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    Altamir Botoso

    Miscelnea, Assis, vol.7, jan./jun.2010 29

    PPaallaavvrraass iinniicciiaaiiss

    curioso notar o interesse que a literatura e sua histria vm

    despertando em diversos escritores no s do Brasil, mas tambm

    de outros pases. Em nosso pas, a utilizao de escritores cannicos ou no, como

    protagonistas romanescos, vem acentuando-se e aumentando cada dia.

    Ana Miranda uma das escritoras que tem se dedicado a escrever obras

    que os crticos denominam romances histricos. Nos seus livros, a histria doBrasil, a vida e as produes de romancistas e poetas brasileiros converteram-se

    em matria ficcional.

    Levando em considerao estes dados preliminares, pretendemos abordar

    o romanceA ltima quimera, procurando flagrar os aspectos mais significativos de

    sua construo, que mescla fico e histria no seu enredo. Num primeiro

    momento, faremos um comentrio geral de quatro livros da autora Boca do

    inferno(1989),A ltima quimera(1995), Clarice(1999) e Dias e Dias(2003) osquais, de certa forma, podem ser encarados como uma tentativa de recontar a

    histria da literatura brasileira. Em seguida, vamos levantar caractersticas do

    romance A ltima quimera, que nos permitem consider-lo como um romance

    histrico, e analisar o contraste que se estabelece entre Augusto dos Anjos e Olavo

    Bilac (1865-1918). Finalmente, estudaremos a figura do narrador-testemunha e a

    sua importncia dentro do romance selecionado.

    A literatura se alimenta da literatura e da prpria histria literria.Consciente das premissas antropofgicas da fico moderna (GRECCO, 1999, p.

    6), os leitores e a crtica podem constatar que o romance est trilhando novos e

    diferentes rumos, contestando a histria oficial e a histria da literatura que

    encontramos em manuais tradicionais. O presente estudo uma tentativa de

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    verificar como se efetiva o processo de releitura e reinterpretao da histria

    literria brasileira por meio da anlise do romanceA ltima quimera.

    HHiissttrriiaa ee ffiiccoo eemm oobbrraass ddee AAnnaa MMiirraannddaa

    A escritora cearense Ana Miranda publicou uma srie de romances

    histricos nos ltimos anos. O primeiro deles foi Boca do inferno(1989), obra que

    deu flego popularizao do romance histrico em nosso pas, nas ltimas

    dcadas (ESTEVES, 1998, p. 143).

    Este romance tem os escritores Gregrio de Matos (1636-1695) e Antonio

    Vieira (1608-1697) como personagens centrais e vrias caractersticas de suas

    obras, assim como do movimento Barroco, so apresentadas no livro Boca do

    inferno. As antteses vida x morte, cu x inferno, Deus x Diabo, que so marcas

    inconfundveis do estilo Barroco, aparecem por todo o romance. Tambm

    encontramos trechos das poesias e de textos de Gregrio e Vieira ao longo da

    obra.

    EmA ltima quimera(1995), Ana Miranda escreve sobre o poeta Augusto

    dos Anjos, narrando sua vida cheia de frustraes, fracassos, e cujo

    reconhecimento do valor literrio de sua poesia s se deu aps sua morte. Quando

    ele publicou sua nica obra, o livro intitulado Eu (1912), a crtica dividiu-se em

    opinies favorveis e desfavorveis, mas ningum chegou realmente a

    compreender o que ele escreveu.

    Outro personagem que se destaca nesse romance Olavo Bilac. O

    narrador acaba estabelecendo um contraponto entre os dois poetas e entre as

    escolas que os dois representam: Simbolismo e Parnasianismo, respectivamente.

    Da mesma forma que na obra sobre os poetas barrocos, em A ltima

    quimera, deparamo-nos com fragmentos de poemas de Bilac e Augusto dos Anjos

    e comentrios a respeito de suas produes e sobre vrias caractersticas dos

    movimentos Parnasiano e Simbolista.

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    No ano de 1996, Ana Miranda escreveu um pequeno volume de noventa e

    cinco pginas, com o ttulo de Clarice Lispectoro tesouro de minha cidade. Tallivro foi republicado em 1999, com o ttulo de Clarice: fico, pela Companhia das

    Letras.

    Composta de fragmentos, a obra tem como protagonista a escritora Clarice

    Lispector (1926-1977). O seu estilo, personagens e ttulos de suas obras vo

    aparecendo medida que o narrador descreve a sua vida solitria num

    apartamento, ou as suas caminhadas de madrugada, na praia de Copacabana:

    Espera, filho, vou fazer um caf, deixa-me acender um cigarro.Filho, onde estiveste de noite? (MIRANDA, 1999, p. 23).

    A cidade est cheia de moas assim. Uma delas chamada deMacaba. Macaba paira entre os seres humanos, entra na mentede Clarice e nasce.[...] Clarice leva Macaba dentro de si (Idem, p. 34-5).Ele quer ouvir, ela fala e fala, como bom ter algum para nosouvir, sabe, eu matei os peixes, [...] (Idem, p. 66).

    Alm de dados biogrficos da vida de Clarice, aparecem ttulos de suas

    obras Onde estiveste de noite? (1974),A mulher que matou os peixes(1969) e at o personagem Macaba, do seu romance A hora da estrela(1973), est

    presente no texto de Ana Miranda.

    A escritora em apreo pode ser considerada como a renovadora do

    romance histrico brasileiro justamente por buscar, na opacidade ambgua do

    passado, aquilo que, nos documentos e arquivos, lhes lacunar: os elementos

    poticos, psicolgicos e dramticos, em poucas palavras, o sentimento vivo do

    passado.1

    Alm disso, nota-se, na sua produo ficcional, uma clara inteno derevalorizar romancistas brasileiros que foram negligenciados e esquecidos pelos

    crticos literrios e tambm pelo pblico leitor.

    1 Ministrio da Cultura. Ana Miranda. Disponvel em:http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhorsautores/biografias/Ana_Miranda.htm. Acesso em 09 demaio de 2009.

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    No romance Dias e dias (2002), Ana Miranda repete a frmula fico-

    verdade e vai buscar no sculo XIX a histria do poeta Gonalves Dias (1823-1864), marcada pelo esprito romntico. Alis, a linguagem do livro tipicamente

    romntica, assim como a personagem-narradora, a verdadeira protagonista da

    obra, cujo nome Feliciana. O poeta Antonio Gonalves Dias passa a existir por

    meio das recordaes de Feliciana, uma mulher sonhadora que, desde os 12 anos,

    tem um amor platnico pelo poeta, o qual a acompanha por toda a sua vida.

    H, como nos livros anteriores da escritora, o resgate histrico da poca,

    contextualizando seres reais e ficcionais, atravs do delineamento das revoltas queatingiram o Maranho, como o caso da Balaiada uma revolta popular na qual

    os pobres invadem e saqueiam casas de pessoas importantes, que so obrigadas a

    abandonar suas fazendas. A revolta termina com a morte de seus lderes.

    Em Dias e dias, Feliciana parece ser a prpria incorporao do esprito

    romntico oitocentista, conforme afirmao de Eunice Morais (2003, p. 459). Ela

    uma memria ambulante que transforma Gonalves Dias num ser etreo, intocvel

    e, ao mesmo tempo, to presente. Feliciana o sabi, com toda a sua brasilidade,preso na gaiola e com saudades do poeta romntico nacionalista (MORAIS, 2003,

    p. 457-9).

    Nas quatro obras que comentamos, constatamos que Ana Miranda revisita

    a histria da literatura brasileira, partindo do Barroco (Gregrio de Matos e Antonio

    Vieira), passando pelo Romantismo (Gonalves Dias), Parnasianismo e Simbolismo

    (Olavo Bilac e Augusto dos Anjos), at chegar ao Modernismo (Clarice Lispector).

    No deixa de ser instigante o fenmeno de que vrios escritores, nasltimas dcadas, passaram a utilizar autores cannicos e no cannicos da

    literatura brasileira como protagonistas de obras ficcionais. Assim, Bento Teixeira

    (1561-1600) em O primeiro brasileiro (1995), de Gilberto Vilar; Qorpo Santo

    (1829-1883) em Os ces da provncia (1986), de Lus Antonio de Assis Brasil;

    Toms Antonio Gonzaga (1744-1810?) em A barca dos amantes (1991), de

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    Antonio Barreto; Machado de Assis (1839-1908) em Memorial do fim (1991), de

    Haroldo Maranho; Lima Barreto (1881-1922) em Calvrio e porres do pingenteAfonso Henriques de Lima Barreto (1977), de Joo Antonio; Graciliano Ramos

    (1892-1953) no livro Em liberdade (1981), de Silviano Santiago, dentre outros,

    tornaram-se personagens de romances histricos e os leitores puderam entrar em

    contato e, guardadas as devidas propores, conhecer a histria da literatura

    brasileira por outro ngulo: o da fico. Dessa forma, possvel usufruir de uma

    nova viso de nossa literatura, diferente daquelas que encontramos nos manuais

    que elencam perodos, autores e obras, muitas vezes, de forma arbitrria.O romance histrico brasileiro, nos casos mencionados, transformou

    autores e obras ficcionais em matria narrativa, permitindo que o leitor possa

    desfrutar de pontos de vista variados e diversificados sobre a literatura brasileira.

    Ao contrrio dos dogmticos manuais tradicionais, o romance revitalizou a

    literatura e seus escritores, questionou e revalorizou autores marginalizados como

    Bento Teixeira, Qorpo Santo, Augusto dos Anjos etc. e tambm reinventou outras

    facetas de escritores consagrados.Depois de tecidas algumas breves consideraes sobre Ana Miranda e seus

    livros, deter-nos-emos no seu romance A ltima quimera, conforme nos

    propusemos anteriormente.

    AAllttiimmaaqquuiimmeerraa:: ddaa hhiissttrriiaa ppaarraa aa ffiiccoo

    A obra est dividida em cinco partes e cada parte est subdividida em

    subttulos e vrios captulos: A plenitude da existncia Parte Um Rio de

    Janeiro, 12 de novembro de 1914 (14 captulos), Eu (8 captulos), A luz lasciva do

    luar (14 captulos), A triste dama das camlias (10 captulos), O morcego tsico (17

    captulos), p. 9-137; Parte Dois A viagem O terror como leitmotiv (6

    captulos), Uma simplicidade campesina (10 captulos), p. 140-172; Parte Trs

    Leopoldina, MG Lagarta negra (11 captulos), Esther em negro (13 captulos), A

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    lua provinciana (4 captulos), Os tristes vidros violeta (6 captulos), O rosto da

    morte (6 captulos), Um urubu pousou na minha sorte (10 captulos), Et perdez-vous encore le temps avec les femmes(5 captulos), p. 173-282; Parte Quatro

    De volta ao Rio de Janeiro Marca de Fogo (7 captulos), Um mundo infinito (2

    captulos), p. 283-306; Parte Cinco Eplogo A roda da vida (8 captulos), p.

    307-323.

    A autora, como j fizera anteriormente em Boca do inferno, privilegia o

    espao: o romance comea e termina falando da cidade do Rio de Janeiro. Mais

    tarde ainda voltaremos a falar de uma oposio importante que se estabelece noromance entre campo e cidade. Como se pode perceber, a obra est dividida em

    muitos captulos, mas todos so curtos, nunca ultrapassando mais de duas

    pginas, e alguns so apenas pargrafos de poucas linhas. Alis, tambm as frases

    e os pargrafos so curtos. A escritora, que foi roteirista, usa a tcnica

    cinematogrfica dos cortes e cenas rpidas, o que d grande agilidade ao relato.

    Todos estes elementos deixam a leitura agradvel e interessante para o leitor.

    A narrativa inicia-se com a morte do poeta Augusto dos Anjos e o quechama nossa ateno a fidelidade aos dados biogrficos do poeta paraibano. Do

    seu nascimento no Engenho Pau-DArco, em 20/04/1884, at a sua morte em

    Leopoldina, em 12/12/1914, todos os dados so verdicos e, para comprov-los,

    basta consultar, por exemplo, Poesia e vida de Augusto dos Anjos, de Raimundo

    Magalhes Jnior (1977).

    A reconstituio dos fatos histricos do perodo em que o poeta viveu

    tambm extremamente fiel. Alguns exemplos que podemos citar so as disputaspolticas do perodo republicano:

    Uma turbamulta no Catete desfilou aos berros e, diante do palcio,se fizeram discursos incendirios, pedindo a volta de Deodoro. [...]Floriano, que morava na Piedade, ouvindo as notcias dos tumultoscalou seus sapatos e correu para o campo, a p mesmo. [...]Mandou prender um monte de gente, inclusive Jos do Patrocnio,Pardal Mallet e Olavo Bilac. [...] Havia mais de uma dzia de

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    jornalistas presos. [...] Cinco meses depois Bilac foi posto na rua,[...] (MIRANDA, 1995, p. 73-4).

    A Revolta da Chibata:

    Logo que chegaram ao Rio de Janeiro, Augusto e Esther assistirampela janela do sobrado sublevao da marinhagem, podiam veros couraados parados no mar; os canhes [...] durante a revoltaficaram assestados sobre diversos pontos da cidade, como oCatete, o Senado, o Arsenal da Marinha, para a qualquer momentobombarde-la, [...]. Os marinheiros queriam que fossem abolidosos castigos corporais chibata e outros [...] (MIRANDA, 1995,p. 129).

    A modernizao do Rio de Janeiro:

    No cais Mau atravesso uma multido de operrios, passo sob omolhe de ferro galvanizado e ondulado, [...] sentindo o cheirodelicioso do caf nas sacas empilhadas; [...] a fumaa que sai dosnavios enegrece o ar, [...].

    Ao passarmos na avenida, o tlburi toma uma incrvel velocidade,cruzando com outros veculos tambm rpidos, [...]. Peo aococheiro que v mais devagar. Ele conta que uma chuva alegouparte da cidade, [...]. Depois reclama da quantidade deautomveis e carros tirados a cavalos ou burros, [...] j existem

    mais de duzentos automveis licenciados na cidade, ele lamenta(MIRANDA, 1995, p. 287-288).

    Todos os fragmentos citados comprovam um rduo trabalho de pesquisa

    histrica e tambm uma preocupao em retratar os usos e costumes da poca,

    garantindo a verossimilhana do romance.

    No romance histrico tradicional de modelo scottiano, havia dois princpios

    bsicos: 1) criava-se um pano de fundo histrico rigoroso, onde figuras histricas

    reais ajudam a fixar a poca, sendo sempre personagens secundrios, 2) sobreesse pano de fundo histrico se situa a trama fictcia, com personagens e fatos

    criados pelo autor (ESTEVES, 1995, p. 24). J o romance histrico contemporneo

    vai romper o primeiro princpio, ao transformar figuras histricas conhecidas em

    protagonistas, como o caso de Augusto dos Anjos, emA ltima quimera.

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    O crtico Seymour Menton (1993, p. 42-46), no seu livro La nueva novela

    histrica de la Amrica latina: 1979-1992, aponta seis caractersticas do romancehistrico contemporneo, as quais transcrevemos a seguir:

    1- A apresentao mimtica de determinado perodo histrico sesubordina, em diferentes graus, apresentao de algumas idiasfilosficas, segundo as quais praticamente impossvel seconhecer a verdade histrica ou a realidade, o carter cclico dahistria e, paradoxalmente seu carter imprevisvel, que faz comque os acontecimentos mais inesperados e absurdos possamacontecer;2- A distoro consciente da histria mediante omisses,

    anacronismos e exageros;3- A ficcionalizao de personagens histricos bem conhecidos, aocontrrio da frmula usada por Scott;4- A presena da metafico ou comentrios do narrador sobre oprocesso de criao;5- Grande uso da intertextualidade, nos mais variados graus;6- Presena dos conceitos bakhtinianos de dialogia, carnavalizao,pardia e heteroglossia.

    No romance em apreo, s se encontra ausente a caracterstica do item 2,

    uma vez que Ana Miranda empreende um rigoroso cerco histria factual e

    reproduz fielmente episdios e acontecimentos do perodo em que o poeta

    Augusto dos Anjos viveu. O referido escritor uma personalidade histrica

    conhecida e o protagonista da obra, a qual trata de sua vida de escritor

    marginalizado, de sua produo literria que se resume a nico livro publicado

    Eu (1912) e, na construo do texto, notamos trechos de suas poesias, de

    cartas de sua me (D. Mocinha) e de Esther, os quais se encontram amalgamados

    narrativa e, por vezes, difceis de serem localizados e detectados. A carta que

    Esther escreve para D. Mocinha, para informar sobre a doena e a morte de

    Augusto (Cf. MAGALHES JR., 1977, p. 296-298), transformada numa conversa

    entre o narrador e Esther, na parte trs (O rosto da morte cap. 4) (MIRANDA,

    1995, p. 247-248). Todos os dados da carta viram dilogo no romance.

    A presena do fenmeno da intertextualidade e a metafico perpassam

    todo o romance e podem ser observados e comprovados em vrias passagens do

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    enredo. O entrecruzamento de vrios discursos encontra-se marcado pela

    presena das cartas que so assimiladas e transformadas em dilogo e tambmpelos textos de autoria de Augusto dos Anjos que so incorporados matria

    narrada. Desse modo, verifica-se que A ltima quimeraenquadra-se nos moldes

    do romance histrico contemporneo, busca reavaliar a recepo crtica de

    Augusto dos Anjos em sua poca e destaca sua importncia dentro da literatura

    brasileira, convidando crticos e leitores a ler sua obra com um novo olhar, livre

    das crticas severas que o poeta recebeu no passado, numa clara atitude de

    valorizao do escritor e de sua obra.

    SSiimmbboolliissttaass xx ppaarrnnaassiiaannooss:: AAuugguussttoo ddooss AAnnjjooss ee OOllaavvoo BBiillaacc

    Estabelece-se nA ltima quimera um contraponto importante entre

    Augusto dos Anjos e Bilac. O primeiro, marginalizado, incompreendido por leitores

    e crticos, sendo obrigado a se mudar constantemente, por no poder pagar

    aluguis, quase s portas da misria e o segundo, bomio, viajando sempre para a

    Europa, aclamado e apreciado pelos leitores e pela crtica.

    o prprio Augusto quem se define como um sujeito azarado, deserdado

    pela sorte, nas pginas iniciais do livro:

    H em mim, no sei por que sortilgio de divindades malvadas,uma tara negativa irremedivel para o desempenho de umastantas funes especficas da ladinagem humana. O que euencontro dentro de mim uma coisa sem fundo, uma espcieaberratria de buraco na alma, e uma noite muito grande e muito

    horrvel em que ando, a todo instante, a topar comigo mesmo, [...](MIRANDA, 1995, p. 23-24).

    O fragmento acima um desabafo do personagem porque Esther tivera

    um aborto. No entanto, podemos perceber tambm que a pobreza o incomoda. Ele

    no consegue um emprego fixo, apenas promessas de polticos e de amigos que

    nunca se cumprem. Ele no tem a ladinagem humana necessria para obter um

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    bom emprego, falta-lhe esperteza para viver num mundo onde a corrupo, a

    mentira e a falta de carter j eram fatores dominantes.Se Augusto no capaz de se adaptar realidade que o cerca, ficando

    sempre margem, inconformado, mas impotente diante das injustias que se

    sucedem em sua vida, Olavo Bilac o seu oposto. Leva uma vida de prazeres,

    junto a amigos e prostitutas, viaja para a Europa (sua cidade preferida Paris).

    Bilac um morador da cidade, marcado pela modernidade, enquanto Augusto o

    sujeito tmido, que veio do campo:

    Como explicar a alma de Augusto? Mesmo sua prpria alma, a dosenhor Bilac, to luminosa, visvel, que produz uma poesia voltadapara o amor e as estrelas, contm um enigma. Alm disso, osenhor Bilac um homem nascido numa cidade e assim, talvez,

    jamais possa entender o que algum vindo de uma vrzea midapor cujo fundo passa um rio de guas negras, de uma coloraoquase to escura quanto a noite e, como ela, de uma sombradensa, profunda mas, paradoxalmente, repleta de mil matizes; umrio to misterioso que parece carregar em suas guas a prpriamorte. [...] Um lugar povoado por uma aristocracia rural comantepassados portugueses, holandeses, franceses, [...] uma gente

    quieta, murcha, [...] fechada em suas alcovas, [...] (MIRANDA,1995, p. 28-9).

    As diferenas entre as vidas dos dois poetas so profundas. A paz e a

    solido do campo transformaram Augusto num ser silencioso, contemplativo e

    taciturno, ao passo que Bilac o seu oposto, um habitante da metrpole:

    extrovertido, falante, participante ativo da vida poltica do pas, o que acarreta sua

    priso e o leva a se refugiar por algum tempo em Minas Gerais.

    Ambos divergem tambm quanto aos temas tratados em suas obras. Na

    poesia de Augusto dos Anjos, observa-se uma angstia funda, letal, ante a

    fatalidade que arrasta toda a carne para a decomposio, e ele canta a misria

    da carne em putrefao (BOSI, 1994, p. 289):

    Ele mesmo se tornara um demnio para escrever seus versos e ostmulos, os vermes, os esqueletos mrbidos, a noite funda, opoo, os lrios secos, os sbados de infmias, os defuntos no cho

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    frio, a mosca debochada, as mos magras, a energmena grei dosbrios da urbe, [...] a mandbula inchada de um morftico de

    orelhas de um tamanho aberratrio, um sonho inchado, podre,todos estes elementos da imaginao de Augusto no passavam degracejos infernais (MIRANDA, 1995, p. 28).

    A morte e a putrefao da carne so temas que esto sempre presentes

    na produo artstica de Augusto dos Anjos. Os temas de Bilac so completamente

    diferentes:

    Assim como Augusto falava continuamente na morte e seuscorrelatos, Bilac trata das estrelas, diz que tm olhos dourados,

    que h entre elas uma escada infinita e cintilante; suas estrelasfalam, abrem as plpebras, o senhor Bilac vive cercado decentenas, milhares, milhes de estrelas, da Via Lctea, de umanuvem coruscante, da estrela-mulher, da estrela-virgem, perdidono seio de uma estrela (MIRANDA, 1995, p. 59-60).

    O firmamento, o universo, estrelas e, sintomaticamente, mulheres-estrelas

    revelam que as preocupaes e inquietaes de Bilac dirigem-se para um plo

    positivo: vida, em oposio ao tema da morte, predominante em Augusto dos

    Anjos.

    Se Augusto dos Anjos foi sempre perseguido pela infelicidade e por

    desgraas, Olavo Bilac teve mais sorte, foi cortejado pelos poderosos, frequentou

    assiduamente a sociedade da poca e, aparentemente, no teve problemas

    financeiros:

    Creio que agora [Bilac] est indo para alguma palestra literria.Desde que comeou a guerra europia, ele se empenhou napropaganda de servio militar compulsrio e tem sidohomenageado pelo Exrcito, militares de alta patente o festejamem suas casas com banquetes, o clube Naval o recebe comcerimnias. [...]Bilac [...] o poeta do Palace Theatre, muitas vezes Prncipe dosPoetas eleito por notveis, o poeta da Cultura Artstica, o poeta da

    Agncia Americana, amigo dos poderosos, autor de planosextraordinrios, um gentleman, diretor do Pedagogium, secretriodo prefeito e, para sua desgraa, com fama de rico, o que deve sera causa maior da inveja que provoca por a (MIRANDA, 1995, p.303-305).

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    No podemos esquecer que, na juventude, Bilac lutara contra o governo

    de Floriano Peixoto e chegara at a ser preso por isso. Com a idade e oamadurecimento, a atitude de rebeldia cedeu lugar acomodao, e ele passa a

    apoiar as ideias, os valores e as ideologias governistas. Dessa maneira, no

    podemos estranhar a sua total aceitao pela sociedade, pelo governo e pelos

    militares. Tais dados comprovam o sortilgio, a plena aceitao e o prestgio

    alcanado pelo Prncipe dos Poetas.

    Contudo, no fim do romance, as distncias que separavam os dois poetas

    campo e cidade e os temas de suas poesias diluem-se e ambos igualam-sena morte. Augusto viveu modestamente e morreu na pobreza, em Leopoldina-MG,

    ao lado da esposa, e recebendo o apoio de alguns poucos amigos que conquistara

    nessa cidade. Bilac, no fim da vida, adoece, afasta-se dos amigos bomios e da

    vida noturna, torna-se um infeliz solitrio, e morre em sua casa, no seu quarto

    com as janelas fechadas e as cortinas vedando a luz (MIRANDA, 1995, p. 319). A

    morte equipara-os, irmana-os, enfim, nivela-os na condio de seres humanos que

    tm sempre o mesmo destino.

    UUmm nnaarrrraaddoorr qquuiimmrriiccoo

    O narrador de A ltima quimera, alm da sua funo de narrar a histria

    para o leitor, tambm personagem, ainda que secundrio, dentro do enredo do

    romance. Qualquer anlise que se faa desse livro, deve lev-lo em considerao,

    uma vez que ele quem transmite os fatos e se centram nele a viso e a voz do

    relato.

    O narrador-testemunha narra em 1. pessoa, mas um eu j interno

    narrativa, que vive os acontecimentos a descritos como personagem secundria

    que pode observar, desde dentro, os acontecimentos, e, portanto, d-los ao leitor

    de modo mais direto, mais verossmil (LEITE, 1987, p. 37). Como testemunha, o

    ngulo de viso mais restrito, pois ele s pode contar os fatos que v, ouve e

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    dos quais participa. Ele pode tambm lanar mos de hipteses, questionamentos,

    mas no consegue saber o que se passa na cabea dos outros personagens(LEITE, 1987, p. 38).

    A utilizao de um narrador deste tipo cria uma cumplicidade entre

    narrador e leitor porque o narrador vai narrar somente o que descobre, dividindo

    suas descobertas, opinies e impresses com o leitor, tornando-o co-participante

    das peripcias narradas.

    No romance de Ana Miranda, o fato que deflagra o relato o encontro, na

    rua, entre o narrador e o poeta Olavo Bilac. Ele fala a Bilac sobre a morte deAugusto dos Anjos e declama Versos ntimos. A crtica de Bilac severa e cida:

    Olha para os lados. Num impulso sbito deseja livrar-se de mim.Pois se quem morreu o poeta que escreveu esses versos, elediz, ento no se perdeu grande coisa. E parte, caminhandodepressa, como se fugisse.[...] Mas esta a verdade, sem mscara: Olavo Bilac no apreciouo poema (MIRANDA, 1995, p. 13-4).

    Esta cena baseia-se num fato realmente ocorrido, como atesta Otto Maria

    Carpeaux na orelha do livro de Augusto dos Anjos: Toda a poesia (1976), que

    contm, alm das poesias do livro Eu, poemas escritos entre 1900 e 1914, no

    recolhidos em livro pelo autor. Carpeaux comenta a obra do poeta paraibano e

    declara que

    ningum o compreendeu, ningum lhe leu os versos nos cafssuperficialmente afrancesados do Rio de Janeiro, e conhecida acena de um de seus raros admiradores que leu um soneto de

    Augusto dos Anjos a Olavo Bilac e recebeu a resposta desdenhosa:

    este o seu grande poeta?.

    O raro admirador foi transformado em narrador por Ana Miranda.

    Curiosamente, o nome de tal admirador desconhecido e, no romance, o nome do

    narrador no nos revelado em nenhum momento. Ficamos sabendo que ele

    apaixonado por Esther, amigo de infncia de Augusto dos Anjos, tm vrios

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    encontros com Olavo Bilac e possui uma chcara em Botafogo, na qual vive com

    Camila, uma doente tuberculosa e quase adolescente.O narrador/personagem poeta e frequenta a casa de Augusto e Esther

    com assiduidade. Mesmo com as mudanas rotineiras do casal, ele mantm-se

    sempre em contato. Com a morte de Augusto, tem esperanas de conquistar

    Esther que, entretanto, acaba casando-se com um professor do grupo escolar de

    Leopoldina, conhecido como Caboclinho. Preterido por Esther, ele consola-se com

    Camila: Mas estou feliz com Camila. Nunca mulher alguma tratou-me com tanto amor e

    respeito, at mesmo adorao. Perdoou-me por t-la abandonado. Livrou-se datuberculose, embora viva sempre presa a cuidados especiais(MIRANDA, 1995, p. 317).

    O narrador o nico a ter um final feliz, pois Augusto fora sempre infeliz,

    uma vtima de fatalidades e injustias, e Bilac, no fim da vida, tornou-se recluso,

    alheio ao mundo exterior que tanto o seduzia na juventude, e ambos morrem

    solitrios e esquecidos.

    Todos os fatos sobre a vida de Augusto, Esther, seus parentes e eventos

    histricos da poca foram recontados fielmente pela autora e podem serfacilmente comprovados, por exemplo, no livro Poesia e vida de Augusto dos

    Anjos, de Raimundo Magalhes Jnior (1977). Contudo, todos os eventos

    relacionados ao narrador, Camila, aos encontros daquele com Bilac e mesmo a

    convivncia com Augusto e Esther so fictcios ou, pelo menos, no h nenhuma

    documentao que comprove a existncia de um amigo de infncia e que o tenha

    acompanhado e estado presente nos momentos mais importantes de sua vida.

    Um fato que confirma nossa interpretao o captulo final da obra, noqual o narrador afirma ter recebido o ttulo de Prncipe dos Poetas. Pelo que

    sabemos, apenas Olavo Bilac e Alberto de Oliveira receberam tal honraria, em

    1913 e 1924, respectivamente (BOSI, 1994, p. 220 e 227). Observemos a

    passagem em que se d o encontro do narrador com uma jovem e ocorre o fato

    que comentamos:

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    Numa madrugada, estou saindo de uma farmcia quando ouo avoz de algum a me cumprimentar [...]. Falamos alguns minutos

    sobre Augusto, ela demonstra conhecer muito bem a obra e a vidado poeta, chega a comentar algo sobre minha infncia passada

    junto dele, no Engenho do Pau DArco.Ela me diz que leu meus livros de poesias, que me admira muito,que ficou feliz de me ver eleito o Prncipe dos Poetas, que elatambm escreve versos, e pede para recitar um deles para mim.[...]

    Apressado, com os remdios de Camila nas mos, mal ouo aspalavras que a moa recita (MIRANDA, 1995, p. 322).

    Uma possvel interpretao que podemos dar ao narrador/personagem a

    de que ele a quimera do ttulo da obra e da epgrafe do escritor Jorge Luiz

    Borges (1899-1986), que aparece no incio do livro. A referida epgrafe ocupa as

    pginas 5 e 6 da edio que estamos utilizando e nelas o escritor argentino

    procura desvendar os sentidos do vocbulo quimera, partindo de seu

    aparecimento na Ilada, depois comenta o seu uso na Eneida, at chegar ao

    significado que se encontra nos dicionrios: [...] la palabra [quimera] queda, para

    significar lo imposible. Idea falsa, vana imaginacin, [...]. Portanto, quimera

    supe sonho e por extenso, inveno/criao e, portanto, umnarrador/personagem quimrico quem narra as poucas aventuras e as muitas

    desventuras do poeta paraibano Augusto dos Anjos.

    PPaallaavvrraass ffiinnaaiiss

    Ao romance, nas ltimas dcadas, coube a faanha de reler a histria, pr

    em dvida posies e fatos encarados como dogmas e dar verses sobreacontecimentos e verdades camufladas por governos ditatoriais e totalitrios.

    Mas no foi s no terreno da histria oficial que o romance empreendeu

    releituras e reinterpretaes. Ele voltou-se tambm para a prpria histria da

    literatura brasileira, transformando autores conhecidos ou no, em personagens

    ficcionais e suas obras em matria narrativa.

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    Ana Miranda faz parte de um grupo de escritores que passou a tratar, em

    seus romances, da vida e das obras de romancistas e poetas brasileiros. Quatro deseus romances Boca do inferno,A ltima quimera, Claricee Dias e dias tm

    autores brasileiros como personagens (Gregrio de Matos, Augusto dos Anjos,

    Clarice Lispector e Gonalves Dias). Verifica-se uma progresso que abarca a

    maioria dos movimentos literrios do Brasil: Barroco, Romantismo, Parnasianismo,

    Simbolismo e Modernismo. Com essas obras, pode-se considerar que a autora

    empreende uma releitura da histria da literatura brasileira com o objetivo de

    valorizar e repensar a atitude dos crticos em relao aos escritores mencionados.Em A ltima quimera, Ana Miranda criou um narrador quimrico para

    relatar as fortunas e adversidades do poeta Augusto dos Anjos. O referido

    narrador fornece aos leitores da obra elementos que permitem reler dados da vida

    e da obra do marginalizado poeta paraibano e propicia, dessa maneira, uma

    releitura e uma revalorizao do escritor e de sua produo artstica.

    RReeffeerrnncciiaass bbiibblliiooggrrffiiccaass

    ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

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    Altamir Botoso

    Miscelnea, Assis, vol.7, jan./jun.2010 45

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    Artigo recebido em 10/05/2009 e publicado em 13/04/2010.