“inovar vai alÉm”: o discurso de inovação na campanha...
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“INOVAR VAI ALÉM”: O Discurso de Inovação na Campanha Publicitária da Vale S.A.1
Bruna Tarraf 2
ESPM
Resumo
O presente artigo visa problematizar de que modo a questão da inovação no contexto organizacional vem sendo incorporada como um diferencial competitivo no âmbito do discurso publicitário. A partir de uma revisão teórica sobre o conceito de inovação e sobre a importância do planejamento de comunicação de marca, analisa-se a campanha “Inovar vai além” da empresa Vale S.A., veiculada em 2017. Do ponto de vista teórico, o artigo se vale de autores como Schumpeter (1964), Manual de Oslo (OCDE, 1997) e Tigre (2006) para abordar o tema da inovação e Almeida e Andrade (2007), Carrascoza (2007) e Aucar (2017) para refletir sobre a comunicação publicitária.
Palavras-chave: Cultura da Inovação; Inovação; Intertextualidade; Publicidade; Vale S.A..
Sobre Conceito de Inovação
Tempos atrás, segundo Gupta (2008), a inovação era vista como arte, e, ao mesmo tempo,
era algo raro e imprevisível para se tornar tangível. Como a história da inovação é evolutiva, em
geral, a resposta para um problema não resolvido ou uma oportunidade ainda não explorada na
sociedade mostra-se estimulante e motivacional às pessoas, levando-as a investirem no tema
inovação. Pelo histórico, a inovação surgiu, provavelmente, também quando os indivíduos se
compararam com terceiros e, assim, instigou-se inveja, guerra, destruição, renovação e outros
sentimentos sugestivos a inovação. Atualmente, o comportamento dos indivíduos baseia-se na missão
de serem pensadores contínuos e capazes de inovar.
Segundo Bragança et al. (2016), a cultura de inovação é almejada pelas organizações com
o objetivo de melhorar o desempenho e criar vantagem competitiva. Entretanto, não deixa de ser um
desafio a incorporação promover essa cultura com eficácia pelos gestores e pesquisadores da
1 Trabalho apresentado no 3º Encontro de GTs de Graduação - Comunicon, realizado no dia 10 de outubro de 2018. 2 Publicitária bacharelada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda na ESPM, orientador do trabalho Marcello Monteiro Pereira. E-mail: [email protected]
empresa. Para Tigre (2006), geralmente, as inovações são concentradas nas grandes empresas, pois
conta-se com recursos e capacitações para desenvolver novos produtos e processos. Mas, hoje em
dia, não é um empecilho pequenas empresas serem inovadoras, pois essas têm o respaldo de novas
tecnologias de comunicação – como a Internet, que reduz a dificuldade das pequenas empresas de
terem acesso às informações tecnológicas.
De acordo com Tigre (2006), a história da inovação se enquadra, exponencialmente e
principalmente, entre a Pré-Revolução Industrial, a Primeira Revolução Industrial, a Segunda
Revolução Industrial e a Pós-Revolução Industrial. Tais marcos colaboraram com a transição de
processos de manufatura para novos procedimentos de manufaturados e com o surgimento de
máquinas que, por sua vez, transformaram os valores e provocaram incalculáveis mudanças no estilo
de vida da sociedade.
A revolução industrial, incluindo o surgimento da necessidade de inovar, à medida que a
sociedade cresceu, proporcionou o acúmulo de bens e sequenciou sentimentos de concorrência. Para
Gupta (2008), o pensamento inovador manifesta-se por meio da combinação de diversos padrões, da
evolução e da descoberta de novas estruturas, por isso, não necessariamente a inovação é tecnológica.
Conforme mostra a citação abaixo:
“Na cronologia do desenvolvimento social, quando os seres humanos começaram a adquirir bens, aumentou a ânsia competitiva – um desejo de ter mais, um desejo de ter melhor, um desejo de ter coisas que tornassem a vida mais fácil. Quando estes desejos se tornaram suficientemente fortes, transformaram-se numa carência ou necessidade, e, como diz o velho cliché, ‘a necessidade é a mãe de todas as invenções’. Em termos históricos, o conhecimento estava limitado a apenas algumas pessoas. Todavia, na actual era do conhecimento, onde a informação é amplamente difundida, a inovação futura será o resultado de descobertas individuais e conjuntas a um ritmo cada vez mais acelerado. Os estudos demonstraram que a inovação é construída com base em conhecimentos passados e na experiência contínua. Em vez de considerarmos a inovação como um processo ad hoc com resultados desconhecidos, a inovação pode ser convertida num processo estrutural e num sistema mais previsível” (GUPTA, 2008, p. 15).
Previamente, é válido expor as diferenças entre inovação e criação e entre inovação e
invenção. Os termos “criação” e “invenção” também se diferem, entretanto, para tal discussão,
sugere-se o redirecionamento do assunto para um âmbito artístico e fora do objetivo principal do
artigo presente.
Segundo Bragança et al. (2016), a criatividade relaciona-se ao processo intuitivo de
solucionar um problema por meio de processos de pensamento ligados à imaginação, ao insight, à
invenção, à intuição, à inspiração, à iluminação, à originalidade e, de certa forma, ao processo de
inovação. A inovação é a recombinação de ideias antigas, que originam uma nova ideia capaz de
modificar a ordem atual, fazendo novas pessoas perceberem-na. É importante a percepção e o
reconhecimento do mercado, pois a inovação é o processo de introduzir uma nova ideia direcionada
ao próprio mercado. Caso haja diversão nisso, continua sendo criação.
Esses elementos buscam soluções tanto para variadas dificuldades e desafios do dia a dia
quanto para novas estratégias sobre mudança e/ou reposicionamento e/ou ampliação de mercado. É
válido ressaltar que, em Schumpeter (1934 apud TIGRE, 2006), os termos “invenção” e “inovação”
são diferentes, pois as invenções são irrelevantes às práticas econômicas. As invenções inseridas na
cadeia produtiva ou comercial tornam-se significativas para a cadeia econômica quando voltadas ao
mercado. No entanto, quando esse fato se consolida, elas passam a ser denominadas como inovações.
Para Tigre (2006, p. 72), a invenção baseia-se na “criação de um processo, técnica ou produto
inédito” que pode ser divulgada em artigos técnicos e científicos, ou mesmo, registrada em forma de
patente, mas sem aplicação concreta no ramo comercial.
Assim, conceitua-se invenção, e não inovação, como uma nova tecnologia ou produto
incapaz de gerar retorno para recompensar o investimento feito no conhecimento, na informação
necessária ou na criatividade despendida. Se for para gerar a restituição, considera-se uma integração
entre tecnologia, mercado e empresa, sendo assim constituída a “visão estratégica da inovação”
(TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008 apud AMARAL et al., 2013).
A introdução de inovações em ambiente organizacional tornou-se uma atividade
estratégica essencial para empresas de todos os tamanhos, formas e setores. Jain (in Gupta, 2008),
refere-se à inovação como sinônimo de parte integrante do sucesso empresarial. Para Bruno-Faria
(2004), as organizações inovadoras são capazes de mobilizar conhecimento, experiência e
desempenho tecnológico para criar novos produtos, processos e serviços. Inovando, elas se
diferenciam para o mercado pela tendência de aprimorar a performance competitiva e mercadológica.
Em Tigre (2006, p. 28), afirma-se que o “O mercado tende a estabelecer condições de
concorrência e informações perfeitas”, pois a dinâmica tecnológica é, em larga medida, negligenciada
pela teoria neoclássica, e que “As possibilidades tecnológicas são usualmente representadas por
função de produção”. Por isso, a inovação exige a formação de grupos/clusters e/ou de envolvimento
intelectual sobre o contexto de um determinado mercado para ocorrer o processo de inovação. Ela
pode surgir por inovadores individuais ou por equipes inovadoras, mas, necessariamente, originando
algo inédito dentro do ramo.
Em Tigre (2006), explora-se sobre as corporações globais mais lucrativas, atualmente,
não serem mais compostas pelo paradigma fordista, mas pelo caráter informacional das novas
trajetórias de inovação. Com o avanço das tecnologias de informação e de comunicação, as quais
influenciam também a aceleração da globalização e da liberalização dos mercados e reduzem os
espaços economicamente privilegiados a um ponto de vista institucional, aconteceu a substituição das
expressões fordismo, taylorismo e toyotismo pela expressão wintelismo – junção de Windows e Intel
– que caracteriza o novo paradigma técnico-econômico. Assim, o processo de inovação revolucionou
a indústria e a organização no sistema produtivo global, pois supriu e integrou cadeias globais,
aproximou fornecedores e usuários e permitiu o acesso às informações multimídias em tempo real.
Em Lazzarotti, Dalfovo e Hoffman (2011), confirma-se que Joseph Alois Schumpeter é
um dos principais acadêmicos sobre o conceito de inovação. Ele desenvolveu a teoria de
desenvolvimento econômico que inclui a definição de inovação como a formação de novos produtos,
serviços, processos, matérias-primas, mercados e organizações. Confirma-se, também, que a
inovação é um tema lato e progressivamente pleiteado, tanto no contexto empresarial quanto no
acadêmico. A definição do termo refere-se a introduzir uma particularidade de algo que não existia
antes, ou pode traduzir também um processo de fazer mudanças em algum objeto estabelecido –
acrescentando valor aos clientes.
No Manual de Oslo (1997), o conceito aparece da seguinte forma:
“Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho, ou nas relações externas” (MANUAL DE OSLO, 1997, p.55).
Desse modo, a premissa para se definir uma inovação ocorre quando o produto, o
processo, a metodologia de marketing ou da empresa são novos ou consideravelmente aprimorados.
Isso pode ser uma ação feita pela própria empresa ou através da imitação de terceiros. A inovação
resume-se à implementação de uma única mudança significativa ou configura-se em várias pequenas
mudanças incrementais que podem, em conjunto, representar uma mudança significativa (AMARAL
et al., 2013).
A inovação está diretamente relacionada ao desenvolvimento, uma vez que o
desenvolvimento econômico acontece pelo surgimento de novas combinações economicamente
viáveis. Por isso, ela acontece por um processo que necessita de recursos, impõe riscos e causa
impactos após a implementação (SCHUMPETER, 1934 apud AMARAL et al., 2013).
O modelo de processo de inovação, conforme o Manual de Oslo (1997), combina as
atividades de inovação entre etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e
comerciais. Essas atividades dependem da variedade e da estrutura de relações com as fontes de
informação, conhecimento, tecnologia, práticas e recursos humanos e financeiros da empresa.
Em Tigre (2006), pode-se associar a trajetória das inovações ao conceito de ciclo de vida.
O conceito apresenta quatro fases: introdução, crescimento, maturação e declínio. O primeiro estágio
ocorre quando um pequeno número de empresas introduz o novo produto, serviço ou processo. Essa
primeira etapa demarca incerteza quanto ao resultado, o inovador torna-se dependente de que haja
sucesso no investimento. À medida que há uma melhoria no desempenho desse novo elemento, a
inovação entra no segundo estágio: crescimento. Este acelera conforme aumenta o conhecimento e,
posto isto, o desempenho da inovação é aprimorado. A terceira etapa, chamada de fase de maturação,
consolida-se quando os processos produtivos se padronizam, como com a estabilização das vendas.
Por fim, a quarta e última fase do ciclo, o declínio, pode ser identificada quando o produto lançado
deixa de ser uma novidade e/ou surgem produtos ou serviços substitutos.
Nesse sentido, segundo o Manual de Oslo (1997), os processos de inovação variam de
setor para setor, conforme explicitado abaixo:
“Processos de inovação diferem muito de setor para setor em termos de desenvolvimento, taxa de mudança tecnológica, interações e acesso ao conhecimento, assim como em termos de estruturas organizacionais e fatores institucionais (por exemplo, Malerba, 2005). Alguns setores são caracterizados por rápidas mudanças e inovações radicais, outros por mudanças menores e incrementais” (MANUAL DE OSLO, 1997, p. 61).
Segundo o Manual de Oslo (1997), é possível formar cinco etapas básicas para inovar,
sendo elas: pesquisar sobre o cenário atual para compreender o mercado; observar situações reais
para poder identificar o que modifica e o que não modifica o comportamento do mercado para
selecionar os potenciais conjuntos para inovar; visualizar conceitos novos para o mundo e para os
clientes potenciais que farão parte dessa realidade; avaliar e aprimorar os protótipos numa série de
iterações rápidas; última e opcional, refletir sobre as fases anteriores e revisar as experiências de
fracasso e de sucesso.
Para Amaral et al. (2013), a relação entre definições e contextos de inovação se faz pela
implementação de um novo ou incrementado produto, serviço, processo, método organizacional ou
de marketing nas atividades de negócios – podendo inovar no local da organização ou nas relações
externas. Essas associações dependem da dinâmica e da forma como se pretende inovar. Assim,
formam-se as classificações de inovação: por estratégia (aberta ou fechada), por tipos de inovação de
mercado (produto, processo, marketing, organizacional, paradigmal, posicional, de baixo custo e
assim por diante) e por graus de resultado (radical, disruptiva, incremental e sustentadora).
Segundo o Manual de Oslo (1997), a inovação varia em âmbito, tempo de execução e
impacto organizacional e social. A multiplicidade de conceitos de inovação, de tipos de inovação,
mais as diversidades nas atividades de cada inovação são importantes para atingir, de forma
congruente, os diferentes consumidores, de diferentes países, regiões, setores, mercados e empresas.
Logo, ao se estudar o conceito de inovação, apesar de inúmeras definições e possibilidades de se
inovar, verifica-se termos sobre tipos de inovação que geram discórdia entre acadêmicos quanto a
algumas denominações. Por isso, necessita-se de um estudo compilando ainda mais os conceitos de
alguns principais autores que discirna a função, a organização e o conteúdo de cada nome com os
respectivos autores.
Sobre a Importância da Publicidade
Em Simões (2006), supõe-se que as primeiras manifestações publicitárias ocorreram pelo
processo oral de vendedores ambulantes, cantados e/ou gritados, para divulgar as mercadorias. Com a
preocupação de chamar a atenção dos receptores do conteúdo, o slogan e o teaser aparecem com a
importância de compor a frase de efeito que resume o conceito da campanha para despertar a
curiosidade do público. Logo, a publicidade torna-se a técnica, a arte e a ciência de transformar o
produto, o serviço ou o processo conhecido através dos respectivos atributos para obter a aceitação
do público.
Almeida e Andrade (2007) apontam que a introdução de técnicas de marketing à
publicidade ativa sentido a uma variedade de objetos no espaço urbano moderno, cada vez mais
estetizado e dinâmico. No cenário urbano, o mundo moderno se faz pela Revolução do Bem-Estar, da
Felicidade e, principalmente, do Consumo. As revoluções implicaram diferentes atividades sociais,
como grupos de estilo de consumo buscarem se distinguir por meio dos bens de consumo. Os bens se
valorizaram enquanto signos e transformaram ainda mais os processos de produção. Sendo assim, os
veículos de comunicação, incluindo a publicidade, alteraram e alteram as percepções sobre o acesso
aos bens de consumo, desempenhando um papel fundamental na formação da cultura popular.
De acordo com Carrascoza (2007), por meio da intertextualidade, a publicidade agrega às
identidades culturais, pois reencena o passado, atualiza-o com um novo sentido, e sem prescindir da
origem. Ela se junta a outros produtos midiáticos que também propõem um repertório cultural da
comunidade.
Para Mota-Ribeiro (2003), a publicidade, enquanto discurso social da cultura popular,
assume foco particular de lutas e ataques perante comportamentos e padrões questionados na
sociedade. A importância dela advém do fato de ela não apenas refletir, espelhar modelos
socialmente aprovados, mas também contribuir para a construção das identidades e embasar
significados para a incorporação de valores e de tendências sociais. Portanto, as imagens publicitárias
vão além de mensagens entre outras, pois são como manifestações de um sistema que lida com
ideias, atitudes e valores. A publicidade forma a identidade cultural através das práticas
significativas, gera significado nas palavras e nas imagens visuais de que se serve e tenta difundir
esses significados construídos no sistema de crenças e de valores pela sociedade.
Segundo Aucar (2017), a cultura do consumo consolida a publicidade como o discurso
central das marcas e o papel crescente dos meios de comunicação de massa na vida cotidiana. O
processo de modernização e consumo no Brasil dos anos 1950, por exemplo, prova essa consolidação
pelas agências explicitarem as relações com as experiências culturais em um período de franca
industrialização. Ressalta-se as interseções entre o desenvolvimento econômico do país e as práticas
sociais. Os temas incidem sobre a construção de uma coletividade urbana, empresarial, com novas
formas de administração e estilos de vida – conforme o trecho seguinte:
“(…) a sociedade avança e os anunciantes são convocados a acompanhar suas transformações. Podemos afirmar que as agências promovem uma pedagogia do consumo corporativo e a publicidade torna-se a “voz” que enuncia o novo modo de fazer negócios e, por consequência, os novos significados atribuídos às práticas de consumo” (CARRASCOZA; HOFF, 2011 apud AUCAR, 2017, p.11).
Logo, a narrativa publicitária cria, sustenta, expande e organiza as diferentes marcas na
vida social, tecendo duradouros vínculos de sentido entre sujeitos e cultura material.
Almeida e Andrade (2007) afirmam que, de fato, a publicidade e as respectivas
mensagens midiáticas transformaram a cultura em relação ao consumismo e ao comercialismo. O
consumo tornou-se uma ideologia indispensável e com uma diversificada significação cultural para o
sistema de produção capitalista. Dessa forma, os padrões de consumo veiculados com as ideias
sociais pela publicidade são conflitantes com os limites ambientais. Contudo, apesar de a publicidade
ter formado essa realidade, não é banindo-a que o caso se solucionará, mas ela mesma tem a
influência para reverter esse caso. Reorganizar e modificar a forma e o conteúdo utilizados para
comunicar os padrões de consumos pregados pela publicidade pode cessar essa incompatibilidade
entre o consumo e a natureza.
De modo geral, segundo Mota-Ribeiro (2003), é válido concluir que os sistemas de
publicidade transformaram e ainda transformam o papel social das mercadorias em partes de
comunicação e de influência. A humanidade pode lidar com esta rede de significações associadas aos
objetos de modo inconsciente há tempos, mas isso é ainda mais acentuado com a presença
publicitária – além de ser um elemento constante no âmbito social.
O Discurso da Inovação na Publicidade da Empresa Vale S.A.
Com o propósito de refletir como o discurso de inovação ocorre na publicidade,
apresenta-se a campanha “Inovar vai além” da empresa Vale S.A. Segundo o site oficial da empresa,
a Vale é uma mineradora multinacional brasileira, sediada na cidade do Rio de Janeiro (RJ) que foi
fundada em 1942 pelo ex-presidente Getúlio Vargas. Ela representa uma das maiores operadoras de
logística do país e explora variados tipos de minérios no território nacional, sendo uma organização,
atualmente, privada e de capital aberto.
A campanha “Inovar vai além”, de modo geral, tem como objetivo comunicar a
mensagem de que, para a Vale, inovar envolve pensar diferente, propor mudanças e buscar a
evolução. Entre os objetivos desta comunicação, está o de reforçar práticas e valores que apontam
para o futuro da mineração, o qual envolve proximidade com as comunidades, habilidade de escuta e
construção de relações (SITE OFICIAL DA VALE S.A.).
Além de explicitar o conceito de comunicação, segundo a assessoria de imprensa Terra e
o aplicativo Vale Informar, voltado para os Androids dos funcionários da empresa, a campanha
vincula-se somente a plataformas digitais, como Facebook, LinkedIn e outros portais da internet. Este
trabalho de divulgação propõe uma série de artigos, de projetos e de vídeos evidenciando o tema.
Conforme a Ilustração 1: Cenas da campanha “Inovar vai além” da empresa da Vale S.A. abaixo,
visualiza-se brevemente a proposta do trabalho de divulgação:
Ilustração 1: Cenas da campanha “Inovar vai além” da empresa Vale S.A.
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base no vídeo da campanha “Inovar vai além” da Vale S.A..
Nota-se, pelo site oficial da empresa, que, desde a intenção estratégica de marketing
interno ao desenvolvimento externo de novos projetos, a campanha defende o conceito de “evolução”
e de que inovar vai além da criação de novas tecnologias. Através de artigos assinados por
especialistas da Vale e postados no LinkedIn da mineradora, de projetos sociais – como o Programa
AGIR, e de projetos de preservação do ambiente – como o projeto Reserva Natural Vale, certifica-se
a importância a qual a empresa investe no bem da sociedade e na positiva percepção das atividades
da empresa. Logo, assim como a campanha se liga aos objetivos estratégicos dos projetos, o discurso
da gerente de mídias digitais e relacionamento com a imprensa, Mônica Ferreira, confirma o
posicionamento inovador da empresa. Conforme a citação a seguir:
“No entendimento da Vale, a inovação é um agente de transformação que faz com que pessoas e marcas cresçam e evoluam. Esse é um valor no qual a nossa empresa acredita e que tem relação direta com o nosso propósito” (COMENTÁRIO DE MÔNICA FERREIRA, PORTAL DA MINERAÇÃO – IBRAM, 26 DE JULHO DE 2017).
Ainda integrado com a intenção da campanha, entende-se que a marca conquistou, no dia
15/12/2017, o reconhecimento do Best Innovator Brasil, organizado pela consultoria americana AT
Kearney e Surperbid (São Paulo), que a posicionou entre as 15 empresas mais inovadoras do Brasil.
O mérito analisado considera as iniciativas de inovação quanto à estratégia, ao processo, à
organização, à cultura, à estrutura, ao suporte e ao resultado da inovação. Dessa forma, entende-se
pela afirmação do Gerente Executivo de Tecnologia e Inovação da Vale, Alexandre Salomão, a
importância dessas iniciativas inovadoras:
“O prêmio reconhece os esforços das empresas em inovar, além de ser uma oportunidade de fazer uma autoavaliação de suas práticas” (SITE OFICIAL DA VALE S.A).
Além disso, a empresa promove a ideia de disseminar os resultados dos projetos de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) e de inovação através do Informativo MAIS. Antes do objetivo
de se estabelecer transparência aos stakeholders, o informativo relata a contribuição da presença da
inovação e aborda conceitos e termos mais específicos, como Oppen Innovation, que reforçam a
importância de se estimular os vários tipos de inovação e explicam como eles se fazem significativos
e diferentes para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Percebe-se que, na campanha “Inovar vai além” da Vale S.A., além da preocupação com
o ramo tecnológico, reforça-se o posicionamento estratégico de ter a visão de inovação para o âmbito
social e ambiental. Uma vez que as atividades da empresa têm riscos tanto para com a segurança dos
funcionários quanto para com a preservação do ambiente, a Vale se enquadra, muitas vezes, em
escândalos explorados pela mídia.
Exemplos disso são o caso de poluição em Barra dos Coqueiros (SE) e o episódio
descrito na Carta Capital sobre a “chuva de minério” no Porto de Tubarão em fevereiro de 2016. A
situação na cidade sergipana gerou, segundo o site oficial do Ministério Público Federal em Sergipe
(MPF/SE), um processo do MPF contra a mineradora pela poluição no município, em janeiro de
2016, uma vez que houve uma dispersão de material derivado do petróleo prejudicial à saúde. Nessas
duas ocasiões, a Vale foi vítima da exploração midiática. Logo, considerando que o tema inovação
aborda o futuro, a empresa tenta administrar essa resistência futura de forma emocionalmente
apelativa para “descobrir o mundo de outra forma”, ou seja, apela para a tentativa de anteceder
experiências positivas com a marca para transparecer a percepção de que as atividades da empresa
constroem outros efeitos assertivos com os valores básicos das comunidades aos arredores da
organização.
A publicidade, segundo Carrascoza (2007), e as organizações inovadoras, de acordo com
Bruno-Faria (2004), ligam-se e contribuem para que a Vale reafirme a posição de mais consistência e
mais legitimidade para possíveis futuros escândalos e futuros acidentes sociais e/ou ambientais com a
comum capacidade de mobilizar conhecimento e experiência. Os consumidores podem, dessa forma,
formar uma percepção de mais transparência e cuidado da multinacional com a sociedade.
Além de as propagandas e as campanhas serem constantemente formadas e expostas de
maneira criativa para estabelecer a atenção do consumidor, nota-se que a ideia de inovação se torna
algo cada vez mais presente no discurso da publicidade – independente de ser uma inovação
tecnológica ou inovação de serviço. Uma vez que a realidade se embasa após as revoluções
industriais e a revolução do consumo e se enquadra em um espaço de informações multimídias em
tempo real, segundo Kotler e Keller (2012), afirmar que a marca é inovadora traduz que ela está à
frente do seu tempo – o que agrega maior valor desde o posicionamento até a percepção de
identidade da marca. Sendo assim, além de a publicidade ser fundamental para comunicar a
identidade da marca, quando se usufrui da ferramenta “inovação”, apesar de não ser uma tarefa
simples, envolve uma série de processos, soluções e recursos que é cada vez mais contribuinte e
favorável para o sucesso dos objetivos estratégicos de uma marca na realidade do século XXI.
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