penpensar o discurso no webjornalismo: temporalidade, paratexto e comunidades de experiênciasar o...
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EDSON FERNANDO DALMONTE
Pensaro discurso nowebjorna lismo: temporalidade, paratexto e
comunidades de experinciatem
poralidade, paratexto e com
unidades de experincia
Edson Fernando Dalmonte Doutor em
Comunicao e Cultura Contemporneas
Faculdade de Comunicao, Universidade
Federal da Bahia; Mestre em Comunicao
Universidade Metodista de So Paulo; Bacharel
em Jornalismo Universidade Federal do
Esprito Santo. coordenador do curso de
Jornalismo da Faculdade Social da Bahia, pro-
fessor de Teorias da Comunicao e pesquisador
do Cepad Centro de Estudos e Pesquisa em
Anlise do Discurso, Facom/ufba. membro
da intercom Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicao, e sbpjor
Sociedade Brasileira de Pesquisadores em
Jornalismo.
Pensar o discurso no webjornalism
o:
Em detrimento da concepo de novidade, o atual um importante valor
trabalhado pelo Webjornalismo. Por atualidade, entende-se aquilo que ainda
est acontecendo e que, num fluxo contnuo, no cessa, pois um mesmo
fato pode receber novos relatos, situando seus desdobramentos em curtos
intervalos. A sedimentao do processo de construo das notcias funda-
se sobre princpios como a apurao, o que pressupe um distanciamento
mnimo entre o fato e a estruturao de seu relato. O desejo de produzir com
base na celeridade tem conduzido a um novo formato de notcia, mais breve,
reveladora de acontecimentos que, por vezes, respondem apenas a algumas
questes do lead: o que aconteceu, onde e quem est envolvido.
O Webjornal coloca-se como instncia capaz de articular uma temporalida-
de que no mais a do relato, pressupondo um deslocamento entre o fato
e sua difuso, mas uma meta-temporalidade, pois o tempo do relato e o
relato so a mesma coisa. A partir dessa posio, os dispositivos de enun-
ciao convidam o leitor a se informar naquele espao, cuja temporalidade
apresentada como uma s: o tempo do acontecimento, o tempo do relato
ali apresentado, tudo coincidindo com o tempo do leitor.
Tem-se observado um reordenamento quanto aos papis tradicionais dos
atores do processo comunicacional. A partir dos lugares da produo e do
reconhecimento, novos dispositivos de enunciao tm despontado, refle-
xo tanto das potencialidades tecnolgicas quanto do desenvolvimento de
estratgias discursivas que fazem emergir uma nova crena quanto figura
do destinatrio: participante.
A presente obra, publicada com o apoio da
Fundao de Amparo Pesquisa do Estado da
Bahia (fapesb), o resultado da pesquisa de
doutorado de Edson Dalmonte, defendida em
maio de 2008 no Programa de Comunicao
e Cultura Contemporneas, Faculdade de
Comunicao, ufba. Ao longo do livro, o autor
reflete sobre as novas modalidades do discurso
jornalstico no ambiente Web e as estratgias
desenvolvidas para aproximar texto e leitor.
ISBN 978-85-232-0589-8
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jornalismo.indb 255 6/12/aaaa 11:20:18
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Pensaro discurso nowebjorna lismo: temporalidade, paratexto e
comunidades de experincia
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conselho editorial
Titularesngelo Szaniecki Perret SerpaCaiuby Alves da CostaCharbel Nin El-HaniDante Eustachio Lucchesi RamacciottiJos Teixeira Cavalcante FilhoMaria do Carmo Soares Freitas
SuplentesAlberto Brum NovaesAntnio Fernando Guerreiro de FreitasArmindo Jorge de Carvalho BioEvelina de Carvalho S HoiselCleise Furtado MendesMaria Vidal de Negreiros Camargo
universidade federal da bahia
ReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho
Vice Reitor Francisco Jos Gomes Mesquita
editora da universidade federal da bahia
DiretoraFlvia Goullart Mota Garcia Rosa
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EDSON FERNANDO DALMONTE
EDuFbASalvador2009
Pensar o discurso no webjornalismo:temporalidade, paratexto e comunidades de experincia
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2009, by autorDireitos para esta edio cedidos edufba.Feito o depsito legal.
projeto grfico, capa & diagramaoGenilson Lima Santos
reviso de textosAdriana TellesLlian Reichert
edufba Rua Baro de Jeremoabo, s/n Campus de Ondina, Salvador Bahia cep 40170 115 Tel/fax 71 3283 6164 www.edufba.ufba.br edufba@ufba.br
Editora filiada :
Sistema de Bibliotecas - UFBA
Dalmonte, Edson Fernando.Pensar o discurso no webjornalismo: temporalidade, paratexto e
comunidades de experincia / Edson Fernando Dalmonte. - Salvador : EDUFBA, 2009.
256 p. : il.
ISBN 978-85-232-0589-8
1. Jornalismo eletrnico. 2. Comunicao de massa e tecnologia. 3. Jornalismo - Linguagem. 4. Sistemas de hipertexto. 5. Anlise do discurso.
CDD - 070.449796
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A minha me, Zelinda,
minha v, Euzlia, e meu av, Z,
que partiram no incio da
empreitada que resultou neste livro.
A meu pai, Edes,
e meu filho, Leonardo.
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s um
senh
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Tem
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Tem
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Agradeo a Deus, em todas as suas manifestaes;
Fundao de Pesquisa do Estado da Bahia (fapesb), pelo apoio a esta
publicao;
a Giovandro Marcus Ferreira, orientador da tese que deu origem a este livro;
ao Programa de Ps-Graduao em Comunicao em Cultura
Contemporneas (ufba),pela acolhida generosa;
Faculdade Social, nas pessoas de seus diretores:
Maria Alice, Antnio Alberto e Giorgio Borghi;
aos colegas do curso de jornalismo da Faculdade Social,
em especial ao colegiado: Ana Cristina Spannenberg,
Jussara Maia, Juliana Gutmann e Llian Reichert;
a Rossanna dos Santos Santana Rubim;
a minha famlia que, embora distante, sempre se faz presente;
a Ernandes Samuel Fantin, amigo e mestre incentivador.
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Introduo
Prefcio
Sumrio
O discurso jornalstico
A materializao do discurso jornalstico
Jornalismo e narrativa diria
Efeito de real: da literatura ao jornalismo ou de uma tradio a outra
12
Da perspectiva contratual nos meios de comunicao
A comunicao segundo a lgica contratual: a enunciao como base dos contratos de comunicao e de leitura
Jornalismo impresso: resultado de uma tradio
Os dispositivos miditicos modos de mostrar, modos de olhar
A comunicao segundo a lgica contratual
Da estrutura de um discurso
27
29
47
60
15
11
73
77
83
106
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34
Webjornalismo: as fases de implantao e a renovao do fazer jornalstico
O paratexto como modo de existncia do texto Webjornalstico
As possibilidades de produo a partir da caracterstica memria
Paratexto e comunidade de experincia: o lugar do leitor
Webjornalismo: das inovaes tecnolgicas s inovaes discursivas
O hipertexto no webjornalismo
A ao criativa dos constrangimentos aplicada ao Webjornalismo
Webjornalismo e posicionamento discursivo
A enunciao das potencialidades na estrutura paratextual
Interao como efeito de real
Em cima da hora: as promessas do tempo real
Webjornalismo e o fazer-refazer jornalstico
119
126
132
147
155
160
174
181
185
193
199
207
219
235
Das concluses e perspectivas
Notas
Referncias
Entre inovaes tecnolgicas e contratuais
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Prefcio
Este livro no , certamente, uma repetio, s vezes, presente em tra-
balhos acadmicos. Posiciona-se para alm do mesmismo e faz jus ao
saber oriundo da pesquisa cientfica que flerta com o conhecimento de
fronteira. O que se ressalta, ao longo de todo trabalho, o tensionamento
do arcabouo conceitual no mbito da anlise do discurso no que tange
articulao com outros domnios cientficos cujo objeto de anlise a
construo de sentido no webjornalismo.
Alm de trabalho inovador na maneira de conduzir a referida articula-
o interdisciplinar, depara-se com os desafios implicados na anlise de
um produto aberto, em construo e recente, em relao a outros produ-
tos e linguagens miditicos. Tais caractersticas ressaltam sua diferena
em comparao a outros estudos discursivos como, por exemplo, de um
romance ou de um filme. Confrontado com a natureza do objeto analisado,
o autor faz um corte metodolgico pelo qual objetiva identificar os cons-
trangimentos que caracterizam as novas formas do discurso em questo,
como tambm as estratgias que assinalam a disputa entre os webjornais,
inseridos numa zona de concorrncia. Como o prprio autor declara:
Na contemporaneidade, pensar a comunicao resulta numa ao cada
vez mais complexa, visto que se observam mudanas estruturais na base
do processo de produo, distribuio e acesso aos contedos miditicos.
A relao emissor-receptor experimenta alteraes a partir do momento
em que as novas tecnologias abrem possibilidades de participao de re-
ceptor no processo de produo e distribuio de contedos. As relaes,
at ento bastantes rgidas quanto s definies dos lugares de produo
e reconhecimento, passam a ser vistas sob a lgica de interao entre
essas instncias.
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12 | prefcio
Neste contexto marcado pela complexidade, o autor levanta problema
de ordem metodolgica, demonstrando a carncia de conhecimento no
que toca s formas balizadoras do discurso jornalstico sobre as bases
tcnicas, agora, da web. Tal problema norteado pelo objetivo maior de
caracterizar o posicionamento discursivo dos webjornais forjados, entre
outras, pela disputa de mercado, alm de fazer um resgate da evoluo
do webjornalismo, com nfase no atual estgio.
Para atender a essa frente de desafios, o autor tem com ponto de par-
tida a semiologia de terceira gerao. No interior dessa fase, usa como
metodologia a relao contratual entre os meios de comunicao e seu
pblico, que almeja revelar o sentido construdo por diferentes matrias
significantes que compem o discurso jornalstico, considerando, alm
da concorrncia, as expectativas dos leitores e no-leitores e a evoluo
scio-cultural. A semiologia utilizada deixa claro que o posicionamento
do discurso estudado est mergulhado numa rede interdiscursiva da pro-
duo de sentido na sociedade (semiose). O discurso do webjornalismo
nada mais , ento, que uma extrao, um pedao da rede (ou no dizer
de E. Vern, um fragmento de tecido) dessa produo de sentido que se
caracteriza como ternria, social, infinita e histrica.
Ancorado no arcabouo conceitual da anlise do discurso e, ao mesmo
tempo, convocando outros domnios de estudo, o trabalho aqui intro-
duzido articula-se pelo menos com quatro desses domnios: teorias da
comunicao, teorias do jornalismo, lingustica e hermenutica. Entre
os vrios conceitos reivindicados, gostaramos de colocar em relevo dois
deles, de extrema importncia, que conferem densidade empreitada
proposta, no que tange ao tempo e ao espao: o triplo presente, oriundo
da hermenutica de Paul Ricouer, e a noo de contato cunhada, inicial-
mente, pelo lingista russo Jakobson.
O triplo presente torna-se uma das colunas do trabalho, pois o
conceito permite melhor compreender a noo de tempo narrativa
jornalstica que coaduna com as caractersticas da estrutura tcnica do
webjornalismo: articulao na explicitao dos tempos presente-presente
(complementao em outros sites e blogs), passado-presente (banco de
dados) e futuro-presente (projees etc). A simulao do contato, espcie
de ampliao de aproximao entre o real e sua representao, no intuito
de demonstrar estreitamento e entrosamento dos vnculos entre as ins-
tncias de produo e de reconhecimento. O percurso almejado, ento,
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prefcio | 13
neste trabalho, lembra um dizer de Gilles Deleuze, sobre a realizao da
pesquisa cientfica como sendo, sobretudo, o ato ou a arte de levantar
problemas, de um lado, e o de criar e articular conceitos, de outro. Estes
so aspectos manuseados nesta pesquisa, lcida e conseqente.
Os resultados de toda a investida no se resumem concluso, mas
se destilam ao longo de quatro captulos, abordando aspectos da intera-
o entre as instncias de produo e reconhecimento; interao entre
a recepo e o produto; interao no interior da instncia de recepo,
passando pela noo de furo jornalstico nesse novo ambiente, a no-
o de tempo no discurso jornalstico e diferentes efeitos de real, como
mostra o autor a seguir:
A palavra no simplesmente aberta ao leitor, mas o fato de ele ter a
chance de manifestar seja sua opinio, seja relatar o que acontece de
relevante, passa a constituinte do prprio discurso da mdia. Enquanto
discurso auto-referente, ao ressaltar a abertura para as contribuies dos
leitores, so ressaltadas as potencialidades que um site tem de mostrar a
realidade, a partir de testemunhos, impresses, opinies etc... A amplia-
o das formas de aproximao entre o real e sua representao permitem
que o discurso jornalstico crie novas formas de insero do cotidiano em
seus relatos e, com isso, ao estender o sentido de realidade, aproxime-se
ainda mais do universo dos leitores.
O trabalho que se segue representa, enfim, o coroamento de um jo-
vem pesquisador que trilhou percurso marcado pela solidez, coerncia e
abertura criteriosa. Por esses e outros motivos, este trabalho representa
uma mo estendida ao dilogo, em primeiro lugar aos seus pares pes-
quisadores no domnio da comunicao mas, igualmente, aos colegas
de reas afins convocadas ao longo do trabalho, alm de todos aqueles que
tm interesse no aprofundamento do conhecimento das novas formas de
produo de sentido na contemporaneidade, em particular, na produo
do sentido miditico. S nos resta, agora, desejar tambm a voc, caro(a)
leitor(a), agradvel e proveitosa leitura!
Giovandro Marcus FerreiraDiretor da Faculdade de Comunicao,
Universidade Federal da Bahia
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Introduo
O campo terico da comunicao vem se desenvolvendo no impulso
das inovaes implementadas na esfera social. Percebe-se que cada
idia acerca da comunicao resulta num modo de conceber a relao
da mensagem com o receptor, ora centrando o foco no emissor, ora nos
estratagemas do receptor. Dessa viso, quase sempre compartimentada,
surgem os distintos paradigmas, cada qual enfatizando parte do processo
comunicacional que, em ltima instncia, deixa de ser processo, uma vez
que valorizada a parte e no o todo. A comunicao perde, portanto, o
princpio de dinmica/ao.
Logo, falar de cincia conscientizar-se da possibilidade de trans-
formao existente no modo de compreender e analisar uma realidade.
Uma realidade especfica requer um modo de anlise adequado. Se o
objeto em questo de ordem social, como o caso da comunicao, o
paradigma dever ser modificado cada vez que se observar uma mudana
profunda/estrutural nessa sociedade. Essa a justificativa das Revolues
Cientficas. (kuhn, 1998).
Segundo Kuhn (1998, p. 39), quando [...] um indivduo ou grupo
produz uma sntese capaz de atrair a maioria dos praticantes de cincia
da gerao seguinte, as escolas mais antigas comeam a desaparecer
gradualmente. Mas o que dizer se tal evoluo no implica no definitivo
abandono de antigos paradigmas bem como em sua total substituio?
Dentro da tradio dos estudos em comunicao, como ressaltam
Barros Filho e Martino (2003, p. 35), o sujeito se incorporou tardia-
mente ao estudo da comunicao de massa. Ao se estudar o processo
comunicacional, eram excludos o sujeito emissor e o sujeito receptor.
Dessa forma, para os autores, a reflexo acadmica sobre a informao
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16 | introduo
limitou-se durante as seis primeiras dcadas do sculo xx aos objetos de
sua produo, veiculao e efeitos sociais.
Pode-se dizer que a no-superao total de um paradigma em comu-
nicao vai ao encontro daquilo que Kuhn define como revoluo parcial,
pela qual um paradigma apenas modificado e no totalmente superado.
Com os estudos sobre a comunicao, a relao a mesma. Ora fala-se de
efeitos fortes sobre o receptor, ora de efeitos fracos ou nulos (dalmonte,
2006). A questo basilar passa a ser a relao do indivduo com a comu-
nicao, podendo ele estar na emisso ou na recepo. Seja como emissor,
seja como receptor, o indivduo um ser de ao, dotado de capacidades
criativas tanto para elaborar a mensagem e suas estratgias de circulao
quanto para a escolha do contedo e interpretao.
A questo dos meios, ou mais especificamente da tecnologia, ressal-
tada, por exemplo, em Os meios de comunicao como extenses do homem
(mcluhan, 1996)1, obra que trata da ampliao das capacidades humanas
por intermdio dos meios de comunicao de massa. Atualmente, em de-
corrncia de a tecnologia da comunicao e informao estar na ordem do
dia, observa-se a proliferao de bibliografia sobre o impacto tecnolgico
na vida das pessoas, em especial a partir da comunicao.
Essa outra realidade faz emergir uma postura diferenciada quanto
possibilidade de interao do indivduo com a mdia que, pelas novas
possibilidades tecnolgicas, habilita-se a atender seu consumidor de
forma distinta, o que refora ainda mais o entendimento do indivduo
como sujeito co-participante do processo da comunicao.
A partir do momento em que o sujeito receptor valorizado, acontece
tambm a valorizao do processo engendrado pelo usurio na aqui-
sio da mensagem. Com isso, lanada especial ateno para o local
onde a recepo se realiza. A valorizao do local se processa em funo
do conhecimento das tramas a partir das quais o indivduo se habilita para
o consumo, na maioria das vezes, de produtos plenos de significaes. O
entendimento da recepo a partir do local onde ocorre possibilitado a
partir de exploraes etnogrficas. (ang, 1997, p. 88).
Os meios de comunicao de massa tornam-se amplamente difun-
didos j nas primeiras dcadas do sculo xx. quela altura, falava-se
dos meios eletrnicos, como o rdio e o cinema que, desde a origem, so
vistos por muitos como novos agentes da manipulao ideolgica. A co-
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introduo | 17
municao de massa , ao mesmo tempo, um elemento fascinante, pela
sua capacidade de falar indistintamente a uma grande multido, como
tambm, desde logo, objeto de crticas.
Nesse cenrio, surgem os primeiros enfoques acerca da comunicao
de massa, como a teoria hipodrmica e a teoria crtica. Ambas as pers-
pectivas surgem na Alemanha, no perodo das duas guerras mundiais,
coincidindo com o incio da difuso em larga escala dos elementos da
comunicao de massa. Essas idias so reforadas pelo conceito da so-
ciedade de massa, como conseqncia do processo de industrializao, o
que propicia o afrouxamento dos laos de famlia e conduz ao isolamento
e alienao. Nesse conjunto, o indivduo receptor visto como isolado,
annimo e atomizado. (wolf, 1995, p. 21-23).
sobre esse indivduo fragilizado que a mdia lana suas mensagens,
nesse contexto entendidas como estmulos, de acordo com a psicologia
behaviorista. Segundo essa vertente comportamental, com base na duali-
dade estmulo/resposta, possvel condicionar o comportamento huma-
no. A mdia esse agente capaz de estimular e condicionar as respostas de
seus receptores. Essa capacidade de manipulao decorre do isolamento
fsico, com base na concepo de massa, enquanto fator aparentemente
homogneo, agregador de elementos heterogneos.
Em larga escala, a tradio da pesquisa em comunicao parte do pres-
suposto de que h uma dicotomia marcada pela separao entre os papis
de emissor e receptor. No geral, compete ao primeiro todo princpio de
ao, indo da seleo dos fatos, passando pela elaborao, marcada por
escolhas de linguagem, formatao e emisso. Ao receptor, visto como
plo no qual se finaliza o processo, cabe uma ao passiva.
Tal dicotomia foi questionada, por exemplo, pelos estudos semiticos
e estudos culturais, que sinalizaram para vertentes segundo as quais o ato
da recepo coloca-se de maneira independente em relao aos desejos
externados pelo emissor. O ato de apropriao das mensagens miditicas
passa a ser visto como resultado de uma ao criativa. Tal perspectiva pode
conduzir a uma nova polarizao, colocando em lados opostos o local onde
se produzem os contedos e o local onde os sentidos so elaborados.
Na contemporaneidade, pensar a comunicao resulta numa ao
cada vez mais complexa, visto que se observam mudanas estruturais
na base do processo de produo, distribuio e acesso aos contedos
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18 | introduo
miditicos. A relao emissor-receptor experimenta alteraes a partir
do momento em que as novas tecnologias abrem possibilidades de parti-
cipao do receptor no processo de produo e distribuio de contedos.
As relaes, at ento bastante rgidas quanto s definies dos lugares de
produo e reconhecimento, passam a ser vistas sob a lgica da interao
entre essas instncias.
Com o advento e a difuso de tecnologias da comunicao que poten-
cializam a capacidade de ao tambm do receptor, seja na escolha dos
contedos, seja na participao da definio desses contedos, o prprio
conceito comunicao de massa questionado. O antigo modelo de um
para todos, pressupondo a ao de um emissor forte frente massa de re-
ceptores passivos, confrontado pela realidade da comunicao em rede.
Ao se abordar a dinmica social da comunicao, depara-se com a ne-
cessidade de dominar uma gama de definies que, se por um lado resultam
de uma nomenclatura tcnica, por outro, decorrem de contextos sociais,
oscilando entre usos e expectativas. Nesse nterim, a definio de novas
mdias pode conduzir tanto a um debate acerca da construo social do
conceito bem como percepo de sua transitoriedade, decorrente da mu-
tabilidade das tecnologias, o que remete dualidade velhas/novas mdias.
O entendimento da palavra mdia pode levar a pensar, seja no suporte,
seja na estrutura de difuso das mensagens. Segundo essa lgica, a con-
cepo das novas mdias conduz necessidade de adequao conceitual
para a compreenso de uma realidade em constante alterao, mediante
os sucessivos avanos tecnolgicos.
Seguindo-se a proposta de pensar as novas mdias, como sugere
Manovich (2005), pode-se optar pelo entendimento de uma mdia
como artefato cultural, surgindo como possibilidade imaginativa e de
operacionalidade tecnolgica. Uma nova mdia pode ser compreendida
como um mix de antigas e novas convenes culturais, empregadas na
representao, no acesso e na manipulao de dados, sendo que os novos
dados so dados digitais.
O jornalismo praticado na Internet desponta como uma prtica cultu-
ral no contexto das novas mdias. Vrios tm sido os desafios que acom-
panham essa prtica desde seu incio, em meados dos anos 1990. Pode
ser destacado um aspecto concernente a cada uma das instncias: seus
produtores tm sido desafiados a desenvolver linguagens condizentes
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introduo | 19
com o novo ambiente informacional, que possibilita o uso de ferramentas
como a interao e a atualizao constante de contedo; os leitores pas-
sam a interagir com um produto fluido que, ao desenvolver novas formas
de apresentao dos contedos, exige de seu pblico novas habilidades
e competncias cognitivas.
importante frisar que ainda h discordncia quanto definio da
nomenclatura do tipo de jornalismo praticado na Internet, oscilando entre
jornalismo eletrnico, jornalismo digital ou multimdia, ciberjornalis-
mo, jornalismo online e Webjornalismo. Mielniczuk (2003) adota o termo
Webjornalismo2, tomando por referncia as interfaces grficas da rede. Vrios
autores tambm tm usado essa terminologia, a exemplo de Porto Alegre
(2004), Nogueira (2005) e Ribas (2005), e esta tambm nossa opo.
Para o entendimento dessa modalidade de jornalismo na rede, alguns
pesquisadores se dedicam a estudar suas caractersticas, como Bardoel e
Deuze (2000) e Palacios (2002), que apontam como sendo as seguintes: multimidialidade, interatividade, hipertextualidade, personalizao,
atualizao e memria (base de dados). Para efeito de entendimento, o
Webjornalismo classificado como de primeira, segunda e terceira gera-
es, segundo John Pavlik (2001, p. 43), que prope essa distino tendo
por parmetro a produo e a disponibilizao de contedos, cuja base
o uso dos recursos multimdia da Web.
Conforme aponta Mielniczuck (2003, p. 32-36), o Webjornalismo passa
por trs fases de desenvolvimento, definidas como Webjornalismo de pri-
meira, segunda e terceira geraes. Na linha evolutiva do Webjornalismo,
j se fala de uma quarta gerao, referindo-se ao impacto das bases de
dados na narrativa Webjornalstica. (barbosa, 2007; machado, 2006)
Em sua prtica diria, os meios de comunicao de massa esto numa
constante situao de concorrncia, na busca de uma posio no mercado
e consolidao de sua audincia. No geral, produtos similares se posicio-
nam numa mesma zona de concorrncia, o que conduz a uma necessidade
de marcar distino. Considerando-se o processo de homogeneizao no
tocante aos contedos e formatos, na perspectiva da Anlise do Discurso,
o posicionamento discursivo desponta como fator determinante para que
se estabeleam as marcas distintivas de cada produto.
A distino assegurada pela proposta e manuteno de um contra-
to ou promessa. Na linha da concorrncia entre os produtos na rea de
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comunicao, h mudanas operacionalizadas com base nas novas tec-
nologias. Os estudos da Anlise do Discurso, por meio da perspectiva do
Contrato de Comunicao e Contrato de leitura, tm se mostrado atentos
ao sistema de produo na busca de uma interao entre as instncias
enunciadora e destinatria.
O contrato de leitura (vern, 1985), para a instncia de produo,
baseia-se num conjunto de obrigaes ou constrangimentos discursi-
vos a serem respeitados; para o destinatrio, h, por meio das estratgias
do enunciador, o reconhecimento de suas intenes, por exemplo, no
tocante linguagem usada, o que pode marcar tanto a aproximao quan-
to o distanciamento em relao ao pblico.
Com base no processo de enunciao o aparecimento do sujeito
no discurso e da externalizao de suas marcas discursivas, a instncia
enunciadora se posiciona em relao instncia destinatria pretendida.
Mediante a semelhana dos produtos, o processo de enunciao pode
conferir marcas distintivas ao sistema de produo, levando ao estreita-
mento dos laos entre as instncias.
O contrato de comunicao, da mesma forma, prev aes que de-
correm do contato entre enunciador e destinatrio, de maneira mais ou
menos estvel. Para tanto, como preconiza Charaudeau (1994), so fixados
os papis dos sujeitos-parceiros do ato de comunicao. A idia geral de
um contrato no que se refere ao processo comunicacional, seja ele contrato
de comunicao ou de fala, pressupe, por meio do quadro geral dos cons-
trangimentos, a observao de critrios concernentes elaborao do texto/
discurso. Os constrangimentos discursivos tratam de uma previsibilidade
quanto aos papis das instncias, o que, por fim, induz uma instncia a se
posicionar discursivamente, tomando por baliza o que seria possvel dizer,
com base no que se acredita serem as expectativas do outro.
O empreendimento aqui apresentado prope a localizar as marcas dis-
cursivas que colaboram com a consolidao de efeitos de sentido capazes
de sinalizar a distino do discurso no Webjornalismo. A problemtica
que a reside diz respeito configurao do processo comunicacional na
Web, que possibilita ao discurso jornalstico produzir sentido lanando
mo de recursos desse outro ambiente informacional.
Com base nas caractersticas3: multimidialidade, interatividade, hi-
pertextualidade, personalizao, memria e atualizao contnua/tempo
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real, surgiu a necessidade de observar as modalidades de aplicao de tais
recursos na conformao do discurso Webjornalstico. Acredita-se que
a aplicao de tais recursos oscila entre, por um lado, o uso efetivo de
caractersticas como a multimidialidade e o uso da memria e, por outro,
o uso idealizado de recursos como a interatividade, a hipertextualidade
e o tempo real.
A presente obra marcada pelo objetivo geral de caracterizar o po-
sicionamento discursivo de Webjornais que seguem as tendncias do
mercado do ambiente Web, ora produzindo de maneira semelhante,
ora buscando estratgias de distino. A partir do estudo de produtos
e linguagens, so explicitados procedimentos de investigao oriundos
da Anlise do Discurso aplicados a Webjornais, capazes de revelar novos
constrangimentos e novas estratgias discursivas.
A formao do corpus corresponde a uma seleo de Webjornais orga-
nizados de maneira empresarial, que j contavam com verses impressas
e passaram a publicar na Web, a saber: Elpais.com 4, LeMonde.fr 5, Estadao.
com 6, FolhaOnline 7, OGloboOnline 8. Tal opo se justifica pela possibili-
dade de verificar a passagem das estratgias de contato com o pblico de
um suporte a outro, pois interessa averiguar a adaptao de estratgias
discursivas da tradio impressa, bem como o desenvolvimento de outras,
exclusivas da Web. Para as indagaes aqui presentes, os referidos jornais
so considerados pioneiros no uso de estratgias visando o contato, que
busca trabalhar com a noo de troca, segundo o conceito de comuni-
dade de experincia. Vale ressaltar que alguns outros Webjornais com
verses apenas na Internet foram avaliados pontualmente no tocante
questo do jornalismo cidado; so eles: OhmyNews 9, AgoraVox.fr 10 e
SouthportReporter 11.
Para a efetivao do estudo dos processos de construo identit-
rios, foi preciso observar os aspectos grficos do Webjornal e as formas
de se dirigir a seu leitor (enunciao), no apenas no texto jornalstico
propriamente dito, mas tambm nos fragmentos paratextuais, como os
de cunho publicitrio, que convidam o leitor a escolher o contedo de
acordo com sua necessidade; seguir a informao contnua, durante 24
horas; reagir aos textos etc.. A partir da, foram observados critrios tais
como a permanncia ou a alterao de elementos substanciais referentes
ao tipo de discurso empregado bem como a sua organizao.
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O primeiro captulo, Da perspectiva contratual nos meios de comu-
nicao, situa a comunicao desde seus produtos e localiza, a partir do
posicionamento discursivo, a consolidao de marcas, cujo desejo a
diferenciao, em detrimento dos concorrentes. Se os produtos jornals-
ticos cada vez mais esto similares, tendo-se em vista a concorrncia e a
adoo dos mesmos critrios de noticiabilidade, a perspectiva contratual
pode oferecer um aporte para o estabelecimento de qualidades ineren-
tes ao veculo que mantm um contato com a instncia destinatria. O
desafio fazer o leitor, motivado a buscar a informao, realiz-la num
respectivo meio.
O posicionamento contratual aprofundado por Vern e Charaudeau.
Para Vern, o ponto essencial est no contrato de leitura. Diante da diver-
sidade de discursos, haja vista a similitude dos contedos e abordagens,
o que difere a forma de apresentao. As formas de apresentao de um
discurso, sedimentadas com o tempo, passam categoria de tradio, o
que facilita a aproximao e o percurso de leitura por parte de seu pblico.
Elemento importante nesse processo a estrutura de enunciao, por
meio da qual cada produto de posiciona em relao a seu leitor.
Para Charaudeau, a base da aproximao entre enunciador e destina-
trio est no contrato de comunicao, cujo elemento basilar o quadro
de constrangimentos. Na perspectiva discursiva, os constrangimentos
atuam como referncia norteadora para a orientao discursiva. Ao tomar
a organizao discursiva do Webjornalismo, a questo principal est na
percepo da orientao discursiva desse ambiente informacional, tendo
por base suas potencialidades.
No segundo captulo, O discurso jornalstico, situa-se o processo de
organizao e consolidao do discurso jornalstico, apontando quais so
os elementos configuradores do sentido de veracidade desse discurso.
Para tanto, os critrios de noticiabilidade so apresentados como facilita-
dores da rotina produtiva, apontando caminhos consensuais, separando
o noticivel do no-noticivel.
O jornalismo institucionaliza uma temporalidade especfica, que o
tempo do relato, marcado, por exemplo, pelo uso de verbos no presente,
mesmo em se tratando de fatos passados. A sensao criada de conti-
nuidade daqueles fatos, que se desdobram no aqui e agora, fazendo
coincidir o tempo do jornal com o tempo do leitor.
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introduo | 23
Com o Webjornalismo, os critrios de noticiabilidade podem ser ex-
pandidos, uma vez que os recursos da Web potencializam, por exemplo,
a relao do relato jornalstico com o quesito temporalidade. Por meio do
recurso da atualizao, renova-se o sentido de atual, visto que j no
apresentado apenas o tempo presente, mas um presente contnuo. O
relato Webjornalstico, a exemplo do rdio e da televiso, no narra hist-
rias ocorridas noutra temporalidade, mas situa o leitor no tempo prprio
dos eventos, criando na instncia destinatria a sensao de acompanhar
o desenrolar dos fatos no momento em que acontecem.
Situa-se o tempo do relato jornalstico com base no triplo presente,
ou seja, a dimenso presente das coisas presentes, a dimenso presente
das coisas passadas e a dimenso presente das coisas futuras. Essa con-
cepo determinante para a fundamentao do conceito de narrativa
jornalstica, pois a ao de narrar um fato pressupe situ-lo na perspec-
tiva temporal, determinando a durao dos eventos.
As estratgias de simulao do contato so fundamentais para a cons-
truo dos efeitos de real. No jornalismo, o conceito de efeito de real
articulado pela incluso de elementos que ancoram o relato no real, tais
como citaes diretas, fotos etc. O tensionamento desse conceito permite
criar parmetros para avaliar as novas estratgias de simulao de contato
e de atualidade no contexto das novas mdias.
O terceiro captulo, Webjornalismo: as fases de implantao e a re-
novao do fazer jornalstico, situa os estudos acerca do jornalismo na
Internet. A partir das caractersticas de suas caractersticas, so apresen-
tadas as fases de implantao do Webjornalismo, desde modelos adapta-
dos do impresso at outros que tomam por referncia as potencialidades
da Web. Toda a organizao discursiva do Webjornalismo avaliada com
base na concepo do paratexto.
O quarto captulo, Webjornalismo: das inovaes tecnolgicas s
inovaes discursivas, apresenta uma srie de questionamentos que
despontam a partir das expectativas suscitadas pelas novas tecnologias da
comunicao. Com base no discurso acerca das potencialidades das novas
mdias, busca-se na articulao entre ideologia e utopia uma ao criativa
que pode tanto apontar para caminhos impossveis quanto contribuir para
a implementao de novas estratgias discursivas.
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24 | introduo
A partir de uma fase que pode ser definida como utpica, o hiper-
texto Webjornalstico revela-se menos potente do que se pensava. Os
Webjornais mostram-se como sistemas fechados, permitindo apenas a
navegao intratextual, em detrimento da to propalada intertextuali-
dade. No entanto, a possibilidade de organizao textual em nveis, ou
camadas, permite que se estabelea uma narrativa em profundidade,
que depende do interesse do leitor que, ao se mover, constitui caminhos
possveis, a partir de blocos de texto.
A relao de interatividade e intertextualidade, em ntima ligao,
permite compreender a relevncia das novas potencialidades da organi-
zao discursiva na Web, visto ser possvel a interao em vrios nveis:
entre as instncias de produo e de reconhecimento, entre leitor e pro-
duto e entre leitores.
A partir da anlise de produtos Webjornalsticos, so avaliados os no-
vos constrangimentos que impulsionam o estabelecimento do contato
com a instncia destinatria. A partir das possibilidades tecnolgicas, os
sites se vem constrangidos a implementar modalidades comunicacionais
condizentes com as expectativas dos leitores.
Novas estratgias de enunciao so localizadas na estrutura paratex-
tual, que viabiliza o contato entre as instncias enunciadora e destinatria.
Discute-se a alterao substancial ocorrida com a representao da no-
tcia, visto que a Web propicia a articulao de outros efeitos de sentido,
em decorrncia do uso de novas formas de representao. O sentido de
real pode ser expandido, graas ao uso de formatos e linguagens, im-
plementados pela convergncia miditica.
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Voc quer pa
rar o tempo
O tempo n
o tem parad
a
O tempo em
si
No tem fim
No tem com
eo
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sado ao aves
so
No se pode
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do Tempo
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1Da perspectiva contratual nos meios de comunicaoOs meios de comunicao de massa, em sua prtica, vivem situao plena
de concorrncia. O principal alvo de disputa concentra-se em torno da
audincia. o consumo elevado que assegura um melhor posicionamento
da empresa no mercado. Antes da consolidao da audincia, h um longo
percurso que busca articular a relao entre a instncia de produo e a
instncia de reconhecimento, assim como certas caractersticas dos pro-
dutos que disputam uma mesma zona de concorrncia na segmentao
que hoje se observa em diversas modalidades de publicao. Percebe-se
ento que, cada vez mais, h uma semelhana no produto dos meios de
comunicao, em especial no tocante aos contedos.
Diante de um quadro de tantas semelhanas, o que marca a diferen-
a a maneira de apresentar o contedo. Essa distino assegurada
pela proposta e manuteno de um contrato ou promessa. Na linha da
concorrncia entre os produtos na rea de comunicao, h mudanas
operacionalizadas com base nas novas tecnologias. A tradio do jornal
impresso passa por transformaes no que diz respeito ao cenrio pro-
posto pela internet. j consolidada prtica do jornalismo, somam-se
os novos recursos da Web, fazendo do Webjornalismo um mix de antigas
prticas, fundindo texto, imagens, udio etc.
No mbito da comunicao de massa, em que produzir contedos
seguir uma srie de constrangimentos que, em larga escala, so os di-
tames da concorrncia, a questo fundamental o estabelecimento de
marcas discursivas especficas. Logo, compete aos veculos de comunica-
o estabelecer parmetros para esse elo, que devem ser freqentemente
avaliados e reposicionados. Essa capacidade de renovao que define
no apenas o estabelecimento de um pblico, mas tambm sua ampliao
ou diminuio.
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28 | da perspectiva contratual nos meios de comunicao
O conjunto das estratgias empregadas configura o que se passou a
definir como contrato de comunicao (charaudeau, 1994) e contrato
de leitura (vern, 1985). Embora existam diferenas quanto ao modo de
operacionalizar o elo contratual entre as instncias comunicacionais, h
pontos em comum no tocante ao nvel de relacionamento entre enuncia-
dor e co-enunciador, tomando-se o produto miditico como elemento
fundamental dessa interface.
Ao se conceber a comunicao na lgica contratual, h que se consi-
derar o jogo de fora1 para que cada um dos lados, enunciador e destina-
trio, seja considerado como uma instncia que busca constantemente
estabelecer e manter contato com a outra.
Todo ato de comunicao um objeto de troca entre duas instncias, uma
de enunciao e outra de recepo, da qual o sentido depende da relao de
intencionalidade que se instaura entre elas. Isso determina trs lugares de
pertinncia: a instncia de enunciao lugar das condies de produo;
a instncia de recepo, que ser chamada lugar das condies de inter-
pretao; e aquele no qual se encontra o texto como produto acabado, que
ser chamado lugar de construo do discurso. (charaudeau, 1997, p. 15).
Para Charaudeau (1997), o ato comunicacional depende de uma re-
lao de intencionalidade entre as instncias, o que define trs lugares:
enunciador, destinatrio e o texto, resultado de um jogo de intencionali-
dades entre as partes precedentes. O interessante perceber que o texto,
ao mesmo tempo processo e resultado de um desejo da parte que envia
e da que recebe. O texto, na condio de resultado de uma construo
discursiva, carrega as marcas de sua produo, o que acarreta entender o
que definido como sua instncia destinatria.
O texto surge, ento, da relao entre as intenes do enunciador e
do destinatrio. Conclui-se que o texto produzido portador da co-
intencionalidade que se estabelece entre enunciador e destinatrio (seres
de fala), e no entre produtor e receptor (seres de ao). (charaudeau,
1997, p. 18). Falar do binmio emissor-receptor seria permanecer num
mero reducionismo, base de outros pressupostos tericos interessados
em dar conta do processo comunicacional2.
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a comunicao segundo a lgica contratual | 29
Tratar enunciador e destinatrio como seres de fala implica postular
que a atuao/empreendimento no ato comunicativo ocorre a partir des-
tes dois locais, de forma mais ou menos equacionada, e no de um lado
forte que atua sobre um fraco. Fala-se, sobretudo, de um empenho no
sentido de entender o outro, de localizar, por exemplo, as intenes do
destinatrio para que ele se lance no processo comunicacional. Postula-
se, dessa forma, que necessrio tentar compreender o que o destinatrio
espera obter por meio de sua entrada nesse processo.
Da mesma forma, a instncia enunciadora, embora ouvindo a destina-
tria, tambm elabora o produto centrando-se em suas intencionalidades.
Por esse ngulo, a questo passa a configurar-se como: o que o enunciador
pretende com a elaborao e disponibilizao de seu enunciado? Tem-se,
portanto, uma relao entre seres de fala, o que implica entender a
comunicao como desencadeada por uma co-intencionalidade.3
A partir do exposto, entende-se que o texto o local onde se podem
encontrar as marcas das intencionalidades que impulsionam a elaborao
de um discurso especfico. Por meio de uma lgica contratual, a comu-
nicao estabelece vnculos entre as instncias que, embora devam ser
constantemente repensados e reafirmados, podem permitir ao analista
localizar as marcas e, por meio delas, reconstruir o nvel de envolvimento
estabelecido entre um produto e seu pblico. Ao privilegiar elementos
particulares/peculiares, contrato de comunicao e de leitura, a seu
modo, cada um tenta vislumbrar as modalidades que permitem entender
as formas de aproximao entre as instncias.
A COMuNICAO SEGuNDO A LGICA CONTRATuAL: A ENuNCIAO COMO bASE DOS CONTRATOS DE COMuNICAO E DE LEITuRA
O contrato de leituraO contrato de leitura, para a instncia de produo, baseia-se num con-
junto de obrigaes ou constrangimentos discursivos a serem respei-
tados; para o destinatrio, h, por meio das estratgias do enunciador, o
reconhecimento de suas intenes, por exemplo, no tocante linguagem
usada, o que pode marcar tanto a aproximao quanto o distanciamento
em relao ao pblico. Este posicionamento entre a instncia de produo
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30 | da perspectiva contratual nos meios de comunicao
e de reconhecimento estabelecido, segundo a anlise do discurso, pela
construo e disposio dos sujeitos discursivos enunciador e destina-
trio ou co-enunciador.
O estudo do contrato de leitura fala, conseqentemente, sobre todos os
aspectos da construo de um suporte de imprensa, na medida em que
eles constroem a ligao com o leitor: capa, relao texto/imagens, modo
de classificao do material redacional, dispositivos de apelo (ttulos,
subttulos, chapus etc.), modalizao da construo de imagens, tipos
de percursos propostos ao leitor (por exemplo; capa b ndice b artigo)
e as variaes que a se produzem, modalidades de paginao e outras
dimenses que podem contribuir para definir a maneira especfica pela
qual o suporte constri a ligao com seu leitor. (vern, 1985, p. 211).
Em linhas gerais, o funcionamento do contrato de leitura busca
assegurar audincia fiel a um produto. Logo, enquanto diferencial,
a articulao no tocante ao contrato de leitura que marca a distino.
Ou seja, h uma diversidade de discursos semelhantes; mas a forma de
apresentao do material j se constitui num diferencial, sobretudo por
trabalhar aspectos identitrios, que facilitam a aproximao e o percurso
de leitura por parte de seu pblico.
Diante dessa diversidade, percebe-se que, ao se abordar a anlise do
discurso, preciso estar atento para uma vasta gama de possibilidades,
pois, como sugere Vern (1979, p. 134), o discurso uma configurao
espao-temporal do sentido. No universo miditico possvel localizar
distintas estratgias, associadas ao enunciador e ao destinatrio.
a presena de elementos comuns que desencadeia a luta para mar-
car a diferenciao entre os produtos miditicos. A distino recai sobre
as variaes estratgicas que marcam os fenmenos de concorrncia
interdiscursivos, resultante de um mercado de produo de discurso. A
imprensa escrita fornece exemplos notveis desse tipo de situao e, con-
seqentemente, um domnio privilegiado para o estudo das variaes
estratgicas. (vern, 1988, p. 14-15).
Enquanto setor de produo cultural massivo, a imprensa apresenta
uma trajetria permanentemente submetida s leis da concorrncia.
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a comunicao segundo a lgica contratual | 31
Partindo dessa premissa, Vern (1988, p. 15) aponta para a necessidade de
que se precisem as condies de mercado sob as quais a imprensa opera.
Para tanto, torna-se fundamental compreender como um ttulo de refe-
rncia4 chega a tal categoria, pelo reconhecimento do valor agregado. Da
mesma forma, h que se mencionar que o valor simblico de um produto
ganha amplitude quando socialmente partilhado.
Na dinmica da concorrncia, possvel observar o desenvolvimento
de trs princpios (vern, 1988) associados s condies de produo dos
discursos da imprensa:
A produo de seus leitores: compreende o conjunto de caractersticas
definidoras do perfil dos leitores almejados pelo ttulo em questo. A
produo dos leitores feita por meio de percepes-representaes que
os atores sociais, implicados na produo do ttulo de referncia enquanto
produto, tm dos setores sociais almejados como alvos (vern, 1988, p.
15). O pblico desejado serve de parmetro para que o contrato de leitura
seja proposto, tentando atender as aspiraes, motivaes e imaginrio
do pblico pretendido.
Posicionamento do ttulo em relao aos concorrentes: tendo-se em vista
o panorama no qual est inserido um ttulo, ao buscar estabelecer um
contato com o pblico pretendido, firma-se uma ligao que pode ser
definida como contratual. A constituio de um pblico leitor supe a
estruturao, no discurso do ttulo, de uma ligao proposta ao receptor
sob a forma daquilo que eu chamei um contrato de leitura. (vern, 1988,
p. 15, grifo do autor).
O contrato de leitura elemento estratgico, que se organiza a partir
de uma situao de concorrncia, haja vista que os outros ttulos em
disputa uma mesma faixa de mercado tambm buscam se posicionar.
Quem for capaz de estreitar os vnculos com seu pblico estabelece
um contrato de leitura, assegurando, assim, a participao do leitor no
processo comunicacional. Fator relevante que modificaes podem ser
implementadas num contrato de leitura pela expectativa em relao aos
concorrentes. Se um concorrente avana nas estratgias de aproximao
com o pblico, o veculo certamente deve se reposicionar.
1.
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32 | da perspectiva contratual nos meios de comunicao
Depois da produo do leitor, a venda do coletivo potencial de consumido-
res aos anunciantes: numa relao metadiscursiva, representando o discur-
so do ttulo, o conjunto dos leitores vendido como pblico potencial.
A instncia de produo, impulsionada por constrangimentos que
no dizem respeito apenas conformao do leitor, tambm mostra-
se preocupada com a maneira como os anunciantes vem o ttulo em
questo, em contraste com seus concorrentes. Este terceiro princpio
desponta como um construto discursivo que funde os posicionamentos
anteriores, colocando em contato a idia de um pblico e os anunciantes.
Vale ressaltar que resultado de duplo movimento de idealizao: de um
lado, o meio de comunicao que se dirige a um pblico pretendido e se
posiciona em relao a ele, buscando estabelecer marcas que o distingam
dos concorrentes; do outro, o anunciante, que tambm busca atingir seu
consumidor, igualmente imaginado. A instncia destinatria surge, dessa
forma, como elo entre o ttulo de referncia e a esfera dos anunciantes.
Todo o universo da imprensa massiva est localizado num panorama
definido como zona de concorrncia direta. Cada produto, que Vern
(1988, p. 16) classifica como gnero,5 busca estabelecer um vnculo com
uma determinada instncia destinatria, seu pblico pretendido. A par-
tir da idia de uma zona de concorrncia, o autor explicita que vrios
gneros podem disputar pblico numa mesma faixa, como uma revista
especializada para o pblico feminino, o que definido como concor-
rncia interdiscursiva. (p. 14).
No plano da concorrncia interdiscursiva, como no caso da impren-
sa generalista feminina, um ttulo, segundo Vern, geralmente vem
organizado
em torno de trs grandes campos semnticos: moda, beleza e cozinha.
Alm dessa regularidade temtica global, no interior de cada um desses
campos e por razes que tocam o ritmo sazonal do mercado da consuma-
o e de prticas coletivas associadas ao lazer, eles so levados a falar das
mesmas coisas no mesmo momento do ano: o branco, o bronzeamento,
as colees, a volta s aulas, o regime, os presentes das festas, e vrios
outros temas que retornam todo ano no mesmo perodo. No interior de
uma zona, a oferta apresenta, no plano dos grandes eixos temticos,
uma homogeneizao considervel. (1988, p. 16).
3.
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a comunicao segundo a lgica contratual | 33
Tem-se, dessa forma, que todo produto da grande imprensa est dis-
posto segundo uma organizao discursiva que considera no apenas os
interesses do pblico pretendido, mas, de maneira significativa, consi-
derado tambm todo produto que disputa espao numa mesma zona de
concorrncia. Ambos elaboram e emitem discurso similar a um pblico
situado na mesma faixa de interesse. Sob esse prisma, o discurso est
balizado entre as expectativas quanto ao concorrente e ao pblico.
O discurso da imprensa escrita, a partir da noo de matrias significantes,
se apresenta sob a forma de material verbal, imagem e layout (composio
das pginas). preciso, ento, levar em conta esta complexidade discursiva
para descrever o sentido engendrado nos suportes de imprensa, observan-
do igualmente os sistemas de representaes ligados s estruturas institu-
cionais e s modalidades dos destinatrios. (ferreira, 2002a, p. 269).
Pode-se dizer que, em funo da concorrncia entre os veculos,
opera-se uma aproximao cada vez maior entre eles. Esta similitude
vista tanto no formato quanto no assunto. Nessa perspectiva, o que ir
definir a diferena j no o que dito, e sim a forma do dizer, ou seja,
a enunciao.
Os estudos de contrato de leitura pelo modo de uma descrio do plano da
enunciao, mostram que, freqentemente, dois suportes extremamente
prximos do ponto de vista de suas rubricas e dos contedos neles figura-
dos, na verdade so muito diferentes um do outro sob o plano do contrato
de leitura, plano que crucial, porque l que se constri a ligao de
cada suporte com seu pblico. (vern, 1985, p. 209).
A questo central, num ambiente de concorrncia, a definio de
singularidades. esta singularidade que deve permitir a justificativa,
aos olhos dos anunciantes, de anunciar em um ttulo mais que no con-
corrente. (vern, 1988, p. 17). uma estratgia discursiva, baseada na
enunciao, a nica maneira para se construir uma personalidade dis-
tinta em relao aos outros veculos. Por meio dessa estratgia, possvel
estabelecer a ligao com o leitor.
No universo da comunicao, no que diz respeito precisamente aos
contedos, a posio fundamental para o entendimento dos jogos de sig-
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nificados est assentada no mbito do enunciador. O enunciado o texto
realizado e a enunciao o ato de produo do texto, sendo que esta
desencadeada pelo enunciador. Segundo Dubois (1970, p. 100), a enun-
ciao apresentada seja como o surgimento do sujeito no enunciado,
seja como a relao que o locutor mantm pelo texto com o interlocutor,
ou como a atitude do sujeito falante em relao a seu enunciado.
Nessa perspectiva, o enunciado de exclusiva responsabilidade do
enunciador, que assume a posio de sujeito, desencadeando a ao de
preparar e apresentar o enunciado. Para Dubois (1970, p. 104), isso sig-
nifica dizer que esse sujeito assume totalmente seu enunciado, e que, da
mesma forma, h uma relativa identificao entre o eu sujeito do enun-
ciado e o eu sujeito da enunciao.
Considerando-se o fenmeno da homogeneizao dos contedos, o
nico meio pelo qual um ttulo pode consolidar sua personalidade o
desenvolvimento de
uma estratgia enunciativa que lhe seja prpria, dito de outra maneira,
construindo uma certa ligao com seus leitores [dessa forma] cada
zona de concorrncia direta um verdadeiro laboratrio para o estudo
de fenmenos enunciativos: encontra-se uma multiplicidade que tra-
balham de diversas maneiras uma mesma matria semntica. (vern,
1988, p. 17, grifo do autor).
Se o material semntico o mesmo, a distino pode ser feita pelo tipo
de organizao discursiva e na maneira como ocorre o direcionamento
desse enunciado para o destinatrio. A relao entre o discurso e seu
direcionamento para um pblico possvel desde que a lngua seja de-
vidamente empregada. Para Benveniste (1989, p. 82), h que se marcar a
distino entre a lngua e o uso que dela se faz: a dificuldade apreender
este grande fenmeno, to banal que parece se confundir com a prpria
lngua, to necessrio que nos passa despercebido.
O uso dos recursos lingsticos pode marcar tanto o xito quanto o
declnio de uma empreitada discursiva, no que tange aproximao entre
enunciado e destinatrio. Na perspectiva que se adota aqui, de construo
de um contrato de leitura como elemento capaz de aproximar enunciador
e destinatrio, fundamental que o falante se posicione marcadamente
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por meio do ato da enunciao. Como lembra Benveniste (1989, p. 82),
a enunciao este colocar em funcionamento a lngua por um ato in-
dividual de utilizao.
Esse ato individual caracteriza um posicionamento discursivo e marca
sua posio, alm de distingui-lo daqueles que disputam espao numa
mesma zona de concorrncia. A individualidade no marca apenas o ato
da enunciao, mas igualmente caracteriza e distingue aquele que enun-
cia. Pela enunciao o enunciado criado, delineando um perfil.
O ato individual pelo qual se utiliza a lngua introduz em primeiro lugar o
locutor como parmetro nas condies necessrias da enunciao. Antes
da enunciao, a lngua no seno possibilidade da lngua. Depois da
enunciao, a lngua efetuada em uma instncia de discurso, que emana
de um locutor, forma sonora que atinge um ouvinte e que suscita uma
outra enunciao de retorno. (benveniste, 1989, p. 83-84).
Pelo ato da apropriao da lngua, a enunciao desponta como
realizao individual. Segundo Benveniste (1989, p. 84), como obra da
enunciao, o enunciador assume e explicita sua posio de locutor. Ao
fazer isso, ele assume a lngua e instaura diante de si o outro, indepen-
dentemente de qual seja o grau de presena atribudo a este outro. Como
lembra o autor, toda enunciao , explcita ou implicitamente, uma
alocuo, ela postula um alocutrio.
Ao assumir o ato da enunciao, portanto, o locutor no apenas se
define, mas define aquele a quem se dirige. Instaura-se, dessa forma, a
ligao estreita que todo ttulo deve buscar manter com seu pblico. O
discurso dirigido ao outro, que j se faz presente no ato da enuncia-
o. Como pontua Benveniste (1989, p. 84), na enunciao, a lngua se
acha empregada para a expresso de uma certa relao com o mundo.
Seguindo-se essa lgica, percebe-se que o discurso miditico no algo
acabado, no sentido de estar completo, realizado, mas uma constante
tentativa de estabelecer contato com um pblico. A relao com o mundo
qual o autor se refere diz respeito tentativa de dialogar seja com as
expectativas do leitor, seja com o cumprimento de promessas no tocante
a esses desejos, que concernem informao, entretenimento etc., ele-
mentos prprios da comunicao.
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Para Fisher e Vern (1986), a mdia em geral campo frtil para se
observar as estratgias enunciativas. Mediante a diversidade das condi-
es discursivas, seria astucioso quem conseguisse precisar a situao
de enunciao que corresponde a cada um. Para os autores, o discurso
social midiatizado coloca a instncia de produo em tentativa de contato
com todo aquele (qualquer um) que possa estar em situao de recepo.
Sobre isso, advertem os autores:
No entanto, este qualquer um est longe aqui de ser um destinatrio
annimo: trata-se de construir um co-enunciador bem determinado,
o qual ser impulsionado a tomar atitudes complexas e ao qual sero
emprestadas intenes, necessidades, interesses e uma identidade bem
precisa. (p. 81).
A sobrevivncia de um produto miditico depende da capacidade que
a instncia enunciadora tem de dialogar com seu pblico. O ponto de
tenso se instaura a partir do contato ou do atrito entre um co-enunciador
imaginado, que pode tanto ter correspondncia com a imagem do des-
tinatrio, e os atores sociais, reais, que assumem a posio de leitores.
Conforme o vaticnio dos autores, se a revista no consegue encontrar
os destinatrios que aceitam a imagem que a revista lhes prope deles
mesmos, ela no ser comprada. (fisher; vern, 1986, p. 81).
O estabelecimento de vnculo com o leitor, de fato, vai ser verificado,
como lembra Vern (1989, p. 19-22), pela mensurao das vendas dos
ttulos, visto que os demais dados apenas quantificam as declaraes dos
entrevistados. Para o autor, o nico indicador de que dispe o sistema de
produo aquele que se expressa por meio da preferncia, explicitada
nos comportamentos de compra e, da mesma forma, de no-compra.
O posicionamento consciente do sujeito falante no texto pode ser
verificado por meio das marcas deixadas no texto. Essas marcas demons-
tram a intencionalidade do enunciador, por meio de seu enunciado, no
tocante a seu destinatrio o que, por sua vez, propicia o reconhecimento
da instncia enunciadora e a possvel aproximao do destinatrio.
Como exemplo, Fisher e Vern (1986) situam o sistema de enunciao
das revistas femininas. Para os autores, o desejo de sincronizar um dis-
curso com as expectativas do leitor que, no geral, respeita as demandas
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sazonais, como as frias, as festas, o branco das roupas, a cozinha de
vero, a volta escola, leva os ttulos a falarem das mesmas coisas, ao
mesmo tempo. A diferena notada na maneira de dirigir o discurso
leitora pretendida. Para os autores, notam-se as seguintes categorias:
O co-enunciador uma mulher;
Ela tem filhos;
Tudo aquilo que possa ajud-la com a situao
de volta s aulas lhe interessa;
O enunciador conhece as preocupaes de seu destinatrio
e desempenha uma atividade de conselheiro. (p. 82).
A relao entre ttulo e leitora consolida-se pela confiana mtua. A
instncia enunciadora, ao construir um discurso, elabora antecipadamen-
te todo o percurso do discurso, posicionado pelas estratgias de enuncia-
o. Como exemplo, podemos tomar uma capa do peridico feminino
Claudia, setembro de 2007 (Fig. 1). A revista direciona-se mulher que
trabalha fora, gosta de cuidar da casa e tem filho ou se preocupa com
a questo. Duas chamadas de capa ilustram a ateno da revista com a
questo filhos:
Mulher com filhos X mulher sem filhos uma questo
que est pegando fogo nas empresas.
10 competncias que o seu filho precisa desenvolver
hoje para ser um sucesso no futuro.
A questo sexual, que deve interessar a todas as leitoras da revista,
aparece na primeira chamada, do lado direito.
Sexo depois dos 30 Ir para a cama no primeiro encontro ou segurar?
As artimanhas das mulheres para garantir um compromisso.
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38 | da perspectiva contratual nos meios de comunicao
A sexualidade um assunto que, no geral, est presente em todas
as capas de revistas especializadas por gnero. Mens Health, publicao
dirigida ao pbico masculino, na edio de Maio de 2007 (Fig. 2), traz:
Sexo exploso! 7 dicas para esta noite...
Em relao cobertura sazonal, por estar em maio, ms de conscien-
tizao dos problemas cardacos, apresenta-se a chamada:
Nunca tenha um ataque cardaco!
Figura 1: Capa da revista Claudia, setembro de 2007.
Figura 2: Capa da revista Mens Health, maio de 2007.
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a comunicao segundo a lgica contratual | 39
Kerbrat-Orecchioni (1986, p. 161) afirma que interpretar um enun-
ciado , simplesmente, quer se trate de contedo explcito ou implcito,
aplicar suas diversas competncias aos vrios significados inscritos na
seqncia, de modo que se extraia da seus significados. Na seqncia,
a autora adverte no se tratar de reducionismo, mas de mecanismo de
complexidade extrema, que sempre convoca competncias heterogne-
as. Para a autora, podem ser elencadas quatro competncias dos sujeitos
falantes, acionadas no ato da interpretao dos enunciados: competncia
lingstica, competncia enciclopdica, competncia lgica e competn-
cia retrico-pragmtica.
Na perspectiva do contrato de leitura, os dispositivos de enunciao
cumprem duplo papel: estabelecer vnculo com o leitor e marcar a dife-
rena do produto em relao ao concorrente. Da parte do destinatrio, a
interpretao do posicionamento do enunciado a premissa bsica. Para
tanto, faz-se apelo ao que se define como gramtica de reconhecimento
(vern, 1988, p. 23) ou competncia enciclopdica. (kerbrat-orecchioni,
1986, p. 162). O ttulo visto como fornecedor de resposta a uma questo
que diz respeito ao destinatrio.
O contrato de comunicaoO contrato de comunicao prev aes que decorrem do contato entre
enunciador e destinatrio, de maneira mais ou menos estvel, fixando-se
os papis dos parceiros do ato de comunicao, o sujeito que fala ou es-
creve e o sujeito que compreende-interpreta. (charaudeau, 1994, p. 9).
Nota-se a nfase na parceria quanto ao ato comunicacional, decorrente
de estratgias concernentes a ambas as instncias. Charaudeau afirma que
estes dados constituem ao mesmo tempo o quadro de constrangimentos
discursivos que estes sujeitos devem reconhecer, sob a pena de no poder
comunicar, e o espao no qual eles podem se valer de estratgias discursi-
vas para tentar influenciar o outro. (p. 9, grifos do autor).
A expresso contrato de comunicao originria da lingstica.
Inicialmente, ao trabalhar com a idia de contrato, Charaudeau (1983)
desenvolve o conceito de contrato de fala. Segundo ele, a criao de iden-
tidades de um produto passa pela consolidao de contratos, na modali-
dade de partilha de prticas e representaes sociais. Para compreender
a lgica contratual, preciso que se entenda as estratgias de fala.
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A noo desse contrato pressupe que os indivduos participantes de
um mesmo corpo de prticas sociais sejam susceptveis de se colocar
de acordo sobre as representaes linguageiras destas prticas sociais.
Acredita-se que o sujeito comunicante poder, sensatamente, atribuir ao
outro uma competncia linguageira de reconhecimento anloga a sua. O
ato da linguagem torna-se, ento, uma proposio que o EU faz ao TU e
pela qual ele espera uma contrapartida convivente. (charaudeau, 1983,
p. 50, grifos do autor).
A idia geral de um contrato no que se refere ao processo comunica-
cional, seja ele contrato de comunicao ou de fala, pressupe, por meio
do quadro geral dos constrangimentos, a observao de critrios con-
cernentes elaborao do texto/discurso. A observao de tais regras
que pode viabilizar o encontro entre enunciador e destinatrio, por meio
do texto. Essa relao pode ser observada tambm nos estudos de cunho
sociolgico na comunicao, na chamada sociologia dos emissores6. O ga-
tekeeper, as rotinas produtivas ou o newsmaking configuram formulaes
tericas que permitem entender a consolidao de modelos de produo,
tendo-se em vista um quadro geral de constrangimentos, mesmo que di-
gam respeito prioritariamente organizao scio-econmica e poltica
da instncia produtora.
Charaudeau (1994), embora se mantenha no mbito da lingstica,
assume como objeto de anlise o discurso da mdia. Para o autor, da
mesma forma que qualquer outro processo de comunicao, o miditico
encontra-se pautado pelo jogo das expectativas quanto ao que dito,
ou os constrangimentos discursivos, base do contrato de comunicao,
composto de trs dados:
Os que definem a finalidade do ato de comunicao, respondendo
questo: o sujeito falante est l para fazer o qu e dizer o qu?, os que
determinam a identidade dos parceiros deste mesmo ato de comunicao,
respondendo a questo: quem se comunica com quem e que papis lin-
guageiros eles devem ter?, enfim os que caracterizam as circunstncias
materiais nas quais se realiza este ato, respondendo questo: em que
local, com que meios, usando que canal de transmisso?. (charaudeau,
1994, p. 09, grifos do autor).
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O contrato de comunicao assenta-se sobre uma preocupao
quanto aos comportamentos discursivos, ou seja, as modalidades do
dizer, objetivando produzir um determinado efeito junto ao destinatrio.
Analisar um tipo de discurso equivale, ento, descrever, inicialmente, o
contrato do qual ele depende. (charaudeau, 1994, p. 9).
Ao se afirmar que o processo comunicacional coloca em contato ins-
tncias, de produo e de recepo, percebe-se a necessidade de enten-
der cada uma delas, desde suas especificidades, com o olhar focado no
nvel relacional estabelecido entre ambas. No tocante aos procedimentos,
cada uma circunscreve suas aes a um conjunto prprio, situado entre
expectativas e constrangimentos discursivos.
Entender o processo como resultado de uma transao, tendo por
base uma relao especular, implica lanar outro olhar sobre a empreitada
comunicacional, para alm da viso simplista que diz respeito prepon-
derncia do plo emissor/enunciador. A questo passa a centrar-se num
jogo entre imaginrios: como uma instncia imagina ou prev a outra,
que desejos o enunciador atribui ao destinatrio, e este, com base nas
potencialidades do veculo, o que espera do enunciador?
Os constrangimentos discursivos, segundo o contrato de comunicao,
tratam de uma previsibilidade quanto aos papis das instncias o que, por
fim, induz uma delas a se posicionar discursivamente tomando por baliza
o que seria possvel dizer, com base no que se acredita ser as expectativas
do outro. Sobre essa relao, Charaudeau (1983), a partir de um exemplo
de dilogo entre um cliente e uma garonete, mostra o excedente do que
seria esperado numa circunstncia daquelas:
Victor decidiu entrar em um caf para se proteger da chuva e refletir sobre
o dia, que decididamente havia comeado mal. Sentou-se a uma mesa
ao fundo da sala; a garonete aproximou-se dele e perguntou: voc
fuma ? Ele levantou a cabea num tom questionador e olhou a jovem
garonete, que estava ligeiramente inclinada, com as mos para trs, e
que o tratava com gentileza. Victor considerou a questo inslita; ele se
perguntava sobre o que ela poderia significar. A jovem estava a paquer-
lo? No, absolutamente, que pretenso! E eles nem se conheciam. Teria
ela percebido seus dedos amarelados pelo tabaco? Mas com que direito
ela fazia essa reflexo? Ou ento, ela queria um cigarro; sim, devia ser isso.
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Victor coloca ento a mo no bolso para tirar seu mao, mas ele no teve
tempo de retirar sequer um cigarro, pois a garonete j havia colocado
sobre a mesa o cinzeiro que ela tinha atrs das costas. Victor se reprovou
por ter sido to bobo. Evidentemente, na Frana no se deseja ver pontas
de cigarro nem a cinza nas xcaras de caf. (charaudeau, 1983, p. 37).
Charaudeau (1983, p. 37) diz que [o personagem] Victor constri
para si imagens de um interlocutor que no o enunciador real do ato de
linguagem, mas o enunciador que ele, intrprete, imagina. Dessa forma,
o autor ilustra os mecanismos de atrao entre o produto e o leitor/inter-
pretante e as estratgias que atuam na captao da ateno desse leitor
que, pelo ato interpretativo e expectativas quanto ao que dito, adere ao
ato comunicacional.
Em relao s instncias enunciadora e destinatria, Charaudeau
(1983) prope um desdobramento: quanto ao enunciador, o sujeito da
enunciao e o sujeito da comunicao; quanto ao destinatrio, o tu
destinatrio e o tu interpretante. O tu interpretante, segundo o autor,
para o processo de interpretao, lana mo de suas experincias pes-
soais, ou seja, de suas prprias prticas significantes (p. 41). Tem-se,
com isso, um esmiuamento quanto aos papis que, porventura, se
imagine unitrios e fechados.
Por meio dessa clivagem, pode-se perceber o papel do imaginrio
como elemento importante na constituio do outro, enunciador ou des-
tinatrio. possvel notar que o tu destinatrio um sujeito dependente
do eu (enunciador), uma vez que institudo por ele. Ele faz parte, ento,
do ato de produo que produzido pelo EU. Por outro lado, o tu inter-
pretante um sujeito que tem sua ao marcada por um posicionamento
pessoal, que se institui como responsvel pelo ato de interpretao que
ele produz. (charaudeau, 1983, p. 41).
A noo de um sujeito-agente nico e poderoso atrelado emisso
posta em xeque quando se aceita que o outro, tu, alm de destinatrio,
tambm pode ser visto como interpretante, ou seja, partcipe de um prin-
cpio de ao. Se o destinatrio construdo pelo enunciador, obedecendo
aos constrangimentos que lhe so peculiares e daqueles concernentes a
ele (destinatrio), possvel localizar o papel das expectativas quanto ao
enunciador, e no apenas do enunciador em relao ao destinatrio. O tu
interpretante responsvel pelo ato, independentemente (charaudeau,
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a comunicao segundo a lgica contratual | 43
1983, p. 41), em relao ao enunciador, mas essa independncia relativa
e permanece dependente quando se prope ir alm do que foi dito.
Dos constrangimentos ao contrato de comunicaoO contrato de comunicao, maneira de estreitamento dos laos entre
as instncias comunicacionais, torna-se vivel por meio do conjunto de
constrangimentos, o que configura uma seqncia de papis atribudos
e reconhecveis pelas instncias enunciadora e destinatria.
Todo ato de linguagem est submetido a um conjunto de constrangimen-
tos que lhe fazem participar de um certo Gnero discursivo e depender de
um contrato de fala determinado. Resulta, [...], que os participantes desse
ato de linguagem se encontram sob uma cena na qual eles devem assumir
certos status scio-lingusticos, que lhes so conferidos pelo Contrato de
fala. (charaudeau, 1983, p. 93).
O quadro dos constrangimentos da informao miditica, segundo
Charaudeau (1994), possibilita pensar sobre os elementos a partir dos
quais se consolida o contrato. Ele fornece um instrumental que permi-
te compreender as estratgias por meio das quais se operacionaliza a
consolidao de elos entre as instncias, na condio de elementos
constitutivos desse discurso. O autor elenca as seguintes caractersticas
discursivas, que atuam como constrangimentos: a identidade dos parti-
cipantes, a finalidade e as circunstncias.
De incio, preciso que se trate da identidade dos participantes, isto
porque, na perspectiva do autor (charaudeau, 1994, p. 9), a comunicao
miditica no pe indivduos em relao, mas sim instncias, de produo
e de reconhecimento. instncia de produo (enunciadora) compete
a captao do fato, segundo critrios como seleo, e sua transformao
em acontecimento midiatizado. Ao passar da captao de um fato a sua
transformao num produto midiatizado, a mdia assume para si um duplo
papel, ao mesmo tempo provedora de informao e pesquisadora de
informao. (charaudeau, 1994, p. 10). Para o cumprimento desse duplo
papel, a instncia de produo encontra-se presa a certas dificuldades/
constrangimentos. De ordem quantitativa, em primeiro lugar, visto que h
inmeros fatos que podem ascender categoria de notcia. Por meio dos
constrangimentos de espao e tempo, preciso que se realize uma seleo.
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Em segundo lugar, de ordem qualitativa, referente origem da infor-
mao. Como o jornalista no pode estar presente em todos os lugares
onde os fatos acontecem, v-se obrigado a lanar mo de fontes diversas:
agncias profissionais, correspondentes, enviados especiais, informantes
de todo tipo, outras mdias, etc.. (charaudeau, 1994, p. 10).
Em terceiro lugar, tambm de ordem qualitativa. As empresas de co-
municao vivem em plena concorrncia econmica, o que as obriga a se
destacar das outras, tendo-se em vista o pblico. Eis porque a instncia
provedora de informao levada a produzir uma auto-imagem que lhe seja
prpria, de sorte a captar um certo grupo de leitores, ouvintes ou telespec-
tadores que deve ser o mais amplo possvel. (charaudeau, 1994, p. 10).
Definir a instncia de recepo (destinatria) converte-se numa
demanda mais complexa, visto que esbarra em questes como as moti-
vaes para a ao (ler, escutar, assistir), bem como na nomenclatura:
leitor, ouvinte ou telespectador. Em geral, para se entender o pblico-
alvo so feitos cortes de idade, gnero, classe social, mas so apenas
postulaes. Os alvos, no fim das contas, so heterogneos e instveis.
(charaudeau, 1994, p. 11).
Compreender a relao entre produo e consumo vai alm da mera
busca de certezas quanto produo, envio e recebimento. H que se
considerar, isto sim, o jogo de intencionalidades concernente s instn-
cias de produo e reconhecimento.
Dessa forma, a instncia de produo se encontra engajada em um pro-
cesso de transformao, no qual ela desempenha um papel de mediadora,
e s vezes de construtora do acontecimento, entre o mundo exterior onde
se encontra o fato no estado bruto, e o mundo miditico, cena sobre a
qual deve aparecer o acontecimento midiatizado. (charaudeau, 1994,
p. 10, grifo do autor).
A finalidade 1 desejo da informao diz respeito ao posiciona-
mento da mdia no tocante ao espao e ao tempo, tendo-se em vista que
os acontecimentos so desdobramentos do espao social e devem ser
transmitidos a uma instncia de recepo, possuidora da qualidade de
ator participante da vida pblica, o que exige que as informaes faam
parte deste mesmo espao pblico. (charaudeau, 1994, p. 11).
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A dimenso do tempo apresenta-se medida que a instncia de
produo encontra-se diante de fatos situados numa co-temporalidade
enunciativa que rene as instncias. Este quadro temporal d forma ao
que se chama atualidade, o que confere ao acontecimento o status
de notcia. Dessa forma, a atualidade o que responde seguinte
questo: o que se passa nesse momento? [...] A atualidade aquilo que
define o fato miditico como um acontecimento do momento: eis o que
acontece hoje. (charaudeau, 1994, p. 11, grifo do autor).
Em relao ao espao, fica a cargo da mdia relatar instncia de re-
cepo os acontecimentos do mundo, no importando se ocorrem em
lugares prximos ou distantes. O distanciamento espacial em relao ao
local onde se desenrolam os fatos obriga a instncia miditica a adotar
meios para conhec-los e relat-los, como ao lanar mo das agncias de
informao. Ao estabelecer uma rede global, por meio de correspon-
dentes, busca-se apresentar o fato e, ao mesmo tempo, o testemunho de
quem est l, para transmitir o mais rpido possvel e quase simultane-
amente, instncia de recepo que disposta na posio ilusria de
ver, de ouvir ou de ler o que se passa ao mesmo tempo em diversos pontos
do mundo. (charaudeau, 1994, p. 11-12).
A finalidade 2 desejo da captao evoca a posio de concorrn-
cia encampada pela mdia, na busca de interessar ao maior nmero de
consumidores de informao. Dessa forma, a instncia de produo se
inscreve simultaneamente em um processo que consiste em despertar no
receptor o desejo de se informar, e de se informar aqui, neste rgo
de informao. (charaudeau, 1994, p. 12).
As circunstncias, mais uma vez, tratam de tempo e espao e do canal
de transmisso 7. Como constrangimento que impulsiona a organizao
do discurso, por meio da dimenso tempo, necessrio que se crie a
idia de atualidade, embora sabendo que o tempo do acontecimento
diferente e anterior ao tempo da enunciao; diferente e anterior
ao tempo do consumo. Assim, o que define a atualidade das mdias
ao mesmo tempo o espao-tempo do surgimento do fato que deve poder
ser percebido como contemporneo, e o espao-tempo da transmisso
do evento. (charaudeau, 1994, p. 13).
Em relao ao tempo, importa, segundo o autor, o tratamento dife-
rente da noo de co-temporalidade, de acordo com o suporte miditico.
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46 | da perspectiva contratual nos meios de comunicao
O rdio, seguido da televiso, confere uma flexibilidade em relao ao
fato presente, o que ser distinto quanto ao jornal impresso, que se situa
num distanciamento maior entre o fato e seu processo de fabricao e
distribuio. (charaudeau, 1994, p. 13).
A questo do espao surge numa dupla movimentao. Por um lado,
no que se refere ao tratamento e veiculao de um fato que pode ocorrer
longe ou perto; por outro, dos questionamentos acerca da distncia que
se instaura entre as instncias, de produo e de recepo. A col
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