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FLÁVIA FERREIRA BARBOSA DA SILVA ANÁLISE DA PRÁTICA DOCENTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA SOBRE O FUTEBOL JOGO/BRINCADEIRA E FUTEBOL JOGO/ESPORTE NO 2º CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ZONA URBANA DE BREVES – MARAJÓ – PARÁ – BRASIL Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Eduarda M. Pires Coorientador: Prof. Dr. Ricardo Figueiredo Pinto ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO ALMEIDA GARRET Lisboa 2015

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  • FLVIA FERREIRA BARBOSA DA SILVA

    ANLISE DA PRTICA DOCENTE NAS AULAS DE EDUCAO FSICA SOBRE O FUTEBOL

    JOGO/BRINCADEIRA E FUTEBOL JOGO/ESPORTE NO 2 CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ZONA URBANA DE BREVES MARAJ PAR BRASIL

    Orientadora: Prof. Dra. Maria Eduarda M. Pires

    Coorientador: Prof. Dr. Ricardo Figueiredo Pinto

    ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAO ALMEIDA GARRET

    Lisboa

    2015

  • FLVIA FERREIRA BARBOSA DA SILVA

    ANLISE DA PRTICA DOCENTE NAS AULAS DE EDUCAO FSICA SOBRE O FUTEBOL

    JOGO/BRINCADEIRA E FUTEBOL JOGO/ESPORTE NO 2 CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ZONA URBANA DE BREVES MARAJ PAR BRASIL

    ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAO ALMEIDA GARRET

    Lisboa

    2015

    Dissertao apresentada Escola Superior de Educao Almeida Garret, como requisito para obteno do Grau de Mestre em Superviso e Formao de Professores. Orientadora: Profa. Dra. Maria Eduarda M. Pires Coorientador: Prof. Dr. Ricardo Figueiredo Pinto

  • Flvia Ferreira Barbosa da Silva

    ANLISE DA PRTICA DOCENTE NAS AULAS DE EDUCAO FSICA SOBRE O FUTEBOL JOGO/ BRINCADEIRA E FUTEBOL JOGO/ESPORTE

    NO 2 CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ZONA URBANA DE BREVES MARAJ PAR BRASIL.

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    DEDICATRIA

    Dedico Deus, pela fora e f que foram desenvolvidas nessa caminhada. Ao meu marido Mauro Silva, que amigo, meu professor e guerreiro junto a mim nessa batalha. minha filha Manuela Luz por toda sua energia positiva e sabedoria de criana.

  • Flvia Ferreira Barbosa da Silva

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    AGRADECIMENTOS

    DEUS, pela fora e f que nos proporcionou nessa caminhada, por me ouvir

    atentamente em minhas oraes. Por se mostrar constantemente presente em cada passo.

    Ao meu marido Mauro Silva, amigo, meu professor, meu guerreiro, parceiro de lutas

    e conquistas, de onde surgiu a iniciativa de encarar o Mestrado. minha filha Manuela

    Luz por toda sua energia positiva e sabedoria de criana.

    minha me Iara Ferreira e irmo Flvio Ferreira, por suas foras espirituais

    constante. toda famlia Ferreira que sempre me acolheu, avs e tios, em especial tia

    Dra. Rosana Ferreira, por toda pacincia e compreenso com meus erros e acertos, ao meu

    tio Dr. Paulo Ferreira e esposa, por acreditarem em mim e me apoiarem nos momentos de

    transies nesta fase do mestrado.

    famlia de meu esposo, em especial Sr. Arcelino e Dona Clara, Dona Eremita (in

    memria). Estendendo s minhas cunhadas irms, Doutoranda Ana Cludia Silva, Dra.

    Adriana Castelo Branco, Mrs. dria Arajo.

    Ao meu Prof. Orientador Dr. Ricardo Figueiredo Pinto por sua pacincia,

    compreenso e por acreditar na realizao desse sonho.

    Ao Prof. Dr. Alcides Scaglia que, por e-mail, me encheu de motivao e esperana

    de contribuir para a qualidade das aulas de Educao Fsica.

    Ao ex-secretrio de Educao Benedito Viana pela credibilidade e incentivo. todas

    as minhas alunas de Treino Personalizado, obrigada pela confiana, credibilidade e fora

    moral.

    todos meus colegas de trabalho, professores de Educao Fsica de Breves, que

    doaram alguns minutos de seu tempo para responder cordialmente ao questionrio, com

    fundamental participao na pesquisa e construo desse documento, meu respeito e muito

    obrigada todos por contriburem.

    A todos os professores de minha vida escolar, Prof. Matheus (in memria), e de

    modo especial os professores do Curso de Mestrado por contriburem para o meu

    crescimento pessoal e cientfico. A todos que diretamente ou indiretamente contriburam

    para esse sonho se tornar realidade.

  • Flvia Ferreira Barbosa da Silva

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    EPIGRAFE

    Ser professor implica saber quem

    sou, as razes pelas quais fao o que

    fao e conciencializar-me do lugar que

    ocupo na sociedade. Numa perspectiva

    de promoo do estatuto da profisso

    docente, os professores tm de ser

    agentes activos do seu prprio

    desenvolvimento e funcionamento das

    escolas como organizao ao servio

    do grande projecto social que a

    formao do educando.

    Izabel Alarco

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    RESUMO

    O professor de Educao Fsica escolar no Brasil no pode ignorar a marcante cultura do

    brincar de jogar futebol que, consequentemente, levada para dentro das aulas de

    Educao Fsica, quando isso ocorre, torna-se um desafio para ele conciliar a paixo dos

    alunos e o processo ensino-aprendizado necessrio, por isso, esta pesquisa teve como

    objetivo geral analisar como desenvolvida a prtica docente nas aulas de Educao Fsica

    em que o professor utiliza o futebol jogo/brincadeira e futebol jogo/esporte no 2 ciclo do

    ensino fundamental nas escolas municipais da zona urbana de Breves Maraj Par.

    Questionando sobre como o professor desenvolve as atividades de futebol jogo/brincadeira

    e futebol jogo/esporte, afinal, essas atividades esto sendo sistematizadas ou o professor

    est permitindo somente o jogar pelo jogar bola?Especificamente, os objetivos foram

    verificar qual a abordagem mais utilizada pelos professores de Educao Fsica, se futebol

    jogo/brincadeira ou futebol jogo/esporte, identificando quais os motivos que levam os

    professores a escolher tais atividades, e analisar como o professor ministra didaticamente

    essas atividades aos alunos. Os referenciais utilizados para a pesquisa foram Joo Batista

    Freire, Scaglia, Darido e Rangel, Tubino, Alarco e Nvoa, que serviram de base para as

    sustentaes tericas. O estudo descritivo, quali-quantitativo. Na pesquisa de campo

    foram entrevistados 10 professores de Educao Fsica escolar do quadro efetivo da

    Secretaria Municipal de Educao de Breves/PA. Foi aplicado questionrio fechado,

    juntamente com a tcnica de entrevista semi-estruturada, registrada em udio e transcrita

    nesta pesquisa. Os resultados mostraram que os professores utilizam, no 2 ciclo,

    predominantemente o futebol jogo/brincadeira, ora sistematizando-a pedagogicamente, ora

    deixando que o prprio aluno a conduza, tornando a atividade semelhante ao lazer em

    virtude de inmeras dificuldades discutidas ao longo da pesquisa. Ao final, concluiu-se que a

    prtica docente no trato com o futebol necessita estar voltada s constantes ressignificaes

    e que para isso, h de se ter frequentes momentos de reflexo desta prtica, especialmente

    para o ensino fundamental. Portanto, a importncia desta pesquisa mostra-se na

    possibilidade de levantar novos questionamentos, reflexes e intervenes positivas na

    tentativa de contribuir para elevar o nvel de qualidade do processo ensino-aprendizagem

    em Educao Fsica na cidade de Breves Maraj Par Brasil

    Palavras-chave: Educao Fsica escolar, prtica docente, ressignificao, futebol

    jogo/brincadeira, futebol jogo/esporte.

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    ABSTRACT

    The teacher of Physical Education in Brazil cant ignore the remarkable culture of play to play

    football, therefore, it is brought into the physical education classes, when this occurs, it

    becomes a challenge for him to reconcile the passion of students and the teaching-learning

    process necessary, therefore, this study aimed to analyze how teaching practice is

    developed in physical education classes where the teacher uses football game/playfull and

    football game/sport on the 2nd elementary school cycle in municipal schools in the urban

    area of Breves - Maraj - Par. Questioning about how the teacher develops activities the

    football game/playfull and game/sport, after all, these activities are being systematized or

    teacher is allowing only the play by play ball? Specifically, the objectives were to verify what

    approach most commonly used by physical education teachers, if football game/playfull or

    football game/sport, identifying the reasons why teachers choose such activities, and analyze

    how the teacher teaches didactically these activities to students. The references used for the

    research were John the Baptist Freire, Scaglia, Darido and Rangel, Tubino, Alarco e

    Nvoa, which formed the basis for the theoretical supports. The study is descriptive,

    qualitative and quantitative. In the field research were interviewed 10 teachers of Physical

    Education of the effective framework of the Municipal Department of Education Breves/ PA.

    Closed questionnaire was applied along with a semi-structured interview technique, recorded

    audio and transcribed this search. The results showed that teachers use in the 2nd cycle,

    predominantly the football game/playfull, sometimes systematizing it pedagogically,

    sometimes letting the students themselves to drive, making the leisure similar activity

    because of numerous difficulties discussed during the research . In the end, it was concluded

    that teaching practices in dealing with football needs to be geared to constant reinterpretation

    and for this, one has to have frequent moments of reflection of this practice, especially for

    primary education. Therefore, the importance of this research is shown in the possibility of

    raising new questions, ideas and positive interventions in an attempt to help to raise the

    quality level of the teaching-learning process in physical education in the city of Breves -

    Maraj - Par - Brazil

    Keywords: Physical Education, teaching practice, reframing, football game/playfull, football

    game/ sport.

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    ABREVIATURAS E SIGLAS

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    LDB Lei de Diretrizes e Bases.

    PCNs Parmetros Curriculares Nacionais

    SEMED Secretaria Municipal de Educao - Breves

    TV Televisor

    ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal

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    NDICE

    INTRODUO ..................................................................................................................... 14

    PROBLEMA ......................................................................................................................... 17

    1.2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 19

    1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 19

    1.2.2 Objetivos Especficos ..................................................................................... 19

    CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA .................................................................... 20

    1.1 EDUCAO FSICA E CULTURA CORPORAL ........................................................ 21

    2. FUTEBOL NO BRASIL PRIMEIROS VESTGIOS ..................................................... 25

    2.1 A brincadeira que evoluiu para jogo, o jogo que evoluiu para esporte. ....................... 29

    2.2 O futebol na escola como imagem esportiva. Dimenses do esporte......................... 43

    2.2.1 Esporte educacional X esporte escolar. .............................................................. 48

    2.2.2. Influncias da mdia na paixo nacional. Um olhar crtico. ................................ 50

    3. EDUCAO FSICA PRTICA DOCENTE FUTEBOL ........................................... 58

    3.1 Contextualizando a trade. ................................................................................... 58

    3.2 Questes de identidade docente na Educao Fsica do sculo XXI no Brasil. ......... 61

    3.3 Questes reflexivas ao Professor de Educao Fsica no Brasil. ............................... 67

    3.4. Planejamento da prtica docente nas aulas de Educao Fsica do 2 ciclo do ensino

    fundamental ..................................................................................................................... 73

    3.4.1 Algumas questes sobre a planejar atividades de jogo/ brincadeira/ esporte. ..... 79

    CAPTULO II - PERCURSO METODOLGICO .................................................................. 82

    1. MTODO DE PESQUISA ................................................................................................ 83

    1.2. AMOSTRA DA POPULAO ................................................................................... 83

    1.3. COLETA DE DADOS ................................................................................................ 83

    1.4 BREVE DESCRIES SOBRE O LCUS DA PESQUISA ....................................... 84

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    CAPTULO III - APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ............................ 90

    1. DADOS GERAIS REGISTRADOS SOBRE OS 10 PROFESSORES ENTREVISTADOS 91

    1.2. QUESTIONRIOS .................................................................................................... 92

    1.3 ENTREVISTAS ...................................................................................................... 94

    CONCLUSO .................................................................................................................... 112

    POSSIBILIDADES DE INTERVENO PARA POTENCIALIZAR O TRABALHO DOCENTE

    NAS AULAS DE EDUCAO FSICA EM QUE SE UTILIZE O FUTEBOL PARA O 2 CICLO

    DO ENSINO FUNDAMENTAL..............................................................................................109

    REFERENCIAL BIBLIOGRFICO ..................................................................................... 117

    ANEXOS

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    NDICE DE GRFICOS E ENTREVISTAS

    GRFICO 1 Percentual da Resposta da Questo 01.......................................................................... 92

    GRFICO 2 Percentual da Resposta da Questo 01.......................................................................... 92

    GRFICO 3 Percentual da Resposta da Questo 01.......................................................................... 93

    GRFICO 4 Percentual da Resposta da Questo 01.......................................................................... 93

    GRFICO 5 Percentual da Resposta da Questo 01.......................................................................... 93

    GRFICO 6 Percentual da Resposta da Questo 01.......................................................................... 94

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    NDICE DE IMAGEM, TABELAS E FOTOS FIGURA 1 Organograma Influncia da Mdia na Paixo Nacional...................................................50

    TABELA 1 Diviso de Sries e Ciclos Baseados no PCNs Ed. Fsica............................................. 78

    TABELA 2 Diviso de Sries e Ciclos Baseados no PCNs Ed. Fsica.............................................91

    FOTO 1 Arquiplago do Maraj ....................................................................................................... 86

    FOTO 2 Cidade de Breves, Vista area ............................................................................................. 86

    FOTO 3 Esttua da Padroeira de Breves ........................................................................................... 87

    FOTO 4 Sementes de Aai e AaiGrosso ......................................................................................... 87

    FOTO 5 Prof. Flvia e Alunos do 2 Ciclo do E. Fundamental ......................................................... 88

    FOTO 6 Alunos na Quadra Brincando de Jogar Futebol ................................................................... 88

    FOTO 7 Alunos Brincando de Jogar Futebol .................................................................................... 89

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    INTRODUO

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    A pesquisa surgiu a partir de inquietaes acerca da prtica docente nas aulas de

    Educao Fsica escolar na cidade de Breves. Essas inquietaes eram crticas ao

    professor de Educao Fsica por ele utilizar, constantemente, brincadeiras e jogos de

    futebol em suas aulas. Por um lado, havia um cenrio em que os alunos pediam o futebol e

    o jogavam com autonomia, brincando sozinhos, ou jogando imitando o esporte futebol dos

    adultos, por outro, o professor, o qual no se sabia exatamente o papel dele no contexto

    desta atividade.

    A partir dessa observao, surgiu o questionamento sobre de que forma o professor

    utiliza o futebol jogo/brincadeira e o futebol jogo/esporte para os alunos de 2 ciclo do ensino

    fundamental nas aulas de Educao Fsica. Algumas questes sero investigadas, tais

    como, os motivos que o levam a ter essa prtica em suas aulas, e qual a prtica mais

    constante, futebol jogo/ brincadeira ou futebol jogo/esporte. Portanto, objetiva-se com estes

    questionamentos analisar como desenvolvida a prtica docente na utilizao do futebol

    jogo/ brincadeira e futebol jogo/esporte no 2 ciclo do ensino fundamental nas aulas de

    Educao Fsica na zona urbana da cidade de Breves/Pa.

    Ao longo da dissertao, mais precisamente no captulo I, no que diz respeito

    pesquisa bibliogrfica, verificado aspectos sobre o surgimento do futebol, desde quando

    ele se apresentava rstico, passando de brincadeira jogo, e posteriormente, esporte.

    Verifica-se aspectos conceituais sobre futebol jogo/brincadeira e futebol jogo/esporte

    buscando situar o leitor primeiramente nos termos que sero mencionados ao longo da

    pesquisa. O futebol discutido como imagem esportiva, fazendo diferenciaes do futebol

    educacional e futebol escolar. Um ponto muito importante desta pesquisa,refere-se

    influncia da mdia do futebol nas aulas e toda a fora do assdio dos alunos para que o

    professor libere a prtica do futebol durante as aulas de Educao Fsica. Ainda no captulo

    I, discutido como o professor pode apresentar o futebol na escola para os alunos de 9 a 10

    anos sem lev-los uma prtica arbitrria de exigir tcnicas, performances atlticas, ou o

    jogar pelo jogar. Questes reflexivas sobre o trabalho docente onde envolvem planejamento

    pedaggico, identidade docente e futebol, so discutidas.

    O captulo II trata do percurso metodolgico, caracterizado por ser pesquisa

    descritiva, quali-quantitativa, utilizando questionrio fechado com 06 (seis) perguntas

    objetivas, com duas opes de resposta, e mais 04 (quatro) questionamentos em forma de

    entrevista semi-estruturada, coletadas em forma de udio. A entrevista semi-estruturada tem

    como caracterstica um roteiro com perguntas abertas. A amostra, no perodo da pesquisa

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    (Novembro de 2014 a Maro de 2015), totalizou 10 (dez) professores de Educao Fsica do

    2 ciclo, o qual refere-se 4 e 5 ano do ensino fundamental.Os professores mostraram-se

    dispostos a responder aos questionamentos, no apresentaram dificuldades no

    entendimento da linguagem das perguntas e a pesquisa aconteceu de forma tranquila e

    satisfatria. No mesmo captulo, segue a descrio do lcus da pesquisa com descrio

    sobre particularidades da cidade de Breves.

    No captulo III, apresenta-se os resultados e discusses sobre os mesmos, a

    transcrio das entrevistas cruzando com as anlises das respostas, realizando a reflexo

    sobre o que foi dito no referencial bibliogrfico e o que foi apresentado na realidade, ou seja,

    como devem ser e como realmente so postas no cotidiano das aulas de Educao Fsica

    do 2 ciclo do ensino fundamental na zona urbana de Breves.

    Entende-se, ao final da pesquisa, que o futebol pode e deve ser abordado para o 2

    ciclo do ensino fundamental, porm, deve existir preocupao com o nvel de aprendizado e

    desenvolvimento do aluno. A forma de ensinar precisa ser adequada, adaptada e

    ressignificada para esse ciclo de escolaridade, uma fase da criana em que ela deve

    aprender brincando ou atravs de atividades ldicas, o futebol no pode ser abordado como

    um fim em si, h de se contextualiz-lo.

    A importante relevncia desta pesquisa para a comunidade Brevense se mostra na

    gerao de reflexes acerca da prtica docente na Educao Fsica escolar. Os

    governantes, a comunidade em geral, os pais, os alunos, os professores de Educao

    Fsica, os acadmicos dos cursos de Educao Fsica, educadores e pesquisadores na rea

    da Educao, so levados a reconhecer que existem adversidades, conhecer algumas delas

    e que estas esto afetando direta e indiretamente a prxis dos professores,

    consequentemente a educao e formao de cidados. A pesquisa pode ter um alcance

    considervel em analisar tais fatores e direcionar a discusso acerca de todas as

    problemticas e possveis solues para que o professor de Educao Fsica escolar

    assuma um papel contributivo e ativo na formao dos alunos no s do 2 ciclo do ensino

    fundamental, mas, na Educao Bsica como um todo.

    .

  • Flvia Ferreira Barbosa da Silva

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    PROBLEMA

    Como est se desenvolvendo a prtica docente nas aulas de Educao Fsica

    escolar ao utilizar o futebol jogo/ brincadeira e o futebol jogo/esporte para as crianas do 2

    ciclo do ensino fundamental nas escolas municipais de Breves no Maraj Par?

    Questiona-se nesta pesquisa, todo o procedimento docente no trato com o futebol

    na forma de jogo, brincadeira e esporte, quais as metodologias aplicadas pelo professor de

    Educao Fsica escolar, e a suposta ausncia de ao sistematizada na execuo das

    atividades, pois, o professor no pode entrar na escola despido de uma pedagogia, mesmo

    que ele no saiba qual (Freire 2006. p. 3).

    Como consequncia desta suposta falta de sistematizao e de metodologia, a

    comunidade escolar Brevense critica os professores de Educao Fsica por suas atividades

    voltadas ao futebol, so questionamentos feitos por coordenadores pedaggicos,

    professores das escolas e at mesmo pais e responsveis pelos alunos, muitas vezes em

    reunies pedaggicas, colocando a competncia profissional do professor em evidncia

    para discusses, sendo este mais uma das motivaes da pesquisa desta temtica, por ser

    um problema presente na vida profissionais de Educao Fsica escolar de Breves.

    As reclamaes so, basicamente, devido ao brincar de jogar futebol das crianas

    ministrado pelo professor de Educao Fsica. A imagem que se percebe durante uma aula

    a do professor cercado de alunos, que por sua vez, seguem gritando e correndo atrs de

    chutar uma bola. O professor algumas vezes mediando o jogo, outras no e outras jogando

    junto com os alunos, apresentando uma certa impresso de desorganizao e falta de

    objetivo. De qualquer forma, o futebol que o professor ministra aos seus alunos agrada uns

    e desagrada outros dentro do ambiente escolar, fazendo alguns observadores exclamarem:

    Como ele pode ensinar assim?, Ele sabe o que est ensinando?,Qualquer um pode

    fazer o que ele faz. Talvez pela maneira to descontrada, recreativa e ldica de ensinar

    que o professor de Educao Fsica do ensino fundamental possui, confunda at mesmo os

    educadores mais experientes.

    O brincar de jogar futebol, no olhar emprico daqueles professores do ensino

    regular, sem analisar a prtica docente que cerca esse futebol, seja na forma de brincadeira

    ou na forma de rendimento, no mostra o potencial educacional que tem quando

    devidamente intermediado pelo professor, inclusive o futebol jogado na escola no deve ser

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    o futebol jogado na rua. O futebol da escola direcionado para educar, e com esta

    afirmativa pode-se questionar, ser que os ensinamentos pedaggicos do jogo de Bola

    esto sendo aproveitados de maneira positiva?

    Portanto, a pesquisa mostra uma oportunidade de buscar respostas, fazer

    reflexes, e pontuar algumas direes, no com a inteno de apontar viles e mocinhos da

    Educao, j que a Educao algo maior e mais complexo,e sim, discutir todo o conjunto

    de fatores que cercam a prtica docente no contexto do futebol jogado na escola, com o

    intuito maior de enriquecer o processo ensino-aprendizagem na rea de Educao Fsica

    escolar de Breves/Pa.

    Questes a serem investigadas

    a) De que forma o docente desenvolve a prtica do futebol jogo/ brincadeira e

    futebol jogo/esporte nas aulas de Educao Fsica?

    b) Quais os motivos que levam o docente a utilizar o futebol jogo/ brincadeira e/ ou

    futebol jogo/esporte nas aulas de Educao Fsica escolar?

    c) Qual a abordagem o professor mais utiliza em suas aulas: futebol

    jogo/brincadeira ou futebol jogo/esporte?

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    1.2. OBJETIVOS

    1.2.1 Objetivo Geral

    Analisar como desenvolvida a prtica docente nas aulas de Educao Fsica onde

    o professor utiliza o futebol jogo/ brincadeira e o futebol jogo/ esporte para o 2 ciclo do

    ensino fundamental na zona urbana do municpio de Breves Maraj- Par.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    Identificar os motivos que levam o docente de Educao Fsica escolar a utilizar o

    futebol jogo/brincadeira e o futebol jogo/ esporte para os alunos do 2 ciclo de ensino

    fundamental;

    Verificar qual a abordagem do futebol o professor mais utiliza: futebol jogo/

    brincadeira ou futebol jogo/ esporte para o 2 ciclo do ensino fundamental;

    Verificar como devem ser feitas as abordagens pedaggicas para o futebol

    jogo/brincadeira e futebol jogo/esporte pelo professor de Educao Fsica escolar.

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    CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA

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    1.1 EDUCAO FSICA E CULTURA CORPORAL

    O professor do sculo XXI na Educao Fsica escolar do Brasil, est em busca de

    valorao e de reconhecer-se em sua profisso, remodelando sua identidade docente,

    ajustando-se realidade de sociedade atual, a qual se mostra competitiva, desleal, exigente

    e individualista, talvez o oposto de tudo o que a prtica esportiva oferece, como a lealdade,

    competitividade com resilincia para suportar e aceitar a derrota, o senso de coletividade,

    etc. Assim como buscar por novas prticas pedaggicas lanando um olhar para alm de

    uma Educao Fsica escolar restrita ao treinamento de aptides fsicas, prticas

    mecanicistas esportivas, reducionistas, tecnicistas ou pensamentos predominantemente

    biomdicos.

    A Educao Fsica no Brasil, sendo direito fundamental ao ser humano e, garantida

    pela Lei 9.394/96 da Lei de Diretrizes e Bases - LDB, tem se mostrado cada vez mais

    fundamentada, slida e independente. Apresenta tendncias atuais apontando para um

    carter de humanizao, considerando o aluno como ser humano numa totalidade

    multidimensionada, ou seja, em seus aspectos sociais, afetivos, cognitivos, culturais e

    motores (Gallardo, 2009).

    Como podemos perceber a Educao Fsica bem maior do que se apresenta aos

    leigos, ela pode transcender a simples prtica esportiva e se tornar uma parcela importante

    do desenvolvimento integral do aluno.E desta maneira instalar no mbito escolar, a

    Educao Fsica com o propsito de transcender as prticas corporais, ligadas a um estilo

    de vida ativo e saudvel, ocupao do tempo livre de lazer, habilidades motoras, e sim,

    desenvolvimento de valores que levam os alunos ao entendimento de posturas

    responsveis na sociedade e busca da cidadania, sem excluir a totalidade das pessoas e,

    principalmente interagindo com influncias culturais e naturais.

    A Legislao Brasileira pontua e referencia sobre influncias culturais pois nos

    Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs de Educao Fsica, os contedos da disciplina

    devem ser abordados, segundo este documento, como expresso de produes culturais. A

    ideia de cultura segundo o PCN (Brasil, 1997a), apresenta-se como:

    Um conjunto de cdigos simblicos reconhecveis pelo grupo: neles o indivduo formado desde o momento de sua concepo; nesses mesmos cdigos, durante a sua infncia, aprende os conhecimentos e valores do grupo; ele mais tarde introduzido nas obrigaes da vida adulta,

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    da maneira como cada grupo social as concebe. (PCN, 1997, p27).

    A cultura faz parte da constituio do ser humano, e estes smbolos devem ser

    introduzidos de alguma maneira no repertrio comportamental do aluno atravs de algumas

    atividades que possam contribuir para o desenvolvimento cultural e emocional deste

    indivduo, e nada como expresses culturais para que este ser se identifique como

    pertencente de um determinado grupo, atuando em contrapartida s mdias que moldam os

    mesmos a ter um comportamento tpico do sistema socioeconmico atual, o egosmo.

    Assim, relacionando cultura, futebol e Educao Fsica, entende-se esses trs

    fenmenos como cultura corporal, que produzem e reproduzem cultura, pois, cultura :

    produto da sociedade, da coletividade qual os indivduos pertencem, antecedendo-os e

    transcendendo-os (Melhem 2009, p.103).

    Os contedo da Educao Fsica so produtos da cultura corporal no somente de

    nossa sociedade brasileira,mas na humana como um todo, e tem em comum a

    representao corporal e ldica. Cabe ao profissional direcionar sua prtica aos alunos,

    ressignificando cada uma das manifestaes (jogo, dana, lutas, ginstica e esportes),

    localizar os benefcios fisiolgicos, psicolgicos, suas possibilidades de utilizao como

    instrumentos de cultura, comunicao, expresso, dentro das atividades, formulando ento,

    propostas para a Educao Fsica escolar (Coletivo de autores, 2012)

    tarefa da Educao Fsica escolar garantir o acesso dos alunos s prticas da cultura corporal, contribuir para a construo de um estilo pessoal de exerc-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreci-las criticamente. (Melhem,2009,p. 104).

    O professor de Educao Fsica escolar, portanto, deve atentar sua prtica para

    no se restringir a meras repeties de movimentos e atividades para gastar o tempo, e sim

    acrescentar algo a mais na capacidade dos alunos de refletir sobre sua atuao no mundo,

    tanto na cultura corporal, quanto reflexes de sua existncia perante a sociedade. Podemos

    citar, no por acaso, atividades em que os professores possam transversalizar objetivos que

    transcendem o ensinar, como exemplo, nos jogos, no momento em que os alunos interagem

    uns com os outros como adversrios eles podem ser induzidos ao respeito mtuo,

    participando de forma leal e no agressiva; aceitando os resultados adversos do jogo; o

    aprender a ganhar de maneira digna e humilde sem provocar ou humilhar o adversrio; por

    ser adversrio e no inimigo; saber reconhecer seus erros a fim de os corrigir e tentar

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    novamente; ampliando o senso de justia; o de trabalho em equipe; a solidariedade;

    dignidade e etc.

    Na Educao Fsica escolar, o futebol tem suas vrias formas de abordagem, pode-

    se reconhec-lo como esporte, jogo, e at mesmo brincadeira (Scaglia 2003), dependendo

    do contexto em que se vai trabalhar. Ele forma um ambiente propcio para o aprendizado,

    principalmente se for associado e sistematizado a contextos da Educao Fsica escolar, e

    por que percebemos uma falha na utilizao deste instrumento de aprendizagem.

    Frente a este questionamento, faz-se necessrio, portanto, identificar qual futebol

    est se tratando nesta pesquisa, se futebol em abordagens esportivas, recreativas,

    abordagens de jogo, ou at mesmo em moldes de brincadeira. Entretanto, necessrio

    realizar o embasamento terico sobre pressupostos conceituais e procedimentais de todas

    essas abordagens, para entender a prtica docente de forma ampla e criar uma linha de

    percepo sobre qual mais utilizado, como est sendo utilizado e por que no surte o

    efeito pedaggico e de aprendizagem esperado.

    Analisando a obra Coletivo de autores (2012), ele mostra que o estudo do futebol

    na escola pode ser feito mediante uma anlise que abarque diferentes aspectos, tais como:

    O futebol enquanto jogo com suas normas, regras e exigncias fsicas, tcnicas e tticas; o futebol enquanto espetculo esportivo; o futebol enquanto processo de trabalho que se diversifica e gera mercados especficos de atuao profissional; o futebol enquanto jogo popularmente praticado; o futebol enquanto fenmeno cultural que inebria milhes e milhes de pessoas em todo o mundo e, em especial, no Brasil. (Coletivo de Autores,2012, p 72).

    Como pode-se perceber, a partir deste recorte terico o futebol apresenta-se de

    vrias formas, trazendo vrias caractersticas da dinmica social humana, como a exigncia

    fsica, ttica e tcnicas, sendo estes preceitos do alicerce da formao do indivduo e da

    preparao do mesmo para o mundo adulto, ento porque no vem surtindo efeito em nosso

    municpio? Por que no vem ajudando na formao de cidados?

    A prtica do futebol na escola uma herana cultural. Ignor-la negligenciar o

    passado. uma prtica apaixonante pelos alunos. A paixo no filtra o que temos de bom

    ou mal, impulsionando o sujeito a tirar do seu ntimo o que tem de melhor. Sai tudo em

    enxurradas. (Freire, 2006, p27). A brincadeira de futebol no Brasil, seja ele em forma de

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    travinha improvisada, bobinho ou bem estruturado dentro de uma quadra na escola, ou seja,

    como jogo/brincadeira ou jogo/esporte, uma atividade ldica e com grande potencial

    educacional, inclusive com sua complexidade, merecedor de estudo e pesquisa. Alm de

    tudo, h muito de se utiliza desse futebol, desde sculos passados em contextos escolares.

    Levando-nos a pensar se h tanto tempo est presente nas atividades escolares alguma

    coisa de bom ele vem acrescentando no aprendizado dos alunos, talvez estes

    conhecimentos no venham sendo sistematizado e repassado aos profissionais para serem

    utilizadas de maneiras pedaggicas.

    Mximo (1999), afirma que, desde 1840, na Inglaterra, o futebol, j era obrigatrio

    nos recreios escolares (marcando presena na escola), sob liberao da Rainha Vitria

    orientada pelo pedagogo Thomas Arnold. O futebol, nascido na Inglaterra, difundido pelo

    mundo e adotado como paixo nacional pelos brasileiros, hoje o esporte mais praticado no

    Brasil, pas tambm conhecido como Ptria de chuteiras ou Pas do futebol, como diz

    Freire (2006). Essa paixo naturalmente invade a escola de hoje, visto que a escola hoje

    continua sendo exmia reprodutora da cultura da sociedade.

    Mesmo quando no se tem a estrutura ideal para prtica dessa atividade, comum

    vermos, dentro da aula de Educao Fsica, a reproduo do cenrio da rua. Com o

    consentimento do professor, num espao mais aberto, num campo ou salo, um grupo de

    alunos(as), providenciam objetos o qual sero as traves, podem ser gravetos, cadeiras,

    chinelos, mesas ou cones; duas crianas, naturalmente com mais esprito de liderana,

    dividem em par ou mpar os dois times, quem sobra marca grade, um deles inicia o jogo

    chutando o objeto mais cobiado: a bola. No, necessariamente, esta bola precisa ser nova

    ou adequada, pode ser pequena ou grande, simples ou requintada, leve ou pesada, pode

    ser at de meia, contanto que seja simplesmente, uma bola.

    A bola um brinquedo barato. Ao alcance de qualquer menino, seja o mais afortunado que a tem de couro, grande e redonda, seja do menos favorecido, que a faz de meia, murcha e pequena, ela, mais do que qualquer brinquedo caro, faz a alegria da criana brasileira. sua falta, chutam-se pedra, chapinha, laranja, lata, caixa de fsforos, qualquer coisa que, mesmo de longe, lembre o p de um jogador de verdade a mandar uma bola de verdade rede adversria. (PORTO & MXIMO, 1968b, p. 399 apud SCAGLIA,2003,p. 36)

    Pode-se perceber nos dois pargrafos acima a riqueza que a prtica do futebol,

    quantos aspectos do ser humano surgem com esta prtica, a criatividade ao improvisar o

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    jogo, a organizao do grupo para que o jogo acontea, a formulao de regras para

    dinamizar o jogo, e principalmente como a diferena de classe se dissolve perante este jogo,

    quanto riqueza, cita-se novamente na utilizao do futebol, e quantas possibilidades de

    utilizar pedagogicamente este instrumento de ensino.

    Porm, desde quando exatamente surgiu a prtica do futebol? Teria nascido com

    toda a complexidade de modalidade esportiva? Ou teria originado de brincadeiras com bola

    nos ps (Scaglia 2003). Veremos a seguir como toda a complexidade do futebol vem se

    desenvolvendo no Brasil at nossa contemporaneidade.

    2. FUTEBOL NOBRASIL PRIMEIROS VESTGIOS

    O que h de importante em lanar um olhar para o contexto histrico do futebol,

    tentar compreend-lo como fenmeno social, como produto da cultura historicamente

    construda por nossa sociedade, motivo de confraternizao, de expresso de paixo, etc.

    necessrio observar a dialgica que h entre fatos passados e os da atualidade.

    Os primeiros escritos sobre o futebol brasileiro relatam pessoas interagindo em

    forma de jogo, ora com bola nos ps, outrora utilizando a cabea, de forma rstica ou j bem

    caracterizada, datam muito antes do aparecimento de nomes como Charles Miller.

    Com respeito aos documentos oficiais, resga-se os enfoques de pesquisas

    recentes, como neste captulo, sendo base, a obra de Larcio Becker, 2012, Do fundo do

    Ba pioneirismos do futebol brasileiroe a do historiador Jos Moraes dos Santos Neto

    (2000) no livro Viso de jogo, fazendo importantes referenciais que induzem o leitor a

    pensar que a atribuio de pai do futebol a Charles Miller a nica verdade, o que na

    realidade uma inveno socialmente construda por historiadores como Eric Hobsbawm e

    Terence Ranger. Sem dvidas Miller teve sua devida importncia para a legitimao.

    Entretanto, o football chegou ao Brasil a partir de iniciativas de religiosos estrangeiros, com

    intuito de atender reforma educacional promovida pelo Estado, ainda em 1882, ento

    devemos passar a considerar este fato.

    O futebol no foi inventado ao acaso e nem j nasceu pronto, no produto final que

    hoje conhecemos, ele surgiu do resultado de inmeras brincadeiras e aes de chutar

    bola. Scaglia 2003 p.23. Em 1816, o naturalista, botnico, viajante e francs Auguste Saint-

    Hilaire avistou brasileiros brincando com bola e registrou em seu livro publicado em Paris

    De So Paulo Santa Catarina em 1851.

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    H confirmao na histria de que os padres Jesutas trouxeram bolas e uniformes

    e ensinaram um futebol rstico aos alunos desde a fundao da Escola Anchieta, em

    12/04/1886.No Brasil, de acordo com Scaglia (2003), os professores Jesutas incorporaram

    o discurso sobre os benefcios da prtica de atividades fsicas, mais precisamente sobre os

    esportes, com destaque ao futebol.

    Segundo Becker (2012), Marechal Cndido Rondon desbravava Rondnia

    enquanto descrevia sua viso onde mais tarde foi relatada por Roquette-Pinto em 1917,

    sobre ndios Parecis jogando uma bola fabricada com borracha da Mangabeira. Os ndios

    chamavam a atividades de Matan-Arit.Os rapazes dividiam-se em dois campos e cada

    qual procurava repassar a bola com cabeceadas, da a razo de Rondon chamar a atividade

    de Headball (ingls: head=cabea; Ball= bola) por oposio de football. No se sabe desde

    quando o Matan-Arit era jogado, mas por ser uma tradio indgena, pode-se prever a

    existncia bem antes da chegada de Cabral.

    Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala, de 1933, afirma a prtica de jogos com

    bola confeccionada de material semelhante a um pau muito leve. Seria, segundo ele, uma

    contribuio dos meninos Amerndios para os jogos infantis Europeus, rebatida com as

    costas ou deitando-se de borco para repass-la, na qual Larcio Becker 2012 afirma ser

    um movimento precursor do fundamento peixinho.

    Tais relatos no podem ser considerados como esporte ou mesmo futebol

    propriamente dito, so ensaios, mas que revelam a construo de uma cultura que s se

    fortaleceu ao longo dos tempos, revelam a intimidade do brasileiro com a bola e muito

    explicam sobre a paixo por jogos com a mesma.

    No Estado do Par, ainda de acordo com Becker (2012 p.7), pesquisadores

    paraenses tomam pra si a introduo do futebol no Brasil atravs deste Estado, pois

    segundo o gegrafo Gilmar Mascarenhas de Jesus, o Par era porta de entrada para a

    Amaznia, poca da borracha, portanto tinha um imediato contato com tudo o que era

    trazido do exterior, supe-se ser verdade que j se praticava futebol na Praa Batista

    Campos, provavelmente essa modalidade j existia bem antes, pois necessitaria de tempo

    para o aprimoramento da prtica, mas segundo o autor, mesmo que as empresas

    internacionais em 1890 tivessem trazido e praticado o futebol no Par, o fato que essa

    novidade no se enraizou.

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    Segundo o escritor Joo Mximo, no livro Memrias do futebol, 1999, o esporte na

    Inglaterra j era obrigatrio nos recreios escolares, sob liberao da Rainha Vitria orientada

    pelo pedagogo Thomas Arnold, desde 1840. Arnold criou o chamado Esporte moderno

    numa perspectiva pedaggica (Tubino p. 11. 2011). O Mass Football, na Inglaterra, era at

    ento, um jogo de rua, violento e fatal, disputado por dois times de 50 pessoas em cada

    lado, utilizando uma bola de bexiga de boi cheia de terra, envolvida em couro, que

    objetivava passar tal bola pela porta da cidade, o goal, defendido pelo time adversrio,

    nem que para isso fossem necessrios socos, pontaps, cotoveladas, gravatas ou golpes

    sujos.

    Mximo (1999) relata as justificativas do pedagogo Arnold para aplicao do Mass

    football dentro das escolas, que mesmo sendo um esporte brbaro e primitivo, os jovens

    ingleses poderiam pratic-lo e seria conveniente para aquele momento.

    Como as escolas oficiais inglesas comeavam a ser frequentadas por meninos de uma classe mdia em ascenso, os nobres de verdade se misturando com os que tinham dinheiro para comprar nobreza, o pedagogo previu que ideias novas, reformistas, revolucionrias mesmo, poderiam contaminar os futuros homens do Imprio britnico. Com o futebol, os meninos no perderiam tempo conversando nos recreios, trocando ideias; os nobres poderiam ser influenciados pelos plebeus, cabeas se fazendo, segundo Arnold, na direo errada. Alm disso, o que haveria de mais eficaz e menos perigoso para canalizar as energias dos jovens, 11 de um lado, 11 de outro, correndo atrs de uma bola, brigando por ela durante a hora do recreio?(Joo Mximo em Memrias do Futebol Brasileiro, 1999, p. 180)

    De qualquer forma, o mundo reconhece o Charles Miller como fundador de um

    futebol estruturado, clubista, de prtica com regras, de cunho socializador, difundindo aos

    poucos entre escolas, universidades, de maneira sistematizada, difundindo o

    associacionismo e o profissionalismo. Aos nove anos, Miller foi estudar em Southampton, na

    Inglaterra, e teve por l seu primeiro contato com o futebol, ao retornar ao Brasil, em

    1894.Trouxe consigo: um livro com regras, duas bolas usadas, uma bomba de encher bolas

    e dois jogos de camisas. Estava consolidada ento, uma nova forma de lazer que se

    transformou em manifestao cultural hegemnica chamada: Futebol brasileiro.

    Um dos primeiros ensaios documentados ou chamados documentos

    oficiais,referente a jogos de futebol no Brasil, tambm diz respeito s prticas de Miller, em

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    14 de Abril de 1895. Mximo (1999) descreve a preparao de uma partida, que no

    precisava de muitos recursos, onde Miller plantou a semente num campo de vrzea no

    Carmo SP, instruindo regras e fundamentos aos seus amigos de boas famlias

    descendentes de europeus. Dividiu-os em dois times, fez escalaes: juiz, bandeirinha,

    jogadores, e foram construir a histria. As partidas posteriores foram em campos mais

    nobres, e os times mais estruturados sempre derivaram de grupos e famlias de renome e

    origens europeias.

    O primeiro time a se formar no Brasil foi o So Paulo Athletic, fundado em Maio de

    1888. Mas, somente em 15 de Abril de 1895, em So Paulo, aconteceu o primeiro grande

    jogo de futebol. A competio era entre funcionrios ingleses de empresas inglesas que

    atuavam em So Paulo. Os times eram: Funcionrios da Companhia de gs X Cia.

    Ferroviria So Paulo Railway. No incio, o futebol era praticado apenas por pessoas da

    elite, sendo vedada a participao de negros em times.

    Em 1919, o Brasil ganha seu primeiro campeonato sul-americano. Foi o incio do

    que atualmente chamamos de a "Paixo Nacional" do esporte brasileiro.

    Em torno de 1895, o Brasil era um pas em construo, tnhamos menos de oito

    dcadas de Independncia, apenas seis de Repblica e no mais que sete de Abolio,

    portanto, o pas ainda estava todo por fazer. A elite estava associada com pessoas de

    origens nobres Europeias, de cor clara, e os plebeus ou povo com a raa negra e

    trabalhadora. Foi dentro da Elite que foram surgindo os grandes times de renome, futebol

    definitivamente era um brinquedo de menino rico, ou pelo menos naquela poca.

    Curiosamente, o Uruguai, pas Latino-Americano, utilizava a filosofia do pedagogo

    Thomas Arnold da Inglaterra, precursor do esporte ideolgico-poltico (antecede a Hitlter),

    mencionado anteriormente. Com a inteno de um futebol alienante e difusor de ideais

    (Tubino 2011). Justamente os ingleses que gerenciavam as empresas de Montevidu

    utilizavam o futebol nas horas vagas dos funcionrios e alegavam que Enquanto os

    operrios, em seus dias e horas de folga, gastassem suas energias correndo atrs da bola,

    no pensariam em reivindicar maiores salrios e melhores condies de trabalho.(Mximo,

    1999).

    No universo do futebol, em seu surgimento, existiram lutas de classes, conflitos em

    busca de superioridade etno-raciais, discriminao de mulheres que ensaiaram adentrar no

    futebol. Pode-se perceber, na histria do surgimento do futebol, que as classes

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    marginalizadas foram se impondo e exigindo um espao na sociedade, deixando sua marca

    cultural, se firmando e buscando liberdade para praticar futebol.

    A histria mostra que a massa popular, embora discriminada, se faz mais forte no

    futebol porque a que mais toma seu tempo na prtica, se apropria do futebol todas as

    vezes que improvisa um jogo, que improvisa traves, bola, e se divide em times, que traduz

    sua histria de vida, de lutas pela sobrevivncia, mostra atravs da manifestao corporal

    de movimento, traduzindo em habilidades e aptides. O futebol mostra seu carter

    socializador, integrador, reflete o que ele vem representando ao longo do tempo na

    sociedade brasileira, ora como passatempo, ora como esporte da elite, como paixo

    popular, profisso, meio de afirmao nacional, instrumento poltico, como arte e finalmente

    como negcio milionrio e global dentro do qual o Brasil se destaca e representa importante

    papel.

    Witter (1996) apud Scaglia (2003),chama esses ensaios de futebol, antes do

    surgimento de Miller, de Jogos de bola, coincidentemente ao que muito se ouve os alunos

    denominarem suas brincadeiras de futebol na escola. Para Witter esses jogos de bola eram

    jogos oriundos do futebol e no seguiam risca as regras oficiais. Ele veio bem conveniente

    condio poltico/econmica/social da sociedade inglesa. E rapidamente comeou-se a

    utilizar o futebol como forma de educar, controlar, disciplinar pela obedincia incondicional

    s regras, as novas aristocratas geraes.

    Mais adiante, portanto, a pesquisa mostra algumas formas que o futebol se

    apresenta, principalmente no que concerne o pedaggico, sempre embasando-o como

    manifestao da cultura corporal brasileira.

    2.1 A brincadeira que evoluiu para jogo, o jogo que evoluiu para esporte.

    importante, neste momento, conceituar termos que sero usados ao longo da

    dissertao, so eles:futebol jogo/brincadeira, futebol jogo/esporte, jogos/ brincadeiras de

    bola com os ps. So prticas de futebol que, segundo Scaglia (2003), incluem toda

    brincadeira ou jogo de bola com os ps, engloba todos numa mesma esfera perfazendo um

    mesmo ecossistema, a qual ele chama de a Famlia de jogo de bola com os ps (p.6).

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    De fato, existe uma coexistncia entre eles, o que Darido e Rangel (2005)chama

    de jogo transformado, Freire (1994) e Galvo (1996)tambm defendem a ideia de uma

    readaptao e ressignificao do jogo.

    O professor tanto pode sugerir a transformao do jogo futebol, como esta

    sugesto pode vir do aluno, ele pode transformar o jogo com o interesse de evitar a

    excluso dos menos habilidosos ou dos alunos que no se identificam com o jogo.

    Observa-se abaixo, o sistema de transio que existe entre os processos que

    envolve o futebol em questo:

    Brincadeira Jogo Esporte.

    A conceituao de brincadeira, segundo Teixeira (2001), uma atividade ldica,

    espontnea, voluntria, sem regras fixas, proporcionam o prazer e diverso, no tem

    finalidade ou sentido fora de si, sem relaes mercantilistas, ou seja, sem recompensas

    extrnsecas como fama ou dinheiro.Em portugus, se utiliza expresso brincar para

    brincadeiras funcionais, sensrio-motoras, brincadeiras simblicas e de faz de conta

    (Oliveira, ISol, Fortuna 2010).

    Como podemos perceber, a brincadeira ou o brincar tem vrias conotaes, mais

    uma das mais importante o aluno experimentar a experincia adulta, o fazer do adulto, o

    fazer de conta que est atuando como um adulto, a funo do ldico na brincadeira.

    Machado (2005) refora em conjunto com o conceito acima citado por Oliveira (2010) a

    importncia do brincar de maneira ldica, e proporcionar a experimentao toda esta gama

    experincias atravs do brincar, o brincar direcionado.

    O brincar tambm raciocinar, descobrir, persistir e persevera; aprender a perder percebendo que haver novas oportunidades para ganhar, esforar-se ter pacincia no desistindo facilmente. Brincar viver criativamente no mundo. Ter prazer em brincar ter prazer em viver. (Machado 2005, p.27 etal Gonalves 2012, p. 16).

    Desta maneira o professor deve ver o brincar de um ponto de vista mais crtico,

    com muitas propriedades e principalmente como um instrumento de desenvolvimento do

    aprendizado, pois as crianas so grandes manipuladoras de brincadeiras. Os indgenas, os

    padres Jesutas e ingleses ajudaram a difundir e construir o futebol, mas as crianas que

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    so as grandes ressignificadoras dessa prtica, elas improvisam, inventam, reinventam,

    num faz de conta infindvel. Scaglia (2003), os chama de jogadores/inventores (p.37),

    Kisshimoto (1993), destaca o futebol reinventado como principal brincadeira dos meninos do

    sculo XX, emergencialmente usado para saciar o desejo de jogar futebol.

    Os meninos do sculo XX, ento, buscam saciar dois desejos numa atividade s, o

    desejo de brincar e de jogar futebol, suprindo uma necessidade, a de ser feliz.

    Joo Batista Freire (1989),defende que a criana no deve ter seu desenvolvimento

    somente em atividades com gestos pr-definidos, mas devem vivenciar tambm brinquedos

    e brincadeiras que so de origem cultural de cada regio, agregando um melhor

    aproveitamento das habilidades motoras, estando em um universo prprio e, a partir deste

    contexto, extrai-se o melhor aproveitamento dessas crianas. Ou seja, pode-se reinventar o

    futebol a partir de jogos tradicionais, o professor deve permitir que as crianas vivenciem o

    futebol da maneira que as convm e da maneira possvel elas, faz com que elas

    desenvolvam criatividade e autonomia, entre outros valores.

    O brincar, recreativo, psicomotor ou livre, manifesta-se em carter ldico e oferece

    inmeras possibilidades educativas. Por meio do brincar e em meios s emoes, ocorrem

    experincias reflexivas. Brincar uma atividade voluntria, imaginativa, e interpretativa.

    Atravs do brincar a criana pode ser capaz de manipular os sentimentos e as emoes. O

    brincar no tem compromisso com verdades, repetir o imaginrio e o que j conhecido,

    para compreend-lo de volta e readaptar-se. Brincar sentir-se o mais e o maior, num

    universo prprio e nico.

    O ldico um componente do brincar e do jogar. Segundo Oliveira, I Sol,

    Fortuna(2010), o termo ldico vem do latim ludus e deriva de jocus (latim). Ldico nos

    remete ao prazer, liberdade, espontaneidade, envolvimento. As atividades ldicas

    concentram dosagens de prazer e tenso, alegria e choro, ordem e desordem, previsvel e

    imprevisvel, num misto de razo e emoo.

    A imitao uma das palavras de ordem do brincar da criana. As brincadeiras se

    constituem num ambiente de simulao, de situao imaginria, de imitao e at regras.

    EmMoll (1996), analisando os estudos de Vygotsky, a criana, sempre que brinca assume

    um papel que pode ser a imitao de um adulto observado. Ela passa a levar consigo regras

    de comportamento que esto implcitas e so culturalmente constitudas. Num momento

    posterior, a criana se afasta da imitao e passa a construir novas combinaes e,

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    tambm, novas regras. Vygotsky define a brincadeira como criadora de uma zona de

    desenvolvimento proximal a ZDP, que seria o caminho que a criana percorre para

    desenvolver funes que esto em processo de amadurecimento e sero consolidadas em

    um nvel de desenvolvimento real. A criana age como se fosse mais velha do que

    realmente, ela se comporta alm do habitual da sua idade, alm do seu comportamento

    dirio, como se ela fosse maior do que na realidade.

    Toda esta gama de conhecimento posto aqui provoca o questionamento cada vez

    mais sobre que tipo de futebol aplicado nas aulas de Educao Fsica, e principalmente se

    for no sentido do brincar de futebol, pergunta-se: mesmo o brincar tendo potencial

    educacional, o que os professores esto tirando como resultado disto ou simplesmente se

    esto ocupando tempo dos alunos sem um objetivo a se alcanar?

    Elkonin (1998) apud Scaglia (2003), afirma que as brincadeiras das crianas

    nascem do desejo de representar o mundo que as cercam e seus vrios ambientes

    relacionveis, ou seja, as atividades delas acabam sendo, desde cedo, influenciadas pelas

    atividades dos adultos; quer sejam elas produtivas, conectadas esfera do trabalho, ou

    ento, estticas e ligadas ordem do lazer e da ludicidade.

    Embora as abordagens conceituais sobre brincadeira sejam voltadas s prticas

    livres ou mediada, neste subcaptulo iremos defender, especialmente, a prtica da

    brincadeira mediada pelo professor, ele deve contextualizar os processos cognitivos

    experienciados pelos alunos, sem cair no erro de infantilizar ou subestimar os alunos.

    Brougre (1998)apud Freire (2005), afirma que a brincadeira apresenta

    caractersticas de grande importncia educacional, tais como no ser vazia de significados;

    ser cultural; as regras podem existir, mas so geradas pelas circunstncias; tais regras so

    flexveis e construdas coletivamente; incentiva criatividade e liberdade nas aes; pode a

    criana inventar e criar sem riscos; apresenta trocas constantes; tem dimenso aleatria.

    O papel do professor de Educao Fsica escolar nas brincadeiras, justamente de

    engrandecer mais o potencial do brincar, mediando, sendo discreto e cauteloso, deixando as

    crianas exercerem o papel de agentes do prprio desenvolvimento e aprendizagem, porm,

    sem perder as rdeas e o controle sobre sua discreta sistematizao, haja vista que pode

    ocorrer o risco dos alunos ditarem totalmente o percurso das aulas, anulando o professor,

    sabotando o sucesso do aprendizado.

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    A prtica docente no trato com futebol/brincadeira pode vir a ter traos de uma

    concepo recreacionista dentro das aulas de Educao Fsica, direcionando atividades nos

    final das aulas ou no incio como preparao para outras atividades. O professor deve

    intervir na brincadeira de futebol de maneira que incentive a criatividade, a autonomia, o

    senso-crtico, de forma que o aluno possa refletir novas possibilidades do brincar de futebol,

    portanto, adaptar, modificar, criar movimentos so as palavras de ordem. O social

    entendido como uma extenso do individual, ou seja, trata-se de desenvolver atitudes de

    cooperao e solidariedade a fim de inserir-se de maneira positiva no meio social j dado,

    jamais questionado. (BRANCHT, 1989, p 16).

    Analisando as observaes de Darido e Rangel (2005) acerca do Recreacionismo,

    surgido nas primeiras dcadas do sculo XX, veio com propostas de promover a autonomia

    dos alunos, ento acabou gerando interpretaes inadequadas, pois veio de uma poca

    com poucas condies de formao e de trabalho do professor, portanto, comumente se v

    no contexto escolar, uma aula de Educao Fsica onde os alunos decidem o que vo fazer

    na aula, escolhem o jogo e a forma de jogar, o papel do professor se limita a fornecer a bola

    e marcar tempo, sem intervir ou intervindo de maneira inadequada.

    A prtica de dar a bola ainda parece comum ao professor de Educao Fsica

    escolar no Brasil, e considerado um equvoco cometido pelo professor, tornando-se uma

    prtica condenvel, pois se desconsidera a importncia dos procedimentos pedaggicos dos

    professores. Pode-se pensar que esse equvoco conceitual, procedimental e atitudinal se

    justifica devido ao discurso acadmico ter passado muitos anos discutindo o que no fazer

    nas aulas de Educao Fsica, e deixaram de apresentar propostas viveis e exequveis

    para a prtica, outro fator que busca justificar, diz respeito falta de polticas pblicas para

    facilitar a prtica docente, como condies de trabalho, espao, material adequado, polticas

    salariais e, principalmente, apoio s aes de formao continuada. Esse ato de dar a bola

    tambm pode se justificar, resumidamente, nos dias de hoje, na desmotivao do professor,

    por um conjunto de motivos ele entrega a sua aula ao aluno, em forma de uma brincadeira

    de futebol. Certamente no se pode desconsiderar estas variveis socioeconmicas do

    contexto escolar atual como um motivador ou desmotivador do professor levando-o a se

    eximir de conduzir de maneira profissional sua atividade de Educao Fsica escolar.

    Entretanto, embora haja muitas adversidades, deve-se partir de pressupostos

    pedaggicos de interveno do docente, pode-se aplicar uma atividade futebol/brincadeira

    onde os alunos participem aprendendo atravs de variaes e diversificaes do futebol

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    feitas por eles mesmos, onde o professor possa deix-los realizar livremente a atividade e

    ao final propor momentos de reflexo, na busca de consolidar aprendizados

    Jogo, segundo Teixeira (2001), uma atividade que surge da

    brincadeira,proporciona prazer e diverso, mas existe sistematizao, existem regras

    estabelecidas, portanto, a evoluo da brincadeira, deixando a espontaneidade, podendo

    ser cooperativos ou competitivos. Na conceituao de Huizinga (1999), observa-se que:

    O jogo uma atividade ou ocupao voluntria, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espao, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatrias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentido de tenso e de alegria e de uma conscincia de ser diferente da vida cotidiana(HUIZINGA, 1999, p. 33)

    A abordagem do jogo nesta pesquisa ser focada no trabalho docente voltado ao

    futebol jogo/brincadeira e futebol jogo/esporte, deixando nas entrelinhas todas as demais

    caractersticas e particularidades que compe o jogo em si.

    Para Caillois (1990), o jogo possui caractersticas ou desperta nos praticantes,

    elementos tais como: apresentar prazer atravs do desafio; apresenta perigo; evoca

    igualmente ideias de facilidade, risco ou habilidade; brinca com a realidade; desenvolve

    destreza, inteligncia; leva o praticante ao limite entre a prudncia e a audcia; o jogo vive a

    merc do acaso; possui regras arbitrrias, imperativas e inapelveis; desenvolve noes de

    totalidade, de regras e liberdade; jogo ocasio de escape total de tempo, de energia, de

    engenho e destreza; livre, voluntrio, fonte de energia e divertimento; ideia de que depois do

    jogo tudo volta ao normal; o jogo o sentido dele prprio, embora analise os conceitos e

    mbitos procedimentais do jogo baseado em Caillois, prope que o jogo passe a ser tratado

    de forma contextualizada, e no discutido apenas como fenmeno em si. (Freire 2005).

    Sobre as ressignificaes que o futebol pode sofrer, vale ressaltar, que elas

    ocorrem naturalmente na sociedade, assim como a reproduo de qualquer jogo pode e

    deve ser feita pelos professores, sem receio de limitar o aluno e de no encaminh-lo num

    pensamento crtico e reflexivo. Kishimoto (1993), atenta para a importncia de se conservar

    a tradio cultural, afirmando que o jogo guarda a produo espiritual de um povo num

    certo perodo histrico. H de se respeitar as tradies e apresentar os jogos no seu formato

    original para depois modific-lo, conscientemente.

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    O futebol deve, portanto, ser manipulado livremente por um grupo de alunos, eles

    podem manipular com autonomia qualquer jogo da famlia de jogos/brincadeiras de bola

    com os ps, como por exemplo, chute ao gol, jogador e goleiro se revezando em suas

    posies; bobinho ou peru, quando h drible entre dois jogadores com ou sem goleiro, ou a

    travinha, que seria entre duas equipes com 2 ou mais jogadores em cada. Mas, o professor

    no pode negligenciar o fato de precisar apresentar aos alunos, num certo momento, a

    modalidade futebol como ela nos moldes esportivos, no padro que o mundo conhece, na

    forma esporte.O futebol chamado travinha1, com reproduo dos moldes televisivos,

    existente nas dependncias da escola (salo, campo de areia, quadra, corredor, rea

    desocupada) usado pelas crianas possui caractersticas de jogo/ brincadeira. Visto que os

    jogadores estabelecem regras adaptadas s suas condies de jogo (tempo e espao),

    delimitaes de espao e principalmente possuem uma meta o gol. Essa atividade que eles

    estruturam possuem carter competitivo e emoes a flor da pele.

    Ao se estabelecer a transio de brincadeira para jogo e haver a juno dos dois,

    estabelecendo uma ressignificao do futebol, os jogos/brincadeiras passam de

    processo,para produto. E como produto, desencadeia um novo processo, passando a servir

    como contedo para futuras ressignificaes.

    O professor de Educao Fsica escolar no Brasil, precisa reunir competncias e

    habilidades docentes para administrar a tentativa dos alunos de ressignificarem o futebol,

    reproduzir o futebol de rua (Freire 2006). Precisa aprender a controlar o mpeto emocional

    dos alunos. Todos, alunos e professor, devem estar atento aos objetivos pedaggicos que

    escola e professor possui, h de se utilizar metodologias para com essa prtica de futebol

    jogo/brincadeira, pois h compromisso, metas e objetivos a serem cumpridos no contexto

    escolar.

    Scaglia (2003), textualiza brevemente, o ritual de formao de um futebol

    jogo/brincadeira, embora o contexto seja extra-escolar, observa-se grande semelhana com

    a formao de equipes e incio de jogo em contextos escolares, mais precisamente quando,

    num determinado momento da aula de Educao Fsica, o professor permite que os alunos

    joguem bola. Resumidamente ele descreve:

    travinha um termo do lcus da pesquisa e refere-se ao futebol jogo/brincadeira. Scaglia (2003) o chama de

    Pelada e, uma variao do que Teixeira (2003) chama de Rebatida.

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    Lembro-me da minha infncia, quando jogvamos Pelada (Futebol adaptado, ou rachinha), se um time comeava o jogo fazendo dois ou trs gols logo de incio, o jogo parava e os times eram escolhidos novamente, ou ento, para no se perder mais tempo, um dos jogadores j gritava: - Eu, fulano e beltrano, contra rapa.A desigualdade numrica - proibida pelas regras do jogo/esporte -, trazia o desafio ao nosso jogo/brincadeira. No jogo s se tem prazer se existe o risco, se se estabelece um ambiente ao mesmo tempo desafiador, desequilibrador, imprevisvel e ldico. A dificuldade colocada livremente em meu jogo/brincadeira de bola com os ps na verdade eu e meus amigos estvamos ressignificando o futebol -, evidenciava mais a vontade da turma jogar (prazer do jogo, da tentativa de superao, aliada ao teste de nossas habilidades sem o peso da coao), do que a necessidade de vencer o jogo. (Scaglia 2003, p. 18)

    O que percebe-se em Scaglia (2003), que o futebol jogo/esporte e o futebol

    jogo/brincadeira, apesar das visveis diferenas, ainda possuem as seguintes similaridades,

    ambos existem regras, desafios, prazer e o ldico, sempre direcionados a desafiar nossas

    habilidades diante do outro; est similaridade ou simetria, talvez seja um dos fatores

    limtrofes que no impulsionem os professores a evoluir no decorrer de suas aulas de um

    futebol jogo/brincadeira para o futebol jogo/esporte e assim aplicar um dos objetivos de

    qualquer atividade pedaggica, a de desenvolver cada vez mais as habilidades de seus

    alunos.

    As crianas, sem distino de gnero, no regram suas emoes durante o futebol

    jogo/ brincadeira, o professor no deve priv-lo de algo assim, to natural do ser humano.

    Darido e Rangel(2005), considera o sentimento de iluso que se tem durante a prtica de

    um jogo ou de uma brincadeira, o estudo diz que se cria essa sensao. A palavra iluso

    derivada do latim ldico um termo usado para situaes fantasiosas em que est vivendo

    algo fora da realidade, mas que d prazer e alegria. De fato, pode-se observar o nimo das

    crianas, meninos ou meninas, num futebol jogo/ brincadeira, onde perdem a noo de

    tempo e se imaginam grandes campees, achando seus dribles e jogadas equivalentes aos

    de seus dolos.Neste sentido pode-se dizer que o jogo /brincadeira deve ser utilizado para

    muito sutilmente motivar os alunos a experimentarem de maneira espontnea suas

    habilidades fsicas, habilidades cooperativas, habilidades de liderana, certas habilidades

    que por mais que estes no se tornem jogadores de futebol acrescentar na sua formao

    como cidado.

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    Outra particularidade existente no universo dos jogos a existncia de duas formas

    de estilo: competitivo e cooperativo. No estilo competitivo, segundo Darido e Rangel (2005),

    a competio no deve ser vista pelo professor de Educao Fsica como algo

    exclusivamente negativo. Ento, conclui-se que deve sim, ser administrada, discutida e

    contextualizada pela prtica docente com os alunos. No jogo competitivo, geralmente

    surgem questionamentos sobre o outro, surgem conflitos, discordncias e agresses. Esse

    comportamento est presente no ser humano de forma que se torna difcil tentar elimin-los

    do cotidiano. No ambiente escolar ou durante as aulas, cabe ao docente ser mediador

    desses conflitos, instigando o dilogo e o respeito, a tolerncia e buscando consenso.

    Darido e Rangel(2005), pontuam que a competio no deve ser vista pelo

    professor de Educao Fsica como algo exclusivamente negativo, e de fato no deve, pois

    os educadores tem que ter uma percepo de que a competio vem impulsionando a

    humanidade a se desenvolver, e esta competio tem que ter esse carter de evoluo de

    preparao para o futuro do aluno j adulto para um futuro de exigncias, e no alunos no

    futuro com srios problemas de auto-imagem, e de motivao por no acreditarem em seus

    potenciais enquanto pessoa, pessoas desorganizadas e sem objetivos definidos na vida,

    acredita-se que o jogo e a competio instala indiretamente este esprito de busca aguerrido

    nos futuros adultos, e por estas percepes que se deve olhar a competio de maneira

    positiva e de algo a se acrescentar na vida destes alunos, sendo tudo estes benefcios

    reafirmados abaixo.

    Ainda sobre jogos competitivos para crianas do ensino fundamental, PCN (1997)

    afirma que as crianas devem interagir com adversrios, desenvolvendo respeito mtuo,

    lealdade e sem violncia, devem confrontar-se com o resultado de um jogo e com a

    presena de um rbitro permite a vivncia e o desenvolvimento da capacidade de

    julgamento de justia e de injustia. Devem entender o ganhar e o perder como

    acontecimentos naturais e rotineiros na vida, e que a postura do vencedor no pode ser de

    provocador e o perdedor precisa reconhecer a vitria do outro sem se sentir humilhado.

    Le Boulch (1987), posiciona o professor frente aos jogos competitivos e

    cooperativos, e explana que os jogos competitivos com regras suscitam nas crianas o

    desejo de se firmar individualmente. A criana resiste em cooperar e apresenta uma

    necessidade de impor seu prprio valor aos demais. Podem acontecer alguns equvocos na

    prtica docente, o professor pode ter uma postura autoritria e exigir comportamentos que

    no so prprios das idades das crianas, como por exemplo, num jogo de futebol exigir que

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    os alunos no faam barulho, no gritem comemorando um gol, ou, determinar exatamente

    o que ele quer que faa no jogo, sem aceitar as modificaes feitas pelos alunos, sem novas

    possibilidades, tolhendo o aluno de fazer suas descobertas.J nos jogos cooperativos, Le

    Bouch afirma:

    A cooperao exige que a criana possa colocar-se sob o ponto de vista do colega, que descubra suas possibilidades com relao situao e que capte suas intenes. Concretamente, o jogador deve ter a capacidade de detectar se o colega est melhor colocado do que ele para explorar a situao e decidir, eventualmente, passar-lhe a bola. (Le Boulch, p. 305. 1987)

    Essa percepo do momento certo da ao, e o passar a bola caracteriza

    trabalhos de atitude, diviso, cooperao, coletividade, importantes atributos a serem

    evidenciados uma criana de 2 ciclo do ensino fundamental, adequando-as para vida em

    sociedade.Devendo ser apresentada pelo professor ao aluno e discutidas em mbito

    reflexivo com a turma.

    Percebe-se que h muitos benefcios inerentes ao futebol jogo/esporte e ao

    futebol/brincadeira, seja na competio ou na cooperao, mais o momento reflexivo tem

    que se apresentar constantemente para que a atividade tenha o alcance e os benefcios

    esperados para uma atividade pedaggica.

    Esporte jogo, entretanto possui caractersticas que vo alm do jogo ou algumas

    que nem se encontram no jogo. Caractersticas como: a organizao em grande escala,

    disputa fsica, a organizao burocrtica, e a regulamentao. O esporte ainda compreende

    o ldico, o agonstico e um meio de educao. Todo esporte um dia foi uma brincadeira

    (FREIRE & SCAGLIA, 2003, p. 146).

    O esporte um jogo/brincadeira que se emancipou, um brincar de jogar futebol

    que se regulamentou a partir de regras rgidas; complexo em sua sistematizao e

    organizao, alcana padres de universalizao de regras, performance, auto-superao,

    vitrias sobre oponente, consequncias posteriores e/ou ganhos financeiros. O esporte

    possui acentuada competitividade, porm, o inverso acontece, assim como h competio

    no jogo/brincadeira, h ldico no esporte. E toda esta gama de elementos que so

    acrescentados no acontecimento de uma competio, os pr e ps da competio recriam

    situaes do cotidiano, situaes que podem ser presenciadas em nossa vida adulta como a

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    burocracia, organizao e regulamentao de normas, pressupostos bsicos que devem ser

    compreendidos por um indivduo que deve funcionar equilibradamente na sociedade.

    Darido e Rangel (2005),faz distines na relao brincadeira-jogo-esporte.

    Brincadeira e jogo so categorias vinculadas s culturas humanas locais e o esporte, um

    fenmeno globalizado pertencente uma cultura mundial.

    Scaglia (2003) difere os dois: jogo/ brincadeira e jogo/esporte, onde o primeiro teria

    sua essncia no ldico e o segundo seria focado na competio acirrada e preocupao

    com aprimoramento de tcnicas, seria o prprio esporte de rendimento.

    O que h de semelhante entre o futebol jogo/brincadeira e o jogo/ esporte

    justamente a presena de regras, o prazer e a liberdade, a sensao de se realizar, se auto-

    afirmar, de se fazer presente no meio de um grupo.

    Percebe-se que, o futebol se utiliza de todas estas manifestaes (brincadeira/

    jogo/ esporte), dependendo do contexto em que ser abordado. Est presente em cada uma

    dessas formas. Vale ressaltar, que podemos ver suas formas, qualquer uma, no cotidiano

    escolar.

    Analisando o enfoque psicomotor, visando formao integral, que um modelo

    pedaggico fundamentado na interdependncia do desenvolvimento motor, cognitivo e

    afetivo, Le Boulch (1987) e (2008), provoca reflexo sobre a sistematizao na abordagem

    dos jogos com regras e esportes coletivos para crianas em idade escolar de 7 a 12 anos.

    Sendo que, no trato com os jogos coletivos com regras importante respeitar a cronologia,

    a evoluo da criana, o aprendizado de base deve ser com jogos para depois evoluir ao

    esporte,os jogos com regras equivalem, no plano da socializao, ao aprendizado por erros

    e acertos durante o desenvolvimento da funo de ajuste.

    Os educadores devem ir contra a tendncia de igualar os jogos com regras das

    crianas aos esportes coletivos adultos, mostra a importncia de garantir o carter

    espontneo e infantil nas atividades para as crianas, no devendo o educador incitar a

    concepo de um corpo instrumento, o adestramento, s condutas egocntricas e o

    competivismo exacerbado.

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    Nos jogos com regras e nas tentativas de imitao dos esportes coletivos adultos

    as crianas se corrompem numa rivalidade e na necessidade de auto-afirmao. A esse

    respeito, Le Boulch ressalta:

    Wallon sublinha este perigo do mau uso da competio. O esprito de equipe ou melhor, o esprito de grupo, pode ser explorado de maneira desagradvel por certos educadores. Ouvimos falar em escolas onde alunos de uma mesma aula foram divididos em dois grupos, tendo estes se tornado rivais um do outro. Acreditamos que seja nocivo aproveitar-se desta idade da criana para desenvolver nos alunos o esprito de concorrncia e de antagonismo coletivo. (Le Boulch, p. 303. 1987).

    A prtica docente mostra sua razo de ser nas intervenes pedaggicas que faz.

    Como num jogo de futebol/brincadeira, praticado por crianas de 2 ciclo, ou seja, 3 e

    4srie (4 e 5ano) brincando vontade, imitando jogo de futebol adulto, ento cabe ao

    professor conduzir esta atividade para manifestar critrios de organizao, de comunicao,

    de cooperao, otimizando o poder das virtudes que o jogo possui.

    A anlise da prtica docente embasada nos preceitos da psicomotricidade, mostra-

    se de grande relevncia nesta pesquisa, investigando-a no trato com o futebol jogo/

    brincadeira e equiparando-o com os jogos com regras.O professor deve deixar de lado o

    papel de conselheiro tcnico do jogo ou do esporte, no praticar o abuso da tecnicidade e

    buscar o conhecimento e domnio dos problemas que cercam as crianas de 9 a 10 anos

    em jogos coletivos com regras.

    Para que o professor execute suas aes pedaggicas de forma coerente com

    srie/ idade, dever atentar para algumas caractersticas da faixa etria entre 9 e 10 anos

    dos alunos de 2 ciclo do ensino fundamental. Segundo Almeida (2003), a criana encontra-

    se na fase da operao concreta, que estende-se dos 6 aos 11 anos, onde ela ir

    compreender conhecimentos mais sistematizados, j reflete suas atitudes e, comea a

    perceber a importncia do outro para o sucesso do trabalho coletivo.

    A criana de 9 e 10 anos, gosta de participar da organizao de atividades, gosta

    de se sentir til e inserida nas prticas, est mais disposta a trabalhar em conjunto, ela

    coopera e vive em socializao,ela comea a se liberar do egocentrismo prprio da idade

    infantil, aumenta a confiana em si mesma e aprende a considerar o ponto de vista do outro.

  • Flvia Ferreira Barbosa da Silva

    ANLISE DA PRTICA DOCENTE NAS AULAS DE EDUCAO FSICA SOBRE O FUTEBOL JOGO/ BRINCADEIRA E FUTEBOL JOGO/ESPORTE

    NO 2 CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ZONA URBANA DE BREVES MARAJ PAR BRASIL.

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    Em suma, o momento propcio para trabalhar os jogos na forma cooperativa. Nessa idade,

    a criana comea a pensar com raciocnio, lgica e a ter muita criatividade.

    O ldico se faz imprescindvel na formao da criana nessa idade, pois possibilita

    uma nova roup