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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOS FÉRICAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS
Anderson Spohr Nedel
Condições Meteorológicas Favoráveis à Ocorrência de Doenças Respiratórias em Crianças da Cidade de São Paulo
São Paulo 2008
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ANDERSON SPOHR NEDEL
Condições Meteorológicas Favoráveis à Ocorrência de Doenças Respiratórias em Crianças da Cidade de São Paulo
Tese apresentada ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Meteorologia. Orientador: Dr. Fabio Luiz Teixeira Gonçalves São Paulo
2008
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Anderson Spohr Nedel
Condições Meteorológicas Favoráveis à Ocorrência de Doenças Respiratórias em Crianças da Cidade de São Paulo.
Tese apresentada ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo para obtenção do doutor em Meteorologia.
Aprovado em:
Banca examinadora
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituição:________________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituição:________________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituição:________________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituição:________________________________ Assinatura:___________________
Prof. Dr._______________________________________________________________
Instituição:________________________________ Assinatura:___________________
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“Dedico este trabalho a meus pais, pelo incansável apoio e incentivo em minha formação. Muito Obrigado!”.
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"Senhor das manhãs de maio ceva este mate pra mim,
Que eu venho a tempos de lua minguando os sonhos assim,
Os que eu posso, sonho aos poucos, os que eu não posso dou
fim".
(Luiz Marenco)
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AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Fabio Luiz Teixeira Gonçalves, pelo apoio e por acreditar em mim na
realização deste trabalho;
A professora Maria Regina Alves Cardoso, por proporcionar-me a interação e o aprendizado
com a área da saúde;
Meu muito obrigado aos professores Leila, Ricardo, Cintia, Maria de Fátima, Mario Festa,
que me auxiliaram nas soluções das dúvidas, sempre que os procurei;
Ao professor Pedro Oyola por compartilhar seus ensinamentos e pelo incentivo;
Ao professor Mauricio Roriz da UFSCar pela disponibilidade em ajudar-me com o Software;
A meus Pais e minha irmã Sheila, minha eterna gratidão pela força, carinho e coragem para
que eu pudesse enfrentar a vida novamente;
A minha noiva Fabiane, obrigado pela paciência e compreensão durante esse tempo distante;
Aos amigos do IAG pelas discussões indispensáveis durante este período de estudo;
Ao grupo do Projeto Chiado, com quem compartilhei esse doutorado;
Ao amigo Reinaldo e sua família pelo incentivo e amizade;
Ao meu primo Fernando, ao amigo Gustavo Ribeiro e aos meus amigos “missioneiros”;
Aos técnicos de informática e as secretárias do Departamento de Ciências Atmosféricas do
IAG-USP pela atenção durante minha pesquisa, de forma especial a Rose e Bete;
A CETESB, CPTEC/INPE, Laboratório MASTER e ao IAG-USP pela cedência dos dados;
A CAPES e CNPq, pelo auxílio financeiro;
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 _________________________________________________________________ 7
1 INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 7
1.1 Visão Geral ____________________________________________________________ 7
1.2 Conforto Térmico Humano (CTH)_________________________________________ 10
1.3 O Tempo e as Doenças Respiratórias _______________________________________ 14
1.4 Objetivos______________________________________________________________ 20
CAPÍTULO 2 ________________________________________________________________ 22
2 DADOS E MÉTODOS ____________________________________________________ 22
2.1 Dados ________________________________________________________________ 22
2.1.1 Dados Externos (Outdoor) _____________________________________________ 22
2.1.2 Dados Internos (Indoor) _______________________________________________ 25
2.1.3 As Doenças Respiratórias: “Projeto Chiado” ______________________________ 29
2.2 Método _______________________________________________________________ 31
2.2.1 Tratamento dos dados _________________________________________________ 31
2.2.2 O Conforto Térmico Humano (CTH)_____________________________________ 33
2.2.3 A Simulação Térmica das Residências via modelo Arquitrop__________________ 37
2.2.3.1 Processo de Simulação ________________________________________________ 38
2.2.4 Análise Sinótica ______________________________________________________ 43
CAPÍTULO 3 ________________________________________________________________ 45
3 Resultados ______________________________________________________________ 45
3.1 Visão Geral ___________________________________________________________ 45
3.2 Os Índices de Conforto Térmico ___________________________________________ 46
3.3 Avaliação do Índice de Conforto Térmico (TE) entre Residências________________ 67
3.3.1 Outono _____________________________________________________________ 68
3.3.2 Inverno_____________________________________________________________ 69
3.3.3 Primavera___________________________________________________________ 71
3.3.4 Verão ______________________________________________________________ 72
3.4 A Simulação do Comportamento Térmico ___________________________________ 77
3.4.1 Comparação entre Valores Simulados e Observados_________________________ 80
3.4.1.1 Tipo Construtivo 7 ____________________________________________________ 80
3.4.1.2 Tipo Construtivo 2 ____________________________________________________ 86
3.4.1.3 Tipo Construtivo 5 ____________________________________________________ 93
3.4.1.4 Tipo Construtivo 8 ____________________________________________________ 98
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3.4.1.5 Tipo Construtivo 3 ___________________________________________________ 103
3.4.1.6 Tipo Construtivo 6 ___________________________________________________ 106
3.4.1.7 Análise de Incerteza nas Simulações: “Possíveis Fontes de Erros” ____________ 109
3.5 Análise Sinótica _______________________________________________________ 112
3.5.1 Estudos de casos ____________________________________________________ 122
3.5.1.1 Caso I - Eventos dos dias 01/05/2003 e 05/05/2003 _________________________ 125
3.5.1.2 Caso II - Eventos dos dias 15/09/2003 e 14/09/2003 ________________________ 131
3.5.1.3 Caso III - Eventos dos dias 06/12/2004 e 00Z do dia 07/12/2004 ______________ 136
3.5.1.4 Caso IV - Eventos dos dias 15/09/2004 e 17/09/2004________________________ 144
3.5.1.5 Caso V - Eventos dos dias 02/06/2005 e 02/08/2006 ________________________ 150
CAPÍTULO 4 _______________________________________________________________ 168
4 CONCLUSÕES _________________________________________________________ 168
5 Referências Bibliográficas ________________________________________________ 176
ANEXO B__________________________________________________________________ 192
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RESUMO
Baseado no fato de que passamos aproximadamente noventa por cento de nossas vidas dentro de ambientes fechados, uma má adequação do microclima local, pode contribuir para um alto grau de desconforto térmico, além de ocasionar e agravar problemas respiratórios. Este estudo apresenta uma análise de variáveis meteorológicas e a sua relação com a morbidade respiratória de crianças recém nascidas (peito chiando, bronquite e asma), da cidade de São Paulo, com vistas aos sistemas sinóticos atuantes na cidade, tipo construtivo de residências e conforto térmico. De modo particular, fez-se uma análise dos principais sistemas sinóticos atuantes na cidade de São Paulo durante os períodos de ocorrência dessas complicações respiratórias, bem como, verificam-se as condições higrotérmicas e de habitabilidade dessas residências (estrutura construtiva, conforto térmico humano). Este último, através de medidas de temperatura e umidade relativa e de simulações destas variáveis pelo software Arquitrop, o qual, reapresenta o desempenho térmico das edificações, possibilitando uma comparação entre elas. O conforto térmico humano (CTH) interno nesses ambientes (indoor) também foi analisado, através da aplicação do índice de Temperatura Efetiva (TE), envolvendo umidade relativa e temperatura do ar. Os dados de morbidade foram extraídos de questionários médicos do hospital de clínicas (HC) da cidade de São Paulo e as variáveis meteorológicas internas temperatura do ar (T) e umidade relativa (UR), por termohigrógrafos, através de campanhas experimentais realizadas em 426 residências da cidade de São Paulo, entre os anos 2003/2006, totalizando 3212 dias medidos (coletados em períodos consecutivos de sete dias, em geral), ambos inseridos no “Projeto Chiado”, em conjunto com a Faculdade de Saúde Pública (FSP)-USP e o HC. Os dados referentes ao ambiente externo às residências, para o mesmo período, foram obtidos junto à estação meteorológica do IAG-USP. Por fim, utilizaram-se as reanálises do NCEP/NOAA (National Centers for Environmental Prediction) e as imagens de satélite GOES-8 no canal infravermelho (CPTEC/INPE), para analisar as condições sinóticas. Para vinte e nove casos de chiado (peito chiando) analisados nesse estudo, os resultados mostram haver uma associação entre início das crises nas crianças, quedas das temperaturas e aumento da umidade relativa do ar. Quanto aos índices de conforto, em uma análise intra-sazonal nesses anos, observou-se que durante as tardes do verão, o desconforto por calor predominou nas residências (dias quentes e úmidos; índice TE1 e TE2, temperaturas máximas e umidades máximas, e temperaturas máximas e umidades mínimas), com estresse fisiológico variando de ligeiro suor e vaso-dilatação sanguínea. Os invernos mostraram alto stress por frio durante as manhãs. O maior desconforto por frio predominou nos dias frios e secos, segundo os índices TE3 e TE4 (temperaturas e umidades mínimas, e temperatura mínima e umidade máxima). Em alguns anos (2004 e 2005), mais de 80% das manhãs foram classificadas com a sensação desconfortável por frio e muito frio (TE<16oC). Notaram-se valores internos menores que 12ºC, os quais, caracterizam sensação de extremo stress por frio (TE<13oC) para ambiente interno. As tardes desta estação apresentaram períodos mais confortáveis, porém, ainda com consideráveis dias de desconforto por frio, principalmente de ligeiro a moderado frio (16oC<TE<22 oC). Algumas tardes, inclusive, apresentaram temperaturas abaixo de 13oC (extremo stress por frio). De modo geral, as zonas de conforto para os diferentes graus de percepção térmica, o índice TE ressalta que a população de São Paulo sofre mais com o frio do que com o calor, e mostra existirem internamente poucos dias confortáveis. Durante as estações de transição (outono e primavera) foram sentidos uma mescla de dias frios, confortáveis e quentes. Os resultados sobre a freqüência dos sistemas sinóticos, determinantes para a ocorrência dos episódios de chiado, mostraram que as massas de ar polar marítimas foram responsáveis por 48% das crises de chiado (APM), os sistemas frontais (FF) por 41%, a massa de ar polar continental por 3% (APC) e apenas 7% associados pela alta concentração de poluentes sobre a cidade de São
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Paulo (situação pré-frontal: FF sobre a região sul do país e o anticiclone subtropical ao leste e norte de São Paulo). As estações com maior quantidade de episódios de chiado foram o inverno e a primavera, do ano de 2004. Analisando as temperaturas e umidades relativas internas mostraram-se que determinadas residências apresentam um maior acúmulo de umidade em seu interior do que outras, devido a sua estrutura construtiva, e isso pode ser um fator importante para o desencadeamento do chiado. Residências de alvenaria, com paredes de tijolos furados, ausência de forro e telhado de laje (grupo 7), demoram em média, 1,5 a 2 dias para sentirem internamente as mudanças ocorridas no meio exterior (quedas de temperatura e aumento da umidade) e as crianças desencadearem o chiado. Outras residências, também de alvenaria, com paredes de tijolos furados, ausência de forro e telhado de fibrocimento (grupo 2), o impacto é sentido no mesmo dia e a crise é desencadeada. Nesse tipo de residência (grupo 2) os moradores sofrem bastante com as altas temperaturas do verão e as baixas temperaturas do inverno (alto desconforto), quando comparado ao grupo 7, onde apesar de também ocorrer desconforto, este não é tão intenso. Por fim, a simulação do comportamento interno nas residências mostrou boa aproximação e coerência entre os valores de temperaturas observados internamente e externamente. Dessa forma, conhecendo os períodos preferenciais de ocorrência de chiado nas crianças e o tipo construtivo e de suas residências, seria possível (via simulação) prognosticar condições favoráveis ao aparecimento de morbidade respiratória. Conseqüentemente, se poderiam estabelecer políticas públicas de alerta a população, no sentido de minimizar os impactos causados pelo tempo (clima), em particular pela elevada umidade do ar, onde a mídia, no inverno, ressalta o oposto.
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ABSTRACT Based on fact that we spend most of our life time inside of indoor environments, a bad microclimate quality implies in a higher degree of thermal discomfort, which could create and improve respiratory diseases. This study presents an analysis of meteorological variables and their relationship to respiratory morbidity in children under 2 years old (wheezing, bronchites and asthma) of São Paulo City, taking in account to synoptical systems, construtive type of residences and thermal comfort. Particularly, the main synoptical systems were analyzed during the morbidity events in different households in São Paulo, as well as the hygro-thermal conditions of them and their construtive strucuture through thermal comfort indices. That last one, through measurements of air temperature and relative humidity and simulations using Arquitrop sofware which presents the thermal behavior of residences, allowing a comparison between both. The indoor human thermal comfort was analyzed, through the effective temperature index (ET), based on air temperature and relative humidity. The morbidity data were extracted from medical datasheet evaluated in Clinic Hospital (HC) at São Paulo City. The indoor variables, temperature and relative humidity, were collected using a thermohygrographic based on Experimental Campaigns with 426 households scattared through São Paulo, between 2003 and 2006, totalizing 3212 measured days (collected in consecutive periods of seven days, in general), both data inside of Chiado (Wheezing) Project, from FSP-USP and HC. Outdoor data were obtained from Meteorological Station of IAG-USP. Synoptical conditions were analyzed through NCEP/NOAA (National Centers for Environmental Prediction) reanalysis, and imagens of GOES-8 satellites at infra-red (CPTEC/INPE). Study cases analyzed twenty nine wheezing case. The results show associations of children respiratory crises and air temperature fall and increase of relative humidity. Taking in account the thermal comfort index ET, in an intra-seasonal analysis, it was observed that Summer evenings, the thermal discomfort was dominant in many residences (hot and wet days by TE2 and TE1 indexes: maximum temperature and minimum humidities, and maximum temperature and minimum himidities, respectively),with physiological stress from a soft sweating and vasodilation. During winter, they present high cold stress during mornings. The higher discomfort was with dry and cold days, according to TE3 and TE4 indexes (minimum temperatures and humidities, and minimum temperature and maximum humidities, respectively) indexes. In some years (2004 and 2005), most of mornings, over 80%, present cold and very cold (TE<16oC). There are some values under 12oC which caracterize extreme stress for indoor environment (TE<13oC). Afternoons during winter present comfort periods most of time, however with some days with cool and moderate cold (16 oC<TE<22 oC). Some afternoons presented temperatures below 13 oC (extreme cold stress). In a general overview, the comfort zones, ET index shows that São Paulo inhabitants have more stress with cold than heat, and present few comfortable days in indoor enviroments. During Fall and Spring, the results show a mixture of cold and hot days, as well as comfort. The results from synoptical systems frequency, which are associated with wheezing events, presented maritime polar air masses responsable by 48% of the wheezing crisis (MPA),frontal systems (FS) with 41% and continental air polar with 3% (CAP) and only 7% associated with air pollutants at São Paulo City (subtropical anticlone at North and East of São Paulo and pre-frontal systems at South of Brazil). Winter and Spring of 2004 presented the highest amount of wheezing events. Analyzing indoor temperatures and relative humidities showed that specific residences have higher values of relative humidity than others, due to their construtive types. That is an important factor to trigger wheezing events. Residences made in masonry, with pierced bricks, without covering and Asbestos-Cement rooffing tile (group 7) took in average 1.5 to 2 days to perceive the outdoor weather change and to the children to develop wheezing. Another residences, also with masonry, with pierced
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bricks, no covering and fiberciment roof (group 2) perceived the weather change at the very day. In this last group (2), the livers suffer rather with higher temperatures in summertime as well as with cold temperatures at winter time, when compared to group 7. This last ones also presented discomfort, but not as strong as group 2. Additionally, the simulation of indoor behavior showed good approximation of the observed values and coherence of the outdoor and indoor temperatures. Due to these results, knowing the preferential periods and favorable ocorrences of wheezing in children, adding their construtive type of household, it is possible to prognosticate the respiratory morbidity. Consequently, it can be established public politics to alert the population in order to minimize the weather (climate) impacts, particularly, due to the high relative humidity, where the mídia, in wintertime, advices the opposite.
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CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Visão Geral
As primeiras descobertas a respeito da influência do tempo e do clima sobre os seres
humanos, datam do início do século V a.C. Hipócrates, conhecido como o pai da medicina,
através de suas pesquisas relacionava, naquela época os efeitos da saúde aos fatores
ambientais. Segundo esse ele, muitas epidemias estavam relacionadas aos fatores climáticos.
Dentre suas inúmeras obras escritas, está o Tratado dos Ayres, águas y lugares. Um
trecho deste tratado é transcrito a seguir:
[...]Quien desea estudiar correctamente la ciencia de la medicina deberá
proceder de la siguiente manera. Primero, deberá considerar qué efectos pueden producir cada
estación del año, puesto que las estaciones no son todas iguales, sino que difieren ampliamente, tanto
en sí mismas como en sus cambios. El siguiente punto se refiere a los vientos cálidos y a los fríos,
especialmente a los universales, pero también a aquellos que le son peculiares a cada región en
particular. Al arribar a un pueblo que le es desconocido, el médico deberá examinar la posición del
mismo con respecto a los vientos y a las salidas del sol, pues un aspecto norte, un aspecto sur, uno del
oriente y uno de occidente tienen cada uno su propio carácter individual.
Nos últimos anos vários estudos têm sido realizados no mundo inteiro, verificando as
influências do tempo e do clima a saúde da população humana, mais especificamente, a
influência exercida por certos tipos de tempo sobre a morbidade respiratória. Além de
considerar as influências naturais do ambiente, esses estudos consideram as influencias
antropogênicas, provocadas pela urbanização nas mega-cidades (TROMP 1977;
KALKSTEIN 1993; KALKSTEIN and SMOYER 1993; JAMASON, 1997; LECHA, 1998;
KATSOUYANNI et al., 1988; RUISTICUCCI et al., 2001; MAIA 2002; BRAUN 2002;
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MCMICHAELS et al., 2004; GONÇALVES et al., 2004; NASTOS et al., 2004,
KASSOMENOS et al., 2006; BRAUN, 2007; GONÇALVES et al, 2008).
Especial atenção começou a ser dada aos ambientes interiores (“indoor”), no início do
século XX, motivados pelo advento do ar condicionado. A partir daí estudos sobre a
exposição ao clima no interior dos edifícios começaram a ser realizados. A medida que
passamos aproximadamente 90% de nossas vidas dentro de ambientes fechado (SUNDELL,
1999), entende-se a tamanha importância do conhecimento do ambiente “indoor”, somado ao
fato de a poluição do ar nesses ambientes (indoor) pode ser um fator determinante de sua
saúde (contaminação interna).
A qualidade do ar indoor desempenha um papel fundamental quando se considera a
saúde pública. O ar em ambientes fechados é uma exposição que domina os seres humanos, e
segundo, mais da metade do ar que adentra no corpo humano durante seu tempo de vida é
inalado em ambientes internos. Até por volta dos anos 1850, acreditava-se que a qualidade do
ar indoor era o fator ambiental dominante sobre a sociedade, o que mudou a partir da década
de sessenta com a entrada em cena dos fatores ambientais externos (outdoor), que deram novo
enfoque ao tema ambiental e atraíram a atenção do mundo, coincidentemente com o inicio da
revolução industrial. Atualmente, há grandes evidências de que a exposição indoor à má
qualidade do ar, é a causa de excessivas taxas de morbidade (internações hospitalares) e
mortalidade. Os efeitos provocados à saúde devido a essa exposição variam muito entre
lugares e regiões do mundo.
No que tange aos parâmetros umidade relativa e ventilação, um grande número de
estudos que incluíram mais de 100.000 pessoas, encontrou uma forte associação entre as
pessoas que vivem ou trabalham em edifícios úmidos e os efeitos causados à saúde
(BORNEHAG, 2004). Observaram-se, tanto em crianças como em adultos a incidência de
tosse, alergia e asma. Da mesma forma, outros sintomas como, o cansaço, dor de cabeça,
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irritação e infecções nas vias aéreas também foram encontradas e estavam associados com o
teor de umidade presentes nos edifícios.
Ainda com relação ao tema da ventilação, poucos estudos têm sido realizados, porém,
sabe-se que a taxa de ventilação “indoor” tem sido reduzida durante as últimas décadas,
principalmente nos paises nórdicos e no oeste da Europa. SMITH (2003) estudou a associação
entre a taxa de ventilação de dentro de casas e os efeitos provocados à saúde. Analisando a
condensação sobre janelas de vidro, seus resultados denotam que a ventilação inadequada
constituiu o principal fator de risco para o aparecimento de tosse, asma e infecção
respiratórias, além de um expressivo aumento de alergias entre os moradores.
CARDOSO (2007), relacionando as condições do micro-clima de ambientes interiores a
doenças respiratórias de crianças recém-nascidas na cidade de São Paulo. Analisou as
condições higrotérmicas de seus domicílios através de medidas internas de temperatura do ar
e umidade relativa do ar dos internos aos domicílios e posterior comparação com diagnósticos
médicos do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo. Os resultados mostraram um aumento
significativo na incidência de doença respiratória do trato aéreo inferior em crianças associado
com um aumento na variação da temperatura interna ao domicílio. O estudo também mostrou
que domicílios com estruturas construtivas leves não protegem os morados contra a variação
do clima externo.
Relacionando a exposição de crianças e o clima “indoor”, NAFSTAD et al (2005),
estudaram a relação existente entre a exposição de crianças entre três e cinco anos de idade,
em creches e os problemas respiratórios, possivelmente atribuídos à umidade. Das 175
creches analisados no estudo, 51% apresentavam algum problema de umidade no seu interior
(infiltração do teto ou paredes, vazamento de água), porém essa relação não era muito clara.
LECHA (1998), em seu estudo para Cuba (clima tropical-úmido) realizou uma
classificação climática de diversos tipos diários de tempo. Encontrou 18 diferentes
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combinações e os relacionou com a ocorrência de doenças respiratórias. Os resultados
mostraram relações significantes entre doenças cardiovasculares e neurológicas com a
ocorrência de stress por calor, enquanto dias frios e muito frios foram relacionados com o
aumento de asma brônquica, em adultos e crianças.
Ainda segundo o autor, “o aparecimento de reações meteoropatológicas na população
poderiam ser explicadas pelo padrão diário de variação nos tios de tempo”.
1.2 Conforto Térmico Humano (CTH)
As aceitabilidades térmicas de um ambiente e a percepção de conforto ou desconforto
estão relacionadas à produção de calor pelo metabolismo do corpo, que é transferido para o
ambiente a fim manter a função vital corporal, resultando em uma sensação psicológica e uma
temperatura corporal. Esse calor transferido é influenciado por fatores ambientais como, a
temperatura do ar, radiação térmica, umidade e velocidade do ar. Também são importantes os
fatores pessoais, como, tipo de atividade física e tipo de vestimenta.
Uma pessoa se encontra confortada termicamente, quando todo o calor produzido, ou
ganho pelo corpo humano, for igual à quantidade de calor perdido ao meio exterior, pelo
mesmo corpo e na mesma proporção, afim de o corpo manter um balanço de energia. As
sensações de conforto variam de pessoa para pessoa, portanto, pois cada pessoa reage de
maneira diferente em relação ao estado do tempo e do clima.
A ASHRA (Sociedade Americana de Saúde, Engenharia de Refrigeração e Ar
Condicionado), órgão referência quando se trata de condições para conforto térmico,
estipulou padrões nacionais para a ocupação humana em ambientes indoor. Tal padrão,
denominado padrão 55, descreve baseado em experimentos zonas de neutralidade térmica. A
proposta é especificar uma combinação entre um ambiente indoor e fatores pessoais, que
possam produzir condições termicamente aceitáveis (conforto térmico), para pelo menos 80%
dos ocupantes de um determinado lugar, (ASHRAE, 1992). Essas condições destinam-se a
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pessoas saudáveis, desde a superfície até uma altitude de 3000 metros para ocupação humana
em ambientes indoor e períodos de permanência maiores que 15 minutos. Ainda, segundo a
ASHRAE, a definição de conforto térmico seria “a condição da mente que expressa satisfação
com o ambiente externo”, porém, tal condição, não é precisa e é variável de indivíduo para
indivíduo, conforme a idade, gênero, tipo de vestimenta, e ainda de acordo com a temperatura,
umidade e velocidade do vento. Por exemplo, as crianças podem sofrer mais, devido ao seu
pequeno volume e grande área superficial, perdendo muito calor para o ambiente e tendo um
sistema termorregulador ainda deficiente.
Tais complexidades e incertezas quanto à definição, podem ser ilustradas através do
seguinte exemplo: Em um dia de inverno, frio e ensolarado, uma pessoa normalmente vestida
pode descansar em uma casa com calefação e ao mesmo tempo, uma outra pessoa com uma
roupa mais leve pode sentir-se confortável praticando esporte em um ambiente externo.
Levando-se em conta as variáveis físicas e as características da habitação, o grau do
conforto térmico “indoor” pode ser estimado, através de medidas internas de variáveis como
temperatura e umidade do ar, que aliadas ao vento são as mais representativas e as que têm
maior influência comportamental, fisiológica e biológica no corpo humano, alterando seu
comportamento diário. Essas variáveis associadas ao desenvolvimento de fórmulas empíricas,
representadas através de índices biometeorológicos, podem expressar numericamente o grau
de satisfação ou insatisfação térmica de determinado ambiente.
VIAMONT (1996) verificou a qualidade do conforto térmico de habitações populares
em um assentamento em Cochabamba, Bolívia, um típico pais do 3º mundo. O efeito da
temperatura externa foi estudado nas casas para determinar parâmetros ótimos de conforto e
padrões de construção, visando reduzir o desconforto provocado por altas e baixas
temperaturas. Constatou que o conforto térmico pode ser melhorado se mudadas algumas
características da habitação, dentre as quais: teto com baixa condutibilidade térmica; maior
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ventilação no verão e controle da infiltração durante o inverno; uso de cores claras nas
paredes, ocasionando alta reflexão durante o verão.
PAPST e LAMBERTS (2001) analisaram a performance térmica de residências na
cidade de Florianópolis, Sul do Brasil. Observaram três diferentes residências e monitoraram
suas temperaturas internas diárias entre os meses de Abril de 1998 e Maio de 1999.
Compararam o comportamento dessas temperaturas e o correlacionaram com as médias
externas diárias. Os resultados mostraram que o uso do ambiente pelos ocupantes, as
características das residências e as condições de tempo externas foram fatores determinantes
para a análise desempenho térmico das habitações.
A influência do uso dos ocupantes na performance térmica em edifícios de escritórios,
naturalmente ventilados foi estudada em Oxford e Aberdeen, UK, (GIVONI, 1992). Nos
escritórios onde os ocupantes têm controle do ambiente (janelas abertas, venezianas, cortinas,
etc.), notou-se que eles desempenharam um importante papel na modificação das condições
térmicas internas. Assim, conforme Givoni, embora os edifícios residenciais e de escritório
apresentarem diferentes usos, ocupações e ganhos internos, a maneira de uso pelos seus
ocupantes, em edificações ventiladas naturalmente, podem modificar sua performance térmica
para alcançar o conforto térmico.
GIVONI (1999) monitorando pequenas residências (não condicionadas) na cidade de
Pala, Sudeste da Califórnia, EUA, para o 1º mundo, desenvolveu fórmulas simples utilizando
uma quantidade mínima de informações climáticas externas, para estimar a temperatura
interna de seus ambientes. A temperatura máxima interna, por exemplo, poderia ser prevista
somente tomando como base a temperatura média externa, quando essas residências eram
resfriadas pela ventilação noturna e eram fechadas durante o dia. Mais tarde, VECCHIA e
GIVONI (2001) descrevem uma metodologia para estimativa de temperaturas máxima, média
e mínima internas diárias, em residências na cidade de Descalvado, Brasil. As fórmulas
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utilizadas foram desenvolvidas com base em dados coletados em setembro de 2001 e
validadas através de uma comparação com dados coletados nos meses de novembro e
dezembro. Encontraram que as temperaturas internas máxima, média e mínima, podem ser
estimadas com base na temperatura média externa diária. Concluíram ainda que a previsão
das temperaturas internas, máxima e mínima, pode ser levemente melhorada, incorporando à
fórmula, a média diária da radiação solar e o balanço diurno de temperatura, respectivamente.
Em outro estudo envolvendo a performance térmica de edificações ocupadas, KRÜGER
& GIVONI (2003), analisaram três residências populares, de tipos construtivos diferentes na
cidade de Curitiba, PR, sem qualquer tipo de condicionamento interno. Monitoraram então as
casas em períodos (vários dias) de inverno e verão e os valores diários observados nas três
residências foram comparados com os valores obtidos através da aplicação de fórmulas
estimativas da temperatura interna (mínima e máxima) e os valores simulados pelo software
(COMFIE). Os resultados mostraram que para as três residências, a mais alta correlação entre
os valores de temperatura observados e calculados foi com a temperatura interna mínima, com
média de R2 = 0,9894. A menor correlação foi verificada com a temperatura interna máxima,
com média R2= 0,9588. Ainda conforme os autores, “se existirem dados experimentais
representativos das condições internas e externas, medidos durante várias semanas, será
possível estimar a performance térmica de uma edificação (residência) particular, para
qualquer tipo de clima”.
A fim de se analisar o conforto térmico humano ao longo do ano de 1989 na cidade de
São Paulo, e avaliar a influência de um ou mais fatores sobre o ser humano (número de
internações hospitalares diárias por doenças respiratórias e poluição atmosférica), MAIA
(2002) utilizou cinco índices biometeorológicos, experimentados para uma determinada
amostra de uma população. Os resultados obtidos mostraram que as internações médias
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hospitalares estavam associadas aos parâmetros meteorológicos, níveis de poluição, bem
como aos índices de conforto térmico.
BRAUN, 2002, analisou o conforto térmico humano na cidade de São Paulo durante o
período de 1996 a 2000 e também verificou o efeito dos índices biometeorológicos, das
variáveis meteorológicas e dos níveis de poluição atmosférica por doenças cardiovasculares
em pessoas com mais de 65 anos. Os resultados apresentaram o período do verão como o de
maior influência para a condição de estresse em função do calor e que as condições térmicas
relacionadas ao frio foram responsáveis por 45% dos óbitos de São Paulo, enquanto que, as
relacionados ao calor foram responsáveis por 24% das mortes.
1.3 O Tempo e as Doenças Respiratórias
Desde as últimas décadas vários autores têm evidenciado a preocupação com o
aumento cada vez maior dos problemas relacionados à saúde humana ocasionados pelo clima,
tais como as transmitidas por vetores (malaria, febre-amarela, dengue, por exemplo.), doenças
cardiovasculares, reumatismo, diabetes, alergias entre outras. Entre estas, destacam-se as
doenças respiratórias. Tendo-se em vista estas doenças, um grande contribuinte e marcador
deste diagnóstico são as IRA’s - Infecções Respiratórias Agudas. As taxas elevadas de
morbidade (internações hospitalares) observadas no Brasil têm evidenciado a necessidade de
estudá-las, especialmente em crianças menores de cinco anos, onde os problemas são
comprovadamente maiores. Segundo COELHO (2007), no Brasil, as internações por doenças
respiratórias são responsáveis por quase 30% do total anual de internações (figura 1).
Pesquisadores afirmam que a incidência de IRA é semelhante no mundo inteiro, seja em
países desenvolvidos, ou em desenvolvimento. No entanto, o que existe são diferenças na
tendência a maior ou menor freqüências e na gravidade das infecções das vias aéreas
15
inferiores (IVAI), em especial as pneumonias. Isso acarreta um número bem maior nas taxas
de mortalidade nos países em desenvolvimento (DENNY & LODA, 1986).
Figura 1 – Distribuição do número de internações por doenças respiratórias (RESP) e não respiratórias na cidade de São Paulo (NRESP).
As doenças respiratórias, especialmente na infância representam um grande problema
de saúde pública. As causas dessas doenças podem ser infecciosas (por vírus e bactérias),
como gripes e pneumonias, ou não infecciosas como asma e bronquite, CARDOSO (2007).
Algumas crianças apresentam chiado no peito como manifestação dessas doenças
respiratórias, às vezes acompanhado de cansaço ou dificuldade respiratória. Cardoso também
comenta que o chiado é um tipo de manifestação mais comum em filhos de mães com asma
ou história de alergia (rinite alérgica, por exemplo).
Dentre os diversos fatores determinantes para o aumento do número de doenças
respiratórias (casos de morbidade hospitalar) e da gravidade destas internações, os fatores
ambientais desempenham um papel de extrema importância. Mudanças climáticas e bruscas
de tempo, por exemplo, auxiliam para deteriorar a qualidade do ar respirado, sobretudo
quando o local se encontra sob influência de uma massa de ar frio e seco, o que dificulta a
dispersão dos poluentes na atmosfera.
16
SALDIVA et al. (1994), estudaram a relação entre mortalidade por doenças
respiratórias em crianças na região da cidade de São Paulo e sua relação com a umidade do ar,
temperatura e os poluentes SO2, PM10, CO, O3 e NOx. Foi encontrada uma associação
significativa entre a taxa de mortalidade por doenças respiratórias e os níveis de NOx. Em um
estudo posterior, para a mesma região, LIN et al (1999), relacionando as doenças respiratórias
em crianças e os poluentes atmosféricos, mostraram que houve aumento de cerca de 20% no
atendimento emergencial por doenças respiratórias.
Considerando a hospitalização como um indicador de gravidade da Infecção
Respiratória Aguda (IRA), BOTELHO et al (2003) estudaram a possível associação de alguns
fatores ambientais, com a necessidade de tratamento hospitalar em crianças com diagnóstico
de IRA, em Cuiabá, MT. Foram analisados prontuários de atendimento do Pronto Socorro
Municipal (PSM), de crianças menores de cinco anos, de ambos os sexos, para dois períodos
climáticos da região: seco (maio a outubro) e chuvoso (novembro a abril). As variáveis:
temperatura do ar, umidade relativa do ar e focos de queimada foram selecionadas. Os
resultados permitiram concluir que a prevalência de da IRA em crianças menores de cinco
anos atendidas no PSM é alta e sua gravidade está associada ao período seco do ano. Da
mesma forma, a baixa umidade relativa do ar está associada à maior necessidade de
tratamento hospitalar nas crianças estudadas.
SOBRAL (1988) estudou as doenças respiratórias em crianças entre 12 e 13 anos em 3
(três) diferentes áreas da Grande São Paulo: Juquitiba, semi-rural; Tatuapé, no centro de São
Paulo, e Osasco, cidade industrial, na Região Metropolitana (RMSP). A investigação foi feita
nos meses de setembro, outubro e novembro, de modo a evitar os meses de inverno. Dos 34
sinais e sintomas pesquisados, a autora encontrou um gradiente nas taxas de prevalência que
acompanhava o gradiente de poluição das três áreas. Tatuapé, a área mais poluída, apresentou
as maiores taxas de prevalência em 26 dos 34 sintomas analisados. Juquitiba evidenciou a
17
maior taxa para apenas três, dos 34 sintomas. A região de Osasco ficou com níveis
intermediários de prevalência. Considerando na análise, as condições sócio-econômicas da
família, mostrou-se que há uma maior proporção de famílias mais pobres (aferida pelo
analfabetismo dos pais e pelo número de pessoas por cômodos) na região de Juquitiba. Porém,
ao controlar a influência dos fatores sócio-econômicos, viu-se que mesmo assim a influência
dos níveis de poluição permanecia significativa. MARTINS (2002), considerando os fatores
sócios econômicos na população, avaliou o efeito do material particulado (PM10) sobre a
mortalidade de idosos por causas respiratórias, entre os anos 1997 e 2000. Analisou seis
diferentes regiões da cidade de São Paulo, considerando dois indicadores socioeconômicos:
porcentagem de pessoas com curso superior completo e porcentagem de famílias com renda
mensal superior a R$ 3.600,00. Encontrou uma correlação negativa e estatisticamente
significativa dos efeitos do PM10, tanto com a porcentagem de pessoas com curso superior,
como com a porcentagem de famílias com renda superior a R$ 3600,00. Segundo a autora, as
condições socioeconômicas têm um efeito modificador na associação entre poluição do ar e
mortalidade, ao mostrar que baixa renda e baixa escolaridade aumentam o efeito do PM10
sobre a mortalidade por causas respiratórias. “isso reforça a idéia de que a pobreza e
representa um importante fator de risco ao se determinar padrões de qualidade do ar”.
Como já mencionado anteriormente, além do efeito da poluição do ar, os fatores
ambientais também exercem uma grande importância quando se reporta aos danos à saúde dos
seres humanos. SOBRAL (2005), em outro estudo analisou, para os anos 1993 e 1994, os
efeitos provocados à saúde pela presença da ilha de calor em São Paulo. A autora mapeou a
distribuição da ilha de calor de São Paulo e comparou três áreas da cidade: distrito de Santana
e distrito de Jabaquara (localizados nos limites Norte e Sul da cidade onde há áreas abertas
com vegetação e o efeito da ilha de calor é menor), e distrito Sé/Brás, localizado na área
central da cidade. Dados de morbidade e mortalidade foram coletados para avaliar o papel da
18
temperatura do ar observada em excesso. Os dados de temperatura (máxima e mínima) foram
obtidos de três estações meteorológicas localizadas nesses distritos e os dados hospitalares
foram fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi encontrada uma correlação entre a
intensidade da ilha de calor e a taxa anual de mortalidade associada com doenças respiratórias
e cardiovasculares; isto é, existe um maior risco de mortes por estas doenças nas áreas onde a
intensidade da ilha de calor é maior. A taxa anual de morte por estas causas nas áreas do
centro da cidade (os Distritos da Sé/Brás) foi significativamente maior que em outros dois
distritos estudados (Santana e Jabaquara). Na média, a área central da cidade (distritos
Sé/Brás) tinha 30 mortes/10.000 habitantes; Santana, 24 mortes/ 10.000 habitantes; Jabaquara,
21 mortes/10.000 habitantes. Por fim, a pesquisadora a conclui: “apesar da evidência da
presença da ilha de calor influenciar a mortalidade e a admissão hospitalar, não há um padrão
de aumento de temperatura específico que poderia ser considerado como a principal causa dos
riscos á saúde”.
Segundo TROMP (1980), o tempo e o clima podem influenciar a ocorrência de
episódios respiratórios no ser humano, e que a maioria de suas doenças pode ser ativada,
estimulada ou mesmo causada pelos fatores meteorológicos. DEAL et al, (2004) comenta que
essa influência pode ser através de efeitos diretos e indiretos. Entre as influências diretas estão
as rápidas flutuações meteorológicas, tais como períodos repentinos de frio na estação do
outono, os quais parecem estar associados com a diminuição da função pulmonar nos
asmáticos. Os efeitos indiretos estariam associados às respostas comportamentais dos
asmáticos como, por exemplo, o primeiro uso durante ano do sistema de aquecimento interno,
que poderia estar relacionado ao transporte de partículas de poeira, acumuladas no sistema
desde o ano anterior. Em um estudo que incluía uma identificação subjetiva de eventos
climáticos GOLDSTEIN et al (1983), encontraram que em quase a totalidade das epidemias
19
de asma nas cidades de Nova Orleans e Nova York eram precedidas pela passagem de uma
frente fria, seguida por um sistema de alta pressão atmosférica.
Muitos estudos evidenciam que certas massas de ar podem ser fundamentais e
responsáveis por aumentos significantes nas admissões hospitalares por doenças respiratórias,
como por exemplo, asma. O impacto varia sazonalmente, com as condições climáticas tendo
uma particular importância nas admissões principalmente durante as estações de outono e
inverno. JAMASON et al (1997), relacionaram as condições sinóticas às admissões
hospitalares por asma na cidade de Nova York. Observaram que as condições climáticas têm
uma particular importância em duas estações: verão e outono. Segundo os autores, a poluição
atmosférica parece ter pouco impacto nas internações por asma durante esses meses. Segundo
o autor “ massas de ar associadas às altas admissões estão relacionadas a baixas concentrações
de poluentes e, parece que nessas estações, as concentrações de poluentes têm pouco impacto
nas admissões por asma”. Porém, durante a primavera e o verão as massas de ar associadas
com as mais altas morbidades por asma, estão entre aquelas que propiciam as maiores
concentrações de poluentes.
KASSOMENOS et al (2007), estudaram os efeitos a curto prazo das massas de ar
sobre Atenas, Grécia. Classificaram os tipos de massa de ar e comparam com dados de
mortalidade. Observaram que altos índices de mortalidade diária foram caracterizados, no
verão (e inverno), por massas de ar com alta umidade, associadas com fortes ventos de
sudoeste (sudeste). Os efeitos foram observados no mesmo dia, durante o inverno e no
próximo dia durante o verão.
RUISTICUCCI et al (2001), estudaram para a cidade de Buenos Aires, Argentina, a
relação entre condições de tempo e a entrada de pacientes em salas de emergência hospitalar,
durante o verão e inverno. Seus resultados mostraram que, durante o inverno houve um
aumento de 16,7% nas visitas à emergência por vários tipos de complicações (respiratória,
20
cardiovascular e dor no peito, neurológica e psicopatológica, infecções, entre outras...), ao
passo que no verão, houve um maior aumento nas complicações digestivas, de pele e
alérgicas. Maior admissão por problemas respiratórios foi observada um dia após o pico da
temperatura do ponto de orvalho. Durante o inverno, aumento na temperatura e temperatura
do ponto de orvalho e diminuição da pressão atmosférica estavam associados a problemas a
problemas digestivos e abdominais.
Portanto, as doenças respiratórias são susceptíveis a uma grande gama de variáveis
ambientais, desde meteorológicas de grande escala até variáveis do ambiente próximo ao
indivíduo. Existem também aquelas variáveis inerentes ao próprio indivíduo em questão.
O objetivo deste estudo é analisar a relação entre os parâmetros meteorológicos, e os
problemas respiratórios de chiado em crianças recém nascidas na cidade de São Paulo. É feita
uma associação com as características construtivas dos domicílios, dentro do âmbito do
Projeto Chiado (apresentado no item 3.1.3). Em outras palavras, quais seriam as condições
meteorológicas favoráveis para o surgimento de tais complicações nas crianças e qual é o
papel desempenhado pelas residências.
1.4 Objetivos
Este estudo teve os seguintes objetivos:
� Verificar a associação entre os problemas de chiado respiratório nas crianças e os
diferentes tipos construtivos de residências;
� Avaliar o conforto térmico humano no interior dos domicílios, através da aplicação
do índice de conforto TE (temperatura efetiva); bem como, testar (validar) a
performance do programa de simulação térmica de residências Arquitrop;
� Avaliar a variabilidade mensal e inter-anual destes índices de conforto térmico;
21
� Analisar a relação existente entre os parâmetros meteorológicos e os índices de
conforto aos problemas respiratórios de chiado em crianças recém nascidas, no
município de São Paulo, no período janeiro de 2003 a julho de 2006.
22
CAPÍTULO 2
2 DADOS E MÉTODOS
2.1 Dados
O conjunto de dados utilizados no presente estudo divide-se em três grupos: variáveis
meteorológicas internas (indoor), coletadas nas residências amostradas e externas (outdoor),
pela Estação Meteorológica (EM) do IAG-USP e, dados de morbidade respiratória, durante o
período Janeiro de 2003 a Julho de 2006, na cidade de São Paulo.
2.1.1 Dados Externos (Outdoor)
Foram analisadas as seguintes variáveis meteorológicas de superfície, externas às
residências, na cidade de São Paulo, no período de janeiro de 2003 a julho de 2006:
temperatura do ar (oC) (mínima e máxima diárias), pressão atmosférica (hPa) (média diária),
umidade relativa (%) (mínima e média diárias), velocidade (m/s) e direção (o) do vento,
obtidas a partir da estação meteorológica do Instituto de Astronomia e Geofísica e Ciências
Atmosféricas, da Universidade de São Paulo (IAG-USP), localizado no Parque do Estadual
das Fontes do Ipiranga, bairro da Água Funda, zona sul da capital. Tal estação encontra-se
registrada na Organização Mundial de Meteorologia sob o número 83004 e está localizada na
latitude 23o39’S e longitude 46o37’W, operando desde 22 de novembro de 1932 (mais de 70
anos), com medidas horárias de todos os elementos meteorológicos de superfície, possuindo,
dessa forma, uma das mais longas séries de dados do país. As técnicas adotadas atualmente
com relação a algumas variáveis utilizadas nesse estudo, são descritas a seguir:
23
Temperatura do ar (T em graus Celsius)
A temperatura é resultado do balanço de energia entre a superfície da terra e a
atmosfera. Observações horárias são realizadas entre 07 e 24 horas, através da leitura de um
termômetro de mercúrio, que constitui o bulbo seco de um psicômetro de aspiração tipo
Assmann com motor elétrico (Fuess, modelo 32e, No D-3727). Valores de temperaturas
horárias entre 1hora e 6 horas são obtidos a partir de um termógrafo de anel bimetálico
(Fuess, modelo 79, No F-2243), com rotação diária e os valores extremos de temperatura do
ar, são obtidos através de observações em um termômetro de máxima, com capilar de
mercúrio, e de um termômetro de mínima, com capilar de álcool. Esses instrumentos
encontram-se instalados no abrigo meteorológico, dentro do cercado meteorológico da
estação. Essa variável é utilizada no cálculo dos índices de conforto térmico (item 4.2) e nas
simulações do desempenho térmico das residências (item 4.3), bem como, na posterior análise
das condições atmosféricas dominantes em SP durante os episódios de chiado das crianças.
Pressão Atmosférica (P em hPa)
Observação da pressão atmosférica (à altitude de 799,2 metros) horárias, entre 7 e 24
horas, são obtidas através de um barômetro de mercúrio de cuba fixa, tipo Kew (Fuess,
modelo 11a, No 1010), instalado numa das salas do terraço da estação meteorológica. Os
registros de pressão atmosférica são disponíveis a partir de um microbarógrafo dotado de 15
cápsulas aneróides (Fuess, modelo 78m, No C-2843), com rotação diária, que permitem a
estimativa dos valores horários de pressão entre 1hora e 6horas. Consideram-se nesse estudo
os valores diários de pressão atmosférica, na análise das condições sinóticas sobre São Paulo,
durante os dias das crises de chiado.
24
Umidade Relativa do ar (UR em %)
Avaliações horárias das variáveis relacionadas com a presença de vapor d’água são
obtidas entre 7 horas e 24 horas, através das leituras dos termômetros de bulbo seco (T) e
bulbo úmido (Td), contidos no psicrômetro de aspiração tipo Assmann com motor elétrico
(Fuess, modelo 32e, No D-3727). Entre 1 hora e 6 horas um higrógrafo (Fuess, modelo 77g,
No 2243), com rotação diária, registra a umidade do ar. Ambos instrumentos encontram-se
dentro do abrigo meteorológico. Para o cálculo da umidade relativa horária, utilizam-se além
dos valores do termômetro de bulbo seco e de bulbo úmido, os valores de pressão atmosférica,
que são necessários para fornecer uma melhor precisão de UR. São consideradas nesse estudo,
as umidades relativas diárias mínimas, médias e máximas, nos cálculos do índice de conforto
térmico e na análise das condições sinóticas sobre SP durante os eventos de chiado.
Vento (v em m/s e graus de direção)
Obtida através de um anemógrafo tipo universal (Fuess, modelo 82b, No A-9506),
instalado na torre da estação meteorológica. Fornece a cada hora, entre 7 horas e 24 horas, a
velocidade instantânea e a direção correspondente do vento, e entre cada intervalo de hora, a
direção e a velocidade média (km/h). A direção é obtida através de um cata-vento de canecas.
Será considerado nesse estudo o vento médio diário, em metros por segundo (m/s), como
dado de entrada para a simulação do desempenho térmico interno de residências, da cidade de
São Paulo.
Nebulosidade (N)
A identificação de gênero (tipo) e a avaliação da quantidade (em décimos do céu
coberto) de nuvens baixas, médias ou altas, são efetuadas nos quatro quadrantes (Norte, Sul,
25
Leste, Oeste) através do reconhecimento dos padrões visuais, pelo técnico. Tais observações
são feitas no terraço da estação a cada hora, entre as 7h e 24h.
Precipitação (P em mm)
A variável precipitação é medida e registrada através de um pluviógrafo tipo
Hellmann de rotação diária, instalado dentro do cercado meteorológico da estação. Fornece os
totais e a duração horária da precipitação. Outras informações, destas e outras variáveis
meteorológicas, podem ser obtidas no boletim anual de observações de superfícies efetuadas
na estação meteorológica. Serão consideradas neste trabalho, as precipitações totais diárias.
2.1.2 Dados Internos (Indoor)
Variáveis meteorológicas como temperatura do ar (T) e umidade relativa do ar (UR)
foram observadas (medidas) no interior de 376 residências da cidade de São Paulo, dentro do
âmbito do Projeto Chiado (citado em 3.1.3) – as quais, dispõem de crianças com (e sem)
problemas respiratórios de chiado no peito - no período de janeiro de 2003 a julho de 2006.
Campanhas experimentais foram realizadas nas residências, localizadas nas zonas Norte,
Oeste, Centro e da cidade, na sua maioria, figura 2.
26
Figura 2 - Distribuição das residências medidas na cidade de São Paulo.
Foram utilizados para realizar tais medidas, vinte termohigrógrafos analógicos (marca
Oaktom, modelo 08369-70), instalados no dormitório da criança (em muitos casos era o
mesmo da mãe da criança), em cima do guarda-roupa (distante 50 cm do teto), registrando
durante sete dias contínuos (em geral) o comportamento das variáveis T (oC) e UR (%), de
forma que um dia medido representasse 24 horas de medidas (figura 2). Os valores eram
registrados em papel gráficos com uma escala com divisão de 2oC para a temperatura e 5%
para a umidade. Os erros para os valores de temperatura são de ±2 oC e para a umidade
relativa ±5% (especificações do fabricante). Antes de serem levado a campo, para as referidas
27
medições, os instrumentos foram aferidos na estação meteorológica do IAG-USP. A figura 3
ilustra a localização do termohigrógrafo no quarto da criança.
Figura 3 – Termohigrógrafos instalados nos dormitórios das crianças e suas respectivas medidas de temperaturas (linha vermelha) e umidades relativas (linha azul).
Um total de 530 períodos foi medido em 376 residências do município, contabilizando
3212 dias com medidas de temperatura e umidade internas. O critério de inclusão das
variáveis no banco de dados foi a presença de 75% de consecutibilidade entre os valores, ou
28
seja, as medidas de T e UR que não apresentassem 75% de continuidade nos valores foram
excluídas (figura 4).
Figura 4 - Exemplo dos valores de umidade relativa (linha azul) que foram excluídas do banco de dados interno. Critério de 75% de consecutibilidade.
Para uma melhor visualização e posterior comparação com o conforto térmico humano,
agrupou-se as medidas de T e UR, de acordo com as estações climáticas outono, inverno,
primavera e verão, dos anos 2003 a 2006. As figuras 5 e 6 apresentam o número de medidas
(período medidos) e seus respectivos dias medidos nas residências, ao longo do período. O
objetivo inicial era dispor de mesmo número de medidas em cada residência, em cada estação
do ano, a fim de acompanhar o seu comportamento em cada período, verificando a adequação
climática e as respostas comportamentais das residências, frente a situações extremas de frio e
calor, por exemplo. Assim, existem residências em que se registraram um maior número de
medidas (mais de um período de medidas) e outras em que somente um intervalo de T e UR
medidas foi observado internamente.
29
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550
2003
2004
2005
2006
Total
Ano
.
Medidas
Outono Inverno Primavera Verão Total
Figura 5 - Número de medidas de T(oC) e UR(%) realizadas nas residências em São Paulo: janeiro de 2003 a julho 2006.
0 300 600 900 1200 1500 1800 2100 2400 2700 3000 3300
2003
2004
2005
2006
Total
Ano
.
Dias
Outono Inverno Primavera Verão Total
Figura 6 - Número de dias com T(oC) e UR(%) medidos nas residências em São Paulo: janeiro de 2003 a julho 2006.
2.1.3 As Doenças Respiratórias: “Projeto Chiado”
Os dados relativos aos problemas respiratórios utilizados no presente estudo fazem
parte do projeto: “Poluição ambiental urbana e outros fatores relacionados à ocorrência dec
na Infância: Um Estudo de Coorte na cidade de São Paulo: Projeto Chiado”, realizado pela
Faculdades de Saúde Pública (FSP-USP) em colaboração com o Instituto da Criança do
30
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM-USP) e Instituto de Astronomia e
Ciências Atmosféricas (IAG-USP) da Universidade de São Paulo (USP). Tal projeto estuda a
influência da poluição atmosférica gerada pelo tráfego de veículos e sua interação com a
exposição a condições meteorológicas e intradomiciliares adversas, no desenvolvimento de
doenças sibilantes, alergia e sensibilização atópica, em crianças com história familiar de asma,
residentes no município de São Paulo.
A seguir é apresentada uma breve resenha do projeto:
O Projeto Chiado é uma corte prospectiva constituída de recém-nascidos, filhos de mães
com história de asma ou alergia. Os recém-nascidos foram recrutados por entrevistadores em
maternidades públicas de São Paulo que, após confirmarem a área de residência e explicarem
os propósitos do estudo, solicitaram o consentimento informado das mães para inclusão de
suas crianças na pesquisa.
Para participarem do estudo os critérios de inclusão foram: crianças saudáveis, sem
complicações ou infecções no período perinatal; mães com história atual ou pregressa de
asma; residência no município de São Paulo; bem como, mães, pais ou irmãos sem história
atual ou pregressa de asma.
As crianças eram acompanhadas regularmente por médicos pediatras para o
monitoramento de sua saúde, com consultas mensais até os 6 meses de idade, consultas
bimestrais até 1 ano de idade e consultas trimestrais até os 2 anos de idade. Além das
consultas regulares agendadas, todas as crianças que apresentassem episódios de doenças
respiratórias do trato inferior com chiado, durante o seguimento, eram examinadas por um
médico pediatra.
Todas as mães que aceitassem participar desse estudo receberam um caderno de
acompanhamento da saúde da criança. Nesse caderno eram agendados as consultas e exames
(“lembrete” para a mãe), bem como, com a finalidade de registrar outras intercorrências de
31
saúde que a criança possa ter apresentado em finais de semana, feriados, ou quando procurou
outro serviço médico por qualquer motivo. As mães eram orientadas a arquivar tudo que fosse
relacionado à saúde da criança. Visitas domiciliárias periódicas, para aplicação de
questionários e coleta de amostras para avaliação do ambiente foram realizadas.
As características da construção das casas das crianças eram registradas em formulário
especifico, o qual incluía a planta baixa com medidas da área de piso, pé direito e área das
janelas. Da mesma forma, medidas relativas à iluminação natural, orientação solar e umidade
das paredes e piso, também foram coletadas. Em 10% desses domicílios realizaram-se
amostragens de ar para quantificar os fungos. Além disso, informações sobre vários possíveis
fatores de confusão, tais como: história familiar de asma e atopia, condição sócio-econômica,
imunização, aleitamento materno, abastecimento de água, saneamento básico, aglomeração no
domicilio, freqüência à creche e tabagismo na família foram coletados, por meio de
questionários, para todas as crianças participantes do projeto. Informações referentes ao
número de crianças estudadas nesta tese, bem como, as informações citadas acima, se
encontram no ANEXO A – Caracterização das residências.
2.2 Método
2.2.1 Tratamento dos dados
As informações sobre os problemas respiratórios (chiado) das crianças foram obtidas a
partir da “análise” de questionários médicos, aplicados durante as suas consultas hospitalares
(Projeto Chiado, item 2.1.3). Com estes questionários foi possível obter as datas das
consultas, o diagnóstico apresentado pelo médico (de acordo com informações da mãe da
criança), bem como, o possível dia de início da crise de chiado apresentada pela criança
(relatado pela mãe). De posse dessas informações, verificaram-se as condições sinóticas
32
dominantes sobre a cidade de São Paulo (ver item 4.5), bem como, as variáveis
meteorológicas internas (T e UR) e externas aos domicílios (T, UR, v, p, N, P; item 2.1.1),
durante os episódios de chiado.
Devido à grande variabilidade de combinações de materiais construtivos encontrados
nas edificações da cidade de São Paulo, sobretudo, em áreas com populações de mais baixa
renda (destacada por CARDOSO, 2007), questões relacionadas às condições de temperatura e
umidade relativa intradomiciliares e suas respectivas condições internas de conforto térmico,
também foram objeto desse estudo.
Os tipos de construção das residências foram classificados em 12 grupos de acordo com
o material utilizado na cobertura, forro e paredes (CARDOSO, 2007). Tal classificação é
apresentada pela tabela 1 e o respectivo número de residências que o compreendem,
observado através da tabela 2.
Tabela 1. Classificação das construções pelo tipo de cobertura, forro e paredes.
Tipo de cobertura e forro Tipo de parede Grupo
fibrocimento sem forro madeira 1 bloco de concreto ou tijolo furado 2 tijolo de barro queimado (maciço) 3 telha de cerâmica sem forro ou madeira 4 fibrocimento + forro de madeira bloco de concreto ou tijolo furado 5 tijolo de barro queimado (maciço) 6 Laje de concreto sem forro bloco de concreto ou tijolo furado 7 tijolo de barro queimado (maciço) 8 telha de cerâmica + forro de madeira ou bloco de concreto ou tijolo furado 9 fibrocimento + forro de concreto tijolo de barro queimado 10 telha de cerâmica + forro de laje de concreto
bloco de concreto 11
tijolo de barro queimado 12
33
Tabela 2 – Freqüência de dias em cada grupo construtivo
Grupo Construtivo Frequência Percentagem (%)
1 3 0,8 2 34 9,04 3 3 0,8 4 0 0 5 12 3,19 6 13 3,46 7 83 22,07 8 9 2,39 9 67 17,82
10 8 2,13 11 89 23,67 12 55 14,63
Total 376 100%
2.2.2 O Conforto Térmico Humano (CTH)
Segundo RORIZ (1996), o conforto térmico pode ser conceituado envolvendo
aspectos psicológicos e fisiológicos. No aspecto fisiológico, um ambiente é considerado
confortável quando o mesmo oferece condições térmicas que permitam a manutenção da
temperatura interna do corpo humano, sem que sejam acionados os mecanismos termo-
reguladores do organismo. Já os aspectos psicológicos são mais complexos, pois consideram
as sensações de frio ou calor das pessoas. Um exemplo disso é a definição de conforto
estipulada pela ASHRAE (American Society of Heating Refrigerating and Air-Conditioning
Enginners), norma 55/1994: conforto térmico como “a condição da mente que expressa
satisfação com o ambiente externo”.
Tanto os aspectos psicológicos quanto os fisiológicos são influenciados por dois
grupos de fatores principais: fatores individuais e fatores ambientais. Compreendem os fatores
individuais (o nível de atividade física – metabolismo -, resistência das vestimentas,
aclimatação, idade, sexo, entre outros). Os fatores do ambiente que afetam o conforto térmico
são a temperatura do ar, umidade do ar, velocidade do vento e temperatura média radiante.
34
GIVONI (1991), refere que o conforto térmico humano e sua resposta fisiológica ao
estresse térmico dependem da produção de calor metabólico, do nível de fatores ambientais
(velocidade do vento, umidade relativa, temperatura do ar, entre outros) e do tipo de
vestimenta do indivíduo. O efeito conjunto destes é que irá definir o grau de conforto ou
desconforto térmico sentido pelas pessoas.
Estudos sobre o conforto térmico tradicionais e convencionais podem ser subdivididos
em dois diferentes grupos: os estudos realizados em câmaras climatizadas sob condições
controladas (FANGER, 1972), e aqueles realizados através de pesquisas de campo, sem a
intervenção sobre as condições do ambiente (HUMPREYS, 1975). O primeiro tipo analisa o
CTH baseado em modelos físicos de troca de calor entre o homem e o meio e o segundo pela
verificação dos fatores ambientais, principalmente temperatura, para a qual as pessoas
sentem-se confortáveis, levando em conta suas oportunidades de adaptação, (XAVIER, 2000).
No Brasil vários estudos têm sido realizados nos últimos anos, especialmente para a
cidade de São Paulo, avaliando as relações meteorotrópicas sobre o conforto térmico - efeito
causado por um ou mais fatores ambientais sobre um individuo, ou grupo de indivíduos,
(CONDE, 2001; MAIA, 2002; BRAUN, 2002; FUNARI 2007; GONCALVES, 2007;
MONTEIRO, 2005; COELHO 2007, entre outros).
A fim de se estimar os efeitos combinados das variáveis meteorológicas sobre os
vários estímulos fisiológicos, muitas pesquisas têm introduzido fórmulas denominadas de
“índices biometeorológicos”, os quais estimam, através de equações matemáticas, o estresse
térmico (frio ou calor) e a resposta do corpo humano em um certo ambiente. Existe na
literatura atual uma gama enorme de índices biometeorológicos que foram desenvolvidos
apenas no início do século XX, motivados em parte pelo advento do ar condicionado. A partir
de 1923 vários pesquisadores vêm aprimorando seus estudos, na tentativa de expressar
(“menos empiricamente”), da maneira mais realista possível, as condições de conforto de
35
determinado ambiente (interno e externo). Conforme MONTEIRO (2005), o crescente
interesse pelo tema vem sendo demonstrado nos dias atuais com o desenvolvimento recente
do Índice Termo-climático Universal (UTCI), pela International Society of Biometeorology –
(ISB), cuja validação dos resultados encontra-se em andamento. O mesmo autor ainda faz
uma revisão das pesquisas sobre alguns dos índices de conforto térmico, existentes na
literatura dos últimos anos. Aborda, os primeiros índices criados (envolvendo apenas as
variáveis ambientais), até os surgidos nos últimos anos (onde são inseridas também as
variáveis pessoais). Dentre as dezenas de índices existentes na literatura é citado alguns:
Temperatura Efetiva (TE), HOUGHTEN et al (1923); Temperatura Nova Efetiva (TE*),
VERNON E VARNER (1932); Temperatura Resfriada pelo Vento (WCT), SIMPLE &
PASSEL (1945); Temperatura Efetiva Resultante (TER), também chamada só de temperatura
efetiva (com períodos de exposição maior que no primeiro caso), MISSENARD (1948);
índice de Stress por Calor (HSI), BELDING & HATCH (1949); Índice de Desconforto (ID),
THOM (1959); Nova Temperatura Efetiva Padrão (SET*), GAGGE (1967); Índice Humidex
(HU), índice VME e PPI, (FANGER, 1970); MASTERTON & RICHARDSON (1979);
Índice de Desconforto (ID), modificado por GILES et al (1990); Índice de Desconforto de
Kawamura (IDK), ONO & KAWAMURA (1991); Índice de Temperatura em função do Vento
(TEv), SUPING et al (1992); Temperatura Equivalente Fisiológica (PET), HOPPE (1999),
Índice de sensação Térmica (TS), GINONI & NOGUCHI (2000); Índice Termo-Climático
Universal (UTCI), ISB (2004). Para o Brasil, os mais utilizados e que podem ser
representativos da das condições reais de São Paulo, são os Índice de Desconforto (ID),
Temperatura Efetiva (TE) e Temperatura Efetiva em função do Vento (TEv), (MAIA, 2002;
BRAUN, 2002; COELHO, 2007).
No presente estudo, para analisar o conforto térmico humano no interior de residências
da cidade de São Paulo, no período janeiro de 2003 a julho de 2006, foi utilizado o índice
36
Temperatura Efetiva (TE), indicado para ser aplicados ambientes internos. Como estamos
trabalhando com residências, sem condicionamento interno, utilizamos tal índice, proposto
por MISSENARD (1937), que é função da temperatura do ar (T) e da umidade relativa do ar
(UR), sem considerar o vento, expressado pela equação 1.
( )10100
14,0 −
−−= TUR
TTE (1)
onde T é a temperatura do ar em oC; UR é a umidade relativa em % e TE é a temperatura
efetiva em oC.
Utilizando os extremos das variáveis T e UR foi possível simular quatro diferentes
cenários diários internamente: (1) dias quentes e secos, combinando as temperaturas máximas
e umidades relativas mínimas (TE1), (2) dias quentes e úmidos (TE2), combinando as
temperaturas máximas e umidades máximas; (3) dias frios e secos (TE3), combinando as
temperaturas mínimas e umidades mínimas e (4) dias frios e úmidos que combinam as
temperaturas mínimas e umidades relativas máximas (TE4). Serão utilizadas para classificar
as condições de conforto nos ambientes internos da cidade de São Paulo, as condições
estabelecidas por FANGER (1972), já utilizadas por outros pesquisadores em estudos
anteriores (MAIA 2002; e BRAUN, 2002; FUNARI 2007). O intervalo de conforto (IC)
sugerido é a faixa entre 22°C a 25°C e é aplicado a uma pessoa sedentária, com vestimenta
leve e velocidade do vento menor que 0,1 m/s. Os diferentes graus de percepção térmica e
suas respostas fisiológicas quanto à zona de conforto proposta por Fanger são apresentadas na
tabela 3.
37
Tabela 3 - Distribuição das zonas de conforto e desconforto para diferentes graus de percepção térmica e suas respostas fisiológicas, FANGER (1972), utilizada por MAIA (2002).
oC Sensação Térmica (tipo de CT) Grau de estresse fisiológico
< 13 Muito Frio Extremo estresse ao frio
13 − 16 Frio Tiritar
16 − 19 Frio Moderado Ligeiro resfriamento do corpo
19 − 22 Ligeiramente Frio Vasoconstrição
22 − 25 Confortável Neutralidade térmica
25 − 28 Ligeiramente Quente Ligeiro suor, vasodilatacão
28 − 32 Quente Moderado Suando
31 − 34 Quente Suor em profusão
> 34 Muito Quente Falha na termorregulação, estresse por calor
2.2.3 A Simulação Térmica das Residências via modelo Arquitrop
A fim de simular o desempenho térmico de residências da cidade de São Paulo,
utilizou-se o software Arquitrop que compreende um conjunto integrado de programas
computacionais e banco de dados (RORIZ, 1996). Tal simulação fornece uma “idéia geral
inicial” do desempenho térmico de uma edificação. Esta será realizada em residências cujas
crianças apresentem problemas de chiado respiratório, com o propósito de validar o
Arquitrop, através da comparação com temperaturas observadas no ambiente interior às
residências e futuramente utilizá-lo na estimativa de períodos (épocas) favoráveis ao
aparecimento das doenças respiratórias nas crianças (de diferentes tipos construtivos de
residências).
A escolha deste software para - dentre vários outros existentes - foi motivado
pelo fato de este ser de fácil acessibilidade (via web) e de simples operação, permitindo a
entrada relativamente rápida dos dados climáticos no Banclima (Banco de dados climáticos).
O banco de dados armazena as seguintes informações climáticas (medidos através da estação
38
do IAG-USP): - latitude, longitude e altitude da localidade, temperaturas máximas diárias
absolutas, em graus centígrados; temperaturas mínimas diárias absolutas, em graus
centígrados; amplitude das temperaturas absolutas (diferenças entre máximas e mínimas), em
graus centígrados; médias das temperaturas máximas diárias, em graus centígrados; médias
das temperaturas mínimas diárias, em graus centígrados; amplitudes médias das temperaturas,
em graus centígrados; média mensal das umidades relativas, em porcentagem; média das
precipitações do mês, em milímetros; média da nebulosidade mensal, em escala de 0 a 10;
direção predominante dos ventos, em graus, a partir do Norte, no sentido horário; velocidade
predominante dos ventos, em metros por segundo. Realizou-se um artifício de substituir em
lugar das médias diárias das temperaturas máximas e mínimas, os valores máximos e
mínimos diários de temperaturas observados. Em lugar das variáveis: umidade relativa
média mensal, média mensal das precipitações e média da nebulosidade mensal, ingressou-
se com Umidade Relativa média diária, total diário de precipitação, nebulosidade média
diária .
A seguir é descrito passo a passo, todo o processo de simulação, e a metodologia
utilizada, segundo RORIZ e BASSO (1996).
2.2.3.1 Processo de Simulação
O primeiro passo para simular o desempenho térmico das edificações consistiu em
organizar e preparar o banco de dados de materiais (Banclima), para o formato de entrada no
Arquitrop, uma vez que o Bancmat1 (banco de dados dos materiais e componentes
construtivos) utilizado foi o banco que já cadastrado e inserido dentro do Arquitrop.
Posteriormente, criou-se um “projeto modelo” para a edificação (residência), segundo o
1 Engloba os dados sobre as propriedades térmicas dos materiais e componentes construtivos normalmente empregados em construção civil. Exemplo de materiais: argamassa, cerâmica, madeira, concreto. Os componentes construtivos seriam as paredes (componentes verticais) e as coberturas e pisos (compontentes horizontais), da edificação.
39
período de interesse (sete dias, em geral). Nele são inseridas, além de informações sobre as
variáveis meteorológicas externas, informações a respeito do tipo construtivo de cada
residência, suas rotinas diárias de ocupação, hábitos domiciliares, etc... (figuras 7 a 9).
Uma visão de todas as informações relevantes e que devem ser fornecidas ao software,
como dados de entrada são:
i. Número total de pavimentos da edificação;
ii. Pavimento a ser avaliado - (o térreo é considerado o pavimento 1). Em
pavimento térreo será especificado se o piso está construído diretamente sobre
o solo ou se é elevado. Se o pavimento considerado estiver diretamente sob a
cobertura o sistema solicitará a cor da face superior, através de uma escala de 1
(clara) a 5 (escura);
iii. Pé direito - distância, em metros, entre o piso e o forro;
iv. Número de fachadas, ou seja: número de paredes através das quais o ambiente
se comunica com o exterior da edificação.
v. Área de ventilação - soma de todas as áreas de aberturas para o exterior, em
metros quadrados (consideram-se apenas as áreas com efetiva possibilidade de
serem abertas ao vento, descontando os obstáculos como vidros, esquadrias,
etc.);
vi. Período de ventilação - hora em que as janelas serão abertas para a ventilação,
e o tempo em que ficarão abertas (em horas);
vii. Orientação das fachadas - ponto cardeal para o qual a fachada está voltada, em
graus e minutos, a contar do Norte e considerando o sentido horário. Por
exemplo, uma fachada voltada para Leste teria orientação 90°, Sudeste 135°,
Oeste 270°, etc;
40
viii. Área envidraçada, de cada fachada, em metros quadrados e espessura do
vidro, em metros;
ix. Proteção contra radiação solar sobre as áreas envidraçadas, incluindo o tipo, a
cor e o número de vidros;
x. Dimensões do ambiente (comprimento e largura), em metros;
xi. Cores das fachadas
xii. Número de pessoas no ambiente;
xiii. Período de ocupação - início e duração da ocupação pelas pessoas;
xiv. Calor produzido por equipamentos - intensidade total (soma das parcelas
radiante e convectiva, em watts), e período principal de funcionamento;
xv. Tipo de paredes, pisos e, quando for o caso, das coberturas;
xvi. Cidade onde a edificação será construída (se direcionará automaticamente ao
banco de dados climáticos, e armazenará a informação).
Tabela 4 – Exemplo “hipotético” de preparação do banco de dados climáticos para entrada no modelo.
>> ARQUITROP 3.0 - BANCO DE DADOS CLIMÁTICOS
FICHA: 5/SP <<
Cidade: SÃO PAULO UF: SP Lat: 23 30 Lon: 46 37 Alt: 792 MAX.
ABS. MIN. ABS.
AMP ABS.
MED. MAX.
MED. MIN.
AMP MED
UM. RL.
CHU. TOT.
NEB. MED.
DIR. VEN.
VEL. VEN.
01 JAN 34.6 10.2 24.4 27.7 17.6 10.1 80 253 7.6 150 3.6 02 FEV 35.2 11.1 24.1 27.6 17.9 9.7 83 227 7.8 150 4.6 03 MAR 32.8 11.0 21.8 26.6 17.2 9.4 77 173 7.8 150 4.6 04 ABR 31.8 6.0 25.8 24.6 14.8 9.8 80 81 7.2 150 4.1 05 MAI 31.2 5.3 25.9 22.9 12.9 10.0 82 54 7.0 150 3.6 06 JUN 27.8 1.0 26.8 21.8 11.0 10.8 89 53 6.6 60 2.6 07 JUL 29.2 0.4 28.8 21.2 10.1 11.1 79 43 6.7 150 3.6 08 AGO 33.1 -2.1 35.2 23.4 11.3 12.1 75 39 6.2 150 4.1 09 SET 34.3 2.2 32.1 24.5 12.7 11.8 69 64 7.3 100 4.6 10 OUT 35.0 4.3 30.7 24.8 14.4 10.4 75 127 8.1 150 4.1 11 NOV 34.2 7.1 27.1 25.2 15.0 10.2 75 131 7.8 150 4.6 12 DEZ 34.2 9.4 24.8 25.9 16.2 9.7 80 180 7.7 150 4.6 13 ANO 32.8 5.5 27.3 24.7 14.3 10.4 79 1425 7.3 150 4.1
41
Figura 7: Exemplo de projeto criado para a residência da 1023, no mês de janeiro de 2003 (verão), na cidade de São Paulo.
Figura 8 Exemplo de projeto criado para a residência da 1025, para o mês de julho de 2003 (inverno), na cidade de São Paulo.
42
Figura 9 – Apresentação gráfica das estimativas horárias de temperatura interna e externa.
Nota-se, portanto, o grande número de informações a respeito das edificações e de
seus ocupantes, necessários para a simulação do desempenho térmico interno das residências.
Tais informações foram obtidas nas residências, através da aplicação de questionários às mães
das crianças, e, sua estrutura construtiva, a partir de formulários específicos desenvolvidos por
engenheiros do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo (IPT).
As rotinas de simulação consideram que cada ambiente da edificação só troca calor
com o exterior, ou seja, que os ambientes vizinhos possuem as mesmas temperaturas que o
ambiente simulado (no caso do presente estudo, o dormitório da criança). Desde que um
determinado projeto arquitetônico seja cadastrado no banco, será possível simular seu
desempenho térmico para qualquer dia do ano. As figuras 7 a 8 mostram dois projetos, criados
para duas edificações diferentes, em duas épocas diferentes (verão e inverno). Com base nas
médias mensais do Banclima (no caso do presente estudo, com base nos valores diários) e nos
dados do Bancmat, o sistema simula as temperaturas horárias médias, para as 24 horas do dia
selecionado (figura 9). Como os dados de entrada no Banclima são médias mensais (tabela 4),
tal simulação para cada hora do dia, será a média mensal daquela hora. Ou seja, em qualquer
43
residência (desde que seja criado seu projeto), pode-se obter para cada mês do ano (neste
estudo, para cada dia) o seu comportamento térmico interno horário.
2.2.4 Análise Sinótica
A influência das condições meteorológicas sobre a saúde da população, têm sido
estudada por muito pesquisadores no mundo todo, nos últimos anos. No Brasil vários estudos
conduzidos na cidade de São Paulo, procuraram encontrar associações entre as doenças
respiratórias e as condições de tempo e clima (Conde, 2001; MAIA, 2002; BRAUN 2002;
COELHO, 2007) Segundo Conde (2001), “atuação do temo e do clima em seres humanos,
principalmente em crianças e idosos que habitam grandes certos humanos, provocam
inúmeras alterações adversas alterações sobre a saúde”.
Através da análise sinótica, procurou-se identificar condições meteorológicas favoráveis
à ocorrência (recorrência) de doenças sibilantes (chiado), em crianças do município de São
Paulo. Para isso foram então identificadas, para o período 2003 a 2006 (período de estudo dos
problemas de chiado nas crianças), as seguintes condições sinóticas sobre São Paulo, baseadas
na metodologia utilizada por CONDE, (2001); BRAUN (2002) e KALKSTEIN (1993):
� Alta Polar Marítima (APM ): caracterizada pelo deslocamento
marítimo do anticiclone extratropical;
� Alta Polar Continental (APC): caracterizada pelo deslocamento
continental do anticiclone extratropical;
� Frente Fria (FF) na região metropolitana de São Paulo;
� Pré- Frontal (Pré): quando a frente fria se encontra ao sul do estado de
São Paulo
44
A posição das frentes e anticiclones foi identificada com o auxílio dos dados da
reanálise do NCEP/NOAA (National Center for Environment Prediction/National Oceanic
and Atmospheric Administration), através dos campos de vento e temperatura, ao nível de 925
hPa e através do campos de pressão reduzida ao nível médio do mar (hPa). Imagens do
satélite GOES 8 (DSA/INPE), no canal infravermelho e dados da estação meteorológica do
IAG-USP, foram úteis no sentido de situar o posicionamento dos sistemas. Por fim, para
ilustrar a trajetória das parcelas de ar foi usado o modelo de trajetória “Hysplit-NOAA”,
versão 4.
45
CAPÍTULO 3
3 Resultados
3.1 Visão Geral
Serão apresentados nesse capítulo, no item 3.2, os resultados da análise do conforto
térmico humano (CTH) para o interior de residências da cidade de São Paulo, através da
aplicação do índice de temperatura efetiva (TE) e no item seguinte (3.3), as comparações do
mesmo (TE) entre as residências. O item 3.4 apresenta as simulações do “modelo” Arquitrop,
relativas ao desempenho térmico interno das residências de crianças “chiadoras” e “não
chiadoras”. Por fim, no item 3.5 é feita uma análise dos sistemas sinóticos (grande escala)
atuantes e das condições meteorológicas predominantes em São Paulo, nos períodos de
ocorrência das complicações respiratórias das crianças (episódios de chiado).
No total foram estudadas 376 residências (casas) de crianças recém nascidas,
amostradas no período de Janeiro de 2003 a Julho de 2006, figura 10.
Figura 10 - Distribuição das crianças estudadas na cidade de São Paulo, 2003 a 2006.
46
3.2 Os Índices de Conforto Térmico
A necessidade de se conhecer a sensação térmica experimentada pelas pessoas,
quando expostas a determinadas combinações de variáveis ambientais (temperatura T, e
umidade relativa do ar, UR) principalmente e de variáveis pessoais (tipo de vestimenta e
atividade física), levou ao desenvolvimento de índices de conforto térmico. Esses índices
fornecem efeitos combinados das variáveis ambientais e pessoais, possibilitando avaliar se
uma determinada condição apresenta-se como confortável ou desconfortável, para
determinado lugar.
Serão apresentados a seguir os resultados obtidos através da aplicação do índice de
conforto térmico Temperatura Efetiva (TE), sugerido por MISSENARD (1937), para
ambientes indoor da cidade de São Paulo. Como é conhecido que as condições extremas
afetam de forma mais significativa o conforto térmico humano do ser humano, utilizou-se a
combinação de T e UR para quatro diferentes situações: situação (1); combina a Tmáx e
URmín (TE1), situação (2); combina a Tmáx e Urmáx (TE2); situação (3) combina a Tmín e
URmín (TE3), situação (4); combina a Tmín e URmáx (TE4). Nas situações 2 e 4 são
representadas as duas situações mais freqüentemente observadas diariamente: no período da
tarde, quando se observam as máximas temperaturas e a baixa umidade relativa e logo ao
amanhecer, quando normalmente são registrados as menores temperaturas e os maiores
valores de umidade relativa. A escolha do índice (TE) deve-se a aplicação do mesmo em
estudos anteriores na cidade de São Paulo (MAIA, 2002, BRAUN, 2002, FUNARI, 2007;
GONÇALVES, 2007), os quais destacam a boa representatividade do mesmo em relação ao
clima local e às sensações de conforto na cidade de São Paulo.
Serão apresentados a seguir os resultados obtidos através da aplicação do índice TE
para as situações (TE1, TE2, TE3, TE4), classificando-o de acordo com as estações climáticas,
47
outono, inverno, primavera e verão. As medidas foram realizadas em 358 residências, durante
os anos 2003, 2004 e 2005 e 2006 ((i), (ii) e (iii), respectivamente).
Tomando com base as zonas de conforto e desconforto térmico humano (CTH)
propostas por FANGER (1972) foi possível analisar quais as estações mais propícias à
ocorrência das sensações de conforto (ou desconforto) térmico indoor. Como se estudam
ambientes interiores, tenta-se encontrar um índice que possa representar a realidade mais
próxima possível das condições térmicas sentidas em São Paulo. Cabe ressaltar que tal
classificação será um tanto quanto subjetiva (tabela 5), à medida que se dependem de outros
fatores, além das variáveis meteorológicas consideradas neste estudo, e que variam de
indivíduo para indivíduo (não considerados aqui).
Tabela 5 - Distribuição das zonas de conforto e desconforto para diferentes graus de percepção térmica e suas respostas fisiológicas, segundo FANGER (1972)
oC Sensação Térmica (tipo de CT) Grau de estresse fisiológico
< 13 Muito Frio Extremo estresse ao frio
13 − 16 Frio Tiritar
16 − 19 Frio Moderado Ligeiro resfriamento do corpo
19 − 22 Ligeiramente Frio Vasoconstrição
22 − 25 Confortável Neutralidade térmica
25 − 28 Ligeiramente Quente Ligeiro suor, vasodilatacão
28 − 32 Quente Moderado Suando
31 − 34 Quente Suor em profusão
> 34 Muito Quente Falha na termorregulação, estresse por calor
(i) Estações 2003
As tabelas 6 a 10 e a figura 11 apresentam as distribuições dos dias com os diferentes
graus de percepção térmica, através de 804 dias medidos em residências da cidade de São
Paulo, durante o ano de 2003. Ressalta-se que durante esse período, algumas residências
apresentaram períodos simultâneos de medidas, ou seja; foram medidas ao mesmo tempo. A
48
faixa delimitada como confortável, correspondem ao intervalo (IC) 22oC a 25oC, proposto por
Fanger (1972). Tal zona é valida para uma pessoa em atividade sedentária, com uma
vestimenta média e velocidade do vento fraca (0,1 m/s).
Durante o verão de 2003 foi analisado o conforto térmico humano (CTH) em 243 dias,
em residências medidas na cidade de São Paulo (tabela 9). Os índices que combinam
temperatura máxima e umidade relativa mínima (Quente e Seco) e, temperatura máxima e
umidade relativa máxima (Quente e Úmido) mostraram haver predomínio de desconforto por
calor no interior das residências, durante as tardes desta estação em 63%, de acordo com TE1
e 83%, segundo TE2. Entretanto, ao se comparar TE1 e TE2, nota-se claramente que o maior
desconforto é sentido com TE2, as altas temperaturas e as altas umidades. De acordo com a
classificação proposta por FANGER (1972), segundo os índices TE1 e (TE2) verifica-se que
14% dos dias e (23%) apresentaram temperaturas efetivas superiores a 28 oC; 5% (10%) dos
dias tiveram temperaturas maiores que 31oC e 10% dos dias apresentaram temperaturas
superiores à 34oC (segundo TE2), sendo portanto, bastante desconfortável e estressante em
relação ao calor. Observando os índices TE3 e TE4 (as manhãs desta estação) que combinam a
temperatura mínima e umidade mínima, e temperatura mínima e umidade máxima,
respectivamente, nota-se um número maior de dias de conforto nas residências (49%, TE3 e
59%, TE4), entretanto, existem também manhãs desconfortáveis por frio (47%, TE3 e 26%,
TE4), em sua maioria apresentando a sensação ligeiramente desconfortável.
Durante o inverno foi analisado o CTH em 169 dias, da cidade de São Paulo (tabela
7). Foi observado, através dos índices de conforto (IC) TE3 e TE4, o domínio da sensação de
desconforto por frio nas manhãs (TE menores que 22oC) em 96% dos dias, segundo o índice
TE3 e 91% dos dias, respectivamente. Levando-se em consideração todas as sensações
térmicas estipuladas por FANGER (1972), nota-se que ambos os índices demonstram o
desconforto por frio apresentado no interior das residências. Porém, o pior desconforto por
49
frio foi apresentado através do índice TE3 (temperaturas mínimas e umidades mínimas). Por
outro lado, o predomínio de dias mais confortáveis foi observado, durante as tardes desta
estação (44% dos dias, segundo TE1; e 41% dos dias, segundo TE2), bem como, alguns dias
desconfortáveis por calor.
Nas estações de outono e primavera foram analisados 392 dias (186 no outono e 206
na primavera), na cidade de São Paulo (tabela 6 e tabela 8). Pode se observar que houve maior
conforto interno durante as tardes de outono (índices TE1 e TE2), quando comparada à estação
da primavera. Por outro lado, as manhãs de primavera (TE3 e TE4), apresentaram-se mais
confortáveis do que as manhãs dos meses de outono. As manhãs do outono foram, em geral,
mais desconfortáveis por frio (ligeiramente frio e moderadamente frio) e as tardes da
primavera, em geral, foram mais desconfortáveis por calor (ligeiramente quente e
moderadamente quente).
� De maneira geral, para o ano de 2003 (tabela 10 e figura 11), os maiores desconfortos
por calor apresentado nas residências foram observados durante as tardes de verão e obtidos
através do índice TE2, que combina as temperaturas e umidades máximas. Valores de até 40ºC
foram observados por TE2 (domicílios com paredes de tijolo furado, sem forro e telhado de
fibrocimento ou laje), o que indica, de acordo com a classificação de FANGER (1972), a
sensação térmica muito quente. Por outro lado, o maior desconforto por frio foi notado nos
dias frios e secos (nas manhãs de inverno), pelo índice TE3 (temperatura mínima e a umidade
relativa mínima). Valores menores que 13ºC foram observados com o TE3 (residências com
paredes de tijolo furado, sem forro e cobertura de fibrocimento, ou laje). Segundo a
classificação de FANGER (1972), os habitantes das residências têm sensação térmica de
muito frio. As tardes nessas residências apresentam-se mais confortáveis, embora alguns
períodos ligeiramente desconfortáveis por frio foram sentidos. É oportuno ressaltar que os
índices TE1 e TE4 (Temperatura máxima e umidade relativa mínima e temperatura mínima e
50
umidade relativa máxima) são as situações mais freqüentes observadas diariamente e
apresentam iguais sensações a TE2 e TE3 (apesar de mostrarem valores menores, em alguns
casos).
Os resultados desse estudo estão de acordo com pesquisas anteriores realizadas sobre
o conforto térmico humano (FUNARI, 2007; MAIA 2002; BRAUN, 2002). Tais pesquisas
destacam a boa representatividade do índice TE na representação do conforto para a cidade de
São Paulo, porém, para ambientes “outdoors” (externos).
‘
Tabela 6 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, outono de 2003. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% Frio (13-16) 0 0% 0 0% 5 2,7% 4 2,2%
Frio Moderado (16-19) 6 3,2% 5 2,7% 35 18,9% 23 12,4%
Ligeiramente Frio (19-22) 46 24,7% 26 14% 94 50,5% 83 44,6%
Confortável (22-25) 77 41,4% 69 37% 39 21% 53 28,5%
Ligeiramente Quente (25-28) 43 23,1% 50 27% 11 5,9% 17 9,1%
Quente Moderado (28-31) 13 7% 29 15,6% 2 1,1% 6 3,2%
Quente (31-34) 0 0% 6 3,2% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 1 0,5% 1 0,5% 0 0% 0 0%
Total 186 100% 186 100% 186 100% 186 100%
51
Tabela 7 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, inverno de 2003. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critério Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 2 1% 1 1% Frio (13-16) 0 0% 0 0% 23 14% 8 5%
Frio Moderado (16-19) 9 5% 3 2% 85 50% 69 41%
Ligeiramente Frio (19-22) 58 34% 33 20% 52 31% 76 45%
Confortável (22-25) 74 44% 70 41% 7 4% 15 9%
Ligeiramente Quente (25-28) 20 12% 36 21% 0 0% 0 0%
Quente Moderado (28-31) 6 4% 18 11% 0 0% 0 0%
Quente (31-34) 1 1% 2 1% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 7 4% 0 0% 0 0%
Total 169 100% 169 100% 169 100% 169 100%
Tabela 8 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, primavera de 2003. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% Frio (13-16) 0 0% 0 0% 7 3,4% 4 1,9%
Frio Moderado (16-19) 8 3,8% 6 2,9% 36 17,5% 20 9,8%
Ligeiramente Frio (19-22) 27 13,1% 20 9,8% 96 46,6% 59 28,6%
Confortável (22-25) 61 29,6% 31 15% 63 30,6% 93 45,1%
Ligeiramente Quente (25-28) 71 34,5% 69 33,5% 4 1,9% 29 14,1%
Quente Moderado (28-31) 30 14,6% 47 22,8% 0 0% 1 0,5%
Quente (31-34) 9 4,4% 15 7,3% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 18 8,7% 0 0% 0 0%
Total 206 100% 206 100% 206 100% 206 100%
52
Tabela 9 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, verão de 2003. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 2 0,8% 0 0% 6 2,5% 5 2,1% Frio (13-16) 5 2,1% 6 2,5% 1 0,5% 2 0,8%
Frio Moderado (16-19) 0 0% 1 0,5% 19 7,8% 4 1,6%
Ligeiramente Frio (19-22) 6 2,5% 3 1,2% 88 36,2% 53 21,8%
Confortável (22-25) 77 31,7% 36 14,8% 118 48,5% 143 58,8%
Ligeiramente Quente (25-28) 108 44,4% 101 41,5% 11 4,5% 34 14%
Quente Moderado (28-31) 34 14% 56 23% 0 0% 2 0,8%
Quente (31-34) 11 4,5% 16 6,6% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 24 9,9% 0 0% 0 0%
Total 243 100% 243 100% 243 100% 243 100%
Tabela 10 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, para o ano de 2003. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 2 0,2% 0 0% 8 1% 6 0,7% Frio (13-16) 5 0,6% 6 0,7% 38 4,7% 18 2,2%
Frio Moderado (16-19) 23 2,9% 15 1,9% 184 22,9% 119 14,8%
Ligeiramente Frio (19-22) 138 17,2% 82 10,2% 323 40,2% 269 33,4%
Confortável (22-25) 286 35,6% 206 25,6% 223 27,7% 303 37,7%
Ligeiramente Quente (25-28) 243 30,2% 253 31,5% 26 3,2% 80 10%
Quente Moderado (28-31) 83 10,3% 151 18,8% 2 0,2% 9 1,1%
Quente (31-34) 23 2,9% 39 4,8% 0 0 0 0%
Muito Quente (>34) 1 0,1% 52 6,5% 0 0 0 0%
Total 804 100% 804 100% 804 100% 804 100%
53
048
121620242832364044
29/01
/03
20/03
/03
09/05
/03
28/06
/03
17/08
/03
06/10
/03
25/11
/03
14/01
/04
04/03
/04
23/04
/04Data
Tem
pera
tura
(oC
)
.
TE1 TE2 TE3 TE4 IC IC
Figura 11 – Distribuição do índice Temperatura Efetiva (TE) para as residências amostradas na cidade de São Paulo para o ano de 2003.
(ii) Estações 2004
As tabelas 11 a 15 e a figura 12 apresentam a distribuição dos dias com os diferentes
graus de percepção térmica, para as 156 residências da cidade de São Paulo, ano de 2004, o
que totalizou 880 dias com medidas de temperatura e umidade relativa internas. As zonas
delimitadas como confortáveis correspondem ao intervalo (IC) 22oC a 25oC, proposto por
FANGER (1972). Tal zona é valida para uma pessoa em atividade sedentária, com uma
vestimenta média e velocidade do vento fraca (0,1m/s).
Durante o verão de 2004 foi analisado o conforto térmico humano (CTH) em 132 dias,
em 25 residências da cidade de São Paulo (tabela 14). Os índices que combinam temperatura
máxima e umidade relativa mínima (TE1) e, temperatura máxima e umidade relativa máxima
(TE2) mostraram haver desconforto por calor no interior das residências, durante as tardes
nesta estação, em 48% dos dias, de acordo com TE1 e em 65% dos dias, segundo TE2. Ao se
comparar TE1 e TE2 nota-se que o maior desconforto é sentido com o índice TE2, (altas
temperaturas e as altas umidades).
54
Baseado na classificação de FANGER (1972), observando os índices TE1 e (TE2),
verifica-se que 11% dos dias (22%) apresentaram tardes com temperaturas superiores a 28 oC;
1% dos dias (7%) tinham temperaturas maiores que 31oC, bem como, apenas 1% dos dias
apresentaram temperaturas superiores à 34oC (índice TE2). Portanto, predominaram dias
desconfortáveis e estressantes em relação ao calor. Entretanto, algumas tardes também foram
notadas com ligeiro e moderado desconforto por frio (assim como em 2003). Observando os
índices TE3 e TE4, representativos das manhãs desta estação (temperatura mínima e umidade
mínima e, temperatura mínima e umidade máxima), nota-se dias de maior conforto (42% e
36%, TE3 e TE4, respectivamente), bem como, consideráveis dias desconfortáveis em relação
ao frio. Tal desconforto apresentou-se em 49% das manhãs, segundo TE3 e em 35% das
manhãs, segundo TE4. Entretanto, algumas manhãs também apresentaram ligeiro desconforto
por calor.
Durante o inverno foi analisado o CTH em 273 dias, em 50 residências, da cidade de
São Paulo (tabela 12). Foi observado, através dos índices de conforto (IC) TE3 e TE4, o
predomínio de desconforto por frio durante as manhãs (T<22 oC) em 258 dias (95%), segundo
o índice TE3, e em 220 dias (81%) segundo o índice TE4. Nota-se que ambos os índices
demonstraram desconforto por frio no interior das residências, nas manhãs de inverno.
Entretanto, o pior desconforto por frio é apresentado nas manhãs ocorre através do índice TE3
(temperaturas mínimas e umidades mínimas). Períodos mais confortáveis foram observados
durante as tardes nesta estação (31% dos dias, segundo TE1 e 39% dos dias, segundo TE2),
porém, períodos ligeiramente frios ainda predominaram.
Nas estações de outono e primavera foram analisadas 81 residências (50 no outono e
31 na primavera), totalizando 475 dias medidos (307 no outono e 168 na primavera), tabelas
11 e 13. Pode se observar um maior conforto no período das tardes, durante o outono (TE1 e
TE2), quando comparado as suas manhãs (mais desconfortáveis). Por outro lado, na primavera
55
as manhãs apresentaram-se mais confortáveis e alternaram entre períodos desagradáveis por
frio e por calor (mais em dias frios que calor).
O ano de 2004 (tabela 15 e figura 12), de modo geral, predominou dias
desconfortáveis por calor nas residências nas tardes de verão (estação seca), representado
pelos índices TE1 e TE2, que combina as temperaturas e umidades máximas e temperatura e
umidade mínima. Valores de até 38ºC foram observados por TE2 (em geral, domicílios com
paredes de tijolo furado, sem forro e telhado de fibrocimento ou laje), o que indica, de acordo
com FANGER (1972), a sensação térmica de stress por calor, com falha na termoregulação
do corpo. Por outro lado, maior desconforto por frio foi notado nas manhãs de inverno
(estação seca) de acordo com os índices TE3 e TE4 (temperatura mínima e a umidade relativa
mínima, e temperatura mínima e umidade máxima). Valores menores que 13ºC foram
observados TE3 (em geral, em domicílios com paredes de tijolo furado, sem forro e telhado de
fibrocimento ou laje), indicando a sensação de frio extremo. Porém, ressalta-se que embora
existam tais desconfortos, as residências também apresentam períodos confortáveis
internamente e esse são mais freqüentes, nas tardes do inverno e outono, e nas manhãs de
verão e primavera. Os resultados desse estudo estão de acordo com pesquisas anteriores
realizadas na cidade de São Paulo, porém, para ambientes “outdoors” (externos).
� É valido comentar que os índices TE1 e TE4 (Temperatura máxima e umidade relativa
mínima e temperatura mínima e umidade relativa máxima) são as situações mais freqüentes
observadas diariamente e apresentam sensações “semelhantes” a TE2 e TE3 (apesar de
mostrarem valores menores, na maioria dos casos).
56
Tabela 15 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, para o ano de 2004. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 8 0,9% 4 0,4% Frio (13-16) 14 1,6% 6 0,7% 115 13,1% 74 8,4%
Frio Moderado (16-19) 72 8,2% 58 6,6% 205 23,2% 186 21,1%
Ligeiramente Frio (19-22) 241 27,4% 139 15,8% 334 37,9% 266 30,2%
Confortável (22-25) 290 33% 284 32,3% 183 20,9% 250 28,4%
Ligeiramente Quente (25-28) 202 22,9% 247 28% 34 3,9% 96 10,9%
Quente Moderado (28-31) 55 6,2% 97 11% 1 0,1% 4 0,4%
Quente (31-34) 5 0,6% 44 5% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 1 0,1% 5 0,6% 0 0% 0 0%
Total 880 100% 880 100% 880 100% 880 100%
0
4
8
12
16
20
24
28
32
36
40
14/01
/04
04/03
/04
23/04
/04
12/06
/04
01/08
/04
20/09
/04
09/11
/04
29/12
/04
17/02
/05
08/04
/05Data
Tem
pera
tura
(oC
)
.
TE1 TE2 TE3 TE4 IC IC
Figura 12 – Distribuição do índice Temperatura Efetiva (TE) para as residências amostradas na cidade de São Paulo para o ano de 2004.
(iii) Estações 2005
As tabelas 16 a 20 e a figura 13 apresentam a distribuição dos dias com os diferentes
graus de percepção térmica, para as 192 residências da cidade de São Paulo, totalizando 1170
dias com medidas de temperatura e umidade internas no ano de 2005. As zonas delimitadas
57
como confortáveis correspondem ao intervalo (IC) 22oC a 25oC, proposto por FANGER
(1972). Tal zona é valida para uma pessoa em atividade sedentária, com uma vestimenta
média e velocidade do vento fraca (0,1 m/s).
Na estação de verão de 2005 foi analisado o conforto térmico humano (CTH) em 28
dias, em 7 residências da cidade de São Paulo (tabela 19). As medidas nessas residências
foram efetuadas no final desta estação (segunda quinzena de março) e em vista disso, os
resultados podem não representar realisticamente as sensações térmicas. De qualquer maneira,
uma “idéia” do grau de conforto / desconforto sentido pelos seus moradores pode ser extraída.
Os índices que combinam temperatura máxima e umidade relativa mínima (TE1) e,
temperatura máxima e umidade relativa máxima (TE2) mostraram, baseado na classificação
FANGER (1972), o predomínio de desconforto por calor no interior das residências, durante
as tardes nesta estação, em 50% dos dias, de acordo com TE1 e em 93% dos dias, segundo
TE2. Ao comparar TE1 e TE2 nota-se que o maior desconforto é sentido com o índice TE2.
Verifica-se em TE1 e (TE2) que, 14% (46%) dos dias apresentaram tardes com temperaturas
superiores a 28oC e 14% dos dias com temperaturas maiores que 31oC. Mesmo as
temperaturas não superando esse limiar (devido ao pico de temperatura máxima ocorrer nos
meses anteriores, janeiro e fevereiro, BRAUN, 2002), os dias em questão foram
desconfortáveis pelo calor, e as pessoas sob essa faixa de temperatura (TE>28oC) apresentam
condição fisiológica de ligeiro suor. Observando os índices TE3 e TE4, representativos das
manhãs de verão (temperatura mínima e umidade mínima e, temperatura mínima e umidade
máxima), podem-se observar dias desconfortáveis em relação ao frio em quase a totalidade
dos dias analisados nessa estação (em 93% dos dias segundo TE3, e em 50% dos dias segundo
TE4). Por outro lado, TE4 também apresentou 47% dos dias com manhãs confortáveis. Assim
como nos casos anteriores, a pior sensação de frio é sentida quando se combinam
temperaturas mínimas e umidades mínimas (TE3).
58
Durante o inverno foram analisados o CTH em 362 dias, em 59 residências, da cidade
de São Paulo (tabela 17). Foi observado, através dos índices de conforto (IC) TE3 e TE4,
domínio de elevado desconforto por frio durante as manhãs em todos os 362 dias analisados,
segundo os índices TE3, e TE4. Nota-se que ambos demonstram esse desconforto por frio, no
interior das residências. Mostram-se períodos desconfortáveis e estressantes por frio
(TE<16oC) para 346 (96%) dos 362 dias analisados. Por outro lado, predominaram tardes
mais nesta estação (142 dias, e 75 dias, segundo TE1 e TE2, respectivamente), bem como,
alguns dias de ligeiro e moderado desconforto por calor.
Nas estações de outono e primavera foram analisadas 127 residências (48 no outono e
79 na primavera), totalizando 780 dias analisados (288 no outono e 492 na primavera), tabela
16 e tabela 18. Observam-se, em geral, tardes confortáveis no interior das residências em
ambas as estações, bem como, uma mescla de dias ligeiramente frios e ligeiramente quentes,
(com predomínio de dias frios, TE1 e TE2). Alguns dias, tanto primavera (tabela 18) quanto
outono (tabela 16), apresentaram também moderado calor durante as tardes. Com relação às
manhãs, observa-se através das tabelas que ambas estações apresentam desconforto por frio,
variando predominantemente entre a sensação de ligeiro a moderado frio (16oC<TE<22oC).
� De maneira geral, para o ano de 2005 (tabela 20 e figura 13), o maior desconforto por
calor apresentado internamente foi observado em dias quentes e úmidos (tardes de verão),
através do índice TE2, que combina as temperaturas e umidades máximas (assim como nos
anos anteriores). Valores superiores a 35ºC foram observados por TE2, o que indica
internamente, de acordo com FANGER (1972), a sensação térmica muito quente (falha na
termoregulação). Por outro lado, durante as manhãs, o predomínio de dias desconfortáveis por
frio notado, segundo TE3 e TE4 (temperatura mínima e a umidade relativa mínima, e
temperatura mínima e umidade relativa máxima). 93% das manhãs de 2005 apresentaram
sensação térmica de desconforto por frio (variando de ligeiramente frio a muito frio). Chama a
59
atenção a grande quantidade de dias com manhãs variando entre a sensação térmica de frio e
muito frio (35% e 33%). Sensação térmica de até 7ºC foi sentida no quarto da criança, no
inverno desse ano. Os resultados desse estudo estão de acordo com pesquisas anteriores
realizadas sobre o conforto térmico na cidade de São Paulo, porém, para ambientes
“outdoors” (externos). Assim como nos anos anteriores, os índices TE1 e TE4 (Temperatura
máxima e umidade relativa mínima e temperatura mínima e umidade relativa máxima) são as
situações mais freqüentes observadas diariamente e apresentaram sensações “semelhantes” a
TE2 e TE3 (apesar de mostrarem valores menores, na maioria dos casos).
Tabela 16 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo. Outono de 2005. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 2 0,7% 2 0,7% Frio (13-16) 6 2,1% 6 2,1% 31 10,8% 25 8,7%
Frio Moderado (16-19) 31 10,8% 22 7,6% 93 32,3% 64 22.2%
Ligeiramente Frio (19-22) 123 42,7% 88 30,6% 123 42,7% 121 42%
Confortável (22-25) 92 31,9% 100 34,7% 36 12,5% 61 21,2%
Ligeiramente Quente (25-28) 31 10,8% 54 18,8% 3 1% 14 4,9%
Quente Moderado (28-31) 4 1,4% 14 4,9% 0 0% 1 0,3%
Quente (31-34) 1 0,3% 3 1% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 1 0,3% 0 0% 0 0%
Total 288 100% 288 100% 288 100% 288 100%
60
Tabela 17 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo. Inverno de 2005. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 137 37,8% 169 46,7% Frio (13-16) 21 5,8% 15 4,1% 209 57,7% 177 48,9%
Frio Moderado (16-19) 72 19,9% 45 12,4% 16 4,4% 16 4,4%
Ligeiramente Frio (19-22) 108 29,8% 82 22,6% 0 0% 0 0%
Confortável (22-25) 142 39,2% 75 20,8% 0 0% 0 0%
Ligeiramente Quente (25-28) 19 5,2% 110 30,4% 0 0% 0 0%
Quente Moderado (28-31) 0 0% 35 9,7% 0 0% 0 0%
Quente (31-34) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 362 100% 362 100% 362 100% 362 100%
Tabela 18 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo. Primavera de 2005. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 1 0,2% 1 0,2% Frio (13-16) 2 0,4% 2 0,4% 23 4,7% 15 3%
Frio Moderado (16-19) 42 8,5% 24 4,9% 196 39,8% 138 28%
Ligeiramente Frio (19-22) 243 49,4% 179 36,4% 229 46,5% 269 54,7%
Confortável (22-25) 159 32,3% 193 39,2% 42 8,5% 59 12%
Ligeiramente Quente (25-28) 38 7,7% 68 13,8% 1 0,2% 10 2%
Quente Moderado (28-31) 7 1,4% 20 4% 0 0% 0 0%
Quente (31-34) 1 0,2% 4 0,8% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 2 0,4% 0 0% 0 0%
Total 492 100% 492 100% 492 100% 492 100%
61
Tabela 19 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo. Verão de 2005. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% Frio (13-16) 0 0% 0 0% 1 3,6% 0 0%
Frio Moderado (16-19) 0 0% 0 0% 4 14,3% 4 14,2%
Ligeiramente Frio (19-22) 0 0% 0 0% 21 75% 10 35,7%
Confortável (22-25) 14 50% 2 7,1% 2 7,1% 13 46,4%
Ligeiramente Quente (25-28) 10 35,7% 13 46,4% 0 0% 1 3,6%
Quente Moderado (28-31) 4 14,2% 9 32,1% 0 0% 0 0%
Quente (31-34) 0 0% 4 14,3% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 28 100% 28 100% 28 100% 28 100%
Tabela 20 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, para o ano 2005. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 0 0% 0 0% 140 12% 172 14,7% Frio (13-16) 29 2,5% 23 2% 264 22,6% 217 18,5%
Frio Moderado (16-19) 145 12,4% 91 7,8% 309 26,4% 222 19%
Ligeiramente Frio (19-22) 474 40,5% 349 29,8% 373 31,9% 400 34,2%
Confortável (22-25) 407 34,7% 370 31,6% 80 6,8% 133 11,4%
Ligeiramente Quente (25-28) 98 8,4% 245 20,9% 4 0,3 25 2,1%
Quente Moderado (28-31) 15 1,3% 78 6,7% 0 0% 1 0,1%
Quente (31-34) 2 0,2% 11 0,9% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 3 0,2% 0 0% 0 0%
Total 1170 100% 1170 100% 1170 100% 1170 100%
62
0
4
8
12
16
20
24
28
32
36
40
17/02
/05
08/04
/05
28/05
/05
17/07
/05
05/09
/05
25/10
/05
14/12
/05
02/02
/06
24/03
/06
13/05
/06Data
Tem
pera
tura
(oC
)
.
TE1 TE2 TE3 TE4 IC IC
Figura 13 – Distribuição do índice Temperatura Efetiva (TE) para as residências amostradas na cidade de São Paulo para o ano de 2005.
(ii) Estações 2006
As tabelas 21 e 23 e a figura 14 apresentam a distribuição dos dias com os diferentes
graus de percepção térmica, para as 50 residências da cidade de São Paulo, totalizando 358
dias com medidas de temperatura e umidade internas, nas estações outono e inverno de 2006
(coincidindo com o término do “Projeto Chiado”). As zonas delimitadas como confortáveis
correspondem ao intervalo (IC) 22oC a 25oC, proposto por FANGER (1972). Tal zona é
valida para uma pessoa em atividade sedentária, com uma vestimenta média e velocidade do
vento fraca (0,1 m/s).
Durante a estação do outono foi analisado o conforto térmico em 44 residências,
totalizando 322 dias analisados (tabela 21). Observam-se, em geral, segundo os índices TE1 e
TE2, tardes desconfortáveis por frio, no interior das residências (67% e 55%,
respectivamente), principalmente por ligeiro e moderado frio, inclusive, com dias de stress
térmico por frio. Entretanto, algumas tardes também se apresentaram confortáveis (assim
como nos anos anteriores). As manhãs desta estação (índices TE3 e TE4) também mostraram a
63
ocorrência de elevado stress térmico por frio, nenhuma vez observado em anos anteriores,
nesta estação. Tal desconforto pode ser comparado, por exemplo, ao sentido durante os meses
de inverno, quando vários dias apresentam temperaturas abaixo dos 13oC.
Durante o inverno foi analisado o conforto térmico em 36 dias, correspondente a 6
residências medidas na cidade de São Paulo (tabela 22). Observou-se, através dos índices de
conforto TE3 e TE4, o alto grau de desconforto por frio sentido durante as manhãs, em todos
os 36 dias analisados nessa estação. Tiveram-se 83% (TE3) e 69% (TE4) dos dias com
temperaturas abaixo dos 16oC (sensações de frio e muito frio) e, semelhante a 2005, nenhuma
das manhãs apresentou-se confortável. Com relação às tardes de inverno (índices TE1 e TE2),
também não houve a presença de conforto ou desconforto por calor, em nenhuma delas.
Todos os dias estiveram desconfortáveis e estressantes por frio, semelhante às manhãs.
Para o ano de 2006 - considerando que apenas as estações outono e inverno (tabela 23
e figura 14) -, o pequeno desconforto por calor apresentado internamente foi observado
durante as tardes e obtido através dos índices TE1 e TE2, (5% e 11% dos dias), o qual combina
as temperaturas e umidades máximas, e temperaturas e umidades mínimas. Analogamente, o
maior desconforto por frio foi maior durante as manhãs, caracterizado pelos índices TE3 e TE4
(temperatura mínima e a umidade relativa mínima, e temperatura e umidade máxima),
semelhante aos anos anteriores. Os resultados desse estudo estão de acordo com pesquisas
anteriores realizadas sobre o conforto térmico na cidade de São Paulo, porém, para ambientes
“outdoors” (externos).
64
Tabela 21 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo. Outono de 2006. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 14 4,3% 14 4,3% 25 7,7% 25 7,7% Frio (13-16) 8 2,5% 5 1,6% 46 14,3% 38 11,8%
Frio Moderado (16-19) 75 23,3% 55 17% 132 41% 106 32,9%
Ligeiramente Frio (19-22) 119 37% 102 31,7% 115 35,7% 130 40,4%
Confortável (22-25) 89 27,6% 97 30,1% 4 1,2% 23 7,1%
Ligeiramente Quente (25-28) 11 3,4% 34 10,6% 0 0% 0 0%
Quente Moderado (28-31) 6 1,9% 8 2,5% 0 0% 0 0%
Quente (31-34) 0 0% 5 1,6% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 2 0,6% 0 0% 0 0%
Total 322 100% 322 100% 322 100% 322 100%
Tabela 22 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo. Inverno de 2006. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 6 16,7% 6 16,7% 12 33,3% 12 33,3% Frio (13-16) 10 27,8% 8 22,2% 18 50% 13 36,1%
Frio Moderado (16-19) 17 47,2% 12 33,3% 6 16,7% 11 30,6%
Ligeiramente Frio (19-22) 3 8,3% 10 27,7% 0 0% 0 0%
Confortável (22-25) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Ligeiramente Quente (25-28) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Quente Moderado (28-31) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Quente (31-34) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 36 100% 36 100% 36 100% 36 100%
65
Tabela 23 - Distribuição dos dias confortáveis e desconfortáveis, de acordo com o índice TE, para a cidade de São Paulo, para o 2006. Classificação baseada nos índices TE1, TE2, TE3, TE4.
Critérios Fanger (°C) TE 1 TE2 TE3 TE4
Muito Frio (<13) 20 5,9% 20 5,6% 37 10,3% 37 10,3% Frio (13-16) 18 5% 13 3,6% 64 17,9% 51 14,2%
Frio Moderado (16-19) 92 25,7% 67 18,7% 138 38,5% 117 32,7%
Ligeiramente Frio (19-22) 122 34,1% 112 31,2% 115 32,1% 130 36,3%
Confortável (22-25) 89 24,9% 97 27,1% 4 1,1% 23 6,4%
Ligeiramente Quente (25-28) 11 3,1% 34 9,5% 0 0% 0 0%
Quente Moderado (28-31) 6 1,7% 8 2,2% 0 0% 0 0%
Quente (31-34) 0 0% 5 1,4% 0 0% 0 0%
Muito Quente (>34) 0 0% 2 0,6% 0 0% 0 0%
Total 358 100% 358 100% 358 100% 358 100%
0
4
8
12
16
20
24
28
32
36
40
04/03
/06
24/03
/06
13/04
/06
03/05
/06
23/05
/06
12/06
/06
02/07
/06
22/07
/06Data
Tem
pera
tura
(oC
)
.
TE1 TE2 TE3 TE4 IC IC
Figura 14 – Distribuição do índice Temperatura Efetiva (TE) para as residências amostradas na cidade de São Paulo para o ano de 2006.
De forma geral, a aplicação do índice de conforto TE interno, para residências da
cidade de São Paulo, revelou para os anos 2003 a 2006, que “as residências” sofrem mais com
o frio, durante as manhãs, de acordo com os índices TE3 e TE4 (temperatura mínima e
66
umidade mínima, e temperatura mínima e umidade máxima), do que com o calor, durante as
tardes, índices TE1 e TE2 (temperatura máxima e umidade máxima, e temperatura máxima e
umidade mínima), independente da estação do ano que se observar. Ressalta-se, porém, que
os índices TE1 e TE4, são as situações diariamente mais freqüentemente observadas e
apresentam “iguais” sensações a TE2 e TE3 (apesar de mostrarem valores menores, em alguns
casos). Esses resultados estão de acordo com (MAIA 2002 e BRAUN, 2002).
Durante o inverno, as manhãs (TE3 e TE4) apresentaram dias de extremo desconforto
por frio (TE<13oC), porém, sua grande maioria variou entre a sensação de ligeiro desconforto
por frio e frio (16oC<TE<22oC). As tardes desta estação foram mais confortáveis, e alguns
dias ligeiro desconforto por calor (ligeiramente quente, TE>25oC) foram apresentados. Dentre
os invernos analisados, o mais desconfortável e estressante por frio, foi o inverno de 2006,
porém, mais estudos precisam ser realizados, visto que poucos dias foram medidos (36 dias),
se comparado a medidas em anos anteriores.
No verão, o maior desconforto por calor ocorreu durante as tardes, e tal desconforto
mostrou mais alta freqüência nas sensações ligeiramente quente e moderadamente quente
(25oC<T<34oC). Por outro lado, as manhãs desta estação, foram mais confortáveis, bem
como, apresentando ligeiro desconforto por frio.
Para as estações de transição Outono e Inverno, verificou-se uma mescla de dias
confortáveis e desconfortáveis, porém, de “maneira geral” às manhãs de primavera
apresentaram-se mais confortáveis, bem com, as tardes de outono.
Possíveis Incertezas na avaliação do Conforto Térmico:
Alguns pontos pode ser destacados:
1) Utilizou-se um índice biometeorológico que considera apenas dados ambientais
(temperatura e umidade), não levando em consideração as variáveis pessoais,
67
também muito importantes na análise do CTH. Dessa forma, os resultados nos
fornecem uma idéia “empírica” do conforto térmico nas residências. Entretanto,
como o presente estudo objetiva analisar crianças recém-nascidas, esses resultados
podem ser bastante realista e levado em consideração.
2) As residências podem ter um “microclima local” específico (devido a sua localização
e estrutura construtiva) que pode influenciar na análise dos resultados (SILVA e
RIBEIRO, 2006). Ao se considerar as condições de conforto interno nesse estudo,
levam-se em conta todas as residências e isso pode ser um fator de confusão na
análise. (muito fria, ou muito quente).
3.3 Avaliação do Índice de Conforto Térmico (TE) entre Residências
Conforme visto no item anterior (2.2.2), o conforto térmico pode variar de acordo com
os fatores ambientais (temperatura, umidade, vento e temperatura média radiante), e pessoais
(nível de atividade física e isolamento das vestimentas). Dessa forma, classificar tal conforto,
em determinado lugar, é um tanto quanto subjetivo, porém, fornece-nos uma “idéia” das
condições térmicas “enfrentadas” no ambiente. Nessa seção, faz-se um comparativo entre o
grau de conforto térmico humano (desconforto térmico) em diferentes residências, cujas
variáveis temperatura (T) e umidade relativa (UR) foram medidas em um mesmo intervalo de
tempo (dias consecutivos). A intensão é verificar o “papel das residências”, ou seja:
apresentam essa o mesmo comportamento térmico, com relação aos fatores externos?...
Apresentam se a seguir os diferentes cenários diários criados com o índice TE (QS, QU, FS e
FU), durante o ano de 2005 (1170 dias com medidas internas). QS é a combinação Tmáx e
URmín; QU é a combinação de Tmáx e URmáx; FS é a combinação de Tmín e URmín e FU
combina Tmín e URmín).
68
Verificar a sazonalmente o CTH, classificando-o de acordo com a classificação de
FANGER (1972), segundo as estações climáticas: outono (a), inverno (b), primavera (c) e
verão (d). Essa metodologia foi utilizada também para o cálculo do CTH nos anos de 2003,
2004 e 2006 (outono e inverno).
3.3.1 Outono
A figura 15 (gráficos 1 a 8), apresenta exemplos da distribuição do índice temperatura
efetiva (TE) “indoor” para oito, das 48 residências amostradas, durante a estação do outono de
2005. Na mesma figura 15 (gráficos 9 e 10) é apresentado o comportamento da temperatura e
umidade relativa “outdoor” (estação do IAG-USP) e seu respectivo índice TE, calculado para
a estação. As casas foram agrupadas duas a duas, propositalmente, a fim de analisar como
seriam suas respostas em relação às condições (sinóticas) externas, visto que estas foram
medidas em um mesmo período, portanto, estando sob as “mesmas influências” do meio
exterior (não são levados aqui os fatores do microclima local que podem influenciar a
residência à residência).
Esta estação caracterizou-se de maneira geral, como confortável para 75% das
residências analisadas (6 casas), porém, durante as manhãs é experimentado um leve e
moderado desconforto em relação ao frio em todas elas (FS), casas 1252 e 1354). As tardes
desta estação foram caracterizadas, segundo índice TE, como confortáveis, com algum
desconforto por frio. As temperaturas ficaram “amenas” nesse período, oscilando entre 20 e
27ºC. É interessante notar que à medida que vai se aproximando do inverno (21/07/05 a
22/09/05) o desconforto interno em relação ao frio durante as manhãs tende a aumentar (casas
1352, 1354), chegando a persistir por seis dias com temperaturas em torno de 17 graus
(FS,/FU; casa 1354). Esse desconforto pode ser melhor entendido observando o
comportamento das temperaturas mínimas externas (gráfico 9), que tendem a diminuírem,
69
pois climatologicamente com a chegada do inverno apresentam-se temperaturas mais baixas.
Talvez seja essa a explicação encontrada, previamente, para esse maior desconforto (outra
seria em termos da taxa de ventilação e a proteção contra o frio nas residências).
Através dessa análise preliminar, observa-se que as residências respondem de forma
muito parecidas entre si, especialmente quando se referem às condições exteriores (nessa
estação). Um exemplo pode ser apresentado verificando as casas 1170 e 1347, onde um
aquecimento máximo foi observado externamente no dia 18 de maio. A casa 1350 respondeu
a esse aquecimento no próprio dia 18, porém a casa 1170, só dia 19. Existiu aí um atraso, no
aquecimento (“lag”), de um dia.
Com relação a um episódio de frio, ocorrido no dia 21 de maio, as mesmas casas (1170
e 1347) responderam de forma semelhante às condições externas, e mais rapidamente, que o
aquecimento (ocorrido nas mesmas), anteriormente citado. Ambas as casas mostraram
desconforto por frio (T~18ºC), com FS/FU ultrapassando o limite inferior de conforto, no
mesmo dia (21 de maio). De acordo com FANGER, (1970) a sensação interna de moderado
frio foi sentida.
Assim, com relação ao atraso no aquecimento, citado anteriormente, como poder avaliá-
lo? Questões com essas poderão ser respondidas através de uma análise mais detalhada desses
domicílios (entrevistas com moradores, investigando melhor o hábito domiciliar, análise do
microclima local, melhor caracterização das condições do entorno dessas residências, avaliar,
por exemplo, as características e o nível de ocupação dos seus ambientes).
3.3.2 Inverno
A figura 16 (gráficos 1 a 8), apresenta o comportamento das diferentes situações de
tempo experimentadas com o índice TE, e o comportamento de oito, das 59 residências
70
amostradas durante o inverno de 2005. Ainda na figura 16 (gráficos 9 e 10), ilustra-se o
comportamento da temperatura e umidade relativa externas às casas e o respectivo índice TE.
Pode-se observar que durante o inverno na grande maioria das casas (90%) ocorre a situação
de desconforto (stress) térmico devido ao frio e este acontece principalmente durante as
manhãs (FS). A exceção é a casa 1174, que apresenta durante praticamente todo o período
medido (sete dias), temperaturas dentro da zona de conforto nas manhãs, e temperaturas
confortáveis no período das tardes (QS/QU). Isso pode ser devido ao início da estação da
primavera (22/9), quando as temperaturas tendem a ficarem mais amenas. No entanto, ao
compará-la com a casa 1168 (medida na mesma semana) o mesmo não é observado. Notam-se
comportamentos semelhantes, relativo aos aumentos e quedas dos índices, porém com
temperaturas menores (provavelmente devido ao tipo construtivo, sua deficiente proteção
contra o ambiente externo e sua localização geográfica). Isso é confirmado através dos
gráficos 9 e 10, onde se observa um aumento com a aproximação da primavera, tanto nas
temperaturas externas quanto no índice TE externo.
Os dias mais frios e conseqüentemente os de maiores stress em relação ao frio, foram
no período entre 22 de junho e 27 de junho, quando foi calculado o menor valor para TE:
15ºC, durante a manhã do dia 22 (casas 1359 e 1360). Externamente, a temperatura mínima
atingiu seu menor valor para esta estação, 5,2ºC, no dia 26 de julho.
Outro fator que pode ser destacado é que cada residência responde de forma diferente
durante a estação do inverno. Por exemplo: residências medidas em um mesmo intervalo de
tempo apresentam diferentes graus de sensações térmicas internas. Períodos que são
considerados como confortáveis em determinado local (casa 1174), podem ser classificados
como extremamente desagradáveis para outros (casa 1168). Outras residências, mesmo
desconfortáveis, têm seu grau de desconforto alterado (1392 1370). Isso nos sugere que
existem diferenças marcantes entre as residências, provavelmente com relação à proteção
71
contra o frio, com o ambiente externo, haja vista, que elas estão expostas às mesmas
condições sinóticas externas (já comentado anteriormente).
Se compararmos com o gráfico 6, isso não ocorre com as residências durante a estação
de outono, fato esse que nos leva a crer que durante o inverno as trocas de calor com o meio
externo são menos freqüentes. Da mesma forma que para o outono, se faz necessário uma
análise mais aprofundada, onde se devem levar em consideração vários fatores, mais
específicos de cada residência, como as características da habitação (cobertura; teto;
orientação das janelas e paredes em relação ao sol; estrutura da construção), variação das
condições meteorológicas externas e uso dos seus ocupantes.
3.3.3 Primavera
A figura 17 (gráficos 1 a 8), apresenta a distribuição do índice temperatura efetiva
(TE) “indoor” para oito, 79 residências estudadas durante a primavera de 2005. Os gráficos 9
e 10, na mesma figura, apresentam o comportamento da temperatura e umidade relativa
“outdoor” (estação do IAG), e seu respectivo índice TE.
Pode-se observar que as manhãs dessa estação (FS) se apresentaram desconfortáveis e
estressantes em relação ao frio em praticamente todas as residências (88%), de acordo com a
classificação de FANGER (1972), item 4.2. A exceção foi a casa 1266 (gráfico 4), que
apresentou manhãs confortáveis para quase todos os dias analisados (quatro). Esse
desconforto em relação ao frio foi maior no final do mês de setembro (26/09 a 29/09).
Segundo a CLIMÁNALISE (setembro de 2005), no dia 25 um anticiclone frio ingressou pelo
Rio Grande do Sul e com trajetória continental atingiu as regiões Centro-Oeste e Norte do
Brasil. Nesse dia houve precipitação de neve em São Joaquim-SC. Entre os dias 26 e 28 esta
massa de ar frio atuou no litoral das Regiões Sul e Sudeste, causando declínio das
72
temperaturas. Internamente (casa 1115), a temperatura mínima alcançou os 11ºC (dia 28),
concordando com a mínima ocorrida externamente 10,7ºC.
Por outro lado, ao aproximar-se da estação de verão (casas 1205 e 1263), as manhãs
vão se tornando mais agradáveis e os dias tendem a ser mais confortáveis. Com relação às
tardes da primavera, praticamente não foi observado estresse relacionado ao calor (alguns dias
na casa 1235). Ao contrário, observaram-se em algumas casas, tardes desconfortáveis por frio.
Analogamente, em outras residências houve períodos confortáveis e agradáveis, com
temperaturas bastante amenas.
3.3.4 Verão
A figura 18 (gráficos 1 a 7), apresenta a distribuição do índice temperatura efetiva
(TE) “indoor” para as 7 residências estudadas durante a estação do verão de 2005. Os gráficos
8 e 9, na mesma figura 18, apresentam o comportamento da temperatura e umidade relativa
“outdoor” (estação do IAG), e seu respectivo índice TE. Cabe ressaltar que o período em que
foram realizadas as medidas, corresponde ao final da estação do verão (março de 2005) e
assim, a analise preliminar do conforto nessa estação poderá nos fornecer apenas uma idéia
parcial do conforto/desconforto térmico das residências, não sendo ser representativo para os
três meses que compreendem a estação de verão.
Pode-se observar que a maioria das residências (60%) apresentou desconforto em
relação ao calor durante as tardes, com a combinação das altas temperaturas e das altas
umidades (QS/QU). No dia dezessete de março o foi atingido o maior stress com o índice TE,
de alcançando a marca dos 33ºC, porém, tal desconforto foi representativo para quatro (casas
1032, 1101, 1039,1297), das sete residências consideradas. Por outro lado duas residências
(1043,1141) apresentaram-se confortáveis durante todos os dias analisados.
73
As manhãs para essa estação, de forma geral, caracterizaram-se como confortáveis,
embora alterassem sensações de ligeiro desconforto por frio. E exceção foi a casa 1049
(gráfico 5), que permaneceu durante os sete dias medido, bastante desconfortável em relação
ao frio, chegando apresentar valores da ordem de 15ºC, durante a manhã do dia dezoito.
Quanto às condições externas (figura 18; gráfico 9) para a estação do verão, estas
apresentaram manhãs que alternavam períodos de ligeiro desconforto até condições bastante
desconfortáveis em relação ao frio (16,5ºC, dia 17 de março).As tardes mostraram
temperaturas próximas da zona de conforto, salvo, o dia 17, quando foi constatado ligeiro
desconforto em relação ao calor.
74
1 2
3 4
5 6
7 8
9 10
Figura 15 - Distribuição dos índices TE indoor e outdoor, para o Outono 2005, para a cidade de São Paulo.
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1325 -Outono/05
121416182022242628
13-abr
14-abr
15-abr
16-abr
17-abr
18-abr
19-abrDias
QSQUFSFUICIC
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1326 -Outono/05
121416182022242628
13-abr
14-abr
15-abr
16-abr
17-abr
18-abr
19-abrDias
QSQUFSFUICIC
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1170 -Outono/05
121416182022242628
18-mai
19-mai
20-mai
21-mai
22-mai
23-maiD ias
QSQUFSFUICIC
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1347 -Outono/05
121416182022242628
18-mai
19-mai
20-mai
21-mai
22-mai
23-maiDias
QSQUFSFUICIC
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1350 -Outono/05
121416182022242628
1-jun2-jun
3-jun4-jun
5-junD ias
QSQUFSFUICIC
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1351 -Outono/05
121416182022242628
1-jun2-jun
3-jun4-jun
5-junD ias
QSQUFSFUICIC
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1252 -Outono/05
121416182022242628
9-jun10-jun
11-jun
12-jun
13-jun
14-junD ias
QSQUFSFUICIC
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1354 -Outono/05
121416182022242628
9-jun10-jun
11-jun
12-jun
13-jun
14-junD ias
QSQUFSFUICIC
Distribuição Temperatura e Umidade Relativa Estação IAG - Outono/05
4
8
12
16
20
24
28
32
13-abr
20-abr
27-abr
4-mai
11-mai
18-mai
25-mai
1-jun8-jun
15-junDias
ºC
0
20
40
60
80
100
%
Tmín Tmáx URmín URmáx
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva Estação IAG -Outono/05
8
12
16
20
24
28
32
13-abr
20-abr
27-abr
4-mai
11-mai
18-mai
25-mai
1-jun8-jun
15-junData
índi
ce
QS
QU
FS
FU
IC
IC
75
1
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1359 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
22-jun
23-jun
24-jun
25-jun
26-jun
27-jun
28-junD ias
QSQUFSFUICIC
b) 2
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1360 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
22-jun
23-jun
24-jun
25-jun
26-jun
27-jun
28-junD ias
QSQUFSFUICIC
3
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1370 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
23-jul
24-jul
25-jul
26-jul
27-jul
28-julD ias
QSQUFSFUICIC
(4
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1382 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
23-jul
24-jul
25-jul
26-jul
27-jul
28-julD ias
QSQUFSFUICIC
5
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1396 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
25-ago
26-ago
27-ago
28-ago
29-ago
30-agoD ias
QSQUFSFUICIC
( 6
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1406 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
25-ago
26-ago
27-ago
28-ago
29-ago
30-agoDias
QSQUFSFUICIC
7
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1168 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
19-set
20-set
21-set
22-set
23-set
24-set
25-setD ias
QSQUFSFUICIC
8
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1174 - Inverno/05
14
16
18
20
22
24
26
19-set
20-set
21-set
22-set
23-set
24-set
25-setD ias
QSQUFSFUICIC
9
10
Figura 16 - Distribuição dos índices TE indoor e outdoor, para o Inverno 2005, na cidade de São Paulo.
Distribuição Temperatura e Umidade Relativa Estação IAG - Inverno/05
4
8
12
16
20
24
28
32
21-jun
28-jun
5-jul12-jul
19-jul
26-jul
2-ago9-ago
16-ago
23-ago
30-ago
6-set13-set
20-setDias
ºC
0
20
40
60
80
100
%
Tmín Tmáx URmín URmáx
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva Estação IAG - inverno/05
8
12
16
20
24
28
32
20-jun
4-jul18-jul
1-ago15-ago
29-ago
12-setData
índi
ce
QS
QU
FS
FU
IC
IC
76
Figura 17- Distribuição dos índices TE indoor e outdoor, para a Primavera 2005, na cidade de São Paulo.
1
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1025 -Primavera/05
121416182022242628
23-se t
24-se t
25-set
26-set
27-set
28-set
29-setD ias
QSQUFSFUICIC
2
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1115 -Primavera/05
121416182022242628
23-set
24-set
25-set
26-se t
27-set
28-set
29-setD ias
QSQUFSFUICIC
3
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1244 -Primavera/05
121416182022242628
28-out
29-out
30-out
31-out
1-nov2-nov
D ias
QSQUFSFUICIC
4
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1266 -Primavera/05
121416182022242628
28-out
29-out
30-out
31-out
1-nov2-nov
D ias
QSQUFSFUICICQS
5
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1147 -Primavera/05
12141618202224262830
24-nov
25-nov
26-nov
27-nov
28-nov
29-novDias
QSQUFSFUICIC
6
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1235 -Primavera/05
12141618202224262830
24-nov
25-nov
26-nov
27-nov
28-nov
29-novD ias
QSQUFSFUICIC
7
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1205 -Primavera/05
12141618202224262830
10-dez
11-dez
12-dez
13-dez
14-dez
15-dezDias
QSQUFSFUICIC
8
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1263 -Primavera/05
12141618202224262830
10-dez
11-dez
12-dez
13-dez
14-dez
15-dezD ias
QSQUFSFUICIC
9
10
1 2
Distribuição Temperatura e Umidade relativa Estação IAG -Primavera/05
8
12
16
20
24
28
32
21-set
28-set
5-out
12-out
19-out
26-out
2-nov
9-nov16-nov
23-nov
30-nov
7-dez
14-dezDias
0
20
40
60
80
100Tmín Tmáx URmín URmáx
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva Estação IAG - Primavera/05
812162024283236
23-set
30-set
7-out14-out
21-out
28-out
4-nov
11-nov
18-nov
25-nov
2-dez9-dez
16-dezData
índ
ice
QS
QU
FS
FU
IC
IC
77
Figura 18 - Distribuição dos índices TE indoor e outdoor para o Verão 2005, na cidade de São Paulo.
3.4 A Simulação do Comportamento Térmico
Conforme descrito no item 2.2.3 (processo de simulação) foi utilizado o software
Arquitrop 3.0, que compreende um conjunto integrado de programas computacionais e banco
de dados e possibilita simular o desempenho térmico de edificações habitacionais, a fim de
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1039 - Verão/05
1416182022242628303234
17-mar
18-mar
19-mar
20-mar
21-mar
22-mar
23-mar
Dias
QSQUFSFUICIC
3
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1043 - Verão/05
1416182022242628303234
17-mar
18-mar
19-mar
20-mar
21-mar
22-mar
23-mar
Dias
QSQUFSFUICIC
4
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1049 - Verão/05
1416182022242628303234
17-mar
18-mar
19-mar
20-mar
21-mar
22-mar
23-marD ias
QSQUFSFUICIC
5
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1297 - Verão/05
1416182022242628303234
17-mar
18-mar
19-mar
20-mar
21-mar
22-mar
23-marDias
QSQUFSFUICICQS
6
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1141 - Verão/05
1416182022242628303234
17-mar
18-mar
19-mar
20-mar
21-mar
22-mar
23-marDias
QSQUFSFUICIC
7 8
Distribuição do Índice Temperatura Efetiva (TE) Casa 1101 - Verão/05
1416182022242628303234
17-mar
18-mar
19-mar
20-mar
21-mar
22-mar
23-mar
Dias
QSQUFSFUICIC
Distribuição Temperatura e Umidade relativa Estação IAG - Verão/05
14161820222426283032
17-mar
18-mar
19-mar
20-mar
21-mar
22-mar
23-mar
Dias
0
20
40
60
80
100Tmin Tmáx URmin URmáx
78
poder otimizar o conforto ambiental (RORIZ, 1990). Serão mostrados nessa secção os
resultados das simulações do desempenho térmico para as residências da cidade de São Paulo.
O critério de seleção das residências para a simulação foi o tempo de acompanhamento
hospitalar (consulta hospitalar) da criança. Apresentam-se crianças com um mínimo de
permanência em consulta de treze meses e um máximo de vinte e oito meses (tabela 24).
No total foram vinte residências simuladas: doze residências contendo crianças
“chiadoras” e oito residências de crianças “não chiadoras”, classificando-se em oito tipos
construtivos diferentes (figura 19). O comportamento térmico de cada residência foi simulado
para períodos distintos (semelhante às medidas: sete dias consecutivos, em geral), devido à
maioria das residências apresentar mais de um período de coleta, ou seja, correspondendo a
diferentes épocas de observação, entre os anos 2003 e 2006. Para cada dia simulado
internamente há um igual período de observação nos ambientes interno e externo, de forma
que, a partir da validação do software se tornará possível estimar as condições internas desses
ambientes, para épocas específicas (episódios de doenças respiratórias / chiado), bem como,
para períodos mais prolongados (um ano inteiro).
79
Tabela 24: Residências “chiadoras” e “não chiadoras” com o comportamento térmico simulado e seu respectivo grupo construtivo. Classificação de acordo com CARDOSO (2007).
ID Condição Grupo Tempo de Consulta* 1008 Chiador 7 28 1023 Chiador 5 26 1027 Chiador 7 25 1025 Chiador 2 22 1395 Chiador 3 16 1133 Chiador 7 16 1245 Chiador 8 15 1196 Chiador 2 15 1184 Chiador 6 14 1108 Chiador 8 14 1235 Chiador 3 14 1142 Chiador 7 13 1012 Não chiador 7 19 1083 Não chiador 7 19 1089 Não chiador 7 18 1107 Não chiador 7 17 1034 Não chiador 7 16 1097 Não chiador 8 16 1014 Não chiador 2 14 1054 Não chiador 7 13
ID: Identificação da criança (residência); GRUPO: classificação do tipo construtivo;
*Tempo de Consulta em meses
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1213 1415 1617 1819 2021 22
Total
Grupo 7
Grupo 2
Grupo 8
Grupo 5
Grupo 6
Tipos Construtivos
Figura 19 – Número de residências constituintes de cada grupo construtivo, simulado na cidade de São Paulo.
80
3.4.1 Comparação entre Valores Simulados e Observados
Nessa secção serão apresentados os resultados das simulações das temperaturas
para vinte residências, pertencentes a seis diferentes tipos construtivos: 7, 2, 8, 3, 5, 6, (idem
na tabela 24). Cada tipo construtivo é composto pelas seguintes residências: tipo 7 – 1008,
1108, 1133, 1142, 1027, 1034, 1054, 1089, 1012, 1107, 1083; tipo 2 – 1196, 1025, 1014; tipo
5 – 1023; tipo 8 – 1245, 1097; tipo 3 – 1395, 1235; tipo 6 – 1184.
No item a seguir, são apresentadas às simulações para cada grupo.
3.4.1.1 Tipo Construtivo 7
(Cobertura: laje de concreto, sem forro; Parede: tijolo furado, ou bloco de concreto;
Piso: Cerâmica)
Escolheu-se para representar esse tipo construtivo a residência 1108, devido ao fato de
essa residência apresentar um maior período com observações (medidas) de temperatura
interna (T). A tabela 25 e as figuras 20 a 23 mostram os valores de temperaturas observados
(°C) – externamente, pela estação do IAG e internamente, através dos termohigrógrafos - bem
como, os valores de T simulados para essa residência, nos períodos 24/01/04 a 29/01/04,
12/08/04 a 18/08/04, 11/05/05 a 17/05/05, 06/12/05 a 11/12/05. Os valores simulados são
comparados com os valores observados. Por fim, a tabela 26 apresenta uma comparação
estatística entre os resultados das medições e simulações das temperaturas.
Algumas Características da Residência 1108:
• Número de cômodos: 3; Número de cômodos para dormir: 1
• Numero total de Janelas no quarto: 1
• Orientação do quarto da criança: 313°
• Tipos de Parede: Tijolo furado
• Tipo de Cobertura: Laje sem forro
• Tipo de Piso: Cerâmica
81
• Localização: zona oeste da cidade
• Tipo Construtivo: 7
Tabela 25 - Valores de temperatura observados (interna e externamente) e simulados para a casa 1108 (°C). Observados pelo termohigrógrafo e externamente, pelo IAG-USP. OBS EXT OBS INT SIM INT
Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
24/01/04 18,5 25,3 23,8 26,6 21,4 26,1
25/01/04 20 28,2 25,0 29,0 23,4 28,4
26/01/04 19,9 21,2 25,0 27,0 20,8 24,4
27/01/04 19,5 20,9 24,0 25,0 20,4 24,0
28/01/04 19,4 25,1 24,0 25,0 22,0 26,4
29/01/04 19,1 27,7 24,0 27,0 23,0 28,1
12/08/04 10,9 17,2 15,4 20,4 14,4 18,6
13/08/04 7,4 18,9 16,0 20,6 13,3 19,4
14/08/04 7,2 20,2 16,6 22,0 13,7 20,4
15/08/04 9,8 21,5 18,0 23,6 15,6 21,8
16/08/04 10,8 23,4 19,0 24,8 17,1 23,7
17/08/04 10,1 25,2 19,4 24,8 17,0 24,2
18/08/04 11,1 27 20,0 26,4 18,6 27
11/05/05 15,9 27,8 24,0 27,0 21,6 28,6
12/05/05 14,6 27,9 22,0 27,0 20,5 27,4
13/05/05 16,6 28,7 24,0 28,0 22,2 28,8
14/05/05 17,1 28,5 24,0 28,0 22,7 29,6
15/05/05 16,2 27,6 24,0 28,0 21,8 28,8
16/05/05 15,1 28,5 24,0 28,0 20,9 27,3
17/05/05 15,9 26,1 25,0 27,0 20,1 25
06/12/05 17,0 26,7 23,0 29,0 20,9 26,2
07/12/05 15,0 20,9 20,0 24,0 17,6 22,1
08/12/05 13,6 24,5 19,0 26,0 18,7 24,0
09/12/05 15,4 28,3 20,0 28,0 21,4 28,2
10/12/05 17,1 29,6 23,0 29,0 22,2 28,1
11/12/05 13,8 18,6 20,0 25,0 16,2 20,3
82
6
10
14
18
22
26
30
24/01
/04
25/01
/04
26/01
/04
27/01
/04
28/01
/04
29/01
/04Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 20 - Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1108, período 24/01/04 a 29/01/04. As linhas cheias representam as máximas e as pontilhadas, as mínimas, (°C).
6
10
14
18
22
26
30
12/08/04
13/08/04
14/08/04
15/08/04
16/08/04
17/08/04
18/08/04
Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 21- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1108, período 12/08/04 a 18/08/04. As linhas cheias representam as máximas e as pontilhadas às mínimas, (°C).
83
6
10
14
18
22
26
30
11/05/05
12/05/05
13/05/05
14/05/05
15/05/05
16/05/05
17/05/05
Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 22- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1108, período 11/05/05 a 17/05/05. As linhas cheias representam as máximas e as pontilhadas às mínimas, (°C).
6
10
14
18
22
26
30
06/12
/05
07/12
/05
08/12
/05
09/12
/05
10/12
/05
11/12
/05Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 23- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1108, período 06/12/05 a 11/12/05. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
84
Tabela 26 - Comparação estatística entre dos valores de T observados (internos e externos) e simulados internamente, na casa 1108, para o período (i) 24/01/04 a 29/01/04, (ii) 12/08/04 a 18/08/04, (iii) 11/05/05 a 17/05/05, (iv) 06/12/05 a 11/12/05 e (v) média dos valores medidos e observados. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos pelo IAG. (S-O): diferença entre simulação e observação.
(i)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 24,3 26,6 21,8 26,2 19,4 24,7 DP 0,5 1,5 1,2 1,8 0,6 3,1
ERRO MÉDIO (S-O) -2,5 -0,4 2,4 1,5 DP ERRO 1,2 1,5 1,3 1,3
(ii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 17,8 23,2 15,7 22,1 9,6 21,9 DP 1,8 2,3 2,0 3,0 1,6 3,5
ERRO MÉDIO (S-O) -2,1 -1,1 6,1 0,2 DP ERRO 0,7 0,8 1,3 0,7
(iii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 23,9 27,6 21,4 27,9 15,9 27,9 DP 0,9 0,5 0,9 1,6 0,9 0,9
ERRO MÉDIO (S-O) -2,5 0,3 5,5 0,0 DP ERRO 1,2 1,4 0,6 1,1
(iv)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 20,8 26,8 19,5 24,8 15,3 24,8 DP 1,6 2,0 2,2 3,0 1,4 3,9
ERRO MÉDIO (S-O) -1,3 -2,0 4,2 0,1 DP ERRO 1,7 1,5 1,3 1,1
(v)
OBS INT méd SIM INT méd OBS EXT méd Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 21,7 26,1 19,6 25,3 15,1 24,8 DP 1,2 1,6 1,6 2,3 1,1 2,9
ERRO MÉDIO (S-O) -2,1 -0,8 4,5 0,4 DP ERRO 1,2 1,3 1,1 1,1
85
Com relação às figuras 20 a 23 acima, pode-se observar que as temperaturas (T)
simuladas (linhas azuis), tanto a mínima quanto a máxima, apresentam um padrão de
comportamento bastante semelhante ao observado com as temperaturas externas (linhas
verdes), principalmente no que e refere às elevações e as quedas das temperaturas nos quatro
diferentes períodos simulados.
Analisando as temperaturas simuladas e observadas internamente, nota-se que
também há um “deslocamento em fase” entre os valores simulados (linhas azuis) e observados
(linhas vermelhas), da mesma forma, sendo bem representadas as oscilações das temperaturas
(mínimas e máximas). As temperaturas observadas internamente (termohigrógrafos) parecem
ter um comportamento mais suave em situações de quedas bruscas de temperatura, quando
comparado às temperaturas internas simuladas. Por exemplo, o caso das temperaturas
simuladas nesta residência durante o período de verão (24/01/04 a 29/01/04 e 06/12/05 a
11/12/05, mostradas pelas figuras 20 e 23). Entre os dias 25 e 26/01/04 observou-se quedas
nas temperaturas simuladas, e observadas externamente de 4°C e 7°C (respectivamente),
enquanto o observado no ambiente interno foi um declínio de T de apenas 2°C, tabela 25.
Essas diferenças podem ser devidas às respostas da residência (tipo construtivo) diante da
diminuição (aumento) das temperaturas externas e a mudança de hábito no domicílio por parte
das pessoas, que sob situações de frio ou calor diminuem (aumentam) a taxa de ventilação no
ambiente (abrindo, ou fechando janelas). Essa informação detalhada (de dias com menor ou
maior ventilação) não é fornecida inicialmente ao software, e conseqüentemente, a queda
(aumento) da temperatura simulada não acontece com mesma intensidade (oC) da queda
observada.
Por fim, pode-se notar que a simulação do comportamento térmico (médio) para a
residência 1108, durante os períodos 24/01/04 a 29/01/04, 12/08/04 a 18/08/04, 11/05/05 a
17/05/05, 06/12/05 a 11/12/05 foi satisfatória. Esses resultados estão de acordo com
86
MATHEUS E RICHARDS (1989) e CHAUVIE (2004). Observou-se um padrão de
comportamento bastante coerente entre as temperaturas simuladas e aquelas internamente
observadas. O software aproxima consideravelmente os valores simulados das condições reais
observadas na residência, porém, subestimando os valores das temperaturas mínimas em 2°C
e das temperaturas máximas em 1°C (tabela 26 (v)). No entanto, mesmo o software não
informando exatamente os valores de T, o mesmo fornece informações a respeito do
comportamento (aumentos e quedas) para determinado período. Tais informações serão úteis
na estimativa de condições favoráveis à ocorrência de problemas respiratórios (chiado).
3.4.1.2 Tipo Construtivo 2
(Cobertura: fibrocimento, sem forro; Parede: tijolo furado; Piso: cerâmica)
A tabela 27 e as figuras 24 a 27 mostram os valores de temperaturas (T) observados
(externamente pela estação do IAG, e internamente através das campanhas experimentais), e os
valores de simulados dessa variável pelo software Arquitrop, durante os períodos 31/01/03 a
06/02/03, 13/05/03 a 19/05/03, 22/08/03 a 27/08/03 e 23/09/05 a 29/09/05. Escolheu-se como
representativo desse tipo construtivo (composto por três residências) a residência 1025, por
essa apresentar um maior período de T internas medidas. Os valores simulados são comparados
com valores observados. A tabela 28 apresenta ama análise estatística com os valores de
temperatura observados e simulados nos quatro períodos estudados (27 dias).
87
Tabela 27- Valores de temperatura observados e simulados (°C), para a casa 1025: 31/01/03 a 06/02/03; 13/05/03 a 19/05/03; 22/08/03 a 27/08/03 e 23/09/05 a 29/09/05. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos e os externos, através da estação do IAG. OBS EXT OBS INT SIM INT
Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
31/01/03 20,1 24,3 21,4 27,6 22,9 26,6
01/02/03 19,2 30,6 21,0 38,6 23,5 32,5
02/02/03 18,5 32,1 21,0 39,8 23,8 37,5
03/02/03 19,5 31,8 23,0 40,3 24,1 34,2
04/02/03 20,3 32,1 25,0 42,0 24,9 35,2
05/02/03 20,9 31,8 26,0 42,0 25,2 34,3
06/02/03 21,3 30,7 26,0 40,0 25,4 34,0
13/05/03 13,6 23,3 19,8 27,4 17,4 24,4
14/05/03 16,5 24,1 18,4 28,0 19,8 25,1
15/05/03 17,6 25 19,0 30,0 21,2 28,3
16/05/03 16,7 25,5 18,8 30,0 20,4 27,8
17/05/03 15,2 26,3 18,2 31,0 19,5 29,5
18/05/03 13,9 25,6 16,6 30,6 18,1 26,4
19/05/03 12,5 24,1 16,2 29,8 16,8 25,8
22/08/03 10,1 28,9 18,6 35,0 16,1 32,5
23/08/03 10,6 29,9 18,8 35,8 16,7 33,3
24/08/03 13,6 30,7 21,2 35,0 19,2 33,8
25/08/03 11,8 18,8 18,0 25,8 15,0 19,6
26/08/03 10,1 12,5 15,8 19,2 12,4 15,6
27/08/03 11,6 17,0 16,4 24,6 15,0 18,6
23/09/05 15,8 24,4 22,0 22,0 19,4 25,9
24/09/05 16,3 25,5 21,0 22,0 19,9 25,9
25/09/05 17,3 21,9 21,0 22,0 20,0 23,9
26/09/05 11,4 18,5 19,0 22,0 14,6 19,3
27/09/05 10,7 14,6 18,0 20,0 13,3 17,0
28/09/05 10,7 18,2 17,0 18,0 14,1 19,5
88
10
14
18
22
26
30
34
38
42
31/01/03
01/02/03
02/02/03
03/02/03
04/02/03
05/02/03
06/02/03
Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 24- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1025, período 31/01/03 a 06/02/03. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
10
14
18
22
26
30
34
38
42
13/05
/03
14/05
/03
15/05
/03
16/05
/03
17/05
/03
18/05
/03
19/05
/03Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 25- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1025, período 13/05/03 a 19/05/03. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
89
10
14
18
22
26
30
34
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42
22/08
/03
23/08
/03
24/08
/03
25/08
/03
26/08
/03
27/08
/03Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 26- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1025, período 22/08/03 a 27/08/03. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
10
14
18
22
26
30
34
38
42
23/09
/05
24/09
/05
25/09
/05
26/09
/05
27/09
/05
28/09
/05
29/09
/05Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 27- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1025, período 23/09/03 a 29/09/05. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
90
Tabela 28- Comparação estatística entre dos valores de T observados e simulados internamente, na casa 1025, para o período (i) 31/01/04 a 06/02/03, (ii) 13/05/04 a 19/05/04, (iii) 22/08/03 a 27/08/03, (iv) 23/09/05 a 29/09/05 e (v) média dos valores simulados e observados. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos pelo IAG. (S-O): diferença entre simulação e observação.
(i)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 23,3 38,6 24,3 33,5 20,0 30,5
DP 2,3 5,0 0,9 3,4 1,0 2,8
ERRO MÉDIO (S-O) 0,9 -5,1 4,3 3,0
DP ERRO 1,5 2,5 0,8 1,2 (ii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 18,1 29,5 19,0 26,8 15,1 24,8
DP 1,3 1,3 1,6 1,8 1,9 1,1
ERRO MÉDIO (S-O) 0,9 -2,8 3,9 1,9
DP ERRO 1,5 1,1 0,4 1,0 (iii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 18,1 29,2 15,7 25,6 11,3 23,0 DP 1,9 7,0 2,2 8,5 1,3 7,8
ERRO MÉDIO (S-O) -2,4 -3,7 4,4 2,6 DP ERRO 0,7 1,9 1,7 1,1
(iv)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 19,4 20,6 16,6 22,1 13,2 20,8 DP 1,9 1,9 3,0 3,5 3,1 3,9
ERRO MÉDIO (S-O) -2,9 1,6 3,3 1,3 DP ERRO 1,5 3,3 0,6 0,7
(v)
OBS INT méd SIM INT méd OBS EXT méd Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 19,8 29,5 18,9 27,0 14,9 24,8 DP 1,9 3,8 2,0 4,3 1,8 3,9
ERRO MÉDIO (S-O) -0,9 -2,5 4,0 2,2 DP ERRO 1,3 2,2 0,8 1,0
91
Algumas Características da Residência 1025:
• Número de cômodos: 3 - Número de cômodos para dormir: 1
• Numero total de Janelas no quarto: 1
• Orientação quarto: 225o
• Tipo de Parede: Tijolo furado
• Tipo de Cobertura: telha de fibrocimento, sem forro
• Tipo de Piso: Cimento queimado
• Localização: zona oeste
• Tipo Construtivo: Grupo 2
Observa-se nas figuras 24 a 27 que as temperaturas simuladas (linhas azuis),
apresentaram desempenho semelhante às temperaturas externas (linhas verdes) e internas
(linhas vermelhas) observadas, principalmente com relação às oscilações dos períodos
analisados (assim como no caso anterior) e dessa forma, sendo bem representativos de
eventos extremos, por exemplo. As diferenças apresentadas entre simulação e observação se
devem provavelmente ao tipo construtivo desta residência (casa de alvenaria, sem forro, com
telha de fibroamianto) que apresenta precariedade de ventilação (só uma pequena janela),
além de espaços entre as esquadrias que favorecem a entrada do ar exterior para o ambiente
interno. Mudanças de hábitos internos ao domicílio, frente a condições de extremos térmicos
(frio ou calor), também devem ser considerados.
Observando a figura 24 podem ser notados os altos valores de temperaturas máximas
registrados no verão, no interior da residência (quarto da criança), durante o período diurno
(linha vermelha). Nesse período foram registradas temperaturas máximas de 42oC nos dias
04/02 e 05/02, enquanto no ambiente externo, máximas observadas foram de 32oC. Isso se
deve ao fato de a residência 1108 não possuir um sistema de proteção ao calor (forro), de
92
apresentar uma cobertura de telha de amianto (fibrocimento), de baixo amortecimento e
isolamento térmico. Dessa forma, a radiação diurna penetra diretamente no interior à
edificação, tornando o ambiente muito desconfortável pelo calor (FANGER, 1970), com
temperaturas de até 10 graus mais altas que o ambiente externo (tabela 27). Esses resultados
concordam com os resultados encontrados por VECCHIA (2005). Segundo esse pesquisador,
a ausência de um sistema de isolamento térmico nessa residência (forro), provoca, durante o
dia, um elevado ganho de calor através da cobertura. A simulação das temperaturas internas
para esses dias (31/01/03 a 06/02/03) não apresentou valores da mesma ordem de grandeza
dos observados (média das Tmáx de 39oC), porém, também mostrou valores desconfortáveis
com a sensação de muito quente (FANGER 1972), subestimando a observação, com médias
de temperatura máxima de 34oC (tabela 28 (i)).
Com relação às temperaturas mínimas simuladas (linha azul tracejada), nota-se que
estas também permaneceram bastante próximas à realidade interna (linha vermelha tracejada).
Mesmo o software subestimando os valores das temperaturas internas (em geral), tabela 28,
mostrou-se a boa performance e eficiência em suas simulações de temperaturas, assim com o
caso anterior (3.4.1.1). A exceções foram os períodos 31/01/03 a 06/02/03 (figura 28) e
13/05/03 a 19/05/03 (figura 29), onde as temperaturas simuladas se mostraram mais elevadas
que as observadas no interior da residência. Isso pode estar relacionado ao tempo (horário) de
abertura para ventilação na residência, visto que, durante os dois períodos, as temperaturas
externas apresentaram-se baixas.
Assim, a simulação do comportamento térmico para a residência 1025, durante os
quatro períodos estudados foi bem representada, não exatamente em termos de valores
absolutos, mas mostrando um “padrão médio” do comportamento térmico para esta
residência, semelhante ao observado internamente.
93
3.4.1.3 Tipo Construtivo 5
(Telhado: telha de fibrocimento, com forro de madeira; Parede: tijolo maciço; Piso:
cerâmica)
A tabela 29 e as figuras 28 a 30 mostram os valores de temperaturas observados -
externamente (estação do IAG) e internamente (campanhas experimentais) - e os valores
simulados dessa variável pelo software para a residência 1023, representativa do tipo
construtivo 5. Os períodos com temperaturas medidas nesta residência foram: 25/01/03 a
30/01/03, 10/05/03 a 15/05/03 e 21/08/03 a 25/08/03. Os valores simulados são comparados
com valores observados interna e externamente ao ambiente. Por fim, a tabela 30 apresenta
uma análise estatística da variável temperatura, para os períodos estudados.
Algumas Características da Habitação 1023:
• Número de cômodos: 4 - Número de cômodos para dormir: 1
• Numero total de Janelas no quarto: 1 - Orientação quarto: 35o
• Tipo de Parede: Tijolo maciço
• Tipo de Cobertura: fibrocimento, com forro de madeira
• Tipo de Piso: Cerâmica
• Localização: zona oeste da cidade
• Tipo construtivo: Tipo 5
94
Tabela 29 - Valores de temperatura observados e simulados (°C), para a casa 1023, para os períodos 25/01/03 a 30/01/03, 10/05/03 a 15/05/03 e 21/08/03 a 25/08/03. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos através da estação do IAG. OBS EXT OBS INT SIM INT
Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
25/01/03 17,2 21,5 16,4 20,0 20,4 23,6
26/01/03 19,0 23,8 17,0 25,2 22,0 25,7
27/01/03 19,0 23,1 16,8 26,0 21,8 25,3
28/01/03 18,9 21,7 18,4 26,6 21,3 24,5
29/01/03 19,0 23,4 19,2 26,4 21,9 25,5
30/01/03 18,9 23,5 19,4 27,4 21,9 25,5
10/05/03 13,3 19,4 19,4 21,8 16,1 20,6
11/05/03 13,6 21,4 20,6 23,8 17,7 23,0
12/05/03 11,9 23,4 21,2 23,4 16,9 23,1
13/05/03 13,6 23,3 21,4 23,0 18,0 23,5
14/05/03 16,5 24,1 21,0 24,0 20,1 24,8
15/05/03 17,6 25,0 21,2 24,2 21,9 27,6
21/08/03 10,7 27,8 17,0 29,0 18,8 29,0
22/08/03 10,1 28,9 17,0 30,0 18,8 29,6
23/08/03 10,6 29,9 17,0 32,0 19,4 30,5
24/08/03 13,6 30,7 18,0 31,0 21,6 31,5
25/08/03 11,8 18,8 16,0 22,0 15,0 19,6
10
14
18
22
26
30
34
38
42
25/01
/03
26/01
/03
27/01
/03
28/01
/03
29/01
/03
30/01
/03Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 28- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1023, período 25/01/03 a 30/01/03. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
95
10
14
18
22
26
30
34
38
42
10/05
/03
11/05
/03
12/05
/03
13/05
/03
14/05
/03
15/05
/03Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 29- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1023, período 10/05/03 a 15/05/03. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
10
14
18
22
26
30
34
38
42
21/08/0
3
22/08/0
3
23/08/0
3
24/08/0
3
25/08/0
3Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 30- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1023, período 21/08/03 a 25/08/03. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
96
Tabela 30- Comparação estatística entre dos valores de T observados e simulados internamente, na casa 1023, para o período (i) 25/01/03 a 30/01/03, (ii) 10/05/03 a 15/09/03, (iii) 21/08/03 a 25/08/03 e (iv) média dos valores simulados e observados. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos pelo IAG. (S-O): diferença entre simulação e observação.
(i)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 17,9 25,3 21,6 25,0 18,7 22,8 DP 1,3 2,7 0,6 0,8 0,7 1,0
ERRO MÉDIO (S-O) 3,7 -0,2 2,9 2,2 DP ERRO 1,1 2,1 2,9 2,2
(ii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 20,8 23,4 18,5 23,8 14,4 22,8 DP 0,7 0,9 2,2 2,3 2,2 2,0
ERRO MÉDIO (S-O) -2,4 0,4 4,0 1,0 DP ERRO 1,9 1,7 0,8 1,0
(iii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 17,0 28,8 18,7 28,0 11,4 27,2 DP 0,7 4,0 2,4 4,8 1,4 4,8
ERRO MÉDIO (S-O) 1,7 -0,8 7,4 0,8 DP ERRO 1,7 1,2 2,4 0,2
(iv)
OBS INT méd SIM INT méd OBS EXT méd Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 18,6 25,8 19,6 25,6 14,8 24,3 DP 0,9 2,5 1,7 2,6 1,4 2,6
ERRO MÉDIO (S-O) 1,0 -0,2 4,8 1,3 DP ERRO 1,6 1,6 2,0 1,1
Observando as figuras acima, para os períodos 25/01/03 a 30/01/03, 10/05/03 a
15/05/03 e 21/08/03 a 25/08/03, pode-se observar a proximidade e semelhança de
comportamento entre os valores simulados, máximos e mínimos (linhas azuis) e observados
internamente, máximos e mínimos (linhas vermelhas). Da mesma forma que nos casos
anteriores, apesar de não haver “coincidência” entre valores simulados e observados
internamente (devido às simplificações consideradas pelo software, posição geográfica das
97
coletas, construção da residência, microclima local, etc...), mostra-se um deslocamento em
fase nos três períodos analisados, principalmente, relacionado às oscilações das temperaturas.
Por exemplo, observando a figura 30, nota-se que há um acentuado declínio das temperaturas
internas e externas (máximas e mínimas) no dia 24/08/2003, bem como, a queda apresentada
pela simulação. Isso confirma a boa representatividade do software com relação à
performance térmica, nessa residência. A tabela 29 mostra que a queda da temperatura
máxima observada internamente entre os dias 24 e 25 foi de 9oC, enquanto a simulação para
esse dia mostrou uma queda de 12 oC. Esse fato pode ser explicado, possivelmente, à
existência de alguma proteção da residência em relação ao frio (nesse dia especificamente),
ou pelos fatores locais (localização geográfica, microclima local), visto que os dados
meteorológicos externos são oriundos de região distante, da residência simulada (zonas sul e
norte, respectivamente). Fatos esses que não são considerados pelo software (diminuição da
taxa de ventilação, por exemplo) - limitações da simulação.
De maneira geral, as temperaturas mínimas (Tmín) observadas dentro da residência
(quarto da criança) foram superestimadas pelo software em 1oC, enquanto que as temperaturas
máximas (Tmáx) foram subestimadas, na média, em -0,2 oC (tabela 30). Á exceção foi o
período 10/05/2003 a 15/05/2003 (figura 29), onde as Tmín foram subestimadas e as Tmáx
subestimadas (na média). Outro fato que pode ser notado é que durante o período de verão
analisado, a residência 1023 apresenta-se mais quente do que o ambiente externo durante o
dia, e mais fria a ligeiramente igual ao ambiente externo durante a noite (tabela 30 e figura
28).
Ao comparar esta residência com a residência 1025 (item 3.4.1.2), medidas nas
mesmas estações climáticas (verão, outono e inverno) e com o mesmo tipo de cobertura
(porém uma com forro, 1023, e outra sem forro, 1025), nota-se que ambas apresentam-se (em
geral) temperaturas máximas maiores que o ambiente exterior. De acordo AROZTEGUI
98
(1981), casas, com baixa performance térmica, mostram um pico interno de temperatura do ar
maior que o pico de temperatura do ambiente externo. Tal diferença, porém, fica bem mais
evidente na residência 1025, pois esta não dispõe de forro sob a cobertura de fibrocimento.
Esse baixo isolamento térmico não consegue “barrar” o ganho de calor através da cobertura
(durante o dia). Um melhor sistema de isolamento térmico poderia reduz o ganho de calor do
ambiente, proporcionando temperaturas mais amenas. Esses resultados corroboram os
resultados encontrados por LAMBERTS (1988) e (VECCHIA, 2005), onde é comentado que
um melhoramento na performance térmica da cobertura pode reduzir substancialmente a
temperatura da superfície do teto (forro) e conseqüentemente diminuir a temperatura do ar no
interior do domicilio.
3.4.1.4 Tipo Construtivo 8
(Telhado: laje, sem forro; Parede: tijolo maciço, Piso: cerâmica)
A tabela 31 e as figuras 31 a 33 mostram os valores de temperaturas (T) observados
(externamente pela estação do IAG-USP, e internamente através das campanhas
experimentais), e os valores de simulados dessa variável pelo software Arquitrop, durante os
períodos 27/11/03 a 03/12/03, 28/04/04 a 03/05/04 e 20/04/06 a 26/04/06. Escolheu-se como
representativo desse tipo construtivo (composto por três residências) a residência 1097, por
essa apresentar um maior período de T internas medidas (vinte dias). Os valores simulados são
comparados com valores observados. A tabela 32 apresenta uma análise estatística dos valores
de temperatura observados e simulados nos quatro períodos estudados.
99
Tabela 31 - Valores de temperatura observados e simulados (°C), para a casa 1097, para os períodos 27/11/03 a 03/12/03, 28/04/04 a 03/05/04 e 20/04/06 a 26/04/06. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos através da estação do IAG. OBS EXT OBS INT SIM INT
Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
27/11/03 20,8 30,6 26,7 30,2 25,3 29,3
28/11/03 16,6 22,0 23,2 26,4 19,3 22,4
29/11/03 16,1 19,2 21,6 24,2 17,9 20,6
30/11/03 16,5 22,9 21,6 28,2 19,6 22,9
01/12/03 19,5 26,0 23,6 27,4 22,7 26,1
02/12/03 21,1 29,5 24,4 32,2 25,2 28,9
03/12/03 21,0 30,2 26,0 33,0 25 29
28/04/04 15,1 23,2 20,6 24,6 20,5 24,6
29/04/04 13,7 24,0 19,6 24,8 19,9 26,0
30/04/04 13,9 25,1 20,0 25,2 20,1 25,6
01/05/04 13,0 24,6 20,6 24,8 19,7 24,9
02/05/04 14,9 26,8 21,2 26,6 21,6 27,6
03/05/04 16,0 27,7 22,2 28,0 22,6 28,6
20/04/06 14,3 22,8 20,0 22,0 20,0 24,4
21/04/06 12,9 26,3 20,0 24,0 20,6 26,3
22/04/06 18,1 25,8 22,0 25,0 21,9 25,4
23/04/06 15,9 28,2 23,0 26,0 23,0 29,6
24/04/06 15,1 26,1 22,0 26,0 21,2 26,6
25/04/06 18,9 28,3 23,0 27,0 24,4 29,6
26/04/06 17,4 27,8 24,0 28,0 23 28
100
10
14
18
22
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30
34
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27/11
/03
28/11
/03
29/11
/03
30/11
/03
01/12
/03
02/12
/03
03/12
/03Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 31- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1097, período 27/11/03 a 03/12/03. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
10
14
18
22
26
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28/04
/04
29/04
/04
30/04
/04
01/05
/04
02/05
/04
03/05
/04Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 32- Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1097, período 28/04/04 a 03/05/04. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
101
10
14
18
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20/04
/06
21/04
/06
22/04
/06
23/04
/06
24/04
/06
25/04
/06
26/04
/06Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 33: Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1097, período 20/04/06 a 26/04/06. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
Algumas Características da Habitação 1097:
• Número de cômodos: 6 - Número de cômodos para dormir: 2
• Numero total de Janelas no quarto: 1
• Orientação quarto: 345 graus
• Tipo de Parede: Tijolo Maciço
• Tipo de Cobertura: Laje sem forro
• Tipo de Piso: Cerâmica
• Localização: zona oeste da cidade
• Tipo Construtivo: Tipo 8
102
Tabela 32- Comparação estatística entre dos valores de T observados e simulados internamente, na casa 1023, para o período (i) 25/01/03 a 30/01/03, (ii) 10/05/03 a 15/09/03, (iii) 21/08/03 a 25/08/03 e (iv) média dos valores simulados e observados. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos através da estação do IAG. (S-O): diferença entre simulação e observação.
(i)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 23,9 28,8 22,2 25,6 18,8 25,8 DP 2,0 3,2 3,2 3,6 2,3 4,5
ERRO MÉDIO (S-O) -1,7 -3,2 3,4 -0,2 DP ERRO 1,7 1,6 1,7 1,6
(ii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 20,7 25,7 20,7 26,2 14,4 25,2 DP 0,9 1,4 1,1 1,6 1,1 1,7
ERRO MÉDIO (S-O) 0,0 0,6 6,3 -0,2 DP ERRO 0,5 0,5 0,5 0,6
(iii)
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 22,0 25,4 22,0 27,1 16,1 26,5 DP 1,5 2,0 1,5 2,0 2,2 1,9
ERRO MÉDIO (S-O) 0,2 2,0 6,0 0,7 DP ERRO 0,7 1,2 1,4 0,8
(iv)
OBS INT méd SIM INT méd OBS EXT méd Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 22,2 26,6 21,6 26,3 16,4 25,8 DP 1,5 2,2 2,0 2,4 1,9 2,7
ERRO MÉDIO (S-O) -0,5 -0,2 5,2 0,1 DP ERRO 1,0 1,1 1,2 1,0
Assim com nos casos anteriores, observa-se que existe uma boa coerência entre os
valores de temperatura simulados (linhas azuis) e os valores observados (linhas vermelhas)
tanto externamente quanto internamente (linhas vermelhas), nos três períodos observados:
25/01/03 a 30/01/03, 10/05/03 a 15/09/03, 21/08/03 a 25/08/03.
As temperaturas mínimas simuladas (linha azul tracejada) mostraram grande
proximidade com os valores observados internamente (linha vermelha tracejada),
103
representando de forma confiável o comportamento térmico na residência 1097, tabela 31.
Analisando a tabela 32(iv), pode-se notar que os valores observados de temperatura mínima
interna são subestimados pela simulação (em geral), apresentando na média valores 0,5oC
abaixo das observadas internamente. Os valores simulados próximos ao período do verão,
apresentaram um distanciamento maior em relação à observação: aproximadamente 2oC
abaixo do observado na residência (tabela 32 (i) e figura 31).
Análise análoga pode ser feita para as temperaturas máximas simuladas (Tmáx),
onde mesmo não estimando exatamente os valores de T (tabela 31), o “padrão” de oscilação
térmica foi bem representado (figuras 31 a 33). Isso indica a boa performance do software. As
diferenças apresentadas entre temperaturas simuladas e observadas foram maiores durante o
período do verão (tabela 31), onde a simulação subestima os valores internos de temperaturas
observados em 3oC.
A tabela 32(iv) mostra que na média as temperaturas simuladas e observadas
internamente, durante os três períodos de medidas, apresentam um erro médio de 0,5oC para a
temperatura mínima e 0,2oC para as temperatura máxima. Isso mostra igualmente o bom
desempenho do software Arquitrop, e o caracteriza como representativo das condições de
temperaturas par esta residência, durante os 20 dias analisados.
3.4.1.5 Tipo Construtivo 3
(Cobertura: telha de fibrocimento sem forro; Parede: tijolo maciço; Piso: cerâmica).
A tabela 33 e a figura 34 mostram os valores de temperaturas (T) observados
(externamente pela estação do IAG, e internamente através das campanhas experimentais), e os
valores de simulados dessa variável pelo software Arquitrop, durante o período 13/08/05 a
18/08/05. Apresenta-se como representativo do tipo construtivo quatro, a residência 1395. Os
104
valores simulados são comparados com valores observados. A tabela 34 apresenta uma análise
estatística dos valores de temperatura observados e simulados no período estudado.
Algumas Características da Habitação 1395:
• Número de cômodos: 3 - Número de cômodos para dormir: 1
• Numero total de Janelas no quarto:1
• Orientação quarto: 40o
• Tipo de Parede: Tijolo Maciço
• Tipo de Cobertura: telha de fibrocimento sem forro
• Tipo de Piso: Cimento queimado
• Localização: norte
• Tipo Construtivo: Tipo 3
Tabela 33 - Valores de temperatura observados e simulados (°C), para a casa 1395, para os períodos 13/08/03 a 18/08/05. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos, através da estação do IAG.
OBS EXT OBS INT SIM INT
Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
13/8/2005 11,4 23,4 18,0 25,0 15,7 23,4 14/8/2005 14,8 28,2 19,0 27,0 20,1 29,2 15/8/2005 14,5 28,4 21,0 29,0 19,8 28,4 16/8/2005 15,0 27,4 21,0 28,0 20,1 29,4 17/8/2005 12,4 28,4 21,0 29,0 18,3 29,9 18/8/2005 13,0 22,2 21,0 26,0 16,6 22,8
105
10
14
18
22
26
30
34
38
42
13/08
/05
14/08
/05
15/08
/05
16/08
/05
17/08
/05
18/08
/05Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS INT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 34: Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1395, período 13/08/05 a 18/08/05. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C). Tabela 34- Comparação estatística entre os valores de T observados e simulados internamente, na casa 1395, para o período 13/08/03 a 18/08/05. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos através da estação do IAG. (S-O): diferença entre simulação e observação.
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 20,2 27,3 18,4 27,2 13,5 26,3 DP 1,33 1,63 1,91 3,21 13,9 1,41
ERRO MÉDIO (S-O) -1,70 -0,20 4,9 0,90 DP ERRO 1,86 2,03 0,83 0,81
As temperaturas mínimas simuladas (linha azul tracejada) mostraram-se bastante
próximas dos valores observados internamente (linha vermelha tracejada), representando de
forma confiável o comportamento térmico na residência 1395, tabela 33. Analisando a tabela
34 e a figura 34, pode-se notar que os valores de temperatura mínima observados
internamente são, em geral, subestimados pela simulação, apresentando valores 1,7oC abaixo
das temperaturas observadas internamente.
106
Análise semelhante pode ser feita para as temperaturas máximas simuladas (Tmáx),
onde mesmo não estimando exatamente os valores de T o “padrão” de comportamento
térmico médio foi estabelecido (tabela 33 e figura 34). De maneira geral, os valores de Tmáx
simulados também subestimam os valores observados internamente, apresentando uma
diferença média de 0,2oC abaixo do observado (tabela 34).
Assim como nos casos anteriores, a simulação segue um padrão similar às
temperaturas observadas. As oscilações das temperaturas são bem representadas pela
simulação, principalmente se observado o comportamento das temperaturas externas (IAG).
Isso mostra a boa performance do software, que em situações extremas de tempo (períodos de
frio ou calor intensos), por exemplo, pode estimar de forma realista as temperaturas do
interior do domicilio (queda da temperatura dia 17/08/05, figura 34).
Considerando nesse período de simulação os erros apresentados entre temperaturas
simuladas e observadas internamente (Tmáx e Tmín), podem ser atribuídos às mudanças de
hábitos domiciliares, localização da residência, microclima local (fechamento das janelas, por
exemplo, diminuindo a ventilação, fato não considerado na simulação deste dia específico).
3.4.1.6 Tipo Construtivo 6
(Telhado: telha de barro, com forro de madeira; Parede: tijolo maciço; Piso: carpete).
A tabela 35 e a figura 35 mostram os valores de temperaturas (T) observados
(externamente pela estação do IAG, e internamente através das campanhas experimentais), e os
valores de simulados dessa variável pelo software Arquitrop, durante o período 20/07/04 a
26/07/04. Apresenta-se como representativo do tipo construtivo seis, a residência 1184. Os
valores simulados são comparados com valores observados. A tabela 36 apresenta uma análise
estatística dos valores de temperatura observados e simulados no período estudado.
107
Algumas Características da Habitação 1184:
• Número de cômodos: 3- Número de cômodos para dormir: 1
• Numero total de Janelas no quarto: 1
• Orientação quarto: 25
• Tipo de Parede: Tijolo Maciço;
• Tipo de Cobertura: telha de barro, com forro de madeira;
• Tipo de Piso: Carpete;
• Localização: zona Oeste
• Tipo Construtivo: Tipo 6
Tabela 35 - Valores de temperatura observados e simulados (°C), para a casa 1184, para o período 20/07/04 a 26/07/04. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos, através da estação do IAG. OBS EXT OBS INT SIM INT
Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
20/07/04 11,4 15,8 15 17 14 17 21/07/04 10,4 16,3 15 17 13 17 22/07/04 8,2 14,7 15 16 11 15 23/07/04 8,6 16,4 15 16 12 17 24/07/04 5,7 19,0 15 16 10 16 25/07/04 8,2 17,4 15 16 11 16 26/07/04 5,5 18,2 14 15 10 17
Tabela 36 Valores de temperatura observados e simulados (°C), para a casa 1184, para o período 20/07/04 a 26/07/04. Os valores internos foram medidos pelos termohigrógrafos, e os externos através da estação do IAG. (S-O): diferença entre simulação e observação.
OBS INT SIM INT OBS EXT Tmín Tmáx Tmín Tmáx Tmín Tmáx
MÉDIA 14,9 16,1 11,5 16,4 8,3 16,8 DP 0,38 0,69 1,45 0,50 2,19 1,47
ERRO MÉDIO (S-O) -3,40 0,20 3,0 -0,30 DP ERRO 1,31 0,74 0,63 1,41
108
4
8
12
16
20
24
28
20/07
/04
21/07
/04
22/07
/04
23/07
/04
24/07
/04
25/07
/04
26/07
/04Data
Tem
pera
tura
(oC
)
x
OBS INT Tmín OBS EXT Tmáx SIM INT TmínSIM INT Tmáx OBS EXT Tmín OBS EXT Tmáx
Figura 35: Valores de temperaturas observados, internamente pelos termohigrógrafos (linha vermelha) e externamente pelo IAG (linha verde), e os valores simulados de temperatura (linha azul). Casa 1184, período 20/07/04 a 20/07/04. As linhas cheias representam as máximas e às pontilhadas às mínimas, (°C).
Observando a figura 35 pode-se notar a boa performance térmica da residência 1184.
Conforme descrito por AROSTEGUI (1981), em geral, casas de melhor performance térmica
mostram pico de temperatura interna menor que o pico de temperatura externa. Os valores
máximos (e mínimos) de temperaturas são atenuados (reduzidos) pelo tipo de cobertura
existente na residência (telha de barro e forro de madeira). Dessa forma, tais valores
apresentam-se menores (maiores) que o observado fora da residência durante o dia (noite),
(IAG-USP). É notado também valor de temperaturas internas bastante estáveis durante o
período (linhas vermelhas). Segundo LAMBERTS (1988), a presença de forro (teto) sob a
cobertura, é necessária para reduzir a perda de calor durante o inverno, e o ganho de calor
durante o verão.
A figura 35 e a tabela 36, também mostram que as temperaturas máximas simuladas
(linha azul) têm um comportamento mais próximo aos valores observados internamente (linha
vermelha). A diferença média entre valores máximos, simulados e observados, foi de apenas
0,2 oC, com a simulação superestimando a observação.
109
Já as temperaturas mínimas simuladas não foram bem representadas pelo Arquitrop,
o qual as subestima, apresentando valores simulados de 3,4oC abaixo das temperaturas
observadas internamente (na média). Essa diferença pode ser devida à proteção contra o frio
existente na residência e a mudança de hábitos internos (fechamento das janelas, microclima
local e localização geográfica (fatos que não são considerados na simulação), visto que, o
período simulado foi um período de inverno e extremamente frio (inclusive apresentando o
dia mais frio do ano, com temperatura mínima de 5,5oC, estação IAG-USP).
3.4.1.7 Análise de Incerteza nas Simulações: “Possíveis Fontes de Erros”
Analisando todas as simulações apresentadas nessa seção (incluindo simulações não
mostradas aqui), pode-se concluir que existe uma boa relação entre o desempenho térmico
simulado pelo software e as temperaturas internamente observadas, através das campanhas
experimentais. Isso nos sugere que o software Arquitrop pode ser considerado como um bom
estimador do comportamento interno das residências, neste estudo de caso, para a cidade de
São Paulo.
Como estamos analisando o período climático 2003/2006 e buscamos uma relação com
períodos favoráveis à ocorrência de problemas respiratórios (chiado) em crianças (chiado), a
simulação do comportamento térmico interno, em função das condições meteorológicas pode
ser uma ferramenta bastante útil nesta investigação. À medida que se conheçam os períodos
críticos para a ocorrência das complicações (queda de temperatura), se poderiam projetar
(estimar) para o desencadeamento essa morbidade (chiado), específico para cada tipo
construtivo de residência. Alertas poderiam ser emitidos à população informando-as de tais
riscos para que medidas de prevenção possam ser tomadas.
110
Existiram, porém, diferenças entre as temperaturas simuladas pelo software e as
temperaturas internamente observadas. Abaixo serão apresentadas algumas possíveis “fontes
de erros” para essas diferenças.
Os principais pontos podem ser observados:
� O banco de dados meteorológicos externos, utilizados como entrada no Arquitrop,
(temperatura, máxima e mínima; umidade relativa; nebulosidade e vento) são oriundos
de uma região específica da cidade de São Paulo (estação IAG-USP), na zona Sul da
cidade, afastada a sudeste de onde estão localizadas as residências consideradas na
simulação (zonas Norte e Oeste da cidade; ver item 1.1). Fenômenos, como o da entrada
da brisa marítima, podem aumentar essas diferenças, em relação à região estudada, além
do IAG estar situado num parque, cuja área é bastante vegetativa.
� As informações sobre a taxa de ventilação útil do ambiente* a ser simulado nas
residências (tempo e horário de abertura das janelas e portas), são “informações
imprecisas”, fornecidas pela mãe da criança. Tais informações são consideradas iguais
para o software (mesma taxa de ventilação), ou seja, iguais taxa de ventilação para todo
o período simulado. Isso pode não representar bem certas situações. Por exemplo: a
entrada de uma massa de ar frio, durante o período de simulação não é informada.
Conseqüentemente, isso causará uma diferença entre as temperaturas simuladas
internamente e às observadas nas residências.
� As Informações a respeito dos hábitos domiciliares (atividades internas de seus
ocupantes) são informações comportamentais “médias” e também podem ser
“imprecisas”, podendo ser alteradas em determinadas situações.
111
� O software Arquitrop, de acordo com RORIZ (1996) “simula o desempenho térmico
e verifica as adequações climáticas de edificações, visando otimizar o conforto
ambiental e a economia de energia elétrica”. Armazenam em seu banco de dados
climáticos (Banclima), dados médios das variáveis meteorológicas, e com base nas
médias mensais calcula e apresenta graficamente a estimativa das variações horárias de
temperatura e umidade relativa do ar para cada mês do ano. Entretanto, utilizando dados
médios diários destas variáveis (além de informações construtivas das residências),
foram estimadas as variações horárias de temperatura para cada dia, ao invés dos
cálculos mensais destas. Isso também pode ser um fator de erro para a simulação.
� O local onde estão situadas as residências na cidade, e o seu entorno, podem criar um
“microclima local” e apresentar temperaturas diferentes das utilizadas (IAG-USP).
Segundo SILVA e RIBEIRO (2006), a ocupação do solo é um fator diferenciador das
temperaturas.
Conhecendo as limitações citadas acima, pode-se constatar que a simulação térmica
das residências segue um padrão similar às temperaturas internas, fornecendo uma boa “idéia”
e razoável aproximação às temperaturas reais observadas (itens 3.4.1.1 a 3.4.1.6). As
oscilações de temperaturas são bem representadas pelo Arquitrop, não em termos de valores
absolutos, mas em termos dos períodos de elevações e diminuições das temperaturas. Isso
mostra a boa performance do software, que em situações extremas de tempo, por exemplo,
pode estimar de forma realista as temperaturas do interior do domicilio. De conhecimento
disso, ao considerarem-se dados climáticos (meteorológicos) de entrada, seria possível uma
considerável redução dos erros entre os valores simulados e estimados.
112
De maneira geral, as simulações tiveram melhor performance nas estações outono e
primavera, quando comparado às estações verão e inverno. Em geral, os valores observados
pelos termohigrógrafos são subestimando (máximos e mínimos) pela simulação. Durante o
verão e inverno, nessas simulações das residências, com coberturas de fibrocimento sem
forro, e paredes de tijolos furados, as diferenças entre simulação e observação eram maiores,
embora o “padrão de comportamento interno” fosse seguido (casa 1025, por exemplo). Isso
não ocorre com a casa 1108, onde a cobertura é de laje sem forro, e as paredes são de tijolos
furados. Nesse caso, os erros entre simulado e observado foram bem menores, principalmente
com relação aos valores máximos. A explicação para isso para isso, é o maior ou menor
isolamento térmico existente nessas residências. Isso acarreta maiores erros na estimativa do
desempenho interno (1025), além de que os dados meteorológicos de entrada serem oriundos
de uma região não representativa, das condições de onde está localizada tal residência, local
bastante urbanizado (rio pequeno, zona oeste da cidade).
3.5 Análise Sinótica
Vários estudos têm sido realizado no mundo inteiro nos últimos anos, mostrando as
influências do tempo e do clima sobre a saúde da população (KATSOUYANNI et al. 1988;
KALKSTEIN 1993; KALKSTEIN and SMOYER 1993; MCMICHAELS et al. 1996;
NASTOS et al. 2006). Os efeitos das alterações no tempo e no clima, mais especificamente, a
estimativa da influência de certos tipos de tempo sobre a saúde humana (condições sinóticas
específicas), parecem ter fundamental importância nesse assunto. O aumento no número de
admissões hospitalares (morbidade) e na mortalidade diária por doenças respiratórias, em
várias regiões do mundo, por exemplo, têm uma relação importante e estatisticamente
significativa com incursões (entradas) de massas de ar frias (JAMASON, 1997; MAIA 2002;
BRAUN 2002; KASSOMENOS et al, 2006).
113
Neste trabalho, além da análise das condições sinóticas favoráveis ao
desencadeamento de problemas respiratórios (chiado) em crianças recém-nascidas da cidade
de São Paulo, será feita uma análise do papel desempenhado pela residência, no que tange a
suas características construtivas e sua adequação climática, especialmente em termos de suas
propriedades térmicas e armazenamento de umidade (estudos de caso).
Focou-se o estudo em crianças consideradas como as “mais chiadoras” - que durante
mais tempo permaneceram em consultas médicas - dentre todas as 376, pertencentes à
amostra inicial (recrutadas após de seu nascimento). Excluiu-se deste estudo, as crianças “não
chiadoras”. Foram selecionadas assim, aquelas crianças que apresentaram maior número de
complicações respiratórias (episódios de chiado), durante o período 2003 a 2006, totalizando
vinte e nove episódios (casos) analisados sinoticamente.
A posição das frentes e anticiclones foi identificada com o auxílio dos dados da re-
análise do NCEP/NOAA (National Center for Environment Prediction/National Oceanic and
Atmospheric Administration), através dos campos de vento e temperatura, ao nível de 925 hPa
e o campo de pressão ao nível médio do mar. As imagens do satélite GOES 8 (DSA/INPE),
no canal infravermelho e os dados da estação meteorológica do IAG/USP, foram utilizadas
para situar o posicionamento das zonas frontais. Para ilustrar a trajetória das parcelas de ar, foi
usado o modelo de trajetória “Hysplit-NOAA”, versão 4.
Foram então identificadas para o período 2003 a 2006, as seguintes situações
sinóticas, baseadas na metodologia utilizada por BRAUN (2002), e em KALKSTEIN (1993):
� Alta Polar Marítima (APM ): caracterizada pelo deslocamento marítimo do
anticiclone extratropical;
� Alta Polar Continental (APC): caracterizada pelo deslocamento continental
do anticiclone extratropical;
114
� Frente Fria (FF) na região metropolitana de São Paulo;
� Pré- Frontal (Pré): quando a frente fria se encontra ao sul do estado de São
Paulo
A figura 36 apresenta os 29 “episódios de chiado” (7 residências) analisados durante o
período 2003 a 2006, contrastados com os valores de temperaturas mínimas e máximas,
observados pela estação do IAG/USP.
Figura 36 – Variação sazonal dos episódios de chiado nas residências 1025, 1027, 1108, 1395, 1133, 1008, 1196. São Paulo, 2003 a 2006.
A figura 37 mostra a variação sazonal dos episódios de chiado analisados durante o
período de estudo, separados por estações do ano. As estações do ano foram divididas da
seguinte forma: Primavera (setembro a novembro), Verão (dezembro a fevereiro), Outono
(março a maio) e Inverno (junho a agosto). Observa-se um aumento dos episódios no final dos
meses de inverno e início da primavera e um menor aparecimento destes durante a estação do
verão, porém, todos associados às condições de quedas das temperaturas.
115
2
3
1
1
2
5
1
6
3
1
3
1
2003
2004
2005
2006 Outono Inverno
Primavera Verão
Figura 37 – Variação sazonal dos episódios de chiado. São Paulo, 2003 a 2006. Residências 1025, 1027, 1108, 1395, 1133, 1008, 1196. São Paulo, 2003 a 2006.
NASTOS et al. 2006, relacionando os impactos do tempo sobre a morbidade
respiratória na cidade de Atenas, Grécia, também haviam destacado que há um aumento na
morbidade no período da primavera e este é possivelmente explicado pelo fato de que nesse
período as condições do tempo mostram grande variabilidade, além dos polens serem
alérgenos e serem espalhados na atmosfera. GIOULEKAS et al (2004), para a cidade de
Thessaloniki, Grécia, observa que na época de inverno e primavera, a ocorrência de mudanças
de tempo repentinas são as responsáveis pelo aumento no número de consultas hospitalares
por resfriado e gripe. Os resultados encontrados são consistentes com os encontrados por
MAIA (2002), que estudando a morbidade respiratória de crianças para a cidade de São
Paulo, também distinguiu um comportamento sazonal mensal, com aumento das internações
hospitalares nos meses mais frios e a conseqüente diminuição nos meses mais quentes.
Por fim, independente da estação, as crises de chiado ocorridas entre 2003 a 2006,
sempre estiveram associadas a quedas de temperaturas do ar. É oportuno ressaltar também
que uma conclusão exata a respeito da ocorrência intra-sazonal (entre estações) dos episódios
116
de chiado apresentados aqui é prematura, visto que, foram analisados até o momento somente
vinte e nove casos e essa amostra é ainda bastante pequena. Por outro lado, salienta-se que o
propósito desse trabalho não estabelecer épocas, ou estações climáticas onde os episódios
acontecem, e sim, estudar as condições meteorológicas (situações sinóticas) favoráveis ao
desencadeamento de tais crises nas crianças, a fim de que futuramente se possa estabelecer
um sistema de alerta. Este sistema permitiria a tomada de decisões, pelos órgãos públicos, no
sentido de prevenir e minimizar possíveis impactos causados a saúde da população de São
Paulo.
A figura 38 mostra a freqüência dos sistemas sinóticos de grande escala que atuaram
sobre a cidade de São Paulo, durante a ocorrência de episódios de chiado nas crianças.
Levando-se em conta informações relativas ao dia específico de ocorrência da crise de chiado,
contidas nos prontuários médicos (informadas pela mãe da criança), essas condições sinóticas
foram consideradas como “fatores desencadeadores para os episódios de chiado”, ou
recorrência de chiado (do ponto de vista meteorológico). Isto é, quando houve “crise de
chiado”, a atmosfera de São Paulo estava sob o domínio destas condições de tempo. Observa-
se que mais da metade dos episódios (48% ou 14 eventos) foi influenciado pela passagem do
anticiclone polar marítimo (APM) pelo litoral do estado de São Paulo. Sistemas frontais (FF)
foram responsáveis pela ocorrência de 41% dos episódios (12 eventos), apenas 7% dos
episódios (2 eventos) foram atribuídos a situações Pré- frontais, ou seja, quando a frente fria
se encontrava ao sul do estado de São Paulo e a cidade estava sob influência de um sistema de
alta pressão atmosférica (anticiclone semi-permanente) e por fim, apenas 3,4% (1 evento) foi
atribuído à passagem de uma massa de ar polar continental por São Paulo (APC). Este evento
foi o episódio de “Friagem” mais forte do mês de maio de 2003, quando a massa de ar frio de
característica continental esteve bastante intensa e sua teve deslocamento até o sul da região
Norte do Brasil (CLIMANÁLISE, maio/2003). A condição Pré-frontal, segundo vários
117
pesquisadores (SETZER, 1982; MANFREDINI, 1988; KERR, 1993; CCOYOLO et al 2002;
ABREU, 1985, ANDRADE, 1994) pode ser um indicativo à ocorrência de altas
concentrações de poluentes atmosféricos sobre a RMSP e assim como as situações anteriores
serão melhores discutidos mais adiante (item 3.5.1.5).
3,4%
6,9%
41,4%
48,3%
FF
APM
Pré
APC
Figura 38 - Freqüência dos sistemas sinóticos que atuaram sobre a cidade de São Paulo, nos episódios de chiado, 2003 a 2006.
A tabela 37 apresenta a distribuição das crianças com “chiado” (chiadoras), a data de
suas consultas hospitalares (Hospital das Clínicas) e a data de ocorrência (surgimento) de
chiado (conforme relatado pela mãe da criança, ao médico). São mostradas também, as
variações das temperaturas externas às residências (IAG-USP), desde os dias que antecederam
os episódio, até o dia do aparecimento do problema (informado pela mãe), bem como, a queda
de temperatura ocorrida no período. Foi chamada de “lag” a situação em que a data de
ocorrência do chiado (informada pela mãe) não coincidiu com a data de início da queda de
temperatura, ou seja, quando a crise de chiado foi posterior a data de início da queda de
118
temperatura. Tal defasagem pode ser útil para posterior criação de um sistema de alerta e
prevenção, para estas enfermidades. É Notado que independente da magnitude, ou da
intensidade da queda de temperatura (coluna cinco), existe a ocorrência de episódios de
chiado, demonstrando que não há um limiar de temperatura específico que possa determinar o
surgimento dessa morbidade, e sim uma associação com o decaimento da temperatura. Essa
relação, porém, varia conforme o tipo construtivo de residência (características construtivas)
sendo mais rápida e ocorrendo no mesmo dia da queda de temperatura (lag 0), ou de forma
mais lenta e acontecendo até 5 dias (lag 5), após o início da queda da temperatura. Ressalta-se
que, segundo informações da mãe da criança que, “as crises de chiado sempre começavam
quando ocorriam quedas de temperatura”, ou seja; o problema surgia quando a temperatura
começava a cair.
As figuras 39 e 40 ilustram as trajetórias dos sistemas sinóticos APM (48% dos casos)
e as FF (41% dos casos) no momento em que esses ingressam na cidade de São Paulo. Pode-
se observar que além de ocasionar a queda das temperaturas (T), proporcionada pela
passagem das frentes frias (FF), o posicionamento destes sistemas também acarreta (através
de sua circulação) o aumento da umidade relativa (UR), que, tende a ser transportada para o
interior das residências. Dependendo das características construtivas de tais residências, essa
UR pode ser armazenada e mantida por um longo tempo no interior desses ambientes (vários
dias), contribuindo para ativar, agravar ou ocasionar problemas de saúde nas crianças
(TROMP, 1980). Ao analisar essas duas variáveis (T e UR) e os períodos de surgimento de
chiado nas crianças, é estabelecida uma relação importante e isso parece ser fundamental para
o desencadeamento do chiado.
A classificação de uma massa de ar se dá a partir da sua região de origem (região onde
ela se forma). As massas dependem da superfície e da latitude em que se formam e assim,
cada massa de ar possui características particulares. As massas de ar polar, P (se formam
119
próximas às regiões polares) são divididas em Continental, C, (sobre o continente) e
Marítima, M (sobre o oceano). A polar continental se forma sobre a Antártica, sendo uma
massa de ar fria, estável, seca e rasa. A polar marítima é caracterizada como fria, instável,
úmida e profunda, e se origina a partir da transformação da massa de ar polar continental,
atuando pelo oceano (NIMER, 1989). Ambas as massas (C e M) estão inserida em um sistema
de alta pressão (anticiclone, A), que é uma região alta pressão atmosférica, caracterizada por
maiores valores de pressão em seu centro e que apresenta movimentos subsidentes de ar.
Nesse trabalho analisaram-se 16 massas de ar polar marítimas (PM) que se originaram a partir
da transformação de massas de ar polar continental (PC). A massa de ar frio, originária das
altas latitudes, apresentava inicialmente um deslocamento continental, até a latitude 30oS
(aproximadamente), posteriormente, deslocando para o oceano. Quando esse sistema de alta
pressão influenciava São Paulo, já possuía características marítimas, sendo assim classificado
como APM (deslocamento pelo oceano). A única massa de ar com característica continental,
desse estudo (ACP), ingressou no Brasil dia 06/05/03 e foi bastante intensa, atuando nas
regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e sul da região Norte do Brasil (CLIMANÁLISE,
maio/2003). Durante esse evento, o dia de ocorrência do chiado, 09/05/2003, apresentou
temperatura mínima de 9°C, registrada em São Paulo (IAG-USP), às 6 horas da manhã (figura
39 (h)).
120
Tabela 37 - Distribuição dos episódios de chiado estudados por residências estudados. São Paulo, 2003 a 2006. Dados obtidos a partir da estação do IAG-USP, em °C.
ID Consulta Chiado Lag Queda T (Máx/Mín)
∆T dia início da queda
∆T dia término da
queda
Queda Tmáx
Queda Tmín
Situação Sinótica
Casa 1025 08/05/03 01/05/03 0 10,0/6,7 9,9 6,6 7,4 5,4 FF
Casa 1025 02/08/06 24/07/06 0 1,6/0,6 18,6 17,8 1,3 0 Pré
Casa 1027 21/03/03 07/03/03 0 5,1/0 9,5 4,4 5,1 0 FF
Casa 1027 17/07/03 14/07/03 5 16,0/4,0 14,4 2,4 16 4 APM
Casa 1027 22/09/03 14/09/03 1 4,3/0,6 9,7 2,4 4,3 0,6 APM
Casa 1108 25/03/04 04/03/04 1 9,8/1,3 10,3 1,8 9,8 1,3 FF
Casa 1108 27/05/04 15/05/04 3 9,0/2,7 4,5 13 2,7 9 APM
Casa 1108 14/06/04 07/06/04 5 6,3/5,6 7,6 13,8 5,6 6,3 APM
Casa 1108 17/09/04 15/09/04 1 6,5/5,7 12,1 12,7 2,4 3 APM
Casa 1395 09/01/06 26/12/05 2 7,0/4,0 11,7 7,3 7 4 APM
Casa 1133 16/08/04 12/08/04 1 3,0/3,7 12,5 13 2,9 3,5 APM
Casa 1133 02/09/04 28/08/04 3 11,4/0 14,4 1,7 11,4 0 APM
Casa 1008 16/05/03 09/05/03 3 5,1/5,4 8,1 8,4 5,1 5,4 APC
Casa 1008 13/07/03 10/07/03 1 16,0/4,0 14,4 3,8 10,7 0,1 FF
Casa 1008 25/08/03 24/08/03 0 18,5/3,5 17,1 7 11,9 1,8 FF
Casa 1008 19/09/03 15/09/03 3 4,3/0,6 9,7 2,4 4,3 0,6 APM
Casa 1008 03/10/03 20/09/03 0 7,8/2,4 13,8 8,4 7,8 2,4 APM
Casa 1008 24/10/03 10/10/03 1 14,1/4,4 12,5 2,7 11,2 1,4 FF
Casa 1008 31/10/03 24/10/03 3 8,4/2,4 8,4 2,4 8,4 2,4 APM
Casa 1008 22/11/03 15/11/03 3 13,0/5,2 13,4 5,6 13 5,2 APM
Casa 1008 01/12/03 27/11/03 0 11,4/4,7 9,8 5,4 8,6 4,2 FF
Casa 1008 29/01/04 25/01/04 0 7,3/0,5 8,2 1,3 7 0,1 FF
Casa 1008 19/03/04 12/03/04 3 5,4/1,4 12 5 7,5 1,4 FF
Casa 1008 26/08/04 22/08/04 1 3,5/0 14,9 10 3,5 0 FF
Casa 1196 01/10/04 17/09/04 3 8,4/5,7 12,1 11,3 6,5 5,7 APM
Casa 1196
Casa 1196
Casa 1196
Casa 1196
13/12/04
02/06/05
09/11/05
18/04/06
06/12/04
19/05/05
02/11/05
28/03/06
0
0
2
0
6,6/4,6
0,9/1,3
2,6/1,1
5,5/2,5
10
11,1
5,1
10,3
8,8
11,5
3,6
4,3
1,7
0,9
2,6
6,6
0,5
1,3
1,1
0,6
FF
Pré
APM
FF
∆T: Amplitude térmica (diferença entre Tmáx e Tmín); FF : Frente Fria; APM: Alta Polar Marítima; Pré: Pré-Frontal; APC: Alta Polar Continental; Queda T: queda da temperatura máxima (Tmáx); e queda da temperatura mínima (Tmín) entre o começo e o término de atuação do sistema sobre São Paulo. Lag: Período entre o início da queda das temperaturas, até o dia do aparecimento do chiado (informado pela mãe). No caso da situação pré-frontal, lag foi considerado o período onde ocorreu o pico máximo dos poluentes e o dia do aparecimento de chiado.
121
(a) (b) (c) (d) (e)
(f) (g) (h) (i) (j)
(k) (l) (m) (n)
Figura 39 - Posição dos sistemas Alta Polar Marítima (APM) e Alta Polar Continental (APC) atuantes na cidade de São Paulo, durante dois episódios de chiado: 2003 a 2006. Os pontos destacados em preto representam o momento da chegada da massa de ar em São Paulo, no dia de ocorrência do chiado na criança.
122
(a) (b) (c)
(d) (e)
(f) (sem dados)
(g) (h) (i)
(j) (k) (l)
Figura 40 - Posição das Frentes Frias (FF) atuantes na cidade de São Paulo, durante os episódios de chiado: 2003 a 2006.
3.5.1 Estudos de casos
A partir dos vinte e nove episódios de chiado foram selecionados cinco eventos para
se para se realizar uma análise sinótica mais detalhada. Escolheram-se quatro eventos em
distintos períodos climáticos entre os anos 2003 e 2006, em que crianças chiadoras,
123
moradoras de diferentes residências, apresentaram diferentes complicações respiratórias
(chiado, tosse, ou outra infecção). Foram casos em que “coincidiram”, o período da consulta
hospitalar e o período de início da crise na criança. Os problemas apresentados foram iguais
ou diferentes, mesmo ambas as crianças, da cidade de São Paulo, estando sob a influência de
igual condição sinótica (massa de ar, frente fria, ou situação pré-frontal). A hipótese a ser
investigada é que a residência, através do seu tipo construtivo, possa desempenhar um papel
fundamental para o desencadeamento das crises de chiado nas crianças, principalmente no que
se refere às variáveis: temperatura do ar e umidade relativa.
O quinto caso selecionado foi baseado na concentração de poluentes CO, PM10, SO2, O3, NO2.
Foram escolhidos dois períodos onde se atribuiu que os episódios de chiado possam ter sido
causados pelo aumento nas concentrações dos poluentes sobre a cidade de São Paulo, nos dias
que antecederam as crises. As condições atmosféricas eram desfavoráveis para a dispersão
dos poluentes durante esses dias, possibilitando a deterioração da qualidade do ar. A tabela 38
e a figura 41 apresentam a distribuição das residências com a respectiva identificação da
criança, a data da consulta, a data do problema e o tipo de complicação respiratória
apresentada.
124
Tabela 38. Distribuição das crianças “chiadoras”, quanto à data e ao problema apresentado pela criança.
ID Consulta Problema Data problema Sistema
1025 08/05/2003 Chiado 01/05/03 Caso I
1027 08/05/2003 Respiração ruidosa 05/05/03
FF
FF
1008 19/09/2003 Chiado 15/09/03 APM Caso II
1027 22/09/2003 Chiado 14/09/03 APM
1133 16/12/2004 Respiração ruidosa 09/12/04 FF Caso III
1196 13/12/2004 Chiado 06/12/04 FF
1108 01/10/2004 Chiado 15/09/04 APM Caso IV
1196 01/10/2004 Chiado 17/09/04 APM
Caso V 1196 02/06/2005 Chiado 19/05/05 Pré*
1025 02/08/2006 Chiado 24/07/05 Pré* ID: código identificador da criança (casa); FF, frente fria; APM, alta polar marítima;* situação com
elevados índices de poluição
Figura 41 – Localização das residências selecionadas para os cinco estudos de caso, na
cidade de São Paulo (1025, 1027, 1108, 1133, 1196).
125
3.5.1.1 Caso I - Eventos dos dias 01/05/2003 e 05/05/2003
A figura 42 (a), (b) apresenta os campos de pressão ao nível do mar (PNM),
temperatura e vento ao nível de 925 hPa, para as 12Z do dia 02/05/2003. A figura 43 mostra a
imagem de satélite GOES 8 (INPE/CPTEC), no canal infravermelho, para o dia 01/05/03, às
12Z. A Análise dessas figuras mostra o deslocamento de uma frente fria (FF) desde o sul do
Brasil em direção a São Paulo. Esse sistema atingiu São Paulo do dia 01, deslocou-se pelo
interior até a região Centro-oeste e pelo litoral, até Vitória/ES, quando perdeu força e
enfraqueceu no dia 03 (CLIMANÁLISE, maio/2003). Durante sua trajetória essa FF causou
chuva fraca (7 mm) e queda das temperaturas na cidade de São Paulo. Na retaguarda dessa
FF, nota-se a entrada de uma massa de ar frio (continental) pelo oeste do Rio Grande do Sul,
que atingiu nos dias 02 e 03 a região Centro-Oeste e o sul da região norte, (nos dias) 02 e 03.
De acordo com os dados da estação IAG/USP, entre os dias 01 e 03, houve queda de 10°C na
Tmáx e de 7°C na Tmín (figura 44). No dia 04 o anticiclone associado a essa massa de ar frio
já se encontrava sobre o oceano.
(a) (b)
Figura 42 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 02/05/03.
126
Figura 43 - Imagem de satélite GOES-8, canal infravermelho para o dia 01/05/2003 às 12Z.
0
5
10
15
20
25
30
35
1/5/2003 2/5/2003 3/5/2003 4/5/2003 5/5/2003
T (C
elsi
us)
.
0102030405060708090100
UR
(%)
.
Chuva Neb Tmáx Tmin UR média
Figura 44 – Variáveis observadas na estação IAG/USP. Tmáx (temperatura máxima diária), Tmín (temperatura mínima diária), UR (umidade relativa média diária), nebulosidade média diária, Chuva (precipitação total diária).
O caso I da tabela 38 mostra que a chegada da FF em São Paulo no dia 01 afetou de
maneira diferente às crianças das residências 1025 e 1027. Enquanto uma criança apresentou
problemas de chiado (1025), a outra apresentou respiração ruidosa (1027). Analisando as
127
características construtivas dessas residências observa-se que a residência 1025 é composta
por paredes de tijolos furados, ausência de forro e cobertura de telha de fibrocimento. Esse
tipo de residência é caracterizado também por apresentar consideráveis aberturas à ventilação,
entre a parede e as esquadrias. Isso nos sugere que há uma penetração imediata das condições
externas (temperatura, umidade do ar e vento) para seu interior, não havendo por parte destes
materiais construtivos um amortecimento, ou uma grande inércia térmica (massa térmica) que
possa retardar (amortecer) tais variáveis, advindas do ambiente externo. O impacto do tempo
neste tipo construtivo (tijolo furado/ausência de forro/cobertura de fibrocimento) é bastante
rápido e pode causar o surgimento de complicações respiratórias (neste caso, o aparecimento
de chiado) no mesmo dia que inicia a queda da temperatura externa (“lag” 0). Ou seja,
qualquer aumento ou diminuição (mesmo pequeno) de T e UR externas, modificará as
condições do ambiente interno. Isso não ocorre em residências de outros tipos construtivos
(por exemplo, 1027), onde há um maior retardamento / amortecimento destas variáveis (maior
massa térmica). Para elas serem sentidas internamente é necessária manutenção de tais
condições (aumento ou diminuição) por um maior período de tempo. O impacto nesses casos,
em geral se dá nos dias subseqüentes (1 a 2 dias; tabela 37). Os tipos de residências
semelhantes à 1027, devido a suas características construtivas (tipo construtivo 7 - parede de
bloco de concreto com cobertura de laje e piso de carpete) parecem ter uma ventilação mais
deficiente, além de armazenar uma maior quantidade de umidade em seu interior. O sintoma
de respiração ruidosa, apresentado pela criança 1027 (dia 05), ilustra essa situação. Ocorreu a
passagem de uma nova frente fria (FF), provocando aumento da umidade, precipitação fraca e
queda das temperaturas (dias 01 a 03). No dia 05, áreas de instabilidades associadas à
formação de uma frente fria no litoral do Rio de Janeiro causaram chuva leve em São Paulo e
proporcionaram novo declínio da temperatura (máxima) (figura 44). Apesar de essa queda ser
pequena os ventos mantiveram a direção Leste (E), e davam suporte para manutenção e
128
aumento da umidade do ar sobre São Paulo, nesse dia. As características construtivas da casa
1027 devem ter possibilitado um maior armazenamento de umidade em seu interior, que se
“somou” (desde a passagem da FF e da APM dos dias anteriores), a nova precipitação
ocorrida dia 05. Esse frio úmido pode ter sido o motivo para o surgimento das complicações
respiratórias (respiração ruidosa), da criança 1027. De maneira geral, um “leve” aumento na
umidade do ar pode causar problemas de chiado respiratório na criança da residência 1025,
enquanto que para o desencadeamento deste na criança da residência 1027, é necessário
elevados teores de umidade sejam mantidos por mais dias.
As tabelas 39 e 40 apresentam as variáveis internas T e UR amostradas em períodos
simultâneos para as residências 1025 e 1027 e a tabela 41, as mesmas variáveis para o
ambiente externo (IAG-USP). A residência 1027 teve três períodos diferentes de medidas (em
geral, sete dias cada) e a residência 1025, quatro períodos medidos. Porém, foram 15 dias
medidos simultaneamente, pertencentes a três estações do ano de 2003 (Verão, Outono,
Inverno).
Comparando as residências 1025 e 1027, observa-se claramente que a residência 1025
apresenta-se mais quente e mais seca durante o dia (Tmáx maior e URmín menor) e, mais fria
e “levemente” mais úmida durante a noite (madrugada) (Tmín menor e URmáx maior), o que
pode ser explicado por suas características construtivas. Isto é; possuir uma cobertura de baixa
inércia térmica (telha de fibrocimento) que proporciona um maior acúmulo de calor durante o
dia (incidência da radiação solar) e um rápido resfriamento noturno, além de dispor de
grandes espaços entre suas estruturas que permitem a entrada de grandes volumes de ar
(conforme comentado anteriormente). Já a residência 1027, se caracteriza por apresentar um
maior quantidade de umidade (UR), principalmente durante o dia. Quando se observa a UR
média entre duas residências, torna-se correta a afirmação de que em média, esta residência é
mais úmida que à 1025.
129
Ao se caracterizar os períodos de medidas, através estações climáticas, verão, outono,
inverno, fica claro que verão e inverno são as estações que mais evidenciam essas diferenças
de T e UR entre as residências. A casa 1025 é a mais desconfortável para ambas as estações,
sendo mais fria no inverno e mais quente no verão. Para o outono, os valores parecem estar
próximos e essa diferença quase não é notada. Comparando as duas residências com o seu
exterior (estação IAG/USP), observa-se em geral, que ambas são mais quentes e mais úmidas
que o ambiente externo (Tméd e URméd).
Tabela 39 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1025 e a sua correspondente estação do ano: Verão (v), Outono (o), Inverno (i). São Paulo, 2003. T em oC e UR em %.
Tmín Tmáx Tméd Urmín Urmáx URmédia Estação
31/01/03 21,4 27,0 24,2 74 98 86 V 01/02/03 21,4 39,0 30,2 35 98 66,5 V 02/02/03 21,4 39,8 30,6 27 98 62,5 V 13/05/03 19,8 27,4 23,6 35 80 57,5 O 14/05/03 18,4 28,0 23,2 39 90 64,5 O 15/05/03 19,0 30,0 24,5 42 94 68 O 16/05/03 18,8 30,0 24,4 50 96 73 O 17/05/03 18,2 31,0 24,6 40 96 68 O 18/05/03 16,6 30,6 23,6 42 83 62,5 O 19/05/03 16,2 29,8 23,0 47 88 67,5 O 22/08/03 19,0 35,0 27,0 43 97 70 I 23/08/03 24,0 36,0 30,0 44 98 71 I 24/08/03 22,0 35,0 28,5 41 87 64 I 25/08/03 17,0 25,0 21,0 75 98 86,5 I 26/08/03 16,0 20,0 18,0 92 98 95 I Média 19,3 30,9 25,1 48,4 93,3 70,8
Dp 2,4 5,3 3,6 17,8 6,1 10,4 Dp: Desvio padrão
130
Tabela 40 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1027 e a sua correspondente estação do ano: Verão (v), Outono (o), Inverno (i). São Paulo, 2003. T em oC e UR em %.
Tmín Tmáx Tméd URmin URmáx URmédia Estação
31/01/03 24,0 25,0 24,5 72 77 74,5 V 01/02/03 25,0 27,0 26,0 69 85 77,0 V 02/02/03 27,0 28,0 27,5 35 83 59,0 V 13/05/03 22,4 23,2 22,8 70 90 80,0 O 14/05/03 22,0 24,0 23,0 75 94 84,5 O 15/05/03 22,8 24,0 23,4 76 95 85,5 O 16/05/03 23,4 24,4 23,9 73 98 85,5 O 17/05/03 24,0 25,0 24,5 69 98 83,5 O 18/05/03 24,0 25,0 24,5 62 88 75,0 O 19/05/03 24,0 25,0 24,5 60 87 73,5 O 22/08/03 22,0 24,0 23,0 59 96 77,5 I 23/08/03 23,0 25,0 24,0 60 94 77,0 I 24/08/03 24,0 26,0 25,0 70 98 84,0 I 25/08/03 24,0 26,0 25,0 91 98 94,5 I 26/08/03 21,0 24,0 22,5 91 98 94,5 I Média 23,5 25,0 24,3 68,8 91,9 80,4
Dp 1,4 1,3 1,3 13,5 6,6 8,8 Dp: Desvio padrão
Tabela 41 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na estação do IAG/USP e a sua correspondente estação do ano: Verão (v), Outono (o), Inverno (i). São Paulo, 2003. T em oC e UR em %.
Tmín Tmáx Tméd URmin URmáx URmédia Estação
31/01/03 20,1 24,3 22,2 72 98 85 V 01/02/03 19,2 30,6 24,9 44 97 70,5 V 02/02/03 18,5 32,1 25,3 27 95 61 V 13/05/03 13,6 23,3 18,4 46 97 71,5 O 14/05/03 16,5 24,1 20,3 51 94 72,5 O 15/05/03 17,6 25 21,3 53 95 74 O 16/05/03 16,7 25,5 21,1 44 93 68,5 O 17/05/03 15,2 26,3 20,75 39 93 66 O 18/05/03 13,9 25,6 19,75 43 93 68 O 19/05/03 12,5 24,1 18,3 44 98 71 O 22/08/03 10,1 28,9 19,5 53 96 74,5 I 23/08/03 10,6 29,9 20,25 34 96 65 I 24/08/03 13,6 30,7 22,15 35 95 65 I 25/08/03 11,8 18,8 15,3 44 97 70,5 I 26/08/03 10,1 12,5 11,3 39 98 68,5 I Média 14,7 25,4 20,1 44,5 95,7 70,1
Dp 3,3 5,0 3,5 10,4 1,8 5,5 Dp: Desvio padrão
131
3.5.1.2 Caso II - Eventos dos dias 15/09/2003 e 14/09/2003
A figura 45 apresenta os campos de pressão reduzida ao nível do mar e vento ao nível
de 925 hPa (fig. 45a), e temperatura ao nível de 925 hPa (fig. 45b), para as 12Z do dia
13/09/2003. Observa-se nessa figura a presença de uma frente fria (FF) deslocando-se desde o
norte do Rio Grande do Sul (RS) até o centro da região Sudeste, durante o dia 13. Pelo
interior essa FF atuou em São Paulo (SP) e Minas Gerais (MG) e pelo litoral desde o RS, até o
Rio de Janeiro (RJ) causando chuvas fracas. Através da figura 46 (a) e (b) nota-se que no dia
14 esse sistema já se deslocava em direção ao oceano. As figuras 47 (a) e (b) mostram as
imagens de satélite para os dias 13/09/2003 e 14/09/2003, às 12Z, onde se pode observar a
nebulosidade associada e a abrangência desse sistema. Na retaguarda desta FF nota-se o
ingresso de uma massa de ar frio que durante sua trajetória, pelo sul do Rio Grande do Sul,
causou leve declínio das temperaturas nas regiões sul e sudeste, posteriormente deslocando-se
para o oceano. A estação meteorológica do IAG/USP registrou queda de 3°C nas temperaturas
máximas e queda de 1°C nas temperaturas mínimas, entre os dias 13 e 14. É oportuno
ressaltar que desde o dia 10 de setembro São Paulo apresentava dias nublados, úmidos, com
chuvas e temperaturas baixas (figura 48). Isso foi ocasionado pela chegada da FF do dia 09, a
primeira do mês, seguida de uma massa de ar frio, que influenciou a região sudeste nos dias
10 e 11 causando declínio das temperaturas. No dia 11, por exemplo, a temperatura mínima
registrada pela estação do IAG foi 9,2°C, uma das mais baixas do inverno daquele ano (figura
48). Nos dias subseqüentes (até a entrada da frente do dia 13), o anticiclone no oceano,
proporcionava ventos do quadrante Sul/Sudeste (SSE) que mantinham o transporte de ar frio e
úmido sobre São Paulo.
132
(a) (b)
Figura 45 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 13/09/03.
(a) (b)
Figura 46 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 14/09/03.
133
(a) (b)
Figura 47 - Imagem de satélite GOES-8, canal infravermelho das 12Z para o dias 13 e 14 de setembro de 2003.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
9/9/2003 10/9/2003 11/9/2003 12/9/2003 13/9/2003 14/9/2003
tem
pera
tura
(oC
)
.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
UR
(%)
.
chuva nebulosidade Tmáx Tmín UR
Figura 48 – Variáveis observadas na estação IAG/USP: Tmáx (temperatura máxima diária), Tmín (temperatura mínima diária), UR (umidade relativa média diária), nebulosidade média diária, Chuva (precipitação total diária).
O caso II da tabela 38 mostra que a chegada da FF em São Paulo (dia 13) seguida de
uma massa de ar frio, afetou de maneira semelhante às crianças das residências 1008 e 1027.
134
Ambas apresentaram problemas de chiado, entretanto a criança 1008 apresentou a crise um
dia depois da criança 1027.
Analisando as características construtivas dessas residências (vide item 4.4.1),
observa-se que tanto a 1008 quanto a 1027, são compostas por paredes de tijolos furados,
ausência de forro e cobertura de laje, constituindo-se no tipo construtivo 7. Esses tipos
construtivos armazenam uma grande quantidade de umidade em seu interior e, seu tipo de
cobertura (laje de concreto) e o fato de estar sob e sobre outros pavimentos (entre pavimentos)
impede o ideal (e igual) recebimento da radiação solar em sua total estrutura. Além disso, a
taxa de ventilação nessas residências (grupo 7) parece ser deficiente (com áreas muito
pequenas, ou sem janela, no caso da casa 1008). Nos episódios de chiado apresentado pelas
crianças 1027 e 1008 (dias 14 e 15/09/2003, respectivamente), a cidade de São Paulo já se
encontrava sob a influência de uma massa de ar frio (APM), que associada ao anticiclone
posicionado sobre o oceano continuava a transportar umidade e influenciar a queda das
temperaturas (conforme descritas anteriormente, figuras 45, 46 e 47).
As tabelas 42 e 43 mostram as variáveis T e UR internas e os respectivos períodos de
medida para as residências e para a estação do IAG-USP. A residência 1008 teve dois
períodos de medidas (04/04/203 a 10/04/2003 e 09/01/2004 a 15/01/20004), enquanto a
residência 1027, três períodos (27/01/2003 a 02/02/2003, 15/05/2003 a 19/05/2003 e
22/08/2003 a 28/08/2003), não existindo, portanto, um período simultâneo de medidas entre
elas (impossibilitando uma comparação entre ambas). Entretanto, comparando-as com o
ambiente exterior (estação IAG-USP, tabela 44), observam-se as que as temperaturas internas,
tanto da residência 1008 quanto da 1027, apresentam-se mais elevadas (na média) que o
ambiente externo, especialmente com relação às temperaturas mínimas. Isso era de se esperar,
já que em tal período de ocorrência destas temperaturas (madrugada) as residências se
encontram protegidas (janelas e portas fechadas) e não há perda radiativa através da cobertura
135
(laje de concreto), como ocorre na residência 1025 (cobertura de fibrocimento sem forro), por
exemplo, (caso anterior).
Analisando a umidade dessas residências nota-se que há uma maior quantidade de UR
dentro destes ambientes (na média) e tal umidade é visivelmente maior e mais notada durante
o dia (às tardes, URmín), na residência 1027, devido a sua localização (área bastante
vegetada, próximo a represa de Guarapiranga). Durante as noites (URmáx), observa-se que na
residência 1027 a UR é menor que o ambiente externo, enquanto na residência 1008 essa
umidade é maior. Entretanto, essa diferença não é tão significante (92% e 96% e 98% e 95%,
respectivamente, 1027 e IAG, e 1008 e IAG).
Tabela 42 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1008 e a sua correspondente estação do ano (E): Verão (v), Outono (o). São Paulo, 2003 e 2004. Temperatura em (oC).
Casa 1008 IAG/USP Tmín Tmáx Tméd URmin URmáx URméd Tmín Tmáx Tméd URmín URmáx URméd E
4/4/2003 27,0 28,6 27,8 86,0 98,0 92,0 19,3 21,4 20,4 80 94 87 O
5/4/2003 26,6 28,6 27,6 85,0 98,0 91,5 18,9 25,6 22,3 55 92 73,5 O 6/4/2003 26,4 28,2 27,3 87,0 97,0 92,0 17,3 21,2 19,3 81 97 89 O
7/4/2003 25,2 27,9 26,6 85,0 97,0 91,0 16,4 18,8 17,6 76 94 85 O
8/4/2003 24,8 28,6 26,7 86,0 97,0 91,5 15,4 22,6 19,0 70 94 82 O
9/4/2003 26,6 30,2 28,4 74,0 97,0 85,5 17,8 26,0 21,9 62 94 78 O
10/4/2003 27,6 20,8 24,2 91,0 97,0 94,0 19,4 22,7 21,1 79 96 87,5 O
9/1/2004 21,8 22,4 22,1 90,0 98,0 94,0 17,6 22,4 20,0 90 100 95 V
10/1/2004 21,2 23,4 22,3 91,0 98,0 94,5 17,3 26,4 21,9 79 100 89,5 V
11/1/2004 22,0 26,0 24,0 92,0 98,0 95,0 15,8 31,0 23,4 66 94 80 V
12/1/2004 23,8 25,6 24,7 91,0 98,0 94,5 19,6 26,9 23,3 80 93 86,5 V
13/1/2004 23,0 25,0 24,0 92,0 98,0 95,0 18,9 25,3 22,1 80 94 87 V
14/1/2004 23,2 26,0 24,6 85,0 98,0 91,5 18,9 29,8 24,4 83 90 86,5 V
15/1/2004 23,4 26,0 24,7 86,0 98,0 92,0 20,0 29,2 24,6 87 92 89,5 V
Média 24,5 26,2 25,4 87,2 97,6 92,4 18,0 25,0 21,5 76,3 94,6 85
Dp 2,1 2,7 2,0 4,7 0,5 2,5 1,5 3,6 2,1 9,7 2,8 5,5
136
Tabela 43 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1027 e a sua correspondente estação do ano (E): Verão (v), Outono (o), Inverno (i). São Paulo, 2003. Temperatura em oC.
3.5.1.3 Caso III - Eventos dos dias 06/12/2004 e 00Z do dia 07/12/2004
As figuras 49 e 50, (a) e (b), apresentam os campos de pressão ao nível do mar (PNM)
e vento ao nível de 925hPa(49a e 50a), e temperatura ao nível de 925 hPa (49b e 50b), para as
12Z do dia 06/12/2004 e 00Z do dia 07/12/2004, respectivamente. A figura 51 (a) e (b) mostra
as imagens de satélite para os mesmos dias e horários. Observa-se nessas figuras a presença
de uma frente fria (FF) sobre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, deslocando-
se que posteriormente em direção a São Paulo, tanto pelo interior como pelo litoral. Essa FF
teve rápido deslocamento, atingindo o estado de São Paulo na noite do dia 06, causando
chuvas e queda das temperaturas (figuras 50a e 51a). A partir do dia 09 e 10 essa se deslocou
em direção ao litoral do Espírito Santo, e permaneceu semi-estacionária no litoral da região
Sudeste, dando origem ao primeiro episódio de ZCAS (CLIMANÁLISE, dezembro/2004).
Casa 1027 IAG/USP Tmín Tmáx Tméd URmin URmáx URméd Tmín Tmáx Tméd URmín URmáx URméd E
31/1/2003 24,0 25 24,5 72 77 74,5 20,1 24,3 22,2 72 98 85 V
1/2/2003 25,0 27 26 69 85 77 19,2 30,6 24,9 44 97 70,5 V
2/2/2003 27,0 28 27,5 35 83 59 18,5 32,1 25,3 27 95 61 V
13/5/2003 22,4 23,2 22,8 70 90 80 13,6 23,3 18,4 46 97 71,5 O
14/5/2003 22,0 24 23 75 94 84,5 16,5 24,1 20,3 51 94 72,5 O
15/5/2003 22,8 24 23,4 76 95 85,5 17,6 25 21,3 53 95 74 O
16/5/2003 23,4 24,4 23,9 73 98 85,5 16,7 25,5 21,1 44 93 68,5 O
17/5/2003 24,0 25,0 24,5 69 98 83,5 15,2 26,3 20,7 39 93 66 O
18/5/2003 24,0 25,0 24,5 62 88 75 13,9 25,6 19,7 43 93 68 O
19/5/2003 24,0 25,0 24,5 60 87 73,5 12,5 24,1 18,3 44 98 71 O
22/8/2003 22,0 24,0 23 59 96 77,5 10,1 28,9 19,5 53 96 74,5 I
23/8/2003 23,0 25,0 24 60 94 77 10,6 29,9 20,2 34 96 65 I
24/8/2003 24,0 26,0 25 70 98 84 13,6 30,7 22,1 35 95 65 I
25/8/2003 24,0 26,0 25 91 98 94,5 11,8 18,8 15,3 44 97 70,5 I
26/8/2003 21,0 24,0 22,5 91 98 94,5 10,1 12,5 11,3 39 98 68,5 I
Média 23,5 25,0 24,3 68,8 91,9 80,4 14,7 25,4 20,1 44,5 95,7 70,1
Dp 1,4 1,3 1,3 13,5 6,6 8,8 3,3 5,0 3,5 10,4 1,8 5,5
137
A figura 52 mostra os valores observados através da estação do IAG/USP. Pode-se
notar que desde o dia 06 São Paulo passou por dias com chuvas, úmidos e com quedas das
temperaturas. Esse dia, dia da chegada da frente fria foi registrada a temperatura máxima de
29,2°C na estação meteorológica, às 12hs (HL) e a temperatura mínima de 19,2°C, às 24hs.
Houve queda de 9°C entre as 12 e 14hs.
(a) (b)
Figura 49 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 06/12/2004.
(a) (b)
Figura 50 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 07/12/2004.
138
(a) (b)
Figura 51 - Imagem de satélite GOES-8 composta no canal infravermelho para o dia 06/12/2004 às 12Z e para o dia 07/12/2004 às 00Z (Master/IAG/USP).
0
5
10
15
20
25
30
35
5/12/2
004
6/12/2
004
7/12/2
004
8/12/2
004
9/12/2
004
10/12
/2004
11/12
/2004
0102030405060708090100
Chuva nebulosidade Tmáx Tmin UR
Figura 52 – Variáveis observadas na estação IAG/USP: Tmáx (temperatura máxima diária), Tmín (temperatura mínima diária), UR (umidade relativa média diária), nebulosidade média diária, Chuva (precipitação total diária).
139
O caso III da tabela 38 mostra que a chegada da FF em São Paulo no dia 06 afetou de
maneira diferente às crianças das residências 1196 e 1133. Enquanto uma criança apresentou
problemas de chiado (1196), a outra apresentou respiração ruidosa (1133). Analisando as
características construtivas dessas residências observa-se que a residência 1196 é composta
por paredes de tijolos furados, ausência de forro, e cobertura de telha de fibrocimento. Esse
tipo de residência é caracterizado também por apresentar aberturas à ventilação entre a parede
e a as esquadrias e baixo isolamento térmico (estrutura construtiva semelhante a residência
1025). Conforme descrito no item 3.4.1.1, existe nesse caso, uma rápida penetração das
variáveis externas (temperatura, umidade do ar, vento, poluição, e variáveis outras intrínsecas
às próprias crianças) para o meio interior, não havendo por parte de seus materiais
construtivos uma resistência térmica (isolamento térmico) eficiente capaz de amortecer, ou
minimizar os efeitos de tais variáveis (idem residência 1025). O impacto pode ser bastante
rápido e causar o aparecimento de complicações respiratórias (aparecimento de chiado) no
mesmo dia em que inicia a queda da temperatura no ambiente externo (“lag” 0, tabela 37).
Qualquer aumento ou diminuição de T e UR externas (mesmo pequeno), por exemplo, poderá
alterar as condições do ambiente interno. No caso do episódio de chiado apresentado pela
criança 1196, nota-se que o problema apareceu no mesmo dia da chegada do frente fria (dia
06, a noite), que trouxe aumento da umidade, chuva e queda das temperaturas, ou seja, “massa
fria e úmida” (figuras 49a e 51b).
No caso da residência 1133, sua característica construtiva (cobertura de laje de
concreto), faz com que haja um maior retardamento / amortecimento das variáveis externas
(maior massa térmica), e assim, para que as alterações do ambiente externo sejam sentidas
internamente é necessário que tais condições de tempo (diminuição de T e aumento de UR,
chuva, etc..) persistam por um período maior de dias. O impacto nesses casos, em geral, se dá
nos dias subseqüentes (1 a 3 dias; tabela 37). Essa residência tem tipo construtivo semelhante
140
à residência 1027 (caso I, item 3.4.4.1). Devido a suas características, esse tipo de construção
parece ter também uma ventilação mais deficiente, além de armazenar uma maior quantidade
de umidade em seu interior. Segundo informações respondidas pela mãe (questionários),
“essa casa é úmida, apresenta mofo no teto do banheiro e durante o verão, bate sol na casa
somente em parte do dia”. O evento de respiração ruidosa apresentado pela criança 1133 (dia
09) exemplifica essa situação. É um caso semelhante ao problema apresentado pela criança da
casa 1027 (caso I). A chegada da FF (06/12/2004) provocou aumento da umidade,
precipitação e a queda das temperaturas. O tempo instável sobre São Paulo nos dias seguintes
manteve essas condições até o dia 09, quando esse sistema começou a se deslocar para o
Espírito Santo e um anticiclone ingressou pelo Rio Grande do Sul e se deslocou pelo litoral
das regiões Sul e Sudeste (CLIMANÁLISE, dezembro/2004). Essa condição de tempo úmido,
com chuva e queda nas temperaturas que se estendeu desde o dia 06, provavelmente
armazenou um alto teor de umidade no interior da residência (1133), fato esse que pode estar
diretamente associado ao aparecimento das complicações respiratórias na criança nos dias
subseqüentes (respiração ruidosa, dia 09).
As tabelas 44 e 45 apresentam as variáveis internas T e UR amostradas nas residências
1196 e 1133 e as mesmas variáveis, medidas no ambiente externo (IAG-USP). A residência
1133 acumulou três diferentes períodos de medidas (em geral, seis dias cada) e a 1196, apenas
um período de medida (6 dias). A exemplo do caso anterior, não houve períodos simultâneos
de medidas nas duas residências, possibilitando uma comparação entre elas. Assim, faz-se
uma comparação entre os ambientes internos e externos (IAG), para estas residências.
A residência 1196 (medida na terceira semana mais fria do inverno de 2004)
apresenta-se mais quente e mais úmida (Tméd e URméd maiores) que o ambiente exterior.
Tal umidade é consideravelmente maior durante o dia (URmín: 71,5% e 39%,
respectivamente). No período da noite (madrugada), a umidade interna também é elevada,
141
levemente maior que o ambiente externo (URmáx: 98% e 95%, respectivamente). Com
relação às temperaturas é interessante notar que as máximas são praticamente iguais às
observadas no ambiente externo e as mínimas são maiores que aquelas registradas pela
estação do IAG-USP, como era de esperar. A condição sinótica que influenciava São Paulo
nesse período, medido internamente (13/08/04 a 18/08/04) era de predomínio de uma massa
de ar frio e seco. O tempo manteve-se ensolarado, com baixa umidade relativa, ventos fracos
e ausência de nebulosidade, ao longo do período. Ao relacionar essa condição de tempo ao
tipo construtivo da residência 1196, era de se esperar temperaturas internas bem mais
elevadas do que as que foram registradas externamente. A explicação para que isso não
ocorreu, pode estar associada ao fato de a residência ter recebido pouca (ou nenhuma) luz
solar durante esses dias (devido a sua localização geográfica, ficar próxima a uma região
bastante vegetada, parque horto florestal, zona norte da cidade, bem como, seu entorno com
presença de outras residências que não permitiam a incidência do sol nessa habitação).
Com relação à residência 1133, pode-se dizer que esta também se caracterizou como
mais quente e mais úmida que o meio exterior, sobretudo durante as tardes quando a URmín
foi maior (70% e 52%, respectivamente). Porém, ao observar-se as temperaturas máximas
constata-se que as Tmáx são menores que as Tmáx externas. Durante a noite (madrugada)
ambas as UR apresentaram-se bastante altas, sendo praticamente iguais, com valores em torno
dos 94% e 95%.
Analisando o conforto interno dessas residências, nesse período, constata-se a
sensação de moderado stress térmico por frio durante as manhãs de inverno (16oC<TE<19 oC)
e a sensação mais confortável no período da tarde TE2, (tabelas 46 e 47). Estes resultados
estão de acordo (MAIA, 2002; BRAUN, 2002, COELHO, 2008), porém, para ambientes
internos.
142
Tabela 44 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1196 e a sua correspondente estação do ano: Inverno (i). São Paulo, 2004 oC.
Casa 1196 IAG TmínTmáx Tmed URmin URmáx URméd Tmin Tmax Tmed URmin URmáx URméd E 13/08/04 16,6 19,2 17,9 88,0 98,0 93,0 7,4 18,9 13,2 43,0 95,0 69,0 I 14/08/04 16,0 20,6 18,3 79,0 98,0 88,5 7,2 20,2 13,7 44,0 92,0 68,0 I 15/08/04 17,2 21,2 19,2 79,0 98,0 88,5 9,8 21,5 15,7 48,0 96,0 72,0 I 16/08/04 18,2 22,6 20,4 68,0 98,0 83,0 10,8 23,4 17,1 37,0 97,0 67,0 I 17/08/04 19,2 24,2 21,7 62,0 98,0 80,0 10,1 25,2 17,7 34,0 94,0 64,0 I 18/08/04 21,0 26,6 23,8 53,0 98,0 75,5 11,1 27,0 19,1 28,0 94,0 61,0 I MÉDIA 18,0 22,4 20,2 71,5 98,0 84,8 9,4 22,7 16,1 39,0 94,7 66,8
Dp 1,8 2,7 2,2 12,9 0,0 6,4 1,7 3,1 2,3 7,4 1,8 3,9 Dp: desvio padrao Tabela 45 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1027 e a sua correspondente estação do ano: Verão (v), Outono (o). São Paulo, 2004 e 2005. Temperatura em oC.
Casa 1133 IAG Tmín Tmáx Tméd URmín URmáx URméd Tmín Tmáx Tméd URmín URmáxURméd E 29/04/04 20,0 22,8 21,4 70 89 79,5 13,7 24 18,9 36 95 65,5 O 30/04/04 20,0 23,4 21,7 88 100 94 13,9 25,1 19,5 38 95 66,5 O 01/05/04 20,0 24,6 22,3 55 100 77,5 13 24,6 18,8 38 97 67,5 O 02/05/04 21,2 26,6 23,9 68 100 84 14,9 26,8 20,9 40 95 67,5 O 03/05/04 22,4 26,0 24,2 72 100 86 16 27,7 21,9 42 96 69 O 04/05/04 23,8 25,6 24,7 92 100 96 17,1 26,6 21,9 50 96 73 O 05/05/04 23,0 25,4 24,2 92 100 96 17 25 21,0 92 97 94,5 O 03/12/05 18,0 20,0 19,0 79 100 89,5 13,9 18 16,0 75 96 85,5 V 04/12/05 18,0 20,0 19,0 74 100 87 14,1 27,4 20,8 47 92 69,5 V 05/12/05 20,0 22,0 21,0 79 100 89,5 14,9 29 22,0 52 92 72 V 06/12/05 21,0 22,0 21,5 77 100 88,5 17 26,7 21,9 67 96 81,5 V 07/12/05 19,0 21,0 20,0 65 84 74,5 15 20,9 18,0 64 94 79 V 08/12/05 19,0 20,0 19,5 66 76 71 13,6 24,5 19,1 56 94 75 V 06/05/05 22,0 24,0 23,0 49 85 67 13,8 24,2 19,0 49 95 72 O 07/05/05 19,0 25,0 22,0 50 81 65,5 13,5 25,6 19,6 56 97 76,5 O 08/05/05 19,0 25,0 22,0 59 80 69,5 12,9 24,3 18,6 46 96 71 O 09/05/05 20,0 24,0 22,0 77 90 83,5 16,2 23,6 19,9 48 97 72,5 O 10/05/05 21,0 24,0 22,5 76 96 86 16,8 25,1 21,0 43 96 69,5 O 11/05/05 20,0 24,0 22,0 50 95 72,5 15,9 27,8 21,9 48 96 72 O MÉDIA 20,3 23,4 21,9 70,4 93,5 81,9 14,9 25,1 20,0 51,9 95,4 73,7
Dp 1,6 2,1 1,7 13,4 8,4 9,7 1,4 2,5 1,6 14,2 1,5 7,2
143
Tabela 46 – Valores dos índices de conforto térmico (TE) as residência 1196 e para estação do IAG/USP. São Paulo, 2004. TE1 é a combinação da Tmáx e URmín; TE2 é a combinação da Tmáx e Urmáx; TE3 é a é a combinação da Tmín e URmín; TE4 é a combinação da Tmín e Urmáx
Casa 1196 TE1 TE2 TE3 TE4
13/08/04 18,9 19,1 16,3 16,5 14/08/04 20,1 20,5 15,5 16,0 15/08/04 20,6 21,1 16,6 17,1 16/08/04 21,6 22,5 17,2 18,1 17/08/04 22,8 24,1 17,8 19,1 18/08/04 24,5 26,5 18,9 20,9 MÉDIA 21,4 22,3 17,0 18,0
Tabela 47 – Valores dos índices de conforto térmico (TE) a residência 1133 e para estação do IAG/USP. São Paulo, 2004 e 2005. TE1 é a combinação da Tmáx e URmín; TE2 é a combinação da Tmáx e Urmáx; TE3 é a é a combinação da Tmín e URmín; TE4 é a combinação da Tmín e Urmáx. T em oC
Casa 1133 TE1 TE2 TE3 TE4
29/04/04 21,3 22,2 18,8 19,6 30/04/04 22,8 23,4 19,5 20,0 01/05/04 22,0 24,6 18,2 20,0 02/05/04 24,5 26,6 19,8 21,2 03/05/04 24,2 26,0 21,0 22,4 04/05/04 25,1 25,6 23,4 23,8 05/05/04 24,9 25,4 22,6 23,0 03/12/05 19,2 20,0 17,3 18,0 04/12/05 19,0 20,0 17,2 18,0 05/12/05 21,0 22,0 19,2 20,0 06/12/05 20,9 22,0 20,0 21,0 07/12/05 19,5 20,3 17,7 18,4 08/12/05 18,6 19,0 17,8 18,1 06/05/05 21,1 23,2 19,6 21,3 07/05/05 22,0 23,9 17,2 18,3 08/05/05 22,5 23,8 17,5 18,3 09/05/05 22,7 23,4 19,1 19,6 10/05/05 22,7 23,8 19,9 20,8 11/05/05 21,2 23,7 18,0 19,8 MÉDIA 21,8 23,1 19,1 20,1
144
3.5.1.4 Caso IV - Eventos dos dias 15/09/2004 e 17/09/2004
As figuras 53 e 54 apresentam os campos de pressão ao nível do mar (PNM) e vento
ao nível de 925 hPa (53a e 54a), e temperatura ao nível de 925 hPa (53b e 54b), para os dias
15/09/2004 e 17/09/2004, às 12Z. A figura 55 (a) e (b) mostra as imagens de satélite para os
mesmos dias e horários. A análise destas figuras mostra, a formação de uma frente fria no
litoral Norte de São Paulo e o estado do Rio de Janeiro. Segundo a CLIMANÁLISE
(setembro/2004), essa FF provocou precipitações e ventos fortes no litoral da região Sudeste,
se deslocando posteriormente para o oceano onde enfraqueceu. No Rio Grande do Sul (RS) a
entrada de uma massa de ar frio no dia 15 provocou declínio das temperaturas em toda a
região sul do País. A presença desse anticiclone associado a um ciclone extratropical
posicionado no litoral desse Estado criou uma “pista de vento”, favorecendo a queda das
temperaturas em São Paulo a partir do dia 15. No dia 17/09/2004, esse anticiclone já se
encontrava sobre o oceano, porém, ainda mantendo as temperaturas em queda sobre São
Paulo. Através das imagens de satélites (figura 55), observa-se à circulação associada a esse
anticiclone sobre o RS, bem como, a presença do ciclone extratropical no litoral desse Estado
(56a). A figura 56 mostra os valores observados através da estação do IAG/USP, entre os dias
10/09/2004 e 17/09/2004. Pode-se notar um máximo de temperatura observado no dia 14,
seguido de sua queda, a partir do dia 15 pela manhã até o dia 16. No dia 17, a amplificação da
circulação de brisa marítima (não mostrada aqui), provocada pela presença do anticiclone
próximo ao litoral da região Sul (ventos de ESE), manteve as temperaturas baixas até o
período da tarde.
145
(a) (b)
Figura 53 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 15/09/2004.
(a) (b)
Figura 54 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 17/09/2004.
146
(a) (b)
Figura 55 - Imagem de satélite GOES-8 composta no canal infravermelho, para os dias 15/09/2004 e 17/09/2004 às 12Z (Master/IAG/USP).
0
5
10
15
20
25
30
10 11 12 13 14 15 16 17Data
Tem
pera
tura
(oC
)
.
0102030405060708090100
UR
(%
)
.
Chuva Nebulosidade Tmax Tmin URmed
Figura 56 – Variáveis observadas na estação IAG/USP: Tmáx (temperatura máxima diária), Tmín (temperatura mínima diária), UR (umidade relativa média diária), nebulosidade média diária, Chuva (precipitação total diária) entre os dias 10/09/2004 e 17/09/2004 .
147
O caso IV da tabela 38 mostra que a massa de ar frio, associada ao anticiclone polar
marítimo (APM) influenciou São Paulo a partir do dia 15 e afetou de forma semelhante às
crianças das residências 1108 e 1196, ambas apresentando problemas de chiado no peito. A
diferença foi de que a criança 1108 apresentou a crise dia 15/09/2004 e a criança 1196 dois
dias depois, dia 17/09/04. Analisando as características construtivas dessas residências,
observa-se que a casa 1196 possui uma estrutura construtiva de paredes de tijolos furados,
ausência de forro, cobertura de telhas de fibrocimento (similar à residência 1025). Já a
residência 1108 é semelhante à residência 1133, composta por paredes de tijolos furados, sem
forro, cobertura de laje e piso de cerâmica. A análise da quantidade de calor e umidade
armazenados por parte dessas residências pode ser feita similarmente casas 1196 e 1133 (ver
item 3.4.1.3). Assim, constata-se que a residência 1108 tem maior isolamento térmico
(cobertura de laje), quando comparada a 1196 (cobertura de fibrocimento).
As tabelas 48 e 49 mostram as variáveis T e UR internas, os respectivos períodos de
medidas nas residências 1108 e 1196 e seus valores correspondentes ao ambiente externo,
observados pela estação do IAG/USP. A residência 1108 teve quatro períodos de medidas,
contabilizando 22 dias com valores de T e UR internos, e a residência 1196 apresentou apenas
um período medido. Porém, esse período de medida (13/08/2004 a 18/08/2004) coincidiu com
o medido na residência 1108 e assim foi possível uma comparação entre as residências e,
entre elas e o seu ambiente exterior (IAG).
Observa-se que temperaturas internas, tanto da casa 1108 quanto da casa 1196
apresentaram-se mais elevadas que o ambiente exterior, especialmente com relação às
temperaturas mínimas (18°C, 18,2°C e 9,4°C, respectivamente). Como as medidas pertencem
à estação de inverno e o período de ocorrência das Tmín é pela manhã, era de se esperar essa
situação, visto que, nesse período as residências se encontram protegidas das influências do
meio exterior (janelas e portas fechadas). Ao se observar as temperaturas entre as residências,
148
tanto máximas quanto mínimas, notam-se valores muito próximos, ligeiramente maiores,
porém, na casa 1108 (grupo construtivo 7). Isso pode ser um indicativo da baixa (ou
nenhuma) incidência de sol nas duas habitações, com grande área de sombra, já que elas
possuem tipos construtivos diferentes. Tal hipótese é levantada, visto que, se houvesse a
incidência de sol nessas residências, a casa 1196, devido à suas características construtivas
(tipo 2), apresentaria temperaturas mais elevadas que a residência 1108 (tipo 7). Uma análise
mais detalhada precisa ser realizada nessas residências. Externamente esses dias
apresentaram-se ensolarados, com baixa umidade relativa, ventos fracos e ausência de
nebulosidade. Analisando a UR dessas residências e do ambiente externo pode-se observar a
grande quantidade de umidade presente no interior das mesmas, principalmente durante as
tardes quando tal umidade é visivelmente maior (URmín: 71,5%, 75% e 67%,
respectivamente). Durante as noites (URmáx), também é observado que as residências são
mais úmidas que o ambiente externo. Comparando a umidade entre as residências 1108 e
1196 nota-se uma grande semelhança entre os valores amostrados, tanto para a umidade
mínima quanto para a umidade máxima. Esse fato reforça a hipótese levantada anteriormente,
de que essas residências não devam receber boa quantidade de sol.
A queda das temperaturas a partir do dia 14 (figura 51), associada a alta umidade
existente no interior das residências pode ter desencadeado os problemas de chiado nas
crianças dessas residências. Fato de a residência 1196 ter apresentado o problema dos dias
depois que o chiado apresentado pela criança 1108 (15/09), pode ser devido aos fatores
internos, peculiares à residência 1196, bem como, a fatores biológicos intrínsecos da criança e
merecem ser mais detalhadamente estudados, uma vez que era de se esperar mais rápido
aparecimento da complicação na criança 1196 ( devido ao seu tipo construtivo).
149
Com relação ao conforto interno nessas residências, pode-se observar (tabela 50) a
sensação de moderado desconforto por frio durante as manhãs de inverno (TE3) e a sensação
confortável no período da tarde (TE2).
Tabela 48 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1196 e a sua correspondente estação do ano: Inverno (i). São Paulo, 2004. Temperatura em oC.
Casa 1196 IAG
13/08/04 Tmín 16,6
Tmáx 19,2
Tmed 17,9
URmin 88,0
URmáx 98,0
URméd 93,0
Tmin 7,4
Tmax 18,9
Tmed 13,2
URmin 43,0
URmáx 95,0
URméd 69,0
E I
14/08/04 16,0 20,6 18,3 79,0 98,0 88,5 7,2 20,2 13,7 44,0 92,0 68,0 I 15/08/04 17,2 21,2 19,2 79,0 98,0 88,5 9,8 21,5 15,7 48,0 96,0 72,0 I 16/08/04 18,2 22,6 20,4 68,0 98,0 83,0 10,8 23,4 17,1 37,0 97,0 67,0 I 17/08/04 19,2 24,2 21,7 62,0 98,0 80,0 10,1 25,2 17,7 34,0 94,0 64,0 I 18/08/04 21,0 26,6 23,8 53,0 98,0 75,5 11,1 27,0 19,1 28,0 94,0 61,0 I MÉDIA 18,0 22,4 20,2 71,5 98,0 84,8 9,4 22,7 16,1 39,0 94,7 66,8 Dp 1,8 2,7 2,2 12,9 0,0 6,4 1,7 3,1 2,3 7,4 1,8 3,9 Tabela 49 – Valores de temperatura mínima (Tmín), máxima (Tmáx) e média (Tméd) e umidade relativa mínima (URmín), máxima (URmáx) e média (URméd), observados na residência 1108 e a sua correspondente estação do ano: Verão (v), Outono (o). São Paulo, 2004 e 2005. Temperatura em oC.
Casa 1108 IAG
Tmín Tmáx Tméd URmín URmáx URméd Tmín Tmáx Tméd URmín URmáx URmed E 24/01/04 23,8 26,6 25,2 85 98 91,5 18,6 26,1 22,4 69 96 82,5 V 25/01/04 25,0 29,0 27,0 74 98 86 15,8 18,7 17,3 89 96 92,5 V 12/08/04 15,4 20,4 17,9 80 98 89 10,9 17,2 14,1 58 91 74,5 I 13/08/04 16,0 20,6 18,3 78 98 88 7,4 18,9 13,2 43 95 69 I 14/08/04 16,6 22,0 19,3 72 98 85 7,2 20,2 13,7 44 92 68 I 15/08/04 18,0 23,6 20,8 83 98 90,5 9,8 21,5 15,7 48 96 72 I 16/08/04 19,0 24,8 21,9 67 98 82,5 10,8 23,4 17,1 37 97 67 I 17/08/04 19,4 24,8 22,1 85 98 91,5 10,1 25,2 17,7 34 94 64 I 18/08/04 20,0 26,4 23,2 64 98 81 11,1 27 19,1 28 94 61 I 11/05/05 24,0 27,0 25,5 43 62 52,5 15,9 27,8 21,9 36 98 67 O 12/05/05 22,0 27,0 24,5 45 63 54 14,6 27,9 21,3 35 95 65 O 13/05/05 24,0 28,0 26,0 45 66 55,5 16,6 28,7 22,7 45 96 70,5 O 14/05/05 24,0 28,0 26,0 39 62 50,5 17,1 28,5 22,8 40 93 66,5 O 15/05/05 24,0 28,0 26,0 50 60 55 16,2 27,6 21,9 40 95 67,5 O 16/05/05 24,0 28,0 26,0 39 60 49,5 15,1 28,5 21,8 29 94 61,5 O 17/05/05 25,0 27,0 26,0 45 59 52 15,9 26,1 21,0 46 89 67,5 O 06/12/05 23,0 29,0 26,0 55 67 61 17 26,7 21,9 67 96 81,5 V 07/12/05 20,0 24,0 22,0 50 70 60 15 20,9 18,0 64 94 79 V 08/12/05 19,0 26,0 22,5 50 65 57,5 13,6 24,5 19,1 56 94 75 V 09/12/05 20,0 28,0 24,0 41 61 51 15,4 28,3 21,9 53 94 73,5 V 10/12/05 23,0 29,0 26,0 50 60 55 17,1 29,6 23,4 56 95 75,5 V 11/12/05 20,0 25,0 22,5 55 62 58,5 13,8 18,6 16,2 88 95 91,5 V MÉDIA 21,1 26,0 23,6 58,9 77,2 68,0 13,9 24,6 19,2 50,2 94,5 72,4 Dp 3,0 2,6 2,7 16,2 17,9 16,7 3,3 4,0 3,2 17,0 2,0 8,6
150
Tabela 50 – Valores dos índices de conforto térmico (TE) a residência 1196. São Paulo, 2004. TE1 é a combinação da Tmáx e URmín; TE2 é a combinação da Tmáx e Urmáx; TE3 é a é a combinação da Tmín e URmín; TE4 é a combinação da Tmín e Urmáx. Temperatura em oC.
Casa 1196 Casa 1108 TE1 TE2 TE3 TE4 TE1 TE2 TE3 TE4
13/08/04 18,9 19,1 16,3 16,5 19,7 20,5 15,5 16,0 14/08/04 20,1 20,5 15,5 16,0 20,7 21,9 15,9 16,5 15/08/04 20,6 21,1 16,6 17,1 22,7 23,5 17,5 17,9 16/08/04 21,6 22,5 17,2 18,1 22,8 24,7 17,8 18,9 17/08/04 22,8 24,1 17,8 19,1 23,9 24,7 18,8 19,3 18/08/04 24,5 26,5 18,9 20,9 24,0 26,3 18,6 19,9 MÉDIA 21,4 22,3 17,0 18,0 22,3 23,6 17,3 18,1
3.5.1.5 Caso V - Eventos dos dias 02/06/2005 e 02/08/2006
(a) Episódio de chiado dia 19/05/2005: criança 1196
A figura 57 apresenta os campos de pressão reduzida ao nível do mar (PNM), vento
horizontal e temperatura ao nível de 925 hPa para as 12Z do dia 11/05/2005. Observa-se a
presença de uma frente fria ao sul do Brasil e o predomínio de um sistema de alta pressão
(anticiclone) influenciando parte norte da região Sul (SC e PR) e as regiões Sudeste e Centro-
Oeste do Brasil, bem como, os valores de temperaturas registrados em todas essas regiões,
bastante agradáveis para esse horário (20 a 24°C). Essa massa de ar frio ingressou no sul do
Rio Grande do Sul no dia 7/05/2005 e no dia 8 deslocou-se para o oceano causando leve
declínio das temperaturas na região Sudeste do Brasil (CLIMANÁLISE, maio/2005). O
anticiclone associado a essa massa de ar permaneceu próximo ao litoral do estado de SP,
apresentando subsidência sobre a cidade de São Paulo e criando uma atmosfera estável,
acrescida de ventos fracos, até o dia 19/05/2005. A figura 58 mostra os campos de pressão ao
nível do mar (PNM), e os campos de temperatura ao nível de 925 hPa para as 00Z do dia
20/05/2005, dia em que foram observadas as maiores concentrações de poluentes. A cidade de
São Paulo encontrava-se sob o domínio da circulação anticiclônica, enquanto no extremo sul
do Brasil uma nova FF começava a se organizar (figuras 58 e 59). Essa situação (“pré-
frontal”) contribui para um aumento na concentração de poluentes sobre a cidade. Esse
151
sistema se deslocou e alcançou São Paulo na tarde do dia 21, provocando precipitações fracas
(18 mm), diminuição das temperaturas (queda de 3°C), e alteração no regime dos ventos
(velocidade e direção), favorecendo a remoção dos poluentes da atmosfera (figura 60). Esse
assunto, relacionando a influência das condições meteorológicas na concentração dos
poluentes atmosféricos sobre a RMSP tem sido estudado por muitos pesquisadores (SETZER
at al, 1980; ABREU, 1985; MANFREDINI, 1988; ANDRADE et al, 1994; CETESB, 1999;
CCOYOLLO AND ANDRADE, 2002; FREITAS, 2003; GONÇALVES et al, 2004 e 2007).
(a) (b)
Figura 57 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 11/05/2005.
(a) (b)
Figura 58 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 20/05/2005.
152
(a) (b)
Figura 59 - Imagem de satélite GOES-8 composta no canal infravermelho para o dia 20/05/2005 às 12Z (Master/IAG/USP).
0
5
10
15
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12/5
13/5
14/5
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17/5
18/5
19/5
20/5
21/5
22/5
Data
Tem
pera
tura
(°C
)
.
0102030405060708090100
Chuva Nebulosidade Tmáx Tmin UR
Figura 60 – Variáveis observadas na estação IAG/USP: Tmáx (temperatura máxima diária), Tmín (temperatura mínima diária), UR (umidade relativa média diária), nebulosidade média diária, Chuva (precipitação total diária). Maio de 2005.
153
As figuras 61 a 65 mostram o comportamento dos poluentes atmosféricos amostrados
na cidade de São Paulo pelas estações de qualidade do ar da CETESB, no período 11/05/2005
a 19/05/2005. São apresentadas as concentrações médias diárias dos poluentes: material
particulado inalável (PM10), Ozônio (O3), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono
(CO), dióxido de nitrogênio (NO2), amostrados nas estações de qualidade do ar Santana,
Cambuci, Ibirapuera, Centro, Nossa Senhora do Ó, Congonhas, Cerqueira César, Pinheiros,
Horto Florestal e Moca (CETESB, 2006). Criou-se uma “Estação de Qualidade do Ar Média”
(médias das concentrações horárias e diárias, dos poluentes amostrados pelas estações de
qualidade do ar da zona urbana de São Paulo). Além de obter valores mais representativos dos
níveis de poluição atmosférica da cidade (com relação à localização das casas 1025 e 1196),
também esta criação auxilia na redução dos problemas com os dados faltantes em cada
estação.
Observando o comportamento do poluente PM10 (figura 61), nota-se a elevação
gradual de suas concentrações médias, a partir do dia 14/05/2005, até o dia 19, quando esse
poluente atingiu o seu valor máximo de concentração para o período: 79,05µg/m3 (média de
24 horas) Após esse dias as concentrações começam a cair. Esse fato pode ser explicado pela
entrada de brisa marítima na tarde do dia 19, mostrada pelo aumento da umidade relativa
(13hs) e pela mudança do vento para SE, (não mostrado aqui). Ao se considerar as
concentrações médias horárias desse particulado inalável, durante o dia 19, observam-se
valores da ordem de 117µg/m3, ainda abaixo dos padrões de qualidade do ar (primário e
secundário) estipulados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente: 365µg/m3 e 150µg/m3,
respectivamente (CONAMA, resolução 003/1990).
Para o Ozônio (O3), figura 62, a média das concentrações observadas pelas estações
Moca, Santana, Ibirapuera e Nossa Senhora de Ó, mostrou que este poluente oscilou entre
valores mínimos de 64,28µg/m3, às 14 horas, dia 14, até valores máximos de 117,50µg/m3, às
154
16 horas do dia 18. Porém, assim como o material particulado, o O3 tende a um aumento
gradativo de suas concentrações a partir do dia 14. Outro ponto a ser destacado é que ao longo
do período analisado, este não ultrapassou os limites exigidos pela legislação (160µg/m3 e 160
µg/m3; média 1h).
O dióxido de enxofre (SO2) (figura 63), apresentou um comportamento bastante
estável durante os dias 11/05/2005 e 19/05/2005. Os níveis de poluição foram bastante baixos
para o padrão de 24 horas, com concentração mínima de 11µg/m3, dia 15 e máxima de
19µg/m3, dia 18. Segundo a CETESB (2006), os valores de SO2 têm diminuído nos últimos
anos, ficando significativamente abaixo dos padrões sugeridos de qualidade do ar (365µg/m3 e
100µg/m3, primário e secundário, respectivamente), inclusive, permitindo a redução do
número de monitores nos últimos anos. Contudo, resultados de trabalhos como COELHO
(2007) e GONÇALVES (2007) mostraram correlação deste poluente com a morbidade e
mortalidade por doenças respiratórias (cardiovasculares).
A figura 64 apresenta o comportamento do monóxido de Carbono (CO) para o período
analisado. Podem-se observar concentrações bastante baixas no período 11 a 19/05/2005, com
concentrações médias horárias variando entre 7,15ppm, dia 11 e 1,47ppm, dia 15. Segundo a
CETESB (2005), vem ocorrendo uma progressiva queda (30%) nas concentrações médias de
CO, na cidade de São Paulo, nos últimos 10 anos, devido a renovação da frota de veículos por
veículos menores emissores de CO.
Com relação ao do dióxido de nitrogênio (NO2), figura 65, observou-se dois máximos
de concentrações (média 1h) no período analisado: primeiro máximo de 139,49µg/m3 no dia
12/05/2005 e um segundo máximo de 132,19µg/m3 dia 18/05/2005. Assim, como nos casos
do PM10, O3 e SO2, o NO2 também teve um gradual aumento a partir do dia 15, até atingir no
dia 18 o segundo maior valor médio diário, citado anteriormente, não ultrapassando os
padrões de qualidade do ar estipulados (320µg/m3 e 190µg/m3).
155
Relacionando a data de ocorrência do chiado (dia 19, tabela 38), apresentada pela
criança 1196 com os dias desfavoráveis à dispersão de poluentes na cidade de São Paulo,
pode-se afirmar que o comportamento dos poluentes nos dias que antecederam o chiado
apresentava condições favoráveis ao acúmulo de poluentes atmosféricos sobre a cidade de
São Paulo. A “exceção” do CO, todos os poluentes tenderam a um aumento de suas
concentrações que, mesmo estando abaixo dos padrões de qualidade do ar exigidos, podem ter
influenciado a criança, originado o problema respiratório. Os poluentes O3, SO2 e NO2,
tiveram uma defasagem de um dia (“lag 1”), desde o dia em que atingiram seus máximos de
concentração até o aparecimento do chiado na criança (atingiram seus máximos de
concentração dia 18, e o problema ocorreu dia 19). O poluente PM10, por outro lado,
apresentou o pico de concentração no dia 19, mesmo dia em que foi observado o problema na
criança (“lag 0”). Resultados semelhantes foram encontrados por outros pesquisadores
(CONDE, 2001; BRAUN, 2002; MAIA, 2002; GONCALVES et al, 2004 e 2007; COELHO;
2007).
0
20
40
60
80
100
120
140
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5/05
12/0
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5/05
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5/05
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5/05
18/0
5/05
19/0
5/05Data
Con
cent
raçã
o (µ
g/m
3 )
.
PM10 Padrao Secundario
Figura 61– Variação temporal das concentrações médias de PM10 e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 10/05/2005 a 22/05/2005.
156
0
20
40
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80
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5/05
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5/05
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5/05
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5/05
19/0
5/05Data
Con
cent
raçã
o (µ
g/m
3 )
.
O3 Padrao Secundario
Figura 62 – Variação temporal das concentrações médias de O3 e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 10/05/2005 a 22/05/2005.
0
1020
30
40
5060
70
8090
100
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5/05
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5/05
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5/05
19/0
5/05Data
Con
cent
raçã
o (µ
g/m
3 )
.
SO2 Padrao Secundario
Figura 63 – Variação temporal das concentrações médias de SO2 e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 10/05/2005 a 22/05/2005.
157
0
5
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5/05Data
Con
cent
raçã
o (p
pm )
.
CO Padrao Secundario
Figura 64 – Variação temporal das concentrações médias de CO e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 10/05/2005 a 22/05/2005.
0
20
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5/05
18/0
5/05
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5/05Data
Con
cent
raçã
o (µ
g/m
3 )
.
NO2 Padrao Secundario
Figura 65 – Variação temporal das concentrações médias de NO2 e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 10/05/2005 a 22/05/2005.
(b) Episódio de chiado dia 23/07/2006: criança 1025.
As figura 66 e 67 apresentam os campos de pressão reduzida ao nível médio do mar
(PNM), vento horizontal e temperatura ao nível de 925 hPa para as 12Z dos dias 18/07/2007 e
23/07/2006, respectivamente. Observa-se a presença de um sistema de alta pressão,
158
predominando sobre as Regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Segundo o boletim
CLIMANÁLISE (Julho/2006), essa massa de ar frio ingressou pelo sul do Rio Grande do sul,
onde atuou no dia 14, deslocando-se para o oceano no dia seguinte. Entre os dias 17 e 23 de
julho o anticiclone permaneceu sobre o litoral da Região Sudeste, com subsidência
influenciando a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). A figura 68 mostra a imagem de
satélite para as 12Z do dia 23/07/2007, dia do episódio de chiado ocorrido na criança, onde
pode se observar a ausência de nebulosidade sobre toda a Região Sudeste e central do Brasil,
bem como a presença de uma Frente Fria (FF) sobre o Rio Grande do Sul. Esse sistema,
porém, atuou somente nos litoral do RS e de SC, nos dias 23 e 24. Durante esses dias,
registraram-se na cidade de São Paulo queda das temperaturas, ventos fracos em superfície e
baixa umidade do ar (figura 69), o que dificultou a dispersão dos poluentes para a atmosfera.
Na radiossondagem do Aeroporto Campo de Marte (centro da cidade), às 12Z (9 HL) do dia
23 mostrou inversão térmica próxima à superfície (900hPa), ventos fracos e a secagem da
camada de mistura junto à superfície e nos níveis superiores. As médias horárias de UR
mínimas registradas pela estação meteorológica do IAG/USP alcançaram os 30% (15, 16 e 17
horas), o que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), caracteriza-se como estado
de atenção.
.
(a) (b)
Figura 66 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 18/07/2006.
159
(a) (b)
Figura 67 – Campo de Pressão (hPa) ao NMM e vento (m/s) no nível de 925 hPa (a), temperatura (°C) em 925 hPa (b), para as 12Z do dia 23/07/2006.
Figura 68 - Imagem de satélite GOES-8 composta no canal infravermelho para o dias 23/07/2006 às 12Z (Master/IAG/USP).
160
0
5
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15
20
25
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/08
18/7
/08
19/7
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/08
21/7
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22/7
/08
23/7
/08
T (°C
) .
051015202530354045
UR
(%
) .
Chuva Neb Tmáx Tmin UR mínima
Figura 69 – Variáveis observadas na estação IAG/USP: Tmáx (temperatura máxima diária), Tmín (temperatura mínima diária), UR (umidade relativa média diária), nebulosidade média
diária, Chuva (precipitação total diária). Maio de 2005.
As figuras 70 a 74 mostram as concentrações de poluentes amostrados na cidade de
São Paulo pelas estações de qualidade do ar da CETESB. São apresentadas as concentrações
médias dos poluentes: material particulado inalável (PM10), Ozônio (O3), dióxido de carbono
(SO2), monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2), amostrados pelas estações de
qualidade do ar Santana, Cambuci, Ibirapuera, Nossa Senhora do Ó, Congonhas, Cerqueira
César, (CETESB, 2006). Criou-se uma “estação média” (média das concentrações dos
poluentes observados pelas estações localizadas na zona urbana de São Paulo), a fim de obter
valores mais representativos dos níveis de poluição sobre a cidade, devido a localização das
residências 1196 e 1025, bem como, de possíveis dados faltantes, nas estações.
Observando o comportamento do poluente PM10 (figura 70), nota-se a elevação
gradual de suas concentrações médias, a partir do dia 17/07/2006, até o dia 21, quando atingiu
o valor máximo de 95,44µg/m3 (média 24 hs). Nesse dia suas concentrações oscilaram entre
um mínimo de 52,60µg/m3, às 14hs e um máximo de 161,41µg/m3, às 23hs. Comparando as
concentrações de PM10 com os padrões nacionais de qualidade do ar, estabelecidos pelo
161
Conselho Nacional de Meio ambiente (CONAMA), verifica-se que não houve ultrapassagem
dos padrões primário e secundário (150µg/m3 e 150 µg/m3; média de 24hs) durante o período
de análise (17/07/2006 a 25/07/2006). Para o poluente Ozônio (O3), as concentrações médias
horárias observadas nas estações Nossa Senhora do Ó, Moca e Ibirapuera mostram o aumento
deste poluente entre os dias 17/07/2006 e 21/07/2006, e a manutenção destas concentrações,
nos dias subseqüentes (figura 71). Durante o período analisado, os valores de O3 oscilaram
entre o mínimo de 80 µg/m3, no dia 17 e o máximo de 112µg/m3, no dia 21. Assim como o
PM10, esse poluente manteve seus níveis de poluição abaixo do os padrões de qualidade do ar,
primário e secundário, exigidos (160 µg/m3, media horária, respectivamente).
A figura 72 mostra as concentrações médias para o dióxido de enxofre (SO2).
Observa-se que esse poluente apresentou concentrações bastante baixas, com relação aos
padrões primários e secundários estipulados (365 µg/m3 e 100µg/m3 respectivamente). Porém,
assim como ocorreu com os outros poluentes, o SO2 demonstrou um crescimento de suas
concentrações até os dias 21 e 22, quando foram observadas suas concentrações máximas de
15,90µg/m3 e 16,17µg/m3 respectivamente (média de 24hs).
Com relação ao monóxido de Carbono (CO), pode-se observar, através da figura 73,
que também há um crescimento desse poluente desde o dia 17, até o dia 21. Posteriormente,
nota-se o declínio de suas concentrações. A média das concentrações máximas registradas
entre as estações de qualidade do ar (PDP, IBI, CC, CGH e C) foi de 7,83ppm (média 1h), às
23hs do dia 21/07. Isso pode ser explicado, por exemplo, pelo fato do dia em questão (21) se
tratar de uma sexta feira, quando há um considerável aumento do fluxo de veículos na cidade
de São Paulo (idem, aos casos anteriores).
A figura 74 caso do poluente dióxido de nitrogênio (NO2) foi semelhante aos casos
anteriores. Observou-se uma gradativa elevação de suas concentrações, até o dia 21/07/2006,
quando foi atingido o valor máximo observado no 209,47µg/m3 às 11 horas da manhã (média
162
1 hora). Porém, durante esse dia foram registrados pelas estações de qualidade do ar
Congonhas, Cerqueira César, Centro e Pinheiros um segundo pico de concentração, com
valores médios horários em torno dos 190µg/m3, às 9 horas da noite.
Por fim, relacionando estes poluentes com o episódio de chiado apresentado pela
criança no dia 23/07/2006 (conforme referido por sua mãe), nota-se nos dias que antecederam
o problema na criança, condições atmosféricas favoráveis ao acúmulo de poluentes sobre a
cidade de São Paulo (assim como no episódio anterior). Em média houve 2 dias defasagem
(“ lag”), entre o dia em que foi atingido o pico das concentrações (PM10, SO2, O3, CO, NO2),
até o dia do surgimento do chiado na criança. Em outras palavras, os poluentes atingiram seus
valores máximos de concentração no dia 21 e o chiado ocorreu 2 dias depois, dia 23/07/2006.
Esses resultados estão de acordo com estudos anteriores (CONDE 2001; BRAUN, 2002,
MAIA, 2002; COELHO, 2007). Salienta-se ainda, de acordo com os dados coletados através
das estações da CETESB, que nenhum dos poluentes ultrapassou, durante o período estudado,
os limites máximos de concentrações toleráveis (padrões de qualidade do ar - resolução 03;
CONAMA, 1990). Por questão de visualização, optou-se por apresentar nos gráficos somente
os padrões secundários, cujas concentrações, mesmo quando não ultrapassadas, se prevê os
mínimos efeitos sobre a saúde e bem estar da população. Dessa forma, sob condições
meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes e observando as concentrações
amostradas pelas estações da CETESB, atribui-se a ocorrência do chiado da criança 1025, no
dia 23/07/2006, às condições de poluição atmosféricas sobre a cidade de São Paulo, nos dias
que antecedeu o episódio.
163
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30
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Con
cent
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o (µ
g/m
3 )
.
PM10 Padrão Secundário
Figura 70 – Variação temporal das concentrações médias de PM10 e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 17/07/2006 a 23/07/2006.
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7/06Data
Con
cent
raçã
o (µ
g/m
3 )
.
O3 Padrão Secundário
Figura 71 – Variação temporal das concentrações média de O3 e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 17/07/2006 a 23/07/2006.
164
0102030405060708090
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7/06Data
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cent
raçã
o (µ
g/m
3 )
.
SO2 Padrão Secundário
Figura 72 – Variação temporal das concentrações média de SO2 e seu respectivo padrão de qualidade do ar. São Paulo, 17/07/2006 a 23/07/2006.
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Data .
Con
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o (µ
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3 )
.
CO Padrao Secundário
Figura 73 – Variação temporal da concentração de CO para a estação de Centro. São Paulo, 17/07/2006 a 23/07/2006.
165
020406080
100120140160180
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6Data .
Con
cent
raçã
o (µ
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3 )
.
NO2 Padrao Secundário
Figura 74 – Variação temporal da concentração de NO2 para a estação de Centro. São Paulo, 17/07/2006 a 23/07/2006.
Os estudos de caso apresentados nessa seção mostram que as residências têm um papel
importante, com relação ao aparecimento de doenças sibilantes (chiado), nas crianças. Seja
através de seu tipo construtivo deficiente (falta de ventilação e isolamento térmico), ou sua
localização geográfica (criando um microclima local, não recebimento suficiente luz solar).
Isso pode contribuir para um alto teor de umidade nessas residências e assim, qualquer
alteração no microclima externo pode influenciar o desencadeamento do chiado respiratório
nas crianças. Os valores médios de umidade relativa do ar observados nas 358 residências
amostradas na cidade de São Paulo, entre os anos 2003 e 2006 são os seguintes: 66% de UR
mínima e 87% de UR máxima, fornecendo uma média de umidade interna em torno de 77%
(desvio padrão de 14,7), acima dos padrões de umidade do ar recomendados pela organização
mundial de Saúde: entre 40% a 75%.
Acredita-se que os fatores acima citados (relativos às residências), podem estar
associados ao fator sócio econômico das famílias (baixa renda, visto que o Projeto Chiado
acompanhou exclusivamente crianças de famílias usuárias do SUS). Assim, crianças de
166
residências com construções mais precárias tendem a apresentam os maiores problemas de
chiado.
Dentre todas as crianças (residências) analisadas nesse estudo, as sete crianças que
mais chiaram são moradoras de edificações que apresentam alto teor de umidade do ar interna
(principalmente) e baixo isolamento térmico (grupos construtivos 7 e 2). Ao se observarem
outros problemas respiratórios relacionados ao chiado, como a respiração ruidosa da criança,
(casos I e III, tabela 38), e tosse (não mostrados aqui) é notado que as residências em questão
também são pertencentes a esses grupos construtivos (em sua grande maioria). Tais grupos,
porém, divergem quanto ao dia do surgimento do problema na criança. Em residências com
menor isolamento térmico (cobertura de fibrocimento, grupo construtivo 2) a criança
apresenta o problema no mesmo dia (“lag” de 0,7 dia) da queda da temperatura externa (na
maioria da vezes). Por outro lado, as crianças de residências com maior isolamento térmico,
conseqüentemente com maior teor de umidade interna, têm o início das crises de chiado 2 dias
após o início da queda de temperatura externa (“lag” de 1,8 dias), tabela 37. As diferenças
podem ser imputadas ao alto e baixo ganho de calor interno (grupos 2 e 7), além das
condições biológicas intrínsecas das crianças.
Os casos relacionando os poluentes atmosféricos apresentaram coerências entre si,
visto que os dois episódios de chiado (1025 e 1196) ocorreram em situações de “pico” das
concentrações dos poluentes atmosféricos sobre São Paulo. Ambos os casos ocorreram em
situações pré-frontais, ou seja, sob a influência de um anticiclone sobre SP e uma frente fria
ao sul do país. Sob essas situações, o caso de chiado ocorrido na criança 1025, dia 19/05/05,
apresenta altos valores nas concentrações de PM10 para o mesmo dia 19 e uma defasagem de
um dia em relação aos poluentes SO2, NO2, O3(“lag”1). Para o segundo caso, crise de chiado
apresentada pela criança 1196, dia 23/07/06, as mais altas concentrações foram mostradas 2
dias antes (“lag”2), ou seja dia 21, para todos os poluentes PM10 SO2, NO2, O3, e CO. Essas
167
diferenças entre “lag”, pode estar relacionadas a localização das residências na cidade (1025
na zona Oeste e 1196, na zona norte) e merecem ser mais a fundo estudadas (não é o
propósito do presente estudo).
Ressalta-se a necessidade de outros estudos investigativos, a medida de que cada
edificação tem sua própria característica (localização, hábitos domiciliares, horários de
permanência no ambiente, presença de fungos, aglomeração familiar, tabagismo, escolaridade
da mãe, etc...). Da mesma forma os casos dos poluentes atmosféricos, que merecem ser
melhor investigados, levando-se em conta a proximidade da residência a fontes de poluição
(vias de tráfego, indústrias, poluição interna). Dados de alguns poluentes (PM10 e NO2), já se
encontram disponíveis e serão objeto d estudos futuros.
168
CAPÍTULO 4
4 CONCLUSÕES
Este estudo procurou analisar relações existentes entre variáveis meteorológicas,
conforto térmico, tipos construtivos aos problemas respiratórios em crianças com de chiado
recém nascidas, no município de São Paulo, no período janeiro de 2003 a julho de 2006.
As principais conclusões, com respeito ao conforto térmico são citadas a seguir:
� Analisou-se o conforto térmico interno, através do índice Temperatura Efetiva (TE),
para residências da cidade de São Paulo. Analisaram-se as quatro estações climáticas: outono,
inverno, primavera, verão, entre os anos 2003 a 2006.
� Os índices apresentaram que os maiores desconfortos são sentidos, através da
combinação das temperaturas mínimas e a umidades relativas mínimas, (durante as manhãs,
índice TE3), e da combinação entre as temperaturas e umidades máximas (durante as tardes,
índice TE2). Ressalta-se, porém, que os índices TE1 e TE4, são as situações diárias mais
freqüentemente observadas e apresentam iguais sensações a TE2 e TE3 (apesar de mostrarem
valores menores, em alguns casos).
� Realizando uma análise intra-sazonal nesses anos, observou-se que durante as tardes
do verão, o desconforto por calor predominou nas residências (dias quentes e úmidos), com
estresse fisiológico variando de ligeiro suor, vasoconstrição sanguínea, até a falha na
termorregulação do corpo. (FANGER 1972). Valores de até 40ºC foram observados,
(sensação de muito quente), porém a grande maioria do desconforto (mais de 60%), variou
entre a sensação ligeiramente quente a moderadamente quente (25 oC<TE<31oC). As manhãs
desta estação estiveram mais confortáveis, apesar de também apresentarem dias de
desconforto por frio.
169
� Os invernos mostraram alto stress por frio durante as manhãs. O maior desconforto
por frio foi predominou nos dias frios e secos, segundo o índice TE3. Em alguns anos (2004 e
2005), mais de 80% das manhãs foram classificadas com a sensação desconfortável por frio e
muito frio (TE<16oC). Notaram-se valores internos menores que 12ºC, os quais, caracterizam
sensação de extremo stress por frio (TE<13oC). As tardes desta estação apresentaram períodos
mais confortáveis, porém, ainda com consideráveis dias de desconforto por frio,
principalmente de ligeiro a moderado frio (16oC<TE<22oC). Algumas tardes, inclusive,
apresentaram temperaturas abaixo de 13 oC (extremo stress por frio).
� Nas estações de outono e primavera, houve predomínio de conforto durante as tardes
de outono e nas manhãs de primavera. Conseqüentemente, as manhãs de outono foram mais
desconfortáveis por frio (ligeiramente moderadamente frio, 16oC<TE<22oC) e as tardes de
primavera mais desconfortáveis por calor (25oC<TE<31oC). Porém, houve uma mescla de
dias frios e quentes (característica desta estação). A exceção foi a primavera de 2005, onde as
tardes se apresentaram mais confortáveis do que as manhãs, alternando com períodos de
ligeiro frio (19oC<TE<22oC).
� Em todas as estações dos anos 2003 a 2006, observou-se que há uma maior freqüência
de períodos desconfortáveis por frio, independentemente do grau de estresse fisiológico
apresentado, mostrando que a população de São Paulo sofre, internamente, mais com o frio do
que com o calor. Isso fornece indícios de que as residências não têm um sistema adequado de
proteção contra o frio, principalmente durante a estação de inverno.
� A variabilidade interanual da temperatura, durante o inverno, mostrou que o inverno
de 2006 apresentou temperaturas mínimas menores e eventos mais intensos de frio que os
invernos de anos anteriores, os quais, permaneceram com temperaturas bastante constantes.
Com relação às temperaturas observadas durante o verão, observou-se que o ano de 2006,
também apresentou os maiores valores, quando comparado aos anos anteriores. O ano de
170
2006 foi, portanto, considerado um ano de extremos climáticos (item esse, não mostrado
nesse trabalho).
� Quando observou o conforto térmico entre residências, medidas em um mesmo
período, observou-se consideráveis diferenças, principalmente em relação às zonas de
conforto térmico, FANGER (1972). Períodos considerados como confortáveis para
determinada residência, foram classificados como extremamente desagradáveis para outras.
Essas diferenças foram mais marcantes nas estações inverno (maior freqüência) e verão,
� Os aumentos e quedas nas temperaturas (TE1, TE2, TE3, TE4), são bem representados
nas residências, porém, há um atraso térmico (“lag”) de algumas horas, principalmente, em
relação ao máximo desconforto por calor. O Isso nos sugere que existem diferenças, - como
proteção contra o frio, ou falta de ventilação para o calor - sejam devido a sua localização
geográfica, estruturas construtivas, hábitos e aglomerações domiciliares (criando um
microclima local) e cada residência tem que ser analisada individualmente.
As principais conclusões com respeito às simulações com o Arquitrop foram:
� Com relação às simulações do desempeno térmico pelo Arquitrop, pode-se constatar
que a estimativa das temperaturas internas seguem um padrão similar às temperaturas
observadas externamente (internamente), fornecendo uma e considerável aproximação dos
valores reais observados pelos termohigrógrafos (internamente).
� As oscilações de temperaturas são bem representadas, não em termos de valores
absolutos, mas em termos das subidas e descidas das temperaturas, ou seja, da variabilidade
da temperatura. Isso caracteriza a boa performance do software, que em situações extremas de
tempo, por exemplo, pode estimar de forma realista o comportamento das temperaturas no
interior do domicílio. De maneira geral, a melhor performance foi obtida nas estações outono
e primavera, quando comparado às simulações no verão e inverno.
171
� De maneira geral, os valores observados internamente são subestimados pela
simulação. O erro médio entre simulado e observado varia entre -3,4oC a -0,5 oC, para Tmín e
-2,5 oC a 0,2 oC, para Tmáx (variando de acordo com o tipo construtivo da residência e com o
período do ano a ser simulado). Nas simulações, de verão e inverno, em residências com
coberturas de fibrocimento sem forro, e paredes de tijolo furado, as diferenças entre simulação
e observação foram maiores, embora o “padrão de comportamento interno” tenha sido
seguido (casa 1025, por exemplo). Isso não ocorre com a casa 1108, onde a cobertura é de laje
sem forro, e as paredes são de tijolos furados e os erros entre simulado e observado foram
menores, principalmente com relação aos valores máximos. A explicação para isso é a maior
ou menor massa térmica (inércia térmica) existente nas residências. Isso acarreta maiores
erros na estimativa do desempenho interno (1025) pelo software, além de que os dados
meteorológicos nele inseridos são oriundos de uma região não representativa do local onde se
situam as residências.
As principais conclusões com respeito ao estudo de casos sinóticos foram:
� Os resultados da relação entre as condições meteorológicas e os episódios de chiado
estudados (29) mostraram que mais da metade das crises (48,3% ou 14 eventos) foi
influenciado pela passagem (presença) do anticiclone polar marítimo (APM) pelo (no) litoral
do (estado) de São Paulo. As Frentes Frias (FF) foram responsáveis pela ocorrência de 41,4%
dos episódios (12 eventos), apenas 6,9% dos episódios (2 eventos) foram atribuídos a
situações Pré- frontais, - quando a frente fria se encontrava ao sul do estado de São Paulo e a
cidade estava sob influência de um sistema de alta pressão atmosférica (anticiclone semi-
permanente) -, e apenas 3,4% (1 evento) foi atribuído à passagem da massa de ar polar
continental por São Paulo (APC).
172
� Dentre os 29 episódios de chiado analisados, os resultados mostraram que 93% desses
estavam associados às quedas das temperaturas externas (estação do IAG-USP). 7% das crises
(2 eventos) estavam relacionadas às altas concentrações de poluentes.
As principais conclusões em geral:
� Os estudos mostram que as residências têm um papel importante, com relação ao
aparecimento do chiado nas crianças. Seja através de seu tipo construtivo deficiente (falta de
ventilação, menor isolamento térmico), ou pela sua localização geográfica (podendo criar um
microclima local, dependendo das condições das edificações em seu entorno). Esses dois
fatores podem estar associados ao fator sócio econômico das famílias (baixa renda) e assim,
crianças de residências com deficientes estruturas construtivas apresentam os maiores
problemas de chiado.
� Dentre todas as crianças (residências) analisadas nesse estudo, as sete crianças que
mais chiaram, ou vivem em edificações com alto teor de umidade interna (principalmente), ou
em residências que possuem baixo isolamento térmico (grupos construtivos 7 e 2,
respectivamente). Isso também ocorre ao se observarem outros problemas respiratórios
relacionados ao chiado, como respiração ruidosa e tosse (não mostrados aqui).
� Em residências com menor isolamento térmico (cobertura de fibrocimento, grupo
construtivo 2) a criança apresenta o problema, em média, no mesmo dia da queda da
temperatura externa (“lag” de 0,7 dia). Por outro lado, em crianças com residências de maior
massa térmica e conseqüentemente maior teor de umidade (cobertura de laje, grupo 7), têm o
início das crises de chiado, em média, 2 dias após o início da queda de temperatura externa
(“ lag” de 1,8 dias). Essas diferenças podem ser imputadas aos altos e baixos ganhos (perdas)
de calor, através das coberturas, além das condições biológicas intrínsecas das crianças.
173
� Os casos relacionando os poluentes atmosféricos apresentaram os dois episódios de
chiado (1025 e 1196) em situações de altas concentrações dos poluentes atmosféricos sobre
São Paulo. Ambos os casos ocorreram em situações pré-frontais, ou seja, sob a influência de
um anticiclone sobre SP (estagnação atmosférica) e uma frente fria ao sul do país. O caso de
chiado ocorrido dia 19/05/05, na criança 1025, apresenta altos valores nas concentrações de
PM10 no mesmo dia de ocorrência de chiado e uma defasagem de um dia em relação aos
outros poluentes, SO2, NO2, O3 (“lag” de 1 dia). Para o segundo caso, chiado dia 23/07/06,
criança 1196, o pico de concentração foi mostrado 2 dias antes (“lag”2) do surgimento do
problema (dia 21), para todos os poluentes PM10 SO2, NO2, O3, e CO. Essas diferenças entre
“lag’s”, podem estar associadas à localização das residências na cidade (1025 na zona Oeste e
1196, na zona norte) e merecem ser mais a fundo estudada (não é o propósito do presente
estudo).
� Quando comparadas estas condições ao conforto externo na cidade de São Paulo (não
mostradas nesse estudo), notou-se a concordância de sensações térmicas observadas. No verão
predomina o desconforto por calor durante as tardes (índice TE2), e manhãs confortáveis são
notadas. No inverno, o contrário, grandes estresses térmicos por frio durante as manhãs e
tardes um pouco mais confortáveis, porém, ainda com dias frios, o que era de se esperar.
Em suma, este trabalho ilustrou a grande importância que o tipo construtivo tem sobre as
condições internas de temperatura e umidade e por sua vez, nas doenças respiratórias (chiado)
de crianças. Construções de menor massa térmica são as mais prejudiciais. Adicionalmente,
episódios de massa de ar polar marítima, as quais proporcionavam elevadas umidades
relativas em ambientes indoor, mostraram-se também prejudicais a saúde destas crianças. Isso
pôde ser claramente observado, através dos índices de conforto térmico TE e pela análise dos
tipos de residências (menor massa térmica), que amplificam estes impactos, seja do ponto de
vista de TE, ou através das variáveis umidade relativa e temperatura, separadamente. Deve-se
174
levar em conta igualmente, outros fatores intradomiciliares (tabagismo, nível de escolaridade
dos pais, aglomeração familiar), além dos biológicos da criança em questão e assim, sugere-se
que mais estudos sejam realizados.
Como conseqüência, pode-se verificar que o aumento de umidade relativa em
ambientes internos, como preconizado pela mídia durante episódios de baixa umidade relativa
(inverno) na cidade de São Paulo, se faz extremamente imprudente, pois isto, somente
acarretaria maior desconforto térmico, além de aparecimento de agentes alérgenos, como
fungos e ácaros.
Sugestões para trabalhos futuros
� Realizar medidas de conforto térmico no interior destas residências, bem como,
aplicar outros índices de conforto (VME, PPI), comparando suas sensações com questionários
específicos sobre o conforto térmico dos moradores ao longo do ano;
� Realizar a simulação do desempenho térmico de residências utilizando dados
meteorológicos mais próximos à(s) residência(s), (através de medidas, ou utilização de dados
oriundos de estações mais próximas)
� Obter informações “mais precisas” dos hábitos internos (através de medidas de
ventilação interna, carga térmica; temperatura média radiante, entre outras): “estudo piloto”;
� Analisar outras doenças respiratórias além do chiado (IVAS, IVAI, gripe,
pneumonia, bronquite) e associar com as condições meteorológicas. Através de ferramentas
de análise estatística, incluir também na análise os possíveis fatores de confusão (tipo
construtivo da residência, localização geográfica, por exemplo, tabagismo, aglomeração
familiar, nível de escolaridade dos pais, etc...);
175
� Utilizar variáveis meteorológicas obtidas a partir de modelos meteorológicos e
simular condições favoráveis à ocorrência de chiado nas crianças, específicas para
determinada criança (residência) - Sistema de Alerta e Prevenção (SAP).
176
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CLIMANÁLISE; Vol 20, no5.Maio /2004
CLIMANÁLISE; Vol 21, no07. Julho /2004
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182
ANEXO A
EXEMPLO DA CARACTERIZAÇÃO DA HABITAÇÃO DA CRIANÇA
183
184
185
186
187
188
189
190
191
192
ANEXO B
PUBLICAÇÕES REALIZADAS DURANTE A EXECUÇÃO DESTE EST UDO
NEDEL, A.S.; GONÇALVES, F.L. T.; CARDOSO M.R.A; Estimativa do conforto térmico em ambientes indoor na cidade de São Paulo/SP, através da aplicação de um índice biometeorológico. In: ANAIS IV Congresso Brasileiro de Biometeorologia, Ribeirão Preto. 2006. NEDEL, A.S.; GONÇALVES, F.L. T.; CARDOSO M.R.A Evaluación de la comodidad térmica de ambientes interiores en la ciudad de São Paulo, Brasil. XV Congreso. Mexicano de Meteorologia. Puerto Vallarta, México. 2006. NEDEL, A.S.; GONÇALVES, F.L. T.; CARDOSO M.R.A Análise sazonal do conforto térmico humano na cidade de São Paulo/SP. ANAIS XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, Florianópolis/SC. NEDEL, A.S.; GONÇALVES, F.L. T.; CARDOSO M.R.A; Roriz. M. avaliação de um programa de simulação do comportamento térmico de residências na cidade de São Paulo, Brasil. ANAIS 7º Congresso Ibérico e 4º Iberoamericano de Contaminação e Toxicologia Ambiental. Lisboa. 2008. NEDEL, A.S.; GONÇALVES, F.L. T.; CARDOSO M.R.A Assessment of one residences thermal simulation program on São Paulo city, Brazil and the estimative of episodes of respiratory illnesses. ANAIS 18th International Congress of Biometeorology. Tókio. 2008 NEDEL, A.S; FUJII. R.K.; OYOLA P.;CACAVALLO R.C.; Management and optimization of environmental information using integrated technology: A case study in the city of Sao Paulo, Brazil. Proceedings of the Highway and Urban Symposium. Springer., pp-543-549. ISBN 978-4020-6009-0. Cyprus.2006. FUJII, R.K; Oyola P.; PEREIRA J.C.R.; NEDEL, A.S.; CACAVALLO, R.C. Air Pollution Leven in Two Sao Paulo Subway Station. Proceedings of the Highway and Urban Symposium. Springer., pp 420-426. ISBN 978-4020-6009-0. Cyprus.2006. NEDEL, A.S.; GONÇALVES, F.L. T.; COELHO M.S. Comparative analysis of different human thermal comfort indexes in são paulo city and their relationship with respiratory morbidity. ANAIS 8th Internationa conference on Southern hemisphere meteorology and oceanographic. Foz do Iguaçu/PR. 2006 NEDEL, A.S.; SILVA, F.D.S.; COELHO, M.S.; GONÇALVES, F.L.T., SILVA, R. F. Análise comparativa de dois índices de conforto térmico humano no estado de Pernambuco. ANAIS I Simpósio Internacional de Climatologia. Fortaleza. 2005. Artigo Aceito para publicação: NEDEL, A.S.; GONÇALVES, F.L. T.; CARDOSO M.R.A; Roriz. evaluation of a thermal behavior simulation program for residences in the city of sao paulo, Brazil. Ecotóxicology Journal.
193
Artigo a ser submetido a publicação: NEDEL, A.; GONÇALVES, T. F.; CARDOSO M. R; MACEDO C. Junior. Thermal Comfort Index Climatological Variability on São Paulo Metropolitan Area. International Journal of Biometeorology.