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Hospitais gratuitos causam prejuízos aos Médicos Veterinários? Anclivepa REVISTA DA São Paulo Ano 1 - Nº 1 - Maio/2018 Anclivepa-SP inaugura hospital público na Capital do País

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  • Hospitais gratuitos causam prejuízos aos Médicos Veterinários?

    AnclivepaREVISTA DA

    São PauloAno 1 - Nº 1 - Maio/2018

    Anclivepa-SPinaugura hospital público na Capital do País

  • EDITORIAL

    Revista da Anclivepa-SP 03

    Artigos ou revisões científicas, teses, a ciência e suas controvér-sias, novos tratamentos e terapias, em geral, são os temas mais abor-dados por publicações dirigidas aos médicos veterinários.

    A Revista da Anclivepa-SP abre espaço para outros lados do universo veterinário, tais como questões financeiras, administrativas, políticas, sociais, éticas e jurídicas. Sem desprezar a ciência e seus avanços, nossa nova publicação aborda o cotidiano e o papel social dos veterinários, considerando-se a forte inserção dos “pets” como membros das famílias humanas.

    Esse novo espaço é seu. Participe!

    Direção da Anclivepa-SP

    Ampliando o universo veterinário

  • Esta revista é uma publicação da Anclivepa-SP (Associação

    Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos

    Animais-SP)

    Expediente

    PresidenteJosé Fernando Ibanez

    Vice-PresidenteDenis Rodrigues Prata

    Secretário Geral Cauê Pereira Toscano

    TesoureiroWilson Grassi Júnior

    1º Tesoureiro Daniel Herreira Jarrouge

    Diretor de SedeLuciano Henrique Giovaninni

    Diretora CientíficaCinthia Ribas Martorelli

    Diretora Social Ivana Queiroz

    Edição, Projeto Gráfico e EditoraçãoVivaz Digital

    Redação / MarketingElaine PaivaIssa BerchinIlda Ferreira

    Diana Meira de Almeida

    Sede Anclivepa-SPAv. Brigadeiro Faria Lima, 1616

    Jardim Paulistano - CEP: 01451-001São Paulo – SP

    Telefone: (11) 3324-3300www.anclivepa-sp.com.br

    facebook.com/anclivepasp

    Tiragem2 mil exemplares

    EDITORIALAmpliando o universo veterinárioPágina 03

    EMPREENDEDORISMOComo avaliar se a sua empresa é bem-sucedidaPágina 06

    ÉTICA NA PRÁTICAMaus-Tratos: O papel do Médico VeterinárioPágina 08

    VIDA DE VETERINÁRIOEm um país feito para dar errado, ela só queria cuidar dos animais...Página 12

    POLÊMICAHospitais gratuitos causam prejuízos aos médicos veterinários particulares?Página 15

    AMPLIANDO HORIZONTESAnclivepa-SP inaugura hospital público para cães e gatosem BrasíliaPágina 18

    Contatos Comerciais(11) 3530-0012 / 3530-0017

    [email protected]

    VETERINÁRIA ESPECIALIZADAPorque e quando optar pela Terapia da Hemodiálise em pequenos animaisPágina 24

    ÍNDICE

  • Como avaliar se a sua empresa é bem-sucedida

    Marco Antonio Gioso

    Iniciamos com muita honra esta coluna sobre gestão, empreendedorismo, coaching, finanças. Um assunto que encanta a muitos, mas alguns ainda têm preconceito. Querem ganhar bem, mas odeiam o tema gestão. En-fim, uma coluna que pode mostrar se você tem preconceitos, ansiedade, angústias sobre como toca seu negócio ou carreira. A ideia é provocar reflexões, mesmo que por vezes haja certa aflição. Afinal, você quer estar como aos 60 anos? Reclamando das mesmas situações? Ou vida plena? Como está seu negócio agora? Crescendo? Em caso positivo, quanto ao ano?

    Há vários meios para se crescer e vários indicadores. E o assunto é complexo. Vamos falar exatamente “do que” crescer.

    EMPREENDEDORISMO

    Revista da Anclivepa-SP

  • Podemos crescer o número de clientes. Um bom indicador é termos um cliente novo ao dia, ou seja, 365 clien-tes ao ano. A questão é: você faz o que exatamente para que o cliente chegue a sua empresa? Ele vem de forma passiva (veio porque quis) ou ativa (veio porque você fez algo ativo para atraí-lo). Médi-cos veterinários são passivos em atrair clientes.

    Pode-se aumentar o faturamento bruto, ou seja, o montante de dinheiro que entra no caixa mensalmente, antes de se pagar as contas, salários e demais gastos. Lembre-se de que aumentar o fa-turamento não significa aumentar o lucro, nem ter fluxo de caixa positivo.

    Aliás, empresas financeiramente saudáveis têm três indicadores positi-vos: 1- muitos clientes, que elevam o fa-turamento bruto; 2- lucro, que é a dife-rença entre o montante bruto arrecadado menos o gasto (gasto é igual a custos e despesas; custos são essenciais, como aluguel, telefone, salários etc.; despesas não são essenciais, podem ser perdas, inadimplência, investimentos, muitos computadores, roubos etc.); 3- fluxo de caixa positivo (lembrar de que se pode ter lucro e fluxo de caixa negativo.).

    Lucro é um termo contábil, de janei-ro a dezembro se teve lucro, todavia po-de-se ter três meses negativos sem lucro, o que foi compensado no ano, com saldo positivo. Porém, se nos meses negativos houvesse uma emergência e se neces-sitasse de dispor de certa quantia de di-nheiro para algo essencial, poder-se-ia ter sérios problemas, por exemplo, um criador que pedisse para você vacinar 500 cães de uma vez. Se você estivesse

    no terceiro mês consecutivo de “prejuí-zo”, não poderia, por exemplo, comprar as 500 doses de vacina com seu próprio dinheiro. Ou, pior ainda, pagar todos os salários.

    Muitas empresas quebram por esse motivo: fluxo de caixa negativo, mas com lucro contábil. Assim, medidas para aumentar o lucro e o fluxo de cai-xa são básicas. Anotar todo dinheiro que entra e sai, independentemente de qual razão for, seja para pagar um lanche para alguém da equipe, seja para pagar um vale a um funcionário, ou dar entrada de um cheque que você usa para pagar a escola de seu filho ou um congresso. Absolutamente tudo deve ser anotado numa planilha do tipo Excel ou Software de gestão.

    Planilhas falam conosco. Os nú-meros revelam se a empresa está viva, morrendo ou na iminência de ter um pro-blema sério. Da mesma maneira que um monitor cardíaco indica condições de um paciente durante uma anestesia. Na sua vida pessoal, ou carreira de enfer-meiro, recepcionista, veterinário, como você controla seus gastos?

    Como diz o pessoal da Endeavor: quem não mede, não gere, morre! Você está gerindo bem? Vai começar quando? A decisão é sua!

    Marco Antonio Gioso é Médico Veterinário, Professor Livre-docente da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo. Atuação em Empreendedorismo, Gestão, Marketing e Coaching para médicos veterinários.

    Revista da Anclivepa-SP 07

  • Maus-Tratos: O papel do Médico VeterinárioVanice Teixeira Orlandi

    Conceituada como ciência a ser-viço da coletividade, imprescindível à proteção da saúde animal, a medici-na veterinária assume papel de espe-cial relevância na defesa do bem-estar dos animais, motivo por que qualquer forma de agressão que venha a vitimá--los deve ser denunciada à autoridade competente, como bem estabelece o Código de Ética do Médico Veterinário (Resolução nº1.138, de 16 de dezembro de 2016) em seu artigo 2º, ao enunciar como um dos princípios fundamentais “denunciar às autoridades competentes qualquer forma de agressão aos ani-mais e ao seu ambiente”.

    No exercício da profissão, não raro, o médico veterinário se depara com in-dícios de que seu paciente foi alvo de maus-tratos. Sinais como um péssimo estado corpóreo, magreza excessiva, tumores aparentes em estágio avan-çado, pelagem opaca e sem cuidados de higiene podem apontar para o fato de que seu guardião falta com a obri-gação legal de lhe prover assistência médico veterinária.

    Cortes, queimaduras e hematomas injustificados podem ser resultantes de atos de maus-tratos a animais, prática tipificada como crime ambiental pelo ar-tigo 32 da Lei Federal nº 9.605/98, que

    comina pena de detenção de três meses a um ano, e multa a quem “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou do-mesticados, nativos ou exóticos”. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

    Também passíveis de enquadra-mento nessa lei são casos de acorren-tamento contínuo, sobretudo de cães, mas gatos também são vítimas. Tal prática provoca lesões profundas no animal, fato que não deve ser ignorado pelo profissional.

    Vai daí a importância de questionar o responsável pelo paciente, na hipótese de alegações improváveis ou inconsis-tentes para justificar lesões, ou um esta-do geral muito prejudicado.

    Mesmo naqueles casos em que não tenha havido o dolo direto, ou seja, a objetiva intenção de causar um ma-lefício ao animal, seu responsável deve responder pelo ato praticado, uma vez que foi capaz de prever o resultado que sua conduta poderia ocasionar, mas prossegue da mesma forma, assumindo o risco de provocá-lo, consentindo, pre-viamente, em sua produção. É o chama-do dolo eventual ou indireto que pode existir, por exemplo, no caso de ausên-

    ÉTICA NA PRÁTICA

    Revista da Anclivepa-SP08

  • cia, ou demora na prestação de assis-tência veterinária ao animal.

    Muitas vezes, existe um desconhe-cimento por parte do guardião que o leva a causar alguma espécie de prejuízo à saúde e ao bem-estar do animal; há si-tuações, entretanto, de evidente desca-so por parte do responsável pelo animal, fato que não deve passar despercebido pelo médico-veterinário.

    Solicitações de prática de eutaná-sia devem sempre ser recebidas com re-serva, uma vez que apenas o profissional está apto a identificar se o quadro justifi-ca, de fato, uma eutanásia, que só deve ser efetuada para abreviar o sofrimen-to do paciente, e jamais para resolver o problema de seu guardião.

    Tendo em vista que o Código de Ética do Médico Veterinário estabele-ce, em seu artigo 3º, que o profissio-nal deve empenhar-se para melhorar as condições de bem-estar dos animais, é de suma importância que o profissional instrua o guardião sobre algumas medi-das protetivas que podem evitar muito sofrimento ao animal como, por exemplo, os horários recomendados para as cami-nhadas, a fim de poupá-los do forte calor e da alta temperatura do solo.

    Convém lembrar sempre ao res-ponsável pelo paciente a importância dos passeios, não só para a realização de exercícios físicos, mas pelo lazer que proporciona. Muitos animais desenvol-vem o comportamento agressivo, destru-tivo ou de automutilação devido ao tédio

  • Vanice Teixeira Orlandi é advoga-da, psicóloga com especialização na área de educação e presidente da Uipa – União Internacional Protetora dos Animais.

    ou à solidão que enfrentam em seu co-tidiano, o que pode ser amenizado com passeios diários. Vale ainda orientar o guardião acerca da coleira e guia mais adequadas ao porte e às características do animal.

    Diferentemente dos saudáveis pas-seios, cada vez mais frequente é a re-provável submissão de cães à prática de exercícios forçados. Muitos deles são obrigados a correr, contidos por coleira e guia, conduzidos por longos percursos, conforme o condicionamento físico de seu guardião, que nem sempre pode se equiparar ao de seu animal.

    Guardiões devem ser informa-dos sobre as necessidades e limitações de seu animal, que podem ser decor-rentes do porte, da idade ou de alguma característica inerente à sua raça. Reco-mendável ainda que o responsável pelo cão ou gato seja informado sobre a im-portância de seu comprometimento com o terapêutica do paciente para que se obtenha o êxito esperado.

    Questões relativas às condições de alojamento podem e devem ser aborda-das pelo profissional, uma vez que ainda são comuns práticas danosas como as de deixar o animal exposto às intempé-ries, ou restringir sua liberdade de loco-moção por meio de correntes, cordas ou aparato similar. A manutenção em laje é censurável, pois além da exposição ao tempo, o animal ainda pode sofrer uma queda. Comum também a permanência de gatos em ambientes não telados, o que ocasiona quedas, muitas vezes, fatais.

    A falta de alojamento adequado, o acorrentamento, a falta de tela ou manu-tenção em lajes, inclusive, correspondem à esmagadora maioria das denúncias de maus-tratos apresentadas às associa-ções protetoras dos animais.

    Desejável também, que o médico veterinário forneça orientações relati-vas ao valor nutricional da ração ofere-cida, sobretudo no tocante à qualidade e ao teor de proteína e extrato etéreo desse alimento. Muitos animais são alimentados com ração de baixa qualidade por falta de conhecimento de seu responsável.

    Esses constituem alguns dos pon-tos que devem merecer atenção do pro-fissional para que a medicina veteriná-ria seja exercida com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade, como preconiza, em seu artigo 1º, o Código de Ética do Médico Veterinário.

    ÉTICA NA PRÁTICA

    Revista da Anclivepa-SP

  • Abuso, negligência e maus-tratos:o médico veterinário pode

    mudar essa história.

  • Em um país feito para dar errado, ela só queria cuidar dos animais... Wilson Grassi

    Desde criança, quando ainda era chamada de Aninha, de tanto que gos-tava de animais, toda a família comen-tava: “essa menina vai ser veterinária”.

    Como a palavra tem força, Aninha cresceu e se tornou a Dra. Ana, médica veterinária. E tudo o que a moça queria era cuidar dos animais!

    Depois de muitos estágios, tanto na faculdade como em outros estabe-lecimentos, Ana resolveu que a melhor forma de realizar seu objetivo de vida seria abrir uma clínica veterinária, e vi-ver feliz cuidando dos seus pacientes, diariamente.

    Para concretizar seu projeto, Ana, que gosta de tudo certinho, fez um con-trato de aluguel de um imóvel. Para tan-to, conforme exigências da imobiliária, necessitou contratar um seguro fiança e também um seguro contra danos ao imóvel.

    Cumprida essa etapa, de posse do imóvel, Ana precisou contratar um con-tador para ajudá-la com um documento chamado contrato social, assinou e reco-nheceu firma no cartório em três vias e registrou-o na junta comercial.

    As próximas etapas foram: a emis-são de um CNPJ na Receita Federal, uma inscrição estadual na Secretaria de Fazenda do Estado e, ainda, um re-gistro chamado Inscrição Municipal. Ao obter todos esses registros, Ana ganhou a obrigação de recolher mensalmente Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, PIS, Cofins, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, além do ISS, recolhido para o município.

    Como a Dra. Ana precisava de uma ajudante, fez um contrato de trabalho, assinou a Carteira Profissional e, assim, passou a pagar a contribuição ao INSS e a recolher o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) da funcioná-ria. E para cumprir devidamente as leis relativas ao registro funcional, contratou uma empresa de assessoria em segu-rança do trabalho.

    Para ter certeza de que as obriga-ções fiscais estavam sempre em dia, regularmente Ana emitia a Certidão Ne-gativa Conjunta de Débitos Federais, a Certidão Negativa do FGTS e a Negati-va de Tributos Mobiliários.

    Sempre com o propósito de fazer tudo dentro das normas municipais, es-

    VIDA DE VETERINÁRIO

    Revista da Anclivepa-SP12

  • taduais e federais, a veterinária conse-guiu um documento do imóvel chamado Habite-se e, com ele, solicitou à Prefei-tura um Alvará de Funcionamento. Para obter esse documento, precisou de Al-vará dos Bombeiros e de um Respon-sável Técnico pela acessibilidade. Não poderia, claro, deixar de fazer seu Ca-dastro na Vigilância Sanitária e, como

    produzia lixo hospitalar, foi obrigada a cadastrar seu estabelecimento junto à empresa que recolhe lixo biológico para o Município. Com esses últimos regis-tros, passou a pagar a Taxa do Lixo e a Licença de Funcionamento.

    Como médica veterinária, Ana pa-gava o carnê referente ao seu CRMV – o

    Revista da Anclivepa-SP 13

  • registro junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária como pessoa físi-ca, e depois de regularizar seu estabe-lecimento, passou a pagar também pelo registro da clínica para poder obter o certificado de regularidade.

    Para não correr riscos jurídicos, a doutora contratou a assessoria de um advogado. E para cuidar da imagem da clínica, contratou um administrador de redes sociais. Assinou outro contra-to com um Banco para abrir uma conta corrente empresarial, com a cobrança de taxa mensal, e outro contrato com a empresa que fornecia a maquininha para receber pagamentos eletrônicos. Além de um aluguel mensal, essa em-presa cobrava uma taxa sobre as ven-das e outra sobre eventuais antecipa-ções de recebíveis.

    Wilson Grassi é médico veterinário

    E de repente, a Dra. Ana também ficou um tanto insegura, ao ouvir dizer que uma lei obriga à contratação de um responsável técnico para cuidar do aparelho de ar condicionado, mas a po-bre médica veterinária nem sequer con-seguiu confirmar tal informação.

    E, finalmente, com sua clínica completamente regularizada, seguindo todas as normas, resoluções e legisla-ção, repleta de boletos e guias para pa-gar, um belo dia, a campainha tocou. A assistente abriu a porta e deixou entrar uma pessoa com um paciente para a Dra. Ana cuidar.

    Mas cadê a Dra. Ana?

    Foi ali chorar e já volta!

    VIDA DE VETERINÁRIO

  • Hospitais gratuitos causam prejuízos aos médicos

    veterinários particulares?José Fernando Ibanez

    Recentemente, aumentou a rede de hospitais gratuitos administrados pela ANCLIVEPA-SP (Associação Na-cional de Clínicos Veterinários de Pe-quenos Animais-SP). Em janeiro de 2018, foi inaugurada a terceira unidade na cidade de São Paulo e, em abril, uma unidade em Brasília, Distrito Federal. Te-nho sido questionado por colegas sobre a interferência dos hospitais gratuitos na rotina clínica dos médicos veterinários, que atuam próximos aos hospitais. Exis-tem algumas considerações sobre esse assunto e posso garantir que os hospi-tais colaboram com os colegas das re-dondezas.

    O primeiro ponto a abordar é que os hospitais gratuitos fazem parte de um processo de desenvolvi-mento de políticas públi-cas de bem-estar animal que, a meu ver, se apoia em cinco pilares: preven-ção (imunização e des-verminação); conscien-tização por educação formal;conscientização por educação informal (campanhas para as pesso-as); programas de esterilização aliados à educação; e atendimento gratuito.

    Notem que o atendimento gratuito é o último (porém não menos importante) dos pilares, porque é o final da cadeia. Pensando em saúde e melhorias para as condições sanitárias de qualquer popu-lação, o tratamento é o processo mais caro e delicado e o que atende a um nú-mero menor de pessoas. Ao passo que a prevenção e conscientização são os mais eficazes, pois reduzem a demanda no polo final que é o tratamento, além de atingirem um número maior de pessoas.

    Sobre interferir na rotina dos cole-gas veterinários que atuam nas proximi-dades dos hospitais gratuitos, deve-se explicar que há estratégias e estudos na alocação das unidades de atendimento gratuito, destinadas preferencialmente à

    população carente. Pes-soalmente, sou contra isso. Penso que ao contri-buir com seus impostos e taxas, todo cidadão deve-ria ter ao seu dispor saú-de, segurança, transpor-te e educação. Mas, para

    que não nos alonguemos nesse tema, vamos assumir que o atendimento vete-rinário gratuito se destine apenas a pes-soas carentes.

    POLÊMICA

    Nos dias atuais,os “pets” são, sim,

    membros da família

    Revista da Anclivepa-SP 15

  • A escolha do local onde será im-plantada a unidade geralmente recai em uma zona de fácil acesso, habitada por cidadãos de maior poder aquisitivo, mas de fácil acesso para a população carente. Seguindo esse raciocínio, nas redondezas das unidades de atendimento gratuito, es-tão estabelecidos os colegas veterinários que praticam preços que, em geral, estão fora do poder aquisitivo da clientela das unidades de atendimento gratuito.

    A presença de uma unidade de atendimento gratuito nas redondezas da clínica do colega lhe dá a oportunidade de encaminhar para essa unidade aque-les tutores que não podem arcar com os preços praticados pelo estabelecimento particular.

    As unidades não são implantadas em zonas e bairros habitados por pessoas mais carentes, exatamente, para não inter-ferir no movimento dos médicos veteriná-rios que lá exercem suas atividades. Tra-duzindo em números, se uma unidade de atendimento fosse implantada numa re-gião em que os preços médios de consul-

    ta fossem de 40 a 50 reais, talvez houves-se interferência na rotina de atendimento desses colegas. Entretanto, abrir uma uni-dade de atendimento gratuito numa zona em que os preços médios variam de 100 a 200 reais, dificilmente haverá interferência na rotina dos médicos veterinários estabe-lecidos.

    Outro fato interessante que se ob-servou na cidade de São Paulo foi que, ao longo desses seis anos em que as unida-des estão operando, houve um incremen-to, nas redondezas dos hospitais gratui-tos, do número de estabelecimentos que praticam preços ditos “populares”, com o intuito de captar clientes que, por inú-meras razões, desistem do atendimento gratuito.

    Fazendo uma analogia com a Me-dicina humana, observamos que hospi-tais públicos convivem com uma grande quantidade de clínicas particulares de di-versas especialidades instaladas em seu entorno.

    Ha ainda que se ressaltar que os hospitais públicos adminis-trados pela Anclivepa-SP oferecem emprego a muitos veterinários que recebem re-muneração maior do que a média praticada na medicina veterinária privada. Além dis-so, pelo alto volume de casos atendidos, os profissionais ampliam conhecimentos e desenvolvem habilidades que enriquecem seus currí-culos, ampliando a capaci-dade profissional, de modo a abrir novas oportunidades no mercado de trabalho.

    POLÊMICA

    Revista da Anclivepa-SP

  • É fundamental ressaltar, ainda, que cuidar dos “pets” é uma questão de saú-de pública, não somente devido às zoo-noses, que são uma questão de saúde pública, mas também pelo equilíbrio emo-cional das pessoas que convivem com os animais. Nos dias atuais, os “pets” são, sim, membros da família. Nossas vidas mudaram no último século. Cada vez mais os seres humanos vivem restritos à convi-vência familiar ou sozinhos e em espaços menores. No Brasil, há mais animais nas casas do que crianças.

    A forma mais isolada de viver, os es-paços menores, a constatação sobre os sentimentos e inteligência dos animais, a aproximação emocional e física das pes-soas com seus “pets”, tudo isso tornou

    os animais efetivamente membros das fa-mílias. Hoje, em muitas casas, um “pet” doente equivale a um humano doente, o que faz do veterinário um agente da saú-de humana, inclusive emocional. Afinal proporcionar bem-estar àquele ser huma-no também é cuidar do animalzinho que convive com ele.

    José Fernando Ibanez é Médico veterinário formado pela FMVZ – USP, com mestrado em Cirurgia pela FMVZ – USP e doutorado em Anestesiologia pela FMVZ – USP. Atualmente, é professor ad-junto da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, além de presidente da AN-CLIVEPA-SP e coordenador do curso de especialização Lato Sensu em ortopedia de pequenos animais.

  • Anclivepa-SP inaugura hospital público para cães e gatosem Brasília

    O quinto hospital veterinário, com atendimento de ponta e totalmente gra-tuito para cães e gatos, foi inaugurado pela Anclivepa-SP - Associação Nacio-nal de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, dessa vez na Capital do país, graças a uma parceria público-privada com o governo do Distrito Federal. O es-tabelecimento abriu as portas dia 5 de abril de 2018, e vem atendendo a 100 animais, diariamente.

    A unidade de Brasília localiza-se no Parque Lago do Cortado, Taguatinga, e dispõe de oito consultórios, um centro cirúrgico equipado com anestesia inala-tória, monitor multiparamétrico, contando ainda com 13 funcionários, dos quais sete são médicos veterinários.

    Vale lembrar que em São Paulo, Capital, funcionam três hospitais veteri-nários gratuitos, administrados pela An-clivepa-SP. Dois deles são mantidos por meio de convênio com a Prefeitura (Zona Leste e Zona Norte); o terceiro, e mais recente, é financiado inteiramente pela iniciativa privada.

    Financiamento privado: inovação

    O terceiro hospital público inaugu-rado pela Anclivepa-SP em São Paulo

    localiza-se na Vila Sônia, Zona Oeste e, ao abrir as portas no dia 25 de janeiro de 2018, já recebeu 100 tutores buscan-do atendimento para seus cães e gatos. Nos três primeiros meses de funcio-namento, foram realizados 2 mil novos atendimento clínicos, incluindo emer-gências, e 130 cirurgias, além de 2,5 mil retornos.

    As empresas MAQMEDICAL, SDA-Med, Dr. Nuvem, SGM Informática, Vetus, DPS Equipamentos Médicos, METAL-VET, KONIMAGEM, Med-Sinal, CDK e a Faculdade Anclivepa formam o primeiro time de patrocinadores que viabilizaram a abertura do novo hospital.

    Segundo o Dr. Denis Prata, vice-pre-sidente da Anclivepa-SP, a nova unidade atende consultas, cirurgias e exames la-boratoriais. “Por enquanto, são realizados 30 atendimentos diários, que devem pas-sar gradualmente para 300 a 350, como acontece nas outras duas unidades”, esclarece Prata, relembrando que todos os três hospitais gratuitos destinam-se a animais de famílias de baixa renda, com residência comprovada na Capital.

    Para manter e ampliar o atendimen-to, a Anclivepa-SP busca novos apoios e a boa notícia é que, além de empresas,

    AMPLIANDO HORIZONTES

    Revista da Anclivepa-SP18

  • pessoas físicas também podem apoiar a iniciativa. A entidade criou um sistema de doações online, que pode ser acessado no seguinte endereço: anclivepa-sp.co-labore.org.

    De acordo com a diretoria da ins-tituição, não está descartada a ideia de que a nova unidade possa ser mantida, futuramente, pelo Poder Público, por meio de um novo convênio. Mas o traba-lho em busca de patrocinadores é o que vem garantindo o funcionamento. Exis-tem também planos de inaugurar outras unidades no mesmo molde.

    O hospital da Zona Oeste está si-tuado em um prédio, com 380 metros quadrados, e conta com seis consultó-

    rios para atendimento clínico e especiali-dades, sala de raio X, sala de ultrassom, três enfermarias, três centros cirúrgicos, recepção, ampla área interna para espe-ra das pessoas com seus animais, além de estacionamento subterrâneo.

    Um pioneirismo que fez história

    Há alguns anos, hospitais veteriná-rios gratuitos pareciam um sonho, mes-mo na maior e mais rica cidade do País. O movimento de proteção animal e o en-tão vereador Roberto Tripoli lutaram, em sucessivos governos municipais, para concretizar essa conquista. Até que, no ano de 2012, o vereador conseguiu sen-sibilizar o então prefeito Gilberto Kassab, que abraçou a ideia.

    Rodrigo Rolemberg, governador do Distrito Federal; Igor Tokarski, secretário do Meio Ambiente;e Aldo César Vieira Fernandes, presidente do IBRAM, da esquerda para a direita

    Revista da Anclivepa-SP 19

  • A Prefeitura fez um chamamento público e a Anclivepa-SP conquistou o convênio para implantar o primeiro hos-pital veterinário público e gratuito do Bra-sil, que foi instalado no Tatuapé, Zona Leste, abrindo suas portas em julho da-quele ano.

    A notícia ganhou as mídias, espa-lhou-se por todo o País. Gestores públicos de várias cidades e Estados dirigiram-se à Capital de São Paulo para conhecer o primeiro hospital gratuito para cães e ga-tos, financiado por uma Prefeitura. Até jornalistas e pesquisadores do Exterior interessaram-se pela novidade, e consta-

    tou-se que era também a primeira iniciati-va desse porte no mundo.

    Desde o inicio, a demanda mostrou--se muito maior do que a capacidade de atendimento e as primeiras e acanhadas instalações foram sendo ampliadas. Hoje, o primeiro hospital ocupa um prédio de 900 m2, na Avenida Salim Farah Maluf es-quina com a Rua Ulisses Cruz, com amplo estacionamento.

    Assim, prosseguiu a luta pela des-centralização para outras áreas da cida-de. E mais uma conquista marcou essa história pioneira: em janeiro de 2014, o

    AMPLIANDO HORIZONTES

    Revista da Anclivepa-SP20

  • segundo hospital veterinário público abriu as portas, na Zona Norte da cidade, resul-tado de mais um convênio entre a Prefei-tura de São Paulo e a Anclivepa-SP, já na gestão do então Prefeito Fernando Had-dad. Essa unidade localiza-se na Avenida General Ataliba Leonel, 3.194.

    Menos sofrimentoe mais vidas salvas

    Atualmente deputado estadual, Ro-berto Tripoli observa que “a conquista dos hospitais só foi possível graças à mobilização das ONGs e também à ade-são dos médicos veterinários ligados à Anclivepa-SP. A medicina veterinária avançou muito, mas infelizmente cães e gatos de famílias de baixa renda ainda morrem devido a doenças e ferimentos relativamente banais. Sem tratamento, esses males agravam-se provocando muito sofrimento e levando a óbito. Com o advento dos hospitais gratuitos, vem sendo mudada essa triste realidade para milhares e milhares de cães e gatos e para suas famílias”.

    Já o presidente da Anclivepa-SP, Fernando Ibañez, afirma: “quem vê um animal, que às vezes é o único compa-nheiro, sofrendo, sofre junto. Ter um aten-dimento gratuito traz uma nova esperança para essas pessoas e, consequentemen-te, reduz a dor e o abandono”. Ibanez fri-sa ainda a existência de reflexos positivos até mesmo para a saúde humana, pois os animais fazem parte das famílias, em es-treito convívio com as pessoas.

    Medicina especializadaao alcance dos carentes

    Desde 2012, os hospitais da Ca-

    pital realizaram mais de 500 mil atendi-mentos, possuindo em suas equipes pro-fissionais especializados, que contam com equipamentos de primeira linha e atendem em áreas como clínica médica, ortopedia, endocrinologia, odontologia, neurologia, dermatologia, dentre outras. Além de cirurgias simples e de alta com-plexidade, os animais atendidos contam com exames laboratoriais, medicação e internação.

    O serviço é prioritário para ani-

    mais da população de baixa renda do mu-nicípio de São Paulo. O que os profissio-nais envolvidos observam é que a maioria dos animais sofre de doenças crônicas, e que sua condição física se agravou de-vido à falta de atendimento e tratamento. Isso porque as famílias não conseguem recorrer à rede particular, por carência de condições financeiras.

    Expansão para a

    Grande São Paulo Outro eixo de expansão buscado

    pela Anclivepa-SP começou a consolidar--se com a inauguração, em outubro de 2016, de um hospital veterinário gratuito para cães e gatos em Mogi das Cruzes, cidade da Grande São Paulo. A unidade, fruto de convênio com a Prefeitura daque-le Município, tem o nome de Centro de Bem-Estar Animal e localiza-se na Estra-da de Santa Catarina, 2.570, Distrito de César de Souza.

    Outros municípios do interior e do litoral do Estado deverão, no futuro, im-plantar hospitais veterinários gratuitos, nos mesmos moldes, conforme vem bus-cando a Associação de Clínicos Veteri-nários.

    Revista da Anclivepa-SP 21

  • A inauguração

    AMPLIANDO HORIZONTES

    Revista da Anclivepa-SP22

    Rodrigo Rolemberg,governador do Distrito Federal

    Aldo César Vieira Fernandes,presidente do IBRAM

    Wilson Grassi Júnior,da diretoria Anclivepa-SP

    Igor Tokarski, secretário do Meio Ambiente;e Luiz Wilson, diretor do HVEP

    Ana Nira Junqueira,analista de atividades do meio ambiente do IBRAM

  • Endoscopia diagnóstica e terapêutica avançada Endoscopia Digestiva Alta - Endoscopia Digestiva Baixa

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  • Porque e quando optar pela Terapia da Hemodiálise em pequenos animaisLuciano Henrique Giovaninni e Fernando Felippe de Carvalho

    Atualmente, a hemodiálise é consi-derada parte importante da terapia em casos de doença renal aguda e nos está-gios avançados de doença renal crônica na medicina humana, principalmente nos pacientes que aguardam o transplante re-nal, e apresentam-se oligúricos. Relatos de uso experimental da hemodiálise em cães são datados do início do século pas-sado, no entanto é crescente o número de países que utilizam as técnicas dialíticas como complemento na terapia da doença renal em animais de estimação.

    É possível dividir as terapias dialíti-cas em intracorpóreas, como, por exem-plo, a diálise peritoneal; e as extracorpó-reas no caso da hemodiálise. Nos casos de terapias extracorpóreas, ocorre mais uma divisão, agora entre modalidades de terapia, denominadas de intermiten-tes ou contínuas, e apesar de existirem diferenças práticas entre estas duas téc-nicas, os objetivos das terapias são os mesmos, ou seja, a remoção de solutos urêmicos, e do excesso de volume, do sangue, por difusão e convecção, e em alguns casos também pela adsorção, que são exercidas no filtro de dialise, de-nominado de dialisador.

    Assim, a terapia dialítica extracor-pórea resume-se em fazer o sangue do paciente circular por um filtro (dialisa-dor), que é composto por membranas semipermeáveis. A circulação do sangue pelo circuito faz com que sua composi-ção seja modificada pela transferência de solutos (toxinas urêmicas), eletrólitos e água por meio de difusão e convecção (técnicas empregadas na hemodiálise) através da membrana semipermeável no dialisador, e assim devolvendo o san-gue ao paciente com uma composição adequada, determinada pela prescrição médica. Esta passagem do sangue pelo dialisador ocorre inúmeras vezes duran-te a sessão de diálise, por isso as ses-sões são demoradas.

    Nos casos de hemodiálise intermi-tente, habitualmente a sessão dura de 3 a 6 horas e as repetições das sessões podem variar de animal para animal, mas em geral, três vezes por semana é o mais comum. Devido à eficiência da hemodiálise intermitente, é possível que na primeira sessão o objetivo de norma-lização das concentrações de solutos e água seja alcançado, porém, nos casos que a uremia é importante, a depuração

    VETERINÁRIA ESPECIALIZADA

    Revista da Anclivepa-SP24

  • rápida de solutos pode induzir a compli-cações potencialmente fatais, e assim se faz necessária mais de uma sessão para tratamento. Estas complicações são as-sociadas à síndrome de desequilíbrio de diálise, hipotensão e hipovolemia, e ocorrem principalmente nos pacientes hemodinamicamente instáveis, associa-das à sepse, choque, hipóxia e sobre-carga grave de líquidos.

    As quantidade e intensidade de so-lutos urêmicos, que serão transferidos através da membrana, dependem de inú-meros fatores, entre eles as característi-cas químicas e físicas do soluto e as pro-priedades estruturais da membrana. Água

    e solutos de baixo peso molecular (

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  • toxinas urêmicas, evitar a depleção de determinados componentes sanguíneos, repor os componentes em baixa concen-tração sanguínea, assim como minimizar as alterações fisiológicas e metabólicas durante e após as sessões de diálise.

    Como mencionado anteriormente, são dois os princípios aplicados à hemo-diálise, ou mesmo a associação deles. O princípio de difusão depende do mo-vimento de partículas através da mem-brana, a partir da solução com maior concentração de solutos para a solução com menor concentração. Uma vez que o equilíbrio é atingido, a troca de solu-tos através da membra-na cessa, contudo, como o fluxo de dialisato na membrana é constante, isso impede que o equi-líbrio seja estabelecido, promovendo assim a di-fusão ativa durante o pro-cesso. Nesse processo existe a difusão maior de substâncias com peso molecu-lar baixo, como a ureia (60 dáltons) em relação a moléculas maiores como a cre-atinina (113 dáltons). Moléculas maiores, proteínas plasmáticas e componentes celulares do sangue têm a filtração limi-tada pelo tamanho dos poros e não são removidas por essa técnica.

    O princípio de convecção se refere à diferença de pressão hidrostática entre o compartimento do sangue e do dialisa-to, que direciona o movimento de líquidos do sangue, e também promove o arraste de solutos para o dialisato. Embora o pro-cesso convectivo contribua para a depu-ração de grandes moléculas, sua con-tribuição para a remoção total de soluto geralmente é baixa. Nesta modalidade,

    não é necessário que a concentração de solutos seja maior em um compartimen-to e menor em outro, pois como referido, a remoção de solutos ocorre por fatores relacionados à diferença de pressão hi-drostática transmembrana, à permeabi-lidade hidráulica e à área da superfície da membrana e variações nesses fatores são responsáveis por determinar a taxa e o volume de ultrafiltração na sessão de hemodiálise.

    Na medicina veterinária, a maior indicação para o uso da hemodiálise é na terapia de animais com lesão renal aguda, que são aqueles que apresen-

    tam diminuição da taxa de filtração glomerular de forma abrupta, fre-quentemente cursando com uremia e oligúria, e não respondem à tera-pia para reversão destas condições, que se ba-

    seia, principalmente, na reposição volê-mica e uso de diuréticos. Nestas con-dições, há tendência de ocorrer uremia e oligúria, resultando em sobrecarga de volume e elevações na concentração séricas de potássio, aumentando o risco de morte. Nesses pacientes, o uso da hemodiálise é indicado para controle e melhora das manifestações clinicas atri-buídas à uremia e também para permitir que o rim tenha tempo para reestabe-lecer novamente as funções glomerula-res e tubulares renais. As etiologias que acarretam em lesão renal aguda podem ser resumidas entre as nefrotoxinas, do-enças infecciosas, redução da perfusão sanguínea renal, entre outras.

    A hemodiálise também tem indica-ção para os casos avançados de doença

    VETERINÁRIA ESPECIALIZADA

    A hemodiálise éum procedimento

    viável e eficaz

    Revista da Anclivepa-SP28

  • renal crônica (DRC), pois pode promo-ver melhora das manifestações clinicas da uremia, dos distúrbios eletrolíticos, minerais e ácido-base. Contudo, nestes casos, é importante que se oriente os tutores que esta melhora pode ser tem-porária, pois a diálise não repara os rins lesionados, mas sim substitui temporaria-mente algumas das funções desses ór-gãos. Assim, serão necessárias sessões de hemodiálise sequenciais, semelhan-temente ao que se preconiza na terapia da DRC em seres humanos em estágio dialítico, além de também orientar-se que, juntamente com a hemodiálise, os pacientes necessitarão de avaliação abrangente para identificação e controle de outros distúrbios relacionados a DRC propriamente dita, bem como por afec-ções concomitantes. Enfatize-se ainda que a hemodiálise pode agravar outras alterações, tais como: anemia, hipoten-são e liberação de citocinas inflamató-rias. Assim, o custo da terapia se eleva, pois é importante que se associem ava-liações laboratoriais seriadas, durante e entre as sessões.

    Atualmente, em medicina veteriná-ria de cães e gatos, não existe consenso estabelecido para se definir o momen-to em que se deve iniciar as terapias dialíticas. Porem, em 2008, um estudo apresentou sistema de pontuação que serve de base para avaliar o prognósti-co de animais em lesão renal aguda, e em 2013 se apresentou o sistema de es-tagiamento da lesão renal aguda. Estes sistemas são aplicados com base em informações coletadas nas primeiras ho-ras de hospitalização e, quando utiliza-dos em conjunto com outras avaliações clínicas, tornam-se ferramenta prognós-tica interessante para auxiliar na decisão

    Luciano Henrique Giovaninni e Fernando Felippe de Carvalho - Coor-denadores do curso de especialização em Nefrologia e Urologia de pequenos ani-mais da ANCLIVEPA-SP. Também respon-sáveis por atendimento especializado em Nefrologia e Urologia pela UnicPet, Naya especialidades e Provet diagnósticos.

    de se iniciar a terapia dialítica. Algumas indicações já preconizadas para uso das terapias dialíticas em pequenos animais são bem estabelecidas e devem ser se-guidas. São elas:

    a) Animais em anúria ou oligúria persistente, que geralmente acarreta-rão em hipercalemia e sobrecarga de fluidos.

    b) Falta de resposta na tentativa terapêutica para reversão da anúria ou oligúria em diurese adequada, pela ad-ministração de fluidos e terapia diurética.

    c) Não controle da uremia pela te-rapia convencional.

    d) Intoxicações agudas, por toxi-nas passiveis de diálise, ou então por to-xinas indutoras de nefrotoxicidade.

    Concluindo, a hemodiálise é um procedimento viável e eficaz, e em al-guns casos indispensável, tal como no manejo de animais com uremia poten-cialmente fatal. Geralmente é difícil se determinar inicialmente o tempo neces-sário para a terapia de diálise, e o prog-nóstico dependerá da individualidade de cada paciente, da etiologia da lesão re-nal e das comorbidades.

    Revista da Anclivepa-SP 29

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