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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ANGELICA DOS SANTOS VIANNA EXPOSIÇÃO NÃO OCUPACIONAL A COMPOSTOS ORGANOCLORADOS E NÍVEIS DE IMUNOGLOBULINA E: revisão sistemática RIO DE JANEIRO 2011

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Page 1: Angelica dos Santos Vianna disserta o bi)(Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ANGELICA DOS SANTOS VIANNA

EXPOSIÇÃO NÃO OCUPACIONAL A COMPOSTOS ORGANOCLORADOS E NÍVEIS

DE IMUNOGLOBULINA E: revisão sistemática

RIO DE JANEIRO

2011

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ANGELICA DOS SANTOS VIANNA

EXPOSIÇÃO NÃO OCUPACIONAL A COMPOSTOS ORGANOCLORADOS E NÍVEIS

DE IMUNOGLOBULINA E: revisão sistemática

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde (Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva (Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais)

Orientadores: Carmen Ildes Rodrigues Froes Asmus

Evandro da Silva Freire Coutinho

RIO DE JANEIRO

2011

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ii

V617e Vianna, Angélica dos Santos.

Exposição não ocupacional a compostos organoclorados e níveis de imunoglobulina. / Angélica dos Santos Vianna. – Rio de Janeiro: UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2011.

79f.; 30cm. Orientador: Carmen Ildes Rodrigues Froes Asmus, Evandro da

Silva Freire Coutinho. Dissertação (mestrado): UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde

Coletiva, 2011. Inclui bibliografia. 1. Imunoglobulina E. 2. DDT. 3. Dioxinas. 4. Humanos. I. Asmus,

Carmen Ildes Rodrigues Fróes. II. Coutinho, Evandro da silva Freire. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. IV. Título.

CDD 615.9

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iii

Angelica dos Santos Vianna

EXPOSIÇÃO NÃO OCUPACIONAL A COMPOSTOS ORGANOCLORADOS E NÍVEIS DE IMUNOGLOBULINA E: revisão sistemática

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde (Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva (Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais)

Aprovada em

___________________________________________________

Prof. Dr. Carmem IldesRodrigues Froes Asmus, (Faculdade de Medicina/UFRJ e IESC/UFRJ) e Prof. Dr. Evandro da Silva Freire Coutinho (ENSP/FIOCRUZ e IMS/UERJ)

____________________________________________________

Prof. Dr. Armando Meyer (Faculdade de Medicina UFRJ e IESC/UFRJ)

_______________________________________________________ Prof. Dr. Evandro da Silva Freire Coutinho (ENSP/FIOCRUZ e IMS/UERJ)

________________________________________________________

Prof. Dr.Jose Marcos Telles da Cunha (Faculdade de Medicina/UFRJ e Departamento Pediatria)

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DEDICATÓRIA

A minha pequena e amada família: Bruna, Júlia, Mafalda, Manoel e Rosa.

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AGRADECIMENTOS

A Mafalda e Manoel, pais incansáveis e dedicados.

À Rosa, adorada irmã, obrigada por tudo.

Aos meus orientadores Carmen e Evandro, por indicarem o caminho. Saibam que foi um

aprendizado agradabilíssimo.

À Elisabete, grande amiga e revisora que tornou possível a realização deste estudo.

À Daniele, cujos conhecimentos sobre informação, foram de fundamental importância.

Ao Zé, querido mestre, por partilhar conhecimento.

À Vannia Tosta, querida amiga, obrigada por abaixar a ponte.

Aos colegas do IESC, em especial aos servidores da Pós Graduação e Biblioteca.

Aos alunos da Faculdade de Medicina da UFRJ que me fazem estudar sempre.

Aos meus bons amigos aonde quer que eles estejam.

Last but not least, aos meus “bebês” Mimi e Lili, pela fiel companhia nos momentos

diuturnos de produção.

Manifesto minha gratidão a todos aqueles que, porventura, minha memória tenha esquecido.

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RESUMO

VIANNA, A.S. Exposição não ocupacional a compostos organoclorados e níveis de imunoglobulina E: revisão sistemática. Rio de Janeiro, 2011. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva)-Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011

A produção e uso de substâncias químicas vem crescendo nas últimas décadas como

conseqüência da introdução de novas tecnologias na indústria e agricultura. Um exemplo são

os compostos organoclorados presentes em diversos ecossistemas e depositados no tecido

gorduroso dos seres vivos por longos períodos. Grandes grupos populacionais são a eles

expostos, gerando um problema de saúde pública. Os efeitos nocivos à saúde devido à

exposição a baixas doses destas substâncias ainda são pouco conhecidos. Dentre estes, há os

imunotóxicos que podem ser identificados por meio de avaliação clínica e de exames

complementares específicos, conhecidos como biomarcadores imunológicos, como a dosagem

dos níveis séricos de imunoglobulina E. Um estudo de revisão sistemática foi realizado, nas

bases de dados MEDLINE/PubMed e BVS/LILACS, com objetivo de verificar a existência de

associação entre a exposição humana não ocupacional a determinados grupos de compostos

organoclorados (DDT, seus metabólitos e dioxinas) e níveis séricos de imunoglobulina E.

Foram recuperados 232 artigos e selecionados onze de acordo com os critérios pré

estabelecidos, sendo todos estudos observacionais. Após aplicação de instrumento para

avaliar a qualidade do relato, observou-se uma grande heterogeneidade na descrição e na

análise dos dados. A conclusão foi de que não havia evidências suficientes na literatura

científica para confirmar ou negar esta associação.

Palavras chave: Imunoglobulina E. DDT. Dioxinas. Humanos.

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ABSTRACT

VIANNA, A.S. Non occupational exposure to organochlorine compounds and immunoglobulin E levels: systematic review. Rio de Janeiro, 2011. Dissertation (Master in Collective Health)-Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011

The production and use of chemicals has been growing in recent decades as a result of

the introducion of new technologies in industry and agriculture. One example is the

organochlorine compounds which are present in different ecosystems and deposited in fatty

tissue of living beings for long periods of time. Large populations are exposed to them and

this is, therefore important, from public health pespective as an issue. The adverse health

effects from exposure to low doses of these substances are still equivocal. Among these, there

are immunotoxics that can be assessed by clinical evaluation and specific tests, known as

immunologic biomarkers, such as measuring serum immunoglobulin E levels. A systematic

review study was conducted at MEDLINE/PubMed and BVS/LILACS databases, in order to

identify, evaluate and synthesize the results of primary studies on human non occupational

exposure to certain groups of organochlorine compounds (DDT, its metabolites and dioxins)

and serum immunoglobulin E levels. According to pre-established criteria, 232 articles were

retrieven and eleven were selected, all of them observational studies. After applying a tool to

assess the quality of reporting, there was a great heterogeneity in data description. The

conclusion of this review was that there was insufficient evidence in the literature to confirm

or deny this association.

Key words: Immunoglobulin E. DDT. Dioxins. Humans.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Representação esquemática do método de busca e dos resultados

obtidos. Em negrito encontram-se os artigos selecionados

47

Figura 02 - Distribuição do escore de qualidade de cada artigo 55

Figura 03 - Análise específica dos itens: porcentagem dos artigos com

pontuação ≥ 03

56

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LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 01 - Efeitos dos compostos organoclorados em seres humanos 19

QUADRO 02 - Classificação do potencial carcinogênico pelas IARC, EPA e

DHHS

20

QUADRO 03 - Condições e Doenças associadas com aumento do nível sérico de

IgE

24

QUADRO 04 - Efeitos sobre o sistema imunológico, segundo a Agência de

Registro de Doenças e Substâncias Tóxicas (ATSDR)

34

QUADRO 05 - Domínios e elementos importantes para os sistemas de

classificação da qualidade de artigos de estudos observacionais

segundo a DHHS

44

QUADRO 06 - Motivos da exclusão dos artigos segundo os critérios

estabelecidos em ordem decrescente

48

QUADRO 07 - Características dos estudos quanto aos xenóbióticos mensurados 52

QUADRO 08 - Análise estatística empregada nos estudos e variáveis

confundidoras controladas

53

QUADRO 09- Média dos escores por item 54

QUADRO 10 - Estimativa do coeficiente de correlação intraclasse por seção do

questionário.

57

QUADRO 11 - As características das imunoglobulinas 74

QUADRO 12 - Quadro de contingência elaborada após a leitura dos títulos dos

artigos

79

QUADRO 13 - Medida kappa para as categorias (critérios de inclusão/exclusão) 79

TABELA 01 - Artigos selecionados: autor, ano, periódico, características

metodológicas

50

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LISTA DE ABREVIATURAS

A Artigo

AE Ano do estudo

ATSDR Agency for Toxic Substance and Disease Registry

BVS Biblioteca Virtual em Saúde Pública

C Complemento

CCI Coeficiente de correlação intraclasse

DDE Diclorodifenildicloroetileno

DDT Diclorodifeniltricloroetano

DeSC Descritores em Ciências da Saúde

DHSS Department of Health and Human Service

E Expostos

ELISA Enzyme-Linked Immunosorbent Assay

EPA Environmental Protection Agency

HCB Hexaclorobenzeno

HCH Hexaclorociclohexano

http Hiper Text Transfer Protocol

IARC International Agency for Research on Cancer

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC Intervalo de Confiança

ICMESA Industrie Chimiche Meda Società Azionaria

IFN Interferon

Ig Imunoglobulina

IL Interleucina

INCA Instituto Nacional de Câncer

ISAAC The International Study of Asthma and Allergies in Childhood

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

MeSH Medical Subject Headings

MS Ministério da Saúde

NA Não se aplica

NE Não Exposto

NIH National Institutes of Health

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NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health

OC Organoclorado

OR Odds Ratio

PAH Hidrocarboneto Aromático Policíclico

PCB Bifenila Policlorada

PCDD Dibenzo-p-dioxina Policlorada

PCDF Dibenzofurano Policlorado

PCQ Quaterfenila Policlorada

POP Poluente Orgânico Persistente

RR Risco Relativo

SPAIC Sociedade Portuguesa de Alergia e Imunologia Clínica

STROBE Strengthening The Reporting of Observational Studies in

Epidemiology

TCDD Tetraclorodibenzo-p-dioxina

TH T helper

TW Text word

US$ United States dollar

WHO World Health Organization

WWW World Wide Web

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SUMÁRIO

FOLHA DE APROVAÇÃO

iii

DEDICATÓRIA iv

AGRADECIMENTO v

RESUMO vi

ABSTRACT vii

LISTA DE FIGURAS viii

LISTA DE QUADROS ix

LISTA ABREVIATURAS x

1 INTRODUÇÃO 13

2 REVISÃO DE LITERATURA 15

2.1 ORGANOCLORADOS E SAÚDE 15

2.2 SISTEMA IMUNOLÓGICO 21

2.2.1 Imunoglobulina E 23

2.2.2 Doenças Alérgicas 24

2.2.3 Imunotoxicologia 27

2.2.3.1 Organoclorados e efeitos sobre o sistema imunológico 28

2.2.3.2 Organoclorados e Doenças Alérgicas 34

3 OBJETIVO GERAL 39

4 MATERIAL E MÉTODOS 40

4.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO 40

4.2 IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDOS 42

4.3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO RELATO 43

5 RESULTADOS 46

6 DISCUSSÃO 58

7 CONCLUSÃO

62

REFERÊNCIAS 63

APÊNDICE A 71

APÊNDICE B 73

ANEXO A 74

ANEXO B 75

ANEXO C 79

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1 INTRODUÇÃO

A população humana vem sendo exposta a substâncias químicas, no ambiente de

trabalho ou fora dele, de forma crescente nas últimas décadas, como consequência da

introdução de novas tecnologias na indústria e na agricultura.

O Relatório da Emissão de Substâncias Tóxicas (Toxics Release Inventory) da

Agência de Proteção Ambiental dos EUA (Environmental Protective Agency - EPA)

divulgado em 16 de dezembro de 2010, nos mostra quantitativamente o grau desta exposição.

Em 2009, as indústrias norteamericanas liberaram 1,53 bilhões de quilos de agentes químicos

no meio ambiente. Especificamente foram 0,09 bilhões na água, 0,41 bilhões no ar, 0,78

bilhões no solo e 0,08 bilhões no subsolo, num total de 1,36 bilhões na zona industrial e 0,17

bilhões fora dela (ENVIRONMENTAL..., 2010).

Dentre esses agentes, estão os compostos organoclorados. Eles contaminam o meio

ambiente e podem provocar efeitos nocivos nos seres vivos. Isto tem se agravado e adquirido

proporções dramáticas, tanto pela intensificação do seu uso quanto pelo aumento da sua

distribuição no planeta. Pode-se encontrar Diclorodifeniltricloroetano (DDT) até nas neves do

Alasca como nos habitantes das Ilhas canadenses de Baffin (RYAN, 2004 apud FLORES et

al, 2004, p. 14). Em relação ao uso de pesticidas, as despesas mundiais chegaram a mais de

US$ 39,4 bilhões e o consumo doméstico nos EUA a US$ 8,5 bilhões em 2007

(ENVIRONMENTAL..., 2007).

Associada a esta progressiva industrialização tem-se observado um aumento de

doenças relacionadas à disfunção do sistema imunológico, como alergia (COLOSIO et al,

2005). Embora dados epidemiológicos variem de acordo com particularidades de cada região,

observou-se nas últimas quatro décadas um aumento significativo de casos, e

consequentemente dos custos, de doenças atópico/alérgicas como asma, rinite, dermatite

atópica e alergia alimentar (NOAKES et al, 2006). É estimado que até 40% da população

ocidental sofra de algum tipo de alergia (WORLD ALLERGY ORGANIZATION, 2011). No

Brasil, a prevalência de doenças alérgicas vem aumentando, acometendo 35% da população

(THE INTERNATIONAL..., 1998).

O papel dos fatores ambientais, em particular dos poluentes químicos, no aumento

destas patologias tem sido objeto de discussão nos meios científicos com ênfase na inclusão

destes como imunotoxicantes, à interação genético-microbiana, conhecida pelo nome de

“hipótese da higiene” (REICHRTOVÁ et al, 1999 e GRANDJEAN et al, 2010).

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14

A exposição à maioria dos compostos organoclorados, em especial a dioxina e as

bifenilas policloradas, produz uma grande variedade de efeitos imunotóxicos em animais e

seres humanos, como alterações das subpopulações de linfócitos T, das concentrações de

imunoglobulinas, da função do sistema de complemento e da reação de hipersensibilidade do

tipo tardia (DALLAIRE et al, 2004). Como exemplo, há os relatos de aumento do risco

relativo de asma em crianças com exposição pré natal ao diclorodefenildicloroetileno (DDE),

um metabólito do DDT (KARMAUS; KRUSE; KUEHR, 2001; SUNYER et al, 2005 e

SUNYER et al, 2006 apud CRINNION, 2009, p. 354) e o que relata o aumento dos níveis de

alguns compostos organocloradose IgE no cordão umbilical (REICHRTOVÁ et al, 1999).

As dosagens da imunoglobulina E (IgE) total e da IgE alergeno específica, além da

realização do teste cutâneo alergeno específico representam os exames mais comumente

solicitados em complementação à avaliação clínica para diagnóstico deste tipo de

imunotoxicidade (HAMILTON; ADKINSON, 2004 e DURAMAD; TAGER.; HOLLAND,

2007) .

No presente trabalho buscam-se identificar evidências do impacto dos compostos

organoclorados sobre o sistema imunológico, com ênfase nos níveis séricos de IgE total.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ORGANOCLORADOS E SAÚDE

Os compostos organoclorados são hidrocarbonetos clorados de estrutura cíclica,

sintetizados pelo homem, na maioria das vezes. Têm como características a bioacumulação,

biomagnificação, volatilidade limitada e persistência por várias décadas no meio ambiente e

nos seres vivos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).

Entre os compostos organoclorados encontram-se os pesticidas que podem ser

classificados, a partir de sua estrutura química, em seis grandes grupos: Benzeno clorados

como o triclorobenzeno (TCB) e hexaclorobenzeno (HCB); Ciclodienos (aldrin, dieldrin,

endrin, clordano, endosulfan e heptacloro); Diclorodifeniltricloroetano (DDT) e análogos;

Dodecacloro (clordecona e mirex); Ciclohexanos clorados como o hexaclorociclohexano

(HCH) e seus isômeros (α, β, γ, δ, e ε); e, Toxafeno e compostos relacionados. Estes

compostos apresentam diferenças em relação à dose tóxica, à absorção cutânea, ao acúmulo

no tecido adiposo, ao metabolismo e à eliminação. No entanto, os sinais e sintomas de

toxicidade em humanos são similares (FERREIRA, 2002 e MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2003).

Os hidrocarbonetos aromáticos halogenados são uma família química composta pelas

seguintes substâncias: 2,3,7,8- tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD), bifenilas polibromadas e

policloradas (PBB e PCB), dibenzo-p-dioxinas policloradas (PCDD) e dibenzofuranos

policlorados (PCDF). Estes dois últimos junto com as bifenilas policloradas não-ortho

coplanares são conhecidos como compostos organoclorados tipo dioxina, ou simplesmente

dioxinas, devido as suas similaridades com a estrutura, propriedades químicas e mecanismo

de ação nos sistemas biológicos da TCDD. Eles pertencem ao grupo das substâncias mais

tóxicas conhecidas, produzidas pelo ser humano (HOPSAPPLE et al, 1991 e NAGAYAMA et

al, 2007). Geralmente são subprodutos da incineração de lixo, da combustão de materiais

clorados, de processos de manufatura contendo cloro, incluindo produção de pesticida e

clareamento de papel e celulose, do escapamento dos automóveis (gasolina contendo

chumbo), mas também podem ter sua origem de fontes naturais como a queima de florestas

(CHARNLEY; KIMBROUGH, 2006 e HOPSAPPLE et al, 1991). Como características, não

apresentam utilidade para os seres humanos, são disruptores endócrinos (efeito estrogênico),

persistentes no meio ambiente e na cadeia alimentar (gorduras animais). Estas substâncias são

altamente lipofílicas, depositadas no tecido adiposo dos mamíferos e atravessam a barreira

placentária, o que permite seu acúmulo nos tecidos fetais e no sangue do cordão umbilical

(CHIRIRO et al, 2011 e TUSSCHER et al, 2003).

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16

Vários compostos organoclorados são considerados poluentes orgânicos persistentes

(POP) e em 2001 devido à crescente preocupação quanto à produção e ao uso destes, um

tratado internacional foi assinado em Estocolmo (Suécia) por 151 países, incluindo o Brasil, e

auspiciado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Foi chamada de

Convenção de Estocolmo e teve como objetivo principal, proteger a saúde humana e o meio

ambiente dos efeitos deletérios dos POP. No escopo da Convenção encontram-se doze

substâncias, as quais são chamadas de “os doze sujos”: aldrin, clordano, DDT, dieldrin,

endrin, heptacloro, HCB, mirex, toxafeno, PCB, PCDD e PCDF. Além destes, a dioxina

também é considerada um POP (JING et al, 2007). Eles fazem parte dos crescentes resíduos

industrial e agrícola. São encontrados em casas, vestuários, alimentos, fontes de água, biota e

vazadouros a céu aberto, conhecidos como “lixões” (JING et al, 2007 e NOAKES et al,

2006). Em relação a este último, ainda são o destino final dos resíduos sólidos em 50,8% dos

municípios brasileiros e, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada

em 2000, 7264 pessoas residem nos lixões das Grandes Regiões, Unidades da Federação,

Regiões Metropolitanas e Municípios das Capitais brasileiras (INSTITUTO BRASILEIRO...,

2008).

As vias de introdução desses compostos no organismo são: oral, respiratória e cutânea.

A absorção pode ser modificada pelo veículo (solventes) e pelo estado físico. A volatilidade

destes compostos é limitada, mas as partículas suspensas no ar podem ser inaladas e/ou

ingeridas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).

O emprego dos compostos organoclorados ocorre principalmente na produção agrícola

para controle de pestes/pragas e nas campanhas de saúde pública, como no controle ou

erradicação de vetores de doenças como doença de Chagas, peste bubônica, malária, dengue,

febre amarela, entre outras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).

O termo pesticida ou praguicida está mais ligado ao conceito de combate a

pestes/pragas, enquanto o termo agrotóxico se relaciona com o aumento da produção da

lavoura. Entretanto, nem todo composto organoclorado é um pesticida como, por exemplo, as

dioxinas (CALEFFI, 2005).

Historicamente, os organoclorados foram a primeira classe de pesticidas usados

amplamente na saúde pública. Em 1939, o químico Paul Muller da companhia suíça GEISY,

observou que o DDT, sintetizado por Othmar Zeidler em 1874, era um potente inseticida. Ele

foi colocado no mercado em 1942 e sua utilização extrapolou o emprego na agricultura, tendo

aplicação também no campo da higiene e da medicina, no combate a vetores de doenças.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o DDT foi usado pelas forças armadas dos EUA em

várias regiões do mundo e posteriormente seu uso se disseminou, levando a sérios problemas

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ecológicos, apesar dos benefícios do seu emprego. A literatura não científica vem, ao longo

dos anos, alertando a sociedade para os efeitos adversos dos pesticidas/agrotóxicos. O livro

“Primavera Silenciosa”, da escritora Rachel Carson, publicado em 1962, representou um

marco de repercussão internacional para a consciência ambiental e desencadeou o movimento

das entidades não governamentais de luta ecológica. Ele descreve uma série de efeitos sobre o

meio ambiente e sobre a vida selvagem causadas pelo uso indiscriminado do DDT

(GUIMARÃES; ASMUS; MEYER, 2007). Um outro exemplar mais recente é “ O Futuro

Roubado” de Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myers. O livro continua a

linha de Carson e revisa o conjunto enorme e crescente de evidências científicas que

demonstram a relação entre os agentes químicos sintéticos, principalmente resíduos de

agrotóxicos e problemas de saúde, incluindo disfunção imunológica (GALLI, 2009).

Os países industrializados, a começar pela Suécia em 1970 e EUA em 1972, passaram

a banir o uso do DDT devido à persistência no meio ambiente e aos potenciais efeitos

adversos para a saúde (BARNETT, 1997 e FERREIRA, 2002). No Brasil, as primeiras

medidas restritivas se deram em 1971, com a Portaria nº 356/71, que proibiu a fabricação e

comercialização de DDT para combate de ectoparasitos em animais domésticos no país,

obrigando os fabricantes a recolherem os produtos, mas isentou os produtos comerciais

indicados como larvicidas e repelentes de uso tópico; e com a Portaria nº 357/71, que proibiu

em todo o território nacional o uso de inseticidas organoclorados em controle de pragas em

pastagens. Em 1985 proibiu-se em todo território nacional a comercialização, o uso e a

distribuição de produtos organoclorados destinados à agropecuária. O uso em campanhas de

saúde pública no combate a vetores de agentes etiológicos de moléstias, como malária e

leishmaniose, foi proibido pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde por

meio da Portaria nº 11 de 08 de janeiro de 1998 (D’AMATO; TORRES; MALM, 2002). Em

2009, o DDT teve sua fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque,

comercialização e uso proibidos pela Lei nº 11.936 de 14 de maio de 2009 (BRASIL, 2009).

Apesar do controle do uso de vários POP pela Convenção de Estocolmo, alguns autores

relatam o uso ilegal do DDT. Um exemplo é revelado pelo estudo conduzido por Ejaz et al

que verificaram o emprego desta substância em culturas de algodão e a presença de PCB e

TCDD no Paquistão (EJAZ et al, 2004 apud TARIQ ET al, 2007, p. 1116).

Os compostos organoclorados ainda se encontram em grande quantidade no meio

ambiente e continuam a ser um risco potencial para a saúde. Sua persistência no solo pode

chegar a 30 anos (BARNETT, 1997). Eles são altamente lipossolúveis e têm grande afinidade

pelo tecido adiposo de homens e animais. Pelo fato do tecido adiposo sofrer lipólise

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diariamente, certa quantidade destas substâncias recircula, podendo ser mensurada no sangue,

além do tecido adiposo, onde ficam armazenadas. O DDE e as PCB são os principais resíduos

de organoclorados presentes nos tecidos humanos (KOPPEN et al, 2009).

Os efeitos agudos decorrentes da exposição aos compostos organoclorados são

geralmente bem conhecidos e se iniciam logo após o evento ou em até 24 horas. Dentre os

sinais e sintomas que podem estar presentes, há: cansaço, mialgia, náuseas, vômitos, sudorese

fria, irritação cutâneomucosa (conjuntivite, rinorréia, rouquidão, tosse, edema pulmonar,

prurido cutâneo, etc), cefaléia, irritabilidade, confusão mental, tonteiras, paresia de membros

(principalmente os inferiores), parestesia de língua, lábios e membros, crises convulsivas,

entre outros (AGENCY..., 2008; AGENCY..., 2011 e FERREIRA, 2002). Todavia, o mesmo

não pode ser dito sobre os efeitos a médio e longo prazo, advindos da exposição a baixas

doses. Este fato tem sido motivo de preocupação dos órgãos governamentais responsáveis,

principalmente os relacionados a câncer, imunotoxicidade, efeitos sobre reprodução e

desenvolvimento (AMR, 1999 e COLOSIO et al, 2005).

Em 1990, a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO)

divulgou que existem relatos de 37.000 casos anuais de câncer associados ao uso de pesticidas

nos países em desenvolvimento (WORLD HEALTH ORGANZATION, 1990 apud TARIQ,

2007, p. 1108). Cinco anos depois um estudo revelou que a América do Sul foi o continente

que mais utilizou o DDT, o toxafeno e o lindano (CONNELL et al, 1999 apud D’AMATO;

TORRES; MALM, 2002, p. 996)

Os efeitos dos compostos organoclorados estão resumidos no quadro 01 a seguir.

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19

QUADRO 01 - Efeitos dos compostos organoclorados em seres humanos.

Substância Efeito Tipo de exposição / População

Referências

Clordano e Heptacloro

Mortalidade por doença cerebrovascular

Ocupacional (produção) / EUA (homens caucasianos)

WANG e MacMAHON, 1979

Dioxina (2,3,7,8-TCDD)

Cloracne Diabetes Mellitus

Não ocupacional / Seveso, região Lombardia, Itália

MOCARELLI et al, 1982 BERTAZZI et al, 1998

Organoclorados persistentes

Abortos e natimortos Possível esterilidade

Ocupacional / Andhra Pradesh - Índia (plantadores de uva)

RITA et al., 1987

DDE Câncer de mama Não ocupacional / Califórnia e Nova York (mulheres)

FALCH et al., 1992; WOLFF et al., 1993

DDT, DDE, Dieldrin

Doença de Parkinson Não ocupacional / EUA (post mortem)

FLEMING et al., 1994

Organoclorados persistentes

Óbito fetal e aborto espontâneo Diminuição do peso e do tamanho do recém nato

Não ocupacional / EUA (jovens em fase de desenvolvimento)

GREENPEACE, 1996

Aldrin, DDT, Endossulfan e HCH

Câncer gastrointestinal (alta concentração biliar)

Não ocupacional / Ìndia, região de Uttar Pradesh e Bihar (fornecimento de água pelo Ganges)

SHUKLA et al., 2001

Aldrin, DDT, Endossulfan , Endrin, HCH e Heptacloro

Tumores hepáticos e de tireóide (benigno e maligno) Rinite alérgica

Não ocupacional / Paulínia, Bairro Recanto dos Pássaros- SP (crianças)

GUAIUME, 2001

Fontes: NUNES, M.V.; TAJARA, E.H. Efeitos tardios dos praguicidas organoclorados no homem. Rev. Saúde Pública v. 32, n. 4, p. 372-382, ago. 1998. FLORES, A.V. et al. Organoclorados: um problema de saúde pública. Ambiente & Sociedade, v. VII, n. 2, p. 111-125, jul-dez 2004.

As substâncias químicas, além dos agentes físicos e biológicos, misturas e condições

complexas de exposição, são classificadas quanto ao seu potencial carcinogênico pelos

seguintes órgãos: a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (International Agency for

Research on Câncer - IARC), a EPA e o Departamento de Serviços Humanos e Saúde do

Ministério da Saúde dos EUA (Department of Health and Human Services – DHHS). Estes

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20

órgãos realizam periodicamente uma revisão da produção científica acerca do potencial

carcinogênico destes agentes, sendo que as avaliações mais recentes ocorreram

respectivamente em: 2001, 2005 e 2010.

O quadro 02 abaixo apresenta esta classificação proposta por cada agência.

QUADRO 02 - Classificação do potencial carcinogênico pelas IARC, EPA e DHHS.

Substância IARC (2001)

EPA (2005)

DHHS (2010)

Ciclodienos grupo 3 Grupo B2 Não carcinogênicos

DDT e

metabolitos

grupo 2B Grupo B2 Podem ser cancerígenos

2,3,7,8-

TCDD

Grupo 1 Grupo B2 Pode ser cancerígeno

HCH grupo 2B α-HCH: grupo B2

β-HCH: grupo C / γ-HCH:

grupo D

δ-HCH e ε-HCH: grupo D

Podem ser cancerígenos

PCB grupo 2A Grupo B2 Pode ser cancerígeno

PCDD/PCDF grupo 3 Grupo D Não carcinogênico

Toxafenos grupo 2B Grupo B2 Podem ser cancerígeno

Classificação EPA – grupo B2: dados em humanos inadequados ou ausentes e dados suficientes em animais; grupo D: não há evidências de ser carcinogênico humano Dados ausentes ou inadequados em humanos ou em animais. Classificação da IARC - grupo 1: certamente carcinogênico para humanos 2A = Provável carcinogênico para humanos – limitada evidência em humanos e suficiente em animais (IARC); 2B = Possível carcinogênico para humanos – limitada evidência em humanos e insuficiente em animais (IARC); 3 = Não é classificado como carcinogênico para humanos Fonte: AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCE AND DISEASE REGISTRY. U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. Public health service: Toxics Substances Portal. Atlanta: ATSDR, 2011. Disponível em: <http://www.atsdr.cdc.gov/toxfaqs>. Acesso em: 11 jul. 2011. INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. IARC Monographs on evaluation of carcinogenic risks to humans. Lyon: IARC, 17 june 2011. Disponível em: <http://monographs.iarc.fr/ENG/Classification/index.php>. Acesso em: 28.nov. 2011.

Os efeitos imunotóxicos dos compostos organoclorados vêm sendo relatados por uma

série de estudos em animais de laboratório, como a mielosupressão, a imunosupressão, a

atrofia tímica e a inibição da função do sistema complemento induzidas pelos PCDD/PCDF e

PCB em primatas (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1992 apud DEWAILLY et al,

2000, p. 205). Por outro lado, dados sobre estes efeitos em seres humanos são esacassos e

provêm de acidentes ambientais e exposição ocupacional, como no caso dos veteranos da

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guerra do Vietnã, os quais apresentaram maior razão de chance de quadros atópico/alérgicos

do que a população geral norteamericana (odds ratio [OR] 1,6; CI 95%: 1,2-2,1) (CENTER

FOR DISEASE CONTROL, 1988 apud WESELAK et al, 2007, p. 82). Do ponto de vista de

exposição não ocupacional, há os estudos que relatam o aumento do risco relativo de asma em

crianças com exposição pré natal ao DDE (KARMAUS; KRUSE; KUEHR, 2001; SUNYER

et al, 2005 e SUNYER et al, 2006 apud CRINNION, 2009, p. 354), o que relata o aumento

dos níveis de POP e IgE no cordão umbilical (REICHRTOVÁ et al, 1999) e outro que mostra

a relação entre a concentração de compostos organoclorados na placenta e eczema alérgico

em crianças aos 12 meses de idade (CIZNÁR et al, 2004).

2.2 SISTEMA IMUNOLÓGICO

O sistema imunológico consiste em um conjunto integrado de vários tipos de células e

moléculas, que exercem papel único e atuam de modo integrado na defesa do organismo

contra patógenos e alguns tumores (LOVEREN; STEERENBERG; VOS, 1995).

Este sistema apresenta três propriedades chaves: um repertório extremamente diverso

de receptores antigênicos, fato que permite o reconhecimento de um número quase infinito de

patógenos; memória imune que permite a montagem de rápida resposta; e a tolerância

imunológica para evitar dano imune contra os próprios tecidos normais (FAUCI et al, 2008).

Há dois tipos de resposta do sistema imunológico: inata ou adaptativa. A primeira é

caracterizada por ser poliespecífica, rápida, não necessitar de exposição prévia e não ser

modificada por exposições repetidas ao patógeno. É constituída pelas células fagocíticas

(neutrófilos, monócitos e macrófagos), entre outras. Já o sistema adaptativo é de caráter

específico, de resposta menos ágil, além de apresentar resposta aumentada devido a

exposições prévias ao patógeno. É constituído pelas linhagens linfocíticas T e B (DELVES;

ROITT, 2000).

A resposta adaptativa apresenta dois braços: imunidades celular e humoral. O principal

efetor da imunidade celular é o linfócito T e o da imunidade humoral é o linfócito B. Os

linfócitos T e B derivam de uma célula primordial comum. As células efetoras e reguladoras

são os linfócitos granulosos grandes, os monócitos, os macrófagos, as células dendríticas e as

de Langerhans (FAUCI et al, 2008).

Os linfócitos T e B, os monócitos, as células dendríticas e de Langerhans maduras

penetram na circulação sanguínea e abrigam-se nos linfonodos, baço, no tecido linfóide

associado à mucosa (amígdalas, placas de Peyer e apêndice), bem como na pele e nas outras

mucosas, à espera da ativação por um antígeno, que pode ser estranho ou autoantígeno

(FAUCI et al, 2008).

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Há vários tipos de linfócitos T, como citotóxico (CD8+), helper (CD4+), supressores,

reguladores e de memória. Os T helper (TH) são os representantes da resposta imunitária e

proliferam após o contato com o antígeno para ativar outros tipos de células (JANEWAY,

2005). Os linfócitos TH se subdividiam em 2 populações, conhecidas como TH1 e TH2, até a

descoberta da família de citocinas IL-17 e a análise da imunopatogênese mediada pela IL-23,

o que levou à delineação de um novo fenótipo da célula TH produtora de IL-17, chamada de

TH17 (YUI-SI; YONG-JUN, 2008). A citocina IL-25, pertencente à família IL-17 (IL17E/IL-

25), é capaz de amplificar a inflamação alérgica, pela indução de uma maior expressão gênica

de outras citocinas nos linfócitos TH2, o que leva ao aumento dos níveis séricos de IgE e a

alterações patológicas nos pulmões e no trato digestivo, com infiltrado eosinofílico

(HELLMAN, 2007).

Os linfócitos T apresentam distinção em relação à produção de citocinas e funções. Os

linfócitos TH1 estão envolvidos na imunidade celular, os TH2, nas respostas humorais e nas

reações alérgicas e os TH17 participam da defesa do hospedeiro por promover a inflamação

crônica e a autoimunidade (KORN et al, 2009).

Existe um paradigma envolvendo TH1/TH2, onde as respostas do linfócito T helper aos

alergenos seria do tipo TH2 nos indivíduos atópicos e tipo TH1 nos não atópicos

(ROMAGNANI, 1992). Desta forma, os TH2 ocupariam um papel central na indução de

resposta IgE e no conseqüente desenvolvimento de doenças atópico/alérgicas e os TH1 seriam

exatamente o oposto, suprimindo a resposta IgE e impedindo o desenvolvimento de alergias.

O conceito do paradigma TH1/TH 2 forneceu a base teórica para descoberta dos mecanismos

moleculares e celulares das respostas imunes (BORISH; ROSSENWASSER, 1997).

A descoberta da IL17 na subpopulação TH17 aumentou ainda mais a complexidade da

rede de citocinas envolvidas na imunidade das vias aéreas. O impacto da IL17 na imunidade

das vias aéreas abrange tanto efeitos diretos e imediatos como utiliza mediadores secundários

(LI-YIN et al, 2008).

Não se sabe até o momento como as células TH17 e TH2 cooperam na patogênese das

doenças atópico/alérgicas, mas parece que mais de uma população celular tem participação

neste processo (YUI-SI; YONG-JUN, 2008).

Os linfócitos B diferenciam-se em plasmócitos para produzir anticorpos ou

imunoglobulinas (Ig) após introdução de um agente externo reconhecido pelos receptores de

superfície destes linfócitos (JANEWAY et al, 2005).

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2.2.1 Imunoglobulina E

Existem cinco classes de imunoglobulinas: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. Destas, a IgE e

IgG foram as duas últimas a aparecer durante a evolução dos vertebrados, há cerca de 215 a

350 milhões de anos, a partir da duplicação e conversão de genes. Cada uma das

imunoglobulinas apresenta propriedades biológicas únicas (ANEXO A). A IgE está

principalmente envolvida nos processos atópico/alérgicos e nas respostas antiparasitárias

(FAUCI et al, 2008).

A IgE é a imunoglobulina sérica menos abundante, presente na faixa de 01 a

400ng/ml, em indivíduos não atópicos. Na forma solúvel, a meia vida é de aproximadamente

dois dias, a menor dentre elas (HELLMAN, 2007). Os níveis no sangue do cordão umbilical

são baixos, pois não ocorre transferência placentária, e gradualmente aumentam durante a

infância atingindo seu pico entre os 10 e 15 anos de idade, para então diminuir novamente ao

longo da vida adulta. Vários fatores influenciam os níveis plasmáticos da IgE, como

variações genéticas, sexo (menor entre o sexo feminino), raça (maior em negros não

atópicos), estado imunológico, infecções e fatores ambientais. O nível sérico de IgE guarda

relação com a IgE total produzida, refletindo assim a quantidade total de IgE disponível em

nível celular (SPALDING;WALD;BERND, 2000 e STONE; PRUSSIN; METCALFE, 2010).

A produção de IgE pelo linfócito B requer a mudança de isotipo de Ig, fato este que

geralmente ocorre nos centros germinativos linfóides e em menor escala na mucosa

respiratória de pacientes com rinite alérgica e asma atópica e na mucosa do trato

gastrointestinal, em pacientes com alergia a alimentos (STONE; PRUSSIN; METCALFE,

2010).

A sua produção é rigorosamente controlada na ausência de doença atópico/alérgica,

devido ao extremo poder de indução inflamatório, por meio de interações com receptores de

alta afinidade presentes nos mastócitos e basófilos (HELLMAN, 2007 e STONE; PRUSSIN;

METCALFE, 2010).

A IgE, mastócitos, basófilos e eosinófilos são componentes essenciais da inflamação

alérgica. A produção de IgE antígeno específica, com a sua fixação ao receptor nos mastócitos

e basófilos, leva à liberação de mediadores inflamatórios como a histamina e agentes

quimioatrativos. Este é o ponto central para início e propagação das reações de

hipersensibilidade imediata. Mastócitos, basófilos e eosinófilos são células efetoras centrais

na inflamação alérgica, assim como nas imunidades inata e adaptativa (STONE; PRUSSIN;

METCALFE, 2010).

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24

Pacientes atópicos quase sempre apresentam níveis séricos elevados IgE, como nos

casos de asma atópica, rinite alérgica. Na forma intermitente de rinite alérgica o pico dos

níveis de IgE acontece 04 a 06 semanas após a primavera (STONE; PRUSSIN; METCALFE,

2010).

O quadro 03 elenca as condições e doenças que apresentam aumento de IgE.

QUADRO 03 - Condições e Doenças associadas com aumento do nível sérico de IgE.

Condições e Doenças Exemplos

Doenças atópica/alérgicas asma, dermatite atópica e rinite alérgica

Infecções parasitárias aspergilose broncopulmonar alérgica, estrongiloidíase, ascaridíase e esquistossomose

Infecções não parasitárias pelo vírus Epstein Barr, citomegalovirose, vírus da imunodeficiência adquirida e tuberculose

Doenças inflamatórias doença de Kimura, vasculite de Churg-Strauss e doença de Kawasaki

Neoplasias hematológicas linfoma de Hodgkin e mieloma IgE

Doenças cutâneas síndrome de Netherton e pênfigo bolhoso

Doenças de imunodeficiência primária

síndrome de hiper-IgE, síndrome de Wiskott Aldrich, síndrome de Omenn, Desregulação imune + poliendocrinopatia + enteropatia, herança ligada ao X (IPEX) e síndrome DiGeorge completa atípica

Outras fibrose cística, síndrome nefrótica, transplante de medula óssea, fumantes e alcoolismo.

Fonte: STONE, K.D.; PRUSSIN, C.; METCALFE, D.D. IgE, mast cells, basophils, and eosinophils. J. Allergy Clin Immunol. , v. 125, n. 2, S73-S80, 2010. 2.2.2 Doenças Alérgicas

O termo alergia foi criado pelo médico austríaco Von Pirquet no início do século XX e

significa responder de forma diferente, do grego allos ergon.

As manifestações patológicas do sistema imunológico são conhecidas como reações de

hipersensibilidade. São quatro os tipos: I (imediata), II (citotóxica), III (complexo imune) e IV

(celular ou tardia). As doenças atópico/alérgicas são classificadas como a reação do tipo I e

são mediadas por IgE, com a participação dos mastócitos, basófilos e eosinófilos (FAUCI et

al, 2008).

É necessário estabelecer a diferença entre atopia e alergia. A atopia é uma resposta

imunológica exacerbada face a antígenos denominados alergenos, o que leva à produção de

IgE e pode causar manifestação clínica. Ela se enquadra na reação de hipersensibilidade do

tipo I. Já a alergia pode ser resultado de diferentes reações de hipersensibilidade. Por

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25

exemplo: a reação à penicilina pode levar ao choque anafilático mediado pela IgE (tipo I) e à

anemia hemolítica devido à hipersensibilidade citotóxica (tipo II). A dermatite de contato

alérgica, por outro lado, está relacionada à hipersensibilidade tardia (tipo IV), independente de

anticorpos (FAUCI et al, 2008).

A doença atópico/alérgica deve ser encarada como uma doença sistêmica, envolvendo

de modo simultâneo ou sequencial vários órgãos. As manifestações clínicas predominantes

vão depender, sobretudo, do órgão alvo mais atingindo, da idade do doente e do tipo de

alergenos a que este é sensível. Após a sensibilização a um ou mais alergenos, o paciente

alérgico passa a manifestar sinais e sintomas. Como o contato do alergeno com o indivíduo se

processa, principalmente, no nível das mucosas e da pele, compreende-se a localização dos

sintomas, com a ocorrência de quadros de conjuntivite, rinite, asma, manifestações digestivas,

urticária, angioedema e eczema. As reações anafiláticas, mais raras, caracterizam-se pela

ocorrência de sintomas envolvendo, simultaneamente, vários órgãos ou sistemas, evoluindo

de forma mais rápida (FAUCI et al, 2008).

A alergia alimentar é a primeira manifestação de doença alérgica segundo alguns

autores. Na infância, a sensibilização desenvolve-se progressivamente de acordo com a

exposição, sendo os alimentos as primeiras substâncias estranhas às quais a criança poderá

desenvolver alergia na denominada marcha atópica. Contudo, a maioria das crianças com

alergia alimentar adquire tolerância até a idade escolar. Embora mais frequente na infância, a

alergia alimentar pode surgir em qualquer idade. Estima-se que nos países mais desenvolvidos

a prevalência aproximada de alergia alimentar seja de 02 a 06 % nas crianças e de 01 a 3,2%

nos adultos (SCHROEDER et al, 2009).

O ISAAC (The International Study of Asthma and Allergies in Childhood – ISAAC),

por empregar método padronizado, um questionário autoaplicável, permitiu de modo inédito

determinar a prevalência da dermatite atópica em crianças e adolescentes, 156 centros de 56

países. No Brasil, a prevalência de dermatite atópica variou entre 8,9 e 11,5% (CASTRO et al,

2006). De um modo geral, o quadro de dermatite atópica precede os quadros de alergia

respiratória, como asma e rinite. A presença de atopia é o fator de risco mais significativo

para o desenvolvimento de asma. Oitenta e cinco porcento das crianças e 40 a 50% dos

adultos com asma, tinham sensibilização a aeroalergenos (PEDEN, 2000).

Um aumento na prevalência das doenças alérgicas tem-se observado nas últimas

quatro décadas (WORLD ALLERGY ORGANIZATION, 2011). Em algumas regiões, este

fato tem sido particularmente mais evidente do que em outras, como acontece entre

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determinados grupos etários da etnia maori na Nova Zelândia. Dois estudos realizados com

intervalo de 14 anos, em 1975 e 1989, identificaram aumento de 26,2% para 34% na

prevalência de asmáticos entre adolescentes dessa população (SHAW et al, 1990).

Até 1970, as doenças alérgicas no Brasil atingiam 10% da população, porém entre

1970 e 1990, 20% da população já apresentava algum tipo de alergia. Trinta e cinco por cento

da população avaliada pelo estudo ISAAC apresentou alguma manifestação clínica alérgica

(THE INTERNATIONAL..., 1998).

No período de 1973 a 1986, um estudo longitudinal foi conduzido na Inglaterra com

objetivo de estimar a mudança na prevalência de diagnóstico de doenças respiratórias, como

asma e bronquite. Foram avaliados, pelo menos uma vez ao longo do estudo, 15.000 meninos

e 14.516 meninas, com idade entre 04 a 12 anos de idade. Observou-se um aumento da

prevalência de asma para cada ano do estudo de 6,9% (p< 0,001) entre os meninos e de 12,8%

(p< 0,001) entre as meninas (BURNEY; CHIN; RONA, 1990).

No país de Gales, a prevalência de asma, no período de 1973 a 1988, aumentou de 06

para 12%, enquanto que na Grã Bretanha, no período de 1974 a 1986, a prevalência de febre

do feno aumentou de 12% para 23,3% (ERNST; CORMIER 2000 e HOPPIN et al, 2002 apud

ZÖLLNER et al, 2005, p. 545).

Em 1991, 35 milhões de norteamericanos foram diagnosticados com alguma doença

alérgica, sendo 02 a 05% decorrentes de exposição ocupacional (LUSTER et al, 1992, apud

COLOSIO et al, 2005, p. 321). Já em 2000, este número havia aumentado para 40 milhões,

com um em cada cinco norteamericanos apresentando algum tipo de alergia (AMERICAN...,

2003).

Gaig e colaboradores realizaram um estudo transversal no período de 27 de setembro a

12 de novembro de 2001, com objetivo de verificar a prevalência de doenças alérgicas na

população adulta espanhola e as formas de apresentação. Foram avaliados 4949 indivíduos e a

prevalência encontrada foi de 21,6% com maior freqüência entre as mulheres e em núcleos

urbanos com mais de quinhentos mil habitantes. A manifestação alérgica mais freqüente foi a

rinoconjuntivite (GAIG et al, 2004).

Um estudo conduzido pela Sociedade Portuguesa de Alergia e Imunologia Clínica,

entre os anos de 2004 e 2007, mostrou um aumento da prevalência de rinite alérgica de 20

para 26% (SOCIEDADE..., 2007).

Alguns autores passaram a investigar se este aumento da prevalência de doenças

atópico/alérgicas poderia atingir um platô ou mesmo adquirir uma tendência de declínio.

Zöllner et al (2005) avaliaram a prevalência de asma e sensibilização atópica entre crianças de

três áreas do sudoeste da Alemanha, no período de 1992 a 2001. Seis mil setecentas e sessenta

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e duas crianças, com idade entre 09 e 11 anos, participaram de seis inquéritos transversais

seriados e uma amostra (3383) coletou sangue para dosagem de IgE específica para

gramíneas, mofo, epitélios de gato e cachorro, Dermatophagoides pteronyssinus e

Cladosporium herbarum. Os resultados revelaram que não houve alteração da prevalência de

asma e sensibilização atópica. Os autores concluíram que a chamada epidemia de alergia pode

ter atingindo seu platô (ZÖLLNER et al, 2005).

O estudo de Yemaneberhan et al (1997) observou que asma e outras doenças alérgicas

tendem a ser raras em países pobres e que o número de casos começa a aumentar, à medida

que o estilo de vida se torna mais urbano. Os autores conduziram um estudo de prevalência de

asma, e sua relação com atopia, em duas regiões, urbana e rural, da Etiópia. Foram

comparadas as taxas de asma e atopia nas regiões urbana e rural de Jimma, sudoeste da

Etiópia, por meio da aplicação de um questionário em uma amostra randomizada, 9844 na

área urbana e 3032 individuos na rural. Em uma subamostra de 2194 pessoas do meio urbano

e 861 pessoas do meio rural, foram realizados testes cutâneos de leitura imediata para avaliar

sensibilização a alergenos. Atopia foi categorizada quando da positividade do teste cutânea

empregado. Os resultados mostraram que todos os sintomas respiratórios eram raros em

crianças, principalmente no grupo rural (OR para sibilância: 0,31; IC 95%: 0,22-0,43;

p<0,0001). Asma foi relatada em 351 (3,6%) indivíduos da região urbana e que a atopia foi

um fator de risco importante para asma nesta região. Atopia foi encontrada em 119 indivíduos

na região rural e nenhum relatava sibilância ou asma. Os autores concluíram que asma é

especialmente rara nas áreas de subsistência rural e que a atopia pode estar associada com a

redução da prevalência dos sintomas neste ambiente (YEMANEBERHAN et al, 1997).

Existem algumas hipóteses para esse aumento da prevalência de alergia nas regiões

mais desenvolvidas, como o aumento da poluição ambiental, as mudanças na dieta e na

exposição a doenças infecciosas precocemente na infância e o aumento do nível dos alergenos

(FAUCI et al, 2008).

2.2.3 Imunotoxicologia

Imunotoxicologia é uma área relativamente nova da toxicologia e vem crescendo

rapidamente nos últimos trinta anos. Inicialmente ficou conhecida como a ciência dos venenos

para o sistema imunológico (DESCOTES, 2004).

A primeira vez que a palavra imunotoxicologia foi empregada na literatura científica

internacional foi em 1979, na revista Drug and Chemical Toxicology, para descrever o

fenômeno imunotoxicológico. Cinco anos depois, no Seminário Internacional sobre Sistema

Imunológico como Alvo de Lesão Tóxica, em Luxemburgo, foi proposta a seguinte definição,

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que é válida até os dias de hoje: “disciplina da toxicologia que estuda a interação dos

xenobióticos com o sistema imunológico resultando em efeitos adversos” (BERLIN et al,

1987 apud DESCOTES, 2004, p. 02). Esta definição pouco difere da proposta feita em 1991

pelo Gabinete de Avaliação Tecnológica dos EUA (US Office of Technology Assessment) e

que é considerada como a definição padrão: “alteração inapropriada ou adversa da estrutura

ou função do sistema imunológico resultante da exposição a um ou mais xenobióticos” (US

OFFICE OF TECHNOLOGY ASSESSMENT, 1991 apud DESCOTES, 2004, p. 02).

Os efeitos imunotóxicos podem ser divididos em três grupos (LUSTER et al, 1989):

• Imunomodulação (imunosupressão ou potenciação)

• Hipersensibilidade

• Autoimunidade

Em uma situação de homeostase, o sistema imunológico normal encontra-se em

equilíbrio. O período de desenvolvimento deste sistema em que ocorre a exposição é

importante para o risco iminente à saúde, pois é durante a sua maturação que ele se encontra

mais vulnerável. São cinco os períodos descritos como de maior susceptibilidade: da 8ª a 10ª

semana de gestação, da 10ª a 16ª semana, da 16ª semana até o nascimento, deste a 01 ano e de

01 a 18 anos (GEHRS et al, 1997 apud WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006, p.107).

Após exposição do sistema imunológico a um xenobiótico, poderia ocorrer:

hipoimunidade que incluiria a imunosupressão; nenhum efeito; ou, hiperimunidade que

englobaria a hipersensibilidade e a autoimunidade (CASARETT; DOULL; KLAASSEN,

2008 e COLOSIO et al, 2005).

Segundo Banerjee (1999), várias evidências clínicas vêm demonstrando que os

pesticidas podem levar à disfunção de qualquer componente celular, subcelular ou molecular

do sistema imunológico. Desta forma parece surpreendente que o reconhecimento formal da

imunotoxicologia dos pesticidas, como uma subespecialidade distinta, só tenha ocorrido nos

meados da década de 1980. Ela tem sido descrita como uma disciplina que lida com a

interação dos pesticidas com o sistema imunológico, resultando em efeitos indesejáveis no

hospedeiro (BANERJEE, 1999).

2.2.3.1 Organoclorados e efeitos sobre o sistema imunológico

Vários compostos organoclorados apresentam propriedades imunotóxicas, já bem

documentadas em animais de laboratório, como mielosupressão, imunosupressão, atrofia

tímica e inibição dos componentes do sistema de complemento produzidas pela exposição de

primatas a dioxinas (DEWAILLY et al, 2000).

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29

Por outro lado, as informações em seres humanos são mais escassas e advêm

principalmente da monitorização de indivíduos devido à exposição ocupacional ou a acidentes

ambientais por substâncias químicas específicas, como fica claro no relato dos estudos a

seguir (TRYPHONAS, 2001).

Em janeiro de 1968, no norte de Kyushu, Japão, ocorreu um episódio de intoxicação

aguda devido à contaminação do óleo de farelo de arroz por PCB e PCDF. O óleo era

produzido pela Companhia Kanemi e vendido aos criadores de aves como suplemento

alimentar e aos consumidores para uso na cozinha. Entre fevereiro e março de 1968, os

avicultores começaram a relatar que suas aves estavam morrendo (quatrocentas mil) devido à

aparente dificuldade em respirar. Pouco tempo depois começaram a aparecer os primeiros

pacientes humanos com sinais e sintomas de uma doença denominada de Yusho (doença do

óleo em japonês). Avaliações clínicas e laboratoriais passaram a ser realizadas anualmente e

inúmeros estudos foram conduzidos. Entre eles, há o estudo de coorte realizado por

Shigematsu et al, que avaliaram os níveis das imunoglobulinas séricas. O autores observaram

que nos primeiros três anos após o acidente, os níveis de IgM e IgA caíram e os de IgG

aumentaram, porém, após este período, os níveis das imunoglobulinas retornaram ao normal

(SHIGEMATSU et al, 1978 apud YOICHI et al, 1985, p. 33).

Na década de 1970 ocorreu um acidente de grandes proporções com um composto

organoclorado na Itália, e que ficou conhecido como o desastre de Seveso. No dia 10 de julho

de 1976, uma fábrica produtora de pesticidas e herbicidas (ICMESA - Industrie Chimiche

Meda Società Azionaria), subsidiária do grupo Roche, localizada a aproximadamente 15 km

ao norte de Milão, na região da Lombardia, foi responsável pelo vazamento de uma densa

nuvem de vapor contendo principalmente 2,3,7,8-TCDD, proveniente de um reator usado para

a fabricação de triclorofenol. Seis comunidades foram afetadas, porém a de Seveso, com

população de 17.000, foi a mais afetada. Ocorreu a contaminação imediata de cerca de dez

quilômetros quadrados de terra e vegetação e a exposição de animais (dez mil morreram) e

das populações residenciais. Este fato deu origem a numerosos estudos científicos. Um deles

foi realizado por Sirchia, entre 1976 e 1979. Na coorte foram investigados os efeitos

imunológicos do TCDD em 96 crianças, sendo 48 expostas e 48 não expostas. Os resultados

dos testes realizados revelaram aumento da atividade do sistema complemento, linfocitose e

aumento da resposta dos linfócitos a fitohemaglutinina, entre as crianças expostas. A

interpretação dos dados foi prejudicada pela limitação do desenho do estudo e descontinuação

da avaliação pelas crianças (SIRCHIA, 1982 apud CHARNLEY; KIMBROUGH, 2006, p.

605).

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30

Em outro estudo de coorte foram avaliados os efeitos imunológicos da 2,3,7,8-TCDD

por Baccarelli et al. Quase 20 anos após o acidente, eles mediram níveis plasmáticos de

complemento (C3 e C4) e imunoglobulinas (IgA, IgG e IgM) de uma amostra aleatória da

população nas áreas altamente contaminadas (n=58) e na área vizinha não contaminada

(n=51). Os resultados revelaram diminuição dos níveis de IgG nos indivíduos com altos níveis

plasmáticos de TCDD (p= 0.0004) e os níveis de IgM, IgA, C3 e C4 não apresentaram

nenhuma associação consistente com os níveis de TCDD (BACCARELLI et al, 2008).

Um episódio de intoxicação aguda, conhecida como doença de Yu-Cheng (doença do

óleo), ocorreu em Taiwan, nas regiões de Tai-Chung e Chang-Hua, em fevereiro de 1979.

Mais de duas mil pessoas foram acidentalmente expostas, devido ao consumo de farelo de

arroz de óleo contaminado por PCB e PCDF. Vários estudos foram realizados na população

exposta/intoxicada, sendo um deles sobre o diagnóstico, tratamento e seguimento dos

pacientes expostos, iniciado em 1979 e com duração de três anos. Neste estudo coorte,

durante o primeiro ano, Chang e colaboradores realizaram avaliação imunológica de 358

pacientes. O exame da função do sistema imune nos pacientes em um ano revelou: diminuição

da concentração de IgA e IgM (p<0,01 e p<0,001)), mas não de IgG, porcentagem normal das

células B e T supressoras, porém com diminuição percentual tanto do total de células T como

das células TH (CHANG et al, 1981 apud, YAN-CHIN; YING-CHIN, 1985, p. 27). Em

continuidade a este estudo, Yan-Chin e Ying-Chin, em 1981, avaliaram anormalidades

imunológicas, no terceiro ano de acompanhamento. Foram observados que houve diminuição

dos níveis séricos de PCBs, normalização dos níveis séricos de IgA e IgG, da percentagem

total de células T e aumento da percentagem de células T supressoras (YAN-CHIN; YING-

CHIN, 1985).

Mei-Lin e colaboradores conduziram um estudo seccional sobre avaliação

imunológica das crianças com doença Yu-Cheng em 1995. Duzentos e seis pacientes com

idade entre 08 e 17 anos foram avaliados clinicamente e uma amostra de 51 pacientes colheu

sangue para análise da imunidade celular (29 com doença de Yu-Cheng e 22 controles). Os

resultados não revelaram diferença entre os grupos. Os autores concluíram que após 16 anos

do acidente, a exposição in utero a altas doses de PCB/PCDF não revelou imunosupressão

(MEI-LIN et al, 1998).

Segundo o autor (KASHIAP, 1986 apud COLOSIO et al, 2005, p. 323), um inquérito

de saúde e monitoramento biológico foram realizados na Índia, em 160 trabalhadores que

preparavam pesticidas para o uso e tinham sido expostos a uma combinação de compostos

organofosforados e organoclorados (malathion, parathion, DDT e HCH). Em um subgrupo

específico de dezenove trabalhadores que atuavam na manufatura técnica do HCH, observou-

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se intoxicação em dezessete (90%). A concentração sérica de HCH estava 10 vezes acima do

limite, além de se encontrar aumento da IgM e alterações de enzimas hepáticas como a

ornitina carbamil transferase, gama glutamil transpeptidase, leucina aminopeptidase,

mostrando efeito sobre a imunidade humoral e função hepática.

Outro estudo sobre exposição ocupacional foi realizado por Halperin et al, com

objetivo de examinar a associação entre marcadores imunológicos e exposição ao 2,3,7,8-

TCDD. Os indivíduos foram selecionados a partir do estudo coorte de mortalidade entre

trabalhadores expostos ao TCDD da NIOSH (National Institute for Occupational Safety and

Health). Durante os anos de 1987 e 1988, 259 trabalhadores expostos entre 1951 e 1969 em

Nova Jersey ou entre 1968 e 1972 no Missouri e 243 indivíduos não expostos foram avaliados

por meio de exames laboratoriais que incluíam quantificação dos leucócitos e linfócitos,

reposta dos linfócitos circulantes a mitogenos e antígenos e avaliação da concentração sérica

de imunoglobulinas e fator de complemento C3. Os resultados revelaram diminuição da

contagem dos linfócitos CD26+ entre os trabalhadores. Os autores concluíram que esta

alteração parece não apresentar relevância clínica, mas pode refletir uma associação entre

alterações imunológicas em trabalhadores e altas concentrações séricas de TCDD

(HALPERIN et al, 1998).

Em 1999, Michalek et al, dando continuidade ao estudo epidemiológico prospectivo

conhecido como Air Force Health Study, iniciado em 1979, objetivaram estudar a resposta

imunológica e níveis séricos de dioxina nos veteranos da Operação Ranch Hand ocorrida na

Guerra do Vietnã, entre os anos de 1962 e 1971. Dois mil duzentos e trinta e três veteranos

divididos entre militares expostos (n= 952) e não expostos (n=1281) foram avaliados clinica e

laboratorialmente, incluindo contagem de linfócitos periféricos, pesquisa de imunoglobulinas

mensuração de imunoglobulinas séricas, entre outros. Só seguiram no estudo, os militares que

tinham dioxina sérica detectáveis no exame de sangue. Os resultados foram considerados

dentro da normalidade em ambos os grupos, exceto por uma discreta elevação no número de

linfócitos B CD20+ e diminuição no número de linfócitos CD16+ (natural killer) e CD3+

(células T) nos expostos. Os autores concluíram que não foi encontrada evidência de relação

entre a exposição à dioxina e alteração do sistema imunológico nos veteranos da Ranch Hand

(MICHALEK; KETCHUM; CHECK, 1999).

A Coreia do Sul também participou ativamente na Guerra do Vietnã. Segundo dados

oficiais, estima-se que cerca de 500 mil galões (1.892.500 litros) do Agente Laranja foram

lançados pelos militares, entre os anos de 1964 a 1973. Dos trezentos e vinte mil soldados

enviados à guerra, mais de 90 mil relataram ter problemas de saúde relacionados com a

exposição ao Agente Laranja. Em 2003, de acordo com dados governamentais, 17.711

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veteranos estavam registrados como pacientes com alguma doença relacionada à exposição ao

Agente Laranja e 46.249 veteranos como pacientes com provável doença associada à

exposição. Kim et al (2003) conduziram um estudo de coorte com o objetivo de avaliar

efeitos imunotóxicos causados pela exposição destes militares ao Agente Laranja

contaminado com dioxina. Uma seleção aleatória foi feita entre militares que iam à consulta

para avaliação de saúde do grupo exposto ao Agente Laranja no hospital de veteranos em

Seul. Os indivíduos foram divididos em três grupos de acordo com seu histórico de exposição

e estado de saúde: os militares com doença crônica e expostos à substância, os militares com

história de exposição mas sem doença e um grupo de voluntários normais. Amostra de sangue

periférico foram colhidas para análise de IgE, IgG, interferon gama (IFN-γ) dentre outras.

Foram observados que os níveis séricos de IgE encontravam-se significativamente

aumentados nos militares expostos quando comparados com o grupo controle. Entretanto, este

aumento não estava necessariamente associado com doença nos militares expostos. Os níveis

de IgG encontravam-se diminuídos nos militares veteranos e os níveis de IFN-γ diminuídos

nos militares com doença crônica. Os autores concluíram que a exposição ao Agente Laranja

interfere com a homeostase do sistema imunológico, resultando em uma alteração da

regulação da atividade dos linfócitos B e T (HYOUNG-AH et al, 2003).

Um estudo seccional realizado no estado da Carolina do Norte (EUA), avaliou

biomarcadores imunológicos (níveis de Ig, teste cutâneo e hemograma) de 302 pessoas, com

idade entre 18 e 66 anos e que viviam perto de um “lixão” próximo a Aberdeen. Nesta

localidade foram encontrados pesticidas organoclorados, compostos orgânicos voláteis e

metais. Os indivíduos foram avaliados por meio de questionários, testes de sensibilidade

cutâneos, coleta de sangue para análise de 20 pesticidas organoclorados e níveis de

imunoglobulinas entre outros. O DDE foi o único composto organoclorado encontrado.

Somente os níveis de IgM encontravam-se aumentados entre os indivíduos que moravam a até

um quilômetro e meio do “lixão” (estatisticamente significativo). Os autores concluíram que a

magnitude dos efeitos encontrados, é de importância clínica incerta (VINE et al, 2000 e VINE

et al, 2001).

A pesquisa da Saúde na Agricultura (The Agricultural Health Study) foi realizada nos

estados de Iowa e Carolina do Norte (EUA), no período de 1994 a 1997. Um dos estudos

avaliou trezentos e trinta e quatro aplicadores de pesticidas (fazendeiros e trabalhadores da

fazenda) de etnia afroamericana, com idade superior a dezoito anos, do estado da Carolina do

Norte. Na amostra final, 137 trabalhadores foram avaliados por meio da coleta de exame de

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sangue. Foram observadas diminuição dos níveis de IgG com aumento dos níveis de p,p’-

DDE de significância estatística. Os autores concluíram que os resultados fornecem evidência

de potencial de imunosupressão associada com exposição (COOPER et al, 2004).

Oh et al avaliaram em um estudo seccional, os efeitos tóxicos imunológicos e

reprodutivos e sua associação com os respectivos parâmetros em trabalhadores de

incineradores em uma cidade da Coreia do Sul. Trinta e um trabalhadores e oitenta e quatro

indivíduos saudáveis não expostos foram escolhidos para participar do estudo, que incluía

análise do ar para dioxinas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH), a aplicação de

um questionário (carga tabágica, idade e medicação em uso) e coleta de sangue para

hemograma, biomarcadores imunológicos (IgA, IgE, IgG, IgM, interleucina 4 e IFN-γ) entre

outros. Os resultados revelaram que as imunoglobulinas e interleucina 4 (IL4) estavam

diminuídas nos trabalhadores, porém só a IL4 teve significado estatístico. Os autores

concluíram que a exposição a dioxinas e PAH podem causar efeitos imunotóxicos (OH et al,

2005)

No Brasil, no ano de 2007, um estudo seccional foi conduzido pelo Instituto Nacional

do Câncer- Ministério da Saúde (INCA-MS), na Cidade dos Meninos, município de Duque de

Caxias, Rio de Janeiro. Esta localidade ficou conhecida, no final de 1980, devido à grande

contaminação ambiental por HCH e seus isômeros, DDT e seus metabólitos, dioxinas,

furanos, triclorobenzenos, triclorofenóis, DDD e seus isômeros e DDE e seus isômeros,

oriundas tanto do armazenamento inadequado de produtos numa antiga fábrica de inseticidas,

como das medidas de remediação tomadas pelo governo federal. Após consentimento por

escrito, 919 moradores foram avaliados por meio de questionário, avaliações clínica e

psicossocial e coleta de sangue para análise laboratorial, que incluía leucometria, dosagem de

IgE total e específica e avaliação quantitativa dos linfócitos T. Os resultados sugeriram

indícios de imunotoxicidade devido aos níveis séricos elevados de IgE (INSTITUTO

NACIONAL..., 2009).

Os efeitos dos compostos organoclorados sobre o sistema imunológico são

apresentados no quadro 04 de acordo com a via de exposição, substância e desfecho.

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QUADRO 04 - Efeitos sobre o sistema imunológico, segundo a Agência de Registro de

Doenças e Substâncias Tóxicas (ATSDR).

Substâncias Via de

Exposição

Desfecho

DDT e

metabolitos

Oral Há poucos estudos na literatura. A evidência sugere que o

DDT e seus metabólitos possam interferir com a

imunocompetência em animais, mas não há evidências

conclusivas em humanos

HCH Inalatória Um relato de aumento dos nívies séricos de IgM em

trabalhadores de HCH menos puro (technical-grade)

HCH Oral Diminuição da resposta dos anticorpos em ratos, coelhos e

camundongos foi relatada em estudo com animais para o

γ-HCH.

Efeitos bifásicos na imunossupressão em camundongos

alimentados com γ-HCH.

PCDD/PCDF Inalatória Em animais, a PCDD pode causar em diversas espécies,

supressão das imunidades humoral e celular.

PCDD/PCDF Oral Observações clínicas, em Yusho e Yu-Cheng, revelaram

diminuição na habilidade de combater infecção e infecção

respiratórias mais frequentes.

Fonte: AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCE AND DISEASE REGISTRY. U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. Public health service. Toxicological Profile for Organochlorines. Estados Unidos: ATSDR, September, 2002, p. 497. May 1994, p.256, July 1999, p. 260, August 2005, p. 377. 2.2.3.2 Organoclorados e Doenças Alérgicas

Nas últimas quatro décadas, especificamente em relação às doenças atópico/alérgicas

como asma, rinite alérgica, dermatites e alergia alimentar, tem-se observado um aumento

dramático de sua prevalência, não explicada somente pela melhoria dos testes diagnósticos.

Acredita-se que, em parte, este fenômeno possa ser atribuído a padrões novos ou modificados

de exposição aos xenobióticos, incluindo os POP (COLOSIO et al, 2005 e NOAKES et al,

2006).

Estima-se que mais de 1850 pessoas apresentem o diagnóstico de doença de Yusho.

Sintomas gerais inespecíficos, como dor de cabeça, fadiga e tosse foram descritos, além de

ciclos menstruais irregulares, relatos de retardo no desenvolvimento cognitivo e patologias

cutâneas como cloracne (AGENCY..., 2008).

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Mais de trinta e cinco anos após o acidente, estudos ainda são realizados, como o de

Yoshiyuki et al. Entre os anos de 2001 e 2004, 501 pacientes Yusho foram avaliados em um

estudo de coorte por meio de exames clinico e laboratorial e os resultados mostraram que os

níveis séricos ainda elevados dos contaminantes se correlacionam tanto com a presença de

queixas clínicas, como dor de cabeça, dores articulares, tosse, hipersecreção brônquica,

erupções acneiformes, pigmentação cutânea e mucosa, como com alterações laboratoriais,

como hiperglicemia e dislipidemia (YOSHIYUKI et al, 2008).

Os pacientes com doença de Yu-Cheng apresentam clínica similar aos da doença de

Yusho. Um dos estudos realizados foi o de coorte, iniciado em 1981 por Yan-Chin e Ying-

Ching. Eles avaliaram ao longo de três anos clínica e laboratorialmente 829 casos suspeitos de

intoxicação, com idade entre 07 e 78 anos. Eles foram divididos em grupos de acordo com a

gravidade crescente do caso (I a IV). No último ano de acompanhamento, os pesquisadores

observaram que 58,9% mantiveram a gravidade da doença, 38,2% melhoraram e 7,9%

pioraram (YAN-CHIN; YING-CHIN, 1985).

Em 1985, Rogan e colaboradores realizaram um estudo de caso-controle e avaliaram

dois grupos de crianças: 117 nascidas de mães que tiveram a doença de Yu-Cheng e 108 não

expostas da mesma vizinhança. Foi observado que o primeiro grupo teve mais episódios de

bronquite ou pneumonia durante os primeiros seis meses de vida. Os autores especularam que

o aumento da frequência das doenças pulmonares poderia ser resultado de uma disfunção

imunológica induzida pela exposição aos compostos tipo dioxina, principalmente os PCDF,

por exposição transplacentária e pelo leite materno (ROGAN et al,1988).

Os casos de Yusho e Yu-Cheng são provavelmente decorrentes de uma complexa

intoxicação causadas pela PCDF e quaterfenilas policloradas (PCQ), visto que a população

que apresentava elevados níveis de PCB, era assintomática (YOSHIYUKI et al, 2008).

Em 1982, Tognoni e Bonaccorsi, conduziram um estudo de coorte com crianças da

comunidade de Seveso, Itália. Elas foram examinadas clinicamente e exames laboratoriais

foram realizados, seis anos após ao desastre industrial com 2,3,7,8-TCDD. Foi observado um

aumento significativo nos níveis de complemento que se correlacionou com a incidência de

cloracne. Não foi observado nenhum problema de saúde específico. Os autores sugeriram que

a alteração dos níveis de complemento seria um efeito subclínico e correlacionado com a

incidência de cloracne (TOGNONI; BONACCORSI, 1982 apud AGENCY..., 1998, p. 45).

Dois estudos realizados em crianças Inuit (esquimó) da região de Nunavik (Quebec

Ártico, Canadá) relataram efeitos imunológicos devido à exposição humana a PCB e ao DDE.

Em ambos os estudos de coorte, as crianças foram avaliadas durante o primeiro ano de vida

para a ocorrência de doenças infecciosas comuns da infância. Esta população tem como

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característica altos níveis de exposição aos organoclorados, pois faz parte da sua dieta o

consumo de peixes carnívoros e mamíferos marinhos. Vários congêneres de PCB e DDE

foram mensurados no cordão umbilical e/ou plasma materno no momento do parto (ambos os

estudos) e no sangue das crianças durante o acompanhamento, aos 03, 07 e 12 meses

(DEWAILLY et al, 2000) e aos 07 meses (DALLAIRE et al, 2004). No estudo conduzido por

Dewailly, o risco relativo (RR) para otite média durante o primeiro ano de vida aumentou

com a exposição pré natal ao p,p´-DDE (RR = 1,52; IC 95%: 0,5-2,22) e ao HCB (RR = 1,49;

IC 95%: 1,10-2,03), fato não reproduzido de forma estatisticamente significativa por Dallaire

e colaboradores (DEWAILLY et al, 2000 e DALLAIRE et al, 2004).

No início da década de 1990, um grupo de pesquisadores holadenses liderados por

Weiglas-Kuperus e colaboradores conduziram um estudo coorte com objetivo de avaliar os

efeitos da exposição pré natal e pós natal a dioxina e PCB em crianças. O primeiro deles

investigou o número de episódios de rinite, faringite, bronquite e otite durante os primeiros 18

meses de vida e os efeitos imunológicos causados por esta exposição. Duzentas e sete mães

caucasianas e suas crianças saudáveis foram avaliadas. Cento e cinco haviam sido

amamentadas no peito e cento e duas com leite industrial. Os resultados mostraram haver um

aumento de linfócitos T CD8+ aos 18 meses e diminução da contagem de granulócitos aos três

meses e não haver associação com os sintomas das vias aéreas superiores e inferiores. Os

autores concluíram que a exposição a estas substâncias sugeria influência nos sistema

imunológico fetal e neonatal (WEIGLAS-KUPERUS et al, 1995). O segundo estudo

investigou, em crianças pré escolares, se as alterações laboratoriais imunológicas persitiam e

se estavam associadas a doenças infecciosas ou alérgicas. Dos duzentos e sete pares mãe-bebê

iniciais, cento e setenta e cinco foram avaliados com 42 meses de idade por meio de

questionário e novos exames de biomarcadores imunológicos. Os resultados revelaram baixo

nível de anticorpos para caxumba e sarampo, maior prevalência de otite média e varicela e

baixa prevalência de doenças alérgicas. Os autores concluíram que os efeitos da exposição

perinatal às substâncias persistiam na infância e poderia estar associada com maior

susceptibilidade a doenças infecciosas e que tal fato poderia prevenir o desenvolvimento de

doenças alérgicas por alterar a maturação do sistema imunológico (WEIGLAS-KUPERUS et

al, 2000). O terceiro estudo da série avaliou a persistência dos efeitos imunológicos devido à

exposição a estas susbtâncias em crianças holandesas em fase escolar. Cento e sessenta e sete

pares mãe-criança foram avaliados por meio de questionário. Os resultados mostraram uma

diminuição da prevalência de varicela na faixa etária de 03 a 07 anos (OR = 0,53; IC 95%:

0,30-0,94; p=0,03) e aumento da prevalência de otite média recorrente (OR = 1,19; IC 95%:

1,01-1,41; p=0.04). Crianças amamentadas com mamadeira por menos de 04 meses tinham

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mais otite que as amamentadas no peito (14,6% versus 6,8%, p=0.04). Os autores concluíram

que o nível ambiental destas substâncias poderia levar a efeitos clínicos discretos

(WEIGLAS-KUPERUS; VREUGDENHIL; MULDER, 2004).

Na Austrália, uma coorte histórica realizada em 2000, comparou a mortalidade entre

um mil novecentos e noventa e nove aplicadores de inseticidas e um mil novecentos e oitenta

e quatro trabalhadores externos não expostos a inseticidas, no período de 1935 a 1996. Foi

observado aumento de mortalidade por asma (taxa de mortalidade = 3,45 e IC 95%: 1,39-

7,10), câncer de pâncreas (taxa de mortalidade = 5,27 e IC 95%: 1,09-15,40) e leucemia (taxa

de mortalidade = 20,90 e IC 95%: 1,54-284,41) entre os aplicadores (BEARD et al, 2003).

Com o objetivo de avaliar alterações persistentes hematológicas e imunológicas

associadas com exposição perinatal à dioxina, Tusscher e colaboradores conduziram um

estudo coorte em 27 crianças holandesas com oito anos de idade. Os resultados mostraram

uma significativa diminuição de alergia tanto em relação à exposição pré natal à dioxina (p=

0,02; IC 95%:: 0,76-0,98), quanto à exposição pós natal (p=0,030; IC 95%: 089-0,99). Os

autores sugerem que esta diminuição pode ser um efeito a longo prazo devido à exposição

perinatal a esta substância (TUSSCHER et al, 2003).

Para investigar a associação entre exposição pré natal ao DDE e outros compostos

organoclorados e a ocorrência de atopia ou asma na infância, um estudo de coorte foi

conduzido em Menorca (Espanha), uma região considerada representativa de baixa poluição.

Quatrocentos e sessenta e oito crianças foram acompanhadas até o quarto ano de idade. Foram

realizadas dosagens de organoclorados no sangue do cordão umbilical (405), de IgE

específica para pelo de gato, grama e poeira domiciliar e leucócitos no quarto ano (306),

avaliação das grávidas por meio de questionário e avaliação clínica para asma e atopia das

crianças, no quarto ano de acompanhamento. Os resultados mostraram que DDE foi detectado

em todas as crianças, porém não estava associado somente com atopia. O diagnóstico de asma

aos quatro anos de idade aumentou com a concentração de DDE, especialmente no maior

quartil (19%) versus 09% no menor quartil (RR = 2,63; IC 95%: 1,19-4,69). A conclusão do

trabalho foi que a exposição pré natal a DDE pode contribuir para o desenvolvimento de asma

(SUNYER et al, 2005).

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No estudo de Hokkaido sobre saúde ambiental e pediátrica, Chiriro e colaboradores

investigaram a associação entre os níveis de dioxina no sangue materno e o risco de infecção

e alergias na infância. Em um estudo coorte, 364 mães e seus filhos foram examinados no

período de 2002 a 2005 em Sapporo, Japão. Os dados foram obtidos durante a gravidez, no

parto e quando a criança completava dezoito meses. Foi observada uma fraca associação entre

os níveis de compostos tipo dioxina e os sintomas de alergia na infância. Os autores

concluíram que em níveis ambientais, a exposição pré natal a compostos tipo dioxina pode

alterar a função imunológica e aumentar o risco de infecções durante a infância (CHIIRIRO et

al, 2011).

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39

3 OBJETIVO GERAL

Verificar a existência de associação entre a exposição humana não ocupacional a

determinados compostos organoclorados e os níveis séricos de IgE total.

Objetivos específicos:

1. Caracterizar as populações não ocupacionalmente expostas a determinados compostos

organoclorados.

2. Identificar e descrever os fatores e condições da exposição presentes para o aumento dos

níveis séricos de IgE total.

3. Avaliar a qualidade do relato dos artigos selecionados.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado um estudo de revisão sistemática da literatura científica visando

identificar, avaliar e sintetizar os resultados de estudos primários sobre o tema, por meio do

uso de estratégias que diminuam a ocorrência de vieses.

Esta seção foi dividida em três subseções: critérios de inclusão, identificação dos

estudos e avaliação da qualidade do relato.

4.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Os artigos para serem selecionados para esta revisão deveriam apresentar as seguintes

características:

• População humana;

• Idade entre um dia e 64 anos, 11 meses e 29 dias;

• Exposição não ocupacional;

• Compostos organoclorados: pesticidas do grupo do DDT e seus metabólitos (DDD e

DDE) e não pesticidas do grupo da dioxina e substâncias tipo dioxina (PCB, PCDD e

PCDF);

• Análise dos níveis séricos de IgE total que poderia ser ou não o desfecho principal do

estudo; e,

• Tipos de estudo: todos os tipos de estudo com exceção os de revisão, opinião de

especialista e capítulos de livro.

Um amplo período de investigação de publicações, de janeiro de 1966 a agosto de 2011, e

a não restrição quanto à língua escrita dos estudos, foram as estratégias utilizadas para

resgatar o maior número de estudos, assim como para reduzir o risco de vieses.

As justificativas para seleção da população, grupos de compostos organoclorados e

IgE total foram as seguintes:

1- Em relação à faixa etária foi escolhida população desde o período neonatal até a vida

adulta devido à maior susceptibilidade do sistema imunológico ao xenobiótico durante

seu desenvolvimento e à diferença no efeito dos xenobióticos na resposta imunológica

dependendo da idade do indivíduo no momento da exposição (HERZ-PICCIOTO et al,

2008). Foi utilizada a classificação da Organização Mundial da Saúde para adultos nos

países industrializados.

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41

Não foram incluídos os idosos devido à imunosenescência que é caracterizada por

alterações quantitativas e/ou qualitativas em componentes celulares e moleculares, os

quais levam a um estado de inadequada atividade do sistema imunológico

(DERHOVANESIAN et al, 2008).

2- Foram escolhidos dois grupos de compostos organoclorados: um pesticida

representado pelo DDT e seus metabólitos (DDD e DDE) e outro não pesticida

representado pela dioxina e substâncias tipo dioxina (PCB, PCDD e PCDF). Ambos

são compostos largamente presentes no meio ambiente, sendo o primeiro de grande

importância histórica e ainda utilizado, embora com restrições, em determinadas

regiões do mundo e o segundo grupo representa uma das substâncias mais tóxicas

criadas pelo ser humano nos últimos quarenta anos e advindas principalmente da

combustão de materiais orgânicos. Os dois grupos são encontrados nas casas, comida,

vestimenta, fontes de água e “lixões” e apresentam como característica, o acúmulo nos

tecidos dos seres vivos, principalmente gordura.

3- De acordo com o Grupo de Trabalho para Definição de Biomarcadores dos Institutos

Nacionais de Saúde dos EUA (National Institutes of Health – NIH/DHHS), reunido

em 2001, um marcador biológico é definido como uma característica que é

objetivamente mensurada e avaliada como indicador de processos biológicos naturais,

patogênicos ou resposta farmacológica a uma intervenção terapêutica (DURAMAD;

TAGER; HOLLAND, 2007).

O estudo da função imunológica em humanos é composto por contagem celular,

ativação de marcadores de superfície celular, níveis de imunoglobulinas, respostas a

mitógenos, expressão e secreção de citocinas. A escolha do exame depende do que a

pesquisa quer investigar (DURAMAD; TAGER; HOLLAND 2007).

A medição da IgE é utilizada como parte do rastreamento para imunotoxicidade, em

complemento à anamnese, exame físico e outros exames. O aumento de sua produção

é característico das doenças atópico/alérgicas. As dosagens séricas da IgE total e da

IgE alergeno específica, além do teste cutâneo alergeno específico representam os

exames mais comumente usados para diagnóstico destas patologias.

A escolha pela avaliação dos níveis séricos de IgE total foi usada como marcador geral

da síntese de IgE e fundamentou-se em dois pilares: primeiro devido à presença dos

seguintes atributos recomendados pelo Grupo de Trabalho para Definição de

Biomarcadores da NIH: relevância clínica, forte base molecular com a fisiopatologia

da doença, sensibilidade e especificidade relacionadas à exposição, confiança,

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praticidade e facilidade no uso e aplicação; e, segundo pelo fato de não existir até o

momento, metodologia para mensurar IgE específica ou realizar teste cutâneo para

compostos organoclorados que são haptenos e não antígenos.

4.2 IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDOS

A busca de referências relevantes se fez por meio da pesquisa em duas bases de dados

eletrônicas: MEDLINE/PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)/ Literatura Latino

Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para proceder à construção dos

blocos de conceitos estudaram-se nestas bases, como os termos se apresentavam na literatura

científica. Foram utilizados os descritores MeSH (Medical Subject Headings do PubMed) e

DeSC (Descritores em Ciências da Saúde da Bireme) e os termos genéricos na forma de

palavra no texto ou text word (tw). Os seguintes descritores em inglês foram empregados:

“polychlorinated biphenyls” OR “tetrachlorodibenzodioxin” OR “dioxins” OR

“dichlorodiphenyl dichloroethylene” OR “dichlorodiphenyldichloroethane” OR “ddt” OR

“hydrocarbons, chlorinated” OR “pesticides” OR “insecticides” OR “Inseticides,

organochlorine” AND “immunoglobulin E. Os termos em inglês também utilizados foram:

“organochlorines” OR “DDE” OR ”DDD” OR “ TCDD” OR “PCBs” OR “PCDDs” OR

“PCDFs” OR “POPs” AND “IgE” e suas variações (APÊNDICE A). Recorreu-se aos

operadores lógicos “AND” e “OR” para combinação dos descritores e termos utilizados para

rastreamento das publicações. Os artigos foram selecionados pelo título e em seguida todos os

resumos foram lidos. Caso existisse alguma dúvida após lê-lo, este era incluído para avaliação

completa.

A revisão foi ampliada por meio da busca a referências bibliográficas dos artigos

selecionados. Com o objetivo de averiguar o procedimento de seleção, um segundo revisor

seguiu os mesmos passos do primeiro e posteriormente os resultados foram comparados a

cada etapa (título, resumo e artigo para leitura na íntegra). Caso houvesse discordância entre

eles, uma reunião era agendada para discussão dos resultados com vista a um consenso. Se

não fosse possível, uma terceira pessoa seria responsável pela decisão final.

O perfil dos revisores que participaram do processo de seleção foi: dois médicos com

formação clínica. O primeiro especializado em Pneumologia, Medicina do trabalho e

Ergonomia e o segundo em Neurologia e Neurofisiologia. Ambos com conhecimento em

bioestatística. O terceiro revisor era médico, especializado em Endocrinologia e Professor da

Faculdade de Medicina, com larga experiência em Toxicologia Clínica.

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Foi programado o emprego da análise de concordância interobservador pela medida

kappa para a seleção dos artigos com o objetivo de mensurar o grau de concordância além do

que seria esperado tão somente pelo acaso (FLEISS, 1981 apud OLIVEIRA et al, 2004, p.

94). Uma ordem hierárquica para a inclusão dos artigos foi estabelecida da seguinte forma:

primeiramente ser em população humana, seguida por faixa etária escolhida, exposição não

ocupacional, tipo de substância, desfecho que incluísse IgE total e por fim tipo de estudo.

4.3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO RELATO

O modelo conhecido como Sistemas para avaliar a força da evidência científica

(Systems to Rate the Strength Of Scientific Evidence), elaborado pela Agência de Pesquisa de

Saúde e Qualidade, do DHHS dos EUA, foi consultado para auxiliar na escolha de um

instrumento com o objetivo de avaliar individualmente a qualidade do relato dos artigos

(AGENCY OF HEALTHCARE..., 2002).

Neste modelo foram usados como base 121 sistemas relacionados com a classificação

da qualidade individual dos artigos de estudos de revisões sistemáticas (20), ensaios clínicos

randomizados (49), estudos observacionais (19) ou testes de investigação diagnóstica (18),

após a revisão de títulos e resumos de 1602 publicações.

Cada desenho de estudo teve seus domínios e elementos definidos quanto à

importância. Para os estudos observacionais foram selecionados nove itens: pergunta do

estudo, população, comparabilidade dos indivíduos, exposição ou intervenção, medição do

desfecho, análise estatística, resultados, discussão e financiamento ou patrocínio. Destes,

cinco foram considerados como críticos para um sistema de escala ou checklist ser

considerado como de abordagem aceitável na avaliação da qualidade do relato dos estudos

observacionais. Eles se encontram em realce negrito no quadro 05.

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QUADRO 05 - Domínios e elementos importantes para os sistemas de classificação da

qualidade de artigos de estudos observacionais segundo a DHHS.

Pergunta do estudo

População do estudo

Comparabilidade dos indivíduos

Exposição ou intervenção

Medição do desfecho

Análise estatísitca

Resultados

Discussão

Financiamento ou patrocínio

Fonte: Agency of Healthcare Research and Quality (USA). Systems to Rate the Strength Of Scientific Evidence 2002. disponível em: http:www.thecre.com/pdf/ahrq-system-strength.pdf . Acesso em 26 set. 2011.

Dos dezenove sistemas relacionados com estudo observacionais, dois foram

selecionados porque abordavam os itens considerados críticos, utilizavam um instrumento

genérico (cinco sistemas), forneciam instruções para seu uso (quatro sistemas) e seguiram um

processo de desenvolvimento rigoroso do instrumento (dois sistemas).

De acordo com as orientações fornecidas pelo DHHS, a escolha do sistema deve-se basear

em 03 pontos: o mais apropriado, o tempo gasto na aplicação e a praticidade do emprego.

Após a avaliação dos dois sistemas citados, o instrumento de escala empregado por Goodman

et al foi o escolhido (GOODMAN et al, 1994). Ele consiste em 34 perguntas divididas em 10

seções. A pontuação varia de 01 a 05 (34 itens) e não se aplica (26 itens).

As seções são elencadas a seguir:

1. Introdução;

2. Métodos: indivíduos;

3. Métodos: desenho;

4. Métodos: medida de variáveis;

5. Resultados: indivíduos;

6. Resultados: relato quantitativo;

7. Discussão e conclusões;

8. Título;

9. Resumo; e,

10. Avaliação geral.

Há também um item extra sobre avaliação geral da escala que pontua o artigo de 01 a 10

(ANEXO B).

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O objetivo deste questionário foi fornecer uma avaliação estruturada da qualidade do

relato da pesquisa médica e não da qualidade da pesquisa em si. A principal medida de

desfecho foi a porcentagem de itens com pontuação maior ou igual a 03 (≥ 03) em uma escala

de 05 (análise específica dos itens). Outros dois cálculos foram a média das pontuações por

pergunta e a porcentagem de escore ≥ 03 por cada artigo (escore de qualidade).

Nesta fase, dois revisores pontuaram todos os artigos selecionados de forma independente.

Foram escolhidos os mesmos que participaram do processo de seleção dos artigos. Os

resultados foram comparados e as diferenças discutidas em uma reunião.

O coeficiente de correlação intraclasse (CCI) foi empregado e calculado por seção do

questionário com o objetivo de estimar a concordância entre as pontuações dadas pelos

revisores. Os critérios utilizados para avaliação dos valores do CCI foram os propostos por

Fleiss (FLEISS, 1981 apud OLIVEIRA et al, 2004, p. 94).

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5 RESULTADOS

A busca eletrônica nas bases de dados resultou na identificação de 232 artigos na base

MEDLINE/PubMed e zero na BVS/LILACS. Após a avaliação dos títulos de forma

independente pelos dois revisores houve concordância pela exclusão de 180 artigos (77,6%) e

discordância em 23 títulos. Inicialmente foram selecionados 29 artigos pelo primeiro revisor e

52 pelo segundo. Uma reunião entre eles dirimiu a dúvida e desta vez ambos escolheram 24

artigos. A medida kappa geral/seleção dos artigos para análise de concordância

interobservador foi de classificação excelente, com valor de 0,80 (IC 95%: 0,67-0,93;

p<0,001). Já a medida kappa para cada critério de exclusão também foi excelente e apresentou

os seguintes valores: 1,0 para população não humana, exposição ocupacional, outro desfecho

e desenho estudo; e, 0,87 para outras substâncias. O único motivo de discordância foi a

seleção de artigos com substância não escolhida (11/232). Os resultados se encontram no

ANEXO C.

Após a leitura dos vinte e quatro resumos, sobraram 12 artigos. Passou-se então a

aquisição e análise completa dos artigos. Mais três artigos foram excluídos, 02 pela faixa

etária dos indivíduos e 01 pelo desfecho. A revisão das listas de referências bibliográficas dos

nove artigos analisados na íntegra levou à leitura de mais 04 artigos. Destes, mais dois artigos

foram incluídos, totalizando 11 artigos selecionados (Figura 01).

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Figura 01 - Representação esquemática do método de busca e dos resultados obtidos. Em

negrito encontram-se os artigos selecionados.

Busca eletrônica (MEDLINE/PubMed

e BVS/LILACS)

Revisão das listas de referências bibliográficas

Identificação de 232 artigos

24 selecionados pelo título

12 selecionados pelo resumo e analisados

na íntegra

Inclusão de 09 artigos

Seleção de 04 artigos lidos na íntegra, com inclusão de

02

Sunyer et al, 2005 Uchi; Furue, 2009 Uchi; Furue, 2011

Hiroshi et al, 1995 Marth; Haselbacher-Marko; Schaffler, 1996 Reichrtová et al, 1999 Karmaus; Kruse; Kuehr, 2001 Karmaus et al, 2003 Hajime, 2003 Karmaus et al, 2005 Hideo et al, 2006

Heuvel et al, 2002 Grandjean et al, 2010

MEDLINE/PubMed = 232 BVS/LILACS = zero

Exclusão = 12 artigos

Exclusão de 03 artigos

1º revisor = 29 2º revisor = 52

Exclusão = 02 artigos pela idade

Exclusão = 02 pela idade 01 pelo desfecho

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Ao final foram recuperados 236 artigos, 232 das bases de dados eletrônicas e 04

advindos das referências bibliográficas.

O quadro 06 identifica os motivos da exclusão em número de estudos e porcentagem.

QUADRO 06 - Motivos da exclusão dos artigos segundo os critérios estabelecidos em ordem

decrescente.

Critérios de exclusão Número de artigos %

Não humano 107 47,5

Outro desfecho 49 21,8

Ausência da substância escolhida 35 15,6

Exposição ocupacional 20 8,9

Tipo de estudo 10 4,4

Faixa etária 04 1,8

Todos os artigos incluídos foram escritos em língua inglesa, conduzidos em países

industrializados (EUA, Japão e países europeus) e publicados entre os anos de 1995 e 2011,

em revistas internacionais de medicina, saúde ambiental ou toxicologia.

Oito artigos tinham como desfecho principal, verificar os níveis séricos de IgE total.

Existem à disposição, alguns métodos laboratoriais para sua mensuração. Em quatro estudos

foram empregados métodos diferentes de análise e em três foi usado o teste ELISA® (Enzyme

Linked Immunosorbent Assay) e em dois o ImmunoCAP® e em outros dois

Radioimunoensaio (CAP Pharmacia®). As metodologias empregadas estão arroladas no

APÊNDICE B.

Os desenhos dos estudos selecionados foram cinco seccionais, quatro de coortes e dois

de bancada (cultura de células). Em quatro estudos, dois seccionais (REICHRTOVÁ et al,

1999; HEUVEL et al, 2002 e KARMAUS et al, 2003) e dois de coorte (HIDEO et al, 2006 e

MARTH; HASELBACHER-MARKO; SCHAFFLER, 1996), houve comparação com grupo

controle. Entretanto em um estudo de coorte (MARTH; HASELBACHER-MARKO;

SCHAFFLER, 1996), este dado não pode ser avaliado por não constar o número de

indivíduos não expostos.

Por se tratarem de estudos diferentes do ponto de vista operacional em relação aos

demais, segue um detalhamento sobre os estudos de bancada (cultura de células). Trata-se de

dois estudos realizados em população adulta caucasiana e asiática (HIROSHI et al, 1995 e

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HAJIME, 2003). O conduzido por Hiroshi avaliou a produção de IgE em células amigdalianas

faríngeas de indivíudos saudáveis e o estudo de Hajime avaliou a produção de IgE em células

amigdalianas faríngeas de 10 indivíduos não atópicos e em 16 atópicos com níveis de IgE

acima de 245 IU/ml, sendo 06 com rinite alérgica leve, 06 com dermatite/eczema atópico e 04

com bronquite asmática leve. Em relação à exposição das culturas de células às substâncias,

no estudo de Hiroshi houve exposição a PAH e TCDD e no de Hajime a TCDD somente. As

análises foram feitas após 14 dias de cultura de células, em ambos os estudos.

O tamanho amostral da população escolhida foi: três estudos com menos 100, sete

entre 101 a 500 e um com mais de 500. As características da população quanto à faixa etária

revelaram que oito estudos incluíram crianças de até 10 anos (três em crianças de até um ano),

dois foram em adultos (HAJIME, 2003 e HIDEO et al, 2006) e um em adolescentes

(HEUVEL et al, 2002). Todos os estudos se restringiram a uma faixa etária específica. Em

relação à etnia, dez estudos foram com população caucasiana e um com asiáticos.

Em oito estudos foi observado o aumento de IgE total associado à exposição, mesmo

que não isolada, ao(s) composto(s) organoclorado(s). Naqueles onde não foi observado este

efeito (03/11), dois envolveram crianças com idade ≤ 01 ano (HIDEO, 2006 e JUSKO et al,

2011) e um, adolescentes (HEUVEL et al, 2002). Nestes três estudos os xenobióticos

presentes foram dioxina ou substância tipo dioxina.

A tabela 01 sumariza as características metodológicas apresentadas pelos artigos

selecionados.

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TABELA 01 – Artigos selecionados: autor, ano, periódico e características metodológicas.

Autor/Ano do estudo

(AE)

Local do estudo

Periódico Desfecho estudado

Desenho

População Resultados

Hiroshi et al, 1995 AE:1994

Los Angeles, EUA

Journal of Allergy Clinical and Immunology

Aumento produção de IgE

Bancada

n = 96 E 21 e 48 anos

Aumento de IgE

Marth; Haselbacher-Marko; Schaffler et al, 1996 AE:1991 a 1995

Styria, Áustria

Toxicology Letters

Exames para avaliar o impacto da poluição

Coorte

n = 60 E n = ? NE 10 anos

Aumento de IgE

Reichrtová et al, 1999 AE: 1995

Bratislava e Stará Lubovna, Eslováquia

Environmental Health Perspectives

Nível de IgE no cordão umbilical e contaminação placentária (n = 120)

Seccional

n= 1050 E n= 1000 NE Recém natos

Aumento de IgE com OC

Karmaus; Kruse; , Kuehr, 2001 AE:1995

Sul do estado de Hesse, Alemanha

Archives of Environmental Health

Infecções e doenças atópico/ alérgicas (n = 340)

Seccional

n = 671 E 07 a 10 anos

Aumento de IgE com DDE

Heuvel et al, 2002 AE:1999

Hoboken e Wilrijk, Béligica

Environmental Health Perspectives

Biomarcado-res imunológicos

Seccional

n = 100 E n = 100 NE 17 e 18 anos

Coeficien-te de correlação negativa

Karmaus et al, 2003 AE:1994 a 1997

Sul do estado de Hesse, Alemanha

Paediatric and Perinatal Epidemiology

Efeito adverso do DDE na proteção pelo aleitamento nas manifestações atópicas (n = 335)

Seccional

n = 671 E 07 a 10 anos

Aumento de IgE com DDE

Continua

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TABELA 01- Artigos selecionados: autor, ano, periódico e características metodológicas.

Autor/Ano do estudo

(AE)

Local do estudo

Periódico Desfecho estudado

Desenho

População

Resultados

Hajime, 2003 AE:2002

Kyoto, Japão

International Journal of Hygiene and Environmental Health

Produção de IgE

Bancada

n = 26 E 21 e 38 anos

Aumento IgE em atópicos

Karmaus et al, 2005 AE:1994 a 1995

Sul do estado de Hesse, Alemanha

Environmental Health

Biomarcadores imunológicos (n = 331)

Seccional

n = 671 E 07 a 10 anos

Aumento de IgE com DDE

Hideo et al, 2006 AE:2004 a 2005

Japão Toxicology and Industrial Health

Níveis de componentes imunológicos e aleitamento

Coorte

n = 281 E n = 20 NE 01 ano

Sem alteração

Grandjean et al, 2010 AE:1999 a 2001

Ilhas Faroe, Dinamarca

Environmental Health Perspectives

Doenças atópico/ alérgicas e aleitamento (n = 464)

Coorte

n = 656 E 05 a 07 anos

Aumento de IgE com PCB

Jusko et al, 2011 AE:2002 e 2004

Leste Eslováquia

Journal of Immunotoxicology

Concentração de Ig sérica total (n = 384)

Coorte

n = 971 E Recém natos e 06 meses

Sem alteração

onde, AE = ano do estudo, E = exposto, NE = não exposto e OC = Organoclorado

A exposição dos indivíduos aos compostos organoclorados não ocorreu de forma

isolada em dez estudos. Somente em um estudo experimental ocorreu exposição única ao

TCDD (HAJIME, 2003). Foi mensurada e avaliada a presença de outros xenobióticos, como

metais (chumbo e metil mercúrio), hidrocarbonetos poliaromáticos (PAH), monóxido de

carbono e outros compostos organoclorados (HCB, HCH, benzenos clorados). Os metais

foram medidos no sangue (metilmercúrio e chumbo) e cabelo (metilmercúrio), a

carboxihemoglobina no sangue e os compostos organoclorados no sangue (seis estudos), leite

(dois estudos) e em um estudo na placenta (quadro 07).

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QUADRO 07 - Características dos estudos quanto aos xenóbióticos mensurados.

Autor Xenobiótico Sítio de coleta

Hiroshi et al, 1995 PAH e 2,3,7,8-TCDD Não se aplica (cultura de células)

Marth; Haselbacher-Marko; Schaffler, 1996

Monóxido carbono Sangue

Reichrtová et al, 1999

Benzenos clorados, DDE, DDT, HCH (α β γ δ) e PCB (07 congêneres)

Placenta

Karmaus; Kruse; Kuehr, 2001

DDE, HCB, HCH e PCB (08 congêneres)

Sangue

Heuvel et al, 2002

PCB (06 congêneres) Sangue

Karmaus et al, 2003

DDE Sangue

Hajime, 2003

TCDD Não se aplica (cultura de células)

Karmaus et al, 2005

Chumbo, DDE, HCB, HCH (α β γ) e PCB (08 congêneres)

Sangue - todos

Hideo et al, 2006

PCB (12 congêneros), PCDD (14 isômeros) e PCDF (15 isômeros)

Leite

Grandjean et al, 2010

Metil mercúrio e PCB (03 congêneres)

Cabelo - metil mercúrio Leite - PCB Sangue - todos

Jusko et al, 2011 PCB (15 congêneres) Sangue

Os organoclorados mais encontrados em ordem decrescente foram: PCB (sete), DDE

(quatro), TCDD (três), PCDD/PCDF (dois) e DDT em um. Os congêneres 138, 153 e 180 de

PCB estiveram presentes em todos os estudos que analisaram estes xenobióticos.

A análise estatística foi empregada em oito estudos. As variáveis independentes foram

os xenobióticos e as dependentes, a IgE. Ocorreu ajuste para covariáveis como tabagismo,

idade materna entre outras, em seis estudos. Os autores destes trabalhos empregaram uma ou

mais ferramentas. Os dois estudos experimentais (HAJIME, 2003 e HIROSHI et al, 1995) e

uma coorte (MARTH; HASELBACHER-MARKO; SCHAFFLER, 1996) não fizeram análise

estatística.

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Dos seis estudos que utilizaram método no controle do confundimento, como a

estratégia analítica, somente um (HEUVEL et al, 2002) o fez para quase todas as variáveis

confundidoras. Parasitose intestinal nunca foi citada, ingestão de álcool foi incluída em um

método, enquanto que idade e tabagismo estiveram presentes em todos.

A amamentação foi controlada em quatro artigos devido à associação espúria que

poderia ocorrer entre as imunoglobulinas passadas pelo leite (imunidade passiva) e os

xenobióticos presentes no leite pelo seu teor lipofílico.

No quadro 08 estão descritas as análises realizadas e variáveis confundidoras

controladas por estudo.

QUADRO 08 - Análise estatística empregada e variáveis confundidoras controladas.

Autor Análise estatística Controle para confundimento

Hiroshi et al, 1995 Não Não

Marth; Haselbacher-Marko; Schaffler, 1996

Não Não

Reichrtová et al, 1999 Coeficiente de correlação de Spearman Teste paramétrico: t de Student Teste não paramétrico: Wilcoxon

Não

Karmaus; Kruse; Kuehr, 2001

Regressão logística Sexo e idade da criança, amamentação e tabagismo

Heuvel et al, 2002

Regressão linear Regressão logística Teste paramétrico: t de Student Teste não paramétrico: exato de Fisher

Sexo, tabagismo, consumo de bebida alcoólica, história familiar de doença alérgica e amamentação

Karmaus et al, 2003 Regressão logística Sexo e idade da criança, educação e atopia dos pais, tabagismo materno na gravidez, gestação < 37 semanas

Hajime, 2003 Não Não

Karmaus et al, 2005

Regressão linear Teste paramétrico: t de Student

Sexo e idade da criança, tabagismo e número de infecções no último ano

Hideo et al, 2006 Teste paramétrico: t de Student Não

Grandjean et al, 2010 Regressão linear Coeficiente de correlação: Spearman Teste paramétrico: t de Student

Sexo, idade e estação do ano do nascimento da criança, prematuridade e idade da mãe, paridade, ingestão de peixe e tabagismo materno

Jusko et al, 2011 Regressão linear Idade materna, tabagismo antes e durante a gestação, sexo e idade da criança

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A influência da amamentação sobre o desenvolvimento de doenças atópico/alérgicas

foi um dos tópicos de discussão em dois artigos (KARMAUS et al, 2003 e GRANDJEAN et

al, 2011). Existe na literatura uma contrvovérsia a respeito do efeito protetor da amamentação

contra o desenvolvimento de doenças atópico/alérgicas. Um dos estudos investigou se

diferentes concentrações no sangue de DDE modificavam o efeito protetor da amamentação

contra manifestações atópicas em 338 crianças com idade entre 07 e 10 anos. Os resultados

revelaram que em concentrações de DDE abaixo da média de 0,29µg/L, o efeito protetor era

mais evidente (OR = 0,24; IC 95%: 0,06-0,95) e em em altas concentrações (≥0,29µg/L)

havia modificação deste efeito e por isso estudos prévios poderiam ter encontrados achados

inconsistentes. Não foi evidenciado nenhum efeito estatisticamente significativo da

amamentação nos níveis séricos de IgE total (KARMAUS et al, 2003). A outra pesquisa

realizada em 656 pares (mãe-bebê) sugeriu que a associação entre amamentação e risco de

doenças atópico/alérgicas em crianças é muito pequena e pode refletir a exposição a

xenobióticos imunotóxicos contaminantes da alimentação pela lactação. O efeito da lactação

sobre os níveis séricos de IgE foi considerado até mesmo insignificante (GRANDJEAN et al,

2010).

Em relação aos três objetivos do instrumento utilizado para analisar a qualidade do relato,

inicialmente serão mostrados os dois desfechos secundários. Os cálculos revelaram que para a

média dos escores por pergunta, 25 itens obtiveram pontuação ≥ 03 (itens 01, 02, 03, 04, 06,

08, 10, 11, 12, 13, 15, 19, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33 e 34).

O quadro 09 mostra os resultados da média dos escores para cada pergunta.

QUADRO 09 - Média dos escores por item.

Item Média Item Média Item Média 1 5,0 13 3,6 24 4,0 2 5,0 14 2,4 25 4,9 3 4,2 15 3,4 26 4,7 4 3,2 16 2,5 27 3,4 5 0,7 17 na 28 3,4 6 4,9 18 2,5 29 4,5 7 na 19 4,1 30 4,7 8 3,0 20 1,0 31 4,5 9 na 21 3,0 32 4,9 10 3,5 22 3,0 33 4,1 11 3,2 23 2,0 34 4,0 12 3,6

onde, na: não se aplica

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Já para o segundo desfecho analisado, a porcentagem de escore ≥ 03 por cada artigo

(escore de qualidade), os cálculos mostraram que um artigo foi inferior a 50% e os outros dez

obtiveram porcentagem > 50, sendo dois > 80%, três > 70%, dois > 60% e três > 50%.

A figura 02 mostra a distribuição do escore de qualidade de cada artigo, o qual foi

numerado em ordem crescente de acordo com o ano de publicação, conforme orenação da

tabela 01 (A1 = 1995, A2 = 1996, A3 = 1999, etc).

Porcentagem (%)

38,2

50,7

57,4 57,461,8 63,2

76,570,6

77,9

85,382,4

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 A11

A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 A11

1995 1996 1999 2001 2002 2003 2003 2005 2006 2010 2011

Artigos (A)

Figura 02 - Distribuição do escore de qualidade de cada artigo.

Finalmente os cálculos realizados para o objetivo principal do instrumento, a porcentagem

de artigos cujas perguntas tiveram escore ≥ 03, revelaram que somente dez itens alcançaram

esta pontuação (itens: 01, 02, 06, 25, 26, 29, 30, 31, 32 e 33), o equivalente a 29,4% (10/34).

Três itens (07, 09 e 17) obtiveram resposta não se aplica, conforme orientação do

questionário. A figura 03 mostra a análise específica dos itens e o percentual de artigos com

pontuação ≥ 03.

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0 20 40 60 80 100 120

34.estilo33.organização

32.concisão31.resumo

30.títuloGeral

29.conclusão28.generalização

27.limitações26.evidência externa

25.contribuiçõesDiscussão e Conclusões

24.figuras/tabelas23.subgrupos

22.análise multivariada21.confundidores

20.análise de abandonos19.detalhamento

18.intervalo de confiança17.testes diagnósticos

16.medidas de associação15.denominadores

14.entendimento13.métodos adequados

Resultados: Análise12.abandono11.descrição

10.não inclusõesResultados: Individuos

9.efeitos colaterais8.definições

7.mascaramento6.desenho

Métodos: Desenho5.comparações

4.eleição3.cenário

Métodos: Indivíduos2. objetivos

1. fundamentaçãoIntrodução

Iten

s/P

ergu

nta

s

Porcentagem

Figura 03 - Análise específica dos itens: porcentagem dos artigos com pontuação ≥ 03.

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Na avaliação das pontuações dos itens, na escala de 01 a 05, os que obtiveram as

melhores pontuações foram (11 artigos e 02 revisores = 22): clareza na fundamentação e

lógica do estudo (22/22), clareza nos objetivos específicos (21/22), clareza do desenho do

estudo (20/22), contribuição do estudo para o conhecimento científico (20/22), o quão conciso

(20/22) e título (18/22). Por outro lado, as perguntas que tiveram as piores pontuações foram:

análise inapropriada dos abandonos ou de dados incompletos dos indivíduos (22/22), a falta

de grupos para comparações (20/22), a falta de relato das medidas de associação (14/22), falta

de relato do intervalo de confiança ou erro padrão para o desfecho (14/22), clareza da

definição operacional das variáveis principais (11/22), clareza dos critérios de eleição dos

indivíduos (10/22) e adequação da descrição da amostra selecionada, incluindo potenciais

confundidores ou modificadores de efeito (10/22).

Conforme programado, a análise do CCI das dez seções revelou que oito delas

apresentaram concordância excelente, uma foi boa (discussão e conclusão) e a outra não pode

ser valorizada em virtude do enorme intervalo de confiança. No quadro 10 estão descritos os

valores do CCI por seção para a avaliação de concordância das pontuações entre os revisores.

QUADRO 10 - Estimativa do coeficiente de correlação intraclasse por seção do questionário e

o respectivo intervalo de confiança.

Seção Coeficiente de correlação intraclasse IC 95%

Introdução 0,00 -0,56 a +0.57

Métodos: indivíduos 0,98 0,93 a 0,99

Métodos: desenho 1,00 1,00 a 1,00

Métodos: mensuração variável 1,00 1,00 a 1,00

Resultados: indivíduos 1,00 1,00 a 1,00

Resultados: relato 0,99 0,97 a 1,00

Discussão e conclusão 0,75 0,32 a 0,92

Título 0,76 0,35 a 0,93

Resumo 0,84 0,53 a 0,95

Avaliação geral 0,86 0,59 a 0,96

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DISCUSSÃO

A literatura científica aponta para evidência escassa da associação entre compostos

organoclorados e imunidade humoral em humanos, particularmente no que concerne às

imunoglobulinas (BACCARELLI et al, 2002). Boa parte do conhecimento técnico que se tem

a respeito advém de estudos experimentais em animais (atrofia tímica em roedores expostos a

dioxinas) ou no caso dos seres humanos, de exposição ocupacional como a Operação Ranch

Hand (Agente Laranja contaminado com TCDD, Vietnã) ou acidentes ambientais como os

exemplos de Yusho (Japão), Yu-Cheng (Taiwan) e Seveso (Itália).

Ao se identificar esta situação, um estudo de revisão sistemática foi conduzido com o

objetivo de verificar a associação entre a exposição não ocupacional a determinados grupos de

organoclorados e níveis séricos de IgE total. Os resultados obtidos evidenciaram quatro

pontos importantes. Primeiro, a paucidade de estudos sobre o tema. Recuperaram-se 232

artigos da base de dados eletrônica MEDLINE/PubMed e nenhum na BVS/LILACS.

Segundo, a inexistência de publicação de pesquisa em seres humanos sobre este tema em

países em desenvolvimento, apesar do ISAAC, um estudo epidemiológico multicêntrico sobre

asma e alergia na infância, revelar o aumento da prevalência de doenças atópico/alérgicas; e,

da exposição da população a estes xenobióticos ser expressiva, seja pela aplicação de DDT

e/ou pelo descarte dos resíduos sólidos em lixões. Só no Brasil, 50,8% dos resíduos sólidos

são descartados nos “lixões”, uma importante fonte de dioxinas (IBGE, 2008). Terceiro,

somente onze estudos foram selecionados dos 236 recuperados, de acordo com os critérios

estabelecidos. Nestes artigos, a heterogeneidade de relato, apresentação incompleta dos

resultados, assim como sua análise, dificultaram a comparação entre os mesmos. Desta forma

não foi possível a aplicação de um método estatístico para integrar os resultados dos estudos

incluídos (metanálise) e por conseguinte a construção de uma medida de maior consistência

conhecida como estimativa de efeito conjunto (BERWANGER et al, 2007). Quarto, a

dificuldade de se encontrar um instrumento para avaliar a qualidade de relato de estudos

observacionais, visto que por motivos éticos, estes continuam sendo a principal fonte de

investigação sobre este tema.

Houve divergências entre os resultados encontrados pelos onze estudos. Três não

encontraram aumento de IgE e oito sim. As metodologias empregadas nos estudos para

mensurar a IgE sérica total, sete diferentes, não explicam os resultados conflitantes, pois não

existe diferença significativa nas sensibilidade e especificidade destes métodos

(SPALDING;WALD;BERND, 2000). Entretanto alguns podem ser os motivos para

divergência, como: a variabilidade da intensidade de exposição aos xenobióticos; o uso de

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métodos distintos para avaliação da exposição aos organoclorados, como o CALUX bioassay

que mede a toxicidade direta da atividade das dioxinas e portanto permite uma estimativa

mais relevante da exposição (HEUVEL et al, 2002); a escolha de congêneres diferentes de

PCBs quando se avaliava este xenobiótico; a presença de outros xenobióticos; a variabilidade

das concentrações das imunoglobulinas totais em crianças de até 03 anos quando comparadas

com adultos (JUSKO et al, 2011); a restrição dos estudos a determinadas faixas etárias; e, o

não controle de variáveis confundidoras. Em relação a este, dos oito estudos que mostraram

aumento dos níveis séricos de IgE, quatro não controlaram para nenhuma variável (HIROSHI

et al, 1995; MARTH; HASELBACHER-MARKO; SCHAFFLER, 1996; REICHRTOVÁ et

al, 1999 e HAJIME, 2003) e os quatro restantes o fizeram parcialmente, fato este que pode ter

contribuído para os resultados.

Nos outros três estudos que não evidenciaram aumento de IgE (HIDEO et al, 2006 e

JUSKO et al, 2011), as substâncias envolvidas foram dioxina ou tipo dioxina, resultados

também encontrados nos estudos conduzidos por Weiglas-Kuperus e colaboradores, os quais

sugerem que a exposição a estas substâncias podem aumentar a susceptibilidade a doenças

infecciosas, estimulando a linhagem de linfócitos TH1, e por este motivo prevenir o

desenvolvimento de doenças atópico/alérgicas (WEIGLAS-KUPERUS et al, 2000 e

WEIGLAS- KUPERUS.; VREUGDENHIL; MULDER, 2004).

Já os oito estudos que identificaram aumento de IgE, dois foram cultura de células,

com amostra populacional pequena e sem análise estatística (HIROSHI et al, 1995 e

HAJIME, 2003), três a relataram por meio de porcentagem (MARTH et al, 1996,

REICHRTOVÁ et al, 1999 e KARMAUS et al, 2005) e três citaram o odds ratio

(KARMAUS, KRUSE; KUEHR, 2001, KARMAUS et al, 2003 e GRANDJEAN et al, 2010),

porém só dois estudos apresentaram esta medida de associação estatisticamente significativa

(KARMAUS, KRUSE; KUEHR, 2001, KARMAUS et al, 2003).

Inicialmente a resposta à pergunta formulada foi de parecer haver associação pelo

aumento dos níveis séricos de IgE total encontrado em oito estudos. Entretanto, após

ponderação criteriosa das argumentações descritas, a conclusão foi de que não há evidências

suficientes para confirmar a associação entre a exposição não ocupacional e o aumento dos

níveis séricos de IgE total, devido ao fato de se basear somente em dois artigos, que embora

relatassem uma medida de associação (odds ratio) estatisticamente significativa,

apresentavam tanto um tamanho amostral pequeno (<500) como um controle parcial para as

variáveis confundidoras, além de não apresentar grupos de comparação entre expostos e não

expostos.

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Até o momento, somente um trabalho havia estudado o tema geral por meio de um

estudo de revisão sistemática. Baccarelli et al investigaram a associação entre TCDD e

parâmetros imunológicos humorais (IgA, IgG, IgM, C3 e C4) em seres humanos, na base de

dados eletrônica PubMed (National Library of Medicine, Bethesda, MD, USA), entre os anos

de 1966 e 2001, sem restrição quanto à exposição ocupacional. Os autores selecionaram ao

final, treze artigos e relataram uma grande heterogeneidade do relato e análise dos dados,

presença de dados incompletos, além de diferenças nas avaliação, natureza e intensidade da

exposição. Eles concluíram que a evidência é escassa segundo a literatura especializada, a

mesma encontrada neste trabalho (BACCARELLI et al, 2002).

Uma das justificativas para a maior concentração de estudos (08/11) em crianças pode

ter relação com o conhecimento dos pesquisadores da maior vulnerabilidade do sistema

imunológico durante seu desenvolvimento. Evidências científicas mostram que quatro dos

cinco períodos de susceptibilidade aos efeitos imunotóxicos dos xenobióticos ocorrem entre a

gestação e amamentação (GEHRS et al, 1997 apud WORLD HEALTH ORGANIZATION,

2006, p. 107). Como existem poucos dados em adultos, autores como Weiglas-Kuperus

sugerem a necessidade de mais estudoos, como os de acompanhamento de coorte de

exposição perinatal para investigar os efeitos imunotóxicos, mesmo que inicialmente as

alterações dos biomarcadores não se reflitam em evidência clínica. Posteriomente, caso estas

alterações persistam, os indivíduos podem vir a apresentar efeitos imunotóxicos clínicos como

imunosupressão, alergia ou autoimunidade (WEIGLAS-KUPERUS et al, 1995 e WEIGLAS-

KUPERUS et al, 2000).

Vários fatores podem influenciar os biomarcadores imunológicos e por este motivo as

conclusões sobre os possíveis efeitos de xenobióticos só podem ser tomadas depois de se

analisar, entre outros dados, todas as variáveis confundidoras (NEUBERT et al, 2000 apud

BACCARELLI et al, 2002, p.1172). No presente trabalho foi citada a não inclusão ou

inclusão parcial de algumas delas, como parasitose intestinal e ingestão de álcool,

respectivamente. Especificamente, no que concerne à amamentação, os efeitos nas

concentrações de IgE são ainda incertas e mesmo sendo uma fonte de exposição a compostos

organoclorados, entre outros xenobióticos, a Organização Mundial de Saúde é enfática na

indicação da amamentação devido aos outros benefícios já conhecidos e como alternativa para

redução da exposição, aconselham a restrição na ingestão de alimentos contaminados por

dioxinas (WEIGLAS-KUPERUS et al, 2000).

A análise da qualidade do relato por meio da aplicação de um questionário tipo escala

evidenciou que os autores apresentaram bons argumentos para realizar o estudo além de

objetivos claros. Entretanto, estes foram ofuscados pelos itens considerados mais deficientes,

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como critérios de escolha da população a ser avaliada, abandonos durante o estudo, magnitude

de efeito e controle para variáveis confundidoras. A falha do relato destas informações

importantes pode ter introduzido erros sistemáticos e desta forma levado o leitor a conclusões

equivocadas. Na análise do conjunto observa-se um desequilíbrio que afetou a qualidade do

relato da maioria dos estudos. Além do mais, observou-se também a heterogeneidade do

relato, fato que não permitiu a aplicação da metanálise.

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7 CONCLUSÃO

Um estudo de revisão sistemática sobre o tema foi realizado e concluiu-se que não

havia evidências científicas suficientes para confirmar ou negar esta associação. As

justificativas para este fato advêm da pouca quantidade de artigos publicados, além do fato de

que os oito artigos que relataram o aumento dos níveis séricos de IgE, apresentarem falhas

metodológicas que prejudicaram a análise e o emprego de um método estatístico como a

metanálise para a construção de um nível de evidência mais consistente.

Observou-se uma concentração de estudos em determinada faixa etária (≤ 10 anos)

devido provavelmente à maior vulnerabilidade do sistema imunológico neste período, gerando

uma lacuna de conhecimento nas demais faixas etárias. O acompanhamento dos estudos em

crianças ao longo da vida para avaliar o aparecimento de alterações de biomarcadores

imunológicos e patologias associadas é, portanto, recomendável.

A pesquisa de novos fatores e/ou condições que possam influenciar os biomarcadores

imunológicos e o controle dos já conhecidos, como tabagismo e parasitose intestinal, se faz

necessário para evitar falsas conclusões.

A criação de instrumentos voltados para a melhora do relato de estudos

observacionais, como por exemplo o STROBE (Strengthening the Reporting of Observational

studies in Epidemiology) deve melhorar este panorama de heterogeneidade, porém não

suprime a necessidade da elaboração de uma ou mais ferramentas de avaliação da qualidade

de relato de estudos observacionais, visto que por motivos éticos, estes continuam sendo a

principal fonte de investigação sobre exposição a esses xenobióticos, alguns

reconhecidamente cancerígenos.

Faz-se imperativo conduzir mais pesquisas de boa qualidade metodológica sobre este

tema em seres humanos nas diversas faixas etárias, visto que esses xenobióticos são poluentes

orgânicos persistentes, encontram-se presentes em diversos ecossistemas e grandes grupos

populacionais encontram-se a eles expostos, gerando um problema de saúde pública para esta

e futuras gerações.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – BLOCOS DE CONCEITOS UTILIZADOS NA PESQUISA DE ARTIGOS

COMO PARTE DA ESTRATÉGIA TRAÇADA PARA AS DUAS BASES DE DADOS.

MEDLINE/PubMed

((“persistent”[tw] AND “organic”[tw] AND “pollutants”[tw]) OR “persistent organic

pollutants”[tw] OR “POPs”[tw] OR (“Polychlorinated”[tw] AND “D ibenzodioxins”[tw])

OR “polychlorinated dibenzodioxins”[tw] OR “PCDDs”[tw] OR "polychlorodibenzo-4-

dioxin"[tw] OR "pcdd"[tw] OR "chlorinated dibenzofurans"[tw] OR "polychlorinated

dibenzofurans"[tw] OR “PCDFs”[tw] OR “PCDF”[tw] OR “PCB”[t w] OR "pcbs"[tw] OR

polychlorinated biphenyls[MeSH Terms] OR ("polychlorinated"[tw] AND "biphenyls"[tw])

OR "polychlorinated biphenyls"[tw] OR ("polychlorobiphenyl"[tw] AND "compounds"[tw])

OR "polychlorobiphenyl compounds"[tw] OR tetrachlorodibenzodioxin[MeSH Terms] OR

"tetrachlorodibenzodioxin"[tw] OR "dioxin"[tw] OR “TCDD”[tw] OR dioxins[MeSH Terms]

OR "dioxins"[tw] OR dichlorodiphenyl dichloroethylene[MeSH Terms] OR

("dichlorodiphenyl"[tw] AND "dichloroethylene"[tw]) OR "dichlorodiphenyl

dichloroethylene"[tw] OR “DDE”[tw] OR “DDX”[tw] OR

Dichlorodiphenyldichloroethane[MeSH Terms] OR ” Dichlorodiphenyldichloroethane”[tw]

“DDD”[tw] OR “TDE”[tw] OR ddt[MeSH Terms] OR "ddt"[tw] OR

"dichlorodiphenyltrichloroethane"[tw] OR hydrocarbons, chlorinated[MeSH Terms] OR

("hydrocarbons"[tw] AND "chlorinated"[tw]) OR "chlorinated hydrocarbons"[tw] OR

("organochlorine"[tw] AND "compounds"[tw]) OR "organochlorine compounds"[tw] OR

("Chlorinated"[tw] AND pesticides[MeSH Terms] OR "pesticides"[tw]) OR "chlorinated

pesticides”[tw] OR (“Organochlorine”[tw] AND pesticides[MeSH Terms] OR

"pesticides"[tw]) OR “organochlorine pesticides”[tw] OR ("Organochlorine”[tw] AND

insecticides[MeSH Terms] OR "insecticides"[tw]) OR “organochlorine insecticides”[tw] OR

"organochlorine"[tw] OR "organochlorined"[tw] OR "organochlorines"[tw]) AND (“IgE”

[tw] OR immunoglobulin e[MeSH Terms] OR "immunoglobulin e"[tw])

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72

BVS/ LILACS

(“persistent organic pollutants” OR “POPs” OR “polychlorinated dibenzodioxins” OR

“PCDDs” OR FURANS [DeSC] OR "polychlorinated dibenzofurans" OR “PCDFs” OR

polychlorinated biphenyls[DeSC] OR "polychlorobiphenyl compounds" OR "PCBs" OR

tetrachlorodibenzodioxin[DeSC] OR “TCDD” OR dioxins [DeSC] OR Dichlorodiphenyl

dichloroethylene[DeSC] OR “DDE” OR “DDX” OR

Dichlorodiphenyldichloroethane[DeSC] OR “DDD” OR “TDE” OR ddt[DeSC] OR

"dichlorodiphenyltrichloroethane" OR “1,1,1,-trichloro-2,2-di(4-chlorophenyl)ethane” OR

Inseticides, organochlorine[DeSC] OR “Organochlorine Insecticides” OR “Organochlorine

Pesticides” OR “Chlorinated Pesticides) AND (Immunoglobulin E[DeSC] OR “ IgE”)

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APÊNDICE B – METODOLOGIA EMPREGADA PARA ANÁLISE DO NÍVEL DE

IgE TOTAL.

Autor Método Valor de referência/detecção

Hiroshi et al , 1995 ELISA > 1.1 ng/ml Marth; Haselbacher-Marko; Schaffler, 1996

Imunoensaio Cap-System, Pharmacia > 200 kU/L

Reichrtová et al, 1999 ImmunoCAP (Kabi Pharmacia Diagnostics AB, Uppsala, Suécia)

≥ 0.7 kU/L

Karmaus; Kruse; Kuehr, 2001

Radioimunoensaio (CAP Pharmacia, Dillenburg, Alemanha)

≥ 200 kU/L

Heuvel et al, 2002 ELISA > 150 kIU/L * Karmaus et al, 2003 Radioimunoensaio (CAP Pharmacia, Uppsala,

Suécia) ≥ 200 kU/L

Kimata et al, 2003 ELISA > 3.2 ng/ml Karmaus et al, 2005 Imunofluorescência (CAP Pharmacia, Uppsala,

Suécia) ≥ 200 kU/L

Hideo et al, 2006 Imunoensaio enzimático quimioluscente 58.2 ± 105.9 IU/ml (mamadeira)

Grandjean et al, 2010 ImmunoCAP system (Phadia, Uppsala, Suécia) ≥ 12 kU/L* (+ 1SD**: 48)

Jusko et al, 2011 Ensaio imunoenzimático sanduíche (Biogema, Kosice, Eslováquia)

5.2 IU/ml

* média geométrica (distribuição transformada logaritimicamente) com intervalo de confiança de 95% **1SD – um desvio padrão

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ANEXO A - CARACTERÍSTICAS DAS IMUNOGLOBULINAS.

O quadro 11 apresenta as características gerais e específicas das imunoglobulinas séricas.

QUADRO 11 - As características das imunoglobulinas.

CLASSE IgG IGA IgM IgD IgE

Peso molecular

160.000 17.000 900.000 80.000 90.000

Forma molecular habitual

Monômero Monômero dímero

Pentâmerohexâmero Monômero Monômero

Subclasses G1,G2,G3,G4 A1,A2 nenhuma Nenhuma Nenhuma

Concentração sérica

1.000 - 5.000 250-300 100-150 0,3-30 0,0015-0,2

Meia –vida (dias)

08-23 06 05 03 02

Ligação das células por Fc

Macrófagos Neutrófilos Linfócitos

Linfócitos Linfócitos Nenhuma Mastócitos, Basófilos e células B

Propriedades biológicas

Transferência placentária, anticorpo secundário na maioria das respostas antipatógeno

Ig secretora

Respostas humorais primárias

Marcador para células B maduras

Alergia, respostas antiparasitárias

Fonte: FAUCI, A.S. et al. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 17th ed., Philadelphia: Lippincott, Williams & Wilkins, 2008. p. 2022.

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ANEXO B – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO RELATO.

Instrumento de avaliação da qualidade do relato da pesquisa médica, extraído do artigo

“Manuscript Quality before and after Peer Review and Editing at Annals of Internal

Medicine“ (GOODMAN et al, 1994).

A definição de avaliação do relato da qualidade do artigo foi a seguinte: “se os autores

descreveram a investigação de forma clara e em detalhe suficiente para que o leitor pudesse

fazer uma análise independente sobre as forças, limitações dos dados e conclusões.”

O objetivo deste questionário é fornecer uma avaliação estruturada da qualidade do relato da

pesquisa médica e não da qualidade da pesquisa em si.

A principal medida de desfecho foi a percentagem de itens com pontuação maior ou igual a 3

em uma escala de 5.

Análise específica por item foi feita por meio da dicotomização da pontuação dos itens

(0 para pontuação ≤ 2 e 1 para pontuação ≥3).

Introdução (2 perguntas)

1. Quão claro são a fundamentação e a lógica para o estudo?

1 2 3 4 5 (1=não claro/3=algo claro/5=claro)

2. Quão claro são os objetivos específicos do estudo?

1 2 3 4 5 (1=não claro/3=algo claro/5=claro)

Métodos: Indivíduos (5 perguntas)

3. Quão adequado é a descrição da forma do estudo e da fonte dos indivíduos?

1 2 3 4 5 (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

4. Quão claro são os critérios de eleição (inclusão e exclusão)?

1 2 3 4 5 (1=não claro/3=algo claro/5=claro)

5. Para os estudos em que se compara dois grupos, há informação suficiente para avaliar

a adequação dos grupos grupos comparados?

1 2 3 4 5 (1=sem informação/3=alguma informação/5=toda informação)

Métodos: Desenho

6. Quão claro é o desenho do estudo?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não claro/3=algo claro/5=claro)

7. Quão adequado é a descrição do procedimento de mascaramento?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

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Métodos: Mensuração de variável (2 perguntas)

8. A definição operacional das variáveis principais é clara o suficiente de forma que se

possa avaliar as suas forças e limitações?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não claro/3=algo claro/5=claro)

9. Quão adequado é o relato dos efeitos adversos relevantes?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

Resultados: Indivíduos (3 perguntas)

10. O quão completo é a informação (motivos e números) sobre os indivíduos

selecionados porém que não foram incluídos no estudo?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=sem informação/3=incompleta/5=completa)

11. Quão adequado é a descrição da amostra selecionada, incluindo potenciais

confundidores, modificadores de efeito, cointervenções, comorbidades e espectro de

doença? (Em estudos comparativos, isto significa descrição por grupo).

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

12. Quão claro são os desfechos para todos envolvidos no estudo?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não claro/3=algo claro/5=claro)

Resultados: Relato quantitativo (12 perguntas)

13. Os métodos quantitativos são os ideais para as perguntas e dados?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=incorreto/3=parcialmente correto/5=correto)

14. Os resultados quantitativos são relatados de forma que os leitores entendam?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não/3=possível/5=sim)

15. Quão adequado é o relato dos denominadores (médias, taxas, razões, etc.)?

1 2 3 4 5 Não aplica (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

16. As magnitudes dos efeitos são relatadas?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não/3=omissão em lugares importantes/5=sim)

17. Em estudos de testes diagnósticos, quão adequado é o relato do resumo das estatísticas

para a performance do teste?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

18. Os intervalos de confiança ou erros padrão são relatados como desfechos principais?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=nunca/3=omissão em lugares importantes/5=sempre)

19. Quão apropriado é o equilíbrio entre detalhe e resumo dos resultados?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inapropriado/3=razoável/5=apropriado)

Page 78: Angelica dos Santos Vianna disserta o bi)(Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal

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20. Como são adequadamente trabalhados os abandonos, cruzamentos ou dados

incompletos dos indivíduos, no que concerne à análise?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inapropriado/3=razoável/5=apropriado)

21. Quão adequado é o método empregado para controlar ou analisar os efeitos de

múltiplas variáveis medidas?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inapropriado/3=razoável/5=apropriado)

22. Quão adequado é o relato da análise das múltiplas variáveis?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

23. Os efeitos de subgrupos clinicamente relevantes são explorados detalhadamente (nem

muito ou nem pouco)?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inapropriado/3=razoável/5=apropriado)

24. As tabelas e figuras resumem efetivamente os dados importantes?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não/3=mais ou menos/5=sim)

Discussão e Conclusões (5 perguntas)

25. Fica claro o que este estudo adiciona ao corpo de conhecimento neste campo?

1 2 3 4 5 (1=não claro/3=algo claro/5=claro)

26. Quão apropriada é a apresentação de outras evidências que podem ser relevantes para

as conclusões?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inapropriado/3=razoável/5=apropriado)

27. Quão apropriada é a discussão das limitações do estudo?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inapropriado/3=razoável/5=apropriado)

28. Fica claro se os autores generalizam? Se afirmativo, estas generalizações são

justificadas?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não aceita/3=aceita mas não justificada/5=aceita e

justificada)

29. A forma como as conclusões são feitas são apropriadas ao desenho e resultados?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inapropriado/3=razoável/5=apropriado)

Título (1 pergunta)

30. O quão bom é o título?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=ruim/3= razoável/5=excelente)

Resumo (1 pergunta)

31. O resumo descreve adequadamente os dados e conclusões de forma concisa?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=inadequado/3=razoável/5=adequado)

Page 79: Angelica dos Santos Vianna disserta o bi)(Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal

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Avaliação geral (3 perguntas)

32. O artigo é conciso?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=não/3=mais ou menos/5=sim)

33. Quão boa é a organização do relato?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=ruim/3=razoável/5=excelente)

34. Como você descreve o estilo da apresentação?

1 2 3 4 5 Não se aplica (1=apagado/3=bem feito/5=elegante)

Escala de resumo (1 pergunta)

35. Como você descreveria a qualidade geral do relato?

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (1=ruim/3=regular/5 a 6=aceitável/8=bom/10=soberbo)

Page 80: Angelica dos Santos Vianna disserta o bi)(Indicadores de Exposição e Efeitos dos Poluentes Ambientais e Ocupacionais), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal

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ANEXO C – ANÁLISE DE CONCORDÂNCIA INTEROBSERVADOR PARA LEITURA

DOS TÍTULOS DOS ARTIGOS.

QUADRO 12 - Quadro de contingência elaborada após a leitura dos títulos dos artigos.

REVISOR 2

Cat. 1 - h Cat. 2 - e Cat. 3 - o Cat. 4 - g Cat. 5 - t Cat. 6 - s Total

REVISOR 1

Cat. 1 - h 103 0 0 0 0 0 103

Cat. 2 - e 0 20 0 0 0 0 20

Cat. 3 - o 0 0 17 0 0 0 17

Cat. 4 - g 0 0 0 40 0 0 40

Cat. 5 - t 0 0 0 0 1 0 1

Cat. 6 - s 0 0 22 0 0 29 51

Total 103 20 39 40 1 29 232

onde, h - não humano; e - exposição ocupacional; o - outro composto; t - desenho estudo; s- presença de características para seleção. Fonte: LABORATÓRIO DE EPIDEMIOLOGIA E ESTATÍSTICA. Análise de Concordância. São Paulo: LEE, 1995. Dsponível em: <www.lee.dante.br/kappa/kappa>. Acesso em: 14.out. 2011.

QUADRO 13 - Medida kappa para as categorias (critérios de inclusão/exclusão).

Cat. 1

h Cat. 2

e Cat. 3

o Cat. 4

g Cat. 5

t Cat. 6

s

kappa da categoria

1,0 1,0 0,56 1,0 1,0 0,67

P-valor do kappa da categoria

< 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001

Intervalo de 95% de confiança

do kappa da categoria 0,87-1,0 0,87-1,0 0,45-0,68 0,87-1,0 0,87-1,0 0,55-0,79

onde, h - não humano; e - exposição ocupacional; o - outro composto; t - desenho estudo; s- presença de características para seleção.Fonte: LABORATÓRIO DE EPIDEMIOLOGIA E ESTATÍSTICA. Análise de Concordância. São Paulo: LEE, 1995. Dsponível em: <www.lee.dante.br/kappa/kappa>. Acesso em: 14.out. 2011.