análise da paisagem urbana da Área central de balneário camboriú (sc)
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RESUMO: Para analisar a paisagem urbana da área central de Balneário Camboriú (SC), unificou-se as categorias de Cullen (1971), Lynch (1997) e Boullon (2002) para descrição objetiva e subjetiva dos atributos visuais desta área em que há intensa concentração populacional durante o verão. Sob o enfoque sistêmico, percebeu-se a cidade como um sistema aberto e as partes que a compõem como subsistemas, os quais estão interligados e interagindo entre si. Os ambientes naturais e construídos e as dinâmicas sócio-econômicas impulsionaram a expansão da cidade. A atividade turística massificada alterou a paisagem natural em período de tempo reduzido devido à construção de segundas residências e de hotéis, a partir dos anos 50, em exíguo território, sem planejamento urbano e turístico. Deste modo, a indústria da construção civil e a especulação imobiliária afetaram a população nativa e o meio ambiente.TRANSCRIPT
Análise da Paisagem Urbana da Área Central de Balneário Camboriú (SC)
Daniella Haendchen SANTOSProfa. Dra. Josildete Pereira de OLIVEIRAUniversidade do Vale do ItajaíBalneário Camboriú (SC)
Introdução
Balneário Camboriú é um destino turístico consolidado, capaz de atrair elevado número de turistas a cada temporada de verão e de distribuí-los pelo entorno, uma vez que mantém relações com os demais municípios do Estado e do país por meio da recepção e emissão de turistas. Pelo fato de ser, então, um destino indutor, o turismo de massa alterou a paisagem do município, ao longo dos anos, tornando o meio ambiente natural completamente edificado e urbanizado em praticamente toda extensão territorial.
Com o objetivo de analisar a paisagem urbana da área central de Balneário Camboriú, na qual há intensa movimentação de turistas e residentes, optou-se pelo estudo de caso sob o enfoque sistêmico. Uma cidade turística pode ser visualizada como um sistema aberto, no qual os elementos humanos estão no centro deste e se relacionam entre si por meio do trabalho, da circulação, da habitação e do lazer, transformando seus espaços conforme as necessidades, objetivos, aspirações, exigências e valores.
Teoria Geral dos Sistemas
Bertalanffy (2008) Leiper (1979; 1981) Acerenza (2002) Oliveira e Portela (2006)
Bertalanffy (2008) Leiper (1979; 1981) Acerenza (2002) Oliveira e Portela (2006)
Explica-se o todo a partir da compreensão dos seus elementos integrantes, pois, parte do
princípio de que, dentro de um macrossistema, existem vários sistemas interligados uns aos outros e interagindo
entre si. Estes sistemas, por sua vez, são formados por subsistemas, que também
mantêm ligações estreitas entre eles, o que, de fato, sustenta o todo.
Caracterização do Sistema Balneário Camboriú (SC)
Ambientes naturais e construídos;
Dinâmicas sócio-econômicas;
Gênese histórica.
Categorias de Análise
Visão serial: ótica, local e conteúdo (CULLEN, 1971).
A ótica refere-se à “sucessão de surpresas ou revelações súbitas” ao observador do espaço urbano;
O local diz respeito às reações oriundas da posição do observador neste espaço;
O conteúdo refere-se à sua constituição (cor, textura, estilo, natureza, personalidade etc.).
Legibilidade: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos (LYNCH, 1997).
Observação direta: logradouros, marcos, bairros, setores, bordas e roteiros (BOULLÓN, 2002).
Estas categorias são semelhantes, mas, Lynch (1997) as utiliza para descrever espaços urbanos e Boullón (2002), para espaços turísticos.
Os bairros são seções da cidade que não têm atrativos turísticos para apreciação porque são homogêneas e monótonas, criadas para facilitar a administração pública (BOULLON, 2002).
Lynch (1997) afirma que os bairros são identificáveis internamente e referenciáveis externamente. Ou seja, características comuns de um bairro são identificadas apenas pelos seus moradores. As demais pessoas o referenciam apenas para facilitar o deslocamento pelas ruas da cidade.
Fotos: Davi E. C. Spuldaro (2008)Sul
Norte
Por roteiros, entende-se que estes são àquelas avenidas - ou ruas - usadas pelos turistas para deslocar-se até os atrativos
turísticos e, também, àquelas para chegar e sair de uma cidade destino (BOULLÓN,
2002).
Por vias, entende-se que estas são àquelas avenidas - ou ruas - por onde as pessoas passam todos os dias, tornando-se um trajeto de hábito cotidiano (LYNCH, 1997).
Avenida Brasil
Avenida Atlântica
Fotos: Davi E. C. Spuldaro (2008)
A Avenida Atlântica situa-se defronte para o mar e se prolonga à frente do observador em linha reta, tendo “um impacto relativamente pequeno porque o panorama inicial é rapidamente assimilado, tornando-se monótono” (CULLEN, 1971, p.11).
Visão da Barra Sul
Visão do Pontal Norte
Na visão do todo, se o observador estiver numa das extremidades da avenida (Pontal Norte ou Barra Sul), a imagem que se tem
é: orla côncava, completamente arborizada e urbanizada com calçadas padronizadas,
canteiros floridos, quiosques, assentos, edifícios etc.
Fotos: Davi E. C. Spuldaro (2008)
Pés e pneus se movimentam no mesmo espaço, “transformando a segurança e intimidade do interior de um edifício em demasiada rapidez e desespero dos acossados” (CULLEN, 1971, p. 123).
Calçadão da Avenida Central
Avenida Central
Fotos: Davi E. C. Spuldaro (2008)
Esta praça é um logradouro, um espaço aberto e de uso público. É também um marco geral devido à sua localização proeminente na Avenida Atlântica, de fácil visualização para os turistas (BOULLÓN, 2002).
Conforme Cullen (1971), é uma pontuação da Avenida Atlântica, uma vez que funciona como uma pausa ao longo da via e também demarca àquele espaço como palco para eventos nacionais e internacionais, sobretudo, os esportivos.
Trata-se de um dos pontos nodais de Balneário Camboriú, pois, de acordo com Lynch (1997), estes são locais estratégicos da cidade, nos quais há intensa movimentação e concentração de pessoas.
Praça Almirante TamandaréFoto: Davi E. C. Spuldaro (2008)
Os marcos locais “são perceptíveis pelos habitantes de cada parte da cidade, mas não influem na formação de imagens dos turistas, porque exigem familiarização com o meio, alcançada ao longo do tempo, ao se voltar a passar muitas vezes pelo mesmo lugar, coisa fora do alcance do turista, que só pode perceber os marcos gerais, de mais fácil visualização” (BOULLÓN, 2002, p.202)
Repouso em Tensão
Mão do Trabalhador que Sustenta o MundoForça do Inusitado
Presidente João Goulart
Fotos: Davi E. C. Spuldaro (2008)
Rio Camboriú
BR-101 Por conta do alto custo do solo, outros bairros surgiram para além da BR-101, fazendo dela um limite marcante que separa duas partes da cidade, uma borda forte conforme as categorias de Boullon (2002), sendo perceptível até a diferenciação entre as classes sociais: os mais abastados residem aqui na praia e os menos abastados além da BR-101.
Fotos: Davi E. C. Spuldaro (2008)
Para Lynch (1997), as bordas são chamadas de limites quando duas regiões são penetráveis,
mesmo separadas, ou de costuras, quando estas regiões se encontram e se relacionam.
Neste caso, o Rio Camboriú é um limite e a BR-101 é uma costura assim como a Avenida Santa
Catarina e a Rodovia Osvaldo Reis, que liga Balneário Camboriú a Camboriú e Itajaí,
respectivamente.
Outra categoria de Boullon (2002) são os setores: partes menores da cidade, onde ainda há marcas do passado, cuja importância como atrativos turísticos se revela a partir do momento em que são reconhecidos pela comunidade local e valorizados como tais. Nesta categoria se insere o bairro da Barra, que deu origem à cidade.
Bairro da Barra
Fotos: Davi E. C. Spuldaro (2008)
Capela de Santo Amaro
O estudo das cidades estende-se para além do entendimento sobre o espaço territorial que elas ocupam, é preciso também entender as atividades exercidas pelos seus moradores. Se “para a cidade do litoral, o mar é a sua razão de ser”, nas palavras de Cullen (1971, p.192), Balneário Camboriú faz jus a este preceito: o crescimento urbano se deve às dinâmicas sócio-econômicas relacionadas ao mar.
No entanto, devido à indisciplina do uso e ocupação do solo e è especulação imobiliária, a expansão da cidade ocorreu de forma desenfreada em período de tempo reduzido, afetando a qualidade de vida da população e do meio ambiente, além dos sérios problemas na infraestrutura urbana. Percebe-se que a paisagem atual de Balneário Camboriú é fruto de ações dos grupos individualizados. Cada qual agiu de acordo com seu próprio interesse econômico condicionado pelos fatores geográficos.
Considerações
ACERENZA, M. A. Administração do Turismo: conceituação e organização. Bauru: EdUSC, 2002.
BERTALANFFY, L. von. Teoria Geral dos Sistemas: fundamentos, desenvolvimento e
aplicações.. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
BOULLÓN, R. C. Planejamento do espaço turístico. Bauru: EdUSC, 2002.
CULLEN, G. Paisagem urbana. Lisboa: Edições 70, 1971.
LEIPER, N. Towards a cohesive curriculum in tourism: the case for a distinct discipline. 1981. Disponível em: <www.sciencedirect.com>. Acesso em: 09 mar. 2008.
LEIPER, N. The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the tourist industry. 1979. Disponível em: <www.sciencedirect.com>. Acesso em: 13 maio 2008.
LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
OLIVEIRA, J. P. de; PORTELA, L. O. V. A cidade como um sistema: reflexões sobre a Teoria Geral de Sistemas aplicada à análise urbana. Perspectivas Contemporâneas, Campo Mourão, v.1, n.2, p.164-182, nov./maio 2006.
Referências