as multiplas formas de aprender
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As múltiplas formas do aprender
sala de aula não é mais
a mesma. A tecnologia,
outrora restrita às aulas
de informática, passa a
fazer parte do cotidiano de alunos e
professores. A Educação a Distância(EAD) vem se caracterizando não
mais como uma atividade isolada,
mas como uma forma de
criar grupos de aprendizagem,
integrando a aprendizagem
pessoal com a grupal.
Esse processo, ainda inci-
piente em muitas instituições,
exige um novo tipo de profis-
sional, mais flexível e maduro.
Um profissional que não
apenas conheça a tecnologia,mas também seja capaz de
transformar o espaço escolar,
modificar e inovar o processo
de ensino e aprendizagem.
Esses são os principais
pontos do pensamento de
José Manuel Moran, doutor
em Comunicação pela USP,
avaliador de cursos a distância
no MEC e coordenador de
EAD da Faculdade Sumaré de São
Paulo. Em entrevista exclusiva, oprofessor Moran faz uma detalhada
análise da importância da tecnologia
na educação e do papel do professor
nessa nova realidade.
Atividades & Experiências – Quais
transformações as novas tecnologias
trouxeram para a educação? O que
se pode esperar para os próximos
anos?
José Manuel Moran – As tecnologias
começam separadas (computador,
celular, Internet, MP3, câmera
digital) e caminham na direção da
convergência, da integração, dos
equipamentos multifuncionais que
agregam valor. O telefone celular éa tecnologia que atualmente mais
agrega valor: é móvel e rapidamente
incorporou o acesso à Internet, a foto
digital, os programas de comunicação
(voz, TV), o entretenimento (jogos,
música, MP3) e outros serviços.
Essas tecnologias convergentes e
combinadas modificam profunda-
mente todas as dimensões de nossa
vida. As tecnologias, principalmente
a Internet, estão trazendo fundamen-
talmente, nesses últimos 20 anos,
muito mais mobilidade, ou seja, a
possibilidade de realizar atividades
ou tarefas sem necessariamente ir
a um lugar determinado. As redes,
principalmente a Internet, estão
começando a provocar mudanças
profundas na educação presencial e a
distância. Na presencial, desenraízam
o conceito de ensino-aprendizagem
localizado e temporalizado. Podemos
aprender desde vários lugares, ao
mesmo tempo, on-line e
off-line, juntos e separados.
Como nos bancos, temos
nossa agência, a escola, que é
nosso ponto de referência, só
que agora não precisamos ir
até lá o tempo todo para poder
aprender. As redes também
estão provocando mudanças
profundas na educação adistância. Antes, a EAD era
uma atividade muito solitária
e exigia muita autodisciplina.
Agora, com as redes, a EAD
continua como uma atividade
individual, mas combinada
com a possibilidade da comu-
nicação instantânea, de criar
grupos de aprendizagem,
integrando a aprendizagem
pessoal com a grupal.
A&E – O quadro e o giz estão com
os dias contados?
Moran – Infelizmente, não, porque
muitas escolas oferecem o mínimo de
infra-estrutura tecnológica de apoio
a professores e alunos e, também,
porque muitos professores ainda se
consideram o centro, focando mais
o ensinar do que o aprender, o “dar
aula” do que o gerenciar atividades de
pesquisa e projetos. A sala de aula
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O novo profissional
da educação integrará
melhor as tecnologiascom a afetividade, o
humanismo e a ética.
Será um professor mais
criativo, experimentador,
orientador de processos
de aprendizagem
presencial e a distância.
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pode ser o espaço de múltiplasformas de aprender. Espaço parainformar, pesquisar e divulgaratividades de aprendizagem. Paraisso, além do quadro e do giz, precisaser confortável, com boa acústicae tecnologias, das simples até as
sofisticadas. Uma sala de aula hojeprecisa ter acesso fácil ao vídeo, DVD,projetor multimídia e, no mínimo,um ponto de Internet, para acessoa sites em tempo real pelo professorou pelos alunos, quando necessário.Infelizmente, a maioria das escolas euniversidades pensa que giz, quadro,mesa, cadeiras, um professor e muitosalunos é suficiente para garantiraprendizagem de qualidade.
A&E – Os professores estão prepa-rados para trabalhar com toda essatecnologia ?Moran – Hoje, temos um núme-ro significativo de professoresdesenvolvendo projetos e atividadesmediados por tecnologias. Mas agrande maioria das escolas e dosprofessores ainda está tateando sobrecomo utilizá-las adequadamente.
A ap ropr ia ção da s tecnol og ia s
pelas escolas passa por três etapasaté o momento. Na primeira, astecnologias são utilizadas paramelhorar o que já se vinha fazendo(melhorar o desempenho e a gestão,
automatizar processos, diminuircustos). Na segunda etapa, a escolainsere parcialmente as tecnologias noprojeto educacional. Cria uma páginana Web com algumas ferramentas depesquisa e comunicação, divulga textose endereços interessantes, desenvolvealguns projetos, há atividades nolaboratório de informática, masmantém intocados estrutura deaulas, disciplinas e horários. Naterceira, que começa atualmente, com o
amadurecimento de sua implantação eo avanço da integração das tecnologias,as universidades e escolas repensamseu projeto pedagógico, seu plano
estratégico, e introduzem mudançassignificativas como a flexibilizaçãoparcial do currículo, com atividadesa distância combinadas com as presen-ciais. Os professores, em geral, aindaestão utilizando as tecnologiaspara ilustrar aquilo que já vinhamfazendo, para tornar as aulas maisinteressantes, mas ainda falta odomínio técnico-pedagógico quelhes permitirá, nos próximos anos,
modificar e inovar os processos deensino e aprendizagem.
A&E – Qual é, ou qual será, o perfildo novo profissional da educação ?Moran – O novo profissionalda educação integrará melhor astecnologias com a afetividade, ohumanismo e a ética. Será um pro-fessor mais criativo, experimentador,orientador de processos de aprendi-zagem presencial e a distância. Seráum profissional menos falante, menosinformador e mais gestor de atividadesde pesquisa, experimentação eprojetos. Será um professor quedesenvolve situações instigantes,
desafios, solução de problemas ejogos, combinando a flexibilidadedos espaços e tempos individuaiscom os colaborativos grupais.Quanto mais avança a tecnologia,mais se torna importante termoseducadores maduros intelectual eemocionalmente, pessoas curiosas,entusiasmadas, abertas, que saibammotivar e dialogar. Pessoas com asquais valha a pena entrar em contato,porque dele saímos enriquecidos.
Tendo isso, a tecnologia entra comoapoio, facilitação da aprendizagemhumanizadora. O professor estácomeçando a aprender a trabalharem situações muito diferentes: compoucos e muitos alunos, com maisou menos encontros presenciais, comum processo personalizado (professorautor-gestor) ou mais despersonalizado(separação entre o autor e o gestor deaprendizagem). Vejo o professor dofuturo como alguém que poderá
estar vinculado a uma instituiçãopredominantemente, mas não exclusi-
vamente. Ele participará de inúmerosmomentos de atividades de ensino emoutras organizações, de orientaçãode pesquisas em diferentes lugares eníveis. Desde qualquer lugar, poderáconectar-se com seus alunos, vê-lose falar com eles. O professor serámultitarefa, orientará muitos gruposde alunos, dará consultoria a empresas,
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capacitações on-line, alternando essesmomentos com aulas, orientações degrupos, desenvolvimento de pesquisascom colegas de outras instituições.
A ci ência se rá cada vez ma is
compartilhada e desterritorializada.Os professores-pesquisadores não pre-cisarão morar perto, o importanteé que saibam trabalhar juntos
virtualmente, que saibam cooperarà distância, que tenham espíritode colaboração mais do que decompetição.
A&E – Há alunos que possuem emcasa muito mais recursos do que osdisponíveis na escola. Como a escola
conseguirá manter o interesse dealunos cada vez mais conectados?Moran – A grande maioria dosalunos brasileiros não possui recursostecnológicos avançados nem em casanem na escola, principalmente naescola pública. A Internet chegaatualmente a 15% dos brasileiros.É um crescimento notável, mas,por outro lado, mostra que 85%ainda estão fora. Para os alunos quetêm acesso a novas tecnologias, aescola pode estimular ao máximo apesquisa ligada ao cotidiano deles, aosseus interesses, à sua vida. A escolaprecisa fazer a ponte continuamenteentre teoria e prática, entre realidadelocal, nacional e internacional.Qualquer tema mais amplo podeser trabalhado também na dimensãolocal, próxima do aluno. A escolaprecisa avançar mais na incorporaçãode atividades a distância como partedo processo de aprendizagem. Nãopodemos hoje resolver tudo dentrode salas de aula. No ensino superior,isso já se percebe como umatendência que será cada vez maisforte, mas também precisa chegarao Ensino Médio, em primeirolugar, e depois ao Fundamental.Confinar 40 alunos de educaçãobásica todas as manhãs ou tardescom aulas de 50 minutos sucessivasé anacrônico, contraproducente e
mostra de extrema incompetênciainstitucional.
A&E – O computador trabalha alógica, muitas vezes em detrimento
dos relacionamentos. O que fazernesses casos ?Moran – Os computadores, comomáquinas isoladas, até agora têmdesenvolvido mais procedimentoslógicos, programas de organizaçãode atividades que funcionam comregras, padrões e previsibilidade. Autilização intensiva desses programasreforça a organização lógica do pensare do agir. Mas os computadores hojeestão ligados em redes e cada vez
mais cheios de imagens, sons emovimento. O perigo, com as criançase jovens, é justamente diminuir ocomportamento lógico, a dispersão,o encantamento pela multiplicidadeincessante de imagens e sons, oconsumo acrítico de tantas sensaçõesinformacionais. A multimídia émuito rica, mas se é consumidarapidamente, sem tempo de reflexãoe aprofundamento, pode contribuirpara transformar o computador em
um forte meio de sedução informativae de interação emocional com osoutros sem avançar significativamentena organização do conhecimento, nacontextualização da informação. Oimportante é desenvolver o sensocrítico no processo de construçãoe de organização da aprendizagem,mantendo o equilíbrio entre o contatofísico e o virtual, entre as atividadesintelectuais (predominantementelógicas) e as socioafetivas que se
dão por meio das redes, do rela-cionamento, da interação presenciale da conexão a distância, do estarjuntos virtualmente. Tudo o que éem excesso prejudica.
A&E – Como as pessoas devem lidarcom a tecnologia e a velocidade dasmudanças ?Moran – Educar é ajudar a construircaminhos para que nos tornemos mais
livres, para poder fazer as melhoresescolhas em cada momento. Se atecnologia nos domina, caminhamosna direção contrária, da dependênciadela. A tecnologia é importante, mas
sempre é um meio, um apoio, nãopode converter-se numa finalidadeem si.
A tecnologia nos ajuda a realizaro que desejamos, o que temos emmente, os modelos de educaçãoque queremos implantar. Se somosgestores preocupados mais com olucro, ela nos propicia formas detrabalhar com escala, de diminuircustos.Se somos centralizadores, existem
inúmeros softwares de registroe controle, que ajudam a tornara escola mais autoritária. Sesomos pessoas com uma visão degestão democrática, utilizaremosa tecnologia para incentivar aparticipação, a troca de informações,as decisões compartilhadas. Atecnologia está em tudo, a toda hora,em qualquer lugar. Ela nos ajuda ecomplica como pessoas e comosociedade. É importante estarmos
atentos, individual e coletivamente,para utilizá-la de forma sensata,equilibrada e inovadora. Na edu-cação, creio que já superamos afase da desconfiança radical datecnologia, mas o deslumbramento,o encantamento e a expectativa deque ela possa resolver magicamentenossos problemas é uma outraforma simplista de alimentar novase perigosas dependências.Hoje, é desafiador aprender a equi-
librar a demanda de incessan-te informação instantânea ecomunicação virtual com aconvivência afetiva e carinhosacom as pessoas com as quais nosrelacionamos no espaço familiar,profissional e de lazer, aprendendotambém a encontrar tempo parameditar, refletir e descansar deforma simples e desconectada datecnologia.
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