armarinho 06/02/2011

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SALVADOR DOMINGO 6/2/2011 8 2 Fotos históricas da Associação Comercial Como parte das comemorações dos 200 anos da Associação Co- mercial da Bahia (ACB), o Sal- vador Shopping apresenta uma exposição com 14 fotografias que registram a história da ins- tituição e do bairro do Comér- cio. Os flagrantes vão desde o século 19 até os dias atuais. A exposição, que está localizada no Espaço Gourmet – Piso L1, fica no local até hoje. Pop-up bar na Praia do Forte até março Até a segunda semana de mar- ço, quatro praias badaladas do Brasil, inclusive a Praia do Forte (Tivoli Ecoresort), na Bahia, se- diam um pop-up bar (bar que funciona por tempo limitado) promovido pelo espumante Chandon. O Chandon Bubble Bar é totalmente customizado e está presente também em Ilha- bela, Búzios e Florianópolis. Luta de classes Danuza Leão Escritora e cronista Há uns dois anos, tive uma dia- rista que começava a trabalhar muito cedo – por escolha dela; às 6 horas, ela já estava em minha casa. Uma morenona bem carioca, simpática, riso- nha, disposta, sempre de altís- simo astral. Gostei dela, e, como detesto fazer ares de patroa – e não sei –, tínhamos uma relação amistosa e legal, como devem ser todas as relações. Algum tempo depois, come- cei a fazer aula de natação em um clube que fica a uns 500 metros de minha casa. A aula era às 7 horas, mas, e a pre- guiça? Preguiça de levantar da cama, e enfrentar a distância ficou difícil. Tive, então, uma ideia: levá-la comigo. Assim, te- ria companhia para ir e voltar, e seria mais fácil a caminhada. Vamos deixar bem claro: não foi nem um ato de gentileza de minha parte, nem pensei ape- nas em meu proveito. Achei que seria bom para as duas, e ela, que talvez nunca tivesse entra- do numa piscina, ia adorar. Perguntei se gostaria, ela fi- cou toda feliz, e a partir daí todos os dias íamos juntas, con- versando. Eu pagava minha au- la e a dela, e, às 8h30, está- vamos de volta, alegres, falan- do sobre nossos progressos. Já que não posso mudar o mundo, pensei, estou exercen- do o socialismo – ou a demo- cracia – pelo menos em meu território. Mas notei que, a cada vez que contava isso para os amigos, nenhum deles dizia uma palavra; nem para achar que tinha sido uma boa solução, nem para ficar contra, nem ao menos para achar al- guma graça. Silêncio geral e total. O tempo foi passando. Co- mecei a perceber pequenos desvios no troco, às vezes dava por falta de uma das três man- gas compradas na feira, os pi- colés que guardava no freezer desapareciam, os refrigerantes Comecei a perceber pequenos desvios no troco, às vezes dava por falta de uma das três mangas compradas na feira, e eu pensava: "Tem dó, Danuza, afinal, ela toma duas conduções para vir” CURTAS e sabonetes também, e eu pen- sava: "tem dó, Danuza, afinal ela toma duas conduções para vir, duas para voltar, a grana é pouca, se ela fica com oito ou dez reais da feira, é distribuição de renda. E se comeu metade do Gruyère, dizer que o queijo francês é só seu, é um horror"; e assim fomos indo. Fomos indo até que um dia viajei por um mês, e quando voltei, houve problema com um cheque; coisa pouca, mas ficou claro, claríssimo, que ti- nha sido ela, e tive que de- miti-la, o que aliás me custou bem caro, em dinheiro e pela deslealdade. Depois da demissão, fui des- cobrindo coisas mais graves – e nem vou contar todas, só uma delas: nos fins de semana, ela vinha com o marido, punha o carro na garagem do prédio e o casal passava o fim de se- mana na minha casa. Depois de recibos assinados, tudo liquidado, chegou a conta do telefone do mês em que eu estive fora: havia 68 ligações para um único celular. Liguei para o tal número e soube que era de um funcionário do clube de natação, que ela paquerava. Quando entrou a substituta, tive que comprar lençóis, toalhas e um monte de coisas que ela ha- via levado. Sei que não sou um modelo de dona de casa, mas alguém conta todos os dias quantos lençóis tem? E tranca os armários? Não eu. Durante um bom tempo fiquei mal: pela confiança, pela trai- ção, depois de quase dois anos de convivência. E agora? Agora, não sei. Afinal, somos ou não somos todos seres hu- manos iguais, como me ensi- naram? Ou é preciso mesmo existir uma distância emprega- do/patrão, como dizem outros? Ou esse foi um caso singular? Aprendi que a luta de classes começa dentro de nossa casa, e mais especificamente, dentro da geladeira. E enquanto o mun- do não muda, passei a comprar queijo de Minas, que além de tudo não engorda. PS: com seu bigodinho re- cém-aparado, e o cabelo re- cém-pintado, o senador Sarney está a cara do ator Dirk Bogarde em Morte em Veneza. Sei que não sou um modelo de dona de casa, mas alguém conta todos os dias quantos lençóis tem? ARMARINHO PEDRO FERNANDES Confira os cinco melhores desfiles e looks da SPFW Inverno 2011 Fotos Zé Takahashi / Agência Fotosite Da esquerda: O bom humor da Neon, o luto de Herchcovicth, as linhas de Glória Coelho, as estampas de Ronaldo Fraga e a androginia de João Pimenta BOCAS VERMELHAS E UVA DOMINAM AS PASSARELAS Diferente do que normalmente acontece nas semanas de moda, os maquiadores dos desfiles da SPFW Inverno 2011 vieram com propostas pouco ousadas para as passarelas e muito próximas do que pode ser usado tranquilamente na rua. Algumas, como as da Osklen, Tufi Duek, Maria Bonita e Colcci, vieram com aspecto de cara lavada e a maioria investiu na boca e deixou os olhos naturais. O batom vermelho intenso foi o hit das passarelas e apareceu nos desfiles de Ronaldo Fraga, Cori, Ana Salazar, Ghetz e Do Estilista, ao lado dos tons de uva, usados nas apresentações da Neon, Juliana Jabour, André Lima e Reinaldo Lourenço. Andre Conti / Agência Fotosite CARTEIRAS E CLUTCHS SÃO TENDÊNCIAS NO INVERNO Apesar de aparecerem em diversos formatos, alguns modelos de bolsas se repetiram com muita frequência. Alguns mais divertidos, como as frutas da Amapô, e outros mais clássicos e refinados, como as carteiras de Tufi Duek, em couro com detalhe de madeira, e de Reinaldo Lourenço, bordada de pérolas. Mas must have mesmo é a carteira com cara de marmita de metal da Maria Bonita (foto), que homenageou os trabalhadores que construíram Brasília. As clutchs também estão em voga e foram usadas por Herchcovitch (foto) e Iódice. Fotos Marcelo Soubhia / Agência Fotosite SAPATOS ARROJADOS SÃO DESTAQUE NA SPFW Ao contrário das marcas do Fashion Rio, que praticamente fecharam na tendência dos modelos masculinos como oxford e desert boots em versões femininas, as grifes da São Paulo Fashion Week investiram em variedade e criatividade. Os sapatos com salto em vírgula e detalhe no bico apresentados por Glória Coelho em diferentes combinações de cores são, apesar de difíceis, o objeto de desejo da temporada de inverno. As mais discretas podem dar preferência ao sapatênis com bico transparente da Maria Bonita, que vem nas cores cinza, azul, marrom e branco. Nessa São Paulo Fashion Week ficou difícil falar de tendências. O que é bom, pois aponta que as marcas estão mais voltadas para a construção de suas pró- prias identidades. Ainda assim foi possivel pescar algumas coin- cidências entre as coleções, co- mo as formas em trapézio, o comprimento dos vestidos, na altura dos joelhos, e o uso de muito couro, pele e lãs. Mas isso é o que deve im- portar menos em se tratando da maior semana de moda da Amé- rica-Latina. Porque inovação, criatividade, design e reflexão são os critérios mais relevantes na análise das coleções apre- sentadas nas temporadas. Pen- sando nisso, a coluna elegeu os cinco melhores desfiles. Em primeiro lugar fica a Neon, com suas roupas bem humo- radas, dramáticas e com doses fortes de surrealismo. Herchco- vitch vem em seguida com uma coleção lúgubre, que joga bem com pesos e levezas dos ma- teriais e das cores. Já Glória Coelho continua com estruturas fluidas e aerodinâmi- cas, mas dessa vez veio com um pé nos anos 1930 e 1960. O mineiro Ronaldo Fraga faz uma menção literal ao artista plástico Athos Bulcão usando seus de- senhos como estampas, mas compensa nas linhas arrojadas de suas criações. Já João Pimen- ta afia o conceito sem esquecer da usabilidade com a sublima- ção do corpo masculino por meio de roupas litúrgicas.

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Coluna de moda publicada no Caderno 2+ do Jornal A Tarde

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Page 1: Armarinho 06/02/2011

SALVADOR DOMINGO 6/2/20118 2

Fotos históricas daAssociação Comercial

Como parte das comemoraçõesdos 200 anos da Associação Co-mercial da Bahia (ACB), o Sal-vador Shopping apresenta umaexposição com 14 fotografiasque registram a história da ins-tituição e do bairro do Comér-cio. Os flagrantes vão desde oséculo 19 até os dias atuais. Aexposição, que está localizadano Espaço Gourmet – Piso L1,fica no local até hoje.

Pop-up bar na Praiado Forte até março

Até a segunda semana de mar-ço, quatro praias badaladas doBrasil, inclusive a Praia do Forte(Tivoli Ecoresort), na Bahia, se-diam um pop-up bar (bar quefunciona por tempo limitado)promovido pelo espumanteChandon. O Chandon BubbleBar é totalmente customizado eestá presente também em Ilha-bela, Búzios e Florianópolis.

Luta de classes

Danuza LeãoEscritora e cronista

Há uns dois anos, tive uma dia-rista que começava a trabalharmuito cedo – por escolha dela;às 6 horas, ela já estava emminha casa. Uma morenonabem carioca, simpática, riso-nha, disposta, sempre de altís-simo astral. Gostei dela, e, comodetesto fazer ares de patroa – enão sei –, tínhamos uma relaçãoamistosa e legal, como devemser todas as relações.

Algum tempo depois, come-cei a fazer aula de natação emum clube que fica a uns 500metros de minha casa. A aulaera às 7 horas, mas, e a pre-guiça? Preguiça de levantar dacama, e enfrentar a distânciaficou difícil. Tive, então, umaideia: levá-la comigo. Assim, te-ria companhia para ir e voltar, eseria mais fácil a caminhada.Vamos deixar bem claro: não foi

nem um ato de gentileza deminha parte, nem pensei ape-nasemmeuproveito.Acheiqueseria bom para as duas, e ela,que talvez nunca tivesse entra-do numa piscina, ia adorar.

Perguntei se gostaria, ela fi-cou toda feliz, e a partir daítodos os dias íamos juntas, con-versando. Eu pagava minha au-la e a dela, e, às 8h30, está-vamos de volta, alegres, falan-do sobre nossos progressos.

Já que não posso mudar omundo, pensei, estou exercen-do o socialismo – ou a demo-cracia – pelo menos em meuterritório.Masnoteique,acadavez que contava isso para osamigos, nenhum deles diziauma só palavra; nem paraachar que tinha sido uma boasolução, nem para ficar contra,nem ao menos para achar al-guma graça.

Silêncio geral e total.O tempo foi passando. Co-

mecei a perceber pequenosdesvios no troco, às vezes davapor falta de uma das três man-gas compradas na feira, os pi-colés que guardava no freezerdesapareciam, os refrigerantes

Comecei a perceberpequenos desviosno troco, às vezesdava por falta deuma das trêsmangas compradasna feira, e eupensava: "Tem dó,Danuza, afinal,ela toma duasconduções para vir”

CURTAS

esabonetestambém,eeupen-sava: "tem dó, Danuza, afinalela toma duas conduções paravir, duas para voltar, a grana épouca, se ela fica com oito oudez reais da feira, é distribuiçãode renda. E se comeu metadedo Gruyère, dizer que o queijofrancês é só seu, é um horror";e assim fomos indo.

Fomos indo até que um diaviajei por um mês, e quandovoltei, houve problema comum cheque; coisa pouca, masficou claro, claríssimo, que ti-nha sido ela, e tive que de-miti-la, o que aliás me custoubem caro, em dinheiro e peladeslealdade.

Depois da demissão, fui des-cobrindo coisas mais graves –e nem vou contar todas, sóumadelas:nosfinsdesemana,ela vinha com o marido, punhao carro na garagem do prédioe o casal passava o fim de se-mana na minha casa.

Depoisderecibosassinados,tudo liquidado, chegou a contado telefone do mês em que euestive fora: havia 68 ligaçõespara um único celular. Ligueipara o tal número e soube que

era de um funcionário do clubede natação, que ela paquerava.Quando entrou a substituta, tiveque comprar lençóis, toalhas eum monte de coisas que ela ha-via levado. Sei que não sou ummodelo de dona de casa, masalguém conta todos os diasquantos lençóis tem?

E tranca os armários? Não eu.Durante um bom tempo fiqueimal: pela confiança, pela trai-ção, depois de quase dois anosde convivência. E agora?

Agora, não sei. Afinal, somosou não somos todos seres hu-manos iguais, como me ensi-naram? Ou é preciso mesmoexistir uma distância emprega-do/patrão, como dizem outros?Ou esse foi um caso singular?

Aprendi que a luta de classescomeça dentro de nossa casa, emais especificamente, dentrodageladeira.Eenquantoomun-do não muda, passei a comprarqueijo de Minas, que além detudo não engorda.

PS: com seu bigodinho re-cém-aparado, e o cabelo re-cém-pintado, o senador Sarneyestá a cara do ator Dirk Bogardeem Morte em Veneza.

Sei que não souum modelo dedona de casa, masalguém conta todosos dias quantoslençóis tem?

ARMARINHO PEDRO FERNANDES

Confira os cinco melhores desfilese looks da SPFW Inverno 2011

Fotos Zé Takahashi / Agência Fotosite

Da esquerda: Obom humor daNeon, o luto deHerchcovicth, aslinhas de GlóriaCoelho, asestampas deRonaldo Fraga ea androginia deJoão Pimenta

BOCAS VERMELHAS E UVADOMINAM AS PASSARELAS

Diferente do quenormalmente acontece nassemanas de moda, osmaquiadores dos desfiles daSPFW Inverno 2011 vieramcom propostas pouco ousadaspara as passarelas e muitopróximas do que pode serusado tranquilamente na rua.Algumas, como as da Osklen,Tufi Duek, Maria Bonita eColcci, vieram com aspecto decara lavada e a maioriainvestiu na boca e deixou osolhos naturais. O batomvermelho intenso foi o hit daspassarelas e apareceu nosdesfiles de Ronaldo Fraga,Cori, Ana Salazar, Ghetz e DoEstilista, ao lado dos tons deuva, usados nasapresentações da Neon,Juliana Jabour, André Lima eReinaldo Lourenço.

Andre Conti / Agência Fotosite

CARTEIRAS E CLUTCHS SÃOTENDÊNCIAS NO INVERNO

Apesar de aparecerem emdiversos formatos, algunsmodelos de bolsas serepetiram com muitafrequência. Alguns maisdivertidos, como as frutas daAmapô, e outros maisclássicos e refinados, como ascarteiras de Tufi Duek, emcouro com detalhe demadeira, e de ReinaldoLourenço, bordada de pérolas.Mas must have mesmo é acarteira com cara de marmitade metal da Maria Bonita(foto), que homenageou ostrabalhadores queconstruíram Brasília. Asclutchs também estão emvoga e foram usadas porHerchcovitch (foto) e Iódice.

Fotos Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

SAPATOS ARROJADOS SÃODESTAQUE NA SPFW

Ao contrário das marcas doFashion Rio, que praticamentefecharam na tendência dosmodelos masculinos comooxford e desert boots emversões femininas, as grifesda São Paulo Fashion Weekinvestiram em variedade ecriatividade. Os sapatos comsalto em vírgula e detalhe nobico apresentados por GlóriaCoelho em diferentescombinações de cores são,apesar de difíceis, o objeto dedesejo da temporada deinverno. As mais discretaspodem dar preferência aosapatênis com bicotransparente da Maria Bonita,que vem nas cores cinza, azul,marrom e branco.

Nessa São Paulo Fashion Weekficou difícil falar de tendências.O que é bom, pois aponta queas marcas estão mais voltadaspara a construção de suas pró-prias identidades. Ainda assimfoipossivelpescaralgumascoin-cidências entre as coleções, co-mo as formas em trapézio, ocomprimento dos vestidos, naaltura dos joelhos, e o uso demuito couro, pele e lãs.

Mas isso é o que deve im-portar menos em se tratando damaiorsemanademodadaAmé-rica-Latina. Porque inovação,criatividade, design e reflexãosão os critérios mais relevantesna análise das coleções apre-sentadas nas temporadas. Pen-sando nisso, a coluna elegeu oscinco melhores desfiles.

EmprimeirolugarficaaNeon,com suas roupas bem humo-radas, dramáticas e com dosesfortes de surrealismo. Herchco-vitch vem em seguida com umacoleção lúgubre, que joga bemcom pesos e levezas dos ma-teriais e das cores.

JáGlóriaCoelhocontinuacomestruturas fluidas e aerodinâmi-cas, mas dessa vez veio com umpé nos anos 1930 e 1960. Omineiro Ronaldo Fraga faz umamençãoliteralaoartistaplásticoAthos Bulcão usando seus de-senhos como estampas, mascompensa nas linhas arrojadasde suas criações. Já João Pimen-ta afia o conceito sem esquecerda usabilidade com a sublima-ção do corpo masculino pormeio de roupas litúrgicas.