avaliaÇÃo de misturas asfÁlticas recicladas...

18
42ª RAPv - REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO E 18ºENACOR – ENCONTRO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO RODOVIÁRIA Foz do Iguaçu, PR - 18 a 21 de agosto de 2015 AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS MORNAS EM LABORATÓRIO E USINA DE ASFALTO Marcelo Zubaran 1 ; Laura Maria Goretti da Motta 2 RESUMO A comunidade acadêmica e a indústria da pavimentação asfáltica buscam aliar mecanismos teóricos e práticos para racionalizar e reutilizar os insumos onerosos e não renováveis necessários para a construção de concretos asfálticos. Duas tecnologias emergem no cenário da pavimentação como solução a estas demandas, mas que juntas carecem de método específico: as misturas mornas e a reciclagem a quente. Este trabalho resume uma pesquisa feita para avaliar o comportamento de misturas recicladas a quente em laboratório e misturas recicladas mornas em uma usina de asfalto preparada para processar o RAP em módulo especial e promover a espuma asfáltica como técnica de mistura morna. Para tanto, criaram-se projetos em laboratório com diferentes taxas de RAP e agente rejuvenescedor. Em usina foram fabricadas duas misturas, uma de referência sem RAP e outra com 50% de RAP. Avaliaram-se as condições de contorno durante a usinagem e foram monitoradas as temperaturas de usinagem e compactação das misturas recicladas mornas, aplicadas dentro da Ilha do Fundão, UFRJ, na cidade do Rio de Janeiro. Avaliação volumétrica, mecânica e sobre o envelhecimento do ligante asfáltico ao longo dos processos produtivos indicam viabilidade econômica, ambiental e técnica da reciclagem morna mediante critérios de seleção de materiais e projetos e considerando as características dos equipamentos utilizados. PALAVRAS-CHAVE: (Misturas Asfálticas Recicladas Mornas, Reciclagem a Quente, Mistura Morna e Comportamento Mecânico) ABSTRACT The academic community and the asphalt paving industry seek to combine theoretical and practical mechanisms to reduce and reuse expensive and non-renewable materials required for the construction of Asphalt Concrete. Two technologies grow in the scenario of asphalt pavement as a solution to those demands but when together, they still require specific methodologies: Warm Mix Asphalt and Hot Recycling. This paper is part of a research that looks for evaluating the performance of hot recycling mixtures in laboratory and warm recycling mixtures in an asphalt plant, prepared to process the RAP in a special unit and to create foaming bitumen as a warm mix technology. Therefore, mix designs were developed with different percentages of RAP and a rejuvenating agent. In plant, two different mixtures were developed, one called reference mixture and another with 50% of RAP. The modeling work were evaluated during the production in the asphalt plant and the production and application temperatures were monitored in the job site, at Ilha do Fundão, UFRJ, in Rio de Janeiro. Volumetric, mechanical and binder aging during the production process were evaluated and indicate economic, environmental and technical viability depending on the projects and material criteria, considering the materials and equipment’s used. KEY WORDS: (Warm Recycling Asphalt Mixtures, Hot Recycling, Warm Mix Asphalt and Mechanical Behavior)

Upload: lythu

Post on 11-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

42ª RAPv - REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO

E

18ºENACOR – ENCONTRO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO

RODOVIÁRIA

Foz do Iguaçu, PR - 18 a 21 de agosto de 2015

AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS MORNAS EM

LABORATÓRIO E USINA DE ASFALTO

Marcelo Zubaran 1; Laura Maria Goretti da Motta 2

RESUMO A comunidade acadêmica e a indústria da pavimentação asfáltica buscam aliar mecanismos teóricos e práticos para

racionalizar e reutilizar os insumos onerosos e não renováveis necessários para a construção de concretos asfálticos. Duas

tecnologias emergem no cenário da pavimentação como solução a estas demandas, mas que juntas carecem de método

específico: as misturas mornas e a reciclagem a quente. Este trabalho resume uma pesquisa feita para avaliar o

comportamento de misturas recicladas a quente em laboratório e misturas recicladas mornas em uma usina de asfalto

preparada para processar o RAP em módulo especial e promover a espuma asfáltica como técnica de mistura morna. Para

tanto, criaram-se projetos em laboratório com diferentes taxas de RAP e agente rejuvenescedor. Em usina foram

fabricadas duas misturas, uma de referência sem RAP e outra com 50% de RAP. Avaliaram-se as condições de contorno

durante a usinagem e foram monitoradas as temperaturas de usinagem e compactação das misturas recicladas mornas,

aplicadas dentro da Ilha do Fundão, UFRJ, na cidade do Rio de Janeiro. Avaliação volumétrica, mecânica e sobre o

envelhecimento do ligante asfáltico ao longo dos processos produtivos indicam viabilidade econômica, ambiental e

técnica da reciclagem morna mediante critérios de seleção de materiais e projetos e considerando as características dos

equipamentos utilizados.

PALAVRAS-CHAVE: (Misturas Asfálticas Recicladas Mornas, Reciclagem a Quente, Mistura Morna e Comportamento Mecânico)

ABSTRACT The academic community and the asphalt paving industry seek to combine theoretical and practical mechanisms

to reduce and reuse expensive and non-renewable materials required for the construction of Asphalt Concrete. Two

technologies grow in the scenario of asphalt pavement as a solution to those demands but when together, they still require

specific methodologies: Warm Mix Asphalt and Hot Recycling. This paper is part of a research that looks for evaluating

the performance of hot recycling mixtures in laboratory and warm recycling mixtures in an asphalt plant, prepared to

process the RAP in a special unit and to create foaming bitumen as a warm mix technology. Therefore, mix designs were

developed with different percentages of RAP and a rejuvenating agent. In plant, two different mixtures were developed,

one called reference mixture and another with 50% of RAP. The modeling work were evaluated during the production in

the asphalt plant and the production and application temperatures were monitored in the job site, at Ilha do Fundão, UFRJ,

in Rio de Janeiro. Volumetric, mechanical and binder aging during the production process were evaluated and indicate

economic, environmental and technical viability depending on the projects and material criteria, considering the materials

and equipment’s used.

KEY WORDS: (Warm Recycling Asphalt Mixtures, Hot Recycling, Warm Mix Asphalt and Mechanical Behavior)

Page 2: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

INTRODUÇÃO

O concreto asfáltico ou concreto betuminoso usinado a quente – CA ou CBUQ - é a mistura de

agregados de vários tamanhos e CAP - Cimento Asfáltico de Petróleo – em proporções definidas em

um projeto baseado em características volumétricas e mecânicas requeridas para uso em

pavimentação, de acordo com o tipo de estrutura. Estes insumos são provenientes da natureza com

características intrínsecas dos processos naturais de formação e de industrialização, conferindo às

misturas asfálticas propriedades que dependem destas origens e do processamento. Os custos para

produção de CA são elevados por se tratar de grandes volumes necessários aos quilômetros de

estradas existentes e por construir, portanto é fundamental pensar na economia de agregados e de

CAP virgens.

Além disso, a fabricação do concreto asfáltico em usina resulta em impactos ambientais decorrentes

principalmente das temperaturas de usinagem. O ligante asfáltico, responsável por dar flexibilidade

e manter a mistura coesa, necessita de aquecimento para atingir a viscosidade necessária para a

mistura com os materiais pétreos que, por sua vez, precisam estar aquecidos e isentos de umidade

para obter adesão com o ligante. Assim, na tecnologia tradicional, o aquecimento a altas temperaturas

(tipicamente entre 150ºC e 160ºC) destes materiais é inevitável.

Misturas asfálticas sustentáveis têm sido estudadas há alguns anos no sentido de melhorar ou

substituir as técnicas tradicionais de misturas a quente. As principais tecnologias sustentáveis são as

misturas mornas ou WMA – Warm Mix Asphalt – a partir da redução das temperaturas de usinagem

e compactação e a reciclagem a quente em usina de asfalto com uso do resíduo da fresagem do

pavimento, conhecido como RAP - Reclaimed Asphalt Pavement - como um insumo, junto com

materiais virgens, na produção de misturas asfálticas. Ultimamente tem-se pesquisado o uso de RAP

em misturas mornas, sendo esta técnica a mais promissora por juntar as duas técnicas (mistura morna

e reciclagem) e permitir obter misturas com baixo custo, adequada qualidade e com produção factível

em usina convencional, popularmente chamada de “usina de asfalto”.

Fora das fronteiras brasileiras, principalmente na América do Norte e Europa, misturas asfálticas mais

econômicas e com vantagens ambientais e operacionais avançaram significativamente na última

década. Conforme NAPA 2014, em 2013 mais de 30% das misturas asfálticas fabricadas nos Estados

Unidos da América apresentaram alguma tecnologia de mistura morna, sendo 87% das misturas

mornas a partir do processo de espuma asfáltica produzida em usina de asfalto. O mesmo relatório da

NAPA relata que a taxa de reciclagem de asfalto nos Estados Unidos é maior que 99% e 100% dos

contratistas reportaram uso de RAP em 2013. Na França em 2012 as misturas mornas já

representavam 7,5% de toda produção de misturas asfálticas no referido país. Na Noruega em 2012

as autoridades de inspeção dos trabalhadores do país procuraram acelerar o uso de misturas mornas.

Para atingir este objetivo, a administradora das rodovias norueguesas promoveu uma recompensa de

4 euros por tonelada de mistura asfáltica quando produzida a temperatura inferior a 25ºC em relação

a uma mistura convencional, assumindo a mesma qualidade da referência. Na Suíça está a caminho

a inclusão das tecnologias de misturas mornas nas normas locais. Outros países europeus como Suécia

e Turquia vêm apostando forte nas misturas mornas (EAPA; 2014).

No Brasil, a experiência é ainda pequena sobre asfalto morna e reciclagem a quente, de forma mais

generalizada no meio técnico e não se tem uma estatística oficial destas misturas já aplicada e dos

resultados obtidos, nem quais técnicas têm sido testadas. O Departamento Nacional de Infraestrutura

de Transporte - DNIT - disponibiliza uma norma para produção de misturas recicladas a quente em

usina (DNIT - ES 033/2005), porém não muito detalhada e não estabelece diretrizes para a aplicação

Page 3: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

destas misturas, especialmente em associação à mistura morna. Sobre as misturas mornas, não há

ainda norma brasileira, ao que se saiba, que trate das várias tecnologias possíveis, muitas

desenvolvidas nos anos 1990 na Europa e com aplicações em crescimento acelerado nos últimos anos.

A presente pesquisa foi realizada a partir de um projeto cooperação entre a COPPE/UFRJ e a

Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro – PMCRJ. A primeira contribuiu com a execução

dos procedimentos laboratoriais e a segunda com a usina, localizada no bairro do Caju na cidade do

Rio de Janeiro, e o local de aplicação.

O objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento volumétrico e mecânico de misturas recicladas

a quente produzidas em laboratório com diferentes taxas de RAP e misturas morna e reciclada morna

fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência, produzida com base

na tecnologia tradicional. Pretendeu-se também avaliar o comportamento reológico dos ligantes

virgens (antes e após o ensaio de envelhecimento RTFOT) e os ligantes extraídos das misturas

fabricadas em usina de asfalto. As avaliações foram relativas à mistura de referência (sem RAP)

visando identificar as variações de características decorrentes das tecnologias de reciclagem a quente

e morna e avaliação absoluta relacionada com a aplicabilidade destas tecnologias em condições reais.

Também objetiva-se contribuir para a criação futura de um método que permita estabelecer

parâmetros tangíveis para produção de misturas recicladas mornas em usina de asfalto com

espumação para aplicação como revestimento asfáltico, considerando as características dos

equipamentos e materiais disponíveis.

MATERIAIS

Agregados - Origem e Propriedades Físicas

Os agregados utilizados neste projeto são de origem granito e foram coletados nas dependências do

canteiro de obras da PMCRJ. As características físicas dos agregados estão na tabela 1. Tipicamente

os agregados disponíveis na região do estado do Rio de Janeiro são ácidos, conferindo dificuldade de

adesividade com o ligante asfáltico. A PMCRJ não utiliza aditivo melhorador de adesividade nem cal

hidratada, materiais estes que normalmente reduzem o dano da mistura pela umidade.

Tabela 1: Resultados dos ensaios de massa específica e absorção dos agregados utilizados nas

misturas asfálticas dos projetos desta pesquisa.

Agregado Procedimento Massa Específica

real [g/cm³]

Massa Específica

Aparente [g/cm³]

Absorção [%]

Graúdo DNER ME 081/98 2,731 2,669 0,85

Intermediário DNER ME 081/98 2,747 2,629 1,63

Fino ASTM C128/01 2,625 2,625 -

Como se trata de uma usina descontínua tipo gravimétrica, os agregados foram coletados nos silos

quentes da usina para realização dos ensaios físicos e construção das curvas granulométricas. A

granulometria dos agregados está na tabela 2.

Page 4: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Tabela 2: Granulometria dos agregados virgens utilizados nos projetos desta pesquisa.

PASSANTES [%]

PENEIRA [mm] Graúdo Intermediário Fino

3/4' 19,1 100,0 100,0 100,0 1/2" 12,7 49,4 100,0 100,0

3/8" 9,5 21,4 96,1 100,0

Nº.4 4,76 5,0 18,4 97,0

Nº.8 2,38 0,7 3,2 74,0

Nº.16 1,18 0,4 2,3 54,0

Nº.30 0,59 0,3 1,9 40,0

Nº. 50 0,3 0,2 1,4 28,0

Nº.100 0,15 0,1 0,8 16,0

Nº.200 0,075 0,1 0,5 7,0

Material Fresado - RAP

O material fresado da pesquisa é proveniente de uma importante avenida da cidade de Rio de Janeiro

chamada popularmente de Linha Vermelha, cujo nome oficial é Av João Goulart. O RAP foi

armazenado nas dependências do canteiro de obras da Usina da Prefeitura e separado exclusivamente

para a pesquisa, conforme figura 1. A fresagem ocorreu durante a preparação da cidade para a Copa

do Mundo de futebol de 2014, e a condição do trecho estava ainda relativamente boa. Apesar de

trincada, estava sem remendos, o que facilitou para que o RAP fosse mais uniforme.

Figura 1: Armazenamento do RAP utilizado na presente pesquisa.

É fundamental armazenar o material fresado em local coberto a fim de evitar excesso de pó e umidade

que podem ser limitantes para o processo de reciclagem a quente quando presente em grande

proporção. Como o sistema de beneficiamento do RAP não estava instalado durante o período desta

pesquisa, focou-se em obter um RAP de boa qualidade e isto foi garantido como mostram os ensaios

de granulometria e teor de ligante do fresado. As amostras de RAP apresentaram pequenas variações

nas características. Foram coletadas 9 amostras, porém duas foram descartadas por não estarem em

conformidade com as demais amostras por terem sido coletadas muito na borda da pilha. A tabela 3

resume as granulometrias do RAP, após extração do ligante, e os teores de CAP das mesmas amostras.

Page 5: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Tabela 3: Resumo das granulometrias e teor de CAP das amostras de RAP.

Peneira Amostras – Passantes [%]

# [mm] 2 3 4 5 7 8 9 Média

3/4' 19,1 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1/2" 12,7 90,7 91,1 90,0 91,2 90,4 91,3 88,9 90,5

3/8" 9,5 86,2 83,8 84,7 85,8 84,5 86,0 83,5 84,9

No.4 4,76 64,7 66,3 66,5 66,2 62,9 65,5 64,0 65,2

No.8 2,38 52,0 51,5 50,3 49,9 46,6 47,9 49,7

No.16 1,18 38,0 37,2 37,3 37,6 34,8 36,6 35,8 36,8

No.30 0,59 29,6 28,9 29,3 29,5 27,4 28,6 28,2 28,8

No. 50 0,3 22,2 20,6 21,9 21,6 19,9 20,4 21,2 21,1

No.100 0,15 13,2 11,2 12,7 12,2 11,6 11,3 12,5 12,1

No.200 0,075 7,4 4,7 6,3 6,4 5,9 5,4 6,1 6,0

Teor de CAP [%] 5,2 4,97 4,68 5,08 4,82 4,92 5,03 4,96

A curva granulométrica utilizada nos projetos com RAP é a curva média entre as amostras da tabela

3. O teor de ligante do RAP considerado para os projetos é de 4,96%, valor médio encontrado das

amostras representativas. Durante a coleta das amostras e ensaios com o fresado foram retirados todos

os torrões com dimensão maior que 5 centímetros.

Foram extraídas amostras do ligante do RAP utilizando o ensaio ABSON conforme AASHTO R 59.

Esta extração foi realizada em uma amostra somente, pela empresa IMPERPAV. Este ligante

apresentou sinais de severo envelhecimento, conforme tabela 4. Assim, tornou-se fundamental o uso

de agente rejuvenescedor para melhorar as propriedades dos ligantes das misturas com fresado.

Tabela 4: Características do ligante recuperado do RAP pelo procedimento ABSON.

Material Penetração

[0,1 mm]

Ponto de Amolecimento

[°C]

Viscosidade [cP]

135 °C 150°C 177°C

Ligante

recuperado

0,5 78,1 5228 2227 518

Ligante Asfáltico - Origem e Propriedades

Dois diferentes tipos de ligantes virgens foram utilizados na presente pesquisa, um ligante CAP 30/45

atualmente utilizado em praticamente todas as misturas asfálticas produzidas no estado do Rio de

Janeiro e um agente rejuvenescedor denominado AR-75.

O CAP 30/45 apresentou penetração igual a 30 mm-¹, no limite da especificação ANP e DNIT

095/2006 – ME. O ensaio de penetração foi realizado conforme Método de Ensaio DNIT 155/2010 –

ME. Este ligante foi fornecido pela empresa Stratura Asfalto S/A tendo sido refinado na REPLAN,

em Paulínia, estado de São Paulo. A priori um ligante menos viscoso como o CAP 50/70 seria mais

apropriado para esta aplicação por reduzir o módulo de resiliência e a resistência a tração das misturas

com RAP, porém não havia disponibilidade deste produto durante a pesquisa. Saleh (2004) há uma

tendência de melhores condições de espumação com o uso de ligantes mais moles.

O agente rejuvenescedor AR-75 vem sendo utilizado nas misturas recicladas desenvolvidas pela

PMCRJ. Os valores de viscosidade nas temperaturas de 135°C, 150°C e 177°C dos dois ligantes estão

expostos na tabela 5. As viscosidades foram ensaiadas no laboratório da COPPE com o viscosímetro

rotacional Brooksfield.

Page 6: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Tabela 5: Características dos ligantes virgens utilizados neste estudo.

Ligante Penetração

[0,1 mm]

Ponto de

Amolecimento [°C]

Viscosidade

a 135°C [cP]

Viscosidade

a 150°C [cP]

Viscosidade

a 177°C [cP]

CAP 30/45 30 53,3 444 213,9 76,7

AR 75 248 - 25,5 14,9 6,5

Para os projetos em laboratório, o CAP 30/45 foi aquecido a 155°C, ponto correspondente a 190 cP.

O AR-75 foi aquecido a 140°C para os projetos em laboratório, conforme orientação da PMCRJ.

MÉTODOS

Produção das Misturas em Laboratório

Foram desenvolvidos cinco projetos de misturas asfálticas em laboratório com os materiais descritos.

O primeiro projeto é constituído somente de materiais virgens (agregados e CAP 30/45). O segundo

projeto contempla aproximadamente 30% de RAP na mistura. Os projetos 3, 4 e 5 contemplam

aproximadamente 50% de RAP nas misturas. As porcentagens de RAP foram calculadas em peso

sobre o total de cada mistura. As misturas produzidas em laboratório receberam um código para

facilitar a identificação, conforme tabela 6.

Tabela 6: Nomenclatura dos projetos de misturas asfálticas produzidos em laboratório.

Projeto Agregado Novo [%] RAP [%] AR-75 [%] CAP 30/45 [%]

P0 100 0% 0% 100% P30 70 30% 60% 40%

P50-100 50 50% 100% 0%

P50-80 50 50% 80% 20%

P50-50 50 50% 50% 50%

O objetivo de produzir três projetos com 50% de RAP foi avaliar diferentes dosagens de AR-75 e

CAP 30/45 nas misturas, tendo como referência os ensaios mecânicos de Resistência à Tração por

compressão diametral – RT - e o Módulo de Resiliência - MR. As tabelas 7, 8 e 9 mostram

respectivamente a proporção dos materiais dos projetos, dos ligantes e a economia de CAP virgem

em cada mistura.

Tabela 7: Proporção dos materiais nos teores de projeto.

Projeto RAP [%] Graúdo [%] Intermediário [%] Fino [%] CAP Virgem Total [%]

P0 0,00% 16,20% 26,68% 52,42% 4,70%

P30 29,80% 10,86% 22,00% 33,45% 3,87%

P50-100 49,86% 7,82% 20,04% 20,04% 2,23%

P50-80 49,76% 7,81% 20,00% 20,00% 2,43%

P50-50 49,73% 7,80% 19,99% 19,99% 2,48%

Page 7: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Tabela 8: Proporção dos ligantes nos teores de projeto.

Projeto CAP 30/45

[%]

AR-75 [%] CAP Envelhecido do RAP [%] CAP Total [%]

P0 4,70% 0,00% 0,00% 4,70% P30 1,55% 2,32% 1,48% 5,35%

P50-100 0,00% 2,23% 2,47% 4,70%

P50-80 0,49% 1,94% 2,47% 4,90%

P50-50 1,24% 1,24% 2,47% 4,95%

Tabela 9: Economia de ligante virgem total em cada projeto.

Projeto Economia de CAP Virgem [%]

P0 0,0% P30 17,7%

P50-100 52,6%

P50-80 48,3%

P50-50 47,2%

As curvas granulométricas dos projetos atenderam aos limites da faixa ASTM com tamanho máximo

nominal de 12,5mm. Não foi possível enquadrar as curvas em faixa mais grossa por conta da

granulometria dos agregados disponíveis para este estudo. As curvas granulométricas dos projetos

P0, P30 e P50 foram desenvolvidas em paralelo, ou seja, a definição de cada curva dependeu das

demais, esforço este para manter a semelhança entre todas as curvas. A figura 2 exibe as curvas

granulométricas dos projetos desenvolvidos.

Figura 2: Curvas granulométricas do projeto de referência e dos projetos com 30% e 50% de RAP.

Para a produção das misturas, no laboratório da COPPE, foi utilizado o misturador modelo

BBMAX80 e os corpos de prova foram moldados no compactador giratório Superpave, com 1200

gramas cada CP. As amostras foram envelhecidas por 2 horas em estufa, conforme AASHTO M 323,

na temperatura de compactação, de acordo com a curva de temperatura versus viscosidade do ligante

em questão. Para cada teor de ligante, foi separada uma amostra de 2500 gramas para verificação da

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,01 0,1 1 10 100

Pass

an

tes

[%]

Granulometria [mm]

PROJ. 50% RAP

INF 12,5 mm SP

SUP 12,5 mm SP

MISTURA REFERÊNCIA

MISTURA 30% RAP

Page 8: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

massa específica máxima medida (Gmm) pelo método Rice seguindo a norma ABNT 15619. As

características volumétricas das misturas estão exibidas na tabela 10.

Tabela 10: Características volumétricas das misturas e critérios da AASHTO M 323-13.

TMN = 12,5mm

Característica AASHTO M 323-13 P0 P30 P50-80 VV [%] 4% 4,0 4,0 4,0

VAM [%] >14% 13,10 14,50 14,65

RBV [%] 65% A 78% 70 72 75

F/B 0,6 A 1,2 0,85 0,82 0,94

Como forma de verificar indiretamente o envelhecimento das misturas com RAP e definir os teores

de AR-75 nas misturas recicladas, foram realizados ensaios de MR e RT, conforme proposição de

Castro Neto (2000), ainda como critério de definição dos projetos. Os resultados de RT e MR das

misturas em laboratório estão colocados na tabela11.

Tabela 11: RT e MR das misturas nos teores de projeto.

Projeto RAP [%] AR 75 [%] CAP 30/45 [%] Projeto [%] RT [MPa] MR [MPa]

P0 0% 0% 100% 4,70 2,56 9600 P30 30% 60% 40% 5,35 1,94 7000

P50-100 50% 100% 0% 4,70 2,71 11000

P50-80 50% 80% 20% 4,90 2,54 10550

P50-50 50% 50% 50% 4,95 2,71 12700

Possivelmente por conta da baixa penetração do ligante CAP 30/45, observa-se valores elevados tanto

de RT como de MR. Para a produção em usina de asfalto, escolheu-se além das misturas de referência

e com 30% de RAP a mistura P50-80. A última apresentou RT e MR inferiores ás demais com 50%

de RAP e mais próximos da mistura de referência (P0). Verifica-se que a mistura com 30% de RAP

e 60% de AR obteve os menores valores de RT e MR, mostrando a efetividade do ligante agente

rejuvenescedor para tornar menos rígida as misturas com RAP.

Fabricação das Misturas em Usina de Asfalto

Duas misturas desenvolvidas em laboratório foram produzidas na Usina de Asfalto da PMCRJ, as

denominadas P0 e P50-80. A usina da PMCRJ apresenta sistemas para produção de misturas

recicladas a quente para até 50% de RAP e sistema de asfalto morno espumado. Desta forma, os

mesmos projetos fabricados a quente em laboratório foram usinados a temperaturas inferiores

utilizando a tecnologia de espuma asfáltica.

De acordo com Chowdhury e Button (2008) e Klincevicius et al. (2010), normalmente o processo de

espuma não requer mudança no projeto da mistura. Assim, as misturas P0 e P50-80 após usinadas

foram denominadas P0’ e P50-80’ por conta da técnica de mistura morna aplicada nestes projetos.

Conforme Ronchetti et al., 2011, a espuma asfáltica é resultado da mistura do Cimento Asfáltico de

Petróleo quente com água, sob determinadas condições de temperatura e pressão. A figura 3 ilustra

esquematicamente a formação da espuma asfáltica em câmara de expansão em usina.

Page 9: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Figura 3: Formação da Espuma Asfáltica em câmara de expansão (Ronchetti et al., 2011).

A figura 4 mostra a usina de asfalto gravimétrica (a) e o módulo de dosagem e aquecimento do RAP

(b) utilizados para a fabricação das misturas em campo. A figura 5 mostra a produção sem fumaça

(a), o aspecto da mistura reciclada morna (b) e a temperatura de aquecimento da mistura (c)

correspondente ao 3º caminhão. A tabela 12 mostra as temperaturas dos materiais e as de usinagem e

compactação das misturas.

(a) Usina gravimétrica (b) Módulo do RAP

Figura 4: Usina utilizada para fabricação das misturas.

(a) Sem fumaça na produção (b) Aspecto da mistura (c) Temperatura

Figura 5: Produção da mistura reciclada morna na usina PMCRJ em 09 de outubro de 2014.

Page 10: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Tabela 12: Temperaturas por caminhão no experimento da usinagem desta pesquisa.

Caminhão [n] 1º 2º 3º 4º 5º 6º

% de RAP 50% 50% 50% 50% 0% 0% Misturas asfáltica espumada Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Agregados virgens [°C] 163 146 132 140 129 129

Temperatura do CAP [°C] 140 140 140 140 138 140

Temperatura do RAP [°C] 108 94 117 110 - -

Temperatura de mistura [°C] 135 120 125 125 130 130

Temperatura de compactação [°C] 125 115 115 115 100 120

Ensaios Mecânicos

As misturas asfálticas projetadas em laboratório foram novamente fabricadas nos teores de projeto e

avaliadas mecanicamente conforme ensaios listados na tabela 13. Quanto às misturas fabricadas em

usina de asfalto, favorecido pela proximidade entre o Laboratório de Pavimentos da COPPE e o local

de aplicação, foram coletadas amostras no caminhão e imediatamente compactadas para realização

dos ensaios de RT e MR, conforme tabela 13.

Tabela 13: Ensaios mecânicos realizados em cada tipo de mistura.

Laboratório

- Teor de Projeto

Usina de Asfalto

Ensaio Mecânico P0 P30 P50-80 P0' P50-80' Resistência à Tração X X X X X

Módulo de Resiliência X X X X X

Dano por Umidade Induzida X X X

Flow Number X X X

A seguir a descrição dos ensaios mecânicos realizados na presente pesquisa.

Resistência à Tração

O procedimento do ensaio é descrito pelas normas ABNT NBR 15087-04 e DNIT ME 136-10. O

ensaio se dá pela aplicação de um esforço de compressão no plano diametral vertical de corpos-de-

prova cilíndricos, na taxa de 0,8 ± 0,1 mm/s. Tal deformação gera tensões de tração perpendiculares

a este diâmetro, que levam as amostras à ruptura. A resistência a esta ruptura é conhecida por

resistência à tração (RT) (Medina e Motta, 2005).

Módulo de Resiliência

O ensaio de módulo de resiliência (MR) é tipicamente realizado através da aplicação de cargas

repetidas em uma freqüência de 1 Hz (carregamento de 0,1 s e repouso de 0,9 s) no plano diametral

vertical de corpos-de-prova cilíndricos. Esta carga gera uma tensão de tração transversal ao plano de

aplicação da carga e sensores do tipo Linear Variable Differential Transformer (LVDT) medem a

deformação diametral recuperável na direção correspondente à tensão gerada (deslocamento

horizontal). Nesta pesquisa, o procedimento da norma DNIT ME 135-10 foi adotado.

Dano por Umidade Induzida

A susceptibilidade das misturas ao dano por umidade induzida foi avaliada através do ensaio Lottman

modificado (AASHTO T283-07). Diversos estudos têm adotado este teste por causa da sua

Page 11: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

simplicidade. O ensaio avalia as propriedades de adesividade ligante-agregado em misturas asfálticas,

considerando o efeito deletério da água em suas propriedades mecânicas (Specht, 2004).

A AASHTO T283-07 recomenda a moldagem de no mínimo seis corpos-de-prova, que devem

apresentar um volume de vazios de 7% ± 1%. As amostras são rompidas em testes de RT. Os corpos-

de-prova são divididos em dois grupos, RT1 e RT2, que contêm, respectivamente, amostras sem e

com condicionamento com ciclo de congelamento e degelo. A razão entre RT2 e RT1 é denominada

Resistência Retida à Tração (RRT = RT2 / RT1). Um valor mínimo de RRT de 80% tem sido

tipicamente recomendado para a geração de misturas resistentes ao dano induzido por umidade.

Flow Number

Para a avaliação da resistência das misturas a deformações permanentes, o parâmetro escolhido foi o

chamado Flow Number (FN). O ensaio através do qual o FN é determinado consiste da aplicação de

pulsos de carga cíclica na direção axial de amostras cilíndricas. Os ciclos são aplicados em uma

frequência de 1 Hz (carregamento de 0,1 s e repouso de 0,9 s). Este ensaio não é ainda normatizado

no Brasil, e para realizá-lo utilizou-se o Procedimento da Rede de Asfalto, descrito no Manual de

Trechos Monitorados.

Aplicação

A aplicação ocorreu no Largo Wanda de Oliveira, na Ilha do Fundão, Cidade Universitária da UFRJ,

cidade do Rio de Janeiro. A figura 6 mostra o espalhamento da mistura sem fumaça (a) e a

compactação (b) referente a mistura reciclada morna.

(a) Sem fumaça na produção (b) Aspecto da mistura

Figura 6: Aplicação da mistura reciclada morna P50-80’.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados da avaliação reológica dos ligantes asfálticos (virgens e extraídos das misturas), os

resultados mecânicos das misturas produzidas em laboratório e usina de asfalto, conforme tabela 13

e o grau de compactação são abordados nos itens a seguir.

Análise das Características Reológicas dos Ligantes Asfálticos

As características reológicas do ligante virgem 30/45 (antes a após RTFOT) utilizado nas misturas e

do CAP extraído da mistura de referência (morna) fabricada em usina estão expostos na tabela 14.

Page 12: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Tabela 14: Características do ligante virgem e do extraído após usinagem.

CAP 30/45 Virgem CAP 30/45 [RTFOT] CAP extraído - P0'

Ponto de Amolecimento [°C] 53,3 - 56,7 Penetração [0,1 mm] 30 - 19

Viscosidade a 135° C [cP] 444 689 705

Viscosidade a 150° C [cP] 212 319 329

Viscosidade a 177° C [cP] 79 104 109

Observa-se que a viscosidade nas três temperaturas medidas dos ligantes virgens após RTFOT e o

usinado são semelhantes, mostrando que o envelhecimento da mistura morna em usina foi semelhante

ao envelhecimento de 2 horas em estufa preconizada pelo Superpave.

Na obra foi realizada uma mistura entre os ligantes AR-75 e o CAP 30/45 na proporção 80% e 20%,

respectivamente, na tentativa de igualar as condições do ligante da mistura P50-80 produzida em

laboratório. A tabela 15 mostra conjuntamente as características dos ligantes CAP 30/45, ligante

misturado (80/20) antes e após o RTFOT e o CAP extraído da mistura reciclada morna (P50-80’).

Tabela 15: Características dos ligantes virgens (CAP 30/45 e o misturado (80/20) antes e após

RTFOT) e do extraído da mistura P50-80’ após usinagem.

CAP

30/45

Virgem

CAP (80/20)

Virgem

CAP (80/20)

após RTFOT

CAP extraído -

P50-80'

Ponto de Amolecimento [°C] 53,3 - - 59,5 Penetração [0,1 mm] 30 - - 18

Viscosidade a 135° C [cP] 445 207 289 805

Viscosidade a 150° C [cP] 212 110 147 364

Viscosidade a 177° C [cP] 79 44 55 118

A figura 7 exibe as curvas de temperatura versus viscosidade dos ligantes CAP 30/45 virgem e após

RTFOT, do AR-75 virgem e após RTFOT, do CAP misturado em obra 80/20 antes e após RTFOT e

os ligantes extraídos das misturas morna (usinada referência) e reciclada morna.

Figura 7: Curva temperatura versus viscosidade dos ligantes da pesquisa.

0

200

400

600

800

135 155 175

Vis

osi

dad

e [c

P]

Temperatura [°C]CAP 30/45-VIRGEM CAP 30/45 - RTFOTAR-75 - VIRGEM AR-75 - RTFOTMIST.CAP (80/20) - VIRGEM MIST.CAP (80/20) - RTFOTUSINADA REF USINADA 50% RAP

Page 13: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

O ligante extraído da mistura reciclada morna P50-80’ apresentou consistência semelhante ao do

extraído da mistura P0’, com ponto de amolecimento 2,8°C acima da mistura morna, penetração foi

1 [0,1mm].

Análise das Características Mecânicas das Misturas

Resistência a Tração

Os projetos produzidos em laboratório nos teores de projeto e os fabricados em usina foram

submetidos a ensaios de resistência a tração por compressão diametral. Os resultados estão colocados

na figura 8.

Figura 8: Valores médios das RT de todas as misturas em laboratório e usina.

Nota-se que as misturas fabricadas em usina apresentaram RT inferiores as misturas produzidas em

laboratório. Correlacionando a rigidez como o envelhecimento a curto prazo do ligante asfáltico, estes

resultados indicam que a usinagem com asfalto espumado provocou menor envelhecimento do que

as duas horas de tratamento de curto prazo utilizadas prévia à moldagem dos corpos de prova como

é usual hoje nos projetos Superpave e estipulado na norma ABNT NBR 15897 de preparo de corpos

de prova a quente.

Módulo de Resiliência

As misturas em laboratório no teor de projeto e as fabricadas em usina também foram submetidas ao

ensaio de módulo de resiliência. A figura 9 mostra os resultados de MR das misturas.

1,8

2,4

3,0

0 1 2 3 4 5

Res

istê

nci

a à

tra

ção M

édia

[MP

A]

Volume de Vazios Médio [%]LAB - P0 (*) LAB - P30-60 (*) LAB - P50-80 (*)USINA - P0' USINA - P50-80'

Page 14: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Figura 9: Valores médios das MR das misturas fabricadas em laboratório e usina.

Dano por Umidade Induzida

As misturas produzidas em laboratório foram submetidas ao ensaio Lottman ou Dano por Umidade

Induzida. Os resultados estão expostos na figura 10.

Figura 10: Resultados do ensaio Lottman.

A pesquisa de Zhao et al. (2012) mostrou resultados superiores em resistência retida a tração de

misturas com 30%, 40% e 50% de RAP em relação as misturas de referência e a mistura morna sem

RAP fabricadas em usina. No presente trabalho também foi observado que as misturas com RAP

apresentaram menor susceptibilidade à água do que a mistura a quente de referência, em laboratório.

Como os agregados do RAP já estão recobertos por uma película de ligante envelhecido, a parcela de

agregados do RAP não contribui em alguma dificuldade de adesividade dos agregados virgens. Isto

justifica o maior valor de resistência retida a tração da mistura com 30% de RAP em relação a

referência. Já a mistura com 50% de RAP obteve valor de RRT levemente superior a referência a

abaixo da mistura com 30% de RAP.

7000

9000

11000

0 2 4 6

Mód

ulo

de

Res

iliê

nci

a [

MP

A]

Volume de Vazios [%]LAB - P0 (*) LAB - P30-60 (*) LAB - P50-80 (*)USINA - P0' USINA - P50-80'

0%

20%

40%

60%

80%

100%

RR

T

P0 P30 P50-80

Page 15: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Flow Number

As misturas produzidas em laboratório foram submetidas ao ensaio de deformação permanente

através do ensaio Flow Number. Os resultados estão expostos na figura 11.

Figura 11. Número de ciclos do FN das misturas fabricadas em laboratório.

Conforme Nascimento (2008), uma rodovia de médio volume de tráfego requer um número de ciclos

no FN superior a 300 e uma rodovia de alto volume de tráfego o número de ciclos deve ser superior

a 750. A mistura de referência obteve número de ciclos abaixo do recomendado para rodovia de

médio volume de tráfego (FN igual a 255). A mistura com 30% de RAP obteve número de ciclos

10% superior (FN igual a 280) a mistura sem RAP, mas também ficou abaixo de 300 ciclos. Já a

mistura com 50% de RAP obteve número de ciclos pelo FN igual a 835, superior ao mínimo

recomendado por Nascimento (2008) para uma rodovia de alto volume de tráfego. Desta forma, a

inserção do RAP aumentou a resistência ao cisalhamento das misturas asfálticas, principalmente

quando se introduz 50% de RAP na mistura, mesmo utilizando um ligante novo com 80% de agente

rejuvenescedor.

Avaliação do Grau de Compactação

Após 45 dias da aplicação das misturas, corpos de prova foram extraídos da pista em trechos

correspondentes às misturas P0’ e P50-80’ para posterior avaliação das massas específicas. Para tanto,

foi utilizada uma sonda rotativa.

Para a aplicação, utilizou-se uma da acabadora, um rolo combinado (tandem na frente e pneus atrás)

de pequeno porte com peso total de aproximadamente 4.000 Kg e com vibração, seguido do rolo

estático de pneus. A figura 12 mostra o grau de compactação das misturas fabricadas em usina.

0

150

300

450

600

750

900

Flo

w N

um

ber

[nº

cicl

os]

P0 p30 P50-80

Page 16: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Figura 12: Grau de compactação versus temperatura de compactação.

Não se observa diferença entre o grau de compactação das misturas (P0’ e P50-80’). Também

aparentemente não houve relação entre a temperatura de compactação e o grau de compactação.

Ressalta-se que não houve esforço anormal durante a compactação pelos rolos compactadores, cujos

pesos operacionais são bastante baixos, principalmente o rolo combinado com peso total de apenas

4.000 kg. Com exceção do trecho correspondente ao 4º caminhão, todos os pontos obtiveram grau de

compactação entre 97% e 101%, ficando de acordo com a especificação de serviço do DNIT - ES

031(2006) – mesmo a compactação ocorrendo em temperaturas mais baixas. Os períodos entre

usinagem e compactação foram curtos de forma que a viscosidade do ligante durante a compactação

possivelmente esteve abaixo do patamar padrão para os ligantes virgens utilizados, fruto da espuma

remanescente. Desta forma parece haver concordância com o relato de Fritzen et al. (2012) que o

efeito da espuma permanece ativo durante um longo período de tempo, razão pela qual permite maior

trabalhabilidade da mistura durante a compactação, mesmo em temperaturas inferiores.

CONCLUSÕES

A seguir são listadas as principais conclusões observadas:

- Observa-se que quanto maior a porcentagem de RAP e de agente rejuvenescedor em relação ao total

de ligante virgem, maior é a mistura completa entre os ligantes, obtendo mistura completa no projeto

em laboratório P50-100.

- As misturas fabricadas em usina apresentaram menor rigidez que as fabricadas em laboratório, a

partir dos resultados de RT e MR.

- Todas as misturas obtiveram dano por umidade induzida abaixo do recomendado. Entretanto, as

misturas com RAP reduziram a susceptibilidade das misturas a ação deletéria da água, principalmente

a mistura P30.

- A inserção de RAP aumentou a resistência ao cisalhamento das misturas, principalmente a com 50%

de RAP, através da análise das misturas em laboratório e ensaiadas pelo procedimento Flow Number.

- As viscosidades dos ligantes extraídos das misturas usinadas foram semelhantes às obtidas após

ensaio RTFOT nos ligantes virgens, ficando todos os valores dentro dos limites de envelhecimento

especificado.

95

97

99

101

110 115 120 125 130

Gra

u d

e C

om

pact

açã

o [

%]

Temperatura de Compactação [°C]

P50-80' P0'

Page 17: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

- A mistura reciclada morna (P50-80’) foi usinada a temperaturas entre 135°C e 120°C, resultando

assim em redução na temperatura de usinagem de até 45°C. A mistura morna sem RAP (P0’) foi

produzida a 130°, resultando em uma redução de 35°C durante a usinagem.

- O projeto em laboratório P30 mesmo com 30% de RAP mostrou menor rigidez que a própria mistura

de referência, também de laboratório. O AR-75 melhorou as características do ligante total da mistura.

- As misturas recicladas apresentaram todas as características volumétricas conforme a norma

estabelecida nesta pesquisa, mostrando facilidade no projeto em laboratório.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro pela viabilização do projeto

em usina de asfalto e pelo fornecimento de materiais utilizados na pesquisa. Agradecimentos

especiais aos colegas do laboratório de Geotecnia/Pavimentos da COPPE/UFRJ pelo suporte durante

todas as etapas desta pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

American Association of State Highway and Transportation Officials - AASHTO T 283-07 (2007). Resistance of

Compacted Hot Mix Asphalt (HMA) to Moisture-Induced Damage.

American Association of State Highway and Transportation Officials - AASHTO M 323/13. Standard Specification

Superpave Volumetric Mix Design, 2013.

American Association of State Highway and Transportation - AASHTO R 59 – Standard Specification for Recovery of

Asphalt Binder from Solution by Abson Method, 2011.

American Society for Testing and Materials, ASTM C 128 (2001) Standard Test Method for Density, Relative Density

(Specific Gravity), and Absorption of Fine Aggregate.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 15087 (2004). Misturas Asfálticas - Determinação da

Resistência à Tração por Compressão Diametral.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 15897 Misturas asfálticas a quente – Preparação de corpos-de-

prova com compactador giratório Superpave.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 15619, Misturas asfálticas – Determinação da massa específica

máxima medida em amostras não compactadas.

CASTRO NETO, A. M. Proposta de projeto de dosagem de concreto betuminoso reciclado a quente. 2000. Dissertação

(Mestrado em Engenharia Transportes) - Universidade de São Paulo.

CHOWDHURY, A., BUTTON, J. W. A Review of Warm Mix Asphalt, Texas A&M University System, EUA, 2008.

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER ME 081/98, 1998, Agregados - determinação da Absorção e

da Densidade de Agregado Graúdo.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT ES 033 – Pavimentos Flexíveis – Concreto asfáltico

reciclado a quente em usina – Especificação de serviço, 2005.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT EM 095 – Cimento Asfálticos de Petróleo –

Especificação de Material, 2006.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT ME 095 – Material Asfálticos – Determinação da

Penetração – Especificação de Ensaio, 2010.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT 135-10 (2010). Pavimentação Asfáltica - Misturas

Asfálticas - Determinação do Módulo de Resiliência.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT 136-10-ME (2010). Pavimentação Asfáltica - Misturas

Asfálticas - Determinação da Resistência à Tração por Compressão Diametral.

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT ES-031 (2006). Pavimentos flexíveis: Concreto asfáltico.

European Asphalt Pavement Association - EAPA. The use of Warm Mix Asphalt, 2014.

FRITZEN, M.A., BUDNY, J, ARAGÃO, F.T.S., ZUBARAN, M., MOTTA, L.M.G. Comportamento de Misturas Mornas

por Processo de Espumação em Diferentes Temperaturas de Usinagem e Compactação, 2012.

KLINCEVICIUS, M., DONY,A., MAILLARD, N., BROSSEAUD, Y., GAUDEFROY, V., BERNUCCI, L., MOTTA,

R., DEL PRIORE, C. Laboratory Evaluation of two mix Design Methods .In: Sharing the road, Lisboa, Portugal:

IRF, maio, 2010.

Page 18: AVALIAÇÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS RECICLADAS …sinicesp.org.br/44rapv/trabalhos/TrabalhoFinal_31.pdf · fabricadas em usinas de asfalto, comparando-as com uma mistura de referência,

Medina, J. & Motta, L. M. G. (2005). Mecânica dos Pavimentos. 2ª Edição. Editora UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil.

NASCIMENTO, L.A.H. Nova Abordagem da Dosagem de Misturas Asfálticas Densas com Uso do Compactador

Giratório e Foco na deformação permanente. 2008. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –

COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro.

National Asphalt Pavement Association – NAPA. Annual Asphalt Pavement Industry Survey on Recycled Materials and

Warm-Mix Asphalt Usage: 2009-2013, 2014.

Ronchetti, B., Zubaran, M. & Franceschini, A. (2011). Aplicaçao de WMA com asfalto espumado no Brasil” XVI-CILA,

Congresso Ibero-Latinoamericano do Asfalto, v. 2, pp. 1481 - 1489. Rio de Janeiro, Brasil.

SALEH, M. Characterization of Foam Bitumen Quality and Mechanical Properties of Foam Stabilized Mixes. University

of Canterbury, Christchurch, New Zealand and currently visiting scholar at the University of California at Davis,

USA, 2004.

Specht, L. P. (2004). Avaliação de misturas asfálticas com incorporação de borracha reciclada de pneus. Tese (Doutorado

em Engenharia) - PPGEC/UFRGS, 279f., Porto Alegre, Brasil.

ZHAO, S., HUANG, B., SHU, X, JIA, X., WOODS, M. Laboratory Performance Evaluation of Warm Mix Asphalt

containing High Percentages of RAP, 2012.