anÁlise dos efeitos da reabilitaÇÃo virtual no tratamento da incontinÊncia urinÁria feminina

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ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA Alex Vieira dos Santos Costa 1 , Jordeane Araújo de Sousa 2 , Susan Karolliny Silva Fontenele Coutinho 3 , Marcelo de Carvalho Filgueiras 4 1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI 2 Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI 3 Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia, Supervisora de Estágio do setor de Urogineco e Obstetrícia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI 4 Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia, Orientador do Mestrado de Ciências Biomédicas Resumo: Este estudo objetivou determinar efeitos da reabilitação virtual, através da plataforma Xbox 360 ® , no tratamento de incontinência urinária feminina em Parnaíba. A pesquisa realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí, de maio a junho de 2015, incluiu 10 pacientes, com idade média de 37,4 ± 16,4 anos, avaliados no primeiro e no último dia de tratamento, através de uma ficha de anamnese, avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA), esquema PERFECT e questionário de qualidade de vida (King's Health Questionnaire). Os pacientes foram divididos em um grupo de cinesioterapia e outro de reabilitação virtual. Não houve diferenças significativas entre as variáveis observadas força, tônus, repetições e AFA, em comparações intragrupo, nos dois momentos da avaliação. A análise subjetiva do questionário mostrou uma melhora na percepção de seus voluntários acerca do quadro geral de saúde. Com base no estudo, ambos os tratamentos têm características semelhantes em suas especificidades. Palavras-chave: Fisioterapia; incontinência urinaria; qualidade de vida; assoalho pélvico.

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Estudo objetivando determinar os efeitos da reabilitação virtual, através da plataforma Xbox 360®, no tratamento de incontinência urinária feminina em Parnaíba.

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Page 1: ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA

INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

Alex Vieira dos Santos Costa1, Jordeane Araújo de Sousa2, Susan Karolliny Silva Fontenele

Coutinho3, Marcelo de Carvalho Filgueiras4

1Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI2Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI3Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia, Supervisora de Estágio do setor de Urogineco e

Obstetrícia da Universidade Federal do Piauí – Parnaíba/PI4Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia, Orientador do Mestrado de Ciências Biomédicas

Resumo: Este estudo objetivou determinar efeitos da reabilitação virtual, através da plataforma Xbox 360®, no tratamento de incontinência urinária feminina em Parnaíba. A pesquisa realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí, de maio a junho de 2015, incluiu 10 pacientes, com idade média de 37,4 ± 16,4 anos, avaliados no primeiro e no último dia de tratamento, através de uma ficha de anamnese, avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA), esquema PERFECT e questionário de qualidade de vida (King's Health Questionnaire). Os pacientes foram divididos em um grupo de cinesioterapia e outro de reabilitação virtual. Não houve diferenças significativas entre as variáveis observadas força, tônus, repetições e AFA, em comparações intragrupo, nos dois momentos da avaliação. A análise subjetiva do questionário mostrou uma melhora na percepção de seus voluntários acerca do quadro geral de saúde. Com base no estudo, ambos os tratamentos têm características semelhantes em suas especificidades.

Palavras-chave: Fisioterapia; incontinência urinaria; qualidade de vida; assoalho pélvico.

Abstract: This study aimed to determine the effects of virtual rehabilitation, through the Xbox 360® platform for the treatment of female urinary incontinence in Parnaiba. The research conducted at the Clinical School of Physiotherapy of the Federal University of Piauí, from May to June 2015, included 10 patients, mean age of 37.4 ± 16.4 years, evaluated in the first and the last day of treatment through a medical history form, functional evaluation of the pelvic floor (FEPF), PERFECT scheme and questionnaire about quality of life (King's Health Questionnaire). Patients were divided into two groups, kinesiotherapy and virtual rehabilitation. There were no significant differences between the observed variables strength, tonus, repeats and AFA in intragroup comparisons, in both evaluation times. A subjective analysis of questionnaire showed an improvement in the perception of its volunteers about the overall picture of health. Based on the study, both treatments have similar characteristics in their specificities.

Keywords: Physical therapy; urinary incontinence; quality of life; pelvic floor.

Page 2: ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

INTRODUÇÃO

A incontinência urinária (IU) segundo a Sociedade Internacional de Continência

(International Continence Society) é definida como uma “perda involuntária de urina que é um

problema social ou higiênico”, que ocorre não somente em mulheres idosas, como também em

mulheres jovens e de meia-idade.1 A qualidade de vida (QV) de mulheres com IU por muitas vezes

é comprometida, causando situações constrangedoras e estressantes, provocando implicações na

vida social, na saúde psicológica, física e sexual.2

Em revisão bibliográfica, Leroy et al.3 afirmam que estudos epidemiológicos revelam uma

prevalência de IU de 26,5% em mulheres de 35 a 64 anos e 41% naquelas acima de 65 anos.

Descrevem ainda uma prevalência de 49,6% em mulheres acima dos 20 anos e 45% nas que se

encontram entre 30 e 90 anos. A prevalência da IU aumenta com a idade, sendo assim, esta

condição se tornará extremamente comum com o envelhecimento da população. Os fatores de risco

frequentemente apontados são, dentre outros: idade avançada, elevado Índice de Massa Corpórea

(IMC), raça branca, paridade, menopausa, histerectomia e comorbidades como depressão e diabetes.

No Brasil, os estudos populacionais são exíguos e utilizam metodologias distintas, abrangendo, em

geral, grupos específicos como mulheres (durante a gravidez ou em distintos períodos após o parto)

idosos ou doentes crônicos institucionalizados e pacientes em pós-operatório de prostatectomia total

retropúbica.4 A IU é considerada um problema de saúde pública que afeta cerca de 25 a 45% das

mulheres em todo o mundo, sendo que no Brasil essa prevalência varia entre 5,8 a 72% das

mulheres, de acordo com as características da região.5 A integridade do assoalho pélvico é essencial

para a manutenção da continência urinária, sendo suas principais funções apoio, esfincterianas e

sexuais, além de manter a posição do colo vesical. Na mulher, as forças de retenção são vulneráveis,

visto que ela apresenta uretra curta e fatores de risco como assoalho pélvico submetidos aos

traumatismos obstétricos, lesões do nervo pudendo, das fáscias e musculatura do assoalho pélvico e

avanço da idade, menopausa e modificações hormonais.1

Existem duas condições básicas para que os mecanismos de continência sejam mantidos:

uma é a estabilidade do músculo detrusor; a outra, a manutenção do gradiente de pressão entre

uretra e bexiga. Normalmente eles são mantidos às custas de uma interação harmônica entre

Sistema Nervoso Central, Sistema Nervoso Periférico, Sistema Nervoso Autônomo e Sistema

Musculoesquelético, funcionando como uma unidade fisiológica.6 A coordenação nervosa periférica

da bexiga e esfíncter inferior externo ocorre por inervação parassimpática, simpática e somática,

que emergem da região sacral e toracolombar da medula espinhal. Os nervos pélvicos exercem ação

excitatória na bexiga e apresentam caráter inibitório na uretra. Os nervos hipogástricos representam

a principal inervação simpática da bexiga. A inervação simpática toracolombar excita, por liberação

de noradrenalina, o esfíncter uretral, assim como inibe a atividade parassimpática e a contração das

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células musculares lisas do detrusor. As mais importantes aferências para início da micção são

provenientes dos nervos pélvicos, na região sacral.7

A incontinência urinária pode ser classificada em três tipos: IU de esforço (IUE) que é a

queixa de perda involuntária de urina no esforço físico, espirro ou tosse; IU de urgência (IUU)

caracterizada pela perda de urina acompanhada por forte sensação de urgência para urinar; e a IU

mista (IUM) quando há a associação entre a de urgência e a de esforço.8,9 Portanto, avaliar a função

e força da musculatura do assoalho pélvico (MAP) torna-se uma importante ferramenta para

monitorização dos resultados clínicos, além de servir como aprendizado e motivação para o

paciente, proporcionando uma eficácia terapêutica contra incontinência urinária.10 A reabilitação

conservadora é mais recomendada por ser uma opção menos invasiva e com menor risco de

complicações, acarretando também a diminuição de custos necessários para cirurgias.1

A cinesioterapia é considerada uma das formas de manutenção da força e integridade da

MAP, sendo os exercícios nessa região o tratamento adequado para pacientes portadoras de IUE.

Tal abordagem conduzida e supervisionada de forma correta alcança resultados satisfatórios. Outros

autores estão de acordo que o uso da cinesioterapia é efetivo e citam a motivação da paciente como

sendo uma importante parte para o sucesso do tratamento. A cinesioterapia tem determinado a

melhora ou a cura de várias pacientes com efeito duradouro por mais de 5 anos. 11 Entretanto, como

se trata de treinamento de musculatura, é de se esperar que a manutenção dos ganhos obtidos, como

em qualquer tipo de treinamento muscular, só possa acontecer caso a prática dos exercícios seja

feita com regularidade, no mínimo semanal.1

A Reabilitação por Realidade Virtual (RRV) é uma abordagem de tratamento que combina

exercícios dinâmicos funcionais (aqueles que incidem sobre os músculos inferiores do corpo e

estabilizadores do core, para simular movimentos comuns, preparando-os para as tarefas diárias) e

os jogos virtuais, a fim de aumentar a motivação, a participação, a adesão ao tratamento e reduzir

taxas de abandono. RRV emprega ambiente gerado por computador (realidade virtual) utilizando

consoles de jogos amplamente disponíveis (Nintendo Wii®, Microsoft Xbox®) para orientar os

pacientes através de exercícios funcionais de maneira divertida e envolvente. Apesar de muitos

estudos terem demonstrado a eficácia e vantagens motivacionais de terapias de realidade virtual

para várias condições e populações de pacientes, como pessoas com problemas de equilíbrio,

poucos estudos avaliaram os efeitos dessa abordagem no tratamento de incontinência urinária e,

mais especificamente, para as mulheres mais velhas com IU.12

A utilização de novas tecnologias na reabilitação, a exemplo da realidade virtual, tem

mostrado resultados importantes no tratamento de pacientes com comprometimento motor.13 Tendo

isso em vista, surgiu um interesse em verificar os efeitos da utilização da reabilitação virtual através

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da plataforma Microsoft Xbox 360® no tratamento de mulheres com incontinência urinária da

cidade de Parnaíba-PI.

MÉTODOS

A pesquisa foi realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí,

Parnaíba-PI, nos períodos de maio e junho de 2015. Inicialmente foram avaliadas 13 voluntárias, do

sexo feminino, com idades entre 20 e 66 anos. O recrutamento foi realizado através de divulgação

no campus e em pontos da cidade por meio de informativos sobre o estudo. Para os critérios de

inclusão foram selecionadas aquelas que apresentaram qualquer modalidade de incontinência

urinária e aceitaram participar do estudo mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido. Foram excluídas voluntárias que apresentavam qualquer comprometimento

osteomuscular, que já praticavam fisioterapia ginecológica, que eram virgens e que apresentaram

déficit cognitivo.

Se tratou de um estudo comparativo entre grupos onde a coleta dos dados foi feita a partir

dos resultados encontrados nos instrumentos da avaliação e reavaliação. Para avaliar as voluntárias

foi utilizado uma ficha de anamnese onde registrou-se dados como nome, endereço, queixa

principal e análise sobre os atos miccionais. Logo após foi aplicado o questionário de qualidade de

vida King’s Health Questionnaire (KHQ) validado em português que, em estudos anteriores,

mostrou-se sensível para distinguir os diferentes graus de incontinência urinária, apresentando uma

pior qualidade de vida, quanto maior a gravidade da incontinência urinária. O KHQ é composto por

30 questões organizadas em 9 quesitos: percepção da saúde, impacto da incontinência, limitação do

desempenho de tarefas, limitação física, limitação social, relações pessoais, emoções, sono e

energia e as medidas de gravidade. Possui ainda uma escala de sintomas composta pelos seguintes

itens: frequência urinária, noctúria, urgência, hiperreflexia vesical, incontinência urinária de

esforço, enurese noturna, incontinência no intercurso sexual, infecções urinárias e dor na bexiga,

além de uma opção onde o paciente refere qualquer outro problema relacionado a bexiga. O KHQ é

pontuado por domínio individualmente com valores de escore variando entre 0 e 100, onde quanto

maior a pontuação obtida, pior a qualidade de vida naquele quesito.14

Em seguida as voluntárias receberam uma aula de anatomia, para conhecimento corporal e

verificarem o local exato da contração da MAP. Foi realizado um treino para que a correta

contração pudesse ocorrer. A Avaliação da Força do Assoalho Pélvico (AFA) foi realizada pela

palpação bidigital com a paciente em decúbito dorsal em posição ginecológica modificada (flexo

abdução de coxofemoral), com os pés apoiados sobre a maca; os dedos indicador e médio do

examinador foram introduzidos no canal vaginal, com a mão devidamente enluvada e untada em gel

e então solicitado que a paciente contraísse a musculatura ao redor dos dedos e sustentasse essa

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contração, pelo tempo máximo que conseguir. Para avaliação da força de contração e resistência da

musculatura do assoalho pélvico foi utilizada a classificação de Ortiz.15 Também foi realizado com

as voluntárias o esquema PERFECT para avaliar a função subjetiva do assoalho pélvico.

Desenvolvida por Bø e Larsen em 1990, o objetivo desse esquema é quantificar a intensidade, a

duração e a sustentação da contração muscular perineal.16

Após a avaliação as voluntárias foram divididas igualmente e aleatoriamente entre dois

grupos: grupo cinesioterapia (GC) e grupo reabilitação virtual (GRV). A modalidade cinesioterapia

foi composta de 7 exercícios cinesioterapêuticos associados a exercícios de Kegel, de forma

individualizada. A terapia teve uma duração média de 40 minutos para cada paciente. A série de

Kegel baseia-se em contrações voluntárias da MAP, onde intercala as contrações mantidas com as

rápidas com o propósito de estimular as fibras musculares do tipo I e do tipo II.17,18 A execução dos

exercícios foi realizada em associação à respiração abdomino-diafragmática com instrução verbal

do terapeuta solicitando a realização da inspiração diafragmática e, ao expirar lentamente, contrair a

região perineal, como se fosse reter a urina, uma vez que há uma relação agonista-antagonista entre

diafragma respiratório e o períneo.18 O protocolo de tratamento cinesioterapêutico constitui em:

primeiro exercício, contrações isoladas da MAP; segundo exercício, propriocepção do MAP na bola

suíça; terceiro, dissociação de cintura pélvica sobre a bola; quarto, agachamento sumô com bola

pequena; quinto, agachamento com bola suíça; sexto, ponte simples com bola; sétimo, abdominal

com quadril e joelhos a 90°.

Para o grupo reabilitação virtual (GRV) foi utilizado um componente de realidade virtual,

sendo este a plataforma Xbox 360® com o sensor de movimento Kinect através do jogo Just Dance

2014. Foram selecionadas 5 músicas com duração média de 3 minutos e meio cada, com dicas

visuais dos passos a serem realizados em cada música. A sequência de passos era demostrada na

região inferior da tela com um marcador indicando o passo a ser executado no momento exato. O

participante era orientado a executar o passo indicado na dança quando a figura do movimento

passar nesse marcador. Diferentes sequências de passos foram executadas em todas as 5 músicas.

As contrações de MAP foram indicadas através do estímulo verbal durante passos pré-

determinados, intercalando movimentos para fibras fásicas e tônicas. Os passos foram escolhidos

por se assemelhar a movimentos cinesioterapêuticos, como agachamentos, dissociação de cintura

pélvica, a fim de proporcionar um melhor resultado a terapêutica. A reabilitação virtual foi

observada através da adição do treino da MAP em auxílio do ambiente virtual.12

Um total de 12 intervenções foram realizadas em cada indivíduo de cada grupo, e ao final

foi realizado uma reavaliação da MAP através da AFA e do esquema PERFECT, além de uma nova

aplicação do questionário de qualidade de vida.

Page 6: ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

O protocolo de estudo foi submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Federal do Piauí, parecer nº 1.087.650, e todos os procedimentos adotados seguiram as normas

determinadas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

Os valores foram organizados de forma a se comparar as diferenças entre os momentos

observados nas avaliações realizadas. As medidas das variáveis numéricas foram expressas em

média e desvio padrão. Para comparação das variáveis de distribuição normal foi utilizado o teste t

de Student para amostras independentes, e nas de distribuição não normal, o teste de Mann-

Whitney. Foi considerado um valor de significância p<0,05. As análises foram realizadas no

programa GraphPad Prism 5.0.

RESULTADOS

Das 13 voluntárias avaliadas inicialmente, 10 permaneceram até o fim do protocolo. Essas

apresentaram média de idade 37,4±16,4 anos. Os resultados a seguir mostram a comparação entre

os grupos cinesioterapia e reabilitação virtual, nos quesitos média de força (figura 1), tônus (figura

2), repetição (figura 3) e AFA (figura 4), e na comparação das médias das diferenças entre esses

grupos durante os momentos de avaliação (tabela 2). Não foram observadas diferenças significantes

(p<0,05) entre as variáveis força, tônus, repetições e AFA nas comparações intragrupos nos dois

momentos de avaliação. A tabela 3 mostra os resultados de média e desvio padrão antes da

aplicação dos tratamentos e a tabela 4 mostra os resultados após a reavaliação. A análise do

questionário de qualidade de vida foi realizada avaliando as respostas subjetivas das voluntarias,

comparando o questionário inicial com o questionário final. As respostas obtidas no questionário

final de ambos os grupos inferiram uma melhora na percepção das voluntárias do seu quadro geral

de saúde. Também relataram uma melhora da continência urinária, expressada na tabela 5, que

mostra a diminuição dos sintomas no momento da reavaliação.

Tabela 01: Perfil antropométricos dos grupos estudadosGrupo Cinesioterapia Grupo Reabilitação Virtual p-valor

Idade 40,2±23,2 34,6±11,0 0,8345

Peso 64,8±20,6 71,6±12,3 0,5434

Altura 154,8±8,3 158,6±10,3 0,5375

IMC 26,6±5,3 28,8±6,5 0,5741

Comparação das médias de idade, peso, altura e índice de massa corpórea (IMC) entre os grupos estudados, Parnaíba/PI, 2015. (n = 10)

Page 7: ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

Tabela 02: Comparação das médias das diferenças entre os momentos de avaliação na mensuração

de força, tônus, repetição e AFA dos grupos estudados, Parnaíba/PI, 2015. (n = 10)

Grupo Cinesioterapia Grupo Reabilitação Virtual p-valor

FORÇA

Diafragma Urogenital 4,0±4,8 1,6±3,3 0,3862

Musc. Elevad. do Ânus 2,2±3,0 2,2±2,9 0,6015

TÔNUS

Diafragma Urogenital 2,2±1,3 0,2±2,9 0,1172

Musc. Elevad. do Ânus 3,0±2,9 2,0±2,9 0,6024

REPETIÇÕES

Diafragma Urogenital 1,6±1,5 2,0±2,5 0,7707

Musc. Elevad. do Ânus 0,0±3,1 2,8±2,6 0,1583

AFA

Diafragma Urogenital 0,6±0,5 0,0±1,2 0,4647

Musc. Elevad. do Ânus 1,6±1,3 0,2±0,4 0,0283*

Musc. Elevad. Do Ânus = Músculo elevador do ânus

Tabela 3: Media dos domínios do KHQ antes do tratamento

Scores do KHQ Número Mínimo Máximo MédiaDesvio

Padrão

Percepção da saúde 10 0 50,0 27,5000 14,19116

Impacto da incontinência 10 0 66,6 26,6400 21,06077

Limitação do desempenho de

tarefas10 0 66,6 23,3000 26,27022

Limitação física 10 0 66,6 29,9700 33,14802

Limitação social 10 0 33,3 4,9900 11,23214

Relações pessoais 10 0 66,6 8,3250 23,54666

Emoções 10 0 77,7 14,4300 25,12188

Sono e Energia 10 0 100,0 19,9800 31,22836

Medidas de gravidade 10 0 41,6 22,4700 14,70873

Page 8: ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

Tabela 4: Media dos domínios do KHQ após o tratamento

Scores do KHQ Número Mínimo Máximo MédiaDesvio

Padrão

Percepção da saúde 10 0 50,0 25,0000 11,78511

Impacto da incontinência 10 0 66,6 16,6500 23,54666

Limitação do desempenho de

tarefas10 0 33,3 11,6500 15,79383

Limitação física 10 0 66,6 9,9800 21,05727

Limitação social 10 0 33,3 3,3300 10,53038

Relações pessoais 10 0 11,1 1,3875 3,92444

Emoções 10 0 22,2 5,5500 9,43319

Sono e Energia 10 0 16,6 3,3200 6,99917

Medidas de gravidade 10 0 25,0 11,6660 11,91555

Tabela 5: Escala de sintomas do KHQ1ª Avaliação 2ª Avaliação

Sintomas NãoUm

pouco

Mais ou

menosMuito Não

Um

pouco

Mais ou

menosMuito

Frequência 0 40% 20% 40% 0 60% 40% 0

Noctúria 30% 30% 30% 10% 40% 50% 10% 0

Urgência 10% 40% 20% 30% 50% 30% 20% 0

Bexiga hiperativa 10% 50% 30% 10% 80% 20% 0 0

IU de esforço 30% 40% 10% 20% 70% 20% 10% 0

Enurese noturna 100% 0 0 0 100% 0 0 0

Incontinência no

intercurso sexual90% 10% 0 0 100% 0 0 0

Infecções frequentes 40% 60% 0 0 80% 20% 0 0

Dor na bexiga 60% 30% 10% 0 70% 30% 0 0

Page 9: ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

Figura 01: comparação das médias de força entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).

Figura 02: comparação das médias de tônus entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).

Figura 03: comparação das médias de repetições entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).

Page 10: ANÁLISE DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO VIRTUAL NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

Figura 04: comparação das médias de AFA entre os grupos nos dois momentos avaliados (DUG = diafragma urogenital; MEA = musculatura elevadora do ânus).

DISCUSSÃO

Como descrito no estudo de Leon19, o desconhecimento sobre o que é, para que serve e

como funciona a musculatura do assoalho pélvico pode ser um fator precipitante para IU, podendo

levar a uma hipotrofia e fraqueza. Além disso, para as mulheres, a perda de urina é um fator crucial

para um baixo índice na qualidade de vida.

Atualmente a fisioterapia é considerada o tratamento de primeira linha para IU e os recursos

terapêuticos mais utilizados são: cinesioterapia do assoalho pélvico, cones vaginais, biofeedback,

eletromiografia de superfície, reeducação miccional e a eletroestimulação (EE)20

Gomes21 afirma que o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico é uma das principais

modalidades de tratamento para pacientes com IUE, e que a contração correta e o acompanhamento

adequado por um fisioterapeuta qualificado são a chave para o sucesso do tratamento. Buscando a

conscientização das voluntárias quanto a forma correta de realizar os exercícios, os pesquisadores

do presente estudo realizaram uma aula de anatomia e um treino para a contração correta do

assoalho pélvico, bem como os comandos de voz adequados utilizando uma linguagem clara e

objetiva, semelhante ao estudo de Santos22.

Para o protocolo de tratamento cinesioterapêutico, foram escolhidos exercícios semelhantes

ao proposto por Silva et al.23 em seu estudo de caso, no qual demonstrou um resultado satisfatório

com a paciente. Tais exercícios consistiam em contrações isoladas da MAP, propriocepção do MAP

na bola suíça, dissociação de cintura pélvica sobre a bola suíça, agachamento sumô com bola

pequena, agachamento com bola suíça, ponte simples com bola, e abdominal com quadril e joelhos

a 90°. O protocolo se mostrou eficiente e possível de realização pelas pacientes.

Em estudo realizado por Lopes et al.24 a fim de verificar as restrições causadas pela IU à

vida da mulher, 164 mulheres foram recrutadas, no qual 53 sofriam de IUE, sendo que todas as

pacientes estudadas apresentavam restrições, nas atividades sexuais, sociais, domésticos e

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ocupacionais. Com base nessa relação entre IU e QV, a fisioterapia se mostra eficaz no

fortalecimento da MAP e consequente redução das perdas urinárias, fato comprovado no estudo em

questão, que após a intervenção constatou melhoras significativas na percepção da saúde, impacto

da incontinência, limitação dos desempenhos das tarefas, limitações físicas, limitações sociais,

emoções, sono e energia e medidas de gravidade de ambos os grupos, de acordo com o relato das

voluntárias.

Um outro fator observado é o aumento da força muscular do assoalho pélvico visto nos

resultados do AFA e do esquema PERFECT durante a reavaliação, que demonstraram valores

maiores após as intervenções, o que pode ser também observado no estudo de Matheus et al. 18 e

Pinheiro et al.25.

No presente estudo foi observado que tanto o grupo cinesioterapia quanto o grupo

reabilitação virtual não obtiveram diferenças significantes (p<0,05) quanto aos quesitos força,

tônus, velocidade, presentes no esquema PERFECT, como também na AFA. Isso pôde demonstrar

que a proposta de reabilitação virtual presente no estudo age de forma semelhante a proposta

terapêutica da cinesioterapia, gerando sua aceitabilidade. Em um estudo desenvolvido por Elliot et

al.12, 24 mulheres com IU participaram de um programa de tratamento utilizando a reabilitação

virtual associado aos exercícios para musculatura do assoalho pélvico proposto por Kegel. Os

pacientes apresentaram uma diminuição da perda de urina e uma melhora significante na qualidade

de vida. O protocolo de tratamento da reabilitação virtual usado no presente estudo foi baseado no

proposto por Elliot.

A reabilitação virtual vem se destacando como terapêutica em várias áreas como demonstra

o estudo de Borges e Mendes26 onde avaliam a influência do Xbox nas alterações fisiológicas,

cognitivas e de equilíbrio em idosos e observam um aumento das pontuações desses quesitos pós

tratamento. Porém, por se tratar de uma área nova e pouco explorada, ainda tem-se escassez de

estudos comprovando sua efetividade científica.

CONCLUSÃO

O estudo demonstrou que há uma aparente eficácia na utilização da realidade virtual como

forma de reabilitação. É importante ressaltar que, por ser uma área de pesquisa relativamente nova,

as evidências obtidas nos estudos ainda não são tão fortes, pois muitos têm baixo teor científico,

possuem amostras pequenas ou são relatos de caso. É sugerido que novas pesquisas sejam

realizadas para verificar possíveis variáveis não abarcadas por esse estudo, assim como abrangendo

um maior número de participantes, consequentemente aumentando a qualidade das informações.

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REFERÊNCIAS

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