armando e hoet; mv, phd, dipl acvpm director, veterinary public
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O projeto "SAPUVETNET III: contribuindo para os Objetivos de
Desenvolvimento do Milnio, atravs do conceito de "Uma Sade",
apresenta o primeiro manual de sade pblica veterinria desenvolvido
em cooperao com a Amrica Latina e a Europa.
Este manual o resultado da unio de esforos de acadmicos de
dezasseis universidades da Amrica Latina e da Europa e reflete os
consensos alcanados sobre os contedos essenciais ao ensino da Sade
Pblica Veterinria (SPV). Destina-se a fornecer material de base que
facilite o acesso a uma viso global das principais aes passveis de serem
praticados, na maioria dos pases, por veterinrios. Destinam-se a
estudantes, professores e profissionais interessados no campo da sade
pblica.
Para a redao do Manual, houve um perodo de discusso e reflexo
sobre o "currculo" a ser seguido em Instituies de ensino de sade
pblica veterinria, de modo a capacitar os futuros veterinrios para
enfrentar os desafios do milnio dentro do marco de "Uma Sade". Neste
debate, alm de membros do grupo SAPUVETNET, tambm participaram
colegas de outras instituies, j que os problemas e os planos de estudo
que se apresentam, foram discutidos atravs da organizao de
conferncias eletrnicas, conferncias internacionais, seminrios
regionais e pela avaliao interpares.
Esperamos que gostem e enviem comentrios e sugestes para que
futuras edies espelhem essas contribuies e concorram para resolver
as necessidades de educao para a sade pblica e para reforar a
cooperao entre a Amrica Latina e a Unio Europeia.
Realamos e agradecemos a valiosa colaborao e disponibilidade
evidenciadas pela FAO e OPAS/OMS, durante a vigncia do projeto.
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Lista Revisores externos
Coordenador: Armando E Hoet; MV, PhD, Dipl ACVPM Director, Veterinary Public Health Program
REVISOR Grau
Acadmico INSTITUIO PAS
Alberto Medina MV, PhD Faculdade de Cincias Veterinrias Universidade Complutense de Madrid
Espanha
Antonio Landaeta-
Hernandez MV, MSc, PhD
Departamento de Produccin e Industria Animal, Facultad de Ciencias Veterinarias, La Universidad del Zulia
Venezuela
Argenis Rodas-
Gonzalez MV, MSc, PhD
Lacombe Research Centre, Agriculture and Agrifood Canada (AAFC)
Canada
Armando E Hoet MV, PhD,
Dipl ACVPM
Director, Veterinary Public Health Program Department of Veterinary Preventive Medicine College of Veterinary Medicine The Ohio State University
Estados
Unidos
Audrey Torres MV, PhD Departamento de Produccin Industrial y Animal, Facultad de Ciencias Veterinarias, Universidad Centro Occidental Lisandro Alvarado
Venezuela
Claudia Narvaez MV, MSc, PhD Lacombe Research Centre, Agriculture and Agrifood Canada (AAFC)
Canada
Dubraska V Diaz-
Campos MV, PhD
Veterinary Microbiology and Pathology Department, College of Veterinary Medicine, Washington State University / Washington Animal Disease Diagnostic Laboratory.
Estados
Unidos
Jorge Crdenas Lara MVZ, MSP. Facultad de Medicina Veterinaria y Zootecnia de la Universidad Nacional Autnoma de Mxico
Mxico
Katinka DeBalogh MV, MSc, PhD Programa de Salud Publica Veterinaria, Servicio de Salud Animal, Organizacin de las Naciones Unidas para la Alimentacin y la Agricultura (FAO).
Itlia
Rafael Olea Prez MVZ. PhD. Facultad de Medicina Veterinaria y Zootecnia de la Universidad Nacional Autnoma de Mxico
Mxico
Ral E. Vargas Garca MVZ, MSP,
MPVM.
Departamento de Medicina Preventiva y Salud Pblica. Facultad de Medicina Veterinaria y Zootecnia Universidad Nacional Autnoma de Mxico
Mxico
Stella Maris Huertas MV, MSc. Facultad de Veterinaria Universidad de la Repblica del Uruguay
Uruguay
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NDICE GERAL
Sade Pblica Veterinria: desde as suas origens at ao Sc. XXI pgina 7
Principais ferramentas para estudar e intervir em fenmenos de Sade
Pblica Veterinria
pgina
26
Anlise de Risco pgina 44
A influncia das alteraes climticas e ambientais no surgimento de
doenas emergentes e reemergentes.
pgina
88
Segurana alimentar, qualidade e higiene dos alimentos pgina 110
Impacto ambiental dos resduos gerados nos sistemas de produo
animal
pgina
132
Biodiversidade: gesto da fauna e meio ambiente e sua relao com a
sade pblica
pgina
158
Zoonoses emergentes, reemergentes e negligenciadas pgina 174
Resistncia bacteriana: estratgias para o seu controlo, boas prticas e
uso prudente de antimicrobianos
pgina 204
Bem-estar animal e sade pblica pgina 229
Papel das cincias veterinrias em situaes de desastre pgina 241
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NDICE DE TABELAS/QUADROS
Sade Pblica Veterinria: desde a sua origem at ao Sec XXI
Quadro 1. Fatores com influncia na sade pblica veterinria no Sc. XXI
pgina
21
Quadro 2. Competncias gerais e prticas do m.v. de sade pblica veterinria
pgina 24
Quadro 3. Disciplinas necessrias para alcanar as competncias especficas de sade pblica
pgina 25
Quadro 4. Proposta de currculo em S.P.V. pgina 26
Anlise de Risco
Tabela 1. Perigos que se podem encontrar ou detetar associados aos alimentos
pgina 58
Tabela 2. Lista de alguns agentes patognicos que podem afetar o comrcio internacional.
pgina 62
Tabela 3. Estimativa de risco pgina 75
A Influncia das alteraes climticas no aparecimento de doenas re/emergentes
Tabela 1. Alguns exemplos de fatores climticos e ambientais que influenciam a transmisso e a distribuio das doenas transmitidas por vetores
pgina
108
Biodiversidade: gesto da fauna e meio ambiente e sua relao com a sade pblica
Tabela 1: Posio dos pases pgina 170
Papel das cincias veterinrias em situaes de desastre
Tabela 1. Principais desastres no epidmicos com impacto em animais, na Amrica do Sul, durante as duas ltimas dcadas.
pgina 254
Tabela 2. Etapas ou componentes do ciclo de um desastre ou emergncia.
pgina 258
Tabela 3. Fatores que facilitam o surgimento de uma doena durante ou posterior a um desastre. Exemplos de doenas zoonticas e seus fatores predisponentes.
pgina 261
Tabela 4. Fases e atividades de ateno veterinria em desastres. pgina 263
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NDICE DE FIGURAS
Sade Pblica Veterinria: desde a sua origem at ao Sec XXI
Figura 1. A domesticao como incio da relao interdependente
entre os animais e a sobrevivncia do homem. pgina 8
Figura 2. Interveno e contribuio da veterinria na sade
pblica. pgina 14
Figura 3. Relaes entre os setores de sade pblica veterinria pgina 20
Anlise de Risco
Figura 1. Esquema dos diferentes componentes duma anlise de
risco pgina 52
Papel das cincias veterinrias em situaes de desastre
Figura 1. Trabalhos de contingncia aps a derrocada de um caminho rural, causado por chuvas intensas (Foto: Diego Soler-Tovar).
pgina 253
Figura 2. Animais de produo como os bovinos podem ficar atolados aps inundaes ou deslizamentos de terras (Foto: Diego Soler-Tovar)
pgina 254
Figura 3. Os incndios florestais podem ser causados acidentalmente ou intencionalmente pela atividade humana. (Foto: Diego Soler-Tovar).
pgina 254
Figura 4. Imagem relativamente frequente nos pases andinos, construes originadas por migraes de pessoas para zonas periurbanas, onde o parque habitacional deficiente, vulnervel a desastres naturais e ao aumento de contacto com ameaas de tipo biolgico (Foto: Diego Soler-Tovar).
pgina 256
Figura 5. As carcaas de animais mortos em situaes de desastre devem ser avaliados para decidir o seu destino/modo de eliminao. (Foto: Diego Soler-Tovar).
pgina 265
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S
SADE PBLICA VETERINRIA: DESDE AS SUAS ORIGENS AT AO SCULO XXI
COMPETNCIAS A ADQUIRIR PELOS ESTUDANTES:
* Conhecer o contexto histrico e os antecedentes da relao homem-animal
* Identificar as contribuies especficas da cincia veterinria para a sade pblica
* Reconhece e dominar os desafios dos veterinrios na Sade Pblica Veterinria (SPV) no
sculo XXI
* Compreender o papel estratgico da academia para enfrentar os desafios do sculo XXI em
SPV
Pergunta orientadora:
Sabe quais so as atividades em que os animais influenciem a sade humana e quando que
comeou essa relao?
A RELAO HOMEM-ANIMAL E AS ORIGENS DA SADE PBLICA VETERINRIA (SPV) NA
HISTRIA DAS CINCIAS VETERINRIAS
Desde as sociedades mais primitivas que uma das atividades mais importantes tem sido a
procura de alimentos (coleta de razes, frutos e sementes, caa de pequenos animais e pesca).
Adicionalmente, a conservao e proteo destes alimentos de forma a evitar perdas e doenas
tem sido uma preocupao constante das diferentes culturas.
Desde a sua origem, o aproveitamento do meio ambiente pelo homem, isto , o uso das outras
espcies vivas e outros elementos da natureza e do seu habitat tem sido inquestionvel no
progresso do homem atravs dos vrios estgios da sua evoluo.
A domesticao animal representa um marco fundamental no desenvolvimento da sociedade,
do esprito de sade comunitria, e aquilo que hoje reconhecido como sade pblica
veterinria. Para o seu bem-estar e sobrevivncia, o homem utilizou os recursos existentes sua
volta, atingindo diferentes graus de adaptao e desenvolvimento (1)
Luis Carlos Villamil, MV, MSc; PhD
Facultad de Ciencias Agropecuarias, U. de la Salle, Bogot,
Colombia
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Figura 1. A domesticao como o incio da relao de interdependncia entre animais e a
sobrevivncia humana
Devido relao estreita entre o homem e os animais ao longo da histria, a sade e a doena
em ambas as populaes esto intrinsecamente relacionadas. A sade pblica veterinria deve
a sua origem e o seu desenvolvimento a esta relao.
A estreita ligao de convivncia entre o homem e os animais, desde a sua origem at hoje,
permitiu a subsistncia, promoveu o conhecimento, impulsionou a indstria, desenvolveu a
agricultura, a comunicao, o transporte, a cincia e a tecnologia. Diferentes culturas do mundo
antigo referem-se participao social proeminente dos veterinrios e sua importncia para
a sade e o bem-estar da comunidade.
Desde a antiguidade, algumas das doenas, entre elas a raiva, foram identificadas como de
interesse para a comunidade; na Babilnia, o cdigo Eshunna (2300 a.C.), destaca os cuidados
que se devem ter para evitar que um co doente morda os vizinhos e que se morder algum e
a pessoa morrer, o proprietrio dever pagar uma alta indemnizao ou multa. Na Mesopotmia
(1700 a.C.), o Cdigo de Hamurabi, indica vrios aspetos da prtica mdica, honorrios e
punies dos mdicos, detalhados nos artigos 224 e 225 com os procedimentos para o
tratamento de doenas de animais, os honorrios que eles devem receber pelo seu trabalho, e
a respetiva punio quando falhem (Reyes et al, 2006).
O papiro Kahun, o mais antigo documento escrito encontrado em 1890 sobre a prtica
veterinria e que faz parte da cultura egpcia (1800 a.c.) descreve os factos relacionados com a
arte da cura dos animais, indicando os procedimentos de diagnstico, prognstico, sintomas e
tratamento de doenas em bovinos, candeos, peixes e aves. Durante este perodo, o
embalsamento permitiu o desenvolvimento de conhecimentos em anatomia comparada
(Schwabe, 1984).
Benefcios da domesticao.
O incio da Sade Pblica
Veterinria.
Aumentar a fora de trabalho, para a caa e a guerra. Utilizar animais, tais como o cavalo, burro e lama para o transporte.
Para alimentao e nutrio.
Fornecer calor, peles, couro e l
Desporto e lazer
Para companhia
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As prticas relacionadas com a proteo dos alimentos e a preveno de zoonoses tambm vm
de longe. As sagradas escrituras constituem uma referncia a tais prticas. Os animais que
podem servir para a alimentao so os que tm o casco fendido e que ruminam. Quer isto dizer
que os seguintes animais no devem ser ingeridos: o camelo que rumina mas no tem o casco
fendido; o coelho (ou o texugo) que rumina mas no tem casco fendido; a lebre que tambm
rumina mas no tem casco fendido; o porco que ainda que tenha o casco fendido no rumina.
No devero comer a sua carne nem sequer tocar nos seus cadveres. alimento que vos
proibido... No que se refere s aves, so as seguintes as que no devem comer: a guia, o
abutre... Mas tudo o mais que voe e que tenha quatro patas proibido. ... Nenhum inseto que
voe, que tenha quatro patas, devero comer; com exceo de todos os que saltam... (Levtico).
Nestes textos, atribui-se carne de certos animais ligaes com doenas humanas, de modo
que os rituais estabelecidos para o abate desses animais, favoreciam a conservao da carne e
a inspeo meticulosa do estado sanitrio das vsceras e da carne, para aprovar o seu consumo
sem afetar o consumidor. Indiscutivelmente, esta foi uma das primeiras prticas veterinrias em
sade pblica.
Veterinrio um termo que nasceu no primeiro sculo da nossa era, na obra: Res Rustica (Os
trabalhos do campo) de Lucius Junius Moderatus Columela. A cincia veterinria desde as suas
origens e ao longo do seu desenvolvimento apresenta vrios aspetos histricos, onde
convergem os interesses comuns sob o ponto de vista do conhecimento mdico, a sade das
populaes animais e o seu impacto sobre as comunidades humanas e o meio ambiente.
Desde o seu incio, o conhecimento mdico e veterinrio estiveram intimamente relacionados
com a figura mitolgica do centauro Quron, metade homem e metade animal, ser justo e
hospitaleiro, educador de heris, mdicos e cirurgies. Quiron representa o lendrio fundador
de veterinria. Ele foi o mentor e o pai adotivo de Esculpio, deus da arte de curar, o pai de
Hygeia, a deusa da sade a partir da qual deriva o termo higiene. Em Quron reflete-se o
conhecimento mdico, o conhecimento veterinrio, a sade comunitria, mas tambm a
vocao docente. Representar a origem mtica da profisso com Quron como lendrio
fundador, assinala dois elementos importantes: o ensino da arte de curar e a transferncia de
conhecimento com uma projeo na sade comunitria. No por coincidncia, que tambm
desde a lenda, o veterinrio identificado com as contribuies para a clnica individual e a
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sade coletiva; o caduceu ou basto de Esculpio o smbolo mundial da profisso mdica e
veterinria.
No seu incio, a educao veterinria foi muito influenciada pelo pensamento Iluminista do
sculo XVIII e atravs da j referida razes cientficas, baseadas fundamentalmente a experincia
acumulada dos sculos anteriores, que foram dedicados ao cuidado dos animais. O primeiro
centro francs recuperou o termo "veterinria", usado pela primeira vez por Columela (Lucius
Julius Moderatus), na sua obra Res Rustica, durante o primeiro sculo (d.c.), que tinha cado em
desuso durante a Idade Mdia.
As doenas do gado bovino apresentaram-se com excecional intensidade nos sculos XVII e
XVIII. Em 1609 a peste bovina espalhou-se para todos os pases da Europa Central.
A primeira escola veterinria foi fundada em Lyon, em fevereiro de 1761, durante o reinado de
Lus XV. A segunda foi a de Alfort, fundada em outubro de 1766. Claude Bourgelat, fundador da
escola de Lyon, participou assiduamente em atividades cientficas que se realizavam em Frana
na segunda metade do sculo XVIII.
As publicaes "Nouveau Trait de Cavalerie" e "lments d'hippiatrique" fizeram dele um dos
principais autores do seu tempo, destacando-se pela metodologia cientfica, adquirida atravs
do seu trabalho e cooperao com os cirurgies de Lyon, com quem estudou a anatomia equina.
Em 1761 em Frana, Lus XV promoveu a preveno das doenas do gado, proteo de pastagens
e formao de agricultores. Realizar esta reforma agrria implicou, entre outras coisas, criar uma
outra escola veterinria em Lyon e nomear Bourgelat como o diretor da mesma. Dois anos
depois, um decreto real nomeava Bourgelat como "Diretor e Inspetor Geral da Escola Veterinria
de Lyon e de todas as escolas veterinrias criadas no reino" e mais tarde como "Comissrio Geral
das cavalarias do Reino".
Os fundadores das escolas veterinrias da Europa foram formados em Lyon e em Alfort nos finais
do sculo XVIII. Alguns eram franceses que deixaram o pas depois da sua formao e outros
eram estrangeiros que foram enviados para Frana pelos governos dos seus pases para
aprender os princpios fundamentais da nova arte da medicina veterinria.
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Duas frases extradas do livro "Regulamentos para as Escolas Veterinrias Reais" (publicado em
1777, dois anos antes de sua morte), o seu "testamento filosfico", assinala a sua contribuio:
As portas das nossas escolas esto abertas a todos aqueles cuja misso garantir a preservao
da humanidade e que adquiriram, atravs do renome que alcanaram, o direito de frequenta-
los para estudar a natureza, procurar analogias e verificar ideias cuja confirmao pode ser til
para a espcie humana.
Os problemas comuns aos seres humanos e animais e a preocupao com a segurana alimentar
eram evidentes j no sculo XVII, quando foi aceite que a sade dos animais influencia a sade
humana e o meio ambiente; na Alemanha, Ludwig von Seckendorf formulou um programa
sanitrio estatal, em que se estabelecia a inspeo de alimentos e outras medidas para proteger
a populao de doenas infeciosas.
Entre 1779 e 1817, o alemo Johan Peter Frank, publicou uma srie de trabalhos sobre sade
pblica que abordavam temas como doenas de animais e consumo de carne. Em 1848, foram
estabelecidos em cada municpio os Conselhos de Sade e foram contratados os primeiros
veterinrios por um perodo de quatro anos.
COMO SE DEFINE SADE PBLICA VETERINRIA
Entende-se por sade pblica como a atividade que visa melhorar a sade das populaes.
Segundo a definio da OMS (1978), a mesma consiste em "todas as atividades relacionadas
com a sade e doena de uma populao, o estado sanitrio e ecolgico do meio ambiente, a
organizao e o funcionamento dos servios de sade e da doena, a planificao e gesto dos
mesmos e a educao para a sade. As suas atividades devem traduzir-se no aumento de
esperana de vida do homem atravs da promoo da sade, da preveno e do controlo de
doenas, a melhoria na produo e sanidade de alimentos e a proteo do meio ambiente (OMS,
1981, 2002).
Do ponto de vista das cincias veterinrias, a SPV refere-se s "reas de Sade Pblica, nas quais
a medicina veterinria tem um interesse especial (Schwabe, 1984)" e, portanto, o veterinrio
trabalha em atividades em que o seu conhecimento pode contribuir diretamente para a soluo
de problemas de sade e doenas da espcie humana (OMS / WHO, 2002).
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A Reunio Interamericana a Nvel Ministerial, em Sade e Agricultura, RIMSA, de 2001 props
que "a SPV um componente das atividades de sade pblica, dedicada aplicao de
conhecimentos, habilidades e competncias ou aptides de medicina veterinria para a
promoo e proteo da sade humana". Neste sentido, uma disciplina com um amplo campo
de ao, que visa alcanar estes objetivos atravs de intervenes em sade e produo animal
(OPAS, 2001).
B- CAMPOS DE AO DA SADE PBLICA VETERINRIA (SPV)
O objetivo final da medicina veterinria no reside nas espcies animais, que o que o
veterinrio geralmente faz. A sua principal finalidade reside definitivamente no homem, e
em toda a humanidade". Martinez Baez citando Schwabe, 1986
Aps vrios anos de estudo da SPV, no projeto Alfa da Unio Europeia SAPUVETNET II, Ortega
et al, (2005), apresentaram as seguintes consideraes relacionadas com as suas atividades e
intervenes:
A SPV tem um amplo campo de ao com diferentes objetivos:
b. Deteo e compreenso de um processo adverso que surja (vigilncia
epidemiolgica) e que necessrio controlar ou eliminar.
c. Identificao de situaes de risco potencial (anlise de risco) e a sua gesto de
modo a evitar a sua ocorrncia ou para minimizar os seus efeitos, tanto do ponto de
vista sanitrio como econmico.
A interveno veterinria na proteo da sade da comunidade concentra-se em trs situaes:
d. Processos "epidmicos", tanto de "zoonoses", doenas ou infees que se
transmitem de forma natural de animais para seres humanos ou vice-versa (Toma
et al, 1991, Thrusfield, 1997; Acha e Szifres, 2001), como de "no zoonoses" doenas
de animais que, apesar de no serem transmitidas ao homem, tm um impacto
negativo sobre a economia por provocarem perdas significativas de produo e a
reduo da disponibilidade alimentar das populaes humanas, ou alterar o
ecossistema.
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e. Processos "no-epidmicos", em que apesar da inexistncia de uma doena animal,
provocam a morte ou o desaparecimento da populao animal numa rea,
causando problemas para a subsistncia humana ou para o meio ambiente. Tratam-
se de "catstrofes" de origem "natural", como o caso de terremotos, erupes
vulcnicas, inundaes e secas, ou de catstrofes "induzidas pelo homem", como
o caso de guerras, fugas de produtos qumicos e radioativos, derrames txicos ou
algumas formas de bioterrorismo.
f. "Consequncia da produo animal". Atividades relacionadas com a gesto e o
tratamento de animais que podem afetar os consumidores. A resistncia aos
antibiticos, causada pela utilizao inadequada de antibiticos na produo animal
(usado em muitos casos como promotores de crescimento), e por outro lado, o
"bem-estar animal" de que depende em grande medida a qualidade da produo
destinada ao consumo humano so situaes relevantes na sociedade atual.
CONTRIBUIES CONCRETAS DAS CINCIAS VETERINRIAS PARA A SADE PBLICA
A sade pblica veterinria encontra-se numa posio nica em relao ao bem-estar coletivo,
e o seu ensino deve preparar o veterinrio para que possa contribuir para a luta contra as duas
maiores catstrofes da humanidade: a fome e a doena. Isso, sem ignorar os esforos realizados
pelos veterinrios para a construo das bases da economia moderna de alguns pases
nitidamente rurais.
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Com base no exposto, a Figura 2 mostra as contribuies da cincia veterinria para o bem-estar
social.
Figura 2. Interveno e contribuio da cincia veterinria para a sade pblica
A promoo de servios de sade animal
Esta uma atividade tradicional, que tem merecido a ateno de governos e veterinrios em
todo o mundo. Numa populao, a sade animal alcanada atravs da adoo e adaptao de
avanos tecnolgicos disponveis, relacionados com a preveno e o controlo das doenas dos
animais com importncia econmica e zoontica, com o melhoramento gentico, a
disponibilidade de forragem e a gesto ambiental.
A Segurana alimentar
A segurana alimentar definida pela FAO como "a disponibilidade local de alimentos e sua
distribuio, e o acesso das pessoas aos alimentos para uma vida saudvel." Este conceito
abrange no apenas a produo de alimentos saudveis dentro de um pas, mas tambm os
fatores que interagem desde o momento da produo at ao consumo final dos alimentos: a
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comercializao, a transformao industrial e os fatores desestabilizadores ou adversos, tanto
para a produo agropecuria como para a indstria alimentar.
A segurana alimentar constitui uma responsabilidade importante dos governos, que devem
estabelecer um sistema de abastecimento de alimentos, procurando melhorar a qualidade e
segurana dos produtos destinados ao consumo, ajudando a garantir o direito de todos os seres
humanos a "um padro de vida adequado que lhes assegure a sade e o bem-estar" (OMS, 1981,
2002).
A segurana alimentar enquanto um plano de ao representa um elemento central da poltica
social de qualquer pas e nela a sade pblica veterinria desempenha um papel fundamental,
na medida que aborda a problemtica de sade no s de ponto de vista mdico, mas tambm
do ponto de vista de sade animal e da produo de alimentos seguros, devido sua relao
com o setor agrcola. Embora aparentemente se trate de um problema econmico, na verdade
tambm um problema de Sade Pblica Veterinria.
A proteo de alimentos destinados ao consumo humano
As Doenas de Origem Alimentar (DOA), so consideradas um dos problemas mais graves de
sade pblica. O seu efeito no se limita ao setor de sade, mas tambm afeta outros domnios:
econmicos, de mercado, de sade animal, e de saneamento ambiental.
J se identificaram mais de 250 DOAs, a maioria causadas por bactrias, vrus e parasitas. Muitas
zoonoses so transmitidas por alimentos, outras so causadas por toxinas ou substncias
qumicas usadas na agricultura, tais como pesticidas, aditivos e resduos de medicamentos
veterinrios.
Os programas de proteo de alimentos desempenham um papel importante no contexto da
segurana alimentar, pois garantem a segurana e a qualidade dos alimentos e evitam doenas
humanas transmitidas por alimentos de origem animal. A educao e promoo da sade em
funo dos hbitos alimentares locais, o controle ante e post mortem nas unidades de
processamento e refrigerao, a inspeo sanitria de produtos de origem animal para consumo
nacional e para exportao, o controlo e a assessoria integral cadeia produtiva, so aes que
devem ser coordenadas entre os diferentes setores: sade, agricultura, meio ambiente e
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comrcio externo. A SPV constitui o elemento facilitador e a "interface" que agiliza o fluxo de
comunicao entre essas instituies.
A Vigilncia, preveno e controlo de zoonoses e outras doenas transmissveis comuns ao
homem e aos animais
Os servios veterinrios pblicos e privados, responsveis pela preveno, controlo e eventual
erradicao das doenas animais atravs de informao para sistemas de vigilncia
epidemiolgica, estabelecem prioridades na classificao das doenas de acordo com os seus
efeitos: as que causam prejuzos produo e afetam a rentabilidade e disponibilidade dos
alimentos e portanto tm impacto nos programas de segurana alimentar; as zoonoses, que
fazem parte das atividades tpicas da SPV; e as doenas que implicam restries ao comrcio
internacional de animais, dos seus produtos e subprodutos, e que esto sujeitas a acordos
comerciais e sanitrios a nvel global.
Algumas das doenas zoonticas tornaram-se um campo de ao para a sade pblica, e
continuam a ser prioritrias. Com as mudanas nos padres de alimentao e estilos de vida, as
doenas zoonticas adquiriram ainda maior relevncia. O seu controlo requer estratgias
inovadoras, com elevado contedo tcnico prprio do mundo ps-moderno, mas tambm
estreitamente relacionadas com as atuais circunstncias sociais e econmicas.
O estudo da perceo pblica de zoonoses e os programas de preveno e controlo em pases
como a Colmbia, devem ser inseridos no contexto da medicina tropical, considerado
simultaneamente com as DOAs, doenas infeciosas e parasitrias, como tema de estudo e como
rea de nfase em programas de ps-graduao.
Meio ambiente
A proteo e o cuidado com o meio ambiente, esto relacionados com os potenciais riscos para
a sade pblica resultantes da produo, transformao, comercializao e consumo de
produtos de origem animal e da criao de animais, da presena de pragas e animais
"sinantrpicos". Deve-se ter em conta os processos de transformao de insumos, eliminao
de dejetos e o uso de agroqumicos, dadas as potenciais consequncias negativas que estes
processos podem ter sobre os utilizadores dos alimentos produzidos.
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O efeito dos inseticidas, pesticidas, fertilizantes, anti-parasitantes, etc, sobre o teor de resduos
em ovos, carne e leite; o uso de hormonas, antibiticos e outros promotores de crescimento e
o destino dos efluentes de produo primria e da indstria, e o seu potencial impacto na
deteriorao da ecologia devem ser objeto de especial ateno e vigilncia.
O desenvolvimento de bio modelos
Os bio modelos (animais produzidos cientificamente, para serem usados em investigaes
biolgicas) de qualidade, devem ser produzidos atravs da partilha de recursos e centralizao
de produo e distribuio, garantindo desta maneira a qualidade e a consistncia. Da mesma
forma, estes bio modelos so fundamentais para a existncia de avanos tecnolgicos
adequados nas cincias, consistentes com os princpios da biotica que esto a liderar a
investigao e prestao de servios de sade pblica.
Para a substituio gradual de algumas espcies animais em certas atividades e estudos
necessrios no ensino, na investigao, no diagnstico e no controlo de qualidade na indstria,
na produo biolgica e nas reas farmacuticas mdicas e veterinrias existe a tendncia de
desenvolver tecnologias in vitro, para as quais necessria uma elevada participao da
profisso veterinria e dos servios de SPV.
A preveno e cuidados em situaes de catstrofes
Neste tpico, animais e servios de sade especialmente os de SPV, encarregam-se de proteger
os alimentos submetidos a riscos de contaminao, bem como da eliminao de cadveres de
animais; do controlo de reservatrios e vetores; da preveno e controlo de zoonoses; do
armazenamento, gesto e distribuio de vacinas e outros produtos biolgicos e medicamentos;
da limpeza e desinfeo das instalaes afetadas; do controlo de alimentos doados e da
classificao dos reagentes e medicamentos; bem como da inspeo de cozinhas comunitrias,
entre outros.
Adicionalmente, os servios de sade animal devem desempenhar um papel importante na
preservao da fauna, na planificao produtiva e no controlo de epidemias de origem animal,
em situaes de seca extrema, incndios, inundaes, terremotos ou outros desastres naturais
ou catstrofes de origem humana que afetam o movimento e concentrao de gado. Os
desastres biolgicos relacionados com a introduo de doenas exticas ou o uso de armas
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biolgicas, devem encontrar nesses servios a primeira barreira organizada de conteno. Isto
constitui outro caso de cooperao intersectorial programada dos elementos ligados sade e
agricultura (Villamil e Romero, 2003).
A sade mental e os valores humanos
A relao entre o co e o homem tem uma histria de mais de 14.000 anos, e sem dvida a
mais ampla e generalizada relao simbitica entre duas espcies diferentes. Algumas das
relaes entre o homem e os animais (peixes, canrios, cavalos e outras espcies exticas) esto
enraizadas numa profunda razo cultural, religiosa ou costumes antigos. No entanto, h outras
que so claramente o resultado de intercmbio ou tendncias existentes de isolamento dos
indivduos e de sociedades e ambientes mais impessoais.
As intervenes dos veterinrios nesta rea podem contemplar uma diversidade de
possibilidades com impacto social. Na verdade, o alvio do sofrimento dos animais deve
sensibilizar a nossa preocupao pelo alvio do sofrimento humano. O veterinrio o mais
qualificado para entender e arbitrar tais implicaes e questes sociais, como o caso da
produo intensiva de animais, os procedimentos de vivisseco e as tendncias dos
consumidores face a dietas vegetarianas quando defendem a proteo e defesa da vida animal.
Por outro lado, o mdico veterinrio um elemento chave para colaborar com os profissionais
de sade, nos processos de recuperao de estados de incapacidade fsica e mental de pacientes
humanos, com doenas de origem gentica e casos de doenas crnicas ou terminais, onde o
contacto com os animais e o apoio obtido tm mostrado resultados prticos.
Turismo
Atualmente, o turismo uma das maiores indstrias o mundiais, com crescimento constante em
termos de volume, extenso geogrfica e qualidade. Milhes de pessoas movimentam-se nos
seus pases ou entre diferentes continentes com fins comerciais, desportivos ou lazer, graas
aos avanos dos meios de transporte coletivos e facilidades de financiamento.
-
19
O turismo um fenmeno econmico, social e cultural, com implicaes significativas para a
sade e bem-estar dos visitantes e residentes. Devido s mudanas ambientais e alimentares,
existem muitas pessoas vulnerveis que apresentam problemas de sade relacionados com as
suas viagens. Um nmero significativo de viajantes desenvolve doenas transmitidas por
alimentos que se manifestam de forma aguda nos locais visitados, ou aps o regresso para o seu
local de origem. Outra possvel situao quando o viajante portador de uma doena infeciosa
e torna-se um transmissor da mesma.
Neste contexto, a SPV desempenha um papel com algum protagonismo. Os cuidados com o
meio ambiente e a proteo dos alimentos em zonas tursticas constituem uma prioridade, no
s em termos da preveno de doenas transmitidas por alimentos, DOAs, mas tambm para a
diminuio dos efeitos negativos sobre a economia das zonas tursticas e a indstria alimentar,
atravs de programas de vigilncia e controlo de DOAs e programas de defesa do consumidor,
atravs da participao comunitria.
A SPV e os Objetivos do Milnio
A reduo da pobreza e da fome uma rea na qual a sade animal e a SPV so consideradas
como crticas. Desde h muitos anos que se considera que a produo animal essencial para a
reduo da pobreza e da fome. Questes relacionadas com a sade animal constituem muitas
vezes um fator limitante para que a produo animal possa cumprir o seu papel na eliminao
da pobreza e, portanto, na alimentao dos seres humanos (Delgado et al 1999). Por isso, alm
dos efeitos diretos sobre a produo, se evidencia a problemtica de sade pblica; no seu
conjunto estamos a referir segurana alimentar, o que envolve aspetos relacionados com a
oferta (quantidade e qualidade) e procura (acesso).
O acesso da populao infantil a alimentos saudveis contribui para o seu bom desenvolvimento
e garante que possam frequentar e funcionar de forma adequada na escola primria e
secundria.
No que se refere promoo da igualdade de gnero e "autonomia" das mulheres, atravs da
sua participao na criao de animais, especialmente espcies de menor porte sobre os quais
elas tm controlo direto at fase de comercializao, que conseguem ter uma fonte de
rendimento, proporcionando-lhes alguma independncia financeira. Esta atividade ainda mais
-
20
relevante em situaes de pobreza de mulheres chefes de famlia. Existem experincias em
pases latino-americanos para a emancipao da mulher, tais como clube de mes, programas
de mes chefes de famlia, programas municipais com mulheres empresrias, etc.. As doenas
de animais com alta mortalidade so as principais ameaas para estas atividades de
autonomizao das mulheres.
Neste contexto, o melhoramento da sade materna e a reduo da mortalidade infantil esto
intimamente relacionados com a SPV, no s em termos de produo animal, enquanto uma
fonte de rendimento e de protena animal (leite, queijo, carne) que so essenciais para as mes
bem como para as crianas; mas tambm em termos de controlo de doenas de animais, entre
as quais zoonoses que tm um efeito negativo sobre a populao infantil, como o caso da
mortalidade por raiva, parasitas e doenas diarreicas, etc.
DESAFIOS PARA A SADE PBLICA EM VETERINRIA NO SCULO XXI
A sade no o nico cenrio com a qual a SPV tem de negociar, tambm essencial estabelecer
a reciprocidade e o dilogo com a economia, a educao, a cincia ambiental, a poltica e a
cultura. Isto a fim de melhorar as condies de vida humana, a sanidade animal e a proteo do
meio ambiente.
Na Figura 3, os dois setores que caminham juntos e so os mais reconhecidos como recetores e
transmissores de aes na sade pblica veterinria so o sector da sade e o setor agrcola,
razo pela qual considera-se que a SPV intersectorial e pela qual SPV enfrenta grandes
desafios.
Dilogo
permanente
SADE
ANIMAL
SADE
HUMANA Sade
Pblica
Setor de
sade
Setor
Agrcola
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21
Figura 1 . Relaes entre setores na sade pblica veterinria
No novo milnio, inmeros fatores sociais, econmicos, culturais e polticos induziram
mudanas nas atividades veterinrias de sade pblica. Em 2002, um grupo de estudo da OMS
reuniu-se para destacar e analisar os aspetos mais relevantes que mudaram as atividades de
sade pblica (Quadro 1).
Quadro 1. Fatores que influenciam a sade pblica veterinria no sculo XXI (12):
Mtodos de produo
Maior intensidade produtiva Produo orgnica Engenharia gentica Uso de aditivos e antibiticos Promotores de crescimento Ruralizao de reas urbanas Eliminao de resduos
Cadeias alimentares e de produo
Mudana da abordagem individual para a comunitria Maior responsabilidade de todos os intervenientes na cadeia Desenvolvimento e implementao de novas tecnologias para produo, preservao e
comercializao Novas exigncias dos consumidores
Comrcio e viagens
Comrcio internacional de animais Mudanas nos hbitos alimentares durante as viagens Globalizao Turismo
Interao entre humanos e animais
Novos riscos associados ao turismo em reas selvagens O papel dos animais de estimao Aumento do nmero de animais em reas urbanas e suburbanas Aplicaes biomdicas
Frequncia de Desastres
Emergncias no epidmicas como: furaces, terremotos, inundaes, acidentes nucleares e industriais.
Diminuio de recursos
Reduo de fundos governamentais Tendncia para a privatizao dos servios Desenvolvimento de novos mecanismos para prestao de servios de SPV Fraca perceo pblica da SPV no sistema de sade e da comunidade
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22
A ACADEMIA COMO UMA ESTRATGIA PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS
No contexto veterinrio, deve-se criar uma "Cultura de Sade Pblica Veterinria", que divulgue
o papel do veterinrio perante situaes muito diversas de promoo da sade e preveno de
doenas, que engloba desde desastres tais como terremotos, inundaes ou guerras, mais
frequentes em pases em desenvolvimento, at as atividades rotineiras de vigilncia do bem-
estar animal a segurana alimentar nos pases desenvolvidos. Por isso, hoje o veterinrio
fundamental, e portanto deve ser formado, em atividades to diversas como (14):
a. A cooperao internacional para o maneio dos animais em situaes de desastres naturais
ou induzidas pelo homem (conhecer profundamente os aspetos da poltica internacional e as
aes de organizaes como a ONU).
b. Ajuda humanitria em situaes da guerra ou ps-guerra (interveno e gesto de ONGs)
para manter as populaes de animais enquanto recurso para a sobrevivncia e evitar
epidemias.
c. Gesto da movimentao de animais, dos seus resduos e a cadeia alimentar (sade animal e
inspeo de alimentos).
d. Promover o bem-estar animal, incentivando o maneio e cuidado tico e humano dos animais
de criao, do laboratrio e de investigao bem como dos animais selvagens e animais de
estimao.
e. Eficcia e segurana das medidas de luta contra doenas (aplicao correta de medicina
preventiva para evitar resistncias a biocidas ou outros efeitos secundrios).
f. Melhoramento dos canais de comercializao dos produtos de origem animal e inspeo dos
mesmos, a fim de melhorar a qualidade sanitria, que por sua vez promove a exportao, que
resulta numa maior riqueza econmica, especialmente nos pases em desenvolvimento.
g. Avaliao de impacto ambiental e gesto dos recursos naturais para evitar os seus efeitos
sobre as populaes animais e humanas (desenvolvimento sustentvel e ecolgico).
h. Estabelecimento de leis e regulamentos regionais, nacionais e internacionais que possam ter
impacto sobre a sade animal e humana, ou a relao entre elas (implicaes polticas de sade
recomendadas ou exigidas por organismos como a OPAS / OMS, FAO, OIE, etc.)
-
23
Para isso, necessrio ter em conta que as universidades desempenham um papel essencial e
insubstituvel, dada a sua influncia no estabelecimento e reestruturao de programas de
formao profissional e na perceo que as novas geraes de profissionais adquirem do seu
papel nas diversas reas, desde a produo animal, o bem-estar animal, a segurana alimentar
e a proteo ambiental at luta contra as doenas.
O papel das universidades no se limita ao ensino e investigao, mas tambm inclui o
acompanhamento na formulao e implementao de polticas, o que implica uma ao
intersectorial da sade e agricultura. Isto pressupe uma formao integral nas reas de
desenvolvimento humano que transcende a aprendizagem tcnica e explora o potencial desses
profissionais enquanto lderes sociais (14, 15).
O projeto SAPUVETNET III "contribui para os Objetivos do Milnio, atravs do conceito One
Health", tendo como objetivo procurar solues locais para problemas globais de sade pblica
utilizando uma linguagem comum, e tentar aproximar a Amrica Latina e a Europa, propondo
regras comuns de acreditao e um currculo semelhante para o ensino de sade pblica entre
os participantes das escolas veterinrias.
Analisaram-se os documentos pertinentes e aplicou-se o mtodo de concordncia e diferena,
e posteriormente elaborou-se um documento de trabalho entre todos os participantes de
SAPUVETNET III. Para a elaborao da proposta, utilizou-se o documento da Associao Europeia
de Estabelecimentos de Ensino Veterinrio (EAEVE) como base para a determinao das
"competncias mnimas" que o veterinrio deve ter na rea de SPV. A proposta foi discutida
entre os participantes de SAPUVETNET e o representante da FAO-AGA, Diretor Chefe de
Veterinria, unidade HPV.
Estabeleceram-se as competncias gerais e profissionais dos mdicos veterinrios na rea de
SPV, bem como as competncias prticas na rea de sade pblica do mdico veterinrio com
ps-graduao (ver Quadro 2)
-
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QUADRO 2. COMPETNCIAS GERAIS E PRTICAS DO MV NA SADE PBLICA VETERINRIA
Competncias gerais Competncias prticas
Comunicar de forma eficaz com: clientes, o
pblico, profissionais da rea e
autoridades; ouvir efetivamente e
responder de forma eficaz utilizando uma
linguagem adequada ao pblico e ao
contexto.
Preparar relatrios claros e manter registos
que sejam satisfatrios para os colegas e
compreensveis para o pblico.
Trabalhar de forma efetiva como membro
da equipa multidisciplinar.
Estar ciente das responsabilidades ticas
do mdico veterinrio relativamente aos
cuidados animais, seus clientes e, de uma
forma geral, com o possvel impacto sobre
o meio ambiente e a sociedade como um
todo.
Ter conhecimento do contexto econmico
e emocional e responder adequadamente
influncia de tais presses.
Estar disposto a utilizar as suas capacidades
profissionais para contribuir tanto quanto
possvel para o avano do conhecimento e
em benefcio da prtica veterinria,
melhorando a qualidade dos cuidados
prestados, o bem-estar animal e a sade
pblica veterinria (medicina baseada em
evidncias).
Obter a histria clnica precisa e relevante
do animal ou rebanho, bem como do
ambiente que os rodeia.
Seguir os procedimentos corretos aps o
diagnstico de uma doena de notificao
obrigatria ou zoontica.
Conduzir os processos de certificao
corretamente e com responsabilidade.
Prescrever e / ou distribuir substncias e
medicamentos corretamente e de forma
responsvel, com base no conhecimento
adequado das condies socioeconmicas e
da legislao nacional e garantir que os
medicamentos e os resduos so
armazenados ou eliminados de forma
segura.
Propor e desenvolver programas profilticos
e preventivos adequados a cada espcie
(gesto de sade do rebanho), de acordo
com os padres aceites para a sade e bem-
estar animal e da sade pblica, procurando
o aconselhamento e assistncia
multiprofissional, sempre que necessrio.
No Quadro No 3 apresentam-se as Unidades Curriculares consideradas necessrias para obter
competncias especficas em sade pblica.
-
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QUADRO 3. UNIDADES CURRICULARES CONSIDERADAS NECESSRIAS PARA OBTENO DE
COMPETNCIAS ESPECIFICAS EM SADE PBLICA VETERINRIA
Cincias Bsicas Cincias clnicas Produo Animal
Farmacologia Veterinria
Toxicologia
Microbiologia
Imunologia
Epidemiologia
Economia da Sade
Deontologia
Doenas parasitrias e
infeciosas
Medicina preventiva
Legislao em
Sade Pblica
Legislao
veterinria
nacional e tratados
de comrcio
internacional
Nutrio animal
Higiene veterinria
Etologia e proteo (organizao
de comportamento social em
populaes animais, medidas de
proteo, bem-estar, alteraes
comportamentais e suas
solues).
O Quadro 4 contempla a proposta de SAPUVETNET III para o currculo dos estudos em sade
pblica veterinria.
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QUADRO 4. PROPOSTA DE CURRCULO EM SPV
TEMA SUB TEMA
Sade Pblica - Conceitos e definies
- O papel do veterinrio
- Formao para investigao
- Formao para a sociedade em SPV
Co
mp
ort
amen
to d
o V
eter
inr
io P
rofi
ssio
nal
Edu
ca
o Sa
nit
ria
Det
erm
inan
tes
Soci
ais
e C
ult
ura
is
1-Segurana Alimentar - Princpios e definies
- Papel do Mdico Veterinrio
- Legislao alimentar (nacional e internacional)
2 Comercializao Nacional e Internacional
- Polticas de segurana, independncia e soberania alimentar.
3 Sistemas de Segurana alimentar e garantia de qualidade
- Doenas Transmitidas por Alimentos
- BP (agrcola, processamento, sade e produo)
- HACCP
- Controlo de Processo
- Anlise de Risco
- Biossegurana
4-Sistemas informais de produo e comercializao de alimentos
- Caracterizao de sistemas informais.
- Garantir a segurana alimentar em sistemas informais.
5-Processamento de alimentos e a cadeia alimentar
- Tecnologia (controlo e inspeo),
- Armazenamento (conservao),
- Transporte e distribuio
6-Gesto Ambiental e Medicina da Conservao
- Legislao ambiental
- Conceitos ambientais
- Impacto sobre o meio ambiente
- Saneamento
- Controlo de pragas
- Gesto de animais selvagens envolvidos na transmisso de
doenas
7-Responsabilidade para os animais de estimao
- Introduo de animais exticos.
- Agressividade (etologia)
- Maneio de animais de estimao
- Animais dispersos e selvagens
8 Situaes de catstrofe e emergncia
- Conceitos
- Sistemas de aviso de deteo e conteno
- Os planos de contingncia e participao dos veterinrios em
situaes de emergncia
- Preparao para emergncias
- Resposta Rpida
- Investigao de surtos,
- Medidas a tomar,
-Comunicao de risco
- Implementao de medidas de controlo a nvel nacional
9-Epidemiologia das zoonoses - Deteo, preveno controlo e erradicao de doenas
emergentes, reemergentes e endmicas
- Fatores ambientais
- Fatores inerentes aos agentes patognicos
- Gesto de programas de sade: anlises de risco, avaliao de
programas.
-
27
REFERNCIAS
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-
29
PRINCIPAIS FERRAMENTAS PARA ESTUDAR E INTERVIR EM FENMENOS DE
SADE PBLICA VETERINRIA
Pergunta orientadora:
Que ferramentas devem ser utilizadas pelo veterinrio que enfrenta um problema relacionado
com a sade pblica?
Questes de avaliao:
1- Quais so os fatores principais que explicam as caractersticas, a distribuio e a
evoluo de uma doena numa populao?
2- Que instrumento de pesquisa epidemiolgica fundamental para obter informaes
que permitam definir o estado duma doena numa populao e os fatores de risco
associados mesma?
3- Quais so os parmetros de avaliao da doena que so necessrios conhecer para
apoiar a tomada de decises na luta contra a doena?
Competncias a adquirir:
1- Compreender a utilidade e os mecanismos para o desenvolvimento de programas de
vigilncia epidemiolgica.
2- Compreender a importncia da informao sobre sade e os mecanismos para obt-la.
3- Compreender as caractersticas que definem a fiabilidade dos testes de diagnstico e os
critrios necessrios para a escolha do teste mais adequado em cada situao.
4- Conhecer os principais parmetros utilizados para avaliar a importncia de uma doena
na populao e as ferramentas utilizadas para avaliar a sua evoluo temporal e espacial.
Carmelo Ortega, MV, DipECVPH, PhD, Facultad de Veterinaria. Universidad de Zaragoza, ZARAGOZA - ESPAA
-
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Determinantes epidemiolgicos em sade pblica
Em 1973, a Organizao Mundial da Sade (OMS) definiu a sade pblica como: todas as
atividades relacionadas com a sade e a doena numa populao, o estado sanitrio e ecolgico
do ambiente, a organizao e o funcionamento dos servios de sade, a planificao e a gesto
dos mesmos e a educao para a sade (Frias-Osuna, 2000).
Dentro deste conceito, a possvel implicao da sade animal em populaes humanas atravs
de doenas zoonticas um facto estabelecido, e consequentemente desejvel a atuao do
veterinrio em Sade Pblica.
A partir desta definio, um dos aspetos que condicionam uma boa atuao em sade pblica,
a disponibilidade de informaes epidemiolgicas sobre a doena, que permitam a tomada de
decises adequadas (medidas de preveno ou controlo); mas que informao importante
saber, do ponto de vista do veterinrio, para apoiar uma deciso correta? Para responder a essa
pergunta, necessrio compreender que a sade e a doena dependem de uma srie de fatores
determinantes.
Determinantes de sade e de doena
Quatro elementos so considerados como determinantes de sade / doena. Os primeiros trs
fazem parte da cadeia epidemiolgica da doena: o hospedeiro vivo, o agente responsvel pela
doena e o meio ambiente onde habita o ser vivo e onde a doena se manifesta (Friis y Sellers,
1996). O quarto elemento o envolvimento dos profissionais da sade e do sistema sanitrio,
que tm influncia nos trs primeiros elementos ou introduzem novos elementos que mudam
a relao entre o agente, o hospedeiro e o ambiente, podendo inclinar a balana a favor da
sade contra a doena.
O facto de tanto a sade como a doena serem influenciadas por estes determinantes torna a
doena um conceito dinmico no tempo, cujo resultado final depende da interveno de cada
um destes determinantes e das suas modificaes em funo da interveno dos sistemas da
sade.
Devido importncia dos determinantes no desenvolvimento e na evoluo da sade e da
doena, necessrio desenvolver estratgias para conhecer e avaliar a sua interveno. Para
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31
esse efeito, uma das melhores ferramentas que a Sade Pblica dispe, a vigilncia
epidemiolgica (VE).
Vigilncia epidemiolgica
O que a Vigilncia Epidemiolgica
A Organizao Mundial da Sade Animal (OIE) define vigilncia epidemiolgica como "todas as
operaes sistemticas e contnuas de recolha, comparao e anlise de dados relacionados
com a sade animal e a disseminao de informao em tempo til a todos que necessitam de
tomar medidas adequadas" (Cdigo terrestre de Sade Animal, OIE;
http://www.oie.int/es/normas-internacionales/codigo-terrestre/)
Do ponto de vista operacional, consiste na observao permanente do estado da sade ou de
doena (a presena ou a ausncia dos mesmos, a morbilidade ou a mortalidade) numa dada
populao, assim como os fatores de risco associados aos mesmos, o seu surgimento e evoluo
no tempo e no espao, que permitam tomar medidas adequadas para os combater (Toma et al.,
1991)
Para isso, a vigilncia epidemiolgica apoia-se em dois aspetos importantes: o diagnstico do
processo e a identificao dos fatores de risco que influenciem a sua ocorrncia, intensidade e
evoluo. Isto significa que a Vigilncia Epidemiolgica em Sade Pblica Veterinria tem dois
apoios metodolgicos: o diagnstico e a anlise de riscos.
Outro ponto importante nesta definio que a informao obtida e analisada deve chegar com
a maior rapidez possvel aos responsveis por atuarem contra a doena.
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Que informaes so disponibilizadas num programa de vigilncia epidemiolgica?
Os programas de vigilncia epidemiolgica devem responder s seguintes perguntas:
O que que est a
acontecer? Importncia da doena ETIOLOGA
Onde est a acontecer? rea geogrfica afetada DISTRIBUIO GEOGRFICA
Quando que est a
acontecer? Perodo de apresentao DISTRIBUIO TEMPORAL
Quais so os grupos de risco? Populao afetada DISTRIBUIO
POPULACIONAL
Porqu que est a
acontecer? Fatores associados MEIO AMBIENTE
Tipos de programas de Vigilncia Epidemiolgica
Os programas de Vigilncia Epidemiolgica podem ser classificados de vrias formas:
a- De acordo com a metodologia de recolha de informao:
Passiva - descrevem os processos principalmente a partir das informaes obtidas
pelo proprietrio dos animais doentes ou a partir da reviso bibliogrfica. Utiliza-se
em doenas com interesse limitado.
Neste tipo de vigilncia os servios veterinrios no tm nenhuma iniciativa no
processo de recolha de informao; somente esperam que o agricultor os informe
dos casos. Portanto uma "declarao incompleta" (porque nunca se declaram
todos os casos).
Ativa descrevem os processos a partir dos dados obtidos em campo atravs da
recolha ativa da informao, mas tambm intervm na tomada de deciso. Aplica-
se a doenas com grande impacto na populao animal ou em doenas com risco
para a sade pblica. Neste caso as autoridades de sade tomam a iniciativa da
recolha da informao.
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b- De acordo com a durao:
Programas Pontuais realizam-se num momento do tempo.
Programas Contnuos realizam-se de forma contnua.
Programas Peridicos realizam-se em determinadas pocas, e podem ter um
carater cclico.
c- De acordo com a geografia
Nacionais.
Regionais.
Locais.
d- De acordo com o momento em que so postos em prtica:
Vigilncia em situaes de emergncia aplica-se imediatamente aps o incio de
um surto de uma doena de alto risco, numa populao de animais ou quando a sua
probabilidade de ocorrncia iminente.
Vigilncia adicional - estabelecida aps o controlo do problema ou surto.
Vigilncia de rotina - estabelecida de forma permanente e independentemente
do estado da doena existente em cada momento (se existe ou no a doena)
e- Tambm importante considerar o objetivo do programa de vigilncia.
De acordo com o objetivo, consideram-se dois tipos diferentes de programas:
Externos - baseiam-se em medidas para prevenir a entrada de uma doena
transmissvel numa zona isenta. A sua base de atuao ser o controlo das fronteiras e
as quarentenas. Utiliza a anlise de riscos como uma ferramenta.
Internos baseiam-se em medidas aplicadas para evitar a propagao de uma
doena que j existe numa zona. A sua ferramenta base o diagnstico.
Organizao, Dificuldades e Ferramentas de Trabalho
O que que importante organizar num programa de Vigilncia Epidemiolgica?
Quando se decide implementar um programa de vigilncia para uma determinada doena,
para a qual realmente importante recolher informao e divulg-la, o trabalho tem que ter
uma organizao clara a trs nveis diferentes:
Recolha de informao - necessrio um sistema permanente de recolha de dados,
que seja uma motivao adicional para o agricultor e o veterinrio.
-
34
Validao a suspeita clnica exige uma rpida confirmao laboratorial e uma
perfeita coordenao entre as unidades de diagnstico de campo, de recolha das amostras
e de diagnstico laboratorial.
Disseminao - os resultados devem chegar aos rgos de tomada de deciso para
que a atuao contra a doena seja rpida e adequada. A disseminao interna da
informao crucial para agir contra a doena e responder s necessidades. No entanto, a
divulgao externa (a nvel internacional ou organismos de sade) tambm importante,
para que se possa acompanhar a evoluo do processo e determinar a eficcia das medidas
implementadas para assegurar a sade animal e a sade pblica internacional no caso de
zoonoses.
Quais so as ferramentas bsicas que se devem utilizar num programa de Vigilncia
Epidemiolgica?
A implementao de um programa de Vigilncia Epidemiolgica implica a necessidade
inicial de se definirem as doenas a incluir no programa e a partir da se obterem dois tipos de
informao chave:
A- Informao referente presena e ao impacto da doena na populao; factos
apoiados no diagnstico realizado no campo e no laboratrio.
B- Identificao dos fatores que esto envolvidos na apresentao da doena,
para a qual se recorre anlise de riscos ou a estudos epidemiolgicos.
Apesar da Vigilncia Epidemiolgica ser uma ferramenta de uso global, a situao especfica de
uma populao faz com que a sua implementao possa variar, tornando-se portanto
importante considerar o desenho do programa de Vigilncia atendendo a duas situaes
diferentes:
1. A doena est presente. Neste caso, o programa de VE tenta estudar como
apareceu, como se desenvolveu e quais so os seus determinantes.
2. A doena no est presente, mas existe o risco de surgir. Neste caso
concentram-se os esforos em conhecer quais so os riscos e como que se
pode intervir para reduzi-los.
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35
O desenho de um programa de Vigilncia Epidemiolgica deve ter presente o seguinte
protocolo:
Problema
a. Presena da doena
b. Risco da doena
Campo de observao
c. Doena(s) a estudar.
d. Populao (homens, animais, meio ambiente) a estudar em funo da doena.
e. rea geogrfica (de aplicao).
Mtodo de trabalho
f. Sequncia temporal do estudo (momentneo, peridico, contnuo).
g. Sequncia espacial do estudo (toda a populao, uma amostra, estratos especficos).
Vias de ao
h. Diagnstico (como e que critrios).
i. Informao epidemiolgica (inquritos).
j. Bases de dados.
k. Anlise de informao.
l. Avaliao/anlise de riscos.
Equipamento
Recursos Humanos
m. Tcnicos de campo: amostragem, inquritos.
n. Laboratrios: diagnstico.
o. Centro de dados: organizao e anlise de dados.
p. Grupo de deciso: Aplicao de medidas, gesto de medidas, comunicao dos resultados.
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De partida, a Vigilncia Epidemiolgica ser diferente, de acordo com a presena ou a ausncia
de doena. Portanto, de acordo com a situao, dar-se- uma maior ou menor importncia a
determinados aspetos da informao obtida. Por exemplo:
1- Presena de doena: necessrio um programa que valorize:
o Presena e quantificao da doena / infeo.
o Gravidade da doena.
o Sobrevivncia doena.
o Evoluo ao longo do tempo (Curvas Epidemiolgicas).
o Evoluo/distribuio geogrfica (Mapas).
2- Possibilidade de introduo de doena no futuro: deve valorizar:
o Pontos crticos e a magnitude dos mesmos (Anlise de Riscos).
o Alteraes temporrias no risco (Curvas de Riscos).
o Alteraes geogrficas no risco (Mapas).
Um ltimo aspeto que se deve realar em relao Vigilncia Epidemiolgica, que quando se
trata de um processo contnuo no tempo, tambm se podem avaliar a eficcia das medidas j
implementadas e a sua correo.
Informaes sobre a sade: a importncia da pesquisa
Para a tomada de decises sobre o estado sanitrio de uma populao, necessrio ter um
sistema de dados organizados que fornea a informao necessria tomada de decises, base
dos sistemas de informao sanitria (Martinez Navarro et al, 1999).
Nos sistemas de informao sanitria, a obteno de informao um dos pilares mais
importantes e, portanto, recorre-se frequentemente pesquisa como uma ferramenta para a
obteno de tal informao.
A pesquisa epidemiolgica inclui no s uma recolha sistemtica e organizada de informao
sobre um problema de sade, como a sua anlise posterior. Para a sua implementao, deve
comear-se pela realizao de um questionrio para recolha da informao para interpretao
posterior.
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A implementao do inqurito comea com a definio do objetivo geral que se procura e que
por sua vez inclui o propsito da pesquisa, identificando as reas de atuao (ver o seguinte
exemplo:).
Objetivo - Determinar o risco de infeo pelo agente responsvel pela febre
do vale do Rift, numa populao.
Finalidade - Identificar fatores predisponentes e de risco sobre os quais
necessrio atuar e implementar medidas corretivas.
Aps ter definido os pontos anteriores, necessrio estabelecer uma hiptese para desenvolver
o questionrio. Para esse efeito necessrio apoiar-se no conhecimento cientfico existente
sobre o problema e os dados dos estudos prvios ou observaes de campo (ver o seguinte
exemplo para a febre do Vale do Rift)
Hiptese de causalidade - a doena no existia anteriormente na regio, por
isso deve ter como origem algum movimento de vetores.
Hiptese sobre fatores de risco a doena est associada a vetores, e estes
por sua vez so condicionados pelo clima e pela vegetao.
As hipteses condicionaro as variveis do estudo que so os elementos que realmente sero
analisados e sobre as quais se tiraro concluses. Cada varivel pode ser dividida em
indicadores, que so os fatores que influenciam essas variveis (ver o seguinte exemplo para a
febre do Vale do Rift:).
Variveis a estudar Mudanas climticas e caractersticas da vegetao.
Indicadores - temperatura, humidade, intervalos de variaes climticas, tipo
de cobertura vegetal.
Finalmente, os indicadores selecionados so transformados em questes que iro integrar o
questionrio.
Na elaborao das perguntas devem-se considerar todas as respostas possveis (perguntas
fechadas), que constitui a melhor forma de recolher informao, atendendo tambm ao facto
de que as pessoas que procedero aplicao dos questionrios poderem no ser as mesmas
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que elaboraram as perguntas. Consequentemente existe a possibilidade das perguntas serem
interpretadas de forma diferente tanto por parte dos respondentes, como dos inquiridores.
Para evitar esta situao, as perguntas devem ser elaboradas num texto claro, relativamente
extenso, acompanhados pelos esclarecimentos que se entenderem necessrios.
As perguntas abertas deixam em aberto a possibilidade de muitas respostas diferentes sem
critrios pr-definidos, o que pode fornecer muita informao. No entanto, estas respostas so
mais complexas de analisar, razo pela qual, muitas vezes, em investigao em sade, acaba-se
por transformar estas perguntas em perguntas fechadas, para a anlise final.
As perguntas fechadas permitem a opo de responder a aspetos muito especficos,
estabelecidos previamente durante a elaborao do questionrio. Estas so mais fceis de
analisar, embora a sua utilizao possa implicar alguma perda de informao de interesse
(Rebagliato et al., 1996).
O investigador tem sempre a opo de transformar as perguntas abertas em perguntas
fechadas, a partir das respostas obtidas; razo pela qual consideramos que nem sempre se pode
recomendar uma ou outra forma, e que a escolha de usar um tipo ou outro depende de cada
caso / indicador especfico.
Esta primeira etapa conduz ao desenvolvimento do questionrio, a ferramenta utilizada "para
obter informaes". O questionrio deve cumprir uma condio bsica, a de permitir uma
recolha sistemtica de informao. Com este conceito, pretende-se indicar que um protocolo
para obter informaes idnticas e sempre com os mesmos critrios para cada unidade de
trabalho na pesquisa, individual ou coletiva; recolhe sempre as mesmas informaes e utiliza os
mesmos mecanismos.
As duas etapas seguintes do questionrio, que finalizam a pesquisa, so as bases de dados e a
anlise dos mesmos. A primeira a ferramenta utilizada para armazenar a informao obtida e
prepar-la para anlise posterior. A base de dados deve permitir a organizao das informaes
de forma adequada, que permita a anlise posterior mais adequada.
Por fim, a terceira etapa a anlise, que consiste em avaliar a informao existente na base de
dados e dela retirar concluses. A anlise pode ser realizada a partir de uma perspetiva
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puramente observacional ou com uma abordagem mais estatstica de acordo com os objetivos,
o propsito, e a informao disponvel.
O diagnstico da doena
Outro aspeto chave na VE a identificao da doena, para a qual muitas vezes se recorre a
alguns critrios de diagnstico. O problema que os testes de diagnstico nunca so 100%
perfeitos, uma vez que podem ser identificados como doentes alguns animais saudveis ou
saudveis alguns animais doentes. Isto , em quase todas as tcnicas de diagnstico h falsos
positivos e falsos negativos. A capacidade de uma tcnica de diagnstico em reduzir, tanto
quanto possvel, os falsos positivos e / ou os falsos negativos o que define a qualidade dos
resultados obtidos.
A fiabilidade de um teste diagnstico assim avaliada atravs dos parmetros "Sensibilidade"
(Se) e "Especificidade" (Es), cujo clculo facilmente realizado usando uma tabela de 2x2
(Thrusfield, 1997):
Tabla 2x2:
DOENA (Tcnica de referencia)
Teste de Diagnstico
SIM NO Total
POSITIVO A B A+B
NEGATIVO C D C+D
TOTAL A+C B+D N (A+B+C+D)
A = Indivduos doentes positivos ao teste
B = falsos positivos
C = falsos negativos
D = Indivduos sos negativos ao teste
N- total da populao diagnosticada
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Sensibilidade: a probabilidade de um animal doente ser identificado como tal pela
tcnica utilizada. igual ao nmero de animais doentes identificados como tal atravs do
teste (A), dividido por nmero total de animais doentes (A + C).
Especificidade: a probabilidade de um animal saudvel ser identificado como tal pela
tcnica utilizada. igual ao nmero de animais saudveis identificados como tal, atravs do
teste (D), dividido por nmero de total de animais saudveis (B + D).
Quando existem valores de sensibilidade e especificidade inferiores a 100%, necessrio
diferenciar entre a Prevalncia aparente e a Prevalncia real.
Prevalncia aparente: a prevalncia detetada pelo ensaio utilizado.
Prevalncia real: a prevalncia que existe realmente determinada pela tcnica de
referncia.
Sensibilidade = A/(A+C)
Especificidade = D/(B+D)
Prevalncia real = (A+C)/N
Prevalncia aparente = (A+B)/N
Como geralmente se obtm a prevalncia aparente num diagnstico, existe uma relao direta
entre estes parmetros, de modo que a prevalncia aparente depende da prevalncia real e da
sensibilidade e especificidade do teste. Assim, atravs desta relao, podemos determinar a
verdadeira prevalncia da doena a partir dos resultados dos ensaios:
(Prev. aparente + Especificidade - 1)
Prev. real = _____________________________
(Sensibilidade + Especificidade - 1)
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Com esta premissa, o objetivo deve ser optar por testes com a mxima fiabilidade. O problema
est em que frequentemente a Sensibilidade e a Especificidade so antagonistas, isto , se a
credibilidade de uma aumenta, a da outra diminui; o que significa que comummente no se
pode ter a mesma confiana em ambas as caractersticas. Isto significa que se deve decidir o que
mais importante, se a Sensibilidade ou a Especificidade, em funo do objetivo procurado
(que no haja falsos negativos ou no haja falsos positivos).
Com o objetivo de minimizar os falsos positivos ou os falsos negativos surgem alternativas para
melhorar a fiabilidade: Nesses casos, o mais comum utilizar os chamados testes mltiplos, isto
, o uso de mais do que um teste de diagnstico para emitir um diagnstico final.
Existem duas maneiras de planear e interpretar os resultados de ensaios mltiplos:
*Interpretao dos testes em paralelo -
Utilizam-se quando dois ou mais testes de diagnstico so aplicados mesma amostra em
simultneo. Nestes casos so considerados negativos os indivduos que tm um resultado
negativo em todos os testes de diagnstico. Em contraste, um indivduo considerado
positivo quando tem um resultado positivo pelo menos num dos testes. Quando se
interpreta os resultados dos testes realizados em paralelo possvel reduzir os falsos
negativos e, portanto, aumenta-se a sensibilidade. Estes testes em paralelo aplicam-se
quando se trata de assegurar que o indivduo identificado como negativo ou so est
realmente saudvel.
*Interpretao dos testes em srie -
Utiliza-se quando dois ou mais testes so aplicados sequencialmente mesma amostra. No
incio, realiza-se o primeiro teste de diagnstico e queles que tm um resultado positivo
aplica-se o teste seguinte de diagnstico. Neste caso, para que um animal seja considerado
positivo este deve ter um resultado positivo em cada uma das tcnicas utilizadas. Do mesmo
modo, um animal ser considerado negativo se tem um resultado negativo em qualquer um
dos testes utilizados. Atravs destes testes, realizados em srie, reduz-se o nmero dos
falsos positivos e, assim, aumenta-se a especificidade. Realizam-se estes testes em srie
quando importante assegurar que o animal realmente positivo.
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Como nos casos anteriores, a escolha de testes em paralelo ou em srie, depender de se o
objetivo minimizar os possveis falsos positivos ou os falsos negativos.
Aspetos demogrficos da doena
A caracterizao de um problema de sade numa populao supe, por um lado, realizar uma
avaliao do estado de sade ou de doena, em que esta se encontra e, por outro lado, avaliar
a sua evoluo temporal e espacial (distribuio geogrfica) (Thrusfield, 1997).
A avaliao da doena deve ser realizada em termos relativos, isto quer dizer, deve-se express-
la como uma relao entre os indivduos que sofrem da doena (o numerador) e todos os
indivduos suscetveis ou expostos doena (o denominador), que so geralmente considerados
como populao em risco (no coincide necessariamente com a populao total).
Os parmetros geralmente usados para avaliar o estado da sade de uma populao so (Friis
and Sellers, 1996; Noordhuizen et al, 1997):
Morbilidade A probabilidade dos indivduos de uma populao adquirirem a doena num
momento ou perodo do tempo. calculada como a relao entre o nmero de animais com a
doena durante o perodo ou momento no tempo definido e o nmero de animais em risco de
contrair a doena durante o mesmo perodo de tempo.
Mortalidade - A probabilidade dos indivduos de uma populao morrerem durante um perodo
de tempo. calculada como a relao entre o nmero de mortes totais durante o perodo de
tempo em estudo e da populao em risco de morrer, no mesmo perodo de tempo.
Letalidade A probabilidade de morte entre os indivduos que apresentam uma determinada
doena num determinado perodo do tempo. calculada como a relao entre o nmero de
mortes devido doena num perodo do tempo e o nmero de animais que apresentaram a
doena no mesmo perodo de tempo.
Prevalncia A probabilidade de um indivduo selecionado aleatoriamente da populao sofra
da doena, e portanto a proporo de casos da doena existentes numa populao durante
um perodo de tempo ou num ponto no tempo; no primeiro caso, fala-se de prevalncia de
perodo (conceito mais dinmico) e no segundo caso, da prevalncia pontual (conceito mais
esttico).
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O seu clculo equivalente ao coeficiente do nmero de indivduos doentes (novos no momento
ou perodo do tempo mais os que j existiam antes e esto doentes no perodo do estudo) e o
nmero total de animais em risco de apresentarem a doena, incluindo os que j estavam
doentes, durante esse perodo ou ponto no tempo.
Incidncia Acumulada A avaliao de novos casos da doena que se apresentam numa
populao durante um determinado perodo do tempo (, portanto, um conceito
completamente dinmico). Corresponde proporo de indivduos saudveis no incio do
perodo do estudo, que adoecem durante este perodo. calculada como a relao entre o
nmero de indivduos que contraem a doena durante um perodo de tempo e o nmero de
animais saudveis em risco de contrair a doena, no incio do perodo do estudo. Embora
existam vrios tipos de estimativas de incidncia a partir da informao disponvel e da
interveno do conceito do tempo, apresenta-se aqui apenas a ideia geral.
Taxa de sobrevivncia (Ts) - A probabilidade dos indivduos com uma determinada doena
sobreviverem durante um perodo de tempo determinado
Ts= (N-D) / N
Em que:
N- o nmero de novos casos da doena durante esse perodo do tempo.
D -o nmero de indivduos mortos pela doena num determinado perodo do tempo
(Letalidade).
A soma da letalidade e da sobrevivncia deve ser igual a 1 (100%).
A partir da avaliao da doena, realiza-se o seguimento em tempo e em espao da doena. Esta
atividade responsvel pela epidemiologia espacial, definida como a descrio e a compreenso
das variaes espaciais da doena e o seu risco (Elliot et al., 2000). A principal ferramenta nesta
etapa do estudo a cartografia.
A utilizao de mapas oferece uma viso geral e eficaz da informao que ajuda na elaborao
de hipteses sobre as possveis causas e fatores associados, na identificao de reas de alto
risco ou na tomada de decises sobre medidas de interveno.
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Existem vrios tipos de mapas que disponibilizam diferentes modos para analisar e apresentar
os resultados obtidos no estudo de uma doena:
Mapas geogrficos base - Localizam a varivel a estudar e as diferentes reas do mesmo.
Mapas Pontuais - Indicam a localizao da varivel atravs de pontos ou outros smbolos. Trata-
se de representao de informao qualitativa.
Mapas de distribuio - Delimitam reas em que se localizam as variveis a estudar. Apresentam
igualmente informao qualitativa.
Mapas Coroplticos - Delimitam reas em que se localiza a varivel a estudar mas com
informao quantitativa (cada rea delimitada representa-se atravs de smbolos que
indicam uma determinada quantidade da varivel).
Mapas Isoplticos - Delimitam reas geogrficas com informao quantitativa mas neste caso a
altura de cada rea corresponde a uma determinada quantidade da varivel.
Mapas demogrficos - Relacionam a varivel em estudo e as suas taxas com o tamanho da
populao.
Atualmente, a representao de dados de uma doena a partir de uma perspetiva geogrfica
depende da utilizao de Sistemas de Informao Geogrfica (SIG), o que permite que essa
representao de informao seja dinmica, uma vez que pode ser modificada ao longo do
tempo, de acordo com as variaes nos dados relativos s variveis envolvidas no processo.
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Referncias bibliogrficas:
* Elliott, P, Wakefield, J.C, Best, N.G, Briggs, D.J. Spatial epidemiology. Methods and applications.
Oxford-New York. Oxford University Press. 2000
* Frias Osuna A. Salud Pblica y educacin para la salud. Barcelona. Masson. 2000.
* Friis, R.H, and Sellers, T.A. Epidemiology for public health practices. Maryland. Aspen
Publication.1996
* Martinez Navarro, F; Ant, J.M; Castellanos, P.L; Gili, M; Marset, P; Navarro, V. Salud Pblica.
Madrid. McGraw-Hill. Interamericana. 1999.
* Noordhuizen, J.P.T.M; Frankena, K; Van der Hoofd, C.M; Graat, E.A.M. Application of
quantitative methods in veterinary epidemiology. Wageningen. Wageningen press. 1997.
* Rebagliato, M, Ruiz, I, Arranz, M. Metodologa de investigacin epidemiolgica. Ed. Daz de
Santos Madrid. 1996.
* Toma, B; Benet, J.J; Dufour, B; Eliot, M; Moutou, F; Sanaa, M. Glossaire dpidemiologie
animale. Maissons-Alfort. Point Vtrinaire. 1991
* Thrusfield, M. Veterinary epidemiology. Oxford. Blackwell Science. 2 edition. 1997.
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ANLISE DE RISCO
Pergunta orientadora
Se uma agncia governamental, empresa importadora, associao de produtores ou associao
de consumidores solicitar assessoria a um veterinrio numa das seguintes situaes:
* Introduo de animais ou de produtos de origem animal originrios de uma rea geogrfica
com uma situao sanitria inferior, e que pode conduzir introduo de um perigo com
consequncias importantes para a sade ou economia da rea geogrfica recetora (com um
estado sanitrio superior), ou
* Autorizao para o consumo de um alimento que pode conter algum componente, aditivo ou
contaminante que representa um perigo com consequncias para a sade dos consumidores,
Qual deve ser o procedimento a adotar pelo veterinrio para proporcionar recomendaes
apropriadas, com base no conhecimento cientfico existente, para serem aplicadas pelos
responsveis competentes?
Competncias a adquirir pelo aluno (a)
Conhecer os conceitos bsicos e as aplicaes da Anlise do Risco.
Identificar e aplicar os componentes da Anlise do Risco.
Saber elaborar o relatrio final da Anlise do Risco.
Atualizar Anlises do Risco prvias.
Elaborar uma anlise do risco qualitativa para uma situao problemtica.
Andres Gil, MV, PhD, Facultad de Veterinaria, U.de la Republica. Uruguay Javier Guitian, MV, DipECVPH, PhD, Royal Veterinary College, United Kingdom Clara Lpez, MV, MSc, U. Buenos Aires, Argentina Armando Hoet, DMV, PhD, , Dipl ACVPM, College of
Veterinary Medicine, The Ohio State University.
The Ohio State University
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Perguntas de avaliao
17. Porque que se realize uma AR (Anlise do Risco)? Quando pensaria implement-
la?
18. Dada a necessidade de realizar uma AR para a entrada de smen bovino num
determinado pas, qual seria o primeiro passo a dar?
19. Quais so os elementos a ter em conta para saber se o risco associado a um
produto alto, mdio ou baixo?
20. A avaliao do risco um processo cientfico. Quais so os passos que compem
este processo?
21. A gesto do risco a etapa seguinte avaliao, a partir do qual se devem tomar
decises. O que deve ser considerado nesta etapa?
22. A comunicao do risco ajuda a fornecer informaes oportunas, pertinentes e
precisas aos membros da equipa da anlise do risco e aos demais interessados.
Quais so os aspetos da AR que devem ser comunicados?
23. A partir dos animais com interesse zootcnico so gerados dezenas de produtos
finais. A procura destes produtos est em expanso, aumentando
constantemente o seu comrcio internacional. Nesta ampla gama de sistemas de
produo e processamento, recorre-se cada vez mais a importaes para
abastecer o mercado crescente de carne e produtos lcteos. Voc, enquanto
veterinrio, deve aconselhar o seu pas sobre os potenciais fornecedores de carne
fresca e congelada. O Departamento de Comrcio Internacional informa que h
trs possveis pases fornecedores chamados A, B e C. Os custos por tonelada de
carne proveniente desses pases e colocados no seu pas so: 10.000, B. 5000 e
C. 2000 cada. Com esses elementos, estaria em condies de fazer uma
recomendao? Por favor, fundamente a sua resposta.
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CONCEITOS BSICOS DE ANLISE DO RISCO
Introduo
A Anlise do Risco (AR) uma ferramenta que facilita a tomada de decises, fornecendo
informaes sobre o risco da introduo de agentes prejudiciais a sade, atravs de comrcio de
animais, produtos e subprodutos de origem animal. Embora no seja uma metodologia nova
(tem sido utilizada em diversas reas, tais como engenharia e economia), a sua aplicao no
campo da sade animal relativamente recente.
A origem da sua utilizao em veterinria est associada a implementao do Acordo sobre as
Medidas Sanitrias e Fitossanitrias (MSF) Ligao 1 da Organizao Mundial de Comrcio
(OMC).
Ligao 1 Este acordo estabelece as bases para a regulamentao da inocuidade alimentar, sade
animal e preservao das plantas, autorizando os pases a estabelecerem as suas prprias
medidas para proteger a sade das suas populaes.
As medidas sanitrias e fitossanitrias no devem ser um meio para a discriminao arbitrria
ou injustificvel ou ter como objetivo principal a limitao do comrcio internacional. A
crescente globalizao do intercmbio comercial de animais e dos seus produtos derivados
aumenta a probabilidade de propagao de doenas. Perante esta situao, necessrio
estabelecer mecanismos que permitam o comrcio, protegendo a sade pblica e o ambiente
nos pases envolvidos. Uma parte importante do processo da Anlise do Risco a transparncia,
e por isso, fundamental usar uma nomenclatura e metodologia normalizada para permitir a
todos os atores envolvidos compreender a anlise realizada, as suas consequncias e as
recomendaes que devem ser seguidas.
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Definio do risco
O risco Ligao 2 tem dois componentes: a probabilidade da ocorrncia do evento e a gravidade
das suas consequncias. Esses componentes podem ser expressas qualitativamente atravs de
categorias (por exemplo, baixa, mdia e alta) ou quantitativamente atravs de funes de
probabilidade de exposio e ocorrncia de um evento num perodo especfico. possvel medir
quantitativamente a sua magnitude atravs de morbilidade e mortalidade, indicadores de
impacto ambiental, perda de mercados internacionais ou perdas de produo.
Ligao 2 Risco a probabilidade de ocorrncia de um evento adverso e a estimativa da
magnitude dos seus e