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1 LEITURA ORANTE DA BÍBLIA ENCONTRO COM A PALAVRA Fazer arder o coração (Lc 24,32)

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Estão reunidos aqui alguns temas sobre a Leitura Orante da Bíblia. A Leitura Orante (Lectio Divina) tem que ser o eixo da nossa espiritualidade. Dirigido a todas as pessoas – leigos, leigas, religiosos, religiosas, agentes de pastoral –, o assunto é bastante amplo. A Palavra de Deus é como o arroz e feijão de todos os dias. Não há diferença entre o arroz que se come em nossa casa e na casa do nosso vizinho. É o alimento de todos para todos os dias. A diferença está somente no tempero!

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LEITURA ORANTE DA BÍBLIA ENCONTRO COM A PALAVRA

Fazer arder o coração (Lc 24,32)

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LEITURA ORANTE DA BÍBLIA ENCONTRO COM A PALAVRA

Compilação, organização e produção digital:

Luiz Edgar de Carvalho

“Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas.

Os livros só mudam as pessoas”. Mário Quintana

Mens Sana Publicações eletrônicas

para ler e pensar 2009

Bibliografia: “Tua Palavra é Vida 1” – VV.AA. - Edições CRB/Loyola

Fazer Arder o Coração – Frei Carlos Mesters, Editora do Carmo Revista de Estudos Bíblicos Nº 32, Vozes

História do Povo de Deus – Roteiros para Reflexão, CEBI/Paulus.

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LEITURA ORANTE DA BÍBLIA

ÍNDICE Apresentação I. As várias maneiras de se olhar e ler a Bíblia II. Os critérios da Leitura Orante da Bíblia III. Um pouco de história sobre a Leitura Orante da Bíblia IV. Considerações gerais sobre a Leitura Orante da Bíblia V. Os quatro degraus da Leitura Orante da Bíblia VI. Como fazer a Leitura Orante da Bíblia, hoje? VII. O método a ser usado nas reuniões de Leitura Orante da Bíblia Roteiros para reflexão Encontro 1: A opressão no Egito e a libertação pelo poder de Deus Encontro 2: A organização do povo e a distribuição da terra Encontro 3: Recuperação da memória e da própria identidade Encontro 4: Crise e mudança do sistema tribal para a monarquia Encontro 5: Os profetas criticam os reis em nome da Aliança Encontro 6: Exílio: desintegração, nova libertação (587-445 a.C.) Encontro 7: Reorganização do povo com base na lei (Esdras e Neemias) Encontro 8: Sabedoria: resistência e abertura frente à invasão cultural Encontro 9: Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo Encontro 10: As comunidades: um novo modo de ser Povo de Deus Encontro 11: Expansão do Evangelho pelo mundo Encontro 12: Perseguição e resistência no final do século I VIII. Resumo: a mística que deve animar a Leitura Orante da Bíblia IX. A visão global da Bíblia: Reler o passado à luz do presente X. História do Povo de Deus - Linha do tempo

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APRESENTAÇÃO Estão reunidos aqui alguns temas sobre a Leitura Orante da Bíblia. A

Leitura Orante (Lectio Divina) tem que ser o eixo da nossa espiritualidade. Dirigido a todas as pessoas – leigos, leigas, religiosos, religiosas, agentes de pastoral –, o assunto é bastante amplo. A Palavra de Deus é como o arroz e feijão de todos os dias. Não há diferença entre o arroz que se come em nossa casa e na casa do nosso vizinho. É o alimento de todos para todos os dias. A diferença está somente no tempero!

A grande novidade eclesial acontecida nos últimos anos do milênio recém findo foi o reencontro das comunidades com a Palavra de Deus. É difícil explicar como foi que tudo aconteceu. De repente, desde os anos sessenta, cresceu o interesse de todas as pessoas nas comunidades pela Bíblia, como nunca antes em toda a história da América Latina.

A Bíblia está sendo usada para tudo: orações e preces, cursos e concursos, treinamentos e retiros, reuniões e encontros, celebrações e vigílias, sermões e discursos, catequese e novenas, teatros e dramatizações, músicas e benditos, contos e cantos, gincanas e charadas, luta sindical e organização de greves, construção de capelas e mutirão para construir barracos, crítica ao clero e revisão da própria vida, reunião política e comício de partido, luta pela terra e defesa do índio, cartas de apoio e manifestos contra as injustiças, procissão da Padroeira e passeata para exigir os direitos, luta pela saúde do povo e esforço para voltar aos remédios caseiros, terço de Nossa Senhora e Mês de Maio, educação em família e educação popular de base, clubes de mães e organizações de bairro, invasão de terra e romarias, luta de operários e piquete nas portas das fábricas, jejum de protesto e resistência contra pistoleiros, manifestações em frente à delegacia de polícia e apoio aos presos políticos, manifestações ecológicas em defesa do meio ambiente e defesa dos Direitos Humanos etc. Realmente, o povo das nossas Comunidades está usando a Bíblia para tudo, ou quase tudo!

Com esta lista de coisas, algumas até curiosas, que o povo anda fazendo com a Bíblia, queremos chamar a atenção para uma outra coisa muito importante: o povo das comunidades sabe misturar a Palavra de Deus em todas as coisas de sua vida. E nela encontra a força para caminhar e não desanimar na luta!

Esta presença tão forte da Bíblia na vida das comunidades revela que ela é como luz que faz enxergar melhor a vida, é como força que faz agir melhor e é como autoridade que faz decidir melhor.

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5Na Leitura Orante da Bíblia, apesar das diferenças próprias de cada

comunidade, existe um método, cujas características básicas são comuns a todos, o qual podemos aprender. Um método é muito mais do que só umas técnicas e dinâmicas. É uma atitude que se toma frente ao texto da Bíblia e frente à própria vida. Este método é muito simples: 1. Vamos ler a Bíblia a partir da nossa luta e da nossa realidade; 2. Esta leitura, antes de tudo, é uma leitura comunitária, uma prática orante, um ato de fé; 3. Esta leitura deve ser obediente, isto é, respeitando o texto e se colocando à escuta do que Deus tem a dizer, dispostos a mudar se Ele assim o exigir.

A Leitura Orante não é apenas um exercício de leitura que retoma ou reinterpreta algumas palavras do passado, mas tem a ver com o próprio processo de crescimento e libertação de um povo e com a sua caminhada através da história. A Leitura Orante ajuda a realizar a obrigação que temos de captar e experimentar a novidade de Deus presente na história humana, verbalizá-la e transformá-la em Boa-Nova para o povo e, por último, encarná-la e expressá-la em novas formas de vida de tal maneira que, por meio dela, o povo possa perceber, novamente, o seu alcance para a vida e despertar para a sua missão.

A Leitura Orante da Bíblia é, assim, como a velha árvore do fundo do quintal que nunca envelhece, pois, todo ano, fornece frutos novos! Nova experiência de Deus, nova leitura do passado, nova consciência da realidade: são os três pólos, inseparavelmente unidos entre si, que geraram e continuam gerando a (re)-leitura das palavras sagradas que nos vêm do passado. É isto o que nos propomos nas páginas seguintes: vivência comunitária, onde se experimenta Deus de maneira nova, fidelidade ao texto bíblico que representa a tradição e o passado, e atenção aos problemas da realidade. E é isto o que desejamos. (LEC)

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6I - AS VÁRIAS MANEIRAS DE SE OLHAR

E LER A BÍBLIA O que está na Bíblia não está só na Bíblia. Está também na vida de todos

os que procuram viver na fidelidade à Palavra. Abrindo a Bíblia nós não abrimos um livro estranho, mas sim um livro que fala de nós mesmos, de nossa vida, da nossa caminhada e da nossa luta. Na Leitura Orante da Bíblia, vamos olhar para o que é nosso, “escrito para nós” (1Cor 10,11). Vamos descobrir, com a ajuda da Bíblia, que a Palavra de Deus está na nossa vida, na nossa história, na história de nosso povo.

Olhando de longe, a Bíblia parece uma parede imensa, onde cada tijolo

contribui a seu modo para fazer aparecer o desenho do projeto de Deus. Apesar de enorme, feito de muitos tijolos, de muitos textos e livros, o desenho tem uma grande unidade. De ponta a ponta, transparecem nele os traços de um rosto. É o rosto do próprio Deus com os traços humanos de Jesus Cristo. É Jesus que, de maneira discreta, dá unidade a todas as partes da Bíblia.

Olhando mais de perto, nós percebemos o que de longe não aparece.

Cada tijolo é diferente do outro no tamanho, na forma, no peso, no valor, na época e no material de fabricação. Cada livro da Bíblia é diferente do outro no gênero literário, na língua, no autor ou autora, no assunto, na época e lugar em que foi escrito, no objetivo, no destinatário, na mensagem. Do ponto de vista literário, a Bíblia tem uma variedade imensa. E a gente se admira ao ver como uma variedade tão grande consegue construir uma unidade tão forte e tão bonita.

Olhando bem de perto, nós percebemos o incrível: cada tijolo, além de

contribuir para o grande desenho do Projeto de Deus, tem o seu próprio desenho: e o desenho pequeno de cada tijolo nem sempre combina com o grande desenho do Projeto de Deus. Os tijolos falam de outras lutas e outras histórias; revelam conflitos e situações que não aparecem no grande desenho. Parece uma confusão muito grande. Maior, porém, é a admiração! Tudo isto mostra que a Palavra de Deus se encarnou realmente em palavras humanas. Tornou-se igual à nossa palavra em tudo, menos no erro e na mentira. A ação do Espírito Santo, que faz com que a Bíblia seja Palavra de Deus, não passa pelos distantes fios de alta tensão, mas sim pela fiação da rede doméstica, embutida na parede dos conflitos, das contradições e das confusões da vida humana. Por maior que possa parecer a contradição

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7interna das várias partes da Bíblia, ela não destrói a unidade do Projeto de Deus nem nega a inspiração divina da Sagrada Escritura. Pelo contrário, revela o seu verdadeiro alcance!

Olhando novamente de longe, revendo tudo, nós descobrimos que não

se trata de uma parece isolada, mas da parede de uma casa. E por incrível que pareça, é a parede da casa em que nós estamos morando. É de nossa casa! Olhando a Bíblia, estamos olhando para a nossa própria casa, olhando para o que é nosso.

É deste modo que vamos olhar a Bíblia. Vamos olhar para o que é

nosso. Às vezes, de longe, outras vezes mais de perto, outras bem de perto. Ou seja, o estudo terá três níveis, misturados entre si: literário (ver de perto o texto), histórico (olhar a situação do povo) e teológico (escutar a mensagem de Deus). Mas qualquer que seja o olhar ou o nível, ele terá sempre o mesmo objetivo: descobrir que a palavra da Bíblia já estava pintada na parede da casa em que moramos. Queira Deus que essa descoberta produza em nós muita satisfação e alegria.

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8II. OS CRITÉRIOS DA LEITURA ORANTE DA BÍBLIA

Não basta a razão para descobrir todo o sentido da Bíblia. Segundo o

Documento Dei Verbum do Concílio Vaticano II: “a Sagrada Escritura também deve ser lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi escrita” e que “para captar bem o sentido dos textos sagrados, deve-se atender com não menor diligência ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levada em conta a Tradição viva de Igreja toda e a analogia da fé” (DV 12). Estes critérios permitem descobrir o sentido pleno da Bíblia, impedir que o seu sentido seja manipulado e evitar que o texto seja isolado do seu contexto de origem que o gerou, da tradição que o transmite e da vida atual da Igreja a que deve servir.

Aqui, vamos dar uma atenção maior a uma parte da “Tradição viva de toda a Igreja” e veremos o que a prática secular da Leitura Orante da Bíblia nos tem a dizer. Além disso, um subsídio – Visão Global da Bíblia – nos ajudará a perceber a importância “do conteúdo e da unidade de toda a Escritura”. Nos subsídios apresentados, abordaremos mais de perto os outros critérios recomendados pelo documento Dei Verbum.

A Leitura Orante da Bíblia é o coração da vida religiosa do cristão.

Existe uma leitura da Bíblia que começa a ser feita pelas nossas Comunidades. Algumas características dessa leitura: 1. Levar, para dentro da Bíblia, os problemas da nossa vida. Ler a Bíblia a partir da nossa luta e da nossa realidade; 2. A leitura é feita em Comunidade. É, antes de tudo, uma atividade comunitária, uma prática orante, um ato de fé; 3. Uma leitura obediente, respeitando o texto e se colocando à escuta do que Deus tem a dizer, dispostos a mudar se Ele o exigir.

Esta prática tão simples é profundamente fiel à prática da mais antiga Tradição da Igreja. Por isso mesmo, através dela, o Espírito de Deus chama nossa atenção para alguns elementos importantes e indispensáveis da leitura cristã da Bíblia, que nós tínhamos esquecido ou negligenciado: partir da realidade de hoje e criar um ambiente comunitário e orante de fé.

Os três critérios — REALIDADE, COMUNIDADE, TEXTO — são três ângulos específicos, cada um com características próprias. Ao se fazer a leitura, esses três critérios se articulam entre si em vista do mesmo objetivo: escutar Deus hoje.

Esses três critérios constituem a mística da leitura da Bíblia que estaremos aprendendo neste curso. Eles dão unidade ao plano todo, unificam os grupos que dele participam ou vierem a participar e nos

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9colocam no coração da Tradição da Igreja, marcada pela prática secular da Leitura Orante da Bíblia.

A Leitura Orante indica a prática de leitura que vamos fazer da Bíblia para alimentar a nossa fé, a nossa esperança, o nosso amor e o nosso compromisso.

A Leitura Orante da Bíblia, sempre foi a espinha dorsal da Vida Religiosa Cristã, desde os seus mais remotos inícios, já no tempo do monaquismo. Ela sempre reaparece quando se procura ler a Bíblia com fidelidade. Reapareceu nestes últimos anos, sem rótulo e sem nome, principalmente aqui na América Latina, no meio das Comunidades que recomeçaram a ler a Bíblia. Com a prática da Leitura Orante da Bíblia, aproximamo-nos dessa fonte inesgotável do passado que, no presente, está gerando e irrigando a vida nova das nossas Comunidades.

Depois de umas breves informações históricas e algumas considerações gerais, vamos analisar de perto os quatro degraus da Leitura Orante: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação. São os quatro passos da leitura da Bíblia, tanto individual como comunitária. São, também, e sobretudo, quatro atitudes permanentes que devemos ter diante da Palavra de Deus. Vamos ver em que consistem e como, quando articulados entre si, formam o método da Leitura Orante da Bíblia.

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10III. UM POUCO DE HISTÓRIA

Na sua origem, a Leitura Orante (Lectio Divina) nada mais era do que a

leitura que os cristãos faziam da Bíblia para alimentar sua fé, esperança e amor e animar assim a sua caminhada. A Leitura Orante é tão antiga quanto a própria Igreja, que vive da Palavra de Deus e dela depende como a água da sua fonte (DV 7.10.21). Prolonga, assim, uma tradição das comunidades dos pobres (anawim) do Antigo Testamento.

A Leitura Orante é a leitura crente da Palavra de Deus, feita a partir da fé em Jesus, que disse: “O Espírito vos recordará tudo o que eu disse e vos introduzirá na verdade plena” (Jo 14,26;16,13). O Novo Testamento, por exemplo, é o resultado da leitura que os primeiros cristãos faziam do Antigo Testamento à luz dos seus problemas e à luz da nova revelação que Deus fez de si através da ressurreição de Jesus, vivo no meio da comunidade. No decorrer dos séculos, esta leitura crente e orante da Bíblia alimentou a Igreja, as comunidades, os cristãos. Inicialmente, não era uma leitura organizada e metódica, mas era a própria Tradição que se transmitia, de geração em geração, através da prática do povo cristão.

A expressão Lectio Divina (Leitura Orante) vem de Orígenes. Ele diz que, para ler a Bíblia com proveito, é necessário um esforço de atenção e de assiduidade: “Cada dia de novo, como Rebeca, temos de voltar à fonte da Escritura!” E o que não se consegue com o próprio esforço, assim diz ele, deve ser pedido na oração, “pois é absolutamente necessário rezar para poder compreender as coisas divinas”. Deste modo, assim ele concluiu, chegaremos a experimentar o que esperamos e meditamos. Nestas reflexões de Orígenes, temos um resumo do que vem a ser a Lectio Divina (Leitura Orante). A Lectio Divina (Leitura Orante) tornou-se a espinha dorsal da Vida Religiosa, como já dissemos. Em torno da Palavra de Deus, ouvida, meditada e rezada, surgiu e se organizou o monaquismo do deserto. As sucessivas reformas e transformações da Vida Religiosa sempre retomavam a Leitura Orante como a sua marca registrada. As regras monásticas de Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento fazem da leitura da Bíblia, junto com o trabalho manual e a liturgia, a tríplice base da Vida Religiosa.

A sistematização da Lectio Divina em quatro degraus veio só no século XII. Por volta do ano 1150, Guigo, um monge cartuxo, escreveu um livrinho chamado A Escada dos Monges. Na introdução, antes de expor a teoria dos quatro degraus, ele se dirige ao “caro irmão Gervásio” e diz: “Resolvi partilhar com você algumas das minhas reflexões sobre a vida espiritual dos monges. Pois você conhece esta vida por experiência, enquanto eu só a conheço por estudo teórico. Assim, você poderá ser juiz e

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11corretor das minhas considerações”. Guigo quer que a teoria da Lectio Divina seja avaliada e corrigida a partir da experiência e da prática dos irmãos.

Em seguida, ele introduz os quatro degraus: “Certo dia, durante o trabalho manual, quando estava refletindo sobre a atividade do espírito humano, de repente se apresentou à minha mente a escada dos quatro degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação. Essa é a escada dos monges, pela qual eles sobem da terra ao céu. É verdade, a escada tem poucos degraus, mas ela é de uma altura tão imensa e inacreditável que, enquanto a sua extremidade inferior se apóia na terra, a parte superior penetra nas nuvens e investiga os segredos do céu”. Depois disto, Guigo mostra como cada um desses degraus tem a propriedade de produzir algum efeito específico no leitor da Bíblia. Em seguida, ele resume tudo: “A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com espírito atento. A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão, procura o conhecimento da verdade oculta. A oração é o impulso fervoroso do coração para Deus, pedindo que afaste os males e conceda as coisas boas. A contemplação é uma elevação da mente sobre si mesma que, suspensa em Deus, saboreia as alegrias da doçura eterna”. Nesta descrição dos quatro degraus, Guigo sintetiza a tradição que vinha de longe e a transforma em instrumento de leitura para servir de instrução aos jovens que se iniciavam na vida monástica.

No século XIII, os Mendicantes tentaram criar um novo tipo de Vida Religiosa, mais inserida no meio dos “Menores” (pobres). Eles fizeram da Lectio Divina a fonte inspiradora do seu movimento renovador, como transparece claramente na vida e nos escritos dos primeiros franciscanos, dominicanos, servitas, carmelitas e outros mendicantes. Através da sua vida inserida, souberam colocar a Lectio Divina a serviço do povo pobre e marginalizado daquela época. Houve, em seguida, um longo período em que a Leitura Orante (Lectio Divina) ficou praticamente esquecida. A leitura da Bíblia não era mais fomentada, nem mesmo nos Conventos e Mosteiros. Foi o infeliz efeito da Contra-Reforma na vida da Igreja. Insistia-se muito mais na leitura espiritual. O medo do protestantismo fez perder o contato com a fonte! O Concílio Vaticano II, porém, retomou a antiga tradição e, no seu documento Dei Verbum, recomenda com grande insistência a Lectio Divina (Leitura Orante) (DV 25). Ela reapareceu, de maneira nova, sem rótulo e sem nome, no meio das comunidades, onde as pessoas recomeçaram a leitura da Palavra de Deus, sendo cultivada e estudada, explicitamente, por leigos e religiosos.

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12IV. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE

A LEITURA ORANTE DA BÍBLIA Pela Leitura Orante, procuramos atingir o que diz a Bíblia: “A Palavra

está muito perto de ti: na tua boca e no teu coração, para que a ponhas em prática” (Dt 30,14). Na boca, pela leitura; no coração, pela meditação e pela oração; na prática, pela contemplação. O objetivo da Leitura Orante é o objetivo da própria Bíblia: “Comunicar a sabedoria que leva à salvação pela fé em Jesus Cristo” (2Tm 3,15); “instruir, refutar, corrigir, formar na justiça e, assim, qualificar o homem de Deus para toda a boa obra“ (2Tm 3,16-17); “proporcionar perseverança, consolo e esperança” (Rm 15,4); ajudar-nos a aprender dos erros dos antepassados (cf. 1Cor 10,6-10).

A Leitura Orante supõe alguns princípios, sempre presentes na leitura

cristã da Bíblia: 1. A unidade da Escritura. A Bíblia é uma grande unidade, onde cada

livro, cada frase têm o seu lugar e a sua função para nos revelar o Projeto de Deus. As suas várias partes são como tijolos numa grande parede: juntos formam o desenho do Projeto de Deus. O princípio da Unidade da Escritura proíbe isolar os textos, arrancá-los de seu contexto e repeti-los como verdades isoladas e absolutas. Um tijolo só não faz a parede. Um traço só não faz o desenho. A Bíblia não é um caminhão de tijolos, mas uma casa onde se pode morar.

2. A atualidade ou encarnação da Palavra. Nós cristãos, quando lemos

a Bíblia, não podemos esquecer a vida, mas devemos carregá-la conosco, dentro de nós. Tendo a vida diante dos olhos, descobrimos na Bíblia o reflexo daquilo que nós mesmos estamos vivendo. A Bíblia torna-se assim o espelho do que se passa na vida e no coração de todos. Descobrimos que a Palavra de Deus se encarna não só naquelas épocas do passado, mas também hoje, para poder estar conosco e ajudar-nos a enfrentar os problemas e a realizar as esperanças: “Oxalá ouvíssemos hoje a sua voz!” (Sl 95,7).

3. A fé em Jesus Cristo, vivo na Comunidade. Lemos a Bíblia a partir da

nossa fé em Jesus Cristo, vivo no meio de nós. Jesus é a chave principal da leitura que fazemos. A fé em Jesus ajuda a entender melhor a Bíblia, e a Bíblia ajuda a entender melhor o significado de Jesus para a vida. A leitura

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13feita em comunidade faz com que Bíblia, Tradição e Vida formem uma unidade viva.

A Leitura Orante teve um início bem simples, com métodos

elementares à altura do povo: 1. ler e reler, cada vez mais, até conhecer bem o que está escrito; 2. repetir de memória, com a boca, o que foi lido e compreendido e ruminá-lo até que, da boca e da cabeça, passe para o coração e entre no ritmo da própria vida; 3. responder a Deus na oração e pedir que nos ajude a praticar o que a sua Palavra nos pede; 4. o resultado é uma nova luz nos olhos que permite saborear a Palavra e enxergar o mundo de maneira nova. Com essa luz nos olhos, começa-se, novamente, a ler, a repetir, a responder a Deus, e assim por diante... Um processo que não termina nunca, sempre volta, mas que nunca se repete tal qual.

Uma última consideração sobre o alcance e o objetivo da Leitura

Orante. Uma palavra é, antes de tudo, um meio de transmitir uma idéia. As palavras, tanto as nossas como as da Bíblia, dirigem-se, em primeiro lugar, à razão, que pode captar as idéias. Mas uma palavra não é só veículo de idéias. Tem também outras dimensões. Por exemplo, ela possui uma força poética (no sentido literal: poesia vem do grego “poiein”, fazer). Não só diz, mas também faz! Faz o que diz! Ora, no estudo que nós fazemos da Bíblia, geralmente só nos preocupamos em descobrir a idéia, a mensagem da Palavra de Deus. Veremos que a Leitura Orante procura atingir e ativar também as outras dimensões. Ela é mais completa. O seu resultado é mais amplo.

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14V. OS QUATRO DEGRAUS DA LEITURA

ORANTE DA BÍBLIA Os quatro degraus da Leitura Orante são: leitura, meditação, oração e

contemplação. Nem sempre é fácil distinguir um do outro. Por exemplo, o que alguns autores afirmam da leitura, outros o atribuem à meditação, e assim por diante. A causa desta falta de clareza está na própria natureza da Leitura Orante. Trata-se de um processo dinâmico de leitura, em que as várias etapas nascem uma da outra. É como a passagem da noite para o dia. Na hora de amanhecer, alguns dizem: “É noite ainda!” Outros dizem: “O dia já chegou!” Além disso, trata-se de quatro atitudes permanentes. A atitude da leitura, por exemplo, continua também durante a meditação. As quatro atitudes existem e atuam, juntas, durante todo o processo da Leitura Orante, embora em intensidade diferente conforme o degrau em que a pessoa ou a comunidade se encontra. O importante, nesta nossa reflexão, é que apareçam as características principais de cada uma dessas quatro atitudes que, juntas, integram a Leitura Orante.

1. A leitura: conhecer, respeitar, situar A leitura é o primeiro passo para se conhecer e amar a Palavra de Deus.

Não se ama o que não se conhece. É também o primeiro passo do processo da apropriação da Palavra: ler, ler, ler! Ler muito para familiarizar-se com a Bíblia; para que ela se torne nossa palavra, capaz de expressar nossa vida e nossa história, pois ela “foi escrita para nós que tocamos o fim dos tempos” (1Cor 10,11). Esse processo de reapropriação da Palavra já está em andamento nas Comunidades.

A leitura é uma atividade bastante elementar: ler, pronunciar bem as palavras, se possível em voz alta. Este primeiro passo é muito importante e muito exigente. Não pode ser feito de maneira superficial. Para muitos, a Bíblia é o meio principal de alfabetização e funciona como gramática.

Pela leitura freqüentamos a Bíblia como se freqüenta um amigo. Há uma semelhança muito grande entre a maneira de se conviver com o povo e com a Bíblia. Os dois exigem o máximo de atenção, respeito, amizade, entrega, silêncio, escuta. Os dois, tanto o povo como a Bíblia, não se defendem logo, quando são agredidos ou manipulados, mas os dois acabam vencendo o agressor pelo cansaço. A leitura da Bíblia ajuda a criar em nós os olhos certos para ler a vida do povo e vice-versa.

A leitura, assim como a convivência com o povo, não pode depender do gosto do momento, mas exige da pessoa uma determinação constante e

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15contínua. A leitura deve ser perseverante e diária. Exige ascese e disciplina. Não pode ser interesseira, mas deve ser desinteressada, gratuita, em vista do Reino e do bem do povo.

A leitura é ponto de partida, não é ponto de chegada. Faz o leitor pisar no chão. Prepara o leitor e o texto para o diálogo da meditação. Para que a meditação não seja fruto de uma fantasia irreal, mas tenha fundamento no texto e na realidade, é necessário que a leitura se faça com critério e atenção. “Estudo assíduo, feito com espírito atento”, dizia Guigo. Através de um estudo imparcial, a leitura impede que o texto seja manipulado e reduzido ao tamanho da nossa idéia, e faz com que ele possa ser parceiro autônomo no nosso diálogo com Deus, pois ela estabelece o sentido que o texto tem em si, independente de nós. Assim, a leitura cria no leitor uma atitude crítica, criteriosa e respeitosa diante da Bíblia. É aqui, na leitura, que entra a contribuição da exegese para o bom andamento da Leitura Orante.

A leitura, entendida como estudo crítico, ajuda o leitor a analisar o texto e a situá-lo em seu contexto de origem. Esse estudo tem três níveis:

a) Literário: aproximar-se do texto e, através de perguntas bem simples, analisar o seu tecido: quem? o quê? onde? por quê? quando? como? com que meios? como o texto se situa dentro do contexto literário do livro de que faz parte?

b) Histórico: através do estudo do texto, atingir o contexto histórico em que surgiu o texto ou em que se deu o fato narrado pelo texto, e analisar a situação histórica em dimensões como: econômica, social, política, ideológica, afetiva, antropológica e outras. Trata-se de descobrir os conflitos que estão na origem do texto ou nele se refletem para, assim, perceber melhor a encarnação da Palavra de Deus na realidade conflitiva da história humana, tanto deles como nossa.

c) Teológico: descobrir, através da leitura do texto, o que Deus tinha a dizer ao povo naquela situação histórica; o que Deus significava para aquele povo; como Ele se revelava; como o povo assumia e celebrava a Palavra do Senhor.

O estudo científico do texto não é o fim da leitura. É apenas um meio para se chegar ao fim. A intensidade do uso da exegese na Leitura Orante depende não do exegeta, mas das exigências e circunstâncias dos leitores. Para um tipo de parede usa-se uma broca mais resistente do que para outro. Mas o objetivo é o mesmo: furar a parede. Não se usa broca de mármore para furar parede de papelão! O objetivo da leitura é este: furar a parede da distância entre o ontem do texto e o hoje da nossa vida, a fim de poder iniciar o diálogo com Deus na meditação. Qual a broca que fura essa

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16parede? De um lado, é “o estudo assíduo, feito com espírito atento” (Guigo). De outro, é “a própria experiência da vida” (Cassiano). Paulo VI dizia que se deve “procurar uma certa conaturalidade entre os interesses atuais (hoje) e o assunto do texto (ontem), para que se possa estar disposto a ouvi-lo (diálogo)”. Com outras palavras, a broca é esta: aprofundar tanto o texto de ontem quanto a nossa experiência de hoje! Às vezes, a Leitura Orante não traz resultado e o texto não fala, não por falta de estudo do texto, mas sim por falta de aprofundamento crítico da nossa própria experiência de vida, hoje, aqui.

A leitura, quando bem-feita, ajuda a superar o fundamentalismo. Quando malfeita, faz só aumentá-lo. O fundamentalismo é uma grande tentação que se instalou na mente de muita gente. Ele separa o texto do resto da vida e da história do povo e o absolutiza como a única manifestação da Palavra de Deus. A vida, a história do povo, a comunidade, já não teriam mais nada a dizer sobre Deus e a sua Vontade. O fundamentalismo anula a ação da Palavra de Deus na vida. É a ausência total de consciência crítica. Ele distorce o sentido da Bíblia e alimenta o moralismo, o individualismo e o espiritualismo na interpretação dela. É uma visão alienada que agrada aos opressores do povo, pois ela impede que os oprimidos tomem consciência da iniqüidade do sistema montado e mantido pelos poderosos. Superar o fundamentalismo só é possível à medida que, através da leitura, o leitor consiga ver o texto dentro do seu contexto de origem e, ao mesmo tempo, perceber nele o reflexo da situação humana, tão conflitiva, confusa e controvertida, que hoje vivemos.

Qual o momento de se passar da leitura para a meditação? É difícil precisar o momento exato em que a natureza passa da primavera para o verão. É diferente, a cada ano, em cada país. Mas existem alguns critérios. O objetivo da leitura é ler e estudar o texto até que ele, sem deixar de ser ele mesmo, se torne espelho de nós mesmos e nos reflita algo da nossa própria experiência de vida. A leitura deve familiarizar-nos com o texto a ponto de ele se tornar nossa palavra. Cassiano dizia: “Penetrados dos mesmos sentimentos em que foi escrito o texto, nos tornamos, por assim dizer, os seus autores”. E aí, como que de repente, nos damos conta de que, por meio dele, Deus está querendo falar conosco e nos dizer alguma coisa. Nesse instante, dobramos a cabeça, fazemos silêncio e abrimos o ouvido: “Vou ouvir o que o Senhor nos tem a dizer!” (Sl 85,9). É nesse momento que a leitura se transforma em meditação e que se passa para o segundo degrau da Leitura Orante.

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172. A meditação: ruminar, dialogar, atualizar A leitura respondeu à pergunta: “O que diz o texto?” A meditação vai

responder à pergunta: “O que diz o texto para mim, para nós?” A questão central que se coloca daqui para a frente é esta: o que é que Deus, através desse texto, tem a dizer hoje, aqui, para nós? A meditação indica o esforço que se faz para atualizar o texto e trazê-lo para dentro do horizonte da nossa vida e realidade, tanto pessoal como social. O texto que foi escrito para nós deve falar para nós. Dentro da dinâmica da Leitura Orante, a meditação ocupa um lugar central.

Guigo dizia: “A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão, procura o conhecimento da verdade oculta”. Qual é esta verdade oculta? Através da leitura descobrimos como o texto se situava no contexto daquela época, qual a posição que tomava nos conflitos, qual a mensagem que tinha para o povo. De lá para cá a situação mudou, o contexto é outro, os conflitos são diferentes. No entanto, a fé nos diz que esse texto, apesar de ser de outra época e de outro contexto, tem algo a nos dizer hoje. Nele deve existir um valor permanente que quer produzir no presente a mesma conversão ou mudança que produziu naquele tempo. Ora, a verdade oculta de que falava Guigo é este valor permanente, esta mensagem que lá existe para o nosso contexto e que deve ser descoberta e atualizada pela meditação. Como fazer a meditação?

Uma primeira forma de se realizar a meditação é sugerida pelo próprio Guigo. Ele manda usar a mente e a razão para poder descobrir a “verdade oculta”. Entra-se em diálogo com o texto, com Deus, fazendo perguntas que obrigam a usar a razão e que procuram trazer o texto para dentro do horizonte da nossa vida. Medita-se refletindo, interrogando: o que há de semelhante e de diferente entre a situação do texto e a nossa hoje? Quais os conflitos de ontem que existem hoje? Quais dentre eles são diferentes? O que a mensagem deste texto diz para a nossa situação? Que mudança de comportamento ele sugere para mim que vivo na América Latina, no Brasil, em São Paulo, no ABC, em Santo André? E para nós, cristãos, católicos, em que ponto nos condena? O que ele quer fazer crescer em mim, em nós? etc.

Outra maneira de se fazer a meditação é repetir o texto, ruminá-lo, mastigá-lo até descobrir o que ele tem a nos dizer. É o que Maria fazia quando ruminava as coisas em seu coração (Lc 2,19.51). É o que recomenda o salmo ao justo: “Meditar dia e noite na lei do Senhor” (Sl 1,2). É o que Isaías define com tanta precisão: “Sim, Javé, o teu Nome e a lembrança de Ti resumem todo o desejo da nossa alma” (Is 26,8). Após ter

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18feito a leitura e ter descoberto o seu sentido para nós é bom procurar resumir tudo numa frase, de preferência do próprio texto bíblico, para ser levada conosco na memória e ser repetida e mastigada durante o dia, até se misturar com o nosso próprio ser. Através dessa ruminação, nós nos colocamos sob o julgamento da Palavra de Deus e deixamos que ela nos penetre, como espada de dois gumes (Hb 4,12), pois água mole em pedra dura tanto bate até que fura! “Ela vai julgando as disposições e intenções do coração. E não há criatura oculta à sua presença. Tudo está nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas” (Hb 4,12-13). Nós, muitas vezes, nos escondemos atrás de máscaras e ídolos, ideologias e convenções, doutrinas repetidas e tradições humanas (cf. Mc 7,8-13). Pela meditação ou ruminação, a Palavra de Deus vai entrando aos poucos, vai tirando as máscaras, vai revelando e quebrando a alienação em que vivemos, devolvendo-nos a nós mesmos, para que nos tornemos uma expressão viva da palavra ouvida, meditada e ruminada.

Cassiano aponta outro aspecto importante da meditação, como conseqüência da ruminação. Ele diz: “Instruídos por aquilo que nós mesmos sentimos, já não percebemos o texto como algo que só ouvimos, mas sim como algo que experimentamos e tocamos com nossas mãos; não como uma história estranha e inaudita, mas como algo que damos à luz desde o mais profundo do nosso coração, como se fossem sentimentos que formam parte do nosso próprio ser. Repitamo-lo: não é a leitura que nos faz penetrar no sentido das palavras, mas sim a própria experiência nossa adquirida anteriormente na vida de cada dia”. Aqui já nem parece haver diferença entre Bíblia e vida, entre a Palavra de Deus e a nossa palavra. Ora, conforme Cassiano, é nesta quase identificação nossa com a Palavra da Bíblia que está o segredo da percepção do sentido que a Bíblia tem para nós. Cassiano diz que a percepção do sentido do texto não vem do estudo, mas da experiência que nós mesmos temos da vida. O estudo coloca os fios, a experiência adquirida gera a força, a meditação aperta o botão, faz a força correr pelos fios e acende a lâmpada do texto. Tanto o fio como a força, ambos são necessários para que haja luz. A vida ilumina o texto, o texto ilumina a vida.

A meditação também aprofunda a dimensão pessoal da Palavra de Deus. Uma palavra tem valor não só pela idéia que comunica, mas também pela pessoa que a pronuncia e pela maneira como é pronunciada. Na Bíblia, quem nos dirige a Palavra é Deus, e Ele o faz com muito amor. Uma palavra de amor desperta forças, libera energias, recria a pessoa. Meditando a Palavra de Deus, o coração humano se dilata até adquirir a dimensão do próprio Deus, que pronuncia a Palavra. Aqui aparece a dimensão mística da

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19Leitura Orante. Um lavrador de Pernambuco dizia: “Fui notando que se a gente vai deixando a Palavra de Deus entrar dentro da gente, a gente vai se divinizando. Assim, ela vai tomando conta da gente e a gente não consegue mais separar o que é de Deus e o que é da gente. Nem sabe muito bem o que é Palavra dele e palavra da gente. A Bíblia fez isso em mim!”

Pela leitura se atinge a casca da letra e se tenta atravessá-la para, na meditação, atingir o fruto do espírito (S.Jerônimo). O Espírito age dentro da Escritura (2Tm 3,16). Através da meditação ele se comunica a nós, nos inspira, cria em nós os sentimentos de Jesus Cristo (Fl 2,5), ajuda-nos a descobrir o sentido pleno das palavras de Jesus (Jo 16,13), faz experimentar que sem Ele nada podemos fazer (Jo 15,5), ora em nós com gemidos inefáveis (Rm 8,26) e gera em nós a liberdade (2Cor 3,17). É o mesmo Espírito que enche a vastidão da terra (Sb 1,7). No passado, ele animava os Juízes e os Profetas. No presente, ele nos ajuda a descobrir o sentido profético da história do nosso povo, que se organiza e luta por uma sociedade mais justa. A meditação nos ajuda a descobrir o sentido espiritual, isto é, o sentido que o Espírito de Deus quer comunicar hoje à sua Igreja através do texto da Bíblia.

A meditação é uma atividade pessoal e também comunitária. A partilha do que cada um sente, descobre e assume no contato com a Palavra de Deus é muito mais do que só a soma das palavras de cada um. A busca em comum faz aparecer o sentido eclesial da Bíblia e fortalece em todos o sentido comum da fé. Por isso é tão importante que a Bíblia seja lida, meditada, estudada e rezada não só individualmente, mas também e sobretudo em comum. Pois trata-se do livro de cabeceira da Igreja, da Comunidade.

Qual o momento de se passar da meditação para a oração? Não é fácil dizer quando, exatamente, uma pessoa passa da juventude para a idade adulta. Mas existem alguns critérios. A meditação atualiza o sentido do texto até ficar claro o que Deus está pedindo de nós, que vivemos aqui na América Latina. Ora, quando fica claro que Deus pede, está chegando o momento de se perguntar: “E agora, o que vou dizer a Deus? Assumo ou não assumo?” Quando fica claro o que Deus pede, fica clara também a nossa incapacidade e a nossa falta de recursos. É o momento da súplica: “Senhor, levanta-te! Socorre-nos” (Sl 44,27). Quando fica claro que Deus nos interpela através do irmão explorado e necessitado e que Ele ouve o grito dos pobres, está chegando o momento de unir nossa voz ao grito dos pobres, para que Deus, finalmente, ouça o seu grito e venha libertar o seu povo. Com outras palavras, a meditação é semente de oração. Basta praticá-la e ela, por si mesma, se transforma em oração.

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203. A oração: suplicar, louvar, recitar A atitude de oração está presente desde o começo da Leitura Orante.

No início da leitura invoca-se o Espírito Santo. Durante a leitura sempre aparecem pequenos momentos de oração. A meditação já é quase uma atitude de oração, pois, por si mesma, se transforma em prece. Mas dentro da dinâmica da Leitura Orante, apesar de tudo ser regado com oração, deve haver um momento especial, próprio, para a prece. Esse momento é o terceiro degrau, o da oração. Através da leitura procuramos descobrir: “O que o texto diz?” A meditação aplica a leitura à nossa vida: “O que o texto diz para mim, para nós?” Até agora, era Deus quem falava. Chegou o momento da oração propriamente dita: “O que o texto me faz dizer, nos faz dizer a Deus?”

A atitude de oração diante da Palavra de Deus deve ser como aquela de Maria, que disse: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A palavra que Maria ouviu não era uma palavra da Bíblia, mas sim uma palavra percebida nos fatos da vida, por ocasião da visita do anjo. Maria foi capaz de percebê-la, porque a ruminação (cf. Lc 2,19.51) tinha purificado o seu olhar e o seu coração. Os puros de coração percebem a ação de Deus nos fatos (cf. Mt 5,8). Rezando e cantando (cf. Lc 1,46-56), eles a encarnam na vida. Essa atitude de oração deve ser realista e não ingênua, o que se alcança pela leitura. Deve nascer da experiência do nosso nada e dos problemas reais da vida, o que se alcança pela meditação. Deve tornar-se uma atitude permanente de vida, o que se alcança na contemplação.

A oração, provocada pela meditação, inicia por uma atitude de admiração silenciosa e da adoração ao Senhor. A partir daí brota a nossa resposta à Palavra de Deus. Desde os tempos do Novo Testamento, os cristãos descobriram que nós não sabemos rezar como convém. É o próprio Espírito que ora em nós (Rm 8,26). Quem melhor fala a Deus é o próprio Deus. Por isso, a oração dos Salmos ainda é a melhor oração. O próprio Jesus usou freqüentemente os salmos e orações da Bíblia. Ele é o grande cantor dos Salmos (Sto. Agostinho). Com Ele e nEle, os cristãos prolongam a Leitura Orante pela oração pessoal, pela oração litúrgica e pelas preces da Igreja.

Nesta grande comunhão eclesial é importante que a Palavra de Deus suscite em nós, cristãos, uma intensa vida de oração individual. Dependendo do que se ouviu da parte de Deus na leitura e na meditação, a resposta pode ser de louvor ou de ação de graças, de súplica ou de perdão, pode ser até de revolta ou de imprecação, como o foi a resposta de Jó, de Jeremias e de tantos Salmos. Como na meditação, é importante que esta

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21oração espontânea não seja só individual, mas também tenha sua expressão comunitária, em forma de partilha.

A oração, provocada pela meditação, também pode ser recitação de preces já existentes. Neste ponto o Ofício Divino presta uma grande ajuda. Ele espalha a leitura através das horas do dia. Infelizmente, a Liturgia das Horas que, nos primeiros séculos, alimentava a oração pessoal do Povo de Deus ficou restrita aos monges e clérigos. O monge ouvia a Palavra, memorizava-a e a levava consigo para ruminá-la nos intervalos, durante o trabalho manual. Além disso, uma das primeiras tarefas do monge, ao entrar no mosteiro, era decorar os salmos para que servissem de porta-voz e apoio no seu diálogo com Deus.

Hoje em dia, já não podemos repetir o esquema dos antigos monges e das primeiras comunidades. Os tempos mudaram. Fica, porém, a inspiração, o modelo e o desafio: decorar algum salmo para as horas de precisão; carregar consigo alguma frase da Bíblia para ruminá-la ao longo do dia, nos intervalos, durante o trabalho, no ônibus, no roçado; criar um esquema de vida, adaptado ao nosso modo de viver, que alcance para nós o mesmo objetivo.

Além do que já vimos, a Leitura Orante procura acentuar um outro aspecto muito importante da oração, a saber, a sua ligação bem concreta com a vida, com a caminhada e a luta do povo. É um assunto delicado e difícil, que exige uma breve reflexão para situá-lo.

A Palavra de Deus vale não só pela idéia que transmite, mas também pela força que comunica. Não só diz, mas também faz. Um exemplo concreto é o sacramento: a palavra “Isto é o meu corpo!” faz o que diz. Na Criação, Deus fala e as coisas começam a existir (Sl 148,5; Gn 1,3). O povo judeu, muito mais do que nós hoje, tinha sensibilidade para valorizar esses dois aspectos da palavra e mantê-los unidos. Eles diziam na língua deles: dabar, o que significava, ao mesmo tempo, palavra e coisa: diz e faz, anuncia e traz, ensina e anima, ilumina e fortalece, luz e força, Palavra e Espírito. Ora, a Leitura Orante, que tem suas raízes no povo judeu, também valoriza os dois aspectos e os mantém unidos. Pela leitura, procura descobrir a idéia, a mensagem, que a palavra transmite e ensina. Pela meditação, e sobretudo pela oração, ela cria o espaço onde a palavra faz o que diz, traz o que anuncia, comunica a sua força e nos revigora para a caminhada. Os dois aspectos não podem ser separados, pois ambos existem unidos na unidade de Deus, no seio da Santíssima Trindade. Desde toda a eternidade, o Pai pronuncia a sua Palavra e coloca nela a força do seu Espírito. A Palavra se fez carne em Jesus, no qual repousa a plenitude do Espírito Santo.

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22Infelizmente, na prática pastoral, estes dois aspectos da Palavra estão

separados. De um lado, os movimentos carismáticos; de outro lado, os movimentos de libertação. Os carismáticos têm muita oração, mas muitas vezes carecem de visão crítica. Às vezes, não fazem a leitura como deve ser feita: não situam o texto dentro do seu contexto de origem e, por isso mesmo, tendem para uma interpretação fundamentalista, moralizante e individualista da Bíblia. Por isso, a sua meditação e oração, muitas vezes, carecem de fundamento real no texto e na realidade. Os movimentos de libertação têm muita consciência crítica, fazem boa leitura mas, às vezes, carecem de perseverança e de fé, quando se trata de enfrentar situações humanas que, dentro da análise científica da realidade, em nada contribuem para a transformação da sociedade. Às vezes, eles têm uma certa dificuldade para enxergar a utilidade de longas horas gastas em oração sem resultado imediato. A Leitura Orante, quando bem conduzida nos seus vários passos, talvez possa ser uma ajuda para corrigir as falhas e aproximar o que não deveria estar separado.

Finalmente, na oração reflete-se ainda o itinerário pessoal de cada um no seu caminhar em direção a Deus e no seu esforço de esvaziar-se de si para dar lugar a Deus, ao irmão, ao pobre, à comunidade. É aqui que se situam as noites escuras com suas crises e dificuldades, com seus desertos e tentações, rezadas, meditadas e enfrentadas à luz da Palavra de Deus (Mt 4,1-11).

Qual o momento de se passar da oração para a contemplação? Aqui não há resposta. A contemplação é o que sobra nos olhos e no coração, depois que a oração termina. Ela fica para além do caminho da Leitura Orante, pois é o seu ponto de chegada. Por ser o ponto de chegada é também ponto de partida de um novo começo de leitura, meditação, oração. A contemplação é como a fruta da árvore: já estava dentro da semente. Vai crescendo aos poucos, amadurece lentamente.

4. A contemplação: enxergar, saborear, agir A contemplação é o último degrau da Leitura Orante. É o seu ponto de

chegada. Cada vez, porém, que se chega ao último degrau, este se torna patamar para um novo começo. E assim, através de um processo sempre renovado de leitura, meditação, oração, contemplação, vamos crescendo na compreensão do sentido e da força da Palavra de Deus. Nunca se chegará ao ponto de poder dizer: “Agora realizei todo o objetivo da Palavra de Deus na minha vida!”, pois sempre haverá pela frente um olhar mais penetrante, uma leitura mais profunda, uma meditação mais exigente, uma

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23oração mais engajada, uma contemplação mais transparente. Até todos os véus caírem, até que a realidade toda seja transformada e chegue à plenitude do Reino. Mas, até lá, ainda resta um longo caminho (1Rs 19,7).

A contemplação reúne em si todo o caminho percorrido da Leitura Orante: até agora, você se colocou diante de Deus, leu e escutou a Palavra, estudou e descobriu o seu sentido; com ele você se comprometeu e começou a ruminá-lo para que entrasse na dinâmica da sua própria vida e passasse da cabeça para o coração; você transformou tudo isto em oração diante de Deus como projeto para a sua vida; o sal da Palavra desapareceu na sua vida e lhe deu um novo sabor; o pão da Palavra foi mastigado e lhe deu força para uma nova ação. Agora, no fim, tendo tudo isto na mente e no coração, você começa a ter um novo olhar para observar e avaliar a vida, os fatos, a história, a caminhada das comunidades, a situação do povo na América Latina, os pobres. É o olhar de Deus sobre o mundo, que assim se comunica e se esparrama. Este novo olhar é a contemplação. Novo olhar, nosso sabor, nova ação! Ela envolve todo o ser humano.

Santo Agostinho dizia que, através da leitura da Bíblia, Deus nos devolve o olhar da contemplação e nos ajuda a decifrar o mundo e a transformá-lo, para que seja, novamente, uma revelação de Deus, uma teofania. A contemplação, assim entendida, é o contrário da atitude de quem se retira do mundo para poder contemplar a Deus. A contemplação como resultante da Leitura Orante é a atitude de quem mergulha dentro dos fatos para descobrir e saborear neles a presença ativa e criativa da Palavra de Deus e, além disso, procura comprometer-se com o processo de transformação que esta Palavra está provocando dentro da história. A contemplação não só medita a mensagem, mas também a realiza; não só ouve, mas coloca em prática. Não separa os dois aspectos: diz e faz; ensina e anima, é luz e força.

Para os fundamentalistas, a Palavra de Deus está só e unicamente na Bíblia. O mundo, a vida, a história, tudo isto é antro de perdição. Só se salva quem aplica a Palavra da Bíblia na sua vida e se afasta do mundo, da política, da luta do povo, dos problemas do bairro etc. A contemplação corrige este defeito dos nossos olhos e nos converte. Faz descobrir que não é Deus que está ausente da realidade. Nós é que não percebemos a sua presença! Nós é que somos cegos (cf. Is 42,19). A Leitura Orante pinga um colírio, abre os olhos dos cegos e os faz enxergar. Tira o véu e ajuda a descobrir o desenrolar do Projeto de Deus dentro da história que hoje vivemos; a perceber como Cristo, centro de tudo, nos faz passar do nosso antigo testamento para o Novo Testamento. Faz descobrir o sentido das coisas, faz comprometer-se com o Reino. Guigo tem várias descrições da

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24contemplação. Ele diz: “A leitura busca a doçura da vida bem-aventurada, a meditação a encontra, a oração a pede e a contemplação a saboreia. A leitura leva comida sólida à boca, a meditação a mastiga e rumina, a oração prova o seu gosto e a contemplação é a própria doçura que alegra e recria. A leitura atinge a casca, a meditação penetra no miolo, a oração formula o desejo e a contemplação é o gosto da doçura já alcançada”. O que mais chama a atenção nos escritos de Guigo é a sua insistência em descrever a contemplação como uma saborosa curtição da doçura que existe na Palavra de Deus. Na contemplação, ao que tudo indica, a experiência de Deus suspende tudo, relativiza tudo e, como que por um instante, antecipa algo da alegria que “Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9).

Guigo diz as coisas com palavras do Século XII. Um agricultor disse as mesmas coisas com as palavras do povo nordestino do século XX: “Quando eu fui começando essa caminhada aqui na Escola Bíblica, eu fui vendo e sentindo que a Bíblia não é brincadeira. Que ela muito exige da gente. Exige que a gente viva o que a gente ouve, lê e vai aprendendo. Aí eu achei que não ia agüentar a barra. Eu pensei em deixar a Escola Bíblica. Agüentei mais um pouco e aí fui notando que se a gente vai deixando a Palavra de Deus entrar dentro da gente, a gente vai se divinizando. Assim, ela vai tomando conta da gente e a gente não consegue mais separar o que é de Deus e o que é da gente. Nem sabe muito bem o que é Palavra dele e palavra da gente. A Bíblia fez isso em mim. Aí eu não consegui deixar a Escola Bíblica”. Todo o processo da Leitura Orante está nessas palavras. Está descrito de um jeito a fazer inveja ao próprio Guigo! Saborear a doçura (exigente) do Senhor e curtir a alegria da sua presença no meio de nós é o que a gente vê acontecer aqui, na vida desse agricultor. Como ele há muitos milhares. A contemplação é o que a gente vê acontecer nas Comunidades. Apesar de toda luta, sofrimento, derrota, enganação, pobreza, fome, doença, o que mais chama a atenção é a alegria do povo. Alegria, apesar de tudo! É a promessa de Jesus que se realiza: “Ninguém vai conseguir tirar a alegria de vocês!” (Jo 16,22). Alegria que nasce de uma certeza maior: presença certa dos amigos nas horas incertas, presença certa de Deus em todas as horas. Alegria que nasce da esperança de, um dia, vencer na luta e de melhorar este mundo: “Nossa alegria é saber que um dia, todo este se libertará, pois Jesus Cristo é o Senhor do mundo, nossa esperança realizará!” A contemplação é tudo isto!

A contemplação, como ponto final da escada, é patamar para um novo começo. É como subir numa torre muito alta. Você alcança o primeiro patamar por uma escada de três lances: leitura, meditação e oração. Na janela do primeiro patamar, você descansa e contempla a paisagem. Depois,

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25você continua a subida até o segundo patamar por uma outra escada também de três lances: leitura, meditação e oração. Na janela do segundo patamar, você descansa mais um pouco e contempla, de novo, a mesma paisagem. Ela ficou mais bonita! Dá vontade de subir mais para observá-la melhor. E assim você vai subindo, sempre mais, num processo que não termina nunca. Vai lendo sempre a mesma Bíblia, olhando sempre a mesma paisagem. À medida que sobe, a visão se aprofunda, a paisagem fica mais ampla, mais real. Você enxerga a sua casa, o seu povoado. Encontra lá no meio a sua vida, a história de suas andanças. E assim vamos subindo, até que cheguemos a contemplar Deus face a face (1Cor 13,12) e, em Deus, os irmãos, a realidade, a paisagem, numa visão completa e definitiva. A contemplação é tudo isto, e muito mais! “Muita luz, nuvem limpa, pé de pau florido, e o povo alegre, cantando... Eu acho que é um pedacinho da ressurreição, mesmo em sonho. A gente acordado não dá pra ver esse desafogo da ressurreição porque tem sempre as sombras do sofrimento e da luta... Vai demorar... Mas um dia eu sei que a ressurreição da felicidade, melhor que o sonho, vai chegar pro povo... Um dia a ressurreição vai baixar no nosso chão...” Palavras de um pedreiro! Demos graças a Deus!

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26VI. COMO FAZER A LEITURA ORANTE DA BÍBLIA

HOJE? O método que vamos seguir na Leitura Orante da Bíblia é muito mais

do que só uma questão de técnicas e dinâmicas. O método exprime, articula e transmite uma determinada visão da Bíblia e da revelação. Não é qualquer método que serve. Um bom método nunca pode perder de vista o objetivo a que deve servir. O objetivo último da Leitura Orante da Bíblia, é sempre o mesmo: com a ajuda da Bíblia, descobrir, assumir e celebrar a Palavra de Deus que existe em nossa vida hoje. “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7).

A prática secular da Leitura Orante mostra que, para se poder atingir

este objetivo, são necessários dois movimentos simultâneos: um de hoje para ontem, e outro de ontem para hoje. O de hoje para ontem procura investigar o sentido literal, a letra, a história, até atingir o chão comum da problemática humana. Neste primeiro movimento usam-se os critérios da razão e da ciência. A exegese presta aqui uma grande ajuda. O movimento de ontem para hoje procura descobrir o sentido espiritual, o Espírito, a mensagem, a dimensão teologal, isto é, aquilo que Deus nos tem a dizer hoje por meio daquele texto de ontem. Neste segundo movimento usam-se os critérios da fé. O ambiente de oração presta aqui uma grande ajuda e favorece a descoberta do sentido espiritual. Letra e Espírito: esses dois movimentos são como corpo e alma. A interpretação não acontece sem os dois.

Esses dois movimentos estarão bem presentes na Leitura Orante, do

começo ao fim. O movimento de hoje para ontem aí se faz sobretudo através da leitura e da meditação. O movimento de ontem para hoje se faz sobretudo através da meditação e da oração. A contemplação é o resultado da união dos dois.

A prática ensina, ainda, que esses dois movimentos só são possíveis

quando a leitura parte de três preocupações básicas: a) levar em conta a realidade humana de hoje com seus problemas e desafios que questionam a fé e ameaçam a vida; b) ter nos olhos a fé da comunidade que nos faz entrar em comunhão com o mesmo Deus que, no passado, guiou o seu povo e a ele se revelou em Jesus Cristo; c) ter um grande respeito pelo texto da Bíblia, evitando qualquer tipo de manipulação ou redução do seu sentido. Só assim a leitura possibilita e alimenta o nosso diálogo com Deus.

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27A Leitura Orante leva, pois, em conta essas três preocupações: através

da leitura, leva a sério o texto; através da meditação, parte da realidade e para ela volta; através da oração, mantém viva a fé da comunidade. A contemplação é o resultado que se obtém quando se é fiel a essas três preocupações.

Como fazer a Leitura Orante hoje? O mais fácil seria seguir, simplesmente, os quatro degraus

recomendados por Guigo: leitura, meditação, oração e contemplação. Há, porém, algumas diferenças fundamentais entre a Lectio Divina sugerida por Guigo e a Leitura Orante como proposta para os dias de hoje. Através dos roteiros de estudo sugeridos, notaremos que eles têm como objetivo orientar a reunião semanal (ou mensal) de um grupo de pessoas (ou famílias) que convivem, ou não, integradas na mesma comunidade.

Depois, a reunião semanal (ou mensal) tem como finalidade estimular e

orientar as pessoas para que se disponham a uma leitura diária da Bíblia, que as leve a alimentar a sua vida e a vida da sua comunidade com a luz e a força libertadoras da Palavra de Deus. Por isso, depois que as pessoas do grupo tiverem assumido a leitura da Bíblia no ritmo diário da sua vida, poderão estar contribuindo para a formação de outros grupos de Leitura Orante. A reunião proposta pelos roteiros é como os andaimes ao redor de um prédio em construção. A leitura diária é o próprio prédio. Na hora em que o prédio estiver pronto, tiram-se os andaimes e fica só o prédio. É importante observar que os andaimes já utilizados, poderão ser usados na construção de outros prédios.

Saindo do contexto da Lectio Divina recomendada por Guigo, para os

mosteiros e a vida do povo da Idade Média, transportada para dinamizar as reuniões das Comunidades aqui, hoje, a primeira coisa de que precisa para poder ser verdadeira Leitura Orante é do lema empregado por eles: “Ora et Labora”. Rezar e Trabalhar. Precisa do clima comunitário de oração e da realidade dura da vida do povo. Do contrário, não funciona e acaba morrendo. Estes dois elementos, portanto, devem estar sempre presentes na prática da Leitura Orante.

Guigo, na sua sabedoria bem prática, nada mais fez do que sistematizar

em quatro degraus o processo normal de uma leitura proveitosa da Bíblia. Hoje, quem quer ler a Bíblia com proveito, deve fazer o mesmo. Primeiro,

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28você deve ler o texto, e ler de novo, até entender o que está escrito. É a leitura. Em seguida, deve assimilar o que leu e trazê-lo para dentro da sua vida e da vida da sua comunidade. É a meditação. Depois, você deve reagir diante da mensagem que captou durante a leitura e responder a Deus se aceita ou não. É a oração. Por fim, o resultado da leitura que fica nos seus olhos o ajudará a apreciar e saborear melhor as coisas de Deus e da vida. É a contemplação. Este é o caminho óbvio. Não há outro. Por isso, a Leitura Orante (Lectio Divina) continua atual até hoje.

Com outras palavras, os quatro degraus não são técnicas de leitura, mas

sim etapas do processo normal da assimilação da Palavra de Deus na vida, através da leitura meditada e orante. Não são normas técnicas para orientar a nossa reunião em torno da Bíblia, mas sim atitudes básicas que todos devemos ter sempre diante da Palavra de Deus. Elas devem estar presentes tanto na leitura individual como na reunião do grupo, tanto na prática simples das comunidades, como no estudo científico dos exegetas.

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29VII. O MÉTODO A SER USADO NA LEITURA ORANTE

DA BÍBLIA. 1. A Dinâmica dos Encontros 1º Momento: Oração Inicial Quando um grupo se reúne para aprofundar o estudo da Bíblia, ele é a

comunidade de fé que se encontra sob a ação do Espírito Santo. Por isso, uma oração inicial criará o clima orante e celebrativo.

2º Momento: Mutirão da Memória Relembrar rapidamente o tema estudado no último encontro, levantando

os pontos mais importantes. Isto para que os temas estudados não fiquem isolados, mas estejam ligados e assim favoreçam uma visão de conjunto.

3º Momento: Estudo do Tema a) Palavra-chave: Indica o assunto do encontro e revela o seu quadro de

referência, apontando uma realidade tanto da Bíblia como da vida de hoje.

a1) Citação bíblica: Explicita o mesmo assunto em forma de oração. É uma frase curta, em forma de ditado, para ser guardada de maneira bem visível. A citação bíblica pode ser utilizada na oração inicial.

b) Realidade de hoje: Nesta primeira parte, trazemos para dentro do encontro a realidade da vida de hoje, indicada pela palavra-chave e pela citação bíblica. É para escutar e refletir a situação do povo. Colocamos na mesa o assunto – as angústias, os sofrimentos, os problemas, mas também as alegrias, as conquistas, as realizações – que deve ser iluminado pela Palavra de Deus.

c)Estudo do texto sugerido: Em cada roteiro são indicados três textos que servem como porta de entrada para o período da história a ser estudado

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30no encontro. O primeiro dos três textos vem desenvolvido, e os outros dois são alternativos. O texto escolhido deve ser apresentado e introduzido pelo coordenador da reunião.

O estudo do texto se faz em três etapas, interligadas: 1) Ver o texto de perto: (Nível literário) É, simplesmente, entrar dentro

do texto. É uma primeira aproximação, onde se procura descobrir: o assunto, os lugares, as pessoas e as suas atuações. Para conseguir isto, algumas perguntas são apresentadas.

2) Considerar a situação histórica: (Nível histórico) Ver a situação do

povo que transparece no texto e, se possível, tentar definir algumas características da situação econômica, social, política e religiosa. Verificar quais os conflitos que transparecem no texto e qual deles é o conflito básico.

3) Escutar a mensagem do texto: (Nível teológico) Ver como o texto

toma posição naquele conflito, como ele responde àquela situação do povo, ou seja, qual é a mensagem que traz para o povo de ontem e de hoje. Esta terceira etapa é a mais importante, é o ponto de chegada. Mas não se chega a ele sem passar pelas duas primeiras etapas. Falamos em etapas no sentido de abordagens, de aspectos, não no sentido cronológico. Na prática, muitas vezes, estas três abordagens se misturam. Enquanto se fizer este estudo, a realidade atual do povo deve estar sempre presente. Sem dúvida nenhuma, ela será constantemente evocada na memória dos participantes. Daí é importante verificar bem as semelhanças e as diferenças entre ontem e hoje. Deste modo, evitam-se concordismos fáceis e manipulações superficiais da Bíblia.

d) Estudo do período histórico: Terminado o estudo do texto e de sua mensagem, abrimos a nossa atenção para todo o período da história que deve ser abordado e aprofundado. É como se, depois de vermos uma fotografia do álbum, olhássemos rapidamente para as outras fotografias do mesmo período histórico. Esta ampliação será feita pelos presentes, através de uma coleta de dados.

e) Partilha das descobertas feitas: É o momento de amarrar as coisas e de colocar em comum o que cada um descobriu durante o estudo do texto. O grupo pode escrever o que achar importante. Para ajudar nesta partilha, são sugeridas algumas perguntas para cada roteiro.

Page 31: Leitura Orante da BÍblia

314º Momento: Preparar o próximo encontro 1. Indicar os textos para o próximo encontro. 2. E como a Palavra de Deus não volta sem antes produzir seu fruto, o

grupo deve sempre se perguntar que mudanças ou que ação a reflexão feita exige do grupo e de cada um dos seus membros em sua vida.

3. Distribuir as tarefas que cabem a cada um. 5º Momento: Uma oração que expresse o vivido e o aprendido Tudo deverá terminar numa celebração. A oração é como o cimento que

liga entre si os tijolos das descobertas do grupo e lhes dá consistência. É uma maneira de ajudar a assimilar os elementos que constituem a fé e de assumi-los com maior convicção. Quando se chega a esta altura do encontro, convém que se crie um ambiente de oração para que ela possa ecoar e produzir o seu efeito. No roteiro há sugestão para a oração. O grupo se sinta livre para escolher outra forma de oração.

2. Subsídios e Ajudas para os Grupos No final de cada roteiro são apresentados subsídios que têm como

objetivo ajudar os participantes a melhor compreender determinados aspectos, situações ou problemas referentes ao tema estudado e a contribuição deste período na formação da Bíblia. Às vezes, são observações úteis para o aprofundamento de nossa vida, espiritualidade e missão. Esses pequenos subsídios precisam ser complementados pela leitura de bons comentários e introduções a cada Livro da Escritura. O melhor seria o grupo não se contentar com as breves notas que quase todas as edições da Bíblia têm no pé da página. A leitura de um comentário ou introdução mais especializada seria de grande proveito, especialmente nos grupos que têm mais condições de leitura.

Como sugestão, seria interessante escolher um responsável no grupo

para juntar as idéias surgidas e as dúvidas que não foram respondidas durante o estudo (personagens, regiões, contexto histórico, povos etc.). Montar um pequeno vocabulário a partir das descobertas e necessidades do grupo. Tudo isto serve como motivação para a maior participação de todos.

Page 32: Leitura Orante da BÍblia

323. Temário A distribuição dos temas, como introdução ao método da Leitura Orante

da Bíblia, foi feita em 12 roteiros, como um meio pedagógico para se alcançar o objetivo proposto. A história descrita na Bíblia começa com a criação. O nosso estudo começa com o Êxodo que trata da opressão do povo no Egito e da libertação realizada pelo poder de Deus. O motivo desta diferença é, primeiro, porque, de fato, historicamente, a história do povo, enquanto povo, começou com a saída do Egito; e segundo, porque, deste modo, aparece mais claramente a semelhança entre a história do povo da Bíblia e a história dos povos da América Latina. Os 12 roteiros para os encontros estão assim distribuídos e se encontram na seqüência:

a) A Palavra convoca a viver a Aliança com Deus: 1. Êxodo - A opressão no Egito e a libertação pelo poder de Deus (1650-1250 a.C.) 2. Juízes – A organização do povo e a repartição da terra (1250-1050 a.C.) 3. Patriarcas – Recuperação da memória e da própria identidade (1800-1050 a.C.) 4. De Samuel a Davi – Crises e mudanças do sistema tribal para a monarquia (1050-1000 a.C.) b) A Palavra convoca o povo a refazer a Aliança:

5. Reis e Profetas – Os Profetas criticam os reis em nome da Aliança (1000-587 a.C.) 6. Exílio - Cativeiro, desintegração e nova libertação (587-445 a.C.) 7. Esdras – Neemias – Reorganização do povo a partir da Lei (445-06 a.C.) 8.Livros Sapienciais – Sabedoria: resistência e abertura frente à invasão cultural (1800-06 a.C.)

Page 33: Leitura Orante da BÍblia

33c) A Palavra se fez carne e convoca para viver a nova Aliança:

9. Jesus – Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo (06 aC-30 d.C.) 10. Início da Igreja – As comunidades: um novo modo de ser povo de Deus (30-49 d.C.) 11. Paulo – A expansão do Evangelho pelo mundo (49-67 d.C.) 12 Época do Apocalipse – Perseguição e resistência no final do primeiro século (67-100 d.C.)

Mínima Bibliográfica (Para ajudar nos encontros) Beabá da Bíblia – Ed. Paulinas História do Povo de Deus – Euclides Martins Balancin – Ed. Paulinas Como a Bíblia foi Escrita – Pierre Gibert – Ed. Paulinas O tempo que se chama hoje – W. Gruen – Ed. Paulinas Um Atlas da Bíblia

Page 34: Leitura Orante da BÍblia

34ENCONTRO 1 – A opressão no Egito e a Libertação

pelo poder de Deus O faraó está mais vivo do que nunca, controla a América e se enriquece, empobrecendo nossos povos. Os pobres gritam e Deus escuta o seu clamor. TEMA: Situação de opressão do povo no Egito e libertação. PERÍODO: Desde 1650 a 1250 ªC. São 400 anos. ASPECTOS:

1. ÊXODO 2,23–3,15: Descreve como Deus escuta o clamor do povo e responde.

2. ÊXODO 1,8-22: Descreve a opressão do povo no Egito. 3. ÊXODO 14,10-29: Descreve a libertação das mãos do faraó e a

passagem do Mar Vermelho. Palavra-chave: LIBERTAÇÃO “Porque Ele libertará o pobre que suplica, o desgraçado a quem ninguém ampara” (Salmo 72,12).

1. Partir da realidade de hoje A opressão do povo no Egito ocorreu e ocorre sempre. A pirâmide

social continua existindo. O faraó está hoje mais vivo do que nunca, controla a América Latina e se enriquece, empobrecendo nossos povos. Os pobres gritam e Deus escuta seu clamor.

a) Como se manifestam a dor e a opressão em nossa vida pessoal, em nossa comunidade e em nosso povo hoje?

b) Como Deus se revela, ou que sinais da libertação de Deus percebemos hoje em nossa vida pessoal, em nossa comunidade e em nosso povo?

c) Em que acontecimentos se manifestam a opressão e a libertação hoje, na América Latina?

2. Estudo do texto escolhido: Êxodo 2,23–3,15

a) Ver de perto o texto: 1. Que coisas nos conta este texto? 2. Quantas e quais partes se podem nele distinguir? 3. Enumere as diferentes maneiras como Deus se revela.

Page 35: Leitura Orante da BÍblia

35b) Considerar a situação histórica:

3. Qual era a situação econômica, na qual o povo se encontrava? 4. Qual é a vocação de Moisés, como a descobre e como responde a

ela? c) Ouvir a mensagem do texto:

5. Qual é a nossa vocação hoje, como a descobrimos e como respondemos?

6. Trocar idéias sobre o significado do nome de Deus, sobre o alcance desse nome para nossa vida e para nosso caminhar.

3. Estudo do período histórico

a) Este período compreende os fatos que vão desde a entrada de Jacó no Egito até Josué. Isto é, desde 1650 até 1250, aproximadamente. Um período de 400 anos.

b) Trata-se de conseguir uma visão global desta grande opressão do povo no Egito, assim como do processo ou da ação de Deus para a sua liber5ação. Compreende a época que vai desde a entrada no Egito até a travessia do Jordão.

c) Procurar informações geográficas mais pormenorizadas em algum mapa. Observar o caminho percorrido pelo povo em marcha para sua libertação.

d) Procurar traçar uma linha cronológica do tempo. Nela posicionar todos os fatos ocorridos neste período e usar, como fonte, a própria Bíblia.

4. Partilha

Sintetizar o trabalho realizado pelo grupo, quando possível por escrito.

Apoiar-se nas seguintes perguntas: a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? b) Que descobriu em relação àquele período há história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a iluminar o texto da Bíblia: sua

origem, sua formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

Page 36: Leitura Orante da BÍblia

365. Oração: Salmo 142 A situação de opressão é permanente. O grito do povo oprimido

continua subindo até Deus. Este Salmo 142 apresenta a oração de um pobre oprimido e angustiado. É o grito do pobre que chega aos ouvidos de Deus. Deus escuta, atende e desce para liberta-lo (para esse momento de oração convém criar um ambiente de silêncio e meditação que ajude a vibrar com a Palavra de Deus).

6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: A organização no deserto e a conquista da terra. Texto a ser estudado: Êxodo 16,1-36.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO a) Origem da Bíblia (primeiros tijolos desta grande obra):

1. Sua semente é a decisão do próprio Deus. Ele toma a iniciativa de ouvir sempre o clamor do povo oprimido.

2. Antes de ser escrita, a Bíblia foi narrada. Antes de ser narrada, ela foi vivida.

3 As origens das histórias da Bíblia encontram-se nos grupos de conversa e nas celebrações do povo. Nasceu da preocupação de não perder sua memória e de conservar a própria identidade.

4. É muito difícil saber exatamente o tempo em que a Bíblia foi escrita. O mesmo se pode dizer da época em que sucederam os acontecimentos por ela narrados.

5. As narrativas são populares, repetidas, simplificadas e sem muita precisão. Seu objetivo não é uma informação precisa, porém a animação da fé, da luta. E do caminho do povo. b) Estudo de um texto:

1. O texto bíblico é como um coco de casca dura. Só existe uma forma certa para romper a casca e beber o leite delicioso: o trabalho em grupo.

Page 37: Leitura Orante da BÍblia

372. Para conseguir isto devem-se formular perguntas bem claras

dirigidas ao texto. Elas devem despertar a atenção dos participantes. Tais perguntas podem servir como chave de leitura.

3. Perguntas boas são aquelas que ajudam o grupo a prestar atenção

aos diversos aspectos do texto: Quem? Que? Donde? Por quê? De que maneira? Quando? Com que meios? Etc.

Page 38: Leitura Orante da BÍblia

38ENCONTRO 2 – A organização do povo e a distribuição

da terra Na América Latina há muitos homens sem terra e muita terra sem homens. TEMA: Nova organização fraterna do tempo dos JUÍZES. PERÍODO: 1250–1050 a.C. Desde Josué até Samuel. Época dos Juízes. ASPECTOS:

1. ÊXODO 16,1-21: A história do maná ensina a repartir os bens e proíbe acumular.

2. ÊXODO 18,1-27: Jetro, sogro de Moisés, ensina a descentralizar o poder.

3. JOSUÉ 24,1-27: Em Siquém, as tribos se reúnem para organizar sua vida, seu povo e afirmar sua fé em Javé. Palavra-chave: PARTILHA FRATERNA “Aos mais numerosos darão parte maior da herança e aos menos numerosos, uma parte menor” (Nm 33,54).

1. Partir da realidade de hoje Na América Latina há muitos homens sem terra e muita terra sem

homens. A maior parte da terra está em poucas mãos. A maioria das pessoas necessita de casa e de alimento.

a) Sabemos quem possui terra de sobra em nossa região e quem não

tem nada? Poderíamos pesquisar? b) Que tipo de lutas o povo faz para conseguir uma casa digna para

viver? c) Como se organizam os camponeses para ter terra suficiente para

viver e plantar? d) Como se faz a partilha dos bens na América Latina? e) Como nos situamos nós, como comunidades, frente a estes

problemas?

Page 39: Leitura Orante da BÍblia

392. Estudo do texto escolhido: Êxodo 16,1-21

Partilha fraterna do maná a) Ver de perto o texto:

1. Qual foi o clamor do povo em sua travessia pelo deserto? 2. Como responde Javé a esse clamor? 3. Que condições estabelece Javé para que a partilha seja fraterna?

b) Considerar a situação histórica:

4. Qual é a situação do grupo que neste momento caminha pelo deserto?

5. Que conflitos internos de autoridade tem o grupo? 6. Como se manifesta a escravidão, e como se manifestam os sinais de

serviço? c) Ouvir a mensagem do texto:

7. Como Deus encoraja e que pedagogia usa para que o povo aprenda a organizar-se?

8. Que soluções o povo encontra para viver a fraternidade a partir de sua experiência?

3. Estudo do período histórico a) Estudar, no mapa do deserto da Arábia, a travessia, desde o

Egito até a Palestina. b) Estudar, no mapa da Palestina, a distribuição das tribos. c) Elaborar uma faixa de tempo e sobre ela posicionar os juízes

principais e seus inimigos. Usar como fonte a própria Bíblia. A travessia de “40 anos” pelo deserto é o tempo de uma geração 1250-

1225 a.C. Corresponde, mais exatamente, ao período da “libertação”. Durante este tempo, o povo vive experiências positivas e negativas que o ajudam a descobrir e formular alguns mandamentos. Estes expressam sua identidade como povo. Também, neste período, prepara-se e realiza-se a Aliança com Deus, que estimula o povo a continuar seu caminho.

O período dos juízes é um momento importantíssimo para Israel. Dura 200 anos, de 1225 a 1025 a.C. As tribos vivem a experiência da libertação do Egito, do Êxodo e da travessia pelo deserto. Elas animam outras tribos a tomar a terra ocupada pelos reis de Canaã. Desta forma, concluem-se

Page 40: Leitura Orante da BÍblia

40alianças, fazem-se reuniões e assembléias para repartir as terras e organizar o trabalho. É aqui que Israel se constitui como povo. Um povo sem reis: “Só Javé é nosso Rei?” Um povo que busca as leis da fraternidade para defender a terra, os direitos dos pobres e a justiça. Entretanto, por estar colocado entre o Mar Mediterrâneo e o deserto da Arábia, ou seja, um “corredor” de passagem entre os grandes impérios do Egito e da Mesopotâmia, sofre pressão externa. Assim, vê-se obrigado a mudar a forma de organização popular por uma organização monárquica, devido às divisões internas e à corrupção que abarca também os juízes.

4. Partilha

a) Fazer uma síntese do trabalho do trabalho realizado pelo grupo,

quando possível por escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas: b) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? c) Que descobriu em relação àquele período há história do povo da

Bíblia? d) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? e) Como este texto ajuda a ver a realidade? f) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo? 5. Oração: Salmo 105,37-45. Rezar e meditar o Pai-Nosso. É uma concretização, feita por Jesus desse espírito de compartilhar o

pão de cada dia e de não acumulá-lo. Esta é a síntese da aliança: “Eu serei teu Deus e tu serás meu povo”. Somente quando se partilha o “pão nosso” somos filhos do “Pai nosso”.

O Cântico de Débora (Juízes 5,1-31) nos recorda a luta em defesa da

terra e a participação das mulheres na vida deste povo. Um grupo de mulheres pode lê-lo em coro.

Page 41: Leitura Orante da BÍblia

416. Preparação do próximo encontro Definir o tema: Recuperação da memória e da própria identidade

(Patriarcas 1800-1650 a.C. Texto a ser estudado: Josué 24,1-15.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO Comentários em cima do texto:

Este texto é parte das tradições do tempo do deserto, relembrado na época dos juízes, para ajudar o povo em sua organização. O “maná” é uma narração popular, em que o povo transmite uma situação antiga – de acumulação de bens – para superá-la. O sistema do faraó era de acúmulo, mas agora se procura compartilhar. Está sempre presente a tentação de imitar o faraó. É um texto educativo. Apresenta uma pedagogia para chegar a uma distribuição fraterna da terra.

Este texto do maná, sendo narração popular que pretende insistir na idéia de partilha e não na de economia acumulativa, pode também ser considerado como um texto típico da Eucaristia. A alusão que Jesus faz no capítulo 6 do Evangelho de João pode ajudar a compreender melhor esta idéia.

Page 42: Leitura Orante da BÍblia

42ENCONTRO 3 – Recuperação da memória e da própria

identidade

Os povos indígenas da América Latina e os negros trazidos da África foram tão oprimidos e destruídos que perderam a memória.

TEMA: Recuperar a memória e a identidade PERÍODO: Patriarcas: dos anos 1800 a 1650 a.C. ASPECTOS:

1. JOSUÉ 24,1-15: Celebra-se uma assembléia popular. Nela a memória dos antepassados leva o povo a renovar a Aliança.

2. GÊNESIS 12,1-9: Abraão: modelo de fé e fonte de bênção. 3. DEUTERONÔMIO 26,1-11: O Culto como lugar onde se recria

e se atualiza a memória. Palavra-chave: “NOSSOS PAIS NOS CONTARAM” “Senhor, nosso Deus, ouvimos com nossos próprios ouvidos o que nossos pais nos contaram sobre as maravilhas que Tu realizaste com eles nos tempos de outrora, Tu mesmo, Senhor, com tuas mãos” (Salmo 44,2).

1. Partir da realidade de hoje

Os povos indígenas da América Latina e os negros trazidos da África foram tão oprimidos e destruídos, que perderam a memória. Quem perde a memória perde a sua identidade e se torna massa de manobra na mão dos opressores. Mas nem toda a memória do povo pode ser apagada. Algo novo está acontecendo em nosso tempo.

a) O que nossos pais nos contaram sobre Deus e suas obras? b) Quais os patriarcas de nossa família, de nossa comunidade, de nosso

povo? c) Quem e o que nos leva a recordar nosso passado? d) Quais os restos de memória que ficaram dos povos da América

Latina de antes da chegada dos colonizadores? e) Por que é tão importante lembrar a história dos patriarcas dos nossos

povos da América Latina?

Page 43: Leitura Orante da BÍblia

432. Estudo do texto escolhido: Josué 24,1-15

a) Ver de perto o texto:

1. O que o texto conta? 2. Quem conta? 3. Para quem? 4. Onde e em que ocasião? 5.Como o conta?

b) Considerar a situação histórica:

6. Em que situação se encontrava o povo quando Josué reuniu as tribos e lhes lembrou o passado?

7. Quais os períodos do passado que são lembrados por Josué? 8. O que Josué pretende com o despertar da memória do povo? 9. Qual foi o resultado do discurso de Josué para a caminhada do

povo? c) Ouvir a mensagem do texto:

10 Qual a mensagem, deste texto para recuperar a nossa memória hoje: pessoal, comunitária, do povo?

3. Estudo do período histórico a) É o período que vai de Abraão até o fim da história de José no Egito

(Gn 12-50). Sugestão para conhecer melhor o período dos patriarcas: 1. Fazer a linha do tempo e colocar nele cada um dos patriarcas.

Colocar em comum o que cada um sabe de cada patriarca. 2. Usar como fonte os capítulos da Bíblia referentes aos patriarcas. 3. Estudar a história de José e aprender a contá-la. b) A recordação histórica dos patriarcas da Bíblia exerce uma função

educativa muito importante na vida do povo: 1. Apresenta Abraão como modelo de fé para todos os crentes. 2. Descreve a missão do povo: ser fonte de bênção para todos os povos

(Gênesis 12,3) 3. Apresenta Abraão como exemplo de quem vive o projeto de Deus.

Abraão partilha a terra. Abraão é rico, não porque roubou ou acumulou, mas porque repartiu.

4. Mostra como nem tudo é perfeito: história da expulsão de Agar. 5. Abraão é como o tronco ao qual se ligam todos os galhos e aos quais

ele dá vida, unidade e consistência.

Page 44: Leitura Orante da BÍblia

444. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por

escrito. Apoiar-se nas perguntas seguintes: a) O que descobrimos sobre o sentido do texto em si mesmo? b) O que descobrimos sobre este período da história do povo da Bíblia? c) Em que o estudo ajudou a entender esse texto da Bíblia: origem,

formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) O que descobrimos em relação ao modo de interpretar a Bíblia e de

transmiti-la ao povo?

5. Oração: Salmo 105: reza o passado

Ao terminar o Salmo, continuar a oração rezando a memória do povo hoje, usando como refrão uma frase tirada do Salmo.

6. Preparação para o próximo encontro

Definir o tema: Crise e mudança do sistema tribal para a monarquia. Tempo de Samuel e Davi (1050-1000 a.C.). Texto a ser estudado: 1

Samuel 8,1-22.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO

a) Na época dos juízes, durante aqueles 200 anos da formação do povo,

as tribos renasceram e começaram a lembrar o seu passado e a contá-lo , umas às outras. Assim foram lembrando e contando as histórias dos patriarcas. Na maneira de contar a história dos seus antepassados, expressavam o ideal que os animava no presente. Por isso, Abraão é modelo de fé, fonte de bênção, exemplo de partilha, fiel na observância da lei.

Page 45: Leitura Orante da BÍblia

45b) Um momento muito importante, neste processo de unificação das

tradições e de formação da consciência das várias tribos em torno do ideal comum, foi a Assembléia Popular presidida por Josué, na cidade de Siquém.

c) Tudo isto mostra como uma grande parte da Bíblia nasce da

preocupação do povo de não perder a memória e a identidade. d) As tradições a respeito dos patriarcas formam-se nesta época que o

povo tem a oportunidade de recordar seu passado. Entretanto, não foram escritas neste momento. Essa tarefa será executada mais tarde. Por enquanto são tradições apenas orais.

Page 46: Leitura Orante da BÍblia

46ENCONTRO 4 – Crise e mudança do sistema tribal para a

monarquia

Os reis das nações dominam, e os que as tiranizam são chamados de benfeitores.

TEMA: Crise surgida por causa da mudança de sistema. PERÍODO: Fim dos juízes até o começo do reino de Davi (1050-1000 a.C.) ASPECTOS:

1. 1SAMUEL 8,1-22: A crise se manifesta no descontentamento popular e nas tendências opostas à monarquia.

2. JUÍZES 8,22-35: Perante as dificuldades do sistema tribal surgem tentativas de implantação do reinado.

3. 2SAMUEL 7,1-27: O poder absoluto do rei é anunciado pelo profeta e torna-se hereditário. Palavra-chave: DOMINAR OU SERVIR?

“Os reis das nações dominam, e os que as tiranizam são chamados de benfeitores. Convosco não deverá ser assim. Pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o menor, aquele que governa como aquele que serve” (Lucas 22,25-26).

1. Partir da realidade de hoje

Na América Latina, os que detêm o poder não são os que servem o povo. Pelo contrário, na maioria dos países, eles exercem o poder para defender seus próprios interesses ou os interesses de uns poucos. Por isso, são a origem de muita injustiça e opressão.

a) Como se faz o exercício do poder em nossa comunidade e em nosso país?

b) Em suas relações com os demais (irmãos, família, comunidade), você reproduz ou questiona o sistema de dominação?

c) Por que o poder, quase sempre, assume a forma de dominação e quase nunca a forma de serviço?

d) Conhece alguma iniciativa, nos tempos atuais, em que o poder se exerce como serviço?

Page 47: Leitura Orante da BÍblia

47e) Conhece, na história da América Latina, experiências em que o

poder tenha sido exercido como serviço? Tais experiências resistiram às forças de dominação?

2. Estudo do texto escolhido: 1Samuel 8,1-22 a) Ver de perto o texto:

1. Que quer o povo? Por quê? 2. Que responde Samuel? Por quê: 3. Como reage Deus? Por quê?

b) Considerar a situação histórica:

4. Qual foi a situação histórica que levou o povo a pedir um rei? 5. Que significa um rei: para o povo, para Samuel, para Deus? 6. Qual era o direito do rei frente ao povo? 7. Qual era o direito do povo frente ao rei? 8. Na decisão final, o povo se adapta a Deus ou vice-versa?

c) Ouvir a mensagem do texto:

9. O texto foi escrito muito tempo depois dos acontecimentos. Qual era a mensagem que queria transmitir e a quem: ao rei ou ao povo?

10 Este texto pode iluminar o problema, tão grave, que temos hoje no exercício do poder, no governo, na família, na comunidade, no povo?

3. Estudo do texto escolhido: 1Samuel 8,1-22

a) Compreende a época que vai desde o final dos juízes até o começo do reinado de Davi. São mais ou menos 50 anos (1050-1000 a.C.).

b) recordar, no grupo, os fatos ocorridos durante este período. Colocá-los sucessivamente numa linha de tempo. Usar, como fonte de informação, a própria Bíblia.

c) No final do período dos juízes surgiu uma dupla crise. Internamente, os juízes perderam o poder que haviam conseguido (1Samuel 8,3-5), devido ao deterioramento da vivência da Aliança (!Samuel 3,12-17) e ao aumento da desigualdade social no seio dos clãs (Êxodo 21,1-10). Externamente, os filisteus ameaçavam invadir o território das tribos, e estas não tinham condições suficientes para defender-se de forma permanente.

d) Com o correr do tempo, surgem tentativas de introduzir a monarquia e de transformar o juiz em rei. Primeiro Gedeão (Juízes 8,22-33), depois Abimeleque (Juízes 9,1-17), em seguida Saul (1Samuel 10-11) e,

Page 48: Leitura Orante da BÍblia

48finalmente, Davi, que consegue consolidar o poder e conferir-lhe a hereditariedade.

e) Na Bíblia, o rei é visto como juiz do povo, ungido por Javé.

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas perguntas:

a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como o texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração: Salmo 72

6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: Os profetas criticam os reis, denunciam a injustiça. Texto a ser estudado: 1Reis 21,1-24

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO

a) Na origem da Bíblia existem grupos em conflito. Seus diferentes

pensamentos estão registrados na Bíblia. b) A Bíblia registra o lento caminhar do povo de Deus. Desde o estado

de imperfeição e pecado até a plenitude em Jesus Cristo. c) Algumas vezes, o nome de Deus foi usado e manipulado pelos reis

para legitimar e encobrir a opressão. d) No momento da introdução da monarquia, a Vontade de Deus não se

manifesta de uma forma abstrata, mas de forma concreta, nas decisões históricas do povo.

e) É claro que, para este período da monarquia, as tradições orais anteriores começam a ser fixadas por escrito.

Page 49: Leitura Orante da BÍblia

49ENCONTRO 5 – Os profetas criticam os reis em nome da

Aliança

Ele fará justiça aos humildes do povo... TEMA: Anúncio da fidelidade com Javé e denúncia da injustiça. PERÍODO: Reino unido (1025-931 a.C). Divisão do reino: Reino do Norte (Israel) – (931-721 a.C). Reino do Sul (Judá) 931-587 a.C.). ASPECTOS:

1. 1REIS 21,1-24: Os pobres são injustamente despojados de sua terra.

2. JEREMIAS 22,13-19: O profeta denuncia a corrupção e o enriquecimento injusto do rei.

3. ISAÍAS 1,10-28: Denúncia do uso do nome de Deus e do tempo. Palavra-chave: FAZER JUSTIÇA

“Ele fará justiça aos humildes do povo, salvará os filhos dos pobres”

(Salmo 22,4)

1. Partir da realidade de hoje O povo da América Latina está sendo injustamente despojado de suas

terras, e seus direitos são pisoteados. Uma minoria apoderou-se dos bens de produção e do poder político, marginalizando o povo. Estão surgindo sinais e gestos proféticos para denunciar esta situação.

a) As reformas, tanto econômicas como sociais e política, são promovidas em nome de que ou de quem e em favor de quem?

b) Que gestos proféticos estão em curso: - em nosso pais? – em nossa região? – na América Latina?

c) Fazemos regularmente, na nossa comunidade, em nossos grupos, a análise da realidade, para conhecer a situação não só internacional, nacional, mas também a do lugar onde exercemos nossa missão? A que compromisso isto nos tem levado?

2. Estudo do texto escolhido: 1 Reis 21,1-24 (A vinha de Nabote) a) Ver de perto o texto:

1. Enumere as ações injustas que aparecem neste texto.

Page 50: Leitura Orante da BÍblia

502. Que palavras e provas são apresentadas para justificar estas

ações? 3. Que conseqüências geram estas ações nos diversos personagens

que aparecem no texto? b) Considerar a situação histórica:

4. Em que sentido a monarquia representa um retrocesso em relação ao passado?

5. Quem tinha razão: o rei que tinha o título de filho de Deus e a propriedade de todo o reino, ou o profeta que nada possuía e era considerado pelo rei como infiel e contrário ao povo?

6. Que conseqüência teve o matrimônio de Acabe com a princesa fenícia Jezabel? c) Ouvir a mensagem do texto

7. Como este texto ilumina a vivência da Antiga Aliança com Javé no período da monarquia e a vivência da Nova Aliança hoje?

8. Que características do profetismo poderemos assinalar partindo das ações do profeta Elias?

9. O que é um verdadeiro profeta hoje?Nomear alguns profetas de nossa comunidade, de nosso país, da América Latina.

3. Estudo do período histórico

a) Israel, na fase dos juízes, devido a problemas externos e internos, e pelo exemplo de outros povos, pede para ter um rei. Os três primeiros – Saul, Davi e Salomão – foram formando e ampliando o reino unido. Construíram o palácio e o templo e formaram um exército. Para todos esses gastos extorquiram pesados tributos e duros serviços do povo, exatamente como o havia predito o profeta Samuel ( 1 Samuel 8,10-20).

b) Depois a morte de Salomão, atiçam-se os conflitos, e um cisma divide o reino em dois: Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul (Judá), 931 a.C. A ambição pelo poder corrompe e faz com que muitos esqueçam a Aliança com Javé, as leis da fraternidade e a justiça. Para fortalecer sua posição, os reis depositam sua confiança em outros reinos poderosos; esta primeira idolatria do poder desencadeia outra série de idolatrias, como a da riqueza, dos cultos, etc., levando ao esquecimento de Javé, da sua Aliança e de seu projeto. Nesta situação, os profetas têm um papel importante.

Page 51: Leitura Orante da BÍblia

51Aparece, assim, com força, o profetismo que tem, como linha de fundo, a justiça.

c) O profetismo, inicialmente, se achava vinculado à corte e ao culto; a partir do profeta Elias, separa-se e se torna crítico do poder. Isto vai marcar o profetismo bíblico.

d) Segundo a reflexão profética, por causa da idolatria do poder e do dinheiro, tanto no interior como em suas relações externas, desmoronaram os reinos. Israel caiu ante a invasão da Assíria no ano 721 a.C e Judá, frente à Babilônia, no ano 587 a.C.

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se no questionário seguinte:

a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como o texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração

Partindo de nossa reflexão, podemos fazer uma celebração de conversão sobre nossa missão profética. Estes textos podem nos ajudar:

a) Isaías 42,18-25; 58,1-12. Chamado à conversão do coração para fazer justiça.

b) Salmo 58. Deus julga os governantes que oprimem o povo. 6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: Exílio, desintegração e nova libertação (desde a

destruição de Jerusalém até a época de Neemias, 587-445 a.C. Texto a ser estudado: Isaías 65,17-23.

Page 52: Leitura Orante da BÍblia

52SUBSÍDIO PARA O ESTUDO

a) Houve profetas, como Samuel, Natã, Elias, Eliseu, dos quais se

escreveu algo de suas vidas, mas não foram escritos livros sobre sua mensagem. São conservados os livros de 16 profetas: quatro maiores e 12 menores. Estes profetas não eram homens solitários, mas associavam-se em grupos, em movimentos de resistência do povo e assim formavam escolas; seus discípulos, ou secretários, conservaram suas palavras e delas nasceram os livros. Isto aconteceu, sobretudo, no tempo do exílio.

b) Os PROFETAS são porta-vozes da Palavra de Deus, verdadeiras

pontes entre Deus e o seu povo. Eles conhecem bem o projeto de Deus e a situação do povo.

Deus chamou, separou e impulsionou os PROFETAS para reconstruir sua ALIANÇA, que fora rompida pela infidelidade e pela injustiça. Os profetas encontram, no passado do povo,. Os critérios para criticar o presente e abrir a porta ao futuro.

Três direções assinalaram, principalmente, a atividade dos profetas: 1. Reconstruir a sociedade pela justiça e pela observância da Lei. 2. Reconstruir a comunidade pela solidariedade. 3. Reconstruir a consciência do povo, afetada pela ideologia, através da mística, isto é, pela certeza de que o Senhor Javé é o único Deus e está com eles.

c) O profetismo teve seu ponto alto no tempo dos reis, quando pregava

a justiça. Depois do exílio, foi perdendo a sua importância, porque a situação histórica de Israel mudou: houve problemas políticos e econômicos, e Israel sofreu dominação estrangeira.

Page 53: Leitura Orante da BÍblia

53ENCONTRO 6 – Exílio: desintegração, nova libertação

(587-445 a.C.)

Exílio, desterro, desintegração... nosso povo latino-americano não pode perder a esperança.

TEMA: O exílio: “A esperança nasce da experiência da dor”. PERÍODO: Desde a destruição de Jerusalém até a época de Neemias (587 a 445 a.C.). ASPECTOS:

1. ISAÍAS 65,17-23: A esperança do povo surge do fundo da opressão.

2. ISAÍAS 42,1-9: O povo oprimido em cativeiro descobre sua missão.

3. JEREMIAS 52: Imagem da destruição que levou ao cativeiro. Palavra-chave: ESPERANÇA

“Edifica, Javé, a Jerusalém, congrega os deportados de Israel. Ele

consola os corações esmagados e cura as suas feridas” (Salmo 147,2-3).

1. Partir da realidade de hoje Nosso povo latino-americano não pode perder a esperança. Entretanto,

podemos perguntar se a situação que estamos vivendo permite-nos manter a esperança (comentar em grupo a situação que vivemos atualmente).

a) Como se manifesta a situação de exílio, desterro e perseguição de nosso povo hoje?

b) Quais os sinais de resistência que o povo está realizando? c) Como o povo percebe a Deus nesta situação? d) De que modo esta percepção de Deus está alimentando a esperança

do povo? e) Por que estas esperanças ainda não se realizam?

2. Estudo do texto escolhido: Isaías 65,17-23

a) Ver de perto o texto:

1. O que nos diz este texto e de que forma o diz? 2. O que é que mais impressiona e o que é mais bonito no texto?

Page 54: Leitura Orante da BÍblia

543. De que outros textos bíblicos, semelhantes a este, você se

recorda ao ler este trecho? b) Considerar a situação histórica:

4. Enumerar os diversos aspectos de opressão aos quais o povo se encontra submetido e que aparecem no texto.

5. Em que situação se encontrava o povo que produziu este texto? c) Ouvir a mensagem do texto

6. Por que a fé na criação de um céu novo e de uma terra nova anima a luta e a esperança do povo no exílio e do nosso povo hoje?

3. Estudo do período histórico

a) Algumas datas: 597: Primeira tomada de Jerusalém. Exílio do primeiro grupo em

Babilônia. 587: Destruição de Jerusalém. Exílio do segundo grupo em Babilônia. 538: Edito de Ciro. Começa a volta dos exilados a Jerusalém. 520: Governo de Zorobabel. Reconstrução do templo. 445: Chegada de Neemias a Jerusalém. b) Localizar no mapa, e na linha tempo, as datas e o caminho do exílio

e do regresso a Jerusalém. c) O Reino de Judá, por causa das contradições internas, é destruído

pelo Império Babilônico. O profeta Jeremias procura manter acesa a esperança do povo.

d) Há dois grupos de exilados em conflito (Jeremias 29), e) Há ambigüidade na esperança: não se trata só de novo império com

Ciro, mas também da presença de Deus que caminha com seu povo (Isaías 40-45).

f) O Reino de Judá se torna uma pequena parte do grande Império Persa. Aparece a possibilidade de uma experiência forte de vida comunitária (Isaías 56-66).

g) Procure conhecer os escritos produzidos neste período.

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se no questionário seguinte:

a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?

Page 55: Leitura Orante da BÍblia

55b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração

Ler juntos, pausadamente, o Salmo 126. Depois de um momento de silêncio refletivo, rezar, partindo das esperanças que animam o povo de hoje.

6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: Reorganização do povo a partir da lei (Esdras e

Neemias). Texto a ser estudado: Neemias 8,1-18.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO a) O exílio foi uma época de crises profundas, mas foi também um

época de grandes esperanças e de composição de muitos livros. Em momentos de grande obscuridade, nasce a luz da Palavra.

b) Esta luz da época do exílio surgiu em grande parte por causa da escola de profetas (Isaías II). Eles viveram a crise da fé, junto com o povo, os pobres. Eram um comunidade de verdadeira INSERÇÃO. Passando pela crise de fé, reencontram um Deus que é sempre maior do que as diversas crises.

c) Esta descoberta de Deus foi a luz com a qual puderam reler o passado e assim dar origem ao maravilhoso livro de ISAÍAS 40-66.

d) Neste livro encontramos os quatro cânticos do Servo, em outras palavras: A MISSÃO DO POVO SOFREDOR. POVO POBRE, OPRIMIDO, MALTRATADO, COM UMA MISSÃO UNIVERSAL.

1. Isaías 42,109: Deus chama o povo. – 2. Isaías 49,1-6: O povo descobre sua missão. – 3. Isaías 50,4-9: O povo assume e executa a missão. Sofre por causa da missão. – 4. Isaías 52,13–53,12: O futuro destino da missão: paixão, morte e ressurreição.

Page 56: Leitura Orante da BÍblia

56ENCONTRO 7 – Reorganização do povo com base na lei

(Esdras e Neemias)

O Senhor os escolheu por amor.

TEMA: A crise interna ameaça a sobrevivência e exige a reorganização do povo. PERÍODO: Desde Neemias até o começo do Novo Testamento (445-01) ASPECTOS:

1. NEEMIAS 8,1-18: Reorganizar o povo a partir da observância da Lei.

2. NEEMIAS 5,1-13: Enfrentar os problemas econômicos, sociais e políticos através da prática da fraternidade e da partilha.

3. RUTE 1,1-22; Opção pelos pobres e resistência do povo: alternativa ante a solução oferecida pelas elites. Palavra-chave: POVO ELEITO: PRIVILÉGIO OU MISSÃO?

“O Senhor os escolheu por amor e não por ser um povo mais forte que

os outros” (Deuteronômio 7,7).

1. Partir da realidade de hoje a) A Lei deve criar uma ordem equilibrada que beneficie a todos. Você

alguma vez foi beneficiado por esta ordem? Como? Quando? b) Quem formulou as leis atuais em nosso país? c) Que sucede com o povo quando as leis estão acima do homem?

2. Estudo do texto escolhido: Neemias 8,1-18.

a) Ver de perto o texto:

1. Quem participa da celebração? 2. Quem a preside? 3. Quais as partes da celebração? Quantas e que celebrações

contêm? 4. Que se celebra? 5. Que se pretende com a celebração? 6. Que mais lhe chamou a atenção?

Page 57: Leitura Orante da BÍblia

57b) Considerar a situação histórica:

7. Por que o povo chora ao ouvir as palavras da Lei? 8. Quem preside ao povo na leitura e renovação da Aliança? 9. Quais são as conseqüências desse novo tipo de liderança? 10. Na época de Jesus aparecem as conseqüências da orientação

assumida pelos líderes do povo desde a época da reorganização. Quais foram esses resultados? Pontos positivos e negativos. c) Ouvir a mensagem do texto

11. Que conclusão tiramos deste trecho para a organização de nossa comunidade?

3. Estudo do período histórico

Algumas datas: 445 a.C.: Neemias inicia sua atividade. 398 a.C.: Esdras promove a reforma. Inicia-se oficialmente o judaísmo. 333 a.C.: Fim do império persa. Domínio dos gregos. 198 a.C.: Os selêucidas de Antioquia dominam a Palestina. 170 a.C.: O rei selêucida Antíoco IV promove a helenização e persegue

os judeus. 167 a.C.: Revolta dos Macabeus. 63 a.C.: Invasão dos romanos. 37 a.C.: Começa o reinado de Herodes, o Grande.

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por

escrito. Apoiar-se no questionário seguinte: a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

Page 58: Leitura Orante da BÍblia

585. Oração: Salmo 44 (de súplica)

Hino dos três jovens: Daniel 3,52-90. Ação de graças. Convém criar

um ambiente de silêncio e de meditação que ajude a orar. 6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: Sabedoria: resistência e abertura frente à invasão

cultural. Texto a ser estudado: Eclesiástico 13,1-12.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO a) Como abrir nossos olhos para fazer uma leitura libertadora de textos

que trazem um conteúdo opressor? b) Nesta época, a Bíblia tem sua redação definitiva. Logo mais será

traduzida para o grego, a língua oficial. Alguns livros foram redigidos diretamente em grego.

c) O templo passa a ser o centro da vida política, econômica e religiosa da nação judaica. O sumo sacerdote se torna a autoridade suprema do país.

d) Surgem os partidos tradicionais que terão importância na época de Jesus: os fariseus e os saduceus.

e) Nascem as sinagogas, casas de leitura da Bíblia e de oração. f) Existem grupos que questionam o sentido da organização

implementada por Esdras e Neemias. Estes grupos se expressam em outros livros da Bíblia, como Rute, Jô, Jonas, Isaías 55-65.

Page 59: Leitura Orante da BÍblia

59ENCONTRO 8 – Sabedoria: resistência e abertura frente à

invasão cultural

A invasão esmaga e amordaça a cultura do povo.

TEMA: Estima dos valores do povo. PERÍODO: Desde antes de Abraão até Jesus, mas, de modo especial, o período posterior ao desterro. ASPECTOS:

1. ECLESIÁSTICO 13,1-12: Dignidade do pobre frente ao poderoso.

2. ECLESIÁSTICO 34,18-22: Privar o pobre de um pão é cometer crime. Este texto converteu Bartolomeu de Lãs Casas de fazendeiro em defensor acérrimo dos índios.

3. SABEDORIA 14,12-31: Ironia e sabedoria popular contra a idolatria. Esta foi inventada pelos poderosos e é a origem de todos os males. Palavra-chave: SABEDORIA POPULAR

“Eu te louvo, Pai, porque... revelaste estas coisas... à gente simples”

(Mateus 11,25).

1. Partir da realidade de hoje Os povos latino-americanos possuem suas culturas próprias, cheias de

riquezas; porém, durante séculos suportaram contínua invasão cultural que esmagou seus valores e neles criou forte complexo de inferioridade e de inutilidade.

a) Que valores pensamos que tem o povo de nossa região? b) Que valores já perdeu ou estão em vias de extinção? c) Que atitudes tomamos frente aos defeitos do povo? d) Que mecanismos foram usados na história e se empregam

atualmente para esmagar os valores do povo? e) Que experiências conhecemos nas quais se potencializam e se fazem

crescer os valores do povo? e) Sabemos perceber a presença de Deus no meio da cultura do povo?

Dar exemplos concretos!

Page 60: Leitura Orante da BÍblia

602. Estudo do texto escolhido: Eclesiástico 13,1-23:

Dignidade do pobre frente ao poderoso. a) Ver de perto o texto:

1. Resumir o que diz o texto. 2. Que comparações usa?

b) Considerar a situação histórica:

3. Trata-se de um tema que pode ser de qualquer época. Tentar descrevê-lo segundo os dados fornecidos pelo texto. c) Ouvir a mensagem do texto

4. Quais são, aqui, as características do “rico”? 5. Destacar as palavras que o descrevem. 6. Como se manifesta, neste texto, a sabedoria do “pobre”? 7. Recordar frases (provérbios) e atitudes populares de nossa gente,

que manifestem um atitude igual à de nosso texto bíblico. 8. Que experiências de vida brotam destes provérbios e que

mensagem transmitem?

3. Estudo do período histórico

a) Embora a sabedoria popular esteja presente ao longo de todo o período bíblico, centramo-nos na época do pós-exílio. Durante os impérios persa e grego, a dominação não se realiza tanto através da força do exército e das deportações, como no tempo dos assírios e babilônios, mas, sobretudo, através da constante pressão cultural. A reação dos judeus se define valorizando sua própria cultura. Ao mesmo tempo, como conseqüência do exílio e por não constituir ainda um país independente, Israel começa a se expandir por todo o mundo conhecido. Com isso começa, de fato, um processo de abertura a outras culturas.

b) Diante do descaso cultural ambiental, os sapienciais revalorizam a sabedoria popular até ao ponto de torná-la Palavra de Deus. Apreciam, de maneira especial, a fé popular, seu senso comum, sua hospitalidade, o trabalho do campo, a família, a amizade, a alegria de uma vida austeramente próspera, na qual nada falte, mas também nada sobre. Chegam até mesmo a olhar com simpatia alguns defeitos populares. E, certamente, alertam contra os perigos que os cercam.

Page 61: Leitura Orante da BÍblia

61c) Temas que podem ser aprofundados: 1. Conhecimento mais profundo dos costumes e das crenças populares

das épocas persa, grega e romana. 2. A cultura destes impérios e como eles influíram na cultura dos

judeus. 3. Poderíamos também investigar as influências culturais da América

do Norte na cultura do povo latino-americano atual. 4. Onde e como se manifesta hoje a sabedoria popular? 5. Que função têm as histórias populares na vida do povo? 6. Como o povo sabe enfrentar o sofrimento? 7. Que tipo de oração e de poesia sustenta o povo em sua resistência

contra os opressores?

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas:

a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração: Salmo 34

Trata-se da experiência do povo pobre que, em meio a problemas e perseguições, sentiu a bondade de Deus que o impulsiona ´para a frente e o faz viver uma vida digna.

Pode-se também rezar com Sabedoria 9,1-18. 6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo. Texto a ser estudado: Marcos 1,14-45.

Page 62: Leitura Orante da BÍblia

62SUBSÍDIO PARA O ESTUDO

a) Os livros da Sabedoria tratam das “coisas do povo”. Eles são como

cimento que une os períodos bíblicos e lhes dá consistência. b) Estes ditos sapienciais existem praticamente em toda a Bíblia, e não

só nos livros chamados “sapienciais”. c) Podemos dividir os textos sapienciais assim: 1. A sabedoria do povo: Provérbios, Eclesiastes, Eclesiástico 1-43 e

Sabedoria 1-2. Neles se procura enfrentar a vida e lutar por ela. 2. As histórias do povo: Tobias, Judite, Éster 1-10, Eclesiástico 44-51,

Sabedoria 10-19, Rute, Juízes 3,12-30 e Gênesis 37,39-48. Nelas se narram, como recordação subversiva, a organização e as resistências do povo que ajudam na manifestação e na transmissão da fé em Javé.

3. O problema do sofrimento do povo: Lamentações, Ezequiel 14,12-23 e 18, Jô, Salmos 22 e 73, Sabedoria 3-5 e Isaías 53. Procura-se dar sentido ao sofrimento. É castigo? Provocação de Deus? Mistério sem explicação? Trata-se de solidariedade na culpa? Qual é a missão do povo que sofre?

4. A oração e a poesia do povo: Salmos e Cântico dos Cânticos. Constituem a resposta do povo à Palavra de Deus; seus lamentos, louvores e esperanças. São como um resumo de toda a Bíblia.

Page 63: Leitura Orante da BÍblia

63ENCONTRO 9 – Jesus refaz a história e realiza

a esperança do povo

“O prazo está vencido. O Reino de Deus chegou.”

TEMA: O prazo está vencido. Chegou o Reino. PERÍODO: O caminho de Jesus: 6 a.C. até 37 d. C. ASPECTOS:

1. MARCOS 1,14-45: Vê a situação do povo e instaura o Reino de Deus.

2. MATEUS 5,1-20: Lei da Nova Aliança. 3. LUCAS 4,16-30: Missão libertadora de Jesus. 4. JOÃO 2,1-12: Jesus compartilha a alegria do povo como sinal do

Reino. Palavra-chave: REINO

“O prazo está vencido. O Reino de Deus chegou. Mudem o modo de

proceder e creiam na Boa Nova” (Marcos 1,15).

1. Partir da realidade de hoje A situação do povo oprimido da América Latina é de anti-reino:

imperam a injustiça, a violência, o desprezo pela vida, a marginalização; as leis favorecem os poderosos. O povo geme, anseia pelo reino de Deus. Troquemos idéias sobre esta situação de anti-reino:

a) Qual a forma mais dura de opressão à qual o povo está sujeito nesta situação?

b) Nesta situação de pecado, de que maneira o povo expressa sua rejeição?

c) Onde e como Deus ouve o gemido do povo? d) Qual é a função de nossa comunidade frente à situação de anti-reino?

2. Estudo do texto escolhido: Marcos 1,14-45

Jesus vê a situação do povo e instaura o Reino de Deus.

a) Examinar de perto o texto:

Marcos apresenta muito claramente o objetivo da missão de Jesus. Vamos descobri-lo juntos:

Page 64: Leitura Orante da BÍblia

641). 1,16-20 – A quem chama e para quê? 2). 1,21-22 – Como você percebe a maneira como Jesus forma a

consciência crítica do povo neste texto? 3). 1,23-28 – Numa palavra, como se expressa a missão de Jesus

neste trecho? 4). 1,29-34 – Que resultado produz a ação libertadora de Jesus? 5). 1,35 – Que nos diz o texto sobre a relação de Jesus com o Pai? 6). 1,36-39 – Que indicam os verbos, neste contexto, sobre a

missão de Jesus? 7). 1,40-45 – Que faz Jesus em favor do marginalizado?

b) Sugestões para o aprofundamento do estudo do texto:

8.Que nos ensina este texto sobre o Reino de Deus? 9. Enumerar os tipos de marginalizados com os quais Jesus mais se

relaciona durante a vida E nossa comunidade? E nós, pessoalmente? Que relação temos com

os marginalizados da nossa cidade? c) Lembrar que é necessário estudar bem o texto em si, antes de passar a descobrir o sentido do texto para nós, hoje. É preciso anotar não só as semelhanças, mas também as diferenças com nossa época.

3. Estudo do período histórico

a) Morte de Herodes, o Grande (4 a.C.) b) Nascimento de Jesus (6 a.C.) c) Morte de Augusto; ascensão de Tibério (14 d.C.) d) Caifás, sumo sacerdote em Jerusalém (18 d.C.) e) Pôncio Pilatos, governador da Judéia (26 d.C.) f) Jesus inicia seu ministério (26. d.C.) g) Morte e ressurreição de Jesus (30 d.C.) h) Conversão de Paulo (33 d.C.) i) Morte de Tibério; ascensão de Calígula (37 d..)

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por

escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas: a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?

Page 65: Leitura Orante da BÍblia

65b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração

O Magnificat, cantado por Maria, a mãe de Jesus, nos relembra tudo o

que o Senhor fez por seu povo. Ao mesmo tempo, Maria anuncia a irrupção do reino em seu filho Jesus (Lucas 1,46-55).

6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: As comunidades, um novo modo de ser Povo de Deus. Texto a ser estudado: Atos 4,1-36.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO a) A informação essencial sobre a Boa Nova de Jesus e a realização da

esperança da salvação se encontram em todo o Novo Testamento; porém, de maneira privilegiada, nos relatos dos quatro evangelhos. – b) Os evangelhos são relatos ou testemunhos de uma experiência histórica e de fé das diversas comunidades a que seus autores estavam ligados. Eles contêm, em sua origem, não só as tradições dessas comunidades, mas também as intenções concretas que transmitem. Por isso, não são simples biografias de Jesus. – c) É interessante saber que os evangelhos não foram os primeiros relatos escritos do Novo Testamento. Antes de ser escrito o primeiro evangelho, já estavam escritas as cartas de Paulo. – d) A situação histórica, social, cultural e política do povo judeu entre os anos 1 a 70 d.C. tem grande influência sobre os escritos do Novo Testamento, de modo especial sobre os evangelhos. Eles foram escritos nestas circunstâncias e nesta época. Por isso, ajuda muito conhecer e compreender essa história. – e) A razão acima nos fornece base para afirmar também que é necessário conhecer as situações históricas, sociais, culturais e políticas do nosso tempo e do nosso país, para entender o Evangelho e sua mensagem para nós hoje.

Page 66: Leitura Orante da BÍblia

66ENCONTRO 10 – As comunidades: um novo modo de ser

povo de Deus

Comunidade, um novo modo de ser Povo de Deus

TEMA: O surgimento de um modo nosso de ser Povo de Deus. PERÍODO: Da ressurreição de Jesus ao Concílio de Jerusalém (30-49 d.C). ASPECTOS:

1. ATOS 4,1-36:O mundo evangelizado pelos pobres; a resistência dos fracos ante o poder estabelecido.

2. ATOS 3,1-26: A vida que surge da morte pelo poder de Jesus. 3. JOÃO 9: Obstáculos ao nascimento do novo Povo de Deus. O

judaísmo contra os seguidores de Jesus. Palavra-chave: COMUNIDADE

“A multidão de fiéis tinha um só coração e um só espírito” (Atos 4,32).

1. Partir da realidade de hoje Em todos os países da América Latina estão surgindo diferentes tipos

de comunidades cristãs. São constituídas pelo povo pobre. Lutam pela causa de Jesus e se perguntam como podem dar testemunho da ressurreição. Conhecem a perseguição e enfrentam a incompreensão de muitos setores.

a) Que sabemos das comunidades cristãs em nosso país e nos outros países da América Latina?

b) Como vivem, celebram e testemunham a sua fé? c) Quais são os sinais de morte e de vida nestas comunidades? d) Como as comunidades influem na busca de soluções para as

necessidades e os anseios do povo? e) Até que ponto estamos inseridos, como pessoas, na participação e na

formação de comunidades?

2. Estudo sobre o texto escolhido: Atos 4,1-36 a) Ver de perto o texto:

1. Quais são os elementos importantes deste texto? Quais são os diversos momentos e os diversos fatos nele narrados?

Page 67: Leitura Orante da BÍblia

672. Quais são os mecanismos de morte, por parte do poder político e

religioso, que o texto aponta? 3. Quais são os elementos importantes contidos no texto? 4. Qual a situação que o texto revela sobre a comunidade nascente?

b) Considerar a situação histórica:

5. Qual era a situação histórica daquele tempo que o texto revela? 6. Qual era a relação entre os judeus (poder social, religioso e

político) e este grupo de homens e mulheres do povo que seguiam o caminho de Jesus e começavam a criar comunidades?

7. Como este texto responde à situação do povo daquela época? Que idéias e respostas este texto dá ao povo daquele tempo? c) Ouvir a mensagem do texto:

8. Como o povo e a comunidade resistiram frente à situação daquela época?

9. Que sinais de morte e de vida aparecem no texto? 10. Que diz o texto para as nossas comunidades de hoje? 11. Como o povo resiste à situação?

3. Estudo do período histórico

a) Morte e ressurreição de Jesus (30 d.C.) b) Conversão de Paulo (33 d.C.) c) Morte de Tibério; ascensão de Calígula (37 d.C.) d) Morte de Calígula; Ascensão de Cláudio (41 d.C.) e) Primeira viagem missionária de Paulo (46-48 d.C.) f) Concílio de Jerusalém (49 d.C.)

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por

escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas: a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade?

Page 68: Leitura Orante da BÍblia

68e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração

Nesta situação de morte e vida, a comunidade ora (Atos 4,23-31). O grito da comunidade, nascido da realidade, clama pela vida. Fortalecida pelo Espírito Santo, a comunidade continua anunciando a Palavra.

6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: A expansão do Evangelho pelo mundo. Texto a ser estudado: Atos 15,1-29.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO a) As comunidades surgiam na medida em que os cristãos se reuniam

em suas casas para orar e partilhar. Cada casa era chamada de Igreja (Romanos 16,5).

b) Ao se reunirem em suas casas, os cristãos enfrentavam a religião oficial dos judeus, porque não ofereciam mais sacrifícios no templo, centro de poder político e religioso.

c) Então os judeus começaram a perseguir as comunidades. Isto teve como conseqüência a dispersão dos seguidores de Jesus e a evangelização dos pagãos (João 9).

Page 69: Leitura Orante da BÍblia

69ENCONTRO 11 – Expansão do Evangelho pelo mundo

“...O Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força

para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra”. (Atos 1,8)

TEMA: Os conflitos provocados pelo evangelho frente ao mundo pagão. PERÍODO: Desde o Concílio de Jerusalém até a morte de Pedro e Paulo (49-67 d.C.). ASPECTOS:

1. ATOS 15,1-29: Conflito entre as comunidades que seguem e impõem a Lei de Moisés e as comunidades surgidas no mundo helenístico.

2. ATOS 8,26-40: O Reino de Deus aberto aos mais marginalizados.

3. ATOS 17,16-34: Dificuldades encontradas pelas primeiras comunidades cristãs na evangelização dos gentios. Duas visões da realidade das comunidades e do processo evangelizador: uma, a ação do Espírito na cultura e na sociedade; a outra, o poder religioso da Lei Mosaica. Palavra-chave: NOVO POVO

“Ninguém coloca vinho novo em odres velhos; o vinho arrebentará os

odres e tanto o vinho quanto os odres serão perdidos. Para vinho novo, odres novos!” (Marcos 2,22).

1. Partir da realidade de hoje O povo sofrido da América Latina procura unir-se na luta pela vida,

através de organizações populares. Entretanto, existem profundas divisões em vários níveis: racial (negro, branco, índio); sexual (homem, mulher); político (direita, esquerda); religioso (igrejas, seitas, movimentos) etc. Estas divisões aumentam em razão de forças externas e países poderosos que dividem povos latino-americanos entre si.

a) O que é que mais divide o povo e a Igreja? b) Quais são os objetivos que unem o povo na luta? c) De que maneira percebemos a presença de Deus nas tentativas de

união e organização popular?

Page 70: Leitura Orante da BÍblia

702. Estudo do texto escolhido: Atos 15,1-29

Situação conflitiva da Igreja Primitiva que impele para uma nova tarefa

evangelizadora. a) Ver de perto o texto:

1. Que elementos você acha importantes neste texto? 2. Que explicam Paulo e Barnabé? Qual é a resposta de Pedro, de

Tiago, de toda a comunidade? b) Considerar a situação histórica:

3. Quais são os principais conflitos que as comunidades primitivas viviam naquele momento?

4. Quais são as causas das diversas atitudes existentes? 5. Como as comunidades enfrentaram este desafio?

c) Ouvir a mensagem do texto:

6. A sua comunidade viveu ou vive situação semelhante? 7. Como este texto ilumina e questiona a nossa ação pastoral de

hoje?

3. Estudo do período histórico

Cláudio (49-54) e Nero (54-68) são os imperadores de Roma. Vive-se numa sociedade na qual a religião e a política se acham intimamente unidas. Muitos povos sofrem e passam fome. O Concílio de Jerusalém (49) decreta que os convertidos do paganismo estão isentos da Lei. Paulo funda comunidades na Ásia e na Europa (Antioquia, Chipre, Filipos, Tessalônica, Éfeso, Corinto...). Paulo lutará, através de suas cartas, para conseguir uma sociedade igualitária composta de cristãos nascidos do judaísmo e do paganismo. As comunidades paulinas acorrerão para ajudar a comunidade de Jerusalém que passa fome. Por causa das tensões vividas nesta época no seio do judaísmo, Paulo é preso e finalmente morto em Roma, no ano 67.

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas:

a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo?

Page 71: Leitura Orante da BÍblia

71b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação? d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração

Do seio de nossa situação de divisão e de conflitos sentimo-nos interpelados a “entregar nossas vidas à causa de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Atos 15,26). Contamos com a presença de Jesus em nosso caminhar; ele fortalece nossa debilidade e nos enche de esperança. Romanos 8,31-39: ler este trecho e comentá-lo em comum.

6. Preparação do próximo encontro

Definir o tema: Perseguição e resistência alimentada pela esperança, no

final do século I. Texto a ser estudado: Apocalipse 12,1-17.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO a) Durante este período, depois da morte de Jesus e da destruição de

Jerusalém (70 d.C.), aparecem muitas tensões sociais e conflitos entre judeus e cristãos.

b) Estes conflitos sucedem na Palestina e também nas vizinhanças, na

Ásia Menor, para onde muitos judeus emigraram. c) Estes conflitos vão tomando contornos mais nítidos à proporção que

Paulo funda comunidades cristãs fora da Palestina; delimitar-se-á, então, uma linha divisória clara entre a Sinagoga e a Igreja nascente, entre judaísmo e cristianismo.

d) Por esta época começaram a ser escritos os livros do Novo Testamento.

Page 72: Leitura Orante da BÍblia

721. Todas as cartas de Paulo. 2. Os evangelhos. O primeiro a aparecer talvez tenha sido o de Marcos,

e o último, o de João. 3. Os demais escritos ou livros do Novo Testamento.

e) As Cartas de Paulo nos transmitem não só a doutrina, mas também o

testemunho de vida, os conflitos e os problemas das primeiras comunidades cristãs fora da Palestina. O livro dos Atos dos Apóstolos, em sua primeira parte, nos apresenta o testemunho de vida das primeiras comunidades cristãs na Palestina. É a pregação e a atividade missionária do apóstolo Paulo, até sua viagem a Roma!

Page 73: Leitura Orante da BÍblia

73ENCONTRO 12 – Perseguição e resistência no final

do século I

“Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor. (...) Eis que faço novas

todas as coisas” (Ap 21,4.5). TEMA: Esperança de um povo que sofre. PERÍODO: 67-100 d.C. ASPECTOS:

1. APOCALIPSE 12,1-17: Deus presente na história, oculto nos acontecimentos.

2. APOCALIPSE 21,1-8: Deus realiza a esperança com as pessoas. 3. TIAGO 5,1-6: Juízo de Deus sobre os ricos.

Palavra-chave: TRIUNFO SEGURO

“Estive morto e de novo sou aquele que vive pelos séculos dos séculos”

(Apocalipse 1,18).

1. Partir da realidade de hoje O povo que sofre vai descobrindo a presença do juízo de Deus nos

acontecimentos de sua história. a) Que tipos de perseguição o imperialismo moderno usa contra o povo

nos dias de hoje? b) Como o povo resista a ameaças? c) Que é que mantém viva a esperança de nosso povo, de nossa

comunidade, e a nossa? d) Conhece alguém que, na perseguição e na morte, alcançou a vitória?

2. Estudo do texto escolhido: Apocalipse 12,1-17: Descreve como

Deus toma partido em favor da vida ameaçada.

O Apocalipse é o livro da esperança de um povo que sofre, no final do primeiro século.

Page 74: Leitura Orante da BÍblia

74a) Ver de perto o texto:

1. Este livro foi escrito em tempo de perseguição, quando não se podia falar clara e abertamente. Por isso, ele contém tantos símbolos. Convém, pois, ler o texto atentamente e procurar captar os símbolos que nele aparecem.

2. Quem é simbolizado pela mulher grávida que grita quando sente as dores do parto?

3. Quais são as situações que o texto nos descreve, e o que significam? b) Considerar a situação histórica:

4. Qual é a situação do povo que aparece no texto? 5. Como o texto mostra que as perseguições são sinais de vitória? 6. Que descrições de Jesus aparecem ao longo do Apocalipse, neste

trecho concreto, e com que características? c) Ouvir a mensagem do texto:

7. Que diz o texto ao povo daquela época? 8. Que diz este texto a nosso povo de hoje, quando vivemos

também momentos de violência e de perseguição? 9. A fé em Jesus Cristo e a doação da própria vida são mais fortes

que as perseguições e as ameaças que nos cercam? 10. Que significam, à luz deste texto, as palavras de Mons. Romero:

“Se me matarem, eu ressuscitarei no coração de meu povo”?

3. Estudo do período histórico O povo das comunidades sofre as conseqüências da época de Nero e

vive as perseguições de Domiciano, imperador que exige ser adorado como um deus. Neste período foram escritos os evangelhos.

4. Partilha

Fazer uma síntese do trabalho realizado pelo grupo, se possível por

escrito. Apoiar-se nas seguintes perguntas: a) Que descobriu em relação ao sentido do texto em si mesmo? b) Que descobriu em relação àquele período da história do povo da

Bíblia? c) Em que este estudo o ajudou a clarear o texto da Bíblia: sua origem,

sua formação?

Page 75: Leitura Orante da BÍblia

75d) Como este texto ajuda a ver a realidade? e) Que descobriu em relação à forma de interpretar a Bíblia e em

relação à forma de transmiti-la ao povo?

5. Oração: Apocalipse 5,9-14

Unidos em profunda esperança, elevemos uma oração ao Cordeiro que foi imolado, mas que “está em pé”.

6. Preparação do próximo encontro

Ao final destes encontros, sugere-se convidar todos os participantes

para uma reunião de avaliação do caminho percorrido.

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO a) Os apocalipses estiveram na moda durante os dois últimos séculos

do antigo Testamento e os dois primeiros do Novo Testamento. Entre os apocalipses bíblicos, o principal texto do Antigo Testamento é o livro de Daniel. Foi escrito para levantar o ânimo dos crentes em Javé, durante a perseguição de Antíoco Epifânio.

b) A apocalíptica judaica é uma síntese nova entre profecia e sabedoria. c) No “Apocalipse de Jesus Cristo”, Jesus ressuscitado, centro de tudo,

Senhor da História e do Universo, é apresentado numa seqüência de quadros fortes e coloridos, porém sempre intimamente carinhoso para com o povos das comunidades. Os crentes vêem nele sua vitória garantida e recebem assim a força necessária para sustentar a perseguição. No final, Jesus triunfará, de maneira definitiva, sobre todos os seus inimigos: o império opressor, os falsos profetas, Satanás e a própria morte. E os vencedores triunfarão para sempre com Ele.

Page 76: Leitura Orante da BÍblia

76VIII. RESUMO: a mística que deve animar

a Leitura Orante da Bíblia 1) Ao iniciar a Leitura Orante da Bíblia, você não vai estudar; não vai

ler a Bíblia para aumentar o seu conhecimento nem para preparar algum trabalho apostólico; não vai ler para ter experiências extraordinárias. Mas vai ler a Palavra de Deus para escutar o que Deus tem a lhe dizer, para conhecer a sua vontade e, assim, poder viver melhor o Evangelho de Jesus Cristo. Em você deve estar a pobreza; deve estar também a disposição que o velho Eli recomendou a Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!” (1Sm 3,10).

2) Poder escutar a Deus não depende de você nem do esforço que fará,

mas só e unicamente de Deus, da sua decisão gratuita e soberana de entrar em contato com você e de fazer com que você possa ouvir a sua voz. Para isto é necessário que você se prepare, pedindo que Ele mande o seu Espírito. Pois sem a ajuda do Espírito de Deus não é possível descobrir o sentido que a Palavra de Deus tem para nós hoje (cf. Jo 14,26; 16,13; Lc 11,13).

3) É importante criar um ambiente adequado que favoreça o

recolhimento e a “escuta” atenta da Palavra de Deus. Para isto você deve colocar-se na presença de Deus e permanecer atento a ela durante todo o tempo da Leitura Orante. E lembre-se: uma boa e digna posição do corpo favorece o recolhimento da mente.

4) Abrindo a Bíblia, você deve estar bem consciente de que está abrindo

um livro que não é seu, mas da comunidade. Fazendo a sua Leitura Orante, você está entrando no grande rio da tradição da Igreja que atravessa os séculos. A Leitura Orante é o barquinho que nos carrega pelas curvas deste rio até o mar. O clarão luminoso que nos vem do mar já clareou a “noite escura” de muita gente. Mesmo fazendo sozinho a sua leitura orante da Bíblia, você não está só, mas estará unido aos irmãos e às irmãs que, antes de você, procuraram “meditar dia e noite na lei do Senhor” (Sl 1,2).

5) Uma leitura atenta e proveitosa da Bíblia tem três passos. Ou seja, do

começo ao fim, ela deve estar marcada por três atitudes:

Page 77: Leitura Orante da BÍblia

771º Passo ou atitude: antes de tudo você deve ter sempre a preocupação

de investigar: “O que o texto diz em si?” Isto exige que faça silêncio. Dentro de você tudo deve silenciar, para que nada o impeça de escutar o que o texto tem a dizer, e para que não aconteça que você leve o texto a dizer só aquilo que você gosta de escutar.

2º Passo ou atitude: você também deve ter sempre a preocupação de se perguntar: “O que o texto diz para mim, para nós?” Neste segundo passo, você entra em diálogo com o texto, para que o sentido se atualize e penetre a sua vida. Como Maria, rumine o que escutou (Lc 2,19.51), para que, assim, a Palavra de Deus habite abundantemente na sua boca e no seu coração.

3º Passo ou atitude: além disso, você deve estar sempre preocupado em descobrir: “O que o texto me faz dizer a Deus?” É a hora da prece, o momento de vigiar em orações. Até agora, Deus falou para você; chegou a hora de você responder a Ele.

6) O resultado, o 4º passo, o ponto de chegada da Leitura Orante é a

contemplação. Contemplação é: a) ter nos olhos algo da “sabedoria que leva à salvação” (2Tm 3,15); b) é começar a ver o mundo e a vida com os olhos dos pobres, com os olhos de Deus; c) é você assumir sua própria pobreza e eliminar do seu modo de pensar aquilo que vem dos poderosos; d) é tomar consciência de que muita coisa, da qual você pensava que fosse fidelidade a Deus e ao Evangelho, na realidade nada mais era do que fidelidade a você mesmo e aos seus próprios interesses e idéias; e) é saborear, desde já, algo do amor de Deus que supera todas as coisas; f) é mostrar pela sua vida que o amor de Deus se revela no amor ao próximo; g) é dizer sempre: “faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Assim, tudo o que deve ser feito, será feito de acordo com a Palavra do Senhor.

7) Para que a sua Leitura Orante não fique entregue só às conclusões

dos seus próprios sentimentos, pensamentos ou caprichos, mas tenha firmeza maior e seja realmente fiel, é importante você levar em conta três exigências fundamentais: 1ª exigência: confrontar o resultado da sua leitura com a comunidade a que você pertence, com a fé da Igreja viva. Do contrário, poderia acontecer que o seu esforço não o leve a canto nenhum (Gl 2,2). 2ª exigência: confrontar aquilo que você lê na Bíblia com a realidade que hoje vivemos. Quando a Leitura Orante não alcança o seu objetivo na nossa vida, a causa nem sempre é falta de oração, falta de atenção à fé da Igreja, ou falta de estudo crítico do texto. Muitas vezes, é simplesmente falta de atenção à realidade nua e crua que hoje vivemos,

Page 78: Leitura Orante da BÍblia

78aqui na América Latina. Quem vive na superficialidade, sem aprofundar sua vida, não pode atingir a fonte de onde nasceram os Salmos, dizia Cassiano. 3ª exigência: confrontar as conclusões da sua leitura com os resultados da exegese bíblica que investiga o sentido da Letra. A Leitura Orante – é verdade – não pode ficar parada na letra; ela deve procurar o sentido do Espírito (2Cor 3,6). Mas querer estabelecer o sentido do Espírito sem fundamentá-lo na letra é o mesmo que construir um castelo no ar (Santo Agostinho). É cair no engano do fundamentalismo. Hoje em dia, em que tantas idéias se propagam, é muito importante ter bom senso. O bom senso se alimenta do estudo crítico da letra.

8) O apóstolo Paulo dá vários conselhos de como ler a Bíblia. Ele

mesmo foi um bom intérprete. Eis algumas das normas e atitudes recomendadas e observadas por ele. Quando você for ler a Bíblia: a) considere-se destinatário do que está escrito, pois tudo foi escrito para a nossa instrução (1Cor 10,11; Rm 15,4); a Bíblia é o nosso livro; b) procure ter nos olhos a fé em Jesus Cristo, pois é só pela fé em Jesus que o véu cai e que a Escritura revela o seu sentido e nos comunica a sabedoria que leva à salvação (2Cor 3,16; 2Tm 3,15); c) lembre-se: Paulo falava de “Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2,2), “escândalo para uns e loucura para outros”, foi este Jesus que lhe abriu os olhos para perceber como, no meio dos pobres da periferia de Corinto, a loucura e o escândalo da cruz estavam confundindo os sábios, os fortes e os que pensavam ser alguma coisa neste mundo (1Cor 1,21-31); d) misture o eu e o nós; nunca só o eu, e nunca só o nós! O apóstolo também misturava, pois recebeu sua missão da comunidade de Antioquia e falava a partir dela (At 10,1-13); e) tenha presente os problemas da sua vida pessoal, da sua família, das comunidades, da Igreja, do povo a que você pertence e serve; foi assim que Paulo relia e explicava a Bíblia: a partir dos problemas das comunidades por ele fundadas (1Cor 10,1-13).

9) Ao ler a Bíblia tenha bem presente que o texto da Bíblia não é só uma

janela por onde você olha para saber o que aconteceu com os outros no passado; é também um espelho, um “símbolo” (Hb 11,19), onde você olha para saber o que está acontecendo hoje com você (1Cor 10,6-10). A Leitura Orante diária é como a chuva mansa que, aos poucos, vai amolecendo e fecundando o terreno (Is 55,10-11). Entrando em diálogo com Deus e meditando a sua lei, você cresce como a árvore plantada à beira dos córregos (Sl 1,3).Você não vê o crescimento, mas perceberá o resultado no encontro renovado consigo, com Deus e com os outros. Diz o canto: “É

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79como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa, Tua Palavra é assim, não passa por mim, sem deixar um sinal”.

10) Um último ponto a ser levado em conta. Quando você faz Leitura

Orante, o objetivo último não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida. Não é conhecer o conteúdo do Livro Sagrado, mas, sim, ajudado pela Palavra escrita, descobrir a Palavra viva que Deus fala hoje em sua vida, na nossa vida, na vida do povo, na realidade do mundo em que vivemos (Sl 95,7); é crescer na fé e, como o profeta Elias, experimentar, cada vez mais, que “vivo é o Senhor, em cuja presença estou!” (1Rs 17,1; 18,15).

“O Senhor Javé abriu-me os ouvidos e eu não fui rebelde, não recuei.

Ofereci o meu dorso aos que me batiam. O Senhor Javé virá em meu socorro. Eis por que não me sinto humilhado. Perto de mim está aquele que defende minha causa” (Is 50,4-8).

Jesus apresentou-se no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês!”

Em seguida, abriu-lhes a mente para que entendessem a Escritura (Lc 24,36.45). E disse ainda: “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse. Ele vos conduzirá à verdade plena (Jo 14,26; 16,13).

“Quando terminaram a oração, estremeceu o lugar em que estavam

reunidos. Todos, então, ficaram cheios do Espírito Santo e, com coragem, anunciavam a Palavra de Deus” (At 4,31).

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80IX. A VISÃO GLOBAL DA BÍBLIA

Reler o passado à luz do presente

I. O significado de uma boa visão global da Bíblia: O Concílio

Vaticano II pede que se dê atenção não só ao conteúdo, mas também à unidade de toda a Escritura (DV 12). Ou seja, não basta conhecer as coisas que estão na Bíblia; é preciso saber situá-las dentro de uma visão global que as interprete e explique. Uma visão global funciona como chave de leitura. É uma luz que nos clareia a história do povo de Deus. Ajuda a reler os textos antigos com olhos novos e a formar-nos, assim, uma idéia nova e atualizada do Projeto de Deus, da Vontade de Deus.

A visão global que se tem da Bíblia muda (e deve mudar) de acordo com os desafios e problemas que o povo enfrenta em cada época da sua história. Não se trata, porém, de uma coisa arbitrária que alguém inventa para propagar idéias novas sem consistência. Uma boa visão global deve estar fundamentada nos fatos da história, narrados pela Bíblia. Ela nasce do estudo da letra, do texto, dos mesmos textos de sempre. Mas não só! Nasce também do Espírito, de uma experiência de Deus, do mesmo Deus de sempre, que, no passado, conduziu o povo, inspirou os textos e, até agora, continua vivo e presente no meio do povo. Com essa experiência de Deus nos olhos, o povo lê ou relê a Bíblia para encontrar nela a luz e a força que o ajudem a superar os desafios e problemas da caminhada.

A própria Bíblia se preocupa em oferecer aos seus leitores a possibilidade de uma boa e bem atualizada visão global da história, de acordo com as exigências da situação em que eles se encontram. Por exemplo, vários salmos oferecem um resumo do passado, mas cada um o faz com um objetivo diferente: salmo 105(104), como motivo de louvor; salmo 106(105), como motivo de revisão; salmo 107(106), como motivo de reanimação etc. Nas várias épocas da sua história, o povo hebreu chegou a elaborar uma síntese ou visão global da história que respondesse aos problemas da época: javista, eloísta, deuteronomista, sacerdotal e outras. Em toda parte da Bíblia, aparecem pequenos resumos do passado na boca dos grandes personagens: Josué (Js 24,2-13); Moisés (Dt 1-11; 32,1-43); Aquior, o amonita (Jt 5,5-21); Estêvão (At 7,2-53); Paulo (At 13,15-25) etc. Com essas e outras sínteses, a Bíblia convida o leitor a não se fixar numa mesma idéia do passado, ajuda-o a reler o passado com olhos renovados e a se formar, assim, uma nova visão global.

Na própria Bíblia, reencontramos o mesmo esquema básico de leitura já encontrado na Leitura Orante e na prática das Comunidades. Leitura que

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81parte 1) da realidade que se vive hoje; 2) da fé da comunidade a que se pertence; 3) de um respeito profundo pelo texto que se lê. Leitura que tem o mesmo objetivo: com a ajuda da Bíblia, descobrir a Palavra de Deus que está na vida.

II. A importância de se ter uma boa visão global da Bíblia. a) É um

meio didático eficaz para se conhecer e memorizar o passado; ajuda o povo a não perder a memória nem a própria identidade. b) Ajuda a perceber que a unidade da Bíblia vem do rosto de Deus, isto é, vem da percepção da Vontade de Deus para nós hoje, do seu Projeto. Os detalhes desta Vontade Divina estão espalhados por todas as páginas da Bíblia. c) Ajuda a perceber que a Bíblia foi escrita não só para ensinar o passado, mas também e sobretudo para apresentá-lo como espelho e símbolo do presente; deste modo, a visão global ajuda o povo a perceber melhor o sentido da sua caminhada. d) Ajuda a situar as várias partes da Bíblia dentro do conjunto maior; deste modo, ajuda a relativizar as possíveis contradições entre os vários livros. e) Ajuda a perceber que a Bíblia tem finalidade didática e que, por isso mesmo, tem as suas limitações. Nem sempre ela dá atenção suficiente aos detalhes dos fatos e dos conflitos que ele descreve. f) Ajuda a situar o texto dentro do seu contexto mais amplo: literário, histórico e teológico. Amplia, assim, o sentido e impede que este seja manipulado por uma atitude fundamentalista. g) Ajuda e favorece o objetivo da leitura da Bíblia: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7). Uma boa visão global da Bíblia é, ao mesmo tempo, semente e fruto de uma nova experiência do Deus Libertador.

III. Um esquema da história que pode ajudar a formar uma visão

global da Bíblia. Apresentamos aqui um esquema didático para ajudar as pessoas a formarem uma boa visão global da Bíblia. O esquema serve como exemplo. Resumimos a história em quatro grandes unidades, cada uma com quatro subdivisões. Ao todo são dezesseis etapas. Outros adotam outra divisão. O importante é que o esquema tenha fundamento na história e ajude o leitor a ver na história um espelho do que acontece hoje.

Primeira unidade: A origem do Povo de Deus e a sua organização.

Desde Abraão e Sara até Davi (1800-1000). — 1ª Etapa: 1600-1200 – Desde a entrada no Egito até a conquista da terra. Êxodo: libertação da opressão, aliança, tempo do deserto. — 2ª Etapa: 1200-1050 – Desde a entrada na terra até Samuel, o último Juiz. Juízes: organização das tribos, distribuição da terra. — 3ª Etapa: 1800-1050 – Desde Abraão e Sara até a

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82época dos Juízes. Patriarcas: lembrar e reler os modelos de vida do povo. — 4ª Etapa: 1050-1000 – Desde Samuel até o fim do reinado de Davi, em Hebron. Crise do sistema tribal, mudança para a monarquia.

Comentário: a) Alcance. A experiência que as tribos revoltosas do Egito e da Palestina tiveram da presença libertadora de Deus na sua luta contra o poder opressor do faraó e dos reis de Canaã fez nascer o Povo de Deus. Essa experiência inicial tornou-se nele a fonte permanente e inesgotável da sua identidade. Este período inicial será objeto de interpretações e releituras ao longo de toda a história, tanto do Antigo como do Novo Testamento, pois nele estão todos os elementos básicos da missão e da organização do povo de Deus. A memória perigosa desse período inicial acordará nos profetas e servirá a eles como norma e critério na sua luta contra os abusos dos reis. Não se distanciar desta origem permanente do povo de Deus e mantê-la bem viva na memória é o objetivo da Leitura Orante da Bíblia. b) Perguntas para hoje: Qual a experiência inicial que deu origem à nossa Comunidade, ao nosso povo? Como descobrimos Deus aí dentro? Como esta experiência é fonte permanente de onde brota (ou deveria brotar) a nossa identidade e nossa consciência como povo de Deus?

Segunda unidade: Reis e Profetas: conflito entre poder e carisma.

Desde Davi até a véspera do exílio (1000-609). — 5ª Etapa: 1000-885 – Desde Davi, como rei de Judá e Israel, até o golpe de Omri. Davi e Salomão: volta da opressão, divisão do reino. — 6ª Etapa: 885-722 – Desde Omri, rei de Israel, até a destruição de Samaria. Elias enfrenta o sistema do rei: evolução do profetismo. — 7ª Etapa: 740-640 – Desde a vocação de Isaías até a posse do rei Josias. A reforma fracassa por causa da corrupção dos reis. — 8ª Etapa: 640-609 – Desde a posse de Josias até a sua morte trágica. A reforma deuteronomista: leitura profética da história.

Comentário: a) Alcance. A monarquia veio como fruto das circunstâncias econômicas, sociais, políticas e religiosas. Ambivalente em si, ela possuía aspectos positivos e negativos. Representava, ao mesmo tempo, um avanço e um retrocesso. Prevaleceu o retrocesso, venceu o negativo. O positivo ficou só na lembrança, como fonte de esperança: no futuro, o Rei ideal, o Messias, deve vir para realizar o Reino de Deus. A experiência histórica da monarquia foi desastrosa para o povo. Ela fez voltar a escravidão e a opressão, piores do que no Egito. Os (verdadeiros) profetas reagem e, em nome da Aliança e do passado do povo, fazem oposição. Eles relêem a origem do povo para clarear e criticar o presente. São quatro séculos de conflito entre a tradição do Êxodo, da Aliança, do carisma, da liberdade, e a tentativa do poder de institucionalizar a tradição e

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83de canalizá-la em seu favor. É o conflito entre poder e carisma. b) Perguntas para hoje: Até onde vai e como se manifesta hoje a luta entre o poder e o carisma, tanto na sociedade civil como na igreja? Como se manifesta hoje o profetismo? Quais as diferenças e as semelhanças entre ontem e hoje?

Terceira unidade: destruição, cativeiro, revisão, reconstrução.

Desde a véspera do exílio até o limiar do Novo Testamento (609-001). — 9ª Etapa: 609-587 – Desde a morte de Josias até a destruição de Jerusalém. Luta trágica de Jeremias: a decadência leva à destruição. — 10ª Etapa: 598-445 – Desde a primeira deportação até a chegada de Neemias. Cativeiro, revisão, nova libertação, volta, abertura. — 11ª Etapa: 445-167 – Desde Neemias e Esdras até a revolta dos Macabeus. Reconstrução do povo em torno da lei do templo. — 12ª Etapa: 167-001 – Desde os Macabeus até o limiar do Novo Testamento. Ameaça helenista, revolta popular, fracasso da revolução.

Comentário: a) Alcance: A monarquia fracassou e jogou o povo na maior crise da sua história. Perderam todos os apoios tradicionais da sua fé e tiveram de fazer uma revisão radical de tudo. Vivem agora uma situação nova. Já não são uma nação independente, mas formam um grupo religioso, sem independência política, sem importância, perdido num imenso império multiracial assírio-babilônico-persa-grego-romano.. Internamente, estão irremediavelmente divididos. Duas tendências opostas entre si se afirmam e, por vezes, tentam conviver. São duas maneiras diferentes de se reler o passado. De um lado, encaram a eleição divina como um serviço e chegam a uma abertura quase universal: ser “Luz dos Povos”, amostra do que Deus quer para todos. De outro lado, a eleição é vista como um privilégio, e chegou-se a um fechamento quase total: nacionalização de Deus e da fé. Estas duas tendências marcam o conflito que levou ao levante dos Macabeus e são também a causa do seu fracasso. Vão marcar o conflito entre Jesus e os fariseus. b) Perguntas para hoje: Como nos aproveitamos dos fracassos para fazer revisão? Quais as tendências que marcam a nossa luta contra a opressão: fechamento ou abertura? Qual a amostra do futuro que está aparecendo nas coisas que realizamos? Existe alguma ambivalência nesta amostra? Qual?

Quarta unidade: Novo Testamento: releitura da história à luz da

ressurreição. Desde a vinda de Jesus até o fim do século I (001-100). — 13ª Etapa: 001-033 – Desde o nascimento de Jesus até o dia de Pentecostes. Jesus refaz a história e realiza a esperança do povo. — 14ª Etapa: 033-049

Page 84: Leitura Orante da BÍblia

84– Desde Pentecostes até o Concílio de Jerusalém. As Comunidades: um novo modo de ser Povo de Deus. — 15ª Etapa: 049-070 – Desde o Concílio até a destruição de Jerusalém. Expansão da Boa Nova da ressurreição pelo mundo. — 16ª Etapa: 070-100 – Desde a destruição de Jerusalém até o fim do século I. Tensões, ameaças, perseguições, esperança: apocalipse.

Comentário: a) Alcance. Como os profetas antigos, Jesus toma posição dentro do contexto sócio-político de seu tempo e retoma a experiência inicial do povo de Deus. Em Jesus, Deus se faz presente e o povo experimenta, novamente, a sua presença libertadora. Jesus, o Filho de Deus, refaz a história e realiza a esperança do povo. Ele ficou do lado dos marginalizados, revelando assim as preferências do Pai. “Sim, Pai, assim foi do teu agrado!” Jesus revela o rosto do Pai e o faz brilhar sobre a situação do povo e sobre o relacionamento entre as pessoas. Não viveu mais que trinta e três anos! Não pregou mais que três! Incomodou os poderosos e foi eliminado. Mas Deus o ressuscitou e assim desaprovou os que o condenaram. Pela ressurreição, Deus aprovou a pessoa e a pregação de Jesus. Seguindo pelo caminho trilhado por Jesus, caminha-se para a vida e se é capaz de enfrentar e vencer a morte! Esta foi a Boa Notícia que os cristãos anunciaram pelo mundo afora. Em torno dela nasceram as Comunidades, que eram a nova forma de ser povo de Deus. O Novo Testamento é o resultado da Leitura Orante que os primeiros cristãos fizeram da Bíblia (Antigo Testamento), à luz da sua fé em Jesus Cristo. b) Perguntas para hoje: De que maneira nossas comunidades, nossas famílias, são revelação da Boa Nova de Jesus? De que maneira elas realizam a esperança do povo? Como fazemos para ler os fatos e descobrir neles a presença libertadora de Deus? Como fazemos para viver e revelar a presença viva de Jesus no meio de nós? Como realizamos – pessoalmente e comunitariamente – a afirmação de Paulo: “Vivo, mas não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”?

Este é o esquema da história da Bíblia: quatro grandes unidades, ao todo 16 etapas. Cada etapa reflete situações humanas que acontecem até hoje. Este é o desafio que a visão global da Bíblia nos coloca: fazer hoje o mesmo que eles fizeram naquele tempo, isto é, reler a nossa história, tanto pessoal como coletiva, e, com ajuda da Bíblia, descobrir nela a presença libertadora de Deus, empurrando-nos para a vida plena em Jesus Cristo! E não só descobrir a presença libertadora de Deus em Cristo, mas também assumi-la e celebrá-la.

Page 85: Leitura Orante da BÍblia

85O caminho da oração Jesus foi um homem de muita oração. Os primeiros cristãos

conservaram uma imagem de Jesus orante. De fato, a respiração de Jesus era fazer a vontade do Pai (cf. Jo 5,19). Sua oração era constante: “Eu, a cada momento, faço o que o Pai me mostra para fazer!” (Jo 5,19.30). Em muitas circunstâncias e sobretudo nos momentos decisivos, ou difíceis, Jesus entra em oração. Ele mistura sua vida com os Salmos, que, como todo judeu piedoso, conhecia de memória. (cf Mc 14,34 e Sl 42,5.6; Mc 15,34 e Sl 22,2; Lc 2,46-50; 3,21, 4,1-2; 10,21; Mt 26,38; Mc 7,34; 10,16; Jo 17,1-26).

“A escola de Jesus era, antes de tudo, a vida em casa, na família, na comunidade. Foi lá que aprendeu a conviver, a rezar e a trabalhar. O povo rezava muito naquele tempo. Todos os dias, de manhã, à tarde e à noite. Até hoje se conservam aquelas orações. Desde criança, eles aprendiam os Salmos de memória. A mãe ou a avó os ensinavam (cf. 2Tm 1,5; 3,15)”.

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86X. HISTÓRIA DO POVO DE DEUS – LINHA DO TEMPO

ANOS 1800 a 1200 a.C. Império: Babilônia; Hicsos; Egito; Hititas. Época: Origem de Israel Personagens não-bíblicos: Ramsés II (1290-1224) Personagens bíblicos: Abrão – Sara, Ló, Isaque – Rebeca, Jacó –

Raquel, Moisés, Arão, Mirian. Realidades, problemas e situação do povo: Cananeus. Vivem em planícies. Dependentes do Egito. Carros de

guerra. Exploram agricultores, tributos, trabalhos forçados. Pastores. Vivem em estepes. Seminômades livres. Descendentes de

Patriarcas. Longe das cidades. Sem impostos. Crêem no Deus de seus pais, que lhes promete terra e família.

Agricultores sublevados. Vivem em montes. São “hapirus” – pessoas que escaparam do sistema de exploração cananeu. Possuem ferramentas de ferro. Usam cisternas.

Escravos fugitivos. Vivem em estepes e montes. Vêm do Egito. Unem-se a pastores e agricultores. Trazem a fé no Deus libertador. Influem decisivamente sobre os pastores e “hapirus”.

Escritos da época: Tradições orais. (Salmo 104). Escritos sobre a época: [Cartas de Tel-el-Amarna]. Ex 1-18. Nm 9-14;

20-25; Eclo 45. [Estela de Mernefta]. ANOS 1200 a 1000 a.C. Império: Povos do mar Época: Ocupação da terra. Tribalismo igualitário. Juizes. Personagens não-bíblicos: Reis cananeus. Personagens bíblicos: Josué; Débora – Baraque; Gideão; Jefté; Sansão. Realidades, problemas e situação do povo: Vivem em planícies. Cidades-estado independentes. Reis

monopolizadores. Leis que os defendem. Exército permanente. Deuses justificadores da exploração: Baal, Aserá.

Pastores e agricultores. Vivem em montes. Organizados por clãs. Poder descentralizado. Sem reis. Autonomia produtiva. Sem impostos. Propriedade coletiva. Leis comunitárias. Deus libertador: Javé.

Page 87: Leitura Orante da BÍblia

87Vão descendo às planícies. Crescente organização por tribos.

Distribuição comunitária de terras. Ocasionais guerras de defesa. Assembléia de Siquém = aceitação de Javé por todos.

Escritos da época: Primeiros fragmentos escritos. Cântico de Débora: Jz 5; Mandamentos: Ex 20,1-21; Código da Aliança: Ex 20,22–23,9; Salmo 19,2-7; Salmo 29; Salmo 68; Salmo 82; Salmo 136.

Escritos sobre a época: Js 1-12; 23-24; Dt 31-34; Eclo 46; Ex 19-24; 32-34; Nm 31-36; Js 13-19; Jz 1-18.

ANOS 1000 a 931 a.C. Império: Fenícios Época: Monarquia unida. Personagens não-bíblicos: Filisteus. Personagens bíblicos: Samuel; Saul; Davi; Salomão. Realidades, problemas e situação do povo: Acumulação de poder e de terras. Tributos. Trabalhos forçados.

Resistência dos agricultores. Guerras de conquista. Unificação territorial. Cultos estrangeiros.

Escritos da época: Javista (J); História da sucessão dinástica (2 Sm 9-20; 1Rs 1-2); Primeiros Provérbios; Salmos 2, 15, 24, 51, 110, 121–134.

Escritos sobre a época: Jz 19-21; 1-2Sm; 1Rs 1-11; 1Cr 11-21; 2Cr 1-9; Eclo 47.

ANOS 931 a 722 a.C. Época: Monarquia unida. Israel e Judá. Personagens não-bíblicos: Homero. Fundação de Roma (753). Personagens bíblicos: Em Israel: Aias – Jeroboão I; Elias – Acabe;

Eliseu – Jeú; Amós – Jeroboão II; Em Judá: Roboão; Isaías – Acaz. Realidades, problemas e situação do povo: Israel – Capital: Samaria. Crescem acumulação e idolatria.

Decomposição moral e religiosa; Elias enfrenta o sistema do rei; Destruição e Exílio em Nínive (722);

Judá – Capital: Jeerusalém. Injustiças. Duros impostos. Ameaça assíria. Alianças políticas. Sincretismo religioso. Esperança messiânica. Influência dos profetas.

Page 88: Leitura Orante da BÍblia

88Escritos da época: Israel: Eloísta (E); Amós; Oséias; Salmo 58?. Judá: 1 Isaías; Miquéias; Salmo 64. Escritos sobre a época: Israel: 1Rs 12-22; 2Rs 1-15; 17; Eclo 48. Judá: 1Rs 12; 15; 2Rs 11-16; 2Cr 10-28; Is 1-12; 28-39. ANOS 722 a 587 a.C. Império: Assíria Época: Monarquia de Judá. Personagens não-bíblicos: Sargom II (705); Assurbanipal (681); Luta

entre Assíria, Egito e Babilônia. Personagens bíblicos: Ezequias; Sofonias – Manassés; Hulda – Josias;

Jeremias – Joaquim; Zedequias; Realidades, problemas e situação do povo: Corrupção: Vassalos da Assíria. Tentativas de reforma. “Guerra suja”.

Impunidade. Estancamento. Confusão. Endividamento sem saída. Reforma: reforma deuteronomista (620). Pressão do “povo da terra”.

Eliminação de santuários. Centralização do culto. Reforma do clero. Renovação da Aliança. Leitura profética da história.

Desintegração: Decadência. Corrupção. Desintegração de instituições. Volta ao modelos de Manasses. Politicagem. Ideologia justificadora da opressão. Destruição de Nínive (612). 1ª deportação para a Babilônia (598).

Escritos da época: 1º núcleo do Deuteronômio; Sofonias; União de J e E; Provérbios 10-

22; 25-29; Salmos 46, 48. Deuteronômio 5-26; 28? Salmos 31, 80, 81. Jeremias. Naum. Habacuc.

Escritos sobre a época: 2Rs 18-21; 2Cr 29-33; 2Rs 22-23; 2Cr 34-35; Eclo 49; 2Rs 24-25; 2Cr

36; Jr 1-45. ANOS 587 a 538 a.C. Império: Babilônia Época: 587 - Em Judá. Exílio na Babilônia. Personagens não-bíblicos: Nabucodonosor (605-562); Buda.

Page 89: Leitura Orante da BÍblia

89Personagens bíblicos: Jeremias; Gedalias; Cantores; Ageu – Zacarias;

Sacerdotes; Ezequiel; 2 Isaías. Realidades, problemas e situação do povo: Em Judá: Destruição de Jerusalém (587). 2ª deportação: governantes,

sacerdotes e comerciantes. Distribuição de terras aos que ficam. Agricultores tribalizados. Revisão. Não ao templo. Novo Davi.

Em Babilônia: Trabalhos forçados. Vivem em subúrbios. Crise de identidade. Centram a vida no sábado, assembléias, circuncisão. Explicação teológica do desastre. Dor purificadora. Nova Aliança.

Escritos da época: Em Judá: Deuteronomista. (D); Js – Jz; Sm – Rs; Jr; Lm; Obadias;

Releitura de profetas. Na Babilônia: Sacerdotal (P); Lv 8-10; 17-26; Ezequiel; 2 Isaías;

Salmos 42, 43, 69, 70, 137. Escritos sobre a época: Em Judá: Lm; Obadias; Salmos 79, 89, 39-52. Na Babilônia: 2Rs 24; Is 40-55; Ez 1-24; 33-39. ANOS 538 a 333 a.C. Império: Pérsia Época: 538 - Retorno. 445 - Reorganização. Personagens não-bíblicos: Ciro (558-528); Zoroastro; Artaxerxes

(423); Platão (347). Personagens bíblicos: Sesbazar; Josué; Sorobabel; Neemias; Esdras;

Escribas. Realidades, problemas e situação do povo: 538: Retorno. Diáspora – universalismo. Esperança. Novo começo.

Realização de profecias. Boa Nova de Deus libertador e criador. Inauguração do templo (515). Novas desigualdades sociais.

445: Reorganização. Legalismo. Disciplina. Nacionalismo. Desânimo. Separatismo. Rejeição de mulheres estrangeiras e samaritanos. Templo e centralismo. Mística e culto da lei nas sinagogas. Cisma samaritano (430).

Escritos da época: 538: Levítico 1-7; 11-16?; Ageu; 1Zacarias; 3Isaías; Joel; Salmos 4, 10,

22, 23, 50, 77, 78, 83, 105-107, 126. 445: Rute – Jonas; Jô – Provérbios 1-9; Cantares; União de J, E, D e P

(Pentateuco); Salmos 19,8ss, 85, 96-98, 113, 116, 118, 119.

Page 90: Leitura Orante da BÍblia

90Escritos sobre a época: 538: Ageu; Zacarias 1-8; Isaías 55-66; Levítico 1-7. 445: Rute; Esdras – Neemias; Ezequiel 40-48. ANOS 333 a 63 a.C. Império: Helenismo Época: 333 – Egito; 198 – Síria; 167 – Judá. Personagens não-bíblicos: Alexandre Magno (336-323); Aristóteles

(322); Antíoco IV (163). Personagens bíblicos: 333 – Escribas e cantores; 198 – Matatias; 167 –

Judas Macabeu; Jônatas; Simão, João Hircano. Realidades, problemas e situação do povo: 333: Riqueza para a classe alta. Proletarização dos agricultores. Invasão

e assimilação cultural. Encerrados na lei e no culto. Silêncio; Ruptura. Tranqüilidade.

198: Invasão cultural provocativa. Resistência. Perseguição. Levante armado (167). Apocalipses populares. Lei do puro e impuro. Tradução LXX.

167: Independência. Conquistas. – Saduceus helenizantes. – Fariseus anti-helenizantes. – Essênios no deserto. – Zelotes, Reino pelas armas. Conflitos entre eles. Repressão contra os fariseus.

Escritos da época: 333: 2Zacarias; Malaquias; Crônicas; Neemias – Esdras; Ester;

Eclesiastes; Salmos 73; 139. 198: Judite – Tobias; Eclesiástico; Salmos 44, 74, 86, 91. 167: Daniel; 2Macabeus; 1Macabeus; Salmos 1, 150. Escritos sobre a época: 333: Isaías 24-27; 34-35; Zacarias 9-14; Joel 3-4. 198: 2Macabeus; 1Macabeus 1-12. 167: 1Macabeus 13-16; Eclesiástico 50; [Flávio Josefo]. ANOS 63 a.C. a 135 d.C. Império: Roma Época: 63 – Herodianos; 4 a.C. a 30 d.C – Jesus histórico; 49 –

Primeiras comunidades cristãs; 62 a 90 – Expansão; 90 a 135 – Perseguição.

Page 91: Leitura Orante da BÍblia

91Personagens não-bíblicos: Pompeu (48 a.C.); Júlio César (44 a.C.);

Antônio (31 a.C.); Augusto (14 d.C.); Tibério (37 d.C.); Pilatos 26-36 d.C.); Calígula (41 d.C.); Cláudio (54 d.C.); Nero (54-68 d.C.); Vespasiano (79 d.C.); Tito (81 d.C.);Domiciano (96 d.C.); Trajano (117 d.C.); Adriano (138 d.C.).

Personagens bíblicos: Herodes, o Grande (37-4 a.C.); 4 a.C. a 30 d.C. – Anás, Herodes Antipas, João Batista. Maria, Pedro, João, Estevão (34), Tiago Maior (44).Tiago (62), Pedro (64?), Paulo (67) Barnabé, João, Marcos, Timóteo, Tito, Lucas.

Realidades, problemas e situação do povo: 63 a.C.: Ocupação para resolver conflitos. Grandes diferenças sociais.

Fariseus predominam. Legalismo. Espera do Messias. Construção do templo.

4.a.C. a 30 d.C.: Latifúndios. Exploração. Tributos crescentes. Marginalização. Exportação de alimentos: fome. Confusão. Insurreições. Esperança.

49 a 62: Experiência de Cristo ressuscitado. Primeiras comunidades em Jerusalém. Conversões entre judeus da diáspora. Conflitos com judeus. Conversão de Paulo (37). 1ª missão de Paulo: 45-49. Concílio de Jerusalém (49). 2ª missão de Paulo (49-52). 3ª missão de Paulo (53-58). Comunidades de Paulo. Conflitos no judaísmo. Nasce novo modo de ser Povo de Deus.

62: Começo da perseguição romana. Martírios de Tiago, Pedro, Paulo. Guerra Judeus – Roma (66-70). Cristãos abandonam Jerusalém. Expandem-se em subúrbios de cidades.

70: Destruição de Jerusalém por Tito. Expulsão dos cristãos das sinagogas. Marginalização e crise das comunidades. Latifúndios se expandem.

90 a 135: Domiciano se auto-proclama deus. Conflitos com o império. Perseguição. Expansão na Ásia. Esperança apocalíptica. [Cânone judeu da Bíblia: Jâmnia (90-95)]. Sublevações judias e dura repressão romana. Martírios de Simeão, bispo de Jerusalém (107) e de Inácio de Antioquia (110). Roma declara ilegal o cristianismo (112). 2ª Guerra Judeus – Roma (132-135).

Escritos da época: 63 a.C.: Sabedoria. 4 a.C. a 30 d.C.: Vida e pregação de Jesus. 30 a 62: Tradições orais. Experiências pascais. Coleções das palavras e

gestos de Jesus (Q). 1Tessalonicenses. Filipenses. Gálatas. Filêmon. 1-2Coríntios. Romanos.

Page 92: Leitura Orante da BÍblia

9262 a 90: Evangelho de Marcos. Evangelho de Mateus.

2Tessalonicenses. Colossenses. Efésios. Evangelho de Lucas – Atos dos Apóstolos. Tiago. 1Pedro.

90 a 135: Hebreus. Apocalipse. Evangelho de João. Judas. 1-2-3 João. 1-2 Timóteo. Tito. 2Pedro.

Escritos sobre a época: 63 a.C.: [Documentos de Qumran]. 4 a.C. a 30 d.C.: Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João. 30 a 90 d.C.: Marcos 16; Mateus 28; Lucas 24; João 20-21; Atos 1-15;

Gálatas 1-2; 1Tessalonicenses 1-3; Atos 16-28; Filipenses 3-4; 1-2 Coríntios; Apocalipse 4-11. [Flávio Josefo].

90 a 135 d.C.: Apocalipse 1-3; [Didaquê; Carta de Clemente de Alexandria]; [Cartas de Inácio de Antioquia, de Policarpo, de Barnabé].