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ANÁLISE DOS NÍVEIS DE
PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS NO
AUXILIO Á TOMADA DE DECISÕES EM
UMA MARMORARIA
Jonnys Atilla Modesto Sales (UEPA)
Adriano Flexa Leite (UEPA)
Este artigo tem o objetivo de analisar os níveis de planejamento de
espaços e os fluxos de processos envolvidos nas atividades diárias de
uma marmoraria localizada na cidade de Belém. O estudo de layout é
importante para o aumento da rapideez nos processos e para gerar
conseqüentemente maior confiabilidade e menor custo, assim mediante
o estudo proposto foi possível a sugestão de melhorias em cada nível
analisado para o aumento da produtividade da empresa e conseqüente
adequação ás leis ambientes vigentes.
Palavras-chaves: Níveis de Planejamento de Espaços, fluxos de
processos, estudo de layout.
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
As modificações e flexibilidade de produção em ambientes industriais com grande
concorrência são exigidas cada vez mais com o objetivo de aumentar as vantagens
competitivas e se diferenciar no mercado. A concorrência demanda variedades, mudança
freqüente e sistemas de distribuição que forneçam o produto físico, serviço ou conhecimento.
No que diz respeito a espaço, essa mobilidade, nem sempre é obtida de maneira fácil ou
correta. Em muitos casos a localização do empreendimento ou uma pequena demora no
processo produtivo podem se tornar critérios qualificadores perdedores de serviços, isto é,
critérios ditados pelas expectativas dos clientes capazes de gerar ganhos ou perdas de mercado
se atendidos corretamente (FITZSIMMONS & FITZSIMMONS, 2005).
Alguns desses critérios exigem organização da estrutura e dos processos da empresa e podem
receber grande auxílio dos estudos de layout, a fim de tornar os processos mais produtivos e
menos custosos. Um bom planejamento do arranjo físico industrial permite, por exemplo,
integrar produtos, serviços, pessoas, informações e tecnologia.
Os fluxos de empreendimento, no entanto, não se restringem apenas aos limites da empresa. O
contexto do país, cidade, demanda etc. pode definir, por exemplo, uma alta procura por
produtos importados ou exigir adequações de segurança especiais aos funcionários.
Por esta ótica, a análise de cada nível de planejamento de espaço - NPE descreve as intra e
inter relações dos diferentes níveis espaciais, capaz de auxiliar nas presentes e futuras
decisões da empresa.
Este estudo busca analisar os níveis de planejamento de espaço físico e os fluxos e processos
envolvidos, na atividade de uma marmoraria situada no município de Belém.
2. Metodologia
A análise dos cinco níveis de planejamento de espaço sequenciou-se dos níveis de maior
abrangência aos de menor, iniciando pelo Nível Global e tendo seu fim na analise de um dos
postos de trabalho do setor de produção da marmoraria, representando o sub-micro-espaço.
A coleta de dados baseou-se em entrevistas com os proprietários da empresa e pela vivência
de um mês atuando enquanto consultoria interna na organização.
Através das informações obtidas no ambiente formulou-se a análise de cada nível, observando
os fluxos de informações, pessoas e materiais, as dimensões médias de cada setor da empresa,
bem como suas deficiências e possibilidades de melhoria.
3. Referencial Teórico
3.1 Arranjo Físico
De acordo com Slack (2002), o arranjo físico de uma operação produtiva preocupa-se com a
localização física dos recursos de transformação. Segundo Monks (1987) um bom layout
permite que os materiais, o pessoal e as informações fluam de maneira eficiente e segura. Isso
auxilia no atendimento das estratégias competitivas.
Planejar a implantação de uma unidade produtiva é extremamente complexo. Normalmente é
necessária uma equipe multidisciplinar empregando realizando vários estudos, como
viabilidade técnica e econômica, estudos locacionais, elaboração de projetos das instalações,
compra de equipamentos e materiais necessários à execução do projeto, construção e
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montagem das instalações, etc.
Sendo uma das características mais evidentes de uma operação produtiva, o espaço físico
influencia no trabalho do corpo colaborativo. Desta maneira um planejamento incorreto é
capaz de gerar retrabalho, disfunções, baixo desempenho etc. Abaixo estão listados alguns
objetivos dos planejamento de arranjo físico:
– Obter um fluxo de informações eficientes;
– Obter um fluxo de trabalho eficiente;
– Utilizar melhor a área disponível;
– Aumentar a flexibilidade para as variações necessárias;
– Facilitar a supervisão e a coordenação;
– Minimização das distancias percorridas pelos recursos transformados;
– Reduzir os riscos à segurança e saúde do trabalhador (químicos, físicos, ergonômicos etc.)
3.1.1 Tipos Básicos de Arranjo Físico
De acordo com Slack (2002), arranjo físico é um conceito restrito, mas é a manifestação física
de um tipo de processo, determinado pela relação volume-variedade da produção, que induz o
tipo mais adequado de arranjo físico. Há quatro tipos básicos de arranjo físico: posicional, por
produto, por processo ou celular.
No arranjo físico posicional os recursos transformados não se movem em relação aos
transformadores, ficam parados, enquanto materiais, pessoas e informações se movem na
medida do necessário.
A organização do arranjo por produto pré-define um roteiro para cada produto, elemento de
informação ou cliente, no qual a seqüência de atividades requerida coincide com a seqüência
na qual os processos foram arranjados fisicamente.
No arranjo por processo, agrupam-se os processos similares como oficinas especializadas,
pelas quais os produtos percorrerão um roteiro de processo a processo, de acordo com sua
necessidade.
O arranjo físico celular é aquele em que os recursos transformados, entrando na operação, são
pré-selecionados para movimentar-se para uma parte especifica da operação na qual todos os
recursos transformadores necessários a atender a suas necessidades imediatas de
processamento se encontram.
3.2 Níveis de planejamento de espaços
As empresas que buscam competitividade e lutam para se manter no mercado precisam
encontrar formas para que isso aconteça, e dentre algumas alternativas e prioridades no plano
de ação deve-se atentar para o planejamento do espaço físico que atualmente é mais bem
observado por muitas empresas “O layout ou planejamento de espaço é o foco central do
projeto de instalações e domina o pensamento da maioria dos gerentes.” (LEE et. al., 1998).
Os níveis de planejamento de espaço devem ser analisados individualmente e a melhor
maneira é que seja do nível geral para o particular, ou seja, do nível global para o nível local
de trabalho, isso se deve ao fato de as questões estratégicas de maior expressão serem
decididas em primeiro lugar. Para um planejamento do espaço físico se faz útil pensar em 5
(cinco) níveis de planejamento.
3.2.1 Nível de Planejamento Global
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É um nível de decisão em que a companhia escolhe onde vai atuar e paralelamente a isso é
feita também a escolha da sua missão que é a que se destina a estrutura da empresa. A
definição de missão precisa ser bem entendida devido a sua importância em meio à
competitividade empresarial e segundo (LEE et. al., 1998) é, portanto, um guia importante
para os planejadores de instalações e outros profissionais.
Para esse nível de planejamento não é necessário um número grande de pessoas pois envolve
apenas alguns executivos que irão traçar os planos para a localização da estrutura e enquanto
essa estrutura não for definida o processo de planejamento do orçamento também não avança.
Não se pode subestimar o planejamento global uma vez que as escolhas nesse nível trariam
custos exorbitantes, um exemplo bem claro disso é que se a organização for alocada em um
país errado seria muitas vezes inviável uma mudança nas instalações por isso a estratégia
geral do negócio é mais importante no nível global.
3.2.2 Planejamento do Supra-espaço
O planejamento do local ocorre no nível do supra-espaço considerando aspectos externos e
internos da instalação, inclui também algumas informações mais específicas como o número,
tamanho e localização de prédios sendo que dentro desse planejamento deve-se incluir a
possibilidade de expansão preservando os impactos estratégicos.
As conseqüências do planejamento nesse nível ainda são em longo prazo e de longo alcance
uma vez que a estrutura interna (energia, gás, água, escadas, etc.)
Alguns fatores que afetam as decisões quanto a este nível seriam os custos dos locais,
concentrações e tendências de clientes e cidadãos, tamanhos dos locais, proximidade à
sistemas de transporte, disponibilidade de serviço público, restrições de zoneamento, impactos
ambientais, disponibilidade e custos de materiais e suprimentos e a proximidade a indústrias
de serviço relacionadas (GAITHER E FRAZIER, 2005).
3.2.3 Planejamento do Macro-espaço
É um dos níveis mais importante de planejamento, pois estabelece as diretrizes básicas dos
espaços das instalações. Refere-se a um macro-layout, pois planeja cada prédio, estrutura e
subunidade da instalação. Também nesse nível é definida a localização de todos os
departamentos operacionais e determinam o fluxo dos processos, levando em consideração a
organização básica da fábrica. As decisões no planejamento do macro-espaço é fundamental
para o desenvolvimento de novos produtos, redução de custos e mão de obra flexível. Um
equívoco no projeto resulta no aumento dos investimentos para reorganizar as instalações mal
planejadas, gerando dificuldade no planejamento de novos produtos, entregas irregulares e
excesso de estoques.
3.2.4 Planejamento do Micro-espaço
No planejamento do micro-espaço a ênfase é dada no espaço interno de cada prédio, como
equipamentos e móveis específicos, especificando o espaço pessoal e a comunicação.
O estudo nesse nível define de forma mais precisa a disposição e a infraestrutura de cada
espaço interno dos prédios.Neste nível levam-se em consideração os aspectos sociotécnicos e
ergonômicos. Os projetos mal dimensionados podem gerar baixos níveis de produtividade,
devido a problemas ergonômicos.
3.2.5 Nível Sub-micro
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No quinto e último nível, o Sub-Micro-Espaço, Lee (1998) relata que as preocupações agora
ficam concentradas nas estações de trabalho e nos colaboradores, visando eficiência, eficácia
e segurança. Ferramentas corretas aplicadas nos locais apropriados devem ser o foco no
planejamento executado pelos engenheiros industriais.
Esse é o nível mais detalhado, envolve, dentre outros, o exame e a alocação de tarefas entre
operadores, ferramentas e máquinas. Assim os problemas são mais localizados e se houver
uma possível necessidade de mudança nesse nível as interferências são menores em termos de
interrupção de produção. A Tabela 1 resume os níveis de planejamento de espaço vistos
anteriormente.
NÍVEL ATIVIDADE UPE TÍPICAS AMBIENTE
I
GLOBAL
LOCALIZAÇÃO E
SELEÇÃO LOCAIS
MUNDO OU
PAÍS
II
SUPRA PLANEJAMENTO
CARACTERÍSTICAS
DE CONSTRUÇÕES
OU LOCAL
LOCAL
III
MACRO
LAYOUT DA
CONSTRUÇÃO
CÉLULAS OU
DEPARTAMENTOS CONSTRUÇÃO
IV
MICRO
LAYOUT DE
DEPARTAMENTO
CARACTERÍSTICAS
DE CÉLULAS OU
ESTAÇÕES DE
TRABALHO
CÉLULAS OU
ESTAÇÕES DE
TRABALHO
V
SUBMICRO
PROJETO DE
ESTAÇÕES DE
TRABALHO
LOCALIZAÇÃO DE
FERRAMENTAS
ESTAÇÃO DE
TRABALHO
Fonte: Lee, 1998
Tabela 1: Os níveis de planejamento de espaço
4. Estudo de Caso
4.1 A empresa
A empresa em estudo, situada no município de Belém – PA, bairro do Marco, a cerca de cinco
quilômetros da entrada da cidade, atua há mais de 30 anos no mercado belenense no ramo de
rochas ornamentais, mais especificamente no beneficiamento de mármores e granitos,
produzindo artigos de revestimentos, ambientação e mobiliário, como pedras para piso,
paredes, rodapés, soleiras, peitoris, mesas, balcões de atendimento, bancadas de pia e cozinha,
sepulturas etc.
O mercado deste ramo é intimamente ligado ao setor de construção civil. Quanto mais este
setor cresce, mais oportunidades de trabalho surgem, tornando os profissionais desse ramo,
arquitetos, decoradores, construtores e pedreiros, e os proprietários de imóvel os clientes em
potencial do negócio. É imprescindível atentar que por se tratarem de produtos de acabamento
este tipo de produto representa aos clientes a finalização das obras, tornando-os de extrema
urgência.
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Desta maneira, as exigências por qualidade do produto e velocidade de entrega representam
os critérios qualificadores ganhadores de serviço.
4.2 Análise dos Níveis de Planejamento de Espaço – NPE
4.2.1 Nível I: Global
O Nível Global não sofreu planejamentos específicos, deixando de observar itens como clima,
disponibilidade de matéria prima, mão-de-obra, políticas nacionais e regionais, transporte etc.
A escolha pelo Brasil e pelo Estado do Pará dependeu de necessidades trabalhistas. Os
proprietários da empresa foram transferidos de Minas Gerais para Belém através da empresa
que trabalhavam anteriormente. A empresa surgiu para incrementar a renda mensal.
Observou-se inicialmente a possibilidade de vender pedras decorativas mineiras ausentes na
região, porém na época os engenheiros, arquitetos e decoradores preferiam trabalhar com
mármores e granitos, também escassos. Desta oportunidade iniciou-se uma atividade de
beneficiamento de mármores e granitos dos blocos ao cliente final, com estrutura montada no
próprio terreno dos proprietários.
Atualmente a estrutura da empresa destina-se à transformação das chapas prontas nos projetos
de produto de cada cliente, como mesas, balcões, bancadas etc.
Pelo âmbito dos fluxos de materiais, esse nível exige da empresa maiores atenções ao fator
tempo, pois a matéria prima principal não é disponibilizada na região e possui sazonalidade na
extração por conta das chuvas. As rochas são provenientes em sua maioria do Estado do
Espírito Santo, onde são encontradas várias jazidas de minério.
Cerca de 64,3% (SEBRAE, 1999) da produção nacional de rochas é provenientes desse
Estado, que está situado a aproximadamente 3.108 km da capital paraense, implicando em 15
dias de lead time. Em período de extrema urgência é possível solicitar material na região,
porém com custos mais elevados.
O transporte das chapas é realizado por caminhões de carroceria aberta, carregando em média
19,5 toneladas, aproximadamente 60 chapas de materiais diversos à escolha do cliente.
Outra observação importante refere-se ao clima da região. A capital paraense possui grande
umidade relativa do ar, o que, em períodos de chuva, dificulta os processos de colagem das
rochas, atrasando a conclusão do serviço por necessitar aquecer as pedras.
Uma quarta situação é a qualificação da mão-de-obra. Segundo os proprietários, o tempo de
trabalho com mármores e granitos ainda é pequeno se comparado a região sudeste, gerando
certas limitações, onde algumas vezes é necessário pensar pelos funcionários.
Outra situação faz referência às políticas ambientais, por conta dos resíduos sólidos gerados
que necessitam ser decantados, e às políticas relacionadas à segurança, medicina e saúde do
trabalhador que tem afetado bastante o setor. A Lei N° 43 de 11 de março de 2008, por
exemplo, proíbe o corte e acabamento de pedras a seco e todas as marmorarias estarão sujeitas
a multas se não regularizadas até outubro de 2010.
Em nível global podemos considerar que o layout se configura por processos, pois cada jazida
produz apenas um tipo de minério e outros ambientes o beneficiam, como job shops. A
Figura 1 apresenta a organização das jazidos no território nacional.
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Fonte: CPRM, 2001.
Figura 1: Disposição das jazidas de rochas e materiais para construção no Brasil
É importante frisar que neste nível o fluxo de informações entre empresa e fornecedor
acontece basicamente através de ligações telefônicas e fax. Já as informações sobre o setor
são veiculadas por meio de revistas, estudos geológicos, sindicatos e associações.
4.2.2 Nível II: Supra-espaço
O supra-espaço descreve a relação entre a UPE e seu entorno. Envolve circulação de pessoas,
automóveis, suprimento de água e energia, a relação entre a empresa e a comunidade, e dentre
outros os impactos que é capaz de gerar no meio em que se insere. Em linhas gerais analisa os
fluxos de entrada e saída da empresa.
Neste nível os produtos são transportados em caminhão aberto deitados por conta de sua
fragilidade, ou em um carro menor devido o tamanho do produto. Acontece também dos
clientes irem buscar seus pedidos.
Excetuando-se os insumos para a preparação da massa de colagem, os outros insumos e
recursos, precisam ser coletados pela empresa em cada fornecedor, os quais não são
necessariamente os mesmos. Isso encarece o processo, pois pode consumir mais combustível,
além de ocupar um funcionário responsável pela distribuição dos produtos e o próprio
automóvel da empresa.
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Ainda neste quesito a empresa dispõe de uma moto elétrica, com a qual o medidor se desloca
às obras dos clientes para aferir as dimensões corretas de cada pedido.
A Figura 2 mostra a localização da empresa em amarelo e a realidade de seu entorno, onde os
círculos verdes representam atividades de apoio e fornecedores como assistência técnica e
lojas de EPI. O círculo azul localiza um dos parceiros da empresa, fabricante de cantoneiras
metálicas, suporte para bancadas de pedras. A linha azul representa um canal coberto que
passa atrás das instalações da empresa.
Figura 2: Visão do supra-espaço, imagem do entorno da empresa
Negócios-chaves localizam-se nas proximidades da empresa, auxiliando no bom andamento
de suas atividades. Situada há 7 km do galpão de matéria prima da região, é possível ter o
material em duas horas no seu pátio de estoque.
Um das preocupações gira em torno dos resíduos gerados pela empresa. A lama derivada do
corte com água escoa sem tratamento algum para o canal coberto que carrega esses
sedimentos à outras regiões, podendo reduzir a profundidade dos canais.
As informações neste nível transmitem-se por ligações telefônicas e conversas diretas. E o
bairro, mais precisamente a rua principal, à direita da empresa, possui grande movimentação
de pessoas e automóveis, além de uma concentração razoável de empreendimentos.
O layout neste nível organiza-se por processos. Pois cada setor tem suas áreas específicas de
atuação e transmitem dados e materiais de uma a outra.
4.2.3 Nível III: O Macro-espaço
A marmoraria é dividida em duas áreas: o escritório, que agrega funções de administração,
venda e almoxarifado e a fábrica, com funções de estocagem, produção, alimentação e
carregamento. Classifica-se essa disposição como layout em linha, pois há um único fluxo do
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escritório para a fábrica. A Figura 4 apresenta o macro-espaço e algumas funções do micro-
espaço, melhor descritas no próximo nível.
Legenda
Escritório ~ 126 m²
Estoque de MP + embarque ~ 321 m²
Serraria ~ 75 m²
Acabamento ~ 66 m²
Estoques em processo ~ 10 m²
Estoque de retalhos ~ 12 m²
Fluxo de materiais
Fluxo de informações
Estoques de produtos acab. ~ 10 m²
Área inutilizada ~ 502,5 m² Fonte: Autores.
Figura 4: Layout da Marmoraria
Com aproximadamente 126m², o escritório recebe pedidos, produtos e insumos. Circulam em
média 12 pessoas por dia, contando com clientes, funcionários e fornecedores. As
informações partem do escritório para a produção através de ordem de serviço (OS) em papel,
as demais, são transmitidas diretamente pela fala, sem necessariamente serem registradas para
consultas posteriores ou unificação das informações. A marmoraria recebe uma média de 10
pedidos por dia.
No galpão, de aproximadamente 994m², circulam cerca de 20 pessoas e são processados
aproximadamente 15m² dentre mármores e granitos diariamente, que são transformados em
produtos aos clientes. Agrega também todos os fluxos de pessoas, informações e materiais,
pois recebe e processa produtos, recepciona pessoas, dentre clientes e fornecedores e utiliza as
ordens de serviço e dos proprietários enquanto vias informativas indispensáveis.
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As dificuldades se instalam na transmissão de informação sem critérios de prioridade, onde o
escritório repassa ordens desorganizadas aos serradores, primeiro elo do processo produtivo, e
quando repassadas aos acabadores dependem da procura dos mesmos pela informação correta
ou prioridade mais adequada. Também não são emitidas informações sobre estoques,
acompanhamentos de pedidos ou impossibilidades de produção, pois não há um elo unificador
de informações.
4.2.4 Nível IV: Micro-espaço
O micro-espaço escolhido foi área da fábrica, onde acontece o processo produtivo e a maior
parte dos fluxos da empresa. O processo produtivo é definido por duas etapas: corte e
acabamento, porém pode ser minudenciado e sequenciado como mostra a Figura 5.
Transporte da pedra
Corte (m²)
Desenho detalhes (projeto)
Cortes e furos (projeto)
Colagem
Acabamento
É possível fazer o
acabamento?
Sim Não
É preciso
colar?
Precisa de
acabamento?
Colagem
Não Não
Início
Sim Sim
Acabamento
É preciso
colar?
Sim
Fim
Não
Colagem
Fonte: Autores.
Figura 5: Fluxograma do processo produtivo
O processo tem início quando o serrador recebe a OS e precisa buscar o material no setor de
estoque de matéria prima ou nos estoques de retalho. Normalmente são necessários 4 (quatro)
funcionários para transportar uma chapa até a mesa de corte. Nesta, o mármore ou granito é
cortado em metros quadrados de acordo com o projeto do cliente e armazenado em um dos
espaços de estoque em processo junto com sua OS.
Os acabadores, então, deslocam-se à um desses estoques e dão continuidade a um dos pedidos
lá armazenados. Feitos os acabamentos o produto é levado ao estoque de produtos acabados e
aguarda para ser carregado e entregue. A Figura 4 acima representa esse processo seguindo o
trajeto do fluxo de materiais.
Há dois fluxos de informação neste nível, o fluxo padrão, representado na Figura 4, composto
basicamente pelo caminho das informações contidas nas OS.
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O segundo fluxo refere-se às ordens diretas dadas pelos proprietários, que não seguem padrão
algum e dependem unicamente da ação dos mesmos. A problemática deste fluxo está no fato
supracitado de ausência de unificação de informações. Isso implica na sobreposição de
comandos, onde a decisão de um dos donos interrompe de forma não intencional a decisão do
outro.
O fluxo de pessoas não foi representado, pois perpassa por todos os setores de forma aleatória.
Acabadores podem, por exemplo, ser chamados para transportar as chapas até a mesa de corte
ou o produto final até o caminhão, o serrador pode se deslocar ao setor de acabamento para
emprestar a serra manual ou andar pelos estoques de retalhos procurando pedras e todos
normalmente precisam ir até o escritório tirar dúvidas sobre as ordens de serviço.
O tipo de arranjo físico neste nível é por processos, pois cada setor é responsável por um tipo
de atividade e alguns produtos não precisam passar por todos os processos, como mostra a
Figura 5.
4.2.5 Nível V: Sub-micro-espaço
Os dois postos de trabalho de maior atuação na fábrica são do serrador e do acabador. A
complexidade da atividade de acabamento promoveu este posto o foco de estudo.
A empresa possui cinco acabadores, capazes de desempenhar todas as atividades de
acabamento, serrar, lixar e colar de acordo com os mais diversos projetos de produto. Para tal
atividade o acabador trabalha sobre uma bancada de ferro de 3 m de comprimento e 60 cm de
largura, resistente ao peso dos produtos e às ferramentas cortantes.
Devido o tamanho de alguns produtos é importante que esse funcionário disponha de um
espaço mínimo de 90 cm ao redor da mesa para manipular e movimentar-se ao redor das
pedras, sendo preciso geralmente do auxílio de outro funcionário. A Figura 6 mostra o posto
de trabalho desse profissional.
90 cm
3 m
60 cm
Fonte: Autores.
Figura 6: Posto de trabalho para a função de acabamento
Utiliza-se três ferramentas diferentes: serra manual, lixadeira manual e espátula. Dependendo
do tipo de acabamento é necessário usar lixas de granulações diferentes e muitas vezes usar a
broca na mesma máquina para fazer os furos para torneira.
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A atual organização dispõe as ferramentas e outros insumos como cera e cola em uma
extremidade da bancada para que o outro lado fique livre para o produto. As modificações
normalmente são feitas em todas as laterais do material, exigindo que o funcionário se
movimente por toda a extensão da bancada e envolta do produto. Isso caracteriza um arranjo
posicional, no qual os recursos se movimentam em torno do produto, modificando-o.
Apesar disso, o fluxo de materiais neste nível é pequeno, pois o intuito é de apenas colocar em
evidência a beleza natural das pedras. As informações são transmitidas pelas OS e em alguns
casos pelo próprio cliente, quando acompanha o processamento de seu pedido.
A circulação de pessoas no posto de trabalho é acima do normal, gerada pela falta de
organização e planejamento da empresa, pois normalmente falta material ou máquina para se
trabalhar e os acabadores precisam emprestar um dos outros. Além de tirarem dúvidas com os
companheiros sobre como fazer determinado projeto.
5. Considerações Finais
A análise dos níveis de planejamento de espaço estimula a criação de uma visão holística do
empreendimento, com a qual é possível observar o quanto uma ação em um determinado nível
é capaz de influenciar nos demais. A aquisição de chapas ofertadas dentro do estado paraense,
por exemplo, exigiria da empresa menor área para o estoque de matéria prima, pois os
produtos chegam num intervalo máximo de duas horas, enquanto as compradas fora do
Estado demoram 15 dias e exigem espaço no pátio. A decisão por essa opção, no entanto
geraria um custo de mais de R$ 4.000,00 mensais.
A empresa estudada apesar do tempo de existência ainda não se preocupou em sanar alguns
problemas muito comuns. Um deles é a falha no fluxo de informação. No atual sistema as
informações chegam aos trabalhadores de forma confusa, dificultando o processo produtivo,
aumentando o tempo de produção e limitando a capacidade da empresa.
É de suma importância que a empresa contrate um profissional capaz de atuar enquanto
unificador de informações, exercendo o papel do chefe de oficina. Seria interessante, também,
a aquisição de um software que informasse a ordem de produção com suas devidas
especificações, disponível ao setor de produção. Esse último, no entanto, necessita de um
ambiente fechado livre da poeira gerada pelo beneficiamento das pedras, pois esta causa
danos aos computadores e hardwares de modo geral.
Outro problema comum é a falta de organização, em especial do macro-espaço, onde estoques
de retalho ficam espalhados pelas dependências da empresa sem qualquer classificação de
tamanho ou tipo de material, aumentando o tempo da procura por material e reduzindo a
motivação dos funcionários.
Quanto às normas vigentes é importante que a empresa adquira lixadeiras pneumáticas com
adaptação interna para água, a fim de eliminar o lixamento a seco das pedras e reduzir o
impacto à saúde dos trabalhadores.
A marmoraria possui grandes possibilidades de expansão por possuir em seu terreno um
espaço inutilizado de dimensões consideráveis, pouco menos de 50% do espaço total. Porém
deve-se atentar às dificuldades de informação, definindo prioridades e implantando um
sistema de informações confiável independente da contratação de um chefe de oficina ou da
utilização de um software, devido os custos elevados desses últimos.
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Fica evidente que as atitudes exercidas em cada nível repercutem em outros níveis, podendo
gerar novas dificuldades se não observadas corretamente, dando maior importância ao melhor
planejamento ou análise dos níveis de espaço.
6. Referências Bibliográficas
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e Energia, 2001. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/gis/frame_inicio.htm#recbr>
FITZSIMMONS, James A. & FITZSIMMONS, Mona J. Administração de serviços: operações, estratégia e
tecnologia da informação. Porto Alegre: Bookman, 2005.
GAITHER, N.; FRAZIER, G. Administração da produção e operações. 8ª Ed. São Paulo: Thomson, 2005.
LEE, Quarterman. Projeto de instalações e do local de trabalho. São Paulo: IMAM, 1998.
MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2005.
MONKS, J. G. Administração da Produção. São Paulo: Mgraw- Hill, 1987.
SEBRAE. Análise de negócios – mármores e granitos: pré-diagnóstico. SEBRAE, Espírito Santo: 1999.
SCHMIDT, Tibor. Projeto de Macro-Layout da empresa Cisabrasile Ltda. Trabalho de graduação em
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SLACK, Nigel. Administração da Produção. 2ª Ed., p. 200-201. São Paulo: Atlas, 2002.
SLACK, N. et al. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1997.