antonio carlos ribeiro de andrada machado e silvatcc/000002/000002f0.2.pdf · hueyatlaco site,...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E
PRESERVAÇÂO PATRIMONIAL
Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
Hueyatlaco: Um breve estudo de caso sobre a censura institucional na arqueologia moderna.
São Raimundo Nonato – PI 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÂO
PATRIMONIAL
Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
Hueyatlaco: Um breve estudo de caso sobre a censura institucional na arqueologia moderna.
Trabalho apresentado a Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Campus Serra da Capivara, Como requisito da obtenção do título de - Bacharel em Arqueologia e Preservação Patrimonial. Orientador: Prof. Dsc. Guilherme de Souza Medeiros.
São Raimundo Nonato – PI 2011
Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas SIBI / UNIVASF
Silva, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e
S586a Hueyatlaco: Um breve estudo de caso sobre a censura institucional na arqueologia moderna / Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva. 2011.
122 f.: Il.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial) - Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus São Raimundo Nonato, 2011.
Orientador: Prof.º Dsc. Guilherme de Souza Medeiros
1 Darwinismo. 2. Teorias Evolucionistas. 3. Arqueologia. I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.
CDD 576.82
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÂO PATRIMONIAL
Folha de Aprovação
Para TCC
Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
Hueyatlaco: Um breve estudo de caso sobre a censura institucional na arqueologia moderna.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Arqueologia e Preservação Patrimonial, pela
Universidade Federal do Vale do São Francisco.
_______________________ Prof. Dsc. Guilherme de Souza Medeiros – Universidade Federal do Vale do São
Francisco.
_______________________
Prof. Dr. José Jaime Freitas Macedo – Universidade Federal do Vale do São Francisco.
_______________________ Prof. Msc. Rafael Casati – Universidade Federal do Vale do São Francisco.
_______________________ Prof. Msc. Mayane Leite da Nóbrega – Universidade Federal do Vale do São
Francisco.
Aprovado pelo Colegiado de Arqueologia e Preservação patrimonial. ___________________ em ____/____/2011
i
Dedico este trabalho à memória de meus pais, Antonio
Carlos de Andrada e Silva e Yeda Maria de Figueiredo
Andrada e Silva, que sempre me incentivaram ver o
mundo com meus próprio olhos.
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente ao Prof. Guilherme Medeiros, pelo aceite gentil dessa
orientação em meio à construção final de sua defesa de Tese de Doutoramento e ao Prof.
Jaime Macedo, pelos eternos debates sinceros, pelas interessadas leituras e criticas ao meu
trabalho.
Agradeço, ainda, ao amigo Orestes Jaime Mega, com quem gratificadamente tenho
publicado algumas de minhas primeiras heresias acadêmicas, pelas lutas lado a lado e a
coragem de doar-se às urgências de nossa geração, contra o Capitalismo, a Guerra, a
Globalização e o Especismo e pelos anos de debates que abriram para mim as portas
inesperadas das abordagens da Psicologia analítica na arqueologia. Nesse sentido, meu muito
obrigado também a Genesis Naum de Farias e aos poucos, mas valorosos colegas, que tanto
colaboram com preciosas indicações de leitura e que me libertaram de antigos grilhões.
Agradeço especificamente a Michael A. Cremo, pelo trabalho louvável e incansável na
pesquisa e no questionamento dos consensos arqueológicos e da cosmologia moderna da
evolução; que nesses últimos dois anos se dispôs gentilmente a disponibilizar seus artigos a
este editor para publicação na revista Paradêsha, assim como por compartilhar informações e
documentos sobre o caso Hueyatlaco e me indicar o contato de um dos membros originais do
projeto Valsequillo, Virginia Steen McIntyre, a qual sou grato pela atenção dispensada e pela
vontade inabalável com que persiste junto ao atual grupo Pleistocene Coalition na divulgação
das descobertas feitas em Valsequillo por quase quarenta anos.
Meu agradecimento especial a minha namorada, Nevi, pelas idéias e pelo carinho.
Por fim, desejo expressar minha gratidão aos inúmeros autores de espírito livre que ao
longo dos últimos séculos não se deixaram enfraquecer pela imposição dogmática dos
consensos acadêmicos e que sacrificaram muito na luta para divulgar suas descobertas e
pensamentos mais inquietantes sobre a existência humana.
iii
Nos últimos cento e cinqüenta anos, os arqueólogos e antropólogos
enterraram tantas evidências quanto desenterraram, literalmente.
Michael Cremo, sobre a epistemologia da
disciplina arqueológica. In: Forbidden
Archaeology Impact.
If any opinion is compelled to silence, that opinion may, for aught we can
certainly know, be true. Though the silenced opinion be an error, it may, and
very commonly does, contain a portion of truth; and since the general or
prevailing opinion on any object is rarely or never the whole truth, it is only
by the collision of adverse opinions that the remainder of the truth has any
chance of being supplied.
(Fragmento de theory of freedom of speech da
obra On Liberty, John Stuart Mill).
iv
Andrada, A. C. R. M. S. de. Hueyatlaco: Um breve estudo de caso sobre a censura institucional na arqueologia moderna. São Raimundo Nonato: Universidade Federal do Vale do São Francisco, 2011.
RESUMO
Este trabalho pretende apresentar uma análise crítica do discurso da evolução biológica como
sendo uma construção social que influencia de maneira hegemônica a construção do
conhecimento sobre as origens humanas. Através dessa influencia, se estabelece uma
contradição episteme na pesquisa e divulgação científica, assim como no ensino da
arqueologia, dentro da perspectiva do naturalismo metodológico relacionado ao seu valor
para ciência evolucionista. Apresentamos um estudo de caso de maneira comparativa que
corrobora esta analise, enfocando pesquisas realizadas no Continente Americano,
principalmente na região de Valsequilho, México; utilizando o sítio de Hueyatlaco como um
exemplo norteador central que corrobora a existência desta episteme dogmática que favorece
a ideologia da evolução humana em seu paradigma moderno dentro da construção do discurso
de uma ciência arqueológica materialista. Discutimos também o valor da propaganda nos
meios de ratificação, difusão e divulgação científicas da arqueologia e seus usos. Por fim,
propomos uma reflexão sobre os processos que mantém intocada tal contradição epistêmica
na produção da narrativa arqueológica das origens, enfatizando assim, a importância da
cosmologia darwinista na manutenção do sistema capitalista e da relação recíproca dessa
cosmologia econômica como a ontologia dialética da arqueologia na modernidade.
Palavras-chave: Darwinismo. Capitalismo. Arqueologia. Consenso. Modernidade
v
Andrada, A. C. R. M. S. de. Hueyatlaco: Hueyatlaco: A brief case study of institutional censorship in modern archaeology. São Raimundo Nonato: Universidade Federal do Vale do São Francisco, 2011.
ABSTRACT
This work intends to present a critical discourse analysis of biological evolution as a social
construction that exerts hegemonic influence over the construction of knowledge about human
origins. Through this influence, an episteme contradiction is established in scientific research
and dissemination, as well as teaching archeology within the perspective of methodological
naturalism related to its value to evolutionary science. We present a case study in a way that
supports this comparative analysis, focusing on research conducted in the Americas,
especially in the region of Valsequilho, Mexico; using as a main guiding example the
Hueyatlaco site, which confirms the existence of this dogmatic ideology episteme that favors
the human evolution in its modern paradigm of discourse in the construction of a materialistic
archaeological science. We also discussed the value of propaganda in the media of ratification
and the dissemination of scientific archeology and their uses. Finally, we propose a reflection
on the processes that maintain such pristine epistemic contradiction in the production of
archaeological narrative of origins, thus emphasizing the importance of Darwinian cosmology
in maintaining the capitalist system and of the mutual relationship of its economic cosmology
as a dialectic ontology of archaeology in modernity.
Palavras-chave: Darwinism. Capitalism. Archaeology. Consensus. Modernity.
SUMÁRIO
Dedicatória .....................................................................................................................................i Agradecimentos .............................................................................................................................ii Epígrafe .........................................................................................................................................iii Resumo .........................................................................................................................................iv Abstract .........................................................................................................................................v
1. Introdução ..............................................................................................................................................09
2. Desenvolvimento ...................................................................................................................................18
2.1 Hueyatlaco: Um estudo de caso..............................................................................................18
2.1.1 Um Breve Histórico......................................................................................................19
2.1.2 Elementos significativos da pesquisa..........................................................................31
2.1.3 Sobre uma ontologia da controvérsia..........................................................................33
2.1.4 Paradigma e peer review .......;.....................................................................................62
2.1.5 Censura, publicação e Ensino.....................................................................................68
2.1.6 Um Mundo sem Alicerces – A Literatura ausente.......................................................81
3. Considerações Finais ..........................................................................................................................86
4. Referências Bibliográficas....................................................................................................................94
Anexo A ….....................................................................................................................................................99
Anexo B …...................................................................................................................................................118
9
1- Introdução
Wiktor Stoczkowski, ao escrever uma resenha para a revista francesa L´Home chama a
atenção para a crescente ―Metástase‖ da arqueologia hoje, não somente relacionada ao
discurso do relativismo epistêmico aplicado pelas correntes pós-processuais, pelo qual a
própria disciplina tem se ressignificado, mas tendo em vista um reconhecimento de que as
narrativas científicas nunca estiveram em uma posição de primazia frente ao conhecimento
como afirma a história da ciência em sua visão romanceada da chamada revolução científica
(STOCZKOWSKI, 1995). Mesmo dentro das próprias academias, existe uma instabilidade
que a ciência tenta disfarçar com a imposição de ―consensos‖ pré-estruturados que muitas
vezes são impostos dogmaticamente. Desde a publicação de Thomas Kuhn: The structure of
Scientific Revolutions (1970), muitos autores tem se utilizado de sua distinção entre
paradigmas na ―ciência normal‖ e ―anomalias‖ tanto na ―ciência normal‖ quanto na ―ciência
extraordinária‖. Historicamente, têm-se debatido a possibilidade de que tais anomalias
estivessem sendo suprimidas durante os processos de formação do conhecimento e sua
divulgação. Assim, na arqueologia mundial tem-se formado questionamentos e disputas,
desde o final do séc. XX, sobre a revisão de vários sítios contendo tais ―anomalias‖ que foram
sepultados pela literatura científica contemporânea.
Na arqueologia, defensores da legitimidade desta supressão apostam confiantes numa
―parcimônia insuspeita‖ do conhecimento aceito pelas instituições e alegam que tais
evidências anômalas foram simplesmente falseadas pelos processos metodológicos do
empirismo científico e que não houve nada além de uma incapacidade de sobrevivência das
alegações extraordinárias1 (MELTZER, 1993). Os que denunciam a formação de processos de
censura e supressão defendem que tais alegações são parte da propaganda da ciência, e que as
anomalias são retiradas dos processos científicos por um ―filtro intelectual‖, argumentam que
tais processos sociais (teóricos pré-conceituais) da ciência determinaram o tratamento dos
fatos, de que é a coerência com o paradigma corrente que constringe a aceitação das
evidências independente de seu valor empírico (CREMO; THOMPSON, 1998; CARTER,
1980). O paradigma que mais tem influenciado estes contextos seria a teoria evolutiva e seus
modelos tradicionais.
1 “This problem is compounded by too many false alarms. Scores of sites have been advertised as possessing
great antiquity. But on closer inspection, each has failed to live up to its advance billing. Caveat Emptor.‖
(MELTZER, 1993, p. 21).
10
Tais questões foram discutidas, por exemplo, no World Archaeological Congress 3
(WAC3), Tim Murray que na época editava tal evento, escreveu posteriormente uma resenha
sobre tal situação (dirigida ao trabalho de M. Cremo e R. Thompson) no British Journal for
the History of Science 2
, onde afirma: “[...] are not clear whether this filtration process is
conscious (in the sense of cover-up or fraud) or simply the unconscious recommitment to
normal science.‖3 Entretanto, e isto é importante salientar, tal supressão de anomalias através
deste filtro intelectual têm sido explicada por processos inconscientes já estudados e bem
conhecidos pelos filósofos da ciência4 (CREMO; THOMPSON, 1998).
Sendo assim, concordamos com a ligação e a influência inegável que ―qualquer‖
paradigma incide sobre o tratamento dos fatos na ciência, e que o processo científico,
especialmente na arqueologia é ideologicamente construído. Entretanto, seria este filtro
intelectual, realmente indireto - inconsciente (pessoal)? Ou seria ele um ato de censura
planejada, consciente e direcionado através de políticas institucionais construídas para este
fim? Se sim, por que (?) e com quais objetivos? Este trabalho pretende investigar tais questões
e sugerir respostas.
Escolhemos trabalhar assim, com um contexto incipiente e ainda formativo do
conhecimento arqueológico, a pré-história das Américas. Sabemos que a antiguidade do
homem na América tem sido vista como um campo de fortes disputas e controvérsias
ferrenhas desde o ―descobrimento‖ deste Novo Mundo. O debate contemporâneo realizado
pelas academias trabalha com datações que raramente ultrapassam os limites das concepções
cronológicas evolutivas criadas pelos consensos, Europeu e Norte Americano no último
século e meio. Porém, neste mesmo período, muitas outras diferentes perspectivas foram
propostas de cenários cronológicos produzidos a partir de dados concretos obtidos em
pesquisas no próprio continente Americano. Tais evidências, ―anomalias‖, não podem ser
suportadas pelo modelo evolutivo bio-antropológico em sua narrativa contemporânea. Assim,
2 MURRAY, T. Review of Forbidden Archaeology . British Journal for the History of Science, 1995, vol.
28, pp. 377-379. 3 ―[…] Não esá claro se este processo de filtragem é consciente (no sentido de um acobertamento ou fraude)
ou simplesmente é o incosciente desenrolar da ciência normal.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
4 ―When we speak of supression of evidence, we are not referring to scientific conspirators carrying out a
satanic plot to deceive the public. Instead, we we are talking about an ongoing social process of
knowledge filtration that appears quite innocuous but has a substantial cumulative effect.‖ (CREMO;
THOMPSON, 1998, p. xxvi). - ―Quando falamos de supressão da evidências, não estamos nos referindo
a um complô de cientistas conspiradores que levam a cabo um complô satânico para enganar o público.
Ao invés disso, estamos falando sobre um processo automático de filtragem do conhecimento que parece
quase inócuo mais que possui um substancial efeito cumulativo.‖ Tradução livre do autor desse trabalho.
11
ostracizadas sob o estigma de um caráter ―anômalo‖ suposto, tais pesquisas têm sido
colocadas à margem da discussão acadêmica e do ensino institucional há várias décadas. Tais
pesquisadores, por outro lado, tem se utilizado de suas descobertas de maneira isolada visando
à construção de narrativas que valorizem pontualmente proposições de visibilidade e alcance
menor. Entendemos, porém, que tais evidências se vistas em conjunto, não só recuam as
cronologias de ocupação do território Americano, mas definitivamente desconstroem
empiricamente as narrativas modernas, biológicas e arqueológicas para as origens humanas.
Neste contexto, portanto, não faremos apenas uma análise descritiva ou historiográfica destas
descobertas anômalas, mas realizamos uma análise episteme, uma crítica do discurso da
evolução biológica na arqueologia como sendo a principal superestrutura responsável por este
filtro intelectual paradigmático na esfera cosmológica das origens humanas na Modernidade
científica, ontologia essa, fundadora de uma narrativa metafísica que se mantém apenas
através de mecanismos de propaganda institucional e cujo propósito é manter um fundamento
ontológico para o sistema de relações capitalista.
Toda a perspectiva da narrativa tradicional da arqueologia se desenvolveu sobre os
modelos construídos a partir do Velho Mundo, ao redor da lógica científica discursiva
construída ao redor do núcleo axiomático da icônica Teoria da Evolução Moderna (ou Síntese
Moderna). Esta visão aceita pela maioria dos antropólogos e arqueólogos prediz que a
humanidade não evoluiu independentemente nas Américas, e que, portanto, deve ter migrado
para este continente. Têm sido coletadas evidências que apóiam tal interpretação - genéticas,
lingüísticas, paleoambientais e arqueológicas (DIXON, 1993; TURNER, 1986,
GREENBERG, 1987), porém estas não são excludentes e são insuficientes para explicar
inúmeras anomalias que apontam em direções opostas.
Pela narrativa dita ―consensual‖, o gênero Homo inicia sua dispersão global a partir da
África há cerca de 3.0 – 2.4 m.a. AP, principalmente em direção a Ásia, tendo deixado
registros materiais inequívocos de sua passagem (como maior expoente: Sichuan, na China,
onde foram identificadas indústrias líticas de cerca de 1.8 m.a. AP); movimento esses
entendidos dentro de uma concepção tradicional de modelos geológico/climáticos e
ecológico/ambientais dentro do contexto discursivo das mudanças genéticas e das adaptações
ao meio Segundo o paradigma corrente construído pela academia Norte Americana, teria o
Homo sapiens, apenas através de uma penetração linear, migrado para o continente
Americano através da Beringia somente há cerca de 15.000 anos AP pela hipótese dos
caçadores siberianos ou Teoria Clovis First, qualquer outra hipótese seria mera fantasia
―irracional‖. (HAAG, 1973; MELTZER, 1993). Hoje, existe uma aceitação parcial para a
12
expansão destas cronologias, figurando uma migração inicial há 30.000 anos AP e a ocupação
da America do Sul há no máximo aproximadamente 15.000 anos AP (BELTRÃO; PEREZ,
2007, p. 6). Essa narrativa, contudo, claramente confina-se ao entendimento do fenômeno
humano num contexto ontológico da biologia moderna, que se insere numa lógica espaço-
temporal (linear e evolutiva) construída pelo pensamento moderno (CREMO, 1999b). Esta
concepção tem sido criticada como sendo apenas uma construção ideada, representada pela
divisão que ocorreu no pensamento ocidental, como uma divisão da experiência, no advento
da metáfora metafísica materialista, do mecanicismo e do rompimento com a re-construção do
passado, tal discurso consolidou-se hegemônico nas estruturas sociais pelo distinto
crescimento próspero desta certa visão filosófica particular do homem com seus meios
particulares pelos quais os seres humanos operaram socialmente dentro deste contexto
(THOMAS, 2004).
A crítica a tais modelos epistêmicos não é nova como enfatizamos aqui e tem sido
oferecida pela Sociologia da Ciência, onde se destaca a Teoria Crítica representada por um
amplo leque de autores considerados de postura relativista, a saber: pós-modernos, pós-
estruturalistas e pós-críticos como na Teoria do Relativismo Epistêmico, do Pluralismo e da
Teoria Crítica radical; estes denunciam, não só o desenvolvimento de uma ciência moderna
ideologicamente construída numa lógica hegemônica, mas também a utilização de diversos
instrumentos estruturais de repressão na pesquisa e divulgação empíricas e teóricas.
Assim, neste mesmo período, outras diferentes perspectivas empíricas e teóricas foram
propostas, muitas dentro da própria lógica moderna, entretanto, não alinhadas com o eixo
axiomático da cronologia produzida pelo paradigma da evolução bioantropologica (CREMO,
1999). Trabalhos arqueológicos em sítios neste continente, inclusive no Brasil, evidenciam a
presença hominínea em períodos extremamente recuados desde o Pleistoceno Inferior até o
Mioceno e no Eoceno – como também existem registros reportados dessa presença em Eras
ainda mais recuadas. Muitos sítios podem ser citados para corroborar tais cronologias não
consensuais como: Hueyatlaco, El Horno (MCINTYRE et. al., 1981) e Xalnene (DALTON,
2005), na região de Valsequillo na América central; Calico Hills (SIMPSON et. al. 1986),
Sandia Cave, Texas Street, Sheguiandah (CREMO; TOMPSOM, 1998), e Old Crow River no
Canadá (MORLAN, 1986); Toca da Esperança na Bahia (De LUMLEY et. al. 1988),
Itaboraí no estado do rio de janeiro (BELTRÃO; PEREZ, 2007); Anza-Borrego (GRAHAM,
1998) e Sierra Nevada Mountains na Califórnia (CREMO, 2003); Miramar e Monte Hermoso
na Argentina (AMEGHINO, 1911); dentre muitos outros. Tais evidências apontam para uma
cronologia muito mais recuada do que os modelos evolutivos podem comportar em suas
13
narrativas contemporâneas. Assim, ostracizadas sob o estigma de um caráter ―anômalo‖, tais
pesquisas perante a força hegemônica do paradigma evolutivo paleoantropológico têm sido
colocadas à margem da discussão acadêmica e do ensino institucional há várias décadas.
Ao longo da história da disciplina, as idéias de uma antiguidade maior para a origem
humana, seja ela nas Américas ou não, têm sido combatidas de muitas maneiras, utilizando-se
de diversas estratégias diferentes. Iremos nos focar e discutir questões como a supressão da
divulgação, a censura institucional e difamação da pesquisa e de seus autores. Quanto ao
tratamento recebido pelo pesquisador, na maioria dos casos basta aos ―donos do
conhecimento‖ o uso institucional de seu poder dogmático sendo exercido através de
condenações sumárias utilizando ataques ad hominen. Em outras situações, é realizado um
escrutínio dirigido a expor a falibilidade das ações metodológicas utilizadas em cada sítio
considerado controverso, procedimento que não é utilizada em mesma medida para evidências
e sítios que confirmem o paradigma. De outro lado, existe uma pressão sobre o pesquisador
quanto relacionado às hierarquias acadêmicas, ao questionamento de sua autoridade científica
e quanto a sua competência como agente pesquisador. Tais ataques, como veremos, são em
sua maioria ataques propagandísticos dificilmente corroborados por quaisquer evidências. As
pressões obviamente também são feitas dentro da esfera acadêmica com cortes no
refinanciamento da continuidade das pesquisas e das carreiras institucionais, em que acabam
por interromper e desincentivando pesquisas futuras.
Quanto à crítica teórica, como vimos com a argumentação sobre a aplicação do processo
científico (MELTZER, 1993), tais pesquisas são acusadas de um amadorismo técnico, muitas
vezes essa acusação é ligada a uma crítica direta ao contexto metodológico histórico em que
foram escavados tais sítios (principalmente quando trata-se descobertas feitas durante o século
XIX ou do início do século XX). Porém, quanto a essa questão, devemos nos lembrar de que
boa parte do paradigma evolutivo bioantropológico consensual que temos hoje foi formada
através de evidências coletadas sobe as mesmas condições e contextos teórico-metodológicos.
Muitas das evidências centrais da chamada evolução humana foram obtidas através de fósseis
coletados fora do contexto, por não-profissionais, porém analisados e aceitos sem grandes
alardes - temos como exemplo clássico dessa situação, dentre tantos outros, os espécimes
originais do Homo erectus temos como na China que foram achados durante períodos de
guerra e cujos sítios foram repetidas vezes perturbados por pesquisadores não profissionais,
com tudo tais evidências são aceitas hoje. Sobre estas críticas, devemos nos lembrar também
que a arqueologia como ―ciência histórica‖ possui características epistemes muito especiais:
Que toda evidência arqueológica e paleoantropológica é por natureza fragmentária; que sua
14
contextualização interpretativa tende a ser complexa e incerta. Desse modo, praticamente
qualquer evidência neste campo pode ser questionada, e em último caso, a estratégia de
alegação erro metodológico ou fraude deliberada (mesmo havendo corroboração) é, na
maioria dos casos impossível de ser respondida, pois grande parte do conhecimento neste
campo depende da confiança na autoridade do pesquisador. Em outras palavras, qualquer um
com autoridade suficiente pode questionar os métodos de datação, as análises estatísticas e a
própria proveniência das evidências, etc., sem ter de demonstrar absolutamente tais falhas. Tal
ambiente permite grandemente a proliferação de visões dogmáticas já que existe uma
competição por visibilidade e financiamento. Porém, o nosso questionamento é sobre o
desenvolvimento deste contexto epistemológico, onde se institucionalizou dois padrões de
aceitação da evidência para a construção e aceitação de narrativas, um ―duble standard‖ (dois
pesos e duas medidas). Evidências em harmonia com o consenso corrente tendem a ser
tratadas sem que se desenvolvam muitos questionamentos enquanto aquelas que diferem do
consenso são submetidas a um escrutínio extremamente corrosivo (ANDRADA, et. al. 2011).
O caso que discutiremos da arqueologia americanista reflete esta questão, onde a tática
da censura institucional foi o ponto central, porém tal crítica tem âmbito global, e é claro
existem outras táticas além supressão e da censura direta sendo desenvolvidas conjuntamente.
Em alguns sítios do Velho Mundo, por exemplo, o mesmo tipo de modelo epistemológico
para manutenção da cosmologia evolutiva é exercido, sendo também imposto às evidências da
presença muito recuada do Homo Sapiens só que de uma maneira que poderíamos chamar de
―censura explicativa‖ ou ―supressão explicativa‖. Assim, num jogo interpretativo, muitas
dessas evidências com idades recuadas da presença humana têm sido descobertas e
publicadas, porém, são explicadas de maneira a não desestabilizar os modelos paradigmáticos
da evolução humana: ou pela inferência hipotética de uma intrusão através de camadas, mas
recentes; ou sendo interpretadas como evidências da presença de pré-hominídeos ou
simplesmente através de acusações sumárias de fraude direta ou indireta por parte de seus
descobridores. Vale lembrar que tais ―interpretações‖ quase nunca são acompanhadas de
corroboração empírica ou são também parcimoniosas num contexto específico, o que se torna
novamente uma pratica de duble standard.
Podemos citar rapidamente alguns exemplos dessas diversas categorias da atuação
episteme: As pegadas Pliocênicas de Laetoli na Tanzânia, datadas de 3,7 milhões de anos AP
(método K/Ar) publicadas por Mary Leakey em 1979, que as declara indistinguíveis de
pegadas de H. sapiens: ―Laetoli footprints are indistinguishable from modern human
15
footprints‖5 (LEAKEY, 1979, p.453) – assim, as impressões não condizem com a anatomia
dos pés de pré-homínideos conhecidos (HAY, R. L; LEAKEY, M. D., 1979, 1982; LEAKEY;
HARRIS, 1987). Opinião compartilhada por Tim White: ―Make no mistake about it. They are
like human footprints‖6 (WHITE apud JOHANSON; EDEY, 1981, p. 250), julgamento que o
paleoantropólogo Russel Tuttle em outra publicação reintera a afirmação de Mary Leakey:
―Laetoli footprints are indistinguishable from modern human footprints‖7 (TUTTLE, 1987, p.
517). Porém, mesmo sendo indicativas de uma anatomia moderna, são atribuídas ao gênero
Australopithecus, gerando muita controvérsia pela discrepância anatômica e pelo fato
reconhecido de que a reconstrução dos pés de A. afarensis ter sido realizada com ossos de
Homo habilis de 1.8 milhoes de anos AP (WONG, 2005). Para Leakey e para os defensores
da interpretação que pretende manter o modelo de evolução do gênero Homo restaram duas
opções “that a fossil species known as Australopithecus anamensis made the Laetoli
footprints, even though we have no fossil foot bones of this species, or that the Laetoli
footprints were made by a species yet undiscovered.”8 A teoria neste caso decidiu a
construção dos fatos; Donald Johanson e Edey Maitland (1981), revelam que esta é uma
prática comum, onde os fósseis per se não suportam a teoria e que são as narrativas
paradigmáticas que ordenam os fatos:
In everybody who is looking for hominids there is a strong urge to
learn more about where the human line started. If you are working
back at around three million, as I was, that is very seductive, because
you begin to get an idea that that is where Homo did start. You begin
straining your eyes to find Homo traits in fossils of that age. Logical,
maybe, but also biased. I was trying to jam evidence of dates into a
pattern that would support conclusions about fossils which, on
closer inspection, the fossils themselves would not sustain.9
(JOHANSON; EDEY, 1981, pp. 257-258, grifo meu)
5 ―As pegadas de Laetoli são indistinguíveis das pegadas de humanos modernos‖ Tradução livre do autor
deste trabalho.
6 ―Não se enganem nisso. Elas são como pegadas humanas‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
7 Idem 5
8 ―Que as espécies fósseis conhecidas como Australopithecus anamensis fizeram as pegadas de Laetoli,
embora não tenhamos nenhuma evidência óssea da estrutura dos pés fósseis desta espécie, ou então as
pegadas de laetoli foram feitas por uma espécie ainda desconhecida.” Tradução livre do autor deste
trabalho.
9 ―Em todos que estão à procura de hominídeos, existe um forte desejo de saber mais sobre onde a linhagem
humana começou. Se você estiver trabalhando dentro de uma cronologia de mais de três milhões, como
eu estava, é uma situação muito sedutora, porque você começa pensar de que foi ali que o genero Homo
se iniciou. Você começa a forçar os olhos para encontrar traços de fósseis de Homo naquela idade. Lógico
talvez, mas também tendencioso. Eu estava tentando forçar evidências cronológicas em um padrão
que apoiaria minhas conclusões sobre certos fósseis, mas que, se fosse feita uma inspeção mais
16
Temos também o caso do fêmur 1481 descoberto por Richard Leakey, que também
revelou-se indistinguível do homem moderno, porém atribuído ao Homo habilis, interpretação
mantida mesmo depois da descoberta dos restos esqueletais como o do OH-62 terem
demonstrado posteriormente uma grande diferença na anatomia dos ossos longos dos
membros posteriores dos Homo habilis e dos Homo sapiens; Citemos também o fêmur
original ―anatomicamente moderno‖ (DAY; MOLLESTON, 1973) descoberto por E. D.
Dubois em Trinil, datado de 800 mil anos AP atribuído ao Pithecanthropus.
Outro caso interessante para nossa argumentação é sobre o tratamento teórico dado as
descobertas do sítio de Schöningen, onde foram descobertas por Thieme (THIEME; MAIER,
1995), lanças de arremesso datadas de 380-400 mil anos AP (THIEME, 1997; URBAN,
2007), tecnologia associada unicamente ao Homo sapiens moderno. Tais artefatos, porém,
foram atribuídos ao Homo heidelbergensis somente pelo contexto paradigmático dos modelos
de evolução; O desenho das lanças e as habilidades de construção eram anteriormente
atribuídas somente aos seres humanos modernos. "They are really high tech"10
, afirmou
Hartmut Thieme: "They are made of very tough Picea [spruce] trunk and are similarly
carved."11
Seu centro de gravidade frontal sugere que elas foram usadas como ―lanças
javelin‖ ou ―de arremeço‖ (THIEME, 2005).
Outro caso recente em que técnicas avançadas são atribuídas sem corroboração a outras
espécies apenas para manter o paradigma evolutivo intacto, refere-se os artefatos líticos
descobertos em ambientes insulares na Indonésia, com datação de 840 mil anos A.P, que
foram da mesma forma arbitrária atribuídos ao Homo erectus (MORWOOD et. al., 1998),
este que teria chegado ao local através de ―técnicas de navegação marítima‖ como sugere
O'Sullivan (2001). Tal hipótese ad hoc ganhou recentemente versões inusitadas: ―The rafting
may have been involuntary; as paleontologist Tim White has pointed out, people were rescued
from large floating rafts of natural debris after the 2004 tsunami in the area.”12
(ROSE,
1998). Assim, mesmo que não através da censura direta, novamente o que vemos são
cuidadosa, os mesmos fósseis por si mesmos não sustentariam tais alegações.‖ Tradução livre do
autor deste trabalho.
10
―São realmente tecnologicamente avançadas‖. Tradução livre do autor deste trabalho.
11
―Elas são feitas de uma Madeira muito dura e esculpidas todas da mesma maneira‖. Tradução livre do autor
deste trabalho.
12
―A travessia pode ter sido involuntária; como apontou o paleontólogo Tim White, como as pessoas que
foram salvas flutuando em grandes destroços naturais depois do Tsuname de 2004.‖ Tradução livre do
autor deste trabalho.
17
interpretações que constroem discursos que apesar dê parcimoniosos com a manutenção do
paradigma evolutivo bio-antropológico estão em clara contradição com as evidências
coletadas.
Lembremos que a arqueologia é uma disciplina histórica e moderna, empírica, mas
fragmentária, de episteme dedutiva e de constatação experimental não replicável, assim como
é também a paleoantropologia, sendo assim disciplinas propícias ao desenvolvimento de
visões dogmáticas, de certa forma constroem seu discurso ―manufaturando o conhecimento‖
para a manutenção de suas próprias estruturas de poder, construindo sistemas de
representação locais, instrumentos práticos e sistemas políticos para tornar suas descobertas
fenomenalmente visíveis, representativas, e sobre tudo ―consensuais‖ com a maioria das
vertentes teóricas aceitas por tradição através da propaganda acadêmica. Ao mesmo tempo,
neste contexto discursivo, propagou-se a falsa noção de que não existem evidências
arqueológicas mais antigas da presença do Homo sapiens e até mesmo de pré-hominídeos nas
Américas em relação à Europa, África ou Ásia. Entendemos que tais evidências não só
recuam as cronologias de ocupação do território Americano, mas definitivamente
desconstroem as narrativas modernas, biológicas e arqueológicas para as origens humanas.
Percebemos neste estudo bibliográfico, desta análise do discurso entre teoria e prática,
que todas as negativas sobre sítios de datas extremas recolhidas de maneira legítima no Novo
Mundo, foram ostracizados pontualmente apenas por um único motivo: Não se harmonizam
com o paradigma evolutivo do Velho Mundo, principalmente na questão espaço-temporal das
origens humanas. Sobre a construção do discurso da modernidade na arqueologia,
discutiremos como o conhecimento de credibilidade, embora esteja situado numa intersecção
entre localidade geográfica e diferenças culturais, ainda é hegemônico nas superestruturas da
ciência como no que concerne à ontologia darwinista. Tal perspectiva se consolidou e se
instrumentalizou, principalmente após a profissionalização da disciplina em meados do séc.
XX, nas práticas institucionais que dirigiram seus esforços na manutenção das superestruturas
narrativas dos estados capitalistas. O seqüestro da pesquisa científica sob a tutela hegemônica
destes estados como agentes reguladores e financiadores viabilizou as práticas e mecanismos
de controle no âmbito da pesquisa e sua propaganda (ensino e difusão) como mantenedoras da
empiricidade e da indutibilidade exclusiva da narrativa darwinista.
18
2- Desenvolvimento
2.1 Hueyatlaco: Um estudo de caso
Queremos logo de início, deixar claro que elaboramos uma análise que pretende debater
os valores históricos e contextuais sobre este exemplo de caso contrastando-os com a
hegemonia do discurso do darwinismo evolutivo e seus modelos. A controvérsia sobre
Hueyatlaco13
é complexa e pode ser abordada em diversas áreas cientificas, não é minha
intenção, entretanto, descrever em pormenores exaustivos os resultados sintéticos14
,
científicos e metodológicos, ao analisar o mérito empírico das conclusões trabalhadas pelos
autores envolvidos, estas questões, que certamente são fundamentais, podem ser encontradas
nas diversas publicações e bibliografias produzidas sobre o sítio.
Com este estudo de caso, aqui, neste momento, interessa-me apresentar um exemplo de
que prevalesce um filtro intelectual atuando sobre os resultados da arqueologia enquanto
narrativa científica – para isso servirá a corroboração aqui exposta, podendo essa, se
necessário ao leitor, ser examinada em sua compleitude na bibliografia citada. O tema
cosmológico que trataremos ao escolher este exemplo é a emblemática questão da Origem do
Homem Moderno, questão crucial para a estabilidade da narrativa darwinista moderna. Meu
propósito, portanto, será proceder com a apresentação deste exemplo ao contextualizá-lo
historicamente na narrativa deste trabalho, respeitando o que foi assim publicado e
enfatizando as informações relativas a esta analise.
Assim, o sitio de Hueyatlaco é um exemplo interessante e rico, sobre como a hegemonia
do discurso darwinista orientou a pesquisa empírica e como os discursos divergentes dessa
cosmologia foram tratados pela ciência da arqueologia moderna. Os motivos ideológicos e
políticos do porque desta primasia cosmológica podem ser entendidos pela própria construção
do discurso moderno, com o darwinismo se promove a construção da ―nova identidade‖
ontológica do homem no inserido no discurso materialista, de sua nova orientação existencial
frente à natureza, das infra-estruturas e relações sociais construídas sobre este discurso, das
13
Pronuncia-se (Way–at–LA–co).
14
Não dispensaremos tempo discutindo sobre as unidades espaciais do sítio correlacionadas a aspectos
culturais ou comportamentais, das análises das tecnologias artefactuais morfológicas, tecnologia de
manufatura, ou sobre as matérias primas, tipologias ou funcionalismos. Todos estes aspectos são
incorporados abundantemente nos discursos construídos para a pré-história, porém aqui, nos interessarão
aspectos epistemes da pesquisa e a discussão se manterá ao redor dos dados espaço-temporais e seu valor
frente a narrativa da cosmologia darwinista para a origem do homem moderno.
19
políticas e economias emergentes, colonialismos, imperialismos e nacionalismos e da própria
emergência da episteme arqueológica nestes contextos que grandemente se justificaram pela
ciência darwinista.
Com este exemplo, poderemos explicar os filtros intelectuais que operam na arqueologia
da modernidade ao trabalharmos nossa critica à manutenção arbitrária do discurso darwinista
nos espaços, não só da ciência - da divulgação, da disseminação e da educação científicas -
mas do próprio uso da ciência para a afirmação da narrativa ontológica de mundo que o
darwinismo construiu para a sociedade, para a ascensão de uma cosmologia capitalista que
pretende-se inconteste dentro da lógica de Verdade, Objetividade e Razão.
2.1.1 Um Breve Histórico
No início dos anos de 1960, iniciaram-se diversas pesquisas na área do reservatório de
Valsequillo15
, em Pueblas no México - visando o entendimento do sistema hidrográfico
formado pelo rio Atoyac e pelos arroios Alseseca e Atepzingo que correm de norte a sul e
deságuam no reservatório de Valsequillo (Represa Manuel Ávila Camacho). A região do
reservatório esta situada em um vale de altitude, cercada pelos maiores vulcões do México: La
Malinche, Tlaloc, Iztaccihuatll e Popocatéptl (STEEN-MCINTYRE, 1998, p. 47). O primeiro
interesse direcionava-se ao mapeamento do seu potencial natural, principalmente em termos
geológicos, pois essa era uma das regiões essencialmente desconhecidas naquele país em
meados do séc. XX. Sabia-se que a morfologia era altamente desgastada, e como era de se
esperar, tal erosão severa desnudou grande parte dos sedimentos antigos que ficaram, assim,
expostos16
na superfície. Tratava-se de uma cama de sedimentos onde se podiam mapear
vários córregos, lagos e depósitos de argila intercalados com centenas de afloramentos
vulcânicos isolados, principalmente de cinzas e pedra-pôme. Especulava-se um número
15
Pronuncia-se (bal-sey-KEY-yo). A qual se localiza acerca de 10 km ao sul da cidade de Puebla; não
possui limitação precisa abarcando a bacia da represa de ―Manuel Ávila Camacho‖ e os povoados
circundantes de São Francisco Totimehuacan, San Pedro Zacachimalpa e San Baltazar Tetela (no Norte)
e Snata Maria Tecola, Los Angeles e Cantera (no Sul). (CAMACHO, 1978, p.09)
16
Onde (numa descrição genérica) se destacam afloramentos de calcáreo marinho (Cretácio), onde descança
um conglomerado, sedimentos lacustres e de aluvião de idade indeterminada e acima as camadas
estratigráficas chamadas ―xalxene‖ que suportam um espesso pacote de sedimentos de fácies lacustres
denominado ―Formação Tetela‖ onde se observam lentes sedimentares de grande potencial fossilífero de
mamíferos quaternários. A formação Tetela esta recoberta em algumas áreas por travertinos e em outras
por argilas concressionadas da formação ―Malinche‖ sendo esta a mais regulamente isolada por camadas
de cinzas vulcânicas provindas de diverso vulcões (não ativos) que cercam as proximidades da área.
(CAMACHO, 1978, p. 10).
20
desconhecido de solos enterrados, e um ou mais proeminente horizontes de carbonato se
adicionavam a este cenário geológico. Certamente que tal condição da paisagem favorecia a
prospecção arqueológica e que atraiu certo interesse pelo possível potencial para a pesquisa
pré-histórica nas Américas.
A região realmente detinha um grande potencial arquelógico-paleontológico, pois que
os restos faunísticos que afloravam em toda área e já eram conhecidos em época pré-colonial
pela tradição oral, dos assim denominados ―Xantilometl‖ (ossos de gigantes), que na
expressão espanhola da língua colonizadora, transformou-se para ―ossos de gentil‖17
. A
primeira coleção científica destes foi reunida por José Manso no final do séc. XIX, através do
Gabinete de História Natural do Antigo Colégio do Estado, atual Universidad Autónoma de
Puebla. Posteriormente, as coleções começaram a ser expandidas por H. F. Osborn e pelo
geólogo mexicano José C. Aguilera. Desde as primeiras explorações, também muitos achados
arqueológicos ocorreram, principalmente de artefatos líticos, entretanto, foram tão somente
coletas de superfície, incertas em fornecer informações sobre o contexto cronológico-cultural.
Desde 1933, o prof. Juan Armenta Camacho insere-se neste cenário de pesquisas num âmbito
contextual, ao descobrir no arroio Alseseca uma ossada Mamute, e dois anos depois, em 1935,
na mesma área inicia a suas pesquisas arqueológicas com a descoberta de um fêmur de
proboscídeo onde estava encravada uma ponta de instrumento lítico. Armenta Camacho
tornaria-se um dos grandes protagonistas deste caso, devido a sua dedicação ao trabalho que
realizou na prospeção de campo da região de Valsequillo, depois de sua descoberta em
Alseseca, passaria os próximos trinta anos pesquisando a região em busca de mais sítios
desses caçadores pré-históricos. Seus esforços levaram a localização de inúmeros sítios de
caça e a descoberta de mais de cem esqueletos parciais de animais abatidos (Mamutes, cervos
e eqüídeos) apresentando sinais de manipulação humana (marcas de corte; fraturas para
extração do tutano, gravuras em ossos), e de ferramentas líticas diversas.
Apesar dessas descobertas, nos anos seguintes ao achado de 1935, as descobertas de
Armenta Camacho foram ignoradas pelos programas de investigação arqueológicas do
México pois já se havia uma noção cronológica de que estes sítios eram muito antigos. Assim,
durante muitas décadas, afirmava-se através dos órgãos de pesquisa que não havia nada na
17
Nas crônicas mais antigas de Bernal Dias de Castilho. Até essa época dos primeiros estudos
paleontológicos desconhecia-se qualquer evidência da presença humana pré-histórica na região a não ser
pelas lendas populares dos ―Quinamétzin‖. Os trabalhos científicos do se XX: Félix e Lenk; Osborn;
Aveleyra; Freudenberg; Romer; Maldonado-Koerdell e Hibbart, identificaram que os restos teriam
pertencido a mamíferos quaternários. Os estudos taxonômicos foram desenvolvidos por M. Maldonado-
Koerdell, por C.E. Ray M. Picardo del Barrio (principalmente de proboscídeos) (CAMACHO, 1978, p.
11)
21
região que sequer indicasse ou corroborasse a presença destes caçadores pré-históricos
(STEEN-MCINTYRE, 1998, p. 48). Tal situação muda com a fundação em 1956, do
Departamento de Arqueología y Prehistória (posteriormente Departamento de Antropología)
da Universidad Autónoma de Puebla e em 1958 do Instituto Poblano de Antropología e
Historia (antigo Centro regional Puebla-Taxcala) - dependente do Instituto Nacional de
Antropología e História (S.E.P). (CAMACHO, 1978, p. 11)
As pesquisas ganharam força, mas apesar da hipótese da existência de caçadores
coletores pré-históricos na área, estes foram considerados a priore como pertencentes à
culturas do Holoceno, seguindo a tradição estabelecida dos contextos cronológicos sobre o
povoamento do continente Americano - apesar das inúmeras descobertas de Armenta
Camacho de marcas de descarne em ossos de megafauna do quaternário (ossos gravados,
ossos esculpidos como ferramentas e para adorno, com perfurações e com sinais de uso), tais
elementos continuavam a ser ignorados ou foram explicados sumariamente por marcas
naturais de carreio. As descobertas de Camacho, assim, nesta época, ainda estavam sendo
totalmente ignoradas, pois eram em sua maioria achados de superfície. Tal situação
prorrogou-se, sem uma discussão aprofundada até o inicio das pesquisas regionais em
geologia e arqueologia experimental, como citadas na tese de Armenta Camacho em 197818
.
Mais cedo, já haviam se iniciado as pesquisas arqueológicas na área, justificada sua
importância, com a criação do ―Proyeto Valsequillo‖19
designado à investigação da Macro-
área, de 1962 a 1973. Tal projeto, sob a tutela da Harvard University, Smithsonian Institution,
National Science Foundation (EUA), U.S Geological Survey, Universidad Autónoma de
Puebla e com o apoio da American Philosophical Society, pretendia iniciar uma pesquisa
arqueológica com a escavação profissional de sítios para se contextualizar as descobertas
superficiais feitas até então.
18
As análises de Armenta Camacho que hoje já se tornaram bem consensuais com a profusão da disciplina da
zooarquelogia, porém, um reconhecimento um tanto tardio. Apoiadas grandemente por muitos
pesquisadores da época que trabalharam na área: Dr. Pablo Martínez Del Rio, assessor técnico do
Instituto Nacional de Antropología e Historia; Dr. Alex D. Krieger, professor pesquisador da Washington
University; Dra. Hanna Mario Wormington, Curadora do Denver Museum of Natural History; Dr. Manuel
Maldonado Koerdell, Assessor Técnico do Instituto Panamericano de Geografia e História - O.E.A). Em
cujo apoio junto a American Philosophical Society, permitiu as pesquisas e a publicação de 1978.
19
Dos pesquisadores e cargos: Arqueologia: Dra. Cyntia Irwin Williams, Peabody Museum of Archaeology
and Ethnology, Harvard University – Geologia: Dr. Harold E. Malde, U. S. Geological Survey –
Estratigrafia e Geoquímica de campo: Dra. Virginia Steen MacIntyre, U. S. Geological Survey –
Geoquímica e Petrologia: Br. Field, U. S. Geological Survey – Paleontologia (vertebrados): Dr. Clayton
E. Ray, Vertebrate Paleontological Division Smithsonian Institution – Paleontologia (moluscos): Dr.
Dwight W. Taylor, U. S. Geologycal Survey – Palinologia: Dr. Paul S. Martin, University of Arizona
Geocronology Laboratories.
22
Um dos pioneiros nos estudos geológicos da área de Valsequillo foi Harold E. (Hal)
Malde que começou a estudar a geologia do sul da Bacia Valsequillo, na cidade de Puebla, em
1964 como membro do Projeto Arqueológico Valsequillo. A pesquisa arqueológica de
prospecção e reconhecimento de campo foi realizada por Cynthia Irwin-Williams (Harvard) e
logicamente pelo prof. Juan Armenta Camacho (U. Puebla). Assim, em 1962, Cynthia Irwin-
Williams, então uma estudante de pós-graduação em antropologia em Harvard, e o Professor
Juan Armenta Camacho, da Universidade de Puebla prospectaram a costa norte do
Reservatório Valsequillo, ao sul da cidade de Puebla em busca de sítios arqueológicos
(IRWIN-WILLIAMS, et al., 1969). Armenta, como vimos, já havia ajudado na identificação e
agora atuava na curadoria de uma grande coleção de ossos de animais pleistocênicos que
poderiam exibir evidências de trabalho humano, e assim, conhecedor de vários sítios que
poderiam conter mais evidências dessa associação com a presença de homens pleistocênicos.
The ancient men in Valsequillo actively hunted mastodon and
mammoth, he was possibly a great artist, and he didn‘t look like us.
The Valsequillo region was the place to go for the study of Early Man.
The late Professor Juan Armenta Camacho of Puebla studied the
evidence of his presence in the Valsequillo area for 30 years, but
Armenta‘s finds were almost all surficial. […] What the
archaeological establishment required were professionally excavated
sites where the bones and stone tools occurred together in situ, that is
encased within the sediments and not simply lying on the surface.
Cynthia and Juan had teamed up to find such sites.20
(MCINTYRE,
2008, presentation, View 08, p.04)
O trabalho comum realizado em 1962 descobriu quatro sítios no litoral norte do
reservatório: El Mirador, Tecacaxco, Hueyatlaco (o mais novo sitio, com uma espessa seção
sedimentar), e El Horno (o mais velho dos quatro, onde havia sido encontrado um mastodonte
com marcas de desmembramento).
Four of the archaeological localities occurred within the trirty meter
thick series of alluvial deposities know as the Valsequillo Gravels near
20
―Os homens antigos de Valsequillo ativamente caçavam o mastodonte e o mamute, eles eram,
possivelmente, grandes artistas e não se pareciam em nada conosco. A região de Valsequillo era
definitivamente o lugar para se estudar os Homens pré-históricos. O falecido Professor Juan Armenta
Camacho de Puebla estudou as evidências de sua presença na área de Valsequillo por 30 anos, mas as
descobertas de Armenta foram quase todas superficiais. [...] O que o meio acadêmico arqueológico
necessitava eram sítios escavados profissionalmente, locais onde os ossos e as ferramentas líticas estariam
em conjunto, in situ, contextualizadas dentro de pacotes sedimentares e não simplesmente repousando
sobre a superfície. Cynthia e Juan se uniram para encontrar tais sítios.‖ Tradução livre do autor deste
trabalho.
23
the town of Colonia Buena Vista de Tetela on the north shore of the
Valsequilo Reservoir21
. (IRWIN-WILLIAMS, 1968, p. 01)
Escolheu-se Hueyatlaco como um sítio ideal para a pesquisa. Acreditava-se nesta época,
devido a pesquisas anteriores em outras e sítios mexicanos próximos (Chaulapan e
Tlapacoya), que Hueyatlaco apresentaria uma cronologia de 22, 000 anos AP – datação que
para a época do inicio dos anos de 1960, teria quase o dobro da cronologia aceita para as
ocupações no Novo Mundo; já havia assim, de certa maneira mais conservadora, uma
proposta de revisão na pesquisa, pensada para a área de Valsequillo. Em Hueyatlaco, as
escavações foram realizadas através de protocolos metodológicos modernos, incluindo todos
os registros e medidas metodológicas para evitar a nao detecção de distúrbios sedimentares ou
de intrusões acidentais. Durante as escavações, os investigadores descobriram numerosos
instrumentos líticos em sequencias de camadas e tecnologias diferentes, associados à
fragmentos de ossos de fauna extinta. Nenhum dos quatro grandes sítios puderam ser datados
por C14, pois os ossos apresentaram-se totalmente permineralizados, não havendo mais
frações de carbono orgânico datável.(IRWIN-WILLIAMS, et al., 1969)
Neste ínterim, e sob a proposta de resolução destes proplemas cronológicos, H. Malde
pesquisara outra área, a oeste da cidade do México, sendo esta próxima ao vulcão La
Malinche, o que propiciaria ao projeto uma nova perspectiva de datação absoluta dos estratos
e que fosse possível sua correlação deposicional com os sítios arqueológicos do reservatório,
seguindo as primeiras pesquisas de Malde, que tentam atribuir uma cronologia estratigráfica
para a região, através da evidência geológica comparada. Este estudo, futuramente, se
incluiria numa das maiores contribuições de Malde para a área arqueológica22
- o mapeamento
detalhado de grande parte da bacia hidrográfica de Valsequillo, onde em seguida, tenta
identificar uma correspondência sedimentar cronológica das camadas piroclásticas23
21
―Quatro das localidades arqueológicas ocorrem dentro das séries de trinta metros de espessura de depositos
aluviais conhecidos como o Valsequillo Gravels perto da cidade de Colonia Buena Vista de Tetela, na
costa norte do Reservatório Valsequilo.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
22
Hal Malde inicia assim uma metodologia inovadora para a época, um levantamento foto-aéreo da área e,
em seguida, usando as fotos aéreas, fez um mapa de base no qual sobrepôs seu mapa geológico em
detalhe. (Comparando a Área dos quatro locais arqueológicos) obteve uma perspectiva única da
geomorfologia em relação às deposições. Esta foi, dentre muitas outras que estaria por realizar uma das
maiores contribuições mundiais que Harold Malde fez no séc XX para o desenvolvimento da disciplina de
chamamos hoje de Geoarqueologia (geoarchaeology). Ironicamente, parcamente é lembrado por sua
participação de 40 anos com o estudo desses importantes, polêmicos e ainda assim pouco divulgados
sítios da área Valsequillo leste-central.
23
Fragmentos incandecentes ejetados de vulcões durante uma erupção, neste caso buscava-se
principalmente camadas deposicionais de cinza –poeira fina.
24
sedimentares (cinzas vulcânicas e pedra-pômes) no intervalo de 8-24 mil anos AP24
na
vizinhança do vulcão La Malinche com relação as que ocorriam nos locais dos sítios. Neste
momento, e dentro da abrangência cronológica pretendida, nenhuma correspondência jamais
foi encontrada neste espectro cronológico.
Durante esta etapa da pesquisa, Malde trabalhou em Xotanacatla (ver anexo A, foto),
onde pretendia descobrir uma série identificável de solos enterrados na vizinhança do vulcão
La Malinche, que pudessem fornecer uma data por C14 no mesmo intervalo de 8-24 mil anos
AP Malde argumentara que, nessas camadas iria encontrar ao menos uma camada tephra25
que correspondesse a uma unidade idêntica intra-sito, ou próximas a um dos quatro sítios,
permitindo assim, datar as áreas dos sítios, incluindo de Hueyatlaco26
, indiretamente e por
correspondência estratigráfica:
Interest increased and the Valsequillo Project was formed. Hal Malde
joined the group as project geologist in 1964. He is shown here with
Cynthia in the Hueyatlaco trenches, discussing an in situ artifact. Hal
invited me to join the project in 1966 as their tephrochronologist, their
volcanic ash specialist. Our primary goal was to somehow date the
archaeologic sites WITHOUT using the C 14 method directly.27
(STEEN-MCINTYRE, 2006, p. 156)
Essa tarefa, portanto, foi designada a uma equipe multidisciplinar do Projeto
Arqueológico Valsequillo, incluindo: M. Rubin; M. Chatters; B. J. Szabo; C. Naeser; R.
Fryxell, V.S. McIntyre28
e J. Liddicoat29
. Aqui destacamos o trabalho de Virginia Steen
24
Datas previstas pelos consensos arqueológicos da época onde reside a crença (até hoje defendida em
muitos núcleos depesquisa) de que os descendentes daqueles Homo Sapiens que atravessaram o Estreito
de Bering (Bering Land Bridge) há cerca de 13.000 anos, deram origem aos promeiros americanos.
25
―Tephra‖ é o nome genérico que se utiliza para o método de datação de fragmentos pirocásticos. Sua
inferência cronológica se dá a partir da mensuração da tipologia quanto à hidratação destes fragmentos.
26
A região, cerca de 75 milhas a SE da Cidade do México, era conhecido por sua abundância de fósseis de
animais, Hueyatlaco é sempre descrito como um "sitio de caça" por Irwin Williams, onde os animais
eram caçados e mortos . (IRWIN-WILLIAMS, 1978)
27
―Houve um aumento do interesse e o Projeto Valsequillo foi formado. Hal Malde se juntou ao grupo como
geólogo do projeto em 1964. Ele é mostrado aqui com Cynthia nas trincheiras Hueyatlaco, discutindo um
artefato no local. Hal me convidou para participar do projeto em 1966 como sua tephrochronologista,
especialista em cinzas vulcânicas. Nosso principal objetivo foi de alguma forma, datar os locais
arqueológicos sem usar o método C 14 diretamente.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
28
A escavação é freqüentemente associada com Virginia Steen-McIntyre por causa de seus contínuos
esforços para divulgar suas descobertas e opiniões. No entanto, como vimos, o sitio já havia sido
descoberto e foi escavado por Juan Armenta Camacho e Irwin-Williams. Steen-McIntyre se juntou à
equipe em 1966 como estudante de pós-graduação, a pedido do projecto geólogo Hal Malde.
25
McIntyre, cujas pesquisas foram direcionadas achar tais correspondências e relações entre as
camadas em busca de uma correspondência tephra. Durante seis anos, a equipe examinou
centenas de amostras de piroclastos, a maioria deles recolhidos por Hal Malde. Novamente, os
trabalhos foram infrutíferos para a cronologia pretendida pelas teorias arqueologicas. Ainda
hoje, não se encontrou nenhuma correlação estratigráfica entre os depósitos contendo o
material arqueológico nesta faixa cronológica de menos de 30 mil anos AP.
Enquanto isso, Barney Szabo, um geoquímico da USGS havia coletado amostras e
testado datas da série de urânio em amostras de dois dos sítios de Valsequillo. (―U-Series
Dates, sketches of artifact from each site” [SZABO, B.J, 1969]). As séries de urânio foram
realizadas em um fragmento de dente de mastodonte e uma pélvis de um paleo-camelídeo
(que continha claros traços de descarne) do sítio El Horno e do sitio Hueyatlaco.
Iniciava-se aqui a grande controvérsia histórico-científica sobre os sítios de Valsequillo.
As datas obtidas geraram ceticismo e descrença de imediato, principalmente na própria equipe
de arqueólogos Norte Americanos e particularmente em Cyntia Irwin Williams, depositária e
defensora do paradigma Clovis First: As datas absolutas de Sbazo apontavam uma cronologia
absoluta de aproximadamente 245 +\- 40 mil anos AP (limite superior) para as ferramentas
Bifaciais do sítio de Hueyatlaco, 280 mil anos AP (limite superior) de ferramentas unifaciais
em El Horno e 340 +\- 100 mil anos AP em Atepitzngo. (SZABO, B.J.; MALDE, H.E;
IRWIN-WILLIAMS, C., 1969, p.240) (CAMACHO, 1978, anexo, p.121)
Enquanto a equipe americana de arqueólogos se recusava a aceitar datas que no mínimo
eram vinte vezes mais recuadas do que se esperava para os modelos vigentes da presença
humana no Novo Mundo, os pesquisadores em geocronologia começavam a especular que tal
datação seria consistente com o contexto conhecido pelos dados geológicos que levantavam
sobre a região há varias décadas, principalmente a partir dos trabalhos de H. Malde, B. J.
Sbazo e V.S McIntyre:
We thought his dating methods were faulty. But then again. […] his
very old dates would explain the lack of correlation between the
Malinche and Hueyatlaco area tephra sequences. No correlation was
possible because Hueyatlaco was 10-20 times older than the exposed
dated sequence on La Malinche, and any equivalent tephra layer
29
Respectivamente: Método C14, Radioisotopes and Radiations Laboratory Washington State University;
Métodos de Séries de Urânio: U. S. Geological Survey Laboratories; Método de ―Fission- track‖ de
Zircônio: U. S. Geological Survey Laboratories; Método de Geomagnetismo remanescente: Washington
State University e R. R. Pullman, Washington; Estratigrafia e Geoquímica: U. S. Geological Survey
Laboratories; Método de Geomagnetismo remanescente: University of santa Cruz Califórnia.
26
would now lie deeply buried in the flanks of the volcano.30
(MCINTYRE, 2008 presentation, View 08, p.07)
Como não havia alegação fundamentada para descartar as datações absolutas, a situação
dividiu as equipes, Cyntia Irwin Williams recusou-se viceralmente a aceitar uma publicação
dos resultados. Acusações de ter havido falhas na documentação da estratigrafia dos sítios
logo apareceram e culminaram em uma nova escavação adicional em Hueyatlaco, o que
ocorreu em 1973, essa por sua vez, confirmou a deposição da estratigrafia relatada
originalmente pelo grupo Irwin-Williams e corroborou uma idade de aproximadamente 250
mil anos AP para os artefatos de Hueyatlaco:
Hueyatlaco in 1973: In 1973 Hal and I returned to Hueyatlaco with
Roald Fryxell, an expert in microstratigraphy. We needed a closer
look at the Hueyatlaco sediments in order to answer a critical
question: Were we dealing here- with a highly eroded ―layer cake‖
situation, where the artifact-bearing beds passed beneath (were older
than) the tephra-rich bluff sediments directly to the south? If so we
could use any dated bluff sediments to give a limiting minimum age
for the site. Or, were the artifacts from a much younger ―inset
channel‖, nested in older deposits? We reopened the site, and
excavated a cross trench connecting the artifact-bearing beds, down
here, with the bluff to the south. The bluff sediments included the
metrethick Hueyatlaco ash, and the Tetela brown mud pumice at the
top, both of which subsequently were dated.31
(MCINTYRE, 2008
presentation, View 08, p.07)
Nesta época, com a estratigrafia confirmada, e sem haver motivo algum para questionar
as datas obtidas, Armenta Camacho consegue espaço para relatar e publicar oficialmente suas
30
―Pensávamos que seus métodos de datação eram falhos. Mas, novamente. [...] Suas datas muito antigas que
explicavam a falta de correlação entre as seqüências tephra nas áreas de Malinche e Hueyatlaco.
Nenhuma correlação foi possível porque Hueyatlaco é um sítio 10-20 vezes mais velho que a seqüências
exposta exposto e datada de La Malinche, e qualquer camada tephra equivalente encontra-se agora
profundamente enterradas nos flancos do vulcão.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
31
―Hueyatlaco em 1973: Em 1973 Hal e eu voltamos para Hueyatlaco com Roald Fryxell, um especialista em
microestratigrafia. Precisávamos de um olhar mais atento nas camadas sedimentares de Hueyatlaco, a fim
de responder a uma pergunta crucial: Estávamos lidando aqui com camadas bem sobrepostas, mas
altamente erodidas, onde as depósitos contendo os artefatos, estavam embaixo (e assim eram mais
antigos) que as camadas contendo sedimentos ricos em tephra, diretamente para o sul? Se assim fosse,
nós poderíamos usar quaisquer sedimentos destes para datar e estabelecer uma idade mínima limite para o
sitio. Ou, se os artefatos eram intrusivos, vindos a partir de uma camada acima muito mais recente
através de um "canal de inserção", e assim depositados em camadas mais antigas? Nós reabrimos o sítio
e escavamos uma trincheira de ligação entre as camadas contendo artefatos, aqui embaixo, com os
sedimentos ricos em tephra ao sul. Os sedimentos tephra incluiam os tipos de cinzas ―metrethick‖ de
Hueyatlaco, e as pedras pomes ―Tetela‖ marrons do topo, camadas que posteriormente foram datadas.‖
Tradução livre do autor deste trabalho.
27
descobertas previas ao Projeto Valsequillo e suas pesquisas experimentais sobre as marcas
antrópicas nos ossos de animais pleistocênicos, em 1978, em um trabalho extenso,
monográfico, publicado pelo Gobierno Del Estado de Puebla, Vestígios de Trabalho Humana
en Huesos de Animales Extintos de Valsequillo, Puebla, México. Neste, outras datações não
paradigmáticas são propostas e publicadas, desta vez pelo método de Zircon fission track
feitas em amostras de sedimentos de duas camadas piroclásticas estratigraficamente acima das
unidades contendo artefatos líticos. Estas demonstraram uma semelhança muito próxima aos
resultados obtidos anteriormente por Sbazo (dente proboscídeo e no osso pélvico do
camelídio). (STEEN-MCINTYRE, et al, 1981, Quaternary Review. Nº. 16, PP. 1-17)
A confirmação das idades ―anômalas‖, ―inesperadamente‖ recuadas para as amostras,
criaram um fosso ainda mais profundo no diálogo entre os arqueólogos do projeto e a equipe
de geólogos do U.S. Geological Survey. E apesar de muitas hipóteses de intrusão terem sido
aventadas pela equipe de arqueólogos norte americanos, todas as alegações de que os artefatos
teriam de alguma forma penetrado as camadas mais antigas através de uma intrusão de um
canal fluvial foram estudadas e descartadas pela equipe responsável pelos estudos
microestratigráficos de R. Fryxell (vide foto 08- Anexo A para descrição abaixo):
A view from the lower trenches. The beds with unifacial tools extend
from the lower right up to here; bifacial tools in the buried channel
from here to here [half way up the channel deposits, point]. They are,
in turn, cut out and overlain by a stack of YOUNGER overbank and
lake sediments that continues to the south and forms the base of the
exposed bluff sequence. Thus we had a layer cake, not an inset
situation, and we could now use the younger tephra units in the bluff
to help date the site.32
(FRYXELL; MALDE, 1981)
Depois de publicados tais resultados, acreditavam os geocronólogos, que a situação seria
pacificada e que a comunidade científica teria de rever paulatinamente os paradigmas
arqueológicos sobre a colonização americana e sobre a própria origem humana no
pleistoceno, pois que este estava em crise e ficara obsoleto. No entanto, a resolução e o que
aconteceu foi muito mais simples: Os sítios foram fechados indefinidamente para pesquisas
32
―Numa visão das trincheiras mais baixas. As camadas contendo ferramentas unifaciais se estendem desde o
canto inferior direito até aqui; e ferramentas bifaciais do canal enterrado, daqui até aqui [a meio caminho
dos depósitos de canal que apontei]. Eles são, por sua vez, cortados e recobertos por uma lâmina de
sedimentos mais RECENTES fora da calha, e por sedimentos do lago, que continuam para o sul e formam
a base da seqüência de sedimentos ricos em tephra que foram expostos. Assim, temos camadas
sobrepostas não perturbadas, e não uma situação de inserção (perturbação e intrusão), assim, nós
poderíamos agora utilizar as unidades mais jovens tephra no sedimento para ajudar na datação do sitio.‖
Tradução livre do autor deste trabalho.
28
sobre contextos arqueológicos sugerindo antiguidades superiores há 20 mil anos AP.
Oficialmente, o trabalho foi anunciado como ―suspenso‖ e o sítio fechado por mais de duas
décadas. Os estudos publicados de Sbazo, Malde, Fryxell e Steen McIntyre seriam esquecidos
convenientemente, na pesquisa e no ensino. Demorariam outros trinta anos para que Malde e
McIntyre voltassem obter autorização para poder visitar um sítio da área arqueológica de
Valsequillo.
A pesquisa, especificamente em Hueyatlaco, iniciou-se novamente, apenas em 1997.
Harold Malde, defensor das datações e do trabalho que realizou por quarenta anos na área, fez
sua última visita ao local em 2004:
[…] when at age 80 he filmed the new excavations, assisted in
preparing the trench profile, and entered into lively dialogue with the
project scientists.33
(MCINTYRE, 2008 presentation, View 08, p.08)
Por fim, como este capítulo deste trabalho não tem por objetivo realizar nenhuma
análise revisionista sobre estes trabalhos específicos, apenas apresentá-los como exemplo de
corroboração histórica de meus argumentos sobre o impacto da hegemonia cosmológica
darwinista sobre as pesquisas, apresentarei a seguir um resumo esquemático (de 1973 a 2011)
sobre os principais eventos da pesquisa em Hueyatlaco, e encerarei aqui esse breve histórico
com uma linha do tempo relacionando os acontecimentos:
1935 - Descobertas do Prof. Juan Armenta Camacho, e pesquisa nos 30 anos seguintes.
1960 – Harold Malde identifica a estratigrafia da região. Datações dos sedimentos vulcânicos.
1962 – Formado o Projeto Valsequillo, sob direção de Cyntia Irwin-Williams. Escavações
sistemáticas, sem datação. Barranca Caulapan datado de c.a 22 mil anos AP (> 35,000).
1966 – Virgínia SteenMcIntyre entra no projeto para encontrar correlações entre as camadas
tephra pré estudadas por Malde.
1966 a 1967 – Acusações infundadas de fraude pelo prof. Jose L. Lorenzo do Instituto
Nacional de Antropologia e História. Resposta de Irwin-Williams na Peleoindian Istitute.
33
―[...] já com oitenta anos ele filmou as novas escavações, ajudou na preparação das novas trincheiras, e se
dispôs a debater vividamente com os cientistas do novo projeto.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
29
1968 – Barney Szabo data os sítios com séries de Urânio (material ósseo com marcas
antrópicas). Resultado- Hueyatlaco (245 mil +-40 AP) El Horno (280 mil +-120 AP).
1969 – Refutação das alegações de Lorenzo pelo testemunho de eminentes pesquisadores
convidados a acompanhar as escavações. Publicação das datações de Caulapan para toda área
de Valsequillo, apesar de toda a discussão não encontrar falhas, faz-se a recusa em aceitar
datas de U-series. O argumento recai sobre a teoria.
1970 a1973 – Steen McIntyre encontra as camadas de tephra equivalentes em Hueyatlaco. A
datação estratigráfica baseada nos fatores de intemperismo é proposta por Malde.
1973 – Chuck Naeser realiza a datação de zircon fission track nos sedimentos tephra de
Huetatlaco. Datas obtidas por Zircon fission track para amostras de cinzas em Hueyatlaco
(Tetela - argila marrom/ pedra-pôme) concordaram com as datas de Szabo U-séries para o
sítio. Resultado 2 sigma (95%) – entre (600 mil +- 340 mil AP) e (370 mil +-200 mil AP).
1973 a 1974 – Ronald Fryxel completa a análise microestratigráfica, não houve perturbação
hídrica das camadas escavadas e mistura de sedimentos. Negativa mais forte de Irwin-
Williams relacionada à teoria evolutiva, corte de relações entre geólogos e arqueólogos.
Malde publica uma nota em congresso. Relações são cortadas e equipe não trabalha mais
junta. Geólogos proibidos de efetuar pesquisas no sítio. Os sítios anôna-los são fechados
permanentemente para as pesquisas cronológicas anteriores a 20 mil anos AP.
1975 a 1979 - Tentativas de publicação do sitio com as datas recuadas – Censura. Morte e
aposentadoria de vários pesquisadores. V. R. Fryxell morre em um acidente de carro em 1974,
enquanto sua pesquisa em Hueyatlaco fica inacabada.
1981 – O artigo de Steen-McIntyre, Fryxell e Malde sobre Hueyatlaco, após anos de
problemas e censura é finalmente publicado em 1981, na Quaternary Research - publicação
só ocorre através de relações pessoais pré-existentes com os editores.
30
1991 - Cyntia Irwin Williams morre em 1991, seus relatórios finais nunca são apresentados
sobre o sítio. Ela nunca aceitou as datas antigas publicadas por sua própria equipe. Os dados
sobre Valsequillo desaparecerão de seus arquivos em algum momento antes de 1997.
1993 a 1996 – Livro Forbidden Archaeology e Mysterious Origens of Man são lançados e re-
abrem o caso.
1997 – Steen McIntyre recomeça ciclos de palestras. Um novo projeto para a área Valsequillo
se forma, é composto agora por cientistas mexicanos ao lado de estadunidenses. Isso resulta
em novas escavações, e que propõe mais corroborações.
2004 a 2009 – Os filantropos Marshall Payn, e Mike Waters preparam uma pesquisa em 2004
a abertura de uma trincheira estratigráfica para coleta de amostras do perfil, fato que causa
muita disputa entre a comunidade científica. Van Landinghan fornece novas datas
bioestratigráficas A camada de sedimentos do sítio: mínima - Sangamon apresenta idade
interglacial (acima de 80 mil anos até 220 mil anos AP); Máxima – Illinoian apresenta idade
interglacial (acima de 220 mil anos até 430 mil anos AP).
2007 - Hal Malde falece defendendo a confirmação das datas obtidas por ele e sua equipe de
1969.
Por que interessa-nos Hueyatlaco como exemplo neste trabalho sobre o discurso
hegemônico do darwinismo na formação do discurso institucional da arqueologia? Durante o
fechamento do Sítio e posteriormente, muito aconteceu em Valsequillo que expõe o discurso
de isenção social da ciência materialista e exemplifica a construção ativa de uma ontologia
totalizadora. Durante esses 37 anos, a reação e o tratamento epistemológico institucional
direcionado aos estudos que corroboraram datas anôma-las em Valsequillo podem ser todos
essencialmente descritos como táticas políticas e ideológicas direcionadas à manutenção do
paradigma darwinista, excluídas e distantes dos processos científicos de inquérito, de
liberdade de pesquisa e de publicação e ensino, como veremos.
31
2.1.2 Elementos significativos da pesquisa
Vejamos, portanto, um resumo sumário dos achados mais significativos sobre a cultura
material descoberta em Hueyatlaco. Com relação a essa cultura material, os resultados das
escavações em Hueyatlaco são importantes para que possamos entender a abrangência das
críticas feitas ao sítio e sua antiguidade durante os mais de vinte anos em que a pesquisa
empírica permaneceu institucionalmente suspensa. Aqui, novamente não vamos nos ater a
longos processos descritivos ―artefatológicos‖ sobre a cultura material que podem ser, afinal,
encontrados abundantemente na bibliografia sobre a pesquisa, recomendamos fortemente a
consulta a tais fontes, caso haja interesse. (Algumas imagens podem ser consultadas no Anexo
A.) Genericamente, podemos dividir as evidências da presença humana (recuada no
Pleistoceno) nas descobertas em Hueyatlaco em três categorias: Uma industria lítica
apresentada como tipicamente relacionada ao homem moderno, manifestações simbólicas
gravadas em ossos de fauna extinta e atividade de caça ou carniçagem, representadas por
marcas de decarne em diversos ossos de fauna extinta.
1- Quanto à Indústria Lítica, os autores afirmam que o denominado ―Puebla Man‖ ou
Homem de Puebla, este que foi um excelente fabricante de ferramentas, uma tecnologia
empregada que foi descrita por Irwin Williams como indistinguível dos artefatos feitos pelo
homem de Cro-magnon da Europa (IRWIN-WILLIAMS, et al., 1969). Em Hueyatlaco, as
ferramentas variam de implementos relativamente simples a itens mais sofisticados, como
raspadores e as lâminas de dois gumes (bifaciais) descobertos na escavação principal. A
diversidade de instrumentos feitos de materiais não-local sugeriu que a região havia sido
utilizada por vários grupos ao longo de um período considerável.
Temos, também, a presença de Ferramentas Unifaciais, artefatos escavados nos níveis
mais artigos de Hueyatlaco, CAMADA I (vide Anexo A, 04 –fotos). Além dos artefatos
Unifaciais, muitos instrumentos Bifaciais também foram escavados apresentando idades
superiores há 250.000 anos AP. Uma destas ferramentas bifacial pode ser vista (vide Anexo
A, 05-fotos) provinda de um dos horizontes superiores do sítio e datada relativamente por sua
associação estratigráfica entre 80 mil anos AP e 250 mil anos AP pela análise independente de
amostras diferentes com corroboração em diferentes métodos absolutos (SZABO; MALDE;
IRWIN-WILLIAMS, 1969) (STEEN-MCINTYRE; FRYXELL; MALDE, 1981)
(VANLANDINGHAN, 2004) (VANLANDINGHAN, 2006).
Hueyatlaco yielded stratigraphic evidence of three periods of
occupation, each being represented by artifacts and vertebrate remains
32
indicative of hunting activities. Artifacts of the two younger periods,
as determined by Irwin-Williams, are similar and can be distinguished
from those of the older period Hueyatlaco, as well as assemblages at
all the lower Valsequillo sites, by the presence of very well made
bifacial stone tools – namely projectile points and knives. The hunters
of these younger periods also used scrapers and perforators, and they
knew how to make blades (usually prismatic flakes that were struck
from specially prepared stone cores). Artifacts of the older period at
Hueyatlaco, which in places underlies an unconformity and more than
a meter of archaeologically-sterile deposits, lack bifacial tools. Like
artifacts from the lower Valsequillo sites, they evidently express a
different, less sophisticated method of working stone, which resulted
in projectile points made on well executed blades and flakes. By
applying percussion and pressure, these blades and flakes were shaped
into useful tools by simple edge trimming. In short, these artifacts are
significantly distinct from the bifacial tools found in the younger
layers of Hueatlaco34
. (IRWIN-WILLIAMS, 1968, p. 03)
2- Ossos gravados foram encontrados, dentre eles podemos citar uma Gravura
confeccionada sobre a superfície de um osso pélvico pertencente à megafauna extinta (neste
caso um Proboscídeo – um Mastodonte), no estrato denominado ―Tetela 1", apresentando-se
este como um possível trabalho artístico (ou registro) pré-histórico, que seria sem dúvida o
mais antiga evidência lingüístico-simbólica das Américas. Este que representa para este sítio
uma das mais emblemáticas evidências de uma associação da fauna extinta com o chamado
―Homem de Puebla‖. Encontrado em 1959 pelo professor Armenta Camacho, é um dos vários
ossos gravados analisados e publicados em sua monografia de 1978. Estão gravados neste
fragmento de pélvis de proboscídeo desenhos de animais com possível associação a atividade
de caça, segundo sua descrição, utilizando os métodos desenvolvidos por Breuil
(CAMACHO, 1978, p.97). É digno de nota que este artefato em particular encontrava-se
firmemente incorporado em um depósito sedimentar consolidado em Valsequillo - depósitos
34
"Hueyatlaco apresenta evidência estratigráfica de três períodos de ocupação, sendo cada representado por
artefatos e restos de vertebrados indicativos de atividades de caça. Artefatos dos dois períodos mais
recentes, conforme determinado por Irwin-Williams, são semelhantes e podem ser distinguidos dos do
período mais antigo de Hueyatlaco, como bem caracterizados em todos os locais mais baixos Valsequillo,
pela presença de ferramentas líticas bifaciais mito bem feitas - ou seja, pontas de projétil e facas. Os
caçadores dos períodos mais jovens também usavam raspadores e perfuradores, e eles sabiam como fazer
lâminas (flocos geralmente prismáticos que foram lascados a partir de núcleos de pedra especialmente
preparados). Artefatos do mais antigo período em Hueyatlaco, que está abaixo de uma descontinuidade e
de mais de um metro de depósitos arqueologicamente estéreis, não apresentam ferramentas bifaciais.
Como nos outros sítios mais antigos de Valsequillo, eles se apresentam como um método diferente e
menos sofisticado de indústria lítica, o que resultou na manufatura de pontas projétil feitas em lâminas
bem feitas e lascas. Através da aplicação de percussão e pressão, estas lâminas e escamas, foram
moldadas em ferramentas úteis ao simples corte. Em suma, esses artefatos são significativamente distintos
das ferramentas bifaciais encontradas nas camadas mais recentes de Hueatlaco." Tradução livre do autor
deste trabalho.
33
de cascalhos a 50 metros ao norte da futura escavação principal de Hueyatlaco. (ver Anexo A
,09 - foto e desenho).
3- Traços e marcas de descarne, muitas marcas de atividade de caça foram descritas,
literalmente centenas foram evidenciadas em ossos da região de Valsequillo e podem ser
apreciadas na publicação de Armenta Camacho (CAMACHO, 1978). Uma destas
emblemáticas evidências cronológicas asssociadas ao registro bioestratigráfico que pode ser
citada aqui, são as marcas de corte presentes em um osso ilíaco de eqüídeo, possivelmente
feitas a partir de operações de abate e descarne. (CAMACHO, 1978, pp. 55-56) (ver Anexo
A, 10 - fotos)
Todos estes elementos de cultura material ou de atividade humana em associação a
fauna extinta são alguns poucos exemplos ilustrativos que expomos aqui para fins de
contextualização empírica e arqueológica. Em essência, não existe nenhum elemento inerente
a tal cultura material que a caracterize como excepcional, embora cada sítio possua um
conjunto único em sua manifestação cultural e valor científico. Assim, a reflexão que
seguiremos a partir de agora se limitará à própria controvérsia que naturalmente se
desenvolveu na comunidade acadêmica em relação à sua cronologia vinculada à sua
incidência geográfica tendo foco a narrativa darwiniana da origem do homem moderno. Tal
cultura material e suas associações absolutas com depósitos estimados entre 80 mil anos AP e
250 mil anos AP, (e em verdade estas estimativas são as mais conservadoras), como veremos,
claramente foram os elementos que iniciaram uma de controvérsia e uma crise nesta narrativa
evolutiva, e determinaram sua resolução.
2.1.3 Sobre uma ontologia da controvérsia
Vejamos, assim, um pouco sobre as controvérsias geradas pelas distancias espaço-
temporais entre os resultados esperados e os obtidos pela arqueologia consensual na área
Hueyatlaco. Não pode haver dúvida de que a Bacia do México, adjacente a Bacia de Puebla-
Tlascala oferece um potencial enorme para o estudo do homem pré-histórico no continente
Americano. Aqui jazem conjuntos ricos de cultura material bem preservada em uma espessa
camada de sedimentos do Quaternário, intercalados com inúmeros testemunhos cronológicos,
camadas de material vulcânico ejetado e sedimentado, rico em solos enterrados, com camadas
de carbonato, pólen fóssil, fósseis guias específicos como diatomáceas de água doce, ossos e
artefatos humanos variados, entre outros inúmeros sítios esperando para serem estudados. O
que nos mostram os diferentes estudos iniciados já em meados de 1950 é que não só a
34
variedade da cultura material é rica, mas a quantidade, qualidade e variedade de materiais
passíveis de datação é realmente promissora, e que tais dados devem ser aproveitados e
acumulados através de pesquisas extensivas na área. Mas é aqui que os consensos terminam.
Como vimos, Hueyatlaco é um pequeno sítio arqueológico inserido na localidade de
Valsequillo, no México, porém, gerador de uma enorme controvérsia, de uma crise. Estando
distante dos grandes centros formadores de paradigmas, este não foi, desde o início da
pesquisa, um sítio onde se esperava encontrar nada que pudesse ser radicalmente controverso.
Desde o início da pesquisa, Hueyatlaco propunha-se a ser um sítio controverso. Como
vimos, Irwin-Williams (assim como muitos da equipe) esperavam que a cronologia corrobora-
se uma idade de cerca de 25, 000 anos AP, o que segundo as expectativas ingênuas da época,
teria: ―Reescrito livros e realizado as carreiras dos pesquisadores" (STEEN-MCINTYRE,
1998, p. 48). As datas esperadas pela equipe do projeto Valsequillo, mesmo as mais
conservadoras, causaram uma repercussão imediata:
Dating her sites was only one of Irwim-Williams´concens during
those years. She also had to content with the insane jealousy of a
highly place archaeologist in Mexico City. – a man who did all he
could to discredit her, Armenta and their work.
In a series of moves that sound like a plot for TV soap opera, they
were accused in print of incompetence, with dark suggestions of
worse things. Massive excavations were made by a rival team of
archaeologists only meters from her trenches. Armenta´s life-work
was confiscated and moved up to Mexico City, and he was forbidden
by law to do any more fieldwork of any kind, ever.
Cynthia easily refuted the charges against them, but it obviously was a
difficult time for her, for Juan, for us all.35
(STEEN-MCINTYRE,
1998, p. 49)
Uma narrativa detalhada destas absurdas ―medidas anti-científicas‖ de ataques pessoais,
de censura, coerção e confisco dirigidos aos pesquisadores de Hueyatlaco, podem ser lidos
nos trabalhos de: J. L. Lorenzo (junho de 1967, pp. 48-51) ―Sobre Métodos Arqueológicos‖
Boletin del Instituto Nacional de Antropología e Historía, em: J. Armenta Camacho (1978,
35
―Datar seus sítios era apenas uma das preocupações de Irwim-Williams durante aqueles anos. Ela também
teve de lutar contra o ciúme doentio de um arqueólogo altamente conceituado na Cidade do México.- um
homem que fez tudo ao seu alcance para desacreditá-la, desacreditar Armenta e seu trabalho. Em uma
série de movimentos que soam como uma trama de novela de TV, eles foram acusados na imprensa de
incompetência, com sugestões veladas de coisas piores. Escavações maciças foram feitas por uma equipe
rival de arqueólogos a poucos metros de suas trincheiras. O trabalho de toda vida de Armenta foi
confiscado e levado para a Cidade do México, e ele foi definitivamente proibido por lei de realizar
qualquer tipo de trabalho de campo. Cynthia facilmente refutou as acusações contra eles, mas obviamente
foi uma época difícil para ela, para Juan, e para todos nós.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
35
p.120) “Vestigios de Labor Humana en Huesos de Animales Extintos de Valsequillo, Puebla,
Mexico” Gobierno del Estado de Puebla, e em: C. Irwin-Williams (1967, p.2) ―Comments on
Allegations by J. L. Lorenzo Concerning Archaeologícal Research at Valsequillo, Puebla‖
Micellaneous Publications, Paleoindian Institute, Eastern New Mexico Univercity. Também
podemos entender a partir deste exemplo de primeira reação, que a controvésia aumentaria
exponencialmente e definitivamente com o resultado obtido das datações absolutas mostrando
uma cronologia próxima dos 250 mil anos AP, uma idade dez vezes maior do que se esperava
sob a perspectiva menos conservadora.
Assim, uma controvérsia mais profunda, como veremos, se estrutura com o início das
confirmações de uma idade muito recuada para as habitações humanas num local como
Hueyatlaco, fornecidas pelas investigações dos associados à American Geologycal Survey.
Uma crise na narrativa da arqueologia Americana. Com essa cronologia, iniciou a primeira
tensão clara discursiva entre a principal arqueóloga da equipe de pesquisa, Cyntia Irwin-
Williams, e diversos outros membros da equipe de geólogoa. Vejamos como se deu este
processo maior, as conseqüências que este desencadeou, que nos interessam tanto frente às
narrativas analisadas neste trabalho.
Talvez a arqueologia Americana nunca tivesse ouvido nada proeminente sobre
Hueyatlaco se acaso H. Malde e R. Fryxell não tivessem tomado a decisão de publicar
independentemente seus resultados. Depois de um esforço diverso de anos para corroborar
suas datações absolutas e frente à absoluta negação de seus trabalhos por Irwin-Williams,
anunciaram seus resultados cronológicos obtidos em uma reunião da Geological American
Society, admitindo que eles se responsabilizavam pelos resultados anômalos. Irwin-Williams
por sua vez, respondeu ao anúncio limitando-se a tratar as alegações de Malde em um caráter
ad hominen e as classifica como "irresponsáveis" (OWEN; CLARK, 1999). Atribui tal
conclusão à uma suposta ―elevada margem de erro‖ para os resultados de traços de fissão
(fission track method), e, em adição, questionando do mesmo modo, o método relativamente
novo para a época de séries de urânio. Assim, Irwin-Williams de maneira genérica afirmou
que Hueyatlaco não tinha sido exatamente datado ―à sua satisfação‖. Embora muitos tenham
defendido esta resposta de Williams como de um caráter conservativo, ou que de alguma se se
justifica dentro de uma atitude científica preventiva, hoje sabemos mais sobre as séries de
Urânio realizadas em Hueyatlaco e que tais acusações, mesmo para a época certamente foram
extremamente exageradas.
Ainda tentando obter um consenso mais estruturado, Irwin-Williams resolve negociar
com Malde um arcordo para uma publicação comum, mas que ainda pudesse sugerir alguma
36
falha na coleta das informações cronológicas. Sugeriu, assim, em seu artigo de 1969, em
conjunto com Szabo e Malde, que ―poderiam‖ estar às datações das Uranium Series (séries de
Urânio) e as de Zircon Fission track, erradas por motivos de intrusão, que as camadas
sedimentares haviam em algum momento geológico se misturado pela ação da água. Além
disso, o artigo afirmava que haveria uma datação concorrente, pois que haviam sido datados
alguns ossos associados a artefatos também por séries de Uranio e conchas de molúsculos que
apresentaram idades compatíveis e muito mais recentes e conservadoras pelo método C14
(cerca de 35 a 50 mil anos AP), mas que eram, ainda assim, muito antigas, podendo ter o
dobro da idade sua suposição ideal de 20 mil anos AP, ainda assim. Para Irwin-Williams estas
novas datas poderiam ser consideradas por ela como possíveis. Este artigo de 1969, tem sido
citado até a contemporaneidade como sendo uma resolução para a questão, embora nada de
decisivo apareça em seu texto, as novas amostras não eram diretamente do sitio de Hueyatlaco
(provindas de uma outra localidade distante cerca de 5km (SZABO; MALDE; IRWIN-
WILLIAMS, 1969, p. 239), associadas por correlação estratigráfica) e nenhuma evidência
apontava solidamente para confirmar a hipotética mistura das camadas, assim, nem na
pretensão de apasiguar as cronologias expressa pelos autores se pode identificar uma
satisfação ou uma conclusçao final, Malde, Sbazo e Williams deixam clara a força da
controvérsia e que sua resolução dependeria de um esforço mais sitemático e de estudos mais
extensivos da área:
[...] bones was studied by malde, and the archaeological were
escaveted by Irwin-Williams. A date determined for bone associated
whith an artifact (chaulapan sample M-B-6, see below) agrees with a
radiocarbon date for fossil molusks in the same bed and indicates
man´s presence more than 20 000 years ago. However, some of these
bones dates exceed 2000 000 years. Because such dates for man in
North America conflict with allprior archaeological evidence here and
abroad, we are confronted by a dilemma – either to defend the dates
against an onslaugth of archaeological thought, or to abandon the
unanium method in this aplication as being so much wasted effort.
Faced with these equally undesirable alternatives, and unable to
decide where the onus fairly lies( if a choice must be made), we give
the uranium-series dates as posible stimulus for further mutual work in
isotopic dating of archaeological material.36
(SZABO; MALDE;
IRWIN-WILLIAMS, 1969, p. 237)
36
"[...] os ossos foram estudados por Malde o material arqueológico foi escavado por Irwin-Williams. A
datação determinada para os ossos, está associada com um artefato (chaulapan amostra MB-6, veja
abaixo) e concorda com uma data de radiocarbono para moluscos fósseis da mesma camada, que indica a
presença do homem a mais de 20 000 anos atrás. No entanto, algumas dessas datações de ossos podem
exceder 200,000 anos. Porque tais datas para o homem na América do Norte conflitam com a evidência
arqueológica a priore, aqui e no exterior, somos confrontados com um dilema - ou para defender as datas
37
A sugestão dada pelos autores sobre a possibilidade de uma resolução sedimentar recai
sobre os estudos que estavam em andamento na área de hueyatlaco, como a pesquisa ralizada
por Steen-McIntyre,
Geologically, according to Malde , the uranium-series dates for the
Valsequillo samples are difficult to evaluated from fild relations
because not enough stratigraphic markers have yet been identified to
correlate the various sample localities. Work in progress by Virginia
Steen-McIntyre on volcanic ash chronology and by Clayton E. Ray on
vertebrate fossils in the Valsequillo deposits is expected to provide
useful clues for a goelogical appraisal of these dates.37
(SZABO;
MALDE; IRWIN-WILLIAMS, 1969, p. 241)
É digno de nota, que Williams, Szabo e Malde são extremamente cautelosos ao
trabalhar com as proposições de erros contextuais nas datações absolutas (nas relações entre
Urânio, Tório e Protactínio) mais recuadas de Hueyatlaco e El Horno, estas são sugeridas
como possíveis apenas na esfera de um possível evento de sedimentação intrusivo (ainda que
hipotético e não confirmado), mas nunca são questionadas como eventos atribuidos à
contaminações ambientais o tafonômicas. Seu artigo descarta tais cenários:
Two process could cause a sample to yield an incorrectly date. First,
unsupported 230Th and 231Pa might be assimilated by the sample
from the environment. This process is unlikely because both thorium
and protactinium are virtually insoluble. Furthermore, it is
unreasonable that 230Th could be added to bone without also the
common thorium isotope (232Th) and, in fact, the 230Th /232Th ratio
is unusually high in these samples. Second, crystallographic alteration
might remove most of the uranium but leave all the long lived decay
products – the 230Th and 231Pa isotopes. The x-rays analysis,
however, gives no evidence of recognizable crystallographic change.
contra uma chacota do pensamento arqueológico, ou a abandonar o método de urânio nesta aplicação
como tendo sido um esforço desperdiçado. Confrontados com estas alternativas igualmente indesejáveis,
e incapazes de decidir onde o ônus, de forma justa, encontra-se (e uma escolha deve ser feita), nós
apresentamos tais datas de series de urânio como um estímulo para a realização de um possível trabalho
mútuo na datação isotópica do material arqueológico." Tradução livre do autor deste trabalho.
37
"Geologicamente, de acordo com Malde, as datas de series de urânio para as amostras em Valsequillo são
difíceis de serem correlacionadas a partir de relações de campo porque não existem suficientes
marcadores estratigráficos, estes não foram ainda identificados para correlacionar as localidades das
amostras diferentes. Trabalho em andamento por Virginia Steen-McIntyre sobre a cronologia de cinzas
vulcânicas e por Clayton E. Ray em fósseis de vertebrados nos depósitos de Valsequillo deverão fornecer
pistas úteis para uma avaliação geológica destas datas." Tradução livre do autor deste trabalho.
38
In short, we cannot explain why some of these change.38
(SZABO;
MALDE; IRWIN-WILLIAMS, 1969, p. 243)
E, por fim, terminam o artigo afirmando:
[…] In short, we cannot explain why some of these dates are much
older than expected form archaeological evidence. Perplexed by this
conflict, we present the dates in the belief that the results of one day
will advance our understanding in the next, if only by provoking
fruitful effort.39
(SZABO; MALDE; IRWIN-WILLIAMS, 1969, p.
243)
Embora Irwin-Williams e seus colaboradores julgem em 1969, que uma conclusão
ainda não podia ser decidida, há um elemento discursivo em seu artigo que iria favorecer uma
conclusão paradigmática sobre tal dilema. Uma das características marcantes deste exemplo
para este trabalho reside na dicotomia entre arqueólogos e geólogos que iria se instaurar, e
que foi, sem dúvida, não uma diferença na interpretação dos dados do sítio, mas uma
diferença cosmológica importante, formativa do próprio discurso arqueológico da
modernidade. A narrativa evolutiva darwiniana, como vimos, sendo a própria natureza
episteme da arqueologia, manteve nestes eventos, seu papel histórico decisivo:
Archaeologically, according to Irwin-Williams, at least two of the
uranium-series dates (M-B-3 at Hueyatlaco and M-B-8 at El Horno)
cannot be correct. The sample from Hueyeatlaco was from the same
layer that yielded sophisticated stone tools such as bifacially worked
knives, scrapers, burins, and tangled projectile points (unit C in fig. 3).
These tools surely were not in use in valsequillo more than 200 000
years before the date generaly accepted for development of analogous
tools in the New World, nor indeed more than 150 000years before the
apperance of Homo Sapiens. The same arguments applies to artifacts
around the butchered mastodon at El Horno; though somewhat less
38
"Dois processos podem causar nestas amostras uma datação incorreta. Primeiro, o 230Th e o 231Pa podem
ter sido assimilados pelas amostra através do ambiente. Este processo é improvável, pois ambos, o tório e
protactínio são praticamente insolúveis. Além disso, não é razoável admitir que o 230Th poderia ser
adicionado ao osso sem que também tenha sido outro isótopo comum do tório (o 232Th) e, de fato, a
relação 230Th / 232Th é invulgarmente elevada nessas amostras. Segundo, a alteração cristalográfica
pode remover a maioria do urânio, mas deixar todos os seus produtos de longo decaimento - os isótopos
230Th e 231Pa. Na análise de raios-X, no entanto, não dá nenhuma evidência de mudança cristalográfica
reconhecível. Em suma, não podemos explicar por que dessas mudanças." Tradução livre do autor deste
trabalho.
39
"[...] Em suma, não podemos explicar porque algumas destas datas são muito mais recuadas do que o
esperado para as evidências arqueológicas. Perplexos com este conflito, apresentamos as datas na crença
de que os resultados deste dia permitirão uma melhor compreensão no futuro, mesmo que apenas possam
provocar esforços que sejam frutíferos." Tradução livre do autor deste trabalho.
39
sophisticated than artifacts in the upper part of Hueyatlaco, these are
nonetheless technologically excellent. To accept dates for these tools
in excess of 200 000 years would require some sign of early hominid
development in the new World, but evidence for such beings here is
entirely lacking in the record of fossil primates. In the light of present
knowledge, therefore, a sudden New World development of
sophisticated stone tools by biological primitive beings, completely
without parallel in the Old World, can only be regarded as highly
improbable40
. (SZABO; MALDE; IRWIN-WILLIAMS, 1969, p. 241)
Os acontecimentos a partir de 1969, iriam por em curso de colisão tal discurso
arqueológico com a continuidade das pesquisas em Valsequillo.
Até o início da década de 1970, para os arqueólogos, aceitava-se consensualmente para
Hueyatlaco, as datas radiocarbônicas que denotavam uma idade paradigmática - e estas nunca
haviam sido questionadas nos memos moldes das series absolutas anôma-las – com isso
também eram aceitas consensualmente as sugestões de uma possível intrusão entre as
camadas como explicação plausível do que teria falsificado as datas absolutas para as idades
de mais de 200 mil anos AP. As pesquisas geocronológicas, entretanto, principalmente das
equipes lideradas por H. Malde, continuaram seus trabalhos em 1973, extendendo os estudos
estratigráficos.
We did the ´73 work under a NSF grant through the Laboratory of
Antrhopology, Washington State University. Ronald Frixell was on
the staff on the lab, not an employee of the U.S. Geological Survey.
Hal Malde was with the USGS (now retired), and came down on his
vacation time. I was part-time Physical Science Technician at the
USGS at the time and also came down on my own time (I think).41
(STEEN-MCINTYRE, 1998a)
40
―Arqueologicamente, de acordo com Irwin-Williams, pelo menos duas das datas de séries de urânio (MB-3
em Hueyatlaco e MB-8 em El Horno) não podem estar corretas. A amostra de Hueyeatlaco era da mesma
camada que continha sofisticadas ferramentas de pedra, como facas bifaciais bem trabalhadas, raspadores,
buris e pontas de projétil tangled (unidade C- na fig. 3). Estas ferramentas certamente não poderiam estar
em uso em Valsequillo há mais de 200 000 anos antes da data geralmente aceita para o desenvolvimento
de ferramentas análogas no Novo Mundo, nem tampouco há mais de 150 000 anos antes do aparecimento
do Homo Sapiens. Os mesmos argumentos se aplicam a artefatos ao redor do mastodonte que fora
descarnado em El Horno, e embora um pouco menos sofisticados do que os artefatos das camadas
superiores do Hueyatlaco, estes não deixam de ser tecnologicamente excelentes. Para aceitar tais datas
para essas ferramentas, de 200 000 anos mais recuadas, isso exigiria algum sinal de um desenvolvimento
hominídeo primitivo Novo Mundo, mas a evidência para esses seres aqui é completamente desprovida de
registro no tocante aos primatas fósseis. À luz dos conhecimentos atuais, assim, uma evolução mundial
súbita de novas ferramentas líticas sofisticadas feitas por seres biológicos primitivos e completamente
sem um paralelo no Velho Mundo, só pode ser considerada como altamente improvável.‖ Tradução livre
do autor deste trabalho.
41
―Nós fizemos o trabalho de 1973 sob uma concessão do NSF através do Laboratório de Antropologia da
Washington State University. Ronald Frixell estava na equipe do laboratório, não foi um empregado do
Serviço Geológico dos EUA (USGS). Hal Malde trabalhava no USGS (agora já aposentado), e realizou a
pesquisa em seu tempo de férias. Eu dividia meu tempo trabalhando parcialmente como Técnica de
40
Como resultado desta proposta, novas pesquisas são realizadas na identificação e
descrição detalhada da estratigrafia. Com relação à suspeita de perturbação e intrusão, como
primeira explicação para o ―dilema‖, essa hipótese é afastada categoricamente por Malde, em
1973, junto com Fyxell e Steen-McIntyre (que conduzem estudos micro-estratigráficos). A
equipe concluira que a afirmação de que os estratos de ferramentas possivelmente tinham sido
erodidas por um leito antigo, combinando assim os estratos mais velhos e mais novos - o que
teria segundo Irwin-Williams ―complicado a datação‖ - não poderia ser corroborada, pelo
contrário, esta deveria ser afastada. (STEEN-MCINTYRE; FRYXELL; MALDE, 1981)
Além disso, as datas atribuídas a Hueyatlaco derivadas do decaimento radiocarbonico
começaram a ser criticadas, pois são, por sua vez, muito frágeis à crítica metodológica.
Também sabemos hoje, como na época, que o método de C14 é dependente de uma infinidade
de calibrações e extremamente sensível a contaminações pela água percolante. Tais
contaminações ocorrem exatamente em amostras mais antigas e que estas acabam indicando
uma falsa idade mais recente. Finalmente a maior critica ficou a cargo da falta de contexto, as
amostras de moluscos datados por C14 não provinham de Hueyatlaco, mas de outras áreas de
Valsequillo muito distantes do sítio em questão, a R5, R8 e principalmente a R14: Barranca
de Caulapan, e que em sua argumentação afirmava serem de camadas análogas as de
Hueyatlaco.
Aqui, entretanto, começam a ocorrer os problemas que irão determinar a censura
institucional destas pesquisas e destes pesquisadores. Contrário ao interesse científico e ao
discurso final exposto no artigo de Irwin-Williams de 1969, da necessidade de pesquisas
geológicas no sítio, H. Malde, Steen-McIntyre e Fryxell se vêem impedidos, em verdade
censurados academicamente, e não conseguem publicar seus resultados devido à rejeição a
priore de seus resultados e conclusões pelo contexto arqueológico, assim como são canceladas
suas autorizações para futuras pesquisas na área arqueológica. A justificativa, envolve não a
pesquisa, mas uma campanha de difamação ideológica:
Many of our critics are using very strong language, calling us morons,
liars, and subversive creationists. These are emotional responses, not
logical arguments. To set the record straight, we are not creationists or
affiliated with any group whatsoever. We are being attacked on a
personal level, because we are questioning issues that have been
Ciências Físicas no USGS na época e também no meu próprio tempo livre de férias (eu acho).‖ Tradução
livre do autor deste trabalho.
41
deemed too fundamental to be questioned.42
(STEEN-MCINTYRE,
1998)
Instaura-se uma nova crise, porém, desta vez, não sobre a cronologia da ocupação
humana, mas sobre a liberade acadêmica suprimida pelo discurso institucional. Neste ínterim,
com uma diminuição da pesquisa, reforça-se a propaganda sobre a interpretação consensual
da cronologia do sítio, transformando a teoria em fato e os fatos em erros que ―devem‖ ser
esquecidos. É tamanha a campanha de desinformação que se inicia nesta época, que estas
―declaradas calúnias‖ passaram a fazer parte da explicação histórica sobre Hueyatlaco e nos
acompanha até a contemporaneidade. Nenhuma das afirmações proferidas contra a equipe de
Malde entre os arqueólogos americanistas podem ser espelhadas em nenhum aspecto
científico da qualidade da pesquisa em si:
Archaeologists are in a considerable uproar over Hueyatlaco—they
refuse even to consider it. I've learned from second-hand sources that
I'm considered by various members of the profession to be 1)
incompetent; 2) a news monger; 3) an opportunist; 4) dishonest; 5) a
fool. Obviously, none of these opinions is helping my professional
reputation! My only hope to clear my name is to get the Hueyatlaco
article into print so that folks can judge the evidence for themselves.
(Geologists have no trouble with it.) The longer the delay, the more
archaeologists will be convinced that the whole thing is just a crass
attempt of another egomaniac for publicity. I'm quite certain the
archaeologist who was in charge of the excavations and who no longer
corresponds with me feels this way.43
(STEEN-MCINTYRE, 1998)
Como veremos, a explicação para as datas anômalas continua a ser expressa no
argumento de uma hipotética intrusão entre camadas, e apesar de todas as publicações em
contrario desde 1973, é tal linha argumentativa, ainda utilizada hoje por muitos que tentam
42
"Muitos dos nossos críticos estão usando uma linguagem muito forte, nos chamando de idiotas, mentirosos,
de criacionistas subversivos. Estas são respostas emocionais, e não argumentos lógicos. Para esclarecer as
coisas, não somos criacionistas ou afiliados com qualquer grupo que seja. Estamos sendo atacados em um
nível pessoal, porque nós estamos questionando questões que foram consideradas fundamentais demais
para serem questionadas." Tradução livre do autor deste trabalho.
43
―Os arqueólogos estão em alvoroço considerável sobre Hueyatlaco, eles se recusam até mesmo a considerar.
Eu ouvi de segunda-mão, de fontes, que eu sou considerada por vários membros da profissão: 1)
incompetente; 2) uma polemisadora, 3) uma oportunista; 4) desonesta; 5) uma tola. Obviamente,
nenhuma destas opiniões ajuda a minha reputação profissional. Minha única esperança de limpar meu
nome é obter uma publicação do artigo sobre Hueyatlaco, de modo que essa gente possa julgar as provas
por si mesmas. (Os geólogos não têm nenhum problema quanto a isso.) Quanto mais há atraso, os
arqueólogos mais serão convencidos de que a coisa toda é apenas uma tentativa grosseira de outro
egomaníaco para fins de publicidade. Tenho certeza que a arqueóloga que estava no comando das
escavações e que não fala mais comigo, pensa desta maneira.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
42
justificar os resultados da pesquisa original, discursos que seguem inclusive ignorando as
pesquisas recentes feitas no sítio, como veremos. A explicação autoritária e dogmática de uma
intrusão no registro sedimentar estabelece-se como fato da história narrativa do sítio, mesmo
que nenhuma equipe tenha sido até hoje capaz de coletar qualquer evidência desta ―hipótese‖
depois de quase quarenta anos. Na ontologia desta controvérsia, toda a argumentação é
divergida para uma disputa cosmológica entre os defensores do modelo evolutivo
paradigmático e aqueles que defendem os resultados cronológicos.
E, numa carta ao editor de Quaternary Research, Steve Porter, Steen McIntyre fala
sobre o tratamento pouco ético que receberam depois dapesquisa de 1973 :
[…] there's the old saw that Fryx wasn't in his right mind when he did
the work. Those folks forget that I saw the stratigraphy too, and once
you get into a cross-trench, it was relatively simple, thanks to a
magnesium-stained bed that traced on the excavation wall like a pencil
mark!44
(STEEN-MCINTYRE, 1980)
A propaganda, neste cenário teve um papel importantíssimo e a censura um maior
ainda. Como vimos, já se havia iniciado desde o início das pesquisas, uma campanha de
rumores (e ataques pessoais) sobre a competência e intenções dos pesquisadores que
defendiam os resultados das analises absolutas. Virginia Steen-McIntyre experimentou muitas
das pressões sociais acima descritas e os obstáculos por elas impostos. Em uma nota a um
colega (10 de julho de 1976), ela declarou que sua ligação e interesse científico em defender o
resultado de suas pesquisas no sítio haviam se transformado rapidamente em vagos
―interesses espúrios por notoriedade‖:
I had found out through backfence gossip that Hal [Malde], Roald
[Fryxell], and I are considered opportunists and publicity seekers in
some circles, because our work in Hueyatlaco, and I am still smarting
from the blow.45
(STEEN-MCINTYRE, 1976 apud CREMO, 1998c)
A publicação de um artigo escrito por Steen-McIntyre e seus colegas sobre Hueyatlaco
foi assim, inexplicavelmente rejeitado por muitos anos. Neste ínterim, o único documento
44
"Há sempre a velho dito de que Fryxell não estava em seu juízo perfeito quando fez o trabalho. Essas
pessoas esquecem que eu vi a estratigrafia também, e uma vez que você entra em uma trincheira
transversal foi tudo relativamente simples, graças a uma cama de magnesium-stained bed ‗cama de
magnésio manchado‘ que traçou a parede da escavação, como um lápis!" Tradução livre do autor deste
trabalho.
45
―Eu tinha descoberto que foi através de fofocas dirigidas que Hal [Malde], Roald [Fryxell], e eu, somos
considerados oportunistas e caçadores de publicidade em alguns círculos, por causa de nosso trabalho em
Hueyatlaco, e eu ainda estou sofrendo com o este golpe.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
43
aceito pelo establishment acadêmico foi apresentado pela primeira vez em 1975, numa
reunião conjunta da Southwestern Anthropological Association (Associação Antropológica do
Sudoeste) e da Societe Mexicana de Antropologia destinado a aparecer em um volume do
simpósio. Quatro anos mais tarde, sem a publicação, Steen-McIntyre escreveu (em 29 de
marco de 1979) para HJ Fullbright, do Los Alamos Scientific Laboratory, um dos editores do
livro:
We received your name and address from Dave Snow, who said you
were the one to contact about the publication date for the SWAA-
SMA symposium volume. We hope that it is soon! I personally have
been put in an awkward position by the publication delay. Our joint
article on the Hueyatlaco site is a real bombshell. It would place man
in the New World 10x earlier than many archaeologists would like to
believe. Worse, the bifacial tools that were found in situ are thought
by most to be a sign of H. sapiens. According to present theory, H.s.
had not even evolved at that time, and certainly not in the New
World.46
(STEEN-MCINTYRE, 1976 apud CREMO, 1998c)
Uma resposta sobre a publicação nunca retornou. Steen-McIntyre recebeu apenas uma
comunicação de Roger A. Morris do Los Alamos Scientific Laboratory que afirmava ter
tomado a liberdade de abrir a correspondência de Fullbright, já que este havia sido transferido
para outro grupo de pesquisa e que iria retornar seu manuscrito, o que não aconteceu.
Tal pratica difamativa, segundo McIntyre, foi tão visceral e institucional, que lhe custou
inclusive uma posição que ocupava como professora e sua filiação a American Geological
Survey. Como resultado, McIntyre acabou por ser coagida a abadonar a profissão e a pesquisa
científica em sua área por mais de 20 anos.
Curiosamente, como vimos, a própria Irwin Williams já havia sido uma das primeiras
vítimas desse tipo de propaganda ideológica, que ironicamente já havia sofrido ataques
parecidos com os que proferiu posteriormente (acusações de má-conduta científica) em seu
trabalho inicial com o sítio Hueyatlaco, quando propôs as datas de 25, 000 anos (data que era
muito recuada para o paradigma da época). A controvérsia inicial (ou primeira tentativa de
desinformação institucional) aconteceu primeiramente em 1967, quando José L. Lorenzo do
46
―Recebemos seu nome e endereço de Dave Snow, que disse que você era o único que eu poderia contatar
para saber da data de publicação do volume do simpósio da SWAA-SMA. Esperamos que seja em breve!
Eu, pessoalmente, foi colocada em uma posição desconfortável pelo atraso da publicação. Nosso artigo
conjunto sobre o sítio Hueyatlaco é uma verdadeira bomba. Coloca o homem no Novo Mundo 10x mais
cedo do que muitos arqueólogos gostariam de acreditar. Pior ainda, as ferramentas bifaciais que foram
encontradas in situ são interpretadas pela maioria como sendo diagnósticas de H. sapiens. Segundo a
teoria atual, o H.s. não teria evoluído ainda naquela época, e certamente não no Novo Mundo.‖ Tradução
livre do autor deste trabalho.
44
Instituto Nacional de Antropología e Historia alegou que simplesmente que os implementos
haviam sido deliberadamente plantados no sítio por trabalhadores locais, de tal forma a tornar
difícil ou impossível determinar quais os artefatos foram encontrados no local e que foram
plantados (OWEN; CLARK, 1999). Segundo Steen McIntyre ouviu de Armenta, governo de
Puebla inclusive envia tropas para investigar a situação de uma maneira um tanto inusitada:
[…] that men with guns came down to the site to frighten the workers.
They wanted the workers to say that either Armenta or they have
planted the artifacts. Out of can 60 men, 3 signed (bribed?); the rest
refuse to do so. The government believe the 3 men, ignore the 57.47
(STEEN-MCINTYRE, 1995a)
Estas afirmações caluniosas e o seqüestro da pesquisa feita de forma deliberada, é
infelizmente, uma realidade muito comum na ciência quando evidências contestam
paradigmas bem ―sedimentados‖ ou ―construídos‖ – e mesmo que tal ataque não esteja
acompanhado de nenhuma corroboração e ao mesmo tempo vá de encontro com muitas
evidências contrárias, são acreditados pelo argumento de autoridade como ―explicação
definitiva‖, principalmente nos meios de difusão científica; tais ataques tem muita força, pois
estão ancorados nos consensos já estabelecidos. Irwin-Williams, logicamente, fez o que
qualquer pesquisador faria, contra-argumentou que as alegações maliciosas Lorenzo não
tinham mérito. E apesar de toda a equipe do projeto Valsequillo possuir sólidas carreiras
acadêmicas reconhecidas com mérito, ainda foi preciso que em 1969, Irwin-Williams (1969)
citasse declarações de apoio de três arqueólogos e antropólogos proeminentes (Richard
MacNeish, Ana Marie Wormington e Frederick A. Peterson), afirmando que cada um tinha
visitado o sitio e independente atestado a integridade das escavações e o profissionalismo da
metodologia utilizada pelas equipes (OWEN; CLARK, 1999).
Como discutimos na parte sobre o dogmatismo na arqueologia, esta questão do
argumento de autoridade assombra a episteme arqueológica e pode funcionar como uma
ferramenta de falseabilidade quando se enfrenta todo um consenso autoritário e não menos
dogmático. Este contexto problemático segue preocupando os arqueólogos até a
contemporaneidade. Nos anos seguintes às primeiras datações de Szabo, por exemplo,
houveram vários atrasos na pesquisa em Hueyatlaco, pois a equipe de escavação entrou
diversas vezes em desacordo e discutiram em cima da teoria, para decidir estratégias de como
47
―[...] que homens com armas de fogo desceram ao local para assustar os trabalhadores. Eles queriam que os
trabalhadores dissessem que Armenta ou eles haviam plantado os artefatos. Dos 60 homens, três
assinaram (subornados?), O resto se recusou a fazê-lo. O governo acreditou nos 3 homens e ignorou os
57.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
45
avançar com as conclusões sobre Hueyatlaco, e em verdade, como publicá-las. Lembremos
que depois da campanha de 1973 Malde e Steen-McIntyre alegavam que os aproximados 250
mil anos AP eram válidos, e que deveriam seguir os fatos, independentemente do que
afirmava o paradigma, enquanto Irwin-Williams argumentou a favor ou uma data mais
recente que ela contextualizou em torno da figura de 25 mil anos AP. Williams, sem qualquer
evidência contextual em Hueyatlaco para apoiar sua tese, presumia que era o resultado teórico
―esperado‖, leia-se ―mais sensato‖ segundo a cronologia da evolução humana (vide SZABO;
MALDE; IRWIN-WILLIAMS, 1969, p. 241) para o sítio, e assim, construir uma
argumentação em cima de uma especulação sobre o paradígma. Webb e Clark (1999) por
exemplo, sugerem que a promoção da data de 20 mil anos AP por Irwin-Williams é
"particularmente intrigante", pois não era suportada por qualquer outro membro da equipe ou
por qualquer evidência descoberta in loco.
A´m also looking for something Irwin-Williams published on the site,
after we did our work. She wrote in conjunction with a French
statigrapher, according to McNeish. I gather she publish a date of a ca
25,000 years. (Wouldn‘t know from actual experience, as she never
sent me a copy or let me know she was doing such a thing. Grrr!)
There was a ca 25,000 year date she liked, using carbon from snail
shells, the shells associated with a stone flake. Uranium series dates
also gave a ca 25,000 years age. Only trouble is, the collecting site is
in Barranca Caulapan, 5km to the east of Hueyatlaco, and in
sediments much younger (using as criteria the extend of weathering of
associated ash layers). An awfully cold trail, but then I´m awfully
stubborn. Must be all that Viking blood!48
(STEEN-MCINTYRE,
1994b)
Também é verdade que tem havido muito erosão na região de Valsequillo, e que os
arqueólogos e Paleontólogos, encontram-se freqüentemente frente a testemunhos de
afloramentos isolados, sem uma clara idéia, pelo menos no início, quanto à idade dos
depósitos que estão escavando. Irwin-Williams alegava freqüentemente esta realidade
deposicional da região. Entretanto, era um quadro ausente de detalhes, e as análises
48
―Também estou procurando algo que Irwin-Williams tenha publicado sobre o sitio, depois que fizemos o
nosso trabalho. Ela escreveu em conjunto com um estratigrafista francês, de acordo com McNeish.
Percebi que ela publicaria uma data de ca 25.000 anos. (Sabia a partir de experiência prévia, que ela
nunca me enviaria uma cópia ou deixaria que eu sobesse que ela estava fazendo uma coisa dessas. Grrr!)
Houve um data de ca 25.000 que ela gostava, usando carbono retirado de conchas de caracóis, tais
conchas associadas uma lasca lítica. Datas de série de urânio também deram ca 25.000 anos anos. O único
problema é que o local de colheita das amostras foi em Barranca Caulapan, a cerca de 5 km a leste de
Hueyatlaco, e em sedimentos muito mais jovems (usando como critério a extensão da erosão das camadas
de cinzas associadas). Uma pista muito fraca, e eu sou muito teimosa. Deve ser todo aquele sangue
Viking!‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
46
microestratigráficas realizadas por Fyxell, por exemplo, revelaram posteriormente, que ao
contrário, a deposição não fora perturbada em nenhum momento da história geológica de
Hueyatlaco. A estratigrafia do sítio, desde o início, quando foi escavado na época da primeira
campanha de 1962, encontrava-se fortemente consolidada, situação que pode ser comprovada
na atualidade como afirma Steen McIntyre:
What I had hoped to do is find a field sketch the late Cynthia sent to
Hal Malde way back in the early 60‘s. It showed the artifact-bearing
beds as she mapped them. The stratigrphy of the beds is simple: the
complexity comes in with the overlaying, younger beds. We noted the
same relationship in ‘73, once the trenches were cleared of water
hyacinth. (The trenches were flooded by the Valsequillos Reservoir
during the wet season.) The beds in the lower reaches were very
durable, almost like adobe. Even after standing abandoned for 9 years,
we could still see the lines marking Cynthia‘s stratigraphic units
traced on the trench walls. When she was still speaking to me, she
commented on the hardness of the sediment, even to remove the layers
that held the bifacial tools. As I recall, she said they had to remove
the artifacts using chisels: no brush and trowel work here!49
(STEEN-
MCINTYRE, 1994a)
Nem mesmo podemos afirmar os métodos de datação estavam implicados neste
contexto presuposto de perturbação fluvial pós-deposicional, pois estas condições podem ser
um problema apenas para alguns tipos materiais de datação, e este não foi o caso na
metodologia aplicada na época. Steen McIntyre comenta que graças à estabilidade e as
características da formação geológica dos estratos em Valsequillo, aliada aos métodos de
datação absoluta, tornou-se possível contextualizar até mesmo as amostras coletadas em
superfície por Armenta na década de 1950, exaltando a importância de sua coleção para
corroborar os achados in situ feitos posteriormente de Hueyatlaco:
If you compare Juan´s map (his Fig.1) showing the location of his
collecting sites with Fig. 2 in the Hueyatlaco paper which shows the
distribution of the Tetela Brown Mud (shaded; dated by the pumice it
49
―O que eu esperava fazer era encontrar um esboço de campo que Cynthia pudesse tardiamente ter enviado
para Hal Malde no início dos anos 60. Ele mostraria as camadas de artefatos como ela os havia mapeado.
A estratigrafia das camadas é simples: a complexidade vem apenas com a sobreposição das camadas mais
recentes. Observamos a mesma relação em 1973, uma vez que as trincheiras foram drenadas. (As
trincheiras tinham sido inundadas pelo reservatório Valsequillos durante a estação chuvosa.) As camadas
inferiores eram muito duráveis, de dureza quase como adobe. Mesmo depois de ficarem abandonadas por
nove anos, ainda era possível ver as linhas de marcação das unidades estratigráficas traçadas por Cynthia
nas paredes da trincheira. Quando ela ainda falava comigo, comentou sobre a dureza do sedimento,
mesmo para remover as camadas contendo as ferramentas bifaciais. Se bem me lembro, ela disse que eles
tinham que remover os artefatos usando cinzéis: no pincel e na espátula não era possível trabalhar!‖
Tradução livre do autor deste trabalho.
47
contains at ca 250,000 years), you´ll note that his sites are
topographically lower. In most cases, since the area is one of active
erosion and not deposition, and the artifact beds are primarily flat-
lying stream gravels grading into fine-grained overbank deposits,
lower means older. Of course, once the specimen is removed from, the
uranium-series method should be able to date the bone directly…50
(STEEN-MCINTYRE, 1995b)
Nexte contexto geológico-sedimentar e tafonômico de Hueyatlaco, a opção pelas séries
de urânio e pelo zircon fissin track é uma opção aceita. Problemas ocorreriam se as datas
tivessem sido possíveis através do método radiocarbono. Por exemplo, suponhamos que se
encontre em sedimentos de idade desconhecida um crânio humano interessante em
Hueyatlaco e que este seja datado satisfatoriamente pelo método de radiocarbono. Aqui sim,
surgiriam problemas quando consideramos que são depósitos aluviais, e a possibilidade de
haver uma química rica em matéria orgânica das águas subterrâneas percolantes (como
exóticas), neste cenário, haverá invariavelmente uma contaminação recente muito provável e
que esta pode esconder uma idade real muito além dos limites do método de carbono quatorze
(C14). Assim, as datações radiocarbonicas defendidas por Irwin-Williams não possuiriam
qualquer confiabilidade mesmo que tivessem sido feitas em Hueyatlaco, pois hipoteticamente
o ambiente de sedimentação poderia ter sido autamente contaminado, mesmo que tal
contaminação não estivesse mais presente hoje. Este, entretanto, não parece ser o caso, pois,
os materiais ósseos de Valsequillo não possuem C14 o que indicaria que não houve
contaminação (pelo menos recente) e que tais depósitos podem ter uma cronologia muito
antiga (superior a vida média do C14), mas, essencialmente que as camadas estudadas não
sofreram contaminação ou intrusão de material orgânico dentro da faixa radiocarbônica
datavel. A única maneira de explicar a ausência de radiocarbono em Hueyatlaco considerando
idades recentes como propõe Irwin-Williams seria através da composição sedimentar, de que
os processos tafonômicos não permitissem a permanência de material orgânico nos ossos.
Porem, isso causa um problema grave para as datas de 25 mil anos AP defendidas por Irwin-
Williams, pois se acaso as camadas estratigráficas de Barranca Caulapan fossem as mesmas
50
―Se você comparar o Mapa de Juan (sua Fig.1) mostrando a localização de seus locais de coleta com a fig.2
no paper sobre Hueyatlaco que mostra a distribuição dos estratos de argila marrom Tetela ―Mud Brown
Tetela‖ (sombreado; datado pela pôme que contém em cerca de 250 mil anos), você notará que suas
localizações são topograficamente mais baixas. Na maioria dos casos, uma vez que a área é de erosão
ativa e não de deposição, e as camadas de artefatos são principalmente constituídas de lâminas achatadas
de cascalhos dentro dos depósitos de granulação fina de fora da calha, significa que quanto mais baixa a
localização, mais antiga é a data. E é claro que, uma vez que a amostra for removida, o método de séries
de urânio deve ser capaz de datar diretamente no osso...‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
48
de Hueyatlaco (houvesse correspondência deposicional), como explicar a ausência de
radiocarbono em Hueyatlaco e não em também em Caulapan?
Somando-se a isso, temos que os métodos de séries de Urânio não podem ser
inviabilizados por contaminações pela água percolante, pois os subprodutos do decaimento
radioativo destes materiais não são solúveis em água (o 230TH e o 231Pa, como vimos em
SZABO; MALDE; IRWIN-WILLIAMS, 1969, p. 243), o que pode acontecer é uma extração
da quantidade de urânio da amostra original durante a deposição, o que foi descartado.
Recomendamos uma leitura de Cremo e Thompson (1993) onde temos uma longa referencia a
simulações matemáticas destes processos feitas para as condições de Hueyatlaco que
corroboram a data original da pesquisa de Szabo (vide CREMO; THOMPSON, 1993 pp. 355-
360).
Apesar das inconsistências, todas as alegações não corroboradas de Irwin-Williams
foram unilateralmente aceitas pelo consenso, inclusive proibições e ataques pessoais
direcionados a desacreditar a equipe de geológica da U.S. Geological Survey foram vistas com
naturalidade nos círculos arqueológicos. Como vimos em Steen-McIntyre (1976), as
tentativas de publicação dos trabalhos de 1973 em 1975 haviam sido censuradas até 1979. Em
1980, um ano mais tarde, Steen-McIntyre escreveu (08 de Fevereiro de 1980) para Steve
Porter, editor da revista Quaternary Research, sobre ter seu artigo impresso. Primeiro, como já
havia se tornado um ritual, ela explicou sua situação (referente a publicação do simpósio de
Los Alamos) da seguinte forma:
It's been languishing down in Los Alamos for almost five years,
awaiting publication as part of a symposium volume. During that time
I have written or called a dozen times to learn the status of the volume
only to receive no response. (The original editor was always 'in
conference' or 'out of the office' or would 'return my call,' which he
never did.) In the meantime, there's been a lot of false information
circulated about the site and the work we did there in 1973. Especially
damaging is an article by Cynthia Irwin- Williams published in 1978
(Summary of archaeological evidence from the Valsequillo Region,
Puebla, Mexico, in Cultural Continuity in Mesoamerica, Brownman,
D.L. ed., Mouton). In it she discounts Szabo' s uranium-series dates
(concordant) on butchered bone supplied by herself because she
doesn' t believe in the method. She does the same with Naeser's 2
sigma zircon fission track dates for two tephra layers that we proved
by a cross-trench and direct tracing of the stratigraphy to overlie beds
exposed in the archaeological trenches. Needless to say, she never
49
showed us a draft of this article or even told us she planned to publish
anything on Hueyatlaco!51
(STEEN-MCINTYRE, 1980)
E, novamente cita o impedimento relacionado ao paradigma imposto pela cosmologia
da evolução darwinista:
The article I'd like to submit gives the geologic evidence. It's pretty
clear-cut, and if it weren' t for the fact a lot of anthropology textbooks
will have to be rewritten, I don't think we would have had any
problems getting the archaeologists to accept it. As it is, no anthro
journal will touch it with a ten foot pole. Right now I don't even have
a copy to send you [...].52
(STEEN-MCINTYRE, 1980)
Tais ―atrasos forçados‖, por exemplo, dificultaram grandemente a Steen-McIntyre
escrever sua tese de doutorado sobre Hueyatlaco, não como o planejado, mas sim sobre as
análises das cinzas vulcânicas nos estratos geológicos. Apesar de ser no início a líder das
pesquisas e da escavação original, Cynthia Irwin-Williams nunca publicou um relatório final
sobre o sítio e muitos tem interesse em suas anotações e diários (perdidos) que provavelmente
estavam até 1995 (após sua morte em 1991) trancados em seu gabinete no The Desert
Research Institute em Reno, seu último empregador.
Em 30 de Março de 1981, Steen-McIntyre escreveu insistindo para Estella Leopold, a
editora adjunta da Quaternary Research, se queixando abertamente sobre a censura
paradigmática do processo evolucionário darwiniano que estavam sofrendo os pesquisadores
de Hueyatlaco:
51
―Foi definhando no Los Alamos durante quase cinco anos, aguardando a publicação como parte de um
volume do simpósio. Durante esse tempo eu tinha escrito e telefonado uma dúzia de vezes para saber a
situação do volume, só para não receber nenhuma resposta. (O editor responsável estava sempre "numa
conferência 'ou' fora do escritório 'ou' retornaria minha chamada", o que ele nunca fez.) Entretanto, tem
havido uma grande quantidade de informações falsas circulando sobre o sítio e o trabalho que fizemos lá
em 1973. Especialmente danoso é um artigo de Cynthia Irwin-Williams publicado em 1978 (Síntese das
evidências arqueológicas da região de Valsequillo, Puebla, México, em Cultural Continuity in
Mesoamerica – [Continuidade Cultural na Mesoamérica], de Brownman, DL ed., Mouton). Nele, ela nega
as datas de Szabo sobre as séries de urânio (concordantes) com a evidência do osso descarnado fornecida
por si mesma, porque ela não acredita no método. Ela faz o mesmo com Naeser em sua datação feita com
2-sigma zircon fision track realizada em duas camadas tephra que nós haviamos provado através do
material de uma tricheira transversal rastreando a estratigrafia destas camadas piroclasticas por cima
camas expostas nas trincheiras arqueológicas. Desnecessário dizer, ela nunca nos mostrou um projecto
deste artigo ou até mesmo nos disse que ela planejava publicar nada sobre Hueyatlaco!‖ Tradução livre
do autor deste trabalho.
52
"O artigo que eu gostaria de enviar fornece a evidência geológica Essa é muito clara, e se não fosse pelo
fato de que um monte de livros de antropologia teriam que ser reescritos, eu não acho que teríamos algum
problema com os arqueólogos, para aceitá-la. Ora, nenhum jornal de antropologia vai chegar nem
perto.[...]‖. Tradução livre do autor deste trabalho.
50
The problem as I see it is much bigger than Hueyatlaco. It concerns
the manipulation of scientific thought through the suppression of
'Enigmatic Data,' data that challenges the prevailing mode of thinking.
Hueyatlaco certainly does that! Not being an anthropologist, I didn't
realize the full significance of our dates back in 1973, nor how deeply
woven into our thought the current theory of human evolution had
become. Our work at Hueyatlaco has been rejected by most
archaeologists because it contradicts that theory, period. Their
reasoning is circular. H. sapiens sapiens evolved ca. 30,000-50,000
years ago in Eurasia. Therefore any H.s.s. tools 250,000 years old
found in Mexico are impossible because H.s.s. evolvedca 30,000- . . .
etc. Such thinking makes for self-satisfied archaeologists but lousy
science!53
(STEEN-MCINTYRE, 1981a)
Já em 18 Maio de 1981, Steen-McIntyre escreveu para Estella Leopold e Steve Porter
sobre a "Supressão dos dados por meios antiéticos de Hueyatlaco e de outros possíveis sítios
préhistóricos - pré-Wisconsinian - no Novo Mundo". (CREMO; THOMPSON, 1998b, p. 365)
Nesta carta ela conta aos editores da Quaternary Research como tinha apresentado um
documento de carácter geral sobre seus resultados e descobertas para serem incluídos em um
volume de uma série científica. Steen-McIntyre então comenta a resposta do editor, que teria
proposto a alteração deliberada dos resultados cronológicos para que o qrtigo pudesse ser
―publicável‖. Além disso, ele mesmo se adianta e acaba por alterar uma das tabelas de
resultados sem sequer pedir uma autorização:
[…] he had decided to 'drastically edit' this manuscript, essentially by
deleting most of the section on Hueyatlaco and by treating the
remainder in a negative way. […]
I protested strongly, and he agreed to reinsert some of the deleted
material, but only in a way that will hold both me and my research up
for laughter and ridicule. […]
[…] when I threatened him, he replaced the missing material [in the
text] but forgot to retype the table.54
(STEEN-MCINTYRE, 1981b)
53
―O problema que vejo é muito maior do que Hueyatlaco Trata-se da manipulação do pensamento científico
através da supressão de" Dados Enigmáticos‖ que desafiam o modo predominante de pensar. Hueyatlaco
certamente faz isso! Não sendo antropóloga, em 1973 eu não entendia completamente o significado de
nossa cronologia, nem como a atual teoria da evolução humana havia se tornado profundamente arraigada
em nosso pensamento a atual. Nosso trabalho em Hueyatlaco foi rejeitado pela maioria dos arqueólogos
porque contradiz essa teoria, ponto final. Seu raciocínio é circular, o H. sapiens sapiens (homem
moderno) evoluiu em ca 30.000 - 50.000 anos atrás, na Eurásia. Portanto, qualquer Hss de 250 mil anos
de idade encontrado no México são impossíveis porque os Hss evoluíram em ca 30.000 anos AP -... etc
Esse tipo de pensamento faz os arqueólogos ficarem satisfeitos, mas faz a ciência ser ruim!‖ Tradução
livre do autor deste trabalho.
54
―[...] Tinha decidido ‗editar drasticamente‘ este manuscrito, essencialmente excluindo a maioria da seção
sobre Hueyatlaco e tratando o remanescente de uma forma negativa. [...] Eu protestei veementemente, e
ele concordou em reinserir parte do material excluído, mas apenas de uma forma que pudesse proteger a
51
No início da década de 1980´s, depois de vinte anos de ―atrasos‖ a revista Quaternary
Research finalmente publicou um artigo ―sem propor censuras‖ escrito por Steen-McIntyre,
Fyxell e Malde (1981) que defendiam as idades descobertas pela geocronologia, anômalas e
distantes do paradigma da evolução humana para habitações de H. sapiens no Novo Mundo.
A revista informou que os resultados forma produzidos a partir de de quatro métodos
sofisticados, de testes independentes: 1-datação por séries de Urânio, 2-datação por traços de
fissão, 3-datação por hidratação tephra e o 3-estudo do intemperismo dos minerais fora
suficiente para determinar a data dos artefatos. Esses testes, entre outros dados, propuseram
uma validação pública de uma data de 250 mil anos AP para os artefatos Hueyatlaco, não de
maneira conclusiva, mas como uma proposta de novos olhares, estes, nunca aconteceram.
Escrevem os autores, que:
[...] a evidência aqui exposta, constantemente indica que o sitio de
Hueyatlaco possui idade aproximada de 250.000 anos B.P. Nós, que
trabalhamos sobre os aspectos geológicos da área de Valsequillo
somos dolorosamente conscientes de quão grande é o dilema que
colocamos nos círculos arqueológicos [...] Em nossa opinião, os
resultados aqui relatados ampliam a janela de tempo em que uma
investigação séria sobre a idade de ocupação do Homem no Novo
Mundo seria justificada. Continuamos a lançar um olhar crítico sobre
todos os dados, incluindo os nossos. (STEEN-MCINTYRE;
FRYXELL; MALDE, 1981)
É claro que sempre é possível construir objecções hipotéticas às datas arqueológicas e
Cynthia Irwin-Williams (1981) faz exatamente isso em uma carta respondendo a Steen-
McIntyre, Fryxell e Malde. Entretanto, suas observações são rapidamente respondidas ponto
por ponto, em uma contra-carta de Malde e Steen-McIntyre em seguida, no mesmo ano. Mas
Irwin-Williams não se convence. Até onde sabemos, ela, oficialmente e enquanto viva55
e a
comunidade arqueológica americana em geral, continuaram a rejeitar as datações de
mim e a minha pesquisa de riso e zombaria. [...] Quando eu o ameacei, ele repos o material que faltava
[no texto], mas se esqueceu de digitar novamente a tabela.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
55
Irwin-Williams falece em Junho de 1991 depois de ingerir uma overdise medicamentosa. Segundo Steenn-
McIntyre em carta a Steve Bernarth: comentando o assunto ―[...] a brilliant but unstable mind. Guess she
couldan´t handle the stress of her own site questioning her own idol (human evolution).‖. Tres outras
mortes catastróficas acompanham o caso Hueyatlaco, a de Fryxell e de Jonathan Davis
(thephrocronologista subistituto de Steen-McIntyre quando esta deixa sua carreira) – ambos falescem em
acidentes de carro, Fryxell sem completar seus estudos – e Marie Wormington´s, mentora de Irwin-
Williams que falesce em um incêndio em casa.
52
Hueyatlaco realizadas por Steen-McIntyre e seus co-autores da equipe da U.S. Geological
Survey.
[…] the anomalous findings at Hueyatlaco resulted in personal abuse
and professional penalties for those who dared to present and defend
them in the scientific literature. This involved withholding of funds
and loss of job, facilities, and reputation for at least one of the
geologists involved in the dating project (Steen-Mclntyre, personal
communication).
The case of Virginia Steen-Mclntyre opens a rare window into the
actual social processes of data suppression in paleoanthropology,
processes that involve a great deal of hurt and conflict. In general,
however, this goes on behind the scenes, and the public sees only the
end result - the carefully edited journals and books that have passed
the censors.56
(CREMO; THOMPSOM, 1998b, p. 366)
Um outro capítulo da controvérsia envolvendo Hueyatlaco, iria se iniciar nas décadas
iniciais deste século com o pesquisador em bioestratigráfia Sam VanLandingham publicou em
duas revistas especializadas (peer-reviwed), na revista Micropaleontology, nº50, 2004 e na J.
Paleolimnol, nº36, 2006 estudos sobre diatomáceas que confirmaram as conclusões anteriores
de 250.000 anos AP para os estratos contendo ferramentas líticas em Hueyatlaco. Sua
primeira análise de 2004 descobriu que as amostras de Hueyatlaco podem ser datadas para o
período Sangamoniana interglacial (cerca de 80 a 220 mil anos AP) pela presença de várias
espécies de diatomáceas, uma das quais apareceu pela primeira vez no registro geológico
(biota-fóssil) durante exatamente esta época e outros que foram extintos no final do mesmo
periodo (VANLANDINGHAN, 2006). Já o artigo de 2006 foi feito com novas amostras
refinadas para re-confirmar os achados por ele publicados em 2004. Como veremos ainda
numa discussão sobre a revisão pelos pares destes trabalhos, não foram fáceis as tentativas de
publicação destes trabalhos, mesmo nesta época, segundo Van Landinghan, suas publicações
foram cercadas por uma visceral censura ideológica nos jornais acadêmicos, como havia
acontecendo com Steen-McIntyre.
Um dos argumentos consensuais levantados por aqueles que pretendem descacreditar as
descobertas em Hueyatlaco referindo-se ao paradigma é sua suposta falta de contexto
56
―[...] os fatos anomalos em Hueyatlaco resultaram em abusos pessoais e penalidades para aqueles
profissionais que se atreveram a apresentar e defender-los na literatura científica. A retenção das verbas
envolvidas, a perda do emprego, das instalações e da reputação, pelo menos, para um dos geólogos
envolvidos no projeto (Steen-McIntyre, comunicação pessoal). O caso de Virginia Steen-McIntyre abre
uma rara janela para vermos os processos sociais reais de supressão de dados em paleoantropologia,
processos que envolvem uma grande dose de dor e conflito. Em geral, porém, isso acontece nos
bastidores e o público vê apenas o resultado final nas revistas cuidadosamente editadas e nos livros que
passaram pelos censores.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
53
arqueológico - não só na questão da propria evolução humana, ou no povoamento das
Américas, mas essencialmente na própria área arqueológica de Valsequillo. Sobre a
controvérsia de Valsequillo, podemos então nos perguntar se existem ainda outros conjuntos
de evidências, outros sítios que ajudem a contextualizar as descobertas de Hueyatlaco. A
resposta é sim, e como o exemplo aqui, grandemente desconhecidas, mas que corroboram um
cenário de grande antiguidade para Hueyatlaco. Aqui, pelo espaço que dispomos, irei citá-las
rapidamente.
Apesar de grandemente desconhecidas tais evidências, temos certamente restos
esqueletais encontrados na região de Valsequillo, segundo Armenta (1978) o maior problema
é datar corretamente estas evidências. Como vimos no caso Hueyatlaco, para realizar isto,
temos que mudar o foco da confiança na autoridade da pesquisa, retirando nossa confiança
unicamente na arqueologia para depositá-la parcialmente na geologia. A disciplina da
geoarqueologia hoje engloba áreas comuns às duas disciplinas, se utilizando de métodos
tradicionais da geologia, dentre eles a estratigrafia por diatomáceas, a datação por fission-
track ou a datação por zircon phenocrysts (cristais de Zircão), as séries de urânio como
datação para ossos, entre outras como vimos no caso de Hueyatlaco. E, é claro, na cronologia
dos depósitos piroclásticos tephra layers com suas propriedades de hidratação.
Sobre os restos esqueletais, temos como primeiro exemplo, a descoberta de um crânio, o
chamado ―crânio Dorenberg‖, coletado ao sul de Puebla, no final de 1800. Apesar de ter sido
coletado no séc. XIX por um pesquisador não profissional, uma pesquisa de coleta
sedimentológica feita diretamente na peça por Van Landinghan (2009) e publicada. Este
afirma que o crânio na época de sua sedimentação, foi incorporado em uma camada de
diatomita Sangamon, tendo este depósito, cronologicamente uma idade de pelo menos 80,000
anos AP (VANLANDINGHAN, 2004; VANLANDINGHAN, 2006) Um conjunto de
diatomáceas disgnósticas similar ocorre nos níveis de ferramentas bifaciais encontradas em
Hueyatlaco.
Sem datações definidas, temos também, os fragmentos de um crânio permineralizado
encontrado em Jalisco, também coletado em sedimentos do Pleistoceno. Este ―crânio de
Jalisco‖ foi recentemente publicado na Current Research in the Pleistocene por J.D. Irish,
S.D. Davis, J.E. Lobdell E F.A. Solórzano57
(2000), e apresenta, curiosamente, medidas
biométricas muito semelhantes às do Homo erectus do Velho Mundo. Outra informação
57
Frederico A. Solorzano é pesquisador do Museu Regional de Guadalajara, dependente do Instituto
nacional de antropologia e Historia – I.N.A.H., Jalisco, México.
54
interessante que podemos citar aqui, foi a descoberta de Ferramentas bifaciais, de tecnologia
muito semelhante às descritas nas coleções líticas de Hueyatlaco por Irwin-Williams, que
porém têm sido encontradas por McBrearty em sedimentos da África do Paleolítico Médio em
datas muito semelhantes (250-300 mil anos) e associadas com o H. sapiens arcaico fóssil:
One Chapala superciliary arch deserves specific mention due to its
large size. Studies by Solórzano show the bone resembles that in
archaic Homo sapiens at Arago, France. In an unpublished 1990
report, Texas A&M osteologists suggest the brow‘s thickness and
robustness are comparable to those of KNMER 3733 (African Homo
erectus). Our measurements show the central torus thickness is 13.3,
compared with 8.5 mm for KNM-ER 3733; the lateral torus thickness
is 11.5 versus 9.0 mm (Rightmire 1998). Thus for the sake of
comparison, the brow is more like that of Zhoukoudian Skull XI
(Asian Homo erectus), with a central torus thickness of 13.2 +/- mm;
lateral torus thickness was not measured (Rightmire 1998). Modern
brows are too diminutive to allow these measurements. The brow also
shows pneumatization (air pockets) along its length.58
(IRISH;
DAVIS; LOBDELL; SOLÓRZANO, 2000)
Entretanto, o consenso da evolução age novamente, e a teoria decide o destino dos fatos:
However, to reiterate the findings of the Texas A&M workers, these
comparisons do not imply that pre-Homo sapiens were in the
Americas. No phylogenetic or age implications are intended. Instead,
the comparisons demonstrate the size relative to most New World
specimens, although brows on the Lagoa Santa skull (Bryan 1978) and
on recent Tierra del Fuego and Patagonia crania (Lahr 1995; C.L.
Brace pers. comm. 1998) appear comparable.59
(IRISH; DAVIS;
LOBDELL; SOLÓRZANO, 2000)
58
―Um arco superciliar de Chapala merece menção específica devido ao seu grande tamanho. Estudos
realizados por Solórzano mostram que o osso assemelha-se ao Homo sapiens arcaico de Arago, na
França. Em um relatório de 1990, não publicado, osteólogos do Texas A&M, sugerem que a espessura e a
robustez do supraorbital são comparáveis aos dos KNMER 3733 (Homo erectus africano). Nossas
medições mostram que a espessura central do torus é de 13,3, em comparação com 8,5 mm para KNM-
ER 3733, a espessura torus lateral é de 11,5 contra 9,0 milímetros (Rightmire 1998). Assim, para efeito de
comparação, a testa é mais parecida com a do crânio de Zhoukoudian XI (Homo erectus asiático), com
uma espessura central do torus de 13,2 + / - mm, e espessura do torus lateral que não foi medida
(Rightmire 1998). Os supraorbitais modernos são demasiado diminutos para permitir essas medições. A
testa também mostra pneumatização (bolsas de ar) ao longo de seu comprimento.‖ Tradução livre do
autor deste trabalho.
59
―No entanto, para reiterar as conclusões do pesquisadores do Texas A&M, estas comparações não implicam
que pre-Homo sapiens estiveram nas Américas. Nenhuma implicação filogenética ou cronológica é direta.
Em vez disso, as analises demonstram que o tamanho relativo para a maioria dos exemplares do Novo
Mundo, parecem comparáveis, apesar dos supraorbirtais do crânio de Lagoa Santa (Bryan 1978) e das
recentes descobertas na Tierra del Fuego, e do crânio na Patagônia (Lahr, 1995;.. CL Brace pers comm,
1998).‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
55
É interessante notar que em ambos estes casos americanos citados aqui para comparação
e reflexão, podem ser interpretados de outra maneira, como suspeitas da presença de pré
hominídeos ou de sapiens arcaicos no continente americano. Num caso de 1970, em Lagoa
Santa, por exemplo, o arqueólogo canadense Alan Lyle Bryan reiterou a possibilidade de uma
morfologia indicativa de Homo erectus, porém, segundo ele, o fragmento ao ser deixado na
curadoria Museológica acabou ‖desaparecendo‖. Contudo, a escavação foi bem documentada
e existem fotos desta calota craniana, que na época Bryan (1978) mostrou a diversos
paleoantropólogos europeus. A explicação sugerida nos dias de hoje (consensual e
paradigmática) é a de que ―alguém‖ tenha furtado e introduzido na coleção americana um
fragmento europeu de Homo erectus intencionalmente, novamente uma acusação absurda de
fraude sem mérito e corroboração. Seria esta mais uma retórica para manutenção dos
consensos darwinistas? Informes sobre fragmentos semelhantes encontrados no mesmo sítio
podem ser encontrados nos trabalhos de Marília Carvalho e Alvim do Museu Nacional do Rio
de Janeiro. As ―explicações‖ da arqueologia consensual para características biométricas de
ossadas humanas arcaicas nas Américas têm sido fundamentadas sobre a escusa de
modificações pós deposicionais geradas por contextos tafonômicos exóticos. Não há nada de
falacioso nisso, desde que se corroborem tais afirmações e se utilizem os mesmos critérios
epistemes para todas as descobertas consensuais, no Novo e no Velho Mundo, quando
verificamos a biblografia, notamos isso não acontece na pesuisa e que raramente estes
quesitos são satisfatórios.
Temos também no Brasil, publicações que tratam de sítios com a mesma idade
cronológica de Hueyatlaco onde se encontraram ferramentas feitas de ossos de animais
pleistocênicos, muitos da fauna extinta. Pesquisas publicadas, porém, convenientemente
ignoradas pelo consenso, como no caso do Sitio Toca da Esperança no estado da Bahia,
publicado por M. Beltrão e de Lumley (1988). Neste também, a cronologia foi estabelecida
em ossos datados por séries de urânio em três diferentes laboratórios:Gif-sur-Yvette, frança;
University of Califórnia em Los alamos e pelo laboratório da U.S Geologycal Survey em
Menlo Park. Segundo Lumley, a conclusão que pode ser inferida de seus dados é que os
humanos (Homo sapiens) e os ―pré-humanos‖ (proto-humans) devem ter entrado nas
Américas não só uma, mas diversas vezes.
Este contexto considera que o primeiro povoamento americano se deu há mais de
300.000 anos B.P, a hipótese seria que o Homo erectus já bem adaptado ao clima siberiano
teria atravessado estreito de Bering na época do penúltimo ciclo glacial pleistocênico, Illinois
que corresponde, na Europa, ao glacial Riss. Assim, ―Em 1988, Beltrão, Danon e Doria,
56
consideraram o Homo erectus „o grande viajante‘.‖ (BELTRÃO; PEREZ, 2007, p. 3).
Portanto, há 400.000 anos ou mais:
[...] o Homo erectus, na sua variante asiática, portando uma indústria
de seixos e lascas, avançou para o nordeste da Ásia (Cho-ku-tien,
Miao-hou-shan). Uma datação de 300.000 anos, obtida por
Termoluminescência, para a Sibéria, parece, reforçar essa entrada
precoce do homem. Já, a essa época, ele estava perfeitamente
adaptado às condições ambientais da Sibéria. Sendo caçadores e
seguindo a fauna teriam penetrado na América. (BELTRÃO; PEREZ,
2007, p. 6).
Interessante notar que Beltrão não foge ao consenso evolutivo, o mantém ao atribuir
seus achados arqueológicos ao Homo herectus, e assim, apenas propõe uma nova hipótese de
migração para o continente Americano. Suas conclusões são tomadas estudando diversos
sítios e suas cronologias extremas associados a uma análise da indústria lítica:
No Brasil, Beltrão registrou ―choppers‖ do tipo africano, isto é,
artefatos que apresentam as mesmas características tecnológicas
daqueles encontrados e datados em mais de um milhão de anos,
portanto antigos, em três lugares distintos: Campos do Jordão, SP, na
Toca da Esperança, BA e em Itaboraí, RJ.
[...] Em nossa opinião a ocupação humana em Itaboraí data de, pelo
menos do Pleistoceno Médio, podendo alcançar o Pleistoceno Inferior.
(BELTRÃO; PEREZ, 2007, p. 5)
Na Toca da Esperança, na Bahia, Beltrão registrou um ―chopper‖ do
tipo africano no chão da Camada IV da gruta. Mais que isso, obteve
várias datações para a Toca pelo método do urânio-tório, havendo
consenso quanto à data mínima de 300 mil anos para o ―chopper‖
encontrado (Beltrão & Danon, 1987 e Lumley et ali, 1987 e 1988).
(BELTRÃO; PEREZ, 2007, p. 5).
Porém, como se admite, a inferência ao Homo erectus são uma interpretação ainda
amarrada à narrativa evolutiva (técnico/cultural; cronológica e geográfica):
Infelizmente, para nós, não há fósseis de esqueletos que nos sirvam
como prova. Em conseqüência, temos que nos valer dos dados
arqueológicos (artefatos e estruturas), dos dados geológicos e,
ocasionalmente, de datações para entender e interpretar esses achados
(BELTRÃO; PEREZ, 2007, p. 5).
Assim, parece por fim, que a interpretação na arqueologia pré-histórica está sempre
voltada para a manutenção do paradigma, quando não unicamente para a valoração da própria
pesquisa local e de sua visibilidade, tomando por prática ―metodológica‖ a escolha arbitrária
de quais sítios específicos considerar para a construção de uma narrativa geral. Beltrão, por
57
exemplo, não considera ou cita Hueyatlaco em suas hipóteses apesar das datações serem
praticamente concomitantes. O incomodo teórico é que Hueyatlaco, entretanto, como vimos
apresenta uma indústria lítica indicativa da presença de Homo sapiens há pelo menos 300,000
anos AP Poderiam os sítios antigos brasileiros de Campos do Jordão, SP, na Toca da
Esperança, BA e em Itaboraí, RJ serem testemunhos da presença do Homo sapiens moderno
nas Américas no Médio e quem sabe Pleistoceno inferior?
As datações conservadoras ―corrigidas‖ da Toca da Esperança figuram entre 150 a 290
mil anos AP (DE LUNLEY et al, 1988, p. 245) as mais antigas podendo chegar ao limite
inferior do Pleistoceno médio (cerca de 1 milhão de anos AP): “Esse método absoluto, no
entanto, possui um limite de alcance, ou seja, só data até 300 mil anos” (BELTRÃO;
PEREZ, 2007, p. 5). Uma discussão mais ampla podemos encontrar em: (BELTRÃO,
M.C.M.C., DANON, J., DORIA, 1988).
Outros sítios que também podem ser citados para corroborar as datas de Hueyatlaco na
América central são Calico Hills60
, Sandia Cave, Texas Street, Sheguiandah e Lewisville
dentre muitos outros. Todos é claro, com seus respectivos detalhes e controvérsias pouco
divulgadas como em Hueyatlaco.
Outro caso brasileiro interessante foi o ocorrido num afloramento de maciço calcário,
sítio Toca do Garrincho, sudeste do Piauí, próximo ao Parque Nacional Serra da Capivara,
onde foram encontrados, ―restos humanos diferenciados‖. Um fragmento de osso parietal
descoberto pelos moradores e alguns dentes de hominíneos abaixo de um assoalho
estalagmítico durante escavações realizadas por uma Missão Franco-Brasileira.
Segundo Peyre (1998), junto com o paleoantropólogo Yves Coppens (Guidon, Peyre,
Guérin e Coppens, 2000), que também analisou os fósseis dentários, chegaram a apontar, num
molar e num incisivo, que os espécimes possuíam várias características pré-sapiens. Apesar
disso, e obviamente devido ao ―contexto da pesquisa‖ (geográfico e biológico evolutivo),
concluíram que os dentes apenas ―possuem uma morfologia arcaica‖, mas que pertencem ao
Homo sapiens, exibindo características intermediárias entre os Homo sapiens e os Homo
sapiens arcaicos (muito similar aos espécimes de Qafzeh e grupos humanos arcaicos da Ásia,
África e Europa). Num exame mais detalhado da publicação, gostaríamos aqui de chamar a
60
Excavado por Louis Leakey e Simpson (vide apêndice C), mostrando que o discurso de autoridade não é
suficiente para transpor o filtro intelectual do darwinismo na modernidade. Dois períodos de ocupação
humana foram datados em Calico Hills. O primeiro a partir de cerca de 15.000 a 20.000 anos A.P.
Simpson sugere que seria uma cultura de caçadores-coletores com ferramentas mais sofisticadas,
incluindo instrumentos bifaciais. Em outra camada com uma idade estimada de pelo menos 200 mil anos
A.P de idade encontrou-se uma industria bem simples de artefatos unifaciais, segundo a pesquisadora, um
povo mais simples que provavelmente forrageavam e reuniam plantas e outros alimentos.
58
atenção para a semelhança apontada nos dados da biometria dos dentes com grupos de Homo
neanderthalensis. Tal possibilidade é até mesmo discutida no artigo de Peyre, para depois ser
descartada em prol da interpretação em favor da identificação como “Homo sapiens arcaico‖
devido à ausência de certas características presentes em determinados grupos de neanderthais
– quanto ao incisivo e ao molar respectivamente:
[...] não ter forma de pá e nem tubérculo lingual [...] Ao contrário, a
radiografia da câmera pulpar não mostra taurodontismo, caráter
freqüente entre os Neandertalenses de certos grupos da Ásia
(GUIDON; PEYRE; GUÉRIN; COPPENS, 2000, P.79).
Outro fator complicador da controvérsia foram as tentativas de datação destes dentes
que apresentaram resultados muito recentes, de cerca de 10.020 +/- 290 anos AP (GIF 9335),
porem, foram datados os espécimes com métodos relativos que sabidamente não são
confiáveis devido ao contexto de sedimentação do sítio, por ser de um ambiente cárstico.
Sabidamente, datações relativas neste tipo de ambiente altamente perturbado e com grande
percolação de água são a pior escolha metodológica, pois podem apresentar-se contaminadas
(no caso do C14) ou parcialmente zeradas (zeroing) por re-exposição do sedimento (para
LOE), tais problemas nos dois casos afetam a data, tornando-a falsamente mais recente.
Assim, sem que hajam sido realizadas datações absolutas nos fósseis, estes ainda podem ser
muito mais antigos61
.
Num segundo momento das pesquisas, foram encontrados durante as escavações de um
abrigo próximo, um semi-crânio, 29 dentes e 3 esqueletos, todos no sítio Toca da Santa. Os
sedimentos do semi-crânio foram datados novamente por métodos relativos (por TM e LOE),
que forneceram datações novamente recentes, um pouco superiores, de 14,1+/-1,8 mil anos AP
e 24+/- mil anos AP respectivamente - os dentes foram enviados para datação, mas também não
havia colágeno suficiente. Tentou-se realizar datações absolutas nos esqueletos, datados a
partir de seus dentes com o método recente de Ressonância Spin/ Elétron, porém, estes se
revelaram mais recentes ainda, fornecendo uma datação de 5.9 mil anos AP.62
61
Foram datados carvões provenientes do assoalho estalagmítico em 10.020 +/- AP (GIF 9335); “e os restos
dentários foram enviados todos como uma única amostra, por que se fossem separados por níveis, seriam
insuficientes para realizar uma datação untilizando a tecnologia AMS. Ainda sim por falta de colágeno
dos ossos foi insuficiente e Beta Analytic datou o carvão dos ácidos de lavagem de pré-tratamento da
amostra.” (GUIDON, PEYRE, GUÉRIN & COPPENS, 2000 :80)
62
A referência sobre o laboratório onde foi realizada a datação não é apresentada em momento algum no
artigo (PEYRE, Evelyne; GRANAT, Jean & GUIDON, Niède, 2009) da publicação na revista
fumdhamentos VIII.
59
Para os pesquisadores da Toca do Garrincho, a afirmação de que tais espécimes
representam pré-hominídeos é absurda, não tanto porque não há contexto arqueológico para
tal (como vimos com as pesquisas de Beltrão e sua atribuição a presença do Homo erectus),
mas porque estes estão envolvidos em direcionar suas conclusões para apoiar uma outra tese,
controversa também, mas que não afeta diretamente o paradigma africano da evolução
humana. A interpretação de que os espécimes são em realidade ―sapiens arcaicos‖ apóia a tese
da pesquisa local do sudeste do Piauí de que a região teria sido uma das mais antigas a serem
ocupadas pela presença do homem63
.
Podemos ver como Nìede Guidon cita Hueyatlaco em uma resenha de vários sítios publicada
na revista Fumdhamentos VII intitulada ―Resenha de publicações Sobre o Povoamento das
Américas”, onde demonstra como a manipulação da informação pode ser utilizada para
evidenciar sua própria pesquisa e manter o modelo evolutivo:
O sítio Hueyatlaco também mostrou ossos e artefatos (Irwin-Williams,
1978; Flannery, 1967; MacNeish et al., 1972). O material mais antigo,
unifacial, tem uma data C-14 de 25.900 BP. Esse complexo unifacial
parece relacionado com material semelhante de El Horno, Caulapan e
El Mirador, bem como com material da América Central e do Sul e o
complexo McGregor da Pendejo Cave. (GUIDON, Fundamentos VII,
p. 34)
Como vimos, as datações de 25. 000 anos AP não foram obtidas em Hueyatlaco, mas em
Caulapan. Guidon não cita que existem mais de quatro métodos absolutos de datação
revisados que indicam uma idade para Hueyatlaco de 250,000 anos AP Lembremos que isso
não ocorre por acidente, e que a data consensual do paradigma evolutivo coloca o Homo
sapiens surgindo entre 180 a 150 mil anos AP. Portanto, para estes pesquisadores, atestar que as
populações do sudoeste do Piauí estão dentro deste paradigma e são as mais antigas pois
63
Muito poucos hoje, já admitem a hipótese de um povoamento inicial para a América em torno do início do
glacial Würm/Wisconsin, ou seja, há 125.000 anos A.P., que teria se deslocado lentamente em direção sul
no Continente Norte Americano por um corredor livre de gelo a oeste do Canadá, Para ocupar a América
do Sul, os povoadores teriam passado, esporadicamente, em épocas de maior aridez, e conseqüentemente
de recuo da selva, pelo istmo do Panamá, direcionando-se, principalmente, para os planaltos centrais e o
Sudoeste da América do Sul (para a América do Sul somente a cerca de 40,000 anos AP). (BELTRÃO;
PEREZ, 2007, p. 6). Para Guidon, entretanto, em seu paradigma particular, tal migração teria se dado
através de navegação costeira e insular diretamente do continente Africano via oceano Atlântico, com
populações ocupando o interior do nordeste brasileiro há pelo menos cerca de 100,000 anos AP, como
atestam os artefatos encontrados no sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Piauí. Por este motivo,
nos parece ―conveniente‖ que a interpretação da Toca do Garrincho, com sua hipótes da manutenção de
caracteres arcaicos, corrobore tal hipótese isolada da pesquisa local e prefira não confrontar o paradigma
evolutivo.
60
―preservaram‖ características arcaicas da época do surgimento do Homo sapiens, significa
que estas evidências convenientemente:
[...] comprovam que as primeiras migrações para América ocorreram
em épocas que devem se situar entre 130.000 e 100.000 anos BP e que
foram múltiplos focos de origem e as vias de migração (GUIDON;
PEYRE; GUÉRIN; COPPENS, 2000, p. 82).
Este caso é interessante para refletirmos mais uma vez sobre a força do paradigma
evolutivo direcionando as interpretações das evidências. Seriam estes achados, restos de pré-
hominídeos nas Américas? Alguns dos dados da biometria permitiriam tal interpretação? Se
compararmos estes espécimes com os dados recolhidos por Beltrão em central na Bahia, em
Itaboraí, com a calota encontrada por Bryan em Lagoa Santa e Huetatlaco entre tantos outros,
perceberemos que tal inferência só não é possível, pois a pesquisa novamente está refém da
manutenção do discurso da biologia evolutiva darwinista.
Por fim desta parte, não poderia deixar de citar um caso que vem atraindo muita
controvérsia nos últimos anos, as chamadas Xalnene Footprints - ―Pegadas de Xalnene‖-
sequencias de marcas de pegadas ―humanóides‖ descobertas no Lago Valsequillo perto de
Hueyatlaco pela equipe da pesquisadora Inglesa-Mechicana Dra. Silvia Gonzalez da
Liverpool John Moores University, anunciadas em 200364
. Esta pesquisa fez parte dos
projetos de continuidade dos estudos conduzidos em Hueyatlaco a partir de meados dos anos
1990´s. A equipe de arqueólogos inicialmente tentou datar as pegadas de maneira relativa em
cerca de 40 mil anos AP 65
. Apesar de demonstrar desconfiamças de que a cronologia poderia
ser bem mais antiga em suas declarações:
―Suddenly, I began to see some marks on the top surface of the ash...
and I recognised them as human footprints," she told the BBC's
Unearthing Mysteries programme.
―[…]I felt quite shocked, because I knew already that this ash was
very old.66
(REDFERN, BBC radio science unit report, 2005)
64
A pesquisa sobre estas pegadas tem sido feitas como parte um projeto maior financiado pelo NERC
através do programa EFCHED intitulado „Human dispersals and environmental controls during the Late
Pleistocene / Early Holocene in Mexico: Implications for the Peopling of the Americas‟. A pesquisa é
conduzida pelo INAH (Instituto Nacional de Antropologia e Historia) do México.
65
Como fez Irwin-Williams ao tentar datar Hueyatlaco relativamente em 25,000 anos AP. na época. Podemos
descrever tais tentativas como ―convenientemente conservadoras‖, porem, ao final, figuram como
estratégias carreiristas para driblar o controle ideológico: Com datas não tão destrutuvas ao paradigma e
relativamente controversas e saudáveis as carreiras dos arqueólogos. O melhor dos dois mundos!
66
"De repente, comecei a ver algumas marcas na superfície superior das cinzas ... e eu as reconheci como
pegadas humanas", disse ela ao BBC Unearthing Mysteries programme. "[...] Eu me senti muito chocada,
porque eu já sabia que estas cinzaa eram muito antigas.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
61
Porém, mesmo estas datas são consideradas anti-paradigmáticas para o ―Paradigma
hegemônico e particular Norte Americano do Clovis First”. Mas isso tudo pareceria
ingenuidade, pois logo vieram datações absolutas que transformaram Xalnene num dos sítios
mais anômalos ao nível global. Como as pegadas estão formadas em tufos vulcânicos de
basalto (daí a desconfiança da idade proferida cautelosamente por Silvia Gonzalez), Paul
Renne, geocronologista da University of California, Berkeley, e seus associados utilizaram
métodos de datação por argônio e leituras paleomagnéticos e demonstraram que a rocha só
poderia estar inconsolidada para permitir as impressões há no mínimo 1,3 milhões de anos em
um artigo para a Nature (DALTON, 2005). O que se seguiu? Qualquer explicação de contexto
teórico para as pegadas tornaram-se imediatamente inválidas e seus defensores que ainda
insistiram em sua evidência ser legítima foram acusados novamente de ―falta de
entendimento‖ da ―teoria da evolução humana.‖ Como uma tradição, a não validação do
paradigma é utilizada como explicação:
If the markings on the exposed surface of the tuff are human footprints
recorded soon after its eruption, the obvious implication is that they
are 1.3 million years old. This would be truly extraordinary as such
antiquity predates even the most speculative credible inferences about
the first known appearance of Homo sapiens in the western
hemisphere by more than a million years. Indeed, the Xalnene tuff
pre-dates the first known appearance of H. sapiens (in Africa4,5) by
more than a million years. If the markings are hominid footprints, they
would be most likely to have been made by a hominid that existed
before H. sapiens, and we consider such a possibility to be extremely
remote. We conclude that the identification of any of these features as
syndepositional hominid footprints is erroneous.67
(DALTON, 2005)
A mágica narrativa termina, e a evidência desaparece. A explicação consensual hoje,
por incrível que possa parecer (já que paradigmaticamente não poderiam jamais serem
pegadas de hominídeos), é a de que as ―formas‖, ou as ―pegadas‖ são feições naturais que
foram esculpidas pela erosão diferencial a partir de pequenas cavidades primárias, por motivo
67
"Se as marcas na superfície exposta dos tufos são pegadas humanas registradas logo após a erupção, a
implicação óbvia é que elas tem 1,3 milhões de anos. Isso seria verdadeiramente extraordinário, já que tal
antiguidade é anterior até mesmo as inferências críveis mais especulativas sobre a primeira aparição
conhecida do Homo sapiens no hemisfério ocidental por mais de um milhão de anos. Em verdade, o tufo
de Xalnene pré-data a primeira aparição conhecida do H. sapiens (na África 4,5) por mais de um milhão
de anos. Se as marcas são pegadas de hominídeos, elas seriam mais propensas a ter sido feita por um
hominídeo que existia antes de H. sapiens, e consideramos essa possibilidade extremamente remota.
Concluímos que a identificação de qualquer uma dessas características como pegadas sindepositionais de
hominídeos é errônea.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
62
incerto, e que a água da chuva posteriormente lhes deu as formas, as características e o
posicionamento coincidente e concomitante, de uma trilha de pegadas humanas. “Every time
it rains, water collects in the depressions, sediments collect in them and they weather out into
oddball shapes” (Michael Waters, do Texas A&M University, em pronunciamento ao BBC
News website).
2.1.4 Paradigma e peer review
Among the social processes that discourage acceptance and reporting
of anomalous evidence are ridicule and gossip, including attacks on
character and accusations of incompetence. Furthermore, discoveries
have almost no impact in the world of science unless they are
published in standard journals. The editorial process, especially the
practice of anonymous peer review, often presents an insurmountable
obstacle. Some submissions are met with a wall of silence. Others are
shunted around for months, from editor to editor. Sometimes
manuscripts are mysteriously lost in the shuffle. And while positive
reports of anomalous evidence are subjected to protracted review
and/or rejection, negative critiques are sometimes rushed into print.
Occasionally, a maverick report eventually does appear in a journal,
but only after it has gone through such extensive modification that the
original message has become totally obscured—by editorial deletions
and, in some cases, rewriting of data. [...]68
(CREMO; THOMPSOM,
1998b, p. 362).
Vejamos agora um pouco das críticas relacionadas ao sistema de revisão por pares dos
artigos científicos, o chamado sistema de peer review e sua relação com a manutenção da
cosmologia evolutiva - sobre como foi usada essa ferramenta para censurar e adiar as
descobertas feitas por Virgínia Steen McIntyre69
em Hueyatlaco nos vinte anos em que o sítio
ficou fechado e como continua atuando hoje tal censura nas últimas publicações. Além de
68
"Entre os processos sociais que desencorajam a aceitação e elaboração de relatórios de evidências anômalas
são a exposição ao ridículo e as fofocas, incluindo ataques ao caráter e as acusações de incompetência.
Além disso, as descobertas não terão quase nenhum impacto no mundo da ciência a menos que sejam
publicadas em revistas indexadas. O processo editorial, especialmente a prática de ―revisão por pares
anônimos‖, muitas vezes apresenta-se como um obstáculo intransponível. Alguns artigos submetidos tem
como retorno um muro de silêncio. Outros são passados durante meses, de editor para editor. Às vezes, os
manuscritos são misteriosamente perdidos no processo. E enquanto relatórios positivos de evidências
anômalas são sujeitos a uma revisão prolongada e/ou rejeição sumária, críticas negativas a eles são, por
vezes, mandadas às pressas para a impressão. Ocasionalmente, um relatório independente, eventualmente,
aparece em uma revista, mas apenas depois que ele passou por uma ampla modificação de tal forma que a
mensagem original tornou-se totalmente obscurecida por exclusões editoriais e, em alguns casos, com a
reescrita dos dados. [...]‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
69
Como vimos, através de cartas de submissão e declarações escritas, McIntyre denuncia as praticas de
censura em suas tentativas de publicação relacionadas ao peer review.
63
Steen McIntyre, aqui veremos, portanto, testemunhos feitos por VanLandinhan, um autor
contemporâneo diretamente envolvido na pesquisa recente sobre a datação de evidências da
antiguidade do homen em Valsequillo.
Resolvemos incluir esta discussão, pois ela faz parte históricamente da controvérsia
sobre Hueyatlaco, pois VanLandinhan chega a escrever todo um artigo acadêmico sobre as
revisões negativas e o tratamento ultrajante que recebeu quando de suas tentativas de
publicação das datas obtidas através de amostras de diatomáceas para o ―crânio Dorenberg‖.
Seu artigo de 2009 chama-se: Extraordinary Examples of Deception in Peer Reviewing:
Concoction of the Dorenberg Skull Hoax and Related Misconduct. As criticas ao peer review
neste caso podem ser consultadas em maiores detalhes nesta publicação.
O Peer Review ou ―revisão pelos seus pares‖ é o sistema moderno pelo qual passam
quase todos os artigos e publicações científicas nas chamadas revistas e jornais de grande
nome. O autor que pretende publicar nestes periódicos deve submeter seu trabalho que será
avaliado e ―aprovado‖ por uma comissão de pelo menos dois revisores anônimos. O
anonimato é justificado para que não haja nenhum tipo de envolvimento pessoal ou inibição
da expressão das idéias do revisor. Parece uma boa medida a ser adotada em princípio, mas
não é. Como quelquer medida institucional, esta tem de ser analisada em perspectiva, temos
que ver além das superfícies.
Os maiores problemas recaem sobre questões como o anonimato dos revisores que cria
mais problemas do que vantagens ao incentivar o julgamento pessoal relacionado às filiações
paradigmáticas. Recorridas queixas quanto à falta de clareza e objetividade nas revisões são
comuns, e as ―próprias‖ revisões nunca podem ser ―revisadas‖, sendo que o autor da
submissão sequer tem direito a uma replica às declarações do revisor. Dessa maneira, na
práxis episteme, muitos revisores tem se utilizado de argumentações ―falaciosas,
inverossímeis e descabidas‖, pois sabem que seu anonimato e revisão nunca serão
questionados nem largamente conhecidos, mesmo que cometam abusos sérios. Se há uma
lierdade no anonimato, é a liberdade para exercer a censura paradigmática sem limites.
The protection of anonymity of the reviewer invites such opportunities
for abuse or lack of objectivity by the reviewer as the side tracking of
work which may render obsolete the reviewer's own work. Today the
anonymity of a reviewer can be taken as a license to make unfounded
accusations that do not even address the evidence at hand: often
statements with distorted logic or no supporting evidence given by the
reviewer can pass the editor unchallenged. In recent years, it appears
that anonymous peer reviewers can get away with almost any
outrageous statements: such reviewers are beyond reproach according
64
to many scientific publications today. Editors and granting agencies
often just go along with any specious speculations, wishful thinking,
and sometimes pure fabrications of sources and data by the reviewers.
[…]
An author should be allowed to submit a rebuttal, if the reviewer's
comments are obviously incorrect (and can be refuted by means of
documentation) or contain such misrepresentations […] As with our
legal system, if provable errors occur in a trial, the aggrieved person is
allowed to appeal the decision in the face of new evidence: the same
should hold true with the peer review system (since the editor is a
judge), and resubmitting should be allowed, if conclusive proof is
presented that blatant misrepresentations were made by reviewers
which caused the original manuscript rejection.70
(VANLANDINGHAN, 2009)
Bem, orientações éticas para os editores científicos, revisores e autores já existem é
claro em abundância, mas os comentários do revisores em particular, muitas vezes parecem
pouco éticos. Muitas denúncias tem sido feitas ao longo das últimas décadas sobre como as
correções através de ações éticas, claramente são ignoradas, com relação ao abuso do sistema
de revisão por pares. Esta situação vem crescendo sem transparecer, se tornando uma das
piores crises para a liberdade de informação científica.
Peer review abuse has become a major problem in science! If the
reader does not believe this, do a Google search, enter "peer review
misconduct," and observe the links to 210,000 [sic] items dealing with
this subject.71
(VANLANDINGHAN, 2009)
70
"A proteção do anonimato do revisor convida a tais oportunidades para o abuso ou a falta de objetividade
pelo revisor e o monitoramento do trabalho de revisão, o que pode tornar obsoleto o proprio trabalho do
revisor. Hoje, o anonimato de um revisor pode ser tomado como uma licença para fazer acusações
infundadas que nem sequer abordam a evidência apresentada: muitas vezes as declarações que se utilizam
de uma lógica distorcida ou de nenhuma evidência de apoio dada pelo revisor podem passar incontestadas
pelo editor. Nos últimos anos, parece que os revisores anônimos podem sair impunes de quase todas as
declarações ultrajantes: tais revisores são irrepreensíveis de acordo com várias publicações científicas de
hoje. Editores e agências de financiamento, muitas vezes seguem junto com quaisquer especulações,
tendenciosidades, invenções, e por vezes, por fontes e dados puramente inventados pelos revisores. [...]
Um autor deve ser autorizado a apresentar uma refutação, se os comentários do revisor são obviamente
incorretos (que pode ser refutado por meio de documentação) ou que contenha tais distorções [...] Como
em nosso sistema jurídico, se erros ocorrem em um julgamento, à pessoa lesada é permitido recorrer da
decisão em face de novas provas: o mesmo deve ser verdadeiro com o sistema de peer review (já que o
editor é um juiz), e um reenvio deve ser permitido, se houver prova conclusiva de que deturpações
flagrantes foram feitas por revisores e que estas causaram a rejeição do manuscrito original.‖ Tradução
livre do autor deste trabalho.
71
―O abuso do peer review (revisão por pares) têm se tornado um grande problema na ciência! Se o leitor não
acreditar, basta realizar uma pesquisa no Google digitando "peer review misconduct", e observar os links
para 210 mil [sic] páginas lidando com esta questão.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
65
O que dizem tais pesquisas? Que neste processo, nem todas as revistas se dispõe a
definir claramente o que se espera dos seus revisores, em vez disso, supõe-se que tais práticas
éticas indefinidas serão seguidas, o que claramente não acontece e assim, tudo se fundamenta
em um código não-escrito de regras. Segundo McBirney (2003) "reviews are not held to the
same standards of objectivity as the papers they address" e Hennebert (1993) assegura que a
falta de clareza e fiscalização do sistema representa "the dream of anybody seeking power,
power without responsibility".
Mesmo que estabelecidas regras claras que impeçam a má-conduta, essas orientações,
mesmo se existissem, nem sequer poderiam ser absolutas e consideradas universais, o que
criariam problemas e discussões tão grandes como a próprias controversas implícitas nos
assuntos das disciplinas submetidas, pois teriam de ser regras suficientemente amplas para
serem eficazes na revisão de um manuscrito submetido por qualquer disciplina científica, em
áreas tão diferentes epistemologicamente como a física ou a antropologia.
Numa consideração contextual, acreditamos que ao longo da história da ciência
moderna, a maioria dos cientistas publicaram suas opiniões sem uma revisão formal tão
institucionalizada, assim, as revoluções do pensamento tomaram forma na medida que as
idéias presumivelmente eram discutidas abertamente em grandes debates. Vimos com
exemplos neste trabalho que tal história, pelo menos para a cosmologia natural da identidade
humana, é pura propaganda, mas o sistema de peer review veio para ―apertar as rédeas‖ - esta
de certa forma piorando consideravelmente a questão do controle ideológico moderno sobre a
ciência. É fundamental para a ciência que seus participantes publiquem suas críticas
abertamente. Em momento algum, iríamos preferir hoje, considerando as grandes batalhas
contra o poder por que passaram alguns dos nomes mais conhecidos da história das ciências
―Galileu, Copérnico, Newton, o próprio Darwin‖ dentre tantos outros, um sistema onde os
revisores censuram a informação e limitam absolutamente sua circulação? – pergunta
VanLandinhan em seu artigo de 2009. Considerando os contextos de hostilidade e a
resistência dos pares científicos a novas idéias e inovações paradigmáticas, um sistema de
peer review deve ser repensado para minimamente poder ser claro definido e que seus
revisores sejam identificados.
Today most judgements of editors for scientific publications are based
entirely and finally on the referee's comments, no matter how
outrageous, and most editors will not even entertain the possibility of
a resubmittal. In a purely philosophical sense, the anonymous review
violates one of our most basic democratic principles. A basic rule of
our justice system holds that one who is being judged has the right to
66
confront the accuser. This right is denied when a verdict is rendered
in secret on the basis of testimony from unidentified individuals
selected by a process in which one cannot participate. In any court,
one has the right to know and challenge the qualifications or
objectivity of witnesses. Why shouldn't it be so in science also?72
(VANLANDINGHAN, 2009)
O Peer review se tornou uma das ferramentas ideológicas para a manutenção de
paradigmas e um grande problema para a ciência. A revisão por pares não impede a fraude e
não melhora significativamente a qualidade da ciência (ROTHWELL, 1969). Hennebert
(1997) concluiu que a avaliação por pares, empreendida por mais publicações científicas
sufoca a comunicação científica, retarda o avanço do conhecimento e estimula um
comportamento desonesto entre os ―árbitros revisores‖. A revisão de assuntos não
consensuais na ciência, com várias acusações de censura deliberada, resume muito do que há
de errado com o atual processo de revisão por pares e demonstra a necessidade urgente de
reforma.
Como vimos, ao autor de um artigo submetido à revisão deve ser sempre permitido
minimamente uma resposta, a apresentar uma contraprova, se a observações do revisor são
obviamente erradas, ou contendo informações incorretas. Muitos editores entretanto, limitam-
se a enviar as revisões negativas aos autores que não podem se defender, e presume-se que
nem deveriam fazer nada, caso queiram continuar a publicar nestas revistas, mesmo que
ocorram muitas vezes, a constatação de uma falta de conhecimento profundo de um revisor
com relação ao assunto revisado. Estamos lidando com um processo de coerção onde não
temos escolha sobre como e quando publicar pesquisas: “Authors must adhere to many
requirements when submitting a manuscript 73
(VANLANDINGHAN, 2009)‖. Por tudo que
foi visto, defendemos aqui, que a revisão deve poder ser contestada por meio de uma
documentação suficiente quando necessário, e que seja a revisão também publicada e seu
revisor identificado.
72
―Hoje, a maioria das decisões dos editores de publicações científicas são baseadas inteiramente e finalmente,
sobre os comentários do revisor, não importa o quão ultrajante sejam estes, e assim, a maioria dos
editores não irá sequer cogitar a possibilidade de uma re-submissão. Em um sentido puramente filosófico,
a revisão anônima viola um dos nossos mais elementares princípios democráticos. Uma regra básica do
nosso sistema de justiça afirma que quem está sendo julgado tem o direito de enfrentar o acusador. Este
direito é negado quando um veredicto é processado em segredo com base em depoimentos de indivíduos
não identificados e selecionados por um processo no qual não se pode participar. Em qualquer tribunal,
um indivíduo tem o direito de conhecer e poder desafiar as qualificações ou objetividade das testemunhas.
Por que não deveria ser assim também na ciência?‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
73
―Autores devem aderir a muitas exigências ao submeter um manuscrito.‖ Tradução livre do autor deste
trabalho.
67
Assim, no contexto da disciplina abordada por este trabalho, não podemos confundir o
pensamento arqueológico, ou seu ambiente teórico filosófico, com a práxis episteme da
arqueologia. Na contemporaneidade da episteme arqueologica, apesar de todas as pequenas
libertações das amarras da modernidade ocorridas nos últimos anos, os discursos estão ainda
fortemente acorrentados a descobertas. Com o exemplo de Hueyatlaco, vimos como a
pesquisa na arqueologia é validada pelo paradigma e não pelos fatos e em ultima análise, que
estes não terão praticamente nenhum impacto no mundo dos mitos da ciência e
consequentemente na estrutura das pesquisas e das idéias se não forem publicados em revistas
respeitadas pelo próprio consenso que as criou.
Lembremos da citação inicial desta parte, que nos lembra que o processo editorial de
peer review é amplamente utilizado exatamente por estas organizações, justificada
especialmente na prática de revisão por pares anônimos, que como vimos muitas vezes se
apresenta segundo Cremo (1993) como um obstáculo intransponível à divulgação de novas
idéias e conjuntos de dados. “Alguns artigos submetidos são respondidos com um muro de
silêncio” (CREMO; THOMPSOM, 1998b, p. 362). Ou que “Outros são desviados por meses,
de editor para editor. Às vezes, os manuscritos são até misteriosamente perdidos na
confusão.”. Cremo e Thompson, depois de oito anos estudando a documentação secundária e
acompanhando inúmeros casos, observam que a mensagem original dos autores quando é
anti-paradigmética, tornou-se totalmente obscurecida por supressões editoriais e que, em
alguns casos, pode ocorrer até mesmo a reescrita dos dados beneficiando o consenso teórico,
como vimos pelo testemunho de Steen McIntyre aos editores Estella Leopold e Steve Porter
da Quaternary Research. (CREMO; THOMPSON, 1998b, p. 365).
Lembremos que Harold Malde, Roald Fryxell e Virginia Steen McIntyre levaram quase
vinte anos para conseguir a publicação de suas análises cronológicas, o que finalmente
ocorreu em 1981, terminemos com algumas das correspondências que denunciam a prática do
peer review em favorecimento da cosmologia científica dominante:
Steve Porter wrote to Steen-McIntyre (February 25, 1980), replying
that would consider the controversial article for publication. But he
said he could "well imagine that objective reviews may be a bit
difficult to obtain from certain archaeologists." The usual procedure in
scientific publishing is for an article to be submitted to several other
scientists for anonymous peer review. It is not hard to imagine how an
entrenched scientific orthodoxy could manipulate this process to keep
68
unwanted information out of scientific journals.74
(CREMO;
THOMPSOM, 1998b, p. 365)
Em resposta, Steen-Mclntyre escreve para Porter (04 de Março, 1980):
Often it is next to impossible to get a controversial paper published
that even indirectly challenges current archaeological dogma; George
Carter is a case in point!75
(STEEN-MCINTYRE, 1980)
In a letter to Steen- Mclntyre, Carter had called the dominant clique of
New World archeologists "priests of the High Doctrine" and
complained that they bragged among themselves about having
blocked him from publishing in the major journals. He compared his
treatment to a modern Inquisition. Steen-Mclntyre then stated: "I had
thought to circumvent these 'true believers' by publishing in an
obscure symposium volume, but no such luck.76
(CREMO;
THOMPSOM, 1998b, p. 364)
2.1.5 Censura, publicação e Ensino
Steen McIntyre nos últimos anos se associou á um grupo de pesquisadores que publicam
suas pesquisas ―anti-paradigmáticas‖ através da rede mundial de computadores. Tal projeto se
chama The Pleistocene Coalition. Gostaria de transcrever parte de uma entrevista divulgada
por este projeto, que Virgínia Steen McIntyre concedeu ao geólogo da Boston University Dr.
Robert Schoch sobre os desdobramentos e conseqüências das descobertas em Valsequillo
(http://www.valsequilloclassic.net/nuke/):
74
―Steve Porter escreveu para Steen-McIntyre (em 25 de fevereiro de 1980), respondendo que iria considerar
o artigo controverso para publicação. Mas ele afirmou que poderia "imaginar ser um pouco difícil de se
obter revisões objetivas de certos arqueólogos." O procedimento usual na publicação científica de um
artigo é este ser submetido a vários outros cientistas para revisão por pares anônimos. Não é difícil
imaginar como uma ortodoxia arraigada científica poderia manipular esse processo para manter as
informações indesejadas fora das revistas científicas.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
75
―Muitas vezes é quase impossível conseguir que um paper controverso seja publicado que, mesmo
indiretamente, desafie o dogma arqueológico atual; George Carter é um caso claro!‖ Tradução livre do
autor deste trabalho.
76
―Em uma carta a Steen-McIntyre, Carter tinha chamado o grupo dominante de arqueólogos do Novo Mundo
de "padres da Elevada Doutrina" e reclamou que eles se gabam entre si sobre lhe terem bloqueado a partir
das negações de publicação nos periódicos mais importantes. Ele comparou o seu tratamento a uma
Inquisição moderna. Steen-McIntyre, em seguida, declarou: "Eu tinha pensado em contornar esses
‗verdadeiros crentes‘, publicando num volume de um simpósio obscuro, mas não demos tanta sorte!‖
Tradução livre do autor deste trabalho.
69
Perguntada sobre o porquê de sua pesquisa ter sido interrompida depois de seu apoio à
publicação das cronologias controversas do sítio Hueyatlaco:
The archaeologist in charge of the Hueyatlaco dig (where they
had found well made stone tools) rejected our geologic dates of a
quarter-million years. Because, according to her belief, modern
man, the maker of those tools, had not yet evolved 250,000 years
ago. […] He evolved only 100,000 years ago and that was in the
Old World not the New. A classic case of arguing from theory to
data, then tossing out the data that don't fit. […] 77
Questionada sobre o porquê de Cynthia Irwin Williams ter conseguido sustentar
suas conclusões em favos do paradigma apesar das datações:
A matter of influence on her part and lack of it on mine. She was an
anthropologist, a graduate of Radcliffe and Harvard with powerful
friends; I was a geologist with a new PhD from the University of
Idaho, looking for a job.78
Perguntada se existe realmente uma controvérsia científica sobre Hueyatlaco:
There would be if all the facts were generally known. But the
dates were run almost 25-30 years ago. Have you ever heard them
mentioned? […] There is no controversy. The site and our
geologic work are simply ignored.79
Perguntada se seria esta uma atitude ética e científica:
No, of course not. But there it is.80
Perguntada sobre o que alegam os arqueólogos contra as evidências geológicas da
antiguidade do sítio:
None to my face: that's the frustrating part. Since the paper on
Hueyatlaco was first published in 1981 only five scientists have
77
―A arqueóloga encarregada da escavação em Hueyatlaco (onde tinham encontrado ferramentas líticas
exelentes) rejeitou nossas datas geológicas de um quarto de milhão de anos. Porque, de acordo com sua
crença, o homem moderno, fabricante dessas ferramentas, ainda não tinha evoluído há 250.000 anos atrás.
Ele teria evoluído apenas há 100 mil anos atrás no Velho Mundo não o Novo. Um caso clássico de
argumentar a partir da teoria para os dados, e em seguida, jogar fora os dados que não se encaixam. [...]‖
Tradução livre do autor deste trabalho.
78
―Uma questão de influência da parte dela e falta da minha. Ela foi uma antropóloga, graduada em Harvard e
Radcliffe e com amigos poderosos; Eu era uma geóloga com um doutorado recente da Universidade de
Idaho, em busca de um emprego.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
79
―Haveria se todos os fatos fossem de amplamente conhecidos. Mas as datas foram obtidas há 25-30 anos
atrás. Você já ouviu alguém mensiona-las? [...] Não há controvérsia. O sítio e o nosso trabalho geológico
são simplesmente ignorados.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
80
―Não, é claro que não, mas ai esta ela.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
70
contacted me on their own for more information. And only one of
those was an archaeologist. 81
Perguntada sobre tal situação nos circulos fechados naquela época:
Nothing nice, I imagine. I worked with a group of them in a
laboratory setting back in the mid-60's. It was a different world.
No matter their specialty, each graduate student left that place
with an extra-curricular BS degree -- BS for Back Stabber. […]
First thing you learned in the coffee room was who was "in the
know" and who was "out of it". It became almost a game,
verbally cutting to pieces those who didn't count. C.S. Lewis
caught the flavor of the game in his novel THAT HIDEOUS
STRENGTH.82
Questionada sobre as perseguições em sua carreira, se ela foi deliberadamente
―expulsa‖ dos círculos oficiais (no original, ―delegated to the „out of it‟ category‖):
That seems evident. And once you get a bad rep in the scientific
community, even if it's the result of rumor and down right lies, it
spreads. […] In 1973, when we first announced the results of our
new excavations and the fission track dates, I was sitting pretty.
I had the beginnings of an international reputation because of my
basic research on volcanic ash layers, a wide correspondence with
my peers, a part-time job in a government laboratory that I
assumed would lead to better things, and later, an adjunct
professorship in the anthropology department of a state university.
Today, all that is gone. […]83
Perguntada se existem outros arqueólogos estadunidenses que publicaram descobertas
contra o consenso da evolução:
81
―Nenhum na minha frente: essa é a parte frustrante. Uma vez que o artigo de Hueyatlaco foi publicado pela
primeira vez em 1981 apenas cinco cientistas entraram em contato comigo por conta própria para mais
informações. E apenas um deles era um arqueólogo.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
82
―Nada de bom, eu imagino. Eu trabalhei com um grupo deles em um laboratório em meados da década de
60. Era um mundo diferente. Não importava sua especialidade, cada aluno de pós-graduação deixou
aquele lugar com um grau de BS extra-curricular - BS de Stabber Back. [...] A primeira coisa que você
aprendia na sala de café era quem "sabia" e quem estava "de fora". Tornou-se quase um jogo,
verbalmente cortavam em pedaços aqueles que não contam. CS Lewis capturou o sabor desse jogo em seu
romance That Hideous Strength.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
83
―Isso parece evidente. E uma vez que você tenha uma reputação ruim na comunidade científica, mesmo que
seja o resultado de rumores e de mentiras diretas, ela se espalha. [...] Em 1973, quando nós anunciamos
pela primeira vez os resultados de nossas novas escavações e das datas de fission track, eu estava
consideravelmente bem conceituada. Eu estava iniciando uma reputação internacional por causa da minha
pesquisa básica em camadas de cinzas vulcânicas, tinha uma boa correspondência com meus colegas, um
trabalho em tempo parcial em um laboratório do governo, que assumi e que me levaria a coisas melhores,
e mais tarde, professora adjunta do departamento de antropologia de uma universidade estadual. Hoje,
tudo o que se foi. [...]‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
71
Hueyatlaco isn't the only censored early man site in the New
World, it's the tip of an iceberg. […] There's the late Tom Lee, a
Canadian archaeologist. He had the misfortune to find an early
site on an island in one of the Great Lakes in the 50's. Not only
did he lose his government job, he actually was committed to an
insane asylum for a time! […] There's Dee Simpson and her
Calico site in the Mojave Desert of California. The soil developed
on top of the sediment column containing the artifacts is 200,000
years old, which makes the sediment layers and artifacts beneath
it much older. […] Louis Leakey of African fame recognized the
stone tools as tools -- not the result of natural causes -back in the
60's. Then there's George Carter and his sites in the San Diego
area. He's been battling the archaeologic establishment for 50
years! And many more.84
Perguntada sobre o que seria preciso mudar para que Hueyatlaco e outros sítios fossem
aceitos:
Several things.
First of all, there needs to be more research in the Valsequillo
area: more radiometric dates, more field work, more archaeologic
excavations. Fortunately, through support of a wealthy
philanthropist, this is happening. Scientists from the USA and
Mexico have been working there since the fall of 1997. I have not
been told the results of their research -- I'm certain that they will
want to report on it themselves -- but I have been told that it
should make me very happy! Second, we must somehow reverse
an alarming trend that has appeared in the research community
today, a trend towards "feel good" science, where facts no longer
count if they question a politically correct world view. It was
precisely that type of "science" that reigned in the Soviet Union
for decades. And what a headache it caused to all concerned!
Third, the censorship of our work and the work of our colleagues
nust stop! […]85
84
―Hueyatlaco não é o único sítio do homem pré-histórico censurado no Novo Mundo, é a ponta de um
iceberg. [...] Há o falecido Tom Lee, um arqueólogo canadense. Ele teve a infelicidade de encontrar um
sitio antigo em uma ilha em um dos Grandes Lagos na década de 50. Não só perdeu seu emprego no
governo, mas na verdade foi até internado num asilo de loucos por um tempo! [...] Há Dee Simpson e seu
site de Calico, no deserto de Mojave, na Califórnia. O solo que se desenvolveu em cima da coluna de
sedimentos contendo os artefatos, data de 200.000 anos de idade, o que torna as camadas de sedimentos e
artefatos abaixo dela muito mais antigos. [...] Louis Leakey com sua fama africana foi quem reconheceu
tais ferramentas líticas como ferramentas - não o resultado de causas naturais, já nos anos 60. Depois há
George Carter e seus sítios na área de San Diego. Ele está lutando contra o consenso arqueológico há 50
anos! E muitos mais.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
85
―Várias coisas. Primeiro de tudo, é preciso haver mais pesquisas na área Valsequillo: mais datas
radiométricas, mais trabalho de campo, mais escavações arqueológicas. Felizmente, através do apoio de
um filantropo rico, isso está acontecendo. Cientistas dos EUA e do México estão trabalhando lá desde o
outono de 1997. Ainda não me foram informados os resultados de suas pesquisas - eu tenho certeza que
eles vão querer publicar um relatório próprio-, mas me disseram que este deveria me fazer muito feliz!
72
A informação mais importante acerca desta entrevista é certamente a questão do silêncio
por parte da Ciência Consensual, além de ignorar evidências, quando impelidos ao
pronunciamento86
, se utilizam de uma estratégia com ataques ad hominem 87
para que não haja
nenhuma impressão de debate:
Most of the ideas presented [...] were so ludicrous as to not even
warrant a rebuttal by any honest investigator. (L.W. Mt. Wilson
Observatory)
It's all a bunch of hooey, and my recommendation is to stay away.
(B.D. Yale University)
[...] the American public will soon be reduced to a gaggle of
conspiracy theorists that will not trust a single thing they are told.
(T.H. Astronomy Dept. New Mexico State University) (CREMO,
1998c)88
Como vimos, Virginia Steen-Mclntyre experimentou muitas destas pressões e processos
sociais que formaram obstáculos intransponíveis a sua credibilidade pessoal. Outro ataque
disfarçado de criticismo muito comum é acusar os pesquisadores de ―amadores‖, ―não
profissionais‖, ―pseudo-cientístas‖, que não ―possuem titulações suficientes em seus campos
de atuação‖, aqueles arqueólogos que defendem suas descobertas contra o consenso e assim é
justificado, o porquê de suas ―alegações‖ não serem endossadas pela maioria da comunidade
Segundo, precisamos de alguma forma, inverter uma tendência alarmante que apareceu na comunidade de
pesquisa hoje, uma tendência de ‗feel good science‘ (ciência do ―bem estar‖?), onde os fatos já não
contam se eles questionam uma visão de mundo politicamente correta. Foi precisamente esse tipo de
"ciência" que reinou na União Soviética por décadas. E que dor de cabeça causou a todos os interessados!
Em terceiro lugar, precisa parar a censura do nosso trabalho e o trabalho dos nossos colegas! [...]‖
Tradução livre do autor deste trabalho.
86
Neste caso, os pronunciamentos foram inevitáveis, pois o sítio de Hueyatlaco foi abordado num
documentário em televisão aberta do canal N.B.C Norte Americano intitulado Mysterious Origins of
Man. Bill Cote, Carol Cote e John Cheshire, produtores do documentário foram atacados violentamente
pela comunidade de cientistas darwinistas, primeiro pessoalmente com assaltos morais (―morons, liars,
and subversive creationists) e depois com a ameaça de processo legal por cartas de repúdio ao FCC
(Federal Communication Commission- EUA).
87
Resposta falaciosa quando se responde a com uma crítica a quem propôs o argumento, e não ao
argumento em si.
88
―A maioria das idéias apresentadas [...] eram tão ridículas que nem sequer merecem uma refutação por
qualquer pesquisador honesto. (L. W. Mt. Wilson Observatory)‖
―É tudo um monte de besteira, e minha recomendação é ficar longe. (B. D. Yale University)‖
―[...] O público americano em breve será reduzido a um bando de teóricos da conspiração que não vai
confiar em uma única coisa que lhes é dito. (TH Astronomia Departamento de New Mexico State
University) (Cremo, 1998c)‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
73
acadêmica, sem que haja é claro, uma real exposição de motivos que inicie uma controvérsia
que poderia levar ao debate direto sobre a natureza das evidências.
But Dr. Virginia Steen McIntyre holds a PhD in Geology and was a
fellow with the USGS when she did her field work in Mexico. Her
conclusions about the age of the spearpoints she dated (250,000 years
BP) were backed by two other USGS members, yet because of their
implications, the findings were ignored and her career was ruined.89
(COTE; CHESHIRE apud CREMO, 1998c)
Aqui reside uma das sutis armadilhas do discurso do Naturalismo metodológico,
durante a construção do materialismo darwinista: Ao afirmar que toda causa observável tem
uma explicação naturalista, este esconde o fato de que a natureza das coisas observáveis
depende do quanto da natureza nós conhecemos. Assim, no caso de Hueyatlaco, apenas a
propaganda pode tornar o discurso consensual aceito. Tendo isso em conta, perguntamos:
Como poderemos educar os futuros arqueólogos a buscar respostas sobre perguntas que eles
nem mesmo tem condição de elaborar, pois não conhecem nem sequer a existência dos
problemas em seu campo? Não podem – e está ai o poder da propaganda e a importância da
educação e da divulgação de casos como o de Hueyatlaco. Assim, para referência neste
momento, coloco aqui as publicações que tem sido deliberadamente ―esquecidas‖ sobre
Hueyatlaco. Publicações diretas e outras que se relacionam ao contexto arqueológico que
corrobora muitas respostas que temos hoje e das perguntas que podem ser feitas no futuro.
Não são perguntas banais, sobre um pequeno sítio perdido numa localidade mexicana, elas
versam sobre a origem do homem, sobre a construção dos mitos, sobre a direção humana.
ARMENTA CAMACHO, J. 1978, Vestigios de
Labor Humana en Huesos de Animales Extintos de
Valsequillo, Puebla, Mexico. Gobierno del Estado
de puebla, 1978.
LIDDICOAT, J.C., R.S. COE, P.W. LAMBERT,
H.E. MALDE, AND V. STEEN MCINTYRE.
Paleomagnetic investigation of Quaternary
sediment at Tlapacoya, Mexico and at Valsequillo,
Puebla, Mexico, Geofisica International (Revista de
la Union Geofisica Mexicana, Auspiciada por el
Instituto de Geofisica de la Universidad Nacional
STEEN-MCINTYRE, V. Approximate dating of
tephra using the microscope: "seat-of-the-pants"
methods to roughly date Quaternary archaeological
and paleontological sites by associated pumice and
volcanic ash layers, El Hombre Temprano en
América y sus implicaciones en el poblamiento de la
cuenca de México, Primer Simposio International,
J. C. Jiménez López, S. González, J. A. Pompa y
Padilla, y F. Ortiz Pedraza [Coordinadores],
Instituto Nacional de Antropología e Historia,
Colección Científica, Serie Antropología Física,
Mexico City, 2006 pp. 155-165.
89
"Mas a Dra. Virginia Steen McIntyre possui um PhD em Geologia e era da equipe da USGS, quando ela fez
o trabalho de campo no México. Suas conclusões sobre a idade das spearpoints (pontas de lança) que ela
datou (250.000 anos AP) foram apoiadas por dois outros membros do USGS, no entanto, por causa de
suas implicações, as conclusões foram ignoradas e sua carreira foi arruinada." Tradução livre do autor
deste trabalho.
74
Autonoma de Mexico), v. 20, no. 3, 1981, pp. 249-
262.
STEEN-MCINTYRE, V., R. FRYXELL, AND H.E.
MALDE, 1981, Geologic Evidence for Age of
Deposits at Hueyatlaco Archaeological Site,
Valsequillo, Mexico, Quaternary Research, v. 16,
pp. 1-17.
SZABO, B.J., H.E. MALDE, AND C. IRWIN-
WILLIAMS, 1969, Dilemma Posed by Uranium-
Series Dates on Archaeologically Significant Bones
from Valsequillo, Puebla, Mexico, Earth and
Planetary Science Letters, v. 6, pp. 237-244.
Datação por Diatomáceas:
VANLANDINGHAM, S.L. in press, Use of diatom
biostratigraphy in determining a minimum
(Sangamonian = 80,000 - ca 220,000 yr. B.P.) and
a maximum (Illinoian = ca 220,000 - 430,000 yr.
B.P.) age for the Hueyatlaco artifacts, Puebla,
Mexico.
VANLANDINGHAM, S. L. Diatom evidence for
autochthonous artifact deposition in the Valsequillo
region, Puebla, Mexico during the Sangamonian
(sensu lato = 80,000 to ca 220,000 yr BP and
Illinoian (220,000 to 430,000 yr BP). J.
Paleolimnol, 36, 2006, pp. 101-116.
VANLANDINGHAM, S. L. Corroboration of
Sangamonian age of artifacts from the Valsequillo
region, Puebla, Mexico by means of diatom
biostratigraphy. Micropaleontology, 50:4, 2004, pp.
313-342.
VANLANDINGHAM, S. L. Yarmouthian (430,000
- 500,000 yr BP) chrysophyte cyst assemblages aid
in corroborating a maximum Illinoian (ca. 220,000
- 430,000 yr BP) age for the artifacts at the
Hueyatlaco site, Puebla, Mexico. (abs.), 7th
International Chrysophyte Symposium, Connecticut
College, New London, Connecticut, June 22-26,
2008, Program (with abstracts).
VANLANDINGHAM, S. 2009, Extraordinary
Examples of Deception in Peer Reviewing:
Concoction of the Dorenberg Skull Hoax and
Related Misconduct, International Symposium on
Peer Review (ISPR), Orlando, Florida, July 10-13
(to be published in July).
VANLANDINGHAM, S. L. Corroboration of
Sangamonian Interglacial age artifacts at the
Valsequillo archaeological area, Puebla, Mexico,
by means of paleoecology and biostratigraphy of
Chrysophyta cysts. Transactions of the 37th
Regional Archaeological Symposium for Southern
New Mexico and West Texas - Southwestern
STEEN-MCINTYRE, V., R. FRYXELL, AND H.E.
MALDE, 1981, Geologic Evidence for Age of
Deposits at Hueyatlaco Archaeological Site,
Valsequillo, Mexico, Quaternary Research, v. 16,
pp. 1-17.
STEEN-MCINTYRE, V. 1998. . NEXUS
Suppressed Evidence for Ancient Man in
Mexico Magazine, August-September, 1998, pp.
47-51.
STEEN-MCINTYRE, V. 2008. A Review of the
Valsequillo, Mexico Early-Man
Archaeological Sites (1962-2004) with
Emphasis on the Geological Investigations
of Harold E. Malde Presentation at the
Geological Society of America Joint Annual
Meeting (October 5-9) Houston, Texas. Published
online, 2008.
Artigos não publicados:
STEEN-MCINTYRE, V. 2003. Geological
observations at Hueyatlaco archaeological site,
Valsequillo area, Puebla, Mexico. Submitted to
CURRENT RESEARCH IN THE PLEISTOCENE
on February 20, 2003 for inclusion in the section
called Paleo-environments, Geosciences. Slightly
modified September 27, 2003.Rejected.
Crânio Dorenberg:
VANLANDINGHAM, S. L. Extraordinary
Examples of Deception in Peer Reviewing:
Concoction of the Dorenberg Skull Hoax and
Related Misconduct, International Symposium on
Peer Review (ISPR), Orlando, Florida, July 10-13
(to be published in July), 2009.
Crânio de Jalisco:
IRISH, J.D., S.D. DAVIS, J.E. LOBDELL, and F.A.
SOLÓRZANO, 2000, Prehistoric Human Remains
from Jalisco, Mexico, Current Research in the
Pleistocene 17, 2000 pg. 95-96.
Ferramentas similares de mesma cronologia no
Continente Africano:
MCBREARTY, S. and A. BROOKS, 2000, The
Revolution that Wasn't: a new interpretation of the
origin of modern human behavior, Journal of
Human Evolution, 39, 453-563.
MCBREARTY, S. AND C. TRYON, 2005, From
Acheulean to Middle Stone Age in the Kapthurin
Formation, Kenya, in Transitions before the
75
Federation of Archaeological Societies Annual
Meeting, April 6-7, 2001, Iraan, Texas, pp. 1-14.
VANLANDINGHAM, S. L. Sangamonian
Interglacial (Middle Pleistocene) environments of
deposition of artifacts at the Valsequillo
archaeological site, Puebla, Mexico. Transactions,
35th Regional Archaeological Symposium for
Southern New Mexico and Western Texas --
Southwest Federation of Archaeological Societies
Annual Meeting, April 9-11, 1999, Midland, Texas,
pp. 81-98.
Gravuras- TETELA 1:
National Geographic magazine article, "Search for
the First Americans" (September, 1979, v. 156, no.
3, p. 350).
Transition: Evolution and Stability in the Middle
Paleolithic and Middle Stone Age, E. Hovers and
S.L. Kuhn, eds.
TRYON, C. A; MCBREARTY, S.
Tephrostratigraphy of the Bedded Tuff member
(Kapthurin Formation, Kenya) and the nature of
archaeological change in the later middle
Pleistocene, Quaternary research, 65, 2006, pp.
492-507.
Este exemplo de Hueyatlaco, como sugere a Dra. Steen-McIntyre ―it's the tip of an
iceberg‖ (é somente a ponta do iceberg). Existem, de fato, na literatura desde o início do séc.
XIX, várias pesquisas que apontam para cronologias ainda muito mais recuadas que
Hueyatlaco sobre a presença do Homem Americano. Porém, como disse no início, escolhi
este caso para ser trabalhado como o exemplo central deste trabalho, por vários motivos que
acredito serem mais importantes que o problema inicial gerador da controvérsia, nada se
resume a uma cronologia ou a uma narrativa materialista.
Como vimos, a questão se situa muito além da episteme metodológica da arqueologia
como ciência e segundo Cremo:
Some might object that we have misinterpreted what went on in that
period, taking the normal scientific procedures scientists use in
differentiating good evidence from bad as some kind of diabolical plot
to distort the truth. Others will maintain that even if good evidence
was in fact rejected for reasons that appear unscientific in hindsight,
this just does not happen any more. But the case of Hueyatlaco (along
with Texas Street, Sheguiandah, Calico, and Lewisville) demonstrates
otherwise.90
(CREMO; THOMPSON, 1998b)
Entendo assim, que para este trabalho, o valor do exemplo reside em sua capacidade
positiva de demonstrar a que existe uma censura consciente orientada para preservar a
90
―Alguns podem objetar que temos mal interpretado o que aconteceu nesse período, tendo visto no
procedimento normal dos cientistas para a diferenciação entre uma boa evidência e uma má evidência
uma espécie de trama diabólica para distorcer a verdade. Outros irão afirmar que mesmo que uma boa
evidência tenha de fato sido rejeitada por razões que parecem não-científicas, em retrospectiva, isso não
acontece mais hoje. Mas o caso de Hueyatlaco (juntamente com o de Texas Street, Sheguiandah, Calico, e
Lewisville) demonstra o contrário.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
76
fundação cosmológica darwinista como o principal processo teórico na produção de narrativas
sobre as origens humanas na arqueologia, e justifico esta escolha neste final:
1-É um sítio escavado na segunda metade do séc. XX, por arqueólogos ―profissionais‖ com
métodos contemporâneos, como parte de um programa pesquisa institucional, publicado por
equipes multidisciplinares, em diversas áreas do conhecimento.
2- Estas descobertas foiram extremamente polêmicas em sua época, possuindo, portanto, um
componente histórico dinâmico, passível de análise, que nos mostrará o tipo de discurso
histórico que produz a ciência e sua relação com a epistemologia.
3–Apesar de poderem ser aceitos, os achados em Hueyatlaco têm sido ignorados
sistematicamente e não contestados devidamente pela comunidade científica mais ampla, não
aparecendo, portanto na literatura relacionada à difusão científica ou ao ensino e divulgação.
4- O contexto de cisão paradigmática com relação aos diversos pesquisadores e suas
respectivas áreas de atuação no sítio é muito interessante para a proposição deste trabalho.
5- O exemplo de Hueyatlaco está bem próximo, porém acima, da fronteira com o paradigma
da evolução africana do homem (de 180.000 anos AP), e assim, sua capacidade de produzir
discursos arqueológicos constitui-se de um ótimo exemplo que pode ser comparado com
outros sítios cronologicamente logo abaixo deste ―marcador‖ cosmológico.
6- Hueyatlaco é um ótimo exemplo da atuação do que chamamos de filtros intelectuais, não
só inconscientes, mas agindo através de censuras infra-estruturais construídas para essa
finalidade.
7- Por fim, Hueyatlaco nos basta aqui, como exemplo, de como agem declaradamente as
estruturas de poder para a manutenção da cosmologia darwinista.
Hoje, poderíamos afirmar que o caso de Hueyatlaco ainda é um caso destoante e
anômalo se comparado com a narrativa da evolução humana oferecida por nossas instituições,
pelos darwinistas e sua cosmologia hegemônica nos meio de comunicação, de difusão e de
ensino. Não nos surpreendemos se este caso gerar de imediato em muitas mentes um
ceticismo absoluto e uma negação a priore. Porém, para nós o caso Hueyatlaco é mais do que
isto, é um exemplo de como as instituições científicas constroem a cosmologia social
unicamente para benefício ideológico institucional e um alerta para tal medida:
O sítio de Hueyatlaco nos serve aqui para ilustrar, pelo menos, em que
medida o establishment acadêmico se expandirá para encobrir
evidências inconvenientes que mudam radicalmente a linha do tempo
77
estabelecida da evolução humana, um estudo de caso pode demonstrar
esta ordem de processos. (CREMO; THOMPSON, 1998b)
Poderemos aceitar que todo este cenário de reação paradigmática sempre existiu, que é
apenas um processo academico inconsciente e que não é tão inflexivel? Serão minimizados ou
esquecidos os contextos e as consequencias históricas do darwinismo?
Hoje, adquirida uma certa maturidade da arqueologia americana, reconhece-se quase
que consensualmente o erro na crença científica admitida por mais de cinquenta anos, no
dogma político-arqueológico Norteamericano que manteve os consensos presos na afirmação
dogmática de que os primeiros ―americanos‖ foram os descendentes daqueles que
atravessaram o Estreito de Bering (Bering Land Bridge) há cerca de 13.000 anos;
aproximadamente 2.000 anos antes do término da última Idade do Gelo. Tem-se a narrativa de
que apesar da disciplina acadêmica rígida e da manutenção das rédeas dentre a maioria dos
arqueólogos profissionais (onde empregos e bolsas são concedidos apenas para os indivíduos
aprovados), algumas rachaduras começaram a aparecer hoje nesta pátina cosmológica bem
protegida. Porém, temos que ter cuidado, pois tal discurso de ‖libertação‖ com modificação
paradigmática é uma ilusão ocasionada pela própria hegemonia do discurso criado para a
divulgação científica e serve agora, apenas, para a manutenção e obscurecimento das ―novas‖
perguntas que deveríamos estar fazendo hoje.
No Brasil, um país sem muita tradição de investimentos na pesquisa arqueológica,
nestes mesmos últimos cinquenta anos, temos publicado sítios com datações absolutas que
podem ir de 32.000 anos há cerca de um quarto de milhão de anos, se considerarmos as datas
conservadoras oferecidas pelos resultados. Na américa do Norte, sem que necessariamente se
estabeleçam rotas migratórias pela Beringia, foram escavados vestígios tão antigos e ainda
mais cedo do que América do Sul.
Hoje, e mais ainda para a época em que este caso ocorreu, as evidências principais,
tipologias de artefatos e as ordens de grandeza cronológicas atribuídas a eles, não permitem
um consenso científico que aceite esta presença do homem no Novo Mundo em uma
cronologia como a descoberta e Hueyatlaco.
A antiguidade do gênero Homo no continente Americano tem sido vista como um
campo de fortes disputas e controvérsias ferrenhas desde o ―descobrimento‖ deste Novo
Mundo. O debate contemporâneo realizado pelas academias trabalha com modelos
bioantropológicos cujas datações raramente ultrapassam os limites das concepções
cronológicas evolutivas criadas pelos consensos Europeu e Norte Americano no último século
78
e meio. Toda essa perspectiva da narrativa tradicional da arqueologia se desenvolveu na
periferia da lógica científica discursiva construída ao redor do núcleo axiomático da icônica
Teoria da Evolução Moderna (ou Síntese Moderna). Nesta, o genero Homo inicia sua
dispersão global à partir da África há cerca de 3.0 – 2.4 M.a. B.P, principalmente em direção a
Ásia, tendo deixado registros materiais inequívocos de sua passagem (como maior expoente:
Sichuan, na China, onde foram identificadas industrias líticas de cerca de 1.8 m.a. AP);
movimento esses entendidos dentro de uma concepção tradicional de modelos
geológico/climáticos e ecológico/ambientais dentro do contexto discursivo das mudanças
genéticas e das adaptações ao meio. Lembremos que na época da escavação de Hueyatlaco,
geralmente aceitava-se que os registros humanos de migração generalizada para o Novo
Mundo teriam acontecido apenas no início do Holoceno, estes consensos, que ainda estão
presentes nos dias de hoje em algumas academias, permitem abrangências de datações de no
máximo até 13.000 a 16.000 anos AP 91
. Mas isto não é tudo, segundo nosso paradigma atual,
há 250 mil anos AP, nem sequer o Homo sapiens havia evoluído (surgido) na África. Sugerir
que antes de sua evolução filogenética no Velho Mundo, este estivesse nas Américas, é
considerado algo equivalente a uma heresia no mundo científico da pré-história e uma
insanidade na bioantropologia.
Tais evidências que discutimos neste capítulo, apontam para cronologias muito mais
recuadas do que os modelos evolutivos podem comportar em suas narrativas contemporâneas.
Assim, isoladas sob o estigma de um caráter ―anômalo‖, tais pesquisas perante a força
hegemônica do paradigma evolutivo paleoantropológico têm sido colocada à margem da
discussão acadêmica e do ensino institucional há várias décadas. Como tentamos demosntrar,
este não é um processo inconsciente das academias ou meramente uma medida de prudência
epistemológica justificável no processo social da ciência, mas uma deliberada censura
dogmática exercida consientemente através de instrumentos políticos ideológicos de grupos
de poder. Pensamos e argumentamos aqui, que tal processo pretende como um fim em si
mesmo, manter as estruturas narrativas da ontologia humana da modernidade.
Na contemporaneidade, os historiadores da ciência têm demonstrado o que os
epistemólogos já sabiam, que nos movimentos históricos, a ciência ocidental, apesar de sua
propaganda democrática, ocultou a existência de um grande corpo de evidências, suprimidas e
91
Hipótese paradigmática que: ―entende a ocupação do continente dentro de um esquema básico que
estabelece que a penetração teria se dado linearmente, do noroeste ao sudoeste, a partir da Beringia até a
Terra do Fogo, contornando a enorme capa de gelo continental que cobriu boa parte do Canadá ocidental
e setentrional e negando a presença do homem na América do Norte antes de 20.000 anos A.P. (antes do
presente) e antes de 15.000 anos A.P. na América do Sul.‖ (BELTRÃO; PEREZ, 2007, p. 6).
79
ostracizadas para fora dos contextos. Na arqueologia, trata-se grandemente da evidenciação
factual de que a cosmologia evolutiva moderna é uma construção que não se sustenta na
episteme da proria ciência materialista. Promove-se hoje, argumentos convincentes, não só da
existencia destes fatos, mas mais importante, um discurso de como foram estes, no transcurso
do tempo histórico, enfaticamente eliminados das narrativas e do ensino, não simplesmente
porque atribuiu-se um valor maior ou menor às evidências, mas porque estas não se
encaixavam nas noções preconstruídas sobre a ontologia humana e principalmente não
justificavam as cosmologias sociais que estavam (e ainda estão) em construção na dialética
material da modernidade.
Esta é nada mais do que uma Guerra pelo Cosmos, e que este processo contemporaneo
não é novo de modo algum, mas um continum histórico, dividido por ideologias e seus
sacerdotes estudiosos em ambas as os lados, que faz parte de um processo de dominação que
continua a erguer fronteiras sobre as bases de todo conhecimento. Hoje, vemos um dualismo
quase sacrosanto, de um lado, no pensamento sobre a teoria evolutiva convencional (ou
consensual hegemômica) das origens humanas materialistas, abusando de seu positivismo
epistêmico mecanicista, e do outro, a sociedade, a diversidade humana, acusada de heresia
essencialista. Tal cenário tem-se polarizado atraves da propaganda num discurso não menos
ilusório e também construído da guerra esteríl entre ciência versus religião. E são nestes
cenários políticos modernos, que se ofuscam mil outras possibilidades de libertação, que se
usam acusações de "pseudo-cognicidade" para silenciar qualquer um, cientista ou teólogo,
que declarar um argumento científico, filosófico ou transcendente contra a imagem aceita das
cosmologias sociais darwinistas, intitucionalizadas e construídas pela opressão histórica do
homem no periodo moderno.
Certamente que muitos epistemólogos não se impressionariam com essas propagandas
ideológicas, nesta aparente e desconhecida ―controvérsia‖ sobre Valsequillo. Nos anos 1960s
em Bristol, Feyerabend já atribuiria tais medidas defensivas da ciência aos ―perigos‖ para os
poderes seculares ocidentais da constatação sua incomensurabilidade, de que a ciência não
possui nada de diferente das outras formas de conhecimento humanas. A reação da
modernidade a esta questão não é nova, a institucionalização da subjetividade humana dentro
de determinados limites como a principal arma ideológica da ciência, limites que não
ameaçassem as estruturas seculares, e neste processo, ―outras‖ histórias foram
deliberadamente esquecidas. Aqui, tentamos apenas descobrir o papel da arqueologia nesta
modernidade e na construção de tal ―subjetividade isntitucional‖, para que fim foi construída,
e a que fim se destina a própria arqueologia como uma narrativa. Claramente, na leitura de
80
McIntyre sobre o que ela própria chama de ―censura‖ podemos reconhecer facilmente as
questões infra-estruturais e supra-estruturais perpetuadoras da cosmologia evolutiva, que
discutimos aqui neste trabalho. E deixemos claro, que pouco tem importância, neste contexto,
se o homem ―evoluiu‖ há 100,000 anos AP ou há 250, 000 anos AP ou há um milhão de anos.
Os Mitos não sobrevivem milênios pela estabilidade de seus pormenores, mas pela capacidade
de significar a existência humana no mundo. Se este ―fim‖ é buscado hoje pelos filtros
ideológicos da ciência materialista, para a manutenção das políticas ou do controle sobre as
identidades, ao manter-se a cosmologia fabricada do darwinismo, teremos por fim um
processo de expressão natural das duas, construída e alimentada agora pela própria psique
humana.
Ao término desta discussão sobre o estudo de caso de Valsequillo, temos que nos
questionar qual a informação mais relevante que este exemplo de Hueyatlaco oferece e porque
esta foi apresentada nesta forma. Aqui, já declaramos que não tivemos a intenção
―artefatológica‖ de ratificar esta ou aquela pesquisa, de contextualizar este ou aquele dado.
Para este trabalho, e sobre uma perspectiva analítica da construção e usos do discurso do
darwinismo na modernidade, esta frágil objetividade não importa; nosso olhar voltou-se para
os processos sociais que impedem estes estudos, essas pesquisas, de serem realizadas e
conhecidas, debatidas, suas cosmologias apresentadas através de filtros intelectuais, e
principalmente, de serem ensinadas às próximas gerações, à parte de qualquer reconhecimento
ou aceite por parte de uma elite intelectual restrita. Questionamos os porquês destas
informações não estarem sendo incorporadas à cosmologia social, em maior ou menor parte,
como outras de mesmo status científico, histórico e social.
Assim temos que ir muito além do discurso sobre a proteção paradigmática que afinal
não é novidade no mundo da ciência, norteado por impulsos ideológicos e construtor de
grandes narrativas, como apontaria Feyerabend, ―contos de fadas‖ políticos. Mas o caso
Hueyatlaco, entre muitos outros, nos evidência que os filtros intelectuais na arqueologia não
são somente processos meramente inconscientes, como descrito por muitos epistemólogos,
mas em grande medida, um fenômeno planejado e executado a partir da institucionalização do
darwinismo, do Mito ontológico hegemônico, do qual faz parte a arqueologia da
modernidade, como nova cosmologia comportamental materialista:
I hesitate, however, to get into a big discussion about this because it
can get frightening (what the government is doing and why). I´ll just
say that science, with its theory of evolution, is providing the
intellectual framework for what the government does. A body is
81
controlled by its brain. The government is like the arms. Big
materialistic science is like the brain.92
(CREMO, 1995)
A ausência absoluta destes debates no ensino acadêmico e na literatura de divulgação
científica na arqueologia durante os últimos duzentos anos, demonstra minimamente, que este
não é um processo inevitável de adequação ideológica discursiva ao paradigma, mas de uma
construção política do Mito moderno da evolução, numa ―planificação mental‖, que pretende
transformar categorias políticas em categorias psicológicas, numa cosmologia construída com
fins e usos mito bem definidos e executados.
2.1.6 Um Mundo sem Alicerces- A literatura ausente
No Brasil, a divulgação científica de qualidade acadêmica relacionada aos estudos das
origens, principalmente na áreas da Arqueologia e da Biologia é rara e pouco acessível ao
público não especializado. Assim, são dignos de preocupação, os direcionamentos políticos e
ideológicos que agem na formação dos estudantes inseridos neste novo contexto, pois estes
por sua vez, irão construir os mitos de origem das sociedades. Tal questão tem crucial
importância nos impactos da ciência sobre a vida cotidiana e a necessidade de orientá-las para
dar solução aos problemas básicos da humanidade, a crescente complexidade da ciência e
tecnologia e a necessidade de traduzi-las para não-especialistas, sejam eles formadores de
decisão, seja o público em geral. De acordo com esse ponto de vista, se antes os agentes de
divulgação científica atuavam como meros "tradutores" da linguagem científica, agora e cada
vez mais, eles devem orientar seu trabalho para esclarecer a sociedade a respeito dos impactos
sociais da ciência. De uma perspectiva oposta, colocam-se os argumentos que percebem o
predomínio, nas atividades de divulgação científica, de motivações de caráter corporativo e
conservador, especialmente a busca de uma maior legitimidade, apoio e prestígio tanto para a
comunidade científica, quanto para a ciência em si. O conhecimento desta questão em si, se
traduz em última instância como uma mediação essencial entre essas polarizações.
Em Julho do ano de 2008, propus e escrevi um projeto para o Programa de Iniciação
Científica93 da UNIVASF, chamado: O Reducionismo Positivista na Divulgação Científica da
92
―Hesito, no entanto, em entrar em uma grande discussão sobre isso porque ela pode ficar assustadora (o que
o governo está fazendo e por quê). Vou apenas dizer que a ciência, com sua teoria da evolução, está
fornecendo a estrutura intelectual para que o governo faz. Um corpo é controlado por seu cérebro. O
governo é como os braços. A grande ciência materialista é como o cérebro.‖ Tradução livre do autor deste
trabalho.
82
Arqueologia e Paleontologia no Brasil. Sub-projeto: O reducionismo positivista na
divulgação de conhecimentos de Paleoantropologia no Brasil. A orientação foi aceita94 e o
projeto iniciado.
Os objetivos gerais deste subprojeto eram os de identificar a abrangência do pensamento
reducionista na divulgação científica no Brasil sobre a paleoantropologia, identificando assim,
a abrangência da ideologia positivista na arqueologia brasileira e seu impacto na formação dos
mitos de origem. O objetivo principal seria identificar as linhas teóricas trabalhadas pela
arqueologia no país, assim como seus proponentes e entender a associação entre os processos
ideológicos e a divulgação científica como ferramenta de transformação social dentro do
conceito de arqueologia pública. Como objetivos específicos queria primeiramente analisar a
postura teórica das mídias de divulgação utilizadas na ciência evolutiva humana para
identificar as falhas de comunicação entre a ciência arqueológica e a sociedade, e a relevância
destas distorções, caso houvessem. Pretendia também, montar um quadro geral sobre a
literatura utilizada no ensino das origens humanas à sociedade em três diferentes categorias:
Literatura didática, utilizada no ensino médio e superior; Literatura escrita de divulgação
cientifica, revistas e livros; Mídias visuais de grande circulação, como documentários
internacionais vinculados no país. Pretendia, levantar dados sobre os principais formadores de
opinião nesta área cientifica da narrativa consensual da origem humana. Quem eram estes
proponentes no Brasil, e quais suas respectivas visões de mundo e engajamentos ideológicos:
―Uma proposição metodológica adequada a este trabalho pode ser definida pela
própria orientação revisionista sobre a qualidade científica da divulgação da
paleoantropologia como uma ferramenta da própria da Arqueologia Publica em
educação. Entendemos por Educacional, a ampliação do conhecimento e da
compreensão do público leigo a respeito do processo científico e sua lógica. Neste
caso, trata-se de transmitir informação científica tanto com um caráter prático,
com o objetivo de esclarecer os indivíduos sobre o desvendamento e a solução de
problemas relacionados a fenômenos já cientificamente estudados, quanto com
um caráter cultural, visando a estimular-lhes a curiosidade científica enquanto
atributo humano. Nesse caso, divulgação científica pode-se confundir com
educação científica. Entendemos, portanto, que nossa metodologia de trabalho
segregará estas duas condições da difusão cientifica. Faremos, portanto, duas
linhas de analise:
1- Uma fase onde será analisada comparativamente, a bibliografia de produção cientifica com a de
divulgação científica sobre a paleoantropologia no Brasil.
93 Oferecido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - Programa de Iniciação Científica
(CNPq/FAPESB/UNIVASF).
94 Pelo professor Dr. Celito Kestering do colegiado de Arqueologia e Preservação Patrimonial da
Universidade Federal do Vale do São Francisco.
83
2- Numa segunda fase, serão analisadas bibliografias dirigidas à educação científica, feitas
entrevistas com profissionais da educação em origem humana do ensino médio e superior visando
a identificação dos processos teóricos que norteiam essa área do conhecimento.
Assim, dentro da primeira fase definida aqui, temos que a metodologia
desenvolvida para este projeto pode ser definida dentro de um escopo
comparativo, entre o discurso de produção científica acadêmico, com um caráter
de difusão cientifica e o discurso do chamado ―jornalismo científico‖ que pode ser
definido como: "um processo social baseado em uma freqüente e oportuna relação
entre organizações formais (estabelecimentos/ redes de editores) e comunidades
(público/espectadores) que tem lugar através da mídia (jornais/revistas/
rádio/TV/cinema) e que circula informação atualizada sobre a natureza científica e
tecnológica, de acordo com variados graus de interesse e expectativa (universos
culturais e ideológicos)‖ 9.
Podemos nesta etapa, definir nossa metodologia como uma análise comparativa
sobre a discussão dos ―problemas teóricos‖ e epistemológicos da ciência
paleoantropológica nos veículos de produção científica e naqueles que a divulgam
para o grande publico. Mais especificamente, trabalharemos com artigos e
periódicos, nacionais e internacionais, disponíveis no portal da CAPES, assim
como nos arquivos de periódicos da Biblioteca da FUMDHAM. Compararemos
estes com revistas de divulgação cientifica de grande circulação, como: revista
Scientific American Brasil, revista Galileu, revista Super Interessante. Com
mídias de vídeo documentário internacionais sobre o tema já vinculados no Brasil,
como a National Geografic, a Discovery e a rede BBC de telecomunicações.
Serão estas primeiras analises restritas a três grandes grupos de assuntos pré-
definidos:
1- A evolução biológica da espécie humana.
2- Ao surgimento do homem moderno em suas características biológicas e culturais.
3- O povoamento dos continentes americanos.
Na segunda etapa deste projeto, identificaremos e analisaremos as grandes
vertentes teóricas (filosófico-científicas) envolvidas no ensino da origem humana
no Brasil, principalmente nas escolas superiores de graduação em arqueologia.
Tais ideologias serão identificadas através de uma analise do material didático, e
de entrevistas com professores que trabalham e ensinam o conteúdo envolvido nos
mitos científicos de origem humana. Uma posterior discussão político sociológica
poderá ser proposta a partir dessa coleta de dados.‖ (ANDRADA, 2008)
Assim o projeto pretendia estabelecer esboços iniciais recolhendo dados dentro em uma
análise do discurso darwinista para compreender um pouco do discurso científico político
polarizado da evolução que têm invariavelmente invadido a esfera social dentro do contexto
de globalização mundial.
Este exemplo nos interessa aqui neste trabalho, pois tratamos exatamente de entender
os motivos por trás da supressão de pesquisas que pretendem combater a cosmovisão
darwinista por parte principalmente das instituições científicas:
84
Pois que este projeto FOI CANCELADO à pedido do orientador, logo após a etapa de
coleta de dados sobre a divulgação e disseminação científicas. Interessante notar foi a sua
justificativa que transcrevo aqui como está no documento que foi entregue para a Pró-Reitoria
de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIVASF:
São Raimundo nonato – PI 15 de Dezembro de 2008,
Senhor coordenador do PVIC,
Informo minha decisão de sustar a orientação do estudante Antonio Carlos
Ribeiro de Andrada Machado e Silva que vinha desenvolvendo o sub-projeto: O
reducionismo positivista na divulgação de conhecimentos de Paleoantropologia
no Brasil. Integrado ao projeto: O Reducionismo Positivista Na Divulgação
Científica da Arqueologia e Paleontologia no Brasil.95
A desistência deve-se a dificuldade de realização das atividades previstas em
razão de conflitos de ordem epistemológica, paradigmática e comportamental.
Atenciosamente […]
grifo meu
Não foi possível, infelizmente, na época, prosseguir com uma comparação entre os
discursos colhidos para uma avaliação teórica como se pretendia. Não pudemos realizar tão
pouco as entrevistas com os professores associados às disciplinas de evolução humana dos
cursos de arqueologia no país. Mesmo que a fase de análise não tenha sido concluída, pude
identificar muitas discordâncias entre o discurso cosmológico fechado, sedimentado,
propagado pelas mídias de divulgação científica se contrapondo aos dados empíricos colhidos
pela arqueologia e que por fim nunca foram divulgados.
Como uma proposta de explicação desta ―censura‖ institucional do projeto, quero
oferecer aqui parte dos resultados obtidos. Uma revisão bibliográfica, uma pesquisa por
informações gerais, citações, discussões ou descrições96 referentes aos sítios arqueológicos
que exibem qualquer polêmica ou controvérsia cronológica que afrontem a narrativa
paradigmática darwiniana sobre a evolução do homem, nos livros que compõe o acervo
95
O conteúdo da carta incluía o nome de outro estudante e de seu respectivo sub-projeto: Levantamento e
analise da divulgação cientifica referente ao registro rupestre. Pertencente ao mesmo projeto. (ver na
integra a cópia do documento, Anexo B)
96
Como metodologia, as obras consultadas relacionam-se, na concepção deste trabalho com as áreas da
evolução humana e pré-história mundial. Foram pesquisados com relação aos sítios, os índices principais
de cada obra e com relação aos seus pesquisadores, as referencias buscando por quaisquer menções a sua
existência.
Vide ANEXO B -1 para cópia do documento original
85
pedagógico-científico do Curso de Arqueologia e Preservação Patrimonial da UNIVASF
disponíveis na Biblioteca Setorial do campus Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato e
da biblioteca da Fundação Museu do Homem Americano. Quero enfatizar, que a pesquisa foi
realizada nos livros que são utilizados como material didático ou de referencia curricular e
oferecem conhecimentos direcionados à formação de arqueólogos bacharéis do curso de
Arqueologia e Preservação Patrimonial, ao ensino de uma nova geração de pesquisadores. Os
conteúdos são assim, específicos dentro do que definimos como Disseminação e Divulgação
científicas (ver detalhes no Anexo B). Como são centenas de sítios e milhares de pesquisas,
irei aqui, no espaço que temos, comentar somente sobre os resultados referentes a uma
amostra que selecionei dos sitios mais controversos do continente Americano, vejamos:
Para nossa perplexidade, e não para nossa surpresa, nenhum dos 90 livros de nossa
amostra utilizados para a pesquisa citou qualquer referencia aos 33 sitios e pesquisas
arqueológicas que de uma forma direta falsificam as hipóteses consensuais propagandeadas
hoje sobre as narrativas da evolução e pré-historia humanas. (ver lista da amostra e
respectivas cronologias no Anexo B -2)
Isso é uma "anomalia" (?), de modo algum, vide os PCN (Parâmetros Curriculares
Nacionais), as DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais) e as Competências e Habilidades
Específicas do MEC. Uma explicação para este filtro intelectual (do conhecimento), pode
ficar a cargo dos multiplos processos discutidos nos capitulos anteriores, a justificativa
proposta é a de que uma visão cosmológica relacionada aos mitos de origem, que se pretenda
hegemônica, não pode ser múltipla, ou ser minimamente diversa, primeiro porque tem de ser
introjetada numa esfera inconsciente e segundo pois não pode transparecer em infraestruturas
políticas que entrem em confronto. Assim, a unificação destes dois objetivos acaba por
transformar as categorias políticas em categorias psicológicas inconscientes. O darwinismo,
com relação a educação é triunfante neste processo hegemônico.
86
3 Considerações finais
Primeiramente podemos elencar diversas conclusões sobre este estudo de caso que nos
permitem responder a pergunta que elencamos no início deste trabalho: Seria o filtro
intelectual identificado na arqueologia por Cremo e Thompson indireto - inconsciente
(pessoal), como também apontam muitos outros autores, ou seria ele consciente e direcionado
através de politicas institucionais construídas para este fim?
Cocluímos que este filtro é direto, expressão de políticas institucionais planejadas para este
fim. Assim, podemos citar os Procedimentos de Supressão identificados: Acusações
infundadas de má conduta profissional e fraude; Uso acadêmico de cronologias que não
pertencem ao sítio; Uso de argumentos de autoridade para direcionar os fatos a partir da
teoria; Desvalorização e não preservação do sítio; Uso da grande mídia para divulgação
parcial da ciência (narrativas monolíticas). Utilização de táticas ad hominen para denegrir a
imagem pública dos defensores de uma cronologia antiga para o sítio (não paradigmática). E
os Procedimentos de Censura identificados: Confisco do material arqueológico pelo Estado;
Proibição da continuidade dos estudos pelos pesquisadores; Coerção governamental por
ameaça de punição; Não permissão de publicação. Edição de material sem autorização; Perda
de financiamentos e cargos governamentais; Exclusão de qualquer menção em material de
difusão, divulgação e didático sobre as pesquisas. Todos estes processos envolveram total ou
parcialmente o apoio público das instituições governamentais e particulares associadas com a
tutela da pesquisa científica.
Existe um excesso de confiança no discurso institucional de que a ciência trabalha em
bases de liberdade de expressão e de inquérito científico. De que o debate sobre a evidência e
a argumentação são as ferramentas que conduzem as idéias a um maior status de
representatividade da realidade sensível do mundo. Que são os fatos que moldam as teorias.
Que o papel dos cientistas não é o de se preocupar com as conseqüências sociais de suas
descobertas, que esse julgamento pertence a toda a sociedade. Que o cientista não deixa que
fatos externos a epistemologia científica sejam por ele introduzidos em suas conclusões. Que
a ciência é uma expressão da democracia social, produzindo informação confiável.
Este trabalho propôs reflexões de que estas noções são ingênuas e construídas pela
propaganda, pois como mostra este estudo de caso, existe uma contradição episteme na
pesquisa e divulgação científica, dentro de uma perspectiva moderna do empirismo
indutivista, do positivismo ligado ao determinismo da observação e divulgação dos fatos
87
dentro do naturalismo metodológico relacionada ao seu valor para ciência evolucionista; O
caso Hueyatlaco corrobora esta conclusão.
Como o ―método científico clássico‖ é apenas um componente da ciência, mas não o
todo, a ciência configura-se numa pratica social que se inicia muito antes das hipóteses serem
elaboradas. Antes disso tal processo depende da visibilidade e acesso às informações que são
decisivas para a formulação novos aportes teóricos; da distribuição de recursos e
oportunidades; e termina com a publicação das pesquisas e discussão das idéias
compartimentadas em teorias aceitas. O empirismo da observação, descrição e
experimentação, não garantem a sucesso ou o fracasso de uma pesquisa científica, ao invés
disso, é a aceitação das idéias que irá direcionar o tratamento factual.
Devido a uma estrutura que privilegia o paradigma, a maior parte das anomalias
desaparecem na obscuridade. Enquanto continuarmos a nos preocupar apenas com questões
metodológicas, as esferas sociais da ciência em sua prática continuarão a atrair interesse,
recursos e oportunidades de publicação e discussão apenas para as hipóteses aceitas e
aprovadas por filtros intelectuais.
Existe uma orientação direta e consciente na escolha das informações a serem
publicadas e no ensino da arqueologia com relação à antiguidade do Homem na América. Tal
direcionamento deste filtro intelectual favorece os modelos evolutivos que não proponham
problemas a narrativa darwinista central da origem e evolução humana. Propomos que uma
revisão em todos os sítios considerados ―anômalos‖ deve ser feita através de trabalhos
empíricos e uma revisão epistemológica deve ser pensada para criar alternativas menos
dogmáticas na construção dos discursos da arqueologia pré-histórica.
Assim, se existe uma censura institucional do conhecimento na Arqueologia que
beneficia a teoria darwinista e sendo esta última a cosmologia das origens do pensamento
capitalista, podemos sugerir um porque da prática desta censura que beneficia as políticas de
organização social, e que explique a unilateralidade da política oficial de ensino em nossas
instituições de ensino público, universidades e institutos de pesquisa. Estas que estão
engajadas em promover uma visão de mundo que exclua todas as possibilidades diferentes do
materialismo secular, do naturalismo metodológico ligado a teoria Neodarwinista.
Portanto, ao fim deste trabalho, enfocamos duas questões gerais sobre o discurso: Numa
perspectiva histórica, a questão principal da crítica sobre a identidade – em que O
Darwinismo é um discurso social construído deliberadamente pela modernidade como uma
cosmologia que justifica a lógica das relações do capitalismo, e para a crítica a-histórica,
sobre a Teoria e Prática arqueológica, do discurso como o ato e fala: A arqueologia moderna
88
como uma ―Arqueologia Consensual” no sentido em que se manifesta infraestruturalmente
como uma ferramente da episteme cosmológica darwinista e assim configura-se como um
instrumento ideológico deste mesmo estado capitalista.
Isto é, tal prática é consensual dentro de um dogmatismo que busca a imposição de
paradigmas, pois se incide sobre a construção do discurso da modernidade na arqueologia.
Concluímos que o conhecimento de credibilidade, embora descrito como históricamente rico
e plural em suas narrativas ―menores‖, corretamente situado numa intersecção entre
localidade geográfica e diferenças culturais, ainda é hegemônicoe e acorrentado às
superestruturas da lógica da ciência moderna, como no que concerne a ontologia darwinista
que analisamos aqui. Tal perspectiva se consolidou e se instrumentalizou, principalmente após
a profissionalização da disciplina em meados do séc. XX, nas práticas institucionais que
dirigiram seus esforços na manutenção das superestruturas narrativas dos estados capitalistas.
O seqüestro da pesquisa científica sob a tutela hegemônica destes estados como agentes
reguladores e financiadores viabilizou as práticas e mecanismos de controle no âmbito da
pesquisa e sua propaganda (ensino e difussão) como mantenedoras da empiricidade e da
indutibilidae exclusiva da narrativa darwinista. A Arqueologia Consensual enunciada aqui é
neste sentido, nada mais do que um concenso superestrutural da ontologia das origens.
Quando pensamos que a Evolução Biológica pretende-se como cosmologia hegemônica
na contemporaneidade, somos impelidos a perguntar quais serão as conseqüências históricas
para uma sociedade advindos desses ensinamentos que contemplam uma única cosmovisão
totalizadora de mundo, como se ela fosse fato e Lei Natural ao invés de uma teoria
Socialmente Construída para a domesticação do espírito humano.
A caricatura da ciência moderna sobre como o mundo opera é uma das mais terríveis
descrições de uma natureza que nega a si própria, do homem que nega a significancia de seus
valores não materiais. A razão pela qual a teoria da evolução é tão importante para a
sociedade ocidental é sua principal função nesta ordem universal da caricatura científica
moderna, para justificar a ontogenia de mundo da lógica materialista, uma filosofia
materialista que luta uma batalha particular contra qualquer conhecimento transcendente da
lógica material e os confina para o reino marginal da experiência pessoal subjetiva, do incerto,
retirando assim, sua legitimidade e seu poder como conhecimento público dentro dos projetos
futuros. Mais do que isso, fazendo-o desta forma, retifica uma dominação de um projeto
moderno de sociedade onde poucos escrevem o futuro de muitos ao invés de se valorar
narrativas que contemplem a diversidade e os sentidos humanos de comunidade.
89
Sabemos e experimentamos o quanto a política oficial de ensino está engajada em
promover esta única visão de mundo darwinista que exclui todas as possibilidades diferentes
daquelas elencadas a esse materialismo secular, pelo naturalismo metodológico ligados a
teoria Neodarwinista. Em nossas instituições de ensino público, hoje, universidades e
institutos de pesquisa, é ensinada uma única cosmologia de mundo possível, que explica a
natureza e a existência humana, a evolução biológica. Primeiro os estudantes aprendem a
recitar que "a evolução é um fato", e então eles gradualmente aprendem mais e mais sobre o
que esse "fato" significa: Que todos os seres vivos são o produto de forças materiais sem
sentido e propósito, dentro das interaçãoes das leis físicas e químicas, da seleção natural, e da
variação aleatórias - estas que criaram um acidente improvável, os seres vivos. Tal discurso se
exime do debate e da reflexão sobre qualquer moral filosófica quando pensamos na natureza
existencial do mundo. Isso significa que qualquer força criativa subjetiva imaterial está posta
fora da realidade, e que os seres humanos (como tudo o mais) também são um produto
acidental de um universo sem propósito97
. Ao final, somos impelidos pelo ―fato‖ de que o que
nos torna humanos, nossa capacidade criar cultura, de ressignificar a existência, de interação
simbólica com a matéria, de criar nosso universo mental, nada têm a contribuir com nosso
futuro como espécie, nosso ―sucesso evolutivo‖, e que deveríamos deixar de lado todos os
valores não materiais que sustentam nossas interações sociais há milhares de anos para nos
limitarmos a uma existência pré-programada dentro de um funcionalismo unicamente volta do
a satisfazer as necessidades individualistas materiais.
A construção dessa emergência de uma nova identidade do homem moderno é cada vez
mais a expressão da filosofia da evolução como cosmologia no séc. XXI, que condiciona os
valores de uma sociedade endocrinalizada de consumo, de valores instintivos, minimalistas,
cuja cosmovisão necessita desta roupagem de propósitos niilistas das origens e do tempo,
para manter cativos os corpos, entorpecidas as mentes e adormecidos os espíritos; onde a
97
Que toda a vida na Terra é o resultado de ―acidentes químicos‖ um processo sem propósito, sem significado
e indireto, derivado das mutações randômicas e da seleção natural... que somos um pedaço matéria
animado pelas relações de subsistência basais de um ―conjunto de trilhões de unidades celulares, que o
pensar e o sentir são respostas ―tácteis‖ para garantir a passagem hereditária dos genes; este o único
sentido da existência... e que quando este fenômeno se cumpre, se ―encerra-se o ciclo reprodutivo‖,
sucumbe a entropia das leis físicas e desaparece alimentando o grande ciclo natural de reciclagem deste
fenômeno ―improvável‖ e sem propósito que é a própria existência... que só existe o material, a abstração
é uma ilusão, uma fraqueza e que na luta pela vida somente os ―fortes‖ sobrevivem, aqueles que tem
poder sobre a matéria.
90
existência permanece inerte em seu estado de conteúdo social quase trans-racional98
,
esperando inevitavelmente por outra revolução social, cosmológica, que a subverta. Estas
estruturas sociais modernas das hegemonias históricas, ainda perduram nas sombras do
consumo, estes poderes políticos que apostam em uma dominação globalizante que financiam
a miséria através da acumulação de renda, a guerra, a propaganda e no medo para manter uma
estratificação social aristocrática em uma ―eterna perpetuação‖, não mais através dos meios
infra-estruturais apenas, mas evidentemente cultivada como necessidade cosmológica.
A educação no discurso moderno, relacionada ao pensar e a prática arqueológica é uma
matéria importante e se configura numa questão merecedora de diversos estudos a parte se
queremos entender com mais profundidade quando e onde se decidiu ensinar apenas parte da
evidência arqueológica conhecida? Do porque se ensina apenas visões tão mecanicistas sobre
a cultura material? Quando se priorizou esta cosmologia tão empobrecida e parcial da
evolução, decidindo que ela seria a visão oficial das instituições públicas? ―Livres Consensos‖
não existem, todas as negociações são construídas intencionalmente por grupos de poder,
assim como na educação as produções literárias dos livros texto são autorizadas apenas por
uma pequena elite ortodoxa da ciência que sozinha determina a aceitação de a visão mundial
sobre o que é fato e teoria. Quem está por traz da decisão e porque, são questões complexas
que podem ser respondidas de diversas maneiras, este trabalho sugere um olhar específico, a
manutenção mitológica da cosmologia darwinista, que é essencial ao funcionamento do
capitalismo.
Tal fenômeno epistemológico, que como vimos neste trabalho, se traduz em uma falsa
noção de transparência das políticas públicas de ensino, representa uma queda da máscara da
modernidade. Fomos colonizados por uma propaganda terrível e perturbadora que afirma os
princípios pelos quais a ciência se edificou na cultura moderna, princípios que remontam ao
iluminismo, idéias ingênuas derivadas da lógica da razão instrumental, da liberdade de
informação e de investigação do mundo.
Por mais ou menos informados, todos entendemos que idéias possuem conseqüências.
Vivemos hoje um jogo de idéias, uma guerra pelo cosmos. As estruturas da arqueologia
moderna servem um dos lados, defendem como discurso a supressão do debate científico, a
omissão factual, quando a idéia norteadora da ciência é o conhecimento, é ciência e contra-
ciência, o saber. A arqueologia como ―estudo das coisas antigas‖ associada a sua
98
Segundo GIL FILHO, S. F., ―O trans-racional é o que foge ao pensamento conceitual, por ser de
característica explicitamente sintética, e só é assimilado enquanto atributo. Neste patamar reflexivo está o
âmago da oposição entre racionalismo e a religião‖.
91
conceituação como ―conhecimento do poder‖ pode trazer para o debate uma riqueza maior do
que a análise dura de mundo, dessa ―grande idéia‖ de verdade darwinista construída
socialmente - do evolucionismo darwiniano em si, que afirma que conhecemos a natureza do
homem e ela se encaixa perfeitamente na infra-estrutura social que o capitalismo oferece.
A solução da arqueologia, segundo M. Cremo, para esta situação, não é um a
―eliminação‖ do darwinismo, mas uma mudança de lógica, de postura cosmológica, que
começa com uma abertura pedagógica nas instituições públicas de ensino do saber, não de
maneira hegemônica: A solução é apostar na diversidade de ―visões transcendentes‖:
The engagement of archeology in the service of Darwinism and its
metaphysical assumptions has influenced the treatment of
archeological evidence, causing evidence that radically contradicts
Darwinist theoretical assumptions to be eliminated from archeological
discourse primarily for that reason.
The remedy is not the elimination of Darwinism, but encouragement
of tolerance for a variety of metaphysical perspectives in all areas of
archeology, including education, field research, museum collections,
museum displays, and outreach to the public through the media.
Archeologists working in institutions that rely on public funds have a
greater responsibility to insure diversity of perspectives than those
working in private institutions.
For example, archeologists working in museums supported by public
funds have a much greater responsibility to reflect a variety of
perspectives on human origins in their displays than archeologists
working in private museums. The same is true of archeologists
working in educational institutions supported by public funds. They
have an obligation to reflect a variety of perspectives in the textbooks
they author and the lectures they present.
This tolerance of a variety of metaphysical perspectives does not rule
out the chance of resolving disputes among researchers operating
within these perspectives by appeal to evidence, objectively evaluated
according to some commonly accepted set of principles for judging
evidence. But it does mean that we do have to be careful to see
whether the resolutions that have been historically reached in disputes
about the reality of evidence for extreme human antiquity actually
meet this standard.99
(CREMO, 2003).
99
―O envolvimento da arqueologia ao serviço do darwinismo e seus pressupostos metafísicos tem influenciado
o tratamento de evidências arqueológicas, emergindo evidências que contradizem radicalmente os
pressupostos teóricos darwinistas, estas tendem a ser eliminadas do discurso arqueológico principalmente
por esse motivo. [...] O remédio não é a eliminação do Darwinismo, mas o incentivo de tolerância para
uma variedade de perspectivas metafísicas em todas as áreas de arqueologia, incluindo a educação,a
pesquisa de campo, as coleções de museus, as exposições em museus e a divulgação para o público
através da mídia. Os arqueólogos que trabalham em instituições que dependem de verbas públicas têm
uma responsabilidade maior para garantir a diversidade de perspectivas do que aqueles que trabalham em
instituições privadas. [...] Por exemplo, os arqueólogos que trabalham em museus apoiados por fundos
públicos têm uma responsabilidade muito maior para refletir uma variedade de perspectivas sobre as
origens do homem em sua mostra do que os arqueólogos que trabalham em museus privados. O mesmo é
verdade para os arqueólogos que trabalham em instituições de ensino apoiados por fundos públicos. Eles
92
Nesta outra visão, fomenta-se a diversidade das idéias criativas, onde a natureza da vida
é diversa, fluídica, simbólica, por vezes insondável; onde podemos sugerir que uma
diversidade de propósitos e significados à existência sem estarmos amarrados em contextos
infra-estruturais. Surgem perguntas: O propósito da existência humana poderia ressignificar o
universo? E assim for, por que não poderia haver diversos propósitos na existência?
A disciplina da Arqueologia nada mais é do que uma das partes constitutivas do
processo pelo qual o mundo moderno surgiu. Como defendemos aqui, ela é sem dúvida um
dos instrumentos institucionais mais importantes para a sustentação da cosmologia humana
dentro da lógica material, do tempo linear e da fabicação do ―eu‖ em dicotomias existenciais
internas e externas; faz isso com sucesso, através da construção de espelhos do presente
transpostos no passado. Numa reflexão episteme, a arqueologia não esta ―presa‖ a essas
estruturas, ela é parte essencial destas. Numa análise discursiva e historiografica, entendemos
que na forma em que é praticada atualmente tal disciplina da arqueologia, esta não poderia ter
se desenvolvido em qualquer outro conjunto de condições senão estas. Chamamos ―esta
condição‖ de modernidade neste trabalho.
Isto significa, que nesta forma, a arqueologia produz um passado que serviu e serve
mais do que nunca para justificar fins e interesses particulares pois aspira utópicamente à
criação de conhecimento factual, cuja imagem pode ser reconstruída em projetos políticos
contemporâneos hegemônicos. A marca histórica da arqueologia foi mais do que a formação,
a destruíção de identidades. No entanto, temos como certo, que o objeto de estudo da
arqueologia - o passado - estará para sempre ausente. Seus fragmentos, intócáveis cascas das
mentes que os produziram, não nos permitem mais do que atiçar nossa propria memória em
busca de fatos perdidos dentro de nossas possibilidades. Por mais quantos séculos nos
debateremos em metodologias estéreis, de metáforas mecanicas, escavando as profundidades
de fora, numa disciplina que se esforça continuamente para atingir um grau de certeza que se
encontra impossível de se atingir. O verdadeiro passado, adormece nos homens e para escava-
lo e traze-lo a tona, será preciso uma arqueologia cujo entendimento primeiramente
transcenda a ciência moderna.
têm a obrigação de refletir essa variedade de perspectivas nos livros que escrevem e nas palestras que
apresentam. [...] Esta tolerância de uma variedade de perspectivas metafísicas não descarta a possibilidade
de resolução de disputas entre os pesquisadores que operam dentro dessas perspectivas pelo apelo à
evidência, objetivamente avaliadas de acordo com alguns conjuntos de princípios comulmente aceitos
para julgar provas. Mas isso não significa que nós temos que ter cuidado para ver se as resoluções que
foram historicamente alcançadas em disputas sobre a realidade da evidência para uma antiguidade
humana extrema, realmente atendam a esse padrão.‖ Tradução livre do autor deste trabalho.
93
Entendemos, que como parte da estrutura do pensamento moderno, a arqueologia
buscou a clareza, é considerada por muitos não mais do que um método, o conhecimento
ontologico do mundo dos homens relegado a uma pretença objetividade e a uma redução do
conhecimento para termos de lei ou de tipos matemáticos. Durante duzentos anos, ensinou-se
que arqueologia exige precisão, resolução inequívoca universalidade, para que fosse possível
a libertação teórica das condições locais e mais, da proria transcendencia da alteridade do
pesquisador. Tudo isto foi conseguido através de uma visão hegemônica que declarou o
mundo ―real‖como um enorme objeto a ser utilizado, livre de significado, livre de moral, de
éticas retóricas, e livre humanidade, mas governado por homens. Significado não é mera
palavra, cuja ciência pode se dar ao luxo de dispor, é uma condição humana, não só de
organização, mas existencial e ontológica, conseqüentemente, a arqueologia como fundadora
de mitos, é a primeira fronteira dessa ―cientificidade‖ que precisamos transpor hoje para
tornar possível olhar o mundo diferenciadamente, olhares plurais tanto quanto são distintas as
relações sociais. Nenhuma ―realidade‖ jamais se aplicou a meros objetos pois não existem
meros objetos.
Se aqui pretendemos expor a dominação da metáfora darwinista, é porque ela participa
desta declaração de mundo moderna. Nos desfazendo desta, poderemos praticar uma
arqueologia declaradamente carregada de significado ético e político, e por ser decladamente
ideológica, a ciência se transformará em muitas ciências e a arqueologia em multiplas
arqueologias. Ao criticarmos a evolução moderna, no entanto, não estamos sugerindo que
deveríamos voltar a uma teleologia pré-moderna, ou a lógicas essencialistas, mas que
possamos ter estas perspectivas e outras mais significando o mundo como conseqüência não
de uma ordem cósmica que vem de fora, mas de uma ordem humana, que flui de dentro.
Rejeitamos aqui, neste trabalho, o discurso do antropocentrismo Iluminista não por uma
antítese ao seu valor cosmológico inato, mas por seu histórico reconhecido de dominação do
fenômeno humano - do poder como foi utilizado na modernidade sobre a historicidade do
homem como um ser social. Um reconhecimento de que a história acontece através da ação
social humana, ao invés de o desdobramento da razão em direção a uma utopia estática,
recoloca os seres humanos, sejam esses entendidos como os ―indivíduos‖ que competem ou
como agentes que se relacionam sobre multiplos valores, como aqueles que têm o poder de
agir, mestres do seu tempo e entregues assim ao seu destino.
94
4 Referências Bibliográficas
AHMAD, A. Linhagens do presente. São Paulo: Boitempo, 2002.
ALBAGLI, S. Ciência e Estado no Brasil Moderno: um Estudo sobre o CNPq. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE,
1988.
ANDRADA, A. C. R.; MATOS L. O.; AMORIM, N. S. A.; MEGA, O. J. O impasse do “conto de fadas”
darwinista– uma perspectiva pluralista às novas e velhas cronologias extremas para o Continente
Americano. Comunicação, II Encontro Latino-Americano de Arqueologia - UERJ, 18 a 22 de Novembro de
2011.
AMEGHINO, F. Énumération cronilogique et critique des notices sur les terres cuites at le scoires
anthropiques dês terrains sédimentaires néogenes de l’ Argentine parues jusqúa la fin del anneé 1907. In:
Anais do Museu de Historia Natural de Buenos Aires. Buenos Aires: n. 20, p. 39-80, 1911.
ARMENTA CAMACHO, J. Vestigios de Labor Humana en Huesos de Animales Extintos de Valsequillo,
Puebla, Mexico. México: Gobierno del Estado de Puebla, 1978.
ARSUAGA, L. R.; MARTÍNEZ, I. La Especie Elegida. A larga marcha de la evolución humana. Madrid: Ed.
Temas de Hoy, 1998.
BELTRÃO, M.C. de M.C.; DANON, J.; DORIA, F. A. Datação Absoluta Mais Antiga para a Presença
Humana na América. Rio de Janeiro: UFRJ, 1988.
BELTRÃO, M. C. de M. C.; Perez, R. A. R. Questões de paleontologia humana: O homem nas Américas. In:
Congresso Brasileiro de Paleontologia, 20, 2007, Búzios. Comunicação. Búzios: UFC, 2007.
________. Forbidden Archeology's Impact: How a Controversial New Book Shocked the Scientific
Community and Became an Underground Classic. 1 .ed. Los Angeles, CA: Bhaktivedanta Book Publishing,
1998b.
________. Carta à Dr.a Virginia Stenn-McIntyre, 9 de maio de 1995.
CARTER, G. F. Earlier than you think: a personal view of man in America. Texas: College Station, A&M
University, 1980.
CREMO, M. J.; THOMPSON. R. L. Forbidden Archeology: The Hidden History of the Human Race. 3 .ed.
Nova Delhi: Bhaktivedanta Book Publishing, 1998.
DALTON, R. Age of Mexican ash with alleged ‗footprints‘. Nature, v. 438, 2005.
DAY, M. H.; MOLLESTON, T. I. The Trinil femura. Synposia of the Society for the Study of Human
Biology , 2, 1973, pp. 127- 154.
DIXON, J. E. Quest for the Origins of the First Americans. Albuquerque: University of New Mexico Press,
1993.
FEIBERG, J. M.; et al. Age constraints on alleged ―footprints‖ preserved in the Xalnene Tuff near Puebla,
Mexico. Geology, March 2009.
GRAHAN, D. Scientist sees no early mark of man. San Diego: San Diego Union, 1988.
GREENBERG, J. Language in the Americas. Stanford: Stanford University Press, 1987.
GUIDON, N. Resenha de publicações Sobre o Povoamento das Américas. Fumdhamentos VII, p. 36.
GUIDON, N.; PEYRE, E.; GUÉRIN, C.; COPPENS, Y. Resultados da datação de dentes humanos da Toca do
Garrincho, Piauí, Brasil. Clio Arqueológica, n. 14, p. 75-86, 2000.
95
HAAG, W. G. The Bering Land Bridge. In: Early Man in America. San Francisco: W. H. Freeman and
Company, 1973, pp. 11-18.
HAY, R. L., LEAKEY, M. D. Fossil footprints of Laetoli. Scientific American, February 1982, pp. 50-57.
HAYNES, C. V. The Calico site: artifacts or geofacts.. Science, 1973, 187: 305-310.
IRISH, J. D. et al. Prehistoric Human Remains from Jalisco, Mexico, Current Research in the Pleistocene, n.
17, pg. 95-96, 2000.
IRWIN-WILLIAMS, C. Comments on Allegations by J. L. Lorenzo Concerning Archaeologícal Research at
Valsequillo, Puebla. Micellaneous Publications, Paleoindian Institute, Eastern New Mexico Univercity,
1967.
________. Preliminary Report on Investigations in the reagion of Valsequillo Reservoir. Report on
Archaeological Investigations in The Reagion of Valsequillo Reservoir, Puebla (Puebla). Report Submitted to
Departamento de Prehistoria Instituto Nacional de Antropologia e Historia, 1962.
________. Preliminary Report on Investigations in the reagion of Valsequillo Reservoir. Report on
Archaeological Investigations in The Reagion of Valsequillo Reservoir, Puebla (Puebla). Report Submitted to
Departamento de Prehistoria Instituto Nacional de Antropologia e Historia, 1964.
________. Preliminary Report on Investigations in the reagion of Valsequillo Reservoir. Report on
Archaeological Investigations in The Region of Valsequillo Reservoir, Puebla (Puebla). Report Submitted to
Departamento de Prehistoria Instituto Nacional de Antropologia e Historia, 1966.
________. Summary of Archaeological Evidence from the Valsequillo Region, Puebla, México. Geologic
Society of America Meetings, Mexico City, 1968.
JOHANSON, D.; EDEY, M. A. Lucy, The Beginnings of Humankind. New York, Simon and Schuster, 1981.
KUHN, T. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University of Chicago Press, 1970.
LEAKEY, M. D. Footprints in the ashes of time. National Geographic, 155, 1979, pp. 446-457.
LEAKEY, M. D.; HARRIS, J. M. Laetoli: a Pliocene site in Northern Tanzania. Oxford: Oxford Clarendon
Press, 1987.
LIDDICOAT, J. C. et al. Paleomagnetic investigation of Quaternary sediment at Tlapacoya, Mexico and at
Valsequillo, Puebla, Mexico. Geofisica International, v. 20, n. 3, p. 249-262, 1981.
LUMLEY, H. de. et al. De‘couvert d‘outils taille‘s associ‘es `a des faunes du Ple‘istocene moyen dans la Toca
da Esperanca, E‘t de Bahia, Br‘esil. Comptes Rendos de l’ Acade’mie dês Sciences,, n. 306, serie 2, p. 241-
247, 1988.
MARSHALL, L. G. et al. Mammaliam evolution and the great American interchange. Science, n. 215, p. 1351-
1357, 1982.
MELTZER, D. J. Search for the First Americans. Washington: Smithsonian Books, 1993.
MORLAN, R. E. Pleistocene archaeology in Old Crow Basin: a critical reappraisal. apud BRYAN, A. L. New
evidence for the Pleistocene peopling of the Americas. Oronto, Maine: Center for the Study of Early Man,
1986. P. 27-28.
MORWOOD, M. J.; O'SULLIVAN, P. B., AZIZ, F., RAZA, A. Fission-track ages of stone tools and fossils on
the east Indonesian island of Flores. Nature 392 (6672), 1998, pp. 173–176.
PEYRE, E.; GRANAT, J.; GUIDON, N. Fumdhamentos VIII, 2009.
ROSE, M. First Mariners. Archaeology Magazine, May/June 1998 , nº51. P. 3.
96
ROTHWELL, P. M.; MARTYN, C. N. Reproducibility of peer review in clinical neuroscience: is
agreement between reviewers any greater than would be expected by chance alone? Brain, 123, p. 1964-
1969, 2000.
SIMPSON, R. D., PATTERSON, L. W.; SINGER, C. A. Early lithic technology of the Calico Mountains site,
southern California. Calico Mountains Archaeological Site, Occasional Paper. Present at the 10th
Congresss of
the International Union of Prehistoric and Protohistoric Sciences, Mexico City. 1986.
SOLORZANO, F. A. Fossil Artefacts from State of Jalisco (Mexico) and their Comparison with some Pre-
historic artefacts. Guadalajara: Jalisco, p. 33.
STEEN-MCINTYRE, V. A REVIEW OF THE VALSEQUILLO, MEXICO EARLY-MAN
ARCHAEOLOGICAL SITES (1962 2004) WITH EMPHASIS ON THE GEOLOGICAL INVESTIGATIONS
OF HAROLD E. MALDE. In: Geological Society of America Joint Annual Meeting, 2008. Comunicação,
Houston, Texas. Published online, 2008.
________. Suppressed Evidence for Ancient Man. Nexus, August-September, p. 47-51, 1998.
________. Geological observations at Hueyatlaco archaeological site, Valsequillo area, Puebla, Mexico. Subetida ao Current Research in the Pleistocene em 20 de Fevereiro de 2003 para inclusão na seção Paleo-
enronments, Geosciences. Modificada em 27 de Setembro de 2003. Rejeitado.
________.Geological observations at Hueyatlaco archaeological site, Valsequillo area, Puebla, Mexico. Current
Research in the Pleistocene. Segundo Rascunho. Modificada em 27 de Setembro de 2003.
________. Approximate Dating of Tephra Using the Microscope: ―Seat-of-the-Pants‖ Methods to Roughly Date
Quaternary Archaeological and Paleontological Sites by Associated Pumice and Volcanic Ash Layers. In:
INTERNATIONAL SYMPOSIUM EARLY MAN IN AMERICA AND THE IMPLICATIONS FOR THE
PEOPLING OF THE BASIN OF MEXICO, 2002, Mexico City. Comunicação. Mexico City, 2002.
(Modificada em 27 de Setembro 2003).
________. Carta para Michael Cremo, 18 de Janeiro de 1994a.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
________. Carta para Michael Cremo, 23 de Novembro de 1994b.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
________. Carta para Steve Bernarth, 2 de Novembro de 1993a.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
________. Carta para Steve Bernarth, 30 de Outubro de 1993b.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
________. Carta para Steve Porter, 8 de Fevereiro de 1980.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
________. Carta para Estella Leopold, 30 de Março de 1981a.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
________. Carta para Estella Leopold e Steve Porter, 18 Maio de 1981b.
http://www.valsequilloclassic.net/nuke/
________. Carta para Michael Cremo, 11 de Abril de 1995a.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
97
________. Carta para Michael Cremo, 1 de Março de 1995b.
<http://www.valsequilloclassic.net/nuke/>
STEEN-MCINTYRE, V., FRYXELL R.; MALDE, H.E. Geologic Evidence for Age of Deposits at Hueyatlaco
Archaeological Site, Valsequillo, Mexico, Quaternary Research, v. 16, p. 1-17, 1981.
STOCZKOWSKI, V. Review of Forbidden Archaeology. L´Home vol.35, 1995, pp. 173-174.
SZABO, B.J.; MALDE, H.E; IRWIN-WILLIAMS, C. Dilemma Posed by Uranium-Series Dates on
Archaeologically Significant Bones from Valsequillo, Puebla, Mexico, Earth and Planetary Science Letters, v.
6, p. 237-244, 1969.
The American Philosophical Society, Year Book. January 1, 1963—December 31, 1963. Philadelphia, 1964.
THIEME, H. Die ältesten Speere der Welt – Fundplätze der frühen Altsteinzeit im Tagebau Schöningen. In:
Archäologisches Nachrichtenblatt, nº 10, 2005, pp. 409-417.
THIEME, H; MAIER, H. Archäologische Ausgrabungen im Braunkohlentagebau Schöningen. Hannover:
Landkreis Helmstedt, 1995.
THIEME, H. Lower Paleolithic Hunting spears from Germany. Nature, 385, 1997, pp. 807-810.
THOMAS, J. Archaeology and Modernity. London: Routledge, 2004.
TRYON, C. A.; MCBREARTY, S. Tephrostratigraphy of the Bedded Tuff member (Kapthurin Formation,
Kenya) and the nature of archaeological change in the later middle Pleistocene, Quaternary research, nº 65, p.
492-507,200.
TURNER, C. The First Americans: the Dental Evidence. In National Geographic Research, 2, 1986, pp. 37-
46.
TUTTLE, R. H. Kinemological inferences and evolutionary implications from Laetoli bipedal trails G1,
G2/3.1987.
URBAN, B. Interglacial Pollen Records from Schöningen, North Germany. In: SIROCKO, F. et al. (ed.):
The Climate of Past Interglacials. Development in Quaternary Science, 2007, vol.7, pp. 417-444.
VANLANDINGHAM, S. L. Corroboration of Sangamonian Interglacial age artifacts at the Valsequillo
archaeological area, Puebla, Mexico, by means of paleoecology and biostratigraphy of Chrysophyta cysts. In:
Regional Archaeological Symposium for Southern New Mexico and West Texas, 37., - Southwestern Federation
of Archaeological Societies Annual Meeting, 2001, Iraan, Texas. Transaction. Iraan, Texas, pp. 1-14, 2001.
________. Extraordinary Examples of Deception in Peer Reviewing: Concoction of the Dorenberg Skull hoax
and Related Misconduct. In: International Symposium on Peer Review (ISPR), Orlando, Florida, 2009.
________. Corroboration of Sangamonian age of artifacts from the Valsequillo region, Puebla, Mexico by means
of diatom biostratigraphy. Micropaleontology, 50:4, p. 313-342, 2004.
________. Diatom evidence for autochthonous artifact deposition in the Valsequillo region, Puebla, Mexico
during the Sangamonian (sensu lato = 80,000 to ca 220,000 yr BP and Illinoian (220,000 to 430,000 yr BP). J.
Paleolimnol, 36, p. 101-116, 2006.
________. Sangamonian Interglacial (Middle Pleistocene) environments of deposition of artifacts at the
Valsequillo archaeological site, Puebla, Mexico. In: Regional Archaeological Symposium for Southern New
Mexico and Western Texas, 35., -- Southwest Federation of Archaeological Societies Annual Meeting, 1999,
Midland, Texas, Transactions. Midland, Texas,p. 81-98, 1999.
________. Yarmouthian (430,000 - 500,000 yr BP) chrysophyte cyst assemblages aid in corroborating a
maximum Illinoian (ca. 220,000 - 430,000 yr BP) age for the artifacts at the Hueyatlaco site, Puebla, Mexico.
International Chrysophyte Symposium, 7, 2008, New London, Connecticut, Program (with abstracts). New
London, Connecticut, 2008.
98
________. Use of diatom biostratigraphy in determining a minimum (Sangamonian = 80,000 - ca 220,000 yr.
B.P.) and a maximum (Illinoian = ca 220,000 - 430,000 yr. B.P.) age for the Hueyatlaco artifacts, Puebla,
Mexico. (não publicado)
VAN-MEER. Email of Sept. 1, 2004 To Inigo Nentwig, From Ron Van Meer, Guatemala City Concerning Josef
Dorenberg and Handwritten reply by ―R.K.‖ Sent to Virginia Steen-McIntyre by Erwin Weber, Emeritus
Professor of German Augustana College 7811 Eight 1/2 Street West Apartment A-3 Rock Island, IL 61201-7777
Nov. 1, 2004.
WONG, K. Footprints to Fill. Scientific American Magazine, August, 2005.
***
99
Anexo – A
01- Hal Malde e Cynthia I. Williams – 1964, primeira campanha de escavação em Hueyatlaco (STEEN-MCINTYRE, 2008)
100
02 –Sítio Hueyatlaco, início das escavações de 1973 (STEEN-MCINTYRE, 2008)
03 -Hal Malde em Xotanacatla buscando correlações estratigráficas que poderiam ser analisadas pelo método Thephra.
101
04- Podemos observar aqui um dos artefatos unifaciais descobertos em Hueyatlaco, escavado no nível mais profundo e antigo (CAMADA I). obs: Foi tratado com cloreto de amônio para a fotografia. (exacerbação das superfícies de retoque).
102
05- Ferramenta bifacial de um dos horizontes superiores, esta camada foi datada estratigraficamente através da presença de diatomáceas em no mínimo 80,000 anos AP. Outra datação vem de sua associação estratigráfica com uma pélvis de camelídio datada por U-series em aproximadamente 250.000 anos AP.
103
06 Outra ferramenta bifacial (vista da ferramenta in situ), descansando na borda. A seta vermelha está sobre um osso. Observamos como a escavação de Cynthia I. Williams foi meticulosa em seus procedimentos de documentação (STEEN-MCINTYRE, 2008).
07- Perfil das “Lower Tenches” em Hueyatlaco, 1978. Trincheiras profundas feitas para investigar se havia havido uma intrusão dos artefatos unifaciais nas camadas mais antigas por canais paleo-fluviais. As camadas microestratigráficas não apresentaram qualquer perturbação.
104
08- Outra ferramenta bifacial encontrada em Hueyatlaco com datação acima de 250 mil anos AP. Ao lado,
ferramentas líticas associadas ao homem moderno Africano do Paleolítico Médio (250-300 mil anos) (MCBREARTY; BROOKS, 2000).
09- Prof. Juan Armenta Camacho - 1970´s, em prospecção de campo observando o afloramento fossilífero em Valsequillo (STEEN-MCINTYRE, 2008).
105
11- Um fragmento de pélvis mastodonte gravado com figuras de animais. No centro está uma visão de perfil de um mastodonte duas presas, provavelmente RyncotheriumTlascalae. Armenta reuniu evidencias de que o osso foi esculpido antes de sua permineralização, quando ele estava ainda fresco. Outros animais também podem ser vistos nesta perspectiva como o perfil de uma criatura felina, com o que foi interpretado como sendo “lanças cravadas nele”. O Prof. J. Armenta Camacho produziu desenhos das figuras individuais da peça. Novamente, a criatura de gato, e abaixo dela um elefante com suas presas duplas. Abaixo: reprodução parcial das gravuras (ARMENTA CAMACHO, 1978).
106
12- Marcas incontestes de descarne em Osso Ilíaco de eqüídeo encontrado em Hueyatlaco (A). Notar as incisões na altura do músculo obturador interno. Abaixo, ferramentas (furadores) de osso encontradas no sítio de El Horno na área de Valsequillo (B) e outra marca de descarne em osso de Mastodonte (C) (ARMENTA CAMACHO, 1978).
(A)
(B)
(C)
107
13 e 14- Uma das mais importantes evidências de associação entre a mastofauna Pleistocênica extinta e a presença humana na região de Valsequillo, encontrada por Juan Armenta Camacho. Um fragmento do ramo mandibular direito de um Mamute com uma ponta lítica encravada no bordo parasinfisal do osso. Procedente de Arenillas. Vista Oclusal. Abaixo, detalhe da fratura produzida com o impacto.
108
15 – Desenho do perfil estratigráfico10/Bj (1966) por Irwin-Williams do Sítio Hueyatlaco - porção leste. Indicados os locais de coleta de diatomáceas por VanLandinghan. Redesenhado por Steen-McIntyre em março de 2005.
109
16- Cópia do perfil completo (interim trench drawing) do Sitio Huyeatlaco, extensão - 4, Maio de 2004, mensuração originais tomadas por Mike Waters e desenhadas por Hal Malde. Perfis traçados por Virginia Steen-McIntyre Em 4 de Junho de 2004, utilizando Adobe Illustrator em Julho de 2004 – Maio, 2005. As interpretações sedimentológicas foram tomadas em campo através de exame (pro-visional) do contato entre as camadas das trincheiras e a comparação com os dados das trincheiras mais antigas tomados por Fryxell (1973) e Irwin-Williams (1960s). Última Modificação em Janeiro de 2008.
110
17- Perfil Estratigráfico do Sítio (1973) Hueyatlaco, camada 4 - mostrando locais de coleta de Diatomáceas por VanLandinghan para diagnóstico cronológico. Redesenhado por Steen-MacIntyre em abril-Maio de 2005.
111
18 e 19- Dr. Virgínia StennMcIntyre. Segundo seu depoimento, sofreu com muitas formas de perseguição após tentar publicar seu trabalho de datação das camadas tephra em Huyatlaco associadas aos artefatos e aos marcadores bioestratigráficos. Segundo ela, teve de modificar o tema de seu doutoramento, perdeu todo seu financiamento de pesquisa, foi desligada de agencias governamentais nas quais construía carreira como a NATO e a American Geological Survey; perdeu um cargo de professora em uma universidade estadual nos EUA, foi caluniada e proibida voltar a pesquisar o sítio durante 20 anos. Segundo ela ainda, aqueles que seguiram com publicações inverossímeis, porém conservadoras sobre as datas do sítio prosperaram em suas carreiras na arqueologia.
112
20 e 21- Em 1980 Steen-McIntyre consegue publicar seus resultados num trabalho intitulado Approximate Dating of Tephra. Apresentado na NATO Advanced Studies Institute on Tephrochronology, Islândia. Abaixo, exemplo de partículas priroclásticas de vidro que foram analisadas e datadas em 370,000 ±200,000 anos AP pelo método de Hidratação Tephra. Também publicado posteriormente em: STEEN-MCINTYRE, V., FRYXELL R.; MALDE, H.E. Geologic Evidence for Age of Deposits at Hueyatlaco Archaeological Site, Valsequillo, Mexico, Quaternary Research, v. 16, p. 1-17, 1981.
17- Partícula de vidro das camadas tephra de Hueyatlaco contendo vesículas totalmente hidratadas.
113
22- VanLandinghan em 2004 durante abertura de novas trincheiras para coleta de amostras de diatomáceas para datação bioestratigráfica.
23- Amostras de sedimento coletadas em 1964-1973 provindas de Hueyatlaco, Estado de Puebla, México foram abertas e re-datadas. Foram feitas mostras detalhadas da completa camada sedimentar exposta no sítio, incluindo a seção das camas onde se encontrava a indústria lítica, reconhecida por Irwin-Williams (Irwin-Williams 1967, 1978 em Steen-McIntyre et. al. 1981 citado por outras referências).
114
24- Espécies de Diatomácias extintas coletadas em Hueyatlaco nas camadas de ferramentas líticas. Idade mínima (Sangamonian = sensu lato 80,000 - ca. 220,000 anos AP) e máxima (Illinoian = ca. 220,000 - 430,000 anos AP. (VANLANDINGHAN, 2004)
25- Sítio Hueyatlaco durante pesquisas em 2004.
115
26 e 27- Fenocristais de Zircão recolhidos para a datação absoluta de Zircon Fisson Track realizada por Naeser nas camadas tephra em Hueyatlaco - 600,000 ± 340,000 anos AP (2 sigma). Notar também as superfícies e terminações Hiper-intemperizadas (picket-fence hypersthene crystal) indicando idades muito antigas de deposição. 26- Camada estratigráfica: Camada de artefatos bifaciais.
27. Idem. Camada estratigráfica: Tetela brown mud.
116
28- Decoberta das pegadas de Xalnene, impressões em sedimentos vulcânicos perto de Hueyatlaco peça Dra. Silvia Gonzalez da Liverpool University, anunciadas em 2003.
29- Close de uma das trilhas. Após a datação dos estratos em 1,3 M.a por Dalton et. al., as pegadas foram re-interpretadas como artefatos de erosão.
117
30- "Crânio Dorenberg”, coletado ao sul de Puebla, no final de 1800. Datado relativamente por Van Landinghan (Sangamonian = sensu lato 80,000 AP- ca. 220,000 AP. Crânio estava coberto com sedimentos contendo diatomáceas (Reichelt 1899 (1900) apud VanLandingham 2000, 2002a ).
31- Crânio (fragmento supraorbital) de Solorzano e sua correlação anatômica com crânio de Homo erectus (abaixo). Frederico A. Solorzano é pesquisador do Museu Regional de Guadalajara, dependente do Instituto nacional de antropologia e Historia – I.N.A.H., Jalisco, México.
119
2 - Lista bibliográfica pesquisada (parte da amostra referencial) do projeto: O Reducionismo Positivista Na Divulgação Científica da Arqueologia e Paleontologia no Brasil. Sub-projeto: O reducionismo positivista na divulgação de conhecimentos de Paleoantropologia no Brasil. Para exposição da análise comparativa, sobre menção de pesquisas não consensuais com a cosmologia darwinista na divulgação científica da Paleoantropologia no Brasil.
1- ARSUAGA, Juan Luis. El mundo de Atapuerca.
2- ARSUAGA, Juan Luiz. O Colar do Neandertal: em busca dos primeiros pensadores.
3- ARSUAGA, Juan Luiz.MARTÍNEZ, Ignacio. La especie elegida: La larga marcha de la evolución humana.
4- ARSUAGA, Luis Juan. Atapuerca nuestros antecesores.
5- BECHER LOUZADA, Jussara. O Homem Pré- histórico no litoral norte RS, Brasil.
6- BERNARD, Carmen, GRUZINSKI, Serge. História do Novo Mundo.
7- BICHO, Nuno Ferreira. Manual de Arqueologia Pré-Histórica.
8- BIZZO,Nelio. Darwin, do telhado das Américas à teoria da evolução.
9- BOAZ, Noel T. CIOCHON, Russell L. Dragon Bone Hill.
10- BRACE, C.Loring. "Race" is a four-letter word: the genisis of the concept.
11- BRACE, C.Loring. Os Estágios da Evolução Humana.
12- CAVALLI, Luigi Luca ; SFORZA. Genes, Povos e Línguas.
13- CHALINE, Jean. Un million de génerations.
14- DARWIN, Charles. A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais.
15- CHILDE, vere Gordon. Los orígenes da la civilización.
16- CHILDE, Vere Gordon. A Pré - História da Sociedade Européia.
17- CHILDE, Vere Gordon. Introdução a Arqueologia.
18- CORBEY , Raymond and ROEBRUEKS, Wil. Studying Human Origins -Disciplinary History and Epistemology.
19- DAWKINS, Richard. O Relojoeiro cego. A teoria da evolução contra o desígnio divino.
20- DAWKINS, Richard. The God Delusion.
21- DAY, Michael H. O Homem Fóssil.
22- DIAS, Wilson. Origem e destino da Humanidade.
23- DORADO, Miguel Rivera., Lorenzo, Mª Cristina. Arqueologia Americana.
24- EIROA, Jorge Juan. Nociones de Prehistoria general.
25- ETCHEVANE, Carlos. Escrito na Pedra.
26- FOLEY, Robert. Apenas mais uma espécie.
27- FOLEY, Robert. Os humanos antes da humanidade.
28- FUNARI, Pedro Paulo; ZARANKIN, Andrés; STOVEL, Emily. Global Archaeological Theory.
29- VON, KOENINGSWALD, G.H.R.. Neanderthal Centenary 1856-1956.
30- GAMBLE, Clive. In Search of the Neanderthals.
31- GAMLIN, Linda. Aventura Visual – Evolução.
32- GARANGER, José. La Prehistoria En El Mundo.
33- GOODALL, Jane. Harvest for Hope.
34- GOWLETT, John. Arqueología de las primeras culturas. Los albores de la humanidad.
35- GRASSÉ, Pierre-P. El hombre ese dios en miniatura.( ensayo sobre la su historia natural).
36- GUARINELLO, Norberto Luiz. Os primeiros habitantes do Brasil.
37- HOPKINS M, David. Jr.MATTHEWES V, John. SCHWEGER E, Charles. YOUNG B, Steven. Paleoecology of Beringia.
38- LEWIN, Roger. In the age of mankind: A Smithsonian book of human evolution.
39- LEWIN, Roger. Evolução Humana.
40- JABLONKA, Eva . L. A; B. J. Marion. Evolution in Four Dimensions.
41- JOHANSON, Donald ; SHREEVE, James. O filho de Lucy.
42- JOHANSON, Donald et al. From Lucy to Language.
43- JOHANSON, Donald et/al. Lucy The Beginnings of Humankind.
44- KING, Barbara J. The Dynamic Dance.
45- CAVALI-SFORZA. L. Luca; MENOZZI, Paolo; PIAZZA, Alberto. The History and Geography of
120
Human Genes.
46- LANGANEY, André. Os homens:passado, presente, condicional.
47- LAN-PO, Kia. La caverne de l`Home de Pékin.
48- LEAKEY, Richard E. A Evolução da Humanidade.
49- LEAKEY, Richard E. O povo do Lago: o homem: suas origens, natureza e futuro.
50- LEAKEY, Richard E. Origens.
51- LEROI-GOURHAN, André. Mécanique Vivante.
52- LESTEL, Dominique. As Origens Animais da Cultura.
53- LEWIN, Roger. La interpretación de los fósiles.
54- MAIOR, Armando Souto. Anais di I simpósio de pré-história do nordeste brasileiro.
55- MANGINELLI, Piero etal. Homem: Origem e porvir. Hombre: Origen y porvenir. ( vol. 1 ).
56- MARTÍNEZ, Víctor M. Fernández. Arqueología prehistórica de África.
57- MARTINS, Gabriela. Pré-História do Nordeste do Brasil.
58- MEGGERS, Betty J. América pré-histórica.
59- MITHEN, Steven J. A pré-história da mente.
60- MITHEN, Steven. After the Ice.
61- MONDIN, Battista. O homem, quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica.
62- MORRIS, Desmond. O macaco Nu.
63- NEISH, Richard S. Mac. Early man in America.
64- NESTURKH, Mikhail. A Origem do Homem.
65- NIÉSTURJ, M.E. El Origen del Hombre.
66- OOSTERZEE, Penny van. Dragon bones.
67- PICQ, Pascal et Coppens, Yves. Aux Origines de l'humanité.
68- PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros.
69- RASMUSSEN, D. The Origin And Evolution Of Humans And Humanness.
70- RICHERSON, Peter J.; BOYD, Robert. Not By Genes Alone.
71- RICHERSON, Peter J.; BOYD, Robert. The Origin and Evolution of Cultures.
72- RIDLEY, Matt. O que nos faz humanos.
73- RIVET, Paul. As Origens Do Homem Americano.
74- ROMANILLO, Alfonso Moure. Arqueología Del Arte Prehistórico em La Península Ibérica.
75- SANTACANA, Joan; HERNÀNDEZ, Xavier. Enseñanza de la arqueología y la prehistoria. problemas y métodos.
76- SANTOS, Ricardo Ventura; SILVA, Maria Celina Soares de Mello. Inventário Analítico do Arquivo de Antropologia Física do Museu Nacional.
77- SFORZA; CAVALLI. Genes, Peoles, And Languages.
78- SFORZA, et al. The Great Human Diasporas.
79- SHREEVE, James. The Neadertal Enigma.
80- STANFORD, Craig. Como nos Tornamos Humanos. Um estudo da evolução da espécie humana.
81- SUZUKI, Hisashi., HANIHARA, K. Postcranial skeleton of the Minatogawa Man.
82- SYKES, Bryan. As sete filhas de Eva.
83- TENÓRIO, Maria Cristina. Pré-História da Terra Brasilis.
84- THOMPSON, Richard L.; CREMO, Michael A. A história secreta da raça humana.
85- TRIGGER, Bruce G. História do Pensamento Arqueológico.
86- TRINKAUS, Erik et/al. The Neandertals.
87- VIEIRA, WALDO. Our Evolution.
88- WELLS, SPENCER. Deep Ancestry Insid The Genographic Project.
89- WELLS, SPENCER. The Journey Of Man.
90- ZIHLMAN, Adrienne L. The Human Evolution Coloring Book.
3- Lista dos Sítos consultados no continente Americano que apresentam cronologias extremas que comprometem o
paradigma atual da origem, evolução biológica e migração do gênero Homo.
121
(por ordem Cronológica/ datas absolutas aproximadas) _________________________________________________________________________________________
Nome. Descrição Datas absolutas aproximadas
Laguna; Califórnia. Crânio humano -------------------------------------------------------- 17,000 anos AP- BERGER, 1975
Yuha; Califórnia. Esqueleto humano---------------------------------------------26,000 anos AP- STANFORD et al, 1987
Los Angeles; Califórnia. Crânio humano-------------------------------------------------26,000 anos AP - BERGER, 1975
La jolla; Califórnia. Ossos humanos ------------------------------------------ 27,000 anos AP - BADA; HELFMAN, 1975
Otavalo; Equador. Crânio humano ------------------------------------------------------------------------??? GOODMAN, 1981
El Catedral; México. Fogueiras e marcas em ossos ------------------------------- 30,000 anos AP - LORENZO, 1986
La jolla; Califórnia. Ossos humanos ---------------------------------------- 39,000 anos AP – BADA; HELFMAN, 1975
Lewisville; Texas. Paleolíticos ------------------------------------------------------- 40,000 anos AP - ALEXANDER, 1978
Ilha de Santa Barbara; Califórnia. Fogueiras e ferramentas modo I ----------------------- ??? Science News, 1977
La jolla; Califórnia. Ossos humanos ---------------------------------------------------------- 44,000 anos AP - BADA, 1975
Lagoa Bataquitos; Califórnia. Ossos humanos -------------------------- 45,000 anos AP – BADA; HELFMAN, 1975
Del mar; Califórnia. Ossos humanos ---------------------------------------------------48,000 anos AP - BADA et al., 1974
Condado de Witeside; Illinoi. Anel de cobre ------------------------------------------- 50,000 anos AP - DUBOIS, 1871
Shegiandah; Canadá. Paleolíticos -------------------------------------------------------- 60 a 120,000 anos AP - LEE, 1972
Sunnyvale; Califórnia. Ossos humanos ---------------------------------------------- 70,000 anos AP - BADA et al., 1975
Timlin; Nova York. Paleolíticos -------------------------------------------------------------70,000 anos AP - RAEMISH, 1977
Old Crow River; Canadá. Marcas em ossos -------------------------------------------- 80,000 anos AP - MORLAN, 1986
Boqueirão do Sitio da Pedra Furada; Brasil ---------------------30 a 100,000 anos AP GUIDON; DELIBRIAS, 1986
Trenton; New Jersey. Ossos humanos ------------------------------------------------------100,000 anos AP - VOLK, 1911
Black’s Fork River; Wyoming. Paleolíticos ----------------------------------- 120 a 180,000 anos AP - RENAUD, 1940
Toca da Esperança; Brasil --------------------------------------------- 200 a 300,000 anos AP - DE LUMLEY et al., 1988
Calico; Califórnia ----------------------------------------------------------------------200,000 anos AP – SIMPSON et al., 1986
Caverna Sandia; Novo México. Paleolíticos ---------------------- 250,000 anos AP - Smithsonian, 1928, v.99 n.23
Hueyatlaco; México. Paleolíticos ------------------------------------------- 250,000 anos AP - STEEN-MCINTYRE, 1981
El Horno; México. Paleolíticos -------------------------------------- 280 a 350,000 anos AP – STEEN-MCINTYRE, 1981
Lawn Ridge; Illinois. Objeto metálico -------------------------------------------- 200 a 400,000 anos AP - DUBOIS, 1871
Anza-Borrego; Califórnia. Marcas em ossos -------------------------------- 300 a 750,000 anos AP - GRAHAM, 1988
Buenos Aires; Argentina. Crânio humano ----------------------1 a 1,5 milhões de anos AP - AMEGHINO, F., 1909
122
Monte Hermoso; Argentina. Ferramentas líticas ------------------1 a 2,5 milhões de anos AP - HRDLICKA, 1912
Miramar; Argentina. Mandíbula humana -------------------------------------2 a 3 milhões de anos AP - BOMAN, 1921
Miramar; Argentina. Ferramentas líticas, paleolíticos -------------- 2 a 3 milhões de anos AP - ROTH et. al., 1915,
BOMAN, 1921 e AMEGHINO, C., 1914
Miramar; Argentina. Fogueiras, Terra cozida ------------------------- 2 a 3 milhões de anos AP - HRDLICKA, 1912
Monte Hermoso; Argentina. Ferramentas líticas, paleolíticos, vértebra humana, ossos queimados, terra cozida
---------------------------------------------------------------------------------3 a 5 milhões de anos AP - AMEGHINO, F., 1888
***