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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ZOOTECNIA DEPARTAMENTO DE REPRODUÇÃO E AVALIAÇÃO ANIMAL APOSTILA DISCIPLINAS: BIOCLIMATOLOGIA DOS AN. DOMÉST. IZ 318 BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL IZ 317 BEM-ESTAR E PRODUÇÃO ANIMAL Prof. Luís Fernando Dias Medeiros DRAA/IZ/UFRRJ Débora Helena Vieira CECAL/FIOCRUZ

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Page 1: Apostila Bem_estar e producao animal (1).doc

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE ZOOTECNIA

DEPARTAMENTO DE REPRODUÇÃO E AVALIAÇÃO ANIMAL

APOSTILA DISCIPLINAS:

BIOCLIMATOLOGIA DOS AN. DOMÉST. IZ 318

BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL IZ 317

BEM-ESTAR E PRODUÇÃO ANIMAL

Prof. Luís Fernando Dias MedeirosDRAA/IZ/UFRRJ

Débora Helena VieiraCECAL/FIOCRUZ

Seropédica, RJ

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2009INTRODUÇÃO

Simultaneamente ao aumento das criações intensivas, surgiram os defensores do Bem-

estar animal, os quais protestam contra a retirada dos animais do seu meio para áreas reduzidas,

onde em muitos casos eles acreditam estar havendo crueldade com os animais. Por outro lado

há os que defendem que os animais em confinamento estão com seu bem-estar assegurado,

pois este sistema de criação fornece o que o animal necessita para suas necessidades e que isto

se comprova no desempenho dos animais em confinamento e que se os animais estivessem

estressados não produziriam bem e não haveria retorno econômico.

No meio destas discussões encontram-se os produtores que devem prover um ambiente

adequado aos animais para propiciar seu Bem-estar e um bom retorno econômico. Porém, falta

muito para se conhecer o comportamento dos animais, para que se possa afirmar que estes

estão em ambiente adequado.

O objetivo da apostila é fazer uma reflexão sobre o paradigma “bem-estar e a produção

animal”.

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REVISÃO DE LITERATURA

1 – Razão para se Estudar o Comportamento dos Animais de Produção.

a) Intensificação da produção – confinamento – estresse - bem estar animal -

produção

b) Alto grau de seleção genética dos animais (seleção unilateral)

c) Estresse térmico nos trópicos.

a) Confinamento Estresse - Taxa de Glicocorticosteróide no Plasma

Sangüíneo.

O glicocorticosteróide – regula o metabolismo das proteínas, carboidratos e

lipídeos, induzindo a formação de glicose, pela mobilização de proteínas e gorduras,

resultando no aumento da concentração de açúcar no sangue.

O glicocorticosteróide induz a formação de glicose para o sangue/células – fonte de

energia para combater o elemento estressor. Tem efeito antiinflamatório e antialérgico,

além de catabólico sobre os tecidos ósseos, conjuntivos e órgãos linfáticos.

OBS: A longo tempo resistência orgânica sistema imune (imunossupressão).

Em resumo: ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) – na corrente sangüínea –

estimula a córtex adrenal – produzir e secretar glicocorticosteróide, por um determinado

tempo, afetando: crescimento e engorda, qualidade da carne e carcaça, fertilidade, produção

de leite e sanidade dos animais.

b) Alto Grau de Seleção Genética dos Animais para uma Função Produtiva.

Figura 1. Secreção hormonal da hipófise em caso de seleção adequada.

3

GH

STH

LH

FSHACTH

Princípios

etológicos

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Figura 2. Secreção hormonal da hipófise em animais selecionados unilateralmente para carne.

Fonte: Medeiros (2007), adaptado de Encarnação (1989).

Conseqüências da Seleção Unilateral.

Ação indireta diminuição da resistência orgânica, afetando o comportamento do

animal.

Ação direta alterações comportamentais, já que o comportamento é uma programação

genética.

c) Estresse Térmico nos Trópicos.

Efeito deletério no desempenho reprodutivo, produtivo, sanitário e comportamental

dos animais, notadamente os aspectos reprodutivos e de conformação (tamanho).

ESTRESSE é o estado do organismo, o qual, após a atuação de agente de qualquer

natureza, responde com uma série de reações não específicas de adaptação, entre as quais

está em primeiro plano uma hipertrofia do córtex adrenal com conseqüente aumento da

secreção de seus hormônios.

A todo fator exógeno que provoca um estresse é denominado estressor

(calor, frio, umidade, fome, sede, infecções, esforços corporais, infestações

parasitárias, dor, poluição sonora, elevada densidade populacional, isolamento, medo,

ansiedade etc.). A interação entre estímulo (estressor) e resposta ao estímulo (somatório

das reações não específicas ao estressor), manifesta-se na forma de uma síndrome

4

GH

STH

LH

FSHACTH ???

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(SÍNDROME DE ADAPTAÇÃO GERAL), com o qual o organismo tenta evitar ou

reduzir os efeitos do estressor.

De um modo geral, o termo estresse caracteriza uma tensão física ou mental.

Fisiologicamente significa a soma dos mecanismos de defesa do animal em um estímulo

provocado por um agente estressor.

Selye (1955 e 1976) caracterizou a Síndrome de Adaptação Geral em 3 fases:

1) Fase de reação de alarme;

2) Fase de resistência;

3) Fase de exaustão.

Na fase de alarme o organismo mostra as alterações características da primeira

exposição a um estressor, Ao mesmo tempo, sua resistência diminui e, se o estressor é

intenso a morte pode ocorrer.

A fase de resistência se estabelece em seguida se uma exposição contínua ao

estressor é compatível com a adaptação. Os sinais de alarme desaparecem e a resistência

aumenta acima do normal.

Durante a fase de exaustão, após uma longa e contínua ao estressor ao qual o

organismo havia se ajustado, a energia de adaptação pode se esgotar. Os sinais de alarme

reaparecem, porém agora são irreversíveis e o indivíduo morre (Quadro 1).

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Quadro 1. Fases da síndrome da adaptação geral

nível normal de resistência

A B C

Fonte: Selye (1975).

Segundo Fraser et al. (1975), um animal está em estado de estresse quando necessita

alterar de maneira extrema sua fisiologia ou comportamento para adaptar-se a aspectos

adversos do seu ambiente e manejo. Essa adaptação envolve uma série de respostas

neuroendócrinas. Fisiológicas e comportamentais que funcionam para manter o equilíbrio

(Barnett & Hemsworth, 1990; Von Borrel, 1995). De acordo com Von Borrel (1995), o

estresse é um termo geral que implica em uma ameaça à qual o corpo precisa de ajuda.

Huntingford (1984) comenta que uma das aplicações das pesquisas etológicas é

identificar e quantificar os sinais de sofrimento dos animais criados e explorados pelo

homem e determinar as condições que induzam a esse estado, encontrando meios para

reduzir ou remover tal situação.

Os animais freqüentemente apresentam inúmeras mudanças fisiológicas quando

expostos a uma série de situações nocivas, desde a possibilidade de agressão física até

exposições prolongadas a condições adversas (Val Ferreira & Duarte, 2007). Segundo

Huntingford (1984), estas mudanças ocasionam um aumento na atividade autônoma e na

produção de hormônios, que são ditas resultantes do estresse. Uma vez que estas respostas

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fisiológicas apresentam-se em situações onde, potencial ou efetivamente, o animal ou a

integridade de suas funções esteja em perigo, é razoável supor que algo o esteja

desagradando e poder-se-ia assim, proporcionar uma maneira de detectar o quanto o animal

está sofrendo. Contudo, muitas técnicas para detecção destas mudanças são um tanto

invasivas, muito caras e impraticáveis dependendo da espécie, do número de animais

em questão etc; além do fato de que tais reações podem significar que as defesas e a

própria saúde do animal estão funcionando bem (Val Ferreira & Duarte, 2007).

Adaptabilidade a um meio específico é tão importante quanto a seleção para a

realização das medições subjetivas (características métricas) e da avaliação visual

(aparência). As leis físicas da natureza ditam os limites dentro dos quais as diversas partes

do corpo (tamanho) e a função fisiológica (reprodução) podem variar (Bonsma, 2002).

Assim, animais submetidos a condições mais próximas dos limites estabelecidos

pelas leis físicas da natureza, tendem a serem menos desenvolvidos. Os animais menos

estressados pelo meio ambiente são mais adaptados, sendo aqueles que produzem melhor

para aquele ambiente específico.

Obs: A característica adaptação apresenta uma resposta baixa com a seleção;

negativa com a endogamia e alta com a exogamia.

DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE ESTRESSE:

A – São fatores do ambiente prejudicando, perturbando o animal.

B – É a resposta fisiológica a estes fatores.

C – Seria o problema psicológico na qual o animal seria incapaz de lidar com estes fatores

Algumas definições incluem certos padrões comportamentais que podem ajudar a

restaurar a homeostase e, assim, facilitar as adaptações fisiológicas ao estresse.

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O estresse é inevitável. É difícil pensar em um ambiente sem estressor (o estresse é

inerente à própria atividade de viver). O estresse não representa algo anormal no cotidiano

de um indivíduo, sendo ele, pois, uma parte essencial da vida. Os sistemas biológicos

sofisticados sofreram evolução para ajudar a conviver com ele.

Em estresse, há dois termos importantes: Controle e Previsão. Dependendo

do grau em que o estressor pode ser controlado ou previsto, teremos maior ou menor

gravidade dos sintomas de estresse, portanto a gravidade não depende somente do

estressor.

O estresse pode ser dividido em: Agudo ou Crônico.

O estresse agudo – é o estado em que um organismo se apresenta após uma

diminuição súbita na previsão e/ou controle de alterações relevantes. Nesse caso, os

conflitos são curtos e de intensidade exagerada.

O estresse crônico – é o estado de um organismo quando alterações relevantes têm

baixa previsão e/ou não se muito bem controladas por um longo período de tempo. Em

geral, desenvolvem-se quando os conflitos não podem ser resolvidos e são de naturezas

mais constantes.

Pode controlar ou não uma situação de estresse depende dos mecanismos dos quais

o animal dispõe para lidar com o desafio, e da atitude que cada indivíduo tem sobre a

situação. Quando a situação for considerada de perigo para a Homeostase, são ativados

mecanismos para controlar ou conviver com a mesma. Os mecanismos de adaptação são

vários e não só a reação a um estressor pode variar, como também o tipo de reação pode

diferir entre os indivíduos.

Há dois tipos de reação:

1) ATIVA caracterizada por tentar controlar ativamente a situação;

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2) PASSIVA caracterizada por uma aceitação passiva da situação.

PRINCIPAIS FATORES QUE INFLUENCIAM A RESPOSTA AO ESTRESSE:

A) Meio Ambiente;

B) Predisposição Genética;

C) Sensibilidade individual.

Ao se diagnosticar o estresse, é óbvio que se deve primeiramente estudar um dos

três meios que o animal possui para responder a uma situação estressante, a seguir:

1) Comportamental,

2) Ativação do Sistema Nervoso Autônomo e

3) Ativação do Sistema Neuroendócrino.

A reposta comportamental é a mais simples e, provavelmente, é a reação biológica

mais econômica ao estresse. Um animal pode se livrar de uma situação estressante

simplesmente trocando de lugar. Se não for suficiente, ele pode apresentar outros tipos de

comportamento, desde a vocalização até a expressão de comportamentos estereotipados.

Certamente que alterações comportamentais são sugestivas de que está ocorrendo

estresse, mas isso não significa que esse estresse seja prejudicial, com exceção de casos

extremos, como o de automutilação. Quando a resposta comportamental não alivia o

estresse, o animal necessita, alterar seu estado biológico, evocando os dois sistemas que

respondem ao estresse, sistema nervoso autônomo e sistema neuroendócrino.

O Sistema Nervoso Autônomo possui respostas rápidas e específicas a muito

estressores, como o aumento do batimento cardíaco, frequência respiratória, e da secreção

das catecolaminas (epinefrina e noraepinefrina).

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De todas as partes do Sistema Neuroendócrino, o sistema corticoadrenal tem sido

favorito para monitorar o estresse, pois os glicocorticóides (cortisol e corticosterona) são

secretados em resposta a uma grande variedade de estressores físicos e emocionais.

QUADRO 2. Modelo para a resposta biológica dos animais durante o estresse.

ESTÍMULO

1º Reconhecimento do perigo à homeostase SNC Percepção do estresse

Organização da defesa biológica

2º Resposta ao estresse Resposta biológica (Comportamental, autonômica, neuroendócrina)

3º Conseqüências do estresse Alterações na função biológica Estado pré-patológicoDesenvolvimento da patologia

Fonte: Rivera (2006).

Um estressor não é um risco para o bem-estar só porque evoca um comportamento

ou porque o sistema adrenocortical responde. É o 3º componente que conta para efeitos

adversos do estresse do animal, e é este o verdadeiro perigo para seu Bem-estar . É a

mudança na função biológica que ocorre durante o estresse que determina o custo biológico

para o animal. Um estressor somente causa perigo ao Bem-estar quando retira recursos

biológicos do animal que o colocam em perigo de desenvolvimento de patologias e

alterações fisiológicas.

Funções das Respostas Fisiológicas ao Estresse Agudo:

1º) Estruturar o organismo de modo que este possa lidar de forma comportamental e

fisiológica com o desafio;

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2º) Facilitar o aprendizado e a memória, o que permitirá ao animal reagir mais

adequadamente a um estressor semelhante em uma próxima ocasião.

MEDIDAS DO ESTRESSE

A) Alterações comportamentais,

B) Sinais fisiológicos,

C) Sintomas clínicos,

D) Parâmetros bioquímicos,

E) Achados patológicos.

ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS higiene pessoal, apetite (consumo de água

e de alimento), atividade, agressividade, expressão facial, vocalização, aparência,

postura, resposta ao manejo.

SINAIS FISIOLÓGICOS temperatura corporal, pulso, respiração, perda de peso (bom

indicador de estresse crônico), estrutura de células sanguíneas, ritmo

cardíaco/pressão arterial, fluxo sanguíneo, secreção nasal, fezes alteradas em

volume, cor e consistência, vômitos, salivação, tremores, convulsões, paralisia,

pupila dilatada, reflexos lentos ou ausentes, olhos afundados, etc.

INDICADORES BIOQUÍMICOS corticosteróides – glicocorticoeteróides,

catecolaminas – epinefrina, noradrenalina, tiroxina, prolactina, endorfina –

peptídeos opióides, glicose, hormônios da pituitária anterior, insulina, vasopressina

– hormônio da pituitária superior, sistema imunológico, fator de crescimento neural,

hormônio de crescimento, etc.

LESÕES PATOLÓGICAS no post mortem, peso das glândulas adrenais, timo, baço,

amostras sanguíneas, urina, alterações neuroquímicas do cérebro, etc. Achados em

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virtude do estresse: ulceração gástrica, lesões cardio-vasculares, lesões renais,

hipertrofia e hemorragia das adrenais, alterações de peso de alguns órgãos, etc.

SINAIS CLÍNICOS atividade exploratória, postura, aparência do pêlo, aparência dos

olhos, secreção dos olhos e nariz, higiene do orifício anal, aparência das orelhas e

patas, etc.

* Não é nada simples avaliar o estresse, e há dois problemas básicos.

a) as medidas obtidas são difíceis de interpretar;

b) a repetição do estudo leva a diferentes resultados.

A medida a ser utilizada deve ser uma resposta biológica que tenha um impacto

efetivo no Bem-estar animal. Antes que qualquer medida biológica (comportamental,

autonômica ou neuroendócrina) possa ser usada para medir o estresse, deve ser estabelecido

que a alteração causada pelo estresse naquela medida tenha correlação significativa no

Bem-estar.

Existem vários estudos sobre o fenômeno Estresse (Selye, 1936, 1950, 1955 e

1976; Ewbank, 1973; Fraser et al., 1975; Ritchie & Fraser, 1975; Labhart, 1978;

Encarnação, 1980, 1981 e 1989; Huntingford, 1984; Moberg, 1985; Beynen et al., 1987;

Broom, 1988; Manser, 1992; Broom & Johnson, 1993; Gattermann, 1993; Carlson,1994;

Webster, 1994; Wingfield et al., 1997; Appleby & Hughes, 1997; Paranhos da Costa et al.,

2002; Paranhos da Costa, 2003, 2004, 2005 e 2006; Souto, 2005; Rivera, 2002 e 2006; Val

Ferreira & Duarte, 2007). Porém, todos concordam em que “o estresse ocorre quando

condições adversas produzem respostas fisiológicas no indivíduo”. Essa resposta é uma

tentativa do animal em manter a sua homeostase (equilíbrio fisiológico normal do corpo).

Segundo Gattermann (1993), o estresse pode ser reduzido através de

comportamentos adequados e, como conseqüência, tem-se um organismo mais apto para

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enfrentar problemas futuros. No entanto quando o estímulo estressor é mais longo e/ou

forte temos os “danos reparáveis ou irreversíveis, os quais seriam acompanhados de

distúrbios comportamentais”. “O conceito de estresse não se restringe aos organismos com

um sistema nervoso, e que tal conceito é usado em um amplo leque de planos biológicos,

das “células aos ecosssistemas” (Hendrichs, 1992).

Para entender melhor o estresse é preciso compreender que ele está ligado

intimamente a alguns hormônios, com já foi citado, com a epinefrina, a noraepinefrina

(catecolaminas) e o glicocorticosteróides. A função dos primeiros é de preparar o

organismo para uma ação protetora, mobilizando os recursos energéticos do corpo, uma

vez, em geral, situações de perigo demandam reações vigorosas. As catecolaminas, por

exemplo, “afeta o metabolismo da glicose, ao tornar acessíveis os nutrientes guardados nos

músculos, fornecendo energia para exercícios fatigantes” (Hadorn & Wehner, 1994;

Carlson, 1994; Sachser, 1994; Wingfield et al., 1997). O segundo grupo de hormônios

ligados ao estresse é o glicorticostereróides (cortisol e costecosterona), os quais, possuem

um “profundo efeito no metabolismo da glicose. A sua influência se alastra também no

sentido de aumentar o “fluxo de sangue”, além “estimular a prontidão de respostas

comportamentais – presumivelmente por afetar o cérebro (Carlson, 1994; Souto, 1999 e

2005). Embora a atuação breve dos glicorticosteróides seja benéfica para o organismo, a

atuação prolongada deles (ação crônica) á considerada como a maior causa dos danos

ligados ao estresse (Selye, 1976; Encarnação, 1989; Carlson, 1994; Sachser, 1994;

Wingfield et al., 1997; Souto, 2005; Rivera, 2002 e 2005). As respostas ao estresse podem

ser consideradas como adaptativas, apenas quando ocorre dentro de um período que varia

entre algumas horas, até uns poucos dias.

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Segundo Wingfield et al. (1997) e Souto (2005), a atuação crônica dos hormônios

ligados ao estresse pode ser deletérios, com já foi citado. Da mesma forma, que uma

ativação mais baixa de tais substâncias é salutar para o organismo. Segundo Souto (2005)

os efeitos de uma ativação mais reduzida não têm recebido a mesma atenção daquela tida

como crônica.

A literatura reporta que uma supressão temporária do comportamento territorial e

reprodutivo pode ser considerada como valiosa, uma vez que a atividade (e energias) de um

indivíduo seria redirigida para a solução da causa estressante. Segundo Wingfield et al.

(1997), naturalmente, os comportamentos suprimidos seriam mantidos em um estado

“quase funcional” e, assim que a perturbação passasse o animal poderia voltar às suas

atividades normais. A situação crônica ocorreria quando a supressão, no caso do aspecto

reprodutivo, não pudesse ser revertida dentro de “uma única fase de acasalamento” (Souto,

2005).

Um outro ponto interessante é que tais hormônios poderiam promover um sono

mais tranqüilo, o que resultaria em uma poupança de 20% das energias de um indivíduo

(Wingfield et al, 1997; Souto, 2005). Além dos aspectos, citado anteriormente, existiria a

possibilidade dessas substâncias atuarem sobre a conduta de forrageamento, aumentando-a,

assim como ativando como uma conduta de migração repentina. Segundo Souto (1999 e

2005) embora alguns desses dados possam parecer contraditórios (em um momento os

hormônios ligados ao estresse tornam o repouso mais acentuado e, em outro, influenciam

um comportamento abrupto como a migração repentina), tal peculiaridade, segundo

Wingfiel et al. (1997), estaria ligado à severidade e duração dos estressores (em aves).

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Em se tratando dos mamíferos, de maneira geral, existem situações sociais, a priori,

que têm conseqüências positivas e negativas sobre o nível de estresse. Segundo Sachser &

Kaiser (1996) as mudanças do sistema hormonais variam de acordo com, a seguir:

(1) As características do sistema social em que o animal está inserido.

(2) A quantidade de apoio social que o mesmo recebe.

(3) E as experiências sociais que ele teve durante o desenvolvimento.

A socialização é de grande importância para ocorrer uma adaptação adequada às

estruturas sociais. Assim, animais criados em condições sociais não apropriadas, tornam as

relações com outros indivíduos agressivas e elevam o nível de estresse ao grupo (Sachser,

1993; Sachser & Kaiser, 1997). Sachser & Reninger (1993) reportam que durante a

socialização os animais aprendem algumas regras sociais como, por exemplo, “respeitar as

associações entre machos e fêmeas e as relações de dominância”.

Segundo Sachser & Kaiser (1996 e 1997), até mesmo o meio social pré-natal é de

grande valor para a situação endócrina dos filhotes (fêmeas): “a instabilidade do meio

social, durante este período favorece uma masculinização do comportamento, assim como

um aumento do estresse nas filhas”.

São do conhecimento, naturalmente, as diferenças individuais ligadas à capacidade

física em suportar determinados elementos estressores igualmente físicos, como o calor e,

notadamente ao frio, extremado. Segundo Souto (2005) mesmo as situações envolvendo o

medo ou a ansiedade também dependeriam, até certo ponto, da percepção individual (a

qual, por sua, estaria ligada às experiências anteriores e/ ou à socialização). A

aprendizagem pode, assim, ser uma maneira eficaz de se reduzir o estresse, como no caso

da habituação positiva no que diz respeito a um determinado local. O grau de estresse pode

estar diretamente ligado à capacidade em se controlar a realidade circundante: quanto mais

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diretamente a fonte estressora pode ser avaliada, melhores são as chances do estresse

diminuir, pois existiria a possibilidade de um controlo (parcial ou total) sobre ela (Carlson,

1994).

BEM-ESTAR ANIMAL

Bem-estar animal “é a necessidade para sobreviver e reproduzir”.

É um tanto difícil definir o que é Bem-estar para um animal. Segundo Fraser (1999),

as tentativas de conceituar o Bem-estar animal resume em três deduções principais. Assim

sendo, para que um animal possa estar incluído dentro do conceito de Bem-estar este deve:

a) sentir-se bem, não ser submetido ao medo, à dor ou outros estados

desagradáveis de forma intensiva ou prolongada;

b) funcionar bem, no sentido de saúde, crescimento, funcionamento

comportamental e fisiológico;

c) levar uma vida natural através do desenvolvimento e do uso de suas

adaptações naturais.

As definições da palavra Bem-estar (welfare e well-being), de acordo com

Merriam-Webster Dictionary e com o Cambridge Dictionaries são: “o estado ou

condição de estar, saudável, feliz, confortável e próspero; felicidade, saúde mental ou

física; condição de existência satisfatória ou boa; o estado de sentir-se saudável e feliz; um

estado caracterizado pela saúde, felicidade e prosperidade” (Val Ferreira & Duarte, 2007).

Os mesmos autores reportam, ainda, que o dicionário Aurélio define Bem-estar como

“estado de perfeita satisfação física ou moral, conforto”. Avaliar condições de felicidade,

saúde mental, e, satisfação moral em animais é difícil, pois estas são características

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subjetivas e intrínsecas aos próprios animais e a ciência ainda não desenvolveu métodos

para avaliá-las. Vários autores salientam que há divergência no uso da palavra Bem-estar.

Segundo Barnett & Hemsworth (1990) todos os critérios de avaliar o Bem-estar,

estão baseados em demonstrar evidências de mudança.

Broom (1988 e 1991) conceitua Bem-estar como as respostas do organismo às

diversas condições do ambiente, para manutenção da homeostase.

Fraser & Broom (1990) reportam que várias formas de privação, desconforto ou dor

são indicadores de um Bem-estar ruim, assim como a redução na habilidade de crescer e se

reproduzir, lesões no corpo e doenças, menor expectativa de vida, problemas no sistema

imunológico para o controle homeostático.

Lawrence & Appleby (1996) citam a existência de diversos critérios para determinar

o Bem-estar, que podem variar desde a sobrevivência básica e crescimento até a redução de

doenças e Bem-estar psicológico.

Segundo Paranhos da Costa & Cromberg (1997), identificar, medir e analisar as

condições em que o Bem-estar é ruim é mais fácil do que quando ele é bom.

Seamer (1998) propõe que o animal estar bem quando é bem sucedido no controle

ou total eliminação de fatores adversos, através de suas reações comportamentais,

fisiológicas e/ou psicológicas e ainda afirma que Bem-estar significa bem, ou seja, o uso do

termo Bem-estar ruim torna-se inaplicável.

Weary et al. (2000) afirmam que algumas abordagens (sobre o tema Bem-estar)

enfatizam os atributos físicos (crescimento e saúde), mentais (prazer ou sofrimento) e a

naturalidade (que reflete a proximidade ou distância do ambiente natural).

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De modo geral, todos autores parecem concordar que o Bem-estar de um animal

depende de sua habilidade de manter sua condição corporal a mais estável possível e evitar

sofrimento.

Existem evidências, incluindo espécies domésticas, tomam decisões sobre

quando , onde e o que devem comer para manter boa saúde e condição corporal,

mostrando preferências sensatas (Huntingford, 1984). Segundo McFarland (1999),

muitos animais são capazes de aprender como obter substâncias essências, sendo

hábeis também em aprender qual alimento os faz sentir melhor.

Segundo Val Ferreira & Duarte (2007), para os animais, o sofrimento e a dor são

estados aversivos e, portanto, evitam (quando possível) condições em que sofram,

optando por fazer escolhas que sejam benéficas a eles .

A definição estabelecida pelo Farm Animal Welfare Council (FAWC), do

Parlamento Britânico em seu Código de Bem-estar para Animais de Produção, citada por

Wester (1987) e Chevillon (2000), é amplamente aceita e utilizada, e é baseada no

reconhecimento das “Cinco Liberdades”inerentes aos animais:

1) A Liberdade Fisiológica ausência de fome e sede. A alimentação à

disposição do animal deve ser suficiente, tanto em quantidade quanto em qualidade,

permitindo crescimento, vigor e saúde normais;

2) A Liberdade Ambiental ausência de desconforto térmico ou físico. As

instalações e/ou edificações devem ser adaptadas, fazendo com que o ambiente não seja

excessivamente quente ou frio, nem impeça o descanso e atividades normais;

3) A Liberdade Sanitária ausência de injúrias e doenças. As instalações devem

apresentar-se de forma a minimizar o risco de doenças, fraturas e machucados, e quaisquer

casos que ocorram devem ser reconhecidos e tratados sem demora;

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4) A Liberdade Comportamental possibilidade para expressar padrões de

comportamento normais. O ambiente deve permitir e oferecer condições para que o animal

expresse seus instintos e comportamentos normais, inerentes à sua espécie;

5) A Liberdade Psicológica ausência de medo e ansiedade. O animal não deve

ser exposto a situações que lhe provoquem angústia, ansiedade, medo ou dor.

EM SUMA:

A) Os animais devem estar livres de sede, fome e desnutrição;

B) Ter abrigos apropriados;

C) Prevenção e tratamento rápido para doenças;

D) Liberdade para expressar seus padrões normais de comportamento;

E) Livre de condições de medo.

Esses cinco itens procuram oferecer uma abordagem para a compreensão do

Bem-estar como é percebido pelo próprio animal (e não como definido por seu criador

ou mesmo pelo consumidor) e servem como um ponto de partida para avaliar os

aspectos bons e ruins de um sistema de criação (Webster, 1987).

Existem muitos indicadores do Bem-estar, que variam de acordo com a espécie

estudada. Ao tentar definir o que é ambiente provedor de Bem-estar para um animal, há um

consenso acerca da colocação de Appleby & Hughes (1997), que afirmam que um ambiente

é apropriado quando permite ao animal satisfazer suas necessidades incluindo recursos

próprios e ações cuja função é atingir um objetivo. Em um dado momento da sua vida, o

animal terá uma série de necessidades, algumas mais urgentes que outras, mas cada uma

delas terá uma conseqüência no seu estado geral (Baxter, 1988 e Broom & Johnson, 1993).

Se um animal não esta apto a satisfazer uma necessidade, a consequência, mesmo que

rápida e eventual, será um prejuízo no Bem-estar (Fraser & Broom, 1990).

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Webster (2001) reporta que a qualidade de vida se torna inaceitável quando o

animal fica sem esperança, ou seja, quando o animal não pode realizar alguma atividade

que possa contribuir de maneira construtiva para a existência do Bem-estar. .

Broom & Johnson (1993) destacam três idéias relativas ao Bem-estar dos animais:

1) Bem-estar é uma característica do animal, não é algo que pode ser fornecido

a ele. A ação humana pode alterar com o objetivo de melhorar o Bem-estar animal,

mas não se refere como Bem-estar o ato de proporcionar um recurso ou condição;

2) Bem-estar pode variar entre “muito ruim e muito bom”. Não se pode

simplesmente pensar em preservar e garantir o Bem-estar, mas sim em melhorá-lo ou

assegurar que ele é bom;

3) Bem-estar pode ser medido cientificamente, independentemente de

considerações morais. A sua medida e interpretação deve ser objetiva.

Broom (1996) caracterizou o Bem-estar como o estado de um dado organismo

durante as suas tentativas de se ajustar ao seu ambiente

Segundo Val Ferreira & Duarte (2007) descrever os estudos sobre estresse e

sofrimento talvez auxiliem (em parte) na melhor compreensão do que significa Bem-estar.

Como já foi dito, muitas vezes, os padrões de comportamento são reflexos das

tentativas do animal de se libertar ou escapar de agentes/estímulos estressantes. Essas

reações podem ser usadas para identificar e avaliar o estresse e por oposição, o Bem-

estar.

Na prática da Etologia, o Bem-estar (como é de praxe) é avaliado por meio de

características fisiológicas e comportamentais. As medidas fisiológicas são associadas ao

estresse e baseadas no fato de que, se o estresse aumenta, o Bem-estar diminui; já os

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indicadores comportamentais estão relacionados especialmente à ocorrência de reações e

comportamentos anormais ou que se afastem dos que ocorrem no ambiente natural.

O clima, o ambiente e a capacidade de adaptação influenciam o comportamento dos

animais. Segundo Silva (2000), existem dois pontos de vista para conceituação do termo

adaptação. O primeiro é genético, e define adaptação como sendo o conjunto de alterações

nas características herdáveis, que favorecem a sobrevivência de uma população de

indivíduos em um determinado ambiente. O segundo é biológico, resultado da ação

conjunta de características morfológicas, anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e

comportamentais, no sentido de favorecer a sobrevivência e promover o Bem-estar de um

organismo específico. Assim, quanto mais adaptado o organismo, em termos genéticos e

biológicos, maiores serão suas chances de desenvolver todo o seu potencial em determinada

situação ambiental e climática.

Paranhos da Costa (2000) comenta que, no dia-a-dia das propriedades (criação de

animais domésticos) os animais enfrentam invariavelmente situações que causam

desconforto; Temperatura, radiação solar, insetos, etc. Tais condições podem, em conjunto

ou isoladamente, levar os animais ao estresse, Durante grande parte de suas vidas os

animais fazem escolhas baseadas na avaliação do ambiente e em suas próprias

necessidades; dentro da limitação proveniente dos genes, os animais adaptam suas reações

fisiológicas e comportamentais e seu metabolismo para apresentar respostas adequadas às

diversas características e condições do ambiente, na busca da condição/opção que o

beneficie da melhor maneira. Segundo Broom & Johnson (1993), para que isso ocorra, o

ambiente precisa oferecer os recursos necessários para a ocorrência dessas respostas, sob

pena de ocorrer estresse (a princípio com diminuição do “Bem-Estar”), decorrente da falha

na adaptação do animal ao meio ambiente.

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Segundo Paranhos da Costa (2005), Bem-estar não é sinônimo de estar bem, sendo

esta condição (estar bem) apenas um dos estados possíveis do Bem-estar de um dado

indivíduo. A definição do estado de Bem-estar animal geralmente é realizada levando-se

em conta uma das seguintes abordagens:

1) Estado psicológico do animal Quando o Bem-estar é definido em função dos

sentimentos e emoções dos animais, sendo que animais com medo, frustração e ansiedade,

enfrentariam problemas de Bem-estar.

2) Funcionamento biológico do animal Segundo este ponto de vista, os animais

deverão manter suas funções orgânicas em equilíbrio, sendo capazes de crescer e de se

reproduzir normalmente, estando livre de doenças e sem sinais de desnutrição, além de não

apresentarem comportamentos e respostas fisiológicas anormais.

3) Vida natural neste caso, assume-se que os animais deveriam ser mantidos em

ambientes semelhantes ao seu habitat, tendo liberdade para desenvolver suas características

e capacidades naturais, dentre elas a expressão do comportamento.

Paranhos da Costa (2005) salienta, que embora, estas três abordagens apresentem

formulações diferentes para justificar a preocupação com o Bem-estar animal, o objetivo é

único e que, por isso, deveriam ter um caráter complementar e não exclusivo.

Na prática, os estados físicos e mentais têm efeitos recíprocos, sendo que problemas

físicos invariavelmente levam a deterioração do estado psicológico e vice-versa. Em certos

casos uma análise simplificada pode ser útil. Por exemplo, a detecção de problemas de

saúde, ferimentos e de necessidades nutricionais não atendidos, são indicativos seguros de

que o estado de Bem-estar de um dado animal não é bom. Por outro lado, em outras

situações, envolvendo certos estados psicológicos dos animais, como medo, frustração e

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ansiedade, é mais difícil avaliar e quantificar seu Bem-estar (Paranhos da Costa et al., 2002;

Paranhos da Costa, 2005).

Para melhor compreender o conceito de Bem-estar animal, é necessário entender os

conceitos de homeostase e necessidade (já citado anteriormente).

A homeostase, ou manutenção do meio interno do organismo em equilíbrio, se dá

através de uma série de sistemas funcionais de controle, envolvendo mecanismos

fisiológicos e reações comportamentais (Cannon,1929), mantendo estável, por exemplo, a

temperatura corporal, o balanço hídrico, as interações sociais, etc. O Bem-estar é

prejudicado quando o animal não consegue manter a homeostase ou quando ele consegue

mantê-la às custas de muito esforço.

Intimamente relacionado ao de homeostase está o conceito de necessidade: animais

têm sistema de controle, que atuam na manutenção do equilíbrio do organismo. Assim, a

constante estimulação dos animais aciona esses sistemas, levando-os a buscar soe recursos

e/ou os estímulos necessários para manutenção do equilíbrio orgânico (Paranhos da Costa,

2005). Essa situação define uma necessidade, que só pode ser remediada quando um dado

animal obtém um recurso particular ou apresenta uma resposta a um determinado estímulo

do ambiente ou do próprio organismo (Fraser & Broom, 1990; Broom & Johnson, 1993;

Paranhos da Costa et al., 2002).

BEM-ESTAR ANIMAL “é a necessidade para sobreviver e reproduzir ”.

INDICATIVO DE BEM-ESTAR ANIMAL:

Desejo e motivação características comportamentais:

1- Comportamento deslocado

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2- Rigidez de comportamento

3- Privação (“ausência”) de comportamento

b) Necessidade características fisiológicas:

Saúde, baixa taxa de mortalidade, longevidade, alta taxa de reprodução,

produção e atividades primárias.

“Medidas de Bem-estar pobre” várias formas de privação, desconforto ou dor,

expectativa de vida reduzida, redução na habilidade de crescer e reproduzir, lesões no

corpo, doença, imunossupressão, tentativas fisiológicas e comportamentais para o controle

da homeostase.

“Medidas de Bem-estar rico” comportamento normal e de prazer e indicadores

fisiológicos.

ÍNDICE DE MEDIÇÃO DE BEM-ESTAR ANIMAL (EUA, 1998).

1) Doença, mortalidade, produção e reprodução reduzidas.

2) Medidas fisiológicas de estresse e problemas imunes.

3) Privação de comportamento.

O comportamento anormal pode ser entendido como “sinais de perigo”, que na sua

grande maioria, são pistas visuais:

Problemas de cascos, pernas, condição corporal, distúrbios metabólicos,

maneira de se deitar, levantar ou andar, etc. Agressividade no cocho, tempo de

ruminação, tempo de permanência em pé, pouco tempo de socialização

(EMBRAPA, 2002).

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Os comportamentos anormais têm sido agrupados em categorias que caracterizam

indicadores de problemas de Bem-estar, Paranhos da Costa (2003, 2004 e 2005)

destacando-se:

1) Esteriotipias : caracterizadas pela repetição de movimentos que aparentemente não

têm qualquer função ou valor adaptativo.

a) “Pacing”(animais andando de um lado para o outro, sem razão aparente).

b) Abanar a cabeça: de forma exagerada e repetitiva (restrição de

espaço/animal).

c) Mastigação constante

d) Enrolar a língua (comum em bovinos)

e) Engolir ar (comum em cavalos)

2) Comportamentos auto-destrutivos : a) auto-mutilação, b) lamber e comer o seu

próprio pêlo, lã ou penas, c) apetite depravado, d) hiperfagia e e) polidipsia .

3) Agressividade exagerada : dirigida a outros animais do próprio grupo, tendo como

expressões extremas o infanticídio e o canibalismo.

4) Falhas em funções comportamentais : a) impotência sexual nos machos, b)

desorientação durante a cópula, c) rejeição do neonato, canibalismo maternal, d)

dificuldades para deitar, levantar e para se locomover.

5) Reatividade anormal : a) apatia, b) inatividade prolongada, c) hiperatividade, d)

histeria.

6) Comportamentos no vácuo : construção de ninhos com materiais impróprios, b)

atividade sexual dirigida a estímulos inadequados.

Vários estudos têm demonstrado, a relação entre Estresse e Bem-estar animal,

contudo não parece ser fácil o entendimento deste fenômeno. Esta compreensão não

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parece simples e em algumas situações não parece ser retilínea (Encarnação, 1980, 1981

e 1989; Fox, 1984; Rushen, 1986; Hughes & Duncan, 1988; Mason,1991; Lifords,

1991; Rushen & Passillé, 1992, Passillé et al., 1992 e 1996; Gorss,1992; Redbo,1993;

Duncan et al., 1993; Blackshaw, 1996; Lewis & Hurnik, 1998; Jago et al., 1999; Breuer

et al., 2000; Rivera, 2002 e 2006).

Essa compreensão torna-se mais complexa quando no estudo do comportamento

animal introduzimos outros parâmetros interessante, como os estímulos e a percepção

dos animais (Manning,1979; Sossinka, 1981; Lamprecht,1982, 1982McFarland, 1986;

Glaubrecht, 1992, Lundberg, 1993, Christner,1994; Franck, 1997; Souto, 1999 e 2005).

Estímulo é qualquer tipo de fenômeno perceptível e que pode provocar algum tipo

de alteração na conduta de um organismo. A percepção é o ato de captar os diferentes

tipos de estímulos do ambiente, com auxílio de órgãos sensitivos.

A percepção não é igual em todos os organismos. Existem grandes diferenças, nesse

aspecto, entre as diversas espécies animais, entre sexo e até mesmo nas fases de

desenvolvimento de um mesmo indivíduo ou nos diferentes estados motivacionais de

um ser.

Mesmo existindo um estímulo relativamente forte, é preciso que o animal esteja

minimamente motivado para apresentar uma resposta mais esperada. A motivação é o

estado em que um animal se encontra e que é diretamente responsável pelo controle do

seu comportamento (McFarland, 1986). O grau motivacional de um indivíduo depende

de vários fatores fisiológicos (fome, sede, hormônios, etc.) e da aprendizagem (traumas,

ansiedade, etc.).

Os animais não podem perceber tudo que está ao redor deles. É provável que a

incapacidade em se perceber todos os estímulos esteja relacionada com a utilidade de

tal característica. Se do ponto de vista evolutivo, um animal vive com as melhores

condições de sobrevivência, através do aparelho sensitivo que possui, qual seria a

vantagem de perceber aspectos que lhe são pouco ou nada úteis? Além disso, uma

percepção mais abrangente pode requerer um sistema nervoso mais complexo, um

maior gasto de energia e um período de desenvolvimento mais prolongado.

O organismo, portanto, não percebe tudo o que se encontra à sua volta e tal seleção

envolve duas formas de filtragem: uma periférica e outra do sistema nervoso. A

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primeira está relacionada com a seleção feita ao nível dos órgãos sensoriais, como os

olhos ou os ouvidos, por exemplo. E cabe a ele selecionar (filtração do sistema

nervoso), de acordo com as necessidades do organismo, o que é importante ou não de

ser respondido.

O que um estímulo-chave?

Um determinado estímulo (ou estímulos) causa uma série organizada de

modificações em um organismo, sendo que tais modificações ou comportamentos, não

sofrem uma influência marcante da aprendizagem (por serem essencialmente herdados

– “mecanismos liberadores inatos” ou, simplesmente, MLI). Todavia, percebeu-se que

alguns estímulos liberadores envolviam aspectos herdados, mas que eram alterados, ou

adequados pela experiência que certas espécies de animais vivenciavam. A essa

variante atribui-se o nome de “mecanismo liberador inato modificado pela

experiência” (MLIME). Por fim, aceitou-se que alguns estímulos-chave eram

simplesmente aprendidos pelos animais. Esse fenômeno recebeu a denominação de

“mecanismo liberador aprendido” (MLA), (Franck, 1997).

0 que é “somação de estímulos”?

Este termo representa uma espécie de adição de estímulos e a sua consequência é a

produção de adição de estímulos mais fortes. Os estímulos que causam determinadas

respostas podem se somar uns aos outros, e terem como efeito respostas ainda mais

fortes do que aquelas obtidas por esses mesmos estímulos, quando apresentados de uma

forma isolada. A esse fenômeno foi atribuído o nome de “somação” e significa que os

estímulos podem ser “adicionados” uns aos outros, provocando uma reação maior no

organismo respondente (Souto, 1999 e 2005). Através de pesquisas quantitativas, que,

ao que tudo indica, os estímulos individuais realmente se somam apenas em casos raros

(Sossinka, 1980; Immelmann, 1982; Lundberg, 1993; Souto, 1999 e 2005). Segundo

Souto (2005), o que de fato ocorre, é uma “conta mais complicada”, a qual deve ser

entendida como uma “adição ponderada”, afirmando que a soma não ocorre de uma

forma rigorosamente matematicamente.

Como foi visto, sabe-se que do mais simples organismo animal ao homem a

percepção é limitada. A idéia de uma apreciação do mundo abrangente e semelhante

entre as espécies, apresenta-se abandonada. Tornou-se bastante clara a noção de que

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os diversos animais possuem um mundo próprio (“mundos que os circundam”/ “meio

ambiente”). Uexküll in Souto, 2005 “reporta que um organismo é um sujeito que

vive em seu universo próprio, e cujo centro é construído por ele mesmo”.

Desta forma, os animais não respondem a todos os estímulos do meio e tal

percepção seletiva, dependeria, como já foi dito, do tipo de vida do organismo.

CONCLUSÃO

1) Considerações sobre comportamento e bem-estar animal:

Em cada oportunidade, o animal utiliza uma pluralidade de estímulos que seu organismo

assimila de acordo com as circunstâncias e de maneira variada.

O entendimento dos “sinais de perigo” como indicadores de bem-estar reduzido, não

parece ser muito simples, são necessárias evidências de que cada um dos “sinais de perigo”

significa a redução do bem-estar animal.

A privação de comportamento pode indicar a ausência de estímulos que o provoquem.

Os animais podem mudar de estratégia comportamental, em razão das circunstâncias

isto é, chegar a um novo objetivo através de meios diferentes.

A falta de entendimento das bases biológicas das medidas de bem-estar usadas

(alterações de comportamento) representa o maior impedimento para julgar a sua validade,

pois a maioria das medidas reflete condições específicas de estresse.

Antes de deduzir algo sobre bem-estar por meio de observação do comportamento do

animal, é necessário entender a motivação que está por trás de tal comportamento.

2) Considerações as para minimizar o efeito do estresse nos animais, nos trópicos:

Otimização do meio ambiente

Selecionar animais resistentes

Programas de cruzamento

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Zoneamento bioclimatológico em faixa (combinações gênicas x Variáveis

climáticas)

Programas de alimentação

Conforto térmico

Controle sanitário sistemático

Uso de tranqüilizantes, como os benzodiazepínicos

Uso de cortisol, cortisona e corticosterona (glicocorticosteróide)

Melhorar a interação homem x animal

Melhor entendimento sobre o comportamento e bem-estar animal.

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