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1Especialização em Metodologia de Ensino, professora de Matemática no Colégio Estadual
Desembargador Clotário Portugal – Ensino Fundamental e Médio. 2Mestre em Engenharia de Produção – UFSC – SC, professor do Departamento Acadêmico de
Matemática da UTFPR (Unidade Curitiba).
AMPLIAÇÃO DA CONCEPÇÃO DA MATEMÁTICA COM A ABORDAGEM
HISTÓRICA DOS CONTEÚDOS: uma possibilidade para alunos de 7º ano com
dificuldade em números inteiros
Autor: Adriana do Rocio Pissaia Boarão1
Orientador: Antonio Amílcar Levandoski2
Resumo
Este artigo é um relato do desenvolvimento de um Projeto de Intervenção Pedagógica, apresentado dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE 2010, que abrange a elaboração de uma Produção Didático-Pedagógica e sua implementação em sala de aula. A Implementação do Projeto foi realizada nos sétimos anos do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Desembargador Clotário Portugal – EFM, município de Campo Largo, no período paralelo às aulas regulares, em encontros semanais. A finalidade do trabalho foi verificar a contribuição que a História da Matemática pode trazer para os alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem em Números Inteiros. Isso porque a Matemática vem, muitas vezes, sendo apresentada em nossas escolas como uma obra pronta e acabada, sem nenhuma referência à sua construção histórica, o que faz com que o aluno passe a ter a ideia de que é uma disciplina difícil e que nem todos têm condições de aprendê-la. O problema é encontrar alternativas didáticas para superar essa visão restritiva que muitos alunos têm a respeito da Matemática. Dar-lhes uma boa base de como esse conhecimento foi adquirido pela humanidade e quais motivos levaram os povos a desenvolverem esses conhecimentos, através da História da Matemática, é uma forma de tentar superar essa visão e, consequentemente, melhorar seu rendimento. A aquisição de atitudes positivas em relação à disciplina por parte do aluno deve ser a meta de todo professor, e a História da Matemática pode ser um recurso para atingir esse objetivo, pois ela ajuda a mostrar que todo conhecimento é fruto de uma construção humana. A proposta é usá-la no desenvolvimento de atividades, mostrando que a Matemática é uma disciplina construída através dos tempos, por diferentes povos, como forma de resolver problemas do cotidiano.
Palavras-chave: Matemática; História da Matemática; Números Inteiros.
1 Introdução
Durante os estudos para a elaboração do projeto, verificou-se que os alunos
dos anos finais do Ensino Fundamental consideram a Matemática, muitas vezes,
como uma disciplina difícil, acessível apenas para alguns. Esse fato é agravado por
fatores como dificuldade para acompanhar os conteúdos desenvolvidos, indisciplina,
falta de compromisso com a própria aprendizagem, falta de envolvimento das
famílias com a educação dos filhos, entre outros, o que leva muitos alunos a não
alcançar rendimento satisfatório; assim, cabe ao professor criar mecanismos para
recuperá-los, evitando reprovações.
É necessário que o ensino-aprendizagem da Matemática desperte o interesse
do aluno, para que haja um melhor entendimento dos conteúdos. Para o professor
fica o papel de tentar encontrar perspectivas didáticas para superar defasagens,
considerando as diferenças de desenvolvimento entre os estudantes e o fato de que
se deve assegurar a aprendizagem para todos. Portanto, é importante que o
professor faça intervenções quando necessárias, para oportunizar uma superação
de dificuldades por parte dos alunos. E essas intervenções envolvem reflexões
sobre a prática pedagógica e mudanças a serem implementadas dentro do contexto
escolar.
Despertar a curiosidade do aluno e a vontade de aprender é uma forma de
motivar para a aprendizagem aquele estudante que está com dificuldade, obtendo
gradativamente a sua recuperação, e a História da Matemática é um ótimo recurso
para isso, pois todo conhecimento tem sua história e todo conteúdo matemático tem
uma origem. Dessa forma, fica claro que a Matemática foi produzida por homens e
mulheres de diferentes culturas em diferentes momentos históricos, como forma de
procurar solução para problemas do cotidiano, fazendo parte de nossas raízes
culturais.
Mas, a Matemática vem, muitas vezes, sendo apresentada em nossas
escolas como uma obra pronta e acabada, sem nenhuma referência à sua
construção histórica. O aluno passa a ter a ideia de que é uma disciplina difícil e que
nem todos têm condições de aprendê-la. É preciso mostrar que, ao longo da história,
muitas pessoas participaram ativamente do seu desenvolvimento, criando teorias e
descobrindo inúmeras aplicações em outras áreas.
Deve-se mostrar ao aluno que a Matemática teve sua origem na necessidade
de sobrevivência de nossa raça, atribuindo a produção cultural ao esforço de toda a
comunidade e não só a quem resolveu um problema em questão. É tarefa do
professor mostrar que, devido ao desenvolvimento tecnológico, a Matemática
evoluiu muito, pois ela é uma das melhores ferramentas para explicar o nosso
mundo. Também cabe a ele:
[...] a difícil tarefa de deixar claro às crianças que nem tudo que se realiza em uma sala de matemática vai lhes explicar alguma coisa da sociedade em que elas vivem, mas que, sem dúvida alguma, o que elas estão aprendendo é ingrediente indispensável ao entendimento de tudo que existe ao nosso redor (LOPES, 2005, p.17).
Ainda hoje a Matemática continua em constante desenvolvimento,
despertando o interesse das pessoas, pois é constantemente utilizada na criação de
novas tecnologias, cada vez mais presentes na sociedade moderna.
É necessário encontrar alternativas didáticas para superar a visão restritiva
que muitos alunos das séries finais do Ensino Fundamental têm a respeito da
Matemática, o que pode contribuir para um rendimento insatisfatório nas aulas, pois
“as pesquisas têm demonstrado a existência de relação entre a confiança em
aprender matemática e o desempenho nessa disciplina” (BRITO, 2005, p.225).
Segundo Ausubel (1980), para que ocorra realmente a aprendizagem, é
necessário que o conteúdo trabalhado seja significativo para o estudante; assim, ele
apresentará uma pré-disposição para aprendê-lo e relacioná-lo com outros
conceitos. Também, segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica
(DCEs), o objetivo é a aprendizagem com significado. Portanto, é necessário que o
aluno perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida. Mostrar ao aluno
que a sociedade está em constante transformação em razão do rápido avanço
tecnológico e que muitas situações cotidianas possuem ligações com conteúdos
matemáticos, é uma forma de mostrar sentido ao que se aprende. E ainda, “a
história deve ser o fio condutor que direciona as explicações dadas aos porquês da
Matemática” (DCEs, 2008, p.66), pois assim será mais fácil despertar o interesse e a
curiosidade dos alunos, como forma de incentivá-los a melhorar seu rendimento e
superar suas dificuldades.
Para Bruner (1968), é possível ensinar qualquer coisa a uma criança, desde
que se faça isso usando sua linguagem. Como o sucesso do processo educacional é
obtido lenta e gradativamente, torna-se essencial a adoção de novas metodologias,
pois:
[...] as supostas aptidões diferenciadas dos “bons alunos” em Matemática ou
Física etc., em igual nível de inteligência, consistem principalmente na sua
capacidade de adaptação ao tipo de ensino que lhes é fornecido; os “maus
alunos” nessas matérias, que, entretanto são bem sucedidos em outras,
estão na realidade perfeitamente aptos a dominar os assuntos que parecem
não compreender, contanto que estes lhes cheguem através de outros
caminhos: são as “lições” oferecidas que lhes escapam, à compreensão, e
não a matéria (PIAGET, 1973, p.17).
Assim, a História da Matemática constitui-se numa forma importante de
resgatar o interesse dos alunos que apresentam dificuldade, para tentar recuperá-
los, melhorando seu rendimento e reafirmando o compromisso da escola com a
aprendizagem de todos.
2 Modelo Proposto
O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE foi distribuído em quatro
semestres.
2.1 Primeiro semestre do programa
Durante o primeiro semestre de participação no PDE, sob a orientação de um
professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, foi elaborado
um Projeto de Intervenção Pedagógica. O tema do projeto deveria contemplar um
problema da escola de atuação do professor participante, desenvolvido dentro de
uma das Tendências em Educação Matemática que está nas Diretrizes Curriculares
do Estado do Paraná. Como os alunos apresentam muita dificuldade em Números
Inteiros, elaborou-se um projeto para recuperação, com base na História da
Matemática. O projeto desenvolvido foi aplicado nos sétimos anos, período da
manhã, do Colégio Estadual Desembargador Clotário Portugal – Ensino
Fundamental e Médio, no município de Campo Largo.
2.2 Segundo semestre do programa
No segundo semestre do programa, desenvolveu-se um material didático
baseado no projeto elaborado, para ser utilizado na fase de implementação na
escola. Optou-se por uma Unidade Didática, dividida em oito atividades, que
continham uma base histórica, seguida de exercícios, sugestões e informações
complementares para o professor. Cada atividade tinha um tempo de aplicação
estimado em uma ou mais aulas, dependendo do conteúdo.
Essa unidade didática elaborada apresentou, dentro da base histórica, alguns
fatos da História da Matemática que podem ser usados pelo professor, em um tópico
chamado “Um Pouco de História”, além de sugestões de vídeos relacionados ao
tema nas referências. Algumas informações adicionais, que podem ser importantes
para o esclarecimento de algumas atividades, encontram-se no tópico “Para o
Professor”.
2.2.1 Atividade 1
Foi baseada na Construção Histórica dos Números Inteiros. O objetivo era
levar o aluno a reconhecer que a matemática é fruto de uma construção humana,
identificando os números inteiros como uma ampliação dos números naturais,
relacionando os números inteiros positivos com os naturais maiores que zero.
Também, pretendia-se que os alunos reconhecessem que os números positivos são
maiores que o zero, e este, maior que os números negativos. Para isso, foram
utilizados exercícios que envolviam saldo de gols, sequência numérica,
representação de altitudes, profundidades e saldo bancário com números inteiros.
2.2.2 Atividade 2
Trabalhava com a comparação e ordenação de números inteiros. Com isso,
procurava-se levar os alunos a utilizar os sinais >, < e =, escrevendo os números
inteiros em ordem crescente e decrescente, reconhecendo também números
opostos ou simétricos como dois números inteiros que possuem o mesmo módulo e
sinais contrários. Os exercícios envolviam medidas de temperatura, em que ficava a
sugestão para o professor apresentar outras escalas, como a Fahrenheit e a
Rankine.
2.2.3 Atividade 3
A terceira atividade contemplava a reta numérica dos números inteiros. O
objetivo era levar ao reconhecimento do zero como origem do sistema de
coordenadas cartesianas, além de que, dados dois números inteiros o maior é
aquele que está à direita na reta numérica. As atividades procuravam ajudar o aluno
a identificar abscissa e ordenada e a utilizar corretamente o referencial cartesiano,
fazendo a localização de pontos. Aproveitava-se a atividade para relembrar nomes
de alguns polígonos e calcular áreas de figuras geométricas planas obtidas na
representação cartesiana de pontos.
2.2.4 Atividade 4
A quarta atividade trabalhou com a Adição e Subtração de Números Inteiros,
para que os alunos sanassem suas dúvidas, utilizando corretamente a regra de
sinais e eliminando parênteses. Os exercícios envolviam quadrados mágicos a
serem preenchidos, com a sugestão de contar a lenda de seu aparecimento.
Também havia exercícios com altitudes e profundidades de locais do Vale do Rio
Jordão, no Oriente Médio, pois aí está localizado o Mar Morto, que é o ponto mais
baixo da superfície terrestre. Foi também proposto um jogo, para trabalhar o
conteúdo de forma lúdica.
2.2.5 Atividade 5
A quinta atividade desenvolvia exercícios com Multiplicação de Números
Inteiros, com a finalidade de reconhecer a regra de sinais e a forma de utilizá-la. Os
exercícios envolviam extratos bancários e a construção de tabelas, em que era
possível observar as regularidades na multiplicação de números inteiros, que
explicam as regras de sinais.
2.2.6 Atividade 6
A sexta atividade envolvia a divisão de números inteiros, com o objetivo de
esclarecer a correta utilização da regra de sinais. Os exercícios envolviam, além de
tabelas, o cálculo de médias utilizando temperaturas e a análise de gráficos.
2.2.7 Atividade 7
Esta atividade trabalhou a potenciação de números inteiros, para que o aluno
relembre que a operação é uma multiplicação de fatores iguais. Os exercícios
envolviam tabelas e sequências que esclarecem os resultados para expoentes zero
e um.
2.2.8 Atividade 8
A atividade trabalhava a representação matemática de uma operação, com
exercícios na forma de situação-problema envolvendo saldo bancário, variação
térmica, deslocamento de elevador em um edifício e temperatura em diversos
ambientes.
No final da Unidade Didática, depois das atividades, foram apresentadas
várias sugestões de vídeos que podiam ser usados em sala pelo professor e que
apresentavam fatos da Histórica da Matemática, além de jogos para serem
aplicados com o uso do laboratório de informática. Os vídeos foram selecionados
entre os que estão disponíveis no Portal Dia a Dia Educação, já formatados para o
uso na Tv Multimídia.
2.3 Terceiro semestre do programa
No terceiro semestre do programa, além da Implementação do Projeto, foi
realizado um Grupo de Trabalho em Rede – GTR, em que o professor participante
socializava seu trabalho com outros professores da rede, na modalidade de
Educação à Distância – EaD.
Na implementação foram aplicadas as atividades elaboradas na Unidade
Didática. Essa aplicação aconteceu em aulas de reforço semanais, ofertadas no
período contrário das aulas regulares, para as quais foram convidados todos os
alunos, dando-se preferência para os que apresentavam mais dificuldade, com o
intuito de recuperá-los em tempo, evitando reprovações.
Durante o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), os professores da rede
estadual que se inscreveram nesse curso na modalidade à distância tiveram a
oportunidade de ler e opinar sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica que foi
elaborado, além de conhecerem a Unidade Didática e o processo de
implementação.
2.4 Quarto semestre do programa
O quarto semestre foi dedicado à avaliação dos resultados e à posterior
produção escrita descrevendo todo o trabalho.
3 Análise dos resultados
Durante o processo de implementação, na realização das atividades,
observou-se um crescente interesse dos alunos pela disciplina e um aumento do
rendimento nas avaliações de todos os participantes. No início, os alunos
demostravam insegurança para responder perguntas e tirar dúvidas, mas, com o
tempo, foram adquirindo confiança na própria aprendizagem. Os alunos passaram a
ser sujeitos participantes e não objetos do ato educativo, mas, para isso foi
necessário “apresentar-lhes a matéria em termos que entendam, de maneira
suficientemente interessante” (BRUNER, 1974, p.37), o que as ações da
implementação conseguiram fazer.
Para Vigotski, o ser humano sem elo com a história e a cultura não existe e,
portanto, a História da Matemática é importante no regate do interesse dos alunos.
Ela propicia condições de perceber as diversas etapas da construção do
conhecimento, mostrando os equívocos ocorridos durante seu desenvolvimento
como parte da natureza da atividade matemática e trazendo inúmeras possibilidades
para o professor, que pode usar meios alternativos para sanar deficiências e ampliar
cada vez mais o potencial dos educandos.
3.1 Primeiro encontro
No primeiro encontro foi esclarecido o funcionamento das aulas e aplicada
uma avaliação diagnóstica para obter dados a respeito da aprendizagem dos alunos
sobre Números Inteiros. Por meio dessa avaliação verificou-se que os alunos tinham
dificuldade para trabalhar com Números Inteiros, fazendo confusão para utilizar as
regras de sinais, errando problemas simples pelo uso incorreto das operações.
Demonstraram, também, grande dificuldade para ler e interpretar problemas e
enunciados, esperando para que fossem explicados pelo professor para só então
resolvê-los.
3.2 Segundo encontro
No segundo encontro foi aplicada a primeira atividade da Produção Didático-
Pedagógica sobre a Construção dos Números Inteiros, em que os alunos puderam
sanar dúvidas quanto ao conteúdo. Foram resolvidos exercícios simples, que
envolviam sequência numérica, saldo de gols e representação de altitudes e
profundidades usando os Números Inteiros, com o objetivo de levar o aluno a
reconhecer a sua utilidade prática. Dentro da parte histórica, destacou-se o
surgimento dos números com sinais e a dificuldade de sua aceitação, citando fatos
da matemática chinesa e hindu, além da origem dos sinais mais e menos e do
motivo da representação dos inteiros pela letra Z. A maior dificuldade dos alunos foi
com os exercícios que envolviam sequências numéricas, nos quais eles não
entendiam como encontrar o próximo elemento, no entanto, demonstraram grande
interesse em encontrar a solução.
3.3 Terceiro encontro
No terceiro encontro foi aplicada a segunda atividade da Produção Didática
Pedagógica que tratava da Comparação e Ordenação de Números Inteiros. Nesse
encontro foram resolvidos exercícios que envolviam além de comparação e
ordenação, o conceito de oposto ou simétrico, com o uso de temperaturas na escala
Celsius. No final o professor era convidado a apresentar outras escalas para medir
temperatura, como a Fahrenheit, fazendo algumas conversões de uma escala para a
outra. Os alunos ficaram muito interessados por esses exemplos, considerando-os
muito interessantes. Na parte histórica, o destaque foi o período do Renascimento,
com suas mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais. Também foi
apresentada a origem do sinal de igual e dos símbolos de maior e menor.
3.4 Quarto encontro
No quarto encontro foram feitos os exercícios da terceira atividade da
Produção Didático-Pedagógica, que envolvia Reta Numérica. Foi apresentada a
origem histórica do sistema cartesiano, assim como o fim da polêmica sobre os
inteiros, que durou mais de mil anos, desde sua invenção até sua aceitação. As
atividades envolviam referencial cartesiano, além de reconhecimento e cálculo de
área de figuras geométricas obtidas após a localização de pontos em um sistema de
coordenadas. Os alunos apresentaram dificuldade na ordenação de inteiros e sua
representação na reta numérica, confundindo abscissa e ordenada ao utilizar o
referencial cartesiano. Após alguns exercícios, demonstraram maior segurança,
realizando as atividades propostas rapidamente.
3.5 Quinto e sexto encontros
Nos encontros foi realizada a quarta atividade da Produção Didático
Pedagógica, sobre Adição e Subtração de Números Inteiros. Os quadrados mágicos
foram trabalhados para a fixação da adição e subtração de inteiros de forma lúdica,
com a apresentação da lenda que envolve sua criação. Em seguida foram resolvidos
exercícios envolvendo altitudes e profundidades do Vale do Rio Jordão, região onde
está situado o Mar Morto, que é o ponto mais baixo da superfície terrestre. Para
fechamento da atividade, foi proposto um jogo com dados que representavam
números positivos e negativos.
3.6 Sétimo e oitavo encontros
Nesses encontros foram realizados os exercícios da quinta atividade, sobre
Multiplicação de Números Inteiros. Além de preenchimento de tabelas que mostram
a regularidade na regra de sinais da multiplicação, foram propostos exercícios
variados para fixação. A origem do sinal de multiplicação também foi apresentada,
assim como as primeiras tentativas de usar uma regra de sinais.
3.7 Nono e décimo encontros
Nos encontros foi realizada a sexta atividade, sobre divisão de números
inteiros. Foram trabalhadas tabelas e exercícios com cálculo de médias, além de
questões com leitura e interpretação de dados obtidos em gráficos. Foi apresentada
a origem do sinal de divisão.
3.8 Décimo primeiro e décimo segundo encontros
Nos encontros onze e doze, a atividade envolvia potenciação de números
inteiros. Além da Lenda do Xadrez, foi trabalhado o surgimento do símbolo na
representação da operação de radiciação, inversa da potenciação. Os exercícios
destacavam os expoentes zero e um e as potências a eles associadas, além dos
sinais das potências com expoentes pares e ímpares.
3.9 Décimo terceiro e décimo quarto encontros
Nos dois últimos encontros, foi feita a oitava atividade da Produção Didático
Pedagógica. Os exercícios contemplavam a representação matemática de uma
operação, com problemas envolvendo variação de temperatura, extrato bancário,
entre outros. Foi feito um apanhado geral sobre a construção histórica dos Números
Inteiros, onde se pode observar o grande interesse e motivação despertados nos
alunos.
3.10 Atividades extras
Em todas as atividades eram propostos vídeos com tópicos sobre a História
da Matemática, como forma de apresentar os fatos históricos de forma mais
interessante. Os vídeos foram bem aceitos pelos alunos, que puderam ter uma visão
melhor sobre os fatos históricos apresentados.
3.11 Grupo de trabalho em rede
Durante a realização do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), os professores
conheceram e opinaram sobre todo o trabalho desenvolvido.
Nas postagens e interações ficou clara a opinião favorável de todos quanto ao
uso didático da História da Matemática na recuperação do interesse e aprendizado
de alunos que apresentam dificuldades. Os professores cursistas destacaram
também o desinteresse dos pais com o acompanhamento escolar de seus filhos
como um fato prejudicial à aprendizagem. As atividades constantes na Produção
Didático-Pedagógica foram consideradas viáveis e de fácil aplicação em turmas de
sétimo ano, atingindo o objetivo a que se propõem. Os cursistas destacaram a
importância de levar os alunos a compreenderem que a Matemática está presente
em tudo e que é aplicada para resolver problemas e entender uma grande variedade
de fenômenos. Também o fato de fazer uma ligação dos conteúdos com situações
do presente foi vista como uma forma de resgatar o interesse pela disciplina.
Os vídeos sugeridos foram considerados muito interessantes, pois muitos
professores não os conheciam e seu uso foi destacado como uma forma de
diversificar as aulas, mostrando o conteúdo de forma diferente e chamativa. A
adoção de novas metodologias, diferentes do habitual, foi destacada como um fato
importante para que possamos atingir todos os alunos. Outra vantagem encontrada
nas aulas fora do período regular é a possibilidade do atendimento individualizado,
necessário para alunos que apresentam dificuldade. Destacou-se a importância do
trabalho em grupo, pois muitas vezes o mesmo conteúdo explicado por um colega,
torna-se mais acessível, até mesmo pela linguagem utilizada entre eles.
O fato da História da Matemática servir como instrumento de resgate cultural,
levando o aluno a entrar em contato com a história de outros povos, tempos e
lugares, comparando-os com a realidade atual, foi considerado muito importante.
Como a História da Matemática contribui para que os alunos conheçam e
reconheçam que o homem criou os conteúdos matemáticos a partir de suas próprias
necessidades, e que dela dependemos cotidianamente, torna a disciplina muito mais
interessante e sua aprendizagem mais significativa e esse fato foi percebido pelos
professores cursistas.
Os principais problemas encontrados na implementação do projeto foram
relatados no GTR, entre os quais o não comparecimento de alguns alunos, falta de
espaço físico adequado disponível e grande distância entre o local de moradia do
aluno e o colégio, dificultando a frequência no período contrário ao das aulas
regulares.
3.12 Resultados
Foi observada uma grande melhora no rendimento dos alunos participantes
do projeto que frequentavam as aulas de reforço. A média geral de notas trimestrais
dos sétimos anos mostra esse fato, como pode ser observado no gráfico abaixo.
Gráfico 1: Média de notas dos sétimos anos nos dois últimos trimestres de 2011
Fonte: Secretaria do Colégio Estadual Des. Clotário Portugal – EFM
Analisando o gráfico, pode-se observar que os alunos conseguiram recuperar
suas notas de maneira muito significativa, após participarem das aulas de
implementação do Projeto.
Quando se analisam somente as notas dos alunos participantes do projeto, a
melhora de rendimento fica ainda mais evidente. Suas notas anteriores ao projeto
ficavam abaixo de 40% da nota máxima, chegando a quase 80% no final do ano
letivo.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Sétimo ano A Sétimo ano B Sétimo ano C
2 tri
3 tri
Gráfico 2: Média das notas dos alunos que participavam do Projeto - 2011
Fonte: Secretaria do Colégio Estadual Des. Clotário Portugal – EFM.
Os resultados foram apresentados também para a equipe pedagógica, que
acompanhou a implementação do projeto.
4 Conclusão
Após a aplicação do projeto e a análise dos resultados, verificou-se que a
História da Matemática é um ótimo recurso pedagógico a ser utilizado com alunos de
7º ano. Além de despertar o interesse e a curiosidade, ela ajuda a explicar o
desenvolvimento do conteúdo, dando sentido ao que se aprende. O trabalho
desenvolvido mostrou que, quando os alunos entendem que todo conteúdo tem
história, ficam mais receptivos a aprender.
No caso dos Números Inteiros, conhecer seu longo processo de construção
leva o aluno a confiar mais em sua capacidade de aprender, pois ele vê que a
Matemática é feita de superação de dificuldades e busca de soluções para
problemas cotidianos.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
2º trimestre 3º trimestre
As atividades realizadas em grupo tiveram um resultado muito satisfatório,
pois os alunos demonstraram mais segurança para fazer perguntas e tirar dúvidas,
por terem o apoio de um colega. O fato de se trabalhar com um pequeno número de
alunos fez com que o trabalho tivesse resultados mais significativos, pois o professor
pode dar mais atenção a cada um, sanando dúvidas e atendendo a cada caso
individualmente, o que não é possível em turmas numerosas. Isso faz com que o
aluno fique mais confiante e receptivo à aprendizagem, pois consegue acompanhar
o desenvolvimento do conteúdo mais facilmente.
Durante a realização das atividades, observou-se um crescente interesse dos
alunos pela disciplina e um aumento do rendimento nas avaliações de todos os
participantes. No início, os alunos demonstravam insegurança para responder
perguntas e tirar dúvidas, mas, com o tempo, foram adquirindo confiança na própria
aprendizagem, o que demonstrou o sucesso da aplicação do projeto.
Ao término da implementação, ficou claro que os alunos superaram a visão
restritiva que tinham da Matemática, reconhecendo sua construção histórica e a
participação da disciplina em muitos aspectos da vida atual.
5 Referências
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