maria helena roxo beltran lbeltran@pucsp - fundacentro · cesima história da ciência: uma área...

Post on 23-Sep-2018

219 Views

Category:

Documents

0 Downloads

Preview:

Click to see full reader

TRANSCRIPT

CESIMA

História da Ciência:uma área interdisciplinar

Maria Helena Roxo Beltran

lbeltran@pucsp.br

ASPECTOS A SEREM ABORDADOS

� Algumas concepções de interdisciplinaridade� Características que diferenciam tais concepções

� Concepção de interdisciplinaridade naperspectiva da história da ciência

� O ofício do historiador da ciência

VISÃO HUMANISTA (CENTRADA NO SUJEITO)

� Gusdorf

� Japiassu

� Fazenda

� Seminário de Nice -- Unesco

� Delors, Nicolescu, Pombo

CARACTERÍSTICAS

� A interdisciplinaridade depende do sujeito (de suaatitude)

� O conceito de interdisciplinaridade depende da vivênciado sujeito

� Contra a especialização do conhecimento (patologia, câncer)

� Interdisciplinaridade como salvação� Filosofia com papel central� Especialidades como decorrência da fragmentação do conhecimento atribuída a Galileu, Descartes e aopositivismo

� H. Japiassu, Interdisciplinaridade e patologia do saber, “Prefácio” (G. Gusdorf, 1975,p. 24)

“O remédio à desintegração do saber consiste emtrazer, à dinâmica da especialização, umadinâmica compensadora de não-especialização. Não se trata de entravar a pesquisa científica porinterferências que correriam o risco de falsear seudesenvolvimento. Mas precisamos agir sobre o sábio, enquanto homem, para tornar-lo conscientede sua humanidade. Precisamos obter que o homem da especialidade queira ser, ao mesmotempo, um homem da totalidade.”

voltar

� I. Fazenda, Interdisciplinaridade um projeto em parceria (1991, p 25)

“O que nos leva a crer que não é possível construir uma única, absoluta e geral teoria do interdisciplinar, mas é necessário buscar ou desvelar o percurso teórico pessoal de cada pesquisador que se aventurou a tratar as questões da interdisciplinaridade.”

voltar

� H. Japiassu, Interdisciplinaridade e patologia do saber, (1976, p. 175)

“Dos dois domínios em que Galileu e Descartes dividiram o real –o universo material, reduzido aos aspectos matemáticos, e o universo da inteligência -, o mundo da natureza, da matéria e da vida é inteiramente entregue ao saber científico. A filosofianão precisa mais se preocupar com ele.”

� Ibid., p.63

“Em suma, ao reduzir o domínio do verdadeiro conhecimento aoslimites da ciência, o positivismo se esforça por justificar, de direito, a concepção segundo a qual as ciências devem dispor-se ou repartir-se conforme uma ordem de subordinaçãohierárquica…

voltar

ALGUMASALGUMASALGUMASALGUMAS CONCEPÇÕESCONCEPÇÕESCONCEPÇÕESCONCEPÇÕES DE DE DE DE INTERDISCIPLINARIDADEINTERDISCIPLINARIDADEINTERDISCIPLINARIDADEINTERDISCIPLINARIDADE

� InterdisciplinaridadeInterdisciplinaridadeInterdisciplinaridadeInterdisciplinaridade e e e e historicidadehistoricidadehistoricidadehistoricidade (perspectiva do materialismo histórico)

Bianchetti & Jantach, Interdisciplinaridade e práticapedagógica…” (2002, p. 13)

“A produção do conhecimento está associada, quando não dependente, das formas próprias, idiossincráticas, de os homens e mulheres, nosdiferentes lugares e momentos da história, produzirem sua existência.”

ALGUMASALGUMASALGUMASALGUMAS CONCEPÇÕESCONCEPÇÕESCONCEPÇÕESCONCEPÇÕES DE DE DE DE INTERDISCIPLINARIDADEINTERDISCIPLINARIDADEINTERDISCIPLINARIDADEINTERDISCIPLINARIDADE

� InterdisciplinaridadeInterdisciplinaridadeInterdisciplinaridadeInterdisciplinaridade e e e e historicidadehistoricidadehistoricidadehistoricidade (perspectiva do materialismo histórico)

Ênfase na relação entre o todo e as partes

Gadotti, Interdisciplinaridade, atitude e método, (p.1)

“Tratava-se de entender melhor a relação entre o todo e as partes, no dizer de Lucien Goldman, 1979. Para ele apenas o modo dialético de pensar, fundado na historicidade poderiaresgatar a unidade das ciências. Marx afirmava que só existiauma ciência, a história. Assim ele resolvia a questão dafragmentação.”

CARACTERÍSTICAS

� A interdisciplinaridade depende das condiçõeshistóricas

� Ênfase no contexto histórico-social

� História como referencial comum parainterdisciplinaridade

� Considera a especialização do conhecimentotambém por seu caráter histórico

ALGUMAS DIFERENTES CONCEPÇÕESDE INTERDISCIPLINARIDADE

Interdisciplinaridadecomo atitude

� Dependente do sujeito

� Centro na Filosofia

� Busca da unidade daciência

Interdisciplinaridade e historicidade

• Dependente docontexto histórico-social

• Centro na História

Propostas necessariamentecomplementares

INTERDISCIPLINARIDADE NA PERSPECTIVA DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

� Interdisciplinaridade como possibilidadeepistemológica

� Ênfase no objeto

� Conhecimento das disciplinas em sua estrutura

� Interdisciplinaridade caracterizada pelaformação de novas redes conceituais a partirde fios selecionados dos conhecimentosespecíficos

HISTÓRIA DA CIÊNCIA COMO CAMPO INTERDISCIPLINAR

� Estudo da(s) forma(s) de elaboração, transformação e transmissão de conhecimentos sobre a natureza, as artes e a sociedade em diferentes épocas e culturas

Objeto da História da Ciência

•conhecimentos sobre a natureza, as artes e a sociedade - Epistemologia

•em diferentes épocas - História

•e culturas - Sociologia

História da ciência – perspectiva historiográfica atual (CESIMA)

Afonso-Goldfarb, Centenário Simão Mathias: documentos, métodos e identidade da história da ciência (2008)

historiográficaepistemológica

Ciência/ sociedade

HISTÓRIA DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Origens da “ciência moderna”História da ciência para justificar a ciência

Século XIXHistória da ciência como “adorno” da ciência

Grandes levantamentos – coletânea de manuscritosEx: Marcelin Berthelot e Pierre Duhem

Continuidade na evolução dos conceitos

A. M. Alfonso-Goldfarb, O que é História da Ciência

início do século XX

Institucionalização da história da ciência �ensino, pesquisa, divulgação e aplicação do conhecimento

Criação de cursos específicos em história da ciência

Organização de obras monumentais

Publicação da revistas Isis (1912)

Geoge Sarton

HISTÓRIA DA CIÊNCIA

“Os novos campos do saber, quando formados nas interfaces das ciências naturais e humanas, se deixados ao acaso, correm o risco de produzir verdadeiras “colchas de retalhos”, absolutamente banais porque em nada contribuem para a fundamentação do conhecimento. A fim de evitar esse problema em nosso campo, devemos cuidar especialmente do ensino que irão receber nossos profissionais futuros (...) eles devem ser provenientes das ciências naturais e ter recebido uma sólida formação nestas, estando assim preparados para assimilar os fundamentos das ciências humanas necessários ao desenvolvimento de um trabalho interface.” (George Sarton, 1912)

TENDÊNCIAS HISTORIOGRÁFICAS

Perspectiva tradicional

Debate internalismo x externalismo

Continuidades x descontinuidades

Historiografia atual

HISTORIOGRAFIA TRADICIONAL

História da ciência linear e progressistaCiências físicas (mecânica) como modeloSeleciona do passado apenas o que parecia ter permanecidoErros e acertosPrecursores, “pais”Pseudo-ciência e ciência

“O caminho histórico, portanto era um só e conduzia até a ciência moderna, pois só ela conseguiria produzir o verdadeiroconhecimento sobre a natureza”

A. M. Alfonso-Goldfarb, O que é História da Ciência

II CONGRESSO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, LONDRES, 1931

Consideração de influências do meio social na evolução dos conceitos científicos

Boris Hessen – “As raízes sócio-econômicas da mecânica de Newton”

EXTERNALISMO

J. D. Bernal

J. Needham

INTERNALISMO

Tendência tradicional

x

Gaston Bachelar –1884-1962

Epistemologia francesa

Quebra a ideia de progresso contínuo

Descontinuidades“ao retomar um passado cheio de erros, encontra-se a verdade[...]”

A formação do Espírito Científico, 1938.

Thomas Kuhn – 1922 –1996

A Estrutura das Revoluções Científicas – 1962

Incomensurabilidade entre os paradigmas – modelo da Física

Para Kuhn, cada vez que uma ciência entra em crise existiria uma ruptura dos conceitos e teorias existentes no velho paradigma, apesar de uma aparente continuidade semântica

Ex: conceito de espaço, elemento, partícula

Assim uma ciência do passado não é melhor nem pior, nem mais correta

Historiografia atual

W. Pagel, A. Debus,P. RattansyDesenvolvida peloCESIMA

Considera as rupturas e também as continuidades da ciência no decorrer do tempo em cada sociedade

História da ciência – perspectiva historiográfica atual (CESIMA)

historiográficaepistemológica

Ciência/ sociedade

Como o historiador da ciência tem acesso aos antigos conhecimentos?

• Fontes Primárias -------- Originais

• Fontes Secundárias ----- LiteraturaSecundária = trabalhos escritos nosdias de hoje sobre o tema selecionado

(tradição historiográfica)

Referencial = pesquisa em andamento

- Registros –Fontes primárias - Originais

• TEXTOS

•IMAGENS

•DOCUMENTOS DA CULTURA MATERIAL

Tipos de Textosconcernentes às artes

• Receituários, livros de segredos

• Tratados sobre as artes, livros de destilação, herbários, livros “como fazer” (Século XVI)

• Manuais das mais diversas artes (século XIX)

RECEITUÁRIOS RELACIONADOS A PRÁTICAS DE ATELIÊ TEM SERVIDO DE FONTES A HISTORIADORES DA QUÍMICA:

• c. séc. III• Papiro X de Leiden• Papiro de Estocolmo

• Séc. VIII• Compositiones ad tingenda

• Séc X

• De artibus Romanorum, atribuído a Eraclius

• Sécs X e XII• Mappae clavicula

• Séc. XIIDiversarum artium schedula,

atrtibuído a Teófilo

• A partir do séc XIVManuscritos diversos trazendo

compilações de receitas de ateliê, por exemplo: os códices 885, 887, 951, 998 do Fundo Palatino depositado na Biblioteca Nacional Central de Florença

Séc. XVI - LIVRETOS “COMO FAZER”

• Montagens de receituários referentes a determinado ofício feitas pelos próprios editores.

• Tiveram grande difusão durante os anos 1530.

• Kunstbüchlein

• “O uso adequado da alquimia”• “Belas habilidades” (iluminação de manuscritos)• “Como remover várias manchas e nódoas de

tecidos”• “Sobre o aço e o ferro”

• Séc. XVI

“Tratados Técnicos” sobre mineração e metalurgia:

• V. Biringuccio, De la Pirotechnia, Veneza, 1540.

• G. Agricola, De re metallica, Basiléia, 1556.

• Séc. XVII

Tratados relacionados às artes decorativas

• A. Bosse, Tratado da Gravura a água forte, e a buril, e em maneira negra com

o modo de construir as prensas

modernas e de imprimir em talho doce.

Trad. Port. Po J. J. V. Menezes. Lisboa, Typographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego, 1801. (1a. Ed. Francesa em 1645).

•Séc. XIX

Manuais sobre as diferentes artes

•Manuais Roret

Fontes para a História da Química

• Registros de antigos conhecimentos sobre a matéria

– Textos originais: manuscritos, textos impressos, correspondência, documentos legais etc.

– Documentos da cultura material: artefatos, instrumentos, obras de arte etc.

Documentos da Cultura Material

• Registros de conhecimentos anteriores à escrita –

• Registros de conhecimentos secretos

(segredos de ofício) – tradição oral

Interesse por antigas técnicas

SHERWOOD TAYLOR, F. “The evolution of the still”, Annals of Science 5 (3, 1945): 185-202.

Buscando termos...

A – cabeça do alambique

B – corpo

C - recipiente

Buscando menções...

• p.186 A primeira menção a algo assemelhado à destilação é encontrado na Metereologica de Aristóteles II.3 358b 16:

“... água salgada quando se torna vapor fica doce, e o vapor não forma sal quando condensa novamente”.

Termos e imagens...• lopaz (lopaz)- termo que comumente

significava panela chata ou frigideira , passou a ser empregado para a parte inferior ou corpo do aparato de destilação.

• ambix (ambix) termo que poderia designar vaso redondo para guardar vinho.

esse termo também era associado a foxiceiloz (foxiceiloz), ou seja, frasco invertido.

• B – αµβιξ

• D - λοπαζ

Reconstrução do aparato para destilação de mercúrio, conforme

Dioscórides

Imagens em manuscritoso aparato de destilação de Maria

Interesse por antigas técnicas

• LEVEY, Martin. “The earliest stages in the evolution of the still”, Isis (1960): 31-4

Interesse por antigas técnicas

• Joseph Needham et alii, “The comingof ardent water”, Ambix 19 (1972): 69-112

• Joseph Needham et alii, “Anexperimental comparison of the EastAsian, Hellenistic, and Indian(Gandharan) stills in relation to thedistillation of ethanol and acetic acid”, Ambix 27 (1980): 69-76

“Então, se estou trabalhando, por exemplo, o processo de envelhecimento, devo desencapar a malha analítica metodológica de minha ciência de origem e ver de que maneira posso conectar os fios ali encontrados com os de outras teorias, que estabeleçam interface com meu objeto de estudo. A conexão desses vários fios através de várias malhas relacionadas me levariam a observar um mesmo objeto de estudo em níveis diferentes”

(A. M. Alfonso-Goldfarb, Kairós 6(2003):63-4

História da ciência – perspectiva historiográfica atual (CESIMA)

historiográficaepistemológica

Ciência/ sociedade

“História da ciência e ensino: abordagens interdisciplinares no Ensino Superior (diagnóstico, formação continuada e especializada de professores)” proc. no. 23038.002603/2013-47.

OBJETO

� análise epistemológica da construção de interfaces entre história da ciência e ensino

exige enfrentar desafios, entre eles o da inter-relação entre dois campos

interdisciplinares

� este projeto dirige-se à formulação de um novo campo interface que requer a construção de estruturas teóricas coerentes e ligadas epistemologicamente às duas áreas de conhecimento

PROJETO ESTRUTURADO EM TRÊS EIXOS

1. Pesquisa sobre os cursos de história da ciência e disciplinas afins oferecidos no ensino superior, a partir dos dados do Censo da Educação Superior e do Cadastro de docentes, bases de dados organizadas pelo INEP e de outras informações fornecidas por instituições selecionadas.

2. Formação de pessoal especializado para atuar em ensino e pesquisa na interface entre história da ciência e ensino, bem como formação continuada de professores por cursos a distância, oficinas e cursos intensivos.

3. Desenvolvimento de materiais instrucionais de história da ciência para formação superior e para ensino básico

� O objetivo geral deste projeto é incrementar o desenvolvimento de pesquisas sobre e na interface entre história da ciência e ensino, considerando as novas tendências historiográficas em história da ciência e suas relações com as diversas posturas pedagógicas atuais, de modo a contribuir com a formação de professores de cursos superiores e da educação básica.

NOSSOS CONTATOS:

� Site do Projeto: http://hcensino.net.br� Revista História da ciência e ensino construindointerfaces: http://revistas.pucsp.br/hcensino

� Revista Circumscribere: http://revistas.pucsp.br/circumhc

� Programa de Estudos Pós-Graduados em História daCiência : www.pucsp.br/pos/hciencia

E-mail: poshciencia@pucsp.br

� CESIMA: http://www.pucsp.br/pos/cesima/

top related