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Hidrologia e das Bacias Hidrográficas: INGC Alterações Climáticas Relatório 61 Análise da Hidrologia e das Bacias Hidrográficas 3.1 Análise do Historial Hidrológico Dr. Kwabena Asante, Climatus e Agostinho Vilankos, DNA 3.2 Impactos futuros das mudanças climáticas nos caudais dos rios, cheias e intrusão salina Dr. Kwabena Asante, Climatus e Agostinho Vilankos, DNA 3

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Hidrologia e das Bacias Hidrográficas: INGC Alterações Climáticas Relatório

61

Análise da Hidrologia e das Bacias Hidrográficas

3.1 Análise do Historial HidrológicoDr. Kwabena Asante, Climatus e Agostinho Vilankos, DNA

3.2 Impactos futuros das mudanças climáticas nos caudais dos rios, cheias e intrusão salinaDr. Kwabena Asante, Climatus e Agostinho Vilankos, DNA

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Hidrologia e das Bacias Hidrográficas: INGC Alterações Climáticas Relatório

Este relatório apresenta uma avaliação dos impactos das alterações climáticas na hidrologia de Moçambique. A avaliação tem por base a integração de sete modelos de clima globais inferidos com um modelo de clima regional em dois modelos hidrológicos geoespaciais. Os resultados da modelagem foram analisados relativamente às alterações previstas nos termos do alcance e da frequência de inundações e secas, bem como da disponibilidade de água nas bacias hidrográficas que escoam por todo o país. Avaliaram-se, do mesmo modo, os riscos costeiros que afectam os principais sistemas fluviais de Moçambique.

3.1a Introdução

Análise do Historial Hidrológico

Dr. Kwabena Asante, Climatus e Agostinho Vilankulos, DNA.

3.1a Introdução

3.1b Tendências passadas no fluxo dos rios moçambicanos

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Hidrologia e das Bacias Hidrográficas: INGC Alterações Climáticas Relatório

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Uma análise de caudais passados baseados nos indicadores de nível dos rios em Moçambique indica que existem fases húmidas e secas alargadas que podem prolongar-se por 20 anos ou mais. Enquanto que se verificam variações ligeiras no período do registo, cada estação seleccionada conta com aproximadamente 50 anos de registos anuais que abrangem o período de 1950 a 2008. As estações usadas na análise incluem Madubula (E-6) no rio Maputo, Goba (E-10) no rio Umbeluzi, Ressano-Garcia (E-23) no rio Incomati, Combomune (E-33) no rio Limpopo, (E-67) no rio Pungué e (E-91) no rio Licungo. O rio Zambeze e outros rios importantes são excluídos desta análise por haver grandes lacunas de dados de mais de 10 anos (vinte anos no caso do Zambeze).

Em termos da frequência da ocorrência e com base no nível de alerta de inundações definido para cada estação hidrométrica, as cheias ocorreram a cada 2,8 anos na bacia de Maputo, a cada 2,6 anos na de Umbeluzi, a cada 4,8 anos na de Incomati, a cada 1,6 anos na de Limpopo, a cada 1,6 anos na de Pungué e a cada 2,6 anos na de Licungo. Isto implica que, em média, se espera presentemente que os rios de Moçambique possam exceder o nível de alerta de cheias a cada 2 a 3 anos. Contudo, as cheias de grande dimensão, 1,5 vezes superiores ao nível de cheia, ocorrem com muito menos frequência, aproximadamente uma vez em cada período de 15 a 20 anos.

De forma a estudar as alterações nos padrões das inundações, os quatro maiores picos de inundações anuais foram seleccionados para cada estação e analisados em gráfico relativamente à sua classificação e ao ano de ocorrência. O gráfico seguinte apresenta a classificação dos caudais máximos observados em várias estações de hidrométricas em algumas das bacias hidrográficas do país.

Figura 3.2: Períodos de ocorrência das quatro maiores inundações nas seis estações hidrométricas.

Com base no gráfico, é evidente que na década de 1950 não se registaram grandes picos de cheias. A partir de meados da década de 1960 até à década de 1980 observou-se um período de grandes cheias. Metade de todas estas 20 ocorrências de cheias de grande dimensão analisadas neste estudo ocorreu durante a década de 1970 a 1980. Este período activo precedeu uma actividade mínima de cheias durante os finais dos anos 80 e na maior parte da década de 1990. As grandes cheias regressam novamente no início de 2000. Este ciclo de humidade e seca é igualmente observado em conjuntos de dados de precipitação, como é o caso da Global Historical Climate Network.

A partir dos dados disponíveis, não é possível estabelecer nenhuma conclusão em termos de tendências no comportamento das inundações.

Period of Occurence for the 4 largest Floods

1st2nd3rd4thTotal

10

9

8

7

6

5

4

3

3

1

01935 to1944

1945 to1954

1955 to1964

1965 to1974

1975 to1984

1985 to1994

1995 to2004

3.1b Tendências passadas no fluxo dos rios moçambicanos

1963

4

121086

2

1973 1983 1993 2003

Maputo (E-6)

Flood Picks (m)Alert Level (m)

h(m

)

1951Flood Picks (m)

4

h(m

)

1012

86

20

1961 1971 1981 1991 2001

Incomati (E-23)

Alert Level (m)

1956Nivel maximo

4

h(m

) 1086

20

1966 1976 1986 1996

Pungue (E-67)

Nivel de alerta

1951Flood Picks (m)

4

h(m

) 1086

20

1961 1971 1981 1991 2001

Umbeluzi (E-10)

Alert Level (m)

1968Flood Picks (m)

4

h(m

)

1012

86

20

8074 86 92 98 2004

Limpopo (E-33)

Alert Level (m)

1943Nivel maximo

4

h(m

) 121086

20

1958 1973 1988 2003

Licungo (E-91)

Nivel de alerta

Figura 3.1: De forma a estudar as alterações nos padrões das inundações, os quatro maiores picos de inundações anuais foram seleccionados para cada estação e analisados em gráfico relativamente à sua classificação e ao ano de ocorrência

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Hidrologia e das Bacias Hidrográficas: INGC Alterações Climáticas Relatório

A metodologia de avaliação usada neste estudo é apresentada esquematicamente na figura seguinte.

Figura 3.3: Metodologia de avaliação para este estudo.

A análise é conduzida para um período histórico de 40 anos entre 1961 e 2000, e para um período futuro de 20 anos que começa em 2046 e termina em 2065. A análise cobre todas as áreas de drenagem ao longo da África Austral com bacias que fluem para dentro de Moçambique

As condições dos recursos hídricos são determinadas pela incorporação de dados relativos à evaporação e precipitação diárias no Modelo Geoespacial de Fluxo de Corrente (GeoSFM). A análise da precipitação diária e os dados de evaporação são quer dados históricos, quer previsões resultantes dos sete modelos de clima global (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) que foram inferidos para a região que está a ser estudada.

O fornecimento de água é determinado pelas condições médias do fluxo fluvial, ao passo que as condições de precipitação se baseiam no fluxo máximo durante cada ano. A análise da procura de água faz uso da informação actual sobre a população e o consumo de água de forma a avaliar as condições futuras, tendo em conta os cenários actuais de consumo elevado, médio e reduzido.

O estudo abrangeu os seguintes aspectos:

análise dos caudais para estimar as alterações na • grandeza e frequência das inundações;

análise das secas para estimar as tendências em termos • dos impactos na agricultura de sequeiro;

análise da procura de água para estimar a disponibilidade • de água nas bacias hidrográficas que escoam em todo o país, e

análise de inundações de estuários fluviais para estimar os • riscos costeiros que afectam os principais sistemas fluviais de Moçambique.

Análise dos caudais

Para estudar as alterações previstas induzidas pelo clima nas principais bacias hidrográficas de Moçambique, empreendeu-se um esforço de modelagem hidrológica para gerar hidroclimatologias passadas e futuras. A hidroclimatologia passada abrange o período de 40 anos entre 1961 e 2000, enquanto que a hidroclimatologia futura abrange o período de 20 anos entre 2046 e 2065. A abordagem de modelagem hidrológica adoptada neste estudo envolve a ligação de modelos hidrológicos a um modelo de clima regional, o qual é, por sua vez, ligado a uma série de modelos de clima globais.

Assessment Methodology

Regional Climate Model

GeoSFM WRSI

Hydrologic Models

Regional Rainfall ClimatologyCurrent Rainfall

Downscaling Parameters Global Rainfall Climatology

Global Climate Models

ECHAM GFDL IPSL CCCMA CNRM CSIRO GISS

3.2a Metodologia da modelagem hidrológica

Impactos futuros das mudanças climáticas nos caudais dos rios, cheias e intrusão salina

Dr. Kwabena Asante, Climatus e Agostinho Vilankulos, DNA.

3.2a Metodologia da modelagem hidrológica

3.2b Impactos das alterações climáticas nos recursos hídricos

3.2c Conclusão e recomendações

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Os modelos hidrológicos usados no estudo são o Modelo Geoespacial de Simulação de Caudais (GeoSFM) e o Índice de Satisfação das Necessidades de Água (WRSI). Ambos os modelos foram desenvolvidos pelo USGS EROS (Centro de Ciência e Observação dos Recursos da Terra do Instituto Geológico Norte-americano), e foram usados para suportar a monitorização de operações em muitos ambientes com escassez de dados.

A ligação foi obtida através do intercâmbio dos dados de precipitação e temperatura nos modelos. Os modelos de clima global usados no estudo são os seguintes: ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS.

A configuração do modelo teve início com a análise do terreno no GeoSFM para obter unidades de modelagem para as onze principais bacias hidrográficas de Moçambique, nomeadamente Maputo, Umbeluzi, Incomati, Limpopo, Save, Buzi, Pungué, Zambeze, Licungo, Motepuez e Rovuma.

A análise que usou 1 km de dados digitais de elevação do USGS resultou em 2577 bacias hidrográficas, estando cada uma delas associada a um único troço de rio. A sub-bacia típica cobre uma área de aproximadamente 1200 km2, enquanto que os troços de rio têm normalmente 45 km de comprimento. Durante a análise do terreno, garantiu-se igualmente a ligação entre as sub-bacias. Do mesmo modo, os parâmetros topográficos relativos à ocupação dos solos e terrenos necessários para a caracterização das sub-bacias, tendo em vista a utilização em simulações de fluxo, foram extraídos para bases de dados geoespaciais existentes.

Figura 3.4: Sub-bacias e sistemas fluviais delineados pelo GeoSFM para o Projecto sobre as Alterações Climáticas em Moçambique.

Análise de secas

Para a análise de secas usou-se um índice de satisfação relativo às necessidades de água para a cultura do milho (ISNA) como um indicador de seca. O ISNA mede a aptidão da humidade do solo disponível para satisfazer as necessidades de água para as culturas durante as diferentes fases do seu desenvolvimento. O ISNA tem demonstrado ser um bom indicador dos impactos da seca na produção de culturas, visto estar linearmente ligado à redução de rendimentos.

Tabela 3.1: O desempenho das culturas é avaliado com base na necessidade de água que corresponde ao indicado pelo Índice de Satisfação das Necessidades de Água (ISNA), como se segue:

Para esta análise, o algoritmo do ISNA foi implementado numa folha de cálculo a intervalos de tempo diurno e foi integrado com entradas de precipitação e evapotranspiração extraídas de formatos geoespaciais originais, utilizando o GeoSFM. Adoptou-se um início fixo da estação para facilitar o cálculo dos impactos dos efeitos do clima durante duas estações de cultivo distintas.

O cálculo do ISNA foi efectuado para duas estações distintas de 90 dias, com início a 1 de Outubro para a estação de Out-Nov-Dez e a 1 de Janeiro para a estação de Jan-Fev-Mar, respectivamente. A selecção de uma cultura de milho de 90 dias como indicador baseia-se no seu estatuto de principal cultura alimentar na região.

Análise da Necessidade de Água

As alterações do curso de água calculadas por meio do modelo hidrológico descrito acima não levam em consideração o consumo de água nas respectivas bacias. O consumo de água é normalmente composto de necessidades municipais, industriais e agrícolas. A magnitude destes consumos é uma função da população, das condições sócio-económicas, do tipo e extensão das actividades agrícolas e industriais, bem como das preferências culturais locais. À excepção da população, estes parâmetros são extremamente difíceis de prever com muita precisão, visto envolverem escolhas humanas e serem facilmente influenciados por alterações sócio-políticas locais e globais. Regra geral, as estimativas futuras relativas à população podem ser previstas com maior precisão, dado que as taxas de crescimento populacional são normalmente bastante estáveis na ausência de choques repentinos, tais como conflitos.

Índice de Satisfação das Necessidades de Água (ISNA) Desempenho da cultura

100 a 95 Muito Bom – Bom

94 a 60 Médio – Aceitável

59 a 50 Fraco

Inferior a 50 Mau

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Hidrologia e das Bacias Hidrográficas: INGC Alterações Climáticas Relatório

Neste estudo, usam-se as taxas actuais do crescimento populacional com as estimativas actuais relativas à população para 2000, de modo a calcular estimativas futuras relativas à população. As taxas de crescimento obtidas do Banco Mundial são Angola (2,6%), Botswana (1,6%), República Democrática do Congo (2,3%), Lesoto (1,6%), Malawi (2,9%), Moçambique (2,5%), África do Sul (2,5%), Suazilândia (2,5%), Zâmbia (2,2%) e Zimbabué (1,1%). Estas taxas de crescimento permitem o cálculo da disponibilidade de água per capita actual e futura, dividindo os valores médios simulados do curso de água pela população total prevista a montante de qualquer ponto de interesse. As bacias com escassez de água são identificadas, utilizando o limiar adoptado internacionalmente de menos de 1000m3/capita/ano. Ao comparar os mapas actuais e futuros da disponibilidade de água, identificaram-se as bacias fluviais que provavelmente irão sofrer de escassez de água.

A utilização de uma definição universal de escassez de água não leva em conta a consumo actual de água na região. Os dados relativos ao consumo de água para todos os países da região estão disponíveis na base de dados FAO Aquastats. Estes conjuntos de dados incluem taxas sectoriais de consumo de água para os sectores municipal, agrícola e industrial em cada país. As taxas de consumo de água per capita a nível nacional foram calculadas, adicionando as taxas sectoriais individuais e dividindo pelas populações nacionais. Observaram-se grandes diferenças nas taxas de consumo de água na região. Países como a África do Sul e o Zimbabué apresentam taxas elevadas de consumo de aproximadamente 250m3/capita/ano. Os países com consumo médio, tais como o Botswana e o Malawi consomem cerca de 100m3/capita/ano, enquanto que Moçambique, Angola e o Lesoto apresentam um consumo reduzido de aprox. 25m3/capita/ano.

Desenvolveram-se quatro cenários futuros de taxas de consumo de água com base nestas taxas de consumo de água per capita. O primeiro envolve a utilização de taxas actuais irregulares de consumo de água, enquanto que os outros três cenários assumem um consumo equitativo com as respectivas taxas supramencionadas (baixa, média e elevada) de consumo de água per capita. Os resultados desta análise de gestão hídrica são apresentados nas respectivas subsecções relativas às bacias hidrográficas dos capítulos concernentes às regiões Sul, Centro e Norte.

Análise de Inundações de Estuários Fluviais

A extensão das inundações associada com a subida do nível do mar nos estuários das bacias hidrográficas é igualmente apresentada nas respectivas subsecções fluviais. A maior parte da costa moçambicana é protegida por dunas de areia formadas pela deposição de areia consequente da acção do vento e das ondas. Os estuários fluviais são pontos baixos na banda de protecção, através da qual a água do mar pode facilmente penetrar em terra. Estes estuários são vulneráveis aos efeitos combinados da subida crónica do nível do mar, da acção das ondas de maré e dos eventos extremos, tais como tempestades tropicais e ciclones.

De modo a identificar a área de risco potencial, modelou-se um cenário de impactos violentos que envolve a ocorrência simultânea destes eventos, utilizando os valores na tabela em baixo. Estes valores correspondem a apreciações relacionadas com ciclones e com a subida do nível do mar para o período entre 2046 e 2065:

Os dados relativos à elevação da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) foram usados para caracterizar a forma dos estuários fluviais, tanto no sentido longitudinal como no sentido transversal. A extensão da inundação é identificada como sendo a diferença entre as grelhas de elevação final e inicial. Os resultados desta análise são apresentados nos termos da extensão da intrusão e da dimensão espacial da inundação para cada bacia hidrográfica.

Região Subida global do nível do mar

Subida das marés (acima do NMA)

Tempestade induzidas por acção ciclónica

Totalidades dos acontecimentos combinados

Norte 0.2 m 2.2 m 0.3 m 2.7 m

Centro 0.2 m 3.6 m 0.5 m 4.3 m

Sul 0.2 m 2.2 m 0.3 m 2.7 m

Tabela 3.2: Estes valores correspondem a apreciações relacionadas com ciclones e com a subida do nível do mar para o período entre 2046 e 2065.

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Foi conduzida uma análise das diferenças entre as hidroclimatologias históricas e futuras calculadas durante este estudo. Estas diferenças fornecem uma perspectiva sobre os impactos que as alterações climáticas têm actualmente nos recursos hídricos em Moçambique. As alterações principais examinadas incluem alterações na disponibilidade de água, a magnitude e frequência das inundações, os impactos prováveis das secas no desempenho das culturas e a frequência de más colheitas, na sua totalidade.

Os resultados dos padrões de precipitação previstos pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) são apresentados na figura seguinte:

Figura 3.5: Alterações na precipitação média anual para o sete modelos de clima global. Legenda da figura da direita: “Mudança na precipitação anual”: castanho – muito menos precipitação (inferior a 25% negativo) até verde escuro – muito mais precipitação (mudança positiva maior que 25%).

É evidente que os modelos apresentam comportamentos diferentes, o que obviamente tem resultados diferentes. De modo a encontrar uma lógica para tudo isto, uma vez que lidamos com incertezas, examinámos a probabilidade dos diferentes resultados. Esta análise usou a seguinte classificação:

Legenda: à esquerda: probabilidade de aumento num parâmetro; ao centro: probabilidade de não haver mudança ou de esta não ser significativa; à direita: probabilidade de redução num parâmetro. A cor amarela indica baixa probabilidade (0 a 2 modelos); laranja indica probabilidade considerável (3 a 4 modelos); vermelho indica elevada probabilidade (5 a 7 modelos).

Com base neste sistema de classificação, conseguimos entender melhor os resultados dos sete modelos de clima global, tal como é apresentado na figura seguinte para a precipitação:

Figura 3.6: Alterações em média na precipitação dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda da figura da direita: “Mudança na precipitação anual”: castanho – muito menos precipitação (inferior a 25% negativo) até verde escuro – muito mais precipitação (mudança positiva em mais de 25%).

Uma grande parte de Moçambique poderá assistir a uma ligeira subida da precipitação. No Limpopo, as subidas estendem-se ao longo da bacia. Nas bacias do Save e do Zambeze, não se prevêem alterações na precipitação anual em Tete e em algumas parte das bacias fora das fronteiras com Moçambique. Na região Norte do país, verifica-se uma combinação de subidas ligeiras e precipitação inalterada.

3.2b Impactos das alterações climáticas nos recursos hídricos

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Os resultados na disponibilidade de recursos hídricos previstos pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) são apresentados na figura seguinte.

Figura 3.7: Alterações no caudal mediano para os sete modelos de clima global. Legenda: castanho escuro – redução elevada (inferior a 25% negativo); azul escuro – incremento elevado (mudança superior a 25%)

Figura 3.8: Alterações em média no caudall médio dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda: castanho escuro – redução elevada (inferior a 25% negativo); azul escuro – incremento elevado (mudança superior em mais de 25%).

A disponibilidade de água na bacia do Limpopo e noutras bacias do Sul é susceptível de aumentar, enquanto que reduções são esperadas para partes das bacias do Zambeze e do Save. A disponibilidade de água não deverá sofrer alterações nas bacias do Norte. O Buzi e o Pungué estão dentro da zona de transição dos modelos, não apresentando tendências fortes seja em que direcção for.

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Os resultados das alterações na grandeza do risco de inundações previsto pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) são apresentados na figura seguinte.

Figura 3.9: Alterações na grandeza dos picos de cheias para os sete modelos de clima global. Legenda: verde escuro – redução elevada (inferior a 25% negativo); azul escuro – incremento elevado (mudança superior em mais de 25%).

Figura 3.10: Alterações em média na grandeza das cheias dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda: verde escuro – redução elevada (inferior a 25% negativo); azul escuro – incremento elevado (mudança superior a 25%).

A grandeza dos picos de cheias não irá sofrer alterações na maior parte da região, à excepção dos troços mais baixos do Limpopo, do Save e do Pungué, para onde se prevêem subidas.

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Os resultados das alterações na frequência do risco de inundações previsto pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) e as probabilidades associadas são apresentados nas figuras seguintes.

Figura 3.11: Alterações na frequência das cheias para os sete modelos de clima global. Legenda: castanho claro – muito menos frequente (inferior a 50% negativo); verde escuro – muito mais frequente (acima de 25%).

Figura 3.12: Alterações em média na frequência das cheias dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda: castanho claro – muito menos frequente (inferior a 50% negativo); verde escuro – muito mais frequente (acima de 25%).

Não se prevê um padrão claro de alterações na frequência das cheias na região. Nas bacias costeiras, prevêem-se pequenos sinais de um ligeiro aumento da frequência das cheias, em especial na parte central do país. Outras alterações, na sua maior parte, são menos significativas e ocorrem em pequenas bacias no interior.

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Os resultados do risco de seca da estação de Out-Nov-Dez previsto pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) e as probabilidades associadas são apresentados nas figuras seguintes.

Figura 3.13: Alterações no ISNA médio do milho para a estação de Out-Dez para os sete modelos de clima global. Legenda: castanho escuro – aumento elevado no risco de seca (inferior a 10% negativo); verde escuro – redução elevada no risco de seca (acima de 10%).

Figura 3.14: Alterações em média na frequência da seca na estação de Out-Dez dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda: castanho escuro – aumento elevado no risco de seca (inferior a 10% negativo); verde escuro – redução elevada no risco de seca (acima de 10%).

Para a estação de Out-Dez, espera-se uma ligeira subida no risco de seca na parte central do país, avançando até ao Zimbabué e à Zâmbia. Não se prevêem alterações no risco de seca para mais nenhum local.

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Nas figuras seguintes são apresentados os resultados do risco de más colheitas da estação de Out-Nov-Dez previsto pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) e as probabilidades associadas.

Figura 3.15: Alterações na frequência de más colheitas de milho na estação Out-Dez para os sete modelos de clima global. Legenda: verde escuro – muito menos frequente (inferior a 25% negativo); castanho escuro – muito mais frequente (acima de 25%).

Figura 3.16: Alterações em média na frequência do risco de más colheitas na estação de Out-Dez dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda: verde escuro – muito menos frequente (inferior a 25% negativo); castanho escuro – muito mais frequente (acima de 25%).

Para a estação de Out-Dez, espera-se uma ligeira subida no risco de más colheitas na parte central do Zimbabué, no Sul da Zâmbia e no Centro de Moçambique, particularmente ao redor de Tete. Algumas zonas isoladas de melhoria no Norte de Moçambique.

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Os resultados do risco de seca da estação de Jan-Fev-Mar previsto pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) e as probabilidades associadas são apresentados nas figuras seguintes.

Figura 3.17: Alterações no ISNA médio do milho para a estação de Jan-Fev para os sete modelos de clima global. Legenda: castanho escuro – elevado aumento no risco de seca (inferior a 10% negativo); verde escuro – muito mais frequente (acima de 10%).

Figura 3.18: Alterações em média na frequência da seca na estação de Jan-Mar dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda: castanho escuro – elevado aumento no risco de seca (inferior a 10% negativo); verde escuro – muito mais frequente (acima de 10%).

Para a estação de Jan-Mar, espera-se uma ligeira subida no risco de seca na parte central do Zimbabué. Não se prevêem alterações no risco de seca em Moçambique.

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Hidrologia e das Bacias Hidrográficas: INGC Alterações Climáticas Relatório

Os resultados do risco de más colheitas da estação de Jan-Fev-Mar previsto pelos sete modelos de clima global usados neste estudo (ECHAM, GFDL, IPSL, CCCMA, CNRM, CSIRO e GISS) e as probabilidades associadas são apresentados nas figuras seguintes.

Figura 3.19: Alterações na frequência de más colheitas de milho na estação Jan-Mar para os sete modelos de clima global. Legenda: verde escuro – muito menos frequente (inferior a 25% negativo); castanho escuro – muito mais frequente (acima de 25%).

Figura 3.20: Alterações em média na frequência de más colheitas na estação de Jan-Mar dos sete modelos de clima global e probabilidades associadas. Legenda: verde escuro – muito menos frequente (inferior a 25% negativo); castanho escuro – muito mais frequente (acima de 25%).

Para a estação de Jan-Mar, não se esperam alterações na frequência de más colheitas, devido à seca, em Moçambique ou no resto da região.

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Em termos de consumo de água, as figuras seguintes apresentam as alterações esperadas na disponibilidade de água per capita e no fornecimento residual de água associado, às taxas actuais de consumo per capita.

Figura 3.21: Alterações na disponibilidade de água per capita. Legenda: castanho – abaixo de 1000m3/capita/ano; azul – acima de 1000 m3/capita/ano.

Figura 3.22: Alterações na disponibilidade de água residual às taxas actuais de consumo per capita. A unidade cms refere-se a metros cúbicos por segundos (m3/s). Legenda: castanho a procura excede a oferta (menos de 0 cm); azul – a oferta excede a procura (mais de 10 cm).

Esta figura apresenta três cenários diferentes de disponibilidade de água residual a três taxas de consumo per capita dieferntes: baixas, médias e elevadas.

Figura 3.23: Alterações na disponibilidade de água residual às taxas de consumo per capita baixas, médias e elevadas. A unidade cms refere-se a metros cúbicos por segundos (m3/s). Legenda: castanho a procura excede a oferta (menos de 0 cm); azul – a oferta excede a procura (mais de 10 cm).

A partir das figuras, é possível concluir que com o crescimento da população, as necessidades de água irão aumentar, e que as actuais taxas de consumo de água per capita não podem ser sustentadas na maior parte das bacias no Sul de Moçambique, incluindo o Limpopo, Incomati e Umbeluzi. Em 2050, no vale do Shire do rio Zambeze irá ter uma procura de água maior que a disponibilidade, em todos os cenários de consumo de água actual, baixo, médio ou elevado.

Se o consumo médio de água de 100m3/capita/ano for adoptado por todos os países, a maior parte das bacias do Limpopo e do Incomati terão capacidade para satisfazer a procura de água projectada em 2050. As necessidades hídricas no Umbeluzi e Maputo só poderão ser satisfeitas no cenário de consumo baixo de (25m3/capita/ano).

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As marés dos oceanos são a maior força natural que afecta a intrusão de água salgada nos sistemas fluviais. Esta intrusão já está a decorrer actualmente. A subida do nível do mar e as vagas tempestuosas aparentam ter uma influência muito menor. No que se refere à área afectada, o Zambeze apresenat a maior área afectada, mas o Save poderia ter sido afectado mais seriamente devido ao seu prolongado período anual de caudasi baixos. No que respeita à distância de intrusão para o interior, o Limpopo é a bacia mais afectada seguida pelo Incomati e pelo Zambeze, tal como é reflectido na tabela que se segue.

Tabela 3.3: Na tabela anterior, a distância no interior refere-se à distância na qual a subida do nível da água associada a uma vaga de tempestade irá causar problemas de inundação.

Na tabela anterior, a distância no interior refere-se à distância na qual a subida do nível da água associada a uma vaga de tempestade irá causar problemas de inundação. A intrusão salina avança ainda mais para o interior, tal como é exemplificado para o rio Pungué, que é a maior fonte de água potável das cidades da Beira e do Dondo e de irrigação de água para a Açucareira de Mafambisse em Moçambique. A tomada de água para ambos os consumidores de água está localizada a aprox. 82 km da foz do estuário. Em anos secos, a intrusão salina alcança a tomada de água, provocando a a interrupção de bombagem. Este fenómeno pode ocorrer na estação seca durante as marés vivas. Como resultado, o bombeamento é interrompido durante várias horas ao aproximar a maré alta. Este problema já afectou em larga escala o fornecimento de água à Beira, a segunda maior cidade de Moçambique, bem como a açucareira de Mafambisse (Lamoree e Nilsson, 2000).

Numa situação natural, é necessária uma descarga mensal mínima de 12m3/s para prevenir que a água salgada alcance a tomada de água durante a maré alta das marés vivas. A descarga actual de água a montante da tomada de água terá de ser maior, visto que estas descargas mínimas não levam em consideração a água retirada para ser fornecida às áreas urbanas e de irrigação ou uma descarga mínima necessária para manter o ecossistema aquático. Devido a captações actuais de água, os problemas de salinidade perto da tomada de água ocorrem em aproximadamente 10% do tempo. Uma captação de água adicional de 5m3/s irá conduzir a um aumento na intrusão salina e a interrupções mais frequentes da tomada de água em aproximadamente 10% do tempo. Durante as marés baixas, os bancos de areia agem como uma barreira natural provisória para a intrusão de sal, reduzindo as hipóteses da água salgada chegar à tomada de água (S. Graas e H. H. G. Savenije, 2008).

Actualmente a intrusão salina representa também um problema no rio Incomati, cuja irrigação está bastante desenvolvida. No estuário, é necessário um caudal mínimo de 5m3/s só para controlar a intrusão salina. O mesmo problema ocorre no Limpopo, cuja irrigação também se desenvolveu bastante e na qual se investiu muito, e no Zambeze. Vastas áreas das regiões interiores do Sul-Centro de Moçambique (Incomati, Umbeluzi, Limpopo e Pungué) perdem terras devido à intrusão salina, como resultado das reduzidas descargas dos afluentes (F. Tauacale, 2002).

Enquanto que a modelagem hidrológica foi efectuada por bacias hidrográficas, como foi apresentado anteriormente, os resultados são apresentados para as regiões do Sul, do Centro e do Norte do país para facilitar a transferência dos mesmos aos decisores.

Rios Distância no interior (in km)

Área afectada (em Km2)

Ligonha 5 6

Zambezi 28 240

Buzi 20 19

Save 16 170

Limpopo 29 83

Incomati 28 9

Maputo 11 5

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Sul de Moçambique

PluviosidadeNo Sul de Moçambique, seis dos sete modelos de clima indicam uma tendência para a subida da precipitação anual média de cerca de 25%. A única garnde excepção no aumento da tendência de precipitação é a do modelo GFDL, o qual indica uma tendência em direcção a um ligeiro decréscimo na região.

As subidas projectadas estendem-se geralmente ao interior, ao longo de toda a área de drenagem do Limpopo e das bacias até ao Sul da região. Prevê-se que a precipitação na área de drenagem a montante do Save no Zimbabué permaneça inalterada ou reduza ligeiramente.

Contudo, a subida da temperatura resulta também numa subida de 10% da evapotranspiração, resultando na perda de algumas mais-valias da precipitação, em particular nas partes mais quentes da área de drenagem no Botswana e partes da África do Sul.

SecasAs subidas de precipitação projectadas resultam em modificações apenas ligeiras nas condições de cultivo das culturas. Isto deve-se ao facto de as temperaturas mais quentes também gerarem taxas mais elevadas de evapotranspiração e, consequentemente, necessidades mais elevadas de água para as colheitas.

Para a principal estação de cultivo de Janeiro-Fevereiro-Março (JFM), cinco dos sete modelos (ECHAM, CSIRO, CCCMA, GISS, CNRM) indicam que o risco de perdas de colheitas no Sul de Moçambique não sofrem alterações. O modelo mais seco (GFDL) prediz uma zona de aumento significativo no risco de seca centrado na bacia do Save e avançando para sul na bacia do Limpopo. O modelo mais húmido (IPSL) prediz um risco de seca reduzido em toda a bacia do Limpopo.

A frequência de perdas de colheitas durante a estação JFM não sofre alterações similarmente ao modelo mais húmido (IPSL), que prediz melhorias na bacia do Limpopo, enquanto que o modelo mais seco (GFDL) prediz uma maior frequência de seca. Os restantes cinco modelos indicam que a maior parte da região do Sul permanece inalterada, mas com sinais isolados de uma frequência reduzida de más colheitas.

Levando tudo em consideração, os modelos convergem numa previsão de risco inalterado de seca e frequência de perdas de colheitas durante a estação JFM.

Os resultados medianos do modelo para a estação de Outubro-Novembro-Dezembro (OND) indicam, igualmente, uma risco de seca inalterado no Sul de Moçambique. Quatro dos sete modelos indicam níveis de risco de seca sem alterações, enquanto que dois modelos (CCCMA e CNRM) indicam uma redução ligeira dos níveis de risco (cerca de 5%) e um modelo sugerem ainda subidas ligeiras no risco de seca.

A frequência mediana de más colheitas na estação OND indica também uma alteração mínima, mas este resultado não é muito fiável, dado que os resultados do modelo divergem muito entre si. Ao passo que três modelos, que incluem o ECHAM, o CCCMA e o CNRM, apresentam uma probabilidade para melhorias alargadas ao longo da região do Sul, os modelos GFDL e GISS indicam um vasto aumento no fracasso das colheitas.

O sétimo modelo contém uma mistura de sinais com subidas ligeiras e uma redução ligeira adjacentes entre si. Este resultado indica que as alterações aos padrões de más colheitas durante a estação OND são extremamente sensíveis a pequenas perturbações. Deveriam ser examinadas de perto, pois podem fornecer uma indicação do estado do clima.

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InundaçõesCom relação aos riscos de cheias no Sul de Moçambique, identificou-se um aumento de 25% na magnitude de grandes picos de cheias ao longo dos cursos principais de ambos os rios Limpopo e Save. Estes aumentos foram observados em cinco dos sete modelos: IPSL, ECHAM, CSIRO, CCMA e CNRM. Ambos os modelos GFDL e GISS registaram uma descida nas magnitudes de inundação para montante, em direcção à África do Sul e ao Zimbabué.

Observaram-se sinais muito mais fracos relativamente às alterações na frequência de inundações, em que quatro dos sete modelos indicam ocorrências de inundações menos frequentes ou inalteradas. As excepções incluem os modelos CSIRO, CCCMA e CNRM, que indicam um maior risco de inundações, mas geralmente nas sub-bacias mais pequenas, fora do curso principal.

Recursos hídricosÉ expectável que os caudais dos rios naturais subam em todas as bacias no Sul de Moçambique. Esta conclusão é apoiada por cinco dos sete modelos. As excepções a esta tendência são os modelos GFDL que prediz com frequência caudais mais reduzidos e o GISS que prediz, por sua vez, uma combinação de reduções e subidas ligeiras.

Quando se toma em consideração o consumo de água, a situação torna-se muito menos atractiva. É expectável que a população da bacia do Limpopo aumente de aprox. 14 milhões em 2000 para aprox. 46 milhões em 2050. Mesmo com uma subida de 15% nos caudais naturais, isto implica uma descida de 64% na disponibilidade de água per capita em 2050.

Para as bacias de Incomati, Umbeluzi e Maputo prevêem-se aumentos similares de três vezes a população e uma queda de 60-70% da disponibilidade da água. O Save irá sofrer uma descida menor de cerca de 40%, devido às taxas mais reduzidas de crescimento da população no Zimbabué.

Se as taxas de consumo actuais e irregulares se mantiverem ou se taxas de consumo elevadas e uniformes forem adoptadas em toda a região, o Limpopo secará durante a maior parte do ano, pois as taxas de extracção excedem a água disponível dos caudais naturais. Os caudais do Limpopo só podem ser mantidos num cenário de consumo médio e reduzido, ao mesmo tempo que o Umbeluzi e partes do Incomati só podem ser mantidos num cenário de consumo reduzido.

Estes resultados enfatizam a necessidade de reduzir a dependência nestes rios, desenvolvendo fontes alternativas de água e evitando, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de novas utilizações agrícolas nestas bacias.

Inundação fluvial na CostaOs rios do Sul de Moçambique caracterizam-se por longas e vastas planícies de alagamento que são altamente susceptíveis à intrusão de água salina. A dimensão da penetração no interior é praticamente idêntica para os rios Limpopo (29 km) e Incomati (28 km). Contudo, a área inundada por água salina na bacia do Limpopo é, com 83 km2, muito maior do que no Incomati, onde apenas 9km2 são afectados. O rio Maputo é também afectado com uma profundidade de penetração de 11 km e uma extensão de inundação de 5 km2, tal como é apresentado na figura que se segue.

Mapa 3.1: Áreas inundadas e intrusão de água salgada nos rios Limpopo, Incomati e Maputo.

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Centro de Moçambique

PluviosidadeNo Centro de Moçambique, quatro dos sete modelos de clima indicam que a maior parte das áreas irá sentir uma tendência em direcção a um ligeiro aumento da precipitação, ao passo que três modelos indicam que a precipitação irá permanecer inalterada. As excepções a esta tendência incluem as bacias do Tete e as zonas a montante das bacias do Save e do Zambeze no Zimbabué e na Zâmbia, onde a maior parte dos modelos indica uma precipitação inalterada ou ligeiramente reduzida.

Estas reduções da precipitação a montante poder-se-ão traduzir em reduções significativas nos caudais, à medida que as temperaturas mais altas são responsáveis por uma maior perda de evapotranspiração nas massas de água abertas, solos e vegetação.

SecasNo que se refere à seca, o Centro de Moçambique é a região do país que apresenta maiores probabilidades de vir a experimentar um maior risco de secas e perdas de colheitas. Os efeitos adversos são também mais pronunciados durante a estação OND do que na estação JFM.

Para a estação JFM, quatro modelos (GISS, CSIRO, GFDL e CCCMA) indicam possibilidades de risco de seca ligeiramente maior desde as bacias do Buzi e do Pungué até à bacia do Zambeze, perto de Tete. Noutros três modelos (ECHAM e CNRM), a zona de maior risco de seca está concentrada mais no interior ao longo do Zimbabué. O modelo IPSL não apresenta alterações no risco de seca.

Todos os sete modelos indicam alterações mínimas ou nenhumas na frequência de perdas de colheitas. A mensagem principal que se retira da análise da seca de JFM é o facto de uma zona de grande risco de seca concentrada sobre o Zimbabué, e estendendo-se provavelmente até Moçambique, poder ter implicações importantes para o consumo de água transfronteiriço e o comércio agrícola na região durante a estação JFM.

A extensão e gravidade do risco de seca é maior durante a estação OND. Pelo menos cinco modelos indicam maiores subidas do risco de seca (>25%). A zona de maior risco cobre a maior parte do Zimbabué, a Zâmbia e as áreas de Moçambique em redor de Cahora Bassa. Em dois modelos (CSIRO e GISS), as áreas costeiras do Centro de Moçambique, estendendo-se ao longo das bacias do Pungué e do Buzi, são igualmente afectadas.

A frequência média de perdas de colheitas é também reforçada com muitas áreas que apresentam entre 10% e 20% de aumento nas frequências de perdas. Este aumento nas perdas sobressai particularmente em três modelos (CSIRO, GFDL e GISS). Contudo, dois modelos (CCCMA e CNRM) praticamente não apresentam alterações na frequência de más colheitas, enquanto que dois modelos (IPSL e ECHAM) apresentam efectivamente uma frequência decrescente de más colheitas.

Estes modelos parecem concordar no facto de que haverá uma zona de aumento de más colheitas na área de drenagem do Centro de Moçambique, mas os modelos discordam relativamente à localização exacta das zonas.

InundaçõesO aumento dos riscos de inundações não parece ser motivo de preocupação na maior parte do Centro de Moçambique. Prevê-se que uma grande percentagem do interior da África do Sul conheça descidas mais fracas (IPSL, ECHAM e CNRM) ou mesmo descidas elevadas generalizadas (GFDL e GISS) na grandeza dos picos de inundação. A principal excepção a esta tendência é uma zona de grandes picos de cheias concentrados perto da faixa de Caprivi que liga Angola, o Botswana, a Namíbia, a Zâmbia e o Zimbabué. Esta zona de risco acrescido sobressai particularmente nos modelos CSIRO e CCCMA.

Contudo, as magnitudes das inundações a jusante desta área baixam para um nível normal ou ligeiramente abaixo do normal devido às reduções nos caudais afluentes circundantes com origem noutras partes do interior, partes que estão a experimentar períodos com um escoamento mais reduzido.

De um modo geral, espera-se uma redução ligeira da frequência das cheias na região, à excepção de alguns sinais isolados de uma frequência ligeiramente maior nas bacias hidrográficas costeiras no Pungué e no Zambeze central, perto da faixa de Caprivi.

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Recursos hídricosNo que se refere aos recursos hídricos, espera-se que as bacias costeiras no Centro de Moçambique, tais como o Pungué e Buzi, experimentem subidas nos caudais, ao passo que se espera que o Zambeze, que nasce no interior do continente, assista a uma diminuição.

São previstas reduções nos caudais no Zambeze de aprox. 15% por todos os modelos, excepto o IPSL que prediz que as melhorias na costa serão suficientes para superar os caudais reduzidos do interior. Em qualquer dos casos, as melhorias da costa não será sentida em Cahora Bassa, onde os caudaissão armazenados para a produção hidroeléctrica. As actuais reduções dos caudais no Zambeze pode vir a ser muito maior dado o risco crescente de secas e do crescimento da população dentro da respectiva área de drenagem.

Considerando as taxas actuais do crescimento populacional, prevê-se que a disponibilidade de água per capita desça de aprox. 1900m3/capita/ano em 2000 para aprox. 500m3/capita/ano em 2050. A partir das taxas actuais de consumo de água per capita a nível nacional, estima-se que a actual descarga em Moçambique possa ser reduzida em cerca de 25% em meados do século. Sob os cenários de consumo hídrico equitativo elevado e médio, a descarga irá cair 44% e 14%, respectivamente. A excepção a esta tendência no vale do Shire, onde, em 2050, muitos troços fluviais irão ser sobre-alocados nos cenários de consumo actual, médio e elevado. Nas outras partes do Zambeze parece haver água suficiente para satisfazer as necessidades de consumo de água apesar de se verificarem os impactos das alterações climáticas e do crescimento populacional. Contudo, não se realizou uma análise específica para avaliar os impactos que as alterações no tempo ou na fiabilidade dos caudais que poderão ter na produção hidroeléctrica. Dada a importância de Cahora Bassa para a economia de Moçambique, é importante dedicar recursos adicionais ao estudo das mudanças e das implicações económicas que estas reduções nos caudais poderão ter na produção hidroeléctrica e no desenvolvimento de estratégias para mitigar estes impactos.

Tanto o Buzi como o Pungué dispõem de recursos hídricos adequados para satisfazer as necessidades da população prevista e das alterações climáticas sob os actuais regimes de consumo de água. O Pungué pode também sustentar os cenários baixo e médio de consumo de água, mas não o cenário elevado. Por outro lado, o Buzi dispõe de água suficiente para satisfazer todos os quatro cenários de consumo hídrico.

Inundação fluvial na CostaO Centro de Moçambique é o mais afectado em termos de área de inundação pela intrusão salina. No delta do Zambeze, mais de 240km2 de terra poderão ser afectados pela penetração de aprox. 28km. A vegetação pantanosa no delta poderia fornecer alguma resistência natural a esta intrusão. Os grandes caudais associados às cheias anuais no Zambeze também poderiam contribuir para empurrar alguma desta água salgada de volta para o mar.

Contudo, a conservação da vegetação pantanosa e a gestão eco-hidráulica das descargas do reservatório de Cahora Bassa são necessárias para assegurar que estes processos de restauração aconteçam. A bacia do Save seria igualmente afectada numa área de 170 km2, alongando-se por 16km para o interior inundado. O banco norte do rio Save, que abrange a área entre Machanga e Divinhe, poderia sofrer o maior impacto pela inundação. No Buzi, a inundação abrange uma pequena área (19 km2) mas avança mais para o interior (20 km) tal como apresentado na seguinte figura.

Mapa 3.2: Áreas inundadas e intrusão de água salgada nos rios Limpopo, Incomati e Maputo.

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Norte de Moçambique

PluviosidadeAs simulações climáticas apontam para uma precipitação acrescida no Norte de Moçambique. Quatro dos sete modelos indicam que poderiam ocorrer subidas de precipitação de aprox. 15% em toda a região, ao passo que três outros modelos apontam para a probabilidade de ocorrerem apenas alterações mínimas ou localizadas na precipitação anual.

Como a maior parte das bacias hidrográficas nesta região são bacias inteiramente nacionais, a região oferece a melhor oportunidade para Moçambique beneficiar dos efeitos positivos das alterações climáticas, independentemente das acções tomadas pelos países vizinhos. Contudo, nesta região esperam-se poucas alterações que comportem consequências de maior.

SecasNo que diz respeito às secas, todos os sete modelos de clima indicam que não haverá alterações no risco de seca ou de más colheitas no Norte de Moçambique durante a estação JFM. Não é necessário efectuar adaptações especiais para dar conta dos efeitos do clima. No entanto, as populações em mudança poderão aumentar as pressões para reconversão agrícola relativamente a outras utilizações do solo.

Do mesmo modo, as previsões médias para a estação OND não registam alterações no risco de seca. Contudo, os resultados são menos fiáveis, visto que o modelo CSIRO indica um elevado risco de seca, em particular ao longo da fronteira com o Malawi.

A situação é consideravelmente menos segura com respeito à frequência de perdas de colheitas. Três modelos (IPSL, ECHAM e CNRM) indicam incidentes de perdas de colheitas muito menos frequentes, ao passo que três outros modelos (CSIRO, GFDL e GISS) indicam uma frequência muito mais elevada de perdas das colheitas. O modelo CCCMA prediz alterações mínimas ao longo da região, mas com sinais isolados de um número reduzido de perdas.

Levando estes resultados de modelos em consideração, a previsão média para a estação OND aponta para reduções moderadas na frequência de perdas das colheitas nas áreas costeiras e para a ausência de alterações no resto da região.

InundaçõesNo que concerne às inundações, há sinais mistos de alterações na região norte. Não se verificam alterações na grandeza dos picos de cheias na parte interior da região. Em oposição, a maior parte das bacias hidrográficas da costa registou grandes alterações nos picos de cheias nos resultados do modelo. Estas alterações formaram uma combinação dos picos de cheias aumentados e reduzidos, com um número mais elevado de bacias hidrográficas que apresentam aumentos. Estes resultados indicam que, enquanto que os modelos de clima têm alguma dificuldade em determinar exactamente a ocorrência de precipitação, há uma expectativa geral de aumento dos picos de cheias em pequenas bacias hidrográficas sempre que as tempestades atingirem terra. A previsão respeitante à frequência das

cheias é uma combinação similar de subidas e descidas em bacias hidrográficas isoladas. Mais bacias hidrográficas apresentam subidas nas frequências em vez de descidas, contudo não se verifica a conjugação necessária que confirme uma tendência consistente de mudança.

Recursos hídricosA maior parte dos modelos concordam na ausência de alterações nos caudais dos rios. Duas áreas pequenas apresentam desvios mínimos desta tendência. Nas simulações CCCMA e CSIRO, a parte Sul da região apresenta um caudal reduzido, enquanto que nos modelos IPSL, ECHAM e CNRM, a ponta norte do país, perto da foz com o rio Rovuma, mostra uma região com caudais mais elevados.

Taxas heterogéneas de consumo de água não são consideradas nesta região, pois a maior parte dos rios estão totalmente dentro de território moçambicano. À luz das taxas de consumo per capita, todos os troços fluviais dispõem de água suficiente para satisfazer as necessidades até 2050. Contudo, com o crescimento populacional, cerca de 60% de troços fluviais poderiam ficar com pouca água em 2050, em comparação com os 25% em 2000.

Inundação fluvial na CostaA intrusão de água salgada não coloca um problema de maior aos sistemas fluviais do Norte de Moçambique. Isto deve-se ao facto de o terreno apresentar geralmente muitas inclinações acentuadas em todo o canal do rio. As inclinações longitudinais comuns são de aprox. 3m por quilómetro perto da foz. A distância da penetração no interior no Licungo e no Ligonha é apenas de 4km e 5km, respectivamente. A área inundada no Licungo é de 2km2 e três vezes maior do que no Ligonha, tal como é apresentado na figura seguinte.

Mapa 3.3: Áreas inundadas e intrusão de água salgada nos rios Limpopo, Incomati e Maputo.

Estes impactos são relativamente pequenos se comparados com os efeitos noutras partes do país.

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Este estudo detectou uma grande incerteza relativamente à magnitude dos impactos hidrológicos resultante das alterações climáticas em Moçambique. Contudo, surgiram também alguns sinais claros espaciais de alterações, os quais poderão formar a base para o planeamento de adaptação no futuro. Estes sinais incluem a região de seca concentrada no interior do continente ao longo do Zimbabué, o aumento da precipitação na costa e a redução no risco de seca no Norte de Moçambique durante a estação OND.

As principais conclusões deste estudo podem ser resumidas da seguinte forma:

Para a estação de cultivo de Out-Nov-Dez prevê-se um • aumento do risco de seca e da frequência de perdas de colheitas numa área concentrada ao longo do Zimbabué, estendendo-se ao longo de partes da Zâmbia e do Centro de Moçambique.

Durante a maior estação de cultivo em Jan-Fev-Mar em • Moçambique, não se esperam alterações nem no risco de seca nem na frequência de perdas de colheitas.

Não se esperam alterações no perfil da seca em grande • parte do Norte e do Sul de Moçambique durante a estação de cultivo Out-Nov-Dez. No Norte de Moçambique poderá inclusivamente ocorrer uma ligeira descida na frequência de perdas de colheitas.

O Zambeze, cuja área de drenagem se situa no interior do • continente, poderá assistir a uma redução no caudal anual, podendo afectar a produção hidroeléctrica.

As bacias hidrográficas no Centro de Moçambique, • incluindo o Save e Buzi, poderão assistir a um aumento na grandeza e na frequência das inundações, em particular nas bacias costeiras. No Limpopo a grandeza das inundações também poderá vir a aumentar.

Espera-se que o aumento da precipitação nas sub-bacias • costeiras resulte numa subida no escoamento interno que pode ser gerido a nível nacional.

O Limpopo, o Save, o Pungué e outros rios no Norte • de Moçambique irão experimentar uma subida na disponibilidade nos recursos hídricos.

O crescimento da população irá aumentar a procura de • água e as actuais taxas de consumo de água per capita não podem ser sustentadas na maior parte das bacias no Sul de Moçambique, incluindo o Limpopo, Incomati e Umbeluzi. Em 2050, no vale do Shire no rio Zambeze irá observar uma procura de água maior que a disponível em todos os cenários de consumo de água actual, baixo ou médio.

Se o consumo médio de água de 100m• 3/capita/ano for adoptado por todos os países, a maior parte das bacias do Limpopo e do Incomati terão capacidade para satisfazer a procura de água projectada em 2050. As necessidades hídricas no Umbeluzi e Maputo só poderão ser satisfeitas num cenário de consumo baixo de (25m3/capita/ano).

As marés dos oceanos são a maior força natural que • afecta a intrusão salina nos sistemas fluviais. Esta intrusão já está a acontecer actualmente. No que se refere à área afectada, o Zambeze é a maior área afectada, mas o Save poderia ter sido afectado mais seriamente devido ao seu prolongado período anual de baixos caudais. No que respeita à distância de entrada para o interior, o Limpopo é a bacia mais afectada seguida pelo Incomati e pelo Zambeze.

É possível elaborar recomendações gerais relativamente a possíveis medidas de adaptação:

Gestão do fornecimento de águaDesenvolver estratégias para melhorar a captação e o • armazenamento do escoamento interno tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais;Desenvolver uma infra-estrutura de armazenamento fora • do leito para armazenar as águas das inundações para utilização em anos de seca.

Iniciativas políticasPôr em prática uma política regional de consumo equitativo • de água per capita;Adoptar políticas de gestão das necessidades, tal como • a limitação de novos desenvolvimentos de água superficial e subterrânea nas sub-bacias com escassez de água.

Medidas de protecção Avaliar a construção de comportas fluviais para prevenir • a intrusão salina;Avaliar poços de injecção e outras barreiras hidráulicas • à intrusão salina.

Contudo, a adaptação climática é mais eficaz quando integrada nos processos existentes de planeamento local e nacional como uma variável que influencia as escolhas de investimentos, em vez de um projecto ou programa de trabalhos separado.

3.2c Conclusão e recomendações