analise setorial bndes 2007

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    A CADEIA DA CARNE DEFRANGO: TENSES,

    DESAFIOS E OPORTUNIDADESCelso de Jesus JuniorSergio Roberto Lima de PaulaJose Geraldo Pacheco OrmondNatlia Mesquita Braga*

    * Respectivamente, gerente, tcnico administrativo, administrador eestagiria do Departamento de Agroindstria e de Bens de Consumo, da

    rea Industrial do BNDES.Os autores agradecem as informaes prestadas pela equipe de

    pesquisadores da Embrapa Aves e Sunos e por executivos e funcionriosda Sadia, da Abef, do Sindiraes, da UBA, da Apinco, da Coopavel, doMapa Rio de Janeiro, bem como dos comentrios e sugestes dos

    senhores Dilvo Grolli, Christian Lohbauer, Gustavo Antonio Galvodos Santos e Paulo Faveret Filho. A

    GRO

    INDS

    TRIA

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    O artigo descreve o estado das artes da cadeiaagroindustrial da carne de frango, analisando cada umde seus principais elos, apontando ameaas e oportuni-dades em cada um.

    O risco de desabastecimento de matrias-primas para rao em funo da possvel utilizao do milhocomo matria-prima para produo de etanol e da soja

    para biodiesel e a endemia de gripe aviria na sia e suasconseqncias na produo e mercados brasileiros soanalisados com especial ateno.

    Algumas das tenses presentes permanente-mente na cadeia, e que fazem com que os segmentos seobriguem a estar em constante evoluo e ajuste, so percebidas pela anlise contida no artigo, no comoameaas mas como desafios da manuteno da harmo-nia do sistema e como oportunidades para desenvolvero setor, diversificar e ganhar novos e maiores mercados.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades

    Resumo

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    A cadeia produtiva da avicultura de corte apresenta umatrajetria das mais interessantes dentre as cadeias produtivas agroin-dustriais no Brasil, marcada por constantes evolues tcnicas, umadensamento constante e estreitas colaboraes entre seus integran-tes que resultaram na conquista do mercado interno, gradativamentesuplantando concorrentes na oferta de protena animal ou no mercadoexterno, superando os principais fornecedores avcolas mundiais.

    Da adaptao da tecnologia de integrao de avirios porabatedouros industriais, passando pela importao de pintos avspor via area (que foi capa da primeira revista Manchete Ruralem1987) para chegar aos avirios totalmente automatizados dos diasde hoje passaram-se cerca de 40 anos.

    Neste meio tempo incorporaram-se ao setor, alm denovas empresas comerciais que antes trabalhavam apenas no abatede sunos ou bovinos, cooperativas de produtores agropecurios,empresas que atuavam somente no processamento de gros, comotambm toda gama de fornecedores de equipamentos, materialgentico, medicamentos, insumos destinados nutrio, embala-

    gens, mquinas industriais, sem esquecer das universidades, em-presas de pesquisa e de rgos governamentais ligados sanidadeanimal e dos alimentos.

    Se no incio dos anos 70 era comum a expresso quandopobre come frango um dos dois est doente, nos anos 90 o preoda carne de frango foi ncora de plano econmico no s por passarlongo tempo com preo estvel como por possibilitar o acesso protena s camadas mais pobres da populao.

    Mas o caminho, por contraditrio que parea, no foi totranqilo como o xito alcanado pode pressupor.

    A constante competio com as outras protenas animais,demandando contnuos esforos de diminuio de custos e desen-volvimentos de produtos; o permanente risco de doenas nos cria-trios; a preocupao incessante com as condies sanitrias doabate e processamento da carne; as disputas comerciais internas eexternas; enfim, toda sorte de ameaas que precisaram ser supera-das rechearam a histria da cadeia de tenses entre os seus com-ponentes e desses com o ambiente externo ao setor.

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    Introduo

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    As recentes ameaas de endemia por gripe aviria e dedesabastecimento por utilizao de milho na produo de etanolforam os motes iniciais deste trabalho que procura, a partir dacaracterizao do funcionamento e da anlise da situao atual,

    identificar as tenses, desafios e oportunidades que se apresentam,no momento, para a cadeia da avicultura de corte, separando asquestes a jusante e a montante da indstria de abate.

    Em qualquer cadeia produtiva o setor a montante daindstria de transformao tem papel fundamental, afinal sem aproduo primria no h produto secundrio, bvio. Porm, emraras cadeias o processo de produo primria to complexoquanto a avicultura de corte.

    Longe de ser confusa, a produo dessa protena ani-mal envolve tantas e to diversas atividades exigindo tal grau decongruncia entre si que poderia ser comparada a uma engrena-gem de relgio, onde cada pea fundamental para manter apreciso necessria para o alcance do seu objetivo final: a cons-tncia da oferta de carne de frango ao mercado consumidor nacionale internacional.

    Gentica, alimentao, alojamento e sanidade so algunsdos grupos constitutivos desta fase de produo. No so os nicose nem so apartados. Guardam estreita relao de interdepen-

    dncia. O resultado alcanado em uma destas atividades interferenas outras, exige adaptaes, respostas; enceta um novo processode pesquisa e desenvolvimento, o que faz reiniciar o curso evolutivopermanente da cadeia.

    Cada um destes grupos envolve uma ou mais cadeiasprodutivas e, portanto, tem ameaas e oportunidades distintas, tantodo ponto de vista da avicultura quanto do setor especfico.

    A pesquisa e desenvolvimento gentico de aves des-tinadas ao corte tem tido importante responsabilidade pelo cresci-mento da avicultura no Brasil e no mundo. Este setor, respondendos demandas da indstria de abate, conseguiu desenvolver linha-gens hbridas com constante melhoria de converso alimentar,velocidade de ganho de peso e rendimento de carcaa, alm de terimportante influncia na diminuio do risco sanitrio do setor.

    Este desenvolvimento pode ser constatado em trs nveisde evoluo das aves de corte:

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    Avicultura aMontante

    Gentica

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    inicia o processo de hibridagem. O objetivo produzir um casal deaves capaz de reproduzir em sua descendncia o conjunto decaractersticas especiais dos seus ascendentes.

    Das linhagens de cujo cruzamento resultar a ave matrizmacho espera-se a capacidade de reproduzir essencialmente ascaractersticas de ganho de peso, rendimento de carcaa e capa-cidade de converso alimentar, enquanto das linhagens que pro-duziro a ave matriz fmea espera-se absorver a capacidadede proliferao.

    Como na maioria dos processos de produo de hbridos,vegetal ou animal, o resultado final no retm a mesma eficincia natransmisso das caractersticas herdadas, tornando sua reproduocomercial pouco lucrativa.

    As aves matrizes so o resultado do pacote tecnolgicodesenvolvido pelo setor gentico da avicultura e funcionam comouma mquina, com todos os seus componentes instalados, prontapara produzir em srie o produto final: o pinto de um dia, capaz deser transformado pelas mos do avicultor, no tempo e nas condi-es esperadas, no frango que a indstria de abate promete entre-gar ao consumidor.

    At 1967, quando foi proibido, o Brasil importava pintos de1 dia e matrizes, e no incio dos anos 70 o pas ainda importava, nasua maioria, da Frana, todos os pintos avs para a produode matrizes.

    Ainda hoje so importados todos os materiais genticospuros mas algumas empresas j fazem, no pas, diretamente ou porintermdio de parcerias, desenvolvimento gentico a partir de li-nhagens puras, como o caso da brasileira Agroceres, incorporadapelo grupo holands-americano Aviagen, ou criao de aves bisa-vs, como o caso da Cobb-Vantress em granja prpria e emparcerias com grandes integradoras.

    As principais linhagens puras utilizadas no Brasil, as res-pectivas empresas genticas desenvolvedoras e seus pases de

    origem, as atuais proprietrias e os grupos econmicos a quepertencem esto listados na Tabela 1.

    Uma matriz comea a postura em at 24 semanas e tem68 semanas de vida til produtiva, produzindo cerca de 150 ovosneste perodo. Avs e bisavs tm capacidade reprodutiva doisteros menor e, muito embora a descendncia de uma ave de linhapura resulte em 4,5 milhes de pintos de um dia, durante todo o seuperodo de vida til o fato de as aves serem criadas em lotes deter-mina escalas de alojamento para fornecimento de lotes mnimos.

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    Cada um desses elos demanda investimentos especficosem alojamento, alimentao e manejo diferenciados, cuja verticali-zao pode ser justificvel para o produtor gentico, posto que doprocesso de reproduo depende o sucesso de seu produto, mas discutvel do ponto de vista da indstria do abate, uma vez que sedistancia muito da especializao de seu negcio.

    Assim, um frigorfico com capacidade de abate de 120 milaves/dia consumiria toda a produo de um matrizeiro com capaci-dade de alojamento de, no mnimo, cerca de 280 mil aves que, porsua vez, demanda toda a produo um avozeiro de 34 mil aves, queir consumir a produo de 5 mil bisavs.

    Embora primeira vista possa parecer uma escala razo-vel, encontra dois tipos de problema:

    a) no seguro para um empreendimento ter uma quan-tidade to reduzida de clientes;

    b) a maioria das empresas/cooperativas integradoras pre-

    fere trabalhar com mais de uma linhagem, como segu-rana, caso haja problemas sanitrios ou graves pro-blemas deperformance em uma linhagem especfica.

    A acelerao do crescimento da produo da aviculturade corte no Brasil, no final da dcada de 90, de forma sustentadaconferiu ao setor um patamar que viabiliza no s o aumento daquantidade de empresas que operam como granjas matrizeirascomo tambm a instalao de incubatrios e granjas de alojamentode avs e bisavs no pas.

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    Tabela 1

    Linhagens Genticas, Empresas Detentoras e Pases de OrigemGRUPO EMPRESA

    PROPRIETRIALINHAGEM EMPRESA

    DESENVOLVEDORAPAS DE ORIGEM

    Tyson Cobb-Vantress Cobb Cobb EUATyson Cobb-Vantress Avian Avian farms EUA

    Aviagen Aviagen Arbor Acress Arbos acress EUAAviagen Aviagen Ross Ross Breeders EscciaAviagen Aviagen Ag Ross 1 Agroceres BrasilNutreco Hybro HiSex HolandaNutreco Hybro Hybro pg HolandaRhodia ISA Hubbard Hubbard CanadRhodia ISA Isa Vedette ISA EUAGoverno Brasil Embrapa Embrapa2 Granja Guanabara BrasilTyson Cobb-Vantress Chester Perdigo Brasil

    Fonte: FINEP, Ariel.1Material gentico desenvolvido pela Agroceres do Brasil, em parceria com a Ross Breeders.2Primeiro material gentico para ave de corte produzido no Brasil, na dcada de 70, pela Granja Guanabara que veio

    a falir aps episdio de contaminao em seu plantel e cujo material foi adquirido pela Embrapa, recuperado e mantidoat hoje.

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    Os avicultores brasileiros alojaram, em 2006, cerca de 4,6bilhes de pintos de corte, que representam 20% de todo o custoda indstria de abate. Este patamar na escala de produo e cus-to viabilizou a instalao de granjas de criao de aves bisavs

    nas maiores indstrias de abate e processamento Sadia e Per-digo assim como o alojamento de matrizes em indstrias ecooperativas.

    A existncia de indstrias de abate de mdio porte viabili-za, tambm, a instalao de avozeiros e matrizeiros independentes,que trabalham em parceria com as produtoras genticas de nvelmundial. Os avozeiros instalados no pas j representam 15% detodo o material gentico necessrio ao setor de avicultura de cortenacional e 95% das matrizes so produzidas no Brasil, sendo 20%destas por granjas independentes.

    Os riscos, os custos e a dinmica do desenvolvimentogentico produziram profundas alteraes no panorama do seg-mento tanto no horizonte brasileiro quanto mundial.

    At o incio dos anos 90 o mercado brasileiro era dominadopela linhagem Hubbard, seguido pela linhagem Ross, mas comparticipaes importantes das outras linhagens listadas na Tabela 1.Em 2005, as informaes disponveis so de que a linhagem Cobbatende mais da metade do mercado brasileiro de pintos de 1 dia; aCobb-Vantres e a Aviagen detm 80% deste mesmo mercado,refletindo o panorama mundial da gentica de aves, onde a Aviagendetm cerca de 50% do mercado e a Cobb-Vantres cerca de 30%.

    A concentrao do mercado mundial, resultado de intensacompetio, tem trazido reflexos positivos para o Brasil, j que das4 maiores empresas genticas, 3 (Cobb, Aviagen e Hybro) realizamno pas a primeira fase de reproduo das linhagens puras.

    Esta nova estruturao traz algumas vantagens indstrianacional, e ao pas, quais sejam:

    a) maior controle da oferta da cadeia;

    b) melhor controle sanitrio dos elos da reproduo;

    c) facilidade de correo de problemas do pacotetecnolgico.

    A correo de problemas do pacote tecnolgico, quetambm pode ser aproveitado na melhor adaptao da linhagem scondies climticas do pas, pode trazer vantagens adicionais aserem apropriadas unicamente pela avicultura brasileira.

    Alguns especialistas alertam para o fato de que estaconcentrao em poucas empresas mundiais traz risco de diminui-o da variedade gentica, expondo at mesmo a conservaoda espcie.

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    Este risco, embora muito pouco provvel, no totalmentedesprezvel para uma espcie que costuma ser criada em grandeslotes e, portanto, propensa transmisso de doenas com extremavelocidade. Isto justifica a manuteno pelas empresas da poltica

    de utilizao de vrias linhagens em seu plantel. Tambm deve serdada especial ateno linhagem mantida pelo poder pblico(neste caso representado pela Embrapa) cuja linhagem pode vir aservir de reserva para contingncia de risco de extino, umaespcie de no break da avicultura brasileira.

    Responsvel por 60% do custo de um frango, a alimenta-o um dos pontos mais crticos da cadeia produtiva e, quandobem administrado, pode representar a maior vantagem competitiva

    de uma empresa, regio ou pas produtor.

    A alimentao das aves envolve no s a sua composionutricional, mas tambm a forma de obteno de seus componen-tes, o manuseio de sua mistura, seu armazenamento e manuseiopara fornecimento aos animais.

    A composio nutricional das raes fornecidas s avesde corte contribuiu de forma vital ao desenvolvimento do setor, vezque avanou de forma correlata ao desenvolvimento gentico. Seno incio do sculo as raes eram compostas de farinhas de origemvegetal e animal, com cerca de 6 ingredientes, j no final da dcada

    de 50 eram compostas de cerca de 22 ingredientes, incluindominerais e vitaminas e, atualmente, mais de 40 ingredientes podemcompor a formulao de uma rao, indo desde milho e soja aaminocidos e promotores de crescimento, passando por vitaminase microminerais, que proporcionam nutrio o balanceamentonecessrio ao eficaz desenvolvimento do animal, alm de evitar osproblemas sanitrios mais comuns.

    Desde o incio a transformao do segmento de nutrioanimal contou com o envolvimento de grandes indstrias de alimen-tos que adquiriram moinhos para formular e misturar raes balan-ceadas. A Cargil e a Ralston Purina foram precursoras, nos Estados

    Unidos, desta atividade, incentivadas pela expanso do setor avcola.

    No Brasil o caminho foi semelhante, incorporando, pos-teriormente, cooperativas, como a Cotia, que, aproveitando a siner-gia com a atividade de recepo e processamento de gros, pas-saram a formular e misturar raes para seus cooperados, tendo asgrandes integradoras avcolas seguido na mesma direo.

    Atualmente o segmento de raes encontra-se pulveriza-do e especializado. As fbricas de raes produzem produtos com-

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    Alimentao

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    pletos para cada tipo de criao, como tambm fornecem concen-trados, para serem misturados ao farelo de soja e farinha de milho,que so vendidos a produtores independentes e a empresas inte-gradoras de pequeno porte. As maiores empresas de nutrio

    fornecem tambm o Premix, uma pr-mistura de micronutrientes,sais minerais, aminocidos e outros aditivos, e podem conter, tam-bm, promotores de crescimento, anticoccidianos e antioxidantes.

    A maior parte das raes avcolas atualmente so prepa-radas nas indstrias integradoras e cooperativas. Algumas adotamcomo estratgia a compra do Premix, para misturar com farelo desoja, milho, sal, fosfato e outros macronutrientes, e outras compramdiretamente todos os ingredientes e misturam em fbrica prpriade raes.

    A maior parte da rao distribuda ao avicultor feita agranel, transportada em caminhes apropriados que abastecem ossilos anexos s granjas. Uma pequena parte, destinada a produtoresindependentes menos tecnificados ou para criadores de animaisdomsticos, fornecida ensacada em material plstico, que minimi-za riscos de umedecimento e conseqente deteriorao do produto.

    A presena de toxinas ou produtos contaminantes nasmatrias-primas utilizadas ou no processo de fabricao uma dasprincipais preocupaes deste segmento da cadeia avcola. Assim,embora no haja defasagem tecnolgica significativa no segmento,uma parte das empresas necessita de investimentos para se ade-quar a condies de programas de BPF Boas Prticas de Fabrica-o e desenvolvimento de anlise de perigos e pontos crticos decontrole (HACPP).

    O nvel de automao de pesagem de nutrientes e apreciso das anlises laboratoriais tambm so deficincias apon-tadas. Embora no sejam consideradas crticas para o funcionamen-to das empresas, estas questes limitam a evoluo da qualidadedo produto.

    Outra questo que preocupa o segmento a crescenteexigncia de rastreabilidade das matrias-primas utilizadas, princi-

    palmente com o crescimento da comercializao de produtos agr-colas contendo organismos geneticamente modificados (OGM), e aexistncia de mercados que no admitem a utilizao de tais produ-tos na alimentao do frango.

    Os mecanismos de controle hoje existentes, tanto na re-cepo de gros como na preparao de raes, em grande partedos casos no esto preparados para fazer as separaes neces-srias ou a certificao exigida pelos mercados que restringem ouso dos OGMs.

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    Do ponto de vista da anlise do suprimento das mat-rias-primas utilizadas, h que separ-los em grupos distintos, paramelhor aprofundamento. A Tabela 2 apresenta a composio bsicadas raes para aves de corte.

    Segundo dados do Sindiraes, a cadeia nacional deavicultura de corte consumiu, em 2005, 40% da produo brasileirade milho e 50% da produo de farelo de soja. Mesmo com asvariadas tentativas de substituio parcial, destes dois elementos,na formulao das raes, os nmeros acima e as pesquisas emnutrio animal no apontam possibilidades de alteraes significa-tivas na lista de componentes nutricionais para aves nem a curtonem a mdio prazo, principalmente no que tange diminuio daquantidade do principal componente energtico, o milho, ou doprotico, a soja.

    Embora existam estudos sobre a utilizao de farelo depalma em substituio a uma parte do milho usado na rao, eexperincias de utilizao de trigo, triguilho, sorgo, triticale e outrosingredientes, no s a substituio significativa ainda no teveresultados positivos como seriam necessrios incentivos, ainda noexistentes, para que haja importante aumento da produo destespossveis substitutivos.

    As recentes novidades no mercado de combustvel, coma utilizao de gros para fabricao de etanol e biocombustvel,

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    Tabela 2

    Composio da Rao por Nutrientes

    Macronutrientes 99,54%Milho 65,00%farelo de soja 20,00%farelo de trigo 1,03%farinha de carne 4,49%Sorgo 1,80%trigo/triticale/triguilho 2,00%Calcrio 1,46%fosfato biclcico 0,57%

    sal 0,33%outros ingred. e gorduras 2,86%Premix 0,46%Vitaminas 0,02%microminerais 0,07%aminocidos 0,19%outros aditivos 0,18%Total 100,00%Fonte: Sindiraes, elaborao BNDES.

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    podem afetar a disponibilidade de insumos para alimentao animalde formas distintas e inversas.

    A oferta de componentes proticos pode ser aumentada

    pela utilizao dos dois gros. No caso da soja, o processo deobteno do biodiesel, a partir do leo, tem como subproduto ofarelo, o que tende a aumentar a oferta deste produto, seja nomercado nacional ou internacional.

    A obteno de etanol utilizando o milho resulta num sub-produto, denominado DDGS Destillers Dried Grains with Solubles de alto valor protico que, embora no substitua completamentea soja, pode ser utilizado como produto alternativo, em quantidadesainda em estudos.

    A disponibilidade de componentes energticos, em con-trapartida, pode ser afetada negativamente pela retirada de quanti-dades significativas de milho do mercado para produo de etanol,conforme anunciado pelo governo dos EUA, se mantidas estveis aproduo e produtividade do gro no mundo inteiro.

    A produo mundial de milho foi de 709 milhes de tone-ladas em 2005. De 1993 a 2005 houve um crescimento de 49,7% naproduo total, resultado do aumento de 26,9% em rea e 18%em produtividade.

    Os EUA colhem cerca de 40% de todo o milho produzidono mundo, a China 20% e o Brasil 5,8%; outros 134 pases produzemos restantes 34%, segundo os dados coletados pela FAO para operodo de 1993 a 2005.

    A evoluo, que pode ser observada no Grfico 1, se deua uma taxa de 3,4% a.a para produo, resultado do acrscimo derea de 2% a.a. e de incremento de produtividade de 1,4% a.a.,segundo os dados agregados.

    Algumas questes, no entanto, so escamoteadas pelaagregao dos dados, e sua anlise de forma especfica pode trazermaior luminosidade s observaes sobre o processo evolutivo dacultura, assim como melhor embasar uma anlise prospectiva.

    A China, segundo o conjunto de dados analisados, apre-senta grandes variaes, de ano para ano, em sua rea e produtivi-dade, porm, mantm uma certa regularidade na produo, indican-do uma possvel compensao de perdas de produtividade comaumentos de rea nos anos crticos. A queda dos ndices de produ-

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    O Milho

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    tividade nestas ocasies parece indicar a incorporao de produto-res menos qualificados para suprir necessidades de abastecimento.

    O acentuado declnio da produtividade mdia mundial noano de 2005, o aumento de rea e pouca alterao na produo totalso exemplos da influncia que a China pode exercer nos resultadosmundiais agregados1 e que podem ser observados no Grfico 1.

    A produo chinesa cresceu 35,3% de 1993 a 2005 e, nosltimos 5 anos, o pas foi responsvel por cerca de 6% da importaomundial, mantendo taxas semelhantes em todos os anos. Suaexportao, por outro lado, varia de 2,8% a 18% do comrcio totalde milho. A anlise destes dados indica que o pas mantm certocontrole sobre o consumo total do gro no pas, exportando even-tuais excedentes.

    Considerando que esta anlise do mercado chins, mes-mo que de forma simples, no apresenta elementos que o apontemcom tendncias a revolucionar a demanda mundial de milho, e que

    as grandes variaes na sua produo e produtividade interferemna anlise dos dados agregados, optou-se por fazer uma anlise,em separado, das informaes a respeito dos demais pases e dosEstados Unidos, maior produtor mundial.

    Os EUA colhem em torno da metade do milho produzidopor este conjunto de produtores, utilizando-se de cerca de umquarto da rea total. Sua produo, no perodo de 1996 a 2005,aumentou em 20,4%, resultado de um acrscimo de 3,4% de rea eum incremento de 16,4% na produtividade. Os demais pases, no

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    1Neste ano os dados apre-sentam crescimento da pro-duo chinesa em 7%, com

    aumento de rea da ordemde 81,6% e queda de 42%

    na produtividade.

    Grfico 1

    Produo Mundial de Milho 1993-2005

    Fonte: FAO, elaborao do BNDES.

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    mesmo perodo, obtiveram aumento de 28,2% na produo, deman-dando 4,7% a mais em rea e incrementando a produtividadeem 22,5%.

    Embora o aumento da produo dos demais pases tenhasido maior que o dos EUA, a diviso no sofreu alteraes significa-tivas, mas o que chama a ateno que os ritmos se mostramdiferentes, principalmente nos ltimos 5 anos e de que a participa-o norte-americana no suprimento do comercio mundial vem sen-do substituda gradativamente pelos outros pases que tambm seincumbem de suprir o aumento desta demanda.

    As taxas de crescimento de rea colhida nos EUA e nosdemais pases so semelhantes e abaixo de 1% a.a., pormo acrscimo de produtividade se mostra menos vigoroso nosEUA 1,6% a.a. ante um crescimento de 3,4% a.a nos demais pases.

    A produtividade norte-americana (9,3 mil kg/ha em 2005)se aproxima do limite superior das produtividades mdias alcana-das no mundo,2 e portanto o aumento de produo ser feito prefe-rencialmente atravs de aumento de rea, passando a disput-las comoutras culturas. Em contrapartida, dois teros da rea plantada nosdemais pases tm grandes espaos para aumento da produo, viaincremento de produtividade, que equivalente a um tero dorendimento atual alcanado pelos agricultores norte-americanos.

    Dos pases que produzem milho, 53 produzem em maisde 500 mil hectares ou produzem mais de 1 milho de toneladas, e

    so responsveis por 94% da produo mundial (exceto EUA eChina). Nos ltimos 5 anos, somente 7 no apresentaram aumentode produo, enquanto 25 apresentaram crescimento de rea eprodutividade, 11 somente de produtividade e 10 somente de rea,resultando num crescimento da produo de 23%.

    Destes pases, somente 7 apresentam produtividades aci-ma de 9 mil kg/ha, estando portanto prximos das produtividadesmximas, mas representam somente 8,5% da produo do conjuntoe 3% da rea. Na outra ponta, 23 pases apresentam produtividadesabaixo de 3 mil kg/ha e ocupam 46% da rea utilizada pelo conjuntoe participam com 26% da produo, destes 5 apresentaram ganhos

    de produtividade acima de 20% nos ltimos 5 anos, sendo que aTanznia dobrou a produtividade mdia do pas.

    O consumo deste conjunto de pases aumentou em 20,4%nos ltimos 5 anos e sua produo aumentou 23,3%, diferena estaque permitiu suprir o aumento de 7,7% na demanda dos importado-res e compensar a reduo de 6,1% das exportaes dos EUA.

    Dos 20 pases maiores exportadores mundiais de milho em2005, 15 aumentaram suas produes em mais de 20% nos ltimos

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades204

    2A maior produtividade m-dia mundial (em reas acimade 50 mil ha) alcanada

    pela Blgica, com 12,2 mil kg/ha, seguida pelo Chile(11,2 mil kg/ha), ustria e Gr-cia, com 10,3 e 10,2 mil kg/ha.

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    5 anos, 9 dos quais com estratgia exportadora3 e 2 direcionaram oaumento para o consumo interno (China e Canad) o restante noalterou significativamente a relao consumo interno/exportao.

    Estes dados permitem projetar uma situao em que,mantidas as taxas anuais de crescimento de consumo e produo(taxas anuais de 3,8% e 4,3%), estoques constantes e as condi-es de preo do mercado do ano de 2005, a oferta de milhonorte-americana ao comrcio internacional (45,6 mm de toneladas)estaria completamente substituda pelos demais pases num prazode 15 anos.

    O Grfico 2 mostra nitidamente a tendncia de crescimen-to de produo e produtividade, que s no foi mais intenso emvirtude da diminuio da produo de importantes pases em funode problemas climticos em 2005 e da seqncia de preos pouco

    compensadores.Se a tendncia de aumento da produo j era evidente

    at 2005, intensificou sua amplitude a partir do anncio, em meadosde 2006, da inteno norte-americana de substituir importante partedo consumo interno de combustvel fssil por etanol obtido a partirdo milho.

    A perspectiva de retirada abrupta do mercado de metadedo volume do comrcio mundial provocou impacto quase queimediato no preo da commodity, conforme pode ser observadono Grfico 3.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007 205

    3Argentina, Ucrnia, Alema-nha, Srvia, Bulgria, Para-guai, Grcia, Polnia e Mol-dvia (aumentaram relaoentre produo e exporta-o e j representam 26%do comrcio mundial).

    Grfico 2

    Produo Mundial de Milho, Exceto China e EUA 1993-2005

    Fonte: FAO, elaborao do BNDES.

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    O aumento de preos, por sua vez, provocou reaes nosagricultores de importantes pases produtores, como os prpriosnorte-americanos, brasileiros e argentinos. Os primeiros aumenta-ram a rea plantada, substituindo reas de soja, estimulados pelospreos e garantindo-se na estratgia de substituio subsidiada decombustvel fssil por etanol. Os restantes, tambm estimulados pelospreos e pela perspectiva de maior substituio da oferta norte-ameri-cana ao mercado mundial, tambm aumentaram suas produes.

    A acelerao do processo de rearranjo do abastecimentoe a anlise mais acurada das condies do mercado mundial fizeramcom que as cotaes diminussem e estabilizassem, porm em pa-tamar superior ao observado no perodo anterior ao anncio, seme-lhante ao pico dos preos de 2004, o que continua estimulando osprodutores a prosseguir, mais aceleradamente, a tecnificao da cul-tura e, conseqentemente, o aumento de produtividade e produo.

    Nestes aspectos, o Brasil se encontra em posio privilegiada:

    1) um grande produtor, lastreado em um grande con-sumo interno;

    2) tem uma produtividade mdia (3.235 kg/ha em 2005)com muito espao para crescimento;

    3) pode produzir duas safras em um ano;

    4) tem proximidade com pases exportadores (Argentina-Paraguai);

    5) tem estrutura e experincia em exportao de gros.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades206

    Grfico 3

    Preos de Milho Bolsa de Chicago 2004-2007(Em US$ Cents por Bushel)

    Fonte: Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT).

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    O mercado brasileiro consumidor de milho encontra nveisde segurana de abastecimento como em poucos pases no mundo,seja pelo volume da produo, seu potencial de crescimento ou, nolimite, pela proximidade de outros mercados abastecedores.

    Embora no se esperem grandes aumentos de produti-vidade na Regio Nordeste, exceto na Bahia, as outras regiesainda podem avanar muito em termos de produtividade do mi-lho, pois a mdia de rendimento destas regies ainda se situa emtorno de 3.900 kg/ha e o melhor resultado dos ltimos anos, daRegio Centro-Oeste em 2003, foi de 5.129 kg/ha, valores aindainferiores s mdias alcanadas por diversos pases do Leste Euro-peu e pela Argentina.

    O melhor elemento de incentivo certamente o preo

    pago ao produtor e o custo dos insumos, de forma que a relaoentre um e outro lhe permita utilizar melhor e maior tecnologia e,assim, alcanar rentabilidade da terra e do trabalho que compensemanter-se na cultura. Experincias realizadas a campo, no Paran,mostraram a possibilidade de alcanar cerca de 12 mil kg/ha, comaplicao de tecnologias de plantio e adubao adequados ao tipode solo.

    A constatao de que estes incentivos podem alavancar aprodutividade brasileira o aumento de 11,5%, em relao safraanterior, na produtividade mdia da cultura de milho obtida nasafra 2006/7, conforme levantamento divulgado em julho de 2007

    pela Conab.

    Os micronutrientes adicionados rao so os respon-sveis por grande parte do avano da avicultura, posto que comple-mentam os ingredientes bsicos da rao com minerais, aminoci-dos e vitaminas, para tornar a nutrio mais eficiente, alm depermitirem a administrao, via rao, de compostos preventivosdas doenas mais comuns e de promotores de crescimento.

    No que tange preparao do Premix, a indstria deraes e as empresas de avicultura no apontam graves problemasde abastecimento ou de tecnologia de processo, porm algumasquestes so percebidas como potenciais tenses.

    A maior parte dos micronutrientes utilizados nas raesso importados, principalmente as vitaminas, de mercado dominadobasicamente por 5 empresas (Basf, Bayer, Degussa, Rhne-Poulence Ajinomoto), cada qual com especializao em uma linha de produtos.

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    Micronutrientes

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    Notcias de mercado do conta de que fabricantes chine-ses vm fazendo incurses no segmento, com fabricao de algu-mas vitaminas ou de compostos de microminerais. Porm, a ofertano constante e, por vezes, desestabilizam o mercado, causando

    prejuzos s empresas lderes, que ameaam fechar fbricas.

    O aminocido lisina, utilizado no balanceamento das ra-es para diminuir uso excessivo de protenas, representou 17,7%(32 mil ton) do volume da demanda brasileira de microingredientespara raes em 2005 (180 mil ton), segundo o Sindiraes, , namaior parte, adquirido da fbrica brasileira da Ajinomoto.

    A empresa anunciou, recentemente, o aumento da produ-o de sua fbrica de 48 para 72 mil ton/ano e a construo de novaunidade com capacidade de 60 mil toneladas/ano. O grupo coreanoCJ Corporation tambm anunciou a construo de uma fbrica de

    lisina com capacidade de produzir 50 mil ton/ano, para entrar emfuncionamento em outubro de 2007.

    Estas notcias significam que, no que diz respeito a essecomponente, o Brasil no s caminha para a auto-suficincia comopoder tornar-se exportador em pouco espao de tempo.

    A metionina, outro aminocido importante, utilizado paraotimizar o ganho de peso, eficincia alimentar, teor de protena nacarcaa e estmulo ao consumo de rao, representa cerca de 23%da demanda de microingredientes e, no entanto, no existe produ-o significativa no Brasil, a Rhne-Poulenc chegou a operar uma

    fbrica de metionina, no plo petroqumico de Camaari, mas fe-chou-a na dcada de 90.

    A colina, que representa 10,6% dos micronutrientes utiliza-dos na alimentao animal no Brasil, tambm no tem fabricantesimportantes no pas.

    Lisina, metionina e colina, juntas, so cerca de 51% dovolume total de micronutrientes. O volume demandado e algumasde suas rotas qumicas de obteno podem ser utilizados parainverter a situao brasileira de importador para uma postura ofer-tante no mercado mundial.

    A lisina pode ser obtida por fermentao a partir de carboi-dratos e a rota mais utilizada a partir da cana-de-acar. A ins-talao e a expanso de fbricas de lisina no pas tm a ver com osignificativo aumento da produo nacional de seu insumo bsico.

    A colina pode ser extrada da lecitina de soja, produtoobtido no processo de degomagem ou purificao do leo de sojae a metionina obtida a partir da acrolena, um aldedo que podeprovir do propeno (derivado de petrleo) ou da glicerina.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades208

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    A glicerina tambm tem diversas rotas qumicas de obten-o, porm, o que a torna interessante, neste caso, que uma destasrotas a purificao de leos vegetais no processo de fabricaode biocombustvel. Neste caso, a glicerina seria um subproduto

    abundante, no aproveitvel no setor a que o produto principal sedestina, do qual os processadores necessitam se desfazer.

    A intensificao do processamento da soja e da cana-de-acar pode trazer importantes inseres do Brasil na rea dachamada qumica fina, facilitadas pela abundncia de matria-primaque, em ltima anlise, pode vir a aliviar tenses existentes nosegmento de nutrio animal e, possivelmente, criar condies demaior competitividade internacional.

    Outra questo, ligada aos micronutrientes e que, even-tualmente, causadora de tenses na cadeia da avicultura aeventual proibio ou limitao de utilizao ou presena de ingre-dientes na rao.

    A criao comercial de qualquer tipo de animal pressupea assuno de um conjunto de mtodos de acomodao, formas defornecimento de alimentao e maneiras de tratar o animal quemaximizem a obteno do produto pretendido com a criao. Cha-ma-se este procedimento de prticas de manejo.

    A evoluo das prticas de manejo avcola caminhoupasso a passo com a evoluo da gentica, do desenvolvimento danutrio, da mudana de escala de produo da indstria e dos novosparadigmas de competitividade do setor de avicultura de corte.

    A intensificao da escala na indstria de abate estabe-leceu determinantes logsticas que provocou o aumento da quanti-dade de aves alojadas por criador e imps um limite distncia entreos avirios de criao e os abatedouros.

    A quantidade de aves alojadas por criador determina, para

    montagem da escala de abate, uma srie de procedimentos dedeslocamento de veculos, movimentao de pessoal para captu-ra das aves e inspeo de lotes que, quanto maior a quantidade decriadores envolvidos na escala de um dia, maior o grau de riscode realizao do abate planejado.

    Por sua vez, a distncia entre o abatedouro e o avirio,alm de aumentar o custo de transporte aumenta o grau de risco deefetivao da escala de abate, em funo das condies de acesso,e de possveis acidentes ou outros tipos de atraso.

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    Alojamento

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    Para diminuir os riscos, a indstria vem, paulatinamente,estimulando seus integrados a aumentarem a quantidade de ani-mais alojados (hoje os novos galpes tm capacidade para cercade 25 mil aves e o sistema como um todo uma mdia de 15 mil por

    galpo) e, por outro lado, desestimulando a criao de aves adistncias superiores a 100 km do abatedouro (ou 60 km, depen-dendo das condies de acesso).

    Ao alojamento de uma maior quantidade de aves, comaumento do nmero por galpo, e conseqente diminuio deespao por ave, seguiu-se a preocupao com maior confortodo animal.

    Esta preocupao tem a ver com a diminuio do nvel destress, seja com a presena humana em meio criao, calor ou frioexcessivo, qualidade e quantidade de gua fornecida, qualidade e

    quantidade da alimentao e excesso de luminosidade.

    Sendo um animal arisco, a movimentao de pessoasdentro do galpo, em meio a uma grande quantidade de aves, podechegar a aumentar o nvel de mortalidade, por stress ou danomecnico. A fim de minimizar esta movimentao, o segmento,gradativamente, vem aumentando o nvel de automatizao nofornecimento de rao e gua dentro dos galpes evitando, assim,que os criadores tenham que se movimentar em meio s aves,diariamente, seja para distribuir rao, seja para promover limpezade bebedouros e comedouros.

    O calor e o frio excessivos causam perda de energia eportanto maior gasto de rao, alm de levar astress que chega acausar morte. A climatizao dos galpes, atravs da instalaode ventiladores, para promover a circulao do ar, e de sistemas deaquecimento tm funo de manter um ambiente de clima estvelque no provoque danos aos animais e j parte integrante dosequipamentos da maioria dos criatrios avcolas.

    A luminosidade outro fator que, embora no seja res-ponsvel por um aumento do nvel destress da criao, mantm osanimais em constante viglia que os estimula a maior movimentaoe, portanto, maior gasto de energia e, conseqentemente, maior

    consumo de rao. Controle da luminosidade o manejo utilizadopara minimizar esta influncia.

    Como forma de diminuio de custos as integradoraspassaram a distribuir raes a seus integrados na forma granelizada,o que implica a necessidade de silos de armazenagem nos avirios,em substituio aos antigos depsitos de rao em sacos. Adicio-nalmente, esta prtica contribui para melhorar as condies dasraes fornecidas s aves, que ficam menos sujeitas contamina-o por fezes e urina de roedores e outros animais, por estarem

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    menos expostas, como tambm diminui a possibilidade de deterio-rao por umidade.

    A exposio da criao de frangos ao convvio de outros

    animais uma questo que voltou baila, em funo dos riscos deinfeco por gripe aviria, mas que j vinha sendo motivo de preo-cupao e ao do setor h algum tempo.

    A colocao de telas de malha fina nas paredes lateraisdos avirios, em substituio aos antigos telamentos com sacos,tem como funo bsica evitar a invaso por pequenas aves eoutros animais de mdio porte, que no s consomem rao comotambm atacam as aves e podem transmitir doenas ao plantel.

    Isolamento da rea de criao, delimitando o espao da

    criao, independente do restante da propriedade, mais uma dastentativas de aumentar a biossegurana na avicultura de corte.

    Ante-sala para evitar entrada direta no ambiente do criat-rio tambm tem a funo de inibir o livre acesso de pessoas eanimais, por questes de biossegurana e de minimizao destressdas aves.

    A preocupao com a comodidade das aves est direta-mente ligada maior eficincia produtiva: uma ave tranqila estmenos sujeita a doenas, a danos fsicos e despende menos ener-gia, aumentando a converso alimentar em carne.

    Neste sentido existe uma tcnica, originria dos EstadosUnidos, colocada em teste no Paran, denominada Dark House,onde os animais so mantidos em ambiente com luminosidadetotalmente controlada. A luz aumentada em horrios de alimenta-o e, fora destes, utilizado o mnimo possvel de luminosidade. Asaves tm apresentado consumo de rao 2,8% menor que o sistemamais tecnificado existente, alm de menos mortalidade e baixondice de dano fsico.

    Ainda no que diz respeito ao conforto das aves, os arredoresdos galpes vm sendo arborizados, de forma a sombrear os avirios,diminuindo o calor interno e o uso de energia para climatiz-los.

    O uso de alternativas energticas para as luzes e equipa-mentos eltricos utilizados na criao outra questo que vemsendo discutida e implementada experimentalmente em proprieda-des modelos de algumas integradoras.

    Outra questo que vem sendo motivo de estudos e discus-ses no segmento a utilizao e aproveitamento da cama das aves.

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    Para que seja feito o alojamento das aves no galpo, apsa desinfeco, o cho recoberto por maravalha (madeira serradaem lascas uma serragem grossa), que absorve os dejetos e a urinados animais. Aps o ciclo de engorda este material, denominado

    cama de aves, utilizado como adubo (esterco de galinha), rico emnitrognio e outros elementos qumicos necessrios agricultura,principalmente horticultura.

    Este esterco chega a ter valor comercial importante, po-rm, em regies de intensa atividade avcola, a oferta supera emmuito a demanda e, em algumas regies, a maravalha alcana preosuperior ao do esterco pronto. Assim, nestas regies, os criadoresreutilizam a cama, discutem e demandam estudos sobre os limitesdesta reutilizao.

    A metodologia de criao da avicultura de corte (grandesquantidades de aves em regime de confinamento), por si s, seconstitui em um fator de maximizao de riscos sanitrios para aatividade, razo pela qual o item de maior preocupao de todosos elos da cadeia.

    O desenvolvimento gentico preocupa-se com a produ-o de linhagens resistentes a doenas, a reproduo demonstracuidado com a biossegurana nos criatrios, o setor de nutrio foca

    suas aes na minimizao das possibilidades de contaminaodas raes, a indstria, na higiene do abate, mas nos avirios ondeos riscos so maiores, seja pela exposio das aves a fatoresexgenos, potenciais transmissores de doenas, seja pela atomiza-o dos criadores ou pela diversidade de ambientes e tecnologiasaplicadas no manejo avcola.

    A constante modernizao dos avirios tem por funoprecpua a minimizao destes riscos e vem sendo aprofundadacom intensa participao das indstrias e grande envolvimento dascooperativas, alm de participao ativa dos rgos de pesquisa eda indstria de equipamentos.

    Um importante aliado da cadeia produtiva, neste aspecto, a indstria de produtos veterinrios, que fornece vacinas para asprincipais doenas que podem acometer as aves (bouba, bronquite,coccidiose, marek, gumboro, newcastle e reovirose), alm de de-senvolver e fornecer antgenos para salmonella, materiais para rea-lizao de testes e diagnsticos, suplementos vitamnicos, antibiti-cos, quimioterpicos, probiticos, aditivos alimentares e uma varia-da quantidade de produtos.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades

    Sanidade

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    Embora o mercado de produtos veterinrios esteja forte-mente dominado por empresas multinacionais dos setores qumicoe farmacutico, j existem vrias empresas locais de pequeno emdio porte que respondem por cerca de 50% do mercado. (Men-

    des, Ariel Antonio et alli, 2004).

    A aliana dos variados elos da cadeia produtiva tem dadoconta de forma sistmica das grandes questes sanitrias, trans-mitindo um nvel de percepo de segurana que permitiu no s aexpanso do setor no Brasil como a conquista dos mercados externos.

    No entanto, um elo tem demonstrado crescente fragilida-de diante da crescente dimenso e importncia da cadeia: a vigiln-cia sanitria.

    No se trata do estabelecimento de regras mais rgidas ou

    mais complexas pois segundo os especialistas a quantidade equalidade destas abrangem as questes mais importantes , masda higidez do sistema.

    A populao em geral confia nas empresas produtoras enos seus distribuidores (e por isso eles sobrevivem no mercado),mas confiam porque crem que existe um Estado que exige ocumprimento das regras e mantm um ambiente geral favorvel aobom desenvolvimento da atividade, assegurando as condies m-nimas de biossegurana para o produtor e para o consumidor. OsEstados importadores precisam ter a mesma segurana para tras-miti-la sua populao.

    Os recentes focos de aftosa no Brasil trouxeram tona umasrie de fragilidades do sistema nacional de vigilncia sanitria. Oepisdio do surgimento de contaminao pelo vrus da doena daInfluenza Aviria na Tailndia e na Europa trouxeram ao setor deavicultura de corte a percepo desta fragilidade.

    A Influenza Aviria e a Doena de New Castle so asdoenas mais devastadoras para aves de que se tem conhecimento,capazes de matar de 50 a 100% das aves infectadas e tm conse-qncias desastrosas, como a reduo do consumo de carne e alimitao do comrcio internacional. Somente a Influenza pode

    causar infeco letal em humanos, por transmisso pelas aves,geralmente por contato com o sangue dos animais infectados. Alimitao do comrcio se justifica pelo potencial de transmisso dadoena ao plantel do pas importador.

    No caso da Doena de New Castle,4 que distribuda nomundo inteiro, os pases e a Organizao Internacional de Epizonias(OIE)5 acumulam grande quantidade de informaes e mantm umaconstante vigilncia, tendo obtido importante evoluo no desenvol-vimento de padres de diagnstico, metodologias de vacinas e

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007 213

    4Doena viral que se disse-mina rapidamente, pelo ar epela gua, entre aves silves-tres, comerciais e domsti-cas com sinais respiratriosde tosse e espirro, seguidos

    por manifestaes nervosase diarria, contamina toda a

    ave (carne e ovos) e podeser transmitida ao ser huma-no na forma de conjuntivitetransitria. As autoridades

    sanitrias recomendam o sa-

    crifcio de todo o plantel dolocal onde foi detectada acontaminao.

    5Organizao internacio-nal de sade animal, cria-da em 1924 para ajudar os

    pases a coordenarem in-formaes sobre doenas

    animais e diminuir o po-tencial de epidemias(www.vet.uga.edu/vpp/ivm/port/agencies/oieoverview.htm)

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    difuso de informaes. O Brasil, por sua vez, desenvolveu progra-ma de vigilncia, vacinao e de testes, em parceria das esferas degoverno federal e estadual, que permitiu ao pas declarar 8 estadose o Distrito Federal livres da doena j no ano de 2003.

    O mesmo no se deu com a Influenza Aviria, seja nacionalou internacionalmente.

    Influenza Aviria ou gripe aviria uma doena contagio-sa de animais, causada por vrus, que em geral afeta apenasaves, embora possa afetar, com menos freqncia, sunos e, ra-ramente, humanos.

    Como os vrus da gripe humana, a maioria de suas formasde manifestao apresenta sintomas leves (penas enrugadas, que-da na produo de ovos) que podem passar despercebidos e no

    causar dano algum. Porm, alguns vrus apresentam alta patogeni-cidade, ou seja, grande capacidade de causar danos importantesque podem chegar morte, geralmente em vrus do tipo A e subtiposH5 e H7.6 Especialmente o subtipo H5N1 registrou, pela primeira vezna histria, surto de transmisso para seres humanos com alta taxade mortalidade nas pessoas infectadas, com quadros de pneumoniae falncia de rgos.

    As condies de transmisso para seres humanos detec-tadas at agora so decorrentes do contato com aves infectadas,diretamente ou atravs de superfcie ou objetos contaminados comsuas fezes. O costume de proprietrios de criatrios asiticos de

    consumir aves, quando estas apresentam sinais de fraqueza (consumirantes de perder), abatendo-as na propriedade e portanto expondo-se ao vrus presente no sangue e nas vsceras do animal, a hipteseque encontra maior aceitao como causa de transmisso.

    Embora tenham sido sacrificadas mais de 150 milhes deaves, o vrus ainda considerado endmico em vrios pasesasiticos j tendo sido detectado em 58 pases de 2003 a 2006.Recentemente foi detectado, pela segunda vez, na Repblica Tche-ca, nos arredores de Praga. Japo, Coria do Sul e Malsia anun-ciaram o controle dos surtos em suas aves de criatrio e estoconsiderados livres da doena.

    O grande temor ainda existente que a rota de transmis-so do vrus ainda no est completamente estabelecida. A doena transmitida para aves por outra ave e o papel dos pssarosmigratrios na sua disseminao no totalmente conhecido.

    O Brasil, em particular, no registrou nenhum caso decontaminao at a data deste estudo e a rota das aves migratriasque transitam pelos pases que apresentaram surtos no passa peloterritrio brasileiro.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades214

    6Os vrus da Influenza Aviriaso classificados em 3 tipos(A, B e C) e 144 subtipos,combinando 16 subtipos Hcom 9 subtipos N (Hx Nz).

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    Ainda assim, o pas precisa demonstrar a no-existnciada doena em seu plantel e o registro negativo de ocorrncias nopode ter vestgios de omisso, ou seja, o pas precisa demonstrarcapacidade de evitar a contaminao do plantel por entrada de aves

    infectadas, agilidade de diagnosticar positiva ou negativamente assuspeitas de infeco e competncia para tomar as providncias deeliminao de focos e isolamento das regies produtoras.

    A efetividade da fiscalizao sanitria sobre o trnsito deanimais questionada no s pelo setor de avicultura como, tam-bm, pelos outros setores da cadeia de carnes (bovina, suna etc.).O comrcio ilegal de aves no pas no pode ser desconsiderado eobservam-se falhas na sua represso.

    A agilidade dos diagnsticos , no entanto, a debilidademaior do sistema: somente um laboratrio (Lanagro de Campinas)

    tem condies de diagnosticar cabalmente a presena do vrus daInfluenza, e seu tipo, em amostras colhidas em qualquer lugar dopas. Outros laboratrios tm condies de fazer a anlise negativa,mas, caso haja suspeita, somente o Lanagro capaz de confirmar,permanecendo a insegurana, o que pode ser desastroso j que olapso de tempo entre a colheita da amostra e o diagnstico final podedurar trs meses.

    O governo federal instituiu o Plano Nacional de Prevenoda Influenza Aviria e de Preveno e Controle da Doena deNewcastle, atravs da Instruo Normativa SDA n 17, de 7/4/2006,estabelecendo diretrizes e normas para coordenao das aes dos

    rgos federais e estaduais de vigilncia e estabelecendo regraspara o trnsito de aves vivas e de resduos de criao e de abate. Aimplementao do plano depende, em sua maior parte, da adesodos estados da federao.

    A soluo do problema da agilidade passa pelo reapare-lhamento dos laboratrios oficiais do pas mas a demonstrao decompetncia passa pela efetividade das anunciadas aes de go-verno e pela adeso do setor privado.

    Dentro do prprio segmento de avicultura ainda h umsegmento, de postura, que apresenta elevado grau de exposio,

    por no ter evoludo tecnologicamente na mesma velocidade que osegmento de corte. Muitas granjas de postura ainda esto defasadasno controle de biossegurana, principalmente no que diz respeitoao isolamento das aves do ambiente externo.

    A percepo das condies sanitrias de um produto,setor produtivo ou pas no se d somente pela existncia de regrase sim pela sua efetividade, ou melhor, pela confiana que se tem deque as regras e as condies so efetivas. Que os agentes econ-micos e polticos envolvidos transmitem vontade, capacidade, rapi-

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007 215

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    dez de resposta, enfim, segurana de que tudo que necessriofazer para manter as condies sanitrias ideais em todas as etapasde produo foi e ser feito.

    A jusante da cadeia avcola do frango encontram-se osfrigorficos-abatedouros, os equipamentos de varejo no mercadointerno, com destaque para os supermercados, e as vendas diretasdas empresas, ou via tradings, quando levado em considerao omercado externo. Nessa rea da cadeia tambm sero analisadosde maneira global os aspectos logsticos e estratgicos das grandesempresas, notadamente a sua internacionalizao.

    Os frigorficos-abatedouros caracterizam o ramo industrial

    da cadeia avcola. Estes estabelecimentos so os responsveis peloabate do frango, elaborao dos produtos e sua comercializao noatacado. Alm disso, no sistema integrado de criao do frango(cerca de 90% do setor opera com este sistema), a indstria, cha-mada de integradora, responsvel pela administrao e coorde-nao dos criadores, chamados de integrados. Este elo da cadeiacaracteriza-se pela presena de grandes empresas, das quais as 7maiores responderam por 46% dos abates do setor em 2006.

    Com relao tecnologia utilizada, a indstria brasileiraest na fronteira do que h de mais moderno no mundo, destacan-do-se tambm quanto aos aspectos sanitrios e ambientais. Mais

    recentemente, com a busca por fontes renovveis de energia, algu-mas empresas tambm investiram em solues alternativas, utilizan-do a gordura do frango para produo de biocombustveis.

    No que tange ao mercado interno, o consumo do frangoindustrial provocou mudanas nos hbitos de consumo popular,pois, anteriormente, o frango colonial (caipira) era o preferido peloconsumidor. Inicialmente voltado para o consumidor de classe mdia,o frango industrial imps-se atravs dos supermercados. Com o decor-rer do tempo, e de forma mais marcante a partir de 1995, com aimplementao do Plano Real, esse alimento chega a ingressar noconsumo popular a ponto de ser considerado uma das ncoras desustentao da poltica econmica de ento, quando os preos,tanto do frango quanto dos ovos, estavam bastante acessveis.

    No mercado externo, a partir da dcada de 70, o Brasilexperimenta um aumento vigoroso das suas exportaes de carnede frango, o que levou o pas a ocupar a liderana no mercadoexterno a partir de 2004. O nosso pas ocupa o terceiro lugar no

    ranking de produo, atrs dos Estados Unidos, seu principal con-corrente no comrcio internacional do setor, e da China.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades

    A Jusante

    216

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    Essa expanso vigorosa da produo e exportao defrangos levou algumas das grandes indstrias do setor, com expor-taes relevantes, a buscar a internacionalizao de suas opera-es, tanto atravs da construo de novas plantas quanto da

    aquisio de plantas j existentes. Essa estratgia busca mitigar orisco de eventuais barreiras comerciais que possam ser coloca-das por esses mercados, alm da maior proximidade dos merca-dos consumidores.

    Nas transaes internacionais, a qualidade o aspectoque mais influencia a deciso de consumo, e as caractersticassanitrias da produo o que melhor traduz essa qualidade. Nessesentido, observou-se que uma parte do esforo exportador do setorfoi o ajuste da indstria avcola aos padres sanitrios internacionais,colocando-a em lugar de destaque no cenrio mundial.

    Entretanto, paira sobre o setor avirio mundial o fantasmada Gripe Aviria. O Brasil ainda no relatou nenhuma ocorrncia dovrus e vem tomando providncias para lidar com uma eventualocorrncia desta doena em nosso territrio. Mesmo assim, obser-vou-se recentemente que os mercados compradores so bastantecautelosos, e que primeira notcia da ocorrncia de uma doena,as compras se retraem de forma significativa, provocando impactosnegativos importantes na demanda por carne de aves.

    Quanto aos aspectos logsticos de escoamento da produ-o do setor, verificaram-se gargalos, principalmente na cadeia defrios e no sistema rodovirio de transporte, o que em geral comum

    a quase todos os setores da economia. Cabe ressaltar que osaspectos dessas ineficincias so sentidos com maior intensidadepelo segmento exportador, embora, nos ltimos seis anos, tenhaaumentado significativamente os seus embarques.

    Os frigorficos-abatedouros caracterizam o ramo industrialda cadeia avcola, representando o seu segundo elo forte. Estesestabelecimentos so os responsveis pelo abate do frango, elabo-rao dos produtos e comercializao no atacado. No sistema

    integrado de produo do frango de corte7

    os frigorficos tambmadministram e coordenam as operaes realizadas pelos criadores,chamadas de integrados, impondo um pacote tecnolgico queinclui desde a gentica utilizada at aos padres de manejo sanit-rio, altamente sofisticados.

    Este segmento se distingue pelo predomnio de grandesempresas que apresentam tecnologias modernas de produo, altograu de profissionalizao e grande capacidade de comercializa-o. Vale ressaltar que as 7 maiores empresas do setor respon-

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007

    Frigorficos-Abatedouros

    217

    7Cerca de 90% da produodo frango de corte no Brasil realizada atravs do cha-

    mado Sistema Integrado.

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    deram por 46% dos abates no ano de 2006, sendo que a Sadia e aPerdigo juntas atingiram 25% deste total.

    A maior parte dos grandes abatedouros instalou-se princi-

    palmente na Regio Sul, expandindo-se da para a Regio Sudestee, mais recentemente, para a Regio Centro-Oeste, em busca dafarta oferta de gros desta nova fronteira agrcola.

    Em todas as regies, no entanto, no h diferenciaosignificativa quanto ao nvel de tecnologia utilizado: as grandesindstrias utilizam linhas de abate automatizadas de grande escala,seguindo o modelo fordista de produo. Estas linhas permitem aproduo de cortes de frango, com alto grau de padronizao,oferecendo ao mercado um produto de maior valor agregado.

    A sofisticao da indstria brasileira levou ao estabele-

    cimento de alguns paradigmas referentes s prticas e s insta-laes industriais, que orientam os sistemas produtivos atuais:

    Prticas:

    Aumento do percentual de frango em cortes no mix de produo

    Aperfeioamento contnuo da logstica

    Diminuio da distncia mxima dos avirios aos abatedouros

    Meio ambiente: consumo de gua e tratamento de efluentes

    Rigidez no controle sanitrio

    Instalaes industriais:

    Plantas com capacidade de abate de 120 mil aves/dia

    Automatizao da linha de cortes

    Fbrica prpria de rao

    Finalmente, as empresas brasileiras tm-se mostrado pre-paradas para atender demanda gerada por hbitos especficos decada pas importador, em termos de peso, colorao e cortesespecficos. Cabe destacar que, considerando o mercado de carnes

    como um todo, a demanda por carne de frango foi a que maiscresceu nos ltimos anos.

    A demanda por carne de frango no mercado interno vemapresentando crescimento firme ao longo dos ltimos trinta anos. Oconsumo per capita registrado na dcada de 70 era de 2,3 kg,saltando em 2006 para 36,7 kg, conforme demonstrado na Tabela 3.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades

    MercadoInterno

    218

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    Este crescimento extraordinrio consolidou o mercado interno que

    acompanhou de perto o crescimento da produo industrial nomesmo perodo, fruto da introduo de novas tecnologias no setor.

    No passado recente, o principal fator de crescimento doconsumo desse segmento foi a recuperao da economia commelhoria dos salrios, obtida na implantao do Plano Real em1993/1994. As perspectivas de crescimento da produo nessemercado passam fundamentalmente pela manuteno/aumento dopoder de compra das camadas mais pobres da populao.

    Dentre as principais caractersticas que beneficiam o con-sumo da carne de frango, destacam-se:

    preo (frente s outras carnes, a carne de frango apresentapreos mais competitivos);

    percepo de segurana quanto origem da carne e praticidadede preparo;

    preocupao com a sade (a busca por produtos mais saudveiscolocou a carne de frango frente das carnes vermelhas);

    restries culturais (no apresenta restries religiosas ou cultu-rais na grande maioria dos mercados); e

    curto ciclo de produo (em torno de 40 dias um frango estpronto para o abate).

    As sete maiores processadoras detm 46% do mercadode abate de aves no Brasil. Somente as duas maiores, Sadia ePerdigo, juntas, so detentoras de 25% deste mercado, conformepode ser observado no Grfico 4.

    Pela anlise dos dados constantes da Tabela 4, pode-seobservar que, mesmo o Brasil ocupando a posio de maior expor-

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007 219

    Tabela 3

    Consumo Brasileiro Per Capita de Carne de FrangoProveniente do Sistema de Produo Industrial(Em kg)

    ANO CONSUMO PER CAPITA

    1970 2,301980 8,901990 13,602000 29,912006 36,702007* 37,70Fontes: UBA, ABEF e Anualpec, elaborao do BNDES.* Previso.

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    tador de carne de frango do mundo, o mercado interno o destinoprincipal da produo do setor, respondendo por 72,3% da deman-da em 2006. Esta caracterstica, compartilhada pelos principaisprodutores de frango do mundo, proporciona segurana atividadeno pas, permitindo que as empresas do setor possam buscar omercado externo com maior independncia.

    Os esforos realizados pela avicultura nacional tornarama carne de frango a mais consumida no Brasil, ultrapassando oconsumo da carne bovina, lder de mercado at 2005. A seguir,grfico demonstrativo da progresso do consumo da carne defrango versus a carne bovina e a carne suna no Brasil.

    Como se pode observar, o consumo da carne suna au-mentou cerca de 38% ao longo do perodo. Entretanto, apesar docrescimento expressivo, ainda no foi suficiente para que estaameaasse a posio no mercado das outras carnes.

    Quanto s carnes de frango e bovina, observa-se um

    aumento constante do consumo de carne de frango (cerca de 58%),

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades220

    Grfico 4

    Principais Empresas do Mercado de Frangos no Brasil 2005

    Fonte: UBA, elaborao do BNDES.

    Tabela 4

    Balano da Avicultura no Brasil Frango Mercado InternoREFERNCIAS 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

    Produo (M t) 5.526 5.981 6.567 7.449 7.645 8.409 9.348 9.354 9.989Consumo (M t) 4.755 5.074 5.318 5.849 5.723 5.984 6.586 6.768 7.222% da Produo 86,1 84,8 81,0 78,5 74,9 71,2 70,5 72,4 72,3Fontes: Instituto FNP e ABEF; elaborao BNDES.

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    desbancando a liderana da carne bovina, cujo consumo aumentouem modestos 2,5% durante o mesmo perodo. Em parte, esteaumento pode ser explicado pela regularidade da oferta da primeira,redundando em maior estabilidade de preos, o que a torna maisatrativa sob este ponto de vista. Em sentido contrrio, a carne bovina,altamente dependente das pastagens, sofre queda na oferta eaumento de preos durante a entressafra.

    Outra razo foi que, com o aumento da renda, as famliasdas classes C, D e E passaram a consumir mais protena animal,notadamente carne de frango, substituindo parte do consumo dasprotenas vegetais.

    No mercado interno, os supermercados so os principaisresponsveis pela comercializao no varejo. Dada uma oferta rela-tivamente concentrada e uma demanda atomizada, com muitoscompradores, as grandes redes de supermercados, com ampla

    estrutura de distribuio e comercializando tambm produtos subs-titutos da carne de frango (bovina e suna), so capazes de nego-ciarem com os frigorficos em posio de fora. Isto possvelporque os frigorficos, alm de competirem em parmetros de qua-lidade, tambm concorrem, entre si, via preos.

    Os supermercados constituem o terceiro elo forte da Ca-deia Produtiva da Carne de Frango, mas no impedem que oscomerciantes de pequeno e mdio porte convivam no mesmomercado, embora com participao modesta.

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    Supermercados

    221

    Grfico 5

    Evoluo do Consumo Per Capita de Carnesno Brasil 1997-2007

    Fonte: ABEF, Abipecs e Conselho Nacional da Pecuria de Corte (CNPC), elabora-o do BNDES.

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    Desta forma, o preo determinado pelos varejistas, maisprecisamente pelas grandes redes de supermercados. Entretanto,o preo tambm pode oscilar diante de oferta abundante, como foiobservado no incio de 2006, quando alguns pases importadores

    restringiram o consumo de carne de frango por conta da ocorrnciada Gripe Aviria em seus territrios, obrigando a indstria a escoaressa produo internamente a preos baixos. A alta de preos nomercado internacional com forte demanda pelo produto brasileirotambm fator que pode fazer oscilar o preo no mercado interno,desta feita com vis de alta.

    A carne de frango ocupa o segundo lugar noranking dascarnes mais consumidas no mundo, superando a carne bovina. Em

    primeiro lugar, encontra-se a carne suna. Ao longo de 2006 a carnede frango ocupou o quarto lugar no ranking da exportao deprodutos do agronegcio brasileiro.

    Nos ltimos 4 anos, os destinos das exportaes brasilei-ras aumentaram de maneira significativa, passando de 125 pases,em 2003, para 158 pases em 2006, um aumento de 26,4%. Almdas grandes empresas, tem-se notado que, ano a ano, um maiornmero de pequenas e mdias empresas busca o mercado externo.

    Atualmente existem 65 empresas autorizadas a exportarem carnede frango e o fazem atravs de 106 estabelecimentos cadastradospelo MAPA. Tal fato evidencia o esforo que a indstria tem realizadopara a abertura de novos mercados, conforme se verifica na Tabela 5.

    Ainda assim, apenas 5 empresas so responsveis por73% das exportaes do setor, conforme demonstra o Grfico 6.

    Os atributos da carne de frango mais valorizados no mer-cado internacional so sanidade e preos. O Brasil se destaca emambos. Sua produo possui os custos mais competitivos, semsubsdios governamentais, e ocupa lugar de destaque quanto aosaspectos sanitrios.

    Os maiores produtores mundiais de carne de frango so,

    pela ordem: Estados Unidos, China e Brasil. Com relao s ex-portaes, o Brasil o principal exportador, seguido pelos EUA.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades

    MercadoExterno

    222

    Tabela 5

    Evoluo dos Destinos das Exportaes Brasileiras de Carnede FrangoANOS 2003 2004 2005 2006

    N de Pases 125 135 155 158Fonte: ABEF.Elaborao: BNDES.

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    Juntos responderam por 78% do fornecimento mundial em 2006(Brasil 40%; EUA 38%).

    Como se pode observar nas Tabelas 6 e 7, os maiores pro-dutores mundiais de carne de frango tambm so os maiores consu-midores. Isto evidencia uma produo ancorada fortemente nomercado interno, o que d sustentabilidade ao setor de cada pas.Com relao ao Brasil, observa-se que ocupamos o posto de tercei-ro maior produtor mundial e que, em termos de consumo, estamosna quarta posio, o que demonstra um esforo exportador realiza-do pelo segmento nacional, como se pode verificar na Tabela 8 eno Grfico 7.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007 223

    Grfico 6

    Participao das Principais Empresas nas Exportaes daCarne de Frango Brasileira

    Fonte: ABEF, elaborao do BNDES.

    Tabela 6

    Produo Mundial de Carne de FrangoPrincipais Pases (1999-2007)(Em Mil Toneladas)

    ANO EUA CHINA BRASIL UE MXICO MUNDO

    2000 13.703 9.269 5.977 7.606 1.936 50.097

    2001 14.033 9.278 6.736 7.883 2.067 52.3032002 14.467 9.558 7.517 7.788 2.157 54.1552003 14.696 9.898 7.843 7.512 2.290 54.2822004 15.286 9.998 8.494 7.627 2.389 55.9522005 15.869 10.200 9.200 7.736 2.498 59.0922006* 16.162 10.350 9.336 7.425 2.610 60.0902007** 16.413 10.520 9.700 7.530 2.724 61.162* Preliminar.** Previso.Fonte: USDA/ABEF.

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    A partir de 2000, percebe-se grande incremento da produ-o e da quantidade exportada. Esse aumento foi conseguido coma aplicao de tecnologia no campo e na indstria, como a identifi-cao de animais adequados para a postura e para corte, facilidadede acesso aos mercados de gros, fornecimento de rao balan-ceada, controles informatizados etc. Devem-se destacar ainda como

    fatores determinantes no aumento das exportaes a busca poralimentos saudveis e a forte campanha publicitria veiculada pelosrgos classistas. A Tabela 9 mostra a evoluo recente das expor-taes da produo de carne de frango brasileira por destino.

    Em 2006, o desempenho da avicultura brasileira de expor-tao foi comprometido pela retrao em importantes mercadosconsumidores da Europa, da sia e, principalmente, do OrienteMdio, no incio do ano, devido a focos da gripe aviria em pasesdestes continentes, provocando reduo de 4,7% em relao ao

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades224

    Tabela 8

    Exportao Mundial de Carne de FrangoPrincipais Pases (2000-2007)(Em Mil Toneladas)

    ANO BRASIL EUA UNIOEUROPIA

    TAILNDIA CHINA MUNDO

    2000 907 2.231 774 333 464 4.8562001 1.265 2.520 726 392 489 5.5272002 1.625 2.180 871 427 438 5.7022003 1.960 2.232 788 485 388 6.0232004 2.470 2.170 813 200 241 6.055

    2005 2.846 2.360 755 240 331 6.7912006* 2.713 2.454 620 280 350 6.4702007** 3.203 2.508 685 280 365 6.737* Preliminar.** Previso.Fonte: ABEF.

    Tabela 7

    Consumo Mundial de Carne de FrangoPrincipais Pases (2000-2007)(Em Mil Toneladas)

    ANO EUA CHINA UNIOEUROPIA BRASIL MXICO MUNDO

    2000 11.474 9.393 6.934 5.110 2.163 49.3602001 11.558 9.237 7.359 5.341 2.311 50.8542002 12.270 9.556 7.417 5.873 2.424 52.8462003 12.540 9.963 7.312 5.742 2.627 52.9032004 13.081 9.931 7.280 5.992 2.713 54.1722005 13.428 10.088 7.503 6.612 2.871 57.3392006* 13.817 10.370 7.405 6.622 3.010 58.8882007** 13.901 10.585 7.490 7.120 3.148 59.744* Preliminar.** Previso.Fonte: ABEF.

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    volume exportado no ano de 2005. Lideranas do setor tambmargumentam que enfrentaram conjuntura desfavorvel decorrenteda sobrevalorizao do cmbio, que reduziu a rentabilidade dasempresas exportadoras.

    Em contrapartida, deve-se destacar que as exportaes parao Egito, frica do Sul e China, que em 2006 aumentaram significativa-mente, evitando um impacto negativo maior nos resultados do setor.

    Em 2006, as exportaes dos cortes de frango somaram1,6 milho de toneladas, uma queda de 4,69% em relao a 2005.

    A receita cambial desse segmento somou US$ 1,985 bilho, reduode 11,23%.

    As exportaes de frango inteiro foram de 948 mil tonela-das, queda de 9,16% e a receita cambial, de US$ 936,9 milhes, tevereduo de 13,83%. O frango industrializado, por sua vez, somouembarques de 127 mil toneladas, crescimento de 51,5%, e receitade US$ 280 milhes, com aumento de 52,32%. Deve-se lembrar queas exportaes de industrializados sofrem menores conseqncias

    quando da ocorrncia da Gripe Aviria nos mercados consumidoresdo que as de carnein natura. Isto se deve ao fato de que o processode industrializao neutraliza/elimina o vrus causador da doena.

    Conforme podemos observar na Tabela 10, as exporta-es de frango inteiro, commodity, vm diminuindo sua participaono volume total das exportaes. Por outro lado, os volumes decortes e industrializados, produtos de maior valor, vm aumentandoa sua importncia nos volumes exportados. A seguir apresentamoso mix de exportao do setor nacional.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 26, p. 191-232, set. 2007 225

    Grfico 7

    Destinao da Produo de Frango do Brasil 1989-2006

    Fonte: ABEF, elaborao BNDES.

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    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades226

    Tabela 9

    Exportaes de Carne de Frango Brasileira por Destino(Em Toneladas)

    2003 2004 2005 2006 2007*

    frica 132.211 181.352 194.196 289.178 113.419

    frica do Sul 76.418 130.823 148.882 194.627 91.556

    Egito 746 2.687 2.414 48.895 1.991

    Angola 32.034 34.643 28.386 32.661 14.269

    Congo 6.580 7.138 9.153 8.401 2.838

    Outros 16.433 6.061 5.361 4.594 2.765

    sia 473.813 644.840 756.949 739.632 388.225

    Japo 184.950 325.959 404.769 322.803 154.776

    Hong Kong 199.338 179.299 156.347 294.954 168.549

    Cingapura 64.063 66.515 74.462 74.594 45.308

    China 11.644 60.176 116.552 27.475 8.702Outros 13.818 12.891 4.819 19.806 10.890

    Amricas 43.493 144.451 165.416 185.916 107.781

    Venezuela 17.500 68.539 102.907 122.739 73.372

    Cuba 9.978 42.507 31.371 31.255 16.423

    Canad 4.064 19.570 19.184 21.585 11.160

    Suriname 2.915 9.348 6.594 5.155 3.296

    Outros 9.036 4.487 5.360 5.182 3.530

    Europa 307.554 345.056 435.447 408.086 271.475

    Pases Baixos 94.992 113.034 139.197 163.932 115.030

    Alemanha 98.210 73.136 83.428 81.261 50.444Romnia 28.212 36.472 39.553 56.607 22.556

    Reino Unido 36.322 49.223 66.112 38.914 22.606

    Outros 49.818 73.191 107.157 67.372 60.839

    Oriente Mdio 593.457 755.490 848.571 754.722 461.810

    Arbia Saudita 288.133 333.223 380.523 339.467 172.677

    Emirados rabes 99.920 121.750 131.737 147.129 94.868

    Kuwait 59.775 102.675 141.500 99.564 62.585

    Imen 60.970 68.507 59.051 57.730 32.390

    Outros 84.659 129.335 135.760 110.832 99.290

    Rssia 201.557 192.944 258.187 185.187 88.361

    Outros 170.027 205.563 187.180 149.608 112.617Total 1.922.042 2.469.696 2.845.946 2.712.329 1.543.688

    Fonte: ABEF; elaborao: BNDES.* Jan/jun 2007.

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    De um modo geral, os problemas de ordem logstica, para

    escoamento da produo, enfrentados pelos produtores de carnede frango so os mesmos da maioria dos setores da economiabrasileira. Estradas ruins, portos ineficientes e entraves burocrticos,dentre outros, constituem as principais reclamaes do setor, es-pecialmente o exportador.

    Particularmente em relao indstria avcola, o aspectologstico mais delicado o que tem relao com a cadeia de frio. Acapacidade de armazenagem desta cadeia limitada. Por ser umaatividade de escala, com fluxo contnuo de produo, qualquerabalo na cadeia, mais notadamente no escoamento da produo,leva a uma necessidade de armazenamento, que, por ser limitado,

    ter efeitos desde a montante: diminuio na quantidade de aloja-mento de matrizes e pintos de corte, desacelerao do abate etc.

    Quanto s exportaes, estas so realizadas via martima,sendo os principais portos de escoamento: Itaja (SC), com 45%,

    Antonina (PR), 28%, Rio Grande (RS), 11% e Santos (SP), 7%.

    Uma estratgia que tem sido adotada pelas grandesempresas do setor, notadamente as que operam grandes volumes

    de exportao, a internacionalizao de sua produo para mer-cados importantes, seja atravs da construo de uma nova unida-de, seja atravs da compra de uma unidade j em operao.

    As principais razes que levam as empresas a adotaremesta estratgia a maior proximidade dos mercados consumidores,a diversificao dos riscos, melhores condies financeiras etc.Outra razo so os incentivos oferecidos por estes pases para asempresas produtoras com o intuito de desenvolver a atividadeinternamente, diminuindo sua dependncia de fornecedores externos.

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    Logstica

    Internaciona-lizao

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    Tabela 10

    Percentual das Exportaes de Carne de Frango por Tipo deProdutoTIPO DE PRODUTO 2004 2005 2006 2007*

    Frango Inteiro 39,46 36,70 34,97 36,04Cortes 58,71 60,35 60,34 57,89Industrializado 1,83 2,95 4,69 6,07Total 100,00 100,00 100,00 100,00Fonte: ABEF.Elaborao BNDES.* Jan/jun 2007.

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    Deve-se salientar que, na mo inversa, algumas empresasestrangeiras esto vindo para o Brasil, como a francesa Doux, queadquiriu a Frangosul, e a Cargill, empresa americana da rea degros que adquiriu a Seara. Entretanto, apesar de tal movimento

    poder configurar o estabelecimento de plataformas de exportaopara os mercados atendidos pelas matrizes, o que se observou foique cerca de 55% de suas vendas so realizadas no mercadointerno, percentual superior s grandes empresas nacionais dosetor, como a Sadia e a Perdigo.

    A cadeia produtiva de carne de aves um exemplo decomo a interao entre os setores de pesquisa, insumos, produo,transformao e distribuio pode contribuir para o sucesso de umaatividade e seu contnuo desenvolvimento.

    A interdependncia entre os agentes participantes da ca-deia produtiva ao mesmo tempo em que contribui para que ofuncionamento dos mecanismos dos vrios segmentos seja ajus-tado mantm cada elo sob constante tenso, o que causa etambm conseqncia do ajustamento.

    Acompanhar o avano e contribuir com ele parecem ser omote que tem movido os segmentos da cadeia, a comear pelagentica, que alm de manter estreito contato com a produoavcola, ajustando permanentemente os produtos s necessidadesdo mercado, tem se aproximado mais do setor produtivo brasileiro,

    com a implantao de granjas de reproduo de linhagens purasno pas.

    Fruto da competio internacional das empresas de de-senvolvimento gentico, a localizao no Brasil das granjas repro-dutoras de linhagens puras abre a oportunidade de desenvolvimen-to local de linhagens com perfil especfico de adaptao produonacional, como tambm da instalao, no pas, de uma plataformade exportao de material gentico.

    Por outro lado, a concentrao no mercado mundial degentica avcola justifica a manuteno, mesmo que por parte do

    poder pblico, de uma linhagem que sirva de no break do sistema,funo que pode ser exercida pelas linhagens mantidas pelaEmbrapa Aves e Sunos.

    No segmento de nutrio cabe avanar nas pesquisas quevisem diversificao das matrias-primas utilizveis na composi-o das raes no s para aumentar o nvel de substituio da sojae do milho, mas tambm para aproveitamento de vantagens locais,como o caso da utilizao de farelo de palma, especificamente naRegio Norte do pas.

    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades

    Concluso

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    Paralelamente, o aprofundamento da implantao dossistemas de BPF Boas Prticas de Fabricao e de anlises depontos crticos de controle (HACCP) nas fbricas de rao, assimcomo a modernizao dos maquinrios e laboratrios destas, pode

    contribuir para manter e aumentar a confiabilidade na sanidade dasaves produzidas, alm de promover desenvolvimento adicional aeste subsetor.

    Aproveitar a oportunidade da abundncia de glicerinaresultante da produo de biodiesel e da fora dos produtos do setorsucroalcooleiro para incentivar a instalao de fbricas de amino-cidos pode resultar em maior segurana para a cadeia de aviculturade corte e constituir nova fonte de negcios com base nacional,diminuindo a dependncia do setor na importao das substnciascomplementares integrantes da rao.

    A anlise do mercado de milho, nacional e internacional,no apresentou risco aparente de desabastecimento ou de aumentode custo que pudesse afetar o setor de forma significativa a curto,mdio ou longo prazo.

    A retirada potencial da oferta norte-americana de milho, aocomrcio internacional, via utilizao em fabricao de etanol, japresentava tendncias de ser compensada pelo aumento da pro-duo e produtividade dos outros pases, a mdio e longo prazo. Oaumento do patamar de preos provocado pelo anncio do governonorte-americano de sua disposio de maior utilizao desta mat-ria-prima na fabricao de combustvel acelerou a tendncia de

    ampliao das lavouras de milho, no mnimo, nos principais produ-tores mundiais.

    A China, que tem sido vista como a maior incgnita naproduo e consumo de produtos alimentares, tambm no apre-senta indcios de ampliao descontrolada do consumo ou daproduo, que possa provocar desequilbrio, conjuntural ou es-trutural, tanto no setor de gros como no de protena animal. O pasdemonstra sua disposio de manter o controle sobre o consumode milho, priorizando sua destinao alimentao, e recentementedeterminou a substituio da matria-prima utilizada nas indstriasde etanol chinesas (Globo on line, 17/07/07).

    Alm disso, a pujana da agricultura brasileira e de seusvizinhos, Argentina e Paraguai, na produo de milho transmite umacerta tranqilidade de abastecimento ao setor avcola nacional.

    No entanto, a crescente profissionalizao dos agriculto-res brasileiros, argentinos e paraguaios deixa antever que a conti-nuidade do abastecimento est intimamente ligada manutenode margens de lucro compensadoras. O retorno a patamares depreos baixos, ou aumento excessivo de custos, ou ainda a insegu-

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    rana sobre os resultados, que tornem a produo de milho poucoremuneradora ou por demais arriscada, pode resultar em subs-tituio desta por outras culturas. Cabe cadeia assumir posturaproativa e buscar solues que minimizem estes riscos e, assim,

    diminuir mais esta tenso.

    O mesmo tipo de atitude deve permear a preocupaocom a sanidade, que perpassa todos os elos da cadeia. Os riscosinerentes atividade e a fora da competio internacional nopermitem comportamentos passivos seja com aspectos a montanteou a jusante da indstria frigorfica.

    necessria a construo de uma blindagem que eviteque a avicultura de corte seja acometida ou acusada de problemassanitrios. Esta construo deve estar acima das normas regulat-rias, que por si ss no resolvem problemas, e emergir da coopera-

    o pblico-privada, interempresarial e entre os segmentos queparticipam da atividade, de forma a ter consistncia para evitarproblemas e demonstrar higidez para obstar desconfianas.

    A consistncia da cadeia que conquistou o mercado inter-no e que impulsiona as maiores empresas a se distanciarem dadefinio de frigorfico-abatedouro de aves para se qualificarem,

    junto aos consumidores, como empresas produtoras de alimentos a qualidade que permite a colocao de seus produtos no merca-do externo, com marcas prprias, e que abre espao expansodos negcios em outros pases.

    Entre as carnes mais consumidas no mundo a carne defrango ocupa atualmente o segundo lugar, entretanto, a mais con-sumida, suna, tem sido objeto de crescentes questionamentos,principalmente com respeito ao destino dos dejetos resultantes dacriao e seus danos ambientais, o que pode estar apontando paraa continuidade do crescimento do consumo e da produo mundialda protena animal proveniente da carne de frango.

    O crescimento do consumo leva oportunidade de con-solidao da liderana brasileira no setor mas o aumento da produ-o traz um desafio s empresas brasileiras: consolidar a posiode fornecedor e, ao mesmo tempo, ocupar os espaos na produo

    local dos pases consumidores.

    A importncia da ocupao dos espaos se d no s emvirtude do princpio da inexistncia do vazio mas, principalmente,porque existem limites de expanso no mercado interno.

    A proporo do consumo interno, em relao produo,que no final da dcada de 90 era de 86,1%, baixou, no ano de 2006,para 72,4%, cada nova planta frigorfica implantada capaz deresponder por cerca de 1% do consumo interno de carne de frango.

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    Se atualmente a produo da cadeia est fortemente ba-seada no mercado interno, e isto tem dado consistncia ao setor, de se prever que a inverso desta situao possa trazer srios riscosde solidez das empresas, haja vista que eventual frustrao das

    exportaes, como acontecida no primeiro semestre de 2006, podeter dificuldade de ser absorvida pelo mercado interno.

    Assim, a cadeia ainda tem espaos para ampliao mascomeam a se estreitar, seja no mercado interno, onde o consumoda carne de frango j ultrapassou o consumo de carne bovina, sejano mercado externo, onde o Brasil j se tornou o maior ofertantemundial e coloca o produto em quase todos os mercados.

    H poucos mercados a serem abertos, embora muitos aserem mais bem explorados, inclusive o mercado interno. Esta a

    janela de oportunidades.

    Aumentar o valor agregado dos produtos oferecidos aomercado interno e externo um caminho que pode permitir cadeiaprodutiva da carne de frango continuar seu processo de desenvol-vimento, de forma consistente.

    A manuteno da estreita relao e cooperao entre oselos da cadeia, mesmo que enfrentando as constantes tensesresultantes deste relacionamento, o que impulsionou seu sucessoe possibilitou enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades. E

    assim deve continuar porque a dinmica intrnseca ao setor.

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    A Cadeia da Carne de Frango: Tenses, Desafios e Oportunidades232