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    Avaliao do estado nutricional e hbito alimentar de funcionrios de uma instituio

    de ensino superior do oeste de Santa CatarinaEvaluation of nutritional status and the food habits of officials

    of a university institution in the west of Santa CatarinaElione Tonini*

    Ana Maria Broll**

    Elizabeth Nappi Corra***

    ResumoEste estudo teve por objetivo avaliar o estado nutricional e o hbito alimentar dos funcionrios de uma instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina. O estudo descritivo foi desenvolvido no segundo semestre de 2008, na ci-dade de Chapec-SC, Brasil. A amostra foi composta por 15% da populao a ser investigada, divididos entre docentes e tcnicos-administrativos. Um questionrio, composto por 6 questes, foi aplicado abordando os hbitos alimentares; alm disso, foram coletados dados antropomtricos (peso e altura) para clculo do ndice de Massa Corporal e posterior classificao do estado nutricional. A mdia de idade foi de 33,7 anos ( 10,6), apresentando uma prevalncia de so-brepeso e obesidade, entre docentes e tcnicos-administrativos, de 39,3%. Dos entrevistados, 87,6% trabalham 40 horas semanais, permanecendo dois ou mais turnos na instituio. Constatou-se tambm que os alimentos mais consumidos foram lanches assados, refeies salgadas, caf preto e refrigerante, consumidos por 40% ou mais dos pesquisados. Com relao qualidade da alimentao realizada no local de trabalho, apenas 10,8% dos entrevistados consideram sua ali-mentao adequada. Concluiu-se que a maioria dos funcionrios entrevistados est insatisfeita com a alimentao servida nos espaos de comercializao do campus. Como sugestes para a melhoria foi apontado que a disponibilidade de uma maior variedade de alimentos considerados saudveis, a diversificao dos locais de comercializao e a potencializao da feira agroecolgica seriam boas alternativas, alm da presena de nutricionista como fator decisivo na qualidade da alimentao servida.

    Palavras-chave: Sade do Trabalhador. Hbitos Alimentares. Estado Nutricional. Consumo Alimentar.

    AbstractThis study has for aim to value the nutritional status and the food habits of the officials of an highest school institution in the west of Santa Catarina. The descriptive study, was developed in the second semester of 2008, in Chapec-SC city. The example was compost by 15% of the population to be investigated, divided between teachers and administrative technical. A questionnaire compost by 6 questions, was applied approaching the food habits, also anthropometric data (weight and height) was collected to calculate the Body Mass Index and subsequent classification of the nutritional status. The average age of the interviewed public was 33.7 years ( 10.6), showing more people with obesity and overweight, between the teaches and the administrative technical of 39.3%. Of the interviewed, 87.6% work 40 hours weekly, staying 2 or more turns in the institution. It was also found that the more consumed food by the interviewed was roast snacks, salty meals bla-ck coffee and soda, consumed by 40% or more of the interviewed. With the respect of the alimentation quality did in the work place, only 10.8% of the interviewed consider the alimentation adequate. Concluding, that most of the interviewed officials are unsatisfied with the food served in the commercialization areas in the campus. As improvement suggestions was appointed that the availability of a greater variety of foods considered healthy, the diversification of the commercia-lization areas and the potencializaao of the agroecologia fair, would be good alternatives, beside the presence of a professional nutritionist as a decisive factor in the quality of food served.

    Keywords: Occupational Health. Food Habits. Nutritional Status. Food Consumption.

    * Nutricionista. Sociedade Hospitalar Comunitria e Beneficente de Nonoai-RS, Brasil. Especialista em Nutrio Humana UNOCHA-PEC. E-mail: [email protected]

    ** Nutricionista. Prefeitura Municipal de Santa Terezinha do Progresso-SC, Brasil.

    *** Nutricionista. Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Nutrio da UFSC. Mestre em Nutrio Metabolismo e Diettica da UFSC.

    As autoras declaram no haver conflitos de interesse.

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    INTRODUO

    A Sade do Trabalhador constitui uma rea da sade pblica que tem como principal obje-tivo realizar intervenes e estudos entre as rela-es do trabalho e sade. O objetivo a promo-o e a proteo da sade do trabalhador, que vm sendo desenvolvidas por meio de aes de vigilncia dos riscos para melhores condies de trabalho, diminuindo, dessa forma, os possveis agravos sade1.

    A ateno sade do trabalhador deve ser adequada e concedida de uma forma geral1; principalmente, em um sistema social no qual a grande maioria da populao dispe da sua prpria fora de trabalho e das relaes biopsi-cossociais para garantir sua subsistncia, o cor-po visto fundamentalmente como instrumento de trabalho. A doena representa, ento, uma dupla ameaa por afetar tanto a sade como a capacidade produtiva, e entende-se que sem sade no h qualidade de vida2.

    Os problemas com a sade do trabalhador ocorrem, principalmente, em funo da grande competitividade observada nos dias atuais no mercado de trabalho, da m alimentao, do se-dentarismo, e nesse meio, tambm, evidencia-se que muitas empresas j esto se conscientizando para a melhoria da qualidade de vida e das con-dies de trabalho dos seus empregados, tornan-do-se um investimento necessrio3.

    A alimentao do trabalhar deve garantir as necessidades calricas e tambm possibilitar me-lhores condies de sade e qualidade de vida aos indivduos3. Dentre os aspectos que devem ser considerados na alimentao do trabalhador a sade biopsicossocial, a capacidade de trabalho, a capacidade de estudo o lazer e a longevidade merecem destaque. Quando essa alimentao se apresenta inadequada, a capacidade de trabalho e a produtividade podem estar reduzidas4.

    O recente processo dinmico e complexo de mudanas nos padres alimentares, nutricionais, de-mogrficos e epidemiolgicos est associado a altas prevalncias de sobrepeso e obesidade, sendo um panorama da transio nutricional que vem ocorren-do nas ltimas dcadas5. Essa transio nutricional caracteriza-se pela reduo na prevalncia de des-nutrio com aumento na prevalncia de sobrepeso

    e obesidade, ocorrendo esse processo em todas as populaes6.

    O estado nutricional resultado do equil-brio entre o suprimento de nutrientes e o gasto ou necessidade energtica do organismo7. medida que a prevalncia de obesidade est aumentando, muitos esforos tm sido realiza-dos com o objetivo de quantificar a variao de peso nos indivduos e na populao8. Nesse contexto, avaliar o estado nutricional consiste na utilizao de procedimentos de diagnstico que possibilitam verificar as propores corpo-rais do indivduo, com a identificao de gru-pos de risco9.

    Nessa avaliao do estado nutricional, a antropometria, por ser um mtodo no invasi-vo, de baixo custo e que necessita de poucos equipamentos, considerado um mtodo vi-vel para utilizar em estudos populacionais10. Um dos mtodos mais utilizados o ndice de Massa Corporal (IMC), apesar de no fazer dis-tino entre massa gorda e massa magra e no fornecer uma indicao precisa da quantidade de gordura corporal8. Mesmo sendo apenas um indicador de propores corporais, o IMC tem capacidade de predio de riscos de mor-bimortalidade, especialmente em seus limites extremos11.

    Ao observa-se que vrios problemas cau-sados sade tm ligao direta com a alimen-tao inadequada, assim como a fatores que de uma forma ou outra acabam afetando o bom de-sempenho das atividades dirias, percebe-se a importncia da aquisio de hbitos alimentares saudveis, visando principalmente reeducao alimentar. Dessa forma, no dia a dia, os cuidados bsicos com a sade acabam ficando de lado; a falta de tempo, ou de condies financeiras so os quesitos mais mencionados para justificar os maus hbitos alimentares e descuido com a sa-de de forma geral4.

    Portanto, uma alimentao adequada requer informaes e mudana de hbitos e atitudes que s um processo educativo pode proporcionar3.

    Nesse sentido, a educao alimentar deve ser pensada como um instrumento eficaz para evidenciar a importncia da alimentao para a sade e os comprometimentos que podero sur-gir em funo de uma alimentao inadequada.

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    Uma melhor qualidade de vida do trabalhador representa maior produtividade e maiores oportu-nidades de desenvolvimento que se relacionam, tambm, com uma alimentao adequada12.

    O ambiente de trabalho reconhecido como um local estratgico de promoo da sade e alimentao saudvel. A Organiza-o Mundial da Sade (OMS) considera que o local de trabalho deve dar a oportunidade e estimular os trabalhadores a fazerem escolhas saudveis13.

    No objetivo de conhecer o perfil nutricional e de consumo alimentar dos funcionrios de uma instituio de ensino superior no oeste de Santa Catarina, foi realizada a presente investigao.

    MTODO

    O estudo de natureza descritiva e explorat-ria com abordagem hbrida (quanti e qualitativa) foi desenvolvido no segundo semestre de 2008, em uma instituio de ensino superior no oeste de Santa Catarina, na cidade de Chapec.

    A amostra desta pesquisa foi de carter no probabilstico por acessibilidade / convenincia, de forma intencional14, na qual foram seleciona-dos docentes e tcnicos-administrativos dispon-veis nos dias de coleta, composta de forma iguali-tria entre as Coordenadorias e os Centros dentro da Universidade. Foi composta de 15% da popu-lao a ser investigada, estratificada por funo e sexo, de acordo com a Figura 1:

    Figura 1. Populao total e amostra a ser investigada. Chapec-SC, Brasil, 2008

    Fonte: Dados obtidos no setor de Recursos Humanos da Instituio e adaptados pelas autoras.

    Visando a facilitar o acesso aos funcion-rios em seus locais de trabalho e sua adeso pesquisa, foi solicitado, junto ao setor de gesto de pessoas, a divulgao do estudo via correio eletrnico, esclarecendo os objetivos da pesquisa. Alm disso, foi realizado contato direito com cada setor marcando dia e horrio para a coleta de dados, considerando os tur-nos diferenciados de atendimento dos diver-sos setores da instituio.

    Antes da realizao da coleta de dados, foi aplicado um piloto, composto por questionrio semiestruturado (contendo dados de identificao, questes sobre os locais de alimentao frequenta-dos no campus e os alimentos mais consumidos).

    Esse piloto foi realizado com pblico de caracte-rsticas semelhantes ao da amostra da pesquisa. A realizao dessa estratgia buscou qualificar o instrumento de coleta de dados, tornando-o mais compreensvel populao-alvo.

    Os funcionrios que participaram da pes-quisa foram abordados em seus setores no hor-rio de trabalho. Essa abordagem foi realizada de forma direta, com autorizao dos responsveis de cada setor. Aps a apresentao pessoal e ex-plicao do objetivo da pesquisa, foi entregue o questionrio, que foi respondido diretamente pelo funcionrio. Esse instrumento de coleta de dados continha informaes sobre os turnos de trabalho, os locais de realizao das refeies na

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    instituio, os alimentos mais consumidos duran-te o expediente de trabalho e sobre a opinio re-ferente s opes disponveis dentro do campus.

    Para a coleta dos dados antropomtricos, fo-ram utilizados os seguintes equipamentos: uma balana com peso mximo de 150 kg e graduao igual a 100 g da marca Mallory e uma fita m-trica inelstica de 150 cm, de marca MBZ. Para a realizao da avaliao do estado nutricional, foi estabelecido como mtodo o ndice de Massa Corporal (IMC). O diagnstico do estado nutricio-nal seguiu a classificao estabelecida pela Orga-nizao Mundial da Sade (1995 e 1997).

    Na aferio de peso e altura, os entrevista-dos encontravam-se descalos e vestindo apenas roupas leves, sendo avaliados de p, com as cos-tas eretas, pernas e calcanhares unidos, braos ao longo do corpo e olhando para frente. Esses mes-mos critrios foram estabelecidos no momento da aferio da altura dos indivduos, ressaltando que ficaram de costas para a fita mtrica, fixada pa-rede em lugar livre de rodap. As tomadas das me-didas antropomtricas foram realizadas segundo procedimentos recomendados na literatura15.

    O projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Unochapec (parecer n. 040/2008). Cada entrevistado foi esclarecido so-bre os objetivos da pesquisa, e somente aps a assinatura do Termo do Consentimento Livre e Esclarecido foi realizada a coleta de dados.

    Este estudo priorizou os tcnicos-adminis-trativos e docentes com 30h semanais ou mais de trabalho, excluindo bolsistas e estagirios da Instituio.

    As respostas ao questionrio foram registra-das na forma de banco de dados no programa

    SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) verso 15.0. Foram realizadas anlises descriti-vas. Em um primeiro momento, foi realizada an-lise exploratria dos dados, com base nos mode-los estatsticos frequentistas verificando medida de tendncia central (mdia, mediana) e medida de disperso (desvio-padro).

    Alm disso, foi utilizada a tcnica propos-ta por Minayo16 de anlise de contedo, com a descrio objetiva, sistemtica e quantitativa do contedo e posterior interpretao. Nas questes discursivas (a influncia da alimentao saudvel no bom desempenho das atividades dirias no am-biente de trabalho; e a opinio acerca das opes de alimentao disponveis dentro do campus), as respostas foram categorizadas de acordo com a similaridade funcional das verbalizaes de cada um dos entrevistados a respeito de cada tpico em debate; essa similaridade funcional foi estabeleci-da por meio de critrios semnticos, com a identi-ficao da ideia central das respostas.

    Outra etapa da pesquisa foi a realizao das entrevistas com os gestores da instituio, de es-feras administrativas diferentes, para conhecer a sua percepo quanto aos alimentos servidos nos espaos disponveis no campus.

    RESULTADOS

    Foram entrevistados 130 funcionrios da instituio, e a caracterizao da amostra pode ser observada na Tabela 1. Destaca-se que o es-tado nutricional dos funcionrios correspondeu a 1,5% com baixo peso, 59,2% eutrficos, 30% com sobrepeso, 6,2% com obesidade grau I e 3,1 com obesidade grau II.

    Tabela 1. Distribuio das variveis demogrficas, nutricionais e relativas ao trabalho de funcionrios de uma instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina, Chapec-SC, Brasil, 2008

    CaractersticasAmostra total (n=130)n (%)

    Mdia DP

    Docentes(n=75)n (%)

    Mdia DP

    Tcnico-admi-nistrativos(n=55) n (%)

    Mdia DP

    Idade (anos) 33,7 10,6 39,4 14 23 4,2

    Sexo

    Feminino 76 (58,5) 40 (30,8) 36 (27,7)

    Masculino 54 (41,5) 35 (26,9) 19 (14,6)

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    Com relao realizao das refeies den-tro do campus, os locais de comercializao de alimentos na instituio, citados na Tabela 2, fo-ram descritos / classificados como: restaurante (onde so comercializadas refeies salgadas a quilo no horrio do almoo e lanches prontos e preparados no local), lanchonete 1 (onde reali-zada a comercializao de lanches prontos, alm

    de doces e bebidas em geral), lanchonete 2 (onde so comercializados lanches prontos, prepara-es feitas na hora, doces e bebidas em geral), preparao caseira (lanches e marmitas trazidas de casa e consumidos no de trabalho); foram ca-racterizados como outros os entrevistados que fazem suas refeies em opes diferentes das descritas anteriormente.

    Turno de trabalho*

    Matutino 2 (1,5) 1 (0,76) 1 (0,76)

    Vespertino 2 (1,5) 1 (0,76) 1 (0,76)

    Noturno 4 (3) 2 (1,5) 2 (1,5)

    Dois ou mais turnos 116 (89,2) 66 (50,8) 50 (38,4)

    Carga horria semanal**

    30h 10 (7,7) 7 (5,4) 3 (2,3)

    35h 3 (2,3) 1 (0,76) 2 (1,5)

    40h 114 (87,6) 64 (49,2) 50 (38,4)

    IMC (kg/m2) 24,5 3,87 25,2 3,9 23,6 3,6

    Classificao do IMC

    Baixo peso 2 (1,5) 0 2 (1,5)

    Eutrofia 77 (59,2) 41 (31,5) 36 (27,7)

    Sobrepeso 39 (30) 25 (19,2) 14 (10,8)

    Obesidade I 8 (6,2) 5 (3,8) 3 (2,3)

    Obesidade II 4 (3,1) 4 (3,1) 0

    * 6 (4,6%) Docentes no responderam.** 2 (1,5%) Tcnicos-Administrativos e 2 (1,5%) Docentes no responderam.

    Tabela 1. Distribuio das variveis demogrficas, nutricionais e relativas ao trabalho de funcionrios de uma instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina, Chapec-SC, Brasil, 2008 (continuao)

    Tabela 2. Locais de realizao das refeies pelos funcionrios da instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina, Chapec-SC, Brasil, 2008

    Local Total Docentes Tcnicos

    n % n % n %

    Restaurante 74 56,9 49 37,7 25 19,2

    Lanchonete 1 31 23,8 4 3,2 27 20,8

    Lanchonete 2 45 34,6 34 26,3 11 8,5

    Preparaes caseiras 34 26,2 11 8,5 23 17,7

    Outros 21 16,2 14 10,8 7 5,4

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    Uma das questes abordadas est relacionada ao tipo de alimentos consumidos no horrio de tra-balho. Esses resultados esto descritos na Tabela 3.

    Tabela 3. Ranking dos alimentos mais consumidos pe-los funcionrios de uma instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina, Chapec-SC, Brasil, 2008

    Alimento ou bebida n %

    Lanche Assado 72 55,4

    Refeio salgada* 57 43,8

    Caf puro 54 41,5

    Refrigerante 49 37,7

    Lanche Frito 38 29,2

    Verduras / Legumes 33 25,4

    Suco Natural 31 23,8

    Doces 26 20,0

    Frutas 25 19,2

    Bolacha 24 18,5

    Sanduche natural 15 11,5

    Caf com leite 13 10,0

    Outros 10 7,7

    Chocolate Quente 6 4,6

    * Alimentos geralmente consumidos no almoo, refeio tradicional.

    Com relao qualidade da alimentao re-alizada no local de trabalho, 47,7% dos entrevista-dos a consideram parcialmente adequada, 39,2% acreditam que no adequada, 10,8%, adequada, e 2,3% no opinaram.

    Desses mesmos entrevistados, quando questionados como uma alimentao saud-vel pode influenciar no bom desempenho de suas atividades dirias no ambiente de tra-balho, foram observadas as seguintes cate-gorias de respostas, agrupadas em trs ideias centrais, que esto relacionadas com a qua-lidade de vida do indivduo, a importncia para a manuteno e funcionamento do or-ganismo e o bom desempenho das atividades no trabalho. Na Tabela 4 so apresentadas as ideias centrais e discursos dos sujeitos com as representaes sociais que expressam as opinies dos entrevistados sobre a questo abordada.

    As falas dos entrevistados so apresentadas ao longo do texto por meio de recortes identi-ficados com a letra E (entrevistado) seguida de nmero.

    Merece destaque o fato de que alguns entre-vistados apresentaram mais de uma ideia central, alm disso, alguns entrevistados no responderam esse questionamento.

    Tabela 4. Opinio sobre como a alimentao saudvel pode influenciar no bom desempenho das atividades dirias, entre trabalhadores de uma instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina, Chapec-SC, Brasil, 2008

    Ideia central (frequn-cia das respostas)

    Trechos do discurso dos sujeitos

    Qualidade de vida (n. 56 43%)

    Estar bem alimentado, no sentido da qualidade e no da quantidade, significa melhor bem-estar. (E 46)

    Auxiliam na sade fsica, mental e na qualidade de vida. (E 56)

    Manuteno e funcio-namento do organismo (n. 33 25,8%)

    Alimentos gordurosos possuem a tendncia de originar desconfortos gstricos, dores de cabea etc. Alimentos integrais, salada de frutas, por exemplo, so leves e adequados para situao de stress. (E 54)

    Porque nosso sistema funciona de forma a interdependncia, assim se nossa alimenta-o no for saudvel, consequentemente, outras funes para atividades fsicas, intelec-tuais tambm podem ficar comprometidas. (E 58)

    Desempenho das ativi-dades no trabalho(n. 34 26,1%)

    Uma alimentao saudvel influencia diretamente nosso desempenho fsico, mental. Quando no me alimento saudavelmente sinto-me indisposta, sem energia, diminuindo meu desempenho profissional. (E 91)

    Pois a alimentao condiciona ao profissional / estudante estar ou no disposto e ativo durante o trabalho ou aula. (E 136)

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    Ainda acerca desse tema, os entrevista-dos foram questionados sobre o porqu de suas respostas e qual a sugesto oferecida para possveis mudanas sobre a qualidade da alimentao disponibilizada dentro do campus. Com base nos resultados obtidos,

    foi construda a Tabela 5. As categorias fo-ram agrupadas conforme as seguintes ideias centrais: custo e tempo, qualidade tcnica na produo e armazenamento e composio / variedade das opes, apresentando as ideias centrais e discursos dos sujeitos.

    Tabela 5. Opinio dos entrevistados sobre as opes de alimentaes disponibilizadas no campus de uma instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina, Chapec-SC, 2008

    Ideia central (frequncia das respostas)

    Trechos do discurso dos sujeitos

    Custo e tempo (n. 11 8,4%)

    Tem alguns tipos de alimentos bons, porm muito caros, muita gente acaba optando por alguns lanches menos saudveis por conta do valor. (E 79)

    Muita fritura, poucas opes, valores altos e pouco tempo para retornar para casa. (E 93)

    Apesar de alguns locais do campus oferecer uma alimentao saudvel, ela relativa-mente cara, o que onera nosso bolso, fazendo com que, muitas vezes, optamos por um lanche mais barato e menos saudvel. (E 91)

    Qualidade tcnica na pro-duo e armazenamento(n. 10 7,6%)

    As condies de higiene so questionveis. (E 63)

    Voc no sabe a maneira que preparada e como eles so armazenados. (E 73)

    Restaurantes no possuem alimentao balanceada por nutricionista, formas de mani-pulao e armazenamento no adequados. (E 65)

    Composio /variedade das opes (n. 53 40,7%)

    So regulares devido falta de alimentao saudvel, isto , frutas, sucos, menos gordura. (E 106)

    Nas cantinas os lanches so sempre os mesmos e tambm poucas opes. (E 6)

    No dia que acontece a feirinha voc tem mais diversidade de salgados, integrais e assados, assim como sucos naturais. (E 55)

    Vale ressaltar que a categoria composio / variedade das opes apresentou dualidade nas respostas, pois 46 entrevistados acreditam que existem dificuldades de opes, como nas citaes descritas na Tabela 5. Entretanto, 7 indivduos acreditam ser um ponto positivo as opes disponibilizadas de alimentao no campus, como o expressado por esse entre-vistado:

    Embora no utilize alimentos aqui, sei pelas colegas que tem uma variedade

    que permite fazer uma refeio adequa-

    da. (E 1)

    Dando continuidade temtica referen-

    te s opes de alimentao disponibilizadas

    no campus, esto descritas, na Tabela 6, as

    sugestes dos entrevistados para a melhoria

    da alimentao, tendo como ideias centrais:

    composio / variedade das opes, qualida-

    de tcnica na produo e armazenamento e

    diferentes estabelecimentos.

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    Na entrevista realizada com os gestores de esferas administrativas diferentes dentro da instituio, procurou-se saber qual a percep-o quanto aos alimentos servidos nos espa-os disponveis na instituio. Observa-se que as respostas apontam resultados semelhantes aos obtidos com os funcionrios. Nesse caso, o Gestor 1 relatou que uma boa alimentao tem influncia no bom desempenho tanto pes-soal como nas atividades desenvolvidas no trabalho. Salientou, ainda, ter expectativa com relao ao novo restaurante dentro da Univer-sidade, que pode ser gerenciado pelo curso de Nutrio, fazendo controle de qualidade e conservao dos alimentos, o que, atualmen-te, no feito.

    Na entrevista com o Gestor 2, foi verificado que este acredita que existe pouca criatividade nos lanches oferecidos. Outros pontos enfatiza-dos foram o controle da produo, a falta de hi-giene nos ambientes, o que acaba refletindo na qualidade dos produtos oferecidos.

    O relato do Gestor 3 ressalta a existncia de muitos lanches fritos e assados, alimentos pou-cos saudveis para quem permanece o dia todo nos espaos da instituio. Quando se pensa em fazer uma reeducao alimentar, dificilmente en-

    contram-se lanches naturais. Alm do mais, relata que o custo alto das opes disponibilizadas no campus.

    DISCUSSO

    No Brasil, tem-se observado um aumento da prevalncia do sobrepeso e obesidade nas ltimas dcadas. Em pesquisas realizadas em mbito na-cional, foram encontradas as seguintes prevaln-cias de excesso de peso entre os homens: 18,5% (ENDEF Estudo Nacional de Despesa Familiar 1974/1975), 29,9% (PNSN Pesquisa Nacional sobre Sade e Nutrio 1989), 41,4% (POF Pesquisa de Oramento Familiar de 2002/2003) e 50,1% (POF de 2008/2009). Nessas mesmas pesquisas, as prevalncias de excesso de peso entre as encontradas entre as mulheres foram de 28,7%, 41,4%, 40,9% e 48%, respectivamente17.

    No presente estudo, 39,3% dos funcionrios encontravam-se com excesso de peso, incluindo sobrepeso e obesidade. Mesmo elevada a preva-lncia de excesso de peso encontrada na pesqui-sa, esses so inferiores aos dados da populao brasileira em geral.

    Vrios estudos, no Brasil, tm sido realiza-dos com grupos de trabalhadores especficos,

    Tabela 6. Sugesto dos entrevistados sobre as opes de alimentaes disponibilizadas no campus de uma instituio de ensino superior do oeste de Santa Catarina, Chapec-SC, 2008

    Ideia central (frequn-cia das respostas)

    Trechos do discurso dos sujeitos

    Composio / varie-dade das opes(n. 57 43,8%)

    Mais variedades de lanches naturais. (E 13)

    Comidas e lanches mais leves com mais opes de frutas. (E 85)

    Menos massa, amidos, mais opes de verduras e frutas. Menos gordura. (E 50)

    Qualidade tcnica na produo e armaze-namento(n. 18 13,8%)

    Criar espaos que valorizem uma boa alimentao, incentivando a troca de alimentos prejudi-ciais sade por saudveis. Utilizar o curso de nutrio como referncia. (E 109)

    Qualidade e no s quantidade, lanches mais leves, higiene. (E 42)

    Sendo a Universidade o espao de transformao, sugiro que viabilize cardpio balanceado com sugesto dos cursos de nutrio e gastronomia, que podem inovar em cardpios atraen-tes. (E 57)

    Diferentes estabeleci-mentos (n. 17 13%)

    Restaurante Universitrio, com valor acessvel aos funcionrios e acadmicos. (E 100)

    Aumentar os dias de funcionamentos da feira agroecolgica. (E 7)

    Restaurante e lancheria voltada para os funcionrios. (E 80)

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    encontrando diferentes prevalncias de sobre-peso, em parte justificada pelo tipo de exerccio profissional realizado, mais ou menos ativo, e pela faixa etria dos trabalhadores.

    Considerando trabalhadores com atividades laborais menos ativas, foi encontrado que, entre atendentes de Call center de So Paulo, 48,2% dos homens apresentavam sobrepeso, em com-parao com 29,8% de mulheres nessa mesma classificao. Nessa populao, com idade m-dia de 28,9 anos, foi observado que 51% dos homens e 48% relataram aumento de peso aps iniciar as atividades laborais como atendente de central telefnica18. Em estudo realizado com tra-balhadores de empresa de tecnologia (atividade laboral sedentria), foi encontrada prevalncia de 54,3% de sobrepeso na populao, sendo es-ses com idade mdia de 38,9 anos19. Esses dados confirmam a tendncia atual de aumento do peso entre adultos.

    Para trabalhadores com atividade fsica ocu-pacional mais intensa, as pesquisas apresentam, de modo geral, prevalncias menores de excesso de peso. Em pesquisa realizada com metalrgicos do Rio de Janeiro, foi encontrado sobrepeso em 44,6%, com idade mdia de 34,6 anos20. J em trabalhadores da construo civil (97% do sexo masculino), foi observada prevalncia de 39,6% de sobrepeso21.

    Em outras pesquisas que consideraram ati-vidades laborais mistas entre os pesquisados, as prevalncias de excesso de peso encontradas no diferiam muito das outras publicaes. Estudo re-alizado com 2574 industririos de Santa Catarina, sendo 53% com menos de 30 anos de idade, foi encontrada prevalncia de 36,8% de excesso de peso (42,9% entre as mulheres e 26,9% entre os homens)22. Entre trabalhadores de indstria me-tal mecnica de Santa Catarina (84,8% do sexo masculino), foi encontrada prevalncia de 53% de excesso de peso. A populao de estudo foi composta por trabalhadores administrativos e da produo, tendo mdia de idade de 34,5 anos23.

    Em outras pesquisas que consideram o mes-mo tipo de ambiente (instituio de ensino supe-rior), prevalncias superiores aos achados deste estudo foram encontrados. Em professores uni-versitrios de Braslia, a prevalncia de obesida-de foi em torno de 50%11. Na regio sul do Pas,

    servidores de uma universidade pblica de Santa Catarina apresentaram prevalncias de 63,3% de sobrepeso entre os homens e 49,7% entre as mu-lheres. Destaca-se o fato de que a idade mdia da populao deste estudo foi superior aos nossos achados, correspondendo a 43,62 e 46,88 anos para mulheres e homens, respectivamente24.

    Segundo Stefani25, o crescimento da obesi-dade um fenmeno contemporneo, que afeta populaes de pases desenvolvidos ou no, e se relaciona com mudanas de diversas naturezas, envolvendo automao crescente do mundo da produo, novos padres e comportamentos ali-mentares, influenciados pelo crescimento da in-dstria de alimentos, pelo ritmo urbano dos fast food e, at mesmo, pela patente violncia urbana que invade o cotidiano, obrigando as pessoas a exercerem cada vez menos atividades que con-somem energia, como se deslocar e ir a p ao trabalho.

    Os entrevistados que fizeram parte desse es-tudo, na sua maioria, so docentes e tcnicos-ad-ministrativos que trabalham dois ou mais turnos, desse modo fazendo pelo menos uma refeio dentro da instituio de ensino. De modo geral, a maioria da populao adulta passa pelo menos 40 horas semanais em suas atividades laborais, e importante a implantao de estratgias de estimula a alimentao saudvel e combate obe-sidade nos locais de trabalhado26.

    Os quatro tipos de alimentos mais consu-midos pelos entrevistados foram os lanches as-sados, refeio salgada, caf puro e refrigerante consumidos por quase 40% dos pesquisados. O consumo de refrigerante por trabalhadores no sul do pas, em pesquisa nacional realizada entre 2006 e 2008, foi elevado entre a populao de estudo. Dos homens, 16,7% ingeriam refrigeran-te cinco ou mais vezes por semana; entre as mu-lheres perfil de consumo foi encontrado em 11% dos entrevistados27. Os achados desta pesquisa nos apresentam que 20% dos pesquisados con-somem doces durante o dia de trabalho. Dados do sul do pas nos mostram que o consumo de doces, balas, bolos e sorvetes 5 ou mais vezes na semana, foi uma realidade para 11,3% homens e 18,5% mulheres participantes da pesquisa27.

    Corbellini28, investigando a alimentao do trabalhador, observou que os alimentos tradicionais

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    da dieta do brasileiro (arroz e feijo) esto perdendo importncia, ao contrrio dos produtos industriali-zados como refrigerantes e biscoitos que esto sen-do cada vez mais consumidos.

    O fato de os funcionrios se alimentarem no local de trabalho muitas vezes pode ser explicado por falta de tempo, e assim muitos acabam mudan-do seus hbitos alimentares, procurando prepara-es mais calricas, consideradas mais palatveis e responsveis por maior sensao de saciedade.

    Isso pode ser explicado pela indstria ali-mentcia, que oferece cada vez mais opes de alimentos de fcil preparo e alto valor calrico. E os indivduos, mesmo com a preocupao com a sade, utilizam cada vez mais esses produtos na sua alimentao cotidiana29. Com a insero des-ses produtos, importante a avaliao dos hbi-tos alimentares da populao com base em estu-dos dietticos, e da implementao de programas nutricionais, visando a proporcionar melhores condies de vida para a populao estudada30.

    No estudo realizado, constatou-se que a maioria dos entrevistados, 86,9%, considera a alimentao realizada no local de trabalho ina-dequada ou parcialmente adequada. Esse fato apresenta grande relao com a quantidade de alimentos gordurosos, lanches a base de massas e pelas poucas opes de alimentos considerados mais saudveis e naturais disponveis nos espa-os de alimentao dentro do campus, sendo um relato presente em grande parte das entrevistas.

    Outro aspecto abordado na pesquisa diz res-peito opinio dos entrevistados sobre as opes de alimentao disponveis dentro do campus: 56,9% dos pesquisados consideram a alimenta-o regular, 32,3% afirmam que no adequada, 8,5% acham adequada e 2,3% dos entrevistados no responderam.

    Dos 130 funcionrios, 95,4% acreditam que a alimentao exerce grande influncia no desempenho do trabalho, j 1,5% acreditam que no, ou seja, que o desempenho no trabalho de-pende de outros fatores, e 3,1% dos entrevistados no souberam responder essa questo.

    A alimentao inadequada influencia, de um modo geral, a sade da populao, no bom desempenho das atividades dirias, como cita-do pelos entrevistados quando questionados se uma alimentao saudvel tem influncia no

    bom desempenho das atividades dirias realiza-das no local de trabalho. Corroborando com a opinio dos entrevistados sobre a alimentao inadequada, o reflexo desse comportamento tambm pode influenciar no desempenho do trabalhador. A obesidade um dos aspectos que influencia nas relaes interpessoais e na execu-o das atividades laborais, que podem interferir na qualidade vida do trabalhador obeso31.

    Durante entrevistas com os gestores, foi ob-servado que eles no esto alheios a essa realida-de dentro do campus, pois relatam concordncia com os entrevistados, de que uma boa alimenta-o tem influncia no desempenho tanto pessoal como nas atividades desenvolvidas no trabalho.

    Dados cientficos evidenciam constante-mente que a alimentao tem um papel impor-tante na promoo de sade e preveno de do-enas. Hbitos alimentares apropriados, aliados a outros comportamentos de estilo de vida sau-dvel, constituem papis potencialmente impor-tantes para reduzir os riscos de doenas crnicas e relao direta com a melhora na qualidade de vida dos indivduos32. Assim, tem-se verificado cada vez mais a importncia da avaliao dos hbitos alimentares da populao, com foco es-pecial na sade do trabalhador.

    Outro achado relevante diz respeito pre-ocupao com a qualidade tcnica na produo e armazenamento dos produtos alimentcios. Nesse caso, foi apontado pelos entrevistados que deve ser realizado um controle mais rigoroso de higiene dos ambientes e dos alimentos por um responsvel tcnico, ponto semelhante viso dos gestores da Instituio, em que foi destacada a falta de controle da produo e de higiene nos ambientes, o que acaba refletindo na qualidade dos produtos oferecidos. Segundo a OMS, as do-enas e agravos no transmissveis resultam de um conjunto de fatores de risco, e alguns desses fatores esto relacionados alimentao e ati-vidade fsica, trazendo impacto na qualidade de vida dos indivduos33.

    A necessidade de se estabelecer orientaes para uma alimentao saudvel e qualidade dos alimentos permite que o indivduo compreenda as caractersticas nutricionais do que est consumindo, diminuindo a incidncia de doenas relacionadas aos maus hbitos alimentares34.

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    Outro fato relevante encontrado na pesqui-sa diz respeito opinio dos entrevistados sobre as opes de alimentao disponveis dentro do campus: 89,2% dos pesquisados consideram a alimentao inadequada ou regular. Com isso, constata-se uma porcentagem muito pequena de pessoas satisfeitas com a alimentao disponvel nos espaos de comercializao dentro da Insti-tuio, representando 8,5%. Isso pode ser reflexo das opes disponveis, que foram apontadas pe-los entrevistados como inadequadas, de acordo com o relato de um entrevistado:

    Falta higiene e controle de qualidade, tam-bm mais diversidade nas opes. (E130)

    Contudo, quando questionados sobre poss-veis sugestes para melhorar as opes de alimen-tao no campus, vrios pontos so levantados, conforme citados na Tabela 6. Essas sugestes, de maneira geral, destacam a ideia de alimentao mais saudvel dentro do campus, com oferta de produtos mais naturais, diminuindo a quantidade de gorduras e massas ofertadas, criao de novos espaos para alimentao, como, por exemplo, um Restaurante Universitrio com qualidade e controle tcnico na produo dos alimentos. Es-sas sugestes tambm foram apontadas pelos ges-tores nas entrevistas realizadas.

    CONCLUSO

    Por meio da avaliao nutricional realiza-da, observou-se uma prevalncia considervel de excesso de peso, representando 39,3% da populao estudada. Concluiu-se, tambm, que a maioria dos funcionrios entrevistados esto insatisfeitos com a alimentao servida nos es-paos de comercializao no campus. Mesmo assim, continuam fazendo suas refeies nesses ambientes, apesar de relatarem que o custo, a fal-ta de tempo, a pouca variedade e a incerteza na qualidade higinica e nutricional dos alimentos so considerados pontos negativos no tocante alimentao disponibilizada no campus. Des-taca-se que os alimentos mais citados como de consumo usual pelos entrevistados foram lanches assados, refeies salgadas, caf preto e refrige-rante, consumidos por 40% ou mais dos pesqui-sados.

    Como sugestes para a melhoria da qualida-de da alimentao na instituio, foram declara-dos: a disponibilizao de uma maior variedade de alimentos considerados saudveis; a diversifi-cao dos locais de comercializao e a poten-cializao da feira agroecolgica. Alm disso, tambm foi sugerida a presena de profissional nutricionista envolvido no processo de alimenta-o no campus.

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    Recebido em: 28 de fevereiro de 2013.Verso atualizada em: 26 de setembro de 2013.

    Aprovado em: 30 de setembro de 2013.