batalhas da bíblia

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Narrado com detalhes claros, a explicação militar da Bíblia percorre um grande período - desde a invasão de Canaã pelos israelitas sobre o comando de Jósué até a conquista do reino por Davi e Salomão, entre outras. Tais batalhas são fundamentais para o entendimento dos eventos da época, quando a luta por independência e sobrevivência ofuscavam todos os outros aspectos da vida diária. O livro Batalhas da Bíblia é uma obra fascinante e valiosa - não apenas pela sua análise detalhada dos relatos bíblicos, mas também por seus insights em sua ampla e contínua relevância - que leva em consideração pesquisas históricas e arqueológicas atuais, assim como tendências modernas em conhecimento. Batalhas da Bíblia é, sem dúvidas, um instrumento fundamental para a compreensão do milenar conflito que subsiste na Terra Santa, e para o entendimento das origens da nossa civilização.

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Todos os direitos em língua portuguesa reservados por

© 2009, BV Films Editora Ltdae-mail: [email protected] Visconde de Itaboraí, 311 – Centro – Niterói – RJCEP: 24.030-090 – Tel.: 21-2127-2600www.bvfilms.com.br / www.bvmusic.com.br

É expressamente proibida a reprodução deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, sem o devido consentimento por escrito.

Originalmente publicado em inglês com o título:The Battles of the Bible - A Military History of Ancient IsraelCopyright © Chaim Herzog and Mordechai Gichon 1978, 1997Maps © Lionel Leventhal Ltd 1997All Rights Reserved

This edition is published by special arrangement with GREENHILL BOOKS.

Editor Responsável: Claudio RodriguesAdaptação capa e editoração: GuilAdaptação para o português BR: Daiane Rosa Ribeiro de OliveiraRevisão de Texto: Marco Antonio Coelho Marcus Vinicius Cardoso

ISBN 978-85-61411-09-11ª edição - Agosto/2009Impressão: Imprensa da FéClassificação: Bíblia

Impresso no Brasil

ÍNDICE

Lista de fotografias 7Lista de desenhos 9Lista de mapas e diagramas 11Legendas dos mapas 13Cronologia 14Agradecimentos 19Prefácio 21

PARTE I por Mordechai Gichon

1 O Cenário 27 2 As Campanhas de Josué 44 3 As Guerras dos Juízes 63 4 A Fundação do Reino e do Exército Regular 80 5 A Monarquia Unida 97 6 Os Primórdios de Israel 125 7 Israel nos Reinados de Omeri e Acabe 151 8 Israel depois de Acabe 168 9 As Fortificações de Judá durante o Reinado de Roboão 19910 Judá durante o Reinado de Uzias 21611 O Último Século de Judá 246

PARTE II por Chaim Herzog

12 As Primeiras Batalhas dos Macabeus 26513 Da Liberdade à Independência 282

Abreviaturas 299Notas 300Índice remissivo 321

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

1 Ai vista da vertente inferior da serrania de Betel 2 Gibeon vista do sul 3 Vale de Aialon 4 Monte Tabor 5 En-Dor 6 En-Dor 7 Micmás 8 Arqueiros árabes a camelo 9 Monte Gilboa10 A Cidade Velha de Jerusalém 11 Letra iluminada retratando o rei Davi12 Jerusalém 13 Arqueiro 14 Cavaleiro15 Duelistas16 Lanceiro de Gozan17 Guerreiro armado com bumerangue e funda18 Cameleiro 19 Megido, a principal fortaleza israelita 20 Modelo da fortaleza de Megido 21 Porta superior de Megido 22 Escadaria de Megido 23 Túnel ligando Megido à fonte secreta 24 Porta salomônica de Haçor 25 Casa de pedra de Haçor26 Montes Golan27 Porta da praça-forte israelita de Dan 28 Lápide do rei Uzias 29 Fortaleza de Berseba30 Altar do santuário da guarnição em Berseba

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31 Vestígios da muralha de casamata em Ramat Rahel 32 Vista aérea da fortaleza judaíta de Arade 33 Local da última batalha de Josias34 Passo de Iron 35 Pontas de flecha e lança 36 Pedras para funda 37 Escamas de armadura 38 Cimeiras de capacetes 39 Fortaleza judaíta Tell Lachisch 40 Crânio trepanado 41 O cerco assírio de Láquis 42 O Sudeste de Judá 43 Ladeira de Levona 44 Ladeira de Bete-Horom45 Vista a partir do acampamento de Ptolomeu em Emaús 46 Local do acampamento selêucida em Emaús 47 Cavaleiro helenístico 48 Infante helenístico 49 Elefante de guerra 50 Jerusalém: muralhas do período asmoneu 51 Vale do Jordão 52 Adasa 53 Tumultos dos Macabeus em Modin

LISTA DE FOTOGRAFIAS

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LISTA DE DESENHOS

1 Guerreiro dos “Povos do Mar” 2 Uma tribo semita entra no Egito 3 Infantaria Egípcia 4 Carro de guerra egípcio 5 Espiões espancados pelos egípcios 6 Josué surpreende os amorreus em Gibeon 7 Arqueiro retesando o arco 8 Arco reforçado 9 Funda 10 Um nobre cananeu oferece cativos ao seu suserano 11 Freios provenientes de Tell el Adjul 12 Cota de malha feitas de escamas de metal 13 Espadas 14 Ramsés II combate a invasão dos “Povos do Mar” 15 Espada comprida filisteia 16 Rosto de guerreiro 17 Carroça e carros de guerra filisteus 18 Batalha de Quedes 19 Carro de guerra de Senaqueribe 20 Navio fenício 21 Infantaria Egípcia de Amenhotep 22 Ramsés II toma uma fortaleza de assalto 23 Pontas de flecha 24 Fundibulário de Tell Halaf 25 Arqueiros assírios e cavalo 26 O exército assírio sitia uma cidade 27 Fundibulário e arqueiros assírios 28 Morte do rei de Israel 29 Aríete móvel assírio

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30 Arqueiros assírios em carros 31 Táticas de cerco assírias 32 Arco composto 33 Carta de Arade 34 O cerco assírio de Láquis 35 Senaqueribe ataca a porta de Láquis 36 Tropas assírias ao assalto de uma cidade 37 Carro de guerra de Judá 38 Navio Egípcio 39 Os hititas atacam o acampamento de Ramsés II40 Punhais dos segundo e primeiro milênios a.C. 41 Inscrição em Siloé 42 Pontas e cabos de lanças filistinas 43 Máquina de cerco assíria 44 Arco compósito utilizado a partir do período do Segundo Templo 45 Tipo de balista helenística (palintonon)

LISTA DE DESENHOS

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LISTA DE MAPAS E DIAGRAMAS

1 O Palco Geográfico 2 Conquista de Ai (primeira fase) 3 Conquista de Ai (segunda fase) 4 Campanha das Águas de Meron 5 A Vitória de Débora sobre Sísera (primeira fase) 6 A Vitória de Débora sobre Sísera (segunda fase) 7 Campanha da Fonte de Harode 8 Gideão persegue os medianitas 9 As Guerras de Saul 10 A Expulsão dos filisteus 11 Batalha de Micmás 12 As Guerras de Davi 13 As Muralhas de Jerusalém, de Davi e Sedecias 14 Primeira Campanha do Vale de Refaim (primeira fase)15 Primeira Campanha do Vale de Refaim (segunda fase)16 Segunda Campanha do Vale de Refaim (primeira fase)17 Segunda Campanha do Vale de Refaim (segunda fase)18 A Infraestrutura do Reino de Salomão 19 Ben-Hadade cerca Samaria 20 Acabe nos Montes Golan (primeira fase)21 Acabe nos Montes Golan (segunda fase)22 Marcha ao encontro dos assírios em Qarqar 23 A Guerra contra Mesa 24 Expansão de Israel e Judá com Jeroboão II e Uzias 25 As conquistas assírias 26 As Defesas de Judá (excluindo o Neguebe) 27 A Campanha de Jorão contra Edom 28 Jerusalém: plano e corte do Tzinor 29 A Queda de Judá 30 As Campanhas de Judas Macabeu

12

31 Batalha de Bete-Horom 32 Batalha de Emaús (primeira fase)33 Batalha de Emaús (segunda fase)34 Batalha de Bete-Sur 35 As Expedições de Socorro de Judas e Simão 36 Batalha de Bete-Zacarias 37 Batalhas de Cafarsalama e Adasa 38 A Batalha de Elasa e a Morte de Judas

LISTA DE MAPAS E DIAGRAMAS

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LEGENDAS DOS MAPAS

Movimentos dos israelitas ou aliados

Movimentos dos gentios (não israelitas)

Tropas israelitas em fuga

Tropas dos gentios em fuga

Capital israelita Capital dos gentios

Praça-forte israelita

Praça-forte dos gentios Forte israelita Forte dos gentiosCidade israelita Cidade dos gentiosVila ou aldeia israelita Vila ou aldeia dos gentios Posição Capturada Fronteira imperial Fronteira nacional

Fronteira regional ou antiga fronteira nacionalFronteira administrativa interna Acampamento do comandante israelita Acampamento do comandante gentio Acampamento israelita

Acampamento gentio

Batalha

Porto

Nascente na posse dos israelitasNascente na posse dos gentios Bloqueio israelita Bloqueio gentio

Carros

Infantaria

Cavalaria

Elefantes

Camelos

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CRONOLOGIA (a. C.)

Sécs. XXVII-XXII Império Antigo no Egito. c. 2350 Uni invade Canaã.Sécs XVIII-XVI Canaã integra o Império Hicso.Sécs XVI-VIII Império Novo no Egito.1468-1436 Tutmose III efetua dezessete campanhas em Canaã e a norte desta região.Séc. XIV XVIII Dinastia no Egito. Penetração das tribos hebraicas em Canaã. Permanência dos israelitas no Egito.Séc. XIII Moisés – Êxodo do Egito. Josué – Conquista e estabelecimento parcialmente pacífico em Canaã (=Palestina).Sécs. XII-XI Juízes. Os filisteus e outros “Povos do Mar” instalam-se nas cos-tas de Canaã. c. 1050 Samuel.c. 1025-1006 Saul.c. 1006-968 Davi – O império estende-se das fronteiras do Egito ao Eufrates. c. 968-928 Salomão – Construção do Templo de Jerusalém. Aliança com Tiro. 925 Cisma da Monarquia Unida.

Reino de Israel

c. 925-907 Reinado de Jeroboão. Invasão de Chichac.

c. 882-870 Reinado de Omeri, que edifica Samaria e renova a aliança com Tiro.

Reino e Judá

c. 928-911 Reinado de Roboão. c. 924 Chichac I do Egito invade Judá e Israel. c. 908-867 Asa, rei de Judá, conso- lida o reino, incluindo as grandes obras defensivas de Roboão.

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Reino e Judá

c. 867-851 Reinado de Josafá. Alian-ça ofensiva-defensiva e cooperação com Israel.

c. 851-843 Jorão, rei de Judá, tenta infrutiferamente reconquistar Edom.

c. 812-810 Joás, rei de Judá, sob pres-são de Damasco.

c. 799-785 Amacias reafirma a inde-pendência de Judá e reconsquista Edom.

c. 786-758 Uzias reafirma a as-cendência de Judá sobre os seus vizinhos a leste, sul e oeste. O prefeta Isaías inicia a sua atividade, que prossegue durante o reinado de Ezequias.

Reino de Israel

c. 870-851 Reinado de Acabe, que repele os arameus e lidera uma coligação contra Salmanasar III. Batalha de Qarqar (853). Profeta Elias.

c. 858-824 Em campanhas suces-sivas, Salmanasar III da Assíria consegue subjugar os Arameus e chegar a Gileade e à Galiléia.

c. 852 Mecha, rei de Moabe, re-conquista a sua independência a Israel.

c. 850-842 Reinado de Jorão. c. 850 Israel e Judá invadem Moabe,

mas sem alcançarem um êxito duradouro.

c. 842-814 Jeú revolta-se e é coro-ado rei de Israel com o apoio do profeta Eliseu. As lutas internas tornam Israel praticamente de-pendente de Damasco, governada por Hazael.

c. 800-785 Joás reafirma a indepen-dência de Israel.

c. 785-750 Jeroboão II, em aliança com Uzias de Judá, restabelece as fronteiras salomônicas. Profeta Amós.

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Reino e Judá

c. 724-697 Reinado de Ezequias, que repele a invasão de Senaqueribe (701).

c. 628-609 Josias – última expansão de Judá, a qual, devido à fraqueza da Assíria, incorpora uma grande parte do antigo reino de Israel.

c. 609 Josias morre na Batalha de Megido, contra o faraó Neco.

c. 605 Estabelecimento do Império neobabilônico, que inclui quase todo o reino assírio.

c. 586 Nabucodonosor conquista Jerusalém, e o Primeiro Templo é destruído. Uma grande parte da população é exilada para a Babilô-nia. Tropas judaicas fogem para o Egito, acompanhadas pelo profeta Ezequiel. Fundação das primei-ras colônias militares judaicas no Egito.

Reino de Israel

c. 745-727 Em várias campanhas, Tiglat-Piléser III da Assíria invade e conquista a ponte terrestre palestina. Apenas Judá parece ter conservado alguma independên-cia.

c. 722 Sargão II da Assíria con-quista Samaria após um cerco de três anos levado a cabo pelo seu predecessor, Salmanasar V. Uma grande parte da população é exila-da para locais remotos do império (as “dez tribos perdidas”). Os res-tantes misturam-se com gentios transplantados e constituem os samaritanos – não aceitos como Judeus ortodoxos.

c. 722-628 Israel é uma província assíria.

c. 604-539 Israel é uma província babilônica.

c. 539 Israel é uma província persa.

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537-332 Período Persa.537 Sob o domínio persa, os Judeus são autorizados a regressar da Babilônia

para a Judéia.515 Restauração do Templo (Segundo Templo). c. 440 Neemias chega da Babilônia e reconstrói as muralhas de Jerusalém. c.435 Esdras, o Escriba, junta-se a Neemias na reconstrução da cidade de Jeru-

salém e da comunidade da Judéia. c. 332-134 Período Helenístico.c. 332 Alexandre Magno vence os persas e apodera-se dos seus territórios, in-

cluindo a Palestina. Arqueiros judaicos juntam-se a Alexandre para a con-quista do Egito.

c. 301-200 A Palestina sob o domínio dos ptolomeus do Egito. 198 O imperador selêucida Antíoco III da Síria conquista a Palestina aos pto-

lomeus. 190 Antíoco III perde a decisiva Batalha de Magnésia contra os romanos. 188 Nos termos do tratado de Apaméia, o filho de Antíoco (futuro Antíoco

IV) é enviado para Roma como refém. 187 Subida ao trono de Selêuco IV, filho de Antíoco III. 175 Subida ao trono de Antíoco IV Epífanes, irmão de Seleuco IV. Onias III

(Honyo), o tradicionalista sumo sacerdote judaico de Jerusalém, é expulso pelo imperador, que o substituiu por Jasão, pró-helenista. Este evento marca o início das tentativas selêucidas de helenização da Judéia.

172 Jasão é destruído e foge para a Transjordânia. Para o seu lugar é nomeado Menelau, um helenista convicto.

170 Antíoco IV lança uma primeira campanha no Egito. 168 Roma conquista a Macedônia. Na sua segunda campanha egípcia, Antío-

co IV está prestes a conquistar o país quando Roma lhe ordena que se retire. Insurreição em Jerusalém. Antíoco envia uma expedição punitiva contra a cidade. Muitos judeus são massacrados e o Templo é saqueado. A formidável fortaleza de Acra é edificada como uma base militar selêucida.

167 Antíoco IV promulga decretos antijudaicos. Dezembro Profanação do Templo167 Incidente de Modin. Matatias e os seus filhos erguem a bandeira da revol-

ta. Judas forma uma força de guerrilha. Livro de Daniel. 167-166 Morte de Matatias. Judas sucede-lhe na liderança dos macabeus.

Apolônio é derrotado perto de Gofna, na primeira batalha dos macabeus contra forças selêucidas.

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165 Seron é derrotado em Bete-Horom. Antíoco IV parte para a sua campanha oriental. Nicanor e Górgias são derrotados em Emaús.

164 Lísias é repelido na Batalha de Bete-Sur. Dezembro Os macabeus rededicam o Templo. Inauguração do Festival do Ha-

nukkah. 163 Expedição de Judas para socorrer os Judeus de Gileade. Expedição de so-

corro de Simão à Galiléia Ocidental. Judas opera na planície costeira e na Iduméia. Morte de Antíoco IV Epífanes. Sucede-lhe o filho, o jovem Antíoco V Eupator, com Filipe como regente.

162 Eleazar, irmão de Judas, morre na Batalha de Bete-Zacarias. Lísias chega a Jerusalém. Em nome de Antíoco V, Lísias anula os decretos antijudaicos. O sumo sacerdote Menelau é destituído e executado. Demétrio foge de Roma e torna-se o novo imperador selêucida (Demétrio I Sóter). Antíoco V e Lísias são executados. Eliaquim (Alcimo) é nomeado sumo sacerdote. Nicanor é repelido na Batalha de Cafarsalama.

160 Os macabeus são derrotados por Báquides na Batalha de Elasa. Judas é morto. Jônatas sucede a Judas como líder dos macabeus e retira-se para o Sudeste da Judéia.

152 Jônatas inicia a reconquista da Judéia, após o que estabelece relações di-plomáticas com Roma e Esparta.

142 Simão, o último dos irmãos macabeus, sucede a Jônatas e conquista a in-dependência para o seu país.

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AGRADECIMENTOS

As ilustrações contidas na presente obra foram retiradas das fontes abaixo. Somos gratos às várias organizações, pessoas, autores (ou parentes) e editoras pelos direitos concedidos.

AHARONI, Yohanan, The Ostraca from Arad Inscriptions, Jerusalém, Israel Ex-ploration Society, 1981, p. 206.

ALBRIGHT, W. F., The Archeology of Palestine, Harmondsworth, Pelican Books, 1949, p. 35 e 64.

ARRAS LIBRAIRIE MUNICIPALE, p. 135. AUERBACH, Elias, Wüste und Gelobtes Land II, Berlim, Schocken Verlag,

1936, p. 252. BONNETT, Hans, Die Waffen der Völker des Alten Orients, leipzig, J. C. Hinri-

chs’ sche Buchhandlung, 1926, p. 57 (integral), 61, 67, 203 e 266. BREASTED, James H., <<The Battle of Kadesh>> , Investigations Representing

the Departments: Semitic Languages and Literatures, Série I, Volume V, Chica-go, The University of Chicago Press, 1904, p. 114.

DIESNER, Hans-Joachim, Kriege des Altertums, Berlim, Militärverlag der Deutschen Demokratischen Republik, 1974, p. 281.

DOTHAN, Trude, The Philistines and their Material Culture, Jerusalém, Israel Exploration Society, 1967, p. 30, 81, 83, 87, 95 e 255.

ERMAN, Adolf e Hermann Ranke, Aegypten im Altertum, Tübingen, Verlag J. C. B. Mohr [P. Siebeck], 1923, p. 36, 39, 42, 127, 146 e 235.

FORÇA AÉREA ISRAELITA, p. 134 (final da página).GALLING, Kurt, Biblisches Reallexikon, Tübinggen, Verlag J. C. B. Mohr [P.

Siebeck], 1923, p. 65, 75, 124, 147, 167, 229 e 242.HEIMAN, Hillel, p. 189 (final da página).LAYARD, H. Austen, The Monuments of Nineveh, Londres, Volume I, 1849, Vo-

lume II, 1853, frontispício e p. 154, 161, 172, 194, 198 e 222. MAGALL, Miriam, Archaologie und Bibel, Colónia, Du Mont Buchverlag,

1986, como base para o diagrama da página 246.MUSEU BRITÂNICO, p. 133 (início) e 186 (final da página).

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MUSEU DE ISRAEL, p. 178OPPENHEIN, von, Der Tell Halaf, Leipzig, F. U. Brockhaus, 1931, p. 136 (fi-

nal da página), 137, 138, 139 (início e final da página) e 140.PRITCHARD, James B., Gibeon: Where the Sun Stood Still, Princeton, New

Jersey, Princeton University Press, 1962 p. 42.RADOVAN, Zea, p. 192 (início)REINACH, Theodore, in Bulletin de Correspondence Hellénique IX, Paris, 1885,

p. 190 (final da página).RILEY, Derrick, p. 181 (início) e 182.ROSTOVTZEFF, M., The Social and Economic History of the Hellenistic World

Vol. I, Oxford University Press, 1941, p. 190 (início à esquerda e à direita). TSAMERET, Nati, p. 129 (início e final da página), 130, 131 (início e final da

página), 132 (início e final da página), 134 (início), 136 (início), 141 (início e final da página), 142 (início e final da página), 143, 144 (início e final da página), 177 (início e final da página), 179 (início e final da página), 180, 181 (final da página), 187, 188 (início e final da página), 189 (início), 191 (início e final da página) e 192 (final da página).

USSISHKIN, David, The Conquest of Lachish bu Sennacherib, Tel Aviv, Tel Aviv University Institute of Archeoloy, 1982, desenhos de Judith Dekel e Gert Le Grange, p. 118, 165, 183 (início e final da página), 184 (início), 185 (início e final da página), 186 (início), 208, 212, 226 e 260.

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PREFÁCIO

Este livro teve início a partir de um projeto do mesmo título que foi reali-zado há vinte anos. Ele se beneficiou de todas as investigações e descobertas arqueológicas das últimas duas décadas, e aproveitou-se da oportunidade da presente edição para redesenhar os mapas e ilustrar a obra novamente.

O livro foi escrito numa tentativa de aplicar à narrativa bíblica as ideias e conhecimentos militares modernos.

Fomos conduzidos pelo desejo de narrar a história militar da Bíblia utili-zando os conceitos militares modernos e a terminologia consagrada. Acredi-tamos que desse modo e através das muitas comparações, a capacidade militar de muitos chefes de guerra cuja história é relatada na Bíblia, emergiria em toda a sua amplitude, e seria também sublinhada a aplicabilidade dos princípios da guerra em séculos de história.

Se tínhamos dúvidas no início das nossas investigações quanto à aplicabili-dade da lógica militar moderna a acontecimentos ocorridos há dois ou três mil anos, elas desapareceram enquanto escrevíamos o livro. Não ignorando as alte-rações quantitativas provocadas pelas armas e equipamentos modernos, as leis básicas – estratégia e tática – que se aplicam à guerra convencional moderna são as mesmas que se aplicavam às guerras de um passado longínquo.

Os fatores rígidos e peculiares da geografia têm constituído um elemento principal e constante das considerações dos comandantes de todas as épocas. Nós mesmos, durante os nossos anos de serviço militar, tivemos a oportunida-de de recorrer às lições do passado ao contemplarmos os problemas da luta de Israel pela independência e pela manutenção da sua segurança. Os fatores que influenciaram os antigos generais da Judéia e de Israel continuam influencian-do os generais israelitas de hoje.

A localização estratégica da Terra Santa como principal ponte terrestre do Mediterrâneo Oriental tem, desde a antiguidade, obrigado os seus habitantes desejosos de independência a manterem uma máquina de guerra eficaz e a uti-lizarem com perfeição de tempos em tempos, de forma a não abidicarem da sua liberdade. Somente deste modo, e através de uma total exploração militar

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do terreno, os judeus conseguiram em tempos antigos manterem-se de fato senhores do antigo Israel durante doze séculos.

Estes feitos militares de uma pequena nação, combatendo na maioria das vezes com desvantagem, nos parecem dignos de registro. Além de oferecer o contexto e a interpretação militares dos acontecimentos que deram forma à história bíblica, à análise crítica das guerras e a assuntos militares da Bíblia en-cerram muitas lições que ainda hoje são válidas.

Muitos estudiosos, embora não neguem a natureza inspirada da Bíblia, são consensuais quanto ao fato de serem originárias de uma variedade de fontes, compostas durante vários séculos. A Bíblia não foi concebida como um livro de história ou anais. Aliás, anais como as Crônicas dos Reis de Judá e as dos Reis de Israel são explicitamente e constantemente referidos nas suas páginas. O objetivo da Bíblia era ensinar e guiar utilizando, nos seus livros históricos, ocorrências selecionadas, sem procurar necessariamente oferecer uma pers-pectiva completa e imparcial. Assim, os acontecimentos narrados no período pré-monárquico não têm de estar ligados, em todos os casos, ao seu herói bí-blico, nem de obedecer a uma ordem cronológica correta. Finalmente, muitos eventos importantes, considerados inconsequentes por um ou outro editor bíblico, não foram sequer mencionados, e só a feliz referência numa fonte ex-terna os salvou do esquecimento. Iremos nos referir a estes assuntos no texto sempre que necessário.

Por outro lado, o nosso profundo conhecimento das questões militares e dos campos de batalha bíblicos convenceu-nos de que o pensamento habitu-almente em moda erra ao relegar uma parte cada vez maior da história bíblica para o reino da invenção sábia e pragmática ou da interpretação etiológica de desconhecidos criadores de folclore, escribas e autores posteriores utilizados pelos compiladores do cânone bíblico.1

A descrição tática das batalhas da Bíblia, no seu complexo enquadramento topográfico e na subsequente interação detalhada e lógica entre movimento, manobras e características do terreno, que molda o rumo das batalhas, não pode ser explicada recorrendo meramente à imaginação. Basta, por exemplo, com-parar a campanha de Gideão contra os midianitas e seus aliados, relatada em Juízes 6-8, com as batalhas da Guerra de Tróia, descritas por Homero na Ilíada. Para esta guerra, qualquer costa marítima acessível e uma praça-forte não muito distante servirão perfeitamente como enquadramento geográfico. Basta substi-tuir Gaza, Ascalão ou Rimini (ou inúmeras outras cidades costeiras, escolhidas ao acaso) à colina de Hisarlik/ Tróia, e todos os acontecimentos descritos pela

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Ilíada, ao carecerem dos pormenores relevantes, podem ser transferidos para lá. Mas o mesmo não se verifica com o relato bíblico da campanha de Gideão. As suas detalhadas movimentações táticas e encontros, fruto da interação entre características topográficas específicas e as ações de amigos e inimigos – num teatro de operações com cerca de 60km de comprimento – não podem ser re-produzidas em nenhum outro local. Como qualquer soldado pode comprovar, cada campo de batalha é sui generis nos seus pormenores.

Assim, somos praticamente obrigados a aceitar a veracidade da narrativa tática das batalhas tal como são descritas na Bíblia, ainda que, como referimos anteriormente, os acontecimentos, principalmente os do período pré-monár-quico, possam ter sido atribuídos, por engano ou desígnio, ao chefe tribal ou à época errados.

A investigação arqueológica é fundamental para providenciar o enquadra-mento e a base material da nossa pesquisa, e para fornecer provas epigráficas relevantes, que são ainda mais preciosas devido à sua escassez. Por outro lado, muitas das conclusões retiradas a partir dessas fontes, por um número consi-derável de investigadores, devem ser firmemente rotuladas de conjeturais, e estão longe de constituir um enquadramento fatual crível. As atitudes básicas de alguns especialistas são afetadas por noções sociopolíticas e preconceitos conscientes ou subconscientes, e todos eles tendem a retirar conclusões histó-ricas abrangentes e finais a partir de provas recolhidas nos sítios arqueológicos – nenhum dos quais foi completamente escavado com métodos rigorosos - , muitas vezes antes de ser publicada uma análise completa e final às suas des-cobertas. 2

É algo lamentável, particularmente nos muitos casos em que os arqueólo-gos se permitiram liberdades excessivas com as correções textuais, “explicando” provas fatuais “inadequadas” e ignorando as realidades geopolíticas. Todavia, independentemente do veredicto futuro da investigação equilibrada sobre o enquadramento e os acontecimentos históricos, no âmbito dos quais devemos olhar para as batalhas da Bíblia, tal veredicto não poderá invalidar a sua verdade e autenticidade intrínseca. 3

Impossibilitados, na presente obra, de entrar em discussões que ultrapas-sam os assuntos militares, aderimos à autoridade dos feitos de Josué e de ou-tros líderes tal como são narrados na Bíblia. 4

Gostaríamos de expressar a nossa mais sincera estima e gratidão a Nati Tsameret e ao tenente-coronel Ephrain Melzer pela preparação das novas fo-tografias dos campos de batalha bíblicos, a John Richards pelo desenho dos mapas, e ao nosso editor, Lionel Leventhal, à sua assistente, Kate Ryle e a todos

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os outros membros da sua equipe que de diversas maneiras nos ajudaram a completar a nova edição do livro.

A presente obra é fruto de um trabalho em parceria. Aconselhamos-nos e consultamos-nos mutuamente. Cada um de nós socorreu-se da experiência e qualificações específicas do outro. Em termos de escrita, Mordechai Gichon concentrou-se no período do Primeiro Templo, e Chaim Herzog lidou com o período do Segundo Templo, até a morte de Judas Macabeu em combate, o ponto em que termina o relato militar da Bíblia. Uma última observação a respeito dos nomes das pessoas e das localidades. Nós seguimos, sempre que possível, a versão da Bíblia, conhecida por King James Version*

1, que é a mais familiar do leitor. Nomes de lugares modernos são descritos dee acordo com a transcrição adotada nos mapas relevantes de Israel, da Jordânia e da Síria.

Todavia, tendo considerado as provas acumuladas e as novas ideias e teo-rias, reafirmamos, nesta edição aumentada e revista, que as lições estratégicas e táticas da Bíblia ainda são aplicáveis e nada perderam da sua relevância.

CHAIM HERZOG MORDECHAI GICHON

* King James Version é a versão utilizada na obra em inglês. Na obra traduzida, a versão utiliza-da foi João Ferreira de Almeida Atualizada.

PARTE 1

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C A P Í T U LO 1

O CEN Á R IO

O PALCO GEOGR ÁFICO

De acordo com o que registram os anais, Eretz Israel – a terra que, segundo a tradição bíblica, fora prometida por Deus a Abraão como lar permanente e específico do povo judaico – foi sempre uma das mais importantes vias mili-tares. De fato, a maioria dos especialistas considera que o primeiro relato coe-rente de uma campanha militar a chegar até nós é a narrativa da invasão egípcia de Canaã. Trata-se da inscrição do túmulo de Uni, um general do Faraó Pepi I, que se vangloria da conquista da “terra dos habitantes da areia” através de uma operação naval e terrestre combinada.5 As tropas de Uni efetuaram um desembarque por detrás da serrania do “focinho da gazela” e subjugaram seus inimigos antes de um outro contingente egípcio, que subia pela planície costei-ra, chegar ao campo de batalha, embora a simples ameaça da sua aproximação da retaguarda dos defensores tenha seguramente contribuído para a vitória. Estava-se no século XXIV a. C., a “terra dos habitantes da areia” era o atual Israel e o “focinho da gazela” talvez fosse o promontório do Carmelo.

A campanha de Uni antecede, em mil anos, o estabelecimento israelita na-quilo que se tornara a província egípcia de Canaã. No entanto, nos dá o primei-ro retrato dos fatores e características geopolíticas que regeram o destino da Terra Santa durante toda a sua longa e turbulenta história.

Antes de entrarmos em pormenores, algumas palavras sobre a nomencla-tura. Como mencionamos anteriormente, Eretz Israel é o nome hebraico da Terra Santa, e Canaã é o nome pelo qual era conhecida antes da conquista isra-elita. Após o cisma da Monarquia Unida, cerca de 925 a. C., o Reino do Norte manteve o nome de Israel, e o do Sul passou a chamar-se Judá. O termo Judá acabou por vir a designar todos os domínios judaicos após o regresso dos is-raelitas do exílio na Babilônia, em 537 a. C., incluindo os territórios do reino asmoneu, que se encontravam dentro das suas fronteiras. Judá chegou até nós na forma latinizada de Judéia (Iudaea), o nome que lhe foi dado na qualida-de de província romana após a sua subjugação às mãos de Vespasiano e Tito

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(66-73 d. C.). Este nome foi alterado para Síria-Palestina – portanto Palestina – pelo Imperador Adriano no seu vão esforço para esmagar os judeus na sua pátria após a grande revolta de Bar Kochba (132-135 d. C.). Durante toda a sua história subsequente, a região continuou a ser reconhecida por Palestina, pois nem árabes nem turcos lhe atribuíram outro nome.

Nas páginas que se seguem, utilizaremos o nome Palestina sempre que pre-tendermos indicar a região num sentido geográfico, dentro das suas fronteiras geográficas e sempre sem a mínima referência à conjuntura política atual. Os termos Cisjordânia e Transjordânia também são utilizados no seu sentido geo-gráfico, significando respectivamente as regiões a oeste e a leste do Jordão.

A primeira e principal das características geopolíticas que sempre regeram o destino da Terra Santa é a localização da Palestina, a única ponte terrestre que liga a Eurásia à Africa. Não existe nenhum desvio entre o mar e o deserto, e a única alternativa é utilizar as estradas palestinas a oeste e a leste do rio Jordão. Consequentemente, as potências de então não se abstinham de entrar em con-flitos armados para se apoderarem desta área estratégica, que se tem revelado absolutamente indispensável para o fluxo do comércio em tempo de paz e para o movimento dos exércitos em tempo de guerra. E os soberanos das terras ad-jacentes também não desistiam, sem luta, do seu objetivo de incorporarem es-sas importantes encruzilhadas em seus territórios. Assim, qualquer nação que aspirasse a estabelecer um estado independente na ponte terrestre palestina era obrigada a aceitar um fato importante: o seu destino era viver quase sempre sob uma incessante pressão concêntrica, próxima e distante, e somente uma constante prontidão militar poderia garantir a sua sobrevivência.

Provavelmente, não é uma coincidência o fato de o único povo criar uma comunidade nacional na ponte terrestre palestina, que perdurou (com breves interrupções) durante um período considerável (doze séculos, a partir do sé-culo XII a. C.), ter sido o povo judaico. Durante esse longo período, os judeus viram-se quase sempre forçados a recorrer ao seu ânimo e devoção para com-pensarem a sua inferioridade numérica, outro fator básico do caráter geopolí-tico da Palestina. A própria pequenez da região impunha limites à sua popula-ção. Na antiguidade, quando a agricultura era extensiva e somente pequenos setores da sociedade conseguiam subsistir com ocupações diferentes da lavou-ra, havia um meio importante para aumentar o potencial nacional em recursos humanos e produção alimentar: a conquista de território estrangeiro. Adqui-rindo mais terra arável e lavradores suficientes, um soberano podia se alocar por um certo período de tempo ou permanentemente uma maior proporção

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do povo para as atividades bélicas – para não falar nos auxiliares que podiam ser recrutados nos territórios adquiridos.

A Palestina, confinada por fronteiras naturais e confrontada, a norte e a sul, por países muito maiores, foi obrigada a explorar os seus magros recursos de um modo relativamente superior ao de regiões mais generosamente dotadas. Mas mesmo depois de subjugar as montanhas com o arado e de conquistar lar-gas extensões do árido Sul da Judéia, o Neguebe, para instalar comunidades ru-rais sedentárias, havia um limite que mantinha os “Palestinos” numericamente insignificantes quando comparados com as nações que se desenvolveram no Nilo, na Mesopotâmia, nos planaltos sírios e na Ásia Menor.

Embora esse livro se ocupe de assuntos materiais e físicos, e não nos aspec-tos espirituais da história bíblica, deve sublinhar-se que somente um povo do-tado de zelo religioso, de uma crença firme no seu direito à região como a sua Terra Prometida por decreto divino, e com princípios religiosos que fazem do

exercício do seu culto dentro dos limites desta região um dos seus deveres funda-mentais, poderia desenvolver a resistência moral e espiritual necessária para forjar a Palestina em um Estado e aguentar a pres-são e as dificuldades envolvidas na sua preservação.6

O fator geopolítico seguinte eviden-ciado pela campanha de Uni é o fato de a Palestina possuir uma extensa costa e longas fronteiras terrestres, o que impõe a qualquer nação que aspire a dominar a região, a dupla tarefa de se defender por terra e por mar. Assim, uma das questões básicas que sempre se haviam colocado aos criadores da política de defesa nacio-nal da Palestina fora decidir que propor-ção do potencial nacional deveriam alocar

à terra ou ao mar. Estas páginas revelarão que os judeus da Antiguidade con-sideraram esta dupla tarefa acima das suas capacidades, e tentaram suprir as suas necessidades navais recorrendo principalmente à alianças, a tratados ou à coação dos povos de navegadores que habitavam a costa do Mediterrâneo: os fenícios a norte e os filisteus a sul. Ambos assumiram, por entendimentocom os israelitas ou pela força, o ônus do comércio marítimo e da proteção

Guerreiro dos “Povos do Mar” com um machado de combate (Enkomi, Chipre)

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naval da costa da Palestina. A fraqueza desta solução é óbvia. Foi exatamente em momentos difíceis, quando os israelitas se encontraram particularmente necessitados de apoio naval e dos lucros do comércio marítimo, que os seus parceiros ou vassalos navais tenderam a mostrar-se indiferentes ou chegaram até a cortar as suas relações com Israel.7

Uni chamou a Palestina de “terra dos habitantes da areia”. A razão óbvia para esta incorreção é que, no início, o nome era aplicado apenas – correta-mente – ao Sinai e ao Neguebe, e só mais tarde, quando os horizontes egípcios se alargaram, passou a abranger a parte fértil da região, a norte. Mas serve para nos recordar de outro fator geopolítico que governava a sorte da ponte terres-tre palestina. A Palestina situa-se na fronteira entre o deserto e a terra arável. As suas fronteiras sul e oriental estiveram sempre à mercê de grandes invasões de tribos que procuravam estabelecer-se permanentemente na “terra que mana leite e mel”, bem como de incursões que criavam problemas de segurança co-tidianos. A solução destes problemas constituiu uma parte importante do es-forço militar do Israel bíblico, e os israelitas estavam ainda mais cientes desta questão pelo fato de eles próprios terem inicialmente sido uma federação tribal que invadira a Palestina a partir do deserto oriental.8

A ponte terrestre palestina propriamente dita estende-se do promontório de alvos penhascos (a “escada de Tiro”) até ao “Torrente do Egito” (Wadi El Arish),9 230 km em linha reta, e de Ion (Marijayoun) a Elat, 420 km. De oeste para leste, a distância média entre o Mar Mediterrâneo e o extremo oriental dos planaltos da Transjordânia é de 105 km. A dimensão do Estado judaico variou constantemente durante o período bíblico.

A Palestina está dividida centralmente (de norte para sul), pelo vale do Jor-dão, que no Mar Morto se torna o ponto mais baixo do globo, com uma tem-peratura média anual de 25°C. No entanto no Mar da Galiléia, 208 m abaixo do nível do mar, apenas a 100 km a norte do Mar Morto e com uma temperatura média anual de 21°C, são apenas 50 km até ao Monte Hermom, com o seu pico quase sempre envolto em neve. Os exércitos que combateram no antigo Israel tinham obviamente de ser versados em diversos aspectos da guerra, do extre-mo das operações de montanha as do combate no deserto. Um bom exemplo da diversidade das condições no teatro de operações da Palestina, embora num período muito mais recente, é a Batalha de Hattin, travada em 1178. Enquanto a tropa da cruzada definhava devido à escassez de água num tórrido dia de ve-rão, durante a sua deslocação da Galiléia para Tiberíades, o exército sarraceno refrescava seus comandantes com gelo trazido de camelo das vertentes supe-riores do Monte Hermon, a 85 km de distância.

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Topograficamente, a região a oeste do rio Jordão (Cisjordânia) pode divi-dir-se em cinco grandes zonas: 1) a planície costeira; 2) o Neguebe; 3) o maci-ço central (montanha de Judá e Efraim ou Samaria); 4) a Galiléia; 5) o vale do Jordão (o elo de ligação à Palestina Oriental, também chamada Transjordânia). Dois grandes vales dividem, no sentido este-oeste, o planalto central nos seus três componentes: o vale de Bercheba, entre o Neguebe e o maciço central, e o vale de Jezreel (Esdrelon nas fontes gregas e do Novo Testamento), situado entre o maciço central e a Galiléia.10

A Galiléia pode ser comparada a uma roda enorme, com o seu eixo na cor-dilheira de Meron, a sua elevação mais proeminente (1190 m). Nesta bacia hidrográfica central, as chuvas escavaram vales que irradiam como raios em todas as direções e servem de principais artérias de comunicação – e centros agrícolas - , enquanto que as elevações intermediárias dividem a região em muitas seções semi-isoladas.

Enquanto a Galiléia evoca topograficamente uma grande roda, Judá e Sa-maria assemelham-se a uma escadaria gigante, subindo do mar até a bacia hi-drográfica do planalto central para depois descerem, mas muito mais abrupta-damente, em direção ao vale do Jordão. Partindo da costa, o primeiro degrau, sobe-se pelas faldas (chamadas Shephelah na Bíblia), pelo terceiro degrau (as vertentes inferiores) e pelo quarto degrau (as vertentes superiores) até ao pla-nalto. Na descida, o degrau mais baixo (das encostas ao vale do Jordão) é um penhasco abrupto e perpendicular de altura variável. Visto de cima, o relevo do maciço central parece uma enorme espinha. A parte central é a bacia hi-drográfica, e dela irradiam os wadis (leitos de rios secos) que descem para o Mediterrâneo e o vale do Jordão ou o Mar Morto. A oeste do rio Jordão, as co-municações norte-sul fazem-se ao longo da planície costeira, o planalto do vale do Jordão, e as oeste-leste, excluindo as que recorrem aos grandes vales laterais, são confinadas aos wadis que partem da bacia hidrográfica e aos seus flancos.

As linhas de transição de uma zona geográfica a outra, como por exemplo da planície costeira às terras baixas da Judéia ou destas às encostas das monta-nhas serviram desde sempre de zonas de conflito armado entre os habitantes das montanhas e os senhores das planícies (como entre israelitas e filisteus), até se chegar a um entendimento ou, mais frequentemente, um lado se impor ao outro. De importância vital para a segurança do coração da Samaria e da Judéia era o domínio das estradas laterais, numericamente limitadas, e dos seus desfiladeiros. Durante todo o período bíblico e depois, registraram-se nestes locais bloqueios, batalhas e grandes emboscadas.

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A topografia da região a leste do rio Jordão (Transjordânia) pode ser resu-mida como um planalto com um relevo distintamente montanhoso em partes de Edom11 e do Sul de Moabe. A subida a partir do vale do Jordão é muito abrupta, enquanto que a descida para o deserto, a leste, é tão suave e gradual que muitas vezes quase nem se dá pela fronteira entre o planalto e o deserto.

Os quatro canyons dos rios Jarmuc, Jaboque, Arnon e Zéred transformam o ramal ocidental da principal artéria norte-sul transjordana, a Estrada Real, em tortuosos caminhos ziguezagueantes que são facilmente bloqueados. Para de-fender estas profundas gargantas, foi aberto junto ao deserto o ramal oriental da Estrada Real.

O planalto topograficamente multifacetado do Basan, com os montes Go-lan como lado ocidental, foi uma área de constantes mudanças entre Israel e os Arameus. Sempre que esteve na posse destes últimos, a zona de 90 km de largura na retaguarda entre o rio Jarmuc e as montanhas de Hauran consti-tuiu uma ameaça ao domínio de Israel na Transjordânia, e as estradas e trilhos que desciam dos Montes Golan impunham uma guarda constante da Galiléia Oriental.

À leste, nos confins do Deserto da Arábia, as condições eram semelhantes às do Neguebe. O acesso principal à Arábia Central, o Wadi Sirhan, conduzia a Gileade. Quando eram pacíficas, as caravanas “midianitas” estendiam-se da-qui até ao Egito. Significativamente, uma destas, (Gn 37, 23-28) levou consi-go José, cativo, para o vender nos mercados de escravos do reino faraônico.12

Todavia, quando estavam em guerra, estas mesmas ostes tribais “midianitas” realizavam incursões até o vale de Jezreel ( Jz 6, 33).13

ABR A ÃO E OS PATRIARCA S

As guerras da Bíblia têm início com o êxodo de Abraão e do seu clã da cida-de mesopotâmica de Harã, devido à sua crença revolucionária num deus único, criador e senhor do universo. Ao deixar Harã, Abraão parece ter-se juntado ao grande movimento de grupos étnicos que abalou o Mediterrâneo Oriental no século XVIII a. C. As convulsões populacionais na Ásia Menor e nas regi-ões a norte da Mesopotâmia geraram grandes migrações que, juntamente com outros desenvolvimentos, fundiram grupos étnicos heterogêneos – entre os quais os semitas, os hurritas e os indoiranianos – na chamada nação dos Hic-sos. Foram os Hicsos que conquistaram o Egito (sec. XVIII a. C.), utilizando, pela primeira vez e em grande número, uma nova arma: o carro de guerra. 14

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Tal como viria a acontecer tantas vezes na história, embora a nova arma se vulgarizasse rapidamente, a sua posse inicial e hábil utilização foram decisi-vas. Assim, os hicsos conseguiram construir o seu império e dominar o Egito durante cerca de duzentos anos. Os hicsos nunca conseguiram – talvez nunca quiseram – se misturar com a população egípcia autóctone. Para manterem o seu domínio do Egito e da ponte terrestre palestina, que os ligava aos seus parentes da Síria e Ásia Menor, encorajaram o estabelecimento destes povos no Egito e na Palestina.

As convulções provocadas pelos hicsos deram origem a perturbações e ati-vidades beligerantes, refletidos no relato da vida de Abraão em Gênesis 12-25. Os feitos militares de Abraão, e os de Isaque e Jacó, enquadram-se em duas categorias. A primeira é a defesa de pastagens – dos direitos de pastagem do seu clã – ao chegarem a Canaã, a terra que Deus lhes prometera. Esta catego-ria também inclui as ações de recuperação de rebanhos roubados (Gn. 26). A segunda categoria é a participação em guerras importantes. Este envolvimento decorreu provavelmente dos compromissos de Abraão com as autoridades hic-sas e os seus vassalos cananeus, os reizetes que governavam os territórios onde Abraão se estabeleceu.15 Precisamos de informações exatas, mas uma guerra importante na qual Abraão participou, a dos quatro reis da Mesopotâmia (?) contra os cinco reis da região do Mar Morto, põe em relevo a continuidade das condições estratégicas e dos fatores geomilitares da Palestina desde os primór-dios.

Enquanto os aliados do Norte, liderados por Amerafel de Chinear (na Me-sopotâmia), desciam pela Estrada Real a leste do Jordão para assumirem o con-trole da rota que conduzia a Elat e ao Mar Vermelho, Abraão deslocava-se, sem qualquer impedimento, numa linha paralela a oeste do Jordão. Utilizando a estrada da bacia hidrográfica do maciço central, avançou numa direção oposta à dos reis do Norte e chegou antecipadamente para armar uma emboscada pró-ximo à Damasco, na estrada de Hobá, a área das faldas orientais de Hermon: “Dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus servos, e os feriu, perseguindo-os até Hobá...” (Gn. 14:15). O local desta emboscada noturna foi, sem dúvida, em algum lugar da convergência das duas estradas, próximo a Damasco. Para o campo de batalha de Abraão é tentador sugerir o desfiladeiro de Barada, a noroeste de Damasco, antiga estrada e cenário de muitas emboscadas. Foi aqui que, em um movimento de flanqueamento semelhante, na direção que Abraão deve ter seguido, que a Divisão Montada Australiana emboscou e aniquilou o quarto Exército Turco em retirada, na noite de 30 de setembro de 1918.16

O CENÁRIO

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As lendas patriarcais estão confortavelmente ancoradas nos costumes, tra-dições e leis da região durante todo o segundo milênio a.C. e algum tempo depois. Assim, ainda não é possível nenhum veredicto final quanto à data exata da sua criação. Todavia, tal como as primeiras sagas da Grécia e dos antigos po-vos escandinavos, as histórias patriarcais refletem condições sociais, materiais e geográficas verdadeiras que tendem a fixá-las na primeira metade do período em questão. Da mesma forma, parecem ter-se desenvolvido em torno de um núcleo histórico.

Os estudiosos modernos aperceberam-se de que os editores bíblicos pos-teriores encobriram parcialmente a representação inicial aguerrida dos Pa-triarcas, e particularmente a de Abraão como protótipo do Nobre Guerreiro. Mesmo na versão atual da Bíblia, Abraão, conclui vitoriosamente a guerra atrás mencionada (GN 14), recusa qualquer ganho material ou parte dos despojos, e deixa bem claro que o seu dever para com os seus aliados e para com o seu irmão, que fora capturado, constitui a sua única e suficiente motivação. Este comportamento foi citado como um exemplo por H. Grotius, o pai do moder-no direito internacional, no século XVI, no seu tratado De Jure Belli ac Pacis.17

Uma tribo semítica é autorizada a entrar no Egito, na época dos Patriarcas. Homens e mulheres trajam a “túnica de muitas cores”, objeto da inveja dos irmãos de José (Gn 37:3). Os foles

transportados pelos burros podem ser explicados com barras de metal ou odres. Os guerreiros na parte inferior esquerda exibem um bumerangue, distinto das espadas falciformes dos outros.

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A PER MANÊNCIA NO EGITO

A migração de Jacó para o Egito e a subsequente permanência dos clãs pa-triarcais no distrito de Góchen também devem ser consideradas no período dos hicsos. O “novo Rei do Egito, que não conhecia José”, era Amósis I ou um dos seus sucessores. Amósis I (reinou entre c. 1580-1557 a. C.), um príncipe egípcio autóctone, foi o fundador da XVIII Dianastia. Conseguiu desalojar os hicsos do vale do Nilo e lançou as bases para a subsequente conquista egípcia de Canaã. Após esta “reconquista”, as tribos hebreias do Egito permaneceram um

elemento “estrangeiro”, suspeito de simpatizar com os útlimos bas-tiões hicsos da Palestina e da Síria, e com outros elementos não egíp-cios a norte. Tornaram-se aquilo a que um estrategista militar do século XX chamaria de “potencial risco de segurança permanente”.

Houve sempre dois modos de lidar com um problema des-ta natureza. O primeiro é tentar induzir a população estrangeira a assimilar-se, juntando-se ao cor-po da nação. Foi esta a política de

Alexandre Magno durante as suas conquistas orientais. A outra abordagem, mais frequentemente aplicada mas muitas vezes “estagnante” (para utilizar ou-tro termo político moderno), é a submissão dos elementos estranhos. Foi a opção que os egípcios escolheram para liderarem o povo hebreu, “... para que não se multiplique, e aconteça que, vindo guerra, ele também se ajunte com os nossos inimigos, e peleje contra nós...” (Ex. 1:10).

Durante as subsequentes perseguições, o Êxodo e os “quarenta anos” va-gueando pelos desertos da Península do Sinai sob a liderança inspirada de Moisés, libertador e legislador, os clãs hebreus fundiram-se em um núcleo co-erente que, depois de absorver outros elementos étnicos, se transformou na nação israelita, inicialmente de caráter tribal. As tradições patriarcais comuns, a religião, as leis estabelecidas por Moisés e a importante experiência comum de luta pela conquista de uma primeira testa-de-ponte na margem oriental do Jordão e depois na ocidental, foram as forças que transformaram os clãs he-breus no povo de Israel. A primeira vez que são referidos por este nome é peloFaraó Merneptah, cerca de 1220 a.C. 18

Infantaria egípcia de Ramsés II, com piques, espa-das falciformes e punhais. Os oficiais subalternos

distinguem-se pelo seu equivalente de uma badine.

O CENÁRIO

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A organização militar dos israelitas era, tal como a de todas as nações que emergiam de um estatuto tribal, baseada no dever de todos os homens aptos a pegarem em armas e servirem, sempre que necessário, no respectivo contin-gente tribal da tropa nacional. Segundo a Bíblia, Moisés e Arão organizaram o primeiro exército israelita ao abandonarem o cativeiro egípcio:

Tomai a soma de toda a congregação dos filhos de Israel, segundo as suas famí-lias, segundo as casas de seus pais, conforme o número dos nomes de todo homem, cabeça por cabeça; os da idade de vinte anos para cima, isto é, todos os que em Israel podem sair à guerra, a esses contareis segundo os seus exércitos, tu e Arão. Estará convosco de cada tribo um homem que seja cabeça da casa de seus pais. (Nm. 1:2-4)

Desta passagem, assim como do resto do primeiro capítulo dos Números, ficamos sabendo que, tal como nas emergentes sociedades grega, romana e ger-mânica, os chefes tribais lideravam em tempo de paz e em tempo de guerra – um mandato posteriormente herdado por reis, príncipes, arcontes e cônsules–, e que o povo em armas formava a assembleia nacional dos primeiros povos soberanos. É interessante o fato de, enquanto que nas sociedades ocidentais os direitos democráticos básicos, que emanavam das primeiras assembleias na-cionais, foram desaparecendo com o tempo, a antiga sociedade judaica, mesmo no auge da monarquia, nunca cedeu ao absolutismo. O “povo” nunca deixou de ser, direta e indiretamente, uma entidade influente nos assuntos do Estado. Isto foi fundamental não só para a preservação do povo em armas como sus-tentáculo das forças armadas israelitas até a destruição do Primeiro Templo,19

como veremos nas páginas seguintes, mas também na aparente prontidão dos israelitas em suportar o constante ônus da prontidão militar.20

Uma famosa parede pintada no túmulo de Beni Hassan, no Egito (ver p. 40), dá uma vívida imagem de um clã semita chegado ao Egito na época de Abraão (séculos XIX-XVIII a.C.).21 Podemos facilmente presumir que não existiriam grandes diferenças físicas entre a tribo retratada e os israelitas da época do Êxodo (séculos XIV-XIII a.C.). Tal como este clã, os israelitas eram nômades que dispunham de burros. Deslocavam-se e combatiam a pé, e os seus poucos pertences pesados – incluindo ferramentas e tendas, os idosos, os fracos e as crianças – eram transportados em cima dos asnos. Isto significava que se toda a congregação se deslocasse em conjunto, a sua velocidade média, incluindo o gado, não seria mais do que 4,5 km por hora. É claro que os homens esta-vam sujeitos a muito exercício e empreendiam longas marchas para entrarem em ação, sem serem estorvados pelas suas famílias e pertences. Por razões de

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segurança, as tribos moviam-se e acampavam de acordo com um padrão fixo e bem regulado.

O mural de Beni Hassan apresenta as armas tribais: lança, dardo, arco e espada. Um bardo que toca um alaúde enquanto a caravana avança e evoca os levitas, e os foles transportados pelos burros provam que estes nômades, tais como os israelitas, eram os seus próprios ferreiros e artesãos, consequente-mente autossuficientes no que dizia respeito à manutenção do seu arsenal pes-soal. A sua independência garantia o máximo de flexibilidade às suas manobras militares, pelo que, quando eram bem lideradas, as tropas tribais conseguiam neutralizar algumas das vantagens das forças regulares, melhor equipadas.

Os israelitas, embora fossem exclusivamente infantes, não usavam o núme-ro de armas citado anteriormente, dependendo o armamento da vontade de cada indivíduo. Antes, durante e imediatamente após o êxodo, estabeleceram-se algumas especialidades tribais. Nas páginas seguintes, traçaremos o desen-volvimento do exército israelita, composto de contingentes tribais com equi-pamento e treino variados, complementando-se e apoiando-se mutuamente, e formando um todo bastante equilibrado.22 Todavia, desde o início, existiram necessariamente uma organização fundamental, uma cadeia de comando bá-sico e de disciplina. Estes fatores fazem toda a diferença em um exército, por muito primitivo e pouco sofisticado que seja, e uma multidão armada. Muitas sociedades tribais nunca conseguiram – ou fizeram-no apenas muito gradual-mente – passar de bandos de clãs combatendo numa massa compacta para uma força com divisões táticas e uma cadeia de comando adequada. A Bíblia atribui todos esses feitos a Moisés. “E escolheu Moisés homens capazes dentre todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez” (Ex. 18:25).

A TR AVESSIA DO MAR VER MELHO

Ainda não foi avançada nenhuma solução satisfatória para os muitos pro-blemas e para as provas aparentemente contraditórias que se podem entrever nos relatos bíblicos do Êxodo e das suas batalhas. Somos bastante tentados a seguir o antigo governador britânico do Sinai, o major Jarvis, e a identificar a estreita língua de terra entre o Mediterrâneo e a salobra lagoa chamada Mar Serbônio, a meio caminho entre Port Said e El Arish, como o local do reencon-tro entre os fugitivos israelitas e os seus perseguidores egípcios. 23 Tendo segui-do as pisadas de Jarvis, conseguimos facilmente imaginá-lo apanhado em uma súbita tempestade na areia úmida varrida pelas furiosas águas do Mediterrâneo,

O CENÁRIO

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convencendo-se de se encontrar no local onde ocorreu a “travessia do Mar Ver-melho”. Não é necessária muita imaginação para transferir para estas paragens o relato de Êxodo 14:22-28: “E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco... E os egípcios os perseguiram... As águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros, todo o exército de Faraó, que atrás deles havia entrado no mar; não ficou nem sequer um deles”.

A opção por esta área é ainda mais tentadora, pois dois acontecimentos similares foram registrados nesta faixa de areia entre o mar e a lagoa. Diodoro Sículo, historiador grego do sécu-lo I a.C., relata que durante a inva-são do Egito por Artaxerxes,24 em 340 a.C., alguns dos seus soldados afogaram-se no local.25 Estrabão, escrevendo na mesma época, in-forma-nos do seguinte: “Durante a minha estada em Alexandria, no Egito, o mar subiu tão alto perto de Pelúsio e do Monte Cássio [no centro da faixa de areia] que inun-dou a terra e transformou a mon-tanha em uma ilha”.26

Assim, Moisés deu um exem-plo a todos os comandantes israe-litas futuros, ao minimizar a supe-rioridade do adversário, tornando suas aliadas as características geográficas do teatro de operações. Este “olho perspicaz” é o dom que os grandes capitães têm de adivinhar as qualidades táticas do campo de batalha.27 A opção de Moisés pela estrada ao longo da costa foi ditada pela sua apreciação de que seus perse-guidores egípcios teriam pouco espaço para manobrar com os carros ou quais-quer outras tropas, e que o terreno abundava em características que poderiam ser utilizadas para enredar as forças regulares do faraó. E as investigações ar-queológicas estabeleceram outro fato: na época do Êxodo, as praças-fortes ao longo da estrada costeira, como a fortaleza do Monte Cássio, não estavam per-manentemente guarnecidas, enquanto que a estrada principal (que é seguida pela linha de caminho de ferro, construída pelos britânicos na Primeira Guerra Mundial, e pela rodovia atual) se encontrava ocupada por guarnições egípcias estacionadas em postos fortificados perto de todas as fontes de água. O dese-jo de evitar essas defesas milita a favor da opção pela rota costeira, apesar do

Carro de guerra egípcio com estandarte divisional representando Amom Rá.

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fato de esta ser muito diferente da rota do êxodo, a qual já na época bizantina (séculos V-VI d.C.) se tornara uma tradição profundamente enraizada.28 Mas independentemente da verdadeira localização do reencontro, Moisés atendeu corretamente ao provérbio “...com prudência faze a guerra” (Pv. 20:18), muito antes de ter sido escrito.29

OS ANTECEDENTES DA CONQUISTA

Tal como o êxodo, as etapas da conquista de Canaã estão envoltas na obs-curidade. A Bíblia não estava interessada em assuntos marciais por si, e os cro-nistas que compilaram os registros históricos da conquista de Canaã, tal como é narrada nos livros de Josué e Juízes, não procuraram ir além em suas pes-quisas. Consequentemente, insinuaram-se nestes relatos versões da conquista ocasionalmente divergentes ou até contraditórias, e a moderna investigação ainda não chegou a uma fórmula consensual nesta questão. As teorias recentes que propõem uma conquista completamente pacífica não resistem à compa-ração com nenhuma das bem conhecidas aquisições, na antiguidade, de um território nacional à custa da população indígena. E também não existe nenhu-ma justificação convincente para a teoria complementar de que os israelitas cristalizaram a partir da população cananeia existente. Excluindo alguns dados arqueológicos sujeitos a diversas interpretações, também aqui carecemos de uma verdadeira comparação histórica. Referindo apenas dois problemas sub-jacentes a estas teorias: como e porque é que um grupo casual de camponeses destituídos e recolocados (como se pensam terem sido os antepassados dos israelitas) desenvolve, no seu próprio território e sem coação, uma identidade nacional distinta baseada num inovador monoteísmo – uma religião categori-camente oposta às suas crenças ancestrais, profundamente enraizadas? Como puderam desenvolver tradições baseadas em um passado nômade e com costu-mes estranhos – e muito pouco nobre – de servidão no Egito?30

A conquista da Cisjordânia e da Transjordânia foi favorecida pelo fato de o Império Egípcio já não ser capaz de destacar forças suficientes para defender a província de Canaã, que adquirira com a retirada dos hicsos. Em meados do século XIV a.C., o Império Novo perdera temporariamente a sua superioridade e, além do mais, encontrava-se a braços com problemas internos e ameaças à sua segurança em outras fronteiras. Foi isto que permitiu às tribos hebreias uma primeira instalação na Terra Prometida, numa combinação de conquista militar e constante infiltração pacífica. As fontes egípcias, assim como as in-dicações bíblicas, apontam para o fato de que nem todos os clãs ligados aos

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Patriarcas haviam seguido Jacó para o Egito. Os clãs que tinham ficado para trás eram os aliados naturais dos que regressavam da servidão faraônica. Além disso, vários outros clãs, que não tinham inicialmente pertencido à associação tribal hebraica ligada aos Patriarcas, fundiram-se com as “doze tribos” durante várias etapas da conquista.31

Embora careçamos de informações precisas sobre a penetração inicial da Transjordânia, possuímos o interessantíssimo relato de um dos principais acontecimentos que ocorreram durante a fase de planejamento. Desde os tem-pos das primitivas guerras tribais, uma das mais importantes funções dos esta-dos-maiores tem sido a inteligência militar. Os grandes capitães da história, nas suas épocas respectivas, dedicaram muito tempo a superiorizar-se aos adversá-rios através da aquisição de um retrato mais exato possível das suas intenções, capacidades, força, posicionamento e terreno. Wellington resumiu este esforço mental muito sucintamente. Quando lhe perguntaram o que pensava duran-te as suas longas horas de reclusão e silenciosas ponderações, ele respondeu: “Penso no outro lado da colina”.

Para Moisés, acampado no oásis de Cades-Barnea, o “outro lado da colina” era a terra de Canaã, para além dos quilômetros do árido solo rochoso e das areias do Neguebe. Para descobrir a melhor maneira de conquistá-la, Moisés enviou doze espiões. O capítulo treze do livro de Números recorda as instru-ções que Moisés deu às suas tropas de reconhecimento. A necessidade de o ofi-cial de inteligência ser detalhadamente instruído pelo seu comandante, ou das agências de inteligência pelo primeiro, tornou-se um dos princípios básicos de qualquer operação de inteligência moderna. Os tópicos em discussão e a sua ênfase mudam de missão para missão mas, segundo um moderno manual ofi-cial, “O tema da inteligência estratégica pode ser considerado a partir de dois aspectos: 1) as capacidades das nações; 2) as intenções das nações. Moisés es-tava claramente interessado nas primeiras. E prossegue o nosso manual: “As ca-pacidades das nações na guerra e na paz baseiam-se nos seus recursos naturais e industriais, na sua estabilidade política e demografia, no caráter e vigor das suas populações, nas suas forças armadas, nos seus progressos científicos, na sua topografia e infraestruturas”.

Comparadas com este guia, escrito três mil anos depois, as instruções de Moisés apresentam-se surpreendentemente modernas e em linha com os re-quisitos de hoje:

Enviou-os, pois, Moisés a espiar: a terra de Canaã, e disse-lhes: Subi por aqui para o Negebe, e penetrai nas montanhas; e vede a terra, que tal é; e o povo que nela

BATALHAS DA BÍBLIA

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habita, se é forte ou fraco, se pouco ou muito; que tal é a terra em que habita, se boa ou má; que tais são as cidades em que habita, se arraiais ou fortalezas; e que tal é a terra, se gorda ou magra; se nela há árvores, ou não; e esforçai-vos, e tomai do fruto da terra. Ora, a estação era a das uvas temporãs. (Nm 13:17-20)

Uma das fraquezas e potenciais fracassos associados aos relatórios da in-teligência é o fato de o recipiente ser obrigado a basear o seu planejamento e atividades nas estimativas e interpretações de outros. E os outros, por caráter, treino ou inclinação, podem chegar a conclusões diferentes das que o coman-dante teria tirado caso pudesse ter observado pessoalmente “o outro lado da colina”. A derrota de Frederico, O Grande, em Kunnersdorf, em 1759, o revés de Napoleão frente a Acre, em 1799, e o desastre britânico em Arnhem, em 1944, não teriam provavelmente ocorrido se os comandantes supremos tives-sem tido a possibilidade de avaliar pessoalmente os fatos nos quais a sua inte-ligência se baseara.32 Nada mais natural, assim, que os comandantes insistam, perante as suas agências de recolha de inteligência, na necessidade de lhes se-rem fornecidas as provas mais tangíveis possíveis para confirmar os relatórios. Moisés não era excessão, pois terminou as suas instruções com o seguinte pe-dido: “Esforçai-vos, e tomai do fruto da terra” (Nm 13:20).

Os espiões obedeceram às palavras de Moisés e substanciaram o seu rela-tório acerca dos produtos naturais de Canaã regressando com amostras dos ricos frutos que lá cresciam. Com toda a probabilidade, estas provas contri-

buíram bastante para realçar a cre-dibilidade do relatório quanto aos itens dos quais não fora possível trazer provas tangíveis: “Contudo o povo que habita nessa terra é po-deroso, e as cidades são fortifica-das e mui grandes. Vimos também ali os filhos de Anaque... éramos aos nossos olhos como gafanho-tos; e assim também éramos aos

seus olhos” (Nm 13: 28,33).33

Outro meio de minimizar os perigos inerentes em basear uma estimativa nas apreciações de outro era escolher os oficiais mais capazes para as missões cruciais. No século XVII, quando se tornou habitual autorizar embaixadores como coletores permanentes de inteligência nas cortes estrangeiras, um manu-al francês sublinhava a importância de se escolher um general do mais elevado

Espiões inimigos espancados por elementos da segurança militar egípcia

O CENÁRIO

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escalão, pois “ele estará em melhor posição do que qualquer outra pessoa, para informar adequadamente a respeito das forças do seu país de residência, sobre qualidade das tropas... o estado das praças-fortes, dos arsenais e dos depósitos”. Moisés o fez muito antes. Segundo o livro de Números 13:1-2: “Então disse o Senhor a Moisés: Envia homens que espiem a terra de Canaã... De cada tribo de seus pais enviarás um homem, sendo cada qual príncipe entre eles”. Deste modo, a avaliação mais otimista de Josué e Caleb foi rejeitada pelas vozes dos outros dez batedores, representantes da liderança das respectivas tribos.

A análise destes foi validada quando a tentativa de avançar de Cades-Barnea diretamente para norte, atravessando o Neguebe e entrando na Terra Prometi-da, foi frustrada pelo rei de Arad. Os guerreiros tribais também foram incapazes de tomar de assalto as muralhas das cidades do vale de Berseba (as pesquisas arqueológicas revelaram o seu padrão), e não conseguiram resistir, em campo aberto, às forças regulares fortemente armadas, que incluíam uma unidade dos temidos carros de guerra. Os batedores tinham razão, e Moisés aptou por efe-tuar uma aproximação indireta. Fazendo um grande desvio, ladeou os reinos bem defendidos que haviam sido estabelecidos nos planaltos transjordanos algumas gerações antes do êxodo e, deslocando-se na beira do deserto, virou para oeste e atacou o único elo fraco da cadeia de reinos nas fronteiras do de-serto: o do rei amorreu Seon. Os operacionais do serviço de informações isra-elita devem ter trabalhado bem entre os seus parentes, os Edomitas, Moabitas e Amonitas. Não levaram muito tempo para descobrir que Seon criara recen-temente um reino a partir das terras baixas moabitas, a norte do rio Arnon. A conquista fora realizada com grande esforço, e ele ainda não tivera tempo para fortificar suficientemente o seu reino. Assim, os israelitas conseguiram invadir e conquistar os territórios de Seon, de onde avançaram para norte e entraram na região de Gileade, na época esparsamente povoada. Em Gileade, uniram-se a clãs hebraicos locais e transformaram a sua estrutura tribal, ainda muito pouco coesa, em uma sociedade semi-sedentária de tribos militantes, com o objetivo de conquistar toda a Terra Prometida.34