anÁlise da viabilidade econÔmico-financeira de ... · isto se dá em função do fato do vpl...
TRANSCRIPT
ANÁLISE DA VIABILIDADE
ECONÔMICO-FINANCEIRA DE
INVESTIMENTOS: O CASO DE UM
CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO EM
NATAL/RN
Luis Filipe Azevedo de Oliveira (UFRN)
Nathalia de Oliveira Pacheco (UFRN)
Roseane Rodrigues da Silveira (UFRN)
As necessidades crescentes dos profissionais em realizar investimentos
considerando o grau de risco justificam a busca pela otimização do
capital. O sucesso da aplicação financeira é recorrente tanto do
retorno deste capital quanto do tempoo necessário para que isto
ocorra. Para tal, a escolha certa para investimento se torna
imprescindível. O presente trabalho objetiva analisar a viabilidade
econômica de um cirurgião dentista ao iniciar um consultório. Os
parâmetros da engenharia econômica são utilizados para a análise de
risco e de sensibilidade, no tocante à variação da taxa mínima de
atratividade e da demanda obtida pelo cirurgião dentista. Associado à
essas ferramentas, utiliza-se o Método de Monte Carlo para simulação
dos fluxos de caixa no horizonte determinado. Como resultado, se
obtêm que, em um período de cinco anos, um consultório odontológico
padrão é rentável.
Palavras-chaves: Análise de Investimento; Método de Monte Carlo;
Análise de Sensibilidade; Consultório Odontológico.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
2
1. Introdução
O cirurgião-dentista (CD) presta serviços nas diversas áreas de odontologia e pode tanto
trabalhar por contra própria, como também ser assalariado em clínicas particulares,
cooperativas, empresas de atendimento odontológico e na administração pública. Os diversos
fatores que influenciam o exercício dessa profissão vêm transformando significativamente
esse mercado. Dentre eles, alguns autores destacam a progressiva incorporação de tecnologia,
a especialização do profissional, a redução do exercício liberal estrito, a popularização dos
sistemas odontológicos de grupo, o aumento do percentual de profissionais com vínculo
público, sobretudo com crescimento expressivo dos postos de trabalho na rede pública de
serviços odontológicos (FREITAS, 2007; MORITA et al, 2010).
Garrafiel (2008) aponta que o setor de serviços odontológicos é um segmento que oferece um
grande espectro de oportunidades, mas deve-se estar atento à qualidade dos serviços de
atendimento ao paciente. O autor ainda mostra que iniciar a carreira como profissional liberal
em uma clínica própria é uma opção muito arriscada, sendo a melhor opção trabalhar com
outros CD que já tenham experiência no mercado, para então iniciar o trabalho em um
consultório odontológico próprio. Entretanto, é comum que os cirurgiões dentistas se tornem
empreendedores e busquem investir em seu próprio negócio.
Em qualquer segmento, um investimento corre risco de insucesso, haja vista que os fluxos
futuros são incertos. Esse risco pode ser maior ou menor, dependendo da situação analisada, e
deve sempre ser considerado. Na especificidade do setor odontológico, todos os aspectos
intrínsecos a esse setor e que aumentam ou diminuam o risco para o investidor devem estar
presentes num modelo ao se planejar montar um consultório odontológico. Garrafiel (2008)
estabelece que R$ 60 mil é o investimento inicial médio nesse ramo. O retorno desse
montante será obtido ao longo do tempo, mas esse horizonte irá variar de acordo com as
características do mercado em que atua.
À luz dessa perspectiva, são utilizadas as ferramentas da engenharia econômica, a fim de
abordar a seguinte problemática: “Como determinar a viabilidade econômica de uma pequena
empresa do segmento odontológico para um profissional em início de carreira?
Para responder essa problemática, este trabalho tem como objetivo analisar um investimento
realizado por uma cirurgiã-dentista recém-formada na cidade de Natal-RN. Por ser um
investimento recente e de risco associado, a análise do investimento do consultório e de sua
viabilidade econômica vem a ser uma forma de planejar as ações que determinarão o sucesso
do negócio com base na projeção dos resultados ao longo do tempo. Prospectaram-se cenários
a partir de sua atuação no mercado, considerando os dados e informações que dispunha até o
momento. Sendo então realizada uma projeção dos fluxos de caixa nos cenários ancorada pelo
Método de Monte Carlo (MMC). Os parâmetros da engenharia econômica são utilizados para
a análise de viabilidade econômica e de risco do investimento, também uma análise de
sensibilidade, no tocante à variação da taxa mínima de atratividade e da demanda obtida pelo
cirurgião dentista.
2. Engenharia Econômica
A Engenharia Econômica é, em boa parte, uma aplicação das técnicas de Matemática
Financeira nos problemas de tomada de decisões. É um conjunto dos métodos utilizados nas
análises de investimentos e das técnicas empregadas na escolha da melhor alternativa (TAHA,
1996; ASSAF NETO, 2006). As necessidades crescentes das empresas em possuir recursos se
confrontam com a carência dos mesmos, justificando a busca pela otimização do capital.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
3
Dessa forma, percebe-se a importância da boa escolha das alternativas de investimento em
uma empresa.
Para realizar a viabilidade de projetos, os mesmo são analisados em função de parâmetros
como o Valor Presente Líquido, a Taxa Interna de Retorno e o Payback Descontado. Segundo
Taha (1996), a aplicação de recursos monetários em empreendimentos, com o objetivo de
geração de lucros, em geral a longo prazo, se denomina investimento. Aplica-se tanto à
compra de máquinas, equipamentos, edificações e imóveis para a instalação de unidades
produtivas como à compra de títulos financeiros.
Segundo Bruni (1998), o Payback é o período ou prazo de retorno do capital aplicado no
projeto em estudo, dados as condições propostas no Fluxo de Caixa, o qual refere-se ao
montante de caixa recebido e gasto por uma empresa durante um período de tempo definido,
algumas vezes ligado a um projeto específico. É o primeiro indicador a ser verificado em uma
análise de viabilidade, pois o aprofundamento desse estudo só deve ser realizado quando o
prazo indicado esteja dentro do esperado pelos investidores.
O Payback pode ser dividido em simples e descontado, sendo a diferença presente na
atualização dos fluxos futuros de caixa a valor presente para depois calcular o período de
recuperação. Entretanto, não é considerável utilizar somente esse método como decisório na
análise de investimento, visto que não considera os fluxos de caixa após o período de
recuperação.
A taxa interna de retorno – TIR, é a taxa de juros que iguala, em determinado momento do
tempo, o valor presente das entradas com as saídas previstas de caixa. Geralmente, adota-se a
data de início da operação como a data focal de comparação dos fluxos de caixa (ASSAF
NETO, 2006).
Para estudar a viabilidade econômica do projeto, deve-se comparar a taxa interna de retorno
com a taxa de desconto. Aceita-se o investimento no qual a TIR é maior do que o custo de
oportunidade. Segundo Fonseca (2003), tem-se como regra geral para investimento que se a
TIR > Taxa de desconto, aceita-se o projeto com um Valor Presente Líquido – VPL –
positivo. Se a TIR = Taxa de desconto, será indiferente aceitar ou rejeitar, com um VPL nulo.
Por fim, a última opção em que, a TIR < Taxa de desconto, será lógico rejeitar o investimento
em que o VPL será negativo.
O Valor Presente Líquido corresponde ao valor presente dos resultados esperados, positivos e
negativos, do fluxo de caixa, descontando-se à Taxa Mínima Atrativa. Essa taxa de desconto
refere-se àquela em que o investidor poderia aplicar o capital com baixíssimo risco (SALLES,
2004). É o critério mais recomendado por especialistas em finanças para decisão de
investimento. Isto se dá em função do fato do VPL considerar que o valor temporal do
dinheiro não é influenciado por decisões menos qualificadas, além de utilizar todos os fluxos
de caixa futuros gerados pelo projeto, refletindo toda a movimentação de caixa.
A utilização da técnica de identificação do VPL utilizado para decisão de investimentos e
financiamentos independe do tempo, ou seja, pode ser utilizado em um contexto sem risco –
fluxo de caixa de um único período – ou em um contexto com risco – fluxos de caixa
distribuídos por mais de um período (FONSECA, 2003).
Caso o VPL seja positivo, o projeto deverá ser considerado para realização do investimento.
Caso seja negativo, ocorrerá a situação contrária.
As principais vantagens do VPL, de acordo com Bruni (1998), são a possibilidade de
identificar se há aumento ou não do valor da empresa, analisar todos os fluxos de caixa do
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
4
projeto, permitir a adição de todos os fluxos de caixa na data zero, considerar o custo de
capital e inserir o risco no custo de capital.
3. Método de Monte Carlo para Análise de Investimentos
A utilização da simulação na análise de risco financeiro, segundo Hillier e Lieberman (2006), permite a avaliação de uma proposta de investimento de capital com fluxos de caixa futuros
incertos. Gerando-se observações aleatórias a partir das distribuições de probabilidades para o
fluxo de caixa em cada um dos respectivos períodos, a simulação projeta cenários como
resultado de um investimento (OLIVEIRA et al, 2009). Isso fornece uma distribuição de
probabilidades do retorno sobre o investimento.
Implementar um modelo de simulação requer números aleatórios para se obter observações
aleatórias a partir das distribuições de probabilidades. Um método para geração de tais
números aleatórios é usar um dispositivo físico como um disco giratório ou um gerador
aleatório eletrônico, e também tabelas de números aleatórios (HILLIER; LIEBERMAN,
2006).
O método de Monte Carlo (MMC) utiliza números aleatórios para simular uma situação real
de eventos estocásticos, em que esses números estão agrupados aleatoriamente seguindo uma
técnica apropriada, obedecendo a uma distribuição de probabilidades especificada. Qualquer
número do grupo tem igual chance de ser escolhido. A garantia de que o MMC nos dá é que,
quando esse processo é realizado com uma grande massa de dados, os valores obtidos da
simulação guardam estreita semelhança com os valores reais no que se referem as variáveis
randômicas, permitindo simular o funcionamento de um sistema real (HILLIER;
LIEBERMAN, 2006; OLIVEIRA et al, 2009).
Oliveira et al (2009) demonstram que o MMC aplicado a análise financeira gera, continua e
aleatoriamente, números que estão correlacionados aos fluxos de caixa, usados nos cálculos
do Valor Presente Líquido (VPL) de cada cenário. Dessa forma, o conjunto de VPL
calculados forma a distribuição de probabilidade para a tomada de decisão.
4. Análise de Risco
Risco é, fundamentalmente, a possibilidade de perda financeira. É usado como sinônimo de
incerteza e refere-se à variabilidade dos retornos associados a um projeto de investimento,
conforme Damodaran (1997).
Andrade (2000) afirma que risco é uma estimativa do grau de incerteza que se tem com
respeito à realização de resultados futuros desejados. Assim, por exemplo, quanto mais ampla
for a faixa de valores previsíveis para o retorno de um investimento, tanto maior será o grau
de risco do investimento.
De acordo com Assaf Neto; Lima (2009), o risco é uma ferramenta de mensuração de estados
futuros de incerteza, uma vez sendo conhecidas as probabilidades de ocorrência de resultados.
Como ferramentas para análise de risco, os conceitos estatísticos de desvio padrão e
coeficiente de variação são relevantes e amplamente utilizados.
O desvio padrão é o indicador estatístico de risco mais comum a ser usado, medindo a
dispersão ou variabilidade em torno do valor esperado de retorno. Dessa fora, quanto maior a
variabilidade menor confiança pode-se deter sobre resultados associados ao investimento
(ARRUDA, 2003).
Ainda, segundo Arruda (2003), o coeficiente de variação se caracteriza por ser uma medida de
dispersão relativa usada na comparação do risco de ativos que diferem nos retornos esperados.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
5
Uma vez encontrado o resultado, quanto maior o valor de coeficiente de variação (CV), maior
o risco do investimento.
5. Análise de Sensibilidade
Os métodos de análise por tendência de ocorrência dos fatos têm sido cada vez mais
utilizados, tendo em vista o cenário de incertezas que permeia o mercado de investimentos. A
análise de sensibilidade vem a ser um enfoque prático para tratar justamente o problema das
incertezas.
A análise de sensibilidade busca identificar em quanto um resultado financeiro, VPL,
encontrado se modifica devido à variação de algum parâmetro da análise, como o preço do
produto ou a quantidade vendida (RÊGO, 2010).
Segundo Ribeiro et al (2001), esse tipo de análise é uma opção para determinar o impacto de
cada item de receita e de custo sobre a rentabilidade da atividade e para avaliar a
maximização de lucros ou minimização de custos.
A análise de sensibilidade tem como objetivo auxiliar a tomada de decisão (HIRSCHFELD,
2000), ao se estudar eventuais alterações de valores produzidos por alterações nos parâmetros
componentes. Ao realizar a análise, modifica-se cada variável em vários pontos percentuais
acima e abaixo do valor esperado, mantendo as outras variáveis constantes. Sua relevância se
dá na medida em que auxilia a identificar as variáveis que influenciam os resultados e, assim,
verificar o quão sensível o investimento é a essas de acordo com a observação dos novos
dados.
6. Método de pesquisa
A pesquisa foi inicialmente de caráter exploratória descritiva, envolvendo levantamento
bibliográfico a respeito dos métodos de custeio e entrevistas. Apresentou uma abordagem
quantitativa, na medida em que foram coletados dados numéricos analisados de forma
analítica. Em paralelo, abordou-se o estudo também de forma qualitativa, pela interpretação
descritiva do dos dados, de forma a propor recomendações.
Realizou-se entrevistas com roteiro semi-estruturadas e ações conversacionais para a coleta de
dados e obtenção de informações com o cirurgião-dentista escolhido pertencente à clínica
odontológica em estudo. Algumas observações diretas dos procedimentos foram realizadas,
além de uma análise documental, para obtenção de documentos de meses anteriores, os quais
detalhavam os gastos gerais da clínica e de planilhas de custos específicas do profissional.
Durante e ao final da coleta, tabulou-se os dados em planilhas eletrônicas para maior
facilidade na utilização no momento das análises.
A análise de viabilidade econômica iniciou-se com a criação de três cenários, com base nos
dados financeiros dos primeiros meses do consultório. Com isso, foi possível analisá-los em
função dos parâmetros utilizados na engenharia econômica. Com o auxílio do Método de
Monte Carlo, projetou-se os fluxos para os demais períodos no horizonte de 60 meses. Essa
base serviu para a análise do investimento, com o cálculo do Valor Presente Líquido, da Taxa
Interna de Retorno e do Payback Simples e Descontado.
Com intuito de verificar as variações que o VPL sofreria com a mudança da TMA e da
demanda do consultório, realizou-se uma análise de sensibilidade com esses três fatores
(Figura 1).
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
6
Figura 1 - Metodologia aplicada para a análise do investimento
7. Estudo de Caso
7.1. Descrição da situação de estudo
O local de estudo trata-se de um consultório odontológico, recém inaugurado, instalado em
uma clínica odontológica localizada em Natal-RN, na qual funcionam mais seis consultórios.
Cinco Auxiliares de cirurgião-dentista (ACD) e uma recepcionista revezam-se entre os
dentistas. O horário para atendimento comum compreende entre 8 às 18 horas, com intervalo
para almoço de 12 às 14 horas. Contudo, é bastante comum entre todos os profissionais
estender-se tanto no horário do almoço, como no fim do expediente, prolongando a jornada de
trabalho até às 20 horas.
No consultório odontológico são oferecidos serviços de prevenção, restauração dentária,
endodontia, clareamento dental, urgência e perícias odontológicas. Os clientes são divididos
em particulares, de plano odontológico e de perícia, caracterizando diferentes tipos de
remuneração do serviço.
Para melhor compreensão dos fatores que influenciam as atividades da clínica e suas relações
com os aspectos econômico-financeiros da mesma, foi analisado o mapa dos processos
(Figura 2) de prestação de serviços odontológicos oferecidos, discriminando alguns custos
presentes.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
7
Figura 2 - Mapa de processos do consultório odontológico
Por ser um investimento recente e de risco associado, a análise do investimento do consultório
e de sua viabilidade econômica vem a ser uma forma de planejar as ações que determinarão o
sucesso do negócio com base na projeção dos resultados ao longo do tempo.
7.2. Análise da viabilidade econômico-financeira do investimento
Para a análise de viabilidade econômica do consultório estudado, foram projetados três
cenários distintos: um pessimista, um mais provável e um otimista, de probabilidade de
ocorrência de 20%, 60% e 20%, respectivamente. Dentro de cada cenário, calculou-se um
fluxo de caixa, que foi tomado como base para ser projetado nos períodos de 60 meses da
análise (Tabela 1). Nesse fluxo foram consideradas as receitas provenientes dos serviços aos
clientes particulares, de plano odontológico e perícia; deduzindo os custos e despesas
variáveis para a formação de um fluxo base.
O fluxo base, projetado em cada período com um valor aleatório obtido por meio do Método
de Monte Carlo (MMC), foram tidos como médio, equivalendo a 50% do valor máximo
provável. O MMC gerou aleatoriamente, para cada período, uma proporção (porcentagem)
representativa da variação do fluxo base para cada cenário analisado. Após esse
procedimento, foram diminuídas as despesas e custos fixos de cada período para obter o
resultado antes do imposto de renda, que foi tido como o fluxo de caixa do mês. Para tal, foi
utilizada a fórmula abaixo descrita:
FC = 2∙FB∙MMC-CF
Onde:
FC = Fluxo de caixa;
FB = Fluxo base;
MMC = porcentagem aleatória obtida através do MMC;
CF= Custo fixo.
Esse processo serviu para fazer com que os fluxos variassem ao longo do tempo, no intuito de
aproximar a projeção da realidade através de um método estatístico e aleatório, visto que
dificilmente um consultório odontológico teria receitas e gastos constantes.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
8
O fluxo base do primeiro cenário, o pessimista, foi calculado subtraindo a menor receita,
dentre o histórico de serviços, dos respectivos custos e despesas variáveis desse mesmo mês.
No cenário mais provável, fez-se uma média das receitas subtraindo-a da média dos custos e
despesas variáveis. No cenário otimista, subtraiu-se a maior receita dentre os meses
analisados dos seus respectivos custos e despesas variáveis.
Dados utilizados Cenários
Pessimista Mais provável Otimista
Receita particular 1.712,50 2.279,67 3.668,00
Receita plano odont. 300,00 600,00 1.600,00
Receita perícia 554,40 1.310,40 2.016,00
Total das receitas 2.566,90 4.190,07 7.284,00
Custos e despesas variáveis (758,00) (864,67) (1.008,00)
Fluxo Base 1.808,90 3.325,40 6.276,00
Custo fixo (1.217,11) (1.217,11) (1.217,11)
Fluxo de Caixa 2∙1808,90∙MMC
- 1217,11
2∙3325,40∙MMC
- .217,11
2∙6276,00∙MMC
- 1217,11
Tabela 1 - Fluxos base para projeção de cenários
Para todas as análises financeiras, adotou-se um horizonte de 60 meses e uma Taxa mínima de
atratividade (TMA) de 0,5% ao mês, baseando-se no índice de rendimento da caderneta de
poupança no Brasil. Esse tempo foi adotado como horizonte devido ao tempo médio de
duração de um consultório de 5 anos, quando iniciam-se as trocas dos principais
equipamentos.
Considerando os três cenários, calculou-se a taxa interna de retorno e o payback simples e
descontado para cada um deles. A partir da análise, observa-se que no cenário pessimista não
é possível obter um retorno do investimento no prazo de 60 meses (Figura 3).
Figura 3 - Payback no cenário pessimista
Para o cenário mais provável e otimista (Figura 4 e 5), observa-se que a data de retorno do
investimento obtido por meio do método de cálculo de payback simples e descontado é muito
próxima. Esse fato deve-se à taxa mínima atrativa utilizada ser pequena, logo, sua influência
ao longo do período se torna praticamente desprezível.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
9
Figura 4 - Payback no cenário mais provável
Figura 5 - Payback no cenário otimista
Por meio do fluxo de caixa calculado para cada cenário, obteve-se a taxa interna de retorno
individual. Como pode ser observado na Tabela 2, o cenário mais provável e o otimista
apresentam datas de retorno do investimento dentro do horizonte utilizado para o cálculo da
TIR. Ainda para a projeção desses cenários, observa-se que apresentam uma taxa interna de
retorno superior ao custo de oportunidade, viabilizando o investimento no consultório. Para o
cenário pessimista, não foi possível a obtenção da TIR, visto que ocorre a limitação da
utilização do método dessa taxa, resultados negativos dos fluxos de caixa negativos.
Cenários Investimento Fluxo
Base (R$) TIR
Payback
Simples Descontado
Pessimista -59370 1809,9 - - -
Mais Provável -59370 3325,4 3,21% 21 meses e 29 dias 22 meses e 20 dias
Otimista -59370 6276,0 9,37% 9 meses e 24 dias 10 meses e 8 dias
Tabela 2 - Resultado da Taxa Interna de Retorno e Payback para cada cenário
Com base no Valor Presente Líquido (Tabela 3), somente o cenário pessimista apresenta uma
valor negativo. Isto significa, para esse cenário, que o investimento é inviável.
O investimento desse novo consultório apresenta como resultados um prazo de retorno curto,
tanto para o payback simples quanto para o payback descontado; um valor presente líquido
positivo para dois cenários dos três calculados e uma TIR maior do que a taxa de
oportunidade utilizada.
Cenários Probabilidade VPL(R$) VPLm(R$) Desvio
Padrão
Coeficiente de
Variação
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
10
Pessimista 20,0% -25.020,87
65.901,85 73.392,98 1,11 Mais Provável 60,0% 51.440,49
Otimista 20,0% 200.208,64
Tabela 3 - Coeficiente de Variação para os cenários
A partir do cálculo do VPL médio, do desvio padrão e do coeficiente de variação, tem-se que,
para o investimento do consultório odontológico, encontrou-se para esse último parâmetro um
valor de 1,11. Como o coeficiente de variação é definido como a divisão do desvio padrão
pelo VPL médio e apresenta um resultado superior a um, observa-se que existe uma grande
dispersão dos dados em relação à média, podendo ser um risco elevado para o investimento. O
valor presente líquido encontrado para cada cenário destoa-se da média calculada. Mediante o
cálculo da probabilidade de viabilidade do investimento, esse valor se torna mais consistente
para ser adotada nas tomada de decisões.
Considerando que os cenários estabelecidos descrevem uma Distribuição Normal de
Probabilidade, pode-se calcular o risco associado ao processo aplicando as propriedades dessa
distribuição. Esse procedimento matemático é determinado pela área sob a curva normal
padrão que corresponde à probabilidade de viabilidade e inviabilidade do investimento
(FERREIRA, 2008).
Partindo do princípio, o projeto apresenta insucesso caso o Valor Presente Líquido do
investimento contemple um VPL<0 (negativo). A partir dos parâmetros encontrados
fundamentados pelos princípios da engenharia econômica, o valor da variável padrão z vale -
1,56. A probabilidade de o projeto ter sucesso será toda a área sob a curva normal padrão a
partir do ponto em que z é superior a -1,56. Em outras palavras, a probabilidade de sucesso do
projeto será dada por P(-1,56 < Z < 0) e P(Z > 0).
Esse procedimento permite concluir que o investimento tem aproximadamente 94% de chance
de ser bem sucedido, dadas as condições e características dos cenários projetados. A baixa
probabilidade relativa de ter insucesso, menos que 6%, aponta que o projeto é viável, e
favorece a aceitação em continuá-lo.
7.3 Análise de Sensibilidade do VPL
Com base nos resultados obtidos para o VPL, tanto na consideração dos diferentes cenários
quanto na simulação das receitas, é possível se fazer um tratamento sobre o risco do
investimento. Por meio da análise de sensibilidade, observou-se o comportamento do valor
presente líquido em relação às variações da taxa mínima de atratividade e do aumento da
demanda do consultório ao longo do tempo.
Para a taxa mínima de atratividade foram traçados as seguintes variações de valores e seus
respectivos VPLs médios, conforme representados na Tabela 5 e Figura 6:
Parâmetros Análises
1 2 3 4 5 6 7
TMA (a.m.) 0,50% 1,50% 2,50% 3,50% 4,50% 5,50% 6,50%
VPL (R$) 65.901,85 37.514,14 17.966,17 4.117,45 -5.971,54 -13.520,72 -19.312,29
Tabela 5 - Análise de sensibilidade VPL x TMA
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
11
Figura 6 – Análise de sensibilidade VPL x TMA
Com a análise de sensibilidade do VPL médio em relação a TMA (Figura 6), observa-se uma
queda do valor esperado do retorno do investimento na medida em que o custo de capital
aumenta, até o ponto em que, à taxa de aproximadamente 4% a.m., o investimento passa a se
tornar não rentável.
Uma prospecção de valores também foi traçada para o crescimento da demanda pelos serviços
oferecidos, tratada já aplicada às receitas, no consultório ao longo do tempo, a fim de se
analisar o impacto desse aumento na demanda no resultado do valor presente líquido. Dessa
forma, foram traçados os seguintes valores e respectivos VPLs médios apresentados na Tabela
6:
Parâmetros Análises
1 2 3 4 5 6 7
Demanda (a.m.) 0,10% 0,15% 0,20% 0,25% 0,30% 0,35% 0,40%
VPL (R$) 71.084,46 73.750,21 76.467,03 79.236,02 82.058,31 84.935,04 87.867,41
Tabela 6 - Análise de sensibilidade VPL x Variação na Demanda
Figura 7 – Análise de sensibilidade VPLxDemanda
Como apresentado no gráfico acima, o VPL apresenta variações à sensíveis aumentos na
demanda mensal. Uma das razões para esse resultado se deve ao horizonte de tempo
analisado, 60 meses. Esse tipo de análise deve ser considerada, uma vez que o consultório é
um empreendimento recente no mercado, logo há uma tendência de crescimento em seu
número de clientes e serviços prestados.
8. Considerações Finais
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
12
Com a aplicação das ferramentas da engenharia econômica e feitas as análises de
sensibilidade e risco associado, o investimento feito no consultório odontológico foi
comprovado viável e de baixo risco associado mediante os valores tanto do Coeficiente de
Variação dos dados, quanto a própria avaliação da distribuição desses parâmetros na curva
normal, apresentando uma probabilidade de sucesso com 94%.
Os resultados encontrados pelo VPL e TIR, são úteis para a análise por parte do engenheiro de
produção, principalmente para o estudo do comportamento desses nos diferentes cenários e
avaliação da sensibilidade do projeto.
Contudo, a prospecção de cenários e a utilização do Método de Monte Carlo para uma maior
aleatoriedade das receitas esperadas nos próximos cinco anos, foi de grande relevância na
medida em que permitem avaliar os riscos e retratam um cenário mais real, o de incertezas,
nos investimentos. A demanda, por exemplo, é um fator que tende a aumentar ao longo do
tempo pelo fato do consultório ser recente no mercado e ainda não ter uma clientela
consolidada.
As análises de sensibilidade demonstraram que, a partir de uma Taxa Mínima de Atratividade
de cerca de 4% a.m., o investimento se tornaria inviável do ponto de vista do valor presente
líquido, entretanto, esse resultado não inviabiliza o investimento no consultório por se tratar
de uma taxa muito distante da que é esperada atualmente pela investidora (profissional).
O modelo de análise utilizado é um dos mais adotados. Assim como todos os modelos
matemáticos é passível de críticas, por adotar parâmetros baseados em ocorrências passadas
projetando-os para avaliações futuras. Entretanto, esses métodos de avaliação já apontam para
a viabilidade do investimento, os métodos de payback (simples ou descontado) se mostram de
melhor visualização, por parte da empresária, a respeito do retorno do seu investimento.
Nas análises não foram consideradas as trocas e substituições de equipamentos ao longo dos
anos, ou mesmo a mudança para uma clínica própria, esses aspectos podem ser estudados ou
considerados em pesquisas futuras para reavaliar as conseqüências do investimento.
Referências
ANDRADE, E. L. Introdução à Pesquisa Operacional: Métodos e Modelos para Análise de Decisão, 2ª ed.,
LTC, Rio de Janeiro, 2000.
ARRUDA, D. R. Análise de Risco e Efeitos da Incerteza na Carteira de Investimentos. Brasília, 2003.
Disponível em: <http://www.matematica.ucb.br/sites/000/68/00000005.pdf> . Acesso em 2 Nov. 2010.
ASSAF NETO, A. Matemática Financeira e suas Aplicações. 9. ed. São. Paulo: Editora Atlas, 2006, 448 p.
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2009.
BRUNI, A. L.; FONSECA, Y. D. Técnicas De Avaliação De Investimentos: Uma Breve Revisão Da Literatura.
Cadernos de Análise Regional. , v.1, p.40 - 54, 2003.
BRUNI, A. L.; FAMÁ, R.; SIQUEIRA, J. O. Análise de risco na avaliação de projetos de investimento: uma
aplicação do Método de Monte Carlo. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, vol. 01, n. 06, 1998.
Disponível em <http://www.infinitaweb.com.br/albruni/academicos/bruni9802.pdf>. Acesso em 1 Nov.. 2010.
DAMODARAN, A. Avaliação de investimentos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.
FERREIRA, D. F. Estatística multivariada. Lavras: Editora UFLA, 2008.
FREITAS, C. H. S. de M. Dilemas no exercício profissional da Odontologia: a autonomia em questão.
Interface, Botucatu, v. 11, n. 21, Apr. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1414-32832007000100004&lng=en&nrm=iso>. acesso em 24 Jan. 2011.
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
13
GARRAFIEL, S. Oportunidades de Negócios. Santa Catarina: SEBRAE-SC, 2008. Disponível em:
<http://www.sebrae-sc.com.br/novos_destaques/oportunidade/default.asp?materia=15362>. acesso em 04 Nov.
2010.
HILLIER, F. S.; LIEBERMAN, G. J. Introdução à pesquisa operacional. 8. ed. São Paulo: McGraw Hill,
2006.
HIRSCHFELD, H. Engenharia Econômica e análise de custos: aplicações práticas para economistas,
engenheiros, analistas de investimentos e administradores. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
OLIVEIRA, M. H. da F.; ALMEIDA, M. R. de; REBELATTO, D. A do N. Avaliação de investimentos sob
condições de incerteza: A aplicação do Método de Monte Carlo em um estudo de caso no setor sucroalcoleio. In:
Encontro Nacional de Engenharia de Produção, XXIX, 2009, Salvador. Anais... Salvador: ABEPRO, 2009. CD-
ROM.
RÊGO, I. D. do. Análise De Investimento Em Uma Empresa de Pequeno Porte Fabricante De Placas De
Veículos. 2010. 88 fls. Texto de Defesa (Obtenção do Título de Engenheiro de Produção) – Universidade Federal
Escola de Engenharia de, Natal\RN.
RIBEIRO, A.C.; QUEIROZ, S.A.; MCALLISTER, A. J. Análise de sensibilidade da receita líquida vitalícia
de bovinos da raça holandesa aos itens de receita e custo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38., 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: SBZ, 2001b. P.1508-1509.
SALLES, A. C. N. Metodologias de análise de risco para avaliação financeira de projetos de geração eólica.
Rio de Janeiro, 2004. (Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro). Disponível em
<http://www.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/acnsalles.pdf>. Acesso em 01 Jul. 2010.
TAHA, P. Estudo de viabilidade técnico-econômica da produção de surimi. Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis:1996.