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1 AVALIAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ: UMA ABORDAGEM ANDRAGÓGICA E PEDAGÓGICA Área: CIÊNCIAS CONTÁBEIS Katia Omori Antunes de Oliveira Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, Rua Vinicius de Moraes, 1305 - Cascavel – PR, email: [email protected] Sidnei Celerino da Silva Universidade Estadual do Oeste do Paraná -Unioeste, Avenida Carlos Gomes, 1792 – Cascavel - PR, email: [email protected] Resumo O estudo tem como objetivo discutir a prática docente, estrutura (sala de aula, biblioteca e laboratório de informática), relacionamento entre docentes e discentes e projeto político pedagógico (PPP) do curso de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel, com base nos pilares da Pedagogia e Andragogia e a partir da percepção dos discentes. A pesquisa compreendeu um estudo de caso, realizado no período de março a novembro do ano de 2010. As turmas selecionadas para pesquisa foram do terceiro ao quinto ano, pois, os alunos dessas turmas vivenciaram mais experiências, conhecem melhor o funcionamento do curso, bem como o corpo docente e assim, puderam avaliá-lo com mais propriedade. A conclusão evidenciou a percepção entre a tendência andragógica e pedagógica pelos discentes acerca dos pontos delimitados. Coligiu-se o resultado das três turmas para uma avaliação global, o que permitiu um panorama acerca dos pontos delimitados, se estes apresentam mais características da andragogia ou da pedagogia. A partir do estudo, foram constatadas quais são os pontos pedagógicos e andragógicos da instituição estudada, assim, concluiu-se: a prática docente demonstrou discordâncias das sentenças andragógicas, a estrutura física apresentou a maioria de concordantes com a Andragogia, no entanto, tal variável apresenta viés, o relacionamento entre docentes e discentes resultou em uma tendência andragógica, enquanto que o PPP obteve percentual maior de discordância da teoria andragógica. Palavras-chaves: Andragogia. Pedagogia. Ciências Contábeis

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AVALIAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UNIVERSIDADE

ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ: UMA ABORDAGEM ANDRAGÓGICA E PEDAGÓGICA

Área: CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Katia Omori Antunes de Oliveira

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, Rua Vinicius de Moraes, 1305 - Cascavel – PR, email: [email protected]

Sidnei Celerino da Silva Universidade Estadual do Oeste do Paraná -Unioeste, Avenida Carlos Gomes, 1792 – Cascavel -

PR, email: [email protected]

Resumo O estudo tem como objetivo discutir a prática docente, estrutura (sala de aula, biblioteca e laboratório de informática), relacionamento entre docentes e discentes e projeto político pedagógico (PPP) do curso de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel, com base nos pilares da Pedagogia e Andragogia e a partir da percepção dos discentes. A pesquisa compreendeu um estudo de caso, realizado no período de março a novembro do ano de 2010. As turmas selecionadas para pesquisa foram do terceiro ao quinto ano, pois, os alunos dessas turmas vivenciaram mais experiências, conhecem melhor o funcionamento do curso, bem como o corpo docente e assim, puderam avaliá-lo com mais propriedade. A conclusão evidenciou a percepção entre a tendência andragógica e pedagógica pelos discentes acerca dos pontos delimitados. Coligiu-se o resultado das três turmas para uma avaliação global, o que permitiu um panorama acerca dos pontos delimitados, se estes apresentam mais características da andragogia ou da pedagogia. A partir do estudo, foram constatadas quais são os pontos pedagógicos e andragógicos da instituição estudada, assim, concluiu-se: a prática docente demonstrou discordâncias das sentenças andragógicas, a estrutura física apresentou a maioria de concordantes com a Andragogia, no entanto, tal variável apresenta viés, o relacionamento entre docentes e discentes resultou em uma tendência andragógica, enquanto que o PPP obteve percentual maior de discordância da teoria andragógica. Palavras-chaves: Andragogia. Pedagogia. Ciências Contábeis

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1 INTRODUÇÃO A constante reavaliação dos métodos didáticos usados na disseminação do conhecimento

e geração da aprendizagem, nos mais diversos campos do saber, é fundamental para o desenvolvimento e aprimoramento científico dos sujeitos envolvidos.

A universidade está inserida no mundo científico, sendo uma instituição com a finalidade de discutir, gerar e evoluir o conhecimento, por meio de pesquisas e retornar os frutos desse processo à sociedade.

Considerando que a ciência é mutável, inacabada e falível, a busca pelo desenvolvimento deverá ser contínua e a academia deverá ser exemplo de busca do conhecimento. Os docentes que constituem parte da universidade, como o corpo responsável pela discussão do saber, devem selecionar as metodologias a partir das quais se valerão para a disseminação do conhecimento com os discentes de modo consciente, observando variáveis como idade, sexo, número de alunos, além de outros aspectos da personalidade dos envolvidos.

Assim, a prática docente, o PPP, estrutura física e o relacionamento entre os sujeitos envolvidos nesse processo são itens fundamentais no processo de aprendizado, por isso merecem ser estudados e avaliados para saber se contribuem com esse objetivo.

Ao considerar que comumente a universidade recebe ingressos no início da fase adulta, com interesses e motivações próprias, a metodologia de ensino escolhida deverá ser adaptada a esse contexto. Outro contexto vivido recai em turmas com diversidade etária acentuada, o que não raras vezes, exige do docente atualizações, revisões ou mesmo alterações na didática de ensino, a fim de contemplar de modo eficiente a geração de aprendizagem.

Salienta-se que os discentes costumam ser auto-motivados, o que significa que possuem interesses específicos. Buscam no curso de graduação conhecimentos que possam ser utilizados no cotidiano. Por serem críticos, logicamente, os métodos de ensino e aprendizagem deverão contemplar essa ânsia, pois os discentes precisam perceber o conhecimento da universidade como algo relevante para suas vidas, e assim, poderem sentir-se satisfeitos.

Diante desses contextos, justifica-se este estudo, pois: a) a pedagogia e a andragogia são ferramentas metodológicas acessíveis aos profissionais, para que estes se embasem e desfrutem do potencial que tais ramos da ciência da educação tem a oferecer; b) a universidade, como um campo propício à evolução científica, deve avaliar as metodologias adotadas pelos docentes, bem como a percepção destas pelos alunos, a fim de verificar a qualidade do ensino e aprendizagem; c) para realizar a avaliação de cursos de graduação, o uso de conhecimentos andragógicos e pedagógicos podem ser úteis e identificar apontamentos relevantes para evolução desses.

Como foco, o presente trabalho suscita uma avaliação da prática docente, estrutura (sala de aula, biblioteca e laboratórios de informática), relação entre docentes e discentes e PPP do curso de Ciências Contábeis da Unioeste, Campus de Cascavel, por meio de parâmetros da Andragogia e Pedagogia.

Para nortear a pesquisa se faz necessário a problematização do tema, assim, a questão-chave que direcionou o trabalho consiste na seguinte questão: Qual a relação dos pontos

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avaliados no curso de Ciências Contábeis com os parâmetros andragógicos e pedagógicos? O estudo foi desenvolvido com os alunos do Curso de Ciências Contábeis da Unioeste,

Campus de Cascavel, no período de março a novembro do ano de 2010. Focalizou a avaliação da prática docente, estrutura física, relação entre docentes e discentes e o PPP do curso citado, sob prismas andragógicos e pedagógicos. Ressalta-se também que a avaliação abrangeu as turmas do terceiro ao quinto ano, por já possuírem experiência e maior conhecimento da estrutura e funcionamento do curso.

O trabalho está divido em cinco seções: introdução, revisão da literatura, metodologia, descrição e análise dos resultados e conclusões. 2 REVISÃO DA LITERATURA

Para embasar o estudo a seção apresenta uma visão geral do ensino da contabilidade no

Brasil e os princípios e diferenças entre o modelo andragógico e pedagógico. 2.1 Ensino da Contabilidade no Brasil

Os cursos de Ciências Contábeis no Brasil não atendem de modo satisfatório às expectativas de formação profissional dos estudantes e as necessidades do mercado de trabalho.

Marion (2001, p.11) afirma que as universidades tem a missão de construir o conhecimento, porém, ressalta-se que a realidade dos cursos de Ciências Contábeis não fazem jus a essa idéia, pois constituem-se em centros transmissores de informações, não criam, inovam ou ensinam os discentes a construir o conhecimento.

O autor alega que os cursos de Ciências Contábeis ainda apresentam caráter demasiado técnico, no qual o ensino se dá de modo bancário, já que os discentes não são motivados a desenvolverem, mas apenas assimilar o que já está posto.

Segundo Rollo e Pereira (2003, p.50), dadas as evoluções contínuas, a profissão contábil desempenha cada vez mais papel expressivo e indispensável nas entidades, portanto, o ensino de Contabilidade deve incorporar esta perspectiva para lidar com o aluno.

A formação na área contábil não deve focar apenas o registro e o processamento das informações, além disso, é preciso formar profissionais capazes de gerir tais informações, tomar decisões estratégicas com objetivo de levar a entidade à eficiência e eficácia na gestão. Desta forma, o conhecimento terá de ser estimulado por meio de pesquisas e questionamento com objetivo de evoluir o senso crítico do estudante (ROLLO; PEREIRA, 2003, p.50).

Ao constatar que está se formando profissionais embasados apenas no repasse de conhecimentos, sem espírito crítico e criatividade para lidar com a gestão estratégica, bem como as interpretações das informações, percebe-se uma lacuna entre a demanda exigida do profissional e a competência dos discentes egressos da universidade.

Contudo, no Brasil, pode-se citar o Departamento de Contabilidade da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), como referência na área de pesquisa em Contabilidade, que dispõe de mais de 25 doutores no quadro de docentes e pesquisadores. O curso de Ciências Contábeis da referida instituição apresenta cerca de 40 professores, que necessariamente devem ser pesquisadores (MARION, 2001, p.12).

A realidade exposta apresenta-se como exceção, embora deva servir como referência aos

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demais cursos de Ciências Contábeis, pois para proporcionar desenvolvimento aos discentes é preciso que os docentes também tenham a prática de pesquisar e gerar conhecimento.

Ao evidenciar o desafio para a educação contábil, Kraemer (2005, p.70) afirma que a dificuldade está em conciliar os aprendizes aos anseios da realidade econômica imposta de modo consciente e responsável. A autora enfatiza que a linha educacional vigente, impede o aluno de criar e apenas transfere o conhecimento como verdades inquestionáveis. Desta forma, não se prepara um contador capaz de desenvolver, analisar e implantar sistemas de informação contábil, que saiba lidar com o controle gerencial, ou desenvolver as atividades de modo ético e em sintonia com os problemas da sociedade.

É preciso, portanto, repensar o ensino da Ciência Contábil com vistas a coligir os objetivos e as necessidades que este precisa atender, além de cotejar a estrutura, uma vez que avaliar é necessário para saber o que está adequado e o que é possível melhorar.

A partir da proposta de se reexaminar a educação em Contabilidade, Marion (2001, p.13) afirma que o sistema atual centrado em orientação prática, dados contábeis, métodos quantitativos e intensificação do uso de computadores precisa agregar também habilidades em comunicação, estruturação de soluções criativas, habilidade no relacionamento com pessoas e conhecimentos gerais de organização e negócio, contabilidade e auditoria, além de conhecimentos gerais.

O que propõem o autor é transformar o discente de contabilidade em um profissional preparado para lidar com as evoluções da sociedade, conhecedor do ambiente e não apenas técnico, mas que seja também um profissional com capacidade de comunicação e interagindo com as demais pessoas da sociedade. Contudo, para que essa transformação possa ocorrer, primeiro é preciso rever as práticas na sala de aula, pois é o ambiente em que ocorre a formação acadêmica dos profissionais, nesse sentido, o conhecimento dos princípios da pedagogia e andragogia são imprescindíveis para aprimorar a qualidade do ensino e da aprendizagem. 2.2 Princípios da Pedagogia

Para se tratar de princípios pedagógicos, primeiro, é preciso estabelecer o que é pedagógico.

Libâneo (2009, p.142) afirma que a pedagogia está sujeita a condicionantes sociais, que determinam como a prática educativa será tratada e quais são as necessidades que a educação deverá atender, portanto, cabe a pedagogia traçar o caminho que contemple aquilo que a sociedade almeja, somado a isso, lembra-se que a Pedagogia remete à educação intencional, desta forma, o que definirá algo como pedagógico é a direção, o sentindo ou rumo que a pedagogia propõe às práticas educativas.

Assim, o pedagógico relaciona-se à intencionalidade que a ação representa. Quando existe o interesse de se proporcionar o ensino, há o caráter pedagógico.

Luckesi (1990, p.163) apresenta seis premissas para o execução da pedagogia: O primeiro consiste no papel das entidades de ensino, sendo estas instâncias de luta para

transformar a sociedade, embora entenda-se ser um espaço que tenha contradições sociais, justamente por isso elas participam da reprodução e trasformação dos valores estabelecidos na sociedade.

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O segundo princípio é que a educação não é neutra. A ação educativa está embuída de concepções filosóficas e políticas, mesmo que tal concepção não seja explicíta, o senso comum acaba por influir no processo educativo. Por isso, se não há ação baseada em uma teoria específica, a tendência é agir conforme os valores ditados pela sociedade.

A educação como mediadora da elevação cultural dos educandos é o terceiro princípio pedagógico, a acumulação dos conhecimentos já desenvolvidos pela sociedade serve como base para a ruptura e elaboração do novo, portanto, a prática pedagógica deve ocupar-se de não apenas transmitir, mas, incitar a elaboração do novo.

Partindo deste raciocínio, sugere-se o quarto princípio, no qual a relação entre professor e aluno deve ser um meio para a elevação cultural do educando, nesta perspectiva, entende-se o professor como detentor do conhecimento elaborado e da autoridade pedagógica, mediando a cultura elaborada com a cultura dos alunos, a partir disso, o professor faz articulações que devem promover a assimilação por parte dos alunos da cultura já estabelecida, bem como fazer a ponte para que os alunos elaborem a cultura indivídual.

Assim, o quinto princípio estabelece-se pela continuidade e ruptura com elementos essenciais do processo de elevação cultural do educando, esta postura evidencia uma pedagogia que vise a elevação do entendimento do mundo pelo educando, sendo que, a continuidade e ruptura consite no entendimento de que do velho nasce o novo, assim, o novo não é genuína novidade, mas, o velho incorporado em uma nova síntese, portanto, o processo de ensino-aprendizagem se desenvolve pela continuidade-ruptura cultural.

Concebe-se como o sexto princípio a independência e reciprocidade, a partir da elevação cultural, por meio da continuidade-ruptura, com o professor como articulador para que os alunos adquiram um modo de pensar autônomo e singular acerca da realidade, bem como, uma forma mais crítica e reflexiva de agir sobre ela, quanto maior o conhecimento do educando sobre o mundo real que o cerca, maior a possibilidade dele ser independente e agir com reciprocidade em relação à autoridade do professor, pois, quando se detém cultura elaborada, o educando pode opinar de modo consistente sobre as ponderações do professor, sendo este o objetivo da atividade docente: permitir o crescimento do aluno para que este alcance a independência, reciprocidade e originalidade.

Luckesi expõem o caráter emancipador da pedagogia, ainda que esteja permeada de valores sociais e políticos, a concebe como meio de quebra com a estrutura vigente. Tal ruptura não significa um corte propriamente dito, mas sim, criar uma cultura nova, a partir daquela que é exposta, para isso, ele apresenta como função do docente mediar esta situação, na qual ele repassa o conhecimento já elaborado, mas propicia ao discente criar uma nova concepção. O autor ressalta a autoridade do professor, mostrando este como o detentor do conhecimento. Mas reconhece que o aluno ao assimilar o que lhe fora ensinado conseguirá estabelecer uma relação de reciprocidade com o docente.

Libâneo (2009, p.33) aglutina os itens elencados por Luckesi e apresenta duas caracterísitcas fundamentais da pedagogia: primeiro que o ato educativo é uma atividade humana e intencional; segundo, que isto deve ser uma prática social.

Na primeira característica, o autor concebe a educação como uma relação entre o professor e o aluno, em que existe uma interação entre os dois, e nessa interação há os valores do professor, o que implica em compromisso e ética no ato de educar, e que a prática da educação

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deve ocorrer de modo intencional, com vistas à formação do homem. Na segunda característica, visualiza-se a educação compreendida no seio do

funcionamento da sociedade, assim, a ação educativa ocorre de forma indissociável da estrutura social vigente, portanto, as ações pedagógicas evidenciam os interesses das políticas vigentes, ao mesmo tempo que mediam o ato educativo, visando a construção do conhecimento humano em face a uma realidade social já estabelecida.

Na concepção de Libâneo, o caráter social é fator decisivo para estabelecer a prática pedagógica, sendo que o professor tem a intenção de preparar o aluno conforme os valores dele e os propostos pela sociedade. Além disso, a prática pedagógica expressa o interesse político por trás da educação, no entanto, o autor também defende que é por meio das práticas educativas que existe a construção do conhecimento, elaborado sobre bases já estabelecidas pela sociedade.

Porém, não basta apenas querer ensinar, para afirmar que se está praticando a Pedagogia há outras características que precisam ser buscadas. A literatura sobre o tema é vasta e os autores apresentam semelhanças e disparidades, diante disso, percebe-se que o principal elemento do caráter pedagógico é a intencionalidade. O que diferencia a educação formal da informal é o que a pedagogia tem a intenção de ensinar, e para isso, ela pauta-se em elementos que norteiam a prática que ela faz uso.

2.3 Princípios da Andragogia

Assim como a pedagogia está alicerçada em premissas, a andragogia também aprensenta

prerrogativas que são necessárias para que a prática andragógica possa ocorrer. Deaquino (2007, p.11) aponta que o modelo andragógico está fundamentado em quatro

suposições básicas para os aprendizes: a) o posionamento dos alunos muda da depêndencia para independência e autodirecionamento; b) as pessoas apresentam experiências que podem ser usadas como base para a construção da aprendizagem; c) a prontidão para o aprendizado está associada ao desenvolvimento de papéis sociais; d) a perspectiva de tempo e currículo se alteram do adiamento para o imediatismo de aplicação daquilo que se é aprendido, com uma aprendizagem focada para auxiliar no desempenho. Portanto, o docente precisará estar preparado para entender essa mudança de foco. O

docente não mais trabalhará com a autoridade, mas, com a orientação, posicionando-se de modo flexível, porém, não omisso.

Desta forma, pode-se afirmar que tratando-se da Andragogia, a implicação direta na prática andragógica perpassa papel do professor. Consoante a isto, Knowles1 (1980, apud Vogt 2007, p.37) destaca que o docente passa a exercer a figura do facilitador, pois terá a missão de orientar os alunos para desenvolverem o próprio potencial, assim, o processo para que o facilitador, possa cumprir o objetivo proposto, envolve alguns requisitos que se adequem à 1 KNOWLES, Malcom. The modern practice of adult education: from pedagogy to andragogy. 2ed. New

York: Association Press, 1980.

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condição adulto, dentre os quais: a) o clima de aprendizagem deve ser preparado de modo que permita um ambiente físico adequado (decoração, equipamentos, acústica e iluminação); b) o diagnóstico de necessidades envolve o aluno durante a respectiva construção, fazendo que ele se auto-diagnostique sobre as necessidades do que aprender; c) formulação de programa de objetivos que contemple as necessidades do aluno adulto; d) o planejamento do aprender envolve os estudantes, o professor é um guia do processo e da pesquisa do conteúdo; e) o processo de ensino-aprendizagem ocorre em mútua cooperação entre professor e aluno, sendo este mais um catalizador que instrutor; f) a avaliação também ocorre com mútuo entendimento do aluno e professor, em que este ajuda aquele a buscar evidências do progresso conseguido, discutir o que facilitou ou inibiu a aprendizagem, dentre outros fatores que concernem à avaliação. Assim, baseado na proposta andragógica, o docente não mais detentará a autoridade

pedagógica, mas trará os alunos para a esfera do planejamento e como co-responsáveis durante o ensino-aprendizado. A figura do professor não será suprimida, mas se transformará.

Portanto, na Andragogia, o contexto de aprendizagem precisa ser revisado de modo a proporcionar aquilo para a qual fora idealizada. É evidente que tal processo não se dá de modo imediato, mas, o fato de reconhecer o adulto como sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem já demonstra uma transformação no que tange ao conceito de educação. Ademais, é relevante conhecer algumas diferenças entre o modelo andragógico e pedagógico. 2.4 Diferenças entre Pedagogia e Andragogia

De modo geral, as diferenças entre Andragogia e a Pedagogia ocorrem na forma de se

abordar o aprendiz, no ambiente de aprendizagem e na forma como ocorre a interação entre professor-aluno (DEAQUINO, 2007, p.12). O Quadro 1 apresenta algumas diferenças:

Pedagogia (aprendizagem centrada no professor) Andragogia (aprendizagem centrada no aprendiz)

Os aprendizes são dependentes. Os aprendizes são independentes e autodirecionados. Os aprendizes são motivados de forma extrínseca (recompensas, competição etc.).

Os aprendizes são motivados de forma intrínseca (satisfação gerada pelo aprendizado).

A aprendizagem é caracterizada por técnicas de transmissão de conhecimento (aulas, leituras designadas).

A aprendizagem é caracterizada por projetos inquisitivos, experimentação, estudos independentes.

O ambiente de aprendizagem é formal e caracterizado pela competitividade e por julgamentos de valor.

O ambiente de aprendizagem é mais informal e caracterizado pela equidade, respeito mútuo e cooperação.

O planejamento e a avaliação são conduzidos pelo professor.

A aprendizagem deve ser baseada em experiências.

A avaliação é realizada basicamente por meios externos (notas, teste e provas).

As pessoas são centradas no desempenho nos processos de aprendizagem.

QUADRO 1 : DIFERENÇAS ENTRE ANDRAGOGIA E PEDAGOGIA FONTE: Adaptado de Deaquino (2007, p.12)

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As características expostas no Quadro 1 demonstram o caráter emancipador que a Andragogia tende a buscar. Na Andragogia o aluno é visto como participante, não colocando o professor em um patamar superior, mas como um orientador, até porque o aluno adulto não buscará o conhecimento por imposição de outrem, mas, pela necessidade que sentiu daquele conhecimento. Assim, a forma de ensinar no modelo andragógico também precisa ser atraente, sendo apresentada mais com caráter prático que teórico, bem como o clima de aprendizagem entre os alunos visará o companheirismo, pois, todos são alunos que querem aprender e possuem experiências para contribuir no processo de ensino-aprendizagem.

Cavalcanti e Gayo (2005, p.47) fizeram algumas comparações entre o modelo andragógico e pedagógico (QUADRO 2).

Premissas Modelo Pedagógigo Modelo Andragógico

Necessidades de conhecer

Crianças precisam saber apenas o que o professor tem a ensinar. Não necessitam saber para que serve aquele conhecimento

Aprendizes adultos conhecem as necessidades que possuem e se interessam pelo aprendizado de aplicação prática e imediata.

Autoconceito do aprendiz

O aprendiz é dependente do professor, e se considera como tal, por isso tem a capacidade posta em dúvida por si mesmo e pelo sistema.

O adulto é independente, tem autonomia e sente-se capaz de aprender e de buscar conhecimento que necessita, inclusive sem ajuda do professor.

O papel da experiência

A experiência do aprendiz não é considerada, mas sim a do professor e dos autores dos livros didáticos. O aluno tem um papel passivo, tendo apenas que ler, ouvir e fazer os exercícios propostos.

A experiência do adulto aprendiz apresenta importância central. A experiência do professor e dos livros são fontes de consultas que podem ou não serem valorizadas pelo aprendiz.

Prontidão para aprender

Os aprendizes estão prontos para aprender oque o professor ensinar.

O aprendiz está pronto para aprender aquilo que decide aprender, que considera significativo para as necessidades que possui.

Orientação da aprendizagem

Os aprendizes são orientados a aprender por disciplinas, com conteúdos específicos que lhe serão futuramente necessários, na visão do professor. Os conteúdos são organizados pela lógica dos conteúdos programáticos.

O aprendiz adulto orienta a aprendizagem para o que tem significado para ele. Conteúdo não precisa ser organizado pela lógica progamática.

Motivação

Ocorre por incentivos externos como: notas, aprovação/reprovação, pressões dos pais e outros.

A motivação dos adultos está na tendência a utilização, sendo portanto de caráter intrínseco, pela vontade própria, de crescimento, auto-estima e realização pessoal.

QUADRO 2 - COMPARAÇÃO ENTRE ANDRAGOGIA E PEDAGOGIA FONTE: Adaptado de Cavalcanti e Gayo ( 2005, p.47)

Percebe-se que os autores foram incisivos no trato com a pedagogia, porém, é preciso

destacar que a pedagogia, embora apresente a aprendizagem centrada no professor, afirma que o conhecimento deve ser relevante para o educando, bem como deve ser construído e não apenas

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transferido (FREIRE, 2005, p.22). Deve ser lembrado que a pedagogia propõem a formação do ser humano, portanto, é

natural que a autoridade pedagógica seja do professor, pois, ele terá que construir na mente do aluno os saberes necessários para a prática cotidiana.

Na Andragogia o aluno já está maduro, e volta para aprender aqueles conteúdos que precisa para a prática cotidiana e para a vida. 3 METODOLOGIA

A seção apresenta a caracterização da pesquisa, segundo os objetivos, os procedimentos e

à abordagem do problema e a descrição do processo de coleta de dados. A tipologia da pesquisa caracteriza-se, quanto aos objetivos, como descritiva. De acordo

com Gil (1999, p.80), a pesquisa descritiva tem como objetivo descrever características de determinada população ou fenômenos, e/ou estabelecimento de relações entre variáveis.

Quanto aos procedimentos, caracteriza-se como um estudo de caso. Tal modalidade de pesquisa compreende um estudo exaustivo de um ou poucos objetos, de modo que possibilite conhecimento amplo e detalhado do mesmo (GIL, 1999 p.73). Portanto, como o objeto de estudo é o curso de Ciências Contábeis da Unioeste, relaciona-se apenas a esta realidade e, como destaca Beuren (2008, p.84), o estudo de caso abrange um único objeto ou fenômeno, o que implica em uma limitação, uma vez que os resultados obtidos não poderão ser generalizados a outros objetos ou fenômenos.

Ao considerar que foi estudado um fenômeno referente a um grupo social, o curso de Ciências Contábeis delimitado, a tipologia de abordagem é qualitativa.

No que concerne à abordagem qualitativa de pesquisa, Beuren (2008, p. 92) relata que esta realiza análises mais profundas, assim, é possível conhecer a natureza do fenômeno social estudado.

O instrumento de coleta de dados do presente estudo foi o questionário, o qual foi aplicado aos acadêmicos do curso de Ciências Contábeis selecionados. Tal questionário foi elaborado com perguntas objetivas e subjetivas sobre pontos delimitados, a partir de pesquisas sobre Andragogia e Pedagogia. Do mesmo modo, a análise das respostas tomou como base o comportamento dos pontos delimitados, além de possibilitar a identificação da manifestação da prática Andragógica ou Pedagógica no curso. A elaboração, aplicação e análise dos questionários ocorreram entre os meses de agosto e setembro de 2010.

Quanto ao direcionamento dos trabalhos, seguem o protocolo de estudo de caso. Com o objetivo de sistematizar a forma pela qual ocorreu o andamento da pesquisa, adotou-se o modelo de protocolo elaborado por Yin, (2005, p. 92), o qual estabeleceu que o uso do protocolo tem por objetivo dar credibilidade às pesquisas de estudo de caso, sendo também destinado a nortear o trabalho do pesquisador quanto à coleta de dados, dividido nas seguintes etapas:

a) visão geral do projeto; b) procedimentos de campo; c) questões do estudo de caso; d) guia para relatório do estudo de caso. Este trabalho não visa avaliar se as metodologias usadas são corretas ou não. Acrescenta-

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se que a pesquisa limitou-se à percepção que os acadêmicos, matriculados no período delimitado, possuem sobre as práticas docentes durante o curso, o relacionamento entre docentes e discentes, PPP e infra-estrutura. Sendo assim, os resultados obtidos formam um panorama global do curso e não devem ser tomados como base para outros cursos ou períodos letivos.

Destaca-se que o questionário foi elaborado a partir de pesquisas sobre a Andragogia e a Pedagogia, sendo construído a partir das respectivas concepções, porém, a interpretação final quanto às questões é do respondente. 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Seguindo a estrutura de relatório definida no protocolo de estudo de caso, a pesquisa

segregou a descrição e análise dos dados em três seções: introdução, contextualização e desenvolvimento. 4.1 Introdução

A realização da pesquisa compreendeu os meses de março a outubro de 2010 na Unioeste, campus de Cascavel.

O curso objeto da presente pesquisa, Ciências Contábeis, pertence ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), que, no campus de Cascavel, compreende também os cursos de Administração e Ciências Econômicas.

A graduação em Ciências Contábeis, em Cascavel, foi implantada no ano de 1976, autorizada mediante o Decreto Federal nº 77.964 de 06/07/79, funcionava no prédio da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cascavel (Fecivel), sendo posteriormente transferida para sede atual da Unioeste (Resolução nº 295, 2006, p.3).

Hoje, o curso oferta 40 vagas anualmente para o período noturno, com tempo mínimo para conclusão de cinco anos e no máximo oito, sendo a carga horária de 3570 horas aulas e confere ao egresso o título de Bacharel em Ciências Contábeis (PPP, 2006, p.1).

4.2 Contextualização

Para a realização da pesquisa utilizou-se a aplicação de questionários aos acadêmicos do terceiro ao quinto ano e observação das turmas citadas, isso, a fim de verificar os seguintes pontos: a prática docente, a estrutura física, a relação entre docentes e discentes e o PPP, com o objetivo de responder à questão: qual a relação dos pontos avaliados no curso de Ciências Contábeis com os parâmetros andragógicos e pedagógicos?

Para responder ao problema, foram propostas, baseado no protocolo de estudo de caso, duas questões:

a) quais as características relevantes da pedagogia e da andragogia, segundo a literatura? b) sob ótica andragógica e pedagógica, como os pontos delimitados no curso de Ciências Contábeis da Unioeste são caracterizados?

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4.3 Desenvolvimento

Com o objetivo de responder as questões delineadas no protocolo de estudo de caso, nesta seção, foram apresentados e discutidos os dados obtidos no estudo.

A primeira questão refere-se às características relevantes da pedagogia e da andragogia, segundo a literatura. Essa pergunta permitiu confrontar a teoria pedagógica e andragógica, assim, pode-se extrair as seguintes conclusões a partir dos autores estudados:

a) amplitude: os autores percebem a pedagogia em um universo amplo da educação, tanto Libâneo (2009), Luckesi (1991) e Luzuriaga (2001), afirmam que a Pedagogia não se restringe a forma pela qual se ministra aula, mas que este ramo da ciência ocupa-se com a problemática da educação na totalidade. Já na esfera andragógica, o foco está nas especificidades dos alunos adultos, assim, a problemática da andragogia se estabelece dentro do universo educacional desse aluno em específico. É possível inferir a dificuldade em se estabelecer a andragogia como um ramo autônomo, devido a amplitude da pedagogia, o que faz alguns autores classificarem a andragogia como uma vertente da pedagogia; b) papel do discente e do docente: como destaca DeAquino (2007, p.12), a pedagogia concebe o aluno como aprendiz dependente do docente, enquanto a andragogia percebe o discente como ser independente e com vontade própria. Dentro da percepção pedagógica, o professor é protagonista no processo de ensino e aprendizagem, já na andragogia, o docente é um elemento partícipe no processo, cujos protagonistas são os alunos. Portanto, na pedagogia, é o professor quem define a forma de trabalho e o que será trabalhado, enquanto que na andragogia são realizadas negociações entre professor e alunos; c) ambiente de sala de aula: na pedagogia o principal elemento no ambiente é o professor; desta forma, é a figura do docente o principal elemento na sala de aula. Ao contrário, na andragogia, o ambiente deve ser uma combinação de elementos que propiciem o aprendizado, portanto, além da figura do professor, o ambiente (sala de aula, laboratórios e biblioteca) também é visualizado como elemento no processo do ensino e aprendizagem; d) conteúdos: enquanto na pedagogia o professor define os conteúdos a serem trabalhados, na andragogia, além de existir a negociação entre professor e alunos, as experiências destes servem como base para a aprendizagem. A discussão dos planos de ensino e do PPP na andragogia é sugerida com a participação dos alunos, pois estes estão inclusos no processo de ensino e aprendizagem, de modo ativo. Na pedagogia, embora exista essa discussão, os alunos são visualizados como receptores de conhecimento, logo, subentende-se que os mesmos não detêm o conhecimento para as finalidades citadas; e) avaliação: na pedagogia a avaliação ocorre pela aplicação de provas e atribuição de notas realizadas pelos docentes aos discentes, assim, a mensuração do quanto foi aprendido e da qualidade do ensino ocorre por essa via. Na andragogia, isso não se apresenta como regra, sendo comum auto-avaliações e reflexões sobre a prática, com o objetivo de se verificar a qualidade do ensino e da aprendizagem. A característica central de cada teoria refere-se a forma de conceber o aluno, a pedagogia

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responsabiliza-se pelo discente, enquanto a andragogia compartilha esta responsabilidade. É evidente que como a andragogia foi desenvolvida para lidar com pessoas adultas, apresentasse esse caráter de autonomia.

DeAquino (2007, p.13) sugere que para ter-se eficácia e eficiência no processo de aprendizagem, os professores e a organizações educacionais devem conseguir identificar a combinação correta entre as duas abordagens.

Isto não significa que é preciso escolher uma ou outra, mas que mediante a realidade específica, deve-se aplicar aquela que atenderá melhor as necessidades e gerará aprendizagem. Diante disso, DeAquino (2007, p.15) afirma que a combinação e/ou escolha entre andragogia e pedagogia, no processo de aprendizagem, depende de fatores, dentre os quais destacam-se: o nível de desenvolvimento intelectual do aprendiz, as experiências educacionais anteriores dos alunos, os estilos de aprendizagem e os objetivos educacionais, o ambiente educacional e o ambiente externo.

A partir do que foi identificado pelo estudo bibliográfico, apresenta-se os dados obtidos pelos instrumentos de pesquisa, com objetivo de evidenciar como se apresenta a realidade das variáveis estudadas.

O instrumento foi elaborado a partir de dois estudos: o questionário aplicado na tese de doutorado de Maria Saleti Lock Vogt (2007), que trata dos princípios andragógicos no contexto de ensino-aprendizagem da fisioterapia, e do artigo uma auto-avaliação de cursos – uma experiência do curso de Ciências Contábeis da Unioeste, de autoria de Silva et al.(2008).

No total, foram 93 respondentes, destes: os alunos do quinto ano somaram 38, 23 são do sexo masculino (60,53%) e 18 (47,37%) tem entre 24 a 30 anos de idade; 35 alunos (92,11%) estavam empregados, destes, 23 (65,71%) não trabalham na área contábil, e dentre as áreas profissionais que foram listadas, as mais encontradas foram serviço público, comercial, bancária e administrativa. No quarto ano, 29 discentes responderam o instrumento, desse total, 19 são do sexo masculino (65,52%), a faixa etária predominante é entre 20 a 23 anos de idade que somam 18 (60,07%) alunos; do total de respondentes 28 (96,56%) estavam empregados, e sobre a área de atuação profissional, dos que responderam estar empregados, 15 (53,58%) atuam na área contábil; os respondentes do terceiro ano somaram 26, os quais, 14 (53,85%) são do sexo feminino e a faixa etária predominante é de 20 a 23 anos de idade, totalizando 17 (65,38%) alunos; 24 (92,31%) estão empregados, desse total, quanto à área de atuação profissional, apresenta-se equitativo, pois, 13 (54,17%) não atuam na área contábil, e as áreas mais listadas foram o serviço público, administrativa, bancária e financeira.

Ao coligir os dados das três turmas percebeu-se que maior percentual é do quinto ano (40,86%), além disso, de modo global encontrou-se o seguinte perfil: 58,07% são do sexo masculino, 51,61% tem entre 20 e 23 anos de idade, 93,55% estão empregados, mas destes, 56,32% não atuam na área contábil, sendo que as áreas mais citadas foram serviços público, administrativa e bancária.

Para se obter um panorama, reuniram-se os resultado/percentuais obtidos em cada variável nas afirmativas andragógicas. Portanto, aquelas em que houve concordâncias, julgou-se como andragógicas, enquanto que aquelas em que houve discordâncias classificaram-se em pedagógicas. Os resultados obtidos em cada turma foram aglutinados e estudados em conjunto para obter-se uma média geral do curso em cada variável e facilitar o entendimento.

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O estudo usou a legenda “C” para concordo, “I” para indecisos e “D” para discordo. A Tabela 1 apresenta, na visão dos estudantes, a caracterização da prática docente.

TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS DA PRÁTICA DOCENTE NO CURSO (3º AO 5º ANO)

Afirmativas % C % I % D a) Os professores sempre negociam trabalhos com os discentes. 33,33% 31 22,58% 21 44,09% 41 b)Durante as aulas é usada a abordagem do aprender fazendo. 38,71% 36 27,96% 26 33,33% 31 c)Os docentes motivam os alunos a aprender o que eles precisam aprender, por meio do destaque do objetivo do conteúdo e sua aplicação no dia-a-dia. 23,66% 22 30,11% 28 46,24% 43 d) Os professores entendem que os alunos são as melhores fontes de idéias para melhorar o ensino e a educação. 17,20% 16 34,41% 32 48,39% 45 e) Além de aulas expositivas, atividades como estudos de caso, seminários, painéis, vídeos, entre outros, são freqüentes nas aulas. 63,44% 59 13,98% 13 22,58% 21 f) Para usar a experiência dos alunos e fontes para aprendizagem, faz-se uso de mais atividades em grupo do que aulas expositivas. 22,58% 21 25,81% 24 51,61% 48 g) Os docentes compreendem que a aprendizagem efetiva ocorre com mais frequência quando alunos participam ativamente na decisão do que deve ser aprendido e como deve ser aprendido. 7,53% 7 19,35% 18 73,12% 68 h) Existem testes/verificações preparados pelos alunos com freqüência. 35,48% 33 34,41% 32 30,11% 28 i)São realizadas avaliações de competências para favorecer a avaliação mútua, os balanços de conhecimentos e a auto avaliação. 9,68% 9 26,88% 25 63,44% 59

Média 27,96% 26 26,16%

24 45,88% 43 FONTE: Os autores (2010)

Acerca da prática docente e de modo geral, o curso não apresentou natureza andragógica, pois em média, 45,88% discordaram das sentenças andragógicas, enquanto que 27,96% concordaram e 26,16% ficaram em dúvida.

Sobre a negociação dos trabalhos (item a), 44,09% discordaram de existência dessa prática. Além disso, 48,39% alegaram que os professores não se reportam aos alunos para que os mesmos contribuam com idéias para as aulas (item d).

O ponto em que percebeu-se característica andragógica acentuada, foi o que tratou sobre a diversidade de metodologias nas aulas (item e), na qual 63,44% afirmaram que no curso estudado existe a prática de adotar-se várias formas de se ensinar.

Entretanto, 51,61% afirmam que se tem mais utilização de aulas expositivas do que trabalhos em grupos (item f). Ademais 73,12% dos discentes afirmaram que os docentes não percebem que a aprendizagem efetiva do aluno ocorre quando há participação do discente no processo de aprendizagem (item g).

Isso evidencia uma postura pedagógica da maioria do corpo docente, pois o mesmo centra nele o processo de ensino e aprendizagem e relega ao aluno a posição de ouvinte e/ou receptor.

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Outro ponto que não foi detectado refere-se à prática de auto avaliações e avaliações de competências, pois 63,44% discordaram dessa afirmativa (item i). Esse tipo de atividade pode ser usado como meio diagnosticar o status do ensino e da aprendizagem e assim contribuir com desenvolvimento do curso.

A tabela 2 trouxe afirmativas, cujo assunto é a caracterização andragógica/pedagógica da estrutura do curso e compreende a avaliação das salas de aula, laboratórios de informática e biblioteca:

TABELA 2 – CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA CURSO (3º AO 5º ANO)

Afirmativas % C % I % D a)A estrutura das salas de aula favorecem a maneira como é conduzido os processos de aprendizagens e a qualidade dos resultados. 45,16% 42 12,90% 12 41,94% 39 b)A estrutura da sala apresenta boa iluminação,ventilação, acústica, com mesas e cadeira confortáveis e contribui positivamente na aprendizagem. 27,96% 26 10,75% 10 61,29% 57 c)O uso de laboratórios de informática ocorre com regularidade para contribuir com a apreensão dos conteúdos do curso. 37,63% 35 15,05% 14 47,31% 44 d)O número de máquinas e a qualidade dos equipamentos estão adequadas para as aulas no laboratório. 51,61% 48 17,20% 16 31,18% 29 e)Os laboratórios de informática apresentam-se em plenas condições para uso. 54,84% 51 16,13% 15 29,03% 27 f)Você usa o acervo da biblioteca como fonte para os estudos relacionados com os conteúdos e com fatos da vida. 49,46% 46 11,83% 11 38,71% 36 Média 44,44% 41 13,98% 13 41,58% 39 FONTE: Os autores (2010)

A estrutura do curso, embora tenha obtido maior percentual andragógico, não representou expressividade no resultado, pois não foi tão mais divergente do que o contrário, pois 44,44% concordaram com as sentenças andragógicas, enquanto 41,58% discordaram.

Percebeu-se uma situação curiosa, pois embora os alunos concordem (45,16%) que a sala favoreça ao aprendizado (sentença a), 61,29% julgam que ela não contribui positivamente para o aprendizado, (item b). Tal situação antagônica pode ser devido ao julgamento dos discentes em reconhecer que a sala em que estudam é confortável, porém, não atende a todas especificidades idealizadas pela teoria andragógica e citadas na afirmativa b.

Outro ponto acerca dessa questão é sobre o viés detectado em uma das turma, pois, na questão em que se solicitava se julgavam a sala confortável, (item a), 45,16% concordaram, enquanto que 41,94% discordaram, apenas a turma do quarto ano concordou com a afirmativa, entretanto, o percentual foi tão expressivo (82,76%) que influenciou o resultado global.

Verificou-se também, vertentes da Andragogia em alguns pontos da estrutura, principalmente nos laboratórios de informática, (item d), cuja qualidade foi considerada adequada pelos discentes (51,61% concordaram), bem como aprovação na condição de uso do local, (afirmativa e), 54,84% dos alunos concordaram.

A pesquisa mostrou também que muitos alunos utilizam o acervo da biblioteca como

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fonte de estudos e até mesmo para outros fins, pois 49,46%, praticamente metade dos respondentes, concordaram com a afirmativa f.

A Tabela 3 abordou o relacionamento entre docentes e discentes do curso de Ciências Contábeis da instituição estudada. TABELA 3 – CARACTERÍSTICAS DO RELACIONAMENTO ENTRE DOCENTES E DISCENTES NO CURSO (3º AO 5º ANO)

Afirmativa % C % I % D a) A competição entre alunos e o interesse pela aprendizagem são estimulados pelos docentes. 17,20% 16 24,73% 23 58,06% 54 b) O professor demonstra aos alunos que a capacidade e as experiências deles são respeitadas. 48,89% 44 26,67% 24 24,44% 22 c) O professor proporciona oportunidades para um relacionamento cordial com os alunos e entre os alunos. 63,44% 59 24,73% 23 11,83% 11 d) Os docentes cultivam um relacionamento cordial que influencia positivamente na aprendizagem. 59,14% 55 32,26% 30 8,60% 8 e) Os docentes que não apresentam bom relacionamento com os alunos tem suas aulas prejudicadas. 77,42% 72 9,68% 9 12,90% 12 f) Os docentes discutem suas dúvidas e seus saberes com os alunos. 45,16% 42 26,88% 25 27,96% 26 Média 51,88% 48 24,16% 22 23,97% 22 FONTE: Os autores (2010)

Esta variável demonstrou-se andragógica, pois 51,88% dos discentes concordaram com as sentenças.

Percebeu-se que apenas na afirmativa “a” não obteve concordância , a qual os discentes discordaram (58,06%) de que os docentes estimulam a competição e o interesse pela aprendizagem.

Também verificou-se que o bom relacionamento entre docentes e discentes é considerado como fator relevante para os respondentes, pois a sentença “d”, a qual afirmava que relacionamento cordial do docente influencia positivamente a aprendizagem obteve 59,14% de concordância, fato corroborado pelo resultado mais expressivo das questões sobre o assunto, a sentença “e”, que deteve 77,42% de concordância e afirmou que docentes que não possuem uma boa relação com os discentes tem as aulas prejudicadas.

Portanto, a existência de relacionamentos amistosos entre professores e alunos impacta significativamente o processo de ensino e aprendizagem.

A Tabela 4 evidencia os resultados obtidos acerca a avaliação das características do PPP.

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TABELA 4 –CARACTERÍSTICAS DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO (3º AO 5º ANO)

Afirmativas % C % I % D a) A grade curricular apresentada é construída coletivamente entre docentes e discentes. 6,45% 6 13,98% 13 79,57% 74 b) A grade curricular apresentada atende as suas necessidades, sejam elas profissionais ou pessoais. 11,70% 11 27,66% 26 60,64% 57 c) A grade curricular é construída com apoio dos alunos. 6,45% 6 10,75% 10 82,80% 77 d) Você conhece, questiona e preocupa-se com o Projeto Político Pedagógico do Curso de Ciências Contábeis e com os objetivos almejados pelo curso. 22,58% 21 18,28% 17 59,14% 55 Média 11,80% 11 17,67% 16,5 70,54% 65,75 FONTE: Os autores (2010)

Os conhecimentos sobre o PPP por parte dos alunos são mínimos. A Andragogia prevê que os alunos não só tenham acesso, como participem dos processos que envolvem a elaboração e avaliação do PPP, mas, 70,54% dos alunos, em média, discordaram das afirmativas. Percebeu-se que não houve concordância em nenhuma das afirmativas.

Todos os resultados podem ser considerados críticos, uma vez que apresentaram mais de 50% de discordância. A grade curricular não é construída coletivamente com os alunos (79,57%), item a, e os mesmos nem consideram que ela atenda as necessidades pessoais ou profissionais, como evidencia o percentual de 60,64% de alunos discordantes da sentença b. Além disso, a construção da grade não tem o apoio dos mesmos como mostrado pelo percentual dos alunos que discordaram da sentença c (82,80%),

Indagados se questionam e se conhecem o PPP e os objetivos do curso 59,14% afirmaram não conhecê-los, item d. 5 CONCLUSÕES

Com os resultados aferidos a partir do presente estudo, verificou-se a forma pela qual os

discentes do terceiro, quarto e quinto anos percebem a prática docente, a estrutura, o relacionamento entre docentes e discentes e o PPP, no curso de Ciências Contábeis, ano letivo de 2010, com base nos parâmetros da teoria pedagógica e andragógica.

O estudo chegou aos seguintes resultados: a prática docente apresentou 45,88% de discordâncias nas sentenças andragógicas, a estrutura física teve 44,44% de concordantes com a Andragogia, embora esses dados apresentem um viés, em virtude do resultado obtido na turma do quarto ano ter forçado o tal enquadramento da variável. O relacionamento entre docentes e discentes também apresentou tendência andragógica, com 51,88% de concordância, enquanto que o PPP obteve 70,54% de discordância com a teoria andragógica.

A pergunta proposta: Qual a relação dos pontos avaliados no curso de Ciências Contábeis com os parâmetros andragógicos e pedagógicos?

Os autores consultados acerca da Pedagogia afirmam que esta é responsável pelo estudo

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do processo educativo de maneira total, assim, os pontos delimitados precisam ser avaliados à luz da pedagogia, enquanto a ciência da educação.

Quanto ao relacionamento com a andragogia, a universidade não compreende apenas o ingresso de discentes jovens. Além disso, os jovens recebidos pelas IES, durante a formação acadêmica, tornam-se adultos e são devolvidos à sociedade como profissionais para atuarem no mercado de trabalho, com formação crítica e cultural para contribuir no desenvolvimento social da comunidade.

O relacionamento entre a prática docente, estrutura da universidade, relacionamento entre docentes e discentes e PPP, com as teorias andragógicas e pedagógicas se faz pertinente, pois para pensar o processo educativo intencional, de maneira sistematizada, é necessário o uso de ramos científicos que tenham esse contexto no universo do objeto de estudo.

Assim, os pontos considerados com predomínio de características pedagógicas pelos respondentes, o PPP e a prática docente, não se apresentam com responsabilidade compartilhada com os discentes, já que os mesmos não discutem a formulação desses pontos, e no caso do PPP, em especial, nem demonstram conhecimento. Isso remete à pedagogia, em virtude da responsabilidade estar direcionada ao coordenador e aos docentes do curso.

Já a estrutura física e o relacionamento entre docentes e discentes mostraram características andragógicas.

No caso da estrutura, o resultado andragógico deveu-se ao percentual encontrado na sala da turma do quarto ano, que apresenta estrutura mais confortável que as demais salas das turmas pesquisadas, pois as cadeiras são almofadadas, com ar condicionado e projetor instalado. A satisfação com a sala foi tão representativa, que se sobrepôs aos resultados das turmas do quinto e terceiro ano, que não consideram as salas em que estudam adequadas.

O relacionamento entre docentes e discentes, caracterizado pelos parâmetros andragógicos, revela-se de forma cordial, pois não há imposição de autoridade, como no caso de crianças. Isso deve-se ao o perfil dos respondentes, alunos adultos, trabalhadores, que ingressam no ensino superior com objetivo de desenvolver-se em níveis profissionais e pessoais.

A realização de uma pesquisa profunda como o estudo de caso, permite ao pesquisador adentrar no universo pesquisado, conhecer a realidade e sugerir ações, apontamentos, diagnósticos, pareceres e uma série de contribuições oriundas dessa reflexão sistemática e consistente.

O presente estudo tem como contribuição principal fornecer subsídios para o aprimoramento do curso. Buscou-se conhecer a realidade do ambiente no qual está inserido o Curso de Ciências Contábeis do Campus de Cascavel, com vistas a identificar como o curso é percebido pelos discentes.

Os resultados aferidos podem servir como base para os docentes conhecerem o curso em que atuam e, assim, verificar aspectos que podem ser melhorados.

Contribuiu-se também no sentido de permitir aos discentes expressarem a opinião sobre o curso, pois são os maiores interessados com a qualidade, por ser este um meio de aprimoramento profissional e pessoal.

Recomenda-se o uso de avaliações para outros cursos, no sentido de aprimorá-los, e, no caso de cursos da Unioeste, conhecer o perfil da instituição.

Como este estudo limita-se à percepção dos alunos do terceiro ao quinto ano, ano letivo

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de 2010, pode-se realizar o mesmo estudo em turmas de anos anteriores/posteriores e confrontar os resultados obtidos em ambos os estudos, para verificar se houveram mudanças percebidas pelos acadêmicos.

Considerando também que a maioria dos pontos avaliados se apresentaram com tendências pedagógicas, pode-se realizar estudos com o objetivo de identificar o porquê de se manifestarem dessa forma, ou mesmo, verificar se o corpo docente e discente do curso está receptível ou preparado para adoção da teoria andragógica. Sugere-se também uma pesquisa participante em algumas disciplinas, segregadas por bimestre/semestre, com enfoque andragógico e pedagógico e uma autoavaliação do processo e resultados.

Recomenda-se um estudo dessa natureza, realizado com os docentes do curso, para que estes possam avaliar-se e para que seja verificado qual a percepção dos professores do curso.

REFERÊNCIAS

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