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T^-WBS^ySmW^L^ ANTES QUE GAZES... FIM. v. ¦> VI. «^WÍlaSt fil uras então que me amas ? ²Juro. ²Até á morte ? ²Até á morte! ²Também eu te amo, minha querida Angela, não r~.v de hoje, mas ha muito, apezar dos teus desprezos... -Oh! ²Não direi desprezos, mas indifferença... Oh! mas tudo vae; agora somos dois corações ligados para sempre. ²Para sempre! N'este ponto ouvio-se um rumor na casa de Angela. ²Que é ? perguntou Alfredo. Angela quiz fugir. ²Nao fujas! ²Mas... ²Não é nada; algum criado... ²Se dessem por mim aqui 1 ²Tens medo? ²Vergonha. X# XIII.— Setembro de 1875.,()

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ANTES QUE GAZES...

FIM.

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VI.

«^WÍlaSt

filuras então que me amas ?

Juro.Até á morte ?Até á morte!Também eu te amo, minha querida Angela, não

r~.v de hoje, mas ha muito, apezar dos teus desprezos...-Oh!

Não direi desprezos, mas indifferença... Oh! mas tudo lá vae;

agora somos dois corações ligados para sempre.Para sempre!

N'este ponto ouvio-se um rumor na casa de Angela.Que é ? perguntou Alfredo.

Angela quiz fugir.Nao fujas!Mas...

Não é nada; algum criado...Se dessem por mim aqui 1Tens medo?Vergonha.

X# XIII.— Setembro de 1875. ,()

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258 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

A noite encobrio a mortal pallidez do namorado.Vergonha de amar! exclamou elle.Quem te diz isso ? Vergonha de me acharem aqui, expondo-me ás

calumnias, quando nada impede que tu...Alfredo reconheceu a justiça.Nem por isso deixou de metter a mão nos cabellos com um gesto de

afflicção trágica, que a noite continuava a encobrir aos olhos da formosaviuva.

Olha! o melhor é vires á nossa casa. Autoriso-te a pedir a minhamão.

Com quanto ella já houvesse indicado isto nas cartas, era a primeiravez que formalmente o dizia. Alfredo vio-se transportado ao sétimo céo.Agradeceu a autorisaçâo que lhe dava e respeitosamente beijou-lhe amão.

Agora, adeus!Ainda não! exclamou Alfredo.Que imprudência!.Um instante mais!Ouves? disse ella prestando o ouvido ao rumor que se fazia na

casa.Alfredo respondeu apaixonada e litterariamente :

Não é a calhandra, é o rouxinol!E a voz de minha tia! observou a viuva prosaicamente. Adeus...Uma ultima cousa te peço antes de ir á tua casa.Queé?

Outra entrevista n'este mesmo lugar.Alfredo!

Outra e ultima.Angela não respondeu.

Sim?Não sei, adeus!

E libertando a sua mão das mãos do namorado que a retinha comforça, Angela correu para casa.

Alfredo ficou triste e alegre ao mesmo tempo.Ouvira a doce voz de Angela , tivera nas suas a sua mão alva e macia

como velludo, ouvira jurar que o amava, emfim estava autorisado a pe-dir-lhe solemnemente a mão.A preoccupação porem da moça a respeito do que pensaria a tia affi-

gurou^se lhe extremamente prosaica. Quizera vel-a toda poética, embe*

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 259

bida no seu amor, esquecida do resto do mundo, morta para tudo o quenão fosse o bater do seu coração.

A despedida sobretudo pareceu-lhe repentinamente demais. O adeus

foi antes de medo que dç amor; não se despedio, fugio. Ao mesmo tempo

esse sobresalto era dramático e interessante; mas porque não conceder-

lhe segunda entrevista?Em quanto elle fazia estas reflexões, Angela pensava na impressão que

lhe teria deixado e na magoa que por ventura lhe ficara da recusa de

uma segunda e ultima entrevista.Reflectio longo tempo e resolveu remediar o mal, se mal se podia

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aquillo chamar.No dia seguinte, logo cedo, recebeu Alfredo um bilhetinho da namo-

rada.Era um protesto de amor , com uma explicação da fuga da véspera e

uma promessa de outra entrevista na seguinte noite , depois da qual elleiria pedir-lhe officialmente a mão.

Alfredo exultou.N'esse dia a natureza pareceu-lhe melhor. 0 almoço foi excellente ape-

zar de lhe terem dado um filet tao duro como sola e de estar o chá friocomo agua. O patrão nunca lhe pareceu mais amável. Todas as pessoasque encontrava tinham cara de excellentes amigos. Emfim , ate o criado

ganhou com os sentimentos alegres do amo : Alfredo deu-lhe uma boamolhadura pela habilidade com que lhe escovara as botas, que, entre pa-renthesis, nem sequer levavam graxa.

Verificou-se a entrevista sem nenhum incidente notável. Houve os cos-tumados protestos :

Amo te muito !'-Eeu!

• — És um anjo 1Seremos felizes.Deus nos ouça!Ha de ouvir-nos.

* Estas e outras palavras foram o estrebilho da entrevista que durouapenas meia hora.

N'essa oceasião Alfredo desenvolveu o seu systema de vida, a maneira

por que elle encarava o casamento, os sonhos de amor que haviam rea-lisar, e mil outros artigos de um programma de namorado, que a moçaouvio e applaudio.

Alfredo despedio-se contente e feliz.

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260 JORNAL DAS FAMÍLIAS.A noite que passou foi a mais deliciosa de todas. O sonho tjue elle

procurara durante tanto tempo ia emfim realisar-se; amava a uma mu-lher eomo elle a queria e imaginava. Nenhum obstáculo se offerecia ásua ventura na terra.

No outro dia de manhã entrando no hotel, encontrou o amigo Tibur-cio; e referio lhe tudo. O confidente felicitou o namorado pelo triumphoque alcançara e deu-lhe logo um aperto de mão , não podendo dar-lhe,como quizera, um abraço.

Se soubesses como vou ser feliz!Sei.Que mulher! que anjo !Sim! ó bonita.Nào é só bonita. Bonitas ha muitas. Mas a alma, a alma que ella

tem, a maneira de sentir, tudo isso e mais, eis o que faz uma creaturasuperior.

Quando será o casamento ?Ella o dirá.Ha de ser breve.Dentro de tres a quatro mezes^

Aqui fez Alfredo um novo hymno em louvor das qualidades eminen-tes e raras da noiva e pela centésima vez defendeu a vida romanesca e ideal.Tiburco observou gracejando que era-lhe necessário primeiro supprimiro bife que estava comendo, observação que Alfredo teve a franqueza deachar descabida e um pouco tola.A conversa porem não teve incidente desagradável e os dois amigos sepa-ronr.orno 'ames. __, sem que „ „„ivo agradeceS8e ao ...^a animação que lhe dera nos peiores dias do seu amor.Emfim, quando a vás pedir!Amanhã.

Coragem !

VII.

Não é minha intenção nem vem ao caso referir ao leitor todos os enisodios do amor de Alfredo Tavares. PAté aqui foi necessário contar alguns e resumir outros. Agora aue nnamoro chegou ao seu termo e que o periodo rir, nlT ?não quero fatigar a attenção do li. ^

Vae COmeçar>va.ioc.a_eap___.a **""" '" ""** «» ™>>u_,a

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 261

Justamente tres mezes depois da segunda entrevista recebiam-se osdois noivos, na egreja da Lapa, em presença de algumas pessoas intimas,entre as quaes o confidente de Alfredo, um dos padrinhos. 0 outro era o

primo de Angela, de quem fallára o cocheiro de tilbury , e que até agoranâo appareceu n'estas paginas por não ser preciso. Chamava-se Epami-mondas e tinha a habilidade de desmentir o padre que tal nome lhe dera,

pregando a cada instante a sua peta. A circumstancia não vem ao caso e

por isso não insisto n'ella.Casados os dois namorados foram passar a lua de mel na Tijuca, onde

Alfredo escolhera casa adequada ás circumstancias e ao seu gênio poético.Durou um mez esta ausência da corte. No trigesimo primeiro dia, An-

gela vio annunciada uma peça nova no Gymnasio e pedio ao marido paravirem á cidade.

Alfredo objectou que a melhor comedia d'este mundo não valia o aro-ma das laranjeiras que estavam florindo e o melancólico som do repuxodo tanque. Angela encolheu os hombros e fechou a casa.

Que tens, meu amor? perguntou-lhe d'ahi a vinte minutos o ma-rido.

Angela olhou para elle com um gesto de lastima, ergueu-se e foi encer-rar-se na alcova.

Dois recursos restavam a Alfredo.Io Cocar a cabeça.2o Ir ao theatro com a mulher.Alfredo curvou-se a estas duas necessidades da situação.Angela recebeu-o muito alegremente quando elle lhe foi dizer que

iriam ao theatro.Nem por isso, acerescentou Alfredo, nem por isso deixo de sentir

algum pezar. Vivemos tão bem estes trinta dias.Voltaremos para o anno.Para o anno!Sim, alugaremos outra casa.Mas então esta?...Esta acabou. Pois querias viver n'um desterro?Mas eu pensei que era um paraiso, disse o marido com ar melan-

eólico.Paraiso é cousa de romance.

A alma de Alfredo levou um trambolhão. Angela vio o effeito produ-zido no esposo pelo seu reparo e procurou suavisar-lh'o dizendo-lhe algu-mas cousas bonitas com que elle algum tanto mitigou as suas penas.

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262 JORNAL DAS FAMÍLIAS.Olha, Angela, disse Alfredo, o casamento, como eu imaginei sem-

pre, é uma vida solitária e exclusiva de dois entes que se amam... Sere-mos nós assim?

Porque não ?Juras então...Que seremos felizes.

A resposta era elástica. Alfredo tomou-a ao pé da lettra e abraçou amulher.

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N'aquelle mesmo dia vieram para a casa da tia e foram ao theatro.A nova peça do Gymnasio aborreceu tanto o marido quanto agradou

á mulher. Angela parecia fora de si de contente. Quando cahio o pannono ultimo acto, disse ella ao esposo :Havemos de vir outra vez.Gostaste?Muito. E tu?Não gostei, respondeu Alfredo com evidente máo humor.

Angela levantou os hombros, com o ar de quem dizia :Gostes ou não, has de cá voltar.E voltou.Este foi o primeiro passo de uma carreira que parecia não acabar maisAngela era um turbilhão.A vida para ella estava fora da casa. Em casa morava a morte, sob afigura do aborrecimento. Não havia baile a que faltasse, nem espectaculonem passem, nem festa celebre, e tudo isto cercado de muitas rendas'z;;»rue elia mmfma Mm °s fc- ~» - • *¦*»«

m«^fif7"a"Se P°r ,ttrahir a mulher 4 esPh™ d°» «" senti-mentos românticos; mas era esforço vão.Com um levantar de hombros, Angela respondia a tudo.Alfredo detestava principalmente os bailes, porque era quando a mnlher uteoos lhe pertencia, sobretudo os bailes dedos em casa ÍeAs observações que elle fazia „*esSe sentido , Auge., respondia sen,-

me™MC0b''iga{8eSdCS0CWade; Se e" **—" <™.*,.Mas nem todos...Nem todos conhecem os seus deveres.Oh! vida solitária, Angela! a vida para dois!A vida não é um jogo de xadrez.

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JORNAL DAS FAMILIAS. 263

Nem um arraial.Que queres dizer com isso ?Nada.Pareces tolo.Angela!Ora!

Levantava os hombros e deixava-o sosinho.Alfredo era sempre o primeiro a fazer as pazes. A influencia que a

mulher exercia n'ella não podia ser mais decisiva. Toda a energia estava

com ella; elle era litteralmente um fâmulo da casa.

Nos bailes a que iam, o supplicio alem de ser grande em si mesmo,

era augmentado com os louvores que Alfredo ouvia fazer á mulher.Lá está Angela, dizia um.

Quemé?JÉ aquella de vestido azul.A que se casou ?Pois casou?Casou, sim.Com quem?Com um rapaz bonachão.Feliz mortal!Onde está o marido?Caluda 1 está aqui: é este sujeito triste que está concertando a gra-

vata... ri -ein •Estas e outras considerações irritavam profundamente Alfredo. Elle via

que era conhecido por causa da mulher. A pessoa d'elle era uma espécie

de cifra. Angela é que era a unidade.Não havia meio de se recolher cedo. Angela entrando n'um baile só se

retirava com as ultimas pessoas. Cabia-lhe perfeitamente a expressão que

o marido empregou n'um dia de máo humor : .

Tu espremes um baile até o bagaço.Ás vezes estava o mísero em casa, descançando e alegremente conver-

sando com ella, abrindo todo o panno á imaginação. Angela, ou por

aborrecimento, ou por desejo invencível de passear, ia vestir-se e convi-

dava o marido a sahir. O marido já não recalcitrava; suspirava e vestia-

se. Do passeio voltava elle aborrecido, e ella alegre, alem do mais porquenão deixava de comprar um vestido novo e caro, uma jóia , um enfeite

qualquer,Alfredo não tinha forças para reagir.

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JORNAL DAS FAMÍLIAS.O menor desejo de Angela era para elle uma lei de ferro; cumpria-a

por gosto e por fraqueza.N'esta situação, Alfredo sentio necessidade de desabafar com alguém

Mas esse alguém não apparecia. Não lhe convinha fallar ao Tiburcio pornão querer confiar a um estranho, embora amigo, as suas zangas conju-gaes. A tia de Angela parecia apoiar a sobrinha em tudo. Alfredo lem-brou-se de pedir conselho a Epaminondas.

VIII.

Epaminondas ouvio attentamente as queixas do primo. Achou-as exa-geradas e foi o menos que lhe podia dizer, porque no seu entender eramverdadeiros despropósitos.O que você quor é realmente impossivel.Impossível ?

De certo. A prima está moça, quer naturalmente divertir-se Por-que razão ha de viver como freira ?Mas eu não peço que viva como freira. Quizera vel-a mais de casarditra «—«*-•» *->*. * JcQue tal?...

Epaminondas recolheu-se a um eloqüente silencio.Alfredo esteve tambem algum tempo calado.Emfim :

~ml^rmi^^'^^ **.- Mas enião devo viver eternamente n'isto!

Esta brincando...

Imagino. Carne da Sua carne> tew um ataque.-Bois diaad«PoÍ8eIpi™derem„r30,Nlofaçala|;ii,oirriieiima

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 265

mulher. Dê tempo ao tempo. A velhice hade cural-ae trazel-aa costumes

pacificos.Alfredo fez um gesto de desespero.

Socegue. Tambem eu fui assim. Minha finada mulher...Era do mesmo gosto ?Do mesmissimo. Quiz contrarial-a. Ia-me custando a vida.Sim?Tenho aqui entre duas costellas uma cicatriz larga; foi uma cani-

vetada que Margarida me deu estando eu a dormir muito tranquilla-

mente.Que me diz?A verdade. Mal tive tempo de lhe segurar no pulso e arrojal-a para

longe de mim. A porta do quarto estava fechada com o trinco mas foi

tal a força com que a empurei que a porta se abrio e ella foi parar ao fim

da sala.*-Ah!Alfredo lembrou-se a tempo do sestro do primo e deixou-o fallar a

gosto. Epaminondas engendrou logo alli um ou dois capitulos de romance

sombrio e ensangüentado. Alfredo aborrecido deixou-o só.Tiburcio éncontrou-o algumas vezes cabisbaixo e melancólico. Quiz

saber da causa, mas Alfredo conservou prudente reserva.A esposa deu ampla liberdade aos seus caprichos. Fazia recepções todas

as semanas, apezar dos protestos do marido, que no meio da sua magoa,

exclamavajjMas então eu não tenho mulher! tenho uma locomotiva!

Exclamação que Angela ouvia sorrindo sem lhe dar a minima resposta.

Os cabedaes da moça eram poucos ; as despezas muitas. Gom as mil

cousas em que se gastava o dinheiro não era possivel que elle durasse

toda a vida. Ao cabo de cinco annos, Alfredo reconheceu que tudo estava

perdido.A mulher sentio dolorosamente o que elle lhe contou.

Sinto isto deveras, acerescentou Alfredo; mas a minha consciência

43stá tranquilla. Sempre me oppuz a despezas loucas...Sempre ?Nem sempre, porque te amava e amo, e doia-me ver que ücavas

triste; mas á maior parte d'ellas oppuz-me com todas as forças.E agora?Agora precisamos ser econômicos; viver como pobres.

Angela curvou a cabeça.T. XIII. 9>

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266 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

Seguio-se ura grande silencio.O primeiro que o rompeu foi ella.

É impossivel 1, —Impossível o que?

A pobreza.Impossivel, mas necessária, disse Alfredo com philosophica tristeza.Não é necessária; eu hei de fazer alguma cousa; tenho pessoas de

amizade.Ou um Potosi...

Angela não se explicou mais; Alfredo foi para a casa de negocio queestabelecera, não descontente com a situação.

Não estou bem, pensava elle; mas ao menos terei mudado a minhasituação conjugai.

Os quatro dias seguintes passaram sem movidade.Houve sempre uma novidade.Angela estava muito mais carinhosa com o marido do que até então.

Alfredo attribuia esta mudança ás circumstancias actuaes e agradeceu aboa estrella que tão venturoso o tornara.

No quinto, dia Epaminondas foi fallar a Alfredo propondo-lhe ir pedirao governo uma concessão e privilegio de minas em Matto-Grosso.

Mas eu não me metto em explorador de minas.Perdão; vendemos o privilegio.Está certo d'isso ? perguntou Alfredo tentado.Certíssimo.

E logo :Temos alem d'isso outra empreza : uma estrada de ferro no Piauhy

Vende-se a empreza do mesmo modo.Tem elementos para ambas as cousas ?

—¦ Tenho.Alfredo reflectio.

Acceito.Epaminondas declarou que alcançaria tudo do ministro. Tantas cousas

disse que o primo, sabedor dos carapetões que elle pregava começou adesconfiar.Errava d'esta vez.Pela primeira vez Epaminondas fallava verdade; tinha elementos paraalcançar as duas emprezas.Angela não perguntou ao marido a causa da preoccupação com queelle n esse dia entrou na casa. A idea de Alfredo era occultar tudo á mu-

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 267

lher, pelo menos em quanto pudesse. Confiava no resultado dos seus

esforços para trazel-a a melhor caminho.Os papeis andaram com uma promptidão rara em cousas análogas.

Parece que uma fada bemfazeja se encarregava de adiantar o negocio.

Alfredo conhecia o ministro. Duas vezes fora convidado para lá tomar

chá e tivera alem d'isso a honra de o receber em casa algumas vezes.

Nem por isso julgava ter direito á prompta solução do negocio. 0 nego-

cio porem corria mais veloz que uma locomotiva.Não se haviam passado dois mezes depois da apresentação do memorial

quando Alfredo ao entrar em casa foi sorprehendido por muitos abraços

e beijos da mulher.Que temos? disse elle todo risonho.

Vou dar-te um presente :-Um presente?Que dia é hoje?Vinte e cinco de março.Fazes annos.Nem me lembrava.Aqui está o meu presente.

Era um papel.Alfredo abrio o papel.Era o decreto de privilegio das minas.Alfredo ficou litteralmente embasbacado.

Mas como veio isto?...Quiz causar-te esta sorpreza. O outro decreto ha 'de vir de aqui a

oito dias.* — Mas então sabia que eu ?

Sabia tudo.Quem te disse?...

Angela tibubeou.Foi,., foi o primo Epaminondas.

A explicação satisfez Alfredo durante tres dias.

No fim d'esse tempo abrio um jornal e leu com pasmo esta mofina :

« Mina de caroço'>« Com que então os coffres públicos já servem para nutrir o fogo no

coração dos ministros. ."«-Quempergunta quer saber. ^

Alfredo rasgou o jornal no primeiro ímpeto -.

Depois... /

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268 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

IX.

Mas em summa que tens? disse Tiburcio ao ver que Alfredo não seatrevia a fallar.

0 que tenho? Fui á cata de poesia e acho-me em prosa chata ebaixa. Ah! meu amigo quem me mandou seguir pela rua da Quitanda?

B. 13.

*

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A MAGOA DO INFELIZ COSME.

FIM.

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(.»|- mm

liveira continuou a examinar o alfinete. De re-

pente exclamou :Ah! .

Queé?Lembra-me ainda outra çircumstancia disse

Oliveira. Eu já sabia que este alfinete tinha sidocomprado pelo senhor.

Disse-lh'o ella ?Não, minha irmã. Um dia em que aqui estivemos, minha irmã vio

este alfinete no peito de D. Carlota, e gabou-o muito. Elle disse-lhe então

que o senhor lh'o dera um dia em que foram á rua dos Ourives, e ellaficara encantada com esta jóia... Se soubesse como eu praguejei n'essaoceasiao contra o senhor !

Nao lhe parece muito bonito?Oh! lindissimo !Ambos nos gostámos muito d'elle. Pobre Carlota! Nem por isso

deixava de amar a simplicidade. A simplicidade era o seu principal dote;este alfinete, de que tanto gostava,, só o poz duas vezes, creio eu. Umdia altercamos por causa d'isso ; mas já se vê altercação de namorados.Eu disse-lhe que era melhor não comprar jóias, se ella as não havia detrazer e acerescentei, brincando, que me daria muito gosto, se mostrasse

**..

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270 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

que tinha bens da fortuna. Gracejos, gracejos, que ella ouvia a rir e aca-

bavamos ambos alegres... Pobre Garlota !Durante esse tempo, Oliveira contemplava e admirava o alfinete, com

o coração palpitante, como se tivesse alli um pedaço do corpo que se

fora. Gosme olhava attentamente para elle. Seus olhos faiscavam ás vezes;

outras vezes pareciam apagados e sombrios. Seriam ciúmes posthumos ?

O coração do viuvo adivinharia o amor culpado, ainda que respeitoso do

amigo?Oliveira sorprendeu o olhar do infeliz Gosme e promptamente lhe cn-

tregou o alfinete.Ella queria muito a sua irmã, disse o desventurado viuvo depois de

alguns instantes de silencio.Oh 1 muito!Conversávamos muita vez a respeito d'ella... Tinham a mesma

edade, penso eu?D. Carlota era mais moca dois mezes.

— Pode-se dizer que era a mesma idade. Ás vezes pareciam-me duascreanças. Quantas vezes ralhei graciosamente com ambas; riam-se ezombavam de mim. Se soubesse com que satisfação as via eu brincar !Nem por isso era Garlota menos grave, e sua irmã também, quando con-vinha que o fossem. .

O infeliz Gosme continuou assim a elogiar ainda uma vez os dotes dafinada esposa, com a differença que d'esta vez, acompanhava o discursocom movimentos rápidos do alfinete que tinha na mão. Um raio do solpoente vinha brincar na pedra preciosa , donde Oliveira quasi não podiaarrancar os olhos. Com os movimentos que lhe dava a mão de Cosme,parecia a Oliveira que o alfinete era uma cousa viva, e que parte da almade Garlota alli brincava e sorria para ella.

O infeliz Gosme interrompeu os louvores que fazia á amada do seucoração e olhou também para o alfinete.

É realmente bonito ! disse elle.Oliveira olhava para o alfinete, mas vira mais do que elle, via a moça;

não admira pois que respondesse machinalmente :Oh! divino !É pena que tenha este defeito...Não vale nada, acudio Oliveira.

A conversa proseguio ainda algum tempo a respeito do alfinete e dasvirtudes da finada Garlota. A prosa veio interromper essas doces effusôesdo coração de ambos. Gosme annunciou que provavelmente sahia no

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 271

dia seguinte para recomeçar a lida, mas já sem o animo que tivera nos

tres annos anteriores.Todos nós, disse elle, ainda os que nao somos poetas, precisamos

de uma musa.Separáram-se pouco depois.O infeliz Gosme não quiz que o amigo fosse sem levar uma lembrança

da pessoa a quem tanto estimara, e que o presava deveras. .Tome lá, disse o infeliz Gosme, tome esta flor da grinalda com que

ella se casou; leve esta outra para sua irmã.Oliveira quiz beijar as mãos do amigo. Gosme recebeu-o nos braços.

Nenhuma lembrança dei ainda a ninguém observou o viuvo depois

de apertar nos braços; nem sei se alguém receberá, tanto como estas quelhe acabo de dar. Eu sei distinguir os grandes amigos dos amigos com-

M

muns.

VI.

Oliveira sahio da casa de Gosme com a alegria de um homem que aca-

basse de tirar a sorte grande. De quando em quando tirava as duas flo-

res seccas, quasi desfeitas, mettidas n'uma caixinha, e olhava para ellas e

tinha Ímpetos de as beijar.Ohl posso fazel-o 1 exclamava elle comsigo. Não me punge nenhum

remorso. Saudades, sim, e muitas, mas respeitosas como foi o meu amor.

Depois.Infeliz Gosme! Como elle a ama! Que coração de ouro! Para

aquelle homem já não ha gozos na terra. Ainda que não fosse seu amigo

de longo-tempo. A affeiçãò que elle ainda hoje teve á sua pobre esposa

era bastante para que o adorasse. Bem haja o céo que me poupou um

remorso!No meio d'estas e outras reflexões Oliveira chegou a casa. Então

beijou á vontade as flores da grinalda de Carlota, e acaso verteu sobre

ellas uma lagrima, depois de que foi levar á irmã a flor que lhe pertencia.N'essa noite teve sonhos de ouro.No dia seguinte estava a almoçar quando recebeu uma carta de Cosme.

Abrio-a com a sofreguidáo própria de quem se achava ligado aquelle

homem por tantos laços.Não vem só a carta, disse o escravo.Que ha mais ?

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272 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

— Esta caixinha.Oliveira leu a carta.A carta dizia < -

c( Meu bom e leal amigo,« Vi hontem o enthusiasmo que lhe causou o alfinete que desejava dar

a sua irmã e que eu tive a fortuna de comprar primeiro.« Tanta affeição lhe devo que não posso nem quero prival-o do prazer

de offerecer essa jóia a sua interessante irmã.« Apesar das circumstancias em que ella se acha nas minhas mãos,

reflecti, e entendi que devo obedecer ao desejo de Carlota.« Cedo-lhe a jóia, não pelo custo, mas com dez por cento de differença.

Não vá imaginar que lhe faço um obséquio o abatimento é justo.« Seu infeliz amigo.

« Cosme. »

Oliveira leu a carta tres ou quatro vezes. Ha fundadas razões para crerque não almoçou n'esse dia.

JOB.

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A ULTIMA RECEITA

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ÇO .7%"-'"¦''^PilÈifc ¦¦¦¦¦*

viuva Lemos adoecera; uns dizem que dos nervos, ou-

tros que de saudades do marido. Fosse o que fosse, a

verdade é que adoecera, em certa noite de setembro, ao

regressar de um baile. Morava ;então no Andarahy, em

companhia de uma tia surda e devota. A doença não

parecia cousa de cuidado; todavia era necessário fazer

alguma cousa. Que cousa seria? Na opinião da tia um

cozimento de althéa e um rosário a não sei que santo do

ceoeramVemediosinfalliveis.D. Paula (a viuva) não

contestava a efíicacia dos remédios da tia, mas opinava por um medico.

Chamou-se um medico. *Havia justamente na vizinhança um medico, formado de pouco, e re-

cente morador na localidade. Era o Dr. Avellar, sujeito de boa presença,assaz elegante e medico feliz. Veio o Dr. Avellar na manhã seguinte,

pouco depois das oito horas. Examinou a doente e reconheceu que a mo-

lestia não passava de uma constipação grave. Teve entretanto a prudênciade não dizer o que era, como aquelle medico da anecdota do bicho no

ouvido, anecdota que o povo conta, e que eu contaria tambem , se me

sobrasse papel.

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274 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

0 Dr. Avellar limitou-se a torcer o nariz quando examinou a enferma,

e a receitar dois ou tres remédios, dos quaes só um era útil; o resto figu-

rava no fundo do quadro.D. Paula tomou os remcdios como quem não queria deixar a vida.

Havia mão. Apenas dois annos fora casada, e contava apenas vinte e

quatro annos. Havia já treze mezes que lhe morrera o marido. Apenasentrara no pórtico do matrimônio.

A esta circumstancia é justo accrescentar mais duas; era bonita e tinhaalguma cousa de seu. Tres razoes para agarrar-se á vida como o naufragoa uma taboa de salvação.

Uma única razão haveria para que ella aborrecesse o mundo : era setivesse realmente saudades do marido. Mas não tinha. O casamento foraum arranjo de familia e d'elle proprio; Paula acceitcu o arranjo sem mur-murar. Honrou o casamento, mas não deu ao marido nem estima nemamor. Viuva dois annos depois, e ainda moça, é claro que a vida paraella começava apenas. A idéa de morrer seria para ella, não só a maiorde todas as calamidades, mas tambem a mais desastrada de todas astolices.

Não quiz morrer nem o caso era de morte.Os remédios foram tomados pontualmente ; o medico mostrou-se assi-

duo; dentro de poucos dias, tres a quatro, estava restabelecida a interes-sante enferma.

De todo?Não.Quando o medico voltou no quinto dia, achou-a sentada na sala, en-

volvida em grande roupão, com os pés n'uma almofada, o rosto extre-mamente pallido, e muito mais ainda por causa da pouca luz.

O estado era natural em quem se levantava da cama; mas a viuvinhaallegou ainda umas dores de cabeça, a que o medico chamou nevralgia,e uns tremores, que foram classificados no capitulo dos nervos.

Serão graves moléstias? perguntou ella. ¦.-*¦ Oh! não, minha senhora; respondeu Avellar; são achaques abor-

recidos, mas não graves, e geralmente próprios de doentes formosas.Paula sorrio com um ar tão triste que fazia duvidar do prazer com queouvio estas palavros do medico.

Dá me porem remédios, não? perguntou ella.Sem duvida.

Avellar receitou eífectivamente alguma cousa e prometteu voltar no diaseguinte.

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 275

A tia era surda, como sabemos, não ouvia nada da conversa entre os

dois Mas não era tola; começou a reparar que a sobrinha ficava mais

doente quando se aproximava a chegada do medico. Alem d'isso nutria

duvidas serias acerca da applicação exacta dos remédios. O certo é porem

que Paula, tão amiga de bailes e passeios, parecia realmente doente por-

que não sahia de casa.Notou egualmente a tia que, pouco antes da hora do medico, a sobri-

nha fazia uma applicação mais copiosa de pó de arroz. Paula era mo-

rena; ficava muito branca. A meia luz da sala, os chalés, o ar mórbido,

tornavam-lhe a pallidez extremamente verosimil.

A tia não parou n'esse ponto; foi ainda alem. Não era medico o Avel-

lar? Naturalmente devia saber se realmente estava enferma a viuva. Inter-

rogado o medico, asseverou que a viuva estava muito mal, e prescreveu-

lhe o mais absoluto repouso.Tal era a situação da enferma e do facultativo.

Um dia em que este entrou achou-a folheando um livro. Estava com a

pallidez de costume e o mesmo ar abatido.Como vae a minha doente ? disse familiarmente o Dr. Avellar.

Mal.Mal?Horrorosamente mal... Que lhe parece o pulso .

Avellar examinou-lhe o pulso.Regular, disse elle. A tez está um tanto pallida, mas os olhos pare-

cem bons... Houve algum ataque ?Não; mas sinto-me desfallecida.Deu o passeio que lhe aconselhei ?Não tive animo.Fez mal. Não passeou e está lendo...Um livro innocente.Innocente ?

medico pegou no livro e examinou-lhe a lombada.

Um livro diabólico ! disse elle atirando-o para cima da mesa.

uZll poeta, livro para namorados, minha senhora, que é uma. • • -KiTtr. aa miram piles: ou raramente se curam ;

casta de doentes terras. Nao ««-- el s

mas ha peior, que é adoecerem os sãos. Feço-ine íi.euv v

° -üma distracção! murmurou Paula com uma doçura capa, de veneer

um tyranno. ,

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276 JORNAL DAS FAMÍLIAS. .

Mas o medico mostrou-se firme. aUma perversão, minha senhora! Em ficando boa pode ler se quizer

todos os poetas do século; antes, não.Paula ouvio esta palavras com singular, mas disfarçada alegria.

Parece-lhe então que estou muito doente ? disse ella.Muito, não digo; tem ainda, um resto de abalo que só pode desap-

parecer com o tempo e um regimen severo.Severo de mais.Mas necessário...Duas cousas lastimo sobre todas.

: — Quaes?A pimenta e o café.Oh!

É o que lhe digo. Não tomar café nem pimenta é o limite da pa-ciência humana. Quinze dias mais d'este regimen ou desobedeço ouexpiro.

N'esse caso, expire, disse Avellar sorrindo.Acha melhor ?Acho egualmente máo. O remorso, porem, será meu só, em quanto

que se V. Exc. desobedecer terá os seus últimos instantes amarguradospor um tardio arrependimento. Melhor é morrer victima que culpada.

Melhor é não morrer nem culpada'nem victima.N'esse caso não tome pimenta nem café.

A leitora que acaba de ler esta conversa, admirar-se hia muito se vissea nossa doente n'esse mesmo dia ao jantar : teve pimenta á farta e bebeuexcellente café no fim. Não admira porque era o seu costume. A tia admi-rava-se com razão de uma doença que consentia taes liberdades; a so-brinha não se explicava cabalmente a este respeito.

Choviam convites de jantares e bailes. A viuvinha recusava-os todospor causa do seu máo estado de saude.

Foi uma verdadeiro calamidade.Entraram a chover as visitas e bilhetes. Muitas pessoas achavam que adoença devia ser interna, muito interna, profundamente interna , visto

que lhe não appareciam signaes no rosto. Os nervos (eternos calumnia-dos!) foram a explicação que geralmente se deu á singular moléstia damoça.

Tres mezés correram assim , sem que a doença de Paula cedesse umalinha aos esforços do medico. Os esforços do medico não podiam sermaiores; de dois em dois dias uma receita. Se a doente se esquecia do

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 277

seu estado e entrava a fallar e a corar como quem tinha saude, o medico

era o primeiro a lembrar-lhe o perigo, e ella obedecia logo entregando-

se á mais prudente inacção.Ás vezes zangava-se.

Todos os senhores são uns bárbaros, dizia ella.Uns bárbaros... necessários, respondia Avellar sorrindo.

E accrescentava ?Eu não direi o que são as doentes.Diga sempre.Não digo.Caprichosas?Mais.Rebeldes?Menos.Impertinentes?

Sim. Algumas são impertinentes e amáveis.Como eu.Naturalmente.

Já o esperava, dizia a viuva Lemos sorrindo. Sabe por que razão

lhe perdôo tudo ? É porque é medico. Um medico tem carta branca para

gracejar comnosco; isso mesmo nos dá saude.N'este ponto levantou-se.

Parece-me até que já estou melhor.Parece e está... quero dizer, está muito mal. __Muito mal ?Não, muito mal, não; não está boa...Metteu-me um susto «

Seria realmente zombar do leitor o explicar-lhe que a doente e o me-

dico estavam a pender um para o outro; que a doente soffria tanto como

o Gorcovado, e que o medico conhecia cabalmente a sua perfeita saude.

Gostavam um do outro sem se atreverem a dizer a verdade, simples-

mente pelo receio de se enganarem. O meio de se fallarem todos os dias

era aquelle. T„ A .Mas gostavam elles já antes da fatal constipação do baile? Nao. Ate

então ignoravam a existência um do outro. A doença favoreceu o encon-

tro; o encontro o coração; o coração favoreceria desde logo o casa-

mento, se tivessem caminhado em linha recta , em vez dos rodeios em

que andavam. '"¦ „ ,Quando Paula ficou boa da constipação adoeceu do coração; nao tendo

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278 JORNAL DAS FAMÍLIAS,

outro recurso fingio-se doente. 0 medico , que pela sua parte desejava

isso mesmo exagerou ainda as invenções da supposta enferma.

A tia, sendo surda, assistia inutilmente aos diálogos da doente com o

medico. Um dia escreveu a este pedindo-lhe que apressasse a cura da

sobrinha. Avellar desconfiou da carta a principio. Seria uma despedida?

Podia ser pelos menos uma desconfiança. Respondeu que a moléstia de

D. Paula era, apparentemente insignificante, mas podia tornar-se gravesem um regimen severo, que elle lhe recommendava sempre.

A situação, entretanto, prolongava-se. A doente estava cançada dadoença , e o medico da medicina. Ambos elles começaram a desconfiar

que não eram mal acceitos. 0 negocio entretanto não caminhava muito.Um dia Avellar entrou triste em casa da viuva.

Jesus! exclamou sorrindo a viuva; ninguém dirá que é o medico.Parece o doente.

Doente de lastima, disse Avellar abanando a cabeça; por outrostermos, é a lastima que me dá este ar enfermo.

Lastima de que ?De V.Exc.De mim ?É verdade.

A moça rio-se comsigo mesma; todavia esperou a explicação.Houve um silencio.No fim d'elle:

Sabe, disse o medico, sabe que está muito mal?"-Eu? *Avellar fez um gesto affirmativo.

Já o sabia, suspirou a doente.Não digo que tudo esteja perdido, continuou o medico , mas nada

se perde em prevenir.Então*..Coragem!Falle.Mande chamar o padre.Aconselha-me a confissão ?

E indispensável*Perderam-se todas as esperanças ?Todas. Confissão... e banhos.

A viuva soltou uma risada<E banhos ?

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 279

Banhos de egreja.Outra risada.

Aconselha-me então o casamento.Justo.Imagino que está gracejando.Estou fallando muito serio. O remédio nãoe novo nem desprezível.

Todas as semanas lá vão muitos enfermos, e dão-se bem alguns d'elles.

É um especifico inventado desde muitos séculos e que provalmente só

acabará no ultimo dia do mundo. Pela minha parte nada mais tenho

que fazer.Quando a viuvinha menos esperava, Avellar levantou-se e sahio. Fal-

lava serio ou gracejava? Dois dias se passaram sem que o medico vol-

tasse. A doente estava triste; a tia afílicta; houve idéa de mandar cha-

mar outro medico. Recusou-a a doente.Então só um medico acertou com a tua moléstia ?Talvez.

No fim de tres dias recebeu a viuva Lemos uma carta do medico.

Abrio-a.Dizia assim :« É absolutamente impossível esconder por mais tempo o que sinto

por V. Exc.a Amo-a.« Sua moléstia precisa de uma ultima receita verdadeiro remédio para

quem ama, — sim, porque V. Exc. também me ama. Que razão obri-

garia a negal-o?« Se a sua resposta for affirmativa haverá mais dois entes felizes n'este

mundo.(( Se negativa...« Adeus 1 »A carta foi lida com explosão de enthusiasmo; o medico foi chamado

a toda a pressa, para receber e dar saude. Casáram-se os dois d'ahi a

quarenta dias.Tal é a historia da Ultima Receita,

J. Jè

rfi:1 -*gstígiíi3Í8íí©g*-V • ...V.Í.-IÍ

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MOSAICO.

ANECDOTAS.

0 bobo da corte de Francisco Io sendo um dia ameaçado por um fidalgode ser morto a pauladas por ter fallado um tanto livremente a seu res-peito foi queixar-se ao rei.

Si alguém ousar matar-te, tornou-lhe este, fal-o-hei enforcar umquarto de hora depois da tua morte.

Ahi senhor, disse o bobo, mandai-o enforcar um quarto de horaantes 1

Um bispo muito rico gabava a um cura extremamente pobre o bom arque se respirava no paiz de seu curato.

— Com effeito, senhor bispo, tornou-lhe o cura, o ar seria excellentese eu podesse viver d'elle.

Um conego de Castella tendo matado um padeiro teve por única sen-tença a privação de entrar no coro por espaço d'um anno.

0 filho da victima irritado por essa injustiça matou o'conego, cujo afamília foi immediatamente pedir a morte do assassino a Pedro o Justi-ceiro. Este respondeu : tendo a sentença do conego constado da prohi-biçao de entrar no coro por um anno imponho ao padeiro a pena de nãofazer pão por igual espaço de tempo.

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E.em íeral, todas as alterações accidei.taes da culis ^g^o. a qual elle torna e eonserva macia, Üsa e clara.__—_____»P________l-—.4-. I.Hl_.nn.iMllllll.ini B_Ja*gW______._ i ¦ -.^i~»>M____________-_----»»»-»»»»»-W________-IW^W

« De todas as preparações (poniaclas ou loções)

recoimiiendadas contra a ciUis sarabiãhenLa Ho

rosto, a que nos parece poder ser empregada mais

Tití-meiite, é o Lüite A?ítephelico de Cakpís »

{Medicina das primeiros cuidaílòs, pelo DTLaktioie. I

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« 0 Lbite íVntephelico de Caxijês, preparaçãomuilo empregada ein Paris e uo Hio de Janeiro .

usa-se efficazmente contra as santas., togarem, cs-

pinhas e outras alterftções aceidenüies da cutis »>

(Medicina popular, áo JF Chernoviz, ¥ e^çaõ.)

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 281

tt m0ç0, com pretenções de muito espirituoso, apostrophou um dia

uma senhora nos seguintes termos : É verdade que n'uma casa em quetiverão a bondade de achar-me espirito vós disseste que eu não tinha

nenhum?£ faiso, respondeu ella, porque nunca freqüentei casa alguma em

que vos achassem espirito.t •

Um engenuo cujo travesseiro era um caixão, achando-o demasiada-

mente duro encheu-o de paina de seda para tornal-o mais flexível.

0 mesmo, querendo obsequiar seus amigos fazendo-lhes comer um

carneiro que criara, mandou matar só a metade do dito animal, porque,dizia elle, todo é demais para o numero de convidados que tenho.

N'uma das representações dos Puritanos do maestro Bellini havia na

platéia, do theatro lyrico, um dilettante que cantarolava tão alto um dos

pedaços da peça que encommodava a todos os vizinhos; um dentre ellesnão podendo resistir á indignação que isso lhe causava exclamou : Chebestial (que animal!)

Isto é commigo, perguntou-lhe o imprudente vizinho?Não senhor, é com o maldito Bellini que me impede de vos ouvir.

Um sujeito queixava-se amargamente de que todos as vezes que hiaI comprar nas lojas voltava constipado, porque estavao todas abertas.

Pois então, tornou-lhe uma senhora vá aos Domingos que assim teráa certeza de encontral-as fechadas.

Um frade italiano intimamente convencido de que o sol movia-se emtorno da terra denunciava um estrangeiro por sustentar o contrario.

Mas esqueceis dizia-lhe o frade que Josué fez parar o sol ?Pois é desde esse tempo, respondeu-lhe o estrangeiro, que elle está

immovel, e por isso a terra gira ao redor d'elle.[paulina philadelphia.

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POESIA.

MILAGRE ?

I.

Quero agora recordar-meDa minha terra natal :Vou relembrar uma historiaQue ouvi contar e real.Vê, ó Campos, que o proscriptoQue abandonou-te creança,0 que viu em ti ou soubeInda conserva em lembrança.

Havia um pai de familia,Bom homem, laborioso,Que sendo dos seus amadoJulgava-se venturoso.Que lhlmportava do mundo0 ruido, a ebriedade,Se só no lar concentravaA sua felicidade ?

Eterno bem não existe :Um dia (dia cruel!)Da sua vida na taça

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 283

Alfim deparou o fei.A luz dos olhos, avista,O desgraçado perdeu :E d'elle, pela familia,Deus não se compadeceu!

Mas quem conhece os desígniosDa Providencia quaes são ?Onde o justo se descobreÉ sempre na provação :Da virtude é o soffrimentoO verdadeiro crisól;E á nocturna procellaÁs vezes segue o arreból.

ii.

Longos dias passáram-se. Na casa

Do desditoso cego ha um sarau.

Reina a ledice alli: ninguém por certo

Um pensamento tem, ou triste, ou mau.

Todos dansam contentes; só o cego

Melancólico está, invoca a morte ;

Mas de prazer n'um sitio ninguém pôde

Reflectir, ou chorar a sua sorte.

A pedido de vários circumstantes

Eis que toma o infeliz um violão

E, d'elle arrebatando sons divinos,

Entoa sentidissima canção.

« Esta vida, meu Deus, que passamos

<( N'este mundo ó repleta de dor :

«Umsógozorealnãofruimos,« É ephemero todo o dulçor.

, Esses mesmos que hoje se entregão

. « Delirantes, ao gozo, ao prazer,

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284 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

« Soltarão algum dia gemidos,« Também hão de algum dia soffrer.

(( Ninguém pôde dizer Iriumphante<( — Malfadado-jamais eu serei -— :« A desgraça penetra igualmentea Na palhoça ou no paço do rei.

cc Alegria completa é chimera;« Aqui mesmo onde a dita transluz,« Eu deploro a dureza do fado(( Que tirou-me dos olhos a luz. »

Porque cala-se súbitoE solta agudo ai,0 infeliz esposo,0 desgraçado pai ?Porque do rosto pallido,Banhado pelo pranto,Como que por encantoA afílicção se esvae ?

Como, não tendo vista,Correr pôde e abraçarConsorte e filhos caros,Sequer sem vacillar ?« Querida esposa (dando-lheNa face um longo beijo,Exclama :) — eu vejo, eu vejo,« Não posso duvidar. »

cc E vós, queridos filhos,« Os mesmos já não sois!« Oh! como estaes crescidos!(Abraça-os e depois:)« Senhor, alíim me ouviste ;« A tetrica desgraça« A minha vida escassa« Emfim um termo pôz.»

p. j.

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¦m

i, -*.-

MODAS.

DESCRIPCÃO DO FIGURINO DE MODAS.

Primeiro vestuário. - Toilette para o campo ; Túnica comprida de sici-

liana côr de malva, aberta na frente, com pregas grandes atraz e bordada

com um macheado. Collete com fôlho-renda e laços de fitas. Saia de

cassa branca; chapéo de forma redonda de palha de arroze flores de malva.

Segundo vestuário. - Toilette para passeio : Vestido de foulard verde

claJ. Gorpinho muito comprido, túnica franzida adiante e sobre os lados

orlada com um macheado. Saia guarnecida de dois fofos e d um f<Mho o

tado com fofos de cabeça ; collete e túnica bordados de.apphcaçao. (Ver o

molde no verso da estampa de bordados.)

TRABALHOS.ti.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE BORDADOS E TRABALHOS.

N° 1 - Porta relógio rústico. Borda-se ao passe sobre talagarça indiana

muito fina a cercadura do porta relógio, com la e retroz. _ •

O desenho representa uma leve grinalda de ^Td^oUSToo

Ias se fazem de côr encarnada viva e matizado ™*?^$^'j£loios de tres matizes de azul, as margaridaside 1.branca-^Mgretroz branco e corações em pontos prendidos de retro «Ho as espigas

de lã côr de castanha clara rccamado com retroz cor de müho. A folhagem

de rerdes variados, hastes e «™£™~%^~^£da talagarça o porta-relogio de madeira rústicaconiornaiub

relógio é muito mais rica e artística.

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286 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

N° 2. — Desenho para um saquinho de viagem. O nosso modelo era bor-dado com cordão dito mignarãise de retroz côr de milho sobre panno azul.O centro pode ficar vasio ou ser ornado com iniciaes bordados. O bordadopode ser executado com trancelins de retroz ou de lã ou em ponto de chai-nette da côr preferida e sobre qualquer fazenda.

N° 3. — Tapete de candieiro ou frasco. Esta obra pode ser de seda de côrou de cassa. Tudo efeito em ponto de festão; depois de acabado, recorta-se a fazenda debaixo das barrinhas.

N° 4. — Desenho para pala de altar. Plumetis e cordãozinho.N° 5..— Metade d'um, desenho para almofada de alfinetes; a orla é de tran-celins de ouro ou de côr e o ramo de amor-perfeitos de côr natural e ao

passe.N° 6. — Canto de cercadura para lenços, fronhas, etc. A obra toda é em

ponto de festão; depois de acabada, recorta-se a fazenda debaixo das bar-nnhas. Este trabalho diz muito bem; as barrinhas podem ser singelmentede algodão um pouco encorpado.N°7. — Metade â'um lenço para pescoço (fichu). Este bonito lenço cujoe feito é encantador pode ser feito em applicação de merinó ou faille sobrefilo ou singelmente de tafetá. No primeiro caso omittir-se hão todas asbarrinhas, far-se ha a obrainteiraem ponto de festão ou querendo abrevial-acoser-se-ha um trancelim de lã sobre os contornos do desenho; depoisde acabado recortar-se-ha a fazenda ao pé dos trancelins deixando comofundo o filo que deve ser fortíssimo. Pode-se guarnecer o lenço com umlargo franjado ou renda querendo tel-o maior. Se se quizesse executal-o

ZlTf !- . C°mleStá ÍndÍCad° no desenh0'se fa™ a ««ra toda emponto de festão, as barrinhas de cordão grosso de retroz e depois de aca-bado recortana.se a fazenda debaixo das barrinhas. Estes fichus serão muitoem moda para o campo, os banhos de mar, etc.N° 8. -- Cercadura para vestido de criança, saia, etc. Executa-se i nh™

tTo °

rZeS- AS CrUZÍnhaS Se en<*em com pérolas pequenas e douradas

dPnli l7 T!rTmCOrtÍmS pe^uems' Tud0 é feito em ponto dSão

dar com retroz em ponto de chainette. G"Se tambera bor"N»12 até 20. - Nomes e iniciaes ornados.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE MOLDES.VERSO DA PRECEDENTE ESTAMPA DE BORDADOS.

Mm mmm m* * f fmHm dt gmm de^ - Frente do coilete que se corta d'um pedaço só.

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 287

pjo 2, — Canhão da manga. Este bonito collete pode se fazer de cassa e ser-vir para qualquer vestido. No nosso modelo elle era de tafetá verde muitoclaro. Para executar as duas tiras que guarnecem a frente do avental-tunica,noder-se ha repetir duas vezes o desenho do collete ou então quatro vezeso do canhão da manga.

N° 3. — Alphabeto grande para lençóes, toalhas, etc. É irmanado com ooutro mais pequeno que damos ultimamente. Pode-se fazel-o branco de plu-metis e cordãozinho ou as partes pretas de algodão encarnado e o restobranco; o que faz muito bonita vista.

No 4, — Escudo grande dobrado para encaixilhar duas lettras do sobreditoalphabeto.

No 5# _ Grande ramo vinheta sobre o qual se poderia bordar duas dasditas lettras grandes.

No gt _ Outro desenho para o mesmo fim. Os dois ramos podem servirreunido ou separados.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE TAPEÇARIA, CROCHET. OU FILET.

Desenho para cortinas pequenas, colchas, cobertores, etc.O modelo d'este bonito desenho era de filet bordado em ponto de serzido,

os differentes signos feitos de algodão de grossura variada. Nas cruzinhas

o algodão muito fino e o serzido muito afastado. Os signos brancos de algo-

dão muito grosso e o serzido muito apertado, os pontos de algodão meao.

Este desenho pode executar-se egualmente de crochet. N'este caso o fundo

deve ser aberto e o desenho cheio.As pequenas tiras dos dois lados podem servir para cordão de campainha,

cercadura de reposteiro, etc. Estes desenhos se podem executar com pérolas

grandes de vidro ou de tapeçaria sobre talagarça grossa de côr vistosa.

0 JOGO DA VIAGEM.i

¦¥ -¦.*;'

O numero dos jogadores nao é limitado.CadaTogador cidl um a sua vez joga dois dados e vai collocar a sua

marca sobre o numero indicado pelo numero dos» ponto».Na seeunda mão e nas seguintes, adiantar-se-ha de tantos numeios comom segunoa mau e ua

| observar

que os números nao

*! *££ SIS*, orde. seg-, ir 1 cid* «o

^ «-«.

que cercam a gravura representando o palácio Bourbon em Paris, 2 o cas

tello; 3» o caminho de ferro ; 4° o ?*io. âo ouWaSe acontecesse que um J0gadoVP^mlde PaHs para o caminho

*£%* de te, .M.^;**^ ^

até uma das estações precedentes (v. g. ao caminno ue

elle pagará duas vezes o preço convencionado,

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288 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

Qualquer jogador que chega até os números que cercam o navio devepagar o preço convencionado do embarcamento.

Quando se encontra com o numero oecupado por outro jogador paga-se-lhe um tributo e colloca-se a marca sobre um numero inferior d'uma uni-dade, em qualquer lugar aonde elle se achar.Se algum jogador chegar a passar o numera 96 elle põe sua marca sobreo navio e cessa de jogar. Toma-se nota que se alcança com certo numero de

pontos alem do 96.* 0 jogador que chega com o maior numero de pontos ganha tudo, poremelle deve pagar uma terça parte da quantia ao jogador que tem depois d'elleo numero de pontos,immediatamente inferior. Se vários jogadores teem omesmo numero, elles hão de partilhar entre si.

A DESCIDA DA CRUZ.

GRAVURA SOBRE MADEIRA.

Perto da villa Medicis sobre o Monte-Pincio na Itália, a França possue umconvento e uma egreja construidos por ordem de Carlos VIII no anno de1494. A egreja da Trindade-do-Monte é cheia de magníficos quadros entre osquaes citaremos a Descida da Cruz pelo afamado pintor Daniel de VollerreDamos hoje as nossas leitoras ume reproducção notável d'este celebre paineique os entendedores consideram com razão como uma das obras primas dapintura italiana.

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| Paris. - Typographia de G. Chamerot, rua dos Santos- Padres, 19.

X

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