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BARROCO E ARCADISMO NO BRASIL

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Literatura

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BARROCO E ARCADISMO NO BRASIL

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BARROCO

O barroco se desenvolve após o processo de Reformas Religiosas, ocorrido noséculo XVI, a Igreja Católica havia perdido muito espaço e poder. Mesmo assim,os católicos continuavam influenciando muito o cenário político, econômico ereligioso na Europa. A arte barroca surge neste contexto e expressa todo ocontraste deste período: a espiritualidade e teocentrismo da Idade Média com oracionalismo e antropocentrismo do Renascimento.

Os artistas barrocos foram patrocinados pelos monarcas, burgueses e peloclero. As obras deste período são rebuscadas, detalhistas e expressam asemoções da vida e do ser humano.A palavra barroco tem um significado que representa bem as característicasdeste estilo. Significa “pérola irregular” ou "pérola deformada" e representa deforma pejorativa a idéia de irregularidade.

O período final do barroco (século XVIII) é chamado de rococó e possuialgumas peculiaridades, embora as principais características do barroco estãopresentes nesta fase. No rococó existe a presença de curvas e muitos detalhesdecorativos (conchas, flores, folhas, ramos). Os temas relacionados à mitologiagrega e romana, além dos hábitos das cores também aparecem comfreqüência.

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Na arte barroca, predominam as emoções

e não o racionalismo da arte

renascentista. O estilo barroco traduz a

tentativa angustiante de conciliar forças

antagônicas; bem e mal; céu e terra; pureza

e pecado; alegria e tristeza; espírito e

matéria.

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AS MENINAS - VELÁSQUEZ

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LIÇÃO DE ANATOMIA - REMBRANDT

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MERISI CARAVAGGIO - MICHELANGELO

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CARACTERÍSTICAS DO BARROCO

Culto do contraste: o dualismo barroco coloca em contraste a

matéria e o espírito, o bem e o mal, Deus e o Diabo, céu e a

terra, pureza e o pecado, a alegria e a tristeza, a vida e a

morte.

Consciência da transitoriedade da vida: a idéia de que o tempo

consome, tudo leva consigo,e que conduz irrevogavelmente a

morte, reafirma os ideais de humildade e desvalorização dos

bens materiais, ou seja sem apego aos bens materiais.

Gosto pela grandiosidade: característica comum expressa com

o auxilio de hipérboles, ou seja exageros, figura de linguagem

que consiste em aumentar exageradamente algo a que se

estar referindo.

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CARACTERÍSTICAS DO BARROCO

Frases interrogativas: que refletem dúvidas e incertezas,questionamentos: “que amor sigo? Que busco? Quedesejo? O que quero da vida?

Cultismo: é o jogo de palavras, o estilo trabalhado.Predominam hipérbole, hipérbatos (isto é, alteração daordem natural das palavras na frase ou das orações noperíodo) e metáforas (comparações), como: diamantesque significam dentes ou olhos.

Conceptismo: é o jogo de idéias ou conceitos, deconformidade com a técnica de argumentação. É comumo uso de antítese, ou seja idéias contrárias, paradoxos.enquanto os cultistas tinham a visão direcionada aossentidos, já os conceptistas eram direcionados ainteligência.

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LITERATURA BARROCA

O movimento brasileiro, influenciado pelo barroco português, apresentou suas próprias características, pois diferente da realidade portuguesa de luxo e pompa da aristocracia, o Brasil vivia uma realidade de violência, em que se perseguiam os índios e escravizavam os negros.

No Brasil, o barroco ganhou impulso entre 1720 e 1750, momento em que várias academias literárias foram fundadas por todo o país.

O centro de riqueza da época era Minas Gerais, e foi lá que a produção artística, ligada à igreja, se concentrou. O arquiteto, entalhador e escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi o grande representante dessa tendência nas artes plásticas, o estilo rococó predominava em suas esculturas de materiais típicos nacionais, como a madeira e pedra-sabão.

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A publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, inicia o Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que procura imitar Os Lusíadas.

Os escritores que mais se destacaram foram:

Na poesia:

- Gregório de Matos - Bento Teixeira - Botelho de Oliveira - Frei Itaparica

Na prosa:

- Pe. Antônio Vieira - Sebastião da Rocha Pita - Nuno Marques Pereira.

BARROCO NO BRASIL

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GREGÓRIO DE MATOS

Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras, além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão. As obras desse escritor são divididas de acordo com a temática: poesia lírica religiosa, amorosa e filosófica.

- A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se arrepende”:

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LÍRICA RELIGIOSA

A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, da vossa alta clemência me despido; porque, quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada glória tal e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na sacra história,

eu sou Senhor, a ovelha desgarrada, cobrai-a; e não queirais, pastor divino, perder na vossa ovelha, a vossa glória. (Gregório de Matos)

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LÍRICA AMOROSA

- A lírica amorosa: é marcada pela dualidade

amorosa entre carne/espírito, ocasionando

um sentimento de culpa no plano espiritual.

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ROMPE O POETA COM A PRIMEIRA IMPACIÊNCIA QUERENDO

DECLARAR-SE E TEMENDO PERDER POR OUSADO

Anjo no nome, Angélica na cara,Isso é ser flor, e Anjo juntamente,Se Angélica flor, e Anjo florente,Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortaraDe verde pé, de rama florescente?E quem um Anjo vira tão luzente,Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se como Anjo dos meus altares,Fôreis o meu custódio, e minha guarda,Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,Posto que os Anjos nunca dão pesares,Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

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LÍRICA FILOSÓFICA

- A lírica filosófica: os textos fazem referência à desordem do mundo e às desilusões do homem perante a realidade.

Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta não economizou palavrões nem críticas em sua linguagem, que além disso era enriquecida com termos indígenas e africanos.

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LÍRICA FILOSÓFICA

Soneto

A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha, Para levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda picardia.

Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia.

Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos

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PADRE ANTONIO VIEIRA

O padre Vieira foi um grande e produtivo escritor do barroco emlíngua portuguesa. Escreveu 200 sermões - entre os quais pode-se destacar o "Sermão da Sexagésima" -, cerca de 500 cartas eprofecias que reuniu no livro "Chave dos Profetas", que nuncaacabou.

Um dos mais influentes personagens do século XVII em termosde política e Oratória, destacou-se como missionário em terrasbrasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente osdireitos humanos dos povos indígenas combatendo a suaexploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Erapor eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).

António Vieira defendeu também os judeus, a abolição dadistinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos àépoca pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicostradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou aindaseveramente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.

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SERMÃO DA SEXAGÉSIMA

Pregado na Capela Real, no ano de 1655.

Semen est verbum Dei. S. Lucas, VIII, 11.

I

E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da

pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do

caso que me levou e trouxe de tão

longe.

Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evangélico a semear» a palavra divina.

Bem parece este

texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia

da messe

hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos

satisfaz o que

dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear,

porque também das passadas colhe fruto.

Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que

saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se

contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em

casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e

hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os

de lá, com mais passos: Exiit seminare.

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ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO

O Arcadismo, de modo geral, foi influenciado pelo Século das Luzes,

chamado de Iluminismo. Esse movimento influenciou os pensamentos

dos intelectuais e ocasionou a pesquisa e análise do mundo pela

perspectiva da razão e da ciência. Assim, tudo era explicado ou por

meio científico ou por constatação de algo palpável.

Esse período de mudanças filosóficas compreende a segunda metade

do século XVIII, no qual a Europa estava dominada economicamente

pela burguesia.

Enquanto isso, no Brasil, o século do ouro desponta e cresce

extraordinariamente, com a mudança do pólo econômico da região

Nordeste para o Rio de Janeiro e, principalmente, para Minas Gerais. É

este estado que irá servir de cenário para os diversos acontecimentos

marcantes da história, além da mineração, a Inconfidência, o caso de

Tiradentes, o artista Aleijadinho.

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CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO

O nome originou-se de uma região grega chamada Arcádia(morada do deus Pan).

Os poetas desta escola literária escreviam sobre as belezas docampo, a tranquilidade proporcionada pela natureza e acontemplação da vida simples. Portanto, desprezam a vida nosgrandes centros urbanos e toda a vida agitada e problemas queas pessoas levavam nestes locais. Os poetas arcadistaschegavam a usar pseudônimos (apelidos) de pastores latinos ougregos.

As principais características das obras do arcadismo brasileirosão: valorização da vida no campo, crítica a vida nos centrosurbanos (fugere urbem = fuga da cidade), uso de apelidos,objetividade, idealização da mulher amada, abordagem de temasépicos, linguagem simples, pastoralismo e fingimento poético.

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ARCADISMO NO BRASIL

O estilo literário árcade no Brasil tem início com a publicação dasObras poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768 e seestende até 1836 com a obra Suspiros poéticos e saudades deGonçalves Magalhães, a qual inaugura o Romantismo.

Os poetas árcades encontram inspiração nas terras mineiras,principalmente Vila Rica-Ouro Preto, cenário de suas poesias; etambém refúgio, não nos filósofos iluministas como Voltaire eMontesquieu, voltados para a política e moral, mas em Horácioque se prendia em pensamentos como “fugere urbem” (fugir dacidade) e “carpe diem” (gozar o dia). Daí o Arcadismo serconhecido pela exaltação da natureza e pelo bucolismo.

A escola literária árcade é caracterizada por uma produçãovoltada ao lirismo amoroso e à Épica:

Lirismo amoroso - Tomás Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga

Épica - Santa Rita Durão e Basílio da Gama, respectivamente.

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CONTEXTO HISTÓRICO

Aquela época, mais precisamente, século XVIII, o Brasil ainda permanecia sobos poderes da metrópole portuguesa, sofrendo assim com as terríveisconsequências oriundas dessa forte submissão. Uma delas, por sinal bastantesignificativa, era a cobrança de altas e abusivas taxas pelo rei de Portugal, semcontar que o ouro já demonstrava sinais de escassez, e mesmo assim asituação ainda insistia em perdurar.

Em meio a esse clima de insatisfação, gerado pela revolta do povo,principalmente em se tratando de alguns fazendeiros e donos de minas quequeriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país,um grupo de intelectuais recém-formados na Europa, mais precisamente emCoimbra, traziam de lá as ideias iluministas que naquele continente (europeu)fervilhavam. De tal modo, ansiavam cada vez mais que o Brasil se tornasseindependente de Portugal. Anseios estes que culminaram na InconfidênciaMineira (1789), liderada pelo alferes José da Silva Xavier, mais conhecido comoTiradentes, em companhia dos poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás AntônioGonzaga, Inácio de Alvarenga, entre outras importantes figuras da elite mineira,cujas ideias eram implantar no Brasil um sistema republicano de governo.Chegaram até a implantar uma bandeira para a nação constituída dos seguintesdizeres latinos:

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LIBERDADE ANTES QUE TARDIA

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CONTEXTO HISTÓRICO

A conspiração foi desmantelada em 1789, ano da Revolução Francesa. O movimento foi

traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas

com a Coroa.

Em 18 de Abril de 1792 foi lida a sentença no Rio de Janeiro. Doze dos inconfidentes foram

condenados à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, foi lido decreto de D. Maria I pelo

qual todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena comutada para degredo em colônias

portuguesas na África.

Tiradentes, o conjurado de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por

enforcamento, sendo a sentença executada publicamente a 21 de abril de 1792 no Campo

da Lampadosa. Outros inconfidentes haviam sido condenados à morte, mas tiveram suas

penas reduzidas para degredo, na segunda sentença. A casa onde ele viveu foi destruída.

Após a execução, o corpo foi levado em uma carreta do Exército para a Casa do Trem (hoje

parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. O tronco do corpo foi entregue à

Santa Casa de Misericórdia, sendo enterrado como indigente. A cabeça e os quatro pedaços

do corpo foram salgados, para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de

couro e enviados para as Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo onde

Tiradentes pregou suas ideias revolucionárias. A cabeça foi exposta em Vila Rica (atual Ouro

Preto), no alto de um poste defronte à sede do governo. O castigo era exemplar, a fim de

dissuadir qualquer outra tentativa de questionamento do poder da metrópole.

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CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

Cláudio Manuel da Costa é considerado um dos maiores poetas brasileiros do período colonial.

Em Portugal, entrou em contato com as ideais iluministas e iniciou a sua carreira literária publicando, em opúsculos, pelo menos três poemas: "Munúsculo métrico", "Labirinto de Amor" e "Epicédio". Em todos os trabalhos, a característica poética do Barroco seiscentista é evidente, nos cultismos, conceitismos e formalismos.

Em 1773, adotou o nome árcade de Glauceste Satúrnio.

Anos mais tarde, participou, ao lado de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Inácio José de Alvarenga Peixoto e outros, da Inconfidência Mineira. Na mesma época, compôs o clássico poema "Vila Rica", pronto em 1773, mas publicado somente em 1839, em Ouro Preto, 50 anos após a sua morte. A poesia descreve a saga dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de Vila Rica.

Contemporâneo da Arcádia Lusitana, Cláudio Manuel da Costa foi um poeta de técnica apurada, um escritor que procurou equilibrar a sua forte vocação barroca ao estilo neoclássico. O poeta mineiro também introduziu, em seus textos, elementos locais, descrevendo paisagens e expressando um forte sentimento nacionalista.

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CLÁUDIO MANOEL DA COSTA

Trecho do poema Vila Rica, Canto VII

O conceito, que pede a autoridade, Necessária se faz uma igualdade De razão e discurso; quem duvida, Que de um cego furor corre impelida A fanática idéia desta gente? Que a todos falta um condutor prudente Que os dirija ao acerto? Quem ignora Que um monstruoso corpo se devora A si mesmo, e converte em seu estrago O que pensa e medita? Ao brando afago Talvez venha ceder: e quando abuse Da brandura, e obstinados se recuse A render ao meu Rei toda a obediência, Então porei em prática a violência; Farei que as armas e o valor contestem O bárbaro atentado; e que detestem A preço do seu sangue a torpe idéia.

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SANTA RIDA DURÃO

Frei José de Santa Rita Durão nasceu nas proximidades deMariana, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no Rio deJaneiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia por Coimbra.Entrou na ordem de Santo Agostinho, mas durante a repressãodo período pombalino, fugiu para a Itália, onde levou uma vida deestudos, durante mais de 20 anos.

Depois de viver também na Espanha e na França, voltou aPortugal com a "viradeira", como ficou conhecida a queda doMarquês de Pombal e a restauração da monarquia tradicional.

A manifestação poética de Santa Rita Durão expressa onativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dosseus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suastradições. Durão faz referências a fatos históricos, do século 16até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônicainformativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literáriado Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante dacorrupção.

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SANTA RITA DURÃO

Durão também integra esse movimento cultural contra a colonização. "O Caramuru" faz um balanço da colonização em meio a uma descrição hiperbólica da natureza. Neste poema são exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores.

A estrutura do poema segue o modelo de Camões, formado por dez cantos de versos decassílabos dispostos em estrofes fixas, as oitavas, com esquema de rimas abababcc. Mas, como era de se esperar para um membro do clero, o conservadorismo cristão substituiu a mitologia pagã, uma característica épica.

"Caramuru" tem como subtítulo "Poema Épico do Descobrimento da Bahia" e conta as aventuras de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu (com quem Diogo se casou na França) e Moema (rival de Paraguaçu, que morreu afogada quando perseguia o navio que levava o casal para a França).

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CARAMURU

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CARAMURU

“- Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem... Porém o tigre, por cruel que brame, Acha forças no amor, que enfim o domem; Só a ti não domou, por mais que eu te ame. Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem, Como não consumis aquele infame? Mas pagar tanto amor com tédio e asco... Ah! Que corisco és tu...raio...penhasco”

(Trecho do Canto VI, onde narra a morte de Moema)

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BASÍLIO DA GAMA

José Basílio da Gama era filho do capitão-mor, Manuel da Costa Villas-Boas ede uma neta de Leonel da Gama Belles, oficial da Colônia, de quem adotou onome. Estudou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, mas com aexpulsão da Companhia de Jesus, já noviço, transferiu-se para o SeminárioEpiscopal de São José.

Depois de passar por Coimbra e Lisboa, foi estudar em Roma, mas por ligaçõescom os jesuítas, acabou sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e recebendoa pena de degredo em Angola. Depois, foi perdoado por Pombal, porque fez um"Epitalâmio" à filha do Marquês, onde elogia o Ministro e ataca os jesuítas.

Participou da efervescência do Arcadismo português, revelando assim, seutalento de poeta neoclássico, ao escrever poesias líricas e, especialmente,épica. Com O Uraguai consegue a celebridade, ao reverter o esquema épicotradicional; harmonizar a paisagem à ação épica, dando-lhe plasticidade, alémde tratar os indígenas como matéria poética, e não apenas informativa. Utilizaos versos da tradição épica neolatina, o decassílabo, com o qual consegueefeitos sonoros e imagéticos que reforçam os significados.

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O URAGUAY

O poema é também um cantode louvor à política de Pombal,com dedicatória ao Ministro daMarinha, Mendonça Furtado,irmão do mesmo Marquês, quetrabalhou na demarcação doslimites setentrionais entre Brasile América Espanhola,cumprindo o Tratado de Madri.Desde modo, acabou membroda Academia Real das Ciênciasde Lisboa.

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O URAGUAY

O Uraguai, poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor

Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser

eles mesmos seus senhores. O enredo em si, é a luta dos portugueses e espanhóis contra os

índios e os jesuítas dos Sete Povos das Missões. De acordo com o tratado de Madrid, Portugal

e Espanha fariam uma troca de terras no sul do país: Sete Povos das Missões para os

espanhóis, e Sacramento para os portugueses. Os nativos locais recusam-se a sair de suas

terras, travando uma guerra. Foi escrito em versos brancos decassílabos, sem divisão de

estrofes e divididos em cinco cantos, e por muitos autores, foi o início do Romantismo.

No Canto I, o poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres,

principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso -

espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrada.

No Canto II, relata o encontro entre os caciques Sepé e Cacambo e o comandante português.

Gomes Freire de Andrada à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas

portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os

índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas

armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.

No Canto III, o falecido Sepé aparece em sonho a Cacambo sugerindo o incêndio do

acampamento inimigo. Cacambo aproveita a sugestão de Sepé com sucesso. Na volta da

missão Cacambo é traiçoeiramente assassinado por ordem do jesuíta Balda, o vilão da história,

que deseja tornar seu filho Baldeta cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte

crítica aos jesuítas.

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O URAGUAY

No Canto IV, o poeta apresenta a marcha das forças luso-espanholas sobre a aldeia dos

índios, onde se prepara o casamento de Baldeta e Lindóia. A moça, entretanto, prefere a

morte. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza:

“Inda conserva o pálido semblante

Um não sei que de magoado e triste

Que os corações mais duros enternece,

Tanto era bela no seu rosto a morte!”

Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a

aldeia.

No Canto V, o poeta expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como

responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso -espanholas. Eram opiniões que

agradavam ao Marquês de Pombal, o todo poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo

canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrada que respeita e

protege os índios sobreviventes.

Convém ressaltar que O Uraguai, além das características árcades, já apresenta,

algumas tendências românticas na descrição da natureza brasileira.

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O URAGUAY

CANTO PRIMEIRO

Fumam ainda nas desertas praias

Lagos de sangue tépidos e impuros

Em que ondeiam cadáveres despidos,

Pasto de corvos. Dura inda nos vales

O rouco som da irada artilheria.

MUSA, honremos o Herói que o povo rude

Subjugou do Uraguai, e no seu sangue

Dos decretos reais lavou a afronta.

Ai tanto custas, ambição de império!

E Vós, por quem o Maranhão pendura

CANTO SEGUNDO

Aqui não temos. Os padres faziam crer aos

índios que os

portugueses eram gente sem lei, que

adoravam o ouro.

Rios de areias de ouro. Essa riqueza

Que cobre os templos dos benditos padres,

Fruto da sua indústria e do comércio

Da folha e peles, é riqueza sua.

Com o arbítrio dos corpos e das almas

O céu lha deu em sorte. A nós somente

Nos toca arar e cultivar a terra,

Sem outra paga mais que o repartido

Por mãos escassas mísero sustento.

Por mãos escassas mísero sustento.

Podres choupanas, e algodões tecidos,

E o arco, e as setas, e as vistosas penas

São as nossas fantásticas riquezas.

Muito suor, e pouco ou nenhum fasto.

Volta, senhor, não passes adiante.

Que mais queres de nós? Não nos obrigues

A resistir-te em campo aberto. Pode

Custar-te muito sangue o dar um passo.

Não queiras ver se cortam nossas frechas.

Vê que o nome dos reis não nos assusta.

O teu está muito longe; e nós os índios

Não temos outro rei mais do que os padres.

Acabou de falar; e assim responde

O ilustre General: Ó alma grande,

Digna de combater por melhor causa,

Vê que te enganam: risca da memória

Vãs, funestas imagens, que alimentam

Envelhecidos mal fundados ódios.