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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE ENERGY SAVING DEVICES EM CASCO TWIN-SKEG OTIMIZADO DE NAVIO GASEIRO Yuri Magnani Berbert Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Naval. Orientador: Antonio Carlos Fernandes Rio de Janeiro Março de 2015

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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE ENERGY SAVING

DEVICES EM CASCO TWIN-SKEG OTIMIZADO DE

NAVIO GASEIRO

Yuri Magnani Berbert

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro Naval.

Orientador: Antonio Carlos Fernandes

Rio de Janeiro

Março de 2015

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ii

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE ENERGY SAVING DEVICES EM CASCO

TWIN-SKEG OTIMIZADO DE NAVIO GASEIRO

Yuri Magnani Berbert

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO NAVAL.

Examinado por:

________________________________________________

Prof. Antonio Carlos Fernandes, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Luiz Antonio Vaz Pinto, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Crístofer Hood Marques, M.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO de 2015

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Magnani Berbert, Yuri

Análise da Influência de Energy saving devices em casco Twin-skeg

Otimizado de Navio Gaseiro/ Yuri Magnani Berbert – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.

xv, 49 p.: il.; 29,7cm

Orientador: Antonio Carlos Fernandes

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia Naval e Oceânica 2015.

Referências Bibliográficas: p. 46-59.

1. Energy saving devices

I. Fernandes, Antonio C. II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, UFRJ, Engenharia Naval e Oceânica. III.

Análise da Influência de Energy saving devices em casco

Twin-skeg Otimizado de Navio Gaseiro.

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Ao meu avô e ex-aluno dessa

Escola, José Gonçalves de

Araújo Pinheiro (in memoriam),

que foi a minha primeira e

maior inspiração na escolha da

carreira de engenheiro.

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Agradecimentos

À minha avó Dilma e meu pai Eduardo pela criação exemplar dada a mim por todos

esses anos. Também à minha mãe Neia, meu padrasto Marcelo, meu irmão Renan e

minha avó Neia pela dedicação e conselhos, acompanhando dia-a-dia as minhas

conquistas. E aos meus primos, tios, tios-avós e toda a minha família, que também

constribuiram nessa minha trajetória. Não poderia deixar de lembrar da minha madrinha

Glaucia que foi minha motivadora em todos os momentos.

Agradeço à minha companheira Raphaella Postorivo, com quem compartilho

grande amor e que incansavelmente me apoia em todas as decisões. À sua família, em

especial seus pais Raphael e Solange e suas irmãs Priscilla e Danielle, que me acolhem

da melhor forma possível.

Aos meus amigos e praticamente irmãos, com quem sempre posso contar, Adriano,

Allan, Arthur, Felipe (Jack), Flávio, Gabriel, Gabriel (Ph), João Paulo, Lucas (Mineiro),

Lucas (Paulista), Marina, Matheus, Matheus Leite, Miguel, Nicholas, Ricardo Figueira,

Thyago, Wagner, Yure e tantos outros que compartilham desse momento. E aos meus

companheiros de engenharia naval, que fizeram com que esses anos fossem os mais

agradáveis possíveis, Gustavo, Higuel, Pedro Lund, Ramon, Renan e Ricardo Fiasca.

Agradeço aos profissionais da Queiroz Galvão Óleo e Gás, Cenpes/Petrobras e

Technip, que desempenharam papéis de mentores por onde passei, em especial Alberto

Nigro, Gerson Peccioli, Michel Galbrun, Rafael Dellisola e Robert Balaguer.

Às pessoas que contribuíram para que eu entrasse nessa estimada instituição, a

UFRJ, com seu conhecimento e me tratando de forma ímpar, Evaldo Zaroni, Maria

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Lúcia e Marlene. Aos docentes e funcionários do Pedro II, Cristina, Christine, Glória,

Isabela, Maria Helena, Tânia e Tatiana. Aos profissionais da UFRJ que

complementaram a minha formação e buscam a excelência na instituição, Andreia

Rangel, Annelise, Belchior, Cristina Riche, Eduardo Serra, Elaine Vazquez, Luiz

Felipe, Luiz Vaz, Marcelo Igor, Marcelo Neves, Moraya, Murilo, Protasio, Ribamar

Reis, Richard, Sanglard, Severino, Simone Morandini e Theodoro. E aos demais

profissionais envolvidos no meu desenvolvimento nas instituições de ensino que passei.

Por último e não menos importante, ao professor Antonio Carlos Fernandes que

prontamente me possibilitou participar desse projeto, com o qual aprendi muito e tive a

oportunidade de conhecer outro país. E a toda equipe do LOC que também fazem parte

disso tudo, Crístofer, Eduardo, Ivan, Julio e Yuri.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval.

Análise da Influência de Energy saving devices em casco Twin-skeg Otimizado de

Navio Gaseiro

Yuri Magnani Berbert

Março/2015

Orientadores: Antonio Carlos Fernandes

Curso: Engenharia Naval e Oceânica

O presente trabalho aborda a influência de Energy saving devices (ESDs) no

aumento da eficiência de cascos twin-skeg. Esses dispositivos são apêndices acoplados

ao casco que melhoram a entrada e saída do fluxo do fluido no propulsor, direcionando

as linhas de corrente para o propulsor. Primeiramente é apresentado um levantamento

bibliográfico resumindo os ESDs conceituados até então, e a partir de um casco twin-

skeg de referência, já otimizado com relação às suas dimensões e forma de proa e popa,

tais dispositivos serão selecionados e acoplados. A influência dos ESDs será analisada

através de programas de CFD (Computational Fluid Dynamics), que fornecem

informações como resistência ao avanço e coeficiente de esteira. Ao final, será possível

definir se um casco ótimo de twin-skeg é obtido para o caso em estudo, combinando os

ESDs selecionados.

Palavras-chave: Energy saving devices, Twin-skeg, Navio Gaseiro, Eficiência

Energética, Otimização de Casco, Resistência ao Avanço, Coeficiente de Esteira

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfilment of the

requirements for degree of Naval Architecture.

Analysis of influence of the Energy saving devices on an Otimized Twin-skeg Hull of

Gas Carrier

Yuri Magnani Berbert

March/2015

Advisors: Antonio Carlos Fernandes

Course: Naval Architecture and Marine Engineering

This paper discusses the influence of Energy saving devices on the efficiency of

twin-skeg hulls. These devices are appendages attached to the hull which improve the

inlet flow in the Propeller, directing the streamlines to the Propeller. First of all a

literature review summarizing the ESDs is presented, and from a twin-skeg reference

hull, already with dimensions and shape of the bow and stern optimized, such devices

will be selected and placed on the model. The influence of ESD will be analyzed by

CFD softwares (Computational Fluid Dynamics), providing information such as hull

resistance and wake coefficient. At the end, it can be determined if a optimum hull twin-

skeg is obtained for this case study, combining the selected ESDs.

Keywords: Energy saving devices, Twin-skeg, Gas Carrier, Energy Efficiency, Hull

Optimization, Ship Resistance, Wake Coefficient

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... xii

LISTA DE FIGURAS........................................................................................... xiii

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1

1.1 Motivação ............................................................................................................... 1

1.2 Objetivos ................................................................................................................. 2

1.3 Metodologia ............................................................................................................ 3

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 4

2.1 Energy saving devices ............................................................................................. 4

2.1.1 Defletores ........................................................................................................ 5

2.1.2 Pre-swirl ......................................................................................................... 9

2.1.3 Dutos ............................................................................................................... 9

2.1.4 Dispositivos no propulsor ............................................................................. 11

2.1.5 Hélice de Contra rotação............................................................................... 13

2.1.6 Surf-bulb ou Rudder Bulb ............................................................................. 14

2.1.7 Post-swirl ...................................................................................................... 15

2.1.8 Resumo ......................................................................................................... 17

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3 ESTUDO DE CASO ..................................................................................... 19

3.1 Cascos Twin-skeg ................................................................................................. 19

3.2 Navios Gaseiros .................................................................................................... 20

3.3 Eficiência Energética ........................................................................................... 22

3.4 Otimização Preliminar ........................................................................................ 23

3.5 Modelagem ........................................................................................................... 24

3.5.1 Defletor ......................................................................................................... 25

3.5.2 Duto .............................................................................................................. 25

3.5.3 Cascos Analisados ........................................................................................ 26

4 COMPUTATIONAL FLUID DYNAMICS (CFD) ...................................... 28

4.1 Configuração dos Modelos .................................................................................. 29

4.1.1 Malha ............................................................................................................ 29

4.1.2 Domínio ........................................................................................................ 29

4.1.3 Condição de Contorno .................................................................................. 30

5 RESULTADOS E ANÁLISE ....................................................................... 32

5.1 Resultados ............................................................................................................ 33

5.1.1 Casco 1 (Casco nu) ....................................................................................... 33

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5.1.2 Casco 2 (Defletor) ......................................................................................... 34

5.1.3 Casco 3 (Defletor + Duto) ............................................................................ 36

5.2 Análise .................................................................................................................. 37

5.2.1 Coeficiente de Esteira ( ) ............................................................................ 40

5.2.2 Resistência ao Avanço .................................................................................. 42

6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 44

7 PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS ...................................... 45

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ................................................................... 46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dimensões Principais para condição carregado ............................................ 24

Tabela 2 – Propriedades do Domínio ............................................................................. 30

Tabela 3 – Comparação dos Resultados ......................................................................... 43

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Zonas de ESDs ................................................................................................ 4

Figura 2 - Delfetor Transversal (Vortex Generator) ......................................................... 6

Figura 3 - SHI Safer Fin ................................................................................................... 7

Figura 4 - Namura Control Fin ......................................................................................... 8

Figura 5 - Low Viscous Fin .............................................................................................. 8

Figura 6 - Grothues Spoilers ............................................................................................. 8

Figura 7 - Pre-swirl DSME .............................................................................................. 9

Figura 8 - BMS Mewis Duct .......................................................................................... 10

Figura 9 - Semi-Duct ...................................................................................................... 11

Figura 10 – Wake Equalizing Duct ................................................................................ 11

Figura 11 - CLT Propeller.............................................................................................. 12

Figura 12 - Kappel Propeller.......................................................................................... 12

Figura 13 - PBCF ............................................................................................................ 13

Figura 14 - Hélice de Contra Rotação ............................................................................ 14

Figura 15 - Hélice de Contra Rotação Hibrido ............................................................... 14

Figura 16 - Rudder Bulb Hubcap RR ............................................................................. 15

Figura 17 - Interceptor with Rudder Bulb ...................................................................... 15

Figura 18 - HHI Thrust-fin ............................................................................................. 16

Figura 19 - Post Stator .................................................................................................... 16

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Figura 20 – Casco Twin-skeg típico ............................................................................... 20

Figura 21 – Tipos de navios gaseiros ............................................................................. 21

Figura 22 – Navio Gaseiro do tipo Memebrana ............................................................. 21

Figura 23 – Regulamentação IMO de Emissões ............................................................ 22

Figura 24 - Casco otimizado proa................................................................................... 23

Figura 25 - Casco otimizado popa .................................................................................. 24

Figura 26 - Modelo do Delfletor tipo 2 .......................................................................... 25

Figura 27 - Modelo do duto ............................................................................................ 26

Figura 28 – Casco com defletor ...................................................................................... 27

Figura 29 – Casco defletor e duto ................................................................................... 27

Figura 30 – Domínio Computacional ............................................................................. 30

Figura 31 – Condição de Contorno ................................................................................ 31

Figura 32 – Campo de Pressão no Casco ....................................................................... 32

Figura 33 – Linhas de Corrente no Casco 1 ................................................................... 33

Figura 34 – Campo de Velocidades no Casco 1 ............................................................. 34

Figura 35 – Linhas de Corrente no Casco 2 ................................................................... 35

Figura 36 – Campo de Velocidades no Casco 2 ............................................................. 35

Figura 37 – Linhas de Corrente no Casco 3 ................................................................... 36

Figura 38 – Campo de Velocidades no Casco 3 ............................................................. 37

Figura 39 – Programa Propulsão Inteligente .................................................................. 39

Figura 40 – Programa Hélice B ...................................................................................... 40

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Figura 41 – Coeficientes de Esteira em Twin-skeg......................................................... 41

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1

1 INTRODUÇÃO

A otimização de um casco passa por diversas etapas, a principal delas é a redução

da resistência ao avanço, obtida através de alterações na forma do casco. Ainda assim, a

resistência mínima não garante a melhor condição operacional, mesmo com uma correta

integração do motor e propulsor. É possível aumentar o fluxo de entrada no propulsor a

fim de aumentar a força propulsiva gerada sem alterar equipamentos ou a condição de

operação.

Para isso, serão estudados os efeitos de dispositivos conhecidos como Energy

saving devices, citados também como ESDs, no aumento da eficiência propulsiva. As

soluções propostas serão combinadas a um casco tween-skeg de navio gaseiro,

carregando gás natural liquefeito (LNG), otimizado e analisadas através de programas

de hidrodinâmica computacional, comumente conhecido como CFD (Computational

Fluid Dynamics).

1.1 Motivação

O aumento da eficiência energética em navios além de reduzir custos operacionais,

reduz as emissões de gases tóxicos e poluentes, sendo uma questão cada vez mais

avaliada pelos órgãos regulamentadores de meio ambiente e a IMO, International

Maritime Organisation. Atualmente existem áreas chamadas Emission Control Areas

(ECAs) onde a IMO diminui periodicamente o limite de emissão de gases derivados do

dióxidos de carbono, enxofre e nitrogênio.

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2

Um esforço crescente de armadores e fabricantes de propulsores e motores vem

sendo feito a fim de atingir condições ótimas de operação. Além da seleção de um

propulsor eficiente, é possível optar por motores dual-fuel, ou seja, que utilização como

combustível o HFO (Heavy Fuel Oil) e o MGO (Marine Gas Oil). Contudo, a condição

ótima só será alcançada após a obtenção de um casco que forneça resistência mínima e

máxima eficiência propulsiva para enfim, trabalhar em conjunto com o motor e

propulsor.

O estudo de caso sugerido para análise inclui situações e questões reais, que podem

ser encontrados por armadores e projetistas. O transporte de gás natural vem crescendo

ano a ano com a demanda do mercado por um combustível cada vez mais barato e

limpo, sendo assim, as soluções para navios gaseiros para esse fim vem sendo cada vez

mais aprimoradas, ao ponto que cascos twin-skeg são atualmente um indicativo da

solução otimizada. Além disso, vem se aproveitado cada vez mais os motores de baixa

rotação dual-fuel por serem mais eficientes e poderem aproveitar parte do gás

evaporado dos tanques de carga como combustível.

1.2 Objetivos

O estudo aqui desenvolvido tem como objetivo demonstrar que um navio otimizado

pode alcançar resultados melhores ainda, obtendo um melhora na eficiência propulsiva

para um casco twin-skeg de navio gaseiro (LNG), considerando os efeitos dos Energy

saving devices.

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1.3 Metodologia

A partir de um casco twin-skeg de referência, característico de navios gaseiros

(LNG) e já otimizado com relação às suas dimensões e forma de proa e popa, será feita

uma revisão de literatura com o objetivo de identificar potenciais soluções de ESD para

redução da resistência ao avanço. O casco será remodelado através de software

Computer Aided Design (CAD) e sua resistência calculada através de softwares de

hidrodinâmica computacional (CFD). Então, as soluções e seus respectivos resultados

serão analisados e o casco otimizado final será sugerido.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Energy saving devices

Na década de 80, com o aumento do preço de combustíveis navais e a criação de

regulamentações ambientais de emissão de gases, começaram a ser desenvolvidos

dispositivos focados em melhorar o desempenho dos navios, chamados Energy saving

devices. Por definição Energy saving devices são apêndices acoplados ao casco que

melhoram a entrada e saída do fluxo do fluido no propulsor, sendo assim, direcionam as

linhas de corrente para o propulsor, evitando perdas e aumentando sua eficiência. Por

tais motivos, os ESDs devem ser tratados como uma pós-otimização da forma do casco

e podem ser encontrados em 3 zonas do casco, avante do propulsor, na região do

propulsor e a ré do propulsor, como na figura abaixo.

Figura 1 – Zonas de ESDs

Os tipos mais conhecidos de ESDs são:

o Dispositivos avante do propulsor

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5

Defletores

Pre-swirl

Dutos

o Dispositivos no propulsor

CLT Propeller

Kappel Propeller

PBCF

o Dispositivos a ré do propulsor

Hélice de contra-rotação

Surf-bulb

Post-swirl

2.1.1 Defletores

Os defletores são dispositivos alocados na região de popa, próximo ao propulsor,

com o objetivo de melhorar o fluxo de entrada do fluido no propulsor, reduzindo os

pulsos de pressão e vibração na superestrutura. Diversos tipos de defletores vem sendo

desenvolvidas com diferentes perfis e resultados, alguns com perfis planos e outros com

perfil de asa.

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2.1.1.1 Transversais à linha de fluxo (Vortex generator fin)

Esses dispositivos tem a capacidade de gerar vórtices e assim, modificar a esteira

a ponto de reduzir em até 50% dos pulsos de pressão e vibração, com a penalidade de

aumentar em torno de 2% a resistência.

Figura 2 - Delfetor Transversal (Vortex Generator)

Outros modelos de defletores transversais foram criados como o SHI Safer Fin,

desenvolvidos pela Samsung Heavy Industries, a qual tem estudos que mostram um

aumento de até 3,2% na eficiência propulsiva, mantendo os efeitos de redução de

pressão e vibração.

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Figura 3 - SHI Safer Fin

2.1.1.2 Alinhados à linha de fluxo

Esses dispositivos podem ser longos ou curtos, e oferecem menos resistência se

comparado com os defletores transversais (em torno de 1%), porém, mantendo bons

resultados na eficiência propulsiva ao melhorar a esteira. Alguns desses dispositivos

podem ser destacados como o SUP Fin, Namura Control Fin, Low Viscous Fin e o

Grothues Spoilers.

O ganho em eficiência propulsiva, estudada nesses casos, chegam a 2 a 5% para

Namura, 2% para Low Viscous e 3 a 9% para o Grothues. Esse último possui um

diferencial de ter defletores curvados, com bordo de ataque a vante alinhado com o

fluxo e o bordo de fuga alinhado com o eixo propulsor, esperando que se tenha uma

redução da resistência ao avanço, ao mesmo tempo em que um aumento da eficiência

propulsiva. Todos os resultados podem ser obtidos ou não com a combinação do duto.

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Figura 4 - Namura Control Fin

Figura 5 - Low Viscous Fin

Figura 6 - Grothues Spoilers

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2.1.2 Pre-swirl

Com formato de um aerofólio, o objetivo desse tipo de dispositivo é induzir uma

assimetria do fluxo ao propulsor, provocando uma esteira mais uniforme, e

consequentemente, aumentar a eficiência do casco, mas podendo diminuir a eficiência

propulsiva e a rotação. O seu projeto é complexo pois cada aerofólio tem uma

angulação baseado no campo da esteira nominal, podendo ter um tamanho menor ou

maior que o diâmetro do hélice e acompanhados ou não de um túnel. O estaleiro de

Daewoo desenvolveu um Pre-swirl que pode oferecer um aumento da eficiência

propulsiva entre 1 e 6,3%.

Figura 7 - Pre-swirl DSME

2.1.3 Dutos

Inicialmente usados para reduzir os problemas com vibração, esses dispositivos

têm o objetivo de uniformizar o fluxo e reduzir os efeitos de pico da esteira, podendo

ser acoplados avante ou no propulsor e em geral combinados com o Pre-swirl. Alguns

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desses dispositivos podem ser mais efetivos para navios de grande coeficiente de bloco

e em velocidades abaixo de 20 nós. Alguns dutos podem ser destacados como o BMS

Mewis Duct, Sumimoto Integrated Lammeren Duct (SILD), Semi-duct System,

WAFon-Duct e o Wake Equalizing Duct.

O Mewis reduz as perdas rotacionais, prometendo um ganho na força propulsiva

de 1,5 a 7,7%, acoplado com pré-swirl, localizado fora do eixo do propulsor e menor do

diâmetro do mesmo. Ao passo que a combinação de SILD com defletores mostrou uma

redução da resistência de 2,7% em um navio single screw. Além disso, outros estudos

mostram que a redução da combinação duto e Pre-swirl pode chegar a 7%.

O duto Wake Equalizing foi proposto por Shneekluth para melhorar a eficiência

propulsiva fazento com que o fluxo de entrada seja mais uniforme, acelerando o fluxo

na parte duperior do disco, e diminuindo as componentes de velocidade tangencial do

campo de esteira.

Figura 8 - BMS Mewis Duct

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11

Figura 9 - Semi-Duct

Figura 10 – Wake Equalizing Duct

2.1.4 Dispositivos no propulsor

A modificação nas pás do propulsor, na sua forma ou com dispositivos influem

diretamente na eficiência propulsiva, já que ele é o responsável por transformar o efeito

rotacional em empuxo. Além disso, podem reduzir a vibração e as flutuações de baixa

pressão. Podem se destacar os propulsores CLT Propeller, Kappel Propeller e PBCF. O

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12

CLT promete um aumento no expuxo entre 6 e 12%, enquanto o Kappel até 6% e PBCF

até 3%.

Figura 11 - CLT Propeller

Figura 12 - Kappel Propeller

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Figura 13 – PBCF

2.1.5 Hélice de Contra rotação

Consiste em dois eixos propulsores, um dentro do outro, com direção rotacional

contrária, podendo aumentar a eficiência propulsiva em até 10%. Outro tipo conhecido é

o híbrido, no qual consiste em um eixo propulsor e um propulsor azimutal, tal

combinação pode garantir um aumento da eficiência em até 15%, além de garantir uma

melhor manobrabilidade através do azimutal.

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Figura 14 - Hélice de Contra Rotação

Figura 15 - Hélice de Contra Rotação Hibrido

2.1.6 Surf-bulb ou Rudder Bulb

O Surf-bulb garante uma melhora na eficiência propulsiva e e na

manobrabilidade ao conduzir o fluxo ao leme, diminuindo o vórtice na região e

convertendo em força propulsiva. Existem dois sistemas de Surf-bulb conhecidos, um

da Rolls-Royce, o Rudder Bulb Hubcap RR e o Interceptor and Rudder Bulb. O

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primeiro promete uma melhora da eficiência propulsiva de 6 a 8% e o segundo em torno

de 4,4%.

Figura 16 - Rudder Bulb Hubcap RR

Figura 17 - Interceptor with Rudder Bulb

2.1.7 Post-swirl

São dispositivos acoplados ao leme que aumentam a força propulsiva recuperada

da energia rotacional. Existem dois principais dispositivos desse tipo, o HHI Thrust-fin,

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criado pela Hyundai, e o Post Stator. O primeiro prevê um aumento de 4,9% da força

propulsiva, enquanto o segundo de até 9%.

Figura 18 - HHI Thrust-fin

Figura 19 - Post Stator

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2.1.8 Resumo

A partir dos dados levantados acima, foi possível elaborar uma tabela

consolidada das características dos ESDs com o intuito de permear o presente estudo.

Dispositivos Resistência Eficiência Prop.

Vortex Generator +2% S/I

SHI Safer Fin S/I 3,2%

SUP Fin +1% S/I

Namura Control Fin S/I 2 a 5%

Low Vicous Fin S/I 2%

Grothues Spoilers S/I 3 a 9%

Pre-swirl S/I 1 a 6,3%

BMS Mewis Duct* S/I 1,5 a 7,7%

SILD* -2,7% S/I

Semi-duct System* -3 a -7% S/I

WAFon-Duct* -6,1% S/I

Wake Equalizing

Duct

S/I S/I

CLT Propeller S/I 6 a 12%

Kappel Propeller S/I até 6%

PBCF S/I até 3%

Contra Rotação S/I 10%

Contra Rotação S/I 15%

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Hibrido

Rudder Bulb

Hubcap

S/I 6 a 8%

Interceptor +

Rudder Bulb

S/I 4,4%

HHI Thrust-fin S/I 4,9%

Post Stator S/I Até 9%

* Resultados obtidos na combinação com Pre-swirl ou defletor

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3 ESTUDO DE CASO

O caso de estudo consiste em um casco twin-skeg para navio gaseiro, que transporte

174 mil m³ de gás natural liquefeito em tanques do tipo membrana. Seu perfil de

operação compreende três velocidades, sendo elas 12, 16 e 19,5 nós para condição

lastrada e totalmente carregada. Além disso, opera com dois motores da Wartsila

X62DF de baixa rotação alimentados por HFO, MGO ou BOG (Boil-off Gas),

permitindo que emita menos gases poluentes em áreas restritas pela IMO, chamadas

Emission Control Areas (ECAs).

3.1 Cascos Twin-skeg

Cascos twin-skeg permitem adotar dois propulsores e dois motores, fornecendo

melhor manobrabilidade e maior força propulsiva quando não possível em casco de um

propulsor, por exemplo, em casos de calado restrito. Apesar de elevar os custos de

construção e aumentar a área molhada, recentes testes feitos pela empresa SSPA com

modelos reduzidos e CFD mostraram que é possível alcançar 2 a 3% mais eficiência em

cascos twin-skeg que em cascos single screw otimizados. Os skegs podem fornecer

melhor campo de esteira, com menos possibilidade de cavitação e pulsos de pressão na

estrutura, a posição longitudinal do centro de flutuação do navio (LCB) pode ficar mais

à popa, permitindo que o ângulo de entrada seja menor, além de fornecer melhor

estabildiade direcional.

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Figura 20 – Casco Twin-skeg típico

3.2 Navios Gaseiros

A necessidade dos países em obter combustíveis mais baratos e menos poluentes

para aplicações industriais e domésticas, inseriu o gás natural no mercado de venda e

transporte de combustíveis. É possível transportar o gás natural através do meio

rodoviário, marítimo e gasodutos, tanto na forma gasosa quanto liquida. Apesar do

gasoduto ser uma solução mais barata que a rodoviária, percebe-se que tem uma

limitação para grandes distâncias, destacando-se o transporte marítimo entre grandes

distâncias.

O transporte marítimo de gás natural em forma líquida ocupa menos volume do que

na forma gasosa, então, navios com tecnologia para carregar esse gás líquido (LNG)

foram desenvolvidos, ao passo que devem ter tecnologia capaz de armazenar o gás a

uma temperatura em torno de -160º C, que é a temperatura de liquefação do gás.

Existem dois tipos principais de navios transportadores de gás natural liquefeito em

operação no mundo, dependendo do tanque de carga. O primeiro é o de tanque esférico,

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desenvolvido na década de 70 e construído com chapas de alumínio bem espessas, e o

tipo membrana, de formato prismático com camadas de material isolante.

Figura 21 – Tipos de navios gaseiros

A tecnologia utilizada hoje permite construir tanques independentes ou integrados

ao casco. A tendência dos navios maiores é de adotar o tanque integrado membrana. As

vantagens da membrana em comparação com tanques independentes é que não causa

perda de espaço da carga por ser totalmente adaptada a forma dos tanques e os

carregamentos estruturais são totalmente transferidos para a estrutura.

Figura 22 – Navio Gaseiro do tipo Memebrana

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3.3 Eficiência Energética

O principal orgão regulamentador do transporte marítimo, a IMO, vem criando

regulamentações que obrigam a redução de emissões de óxidos de nitrogênio e enxofre

(NOx e SOx), assim, como de dióxido de carbono (CO2). A redução do dióxido de

carbono é feita através da redução do consumo de combustível, já o NOx e SOx são

relacionados com todo o processo de combustão e o tipo de combustível. Obter a

máxima eficiência enérgica é uma etapa importante do projeto, principalmente para

navios que passarão pelas ECAs. No caso em estudo, o uso do gás como combustível

nas ECAs, através de um motor dual-fuel, permite uma redução significativa das

emissões de NOx e SOx, no entanto, no perfil de operação de navegação o principal

combustível utilizado é o HFO. Para reduzir as emissões de CO2 vindas da queima de

HFO é necessário um processo de otimização do casco, permitindo alcançar o menor

consumo de combustível possível. Esse processo inclui redução da resistência ao avanço

e aumento da eficiência propulsiva.

Figura 23 – Regulamentação IMO de Emissões

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3.4 Otimização Preliminar

O casco otimizado fornecido passou por um processo de otimização, começando

por um estudo de resistência ao avanço através de programas de CFD para todas as

condições de operação afim de obter as dimensões ótimas de comprimento, boca e

calado, desconsiderando os efeitos do bulbo.

Após essa primeira etapa, alterações na proa e na popa foram realizadas, alterando

o bulbo em comprimento, altura e largura, alterando a área mergulhada do espelho de

popa e posicionamento dos skegs. Análises feitas através de CFD foram feitas

novamente para todas as condições de operação. Com esta forma, que forneceu menor

resistência ao avanço na média de todas as operações, serão sugeridos, testados e

analisados possíveis soluções de ESDs afim de obter a resistência mínima e a máxima

eficiência propulsiva.

Figura 24 - Casco otimizado proa

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Figura 25 - Casco otimizado popa

Tabela 1 - Dimensões Principais para condição carregado

Lpp 293,7 m

Boca 49 m

Calado 11,5 m

Deslocamento 120.938 ton

Coef. de Bloco 0,712

Velocidade 19,5 nós

3.5 Modelagem

Como visto, nesta etapa do projeto ainda não estão definidos o propulsor e o leme,

sendo assim, a seleção dos ESDs, baseado na tabela 1, só poderá abordar os defletores,

os pré-swirl e os dutos.

No que diz respeito aos defletores, é possível inferir que os defletores longitudinais

têm menos impacto na resistência ao avanço ao passo que podem oferecer maior

eficiência propulsiva, e que o Grothues pode fornecer os melhores resultados tanto na

esteira como na eficiência. Além disso, o duto é um potencial dispositivo a oferecer

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aumento na eficiência propulsiva atrelada à baixa resistência, porém, cabe destacar que

o Wake Equalizing Duct pode oferecer bons resultados na esteira, podendo ser

combinando com o defletor. A dificuldade de modelagem associada ao Pre-swirl e ao

semi-duto inviabilizam inicialmente sua aplicação no estudo, já que seria necessário ter

uma análsie prévia do fluxo na região.

3.5.1 Defletor

Seu perfil foi inspirado no Grotheus Spoiler e modelado também em Autocad.

Primeiramente foi modelado um perfil de asa NACA 2410 e posteriormente tratado

ponto a ponto. Depois do perfil criado, este foi copiado em escala 1,5x maior e a

superfície foi gerada através da função ‘Loft’.

Figura 26 - Modelo do Delfletor tipo 2

3.5.2 Duto

O duto foi gerado no programa Autocad a partir de dois círculos, sendo o menor

com o diâmetro igual a metade do diâmetro do propulsor esperado, e o maior sendo 1,5x

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maior que o menor, aproximando-se o melhor possível da idealização do Wake

Equalizing Duct. A superfície também foi gerada através da função ‘Loft’ e adicionada

uma espessura de 5 mm.

Figura 27 - Modelo do duto

3.5.3 Cascos Analisados

As análises compreenderam 3 cascos diferentes, o casco nu, o casco com defletor e

o casco combinado, que possui defletor e duto.

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Figura 28 – Casco com defletor

Figura 29 – Casco defletor e duto

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4 COMPUTATIONAL FLUID DYNAMICS (CFD)

Nos últimos anos, os avanços em códigos computacionais capazes de descrever o

comportamento dinâmico do fluido ao redor de um corpo têm permitido análises cada

vez mais acuradas, sendo uma valiosa ferramenta de otimização. Desta forma, é

possível realizar diversas modificações em um casco inicial, buscando uma forma ótima

antes mesmo da construção de modelos reduzidos.

A análise em CFD ocorre em águas calmas, ou seja, as ondas avaliadas pelo

programa são ondas geradas pelo próprio casco. O programa consegue avaliar a

resistência das ondas geradas e a resistência friccional dentro da camada limite com a

imposição da condição de contorno no casco e na superfície livre. A forma do casco

funciona como uma parede e ao seu redor são prescritos painéis representando fluido.

Alguns métodos de solução do escoamento viscosos foram desenvolvidos como

Reynolds Averaged Navier Stokes (RANS), Large Eddy Simulation (LES), Detached

Eddy Simulations (DES) e Direct Numerical Simulations (DNS). Além disso, podemos

encontrar diferentes modelos de turbulência, destacando o k-ε e k-ω, e diferentes modos

de geração de malha.

Para a etapa de projeto, como a que o presente caso se encontra, o CFD torna-se a

ferramenta ideal para avaliar modificações da forma. Sendo assim, será a única

ferramenta utilizada para gerar resultados deste caso.

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4.1 Configuração dos Modelos

Uma das partes principais da análise utilizando CFD é a configuração do modelo,

ou seja, definição dos parâmetros como forma, tipo de malha e domínio que deseja que

o programa rode. Os modelos foram testados no programa de CFD, “CFX” da empresa

Ansys.

4.1.1 Malha

A malha é a discretização do fluido no programa, ao passo que quanto mais

refinado, fornece resultados mais acurados, o tempo computacional de cada análise

aumenta. Nesta etapa é definido o número de nós em cada bloco.

4.1.2 Domínio

Para que haja pouca influência das condições de contorno é preciso criar um

domínio grande, porém, sem comprometer significativamente o tempo computacional.

O domínio foi definido como três Lpp á ré do casco e dois Lpp á vante do casco e suas

propriedades seguem na tabela abaixo.

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Figura 30 – Domínio Computacional

Tabela 2 – Propriedades do Domínio

Viscosidade Dinâmica (Ar) 1.831E-05 [kg m^-1 s^-1]

Viscosidade Dinâmica (Água) 8.899E-4 [kg m^-1 s^-1]

Densidade (Ar) 1.185 [kg m^-3]

Densidade (Água) 997.0 [kg m^-3]

Temperatura 25 ºC

Gravidade -9,80665 [m s^-2] (direção Z)

Modelo de Turbulência k-ω

4.1.3 Condição de Contorno

As condições de contorno orientam a resolução das equações dinâmicas do modelo,

sendo assim, definem o comportamento esperado nas faces do domínio. As

característisticas são descritas abaixo.

Entrada Inlet (direção -1,0,0)

Topo Wall (parede sem atrito)

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Simetria Symetry (no eixo 0,1,0)

Lateral Wall (parede sem atrito)

Casco Wall (parede com atrito)

Fundo Wall (parede sem atrito)

Saida Opening

Critério de Convergência Residuo RMS

Nº de Iterações 1000

Figura 31 – Condição de Contorno

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5 RESULTADOS E ANÁLISE

Abaixo está o campo de pressões no casco, esse campo sofre pouca variação devido

à presença do ESD, nota-se que o pico de pressão encontra-se no bulbo em vermelho.

Contudo os resultados das linhas de corrente e do campo de velocidade na região do

propulsor serão mostrados em detalhes posteriormente.

Figura 32 – Campo de Pressão no Casco

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5.1 Resultados

As imagens abaixo mostram as linhas de correntes e o campo de velocidades na

posição do propulsor para todos os 3 cascos. Foi colocada uma circunferência de 6,5 m

de diâmetro, que corresponde ao do propulsor, mostrando as velocidades nessa região.

5.1.1 Casco 1 (Casco nu)

É possível observar que as linhas de correntes estão bem comportadas, e a escala de

velocidade mais alta é representada em vermelho. Para o campo de velocidades, nota-se

uma assimetria das velocidades, provocada pela forma twin-skeg. Neste caso, a escala

de velocidade mais alta é representada pela cor azul.

Figura 33 – Linhas de Corrente no Casco 1

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Figura 34 – Campo de Velocidades no Casco 1

5.1.2 Casco 2 (Defletor)

A pequena alteração no casco com o defletor não foi suficiente para modificar

muito as linhas de correntes, e a escala de velocidade mais alta é representada em

vermelho. Nota-se que a assimetria foi alevemente acentuada nesse caso, mostrando a

atuação do defletor.

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Figura 35 – Linhas de Corrente no Casco 2

Figura 36 – Campo de Velocidades no Casco 2

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5.1.3 Casco 3 (Defletor + Duto)

Observando as imagens abaixo, é possível verificar a influência do duto nas linhas

de corrente, direcionando algumas linhas para o propulsor. Sendo a escala de velocidade

mais alta é representada em vermelho. No campo de velocidades, nota-se uma

assimetria mais acentuada das velocidades.

Figura 37 – Linhas de Corrente no Casco 3

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Figura 38 – Campo de Velocidades no Casco 3

5.2 Análise

Para analisar a influência dos Energy saving devices no casco, será necessário

comparar a sua eficiência antes e depois da adição dos dispositivos. A eficiência do

casco é uma relação entre a potência efetiva, que tem relação direta com a resistência ao

avanço, e a potência desenvolvida pelo propulsor, relacionada ao empuxo do propulsor.

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Como a velocidade de avanço pode ser colocada em função da velocidade de

serviço e o empuxo em função da resistência:

Para calcular a eficiência será necessário determinar o coeficiente de redução de

empuxo e o coeficiente de esteira. O coeficiente de esteira será deteminado de forma

direta, já que o ‘CFX’ dará a velocidade média na região do propulsor. Para calcular o

coeficiente de redução de empuxo, primeiramente é preciso determinar um propulsor e

suas características para o casco nu. Foi utilizado o programa ‘Propulsão Inteligente’, do

Rafael Passos (UFRJ), que a partir dos parâmetros de entrada fornece o propulsor com

maior eficiência propulsiva pelos diagramas da série B de propulsores. No programa foi

tuilizado a solução para o tipo 9, que solicita a entrada da velocidade de serviço, da

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resistência ao avanço, da rotação do propulsor, nº de pás e razão de área. A resistência

ao avanço será a metade da resistência total dada pelo ‘CFX’, já que são utilizados 2

propulsores. Os demais parâmetros de entradas foram selecionados com base em navios

típicos deste porte, variando a razão de área para os valores 0,60, 0,70 e 0,80, foi

selecionado o caso de maior eficiência:

Figura 39 – Programa Propulsão Inteligente

O propulsor de maior eficiência foi:

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Utilizando a planilha Hélice B, de Alexandre Alho (UFRJ), é possível determinar o

empuxo disponível e os coeficientes propulsivos de avanço, de empuxo e de torque (J,

Kt e Kq) utilizando a Série B, para o coeficiente de esteira calculado. Com a variação do

coeficiente de esteira nos cascos 2 e 3, o empuxo foi recalculado para cada caso.

Figura 40 – Programa Hélice B

5.2.1 Coeficiente de Esteira ( )

Qualquer corpo se deslocando na água gera uma esteira por onde passa. A esteira

gerada por navios ocorre é influenciada pelas linhas de corrente e pelo aumento da

camada limite ao redor do corpo. A esteira faz com que a velocidade com que o

propulsor opera seja diferente da velocidade de serviço do casco, influenciando o

potência propulsiva e, portanto, a eficiência do casco. Diferentemente de cascos single-

screw, os cascos twin-screw oferecem um perfil de esteira assimétrico em cada

HéliceBâ

h

h

Executar

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propulsor. No caso estudado, será feita uma comparação da esteira nominal, que é a

esteira sem interferência do propulsor. A esteira nominal é composta por esteira

friccional, esteira potencial e esteira induzida pelas ondas, e pode ser calculada por:

Figura 41 – Coeficientes de Esteira em Twin-skeg

Esteira Potencial – É a esteira obtida pelo navio em um fluido ideal, sem

fricção e ondas. Essa esteira pode ser calculada matematicamente.

Esteira induzida por Ondas – É originada dos movimentos rotacionais das

partículas de água nas ondas.

Esteira Friccional – É o mais importante componente, sendo originada pela

friccção do fluido no corpo, que faz com que as partículas percam

velocidade e não se transportem mais na mesma velocidade do corpo.

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È possível determinar o coeficiente de esteira a partir de estudos empíricos, no

entanto, a base de dados para navios single-screw é mais consistente que para o caso de

twin-skeg. Muitos parâmetros influenciam na esteira, assim, os programas de CFD se

destacam por poder computar a velocidade do escoamento no propulsor. Os parâmetros

que mais influenciam a esteira são:

Coeficiente de bloco;

Razão B/L

Razão D/L

5.2.2 Resistência ao Avanço

O movimento de um corpo imerso na água faz com que esta faça uma força oposta

ao movimento. Essa força é chamada de resistência ao avanço e pode ser dividida em

vários componentes:

Resistência Friccional – É obtida pela integração das componentes

tangencias do fluido na área molhada.

Resistência de Pressão Viscosa – É obtida pela integração das componentes

de pressão normal no corpo devido a viscosidade e turbulência do fluido.

Resistência de Ondas – É a resistência causada pelas ondas geradas pelo

corpo ao se deslocar no fluido.

Resistência de Apêndices – É a resistência adicional causada por elementos

acoplados ao casco, como leme, eixo etc.

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E outras componentes menores como Resistência de Rugosidade,

Resistência em Ondas, Resistência do Ar.

Na simulação feita nesse trabalho, as únicas ondas analisadas são as geradas pelo

corpo ao passar no fluido, sendo assim, não há análise da resistência em ondas, assim

como do ar e de rugosidade. Além disso, espera-se que o aumento da resistência total

com os apêndices (ESDs) sejam compensados pelo ganho na eficiência do casco.

Comparando os resultados é possível fazer uma análise mais específica de cada

casco. É possível observar que houve um aumento na resistência ao avanço ao inserir os

ESDs, para ambos os casos, situação já esperada. Além disso, nota-se que a perda em

resistência é compensada pelo aumento na eficiência do casco, que ocorre nos cascos 2

e 3. Destaca-se o casco 3 que apresentou melhora na eficiência do casco de 0,7%, se

comparado com o casco 1.

Tabela 3 – Comparação dos Resultados

Resistência

ao Avanço

(kN)

Variação

de Rt

(%)

Empuxo

de 1

Prop

(kN)

Empuxo

Total

(kN)

Coef. de

Redução

de Emp.

Va

(m/s)

Coef.

de

Esteira

Eficiência

do Casco

Variação

da

Eficiência

Casco 1 1433,04 0% 847,695 1695,39 0,155 8,065 0,209 1,069 0%

Casco 2 1439,07 0,42% 849,932 1699,86 0,153 8,057 0,210 1,072 0,3%

Casco 3 1441,13 0,56% 845,458 1690,92 0,148 8,071 0,208 1,076 0,7%

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6 CONCLUSÕES

O estudo apresentado mostra que é possível realizar análises posteriores à

otimização comum de navios mercantes com o intuito de melhorar a eficiência

energética. No caso apresentado, foi visto um aumento da eficiência do casco em 0,7%

utilizando o duto e defletor combinados e de 0,3% utilizando apenas o defletor. Estudos

vêm sendo feitos em cima da conceituação de dispositivos que forneçam cada vez mais

eficiência energética, os chamados Energy saving devices, no entanto pouco foi feito

tratando do caso específico de cascos twin-skeg. Sendo assim, a inserção correta de um

ESD na popa do casco twin-skeg é complexa e demanda análises mais precisas e com

uma gama maior de ESD testados. No entanto, ao melhorar o fluxo do escoamento no

propulsor na forma final do casco é possível obter uma solução otimizada do casco.

Além disso, foi possível notar que o CFD ainda é uma ferramenta em

desenvolvimento, que em pouco tempo pode fornecer resultados mais precisos para

casos atípicos, no entanto, já se mostra como uma ferramenta trivial no projeto, evitando

re-trabalho, tempo e custos excessivos com construção de modelos reduzidos. As

variáveis que interferem na análise em CFD são múltiplas desde o programa e solução

utilizada por ele a geração de malha e condição de contorno, portanto é necessário

controlá-las para identificar potenciais erros.

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7 PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS

Uma análise mais ampla e complexa do caso pode oferecer resultados melhores,

buscando a solução ótima para um navio gaseiro twin-skeg. A falta de referências

científicas acerca do uso de ESDs em casco twin-skeg trás a necessidade de realizar

análises para vários Energy saving devices em diferentes configurações. Alguns destes

só poderão ser feitos após a definição final do propulsor e do leme, podendo-se

comparar também a eficiência propulsiva. Há ainda que se destacar que foi utilizada

apenas a maior velocidade de serviço (19,5 nós) na condição carregada (calado de 11,5

m), que se motra como a condição de maior influência na esteira. Sendo assim, é

importante realizar análises para todas as condições de operação e definir a melhor

eficiência nesse panorama.

Além disso, a malha ou o domínio podem interferir positivamente ou

negativamente nos resultados, pois, ao adicionar um ESD no casco, a malha pode ser

alterada na região, sugere-se, então, um teste de malha e domínio. Por último, a

comparação da esteira efetiva seria uma forma de se aproximar o melhor possível da

situação real, acrescentando um propulsor que irá succionar o escoamento na popa. Uma

análise como essa no CFD pode ser feita utiliando um disco propulsor de mesmo

diâmetro do propulsor real ou, ainda, modelando o propulsor propriamente dito no

modelo computacional, este último sendo o mais adequado, porém, trazendo mais

dificuldade na solução computacional do escoamento.

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