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Bios Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-graduação em Zoologia de Vertebrados

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BiosCadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do

Programa de Pós-graduação em Zoologia de Vertebrados

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Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Eustáquio Afonso Araújo

Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães

José Tarcísio Amorim

Osvaldo Rocha Tôrres

Extensão – Vera Maria Neves Victer Ananias; Gestão Finan-ceira - Paulo Sérgio Gontijo do Carmo; Graduação - Maria Inês Martins; Infra-estrutura - Rômulo Albertini Rigueira; Logística - Sérgio de Morais Hanriot; Pesquisa e de Pós-gra-duação - João Francisco de Abreu; Planejamento e Desen-volvimento Institucional - Carlos Francisco Gomes; Recursos Humanos - Alexandre Rezende Guimarães; Arcos - Wander-ley Chieppe Felippe; Barreiro – Patrícia Bernardes; Betim – Carmen Luiza Rabelo Xavier; Contagem - Geraldo Márcio Alves Guimarães; Poços de Caldas - Maria José Viana Ma-rinho de Mattos; São Gabriel – Paulo Sérgio Martins Alves; Serro - Ronaldo Rajão Santiago.

Virginia Simão Abuhid (Coordenadora)Miguel Ângelo de Andrade (Coordenador adjunto)

EDITORA PUC MINAS

Ângela Vaz Leão (PUC Minas); Graça Paulino (UFMG); José Newton Garcia de Araújo (PUC Minas); Maria Zilda Cury (UFMG); Oswaldo Bueno Amorim Filho (PUC Minas)

Antônio Cota Marçal (PUC Minas); Benjamin Abdalla (USP); Carlos Reis (Univ. de Coimbra); Dídima Olave Farias (Univ. del Bío-Bío – Chile); Evando Mirra de Paula e Silva (UFMG); Gonçalo Byrne (Lisboa); José Salomão Amorim (UnB); José Viriato Coelho Vargas (UFPR); Kabengele Munanga (USP); Lélia Parreira Duarte (PUC Minas); Leonardo Barci Castrio-ta (UFMG); Maria Lúcia Lepecki (Univ. de Lisboa); Philippe Remy Bernard Devloo (Unicamp); Regina Leite Garcia (UFF); Rita Chaves (USP); Sylvio Bandeira de Mello (UFBA).

Cláudia Teles de Menezes Teixeira

Maria Cristina Araújo Rabelo

Astrid Masetti Lobo CostaVirgínia Mata Machado

Grão-Chanceler:

Reitor:

Vice-Reitor:

Assessor Especial da Reitoria:

Chefe de Gabinete do Reitor:

Pró-reitores:

Curso de Ciências Biológicas:

Comissão editorial:

Conselho editorial:

Coordenação editorial:

Assistente editorial:

Revisão:

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

EDITORA PUC MINAS: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais • Rua Pe. Pedro Evangelista, 377 • Coração Eucarístico • Tel: (31) 3319.9900 • Fax: (31) 3319.9907 • Belo Horizonte • Minas Gerais • Brasil • e-mail: [email protected]. Tiragem: 700 exemplares.

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BiosCadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do

Programa de Pós-graduação em Zoologia de Vertebrados

ISSN: 0104-4389

BIOS Belo Horizonte v. 12 n. 12 p. 1-86 dez. 2004

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BiosCadernos do Departamento de Ciências Biológicas e do Programa

de Pós-graduação em Zoologia de VertebradosEDITORA

Luciana Barreto Nascimento

COMISSãO EDITORIALHugo Pereira Godinho (PUC Minas)

José Enemir dos Santos (PUC Minas)Maria de Fátima Vieira Starling (PUC Minas)

Nilo Bazzoli (PUC Minas)Simone Fulgêncio Lima (PUC Minas)

CONSULTORES CIENTíFICOSAdriano Garcia Chiarello (PUC Minas)Adriano Paglia (Conservação Internacional)Almir de Souza Martins (UFMG)Ana Angélica Almeida Barbosa (UFU)Carlos Frederico Duarte da Rocha (UERJ)Carlos Roberto de Carvalho (UFV)Castor Cartelle Guerra (UFMG)Célia Leite Santana (USP)Dálcio Ricardo de Andrade (UENF)Divino Brandão (UFGO)Edson Vieira Sampaio (Codevasf )Eduardo Von Sperling (UFMG)Edvânia Francefcaimelli (UFMG)Evoy Zaniboni Filho (UFSC)Flávio Bokemman (USP, Ribeirão Preto)Francisco Barbosa (UFMG)Francisco Gérson Araújo (UFRRJ)George Washington Gomes de Moraes (UFMG)Geraldo Wilson Fernandes (UFMG)Gérman A. B. Mahecha (PUC Minas)Gilberto Pedrali (Cetec)Gilmar Bastos Santos (PUC Minas)Gleydes Gambogi Parreira (UFMG)Henrique Paprocki (PUC Minas)Helena de Godoy Bergallo (UERJ)

Hugo Pereira Godinho (PUC Minas)João Augusto Alves Meira Neto (UFV)João Carlos de Oliveira (UFJF)José Carlos Nogueira (UFMG)José Eugênio Cortes Figueira (UFMG)Kelly Grace Magalhães (FIOCRUZ)Lídia Miyako Yoshii Oshiro (UFRRJ)Lúcia Helena Sipaúba Tavares (Unesp)Marcos Callisto (UFMG)Maria Bernadete Lorato (UFMG)Maria Teresa C. Pinto (PUC Minas)Maurício Lopes de Faria (UNILESTE, MG)Milene Faria Vieira (UFV)Nilo Bazzoli (PUC Minas)Paula Cabral Eterovick (PUC Minas)Paulina Maria Barbosa (UFMG)Queila de Souza Garcia (UFMG)Ricardo Motta Pinto Coelho (UFMG)Rogério Parentoni Martins (UFMG)Rosy Mary dos Santos Isaías (UFMG)Sandra Maria Feliciano Azevedo (UFRJ)Simão Pedro P. Marinho (PUC Minas)Sônia Aparecida Talamoni (PUC Minas)Thaisa de Almeida Maria (PUC Minas)Valéria Ruiz de Souza (UFMG)

Foto da capa: Miguel Angelo de Andrade.

FICHA CATALOGRÁFICAElaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

B616 Bios: Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas. – v.1, n.1 (dez. 1993- ). – Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 1993- . v. ISSN 0104-4389 Anual 1. Biologia - Periódicos. 2. Zoologia – Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Departamento de Ciências Biológicas. CDU: 57(05)

Indexação: artigos publicados na Bios são indexados no Asfa (Aquatic Sciences & Fisheries Abstracts) a partir do número 7 e no Zoological Record a partir do número 10.

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Sumário

Artigos

Reprodução cooperativa: ajudar ou não ajudar, eis a questãoCooperative breeding: to help or not to help, that is the questionDaniel BritoFlávia S. RochaLeonardo C. OliveiraFábio M. V. Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Morfometria e qualidade de água em viveiros seqüenciais de criação de peixes: Centro de Aqüicultura, Jaboticabal, SPMorphometry and water quality in continuous water flow fish ponds: Aquaculture Center, Jaboticabal, SPCarla Fernandes MacedoLúcia Helena Sipaúba-Tavares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Aspectos reprodutivos e indução da desova de Salminus hilarii Valenciennes, 1850 (Pisces: Characiformes, Characidae) da bacia do rio São FranciscoReproductive aspects and spawning induction of Salminus hilarii Valenciennes, 1850 (Pisces: Characiformes, Characidae) from the São Francisco river basinYoshimi SatoEdson Vieira SampaioNelsy Fenerich-VeraniJosé Roberto Verani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Estrutura e flutuação temporal das populações zooplanctônicas (Copepoda e Cladocera) das represas da Reitoria e Quatro Pilastras, campus da Universidade Federal Viçosa (UFV), MGStructure and temporal fluctuation of zooplanktonics populations (Copepoda and Cladocera) from Reitoria and Quatro Pilastras reservoirs of Federal University of Viçosa (UFV), MGRaul Soares PeixotoWalter Yoshizo Okano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

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resumos

Armadilhas fotográficas em inventários e na conservação de mamíferos: um estudo em área de Mata Atlântica do Espírito Santo, sudeste do BrasilCamera traps in inventories and conservation of mammals: a study in an area of the Atlantic Forest in the State of Espírito Santo, Southeast of BrazilAna Carolina Srbek de AraújoAdriano Garcia Chiarello . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Estrutura da ictiofauna do reservatório de Juramento, bacia do rio São Francisco, MGThe Juramento reservoir ichthyofauna structure, São Francisco river basin, MGAndré Roberto SilvaGilmar Bastos Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Marsupiais vistos do espaço: o uso de assimetria flutuante e sistemas de informações geográficas em conservaçãoMarsupials seen from space: the use of fluctuating asymmetry and geographic information systems in conservationCamila Palhares TeixeiraRobert Young . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Avaliação das respostas comportamentais de emas (Rhea americana, Rheidae) submetidas a técnicas de treinamento antipredação na Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, Minas GeraisEvaluation of behavioural responses of greater rheas (Rhea americana, Rheidae) submitted to anti-predator training techniques in the Zoo-Botanical Foundation of Belo Horizonte, Minas GeraisCristiano Schetini de AzevedoRobert Young . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Gametogênese e reprodução do acará Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840) (Pisces, Cichlidae) do reservatório de Porto Colômbia, bacia do rio Grande, sudeste do BrasilGametogenesis and reproduction of acará (Satanoperca pappaterra, Heckel, 1840) (Pisces, Cichliadae) of the Porto Colômbia reservoir, Grande river basin, Southeast of BrazilDimas Fernando de MouraNilo Bazzoli. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Estudo das populações de Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842), Marmosops incanus (Lund, 1840) (Didelphimorphia) e de Trinomys setosus (Desmarest, 1817) (Rodentia), na Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraça, MG

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Study of the Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842), Marmosops incanus (Lund, 1840) (Didelphimorphia) and Trinomys setosus (Desmarest, 1817) (Rodentia) populations in the Serra do Caraça Private Natural Reserve, MGDirceu Antônio Cordeiro Júnior Sonia Aparecida Talamoni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Percepções e usos da fauna silvestre pelas comunidades humanas do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraça, Catas Altas/Santa Bárbara, MGPerceptions and uses of local fauna by human communities in the Serra do Caraça Private Natural Reserve, Catas Altas/Santa Bárbara municipalities, MGElisa Duarte Santos MesquitaSonia Nicolau Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

Densidade, tamanho populacional e distribuição do boto-cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864), na baía de Sepetiba, Estado do Rio de JaneiroDensity, population size and distribution of the estuarine dolphin, Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864) in the Sepetiba bay, State of Rio de JaneiroLeonardo Flach Adriano Garcia Chiarello . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

Características vocais do Zabelê, Crypturellus noctivagus zabele (Spix, 1895) (Aves, Tinamiformes) e aplicações como ferramenta para sua conservaçãoVocal characteristics of Zabelê, Crypturellus noctivagus zabele (Spix, 1895) (Birds, Tinamidae) and applications as a tool for its conservationLetícia Souza Lima Guimarães Gérman Arturo Bohórquez Mahecha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

Hábitos alimentares e locais de ocorrência do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus, segundo moradores de três comunidades do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraça, Catas Altas/Santa Bárbara, Minas GeraisFeeding habits and occurrence sites of the maned wolf, Chrysocyon brachyurus, according to the inhabitants of three communities in the region of the Serra do Caraça Private Natural Reserve, Catas Altas/Santa Bárbara, Minas GeraisLívia Martins Oliveira Sonia Nicolau Santos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

Efeitos da disponibilidade de recursos alimentares sobre as respostas comportamentais de Amazilia lactea (Lesson, 1832) e de Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) (Apodiformes: Trochilidae)Effects of the availability of food resources on behavioural responses of Amazilia lactea (Lesson, 1832) and Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) (Apodiformes: Trochilidae)Luciana Barçante Gérman Arturo Bohórquez Mahecha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

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Uso do hábitat, padrão de atividades e organização social do boto-cinza, Sotalia guianenis (Van Benéden, 1864), na bBaía de Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro(Habitat use, activity patterns and social organization of the estuarine dolphin, Sotalia guianenis (Van Benéden, 1864), in Sepetiba bay, State of Rio de Janeiro)Patrícia Amaral Flach Adriano Garcia Chiarello . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

A sustentabilidade da pesca do mandi-amarelo Pimelodus maculatus (La Cepède, 1803) (Siluriformes, Pimelodidae) no reservatório de Igarapava (rio Grande, Paraná Superior)The sustainability of fishing yellow-mandi, Pimelodus maculatus (La Cepède, 1803) (Siluriformes, Pimelodidae) in the Igarapava reservoir (rio Grande, Upstream Paraná)Bruno Pereira Maia Hugo Pereira Godinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Tamanho corporal, dimorfismo sexual e diversidade genética da preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus (Illiger, 1811) (Xenarthra: Bradypodidae)Body size, sexual dimorphism and genetic diversity of the maned sloth, Bradypus torquatus (Illiger, 1811) (Xenarthra: Bradypodidae)Paula Lara-Ruiz Adriano Garcia Chiarello . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Migração de mandis-amarelos Pimelodus maculatus e curimbas Prochilodus lineatus no rio Grande, bacia do Alto Paraná(Migration of yellow-mandis (Pimelodus maculatus) and curimbas (Prochilodus lineatus) in Grande river, Upstream Paraná basin)Luiz Gustavo Martins da Silva Hugo Pereira Godinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

Normas gerais para publicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Norms for publication . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

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Artigos

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Reprodução cooperativa: ajudar ou não ajudar, eis a questão

Bios, Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v. 12, n. 12, p. 11-24, dez. 2004 11

Reprodução cooperativa: ajudar ou não ajudar, eis a questão

Cooperative breeding: to help or not to help, that is the question

DANIEL BRITOPós-graduação em Ecologia, Conservação e

Manejo de Vida Silvestre (ECMVS) - Universidade Federal de Minas Gerais

FLÁVIA S. ROCHAInstituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)

LEONARDO C. OLIVEIRAMuseu de Ciências Naturais da PUC Minas

FÁBIO M. V. CARVALHOPrograma de Pós-graduação em Ecologia (PPGE) - Universidade Federal do Rio de Janeiro1•

ResumoUm tópico importante e amplamente estudado e discutido em ecologia do comportamento atualmente é o relacionamento entre parentes na evolução do comportamento social. A reprodução cooperativa descreve situações em que indivíduos deixam de se reproduzir e ajudam os reprodutores na criação da prole. Esses indivíduos são conhecidos como ajudantes e passam parte de sua vida, ou toda ela, ajudando na alimentação e proteção da prole de outros indivíduos e na defesa do território. O estudo da reprodução cooperativa vem se desenvolvendo com o objetivo de entender os motivos que levam alguns indivíduos a abdicarem da sua reprodução para auxiliar na reprodução de outros indivíduos.Palavras-chave: Altruísmo; Comportamento; Interação; Reprodução cooperativa; Socialidade.

AbstRActAn important and widely studied issue in behavioral ecology nowadays is the relationship between related individuals in the evolution of social behavior. Cooperative breeding studies cases where individuals give up reproduction and help taking care of a reproductive pair’s litter. Those individuals are known as helpers and they spend part of their lives, or all of it, helping to feed and take care of other individuals’ litters, as well as to protect their territories. The study of cooperative breeding aims to understand the reasons why some individuals give up their own reproduction in order to help the reproduction of others.Key words: Altruism; Behavior; Interaction; Cooperative breeding; Sociality.

1. Correspondência para: [email protected]

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Brito, D.; Rocha, F.S.; Oliveira, F.C.; Carvalho, F.M.V.

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 11-24, dez. 200412

Um importante fator para a compreen-são da evolução das histórias de vida é o estudo do comportamento ani-

mal. A evolução de diferentes estratégias de história de vida envolve uma série de trade-offs que podem ser influenciados por fatores ecológicos, sempre visando a maximizar a aptidão (GADGIL; BOSSERT, 1970; STEARNS, 1976), uma vez que qualquer organismo pos-sui uma quantidade limitada de recursos para forrageamento, crescimento, manutenção e reprodução (PIANKA, 1994). Como exemplo, pode-se citar quantidade e qualidade de prole e também esforço reprodutivo e sobrevivên-cia (WILLIAMS, 1966; CHARNOV; KREBS, 1974; HOUSTON; DAVIES, 1985).

Uma estratégia observada em diversas espécies é a formação de grupos sociais. Exis-tem evidentes vantagens de se viver em gru-po. Alguns dos principais benefícios obtidos por espécies que vivem em grupo são: (1) a redução da predação através de um aumento da vigilância; (2) o efeito de diluição, pelo qual a chance de um indivíduo em particular ser predado diminui com o aumento do número de indivíduos presentes no grupo; (3) maior facilidade na obtenção de alimento, como, por exemplo, para encontrar bons locais de alimentação, presas mais difíceis, acesso a recursos efêmeros (ALEXANDER, 1974); e (4) maior chance de persistência em ambientes muito competitivos. Essas vantagens levam a um aumento da aptidão média dos membros do grupo, o que, por sua vez, leva a maior so-brevivência destes.

Um tópico importante e amplamente es-tudado e discutido em ecologia do comporta-mento atualmente é o relacionamento entre parentes na evolução do comportamento so-cial. Muitas espécies apresentam um sistema social relativamente simples, onde indivíduos se dispersam e se reproduzem na maturida-de. Entretanto, em muitas espécies o sistema social é bastante complexo, abrangendo indi-

víduos que atrasam sua própria reprodução e passam a viver por longos períodos de tempo em grupos familiares (WOOLFENDEN; FITZPA-TRICK, 1978). Esses indivíduos usualmente ajudam o par reprodutor a cuidar da prole, sendo mais comum um macho e uma fêmea cooperando com um par (SMITH; SZATHMÁ-RY, 1995). O comportamento de cooperação normalmente é dirigido a parentes próximos, mas também pode ocorrer com indivíduos não aparentados. No entanto, a cooperação não é necessariamente uma relação harmo-niosa, em que os membros do grupo têm um comportamento altruístico, visando a au-mentar a aptidão do grupo. Deve-se levar em conta os interesses de cada indivíduo sobre quanto esforço deve ser dedicado à coopera-ção (HOUSTON; DAVIES, 1985; BERNASCONI; STRASSMANN, 1999).

De acordo com Cockburn (1998), as razões adaptativas para o comportamento cooperativo se encaixam em seis classes: (1) aumento da produção de parentes não-des-cendentes; (2) pagamento de aluguel, que permite acesso a outros benefícios da vida em grupo; (3) acesso direto à prole; (4) aumento do território ou do tamanho do grupo, o que aumenta a oportunidade futura para repro-dução direta; (5) melhores condições sociais via formação de alianças que aumentam a perspectiva de reprodução; e (6) aquisição de experiência ou maturação prolongada, que facilita a reprodução futura.

O comportamento de ajuda varia de espécie para espécie, mas pode ser dividido em duas categorias gerais, que podem ser consideradas como os dois extremos de um continuum: (1) ajudantes no ninho, em que um grupo consiste de um par reprodutivo e um ou mais indivíduos jovens que ajudam no cuidado com a prole; e (2) reprodutores múl-tiplos ou comunais, em que machos e fêmeas compartilham um ninho e criam uma ninhada comum.

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Reprodução cooperativa: ajudar ou não ajudar, eis a questão

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 11-24, dez. 2004 13

A RepRodução CoopeRAtivA

A reprodução cooperativa descreve situ-ações em que indivíduos deixam de se repro-duzir e ajudam os reprodutores na criação da prole. Esses indivíduos são conhecidos como ajudantes e passam parte de sua vida, ou toda ela, ajudando na alimentação e proteção da prole de outros indivíduos e na defesa do ter-ritório.

O estudo da reprodução cooperativa vem se desenvolvendo com o objetivo de enten-der os motivos que levam alguns indivíduos a abdicarem da sua reprodução para auxiliar na reprodução de outros indivíduos (HEINSO-HN; LEGGE, 1999). A princípio, a reprodução cooperativa pode ser encarada como um comportamento altruísta, já que os ajudantes beneficiam os indivíduos reprodutores, com custos para si mesmos ao apresentarem tal comportamento (DAWKINS, 1989; HEINSO-HN et al., 1990), como a energia que gastam e as oportunidades perdidas de ter sua pró-pria prole (KREBS; DAVIES, 1993). Atualmente, reconhece-se que indivíduos tornam-se aju-dantes apenas quando suas expectativas de reprodução são fracas e o desenvolvimento de tal comportamento pode aumentar sua aptidão individual (EMLEN, 1995).

A reprodução cooperativa já foi descrita em diversas espécies de aves (BROWN et al., 1978; NOSKE, 1980; RICKLEFS, 1980; VERBE-EK; BUTLER, 1981; JOSTE et al., 1982; WILKIN-SON; BROWN, 1984; HUNTER, 1985; MULDER; LANGMORE, 1993; HATCHWELL et al., 1999), mamíferos (RIEDMAN, 1982; JARVIS et al., 1994; JENNIONS; MACDONALD, 1994; SCHA-FFNER; FRENCH, 1997; CLUTTON-BROCK et al., 1998; ROBERTS et al., 1998; COURCHAMP et al., 2002), peixes (TABORSKY; GRANTNER, 1998) e invertebrados (BERNASCONI; STRASSMANN, 1999; FIELD et al., 1999; HOGENDOORN; ZAM-MIT, 2001). Assim como é grande o número de espécies que apresenta comportamento de ajuda, também é bastante diverso o espectro

de condições ecológicas em que ele ocorre.Sob que condições um filhote deve per-

manecer no território? Do ponto de vista dos filhotes, devem ser avaliados os custos e bene-fícios de duas opções opostas: (1) dispersar e tentar reproduzir-se independentemente, ou (2) atrasar a dispersão e permanecer no grupo parental como um indivíduo não-reprodutivo. De acordo com Emlen (1982a), pelo menos quatro fatores estão envolvidos nessa decisão: (1) os riscos associados à dispersão; (2) a pro-babilidade de se estabelecer com sucesso no novo território; (3) a probabilidade de encon-trar um parceiro ideal; e (4) a probabilidade de sucesso na reprodução após estabelecer seu próprio território.

Cockburn (1998), em uma revisão so-bre a evolução do comportamento coope-rativo em aves, afirma que o estudo desse comportamento foi revigorado por diversos avanços técnicos, conceituais e empíricos, que incluem: (1) maior reconhecimento dos diferentes interesses de machos e fêmeas em sistemas de acasalamento; (2) complexidade das táticas reprodutivas das fêmeas; (3) uso de novas técnicas de ecologia molecular para se entender relações genealógicas entre os indivíduos; e (4) novos estudos de sociedades cooperativas não organizadas como famílias, com indivíduos mais ou menos relacionados. Cockburn (1998) sugere ainda a importância de se reconhecer distinções entre famílias e sociedades formadas por coalizões de indiví-duos não-relacionados.

Um dos estudos mais completos sobre reprodução cooperativa em aves é o realizado por Woolfenden e Fitzpatrick (1984) com Aphe-locoma coerulescens. Essa espécie vive em pa-res, dos quais mais da metade têm ajudantes. Estes auxiliam o par reprodutor na alimenta-ção dos filhotes e na defesa do ninho contra predadores. Grupos com ajudantes produzem mais filhotes do que grupos sem ajudantes. O comportamento de defesa é o principal

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Brito, D.; Rocha, F.S.; Oliveira, F.C.; Carvalho, F.M.V.

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responsável pelo aumento da sobrevivência dos filhotes. Com a ajuda na alimentação dos filhotes, há uma redução do esforço dos pais nessa atividade, levando a um aumento da sua sobrevivência.

Woolfenden e Fitzpatrick (1984) afirmam que os ajudantes permanecem no território natal porque faltam bons territórios vazios para reprodução. Dessa forma, a hipótese da saturação do habitat é uma explicação plau-sível para que os ajudantes permaneçam no território, em vez de se dispersarem para reproduzir-se independentemente. Além dis-so, os machos podem herdar parte ou todo o território dos pais, adquirindo, assim, um espaço para se reproduzirem. Através da aju-da aos seus pais, o macho jovem aumenta a produção de filhotes e jovens, aumentando o tamanho do grupo que ocupa o território. Grupos maiores podem expandir seus territó-rios às custas de grupos menores e, com isso, há a possibilidade de o macho jovem adquirir o seu próprio espaço nas áreas marginais do território dos pais.

Um aspecto interessante no estudo da reprodução cooperativa é a ocorrência de va-riação geográfica intraespecífica no compor-tamento de ajuda, como relatado por Roberts et al. (1998) para o roedor Microtus ochrogaster, que ocorre no Canadá e nos Estados Unidos. A expressão da reprodução cooperativa pode variar geograficamente, devido a diferentes características ecológicas ao longo da distribui-ção geográfica das espécies. Populações em habitat úmido e abundante em recursos são monogâmicas e apresentam reprodução coo-perativa; vivem em famílias grandes, formadas por um par reprodutor, que mantém um terri-tório comum e compartilha responsabilidades parentais. Populações encontradas em habitat mais árido não apresentam aparentemente comportamento cooperativo, não formam pa-res monogâmicos e a filopatria não parece ser uma característica de seus indivíduos. As dife-

renças observadas podem ser explicadas por diferenças genéticas entre as populações e por fatores sociais associados à presença ou ausên-cia do macho reprodutor durante o período de crescimento dos filhotes.

Uma característica de sociedades animais à qual se tem dado pouca atenção é a variação entre indivíduos no esforço de ajuda. Cant e Field (2001) desenvolveram um modelo que assume que os indivíduos subordinados se deparam com um dilema, pois o investimen-to atual na ajuda reduz o seu sucesso repro-dutivo futuro. As predições do modelo foram testadas em experimentos de campo com a vespa Polistes dominulus. A concordância en-tre as previsões do modelo e os resultados empíricos sugere que os indivíduos ajustam seu esforço de acordo com sua expectativa de sucesso reprodutivo futuro.

Alves (1990) observou o comportamen-to de reprodução cooperativa em Neothrau-pis fasciata, uma ave do cerrado brasileiro. Os pares são aparentemente monógamos e 43% dos ninhos observados tinham ajudan-tes, tanto machos como fêmeas, que partici-pavam da alimentação dos filhotes, da defesa do território e atuavam como sentinelas. Esse comportamento dos ajudantes pode ser uma estratégia para aumentar a proteção contra predadores, o que também ocorre pela par-ticipação de N. fasciata em bandos mistos de espécies. Outro estudo, também no cerrado, com a ave Phacellodomus rufifrons, demons-trou que essa é a primeira espécie de Furna-riidae a apresentar o comportamento de coo-peração e que os ninhos de reprodutores com ajudantes produziram mais filhotes (1,8) que os ninhos de reprodutores sem ajudantes (0,5) (RODRIGUES; CARRARA, no prelo).

evolução do CompoRtAmento CoopeRAtivo

Uma questão que logo vem à tona é por que os ajudantes não têm suas próprias

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ninhadas. Diversos fatores limitantes podem restringir as opções de dispersão e reprodu-ção por parte dos filhotes, resultando na for-mação de grupos constituídos por membros geneticamente relacionados. Como estraté-gia alternativa, ao ajudar a criar parentes, um indivíduo não-reprodutor pode aumentar a representatividade de seus próprios genes na população, sem ser um dos pais (WOOLFEN-DEN; FITZPATRICK, 1978).

O comportamento territorial de grupo, isto é, a manutenção de um território comum por um grupo de mais de dois indivíduos, é um fenômeno amplamente observado em aves. Fatores ecológicos que podem favorecer a seleção desse comportamento são a alta so-brevivência dos adultos e a saturação de habi-tats adequados para a reprodução (GASTON, 1978). A reprodução cooperativa é vista como conseqüência do comportamento territorial de grupo e, provavelmente, evoluiu a partir do prolongamento do período no qual a prole permanece no território dos pais. O processo crucial na evolução desse comportamento deve ser a seleção de uma tolerância do par reprodutor à continuidade da presença da prole no seu território (GASTON, 1978).

Uma propriedade típica do comporta-mento cooperativo é a ajuda a parentes pro-ximamente relacionados. Se a presença dos ajudantes de fato aumenta o número de filho-tes produzidos, então, ajudando a cuidar dos filhotes, o ajudante aumenta a representação de seus próprios genes na população, mesmo não se reproduzindo. Dessa forma, é possível concluir que a seleção de parentesco é a base para o desenvolvimento do comportamento de ajuda.

Um estudo de longo prazo com Aphelo-coma coerulescens sugere que a permanência no território e a ajuda representam uma estra-tégia usada pelos indivíduos não-reproduto-res para herdar um espaço necessário à repro-dução (WOOLFENDEN; FITZPATRICK, 1978).

Nessa espécie, apenas os machos podem her-dar o território e as fêmeas têm de se dispersar para se reproduzir. Dessa forma, o tempo de permanência da fêmea como ajudante é mais curto e sua contribuição é menor do que entre os machos. Woolfenden e Fitzpatrick (1978) acreditam que, permanecendo no território, o macho ajudante aumenta suas chances de herdar parte dele para sua própria reprodu-ção. Essa possibilidade é maior com o aumen-to do tamanho do território. Então, isso pode ocorrer porque a sua permanência no territó-rio aumenta a longevidade e a produtividade de seus pais, levando a um aumento no tama-nho do grupo e, à medida que o tamanho do grupo aumenta, o tamanho do território tam-bém aumenta.

Uma das principais hipóteses propostas para explicar o atraso na dispersão de alguns indivíduos é a da saturação do habitat (GAS-TON, 1978; VERBEEK; BUTLER, 1981). De acor-do com essa hipótese, os ajudantes não se re-produzem independentemente devido à bai-xa disponibilidade de territórios de qualidade para a reprodução. Se um indivíduo precisa dispersar-se para se reproduzir e não há bons territórios vagos, ele deve permanecer no seu território natal e esperar por uma chance, que pode ser a morte do reprodutor ou uma vaga em outro território. Algumas evidências contra essa hipótese foram apresentadas por Stacey e Ligon (1987), para quem, na verdade, a qualidade do habitat é muito importante e por isso alguns indivíduos atrasam sua disper-são na espera de vagas de habitat favorável. Permanecer no território dos pais poderia aumentar a chance futura de um ajudante conseguir um sítio reprodutivo de boa quali-dade, seja herdando o sítio natal, seja por uma melhoria na capacidade competitiva, uma vez que, estando por perto, podem ser os primei-ros a reconhecer um território vago.

Existem posições bastante controversas em relação à hipótese de saturação do habi-

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tat. Estudos com pequenos mamíferos do gê-nero Peromyscus demonstraram que a repro-dução cooperativa diminui com o aumento do número de territórios vagos (JENNIONS; MACDONALD, 1994). Em outras espécies de mamíferos os territórios permanecem deso-cupados, mas com baixa produtividade, su-gerindo que, provavelmente, um outro tipo de vantagem favorece esse comportamento nessas espécies.

A hipótese da saturação do habitat, em-bora amplamente aceita para explicar a evo-lução do atraso na dispersão em espécies com reprodução cooperativa, não é capaz de explicar com sucesso por que esse comporta-mento evoluiu em algumas espécies e não em outras (HATCHWELL; KOMDEUR, 2000). Uma solução para essa dificuldade seria a hipóte-se da história de vida, que dá ênfase ao papel da história de vida na evolução do comporta-mento cooperativo. Por exemplo, baixa mor-talidade de adultos e baixa taxa de dispersão poderiam favorecer a reprodução cooperativa entre certas espécies. Hatchwell e Komdeur (2000) qualificam essas duas hipóteses como complementares, podendo atuar em conjun-to. Além disso, eles sugerem que, para identifi-car as principais diferenças entre espécies co-operativas e não-cooperativas, uma hipótese mais geral, capaz de incorporar características ecológicas e da história de vida numa única medida do que eles chamaram de turnover de oportunidades reprodutivas, pode ser um modelo promissor para futuros estudos com-parativos.

Uma hipótese surgida como alternativa à saturação do habitat é a hipótese de benefí-cios da filopatria, proposta por Stacey e Ligon (1991). Essa hipótese enfatiza que os benefí-cios obtidos pelos jovens que permanecem no seu território natal são maiores do que as restrições à reprodução impostas por limita-ções ecológicas.

Pen e Weissing (2000) apresentaram mo-

delos quantitativos a fim de unificar as hipó-teses existentes para a evolução do compor-tamento cooperativo (hipótese da saturação do habitat, hipótese da história de vida e hi-pótese de benefícios da filopatria). O objetivo do estudo foi explicar a variação interespecí-fica na ocorrência de reprodução cooperativa em termos da variação nas características da história de vida e nas condições ecológicas. Os principais resultados encontrados pe-los autores foram: (1) a herança do território sempre promove reprodução cooperativa; (2) se o território não é herdado, nem limitações ecológicas nem variação nas características da história de vida podem predizer variação inte-respecífica na reprodução cooperativa; e (3) se o território é herdado, o mecanismo de regu-lação da densidade é crucial na determinação de quais fatores promovem a reprodução co-operativa. Pen e Weissing (2000) sugerem que as diferenças observadas entre as aves e os insetos sociais no comportamento cooperati-vo e na história de vida se devem a diferentes mecanismos de regulação da densidade que operam nesses grupos.

Além da qualidade do território, outros fatores podem influenciar o atraso da disper-são, como: (1) o risco de mortalidade asso-ciado à dispersão; (2) a probabilidade de en-contrar um parceiro para a reprodução; e (3) a probabilidade de sucesso na reprodução, uma vez estabelecido seu próprio território (EMLEN, 1982A).

Não há, provavelmente, apenas um úni-co fator responsável pelo atraso na dispersão e pelo desenvolvimento do comportamento cooperativo. Diversos fatores podem atuar em conjunto e diferenças entre as espécies tam-bém podem ter diferentes explicações. Uma dificuldade no estudo da reprodução coope-rativa é determinar a importância relativa de cada um dos fatores nas diferentes espécies e medir os custos e benefícios associados às diferentes estratégias empregadas pelos indi-

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víduos (EMLEN, 1982b; KREBS; DAVIES, 1993; JENNIONS; MACDONALD, 1994).

os AjudAntes

De maneira geral, pode-se classificar os ajudantes em dois grupos: (1) primários, quando são parentes do par reprodutor e fi-cam junto dele durante todo o período de cui-dado da prole, permanecendo em estado não reprodutivo e trabalhando tanto quanto o par reprodutor; (2) secundários, quando não são parentes do par reprodutor, mas recrutados após o nascimento dos filhotes, principalmen-te em condições ambientais desfavoráveis. Permanecem em condição reprodutiva e não trabalham tanto quanto o casal reprodutor (KREBS; DAVIES, 1993; HEINSOHN; LEGGE, 1999).

Os ajudantes secundários não alcançam nenhum benefício genético ao ajudar filhotes de um casal não aparentado. O único ganho possível é aumentar seu próprio sucesso re-produtivo futuro. Nesse caso, o ganho de apti-dão decorre do fato de que alguns ajudantes tornam-se reprodutores mais tarde. Além dis-so, especula-se que auxiliar a criar filhotes não relacionados seria uma forma de “pagamento” pela permissão de ficar no grupo. Além disso, eles aumentam o grupo e, conseqüentemen-te, o território, que é essencial para o futuro sucesso do ajudante, quando ele tomar o lu-gar de um reprodutor. Na verdade, o compor-tamento de cooperação é um investimento a longo prazo para o próprio sucesso reprodu-tivo futuro do indivíduo e não um comporta-mento altruísta (KREBS; DAVIES, 1993).

Nota-se uma tendência maior de machos se tornarem ajudantes e especula-se que haja uma predisposição genética para isso, prova-velmente surgida da incerteza da paternidade (CHARNOV; KREBS, 1974; KOENIG, 1990).

Os ajudantes podem aumentar o fitness dos reprodutores através de (EMLEN, 1995): (1) aumento do sucesso do esforço reproduti-

vo individual dos reprodutores; (2) redução do desgaste dos reprodutores; e (3) aumento da sobrevivência dos reprodutores.

Com relação ao aumento do sucesso do esforço reprodutivo dos reprodutores, o bene-fício ocorre através do aumento do tamanho da ninhada do reprodutor, devido ao aumen-to da detecção e expulsão de predadores e/ou ao aumento da alimentação dos jovens (RICKLEFS, 1980; WOOLFENDEN; FITZPATRICK, 1984; KREBS; DAVIES, 1993; EMLEN, 1995).

Quanto ao menor desgaste dos reprodu-tores, os ajudantes permitem a produção de uma segunda ninhada mais rapidamente na mesma estação reprodutiva. Os ajudantes, ali-mentando os filhotes e ajudando a defendê-los, aliviam os encargos dos pais, permitindo-lhes alocar mais energia para a reprodução (KREBS; DAVIES, 1993).

Outro possível benefício dos ajudan-tes aos reprodutores é relativo ao aumento da sobrevivência destes, já que os ajudantes aliviam o trabalho dos produtores. Foi obser-vado um aumento na sobrevivência do par reprodutor de 77% para 85% com a coope-ração de ajudantes (WOOLFENDEN; FITZPA-TRICK, 1984).

Custos e benefíCios pARA os AjudAntes

Heinsohn e Legge (1999) mencionam que o estudo da reprodução cooperativa em vertebrados busca entender por que alguns indivíduos deixam de se reproduzir indepen-dentemente para ajudar outros indivíduos que se reproduziram. A decisão de ajudar é afetada por custos imediatos e futuros e o tipo de benefício procurado deve determinar a ex-tensão da ajuda oferecida.

A reprodução de indivíduos ajudantes é considerada relativamente incomum e isso já representa, por si só, um razoável custo para os que adotam essa estratégia (LUNDY et al., 1998).

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Diversos exemplos empíricos mostram que a ajuda tem custos energéticos para os ajudantes (CLUTTON-BROCK et al., 1998; TA-BORSKY; GRANTNER, 1998; ACHENBACH; SNOWDON, 2002). Os custos incluem redução na condição corporal e redução da sobrevi-vência e reprodução futuras. Portanto, o com-portamento de ajuda provavelmente tem um efeito cascata sobre todo o tempo de vida do indivíduo e não apenas dentro de uma esta-ção reprodutiva.

Clutton-Brock et al. (1998) estudaram o comportamento cooperativo em suricates (Suricata suricatta). Foram observados 28 gru-pos, variando em tamanho de dois a 27 indiví-duos. Nessa espécie, os adultos reprodutores raramente contribuem no cuidado com os filhotes, o que é feito pelos machos e fême-as subordinados. Esses indivíduos ficam com os filhotes nas tocas e sua presença fornece proteção contra predadores, além de reduzir a perda de calor pelos filhotes. Os ajudantes normalmente permanecem dentro das tocas durante todo o dia, sem sair para forragear e esse comportamento tem altos custos ener-géticos sob a forma de perda de peso, que pode chegar de 6% a 11% do peso do corpo.

Achenbach e Snowdon (2002) também mostraram perda de peso dos machos adul-tos após o nascimento dos filhotes no prima-ta Saguinus oedipus. Machos em grupos com menos ajudantes perderam significativamen-te mais peso do que machos de grupos com mais ajudantes. Os resultados sugerem que o cuidado com os filhotes é energeticamente custoso e a presença de mais indivíduos para dividi-lo diminui os custos individuais para os que participam dessa função.

Um exemplo de reprodução cooperati-va em peixes é dado por Taborsky e Grantner (1998), que estudaram os gastos energéticos dos ajudantes associados a tipos específicos de comportamento de ajuda na espécie Ne-olamprologus pulcher. Os gastos para os aju-

dantes são altos e o comportamento apresen-tado por esses indivíduos serve para manter o status social no grupo. Os gastos de energia associados à ajuda são, em parte, responsá-veis pela reduzida taxa de crescimento dos ajudantes.

De acordo com Heinsohn e Legge (1999), os benefícios da ajuda se encaixam em duas categorias principais: (1) aumento da produ-ção de parentes não-descendentes (benefí-cios indiretos); e (2) aumento da probabilida-de de sobrevivência ou de reprodução direta imediata ou futura (benefícios diretos). Os benefícios diretos incluem aumento do prestí-gio social, aumento da qualidade do território ou do grupo através do aumento da produti-vidade dos membros do grupo, formação de alianças que ajudam em situações competiti-vas, aumento de experiência para reprodução futura.

Benefícios indiretos estão relacionados à ajuda na criação de parentes, através da qual os ajudantes passam seus genes para a gera-ção futura. A habilidade de reconhecimento de parentes é, portanto, uma característica essencial para maximizar a aptidão indireta (KOMDEUR; HATCHWELL, 1999).

Mumme (1992) afirma que a cooperação na ave Aphelocoma coerulescens não tem ne-nhum efeito detectável na sobrevivência dos ajudantes durante a estação reprodutiva, de modo que os custos do comportamento de ajuda nessa espécie são baixos. Por outro lado, como a ajuda é normalmente direcionada a indivíduos aparentados, os não-reprodutores aumentam o componente indireto de sua ap-tidão ao atuarem como ajudantes, fazendo com que os benefícios lhes sejam altos.

Hatchwell et al. (1999) estudaram se as características do local de nidificação influen-ciam o sucesso reprodutivo e se a experiên-cia influencia a seleção do local do ninho na ave Aegithalos caudatus. A altura dos ninhos é um fator importante para o sucesso repro-

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dutivo: ninhos construídos em alturas mais baixas tiveram significativamente mais êxito do que ninhos mais altos (23% dos ninhos em até 2,25m de altura do solo tiveram sucesso, contra apenas 4% dos ninhos acima dessa altura). Se falhar na reprodução, o indivíduo pode se tornar um ajudante no ninho de pa-rentes, auxiliando no cuidado com os filhotes. Indivíduos que reproduziram sem sucesso e ajudaram ninhos que tiveram êxito constru-íram posteriormente ninhos mais baixos do que antes de ajudarem. Já indivíduos que fa-lharam na reprodução e não atuaram como ajudantes não reduziram a altura dos ninhos subseqüentes. Além disso, reprodutores que falharam e ajudaram, obtiveram sucesso re-produtivo subseqüente significativamente maior do que os reprodutores que falharam e não ajudaram (43% dos indivíduos que fa-lharam na reprodução e ajudaram obtiveram sucesso, enquanto nenhum dos reprodutores “não-ajudantes” conseguiu êxito na estação reprodutiva seguinte). Hatchwell et al. (1999) concluíram, então, que os ajudantes ganham informação sobre a qualidade do local de nidi-ficação através de sua experiência como aju-dantes. Do seu comportamento cooperativo auferem benefícios diretos de aptidão.

evidênCiAs expeRimentAis

Uma correlação entre a presença de aju-dantes e o sucesso reprodutivo do grupo não mostra necessariamente que ajudantes aju-dam. Essa correlação pode surgir, por exem-plo, devido à boa qualidade do par reprodu-tor, capaz de produzir muitos filhotes a cada ano ou, ainda, devido à qualidade do territó-rio, que pode ser rico em recursos alimentares e refúgios contra predadores (KREBS; DAVIES, 1993). Para poder distinguir causa e efeito, são necessárias evidências experimentais, como, por exemplo, os trabalhos de Brown et al. (1982) e Mumme (1992).

Apesar de aparentemente os ajudantes

aumentarem o sucesso reprodutivo de suas unidades sociais, outras hipóteses não podem ser rejeitadas (BROWN et al., 1982). Uma vari-ável que pode estar correlacionada com o su-cesso reprodutivo é a qualidade do território; outro fator que pode contribuir nessa relação é a própria capacidade reprodutiva dos pais. Além disso, diversos estudos que falham em mostrar uma relação positiva entre ajudan-tes e sucesso reprodutivo são realizados com pequeno número de amostras. Brown et al. (1982) estudaram a ave Pomatostomus tem-poralis. Para determinar se a correlação entre sucesso reprodutivo e tamanho do grupo era causada pelo número de ajudantes ou por outras variáveis, 20 grupos sociais com apro-ximadamente o mesmo tamanho original (de seis, sete ou oito membros) foram separados em nove unidades experimentais, as que tive-ram os ajudantes removidos, e 11 unidades-controle. A comparação entre os controles e os grupos experimentais de mesmo tamanho original, com controle das variáveis correla-cionadas com tamanho do grupo, permitiu uma estimativa independente dos efeitos dos ajudantes sobre o sucesso reprodutivo. Os controles tiveram uma média de jovens mais de duas vezes maior do que os grupos expe-rimentais. Os resultados rejeitaram a hipótese de que a diferença no sucesso reprodutivo entre os controles e os grupos experimentais seja resultado do tamanho original do grupo. Comparando-se as unidades experimentais com unidades naturais formadas por dois ou três membros, controlando-se o número de ajudantes, estimaram-se os efeitos de outros fatores correlacionados com o tamanho origi-nal do grupo. Nesse caso, o sucesso reproduti-vo dos dois grupos foi bastante similar, permi-tindo concluir que variáveis correlacionadas com o tamanho do grupo não tiveram influ-ência significativa nas diferenças entre grupos naturais de dois ou três membros e grupos de seis, sete ou oito membros. Brown et al. (1982)

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concluíram que a correlação positiva entre sucesso reprodutivo e número de ajudantes é causada pela presença de ajudantes ou pela interação entre eles e alguma outra variável.

Mumme (1992) testou se a presença dos indivíduos não-reprodutores (ajudantes po-tenciais) tinha efeito positivo sobre o sucesso reprodutivo dos reprodutores, independente de outras variáveis, como qualidade do territó-rio e qualidade dos pais, e se esse efeito podia ser atribuído à ajuda dada pelos não-repro-dutores. Esse autor realizou experimentos de remoção de ajudantes em grupos sociais da espécie Aphelocoma coerulescens. Não foram detectadas diferenças significativas na sobre-vivência dos reprodutores nem nas caracterís-ticas reprodutivas básicas dos grupos (produ-ção de ovos, sucesso de incubação, tamanho da ninhada) entre os grupos experimentais e os grupos-controle. Entretanto, os grupos ex-perimentais apresentaram maiores taxas de predação dos filhotes e menores taxas de so-brevivência dos jovens, resultando, em média, em menor produção de jovens pelos grupos experimentais. Os resultados indicam que é o próprio comportamento de ajuda, e não a simples presença de indivíduos não-reprodu-tores no grupo, o responsável pelo maior su-cesso reprodutivo (medido como número de jovens produzidos e número de sobreviven-tes que alcançam 60 dias de idade por família) observado nos grupos-controle.

Mumme (1992) alerta que, embora pos-sam clarificar as relações entre a presença de ajudantes e o sucesso reprodutivo, expe-rimentos de remoção não estão totalmente isentos de falhas. Por exemplo, a ruptura so-cial causada pela remoção de indivíduos de grupos integrados pode ser um problema: o menor sucesso reprodutivo dos grupos expe-rimentais é causado pela ausência de ajudan-tes ou é um efeito colateral da ruptura social causada pela remoção de indivíduos perten-centes a esse grupo? Entretanto, no estudo de

Mumme (1992), os dados não suportam essa idéia, pois não houve diferenças significativas na sobrevivência, esforço reprodutivo e suces-so de incubação. Se a ruptura social fosse um problema, seriam esperados efeitos mais ime-diatos, como um atraso no início da reprodu-ção ou abandonos no início da incubação.

Apesar de diversos estudos mostrarem os efeitos dos ajudantes sobre o sucesso re-produtivo (BROWN et al., 1982; WRIGHT, 1998), também são encontrados exemplos que não mostram tal efeito. Por exemplo, Magrath e Yezerinac (1997) estudaram a ave Sericornis frontalis e não encontraram nenhum efeito do comportamento de ajuda sobre o sucesso reprodutivo. Outro exemplo é o trabalho de Eguchi et al. (2002). Esses autores compararam o sucesso reprodutivo de pares reprodutores que tinham ajudantes com pares que repro-duziram sozinhos na ave Schetba rufa. Nem a presença de ajudantes por si, nem o com-portamento de ajuda aumentaram o sucesso reprodutivo dos pares reprodutores. Eguchi et al. (2002) sugerem que a qualidade do par reprodutor e/ou a qualidade do território po-dem afetar o sucesso reprodutivo e, como re-sultado, aumentar o número de ajudantes.

Um aspecto particular do comporta-mento de ajuda, a alimentação dos filhotes no ninho, foi estudado por Brown et al. (1978) e por Wilkinson e Brown (1984), com resulta-dos diferentes. Brown et al. (1978), estudando a espécie Pomatostomus temporalis, testaram a hipótese de que os filhotes auxiliados por mais ajudantes são alimentados com maior freqüência do que aqueles que têm menos ajudantes, levando a um maior sucesso do ninho com mais ajudantes. No entanto, essa hipótese foi rejeitada, uma vez que a taxa to-tal de alimentação não foi influenciada pelo número de ajudantes. Já Wilkinson e Brown (1984) mostraram que a taxa de alimentação dos filhotes aumenta com o aumento do nú-mero de ajudantes na espécie Spreo pulcher.

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Entretanto, não foi possível concluir que esse aumento tem efeitos positivos sobre o suces-so reprodutivo.

Em mamíferos, o comportamento de reprodução cooperativa já foi descrito em diversos táxons. Atividades de ajuda incluem alimentação, higiene (limpeza dos pêlos, ca-tação), cuidado com os filhotes, ajuda aos fi-lhotes em perigo, auxílio na termorregulação e amamentação de filhotes do par reprodutor (JENNIONS; MACDONALD, 1994).

Alguns estudos com mamíferos mos-tram evidências do desenvolvimento da re-produção cooperativa por limitação de terri-tórios adequados, enquanto outros sugerem que esse comportamento é favorecido pelos benefícios da filopatria. Em algumas espécies, como o cão selvagem africano (Lycaon pictus), o mangusto-anão (Helogale parvula) e prima-tas do gênero Saguinus, os custos energéticos da reprodução são tão altos que um par sozi-nho é incapaz de se reproduzir com sucesso. Dessa forma, os ajudantes se tornam um re-curso necessário e a reprodução cooperativa é um comportamento obrigatório. Esse fato também pode atuar como uma limitação filo-genética, explicando a freqüente ocorrência desse comportamento em certos táxons (JEN-NIONS; MACDONALD, 1994).

Assim como em aves, a decisão para ma-míferos de se dispersar e se reproduzir ou de atrasar a dispersão e ajudar baseia-se na ma-ximização da aptidão inclusiva, que é influen-ciada pela relação entre os benefícios da filo-patria e os custos da dispersão.

ConClusões

Os sistemas de reprodução cooperati-va em diferentes espécies tornaram-se um dos principais temas no estudo da ecologia do comportamento animal. Inicialmente, tal comportamento era considerado como altru-ísta, porém estudos mais recentes demons-tram que os indivíduos envolvidos podem

estar defendendo interesses próprios com uma estratégia aparentemente altruísta e, na verdade, todos os envolvidos têm custos e be-nefícios com o comportamento. Conflitos de interesses são esperados entre indivíduos de um grupo social e são valiosos para se testar a evolução do comportamento social. O indi-víduo sempre tem como objetivo maximizar sua aptidão individual, seja reproduzindo ou adotando uma estratégia de cooperação. Um desafio importante para a compreensão da re-produção cooperativa é a confirmação da ten-dência de que machos e fêmeas ajudam por interesses diferentes. As fêmeas ajudam tendo em vista os benefícios da maior produção de filhotes sobre a sua aptidão inclusiva. Os ma-chos ajudam na busca de benefícios diretos. A maior freqüência de ocorrência de filopatria e herança do território pelos machos sugere que eles permanecem porque têm mais a ga-nhar através do prestígio social, aumento do tamanho do território ou acesso direto à prole. Uma vez que machos ajudantes são mais co-muns do que fêmeas, sugere-se que a repro-dução cooperativa é dirigida por benefícios diretos para os ajudantes e não por melhorias do fitness inclusivo (HEINSOHN; LEGGE, 1999).

As diversas hipóteses existentes para tentar explicar o desenvolvimento da coope-ração mostram que este ainda é um assunto bastante controverso. Além disso, a observa-ção de conflitos de interesse entre indivíduos dentro de um mesmo grupo indica que este é um campo de estudo que ainda tem muito a ser explorado.

O desenvolvimento de técnicas mais recentes, como o DNA-fingerprinting, tem se mostrado uma importante ferramenta para o estudo do comportamento. O uso do DNA-fingerprinting para se determinar graus de pa-rentesco, paternidade e relações genéticas en-tre indivíduos pode ser uma importante ajuda para a elucidação dos diferentes fatores que favorecem o comportamento cooperativo.

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AgRAdecimentos

Agradecemos ao revisor anônimo, cujos comentários e sugestões melhoraram a versão ori-ginal do artigo. Daniel Brito é bolsista de doutorado da Fapemig e agradece o apoio da Fundação Biodiversitas e do U.S. Fish and Wildlife Service.

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Reprodução cooperativa: ajudar ou não ajudar, eis a questão

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Bios, Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v. 12, n. 12, p. 25-36, dez. 2004 25

Morfometria e qualidade de água em viveiros seqüenciais de criação de peixes:

Centro de Aqüicultura, Jaboticabal, SP

Morphometry and water quality in continuous water flow fish ponds: Aquaculture Center, Jaboticabal, SP

CARLA FERNANDES MACEDO Programa de Pós-graduação, Unesp/CAUnesp

LÚCIA HELENA SIPAÚBA-TAVARESUnesp/CAUnesp1

ResumoForam estudados seis viveiros de criação semi-intensiva de peixes que receberam efluentes de outros tanques em paralelo. As variáveis determinadas foram pH, condutividade elétrica, temperatura, oxigênio dissolvido, carbono inorgânico, alcalinidade e material em suspensão, além da morfometria dos viveiros de peixes. A área superficial e profundidade máxima entre os viveiros variaram de 1822,31 a 8067,08m2 e 2,03 a 4,00m, respectivamente. A distribuição seqüencial dos mesmos proporcionou um aumento gradativo nas concentrações dos parâmetros limnológicos, com exceção do CO2 livre. Os resultados indicam a necessidade de práticas de manejo ambiental através do desvio dos efluentes dos tanques em paralelo.Palavras-chave: Morfometria; Qualidade de água; Viveiros; Aqüicultura.

AbstRActSix semi-intensive fish ponds that received effluents from other parallel ponds were studied. The determined variables were pH, electrical conductance, temperature, dissolved oxygen, inorganic carbon, alkalinity and suspended matter, in addition to the morphometry of the fish ponds. The surface area and maximum depth among the fish ponds varied from 1822.31 to 8067.08m2, and from 2.03 to 4.00m, respectively. The sequential distribution provided a gradual increase in the limnological parameters concentrations, with the exception of free CO2. Results point to the need for environmental management practices through effluent diversion from parallel tanks.Key words: Morphometry; Water quality; Fish ponds; Aquaculture.

1. Correspondência para: Dra Lúcia H. Sipaúba-Tavares, Unesp/CAUnesp, Via de Acesso Prof. Paulo D. Castellane s/n, Cep 14884-900, Jaboticabal, São Paulo, Brasil, e-mails: [email protected], [email protected].

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Macedo, C.S.; Sipaúba-Tavares, L.H.

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Um dos aspectos mais importantes e complexos da aqüicultura envolve a permanência da sustentabilidade em

viveiros com condições adequadas de quali-dade da água. Soma-se a isso crescente ex-pansão da piscicultura, tornando necessário um manejo adequado para a produção de uma biomassa de alta qualidade no merca-do.

A qualidade da água em sistemas artifi-ciais de criação de peixes é influenciada pelas características físicas, químicas e biológicas, além da morfometria e profundidade dos vi-veiros. O manejo empregado na manutenção do estoque de produção também afeta as condições limnológicas dos viveiros e, de acor-do com Panosso, Attayde e Muehe (1998), os padrões hidrodinâmicos dos sistemas aquáti-cos são influenciados, em grande parte, pelas características morfológicas e especialmente pelo tamanho, topografia e profundidade dos viveiros.

Muitos sistemas funcionam de forma que o excesso de detrito acumulado no fundo dos viveiros e tanques de criação de peixes seja removido e lançado no próximo viveiro sem tratamento prévio. Esse fato determina uma mudança na biota aquática e, conseqüente-mente, uma eutrofização desses sistemas de criação de peixes, onde o aparecimento de floração algal intensa pode, em muitos casos, acarretar morte de peixes e queda na produ-ção (BOYD; QUEIROZ, 1997).

Uma produção satisfatória de peixes está diretamente relacionada à manutenção das variáveis limnológicas em condições adequa-das. A qualidade da água na criação de peixes pode tornar-se limitante devido a flutuações cíclicas diárias, resultantes dos diferentes pro-cessos do sistema aquático e ainda pelo acú-mulo de certas substâncias que podem afetar os organismos cultivados (SIPAÚBA-TAVARES et al., 1998).

A deterioração na qualidade da água em

viveiros de peixes pode causar redução de oxigênio dissolvido, poluição visual, aumento nos custos de tratamento da água, aumento na incidência de plantas aquáticas e florações de cianobactérias. Em geral, os viveiros man-têm estoque de pequenos animais em alta densidade, crescimento rápido e com efeito imediato nos fatores ambientais devido à di-nâmica dos sistemas artificiais de criação de peixes (TUNDISI, 2003; BOYD; QUEIROZ, 1997). Dessa maneira, o estudo avaliou a influência da disposição seqüencial de viveiros de cria-ção de peixes em parâmetros limnológicos, buscando alternativas para minimizar os im-pactos através do manejo adequado e susten-tável desses viveiros.

MAteriAl e MétodoSÁrea de estudo e período de coleta

O trabalho foi desenvolvido em viveiros de cultivo semi-intensivo de peixes do Centro de Aqüicultura da Unesp. O sistema apresen-tou-se em forma seqüencial, a água de um passando diretamente para o próximo viveiro. Os viveiros 2, 3, 4 e 5 receberam água prove-niente de tanques dos setores de manutenção de reprodutores, nutrição, ranicultura e pisci-cultura, e carcinicultura, respectivamente (FIG. 1). O efluente de todo o conjunto de viveiros desaguou no córrego Jaboticabal, afluente do rio Mogi-Guaçu.

As amostras de água foram coletadas no ponto de entrada de cada viveiro com um balde de 10 litros e acondicionadas em galões com capacidade de cinco litros para análise em laboratório das variáveis limnológicas. A amostragem foi realizada em dias alternados durante um mês, perfazendo 15 dias para cada ponto em dois períodos distintos do ano, chuva e seca. Foi determinado um total de nove pontos, sendo: W = nascente; F1 - F6 = seis viveiros. Somente os viveiros F3 e F5 apre-sentaram duas entradas, que foram denomi-nadas F3a, F3b, F5a e F5b, respectivamente.

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Aspectos gerais e dados morfométricos e climáticos dos viveiros

Nos viveiros F1, F2 e F5, Eichhornia crassi-pes é a principal macrófita aquática flutuante que, de acordo com o sentido e a força do ven-to, desloca-se acumulando em sítios variáveis da margem dos viveiros. Entre as espécies de peixes encontradas nos viveiros, estão: lamba-ri (Astyanax sp.), matrinxã (Brycon cephalus), piracanjuba (Brycon orbignyanus), pintado (Pimelodus sp.), tilápia (Oreochromis niloticus), pacu (Piaractus mesopotamicus), tambaqui (Colossoma macropomum) e carpa (Cyprinus sp.) (TAB. 1).

tABelA 1Macrófitas e peixes encontrados em maior

abundância em cada um dos viveiros estudados.

Viveiros Macrófitas Peixes

F1

Flutuantes, emersas e submersas (Eichhornia

crassipes, Typha sp. e Ege-ria sp., respectivamente)

lambari e ma-trinxã

F2 Flutuantes matrinxã e pintado

F3 Ausentes tilápia e pacu

F4 Ausentestilápia, pacu,

tambacu, ma-trinxã

F5 Emersastilápia, pacu,

tambacu, carpa, piauçu

F6 Ausentescarpa, tam-

baqui, tilápia, piracanjuba

As coordenadas topográficas foram ob-tidas por Estação Total Eletrônica e GPS Trin-ble modelo 4600Ls, para confecção dos ma-pas utilizados para obtenção dos parâmetros morfológicos dos viveiros pelo departamento de Engenharia Rural da FCAV. Os pontos fo-ram distribuídos de acordo com as metodolo-gias propostas por Cole (1979) e Lind (1979). Foram calculados o volume (V), área superfi-cial (A), perímetro (P), comprimento máximo

FiGUrA 1 – Disposição seqüencial dos viveiros. P=Pontos de amostragem, F1 - F6=Viveiros, W=Nascente, A=Lab. de Peixes Ornamentais, B=Lab. de Limnologia e Produção de Plâncton, C=Lab. de Nutrição, D=Lab. de Patologia, E=Setor de Ranicultura, F=Setor de Piscicultura, G=Setor de Carcinicultura, H=Saída de Água, I= Biofiltro de Macrófitas.

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efetivo (Ce), largura máxima efetiva (Le), pro-fundidade máxima (Zm), profundidade mé-dia (Z), profundidade relativa (Zr), índice de desenvolvimento de margem (DL), índice de desenvolvimento de volume (DV) e a relação entre a profundidade média e a profundidade máxima de cada viveiro (Z/Zm) (TAB. 2).

Os dados meteorológicos referentes à temperatura média diária e mensal, umidade relativa, precipitação e número diário de ho-ras de sol foram obtidos pelo Departamento de Ciências Exatas da FCAV.

Variáveis físicas e químicas

As variáveis limnológicas determina-das in situ e registradas em cada ponto de amostragem foram: oxigênio dissolvido, pH, temperatura e condutividade, medidos pelo oxímetro, pHmetro, termístor e condutiví-metro do Horiba U-10, respectivamente, al-calinidade por titulometria potenciométrica (MACKERETH et al., 1978), carbono inorgânico por cálculos a partir das variáveis pH e tempe-ratura (MACKERETH et al., 1978), material em suspensão por gravimetria (GREENBERG et al., 1992) e velocidade do vento (anemômetro Lutron AM-4201).

Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas para verificar variação na água de entrada através da comparação entre viveiros e entre alta e baixa produção, que correspondem aos períodos de chuva e seca, respectivamente. Para variáveis com distribuição de probabi-lidade normal ou quase normal foi utilizado método paramétrico. Nas variáveis em que esse requisito não existiu foram utilizados métodos não paramétricos. Nas variáveis com distribuição normal foi utilizado o teste Ano-va entre viveiros (agrupando-se os períodos), entre períodos (agrupando-se os viveiros) e a interação entre os referidos parâmetros. Para as variáveis que não apresentaram normalida-

de foram utilizados os testes Friedman (com-paração entre viveiros) e U de Mann-Whitney (comparação entre períodos) (SIEGEL, 1975). O nível de significância adotado foi de 5%.

reSUltAdoS

dados morfométricos

A configuração dos viveiros foi repre-sentada pelo índice de desenvolvimento de volume (Dv), que esteve próximo de 1,0 no vi-veiro F1 e demonstrou a forma mais aproxima-da de um cone no referido viveiro, juntamente com a razão profundidade média sobre pro-fundidade máxima (Z/Zm) (TAB. 2).

A área superficial dos viveiros variou de 1822,31m2 (F2) a 8067,08m2 (F3), e o índice de desenvolvimento de margem (DL) ficou entre 1,10 (F6) e 1,42 (F2), o que representou uma baixa irregularidade. O viveiro F3 apresentou a maior área e perímetro de 400,28m. Já o vivei-ro F2 apresentou a mais baixa Zm e o viveiro F4 a mais baixa Z. A profundidade relativa foi baixa em F3, F4 e F5, com os maiores valores obtidos em F1 e F6. Os maiores volumes foram encontrados em F3 e F5, e o menor volume foi obtido em F2 (TAB. 2).

Variáveis climáticas, físicas e químicas

As temperaturas mínimas e máximas diá-rias nos dois períodos de coleta foram 20,8ºC e 26,2ºC, 15,6ºC e 22,6ºC para os períodos de chuva e seca, respectivamente. A pluviosida-de média foi 4,43mm na chuva, sendo a má-xima obtida de 31,4 mm em um único dia. Os índices médios de umidade relativa do ar para chuva e seca foram 74,5% e 77,5%, respectiva-mente, com valores diários encontrados aci-ma de 60% de saturação. A duração média de horas de insolação obtida durante os períodos de coleta foram 7,7h e 6,9h para chuva e seca, respectivamente (FIG. 2).

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tABelA 2Dados morfométricos e batimétricos dos viveiros estudados (F1 - F6): V= volume;

A= área superficial; P= perímetro, Zm= profundidade máxima; Z= profundidade média, Zr= profundidade relativa, Ce= comprimento máximo efetivo, L= largura máxima efetiva; DL= índice de desenvolvimento de margem; DV= índice de desenvolvimento de volume.

Medidas F1 F2 F3 F4 F5 F6 UnidadeV 5208,00 2040,64 10487,23 4630,78 6804,84 4260,20 m3

A 3472,08 1822,31 8067,08 4268,04 5670,71 2506,88 m2

P 255,25 215,57 400,28 305,50 296,38 194,60 m

Zm 3,46 2,03 2,46 2,50 2,59 4,00 m

Z 1,49 1,12 1,30 1,08 1,20 1,70 m

Zr 5,5 4,21 2,42 2,84 2,81 5,27 %

Ce 97,7 84,5 145,4 110,5 108,5 63,0 m

Le 57,7 39,4 80,0 71,0 76,3 43,5 m

DL 1,22 1,42 1,26 1,32 1,11 1,10

DV 1,22 1,65 1,58 1,54 1,51 1,71

Z/Zm 0,41 0,55 0,53 0,51 0,50 0,57

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FiGUrA 2 – Temperatura média diária (°C), pluviosidade (mm), insolação (h) e umidade relativa (%) nos períodos de chuva (A) e seca (B).

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Macedo, C.S.; Sipaúba-Tavares, L.H.

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 25-36, dez. 200430

A velocidade média do vento foi maior em F5a e F5b, com 4,3 e 3,5m/s, e as menores velo-cidades médias foram observadas em F3b, com 0,7m/s, no período de chuva. Já no período de seca foram encontrados 2,6 em F4 e 3,0m/s em F5b, sendo as menores velocidades na nascente (W) no período de seca, com 0m/s.

A temperatura da água foi semelhante entre os viveiros, mas entre os períodos houve

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diferença significativa (p<0,05), com tempera-turas médias máximas de 27,2ºC e 23,7ºC nos períodos de chuva e seca, respectivamente. A concentração de oxigênio dissolvido foi maior que 5mg/L na maioria dos pontos e o menor valor médio de oxigênio dissolvido foi encon-trado no viveiro F4, no período de chuva. Já no período de seca, o menor valor médio foi ob-servado no viveiro F1 (FIG. 3, TAB. 3).

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Morfometria e qualidade de água em viveiros seqüenciais de criação de peixes: Centro de Aqüicultura, Jaboticabal, SP

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 25-36, dez. 2004 31

tABelA 3Teste Anova para variáveis com distribuição paramétrica dos dados para períodos, viveiros e

interação entre os parâmetros.

Parâmetros Período Viveiro InteraçãoAlcalinidade F=0,97

P>0,05F=130,79P<0,05

F=1,22P>0,05

Temperatura F=440,26P<0,05

F=1,52P>0,05

F=11,30P<0,05

Oxigênio dissolvido F=1,18P>0,05

F=0,76P>0,05

F=0,70P>0,05

Em geral, a condutividade apresentou um padrão de aumento gradativo do viveiro F1 em direção ao F5a, no período de chuva e, além disso, na nascente e em F1 foram encontrados os me-nores valores nos períodos chuva e seca. Não foram observadas diferenças significativas (p>0,05) entre os períodos. O valor mais elevado de pH foi 7,9 no viveiro F5b no período de chuva e os pontos W e F1 apresentaram-se ácidos nos dois períodos, com 5,5 e 5,9 na nascente e 6,5 e 6,1 no F1 nos períodos de chuva e seca, respectivamente. Não houve diferença significativa (p>0,05) entre os viveiros (FIG. 3, TAB. 3 e 4).

tABelA 4Teste de Friedman (Z2

0,05) e valores dos escores reduzidos (Zr2) para variáveis com distribuição

não-paramétrica dos dados nas entradas dos seis viveiros (mn= mediana), nos dois períodos estudados.

Parâmetros mnF1 mnF2 mnF3 mnF4 mnF5 mnF6 Zr2 Z2

0,05

Condutividade 35 92,5 82,5 132,5 136 114 50,66 P<0,05

pH 6,5 7,0 7,0 7,2 7,4 7,1 37,86 P<0,05

Carbonato 0,067 0,041 0,039 0,112 0,170 0,069 39,05 P<0,05

Bicarbonato 34,02 74,60 71,45 128,77 128,05 102,72 49,47 P<0,05

CO2 livre 16,68 7,80 11,66 11,81 7,15 12,70 34,95 P<0,05

CO2 total 52,19 96,63 84,04 139,76 135,05 113,71 36,47 P<0,05

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FiGUrA 3 – Oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, temperatura e pH nos períodos de chuva (A) e seca (B), onde: W = nascente; F1-F6 = entrada de água nos viveiros com média ± desvio-padrão.

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FiGUrA 4 – Formas de carbono inorgânico nos períodos de chuva (A) e seca (B), onde: W = nascente; F1-F6 = entrada de água nos viveiros com média ± desvio-padrão.

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A alcalinidade foi similar entre os dois períodos estudados (p>0,05). Já entre os viveiros foram observadas diferenças significativas. A alcalinidade foi menor na nascente e maior nos viveiros F4 e F5a, nos períodos chuva e seca, respectivamente. A forma predominante de carbono inorgânico foi o bicarbonato, com exceção da nascente onde o CO2 livre foi dominante, devido à acidez da água. De modo geral, as maiores concentrações de bicarbonato foram encontradas em F4 e o carbonato variou de 0,006mg/l a 0,698mg/l. As formas de carbono inorgânico não dife-riram significativamente (p>0,05) entre os períodos amostrados (FIG. 4, TAB. 4 e 5).

tABelA 5Teste de Mann-Whitney (U) e valores dos escores reduzidos (Z) para variáveis com distribuição não-paramétrica dos dados nos períodos de chuva (mnA= mediana) e seca (mnB= mediana).

Parâmetros mnA mnB Z UPrecipitação 6,20 0 -3,75 P<0,05

Condutividade 113 111 -0,44 P>0,05

pH 7,15 7,01 -1,07 P>0,05

Carbonato 0,08 0,05 -1,29 P>0,05

Bicarbonato 94,34 93,55 -0,39 P>0,05

CO2 livre 11,48 11,94 -1,05 P>0,05

CO2 total 105,92 105,44 -0,02 P>0,05

sólidos em suspensão

Na nascente só foram observados sólidos inorgânicos e os viveiros 1 e 3 apresentaram as menores concentrações de sólidos totais. No período de chuva, as concentrações de sólidos em suspensão foram baixas na nascente e nos viveiros os sólidos orgânicos e inorgânicos tiveram valores aproximados. No viveiro 5 os sólidos orgânicos alcançaram 30mg/L e foram observadas as maiores concentrações de sólidos totais, que alcançaram 24mg/L e 42mg/L nos períodos seca e chuva, respectivamente (FIG. 5).

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diSCUSSãoOs viveiros de peixes estudados são

ecossistemas artificiais com características morfométricas que influenciam na ação do vento sobre a coluna de água e os índices de desenvolvimento de margem próximos a 1(um) determinam margens não dendríticas que facilitam o manejo. As comunidades lito-râneas, o manejo empregado na alimentação dos peixes e o fluxo contínuo de água con-tribuem para a instabilidade e a eutrofização do sistema. Em geral, viveiros de piscicultura estão na capacidade máxima de suporte e qualquer desequilíbrio pode acarretar uma deterioração da qualidade da água (SIPAÚBA-TAVARES et al., 1998).

Como os viveiros de peixes possuem bai-xa profundidade, o vento e a chuva exercem importante influência na coluna de água e nas variáveis limnológicas. No sistema estudado, o fluxo contínuo de água pode tornar-se mais intenso no período de chuva e carrear mais partículas em suspensão para os viveiros sub-seqüentes. Boyd e Gross (1999) observaram a manutenção de um bom estoque de peixes em águas contendo normalmente de 25 a 80 mg/L de sólidos em suspensão. Os sólidos em suspensão nos viveiros foram influenciados pelo próprio ambiente, introduzidos via ali-mento ou ainda pela contribuição das chuvas. As concentrações elevadas de partículas em suspensão nos últimos viveiros foram influen-

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FiGUrA 5 – Concentrações de sólidos orgânicos, inorgânicos e totais em suspensão nos períodos de chuva (A) e seca (B), onde: W = nascente; F1-F6 = entrada dos viveiros estudados com média ± desvio-padrão.

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ciadas pelo carreamento de material dos di-versos tanques que deságuam no viveiro 4.

Os valores de condutividade observados por Sipaúba-Tavares et al. (2003) no viveiro F2, totalmente coberto com macrófitas flutuan-tes (Eichhornia crassipes), foram similares aos do presente estudo. A presença de macrófitas flutuantes, emersas e submersas no primeiro viveiro, foi influenciada pelo sombreamento das regiões litorâneas situadas a noroeste e sudeste do referido viveiro. Segundo Thomaz e Bini (1999), o desenvolvimento de macrófitas é influenciado por vários fatores, como pro-fundidade, declividade e velocidade da água, sendo o crescimento de macrófitas submersas predominante em ecossistemas oligotróficos ou mesotróficos.

As concentrações de oxigênio dissolvido foram encontradas acima de 60% de satura-ção ou 4 ou 5 mg/L nos viveiros e, de acordo com Mitchell (1998) e Masser et al. (1999), são ideais para um bom crescimento de peixes. No período de chuva, o valor médio mais bai-xo de oxigênio dissolvido encontrado em F4 pode estar relacionado às concentrações e de-composição de material orgânico das descar-gas provenientes diretamente da ranicultura e dos vários tanques paralelos de peixes.

Mitchell (1998) observou que níveis de CO2 acima de 70mg/L são letais e abaixo de 20mg/l são mais adequados à produção em viveiros de criação de peixes. No presente es-tudo, com exceção do primeiro viveiro, em to-dos os outros as concentrações mantiveram-se nos níveis recomendados.

Boyd e Queiroz (1997) observaram que, em viveiros de água doce, a alcalinidade to-tal mínima deve ser 20mg/l e uma variação de 50-200mg/l tem grande probabilidade de sucesso na criação de peixes. No presente es-tudo, com exceção dos dois primeiros viveiros, em todos os outros a condutividade foi eleva-da e a alcalinidade esteve dentro do recomen-dado para a criação de peixes. Em função do

pH da água e da alcalinidade, o bicarbonato foi a forma dominante entre os carbonos inor-gânicos, com exceção do primeiro viveiro, em que o CO2 livre predominou, devido ao pH áci-do desse local. O efeito do fluxo contínuo dos viveiros sem tratamento prévio levou a um aumento da condutividade, como também da alcalinidade, que atingiu valores médios acima de 100mg/L nos viveiros F4 e F5.

De acordo com Boyd e Queiroz (1997), a qualidade da água deteriora rapidamente com concentrações de alimento acima de 100 a 120 kg/ha/dia. No sistema estudado todos os viveiros foram influenciados pelo manejo, onde foram introduzidos em média 20 kg/ha/dia de ração.

A complexidade do sistema favoreceu um aumento da condutividade, alcalinidade e bicarbonato nos últimos viveiros, a partir do F3. Recomenda-se o desvio dos efluentes dos tanques em paralelo e um tratamento prévio, principalmente antes dos viveiros 4 e 5, devi-do ao aumento das variáveis limnológicas no sistema estudado.

AGrAdeCiMentoS

Ao CNPq pela concessão da bolsa de doutorado (Processo 140280/00-6) e auxílio financeiro à pesquisa. À técnica de laboratório Silvia R. L. de Laurentiz, pelo auxílio nas análi-ses laboratoriais, e ao Prof. Dr. Francisco M. de S. Braga, pelas análises estatísticas.

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Macedo, C.S.; Sipaúba-Tavares, L.H.

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 25-36, dez. 200436

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Aspectos reprodutivos e indução da desova de Salminus hilarii Valenciennes, 1850 (Pisces:

Characiformes, Characidae) da bacia do rio São Francisco

Reproductive aspects and spawning induction of Salminus hilarii Valenciennes, 1850 (Pisces: Characiformes, Characidae) from the São

Francisco river basin

Yoshimi sato1

Edson ViEira sampaioEstação de hidrobiologia e piscicultura de três marias, Codevasf

nElsY FEnEriCh-VEraniJosé robErto VErani

departamento de hidrobiologia, Universidade Federal de são Carlos

ResumoSalminus hilarii é peixe carnívoro e de desova total. reprodutores foram submetidos a reprodução artificial pelo método de hipofisação. machos e fêmeas receberam dose única de extrato bruto de hipófise de carpa comum (3,0 e 6,0mg/kg de peso corporal, respectivamente). a extrusão dos ovócitos ocorreu 7,5h após a injeção de hipófise, estando a água a 26ºC. das fêmeas, 70% desovaram e a taxa média de fertilização dos ovos foi de 55%. os ovos são livres, opacos, demersais, esféricos, de coloração esverdeada ou marrom e contendo em média 1.322 ovos/g de ova.Palavras-chave: Salminus hilarii; reprodução; hipofisação; rio são Francisco.

AbstRActSalminus hilarii is a carnivorous fish that has total spawning. the fish were submitted to artificial reproduction by the hypophysation method. a single dose of crude carp pituitary extract was injected into males and females (3 and 6 mg/kg respectively) that were maintained in water at 26ºC. the extrusion of oocytes was made 7.5h after the hypophisis injection. seventy percent of the females showed a positive response to the treatment and the mean oocyte fertilization rate was 55%. in average, there were 1,322 eggs/g of ova. the eggs were free, opaque, demersal, spherical and had a greenish or brownish coloration. Key words: Salminus hilarii; reproduction; hypophysation; são Francisco river.

1. Correspondência para: Yoshimi sato, Estação de hidrobiologia e piscicultura de três marias, Codevasf, Caixa postal 11, CEp 39205-000, três marias, mG, e-mail: [email protected]

Bios, Cadernos do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas, v. 12, n. 12, p. 37-43, dez. 2004 37

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Sato, Y.; Sampaio, E.V.; Fenerich-Verani, N.; Verani, J.R.

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 37-43, dez. 200438

Salminus hilarii Valenciennes, 1850 é conhecido vulgarmente por dourado branco, tabarana e gitubarana. apre-

senta ampla distribuição geográfica: bacias do são Francisco, alto paraná, tocantins, alto amazonas e orinoco (lima, 2003). atinge porte de 2,5-2,8kg e 43-50cm (maGalhÃEs, 1931; martin, 1933/34; lima, 2003). apresen-ta desova total e reproduz entre novembro e fevereiro (martin, 1933/34; nomUra, 1973; GodoY, 1975; andradE et al., 1985; 1989). é peixe carnívoro (piscívoro) e apreciado na pes-ca esportiva.

sobre reprodução induzida de espécies do gênero Salminus, têm-se as referências: S. maxillosus (morais Filho; sChUbart, 1955; amUtio et al., 1986; Zaniboni Filho; bar-bosa, 1996; dUmont-nEto et al., 1997) e S. brasiliensis (sato et al., 1997; sato, 1999; sato et al., 2003).

na bacia do são Francisco atualmente S. hilarii é raro, provavelmente devido a vários fatores de degradação ambiental, daí a neces-sidade de se conhecer melhor a sua biologia e desenvolver técnicas de propagação artificial para a preservação dessa espécie.

neste trabalho são apresentados dados obtidos da indução artificial da reprodução de S. hilarii da bacia do são Francisco, na Estação de hidrobiologia e piscicultura de três marias, da CodEVasF, nos anos de 1996 e 1997.

MAteRiAl e MétodoS

Foram utilizados oito machos e dez fê-meas de S. hilarii, que estavam estocados em viveiro de terra de 1.000m2, com profundi-dade média de 1m, na densidade de 1kg de peixe/10m2. os reprodutores foram alimen-tados ad libitum com alevinos de curimatãs (Prochilodus argenteus e P. costatus) e piabas (Astyanax sp.).

a seleção dos reprodutores à hipofisa-ção baseou-se nas seguintes características: fêmeas com ventre abaulado, papila urogeni-

tal saliente e avermelhada; machos liberando sêmen sob leve pressão abdominal e com es-pículas nos raios da nadadeira anal.

após a seleção, os peixes foram coloca-dos em tanques de alvenaria de 3,0 x 1,0 x 0,8m, com renovação constante da água, cuja temperatura foi mantida a 26ºC.

a reprodução foi induzida pelo método de hipofisação (ihErinG, 1937). Foi utilizado extrato bruto de hipófises de carpa-comum (Cyprinus carpio) (EbhC), injetado na cavidade celomática. machos e fêmeas receberam dose única de EbhC (3,0mg e 6,0mg/kg de peixe, respectivamente).

a extrusão dos ovócitos e a coleta de sêmen foram executadas manualmente, comprimindo-se levemente o abdome dos peixes. o momento da desova foi estimado pelo cálculo: horas-grau à extrusão dos ovóci-tos = tempo necessário para a desova a partir da aplicação de EbhC (em h) x temperatura da água (em ºC).

a incubação dos ovos foi feita em incu-badoras de 60l, em forma de funil, modelo Woynarovich (WoYnaroViCh, 1986), com cir-culação constante de água, cuja temperatura manteve-se em 24oC. nas incubadoras as va-zões da água variaram de 2 a 5l/min, cujo au-mento foi efetuado após o estádio de fecha-mento do blastóporo. as incubadoras recebe-ram cerca de 50 g de ovos. a água dos tanques de reprodução e das incubadoras apresentou as seguintes características: oxigênio dissolvi-do = 5,5-6,5mg/l, ph = 6,0-7,0 e condutivida-de = 50-75µs/cm.

das fêmeas registraram-se: comprimen-to total (lt, cm), peso corporal (Wt, g), peso dos ovócitos extruídos (g), número dos ovó-citos extruídos/g de ova, peso dos ovócitos livres não extruídos e remanescentes nas gô-nadas após a desova (g), diâmetros dos ovos não-hidratado e hidratado (µm), diâmetro do saco vitelino (µm), espaço perivitelino (µm), espessura do córion (µm), coloração e adesi-

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Aspectos reprodutivos e indução da desova de Salminus hilarii Valenciennes, 1850 (Pisces: Characiformes, Characidae) da bacia do rio São Francisco

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vidade dos ovos, taxa de fertilização dos ovos (%), peso das gônadas (WG = peso dos ovó-citos extruídos + peso dos ovócitos livres não extruídos, g), índice gonadossomático (iGs = WG.100/Wt, %), fecundidade absoluta (Fa) (número de ovócitos extruídos + número de ovócitos livres não extruídos, após a desova), fertilidades inicial (Fi) e final (FF) (respectiva-mente, número de ovócitos extruídos e o nú-mero de ovos fertilizados), horas-grau à eclo-são das larvas (tempo necessário para a eclo-são das larvas a partir da fertilização dos ovos, h x temperatura da água, oC), comprimento total das larvas recém-eclodidas (µm), tipo de movimento da larva na coluna da água, pre-sença ou não do órgão adesivo na cabeça da larva e tempo para formação das pós-larvas (estágio onde a boca e o intestino estão aber-tos, d). Fecundidade relativa, fertilidade inicial relativa e fertilidade final relativa foram esti-madas em relação ao comprimento total e ao peso corporal das fêmeas.

as medidas dos diâmetros dos ovos (não hidratado e hidratado), da largura do vitelo, da largura do espaço perivitelino e da espessura do córion foram efetuadas no estádio de blás-tula ou blástula alta (hisaoKa; battlE, 1958).

as terminologias de larva e pós-larva aplicadas neste trabalho foram as adotadas por Woynarovich e horváth (1980).

dos machos foram registrados: compri-mento total (lt, cm), peso corporal (Wt, g), emissão de sons (vocalização) e presença ou não de espículas nos raios da nadadeira anal.

ReSultAdoS e diSCuSSão

os peixes estocados no viveiro estavam em condições de serem submetidos à hipo-fisação de novembro a fevereiro. nessa espé-cie as fêmeas aparentemente atingem porte maior que os machos.

o critério de seleção dos reprodutores à hipofisação, considerando-se fêmeas com ventre abaulado, papila urogenital saliente e

avermelhada e machos liberando sêmen sob leve pressão abdominal e com espículas nos raios da nadadeira anal, foi anteriormente uti-lizado por dumont-neto et al. (1997) para S. maxillosus e por sato et al. (1997) para S. bra-siliensis, com resultados satisfatórios. isso de-monstra que esse critério de escolha, pouco traumatizante aos peixes, pode ser adotado na prática da reprodução artificial, principal-mente às espécies frágeis ao manejo como S. hilarii e outras espécies de Salminus.

durante o tratamento, os peixes tor-naram-se agressivos. os maiores atacaram constantemente os menores, ferindo-os com remoção de escamas. Em conseqüência, cada fêmea foi mantida isolada. nessa situação, elas mantiveram-se praticamente imóveis no tanque e somente poucos minutos antes da ovulação começaram com movimentos de um lado para o outro. os machos não emiti-ram sons e movimentaram-se praticamente durante todo o tratamento.

o comportamento das fêmeas de efetu-ar movimentos (deslocamentos) no tanque de reprodução somente poucos minutos an-tes da ovulação, quando mantidas isoladas, facilitou a percepção do momento propício para se efetuar a extrusão dos ovócitos. sato et al. (1997) também observaram tal compor-tamento em S. brasiliensis. a prática do isola-mento das fêmeas demonstrou ser útil, evi-tando a agressão e facilitando a sinalização do momento da desova.

Cerca de 70% das fêmeas submetidas à hipofisação responderam ao tratamento com liberação de ovócitos viáveis. Esse resultado pode ser considerado satisfatório, compara-dos aos obtidos com outras espécies de Sal-minus, cuja variação foi de 50 a 83% (sato, 1989; santos et al., 1993; Zaniboni Filho; barbosa, 1996; sato et al., 1997; sato, 1999; sato et al., 2003).

a extrusão dos ovócitos das fêmeas de S. hilarii ocorreu a 195 horas-grau (tempo de

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Sato, Y.; Sampaio, E.V.; Fenerich-Verani, N.; Verani, J.R.

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duração = 7,5h; temperatura da água = 26ºC), após a aplicação de dose única de EbhC. o tempo necessário para se efetuar a extrusão dos ovócitos de S. hilarii com a aplicação de dose única de EbhC foi semelhante ao de S. brasiliensis (sato, 1999). os valores estimados de horas-grau à extrusão de ovócitos de re-presentantes de Salminus e de Brycon são os mais baixos, comparados com outras espécies reproduzidas artificialmente nas mesmas con-dições de temperatura da água (sato, 1999), indicando que a reação à hipofisação é mais rápida nesses grupos de peixes.

os principais resultados obtidos com S. hilarii neste trabalho estão apresentados na tab. 1.

os ovos apresentaram-se opacos, esféri-cos, com coloração verde-escura ou marrom, demersais, livres, sem a capa gelatinosa e com grande capacidade de hidratação em contato com a água. as características de ovos registra-das para S. hilarii são muito semelhantes às de S. maxillosus (ihErinG et al., 1928; maGalhÃEs, 1931; morais Filho; sChUbart, 1955; GodoY, 1975; hirt dE KUnKEl, 1985) e S. brasiliensis (sato et al., 1997; sato, 1999; sato et al., 2003).

tABelA 1dados obtidos do dourado branco Salminus hilarii Valenciennes, 1850, submetido a hipofisação na Esta-

ção de hidrobiologia e piscicultura de três marias, nos anos de 1996 e 1997.

parâmetro n média ± dp amplitudemaChos

Comprimento total (lt, cm) 8 23,8 ± 2,5 20,5 - 28,6

peso corporal (Wt, g) 8 141,5 ± 68,4 71,3 - 296,0

FÊmEas

Comprimento total (lt, cm) 7 28,3 ± 3,3 23,5 - 32,6

peso corporal (Wt, g) 7 258,7 ± 122,0 123,7 - 467,0

horas-grau à extrusão 7 195 ± 3 193 - 200

Índice gonadossomático (iGs, %) 7 15,27 ± 1,85 12,48 - 17,63

peso dos ovócitos extruídos. 100/Wt (%) 7 12,46 ± 1,96 10,21 - 15,38

número de ovócitos extruídos/g de ova 7 1.322 ± 84 1.203 – 1.401

medidas do ovo (µm)

diâmetro do ovo não-hidratado 100* 1.631,70 ± 55,86 1.480,29 – 1.739,99

diâmetro do ovo hidratado 100* 3.354,24 ± 258,51 2.895,45 – 3.820,80

diâmetro do saco vitelino 100* 1.473,69 ± 74,90 1.343,25 – 1.641,75

Espaço perivitelino 100* 937,84 ± 111,47 714,37 – 1.147,17

Espessura do córion 100* 2,43 ± 0,38 2,03 - 3,04

taxa de fertilização dos ovos (%) 7 54,84 ± 9,34 42,80 - 68,50

Fecundidade absoluta - Fa 7 53.080 ± 26.676 22.134 – 96.109

Fertilidade inicial – Fi 7 42.539 ± 19.926 18.098 – 75.934

Fertilidade final – FF 7 22.935 ± 10.746 10.056 – 41.080

horas-grau à eclosão 7 485 ± 11 470 - 500

lt da larva recém-eclodida (µm) 100* 3.869,88 ± 121,42 3.578,84 – 4.157,77

n = número de observações; EbhC = extrato bruto de hipófise de carpa-comum; dp = desvio-padrão. * referente a medidas efetuadas para cinco fêmeas (20 ovos ou 20 larvas/fêmea).

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Aspectos reprodutivos e indução da desova de Salminus hilarii Valenciennes, 1850 (Pisces: Characiformes, Characidae) da bacia do rio São Francisco

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tABelA 2relações lineares da fecundidade absoluta (Fa), fertilidade inicial (Fi) e fertilidade final (FF) em função das variações do comprimento total (lt) e do peso corporal (Wt) de sete fêmeas de dourado branco Salmi-nus hilarii Valenciennes, 1850, submetidas a hipofisação na Estação de hidrobiologia e piscicultura de

três marias, nos anos de 1996 e 1997.

lt (cm) Wt (g)Fa (no total de ovos) Fa = -162.100 + 7.596.lt (r2 = 0,90) Fa = -2.767 + 215.839.Wt (r2 = 0,97)

Fi (no de ovos extruídos) Fi = -113.333 +5.502.lt (r2 = 0,85) Fi = 1.550 + 158.416.Wt (r2 = 0,94)

FF (no de ovos fertilizados) FF = -55.656 + 2.774.lt (r2 = 0,74) FF = 3.469 + 75.233.Wt (r2 = 0,73)

Salminus hilarii apresentou diâmetros médios dos ovos não-hidratados e hidratados, respectivamente, de 1,63 e 3,35mm. os ovos hidrataram-se bastante, aumentando cerca de 8,7 vezes após a hidratação, aumento rela-tivamente alto se comparado com os de várias espécies de peixes da bacia do são Francisco (sato, 1999). nakatani et al. (2001) registraram para S. hilarii diâmetro do ovo hidratado igual a 3,40mm.

os valores máximo e médio de índice gonadossomático de fêmeas observadas nes-te trabalho foram respectivamente 17,63% e 15,27% e o número de ovócitos extruídos por grama de ova variou de 1.203 a 1.401. para S. hilarii há registros de iGs para fêmeas durante o período reprodutivo, variando de 10,6 a 20% e o número de ovos/g variando de 754 a 2.356 (ihErinG et al., 1928; GodoY, 1975).

a fecundidade absoluta de S. hilarii variou de 22.134 a 96.109 ovócitos (lt = 23,5-32,6cm; Wt = 123,7-467g). ihering et al. (1928) e Godoy (1975) registraram para essa espécie fecundi-dade variando de 30.000 a 54.423 ovócitos.

as relações lineares da fecundidade ab-soluta, da fertilidade inicial e da fertilidade final em função das variações do comprimento total e do peso corporal estão na tab. 2. os valores de r2 foram melhores quando se relacionaram a fecundidade absoluta e as fertilidades (inicial e final) com o peso corporal e não com o com-primento total. sato (1999) verificou que, para 23 espécies da bacia do são Francisco analisa-das, 21 acompanharam essa tendência.

as larvas de S. hilarii eclodiram cerca de 485 horas-grau (tempo de duração = 20,2h; temperatura da água = 24oC) após a fertiliza-ção dos ovos. o tempo de eclosão das larvas foi pequeno, se comparado com o de várias espécies de peixes da bacia do são Francis-co (sato, 1999; sato et al., 2003). nakatani et al. (2001) registraram para S. hilarii tempo de eclosão igual a 20,7h com a temperatura da água a 25ºC.

ao eclodirem, as larvas de S. hilarii medi-ram de 3,58 a 4,16mm de comprimento total, valores próximos aos registrados para larvas de S. maxillosus (morais Filho; sChUbart, 1955; GodoY, 1975; naKatani et al., 2001) e S. brasiliensis (sato, 1999; sato et al., 2003).

as larvas de S. hilarii apresentaram movi-mentos verticais na coluna da água e exibiram órgão adesivo na região da cabeça, estrutura que auxiliou sua fixação na parede da incuba-dora e na superfície da água. Essa estrutura aparece também em larvas de S. maxillosus (morais Filho; sChUbart, 1955; GodoY, 1975) e S. brasiliensis (WoYnaroViCh; sato, 1989; sato et al., 1997).

o desenvolvimento larval foi muito rá-pido, com o saco vitelínico sendo consumido em dois dias ou menos, após o que ocorreu alta incidência de canibalismo. mesma situa-ção foi observada em S. brasiliensis por sato et al. (1997).

por apresentar ovos livres com bastante capacidade de hidratação, espaço perivitelino grande, diâmetro do ovo não hidratado pe-

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Sato, Y.; Sampaio, E.V.; Fenerich-Verani, N.; Verani, J.R.

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queno, fecundidade absoluta relativamente alta e tempo de embriogênese curto, Salminus hilarii foi considerada espécie de estratégia re-produtiva sazonal ou periódica por sato (1999) e sato et al. (2003), apoiando-se nas propos-tas de Winemiller (1989) e Winemiller e rose (1992), e como espécie não guardadora ou generalista, baseando-se na classificação dos estilos reprodutivos de balon (1975; 1985).

apesar do sucesso satisfatório conse-guido com a reprodução artificial por hipofi-

sação, há necessidade de mais investigação no intuito de melhorar o manejo de S. hilarii, principalmente para evitar alta mortalidade dos reprodutores e obter melhores taxas de fertilização de ovos.

AgRAdeCiMentoS

ao convênio CEmiG/CodEVasF (CV 09500-0012/00), pelas facilidades na execu-ção do trabalho.

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Aspectos reprodutivos e indução da desova de Salminus hilarii Valenciennes, 1850 (Pisces: Characiformes, Characidae) da bacia do rio São Francisco

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Estrutura e flutuação temporal das populações zooplanctônicas (Copepoda e Cladocera) das represas

da Reitoria e Quatro Pilastras, campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG

Structure and temporal fluctuation of zooplanktonics populations (Copepoda and Cladocera) from Reitoria and Quatro Pilastras reservoirs

of Federal University of Viçosa (UFV), MG

RAUL SOARES PEIXOTO1

Curso de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Viçosa

WALTER YOSHIZO OKANODepartamento de Biologia Animal – Universidade Federal de Viçosa

ResumoO presente estudo foi realizado nas represas da Reitoria e Quatro Pilastras, localizadas no campus da UFV, Viçosa, MG. Os objetivos foram analisar a estrutura e a flutuação temporal das populações zooplanctônicas e identificar alguns dos principais fatores ambientais que as influenciam. As amostras de zooplâncton foram coletadas mensalmente, de junho/2003 a maio/2004, em uma estação fixa em cada represa. A estrutura das populações zooplanctônicas dessas duas represas é típica de ambientes eutrofizados e a flutuação da abundância total do zooplâncton foi inversamente proporcional à precipitação pluvial.Palavras-chave: Zooplâncton; Represas; Estrutura das populações; Flutuação temporal.

AbstRActThis study was carried out in the Reitoria and Quatro Pilastras reservoirs, located in the UFV campus, Viçosa, MG. The objectives were to analyze the structure and temporal fluctuation of zooplanktonic populations, and identify some of the main environmental factors that affect them. The zooplankton samples were collected monthly, from June/2003 to May/2004, at a fixed sampling station in each reservoir. The structure of the zooplankton populations of those reservoirs is typical of euthrophic environments, and the fluctuation of the total zooplakton abundance was inversely related to the rain precipitation.Key words: Zooplankton; Reservoirs; Populations structure; Temporal fluctuation.

1. • Correspondência para: [email protected]; [email protected]

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Peixoto, R.S.; Okano, W.Y.

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 45-52, dez. 200446

Os organismos zooplanctônicos consti-tuem um importante grupo na cadeia alimentar dos ecossistemas aquáti-

cos, pois representam um elo entre os pro-dutores e outros heterótrofos (OKANO, 1994). Isso mostra que os estudos sobre os aspectos ecológicos dessa comunidade proporcionam avanços não só para o conhecimento da bio-logia desses animais, mas também para a lim-nologia como um todo.

Segundo Ruttner-Kolisko (1974), a com-posição e a estrutura da comunidade zoo-planctônica são produtos do crescimento, reprodução, pressão de predação, disponi-bilidade de alimento e condições físicas e químicas do meio. As espécies de pequeno porte tendem a sofrer flutuações populacio-nais mais intensas, quando comparadas com as de maior tamanho, em função do ciclo de vida curto, baixa capacidade de homeostase e forte interação com o meio externo (RICKLEL-FS, 2001). Portanto, dadas as suas dimensões corpóreas diminutas, as espécies zooplanctô-nicas apresentam forte sensibilidade às mu-danças do meio externo.

A flutuação temporal das populações zooplanctônicas consiste na variação da abundância e composição em espécies nas diferentes épocas do ano. Variações ambien-tais, relações inter e intraespecíficas, além da própria fisiologia dos organismos formam um complexo de fatores que influenciam tais flu-tuações (HEREDIA-SEIXAS, 1982).

O presente trabalho teve por objetivos estudar a estrutura e a flutuação temporal das populações de Copepoda e Cladocera e identificar alguns dos fatores ambientais que as influenciam em duas represas interligadas do campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Para verificar quais fatores ambientais influenciam a flutuação temporal do zoo-plâncton, foram testadas as seguintes hipó-teses: (i) A abundância total do zooplâncton é inversamente proporcional à precipitação,

uma vez que o aumento da precipitação di-minui o tempo de residência da água; (ii) A abundância total do zooplâncton é inversa-mente proporcional ao gradiente vertical de estratificação térmica, uma vez que, em siste-mas estratificados, há um déficit de nutrientes no epilímnio.

ÁREa dE EStUdo

As represas da Reitoria e das Quatro Pi-lastras, localizadas no campus da UFV (20° 45’ S e 42° 54’ W), são dois corpos de água inter-ligados, construídos pelo represamento do ribeirão São Bartolomeu e do córrego dos Araújo, para fins paisagísticos. Apresentam área inundada de 10.066m2 e 11.897m2, res-pectivamente, e são circundadas pelas vias de acesso ao campus.

MatERiaiS E MétodoS

As coletas foram realizadas mensalmen-te de junho de 2003 a maio de 2004, entre 14h30 e 16h. Foram definidas duas estações de coleta: (I) localizada na saída da Represa da Reitoria (profundidade: 3,2m), (II) na saída da Represa das Quatro Pilastras (profundidade: 4,3m). Os dados hidrológicos, como tempera-tura e oxigênio dissolvido na água, foram me-didos nas seguintes profundidades: superfície (0,0m em I e II) e fundo (três e quatro metros, I e II, respectivamente), com auxílio de um oxí-metro com termístor, modelo handlab/Ox1. A transparência da água foi obtida com o auxílio de um disco de Secchi, enquanto os dados de precipitação foram cedidos pelo Laboratório de Meteorologia Agrícola da UFV.

As coletas de zooplâncton foram realiza-das por meio de arrastos verticais com rede de plâncton de 65µ de abertura de malha. As amostras foram fixadas em formol 5% e poste-riormente analisadas em laboratório. A iden-tificação dos organismos (Copepoda e Clado-cera) foi realizada sob microscópio óptico com base nas seguintes referências bibliográficas:

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Estrutura e flutuação temporal das populações zooplanctônicas (Copepoda e Cladocera) das represas da Reitoria e Quatro Pilastras, campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG

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Loureiro (1997), Reid (1985) e Matsumura-Tundisi (1986). A análise quantitativa foi reali-zada por meio de subamostras em cubetas de acrílico com fundo quadriculado, sob micros-cópio estereoscópico.

Para testar as duas hipóteses, os dados foram submetidos à análise de covariância, usando-se a abundância total do zooplâncton como variável resposta. As variáveis explica-tivas foram: precipitação acumulada nos 30 dias anteriores à coleta, estratificação térmica (diferença de temperatura entre a superfície e fundo), estações de coleta (variável categóri-ca) e as interações entre estações e precipita-ção e estações e estratificação térmica. O mo-delo completo com todas as variáveis explica-tivas foi ajustado e as variáveis retiradas uma

taBELa 1Valores mensais de transparência (m), temperatura (°C) e oxigênio dissolvido (mg/L) na estação I.

S = superfície; F = fundo.

Mês TransparênciaTemperatura O2 dissolvidoS F S F

Junho 1 23,1 19,1 6,4 2,1

Julho 1,4 22,2 17,5 7 2,8

Agosto 1,05 19,4 18,4 1,4 0,3

Setembro 1,3 20,1 16,6 3,1 0,6

Outubro 1,3 20,8 19,3 0,7 0

Novembro 0,9 25,1 21,5 6,4 0,1

Dezembro 0,5 29,2 23,5 7,1 0,1

Janeiro 0,3 25,8 22 4,5 1,9

Fevereiro 0,15 28,8 22,1 4,6 3,5

Março 0,7 25,1 23 3,2 0,1

Abril 0,55 26 22,2 5 1,6

Maio 0,75 22,7 19,2 3,5 2,6

a uma, para verificação do efeito da retirada sobre a variância. Essa análise foi feita no siste-ma R (IHAKA; GENTLEMAN, 1996) e seguida de análise de resíduos para verificar a adequação do modelo e da estrutura de erros. Para medir a correlação entre as flutuações populacionais das principais espécies e a do zooplâncton total, foram calculados os coeficientes de cor-relação por meio do programa Excel, versão millennium (RIBEIRO JUNIOR, 2004). Todos os testes estatísticos foram considerados com um nível de significância de 0,05.

ResultAdos e discussÃo

Os dados físico-químicos da água, nas estações I e II, são apresentados nas TAB. 1 e 2, respectivamente.

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Peixoto, R.S.; Okano, W.Y.

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Nas duas represas, a temperatura da água apresentou um ciclo térmico anual, seguindo o mesmo padrão da temperatura do ar. Com exceções dos meses de agosto e outubro de 2003, as represas permaneceram estratificadas termicamente com diferenças de temperatura entre superfície e fundo aci-ma dos 3°C.

As menores concentrações de oxigênio dissolvido foram verificadas na estação I, no período de agosto a outubro de 2003, quando a Represa da Reitoria encontrava-se coberta por Salvinia sp.. A decomposição microbiana da matéria orgânica produzida pelas macró-fitas aquáticas foi responsável pelo consumo de grande parte do oxigênio do sistema. Além disso, o banco de macrófitas atuou também como um filtro, atenuando a penetração da radiação solar na coluna d’água, provocando assim uma diminuição da atividade fotossin-tética do fitoplâncton, o que acentuou ainda mais a escassez do oxigênio no sistema.

A transparência da água mostrou ser in-versamente proporcional à precipitação men-

taBELa 2Valores mensais de transparência (m), temperatura (°C) e oxigênio dissolvido (mg/L) na estação II.

S = superfície; F = fundo.

Mês TransparênciaTemperatura O2 dissolvidoS F S F

Junho 0,9 23,2 20 10,1 3,6

Julho 0,8 23 18,2 10,9 3,3

Agosto 2 20,8 19,4 4,4 0,1

Setembro 0,8 24,9 18,6 6,7 0,6

Outubro 1,4 23,9 21,3 3,7 0,1

Novembro 1,4 26,8 22,2 7,6 0

Dezembro 0,5 30,4 24,2 6,1 0,1

Janeiro 0,4 28,6 22 6,8 0,2

Fevereiro 0,15 26,3 22,3 5,5 3,4

Março 0,75 26,1 23,3 3,9 0,2

Abril 0,7 27,8 22,2 4,7 0,1

Maio 0,85 23,3 19,8 2,7 2,9

sal nas duas estações de coleta. Segundo Tun-disi e Matsumura-Tundisi (1976), em ambien-tes fechados, como as represas em estudo, a drenagem resultante de uma alta precipitação pode produzir um influxo de material particu-lado, alterando a estrutura óptica da água.

A riqueza, composição e freqüência de ocorrência das espécies zooplanctônicas es-tão representadas na TAB. 3. Foram identifi-cadas 14 espécies, das quais seis de Cladoce-ra e oito de Copepoda. Todas as 14 espécies identificadas ocorreram na estação I e apenas nove na estação II. Essa diferença é devida à contribuição de algumas espécies classifica-das como pouco freqüentes, que ocorreram na estação I, quando a Represa da Reitoria en-contrava-se coberta por Salvinia sp. (de agos-to a outubro de 2003). De acordo com Greco e Dabés (2001), as macrófitas aumentam a com-plexidade do ambiente, gerando maior gama de recursos e aumentando as áreas de refúgio para a microfauna. Portanto, com presença de macrófitas aquáticas, um ambiente é capaz de suportar maior riqueza de espécies.

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Estrutura e flutuação temporal das populações zooplanctônicas (Copepoda e Cladocera) das represas da Reitoria e Quatro Pilastras, campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG

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Seis espécies foram classificadas como muito freqüentes nas duas estações. No en-tanto, apenas Diaphanosoma birgei e duas espécies de pequeno porte, Moina micrura e Thermocyclops inversus, foram mais signifi-cativas em termos de abundância. Segundo Hillbricht-Ilkowska (1972), a dominância de espécies de pequeno porte é típica de am-bientes eutrofizados, o que indica, portanto, que as represas estudadas apresentam cará-ter eutrófico. Outro fato que corrobora esse estado trófico é a dominância de Cyclopoida sobre Calanoida. Analisando a relação entre essas duas ordens de Copepoda, Tundisi et al. (1988) constataram, em reservatórios do Esta-do de São Paulo, a tendência de Calanoida se-rem dominantes em ambientes menos eutro-fizados, enquanto Cyclopoida em ambientes

mais eutrofizados.O Córrego dos Araújo tem levado a es-

sas represas grande quantidade de nutrientes e matéria orgânica, provenientes de dejetos não tratados das atividades de suinocultura e bovinocultura desenvolvidas pelo Departa-mento de Zootecnia da UFV.

A FIG. 1 mostra a variação mensal da abundância do zooplâncton total no perí-odo de junho de 2003 a maio de 2004, nas estações I e II. Pode-se identificar, nas duas represas, três períodos distintos em relação à abundância dos organismos zooplanctônicos no período estudado. O primeiro, de junho a novembro, é caracterizado pelas mais eleva-das abundâncias do zooplâncton. O segundo, de dezembro a fevereiro, caracteriza-se pelo decréscimo e baixas abundâncias, principal-

taBELa 3Riqueza, composição e freqüência de ocorrência das espécies zooplanctônicas nas estações I e II.

Classes de freqüência: 1: 1 a 25% - pouco freqüente; 2: 26 a 50% - moderadamente freqüente; 3: 51 a 75% - freqüente; 4: 76 a 100% - muito freqüente.

OrganismosEstação

I IICLADOCERA

Moina micrura 4 4

Diaphanosoma birgei 4 4

Ceriodaphnia cornuta 4 4

Daphnia ambigua 3 4

Simocephalus serrulatus 1 -

Macrotrix sp. 1 -

COPEPODA

Thermocyclops decipiens 4 4

Thermocyclops inversus 4 4

Tropocyclops prasinus 3 3

Metacyclops mendocinus 1 1

Microcyclops finitimus 1 -

Mesocylops longisetus 1 -

Argirodiaptomus furcatus 1 -

Scolodiaptomus corderoi 4 4

Riqueza de espécies 14 9

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Peixoto, R.S.; Okano, W.Y.

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mente nos meses de janeiro e fevereiro. O terceiro período é caracterizado por sensível aumento da abundância da comunidade zooplanctônica.

20

0

40

60

80

100

J J A S O N D J F M A M

Est I

Est II

meses

indi

vídu

os/L

FiGURa 1 – Variação da abundância do zooplâncton total nas estações I e II.

Embora as duas represas estejam inter-ligadas, a abundância de organismos zoo-planctônicos foi maior na estação II, de junho a dezembro de 2003. Como a estação II está si-tuada a jusante da estação I, houve um tempo maior para mineralização da matéria orgânica lançada no afluente das represas. Essa maior disponibilidade de nutrientes é, provavelmen-te, um dos fatores responsáveis pela maior densidade populacional da estação II.

O resultado da análise de covariância da abundância total de zooplâncton em fun-ção da precipitação acumulada mostrou-se significativo (cov, p=0,002). O mesmo não ocorreu sobre abundância total de zooplânc-ton em função da estratificação térmica (cov, p=0,598).

Segundo Odum (1983), os ritmos estacio-nais das chuvas nas regiões tropicais regulam as populações quase da mesma forma que os ritmos estacionais de temperatura e de luz na região temperada. Isso é evidenciado pela maior abundância do zooplâncton quando a precipitação foi menor, como mostra a FIG. 2.

De acordo com Hayward e Van Den Avy-le (1986), o tempo de residência da água é um fator preponderante para o estabelecimento da comunidade zooplanctônica. Estudando a

0

10

20

30

40

50 100 150 200 250 300 3500

precipitação pluvial (mm)

indi

vídu

os/L

A

0

20

40

60

80

100

50 100 150 200 250 300 3500

precipitação pluvial (mm)

indi

vídu

os/L

B

FiGURa 2 – Variação da abundância do zooplâncton total em função da precipitação

mensal nas estações I (A) e II (B).

flutuação sazonal do zooplâncton em lagoas escocesas, Brook e Woodward (1956) conclu-íram que o tempo de residência da água é diretamente proporcional à abundância do plâncton. Segundo esses autores, corpos de água que apresentam pequenas dimensões e uma grande área de captação têm seu tempo

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Estrutura e flutuação temporal das populações zooplanctônicas (Copepoda e Cladocera) das represas da Reitoria e Quatro Pilastras, campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG

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de residência da água bastante reduzido na época de intensa precipitação em relação à de seca. Essas são características apresentadas pelas represas em estudo. A diminuição do tempo de residência da água implica aumen-to da perda de organismos zooplanctônicos, fitoplâncton e nutrientes para fora das repre-sas.

A hipótese do gradiente de estratificação térmica como fator limitante da abundância do zooplâncton foi rejeitada devido à instabi-lidade térmica das represas em estudo. Como todas as coletas foram realizadas num horário em que a temperatura do ar é normalmente mais elevada (entre 14h30 e 16h), as represas encontravam-se estratificadas termicamente. Devido às pequenas profundidades das es-tações de coleta, o resfriamento da superfície durante a noite promove circulações quase di-árias da coluna d’água e, conseqüentemente, a suspensão de nutrientes ao epilímnio. Por-tanto, a estratificação térmica registrada pare-

ce não limitar a produtividade do fitoplâncton e, conseqüentemente, a disponibilidade de alimento ao zooplâncton.

Quando se compara a variação da densi-dade de uma população isoladamente, os pa-drões de flutuação sazonal podem ser muito di-ferentes dos obtidos para o zooplâncton total, pois as espécies apresentam ciclos reproduti-vos próprios, gerando padrões característicos para cada espécie. Isso tem sido observado tanto na região temperada (SHEFFER; OBSON, 1939; CULVER; BRUNNSKILL, 1969) quanto na tropical (HOLDEN; GREEN, 1960; ROBSON; RO-BSON, 1971; MATSUMURA-TUNDISI; TUNDISI, 1976). No presente trabalho, observou-se, nas duas estações de coleta, correlação positiva entre a variação da abundância das espécies mais representativas e a do zooplâncton total, sugerindo que as principais populações são reguladas pela intensidade da precipitação, como mostra a TAB. 4.

taBELa 4Coeficientes de correlação entre a abundância das principais espécies zooplanctônicas e a do

zooplâncton total nas estações I e II.

OrganismosEstação

I IIDiaphanosoma birgei 0,46 0,77

Moina micrura 0,46 0,48

Thermocyclops inversus 0,9 0,88

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Resumos

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 55

Armadilhas fotográficas em inventários e na conservação de mamíferos: um estudo em área de Mata Atlântica do Espírito

Santo, sudeste do Brasil1

Camera traps in inventories and conservation of mammals: a study in an area of the Atlantic Forest in the State of Espírito Santo,

Southeast of Brazil

AnA CArolinA Srbek de ArAújo (meStrAndA)AdriAno GArCiA ChiArello (orientAdor)

RESuMo

Apesar do avanço tecnológico e de sua viabilidade comercial, a utilização de armadilhas fotográficas em estudos desenvolvidos no brasil é ainda recente, mostrando-se fundamental a investigação de sua eficiência na amostragem de mamíferos neotropicais. nesse sentido, o presente estudo objetivou caracterizar a comunidade de mamíferos da estação biológica de Santa lúcia (espírito Santo) a partir do emprego de armadilhas fotográficas, investigando a eficiência do método em relação aos métodos tradicionais de inventário, e avaliar a relevância da utilização de equipamentos dispostos em pares. Ao longo de 24 meses de amostragem e através de um esforço de captura de 1.849 câmeras-dia, foram obtidos 369 registros independentes de mamíferos e registradas 21 espécies silvestres e uma doméstica. os dados obtidos representam 38% das espécies de mamíferos não voadores conhecidas para a ebSl. o método foi inadequado para inventário de espécies de pequeno porte, cuja identificação revela-se imprecisa unicamente através de fotografias. o desenho amostral empregado favoreceu o registro de espécies escansoriais e terrícolas, em detrimento dos grupos exclusivamente arborícolas. Considerando apenas as espécies de médio e grande porte e que apresentam hábito locomotor compatível com a metodologia de instalação do equipamento, a proporção amostrada passa para 78% (n=14) das espécies presentes na ebSl (n=18). Foi possível demonstrar a importância da realização de amostragens em diferentes ambientes e trilhas ao longo do período amostral, bem como em diferentes horários do dia. A instalação de equipamentos aos pares favoreceu o acúmulo de um maior número de registros por jaguatiricas, embora não tenha contribuído significativamente para a estimativa do número mínimo de indivíduos. o pareamento de armadilhas aumentou a detecção das espécies em cada ponto amostrado, mas a porcentagem obtida de fotografias simultâneas foi baixa. o presente estudo contribuiu com o registro de três novas espécies de mamífero para a ebSl. As armadilhas fotográficas revelaram-se especialmente eficientes no estudo de espécies crípticas, raras e arredias à presença humana, em especial os representantes da ordem carnívora, confirmando-se como importante método complementar em estudos com mamíferos.

Palavras-chave: Zoologia; teses; mamífero; Conservação; mata atlântica.

ABStRAct

despite technological advances and an increasing commercial availability, the use of camera traps in studies carried out in brazil is very recent. it is fundamental, however, to investigate its efficiency as a sampling technique for neotropical mammals. the objective of this study was to characterize the mammal community of Santa lúcia biological Station (SlbS) through the use of that technique, investigating the efficiency of camera traps in relation to more traditional inventory methods, as well as to evaluate the relevance of using the cameras in pairs. throughout 24 months, a sampling effort of 1,849 cameras-day originated 369 independent records of 21 native and one domestic species of mammals. the obtained

1. ArAújo, A. C. S. Armadilhas fotográficas em inventários e na conservação de mamíferos: um es-tudo em área de mata Atlântica do espírito Santo, Sudeste do brasil. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200456

data represented 38% of the non-volant mammal species known to be present in SlbS. it was inadequate for sampling small mammals whose identification, when based solely on photographs, is inaccurate. the sampling design favored the recording of terrestrial and scansorial species, but exclusively arboreal species were poorly recorded. Considering only medium- to large-size species with terrestrial and scansorial habit, the number of recorded species increases to 78% (n = 14) of the species present in SlbS (n = 18). the importance of sampling in differing trails and forest types, as well as at different times throughout the day, was demonstrated. the installation of cameras in pairs favored the accumulation of records of individual ocelots but did not contribute significantly to the estimation of the minimum number of individuals. Camera pairing increased the detection of species per sampling location, but a low number of simultaneous photographs were obtained. this study recorded three new mammal species for SlbS not known to be present before. Camera traps were especially efficient in recording cryptic, rare or shy species, notably of Carnivora, proving to be an important complementary method for the study of mammals.

Key words: Zoology; theses; mammals; Conservation; Atlantic Forest; Sampling; methodology.

Estrutura da ictiofauna do reservatório de Juramento, Bacia do rio São Francisco, MG2

the Juramento reservoir ichthyofauna structure, São Francisco river Basin, MG

André roberto SilVA (meStrAndo)GilmAr bAStoS SAntoS (orientAdor)

RESuMo

no brasil, principalmente na região sudeste, vários rios estão sendo barrados para construção de reservatórios. Uma das bacias afetadas por tal conduta é a do São Francisco, de cuja sub-bacia do Verde Grande faz parte o reservatório de juramento. o estudo da ictiofauna da bacia do São Francisco e mais especificamente do rio juramento ainda é incipiente, requerendo pesquisas mais amplas. o presente estudo objetivou diagnosticar a estrutura da comunidade de peixes do reservatório de juramento, através de alguns parâmetros ecológicos básicos. As coletas foram realizadas bimestralmente, entre março de 2002 e fevereiro de 2003, em quatro estações. Foram empregados métodos quantitativos (redes de emalhar) e qualitativos. Foram determinadas a composição, constância, riqueza, equitabilidade e diversidade da ictiofauna, abundância relativa em número e biomassa, similaridade e relação entre a abundância da ictiofauna e dados limnológicos (od, condutividade, transparência, temperatura da água e ph) do reservatório. Foram capturados 3.288 exemplares, pertencentes a 34 espécies, representando 17% das espécies da bacia do São Francisco. do total, 26 espécies (76,5%) pertencem à ordem Characiformes e seis espécies (17,6%) são Siluriformes. Foram coletadas apenas duas espécies introduzidas (Hoplosternum littorale e Hoplias lacerdae). As menores capturas ocorreram no bimestre mais seco (julho/agosto). na região de transição foram obtidas capturas significativamente maiores em número. As espécies mais capturadas foram Serrasalmus brandtii, Curimatella lepidura, Tetragonopterus chalceus, Acestrorhynchus lacustris e Schizodon knerii. houve pequenas variações na riqueza e diversidade entre as três estações do

2. SilVA, A. r. Estrutura da ictiofauna do reservatório de Juramento, bacia do rio São Francisco, MG. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 57

reservatório, indicando relativa homogeneidade entre as regiões lacustre, de transição e fluvial. das dez espécies coletadas apenas a jusante, seis são migradoras ou reofílicas e provavelmente foram prejudicadas pelo barramento do rio. Apenas uma espécie migradora (Prochilodus costatus) foi coletada a montante e provavelmente se reproduz nos trechos superiores dos rios que deságuam no reservatório. Foram obtidas baixas correlações entre a abundância de peixes e as variáveis limnológicas utilizadas, o que poderia ser explicado pelo longo tempo de formação do reservatório, estando a ictiofauna em questão menos sujeita a alterações relacionadas com essas variáveis.

Palavras-chave: Zoologia; ictiologia; ecologia dos reservatórios; São Francisco; rio; bacia (mG-Al).

ABStRAct

Some rivers in brazil, mainly in the Southeastern region, are being currently impounded for reservoir construction. one of the affected basins for such construction is that of São Francisco river and its Verde Grande sub-basin, of which the juramento reservoir is part. the study of fish fauna of the São Francisco basin, specifically of juramento river, is still incipient, reflecting the need for more research. this study aimed to make a diagnosis of the fish community structure of the juramento reservoir, through the analysis of some basic ecological parameters. Fish were collected bimonthly, from march 2002 to February 2003, in 4 sampling sites. Quantitative methods (gillnets) and qualitative ones (trawl nets) were used to this end. the analyzed parameters were: fish fauna composition, constancy, richness, evenness and diversity, relative abundance in number and biomass, similarity between the sampled stations, and the relation between fish abundance and environmental data (do, conductivity, transparency, water temperature and ph) of the reservoir. three thousand two hundred and eighty eight specimens of 34 species were captured, representing 17% of all known species of São Francisco basin. twenty-six species (76.5%) belonged to the Characiformes order and six species (17.6%) were Siluriformes. only two introduced species (Hoplosternum littorale and Hoplias lacerdae) were captured. the lowest captures were performed in the driest bimestrial period (july/August). in the Canoas station (transition zone), captures significantly higher in number were obtained, Serrasalmus brandtii, Curimatella lepidura, Tetragonopterus chalceus, Acestrorhynchus lacustris and Schizodon knerii being the most captured species. no great differences in terms of species richness and diversity were found between the studied sampling sites, showing a relative homogeneity between the lacustrine, transition and fluvial zones. Among the ten species captured exclusively below the dam, six migratory or fluvial ones were found, and they had probably been harmed by the river impoundment. however, the migratory species Prochilodus costatus was also collected above the dam, and it probably reproduces in the drainage area of the reservoir. A low correlation between fish abundance and the used environmental variables was detected, which could be explained by the ageing of the reservoir more than by the limnological features, the ichthyofauna being less subject to alterations related to those variables.

Key words: Zoology; ichthyofauna; reservoir ecology; juramento reservoir; São Francisco river basin.

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Resumos

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Marsupiais vistos do espaço: o uso de assimetria flutuante e sistemas de informações geográficas em conservação3

Marsupials seen from space: the use of fluctuating asymmetry and geographic information systems in conservation

CAmilA PAlhAreS teixeirA (meStrAndA)robert YoUnG (orientAdor)

RESuMo

Assimetria flutuante é uma medida de estresse genético ou ambiental (natural ou artificial). o sistema de informações geográficas (SiGs) é uma ferramenta importante que pode ser usada para a obtenção de dados quantitativos e a determinação do grau de antropização das áreas analisadas. o objetivo principal do presente estudo foi desenvolver uma nova metodologia para relacionar o índice de assimetria flutuante e o grau de antropização da paisagem, usando-se técnicas de geoprocessamento e de sensoriamento remoto. A escolha de Didelphis albiventris e Marmosops incanus para o desenvolvimento deste estudo se deve ao fato de essas espécies ocorrerem em grande número e em diversos ambientes, e de existirem vários exemplares disponíveis em museus e coleções científicas. Foram feitas quatro medidas de 60 crânios de D. albiventris e 58 de M. incanus, através do método duplo cego. esse método consiste em: (a) medição aleatória dos crânios por dois observadores em momentos diferentes, através de uma tabela predeterminada, onde a ordem para a realização de cada medida foi distribuída igualmente e o primeiro lado a ser medido também; e (b) obtenção de informações sobre as localidades somente depois de feitas todas as medidas por outro pesquisador que desconhecia os resultados das medidas morfológicas. As imagens de satélite ou ortofotocartas das localidades de coleta foram interpretadas utilizando-se as classes de cobertura vegetal e uso do solo para a obtenção do grau de antropização de cada localidade, tendo sido determinadas cinco classes de antropização com intervalos de 20%. Para D. albiventris foi observado que: o índice de assimetria flutuante FA5 foi maior nas localidades que apresentam maior porcentagem de antropização (F=3,32; df=4,55; p=0,017), o grau de assimetria flutuante triplica em ambientes impactados e o mesmo índice apresenta uma correlação inversa estatisticamente significativa para mata primária (rs = -0,233; p<0,05) e direta para campos + pasto (rs=0,274; p<0,05) e solo nu (rs=0,238; p<0,05). Para M. incanus não foi observada relação significativa entre o índice de assimetria flutuante FA5 e a categoria de antropização. Foram consideradas três explicações para as diferenças encontradas entre as espécies estudadas: (a) hábitos generalistas e especialistas; (b) tolerância aos ambientes; e (c) o tamanho do corpo do indivíduo. Acredita-se que a metodologia desenvolvida no presente estudo tem potencial para ser aplicada globalmente como ferramenta importante para a conservação de várias espécies.

Palavras-chave: Zoologia; marsupial; Pesquisa.

ABStRAct

Fluctuating asymmetry (FA) can be used as a measure of environmental (natural or artificial) or genetic stress. Geographic information systems (GiS) are a vital tool for collecting quantitative data about anthropogenic impacts on the natural environment. the main objective of this study was to develop a new methodology applicable in conservation, which could relate FA and anthropogenic impacts, through the use of geoprocessing and remote sensing techniques. We used two species of marsupials as models for our study, Didelphis albiventris and Marmosops incanus, because they occur in great numbers in various natural environments, and are well represented in museum and scientific collections. We measured the FA

3. teixeirA, C. P. Marsupiais vistos do espaço: o uso de assimetria flutuante e sistemas de informações geográficas em conservação. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universi-dade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 59

of 60 D. albiventris and 58 M. incanus skulls using a blind double method. it consists of: (a) random skull measurement by two observers at different moments in time, with the use of a pre-determined table in which the order of each measurement to be made followed an equal distribution, as well as the first side to be measured; and (b) data concerning where the animal was collected were obtained only after all the measurements were completed, and by another observer, who did not measure the skulls. Satellite images or aerial photographs of the locations where the animals were collected were analyzed in terms of type of vegetation cover and land use, in order to obtain the level of anthropogenic impact on each collected point. Five classes of anthropogenic impact with intervals of 20% were created. As to D. albiventris, we observed that our equation of FA (FA5) was higher in environments with greater anthropogenic impact (F = 3.32; df = 4.55; p =0.017). in fact, it tripled in environments with more than 20% of anthropogenic impact. FA5 presented a significant negative correlation with Primary Forest (rs = -0.233; p <0.05) and positive correlations with Fields +Pasture (rs = 0.274; p <0.05) and naked Soil (rs = 0.238; p <0.05). Concerning incanus, we did not observe any relationship between the FA5 rate and the anthropogenic impact level. We considered three hypotheses to explain the differences between the species: (a) one species is a generalist (D. albiventris), and the other is a specialist (M. incanus); (b) the species could have different degrees of tolerance to anthropogenically-impacted environments; (c) the species have considerably different body sizes. to conclude, we believe that the new methodology presented here has a potential to be globally used as an important conservation tool, since it could be applied to any species, and permits evaluations of environments and animal over time.

Key words: Geographic information Systems; remote sensing; marsupialia; Fauna and flora preservation.

Avaliação das respostas comportamentais de emas (Rhea americana, Rheidae) submetidas a técnicas de treinamento antipredação na Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte,

Minas Gerais4

Evaluation of behavioural responses of greater rheas (Rhea americana, Rheidae) submitted to anti-predator training techniques

in the Zoo-Botanical Foundation of Belo Horizonte, Minas Gerais

CriStiAno SChetini de AZeVedo (meStrAndo)robert YoUnG (orientAdor)

RESuMo

As ações humanas danosas vêm reduzindo as populações de emas (Rhea americana, rheidae, Aves) em toda a sua área de ocorrência. A reintrodução de emas cativas foi tentada, mas sem sucesso, uma vez que os indivíduos foram predados. Animais nascidos em cativeiro e isolados de seus predadores por várias gerações perdem a habilidade de reconhecer predadores. tentando-se aumentar as chances

4. ∗ Azevedo, C. S. Avaliação das respostas comportamentais de emas (Rhea americana, Rheidae) submetidas a técnicas de treinamento antipredação na Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, Minas Gerais. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200460

de sucesso em projetos de reintroduções, têm-se utilizado cada vez mais freqüentemente técnicas de treinamento antipredação. o presente estudo objetivou o treinamento de emas para evitar predadores. Foram estudadas 15 emas, todas nascidas na Fundação Zoo-botânica de belo horizonte, separadas em três grupos, sendo dois grupos teste e um grupo controle. Foram realizados 15 testes antipredação, quatro testes de memória e oito testes de personalidade com cada grupo. os testes antipredação consistiram em um modelo de predador associado a uma simulação de captura. os testes de memória consistiram na apresentação do modelo de predador e os testes de personalidade consistiram na apresentação de quatro objetos novos às aves. os testes foram filmados e analisados posteriormente. os resultados demonstraram que as emas responderam positivamente aos testes antipredação, tornando-se mais vigilantes; que a memória para o reconhecimento do predador perdurou por quase três meses; e que a personalidade de cada indivíduo teve influência na resposta comportamental apresentada. os resultados demonstraram que o treinamento antipredação para as emas pode se tornar uma ferramenta importante para o sucesso de futuros projetos de conservação dessas aves.

Palavras-chave: Zoologia; ema; Adestramento; Animais predadores; Comportamento.

ABStRAct

harmful human activities have reduced greater rhea (Rhea americana, rheidae, Aves) populations throughout their occurrence area. the reintroduction of captive-born greater rheas has been tried unsuccessfully, since the reintroduced individuals are killed by predators. Captive-born animals that have been isolated from predators for many generations can lose their predator recognition abilities. to enhance the reintroduced animals’ survival rates, researchers are now using anti-predator training techniques. We studied the responses of 15 zoo-born greater rheas to anti-predator training, all of them born in the belo horizonte Zoo-botanical Foundation. the animals were divided into three groups, two for test and one for control. We ran 15 anti-predator tests, four memory tests and eight personality tests with each group. Anti-predator tests consisted of pairing a taxidermized predator model with a capture procedure simulation. memory tests presented the predator model to the birds, and personality tests showed four new objects to the birds. All tests were video-recorded and analyzed a posteriori. results indicated that the rheas responded appropriately to the anti-predator tests, becoming more vigilant; that the memory for recognizing predators remained for almost three months; and that the individual’s personality affected the rheas’ behavioral response. they also demonstrated that anti-predator training for rheas is effective and therefore can become an invaluable tool for reintroduction projects involving greater rheas.

Key words: Zoology; Greater rhea training; Predatory animals; Greater rhea – Protection; Greater rhea behavior.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 61

Gametogênese e reprodução do acará Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840) (Pisces, cichlidae) do reservatório

de Porto colômbia, bacia do rio Grande, sudeste do Brasil5

Gametogenesis and reproduction of acará (Satanoperca pappaterra, Heckel, 1840) (Pisces, cichlidae) of the Porto colômbia reservoir,

Grande river basin, Southeast of Brazil

dimAS FernAndo de moUrA (meStrAndo)nilo bAZZoli (orientAdor)

RESuMo

estudaram-se a gametogênese e a reprodução do acará, Satanoperca pappaterra, utilizando-se 398 exemplares, coletados trimestralmente de novembro de 2001 a outubro de 2002, no reservatório de Porto Colômbia, rio Grande, bacia do rio Paraná, divisa dos estados de minas Gerais e São Paulo. A gametogênese foi estudada através de análises histológicas e os estádios de maturação gonadal determinados pelas características macroscópicas e microscópicas das gônadas, além das variações do índice gonadossomático. nos testículos de todos os peixes analisados observaram-se cistos de ovócitos nos estádios iniciais de desenvolvimento e os machos dessa espécie foram identificados como análogos aos machos primários. Apesar da presença de ovócitos, os testículos continham túbulos seminíferos com cistos de células espermatogênicas em diferentes fases de desenvolvimento. diferentemente dos testículos, os ovários apresentaram padrão comum à maioria dos teleósteos, sem tecido espermatogênico. Peixes em atividade reprodutiva foram capturados durante todo o ano e a espécie apresentou desova parcelada.

Palavras-chave: Ciclo reprodutivo; desova; espermatogênese; ovogênese; Satanoperca pappaterra.

ABStRAct

the gametogenesis and reproduction of acará (Satanoperca pappaterra) were studied using 398 samples collected quarterly in Porto Colômbia reservoir, Grande river, Paraná basin, in the minas Gerais and São Paulo states borderline, from november/2001 to october/2002. Gametogenesis was studied through histological analyses, and the gonadal maturation stages were determined by macroscopic and microscopic features of the gonads, in addition to gonadosomatic index variations. in the testes of all analyzed fish, we observed oocyte cysts in the early development stages; therefore, the males of that species were labeled as analogs of primary males. despite this, the testes contained seminiferous tubules with spermatogenic cells cysts in different development phases. Unlike the testes, the ovaries were without spermatogenic tissues, according to the usual pattern of teleost fish. Fish in reproductive activity were captured throughout the year, and the species showed fractioned spawn.

Key words: Spermatogenesis; ovogenesis; reproductive cycle; Spawn; Gametogenesis; Satanoperca pappaterra.

5. moUrA, d. F. Gametogênese e reprodução do acará Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840) (Pisces, cichlidae) do re-servatório de Porto colômbia, bacia do rio Grande, Sudeste do Brasil. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200462

Estudo das populações de Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842), Marmosops incanus (Lund, 1840) (Didelphimorphia) e

de Trinomys setosus (Desmarest, 1817) (Rodentia), na Reserva Particular do Patrimônio Natural do caraça, MG6

Study of the Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842), Marmosops incanus (Lund, 1840) (Didelphimorphia) and Trinomys setosus

(Desmarest, 1817) (Rodentia) populations in the Serra do caraça Private Natural Reserve, MG

dirCeU Antônio Cordeiro júnior (meStrAndo)SoniA APAreCidA tAlAmoni (orientAdorA)

RESuMo

o estudo foi realizado na reserva Particular do Patrimônio natural do Caraça (20°05’S, 43°29’W), no município de Catas Altas, minas Gerais. o objetivo foi analisar as populações de G. microtarsus e M. incanus e investigar a influência da disponibilidade de artrópodes sobre essas populações, presentes em uma comunidade de pequenos mamíferos. os postos de coleta dos indivíduos foram instalados em uma área de floresta estacional semidecídua, onde foram utilizadas 135 armadilhas de captura-viva (31x15x15cm), dispostas no solo, em três transectos paralelos de 450m de extensão, distanciados por 50m. As coletas ocorreram em quatro noites consecutivas por mês, de janeiro de 2001 a janeiro de 2002, perfazendo um total de 7.020 armadilhas/noite. As coletas de artrópodes ocorreram através de armadilhas de queda (tipo pitfall), intercaladas a cada quatro pontos de coleta dos pequenos mamíferos. o teste de Spearman Rank foi utilizado para verificar a existência de correlação entre o sucesso de amostragem de G. microtarsus e M. incanus e a abundância de artrópodes, e entre o número de capturas de indivíduos dessas espécies. Foram marcados 44 indivíduos de G. microtarsus e 31 de M. incanus. Foram registradas também outras nove espécies (Philander frenata, Monodephis domestica, M. americana, Trinomys setosus, Akodon cursor, Oligoryzomys nigripes, Juliomys pictipes, Oryzomys subflavus e Sciurus ingrami). A variação do número de capturas de machos e fêmeas em relação às estações seca e chuvosa não foi significativa para G. microtarsus (rs=2,36; p>0,05) e M. incanus (rs=0,16; p>0,05). observou-se correlação significativa inversa entre o número de capturas de M. incanus e número de artrópodes (rs= -0,62; p<0,05), mas não entre o número de capturas de G. microtarsus e de artrópodes (rs= -0,087; p>0,05) e entre G. microtarsus e M. incanus (rs= -0,40, p>0,05). o sucesso de captura de M. incanus foi maior na estação seca e coincidiu com o período de menor disponibilidade de artrópodes. o sucesso de capturas de G. microtarsus pode estar associado, além de outras variáveis, a interações de competição com M. incanus, no período de baixa pluviosidade.

Palavras-chave: mamífero; Caraça (mG); marsupial.

ABStRAct

this study was carried out in the Serra do Caraça Private natural reserve (20°05’S, 43°29’W), located in the municipality of Catas Altas, State of minas Gerais, brazil. its purpose was to analyze the G. microtarsus and M. incanus populations, and to investigate the influence upon those populations of variations in the availability of arthropods, present in a community of small mammals. the capture stations were set up in an area covered with semideciduous forest, where 135 (31x15x15cm) live-traps were used, placed

6. Cordeiro jr., d. A. Estudo das populações de Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842), Marmosops incanus (Lund, 1840) (Didelphimorphia) e de Trinomys setosus (Desmarest, 1817) (Rodentia), na Reserva Particular do Patrimônio Natural do caraça, MG. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizon-te, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 63

on the ground in three parallel 450m transects, 50m apart from each other. Capture took place in four consecutive nights per month, from january 2001 to january 2002, in a total of 7,020 night/traps. For the capture of arthropods, pitfall traps were set at every four points of small mammals capture. Spearman rank’s coefficient was used to determine whether there was a correlation between the sampling success for G. microtarsus and M. incanus and the abundance of arthropods, as well as between the numbers of captures of individuals of those mammal species. Forty-four G. microtarsus and 31 M. incanus individuals were marked. nine other species (Philander frenata, Monodephis domestica, Monodelphis americana, Trinomys setosus, Akodon cursor, Oligoryzomys nigripes, Juliomys pictipes, Oryzomys subflavus and Sciurus ingrami) were also recorded. the variation in the number of male and female captures during the dry and rainy seasons was not significant for G. microtarsus (2=2.36; p0.05) and M. incanus (2=0.16; p0.05). A significant negative correlation was found between the number of captures of M. incanus and arthropods (rs = - 0.62; p0.05), but not between that of G. microtarsus and arthropods (rs = -0.087; p 0.05), nor between that of G. microtarsus and M. incanus (rs = -0.40, p>0.05). the M. incanus capture success rate was higher in the dry season and coincided with the period of smaller availability of arthropods. the G. microtarsus capture success may be associated, among other variables, with food competition interactions with M. incanus in the period of low rainfall.

Key words: mammals; Caraça reserve (minas Gerais); marsupials.

Percepções e usos da fauna silvestre pelas comunidades humanas do entorno da Reserva Particular do Patrimônio

Natural do caraça, catas Altas/Santa Bárbara, MG7

Perceptions and uses of local fauna by human communities in the Serra do Caraça Private Natural Reserve, Catas Altas/Santa Bárbara

municipalities, MG

eliSA dUArte SAntoS meSQUitA (meStrAndA)SoniA niColAU SAntoS (orientAdorA)

RESuMo

esta pesquisa teve como principal objetivo identificar e caracterizar o conhecimento sobre a fauna local dos moradores do entorno de uma unidade de conservação denominada reserva Particular do Patrimônio natural do Caraça, nos municípios de Catas Altas e Santa bárbara, estado de minas Gerais. As comunidades limítrofes, Santana do morro, Sumidouro e brumal, datam da mesma época da fundação do Caraça, no século xViii, e podem ser consideradas uma pequena extensão do patrimônio histórico e cultural, arquitetônico e natural que ele representa. existem nos três distritos cerca de 1.500 habitantes. Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas estruturadas em 141 domicílios. Utilizou-se para tal a abordagem etnozoológica. os moradores identificaram 63 tipos de animais, num total de 622 citações, representando uma média de 4,47 citação/pessoa. os mais citados são os animais pertencentes à Classe

7. meSQUitA, e. d. S. Percepções e usos da fauna silvestre pelas comunidades humanas do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural do caraça, catas Altas/Santa Bárbara, MG. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200464

mammalia, com 460 citações. o tatu é citado 62 vezes. Quanto aos animais que desapareceram da região, houve 160 citações, das quais os mamíferos obtiveram 121 citações. dentre os répteis, os mais citados foram as serpentes, consideradas perigosas, traiçoeiras e más pelas populações estudadas, que sentem grande aversão a elas. As concepções negativas que as serpentes despertam, aliadas à falta de um levantamento científico sobre répteis – principalmente sobre serpentes – podem caracterizar seu frágil status de conservação na região. dentre as formas de uso da fauna pelos moradores, a alimentação e o uso medicinal são mais significativas, com 106 e 45 citações, respectivamente. As citações obtidas sobre consumo de animais silvestres indicam que estes podem ser importante fonte nutricional na dieta. o animal mais citado foi o tatu, utilizado na alimentação e como zooterápico. Para esse último, utilizam-se o couro, o rabo, o veneno, o sangue, o chifre, a pata e o óleo dos animais. o óleo é o mais utilizado, com 42 citações. o sangue, o couro, o rabo, a pata e o chifre obtiveram uma citação cada um e o veneno – retirado exclusivamente da serpente – obteve três citações. Partes ou produtos dos animais são utilizados no tratamento de diferentes doenças ou dores e do mesmo animal pode-se obter diversos tipos de remédio, relacionados ao aparelho respiratório, ao aparelho locomotor, ao sistema nervoso, ao sistema auditivo, à pele e como antídoto para mordidas de serpentes. os resultados mostram que os moradores de Santana do morro, Sumidouro e brumal conhecem principalmente os animais que apresentam alguma forma de utilização ou que são considerados danosos ou perigosos. este trabalho pode ser utilizado para estabelecer programas de manejo e educação ambiental que apreendam o ponto de vista cultural dos moradores para relacioná-lo à abordagem científica.

Palavras-chave: Zoologia; Caraça (mG); Animais dos cerrados; Animais silvestres.

ABStRAct

the aim this research was to identify and characterize the dwellers’ knowledge about the local fauna of a Conservation Unit denominated Serra do Caraça Private natural reserve, located in the municipalities of Catas Altas and Santa bárbara, State of minas Gerais. the boundary communities, Santana do morro, Sumidouro and brumal, date from the same period as that of the Caraça foundation, in the 18th century, and can be considered a small extension of the historical, cultural, architectural and natural patrimony that it represents. Around 1,500 habitants live in the three communities. For data collection, structured interviews were carried out in 141 residences, with an etno-zoological approach. dwellers identified 63 different animal types in the region, from a total of 622 mentions, representing an average of 4.47 mentions for each person. the most mentioned animals belong to the mammalian Class, with 460 mentions, the armadillo being mentioned 62 times. As to animals that have disappeared from region, a total of 160 mentions were obtained, and mammals had the largest number, with 121 mentions. Among reptiles, the most mentioned ones were snakes, considered dangerous, treacherous and mean by the studied populations, which feel great aversion to them. misconceptions aroused by snakes, allied to the lack of scientific research about reptiles – mainly about snakes – can characterize a fragile conservation status for them in the area. Concerning the dwellers’ use of fauna, nutrition and medicine are the most significant forms, with 106 and 45 mentions, respectively. the mentions of wild animal consumption by those interviewed indicate that it can be an important nutritional resource in their diet. the most mentioned animal was the armadillo, being used both as remedy and nourishment. As remedy, only parts of the animals’ body are used: leather, tail, poison, blood, limbs, horn and oil. oil is the most used, with 42 mentions. leather, tail, blood, limbs and horns obtained 1 mention each, and poison – extracted exclusively from snakes – obtained 3 mentions. Animal parts or products are used for various diseases or pains, and different kinds of remedies can be obtained from the same animal, related to the respiratory, locomotive, nervous and hearing systems, for use on the skin, or as an antidote to snake bites. results show that Santana do morro, Sumidouro and brumal dwellers know mainly the animals that are used in some way, or that are considered harmful or dangerous. this research is an important instrument for designing environmental management and education programs that apprehend the dwellers’ cultural viewpoint in order to relate it to the scientific approach.

Key words: Zoology; Caraça (mG); Conservation; Cerrado animals; Wild animals; human community.

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Resumos

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Densidade, tamanho populacional e distribuição do boto-cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864), na baía de

Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro8

Density, population size and distribution of the estuarine dolphin, Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864) in the Sepetiba bay, State of

Rio de Janeiro

leonArdo FlACh (meStrAndo)AdriAno GArCiA ChiArello (orientAdor)

RESuMo

de agosto de 2002 a julho de 2003 foi realizada uma estimativa populacional através do método de transecção linear com finalidade de examinar a densidade e distribuição do boto-cinza, Sotalia guianensis, na baía de Sepetiba, brasil. os observadores amostraram a população utilizando uma embarcação como plataforma de observação e 50 linhas de transecção predeterminadas e distribuídas nos dois principais ambientes (estratos) da baía (entrada e interior). descartando 5% das avistagens mais distantes, ou aquelas obtidas em mar agitado (escala beaufort > 2) ou de grupos > 100 indivíduos, o esforço de 3.219 km de transecção percorridos a 12-15 km/h resultou em 140 avistagens de grupos de botos. A partir dessas avistagens, o programa distance gerou uma densidade populacional de 1,33 botos/km2 e estimou uma população de 607 (415-886) indivíduos para a baía como um todo. A densidade (1,78 botos/km2) e o tamanho populacional (365 botos) foram maiores na entrada da baía, onde há condições ecológicas mais favoráveis, do que no interior da baía (0,96 botos/km2 e 242 botos, respectivamente) e ligeiramente maiores no verão (1,33 botos/km2 e 606 botos) em relação ao inverno (1,04 botos/km2 e 474 botos). este estudo confirma uma significativa população de botos na baía de Sepetiba, indicando a importância dessa área para a conservação da espécie no litoral brasileiro. Adicionalmente, o estudo demonstra a aplicabilidade do método como alternativa viável para gerar estimativas populacionais de cetáceos costeiros no litoral do brasil.

Palavras-chave: boto (mamífero aquático); Cetáceo.

ABStRAct

linear-transect surveys were conducted from August 2002 to july 2003 to examine the density and distribution of the estuarine dolphin (Sotalia guianensis) in Sepetiba bay, brazil. A boat-based platform and 50 pre-determined linear transects were used by investigators to assess the population in two main environments (strata) of the bay (entrance and interior). A total of 3.219 km of transects were surveyed at 12-15 kph, resulting in 140 sightings of dolphin groups, after discarding 5% of the sightings at the farthest distances, with rough sea (beaufort >2 scale) and of large groups (over 100 individuals). From those sightings, the distance program generated a population density of 1.33 dolphins/km2 and calculated an overall population of 607 (415-886) individuals for the bay as a whole. density (1.78 dolphins/km2) and population size (365 dolphins) were higher at the bay entrance, where ecological conditions are more favorable than in the interior (0.96 dolphins/km2 and 242 dolphins, respectively). these population parameters were slightly higher in summer (1.33 dolphins/km2 and 606 dolphins) than in winter (1.04 dolphins/km2 and 474 dolphins). this study reveals an important population of estuarine dolphins in Sepetiba bay, showing the importance of that area for the species conservation in the brazilian coast. Additionally, it demonstrates the applicability of the method as a feasible alternative to estimate coastal cetacean populations in brazilian waters.

Key words: estuarine dolphin; density; Program distance; Sotalia guianensis.

8. FlACh, l. Densidade, tamanho populacional e distribuição do boto-cinza, Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864), na baía de Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Cató-lica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200466

características vocais do Zabelê, Crypturellus noctivagus zabele (Spix, 1895) (Aves, tinamiformes) e aplicações como

ferramenta para sua conservação9

Vocal characteristics of Zabelê, Crypturellus noctivagus zabele (Spix, 1895) (Birds, tinamidae) and applications as a tool for its

conservation

letíCiA SoUZA limA GUimArãeS (meStrAndA)GérmAn ArtUro bohórQUeZ mAheChA (orientAdor)

RESuMo

As vocalizações das aves apresentam variações que permitem o reconhecimento intraespecífico e podem ser utilizadas como ferramenta para estudos de populações naturais. o zabelê, Crypturellus noctivagus zabele, tinamídeo que habita formações florestais do cerrado e da caatinga no brasil, apresenta hábitos crípticos. A visualização dessa subespécie na natureza é muito difícil, sendo a identificação feita principalmente através do canto. Portanto, o presente estudo objetiva caracterizar o repertório vocal de C. n. zabele, avaliando a ocorrência de variações individuais na vocalização, bem como variações entre diferentes grupos, além de testar a utilização das variações individuais como ferramenta para censo de aves crípticas na natureza. Foram gravados indivíduos de cativeiro, na Fundação Zoobotânica de belo horizonte (FZb-bh) e no Criatório Conservacionista Crax (belo horizonte, mG), assim como animais silvestres na Área de Proteção especial (APe) de juramento (mG), utilizando-se minigravador de fita cassete e microfone acoplado a refletor parabólico. As gravações foram realizadas ao longo das estações reprodutivas de 2000, 2002 e 2003, totalizando 110 sonogramas. estes foram analisados utilizando-se Wavesufer 1.2, sendo mensurados parâmetros de freqüência e tempo das notas. Para estabelecer as diferenças específicas dos cantos, foram realizadas análises de variância e de Cluster, bem como análise das funções discriminantes, a fim de verificar os parâmetros mais significativos para explicar as variações. Foram registrados dois tipos de vocalização, sendo um canto complexo, composto pela repetição de uma frase constituída por quatro notas com duração média de 1,45±0,12 segundos e freqüências entre 334±91hz e 1121±112 hz, e um chamado, constituído por apenas uma nota com duração média de 0,170,02 segundos e freqüências entre 355±57 hz e 1150±22 hz. Foram encontradas variações significativas entre os três grupos estudados, entre os animais de cativeiro e livres, além de variações individuais, que permitiram estimar quatro a cinco machos adultos que utilizam o fragmento de 10ha na APe de juramento. As variações individuais funcionam como ferramenta eficaz para estudos de populações naturais de aves crípticas.

Palavras-chave: Vertebrado; Ave; Pesquisa; tinamiforme; Comportamento.

ABStRAct

the vocalizations of individual birds present variations that allow individual recognition, which can be used as a tool for the study of natural populations. the zabelê, Crypturellus noctivagus zabele, is a tinamidae from the Cerrado and Caatinga forest formations in brazil, with cryptic habits, which makes it difficult to observe the species in nature. it is mainly identified, therefore, by its song. the aim of this study was to characterize the vocal repertoire of C. n. zabele, evaluating the occurrence of individual variations in the vocalization and variations between different groups, and to test the use of individual variations as a tool for the census of cryptic birds in nature. Vocalizations were recorded in captivity at the belo horizonte Zoo-botanical Foundation and at CrAx (a captive breeding centre in belo horizonte, State

9. GUimArãeS, l. S. l. características vocais do Zabelê, Crypturellus noctivagus zabele (Spix, 1895) (Aves, tinamiformes) e aplicações como ferramenta para sua conservação. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universi-dade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 67

of minas Gerais), as well as in the ‘Area of Special Protection’ (SPA) in juramento (mG). recordings were made using a cassette tape-recorder and a microphone connected to a parabolic reflector, during the reproduction seasons of 2000, 2002 and 2003, producing a total of 110 sonograms. Wavesurfer 1.2 software was used to analyse the frequency (hz) and length of the notes (seconds). in order to identify individual differences in the songs, variance, cluster and discriminative functions analyses were made, to determine the most significant parameters causing variation between individuals. two kinds of vocalization were found: one was a complex song, composed of a verse with four notes lasting 1.45±0.12 seconds and a frequency between 334±91hz and 1121±112 hz; and the other was a call, composed of one single note with an average length of 0.170.02 seconds and a frequency between 355±57 hz and 1150 ± 22 hz. many significant differences were found between the three studied groups, and between groups in captivity and the wild group. more importantly, individual differences allowed us to estimate the existence of four or five adult males that used the 10-ha fragment at the juramento SPA (mG). the types of individual differences in vocalizations revealed by this research could be used as a tool to study population sizes of cryptic-bird species in nature.

Key words: Vertebrates; birds; tinamiforme; research; behaviour.

Hábitos alimentares e locais de ocorrência do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus, segundo moradores de três comunidades do entorno da Reserva Particular do

Patrimônio Natural do caraça, catas Altas/Santa Bárbara, Minas Gerais10

Feeding habits and occurrence sites of the maned wolf, Chrysocyon brachyurus, according to the inhabitants of three communities in the

region of the Serra do caraça Private Natural Reserve, catas Altas/Santa Bárbara, Minas Gerais

líViA mArtinS oliVeirA (meStrAndA)SoniA niColAU SAntoS (orientAdorA)

RESuMo

o lobo-guará, Chrysocyon brachyurus, é o maior canídeo da América do Sul. Sua distribuição geográfica inclui, além de grande parte do brasil, Peru, bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Possui pelagem marrom-avermelhada bastante característica e membros longos adaptados ao hábito cursorial. tem o hábito de percorrer grandes distâncias dentro de sua área de vida, que pode variar de 21,7 a 30km2. é onívoro, alimentando-se de uma grande variedade de frutos e de pequenos vertebrados, como roedores, marsupiais, aves, tatus, cobras e lagartos, assim como insetos. A fruta de maior importância em sua dieta é a fruta-do-lobo (Solanum lycocarpum). ocasionalmente, pode predar criações, principalmente galinhas. o lobo-guará está incluído na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção da iUCn, na categoria

10. mArtinS, l. o. Hábitos alimentares e locais de ocorrência do lobo-guará, Chrysocyon brachyurus, segundo moradores de três comunidades do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural do caraça, catas Altas / Santa Bárbara, Mi-nas Gerais. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200468

vulnerável. Um dos principais responsáveis por essa situação é o intenso processo de fragmentação do habitat, decorrente do aumento da ação antrópica sobre a paisagem. o entorno da rPPn do Caraça é bastante degradado pela presença de empresas mineradoras e pedreiras, fazendo dessa unidade de conservação um refúgio para espécies silvestres. o lobo é o animal símbolo da reserva Particular do Patrimônio natural do Caraça. Alimentado diariamente pelos padres da rPPn, tornou-se o principal atrativo turístico da reserva. o objetivo deste trabalho foi investigar os conhecimentos sobre o lobo-guará apreendidos pelas populações das comunidades de Santana do morro, Sumidouro e brumal, localizadas no entorno da reserva Particular do Patrimônio natural do Caraça. Foram feitas entrevistas semi-estruturadas com questões sobre a biologia da espécie, enfocando a dieta, e sobre os pontos de ocorrência do lobo-guará na região. os resultados mostraram que essas populações, de forma geral, não conhecem a dieta do lobo-guará. itens importantes em sua dieta são conhecidos por poucas pessoas, enquanto o consumo de galinhas foi supervalorizado, contribuindo para a formação de uma imagem negativa da espécie. Quanto aos pontos de ocorrência, muitos entrevistados já viram o lobo-guará próximo às suas comunidades, confirmando a existência de animais fora dos limites da rPPn. essa informação é de suma importância, pois os estudos sobre a espécie desenvolvidos na rPPn do Caraça referem-se apenas ao casal de lobos-guará que utiliza a área no interior da reserva. Assim, conservam-se apenas aqueles que já estão institucionalmente protegidos. estudos que investigam o conhecimento e a relação de populações humanas com o meio ambiente são raros. A compreensão dessas relações é o primeiro passo para a promoção de ações realmente eficazes de educação ambiental, gestão de unidades de conservação e conservação de espécies.

Palavras-chave: Vertebrado; Guará (mamífero); Alimentos.

ABStRAct

the maned wolf, Chrysocyon brachyurus, is the largest South American canid. its geographic distribution includes a large part of brazil, Peru, bolivia, Paraguay, Argentina and Uruguay. it has long limbs adapted to its cursorial habit, and its main characteristic is a red-brown pelage. it is used to running long distances within the home range, which can vary from 21.7 to 30 square kilometers in extent. it is omnivorous, feeding on many kinds of fruits and small vertebrates, such as rodents, marsupials, birds, armadillos, snakes and lizards, as well as insects. the most important fruit in the diet is the wolf’s fruit (Solanum lycocarpum). occasionally, it will eat livestock, mainly chickens. the maned wolf is classified as vulnerable on the red list of threatened Species by iUCn. one of the main reasons for this is the intensive process of fragmentation of its habitat, caused by increasing antropic action on the landscape. the region of Serra do Caraça Private natural reserve (CPnr) is much degraded because of the mining and stone-quarries companies in the area. due to that, the area has become a refuge for wild species. the wolves that live there, a symbol of the reserve, are fed daily by the CPnr priests, and have become the main tourist attraction. the aim of this research was to investigate popular perceptions of the maned wolf in the communities of Santana do morro, Sumidouro and brumal, all located near the reserve where the species lives. Semi-structured interviews were carried out with residents from the three villages. the questionnaires included questions about the species’ biology, mainly its diet, and also the number of sightings of the maned wolf in the region. results showed that, in general, those interviewed have no knowledge of the maned-wolf’s diet. Few people know any important facts about it. in addition, they emphasized the consumption of chickens, which contributes to the negative image of the species. As to the recorded number of sightings, a lot of people had already seen the maned wolf near their communities, which confirmed the occurrence of the animal outside the CPnr. those data are very important because the studies carried out at the reserve refer only to the couple of maned wolves that use the area inside the park. therefore, scientific data are limited to the protected wolves in the park. Studies that investigate people’s perception of the maned wolf and their relationship with the environment are rare. improved the understanding of those relations is the first step for the creation of an effective environmental education and Species Conservation Program that can count on the local population as allies.

Key words: Vertebrates; local communities; maned wolf (mammal); Serra do Caraça Private natural reserve.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 69

Efeitos da disponibilidade de recursos alimentares sobre as respostas comportamentais de Amazilia lactea (Lesson, 1832)

e de Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) (Apodiformes: trochilidae)11

Effects of the availability of food resources on behavioural responses of Amazilia lactea (Lesson, 1832) and Eupetomena macroura (Gmelin,

1788) (Apodiformes: trochilidae)

lUCiAnA bArçAnte (meStrAndA)GérmAn ArtUro bohórQUeZ mAheChA (orientAdor)

RESuMo

os beija-flores são aves essencialmente nectarívoras, de tamanhos corporais reduzidos. Para a manutenção e regulação da elevada temperatura corporal e do rápido vôo pairado, são necessários altos custos energéticos e, portanto, uma contínua atividade alimentar, influenciada, no caso, por uma série de características morfológicas, comportamentais e pela capacidade de memória. Ao defender territórios, os beija-flores competem por áreas onde há concentração de recursos alimentares. o objetivo deste estudo foi verificar o efeito da disponibilidade de flores sobre o número de visitas de Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) e de Amazilia lactea (lesson, 1832) às fontes de recursos e sobre a competição entre eles, bem como avaliar a eficácia do método de contagem por pontos para estimar a quantidade de recursos alimentares disponíveis em determinado campo de visão. Partiu-se do pressuposto de que os beija-flores são atraídos por maior quantidade de flores em relação à copa da árvore (área floral). o estudo foi desenvolvido de setembro de 2002 a maio de 2003 no campus da Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, localizado na área urbana de belo horizonte, mG. Para as coletas de dados, observaram-se duas espécies de plantas exóticas: unha-de-vaca (Bauhinia variegata) e grevílea (Grevillea banksii). A disponibilidade de recursos foi estimada por meio do método de contagem por pontos, que envolve fotografar a árvore e estimar o número de flores visíveis e a área floral por meio de uma equação. o comportamento dos beija-flores foi registrado utilizando-se o método contínuo e amostragem animal-focal. observou-se que as visitas de A. lactea e E. macroura e a competição alimentar entre elas foram influenciadas pela disponibilidade de recursos florais: quanto maior a disponibilidade, maior o número de visitas e de encontros entre os beija-flores. maior também o número de interações agonísticas. A espécie de maior tamanho corporal, E. macroura, foi a dominante, tendo por inúmeras vezes expulsado a espécie de menor tamanho corporal, A. lactea, subordinada, de áreas com maior concentração de recursos. As interações agonísticas se realizaram principalmente através de perseguições, sendo raras as agressões com contato corporal. os residentes freqüentemente usavam vocalizações durante as interações, o que pode indicar o anúncio da posse de territórios para invasores. o método de contagem por pontos para estimar a disponibilidade de flores mostrou-se eficiente, devido à facilidade das estimativas de flores, diminuindo os erros de contagens realizadas em metodologias aplicadas em campo.

Palavras-chave: ornitologia; Comportamento animal; beija-flor; Zoologia.

ABStRAct

hummingbirds have high metabolic demands, which they meet through feeding almost exclusively on nectar. the reduced body size demands a high amount of energy to keep and regulate their high body temperature and hovering flight. therefore, they have evolved numerous adaptations to feed from flowers,

11. bArçAnte, l. Efeitos da disponibilidade de recursos alimentares sobre as respostas comportamentais de Amazilia lactea (Lesson, 1832) e de Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) (Apodiformes: trochilidae). (dissertação, mestrado em Zo-ologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200470

such as acute vision and good memory. in wildness, hummingbirds often compete aggressively (e.g., chasing invaders off) for territories that contain a high concentration of food resources. this study aimed to measure the effects of food resource availability on the number of visits made to such resources by the hummingbird species Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) and Amazilia lactea (lesson, 1832), as well as on any competition for food resources between those species. it also aimed to evaluate the effectiveness of the Point Counting method to estimate the quantity of food resource available in a given area. the study was carried out in the campus of the Pontifical Catholic University of minas Gerais (PUC minas), belo horizonte, brazil, from September 2002 to may 2003. instead of using marked birds, data collection consisted of observing the hummingbirds’ behavior at eight different exotic trees (four of the Bauhinia variegata species and four of the Grevillea banksii). the quantity of food resources was estimated at each tree on a daily basis, with the Point Counting method, which basically involved photographing the tree and counting the number of flowers visible by means of a grid, and then using an equation to calculate the total area of flowers. the hummingbirds’ behavior was recorded using focal animal sampling with continuous recording. results showed that, on days when the trees had more flowers available, and presumably more nectar, there were a higher number of visits by both species and more aggressive encounters. it was observed that the larger of the two species of hummingbirds was dominant (E. macroura). Aggressive interactions consisted mainly of chases, actual fighting was rare, and territory owners frequently vocalized to invaders. the method employed to estimate the availability of flowers was much more efficient and accurate, diminishing the error found in methodologies to estimate flower abundance in the field.

Key words: Zoology; ornithology; Animal behaviour; Trochilidae; hummingbirds; Amazilia lactea; Eupetomena macroura; Flower estimate; Point counting method.

uso do hábitat, padrão de atividades e organização social do boto-cinza, Sotalia guianenis (Van Benéden, 1864), na baía de

Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro12

Habitat use, activity patterns and social organization of the estuarine dolphin, Sotalia guianenis (Van Benéden, 1864), in Sepetiba bay, State

of Rio de Janeiro

PAtríCiA AmArAl FlACh (meStrAndA)AdriAno GArCiA ChiArello (orientAdor)

RESuMo

entre agosto de 2002 e julho de 2003 foi realizado um estudo para conhecimento do uso do hábitat, padrão de atividades e a organização social do boto-cinza, Sotalia guianensis, na baía de Sepetiba, brasil. os observadores utilizaram uma embarcação como plataforma de observação, percorrendo mensalmente rotas predeterminadas que cobriam a entrada e o interior da baía. o esforço resultou em 210 avistagens com 3.640 km de esforço total. Após a amostragem de grupo focal com registro instantâneo, depois de cinco minutos, para a coleta de atividade comportamental, foram coletados parâmetros ambientais. os

12. FlACh, P. A. uso do habitat, padrão de atividades e organização social do boto-cinza, Sotalia guianenis (Van Benéden, 1864), na baía de Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universi-dade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 71

resultados demonstraram que a entrada tem maior influência costeira, enquanto que o interior tem maior influência estuarina. os botos foram avistados com maior freqüência na entrada da baía, tanto no inverno como no verão. A categoria de profundidade mais utilizada pelos animais foi de seis a 15,9m. A atividade de forrageamento/alimentação predominou sobre todas as outras, sendo mais freqüente na primeira classe de horário (6:1-10h). o pico de forrageamento/alimentação ocorreu com maior intensidade nas marés vazantes e enchentes, enquanto a socialização ocorreu na maré alta. o tamanho médio do grupo foi maior no interior e na atividade de socialização. observou-se associação com aves marinhas e, quando estas estavam presentes, os grupos de botos eram maiores do que quando as aves estavam ausentes. neonatos e filhotes foram mais freqüentes no interior da baía, indicando ser essa uma área de criação. o estudo indica que os botos estão presentes o ano todo na baía e que essa é uma área importante para a conservação da espécie no litoral brasileiro.

Palavras-chave: boto-cinza; Padrão de atividades; Uso do hábitat; organização social.

ABStRAct

boat-based monthly surveys were conducted from August 2002 to july 2003 to study the activity patterns, habitat use and social organization of the estuarine dolphin, Sotalia guianensis, in Sepetiba bay, brazil. Pre-determined routes covered the bay entrance and interior, resulting in 210 sightings and 3,640 km of total effort. For each sighting, behavioral categories were registered through focal-group observation and instantaneous recordings (after 5-minute observation). environmental parameters were also collected for each sighting. results indicated that the bay entrance has higher coastal/oceanic influence, while the interior is more estuarine. the estuarine dolphins were sighted more frequently in the bay entrance, both in summer and in winter. depths from 6 to 15.9 m were the most frequently used by the animals. Foraging and feeding were the most frequent among all activities recorded, being more intense from 06:01 to 10:00 am. the peak of foraging and feeding occurred during ebbing and flooding tides, while socialization predominated at flood tide. the mean group size was larger in the bay interior and during social activities. interaction with sea birds was observed and, when those were present, the dolphin group size was larger. neonates and calves were more frequent inside the bay, indicating that this area is used for nursing and calving. the study concluded that the dolphins are present in Sepetiba bay the whole year; therefore, this area is important to the species conservation in the brazilian coast.

Key words: estuarine dolphin; Activity patterns; habitat use; Social organization.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200472

A sustentabilidade da pesca do mandi-amarelo Pimelodus maculatus (La cepède, 1803) (Siluriformes, Pimelodidae) no

reservatório de Igarapava (rio Grande, Paraná Superior)13

the sustainability of fishing yellow-mandi, Pimelodus maculatus (La cepède, 1803) (Siluriformes, Pimelodidae) in the Igarapava reservoir

(rio Grande, upstream Paraná)

brUno PereirA mAiA (meStrAndo)hUGo PereirA Godinho (orientAdor)

RESuMo

o presente trabalho analisou a sustentabilidade da pesca do mandi-amarelo, Pimelodus maculatus (la Cepède, 1803), na área de influência do reservatório da Uhe-igarapava, dada a sua importância tanto na pesca artesanal quanto na desportiva. o status da pesca foi determinado através das capturas por unidade de esforço (CPUe), em número e biomassa, por meio de redes de emalhar. estabeleceu-se a distribuição por classe de comprimento corporal para machos e para fêmeas. estabeleceram-se: os estádios de maturação ovariana, o índice gonadossomático, o fator de condição, a fecundidade e o tipo de recrutamento ovocitário. A captura de ovos, de larvas e de indivíduos jovens foi utilizada para acusar eventual recrutamento da espécie no reservatório. As capturas por unidade de esforço demonstraram a maior produtividade de mandis-amarelos na malha 8. As fêmeas dessa espécie apresentaram comprimento superior ao dos machos. os parâmetros reprodutivos analisados indicaram que, aparentemente, ocorre uma adequada maturação ovariana, evidenciada por elevada fecundidade. A presença de folículos pós-ovulatórios foi considerada como marca morfológica de desova recente. todavia, a ausência de ovos e larvas de Siluriformes, assim como a não captura de indivíduos jovens sugerem a inadequação desse ambiente para o desenvolvimento dessa espécie. Assim, a população de mandis-amarelos a montante da barragem provavelmente se mantém por meio de indivíduos que ascenderam através da escada de peixes da Uhe-igarapava.

Palavra-chave: mandis-amarelos.

ABStRAct

Considering the key role of the yellow-mandi, Pimelodus maculatus (la Cepède, 1803) (Siluriformes, Pimelodidae) at artisanal and sport fisheries in the igarapava reservoir (Grande river, Upper Paraná basin), an evaluation of the fisheries sustainability was made. the present fisheries status was evaluated through the capture per effort unit, in number and biomass, using data from fish captured with gill nets. Fish-size classes were established for males and females. the stages of ovarian cycle, gonadosomatic index, condition factor, fecundity and type of oocyte recruitment were also established. Yellow-mandi eggs, larvae (during the reproductive season) and juveniles were collected so as to detect the species’ eventual recruitment in the reservoir. the 8-cm gill nets (measured between opposite knots) were the most productive. Females reached larger sizes than males. Females apparently reached adequate ovarian maturation, as indicated by high fecundity rates. the presence of postovulatory follicles in histological sections of ovaries was interpreted as a morphological sign of recent spawning. however, the absence of Siluriforme eggs and larvae in the reservoir, as well as the absence of juveniles, suggested the reservoir inadequacy as a yellow-mandi raising habitat. thus, the yellow-mandi populations able to supply fisheries in the igarapava reservoir were mainly from areas below the dam, reaching the reservoir through its fish ladder.

Key word: Yellow-mandis.

13. mAiA, b. P. A sustentabilidade da pesca do mandi-amarelo Pimelodus maculatus (La cepède, 1803) (Siluriformes, Pime-lodidae) no reservatório de Igarapava (rio Grande, Paraná Superior). (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 73

tamanho corporal, dimorfismo sexual e diversidade genética da preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus Illiger, 1811

(Xenarthra: Bradypodidae)14

Body size, sexual dimorphism and genetic diversity of the maned sloth, Bradypus torquatus (Illiger, 1811) (Xenarthra: Bradypodidae)

PAUlA lArA-rUiZ (meStrAndA)AdriAno GArCiA ChiArello (orientAdor)

RESuMo

neste trabalho são apresentadas informações novas sobre a variabilidade morfológica e genética em populações da preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus. A espécie, cujas populações se encontram reduzidas pela degradação e fragmentação do habitat, é considerada ameaçada justamente por ser endêmica da mata atlântica brasileira e apresentar uma distribuição restrita aos estados da bahia, espírito Santo, rio de janeiro e extremo nordeste de minas Gerais. A falta de conhecimento básico sobre a biologia da espécie, como parâmetros reprodutivos, tamanho do corpo e dimorfismo sexual, e sobre as populações remanescentes (a estrutura e o tamanho das populações são totalmente desconhecidos), dificulta a avaliação do verdadeiro grau de risco que a espécie enfrenta no médio e longo prazos. o estudo realizado objetivou, principalmente, levantar dados sobre a saúde genética da espécie. os resultados obtidos, concordantes entre diversos conjuntos de dados utilizados (definidos por três segmentos do mtdnA: os domínios hipervariáveis i e ii da região controle e parte do citocromo b), indicam que populações de preguiça-de-coleira amostradas nos três estados visitados (eS, rj e bA) se encontram isoladas. São poucos os haplótipos compartilhados pelas populações estudadas, de forma que os valores dos índices de fixação encontrados (St variando entre 0,96 e 0,70, segundo a região analisada) são consideravelmente maiores do que o encontrado para outros mamíferos, incluindo algumas espécies consideradas em categorias de maior ameaça. os valores dos estimadores de variabilidade, h e k calculados para a espécie pelos diferentes conjuntos de dados analisados, coincidem com o registrado para outras espécies de mamíferos, mas em todos os casos diminuem notavelmente quando calculados para cada população separadamente. As relações entre as linhagens de haplótipos apresentam uma forte concordância geográfica, juntamente com um padrão de divergência altamente descontínuo, evidenciado pelo número (e tipo) de diferenças encontradas entre as seqüências de indivíduos dos diferentes estados. os resultados (baixa variabilidade e alta estruturação genética) podem ser produto de barreiras históricas ao fluxo genético e da reduzida capacidade de dispersão da espécie, mas também podem indicar outros processos históricos, como gargalos populacionais com posterior expansão e diferenciação das populações remanescentes. esses fatos ressaltam a importância da translocação criteriosa e do monitoramento dos animais translocados nas diversas regiões onde a espécie ainda ocorre, evidenciando a necessidade de aprofundar o estudo da variabilidade presente nas populações com marcadores nucleares, que, se confirmarem os padrões detectados, aumentariam as evidências, indicando a necessidade de se estabelecer estratégias de manejo genético para recuperar a diversidade das populações remanescentes e permitir sua persistência a longo prazo. Adicionalmente, dados morfológicos novos indicam que os adultos de B. torquatus possuem o maior tamanho já registrado nas espécies do gênero, o que sugere demanda energética maior do que a estimada anteriormente. diferenças significativas de tamanho foram detectadas entre indivíduos provenientes das regiões mais frias e mais quentes, sugerindo adaptação das populações à temperatura ambiental. Apresenta-se também a caracterização das faixas etárias por grupos de tamanho e discute-se o tempo estimado de geração desses animais, relativamente curto se comparado com o esperado para

14. lArA-rUiZ, P. tamanho corporal, dimorfismo sexual e diversidade genética da preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus Illiger, 1811 (Xenarthra: Bradypodidae). (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 200474

animais desse tamanho e com taxas metabólicas baixas. A existência de caracteres dimórficos (tamanho, genitália e padrão da coleira) é registrada pela primeira vez, assim como vários parâmetros reprodutivos da espécie.

Palavras-chave: mamífero; morfologia; Preguiça (Zoologia); Genética.

ABStRAct

this study presents new information on the morphological and genetic variability in the maned sloth, Bradypus torquatus populations. the species, reduced by habitat fragmentation and degradation, is considered endangered, as it is endemic to the brazilian portion of the Atlantic Forest and has its distribution restricted to the states of bahia, espírito Santo, rio de janeiro and the furthest northeast of minas Gerais. the lack of basic knowledge of the species’ biology, such as reproductive parameters, body size and sexual dimorphism, as well as of the size and structure of surviving populations, makes it difficult to evaluate the true degree of threat that the species is facing at medium and long term. the study aimed mainly to provide information concerning the species’ genetic health. results, agreed upon in differing data sets used (defined by three studied mtdnA segments: hyper-variable domains i and ii of the control region and part of citochrome b), indicate that maned sloth populations sampled in three states (espírito Santo, rio de janeiro and bahia) might be considered isolated. Few haplotypes are shared by the studied populations, so that values of the fixation rates found (St varying between 0.96 and 0.70 according to the analysed region) are considerably higher than those found for other mammals, including some species listed in categories of higher threat. the values of variability estimation, h and k, calculated for the species by differing data sets, are within the limits of observed values for other mammals, but in all cases they decrease remarkably when calculated for each population separately. relations between haplotype lineages present a strong geographic agreement and a highly discontinuous divergence pattern, which was evidenced by the number (and type) of differences found between individual sequences in the different states. those factors (genetic variability and high genetic structuring) might result from historical barriers to gene flow and from the species’ reduced dispersion ability, but they can also be taken as evidence of other historical processes such as severe population reductions and posterior recovery and differentiation of remnant populations. those facts highlight the importance of careful translocation and monitoring of translocated animals in the areas where the species still occurs. they also stress the need to investigate more deeply the genetic variability in populations with nuclear markers, which, in case the patterns observed here are confirmed, will increase evidences indicating the need to establish genetic management strategies to recover the diversity of surviving populations so as to assure their long-term survival. Additionally, new morphological data indicate that adult Bradypus torquatus is the largest of the genus, which suggests a higher energy requirement than was previously thought. Significant differences in size were detected between individuals from hotter and colder regions, suggesting the populations’ adaptation to local environmental temperatures. Age-sex categories and age and size at maturity are presented for the first time. those animals’ estimated generation time, relatively short if compared to what is expected from animals of that size and with low metabolic rates, is discussed. the presence of dimorphic characters (size, genitals and mane colour and patterns) is also presented for the first time, as are some other reproductive parameters for the species.

Key words: maned sloth; Bradypus; xenarthra; mammals; body size; morphology.

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Resumos

Bios. Belo Horizonte, v. 12, n. 12, p. 53-76, dez. 2004 75

Migração de mandis-amarelos Pimelodus maculatus e curimbas Prochilodus lineatus no rio Grande, bacia do Alto

Paraná15

Migration of yellow-mandis (Pimelodus maculatus) and curimbas (Prochilodus lineatus) in Grande river, upstream Paraná basin

lUiZ GUStAVo mArtinS dA SilVA (meStrAndo) hUGo PereirA Godinho (orientAdor)

RESuMo

o comportamento migratório de 14 mandis-amarelos (Pimelodus maculatus) e 30 curimbas (Prochilodus lineatus), marcados com radiotransmissores, foi avaliado nos reservatórios da Usina hidrelétrica (Uhe) de Volta Grande e Uhe igarapava, localizados no rio Grande. rastrearam-se esses peixes de novembro de 2002 a abril de 2004. os mandis-amarelos foram capturados na escada de peixes da Uhe igarapava e, após a marcação, liberados nesse reservatório. A maioria deles (64%) permaneceu no reservatório e poucos (18%) subiram até alcançar o trecho de rio de aproximadamente 5 km abaixo da barragem da Uhe jaguara. Cerca de 1/3 dos peixes passou pela barragem de igarapava, em deslocamento descendente, através das turbinas. os peixes que se mantiveram vivos após a passagem pelas turbinas continuaram descendo no sentido da barragem de Volta Grande. os machos apresentaram área de vida mais extensa do que a das fêmeas. As curimbas marcadas, capturadas imediatamente a jusante de Volta Grande, quando transpostas para o reservatório de Volta Grande apresentaram comportamentos distintos logo após a soltura, sendo separadas em dois grupos: as curimbas do grupo 1 (72%) mantiveram-se próximas à barragem de Volta Grande por intervalos de tempo de algumas horas a 40 dias. desse grupo, 37,5% se dispersaram ao longo do reservatório de Volta Grande, enquanto outras (37,5%) migraram rio acima até a barragem de igarapava e poucas (25%) não foram registradas. Um segundo grupo de curimbas (28% – grupo 2) deslocou-se no sentido da barragem de igarapava logo após sua soltura. dez curimbas alcançaram a barragem de igarapava e mantiveram-se na área por períodos de 26 a 445 dias. dessas, uma deslocou-se descendentemente, outras duas permaneceram na área do canal de fuga e bacia de dissipação da Uhe igarapava e as sete restantes transpuseram a barragem através da escada. A passagem pela escada ocorreu, principalmente, durante o crepúsculo vespertino e noite, deslocando-se em cardumes. As curimbas levaram, em média, 3,5h para percorrer a escada, transpondo, em média, 42,5 tanques/hora. Após a transposição, permaneceram por, no máximo, cinco horas próximas à barragem de igarapava e depois se deslocaram para montante até alcançar o canal de fuga da Uhe jaguara. As áreas de vida não apresentaram diferenças significativas entre machos e fêmeas.

Palavras-chave: migração, teleósteos, Pimelodus maculatus, Prochilodus lineatus.

ABStRAct

the migratory behaviour of 14 mandis (Pimelodus maculatus) and 30 curimbas (Prochilodus lineatus) was radio-tagged and evaluated along the Volta Grande and igarapava reservoirs, located in Grande river. the fish were tracked from november 2002 to April 2004. the mandis were captured in the igarapava fish ladder by dewatering the fish way. After tagging, they were released at the igarapava reservoir. the majority of mandis (64%) remained in the reservoir and few (18%) migrated upstream until reaching the river stretch approximately 5 km below jaguara dam. Almost 1/3 of the tagged mandis migrated downstream and passed igarapava dam through the turbines. the fish that remained alive after the passage continued

15. SilVA, l. G. m. Deslocamentos de mandis-amarelos (Valenciennes, 1836) em dois reservatórios do rio Grande, bacia do Alto Paraná, conectados por escada de peixes. (dissertação, mestrado em Zoologia de Vertebrados), Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, belo horizonte, 2004.

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Resumos

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moving downstream to the Volta Grande reservoir. the males presented a home range significantly larger than that of the females. the curimbas, captured below the Volta Grande dam and released in the Volta Grande reservoir, showed different behaviour immediately after they were released and separated into two groups: Group 1 curimbas (72%) remained close to Volta Grande dam from a few hours up to approximately 40 days. of this Group, 37.5% spread out along Volta Grande reservoir, while others (37.5%) migrated upstream until reaching the igarapava dam, and fewer (25%) were not located. Another group of curimbas (28% - Group 2) migrated upstream immediately after they were released in the reservoir and reached the igarapava dam. ten curimbas reached the dam and remained in the vicinity from 26 to 445 days. of those fish, one migrated downstream; two remained in the vicinity of the dam tailrace; and the others (seven fish) moved upstream, passing the igarapava fish ladder. the curimbas ascended the ladder, mainly at dusk and during the night, moving in shoals. they spent around 3.5 h to ascend the ladder, passing through 42.5 pools/hour. After passing, they remained up to five hours at the igarapava fore bay, and then migrated upstream until they reached the jaguara dam tailrace. no significant differences for the home range were found between curimba males and females.

Key words: migration, teleost fishes, Pimelodus maculatus, Prochilodus lineatus.

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BIOS – CADERNOS DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA PUC MINAS

normAS GerAiS PArA PUbliCAção

bioS é uma publicação do departamento de Ciências biológicas da Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais para a divulgação de relatos de pesquisa, artigos de revisão, notícias, co-mentários, comunicações, ensaios, editoriais e cartas ao Conselho editorial nas diferentes áreas da biologia, inclusive meio ambiente e ensino.1. As contribuições serão aceitas para publicação mediante aprovação do Conselho editorial

da bioS, a partir de parecer de consultores ad hoc, desde que sejam originais e não tenham sido submetidas a outros periódicos.

2. excepcionalmente, o Conselho editorial poderá aceitar contribuição que já tenha sido ante-riormente publicada. neste caso, ela deverá vir acompanhada da fonte onde foi publicada, que será citada.

3. As contribuições deverão ser em português, inglês ou espanhol.4. As contribuições aprovadas para publicação poderão ser revistas para que se adaptem ao

padrão de qualidade da bioS. Quando a Comissão editorial entender que a revisão possa ter provocado alterações significativas no original, a contribuição revisada será, antes da publicação, submetida ao(s) seu(s) autor(es), para manifestação.

5. As afirmações e opiniões expressas nas contribuições são dos seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da administração e do corpo docente do departamento de Ci-ências biológicas da PUC minas, do Conselho editorial da bioS ou da administração supe-rior da Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais.

6. toda contribuição deverá vir acompanhada de uma declaração do seu autor ou responsá-vel (em caso de co-autoria) nos seguintes termos:transfiro para a Pontifícia universidade católica de Minas Gerais todos os direitos so-bre a contribuição (citar o título), caso seja aceita para a publicação em BIoS, publica-da pelo Departamento de ciências Biológicas da Puc Minas, na seção (citar a seção).Eu, (colocar o nome completo), assino a presente declaração e me responsabilizo inte-gralmente, em meu nome e de eventuais co-autores, pelo material apresentado.(local e data)Nome: (completo)cPF: (indicar o CIC)Endereço: (citar por completo, incluindo endereço eletrônico)

7. Apresentação do original7.1 Formato do arquivo:

microsoft Word para Windows, versão 6.0 ou acima, exceto Windows Vista, devidamente mencionado em separado qual versão está sendo utilizada, formato A4 (210x297mm), fonte Arial, tamanho12.

7.2 texto:margens: Superior, esquerda e direita com 2,0cm, inferior com 2,5cm.espaçamento entre linhas: 1,5

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7.3 título:título completo, na língua em que for apresentada a contribuição, alinhado à direita.título em inglês se a contribuição estiver em português; em português se a contribuição estiver em inglês; em português e inglês se a contribuição estiver em espanhol, logo abaixo do título, alinhado à direita.

7.4. Autores:nome(s) completo(s) do(s) autor(es), com identificação da(s) instituição(ões) de origem logo abaixo, alinhado(s) a direita.em caso de co-autoria, nome do responsável, endereço postal completo, telefone(s) ou fax para contato e e-mail. estas informações deverão ser colocadas no rodapé da primei-ra página.

7.5. resumo:Cada contribuição virá com um resumo, em português e inglês, que não deverá exceder a 100 (palavras), contendo até 5 (cinco) unitermos (palavras-chave), por idioma, após o resumo e o abstract.

7.6. texto principal:deverá iniciar-se na página 2, coluna simples, não conterá figuras, gráficos ou tabelas inclusas.

7.7. Figuras, tabelas e gráficos:deverão vir em anexos, sendo indicado no texto onde deverão ser inseridas, porém a comissão editorial se reserva no direito de uma recolocação para permitir melhor diagra-mação da revista.todas as figuras, gráficos e tabelas deverão ser referenciados no texto e numerados com algarismos arábicos. Quando citados no decorrer do texto, devem ser referenciados como FiG. 1 ou FiG. 1 e 2 (quando for mais de uma figura), tAb. 1 ou tAb. 1 e 2 (quando fora mais de uma tabela). no caso de gráficos, utilizar a mesma FiG. 1 ou FiG. 1 e 2 (quan-do for mais de um gráfico).As legendas das tabelas e figuras devem estar abaixo das mesmas, sendo referenciadas como “tabela 1.”, “tabela 1 e 2.”, “Figura 1.”, “Figura 2.”, “Figuras 1 e 2.”. Gráficos devem ser referenciados da mesma forma que as figuras.tabelas e gráficos devem ser inseridos em documento Word, sendo enviado também uma cópia no formato original, citando o nome do programa utilizado e a versão.Preferencialmente, não utilizar cores em gráficos e tabelas, mas padrões de textura dife-rentes. As fotografias devem ser apresentadas em original preto-e-branco em papel bri-lhante de alto contraste. desenhos e gráficos devem ser enviados em Cd, como arquivo de programa gráfico nos formatos .tiFF, .jPG, .Cdr, .PSd, .Ai ou .ePS. A comissão editorial se reserva no direito da inclusão ou não de figuras em outro formato. Podem ser envia-dos ainda em nanquim.

7.8. referências bibliográficas:As referências bibliográficas dentro do texto devem estar da seguinte forma:Um autor: (riZZini, 1979) ou rizzini (1979); dois autores: (ribeiro; FernAndeS, 1999) ou ribeiro e Fernandes (1999); três autores: (nASCimento; PombAl; hAddAd, 1999) ou nascimento, Pombal e haddad (1999); mais de três autores: (roChA et al., 2000) ou ro-cha et al. (2000).

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devem ser listadas ao final do trabalho, fonte Arial tamanho 9, de acordo com o padrão:Artigos de periódicos:bAZZoli, n.; Godinho, h. reproductive biology of the Acestrorhynchus lacustris (rei-nhardt, 1874) (Pisces: Characidae) from três marias reservoir, brazil. Zoologischer An-zeinger, v. 226, n. 516, p. 285-297, 1991.Livros e relatórios técnicos:britSki, h. A.; SAto, Y.; roSA, A. b. S. Manual de identificação de peixes da região de três Marias: com chave de identificação para peixes da bacia do São Francisco. brasílias: Câmara dos deputados, 1984. 143p. eletrobrÁS. Plano diretor de meio ambiente do setor elétrico, 1991-1993. rio de janeiro: Centrais elétricas brasileiras, 2v. 1991.CeteC/leme engenharia/CemiG. Levantamentos ambientais em Nova Ponte – Ictio-fauna: relatório Final. belo horizonte, 1988.Capítulos de livros:hrbÁCek, j. Competition and predation in relation to species composition of freshwater zooplankton. in: CAirnS jr., j. (ed.). Aquatic microbial communities. new York: Garland. 1977. Cap. 3, p. 305-353.teses e dissertações:diniZ, C. C. 1997. Dinâmica reprodutiva de L. striatus e histologia do ovário de cinco espécies do gênero Leporinus Spix, 1829 (osteichthyes, characiformes, Anostomi-dae) na represa de camargos, MG. 1997. 106f. (dissertação, mestrado em Zootecnia: nutrição de monográstrico). Universidade Federal de lavras, lavras.GArAVello, j. C. Revisão taxonômica do gênero Leporinus Spix, 1829 (ostariophysi, Anostomidae). 1979. 455f. (tese, doutorado em Ciências: Zoologia). instituto de bioci-ências da Universidade de São Paulo, São Paulo.Resumos de congressos:SAntoS, j. e. dos. Comportamento de larvas de 6 espécies de peixes sob condições ex-perimentais de fotoperíodo. in: enControS AnUAiS de AQUiCUltUrA, 10, 1992, belo horizonte. Anais... belo horizonte: Associação mineira de Aqüicultura, 1992. p. 75-77.

8. o artigo deverá ser enviado em Cd para computador, em formato microsoft Word 6.0 ou superior, exceto Windows Vista. 8.1. o original, em Cd, deverá vir acompanhado de uma folha de identificação, com os

seguintes dados:(a) número total de figuras, pranchas, tabelas e gráficos.(b) número total de Cds com informações sobre os formatos de arquivos de texto, de figura ou gráficos.(c) outras informações julgadas necessárias.(d) Fonte Arial, tamanho 12, nomes científicos em itálico.

8.2. Quando o original for enviado em Cd, este deverá conter uma etiqueta com o nome da contribuição e uma cópia impressa.

9. os Cds deverão ser submetidos a programas antivírus.10. As referências não deverão exceder 30 (trinta).11. embora a comissão editorial possa providenciar a revisão de referências bibliográficas, a exa-

tidão sobre suas informações é de inteira responsabilidade dos autores da contribuição.

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12. As unidades de medida, grandezas, símbolos e abreviaturas devem seguir as normas nacio-nais ou internacionais correspondentes.

13. A impressão a cores, quando absolutamente necessária, dependerá do pagamento, pelo(s) autor(es) da contribuição, das despesas correspondentes.

14. As ilustrações poderão ser reduzidas por exigência gráfica, guardando-se as devidas pro-porções.

15. As contribuições deverão, o mais absolutamente possível, se ater a estas normas gerais para a apresentação de originais.

16. Comprovante da publicação:16.1. Cada contribuição terá direito, sem ônus, a 10 (dez) exemplares da publicação.16.2. números excedentes poderão ser solicitados, por escrito, ao Conselho editorial, fican-

do o envio condicionado ao ressarcimento das despesas de impressão e da remessa.17. Para informações adicionais acesse o site da biblioteca da PUC minas, sobe padronização

de normas para artigos e periódico: http://www.pucminas.br/ocumentos/normaliacao_ar-tigos.pdf

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BIOS – REVIEW OF THE DEPARTMENT OF BIOLOGICAL SCIENCES OF PUC MINAS

normS For PUbliCAtion

bioS is a publication of the department of biological Sciences of the Pontifícia Universidade Católica de minas Gerais, aimed at divulging research, reviews, news, comments, communica-tions, essays, editorials and letters to the editorial Council in the various in the various areas of biology, including teaching and the environment.1. documents will be accepted for publication with the approval of the editorial Council of

bioS, based on the report of ad hoc consultants, provided they are original papers and have not seen submitted to other periodicals.

2. exceptionally, the editorial Council may accept a previously published document. in that case, the annexed source will be mentioned.

3. documents must be preferably in Portuguese, english or Spanish.4. documents approved for publication may be reviewed according to the quality standard of

bioS. When the editorial Council judges that the review may have altered significantly the original, the reviewed paper will be submitted to the author(s) before publication.

5. the statements and opinions expressed in the documents reflect the author(s), and not necessarily the management and the faculty of the department of biological Sciences of PUC minas, the editorial Council of bioS ou the higher management of the Pontifícia Uni-versidade Católica de minas Gerais.

6. A statement of the author or the person responsible for the document (in case of co-author-ship) will be attached to every contribution, in the following terms:I hereby transfer to the Pontifícia universidade católica de Minas Gerais, all the rights on the document (metion its title), if it is accepted for publication BIoS, issued by the Department of Biological Sciences of Puc Minas, in the section (metion the section).I also declare that this contribution is original, that it is not being submitted to any other editor for publication, and that the copyright was not previously granted to any other individual or juridical entity. I, (full name), sign the present declaration and take full responsibility, in my name of eventual coauthors, for the manuscript presented.(place and date)Name: (full name)Social Security number:Identity card: (number and issuing agency)Address: (full address and e-mail)

7. document presentation7.1 Format:

microsoft Word for Windows, version 6.0 or above, except Windows Vista, mentioning separately the version used, format A4 (210x297mm), Arial font size 12.

7.2 text:margins: Superior, left and right 2.0cm, inferior 2,5cm.Space between lines: 1,5

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7.3 title:Complete title, in the language of the document, aligned to the right.title in english if the document is in Portuguese, in Portuguese if the document is in en-glish; in Portuguese and english if the document is in Spanish;

7.4. Authors:Full author(s) name, identifying the home institution(s) below, aligned to the right.in the case of coauthorship, name the responsible person, full, address, telephone(s) or fax, e-mail. those data should be placed at the foot of the first page.

7.5. Abstract:each document must include an abstract, in Portuguese and in english, not above 100 words, with up to five keywords per idiom, after the abstract.

7.6. main text:it begins on page 2, in a single column, without figures, graphs or tables.

7.7. Figures, graphs, and tables:they are annexed, with indications in the text of where they should be inserted. the edi-torial Council has the right to rearrange them so as to have a better diagram of the pe-riodical.All figures, graphs and tables will be referred to in the text and numbered with Arabic numerals. When they are quoted within the text, they must be referred to as FiG. 1 or FiG. 1 and 2 (in the case of more than one figure), tAb. 1 or tAb. 1 e 2 (in the case of more than one table). As to graphs, the same FiG. 1 or FiG. 1 e 2 (in the case of more than one graph) will be used.tables and figures legends are placed below them, and referred to as “table 1.”, “table 1 and 2.”, “Figure 1.”, “Figure 2.”, “Figures 1 and 2.”.Graphs are referred to in the same way as figures.Graphs and tables must be inserted in Word document, with a copy in the original for-mat, mentioning the program used and its version.Photographs must be presented in the original black-and-white high-contrast glossy pa-per. drawings and graphs must be sent in Cd as graphic program file in .tiFF . jPG, .Cdr, .PSd, .Ai or .ePS. the editorial Council has the right to include or not figures in a different for-mat. they can also be sent in China ink on vegetable paper.

7.8. bibliography:bibliographical references in the text will appear as follows:one author: (riZZini, 1979) or rizzini (1979); two authors: (ribeiro; FernAndeS, 1999) or ribeiro e Fernandes (1999); three authors: (nASCimento; PombAl; hAddAd, 1999) or nascimento, Pombal and haddad (1999); more than three authors: (roChA et al., 2000) or rocha et al. (2000).they are listed at the end of the text, Arial font size 9, according to the standard:Periodical articles:bAZZoli, n.; Godinho, h. reproductive biology of the Acestrorhynchus lacustris (rein-hardt, 1874) (Pisces: Characidae) from três marias reservoir, brazil. Zoologischer An-zeinger, v. 226, n. 516, p. 285-297, 1991.Books and technical reports:

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britSki, h. A.; SAto, Y.; roSA, A. b. S. Manual de identificação de peixes da região de três Marias: com chave de identificação para peixes da bacia do São Francisco. brasília: Câmara dos deputados, 1984. 143p. eletrobrÁS. Plano diretor de meio ambiente do setor elétrico, 1991-1993. rio de janeiro: Centrais elétricas brasileiras, 2v. 1991.CeteC/leme engenharia/CemiG. Levantamentos ambientais em Nova Ponte – Ictio-fauna: relatório Final. belo horizonte, 1988.Book chapters:hrbÁCek, j. Competition and predation in relation to species composition of freshwater zooplankton. in: CAirnS jr., j. (ed.). Aquatic microbial communities. new York: Garland. 1977, p. 305-353.thesis e dissertations:diniZ, C. C. 1997. Dinâmica reprodutiva de L. striatus e histologia do ovário de cinco espécies do gênero Leporinus Spix, 1829 (osteichthyes, characiformes, Anostomi-dae) na represa de camargos, MG. 1997. 106f. (dissertação, mestrado em Zootecnia: nutrição de monográstrico). Universidade Federal de lavras, lavras.GArAVello, j. C. Revisão taxonômica do gênero Leporinus Spix, 1829 (ostariophysi, Anostomidae). 1979. 455f. (tese, doutorado em Ciências: Zoologia). instituto de bioci-ências da Universidade de São Paulo, São Paulo.Abstracts in seminars:SAntoS, j. e. dos. Comportamento de larvas de 6 espécies de peixes sob condições ex-perimentais de fotoperíodo. in: enControS AnUAiS de AQUiCUltUrA, 10, 1992, belo horizonte. Anais... belo horizonte: Associação mineira de Aqüicultura, 1992. p.75-77.

8. documents are sent in a Cd, microsoft Word 6.0 or above format, except Windows Vista, in no more than 20 (twenty) pages with 60 (sixty) lines.8.1. An identification sheet is attached to the original, in Cd, with the following informa-

tion:(a) total number of figures, boards, tables, and graphs.(b) total number of Cds with information on the text file, figures, and graphs formats.(c) Further information considered important.(d) Arial font, size 12, scientific names in italics.

8.2. When the original is sent in Cd, a label with the paper title and a printed copy must be annexed.

9. Cds must be submitted to antiviral program.10. bibliographical references must not exceed 30 (thirty).11. though the editorial Council may see to it bibliographical references are revised, the au-

thors are entirely responsible for the data accuracy.12. measured units, values, symbols and abbreviations must follow corresponding national or

international standards.13. Color prints, when absolutely necessary, will depend on the authors’ payment of the corres-

ponding costs.14. illustrations may be reduced due to graphic demands, keeping due proportions.15. Papers must follow, as much as possible, those general norms for the submission of originals.

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16. Publication confirmation:16.1. each paper will receive, free of charge 10 (ten) copies.16.2. extra copies may be requested, in written form, to the editorial Council, shipment

being conditioned to the payment of print and post costs.17. the author(s) could be accessed PUC minas library site for additional information of stan-

dard methods for periodical articles: http://www.pucminas.br/documentos/normalizacao_artigos.pdf

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