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LGN215 - Genética Geral
Aula 7:
Mutação e Recombinação Gênica
Prof. Dr. Antonio Augusto Franco Garcia
Monitora: Maria Marta Pastina
Piracicaba - SP
Mutação
Conceito: qualquer modificação súbita e hereditária no conjunto gênico de um organismo, que não é explicada pela recombinação da variabilidade genética preexistente
Assim, um organismo mutante é aquele cujo fenótipo alterado é causado por uma possível mutação
Tipo selvagem: padrão encontrado na natureza ou no estoque de laboratório
Mutação gênica: alterações num número reduzido de nucleotídeos da molécula de DNA, resultando no aparecimento de um novo alelo
Mutação cromossômica: mutações que alteram de maneira visível (ao microscópio), o número ou a estrutura dos cromossomos
Mutação de ponto
Alterações na sequência de nucleotídeos, que alteram a sequência de aminoácidos na cadeia polipeptídica codificada pelo gene, levando a uma alteração fenotípica
No entanto, podem ocorrer mutações neutras, sem efeito algum no fenótipo
Tipos de alterações:
Adição, deleção ou substituição de base
Código genético
Adição e Deleção
Adição de uma Timina (T)
DNA: AGA TGA CGG TTT GCA
RNA: UCU ACU GCC AAA CGU
Proteína: ser – tre – ala – lis - arg
DNA: AGT ATG ACG GTT TGC A
RNA: UCA UAC UGC CAA ACG U
Proteína: ser – tir – cis – gln – tre
Deleção de uma Timina (T)
DNA: AGA TGA CGG TTT GCA (original)
DNA: AGA GAC GGT TTG CA
RNA: UCU CUG CCA AAC GU
Proteína: ser – leu – pro – asn
Substituições de base: mutações nas quais um par de base substitui outro
Pode ser:
Transição: substituição de uma base por outra da mesma categoria química
Purina substituída por purina (A → G ou G → A)
Pirimidina substituída por pirimidina (C → T ou T → C)
Transversão: substituição de uma base por outra de categoria química diferente (purina por pirimidina e vice e versa)
Substituição de base
Mutação silenciosa: a substituição de bases não altera a seqüência de aminoácidos na cadeia polipeptídica
Ex:
Substituição de base
DNA: AGC → AGGRNA: UCG → UCCProt.: Serina – Serina
Mutação de sentido errado: a substituição altera um aminoácido na cadeia polipeptídica
Ex: DNA: AGC → AACRNA: UCG → UUGProt.: Serina – Leucina
Mutação sem sentido: causa o aparecimento de um códon de terminação no mRNA, impedindo a síntese completa da cadeia polipeptídica
Ex: DNA: AGC → ATCRNA: UCG → UAGProt.: Serina – Códon de terminação
Mutações
Mutações sem sentido levarão ao término prematuro da tradução, tendo um efeito considerável no funcionamento da proteína
As adições e deleções de um único par de bases no DNA causará uma mudança no quadro aberto de leitura do gene a partir desse ponto. Assim toda a sequência de aminoácidos traduzida a partir do sítio mutante é alterada, não tendo relação com a sequência original
Resultado: perda completa da estrutura e função normal da proteína
Anemia falciforme: substituição de base
Mutação somática vs germinativa
Mutações podem ocorrer em qualquer célula e em qualquer estágio do ciclo celular. Portanto, podem ocorrer em células somáticas e em células germinativas
Uma mutação somática leva, geralmente, a um aglomerado de células fenotipicamente mutantes chamado setor mutante
Os setores mutantes podem ser identificados somente se seu fenótipo contrastar visualmente com o fenótipo das células tipo selvagem
Ex: mutação somática na maçã vermelha Delicious. Alelo mutante que determina cor dourada surgiu na parede do ovário da flor, que se desenvolveu na parte carnosa da maçã. As sementes não são mutante e darão origem a plantas normais (frutos vermelhos).
Mutação somática vs germinativa
Se a mutação for em um tecido cujas células ainda estão se multiplicando, poderá surgir um clone mutante
Mas se a mutação for em uma célula pós-mitótica, que não está se multiplicando, o impacto sobre o fenótipo será desprezível
Mutação somática vs germinativa Se a mutação ocorre em células germinativas (reprodutivas), ou em
tecidos que darão origem a estas células, ela poderá ser transmitida às gerações seguintes (mutação germinativa)
Deve-se, no entanto, excluir a possibilidade de que as diferenças fenotípicas surgiram devido à segregação meiótica e recombinação normais
Mutação somática vs germinativa
Uma mutação para um alelo que determina orelhas recurvadas surgiu na linhagem germinativa de um gato normal com orelhas retas e expressou-se na prole
Mutações somáticas NÃO são transmitidas à descendência. Mas se for tirada uma muda de um caule ou uma folha que apresente um setor somático mutante, a planta que crescerá a partir desta muda pode desenvolver tecido germinativo a partir do setor mutante.
Mutação somática vs germinativa
Ex: mutação produzindo um alelo para pétalas brancas que surgiu originalmente no tecido somático, mas eventualmente tornou-se parte do tecido germinativo e pôde ser transmitida através das sementes.
Antes que um novo fenótipo herdável possa ser atribuído a uma mutação, tanto a segregação quanto a recombinação devem ser excluídas como causas possíveis. Esta exigência é verdadeira tanto para as mutações somáticas quanto para as germinativas.
Mutação Mutações morfológica:
Ex: alteração das asas em Drosophila
Tipo selvagem
Asa vestigial Asa recurvada
Mutação Mutações letais:
Ex: alteração da plumagem em codorna japonesa
Tipo selvagem Mutação letal
Como as mutações causam diferenças no fenótipo?
Mutação
Gene Polipeptídeo FenótipoSelvagem
Informação x ação x
Mutação Novoalelo
Fenótipo Mutante
Informação y
Polipeptídeoalterado
ação y
Mutação
Mutações são muito raras
Taxa de mutação:
1/1.000.000.000
A maioria das mutações são deletérias, sendo normalmente eliminadas pela seleção natural
Tipo selvagem Mutação letal
Mutação
Mutações espontâneas: de ocorrência natural. Possíveis causas:
Erros na replicação do DNA
Elementos genéticos móveis
Mutações induzidas: são produzidas quando o organismo é exposto a um agente mutagênico, por exemplo, radiação ionizante (mutagênico físico: raio x, raios alfa, por exemplo)
Ex: mutação induzida em Arabdopsis, folhas parcialmente convertidas em pétalas
Mecanismos de reparo do DNA
A sobrevivência de um indivíduo está diretamente relacionada à sua estabilidade genética
A manutenção desta estabilidade requer não apenas um mecanismo bem desenvolvido de replicação do DNA, mas também de mecanismos de reparação do DNA, que reparam as lesões acidentais (mutações) que ocorrem continuamente no DNA
Mutações cromossômicas
Mutações numéricas (aberrações numéricas):
Variações no número de cromossomos
Mutações estruturais (aberrações estruturais):
Variações na estrutura dos cromossomos
Aberrações cromossômicas numéricas Mutações numéricas (aberrações numéricas): envolvem alterações
no número cromossômico
Euploidias: células ou organismos com múltiplos do número básico de cromossomos (x), ou seja, 3x (triplóides), 4x (tetraplóides), 5x (pentaplóides), etc.
Normalmente, os organismos eucariotos são haplóides (x) ou diplóides (2x), ou seja, apresentam apenas uma ou duas cópias do conjunto básico de cromossomos (x)
n: corresponde estritamente ao número de cromossomos dos gametas. Ex: Trigo moderno, 2n = 6x = 42. Portanto, n = 3x = 21 (x = 7)
Aneuploidias: o organismo tem número anormal de cromossomos, apresentando um ou poucos cromossomos a mais ou a menos que o organismo selvagem
Ex: 2n – 1 (organismo com um cromossomo a menos), chamado de monossômico; 2n + 1, organismo trissômico
Aberrações cromossômicas numéricas As ABERRAÇÕES NUMÉRICAS são
também denominadas de poliploidias
Importantes para a agricultura (60% das plantas cultivadas tem origem poliplóide)
Maior número de cromossomos e, em geral, frutos, folhas e raízes maiores, aumentando assim a produtividade
Euploidias
Autopoliploidia
Alopoliploidia
Autopoliploidia
Autopoliploidia: indivíduos com 3 ou mais genomas idênticos
Genoma AA (2n) triplica-se, AA (3n)
Ex: banana
Diferentes níveis de ploidia podem ser selecionados. Ex:
n → haplóide (A)
2n → diplóide (AA)
3n → triplóide (AAA)
4n → tetraplóide (AAAA)
6n → hexaplóide (AAAAAA), etc...
Autopoliploidia
Autopoliplóides: um autotetraplóide AAAA se origina diretamente de um diplóide AA, pela duplicação de seu número de cromossomos ou pela união de 2 gametas diplóides (não reduzidos)
Colchicina: impede a formação das fibras do fuso e faz com que os cromossomos não se separem na mitose. Tratamentos prolongados podem criar séries numéricas de 4n, 6n, 8n, etc...
Autopoliplóides Artificiais
Autopoliploidia
Triplóides (3n)
Quando plantas tetraplóides (4n) ou diplóides (2n) não reduzidas produzem gametas 2n viáveis que se unem na fertilização com gametas haplóides (n).
Triplóides são estéreis devido à irregularidade na meiose.
Os triplóides crescem vigorosamente e dão frutos grandes com pouca ou nenhuma semente. Para se estabelecer na natureza a planta se propaga vegetativamente.
Exemplos: uva sem sementes, maçã, pera, banana
Banana → genoma A, diplóide 2n = AA
Um gameta não reduzido (2n) se uniu a um gameta normal (n), produzindo um indivíduo triplóide (3n), com genoma AAA
Autopoliploidia
Triplóides (3n)
Exemplo: melancia sem semente, triplóides (Japão)
Cruzamento de plantas diplóides (2n) com tetraplóides (4n), e produção de sementes triplóides (3n) inviáveis
Mais saborosa e com mais polpa
Problema: quantidade de mão-de-obra para fazer os cruzamentos entre as plantas 2n e 4n
Autopoliploidia Tetraplóides (4n)
Freqüentemente se originam a partir de uma duplicação de diplóides (2n)
Aparecem com maior freqüência na natureza
Orquídeas: flores de maior tamanho, intensificação do colorido e durabilidade das flores, além de maior resistência a doenças
Rosas tetraplóides: folhas e flores bem maiores (gigantismo)
Tomate tetraplóide: mais rico em vitamina C
Tetraplóides (4n)
Gramíneas forrageiras (braquiárias, colonião, jaraguá, etc...) produzem mais massa (forragem) verde que as plantas diplóides
Seringueira autotetraplóide produz mais borracha que a diplóide, pois apresenta maior crescimento e diâmetro dos vasos laticíferos. Foi inicialmente desenvolvida no IAC
Autopoliploidia
Alopoliploidia: indivíduo com no mínimo 2 genomas diferentes
Uma espécie nova é formada pela união de 2 genomas distintos
Exemplo: algodão
G. herbaceum e G. arboreum (diplóides) → Velho Mundo
G. barbadense e G. hirsutum (alotetraplóides) → Novo Mundo
Alopoliploidia
Novo Mundo Velho Mundo
2n = 52 (genoma AADD)G. barbadense G. hirsutum
2n = 26 (genoma AA)G. barbadense
G. arboreum
G. herbaceum
Alopoliploidia Os alopoliplóides podem ser
sintetizados pelo cruzamento de espécies proximamente relacionadas e duplicação dos cromossomos do híbrido, resultando em um indivíduo anfidiplóide ( que significa “diplóide duplicado”)
Atualmente, alopoliplóides são sintetizados na agricultura. Os cromossomos do híbrido estéril obtido a partir de um cruzamento interespecífico são duplicados com a utilização de colchicina
Fusão de protoplastos: alopoliplóides somáticos
Ex: Triticale, um anfidiplóide entre Trigo (Triticum, 2n = 6x = 42) e centeio (Secale, 2n = 2x = 14), combinando a alta produtividade do trigo com a resistência do centeio
História evolutiva do Trigo: alopoliplóide natural
AlopoliploidiaAlopoliploidia Alopoliploidia pode resultar naturalmente no surgimento de uma nova
espécie
Aneuploidias Alterações no número de
cromossomos, ocasionando ganho ou perda de cromossomos
As conseqüências são graves tanto para plantas como para animais
Origem de gametas aneuplóides: não-disjunção na primeira ou segunda divisão celular
Ex: Síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21)
Afetam a estrutura dos cromossomos, ou seja, o número ou o arranjo dos genes nos cromossomos
Deficiência ou deleção: é a perda de uma porção do cromossomo, resultando na falta de um ou mais genes
Aberrações cromossômicas estruturais
Duplicação: é o produto da presença de uma porção extra de cromossomo, resultando na repetição de um ou mais genes
Aberrações cromossômicas estruturais
Inversão: ocorre quando, num determinado segmento de cromossomo, houver duas fraturas, seguidas da subseqüente soldadura do fragmento mediano, agora colocado em posição invertida
Aberrações cromossômicas estruturais
Normal
Paracêntrica
Pericêntrica
Translocação: ocorre quando dois cromossomos não-homólogos quebram simultaneamente e trocam segmentos
Aberrações cromossômicas estruturais
As translocações, inversões e deleções produzem uma esterilidade parcial pela geração de produtos meióticos (gametas) desbalanceados, que podem morrer ou gerar zigotos que morram