alho - sistema de produção cnph

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Especial - Como cultivar A produçªo brasilei- ra de alho teve sig- nificativos aumen- tos nos œltimos trŒs anos, estabele- cendo novos recordes de produçªo a cada ano. Nesse período a produçªo aumen- tou em cerca de 18,5% e mesmo com a reduçªo da Ærea plantada de 2002 para 2003, o volume produzido passou 114.144 para 120.879 toneladas por ano. Nos 14.940 hectares cultivados em 2003, foi obtida uma produtividade mØdia recorde de 8.091 kg/ha. O mercado brasileiro ainda depen- de grandemente de importaçıes de alho. Em 2003 foram importadas 78.163 to- neladas de países como Argentina, Chi- na e Espanha, tradicionais exportadores de alho para o Brasil. Sªo utilizadas men- salmente cerca de 10 mil toneladas para consumo que, juntamente com uma ne- cessidade de 30 mil toneladas anuais para alho-semente, gera um consumo mØdio anual de 150 mil toneladas de alho no mercado interno brasileiro. Os Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, GoiÆs e Bahia respondem por 90% da produçªo brasileira de alho. Dentre eles destacam- se Bahia, GoiÆs e Minas Gerais, respon- sÆveis pelo grande avanço quantitativo e qualitativo da alhicultura nacional. Em 2003, Minas Gerais e GoiÆs tornaram- se os maiores produtores de alho do Brasil e suas produtividades mØdias ultrapas- saram 10 t/ha. Este sucesso deve-se aos incrementos no uso de tecnologias como mecanizaçªo da maioria dos tratos cul- turais e da colheita, racionalizaçªo da irrigaçªo, adensamento de plantio, uso de cultivares de alho nobre, vernaliza- çªo e melhoria na qualidade da semente utilizada. A cultura exige, em mØdia, mªo-de- obra equivalente a 240 dias/homens/ha, gerando emprego para homens, mulhe- res e jovens, que assim permanecem no meio rural, evitando o Œxodo para as grandes cidades. O custo de produçªo da cultura Ø elevado, em mØdia de 10 a 12 mil reais por hectare, podendo che- gar a 20 mil reais em propriedades mais tecnificadas. PRODU˙ˆO E SELE˙ˆO DE ALHO-SEMENTE O alho-semente representa a maior despesa do custo de produçªo da cultu- ra. A quantidade necessÆria depende do tamanho, peso dos bulbilhos e do espa- çamento de plantio. As reservas nutriti- vas do bulbilho podem suprir as neces- sidades da planta por vÆrios dias, e por esta razªo, nªo se deve plantar bulbilhos pequenos. Para plantar 1 hectare sªo Grande mercado Grande mercado A produção de alho pode evitar a importação de mais de 70 mil toneladas anuais, necessárias para atender a demanda pelo produto Marco Antônio Lucini O custo de produçªo da cultura Ø elevado, em mØdia de 10 a 12 mil reais por hectare, podendo chegar a 20 mil reais em propriedades mais tecnificadas

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Page 1: alho - sistema de produção CNPH

� Especial - Como cultivar

Aprodução brasilei-ra de alho teve sig-nificativos aumen-tos nos últimostrês anos, estabele-

cendo novos recordes de produção a cadaano. Nesse período a produção aumen-tou em cerca de 18,5% e mesmo com aredução da área plantada de 2002 para2003, o volume produzido passou114.144 para 120.879 toneladas por ano.Nos 14.940 hectares cultivados em2003, foi obtida uma produtividademédia recorde de 8.091 kg/ha.

O mercado brasileiro ainda depen-de grandemente de importações de alho.Em 2003 foram importadas 78.163 to-neladas de países como Argentina, Chi-na e Espanha, tradicionais exportadoresde alho para o Brasil. São utilizadas men-salmente cerca de 10 mil toneladas paraconsumo que, juntamente com uma ne-

cessidade de 30 mil toneladas anuais paraalho-semente, gera um consumo médioanual de 150 mil toneladas de alho nomercado interno brasileiro.

Os Estados do Rio Grande do Sul,Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás eBahia respondem por 90% da produçãobrasileira de alho. Dentre eles destacam-se Bahia, Goiás e Minas Gerais, respon-sáveis pelo grande avanço quantitativoe qualitativo da alhicultura nacional. Em2003, Minas Gerais e Goiás tornaram-se os maiores produtores de alho do Brasile suas produtividades médias ultrapas-saram 10 t/ha. Este sucesso deve-se aosincrementos no uso de tecnologias comomecanização da maioria dos tratos cul-turais e da colheita, racionalização dairrigação, adensamento de plantio, usode cultivares de alho nobre, vernaliza-ção e melhoria na qualidade da sementeutilizada.

A cultura exige, em média, mão-de-obra equivalente a 240 dias/homens/ha,gerando emprego para homens, mulhe-res e jovens, que assim permanecem nomeio rural, evitando o êxodo para asgrandes cidades. O custo de produçãoda cultura é elevado, em média de 10 a12 mil reais por hectare, podendo che-gar a 20 mil reais em propriedades maistecnificadas.

PRODUÇÃO E SELEÇÃODE ALHO-SEMENTEO alho-semente representa a maior

despesa do custo de produção da cultu-ra. A quantidade necessária depende dotamanho, peso dos bulbilhos e do espa-çamento de plantio. As reservas nutriti-vas do bulbilho podem suprir as neces-sidades da planta por vários dias, e poresta razão, não se deve plantar bulbilhospequenos. Para plantar 1 hectare são

GrandemercadoGrandemercado

A produção de alho pode evitar a importação de mais de 70 miltoneladas anuais, necessárias para atender a demanda pelo produto

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O custo deprodução da

cultura éelevado, em

média de 10 a 12mil reais por

hectare, podendochegar a 20 mil

reais empropriedades

mais tecnificadas

Page 2: alho - sistema de produção CNPH

Como cultivar - Especial �

necessários aproximadamente 600 a1.200 kg de bulbilhos, que permitirá ob-tenção de estandes variando de 400 a450 mil plantas por hectare, dependen-do do espaçamento utilizado.

Deve-se sempre usar alho-sementepróprio ou de origem conhecida. Paraprodução própria de alho-semente o pro-dutor deve tomar os seguintes cuidados:

� Separar uma área específica paraprodução de alho-semente, de preferên-cia isolada de plantios comerciais de alho,cebola, cebolinha, etc.

� Selecionar bulbos de boa qualida-de para utilizar como alho-semente, eli-minando aqueles fora do padrão da cul-tivar, mal formados, com enfermidadese sintomas ou danos de pragas;

� Armazenar os bulbos selecionadospara semente em local seco e ventiladoaté o plantio;

� Debulhar os bulbos somente 15 a20 dias antes do plantio para não cho-char os bulbilhos (deve-se tomar bastan-te cuidado para não machucar os bulbi-lhos)

� Classificar os bulbilhos por tama-nho, usando para isso peneiras commalhas específicas (Tabela 1) e utilizarpara plantio somente aqueles retidos naspeneiras 1,2 ou 3.

� Ao separar os bulbos para a pro-dução própria de alho-semente, levar emconsideração a proporção de 1 para 10,ou seja, 1 kg de bulbilhos plantados pro-duzirá 10 kg de bulbos-semente na co-lheita.

TRATAMENTO DOALHO-SEMENTEAlgumas pragas disseminadas pelos

bubilhos devem ser eliminadas antes doplantio. A prevenção contra o ataque dapodridão-branca (Sclerotium cepivorum)pode ser feita pelo tratamento dos bul-bilhos com iprodione ou procimidone.No caso de Fusarium sp. e Penicilliumsp., com cercobin ou benomil. O nema-tóide Ditylenchus dipsaci é controladopela imersão dos bulbilhos em água porquatro horas seguida de outra imersãopor mais quatro horas em hipoclorito de

sódio a 2,5% (ou água sanitária a 1%).Após o tratamento com o hipoclorito desódio deve-se colocar os bulbilhos emágua corrente por 15 minutos. Este tra-tamento tem também efeito contra fun-

gos e ácaros infestantes externos. Con-tra ácaros, tem sido feita a imersão dosbulbilhos pré-plantio numa solução detiometom 0,4% por 10 minutos.

VERNALIZAÇÃO DOALHO-SEMENTEAs cultivares originárias do Sul do

Brasil, tais como Caçador, Jonas, Ito,Quitéria, Contestado, Roxo Caxiense eChonan, para plantio nas regiões Sudes-te, Centro-Oeste e Nordeste, devem servernalizadas em temperaturas que vari-am de 3 a 5oC, umidade relativa de 70 a80%. O período de armazenamento nacâmara fria varia conforme a época deplantio, sendo de 50 a 60 dias nos plan-tios de abril/março e de 40 a 45 dias nosplantios de junho/maio.

Nas cultivares de alho nobre subme-tidas à vernalização, é muito importan-te que os manejos de irrigação e da adu-bação nitrogenada sejam feitos correta-mente para evitar o pseudoperfilhamen-to, responsável por perdas superiores a10% em plantios comerciais. O nitrogê-nio aplicado em cobertura deve ser divi-dido em duas aplicações: uma antes eoutra logo após a diferenciação do bul-

bo, isto é, quando o bulbilho recém for-mado estiver do tamanho de um grãode arroz. A irrigação também deve sersuspensa ou reduzida no período de di-ferenciação do bulbo. O estresse hídrico

deve ser iniciado entre 40 e 50 dias apóso plantio por cerca de 15 a 20 dias de-pendendo do vigor vegetativo das plan-tas. Após esse período a irrigação deveretornar aos níveis normais recomenda-dos para a cultura.

O plantio e o período de vernaliza-ção devem ser bem planejados, de ma-neira que os bulbilhos não fiquem forada câmara além de seis dias entre a reti-rada da câmara e o plantio. Deve-se ini-ciar o plantio quando a temperaturamédia diária for menor que 20oC; a tem-peratura ideal é em torno de 15oC.

O ciclo cultural dos alhos submeti-dos ao tratamento de frio pré-plantioreduz-se significativamente, variando de90 a 130 dias, de acordo com a época deplantio, com as condições climáticas dacâmara fria e com o período de vernali-zação. Para o alho comum que não ne-cessita de vernalização o ciclo culturalvaria de 150 a 180 dias.

CLIMAADEQUADOPara um bom desenvolvimento ve-

getativo e produtividade, a cultura exigetemperaturas amenas (18 a 20oC) na fase

Para plantar um hectare são necessários cerca de 600 a 1200 Kg de bulbilhos

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Para um bomdesenvolvimentovegetativo eprodutividade, acultura exigetemperaturasamenas (18 a20oC) na faseinicial do ciclo,temperaturasmais baixas (10 a15oC) durante operíodo debulbificação etemperaturasmais elevadas(20 a 25oC) nafase dematuração

Page 3: alho - sistema de produção CNPH

� Especial - Como cultivar

inicial do ciclo, temperaturas mais bai-xas (10 a 15oC) durante o período debulbificação e temperaturas mais eleva-das (20 a 25oC) na fase de maturação.

O fotoperíodo ou comprimento dodia (número de horas entre o nascer e opôr-do-sol) exerce influência sobre abulbificação, e neste aspecto cada culti-var tem sua exigência própria. Em con-dições de fotoperíodo insuficiente, ocorrecrescimento vegetativo, sem formação debulbos. As cultivares originárias do Suldo Brasil, tais como Chonan, Quitéria,Caçador, Jonas e Ito, que exigem maisde 14 horas diárias de luz e temperatu-ras mais baixas, somente bulbificam nasregiões Sudesde, Centro-Oeste e Nor-deste quando os bulbos são submetidosà frigorificação em pré-plantio.

CULTIVARES E ÉPOCADE PLANTIOAs cultivares de alho nobre mais

plantadas e com melhores característi-cas comerciais são Caçador, Quitéria,Jonas e Chonan. Dentre as cultivares dealho comum, Amarante, Gigante Laví-nia, Gigante Roxo e Gravatá são as maisutilizadas.

O período de plantio se estende dasegunda quinzena de fevereiro até o iní-cio de maio nas regiões Sudeste, Cen-tro-Oeste e Nordeste. Porém, as melho-res épocas de plantio são os meses demarço e abril. Temperaturas relativa-mente baixas, seguidas por fotoperíodoscrescentes, favorecem o desenvolvimen-to das plantas e estimulam a bulbifica-ção. Próximo à colheita, a ocorrência detemperaturas mais altas promovem amaturação dos bulbos. Essas condiçõesocorrem nessa ordem no Brasil entremarço e outubro.

Na região Sul o plantio é feito a par-tir de meados de maio até final de julho.No caso de plantios muito antecipados,a fase juvenil de crescimento da plantacoincide com as condições climáticas quefavorecem a incidência de queima oumancha púrpura das folhas. Por outrolado, plantios tardios favorecem o apa-recimento da ferrugem, coincidência da

colheita com o início do período chuvo-so, e também a produção de bulbos pe-quenos.

De Norte a Sul do país, o alho é plan-tado entre março e julho e colhido entreagosto e dezembro. No Sul, pode-seplantar cultivares tardias, enquanto queno centro e norte, as cultivares precocese de ciclo médio são mais indicadas.

ESCOLHA DOTERRENODeve-se dar preferência a solos le-

ves, de textura média, ricos em matériaorgânica, planos ou ligeiramente incli-nados para permitir um bom preparo doterreno.

Em solos bem drenados, o encan-teiramento não é necessário, mas dese-jável. Entretanto, em terrenos sujeitos aencharcamento, este procedimento éindispensável. O encanteiramento faci-lita os tratos culturais e as operações decolheita. Devem-se evitar solos muitosargilosos, por dificultarem a colheita, eos arenosos, porque não retêm a umida-de e os nutrientes. Escolhido o terreno,deve-se retirar amostras do solo e enviarao laboratório para fazer a análise quí-mica.

PREPARODO SOLOÉ aconselhável fazer uma aração com

profundidade mínima de 20 cm e umaou duas gradagens, procurando deixar osolo bem destorroado. A aração deve serfeita 45 a 60 dias antes do plantio, se-guida da primeira gradagem para me-lhor incorporação do corretivo ao solo.A segunda gradagem deve ser feita bempróximo ao plantio, para que o terrenofique bem destorroado.

O encanteiramento pode ser feitomanualmente ou com auxílio de um ro-toencanteirador. Os canteiros devem terentre 1 e 1,20 m de largura com carrea-dores de 20 cm separando os canteiros.O comprimento dos canteiros varia deacordo com o terreno e sempre respeitaras curvas de nível, para protegê-los daerosão.

CALAGEM EADUBAÇÃOO alho se desenvolve bem numa fai-

xa de pH entre 5,5 e 6,5. O índice desaturação de bases ideal deve estar emtorno de 70%. A calagem fornece cálcio(Ca) e magnésio (Mg) como nutrientese elimina os efeitos tóxicos do alumínio(Al), manganês (Mn) e ferro (Fe).

Deve-se preferir o calcário dolomíti-co ou magnesiano, a fim de manter umaboa relação cálcio:magnésio. A relaçãoCa:Mg é importante no balanço de ab-sorção de magnésio. A relação ideal doCa e Mg para a cultura do alho é 4:1.

O alho apresenta boa resposta à adu-bação orgânica, que pode ser feita tantona forma de composto de esterco de gadoou de aves completamente curtido. Parao esterco de gado ou composto, a quan-tidade recomendada é de 30 t/ha. Quan-do o esterco for de galinha, recomendam-se 10 t /ha.

A adubação química deve ser feitade acordo com os resultados da análisedo solo, conforme indicado na tabela 2.

Deve-se tomar cuidado com o nitro-gênio (N), pois este nutriente em exces-so pode provocar o pseuperfilhamento,principalmente em cultivares mais sen-síveis a este distúrbio. Nas cultivares deciclo mediano, menos sensíveis ao su-perbrotamento, a dosagem recomenda-da no nitrogênio deve ser parcelada, sen-do 1/3 no plantio e o restante dividido:metade aos 30 dias e a outra metade 60dias após a emergência. Para as cultiva-res suscetíveis ao superbrotamento re-comenda-se uma adubação com N noplantio e outra logo após a diferenciaçãodo bulbo, ou seja após 60 dias do plan-tio. Se o produtor optar pelo parcelamen-to da adubação nitrogenada de cobertu-ra � a primeira dever ser feita antes dos30 dias após o plantio e a segunda de-pois dos 60 dias do plantio.

PLANTIO, COBERTURAMORTA E IRRIGAÇÃOO espaçamento mais indicado para

o plantio do alho é de 20 a 30 cm entre

...

De Norte a Suldo país, o alho é

plantado entremarço e julho e

colhido entreagosto e

dezembro. NoSul, pode-se

plantar cultivarestardias, enquanto

que no centro enorte, as

cultivaresprecoces e de

ciclo médio sãomais indicadas

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Como cultivar - Especial �

Tabela 1. Classificação de bulbilhos de alho em função do tamanho (Portaria nº 242 de17/09/1992 do Ministério da Agricultura, Pecuária de Abastecimento (MAPA)

NUTRIENTES

N (kg ha)P2O5 (kg ha)K2O (kg ha)Bórax (kg ha)Sulfato de Zinco (kg ha)Sulfato de Magnésio (kg ha)

Disponível no solo - K: muito baixo (<20), baixo (21-50), médio (51-90), alto (91-140), muito alto (>140)- P: muito baixo (<16), baixo (16-32), médio (32-48), alto (48-72), muito alto (>72)

CLASSES

76543

DIÂMETRO TRANSVERSAL (mm)

Mais de 56mais de 47 até 56mais de 42 até 47mais de 37 até 42mais de 32 até 37

Tabela 2. Adubação mineral NPK e de outros nutrientes sugerida para culturado alho de acordo com o nível destes nutrientes no solo.

Tamanho bulbilho

GraúdoMédioPequenoMiúdoPalito

Peneira

1234-

Malha (mm)

15 x 2510 x 208 x 175 x 17

< 5 x 17

Peso médio bulbilho (g)

4321-

Gasto de bulbihos (kg ha)

1.200900600300

-

NÍVEL DO NUTRIENTE NO SOLO

MÉDIO80

200601530150

ALTO80150401530150

BAIXO80250801530150

as fileiras por 7 a 10 cm entre as plantasna linha. Normalmente, os bulbilhos sãoplantados a uma profundidade de 2 a 3cm. O plantio em fileiras duplas utili-zando canteiros mais largos (1,10 a 1,30m) tem sido preferido por alguns pro-dutores, permitindo simultaneamenteuma melhor aeração e um maior aden-samento da cultura. Nesse caso utilizam-se espaçamentos de 30 a 40 cm entrefileiras duplas, 10 a 12 cm entre fileirassimples e 7 a 10 cm entre plantas.

O plantio pode ser feito em sulcosou pequenas covas no sentido longitu-dinal ou transversal do canteiro. No casode plantios sem canteiros, as linhas deplantio devem respeitar as curvas de ní-

vel. O plantio, na maioria dos casos, émanual. Não é necessário que os bulbi-lhos sejam plantados com o ápice paracima. Entretanto, a maioria dos produ-tores adotam essa prática para facilitar aemergência da cultura.

A cobertura morta é uma práticaopcional utilizada em algumas regiõesprodutoras de alho no Brasil. Seu usodepende da disponibilidade de mate-rial para cobertura, custo de transpor-te e distribuição do mesmo. Logo apóso plantio, cobre-se o solo com uma ca-mada de 5 a 10 cm de capim, palha ououtros tipos de restos vegetais dispo-níveis na propriedade. A coberturamorta deve ser seca e não deve contersementes. Ao final do ciclo, essa co-bertura pode ser incorporada ao solocomo matéria orgânica.

O alho é cultivado na época seca doano nas regiões Sudeste, Centro-Oestee Nordeste e, por isso, a irrigação é fun-damental, influenciando decisivamentena produção do alho. As irrigações poraspersão, microaspersão e pivô centralem grande áreas são as mais usadas atu-almente, pois promovem melhor distri-buição da água, além de exercer efeitono controle de ácaros e tripes pelo im-pacto da água.

O turno de rega por aspersão podeser de dois dias nos primeiros 30 dias,

Tabela 3. Classificação dos bulbos de alho destinados a comercialização em classesconforme o diâmetro transversal do bulbo

Para o alho comum, que não necessita de vernalização, o ciclo varia de 150 a 180 dias

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O alho écultivado naépoca seca doano nas regiõesSudeste, Centro-Oeste e Nordestee, por isso, airrigação éfundamental,influenciandodecisivamente naprodução do alho

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� Especial - Como cultivar

quatro a cinco dias dos 30 aos 90 dias eturnos de sete dias até a paralisação dasirrigações, que deve ocorrer 15 a 20 diasantes da colheita.

CONTROLE DEPLANTAS DANINHASO alho é uma planta que sofre mui-

to com a competição das plantas dani-nhas em função do seu crescimento ini-cial lento e do porte baixo das plantascom folhas estreitas e eretas que não co-brem perfeitamente osolo. O período crítico decompetição para produ-ção situa-se entre o 20ºdia e o início da matura-ção dos bulbos, sendoque nas quatro primei-ras semanas o cresci-mento inicial das plan-tas pode ser prejudicado.No final do ciclo, apesarde não mais interferir naprodução, as plantas da-ninhas dificultam a co-lheita e aumentam obanco de sementes nosolo. O controle pode serfeito por meio de capi-nas (manuais ou comauxílio de enxadas) oucom a aplicação de her-bicidas.

A escolha do herbi-cida depende das espé-cies de plantas daninhaspresentes na área e doseu estádio de desenvol-vimento. Alguns herbi-cidas, como a triflurali-na, devem ser aplicados e incorporadosao solo antes do plantio. Outros devemser aplicados após o plantio, antes daemergência das plantas daninhas e doalho (pré-emergência). Também existea possibilidade de utilizar herbicidas quesão aplicados após a emergência do alhoe das plantas daninhas (pós-emergência).

Pode-se fazer associações de herbi-cidas de acordo com o tipo de plantasinvasoras. Em áreas infestadas com tre-

vo, o oxadiazon apresenta bons resulta-dos após o plantio ou quando o matoestiver com 2 a 3 folhas definitivas. Olinuron, diuron, prometrine e pendi-mentalin são recomendados para pré oupós-emergência para o controle de plan-tas daninhas de folhas largas e estreitas;o clethodin deve ser usado apenas parafolhas estreitas em pós-emergência.

Para melhor eficiência, os herbicidaspré-emergentes devem ser aplicados emsolo seco ou úmido, bem preparado, bem

destorroado e antes da cobertura morta.Deve-se tomar cuidado para não aplicarem solos encharcados ou excessivamen-te úmidos.

Para escolha e utilização correta deherbicidas é recomendável que um en-genheiro agrônomo seja consultado.

COLHEITA, CURA, CLASSIFICAÇÃOE ARMAZENAMENTOO alho deve ser colhido quando apro-

ximadamente 2/3 das folhas estiveremamarelas ou secas. Nesta fase, os bulbosencontram-se fisiologicamente madurose não haverá prejuízos à conservação dosmesmos após a colheita. A colheita podeser feita manualmente com auxílio deferramentas ou através de uma lâminatracionada por trator que desprende osbulbos e facilita a colheita manual.

A colheita deve ser feita em dias desol e quando possível, pela manhã. A faseinicial da cura ao sol pode ser feita no

próprio local da colheita ouem terreiros. Nesta fase, osbulbos são distribuídos umao lado do outro em fileiras,de tal modo que os bulbosde cada fileira sejam recober-tos pelas ramas da fileira sub-sequente. A continuação dacura é feita em galpões, àsombra. Recomenda-se cu-rar por três a cinco dias aosol, e posteriormente, por 20a 50 dias à sombra. A dura-ção da cura à sombra variade acordo com a modalida-de da comercialização. Emgeral, o alho é amarradoem molhos e penduradocom rama para cima, naforma de manojos, dentrodo galpão, onde fica aguar-dando o beneficiamento,para ser embalado e co-mercializado. A cura estácompleta quando as ramasestiverem com aparênciabem seca, cor amarelo pa-lha, diâmetro do colo redu-zido e a película externa do

bulbo solta-se com facilidade.O armazenamento deve ser feito em

local bem seco, bem ventilado e de pou-ca luz. Antes de armazenar o alho, deve-se expurgar os bulbos utilizando duaspastilhas de fosfina por m3 por 12 horas.Para evitar uma eventual reinfestação depragas pode-se fazer polvilhamentos pe-riódicos com malathion.

Para classificação devem ser segui-das normas da portaria nº 242, de 17/

É recomendado selecionar bulbos de boa qualidade para alho-semente

...

A continuação dacura é feita em

galpões, àsombra.

Recomenda-securar por três a

cinco dias ao sol,e posteriormentepor 20 a 50 dias

à sombra

Divulgação

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Como cultivar - Especial �

Francisco Vilela Resende,Embrapa Hortaliças

09/1992, do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (MAPA), queprevê a classificação em grupos (alhonobre e alho comum), subgrupos (bul-bos brancos e bulbos roxos) e classes,conforme a Tabela 3.

Para ser comercializado no atacadopara o mercado interno, o alho deve seracondicionado em caixas de madeiracom testeiras oitavadas ou sacos de poli-propileno, ambos com capacidade para10 kg de bulbos. No varejo, a comercia-lização é feita em sacos plásticos ou ban-dejas de isopor com capacidade para 100,200, 500 ou 1000 gramas. A comerciali-zação em réstias de 25 ou 50 bulbos ain-da é muito comum em algumas regiõesdo Brasil.

DOENÇASE PRAGASÉ necessário utilizar sempre o equi-

pamento de proteção individual e só uti-lizar produtos registrados para a culturajunto ao MAPA. É recomendável que oprodutor sempre consulte um agrôno-mo antes de utilizar agrotóxicos.

As doenças de maior importânciapara a cultura do alho no Brasil são:

a) Mancha-púrpura ou queima-das-folhas: a doença é causada pelos fun-gos Alternaria porri ou Stemphylium vesi-catorium e é favorecida por temperaturae umidade altas. O controle é indicadologo que aparecem as primeiras manchasnas folhas. Podem ser utilizados fungi-cidas protetores de contato como o man-cozeb ou oxicloreto de cobre. O uso defungicidas curativos, como o iprodione,Azoxystrobin ou difenoconazol é indi-cado quando se observam as primeirasmanchas e as condições ambientais es-tiverem favoráveis.

b) Ferrugem: causada pelo fungoPuccinia alli, que produz pústulas de fer-rugem na superfície das folhas, promo-vendo a seca e morte da parte aérea. Tem-peraturas amenas e alta umidade favo-recem o desenvolvimento da doença. Sobcondições de chuvas muito freqüentes ejá com ataque da ferrugem, recomenda-se triadimefon. O propiconazol e o te-

buconazol também são indicados para aferrugem e queima-das-folhas.

c) Podridão-branca: causada pelofungo Sclerotium cepivorum, é conheci-da também como mofo-branco, consti-tuindo a doença que maiores danos causaà cultura do alho. As folhas das plantasatacadas tornam-se amarelas, murchame tombam. A doença provoca o apodre-cimento das raízes e do disco do bulbo.O bulbo é a parte da planta mais ataca-da e constitui-se no principal veículo dedisseminação da doença. As medidaspreventivas de controle são: plantar alho-semente produzido em áreas livres dadoença; queimar os bulbos infectados,juntamente com os restos da lavoura;tratar o alho-semente com uma misturade iprodione+thiram ou procimidonequando a origem da semente não forconhecida ou houver suspeita de conta-minação no lote.

Insetos e ácaros:a) Tripes (Thrips tabaci): é uma

praga que vive entre as bainhas e ashastes das folhas, reunindo-se emgrandes colônias. Alimentando-se deseiva pelo aparelho bucal sugador,ocasionam manchas típicas prateadasnas folhas. O tempo quente e secofavorece a praga. O controle químicosó se justifica quando o nível de danofor atingido. Quando a média de in-divíduos for igual ou superior a 20 porplanta, realizar pulverizações de in-seticidas como o thiacloprid, deltame-thrin ou dimethoate. Abaixo do nívelde dano indicado, não há necessida-de de controle químico preventivo.

b) Ácaro (Eriophyes tulipae): tra-ta-se de uma praga que ataca o alhono campo e no armazém, provocan-do o chochamento dos bulbos. Altastemperaturas e baixa umidade relati-va favorecem o aparecimento dessapraga. O controle é feito tratando osbulbilhos através de imersão por 10minutos numa solução do inseticidatiomethon um dia antes do plantio.Para tratamento do alho armazena-do, recomenda-se uma limpeza rigo-rosa do depósito para eliminação dos

Tabela 4. Quantidade de insumos, mão-de-obra emateriais para elaboração de custo de produção deum hectare de alho

INSUMOSAlho-semente 800 kgCalcário 2.000 kgAdubo químico (plantio e cobertura) 1.500 kgEsterco de curral ou (1/3 de esterco de galinha) 30.000 kgBórax 15 kgSulfato de zinco 30 kgSulfato de magnésio 150 kgHerbicida pré-plantio 2 lHerbicida pré-emergência 2 lInseticidas e acaricida 10 l ou kgInseticida para expurgo 30 pastilhasFungicida 13 kgEspalhante adesivo 4 l

SERVIÇOSLimpeza do terreno 5 d/HDistribuição de calcário 4 d/HAração 3 h/trGradagem 3 h/trAplicação e incorporação de herbicida 2 h/trDebulha e classificação de semente 26 d/HDistribuição de esterco 10 d/HAdubação química de plantio 7 d/HPlantio 22 d/HCorte e distribuição de cobertura morta 25 d/HInstalação do conjunto de irrigação 2 d/HAplicação de defensivos 12 d/HAdubação química de cobertura 6 d/HIrrigação 16 d/HArranquio 32 d/HTransporte, amarrio e armazenamento 30 d/HLimpeza do alho 20 d/HCorte e preparo do alho 50 d/H

MATERIAISCaixa ou saco de 10 Kg 1000

d/H - dia/Homemh/tr - hora/trator

COEFICIENTES TÉCNICOS

focos e fumigação com fosfina.c) Traças (Cadra cautella, Ephes-

tia elutella e Plodia interpunctella): aslagartas dessas pequenas mariposasalimentam-se dos dentes de alho ar-mazenado, causando prejuízos supe-riores a 10%. O controle é feito pro-cedendo-se a uma rigorosa limpezados armazéns, eliminando-se restosde alho e de outros hospedeiros comomilho, soja e arroz. A boa iluminaçãoe a ventilação do depósito prejudicama biologia da traça, que prefere locaisescuros e abafados. CC