃO de Pe. Feliz da Costa Martins

Crónicas de um missionário comboniano que permitem ao leitor acompanhá-lo nesses difíceis “Caminhos de Missão” e experimentar as

alegrias e tristezas do testemunho de Cristo num contexto islâmico e fundamentalista, como é o do Sudão de hoje.

DIAMANTE DE SANGUE de Edward Zwick

A acção desenrola-se na Serra Leoa, abordando a problemática da exploração humana para extracção de recursos minerias. Permite formular uma ideia da realidade de corrupção que

assola o continente africano e perceber a beleza e prosperidade que o mesmo po-deria trazer ao mundo se Cristo habitasse mais profundamente nos corações dos seus actores principais.

sugestões> FÁBIO SIMÕES