(adoramos.ler) fortes, luiz r. salinas - o iluminismo e os reis filósofos

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o i l u m i n i s m oe o s r e i s f i l o s o f o s

L u i z RI

S a l i n a sF o r t e s

- . . . -

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t u d o - e i s t 6 r i a22

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Luiz Roberto Salinas Fortes

. ' C ,ons ide raQ5Q$Sobre 0, G,ovemo da PollonlSl ,e SWl8 ReformaP rojetada - Jf1an-.},Bcq'ues Rousseau

. . D 's cU Ir5 0 de lServidio 'Voluntaria - , E .r if !n n e de La 80Blil1

• P rim eira filo so fia - L i~ '5 e s I l' 1I tn Jdu tor ia s - Dill. AufOfeS

Co'lel!r lo PII" imairos Passos

• 0 q U l e I~ Poc ile r - G'~ril.rdLebrun

• a que' 6 Filmmfia - C aio ' P ra do ,J r.

'0 lLUM,INISMOE O S, R EfS, F 'IL OS,O FO S

C oIS Il;O 'Tu do ., Histluhl• A R ev o1 urrJ o In du stria ll - Francisco Iglesias• A s R e vo llJ ~D e s B u rg 'U e sa s . _ Modesto FlorenzanOI

1 ~ edicao 19,B1

3,~edit;;10

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Copyright (£ ) L uiz R ., S. F orte s

Cap":123{,antigo : 1 7 ) 1Arti s ta s Gr ,i fi cos

Cfll'ical'umS'::

Emili-·D . .. ',' ,-0 ",aDlta&

Re:visio:1 0 5 6 , E . And r,a d e

I-,II1 I

Edlto'r., 'BrBlili.naB ,S.A.IR . General Ja1rdim, 16 0

01 22 3 - 'SID P ' IU ld o l _ . . SP

'7O s,jilosoj'os:-r-e ,s ., ",.. " " ., , '. , '. '. '.'.' . ' . 1130, 4 6

6S15 ,

8 , 2

lit,trodu~,io'III I! II ~II, III II II III ' II II l1 li • • II l 1l i II II III 'I I 'I II !Ii .. II 'Ii ill i !Ii

. L u z e . s ' qlle s e ; la c(t'nd e'ffl " ' '. • .' '. • • ~ '. • • .' • ' . • • • '. ~ .' • ,.

A' I. , . , . . i I no,' • d '

_ VQNguaTu ,Q IdlrR,rna' a ., •.• ," '••• ' , . " , . ,. " , • , • , . "

,0 eV'(IRge,lho dos ",OliOS t,empas .., ,." . .' .' • :,.' .' . . '..

lOS r e is - ji ,6 'S 'Q ! o s l' ..''....',.-..'....'....:........A . ,e mQl1 cip (J ~iW,d iflc il' •. ' •••• ' '••• "_~ " •• _ .•.. " ..

Illd ica ¢e s p,a r-a'e it'U Tu . ,. '•.. ' ~ , ..• . I••••• '••••• " go l

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[

.F al.a -s e mu lto n o s d iu d eho je . em d ire ito s dohomem. Po,is bem: mi. n o : s C c u ; l o XV I l.I . .. .. .. .em 17,89"

preclsamen.te - que uma A ssembl6 ia Consti tu,mte . .. .. .. .Dutra M rm ula p olitica que tam b6 mse encooua,oa ...... do ..1:- ·8 it · _:I •.o ruem ' ... .. .'WA" ao ·menosno . ras~ - pUJUUZlU e:

proclamou e m Paris lo:1eneme:nte" ,I prim'eira, UDecb ..r~Ao dOl Dire i tos dOl Homem , e do,Cidadlo'·· d e que ·s e t,em D o t id a .A te entia era comlo 5e:O .homem . 1 1 ; 1 0

~ t i s s e °.eDS tsse.

.1 l .daro que 56 porque se f·ala lem d in ito s, d ohomemou ,5e :proelam,. Clue 0 home:m tom. direitol~RSO nio sipitica. que eStes diNltos : se jam r es pe i . .' tados.• As 'Y ew ·, c om o o eo rre h o j l e : e m d ia , , s i D r o , m , .

justamentCi: do contririo~ Mas nio 1 6 e sta b lst6 ria . d as,'p erip kla s, IOUdo riolen.~s. dos,d ire ito s Iq ue que~oa qui e on ta r, D i rijJo · me u lo co , sa bre um OUtrol !espe:t4. .eulo, Se um a uDec'iar~iou C-4mo, aquela, q ue se p ro . .dumu du.·rante a .8I' i lD.de re¥obu;io :fr8.ncesa do sku10

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Luiz R'obe .110 Salinas Fones

XVI I I foi p oss,iv el e se im'pos como Decessma para

de tusi d luclonari f "m grupo enrusiasmat es revo ucionanos, .01porter sido preparada por uma mut~lo no p lano das

id~ias e das mentalidades.Epa:ra 0 estudo deste

' fenomena de t rans ,'f o rmac i o , diRamos, uideol6gicau

~

Queeonvido 0 leiter,A revolu~lo ocorrids na Franca no final do s e . .

culo xvrn mudou radlcalmente a face do mundo.pas fim ao chamado uAntigo Re,gimeue inaugur,ou a

nossa hist6ria." a nessa modemidade. Mas ela nio

surgiu do nada. Os revolucionarios que partiramaoassalto do poderpolitico foram buscar em urn rice

al de ·d"· ,. CZ! ti d i'arsen I' etas as jusnnca tvas para a sua ousa aia,

Ora, este rico arsenal foi sendo construido aolongo do seculo graeas a um intense feni lhar deideias. 1 3 a este movimento cultural prodigioso qu.edomina a Europa Oeidental - especialmente aFranca, a Inglaterra e ,a Alemanba - dos deis ul,t!..mos decenios do seculo X V II a temais au meno s 1780q u e' s e c o st uma chamar d e ulluminism.Q.H ou de "Fi-lo so fia d as Luzes" o u a in da de filo so fia d a " Ih is tra -~iou. A razio desta denomina;io talvez figue clara

para 0 leiter depois da le i 'tura d esta no s s a peq ue nainvestig3cio.

Desta '4fi losofia" nos restam documentos. Sioalgumas das grandes obras da filosofia ocidentalcemo, por exemplo, 0 E'spfrito da Leis" de Montes-quieu, A esta filosofia estlo ligados eertos gran des,

n ame s mu ito c o nh ec ld o s: 0 do proprio Montesquieu ,

o de Vol ta i re , Jean-Jacques Rousseau , Diderot,D " A le mb ert e o utro s.

o llumi,dslflo e os Re i s Ril6sf l /o, ',

N:ada mais f l u : : i 1 , assim, do que identificar 0

fen6meno~ Mas~ se ,q uise nu os, a l6m ru sso tentar eem-preend S-lo , tem os q ue if ,&lem de uma simples deeo -reba de Domes de UVIDS e auto res dispostes em ordem

em uma especie de cardapioideo16gico do secuJ.oXV'III ' " pronto para se rusad o com sucesso em , a lsumdesses pro,~lJtJ.as de perguotas , e respos tas dos Silvio

- -

Santos da vida. Compreender 0 I luminismo 6estudi-Io bem depert,o e interroga.- lo, problema ..t iza-lo.

Como entender essas Luzes, eomo pereeber 0

sentido dessa uUll_min~lone com o earae te riza r essafilosolia? Sis ai os Bassos problemas. Mas nlo pense

o leiter que lema! a pretensloneste simples estudointrodut6rio de responder- a perlODt.as tlo dificeis deforma exa·ustiva. Quem quiser compreender mesmons 'fil6sofos do Ilumlnisme t.er', queler suas obras ..a que posse fuel' ,.qui. portan:to, e a .penas formularum convite a essa leitura, .

o que caracteriza as Lues, ,&Iem da valori . .z~io do homem ,ji:I 'eferida, e uma p 'r -o fu .n d a CrCDfj8na Razlo humana enos seus pederes, Revalcrizar 0

ho me m sig nific a antes de tu d o e n c- ar ,i- lo como de-vendo tomar-se sujeit:a e dono do seu proprio des-tino,~eesper,ar que eada homem, em priaclpie, pease

t ~". 0"· d" f ti tOl' con a propna, . que ISSQ' quer ' 1IZel' e .e ivamen etal've:zfique bem elaro depois da evocaftl.o dos mo..mentes principais dessa fascinante aventura intelec-mal. Tentaremos primeiro, cap,ta-.Is em seu uesp,i-

rito"mais geral p,ara depois, discriminar as suas dife-reates e x pr es se es .. Talvez seja passive'l, entlo, flO 6.-

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n al d o jo go ~, te r do reotitmeao um8 vislo mail, s iD ,t i, ..

t iea,Algu'm, te r .t i d:o,vida quant.o a Qipoftumdade ouli ,

srita n'te ,a tua Jid ad e d e um a le itur,a o u meitua destesautum, 'ou deuma nfle:xio sobre os temas que pro~'

pOem'

I

,I

Urn o.rigbIai jOBo de eartas edltado em 179'3'.......0111 seja, D O Ano :11:da e:rarev,ob,u: i@ oa:r il . Raneesa, '~pur om tal seDhor Oayant" em Paris, .Husk,! de ma-n,eirll exem,pia,f aquilo quepederia 'S e f cODs i de ra d o

como 0 gr,ande sonhe da 'Hlosofia das Luzes. .N'Of

lugar des reis, dasrainhas e do! valetes.~este bualho"'

oomemoratirvo das fIlandes t:ac:a:nhas que se produ-zem na ocasiio, estenta respectivamente figuras de~,IfU6sofos"', de t'~virtudes~ e de ,jsoldados as R ep u-,

bl' - ,~"'lea '.

LimUem~J.nos ae lugar do'Sreis, Substituindo 0

re i de pa'l I l 'S"temos a fi gu ra , d e :Rou ss ea u . Nolugar dor-eide ouros, a : de' Voltme.,E ye:rdade que I ( ) < senhorG aya n,t fa z u ma e erta ,conmsiu e ee loea no ~ug,a . rd.os

outros dais, rels .......0 de eopas e 0 de espadas - DiG

deis f i losofos propriamente mas dois •'home-as detetras" e ambos do seculo anterior: la .Fontaine, 0

Iamoso autor (las, Flibula.5'!, e MoJbbe, o pai da dra-

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maturgiafrancesa. E tambem verdade que 'D,O seculoX V U I 0 termo ph,1osop,he tern uma acep~io maisampla do Que tradicionalmente e engloba desde pen ..sadores como Diderot a r e urn naturalista ebotfinicc

como BuHon. De maneira que 0criador do referidobaralhc, descontado 0 erro cro 'Do16gi,oo, n.lo estariaassim tlo equivocado ao misturar as cartas, M,&'snio

e lsso que importa diseutir.Seja como for, 0 baralho do ano II, r-eivindi-

cando 'para os ufil6sofosu0 < lug:ar real, realiza simbe-licamente um ideal que pareee terirmanadc os ' ideo·,

logos da epoca. Que a gestio da socledade ou dopu lis - da eidade, no sentide grego - seja: subme-

tida30

imperio da Razao:: eis at8,

ide:ia mestra dasLazes, eis ai suapalavra de ordem principal, E eis ai,expressa em termos ainda abstratos, a antiga ideiado uRei-Fil6sofo,Ot, velha utopia filoso,fica Que en-controu sua primeira formul~io nas pigin8s daRepublica de Platlo.Em que sentidn 0 seculo dasLuzes faz Implicitameate dessa ideia platanica asua divisa? E 1 0 que e que ela significa exatamente?

Para responder 8 1 essas Questoes e melbor com-

preender0

rebrilhar das luzes do'secu),o,

proeuremesprimeiramente evocar as "trevas" que elas se propu ..nham dissipar e reconstituir 0contexte historico den-tro do qual evoluem.

• • •An te s d e a .v a.t1 ~ a rmo s por este caminho e , precise

dissipar dais posslveis equivocos~ Quandofalamos

o numinismo ,e 08 R ' e is F i .lO so fo, ~ 13

R:+

R (+

Carla de 14m bartl/Jm editudo f'm 1.'l93 com a f igUf 'Q de

Rousgea~.

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em Iluminismo 'Dio estamos nos referindo a umadoutrina sistematica suseeptivel de ser exposta comourn todo uno e coerente, Ao Icontrana, nio apenasnos encontramos diante de uma multipli,cidade depon los de vista doutrinarios heterogenees mas, ,ahim

disso, como veremos mais adiante, uma das caracte-risticas principais do "espirito" do Iluminismo COD-

siste [ustamente na sua aversio, aos grandes sistemasfilos6ficos acabados, tal como, por exemplo, 0 deDescartes ou 0 de Spinosa, ambos vicejando no sO'lofertil d o s ec ulo , anterior.

Estaria tambem enganado 0 leiter que aeredi-

tasse achar-se diante de uma seita, de uma confraria,de urn partido politico, de uma igreja ou de uma

sociedade secreta, Nada disso, Nenbum laco orga-nice une os livres pensadores aos quais, se costumaasseciar a design~[o que nos ocupa. Se hi entre elesrnuita convergeneia de ideias e em virtude da partici-

p~io em uma empreitada oomum - como, porexemplo, na elaboraeao da grande Enciciope'diu

frances a ._ ou em uma mesmaatmosfera cultural.

Achamo-nos, is so sim, diante de urn movimento deideias que se manifesta -atraves de uma grande vane-

dade de obras distintas, mas que, no entanto, pam..cipam de um "espirito" eomum, Qual seria ele?

* • •

Embora com diferen~as consideraveis de ritmo ecom caracteristicas peculiares na Franca, na Ingla-

terra ou na Alemanha, assistimos, nos seculos XVII e

o Rumi,.;£mo e as Reis Filooa/os 15

XVIII t a aeeleracao do leota e complexo processode transieaa do modo de :produ~io feudal para 0

modo eapitalists de produt;io, esbocado desde 0 s e -culo XV. Sob 0 impulse de numerosos con nitos , op.anorama das relacees depr-odu~ao val grad.ativa ..

mente se metamorfoseando nos palses-chave da Eu-ropa, A velha aristocraeia rural, a qual estavamsubmetidos os servos da gleba, vai perdendo seu

poder econdmico e politico em favor de uma nova

classe, a burguesia, forjada com 0 desenvolvimentede novas attvidades economicas que se d.io princi-palmente na esfera da circulacso ._ e a epoca doMercantllismo (ver a f'cspeito,nesia c-ole~iio,Me,.~cantilismo e Transi,iiD, de Francisco Falcon) - e da

produeae artesanal e manufatureira que se desen-volve nas eidades, eonvertidas nos novos centresdinimicos da vida social.

Ao lade da no reza come se sabe, e em quaseperfeita simbiose com ela, estl a Igreja, Trata-se do

outre gran de pilar de sustentaeao do sistema feudal,para 0 qual fomeee 0 aparato ideo16gico justificativoda sua preservacao. Com as glandes trandorm~Oes

que se process am a partir do seculo XV 0 > sistema ' e

abalado nas suas diier-entes dimensi)es. Na medidaexataem que 0senhor feud,aI vai sendo suplantado, aIgreia vai perdendo 0 poder abselutc de que gozavasobre us espiritos e passa par uma crise profunda. Acritic a,sistematica e tenaz do lesphitoteol6gico e dosdogmas da tradicao l"ellgio.sa. ,coostituirl precise-mente uma das grandes motes de batalha, para ho-mens como os en.ciciapedistw .

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Iii

"Cada seculo"', diri Diderot, "tem um espiriteque 0 caraeteriza: 0 espirito do ROSSO pareee ser' 0 da. d , . . I I . U0 lib d d .,.~ , . ,,"liberc lau.e. ' ,ra, a er '.a e S,l8Dlnca aqm~ em pn-meiro lu,g.r f liberdade frente a , tradi~lo, reli,gio,sa. ecom a eondi.;io de ~eeoneeber como livr-e no exer-

•. d 'X 'b d .. .. ~C IlC IO . a sua razao, como sen, or ie suas opmtu...s ecomofonte da sua. p1ropria verdade, que 0 universointeiro podeTi liberar ..se, para 0 homem, como umeventual campo de exerelele para sua eapaefdade ra-donal de explica;ao. Para a tr,adilj;io religiosa e teo-16gica um'"atal pretensio seria a rigor descabida . .A

resposta aos emgmas que 0 cmcundaro 10 homem aeneo ntra na pr,opri,a palavra di.vina revelada: nas Sa"gradas Escrituras, Certo j e sem duvida necessariaque ele se utilize de seu entendimento e sua inteli-Kencia para melhor compreender eertas passagens daEseritura, po is nem sempre as tais respostas siosufleientemente elaeas. M.as DUDca ser,a sua razia a .

faenldade a dar ,3 ultima palavra: ele e simples servi-dora da Fie, de um c o nju nto d e pi re c ei to :s dogmaUca-mente fixados dia_nte dos quais deve eessar todacuriosidade intelectual. 0 ambito de atua~io da Ra-do human a :sera,nestas co:ndi,~Oes,neeessariamenterestrito e secundarlo: nem podera. dispensar a Reve-

, , , , d o e nem, muito menos, pretender" em c:aso decenflito, plfevaJecer sabre ela,

E verdade que a Iuta contra a tradit:io rellgiosa- -

010 assume em todos os paises a. mesma forma.

Ccmolembra Hegel, DU, suas Li~ijesde Historia a uFilosofia. a AuflclirunR - palavra alema para Ilumi-

nismo - estava na Alemanha. an lado da Teologia-

o n rJm in i: smo e OJ Re , i s FiJ6 :so /m 1 7

Na medida exata enJ que to sen..hOT feudal 1 1 m ,sendo s 1 4p la f1 ~

tado, (.lI 19rejo. 'YQi pe,.dendo 0 poder absolulo de ,que go-zt.lva sabre us e.spi,.iros e p,assa po« um.Q profunda crise,

)

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L~f= Robe'no SalinQ8FoneS '

ou pelo menos de uma certa Teologia ~ 80 passu quena "Franca toraou imedlajamente uma dire~lohostlla igrej,a". Nospaises,proie.sta.ntes, com efeltoJ onde atradi~ao dogma.tiea j,ivinha sendo hli seculos subme-tida a uma critics sistem,a.tic'l,t! as eoisas foram um

pouco dilerentes. As prr6pri.8!s, igrejas refermadaspartieiparam, nestes ,abes" da t endenc i a , no sentided e l'a vo ro e ce r a v ,a ~ .o riz ~i o d :a .R a zi o t do livre e xa m edas Escriruras e de se centrapor 80 predominio absc ..luto do dogma e de f e · .o que i rop@na as'sm,a J ar , de qualquer maneira,

I e a nova atitude dohemem frente ao universe. Dei~xava este de ser visto como manifes ' tacio de umat r, an sc e n de n ei ,a n o Umite absolusamente iBcompreen~

slvel e se c on ve rtia 'e m u rn campo d e exp)or~'lo a se rsubmetldo livremente a ca:p'acidade de : julgar. com-parar, pes at"~ avaliar, juntar eu separu' de que osi nd lv idu l( 'H ! ;c ome! ;a v am a setomar cada ve z mobconseientes,

Para Sa' tdetivlm,ente liv re a Hula 0.1.0pede sesnbmeter a . nenhuma autoridade que a transeenda QU

a nenhuma regra quelhe :sejiaextr inseea: ela i, parasimesma, SUI, :propria. : regr,a . •Mas e ta .mJbem a regra

p ara () u ni.verso e m gera! : se 0 ho me m re iv in db ::a u mestatuto soberano p,ara a sua Razlo e'porqne postulasimultaneamente a racicnalidede ultima do universo,Os seres e as coisas que :005 drcundam estAosubme~tides a! certas Ilegularld-ades ..Caberl 1.0homem desco-bri-las e pa.ra isto ele dispeie do instrumento ade-quade, ou seja, sua p r op r ia - i nt eli g@ l l1 cm .

Bossuet, 0 grande apoiogista. da ,oriodoxia cat6~

liea, cujl8 lOQga carrelra liter a n a . atinge 0 augen,o

f in ,a l d o se culo X Y U "J' resume d a s egumteman'e ir a aldeologia tradiciona1 contra a qual irID investlr esnovos ~ru6sofos: u~ um erro - ,diz ele ~ im"aginar

.(,. '. ~ de Aue t; :pr ,eciso s emp re ,c x am :m ,u an e s ue e re r. ~ .'

teUc~dade daqueles que naseempor assim dizer noseio d B , verdadeira l,lJeja" ~ qu.eDeus [he den uma tal

aumridade que aereditamos primeiro D O 'que ela pro-pOe e que a .Ie .pre'cede. p o u . a n te s" . e J :clu i a uame

u•.

Nao , nada d:isso"fesponde:m es livres~pensadores ..N an hanenbuma autorldade I.e-mil da Raa. io ,~ Nadaescapa 80 livre exame~ 9.0. livre exer,c:icio desta nobrefaculdade de que D OS aehamos dotados. Soberana elivre" e assim que a q u e r - e . m os i lumini.stas e e por

uma talbnagem de Ruio que sebateri ,dllll",ant,uteda a vida com a ,e:loq,fiene-ia. 'e o talente que lhesl o propdosum hnme:m, po:r exemplo, como Vo~~taire.- Ora, ji se v e que uma ta] ambh;io Dio pede

R ea r c o:n fin ad a, a os d om in ie s exclustvos da, bstalaanamnte reUgiosa. e da. luta pela.fundament~1o deumnovo espiirito c ie n ti fi eo .. Entre a p , roc l amac1o daRazlo como autoridade ,suprema diante da Fe , e areiv]ndic~io do lugar sup;,remo para esta mesmaRaliio 01comdu~lo des destines do homem que riveem seeledade, h a apenas ump'asso que se:ria logofranqueadn pelos novos ide61ogos. OU,meihor di ..undo: ' e em mesmo movimento que se questiona,a re-presen.tw;:io teololic.a d o , un.iverso e 1\ s :ociedadefone-·mente hierarquizada, de que '£starepr,esenta.;lo ,urns expressio sUblimada. e em um mesmo lesto

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que ,i] Razio se prop5e como instrumento soberanede conhec imen to , e, ao mesme te mp o, c om o instsnciasuprema ineumbida de reger os destines 'historicos. do

hcmern e eonduzir i sua emancip,a'Cio diante dospreconeeitos do passado. asslm como dinRtt e orga-nizar a vida em sociedade, Nio ] h . i d6vida de que a

iilosofia poUtic.ada epoca en.co.ntra.ri, como veremos,as respestas maisvariadas para a questso de ' se sabercomo-reaiizar eoncretamente, em termos de organi-z su ;lo e comportemento politicopra.tioos, este sonboespeeulative. Mas trata-se de urn idea] unanime ..mente partilhado,

Precuremos ainda, para ecmpletar 0nosso pa"neramactirar asrnedidas da nova mentalidade, No-'lOS dominios,. novcs tierritorios vio sendo deseobertos

no mapa do saber. A a.ten~ao do sibio se volta paraeste mundo, a.ba.nscendencia cede lugar a imanin-c ia , U rn no vo ob je to de e studo s c om ef;a a se desenharno horizonte: 0pr6prio bomem, Uma nova ud@nc i a .n

,come~aa se impor: a Hist6ria. Os homens pereebem,atraves do estudo do seu passado, que a massa decenhecimentos adquiridos pede ser utilizada e postaa se:rvi;o doseu :pr,6priobem-estar. Surge, por eonse-gumte, como urn ,corclirio neeessario de todas estasdeseobertas. um novo mlto, um novoideal, oma nova

i d e i J . a . regulad ora , o u 'se ja" , ,a , i d . tUa.do Proeresso, Se {)'UlliV,tUSO e in teiramente raeicnalnao ' e absolutameatelegitime esperar que 0 acunudo e a . .multipHc.a'Qi.o

des ennhecimentos permitiri. ao homem cada vezmais dominar all. domesticar a Na:turez .a~ racicnali-zando e melherando indefillid.amente suas condicOes

2 1

de vida?

Achamc-nes diante de uma mldCJ~ior,adical.

Mas0.10

se impaeiente oleiter, Noo estamos preten-dendo dizer que estam~da~lo)mficU de d e se re v er ~ sepassa excluslvamente no dommio dos espmtos. pU.msou se di. c omo s im p le s: cons:equ, i:ncia das :il,umina~oos

ou a atuacao de' um punhado de inteleetuaisprwile-g ia d os. H em &0 centrario. A deseoberte deste mundoespiritual a te entia msuspeitade 010 pode ser com-

preendida inteframentea nj~) ser quando a situamesno horizonte da luta que opoeanov,a, classe emascensao, a burgue sia, a velha ordem,

Nao ' resta a menor duvida. Estes, pensadores einteleetuais sio" de fato, ide61ogos da nova. classe, de

urn modo ,gerd: sao eles que se des incumhemv nafre nte d e batalha i d eo l, 6 gi c a " d a tarefa de corabateras for'lfas do passade contra CUjo5 :privaeQios, secu-

lares se ,contra.poe diuturnarnente 0 grande eomer-ciante m e Amsterdi au de Marselha na luta pela

-

expansao de suas atividades lucratlvas .. Como ,diz.Jean-Paul Sartre referindo-se ao periodo: II emanei-pa~io pelltica de urna classe , e apresentada, por parte

de seus ide6~,ogos, em. termos de eman<Cipac;io doHom.em. em geral, Esta idei31, dentro do contextehist6rico em que eelode, na.o poderiater side conce-bida, foriada e converrida em pcderosa utopia a. nanse r co rn a condi~ao de q ue lB J.m an ov a classe, fun-dando SMa ;s ,obreviyencia: em urn novo sistema de

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produQao de riquezas abrisse caminho para sua pro-pria 8,firmw;io e se aventurasse na busca de uma. • , " " " . , 'b ' l: . li~ ' . ~1hegemonia eeenennea, mas, tame em pe bell, e SOC~IiU.

Ideologos dla burguesia. Que esta etiqu,etatPo ..re m t nio nos, i luda. Evitemos a todo custo os reducio-nismos simplifi,ca.dores. Ou seia: nao vamos acre-ditar I como 0 inginuo "marxista" dogmatico, quetudo se reduz i luta de classes vista como urn pro-cesso simp'~ese Unear. Dessa forma, expliear Montes ..quieu" Dideret au Voltaire serla, per exemple, e,n..contrar para cada urn deles am:sen;'oo preeisa em urnou outre determinado segmento da elasse em aseen-slo. Rousseau, 'por exemplo, ,Muito fi .cil . Eis ai,

tim,a.mos, urn tipko represemame de setores da ,I ~pe..quena burguesia": todo 0. seu complexo pensamentoexphcar-se-ia a partir dai. Mas." come compreenderque 0baria d'Helbaeh -. urn nobre! ~ tenha slde,ao mesmo tempo, um dos mais radicals pensadoresmateriallstas e tenha se[untado avangua,.da ideol6-gica do Iluminismot

Sem pretender entrar nesta complicada discus..sao ou querer expor uma teoria da historia altern a..

tiva, limitemo-nns a lancar nossas suspeitas em dire-.;10 a s imagens simplificadoras. Dizer, nestas condi ..tt3es, que nos aehamos diante de ide61ogos da bur-guesia nao e a :Ultimapalavra .00movlmento de expli ..cacao. Ao contrario.verdadeiro, este f iotuI,o serve-nosapenas como indicaeao inicial que nao nos dispensado arduo trahalho de enfrentar -0 pensamentc destesHlosofos na complexldade eriqueza Q1Je0 0 carac-teriza. As ideias nio podem ser vistas como simples

o I'umin,ismo 'f as R , e u Fil6~(JltJs

epifen8menos; possu.em uma auto.nomia a ser respei ..tada peio historiador.

:* * "

Av,ancemos mais um passo, semmeaosprezar acornplexidade das relacoes entre estes diferentes oi..veis.Desenhados as contomos mais gerais da muta ...~io e ind icado 0 quadro his.t .6rico em que se d a .retomemos de novo ()problema, a :p1roxlmemo-nos dosdocumentos que desafiam BOSSO esforeo explicative eque ainda povoam nossas atuais perplexidades,

Acbamo-nos diante de uma transiormaf;ao de

mentalidades, certamente. Mas sera que esta bans-forma~io au mut~io Ilaa tern iJddo bem antes DO

Ocidente, bern antes daqullo que se convenelonouchamar de I1uminismo? De Iato, 0 Iluminismo e- -

apenas 0herdeiro e 0 ponte eulminante de ~maradical tl'a!1sf()irma~o ocorrida i& no sec1)lo XVII eque um historiador batizou com 0 nome de "crise daconsciencia earopeia". Nito e 0 seculo XVIII que.descebre e exalta os poderes da Razio. As coisas

comecam multo antes .Francis Bacon, Rene Descartes e John Locke,

Eis ,aj meneionados os marcos iniciais e fundamen ..tais do aeontecimente, E certo que ele comer;a , adespoatar, a rigor, desde 0 chamado Renascimentoque nos seeulos XV e XVI abriu profundas breehasno sistema vigente. Mas e a partir des tr'es referen-cia-is apantades - alem de Spinoza e Leibniz - quea grande transformaeao assenta suas bases defini ..

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24

tivas."0 homem tern sido afastado, eorno por urna

espeeie de encante, do p'rogresso nas ciincias POl

reverencia pela antigUidade~pela anteridade de he-

mens considerados impertantes na filosafia e aindaper passieidade geral." Quem, assim investe contra atradi~lo, os preeoneeitos e a inereia espieitual eFrancis Bacon (l561~1627) I autor de obras funda~mentais tals como 0 Navu.m Org,{ul",m, verdadeiromanifesto inaugural domtitodo experimental queaea-barapor dominae 0 eurso des noves eonheeimeatos.De-searles (lS96 ..1650) e Locke (1632 ..1l704)parlici-pam do mesmo espirtto: 0 primeiro, com.0 seu Dis-c urs o s ab re 0Metoda e suas Meditar;iies MetafUir. ' ,a!i~

assents as bases de uma rigoresa filoscfia "raciona-llsta It que faz da "luznatural n- a metifor.a e deDescartes ......de que toda criatura d ispOe a inst6.nciaultima sobre a qua1l devera ser ,edificado qualquersistema de conhecimento; 0 segundo, com 0 seu ErI-saia sabre 0 Entendime'ntfJ Humano, faz de expe ..r iencia. afonte de todo conhecimeato, submetendo 0

intelecto humane a uma minuciosa dlis'5eca~ao. Lon-ge den6s a pretensao de esgotar mediante estas

formulas gerais, evagas 00 riqulssimo conteudo destasdoutrinas intriacadas. Queremos apenas insistir noIato de que 'scm. elas torna-se impensavel 0 mevi-mento de ideias que explomr.a. DO secuto seguinte,

Mas a nossa desc~.ao permanecerla mcompletase nos esquecessemos de menoionar ur n antra aeonte-eimento cultural do perlodo, talvez 0 maier de todospelas suas consequencias revclucienarias, £ de que

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Carta de ,Un) ban;llho editedo em 1791 com a figuf'a. de

VQlta~·l'e,

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2 L'tji2 Roberto Salimu Fones

p abaixo teoricamente d~ m~eir~ inap~lavd avelha representaf;ao do umverso lislen ate entlo

domiaante apesar °dos sueessives questionamentos,desde Copemico e Gal il eu. . Re f ir o -me a explie~iodo movimento dos carpal por meio da teoria, daatraeao universal :formulada pelo inllEs Sir Tsaae

N ew to n , e ujo s Principia Phi/osophiae Natur,,,/u, pu-blicados em 1681, constituern, na opinilo uninimedo! historiadores, a earta de alforria do s temposmodemos. A bip6tese 'explicativa de Newton CODSti..

tui uma a,plicw;io concreta e brilhante para urn pro-blemaparticulur d e fis.ic a d o n ovo metoda c ie ntific o e

a bre , n es ta s c on dilf;o es, perspect ivas a .u sp i ci os as : p 'a ra

o conhecimento humane,Po pe" p oe ta in gltSs, oon iempor ineo de .Newton ,

assim saudou em versos famosos a grande deseo-berta:

"Nature and Nature's laws lay hld in nightGod said 'Let Newton bel' and all was li8btU~

Desde 0 secul0 xvn assistimos, assim, Bas 801 -

pes Iatais contra a velha escolastica e a. intocavelideelogia "cientlfica" que se procurava inculear nosljeis a ferro e a. fogo. Do ponto de vista do conteddo

das doutrinas ou das gran des descobertas, 0 seculoXVIII pouco acrescenta, na realidade, a s conquistasanteriores. Nan hi duvida de que' no plano da afivi-

(I) "A N tuFRa fl as !lUa.s leis j . u i a . 1 ] ] J j na obscl:Irid4de.lDeusdis e: "Que N'twlon sej ", e tudo se tomon luz."

o numinumo e os R , e i s F i lOs a / os

dade de pesquisa 0 clima do seeulo e de notavelefervescincia. SeDio assistimos a grandes reve'l~oessobre a estrutura fisica do universe, vemos em rompeDsa,lo 0 proprio poder publico patroeinando dis-pend lo sos experimentos cientificos. pDr exemplo, 0

govem o de Luis X V envia equipe s de sibios ao Pe ru ea LapCinia para medir os graus do meridiana embusca de confirmaf;io para a teoria newtonlana,

Multiplieam-se as "Academies" cientificas, aomesmo tempo em que se produzem avan~os tecnolo-gicos, como, por exemplo, 0aperfeieoamento de teles-c6,pios,e microseepios. Basta lembrar, alem dlsso,dos nomes de Laplace, Lavoisier, Benjamin Fran ..klin, para nos darmos eonta de que, 0, fervor cientlficc

cresce inteosamente e continua fraaqueando novas

etapas,Mas nl0 e pelo alcance das novas deseobertas e

pelo avanco geral des conhecimentos que se mostramelhor a origin,alidade do :seculo face' ao secule ante-rior. Onde os novo s sabios e pensadores revelae-se-aoinovadores sera em. ter conduzido ate 0 fim, apfi-

cando-a generalizadamente, a inspira~a.o do granderacionalismo. A arma anal(tica e erltiea que se forjadesde o seculo XVII, es ilaminist _ 5 irao depurar aomesmo tempo em que haD generaUzar 0 se n 'e m-prego, tomando-o sistematico.

a que eproprio do . seeulo XVHI e a postura, a. 1 1 d ufil'6 fo" E·t- :l!I~.atrtude que se 'g,a 30 0 nome e so o. Ie nao

mais sera visto c om o u rn espeeialista a debater ideiasno clrculo fechado dos seus pares. Sua ambi~io e sair

. - f U ~ ~ : = : . n •pelas ruas, au melhcr, pelos amosos 5411.ues pnva

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2:8 Lui: Roberto SaIiN{u Fortes

dos mantidos por penona1idades inclusive da ariste-eraeia, onde os nossos herois se esqueeem emintermi ..n i,v eis, n oita da s d e d isc 1!lss5 es q ue 510 uma mstitui~lotiplca do secuio. 0' sonho destes intelectuals ••enga-

jades"

eintervir nos acontecimentos e desenvolver

uma m tensa a tlv id ad e peda,gogica e dvilizat6ria."Servi ..vos de vosso espirito .....,.duper .exernplo Vo:l~taire em casta aHelvetius ~ para eselarecer 0 generabumano." Grac;as a atu~ao destes verdade ims pro-pagandistas e agitadores da nova f e amplia-se 0 clr-culo de pessoas que l@emt eonstitui-se umpulbHco

c ultiva do e se o r,g a.n iz.a 0 espaco , d e um a verd ad eira"opiniso publica".

Mas () que" aJ,em disso, diferencia 0 proprio

conteudo do novo racionalismo daquele dosprecur-sores ~ Descartes, Spinoza, Leibniz - e a ,jlmen-cionada arersao ao esprit de : s}!steme. Nag pretendemagora. os filosofm; edificar sistemas acabados, A Ra-.lao e por eles concebida de forma d iferen 'te .En ..

quanto que para os precursores consistiana regi.aoem que habitant "verdades eternas" ~ela passa. a servista. agora, como lembra Ernst Cassirer no seu hoie

classico livre sobre a " Fi/ (Jsoj ia des Luzes , enquanto

uma forma determinada de "aquisieao". ,j'Nlo e -diz este hisi-odador ~ ,a tesouraria do espirite naqual se guarda at verdade comomeeda C'unhada~mS!santes 3. fo,.,'a espiritual rad'iC'{Ji que nos eonduz aodescobrimente da verdade ... " 1 Para 0 < secu10 XVIU"a ramo e uma "energia" ~ e ainda Cassirer quem

fala ~ a . ser apreeiada nio pelos seus resultados, mas,em seu exereleio e ern sua a~aQ.

o 1 /~m in ls .m ; (J e 0.11 Reis F~ ·MsQ . fo s

Enos uUimos decenios , do seculo XVI] Que des-pentam os prlmeiros frutos donovo "racicnslisme" eem que assistimcs ae [ogo desha nova energia, PierreBayle (1647-1706) e Fontenelle (1657-1757) pode l l 1 1 ,

ser vistos como os primeiros ilummistas: 0 primeiro,

autor de u'mDiciona,.io His.torieo e Crifieo que sera

uma das fontes de inspirac;ao e modele da Eneiek»

pe.difJ; Fentenelle, POI sua vez, na 'sua obra mais

famosa, euio titulo sugestivo e Da .Pluralidade dosMundo-s, que lui publicada em .,688t forneee umaprimeira sintese da. nova visao do universo suscitadap ela s n ova s deseobertas.

Masja e hera de deixar de lado as generalidadese esferearmo-nos par desembaralhar as cartas ten-

lando surpreender, na.medida do pcsslvel, os BOSSOS,

fHosofos, nasua soberana intimidade.

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LUZESQUESE ACENDEM

Dois homes deminam desde a suaprimeira me-tade 0cenario cultural do secul0 XVIII" constituindo

os principals representantes da primeira Ugera~ao~tdo Uuminismo: Montesquieu e Voltaire. 0 Espiritodas Leis, at obra-prima de Montesquieu, data de1148. Voltaire, per sua v ez , q u e publica so m en te em1156 o fundamental Ensaio sobre as Costumes" jihavia eonquistado um Iugar definiHvo na galeria dosgrandes names da literatura frances a desde os anus20.

Tanto um como 0 outro exercerlo eonsideravelin D u@ n cia so bre o s se us contemperanecs e d e semp e-nharao 0 papel de verdadeiros maitre Q pense.' f

au.tenticospiss espirituais para os [ovens que virla aseguir, VoUemos , Rossa a:ten~iopara des.

. . . .Comeeemos por Charles, Louis de Seeondat, se-

3ilRilminilmo e os : Reis FilOsa/as

nhor de la Brede e barlo de Montesquieu, nuddo,

em 1689 e morto em ]755. Se considerames suas

orisens arlstocraticas ou eentemplamos uma dasc1issicas gravuras do . seculo XVIII que 0 retratam,temos dificuld,ade em imalinar que este severo sem-blante de nobre da provincia eseende 0 autor de uma

obra revolucionaria.Charles Louis nasceu a 18,de janeiro de 1689 no

castelo de la Bride. nas proximidades de Bordeaux.Fez &eU'S estudos primlrios na propria residencia pa-terna e depots no colegio, de Juilly" em Mean ,onde.lata lmportante para sua fonnaf;iQ, tera como' pro-iessores padres oratorianos entusiastas do novo dimacultural, Em Paris fez estudos de direitc voltandodepo i s pa;ra sua p ro vln ,c ta o nd e p a:s so u ,Imaior parte

da vida dedicando-se l sua p,aixio fundamental: asletras. Mas ele val frequentemente a Paris. onde eassiduo em virio,s salaes. Durante quatro anos alemdisso, viaJa pelo Mundo coHgindo material para suaobra,

Alem do ji mencionado 0 Espirito' das Leis,deixou-nos as, Cartas Persas, publicadas em. 1721.Em 1725,~publica 0 Tempia de Cnido, cujo tema e 0'erotismo. Publica ainda um pequeno tratado sabre AMonarquia Universal

e em1734

asC01lsideru·, i ies

sabre as CausQS da Gran .d e zt :l e D e c tJd in c ;a dos Ro-manos. Sua principal obra,pof,em, sera publicadasomente em 17'48..Tltulo completo: Do Esp. ir i t fJ dGsLei 'S au das Relaciies qlle as Leis .Devem Ter co m aConstitllicao de Cada Gov,emo.. Costume,,, Clim·(l.1

R,eliRii io , Comercio. etc.

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3 2 Luiz Roberto SaliTluJ Fortes

Com as CartllS Persas Montesquieu ganhougrande notoriedade e exereeu notavel influencia~ Ce-

sare Beccaria, pOT exemplo, outre importante nomedo Iluminismo na ItaJia, dizia ter side "ccnvertido"para a fi]osofia pela leitura das Canas. Deis perso-nagens, Rica e Uzbek, de origem persa, viLijam pele

Europa. De 16eserevempara seus amigos na Persia erelatam tudo 0 que veem, satirizando os costumes ecriticando as instituicees europeias. A fic~ao de umoutre olhar debaixo do qual se relativiza a realidadeeuropeia funciona como um vigc roso instrumento decritica cultural e parece ter fascinado 0 seeulo XVIUt

epoca que tambem cuUiva Intensamente os relates deviagem,

Mas 'e 0' Espirito da« Leis sobretudo que nos

fani recordarMontesquieu. Como resumir obra taomonumental? Sao seis partes, cada qual dividiJda em

varies livres, compostos de numerosos capltulos. Eficit indicar 0 conteudo de cada urn desses livros,partes e capltulosv Redigides com clareza, os due-rentes livros se disp6em segundo urn plano bastante

evidente. Cada titulo, alias bem clrcunstanciado, esufieiente para dar uma ideia sobre a materia tra-tada. Vejamos, per e emplo, somente os titulos dos

livros que dao inicio a cada urns das seis partes.Livro nrimeiro da Primeira Parte: "Das Leis em Ge-ral": Livro none, no inleio da Segunda Parte: "DasLeis, em sua Rehac io com a , Forca Defensiva": Li.vrodecimo quarto, inicio da Tereeira Parte: "Das Leis ,na Relacao que Elas Tern com a Natureza do Cli-rna"; Llvro vigesHno, come~o da Quaria Parte: "Das

onumtnism,o e os R e is F il 6s o/ o&

Leis, na Relacao que Tam com 0 Comen: : io Conside-rado em sua Natureza e em suas Distincoes": Livrovige5imo quarto. Quinta Parle: "Das Leis, na Rela-~Io que 'fern com a Re1igilo_Es~belecida em,.cadaPais" Conslderada em suas PrAbcas e em 51 Mes..rna"; fina1ment,e, Livre vigesimo setima, Sexta

Parte: UDaOrigem e das Transform~oos das Le is dosRomanos sobres as Sucessoes", Este mventario das

articwa'\iOes principals ji D O O . S di uma pequena ideiaaeerca da amplitude do t raba lho. Seria ridicule, co-mo seve I querer expllear inteiramente em algumaspaginas esta obra em cuja elabora~io o autor traba-lhou durante nada menus, do que vinte anos, Aquivai, pais, apenas uma ideia geral,

As leisl eseritas au nio que govemam os povos

nao slo fruto do caprieho ou do arbitrio de quem le-gis~a..Eis a tese central deMontesquieu. Ao contrario,decorrem da realidsde social e hist6rica concrete pr6~pria ao povo eensiderade. MantSm com a totalidadeda vida desse povo urela(:3e~ necessaries". Deterrni-nar quais 510 essas rel~Oe:SOUt par outras palavras,qua] e 0 "espirito" t nu se ja , " ideia predominante, 0

sentido de uma lei, i I ' S 0 prop6sito central do minucio ..so tratado. '0 born lesislador, nestas condi\iaes, nao

devers consultar 0 sell capricho, mas levar em 'con"ta at complexa realidade para, a qual I.egisla. Leisque slo boas para um POVO podsm set' danosas para.outre.

Mas como se estabeleeem essas correl~Oes? Ve..jamos mais de perto 0 teste mesmo do tratado.Slogo no livro primeiro, "Das Le is em Geral", que

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l

"amos encoatrar, nos tees capitulos que 0 COlbpoom,a determinaeao dos pressupostos fundamentals, a

defini~lo do obieto da mvestig~a(J e 0 anuncio dasglandes dirislJes.

o que e uma lei? Resposta, logo na prim,eira

frase do livre: '~As leis, na sua signiiica,elo maisextensa, s a o as rela~3es neeessarias que derivam da

natureza das eoisas", Todos os seres do universe 510

regidos, no seu comportamento, por leis. Este e 0

pressuposto, a hipotese de base quevai sustentartodas as ani1ises ulteriores. 0 universe e raeional:isto f;, para alem das suss vui';Oes e diversific~Oes,e posslvel encontrar regularidades au a,rulo destasdiferendat;oes. uRa, pois - acrescen:ta a:inda 0actor

- uma rulo primi'liva;' e as leis sao rela~lies que se

eneontram entre ela e os diferenies seres e as rel~~sdestes diversos seres entre si,U

As leis "positives", ou seia, leis Que os homens

Instituern deltberadarnente numa dada sociedade

silo. asslm, apenas uma modalidade daLei 'DO sen-tide lato, Todos os seres estao submetidos a leis,

assim tambem os homens vivendo em soeiedade,Mas. com rela.;ao aos homens, dada a sua finitude esua Ilberdade, hi uma diferenea: as leis podem ser

inadequadas e podem, mesmo adequadas, nunca se-rem obedecidas de forma automatica, isto 6" podem

ser infringidas, Hi uma margem de indetermfnaeae

DO mundo dos homens, 0 QU'8, porem, :nl.o exclui apresenea de' regularsdades, As leis "positieas" au leisnum sentido estrito - a cujo estudo ,esta.ra dedieado 0

tratado ~ censtltuem-se em uma das especies de leis

o numinisma e os Reis Fif6sofos

em gera] definidas como rela~3es neeessariaa que de-eorrem da natureza das coisas. As leis IlDsitivas sao"ou pele menes devem ser t a expressae ~e relaC;oosn:e~cessarias que e possivelperceber na wda dos povos,

Serio, assim, reJativas ,ls farmlS de govemo" 30 c~i-

ma, iscon di~Oesgeogrificas, etc,Considere-se, por exemplo, a questio das for-

mas de governo. Montesquieu dis,tingue tr@s formesde governo: a Republica. a Monarquia e () Despo-tismo, A Republica, por sua vez, pode ser ou Demo-

critica au Aristocritica. Distingue ainda entre a"natureza" e 0 ~·'principia" de eada govemo. Natu-reza, diz, e aquila que iaz com. que 0 govemo seia de

tal ou tal maneira, enquanto que principia e a suamola propulsora, aquila. que 0 faz agir. Assim, porexemplo, a natureza da MonarQuia, sua "estruturaparticular", e que urn individuo somente govema de'

acordo com determinadas leis fixas e estabeleeidas, :£diferente da natureza do Despotismo, segundo 0

qual uma ~6pessoa.govema, mas sem obedeeer a leis

e tudo tazendo segundo seu caprieho. 0 principia da

Monarquia, por sua vez, au seja, a paixlo humana

fundamental que a movimenta, e a Honra, assimcomo 0 da Republica ' e a . Virtude, isto e " 0 amor a

patria,e 0do Despotismo 6 : 0Medo. Cada uma dessasdiferentes formas possui, assim, sua, 16gica propria,sua eoersnciaintema em fun~io da qual deverao serdefinidas as leis em geral, Isto 1; , em fun~io seja danatureza, seja do prineiplo proprio a cada tipo, Boasera a lei que se adequar a natureza e fortalecer 0

principle de eada fonna de governo. Posican "neu-

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36 L u is : R o be rto S lI. li'n as F or te s.

;I-_ n . A

tra "como seve.

Um e.xemplo? Considere-se aeduc~lo. COD.vem

regulA-Ia air,aves de regulamentos e leis segundo 0

esquema defmido, Assim, as leis da edU!ca~io namonarquia feria u .m ob i e to dlferente das le is d a edu-

c~in na Republica ou na Demoeraeia, Em umaDemocraeia, per exemplo, as leis. deverio favorecer a

igualdade, tal como acoma com a legisl~ao de Li-curgo, em Espa:rta; que dividiu igualitariamente asterras (veia-se 0 cap. V do Livro V). 0 rnesmo 010 eneeessarionuma Manar'quia. onde todos aspiram asuperioridade, -

Observe-se que Montesquieu. nOO se pergunta

pelo que ejusto. Para. ele todas as formas de governcsao coloeadas em urn mesmo plano. embora suasprelerencias se dirijam para umaAristocracia mode-rada. Ineugura, assim, uma maJise de ciincia poll..tica. Nilo hi leis justas ou injustas deste ponte devista.jnas leis mais ou menos adequadas ill um deter-minado PO'{O e a . determinadas cireunstflncias deepoca e lugar.

Mas a forma de governo nao e a unica variavel aser eonsiderada. Deve-se levu em conta igualmentenutras relaeoes assim como0"espirito" particular de

eada povo e de cada epoca. Dai 0 titulo. E e 0 que elefara, nos livros subsequentes,

Para dar uma ideiamais preeisa da constrnr;ioda obra e das suas outras partes; vamos nos servir de'Urnesquemaprepesto por Raymond Aron. que di-

vide a obra em trSs partes principeis, A primeiracompreende os treze primeiros livros e est! consa-

. .

o Ruminismo e os Reis Fi lO.so ftu

. . .grada ao estudo, eomo j6 . virnas, das leis nas suasreil.9i3es 'com os difer,eqies tipos de go,vemo. Umasegunda parte ina do Livro XIV ao Livre .xIX e tratadas causas materials au HsieH, dos fatoJ'lel,de ordemmaterial, come Q cUma e 0 terrene sabre 0qual vivem

05 pOVOS, na sua influencia sobre os costumes e 0

modo de ser. Per eonseguinte, na sua correla~io comas leis. A terceira iria do Livro XX ao Livro XXVI e[lela slo estudados e isolados os fator-es de ordemsocial como 0 eomerelo, as finaneas, a demografia. a

1.:. .. . ; ,Z . . . .re~' ..Alem destas ttSs partes ·p,rincip ais, esteriam os

ultimos liVII05 at~ 0 final consagrados ao estudo daiegisl.aclo romana e feudal e quefuncionaD1 comoto;jlu.stra;6es, bist6:ricas" das te se s e nu nc ia da s ante-

riormente. Haveria ainda dois livros que estariam,por assim dizer, a parte. 0 livro XXIX. que trata daquestilo: como e que devem ser compestas as leis.Este livre, 'segundo 0 tal Aron~ deve ser interpretadocomo uma ~·etabora~1opragmitica das consequcn-cias que se deduzem do estudo cientifieo". Depois, ('I

Livrn XIX, que trata do •'espirito geral de umaD~ion. Seria um dos mais importantes, embora dedificll classifica.cao em um plano qualquer. Repre-

sentaria a transi~lo 'QU 0 laeo entre a primeira parte,a sociologiapolttica ~e as outras duas, que tratam des{ a t o r es f is ic fJ 3 e mOn li .s .

Falamos em socielogia, Mas e preeiso lembrarque a pa]avra. nio e do pr6prio Montesquieu e s6 vaiap'arecer no seculo segulnte, com Augusto Comte. Dequalquer maneira, os histcriadores sAouninimes em

38 Luiz Roberto Sa/intISFones

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classiticar 0 barlo entre os pais dest~ ciencia novaque semente mals tarde conquistari autonomia.Durkheim, por exemplo, eensidera Montesquien eRousseau os grandcs precurseres dasociDiogia. Limi-tando-nos por enquanto a, Montesquiel l l , 0 que eimportanrte notar e nDvidade da abordagem do

autor do ESp'frito das Leu. a wm um elhar inaugu-ral, como Man: ou Freud, &uto do novo esplritocieDtlficQ, que 0 bar!o surpreender,l a. reaHdadsocial. Ate entio 0 eemplexo lIlmverso das coisas

humanas ~a variada dimensio des fatos soeiais nAaera. seoio um fatol' subalterno do real, desprovido deautonomia. A realidade politica era um territ6riosubordinado ao da Mor,a] e a ela se chega.va ao ter-mmo d e 1 .ln la c a de ia d e d ed ut;C le s. D e sc ob re -se agora

bi ...urn novo 0 ~eto autOQO'IDO de estudos, A,bre-se ca.mi-abo para a obse",a~1o met6dica dOl fates socials,sem ideias precoocebidas.

Hegel, no seculo XIX. e ' 0primelro a reconhecer' . . f '" ' • 'da Im po r anCI8 e a nOV l· .ade da abordagem de Mon-

tesquieu, De aeordo com Hegel, ele e 0primeiro , tel"uma verdadeira uvisio hlst6rica", na medlda em 'quenlo censidera abstratamente uma legisJ~loj ms' I e como elemento condicionado de uma totWidadeem correia'Caa com outras detennina~Oes que consti-

memo c~rater de uma nae.a eu de uma 'poca.Ou ainda, como diz um comentador do nosso

secu10 (Louis Althusse,.): a Ur,evo]utlo te6rica·' Ie -vada a efeito por Montesqnieu esti em que ele aplieaa s materias da polUlea e da hist6ria uma categorianewtoniana de lei, isto e , sup(}e. eomo vlmcs, Q1!le~

o Ilu m i,.,is mo e OJ R e iJ F il O sa /Q s

posSlvel extrair das 'pr6prias insntl li . ;Oe_s burnanas os

elementos para e pensar ua diversidade Duma CODS"

tancia, tal como Newton expUca a variedade de movi-mento dos corp os a . partir da atrat;lo reciproca que

exercem uns sabre ,05 outres se.gundo sua massa eposit;io.

Do ponte de vista das doutrinas :poHticas queprofessa nlo se pede dizer, parem, que Montes,quieuseia urn urevolucionmou. Ete nlo se eoloca delibe~radamente ao Jado da burguesia e defende, antes,urn nberaUsmo aristocritico. SUBS simpatias 'poli-

ficas se dirigem a umamonarquia moderada, comomostra 0 grande enfusiasmo que manifesta pelaConst,itu;,io Ing/eso.~a cuja anMise dediea 0 capitulomais longo - e mais famoso - da obra, 0 capitulo

VI do Livre XI. : e . oeste capitulo. alias, ,que formula acelebre leona da 'separa~io e distin~iods poderes:0Executivn 0 Legislative e 0 Judici.iirio. Bsta teoriasera transformada em verdadeiro dogma pela UD'e-

clar~Ao dos Direitos do Homem" de 1789 que pro-clama no seu amlo 16: uQuwlquer ocledade na quala ,g ara ntia d o s d ire ito s nio est iver assegurada, nern aseparaf;Ao dos p .deres determinad I nAn tem Consti-tui 2_.;;u; i:UIJI •

Apesar, no entanto, da sua, fidelidade ,ll nobreze de suas cnnvic~Oes aristecraticas e graeas ,3, umaeerta a:mbigijidade que reina em 5\1 texto, Montes-

quieu Se'fa amplamente utilizado e admirado pelosrevoluciondrios de 89. Marat, por exemplo, nao hesl-

tart e'm prcelamar que Monbisquieu £ 0 "maier ho-mem do seculo'~.

39

40 LlI.iz Roberto SaUnAs Fortes o Ruminismo e os Rei£ FilOso/as 41

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Polemista vigoroso, entice mordaz da ReUgiio e

da Monarquia, Voltaire [laO

epropriamente um teo-,

rico. Nl.o deixou uma obra sistematica que se com-

pare ao 0 Espirito das Leis. SUBS ideias estlo espa-lhadas per numerosas obras de estilo e dnero va-riado e ele , principalmente ° grande agitador epropagandista do 'novo espirUo. Deixou~nos nume-

rosos poemas, inclusive uma epopeia, a. HenrilJae'f

a1em de peeas de teatro, tragedias e comedias. PubU ..cou ramances, dos quais os mais Iamosos slo CQn-

,dide (1759) e 0' In'g,en.uo (1767), urn Trlltado de

Melaflsica urn Dicio"dr;o .Filos6/ico, mas prmei-palmente o EnSfJ;O sabre: os Costumes, ao qual ji nosreferimos, Escreveu ainda outros importantes livros

de hist6ria. como 0 Seculo de Luis XIVe a Hist6ria deCarlos XlI,.

Voltaire (1694~1778), euio verdadeiro Dome is

E possfvel que 0 rugosa tribune revoludonario

tenha em parte razio: de contada a grandiloqueociaUlo freQiiente DO seculo,- talvez seia de fato verdade

que D OS aehamos diante de um des maiores, senio 00

maior homem do s6culo, se I: que iulzos tlo peremp ..t6rios como este tenham qua1quer sentido precise

fora da retorica comemoratrsa. Muito mais do 'QueMontesq[u,ieu, porem, e VoUwe que incorpora 0 "es- '

pirito" do seculo, e ele 0homem-slmhclc, 0 represen-tante exemplar do estilo das Lazes, 0 resumo vivodafilosofia da epoca.

Francois Marie Amuetto nasceu eft) Paris. Sua IOBgsvida pode ser dividida em dais periodos ..Depois deuma brilhante earrelra nas letras, ele se volta, ji com

mais de 60 anos, pra, uma atlla',i6' politic" intensa,tornando-se um verdadeirn 8'postoio da lolerAneia e

celebrizando-se pelas poiemicas ern que se envolve.

SA o a s tam os as questi5es Callas ~Sirvfm, De la Barre,todos virimas de errosjudicWios em c:uja de'ksa 0

escritor se lanea a.p,aixonadamente.Pr,oeurem'os evo~

car primeiro suas id'ias principais para depois aecm-

panha-lo mais de perto nas suas batalhas,

"Ecrasez rIn.fime", ou seja, UEsmaga i a Infa-

men. Dada a violinciadesta expresslo dirigida contraa Igreja Cat6lica e 'com a qual Voltaire quase sempreeonclui sua eorrespondencia, e de se surpreender que

as autoridades eonstituldas milo tenham sido maisse ve ra s c om e le , Everdade que ehegou a te a c onheeera Bastilha por duas vezes, preeisou se ausentar de Pa ..ris e flefugiar~se em Cirey depois de ter publicado em

1734 SUD CfJrtasFilos6/icas au Canas Ingiesas. Mas

as coisas ficaram por at Sua extraordinaria eelebri ..

dade funeionou como uma especie de Imunidade que{)I protegeu das penesuiQOes, e dos adios despertadose permitiu que lo,govoltasse a Paris.

Voltaire e um entusiasta da tilosofia do seculo

XVII. Toda sua pahAo est! volt ada para a Razlo epara 0 seu livre 'e~ercida. Descartes e Newton slopara. ele nomes fundamentals no. hist6ria das con-quistas do espirito. Sobretudo Newton, a quem COD-

S8sra um livro para explicar suss "ideias subHm,es 't I'

como dlz, e enjo titulo ja f suficientemente ehiclda ..

Luiz Roberto Salinas Fortes. o [luminismo If as .Reis FiI6so/os 43

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2

tivo: Elementos da Filoso/ia de Newlon" ,a D Alcancede Todo Mundo" de 1738. Mas e sobretudo 0 "raeio-nalisme" de Locke que 0entusiasma. Avesso aa "es-pirito de sistema" tlo caraeteristiee do cartesia-

nlsmo, 6 para a ruio experimentalism e empmstaque dirige sua simpatiat, e para ele Locke e nada

menos do que 0 Am,tole'les dos tempos modernos .Ora, tudo aquilo quepossa constltnir um en-

trave para a expanslo dessas lues, e par,a ele 0

inimigo principal A tradiCio religiosa e a autoeidadepolitic a 'serlo assim os dais alvos fundamentais dosseus ataques, Vamos primeire seguir os 5eUS passesnesse cembate para em segulda eonslderar a sua obrahist6ric8.

Ape-sar deseus ataques con tra a Igrej,a, Voltaire01 0' Sf pretende ateu e repele as acUS8f;lJes de "ateis -

mo " q llle 0 p e rs eg u iram . No verbete .I Ate u, a ie ism,o u

do seu Diciondrio Filos6/icat el e diz, ,po:r exemplo:UN Ollt roS ' tempos , qualquer pessoa que Iosse detente-ra de um segredo Duma arte, corrlalegc o perigo de !!levtomada 'par leiticeiro; Q:ua1Jquerseita nova er a logoacusada de imolar eriancinhas D OS seus sacrificios eatos de cultos e .0 fil6sofo que se afastasse da termi-nologla da eseola - ou seja, da f ll oso /i a e s col ds ti ca- era aeusade de atelsmo pe los faoi.ticos e pelos

velhacos e condenado pelos idiotas" .Mostra Voltaire como muitos des que atraves da

histo ria , a .c o m e e a r peloproprio Socrates ,foram acu-

sados de atelsmo 0 'foram injustamente. CODdena~assim, muito mais o fanatismo e 0preeoneeito reli..gioso do que 0 ateismo, que reeonheee, , a l i a s " , muito

poueo difundido. Ataea a supenti.;io, a erenea nosmilagres e 0 Bn t ro ,p omo rf ismo na represen1tarrlo deD e us; m as, n lo ne,a em absoluto su a existincia. Aoeontrario, reconhece-a como necessaria, como prin-cl.pioexplicat ivo ultimo de todo 0 universo. Voltaireeontesta, evidentemente, a autoridade absoluta dos ,

Papas epf\e,16 a tolerancia religiosa. Nats Cart'dsinglesQ& m,Qstra, por exemplo, BI'&nde admiraelo

pela tolerincia, dOl quakers r seita protestante.E Vol-taire t amb8m I:) grande campelo do ant ideric ,a1i .smo;

persegue 0cl'rigo sempre que pode por meio de seusepigramas, simas, anedotase e necessaria ter uma

religiio, (liz ele, e nio acredltar nos padres,Do ponto de vista potiticoj Voltaire e urn. refor ..

mista mod erado e prasmitioo. A u1iberdladeltf

e a"propriedade" privada, uma sustentando a outra,sao os dois pilares da sua politica, B ta.mbem urngramde admirador da Constiruieio' in glesa e tambem

Iaz de Luis XIV 0 seu grande modelo de poRtico, naobra ja meneionada sabre 0 stenIa de Luis XIV.Defensor do que se chamaria pcsteriormente deUdespotismo. eselareeida", foi admirador e amigo deFrederico II, rei da Prussia (veja-se mais adiante), doqual foi hospede durante alguns anos. Sua poUtica euma po1itica concrete equotidiana, tendo lutado por

reformas admmist:rativas e civis: proibi~ao cia! pri-sOes atbitririas. supresslo da tortura e da pe.na demorte, supfessao do processo judicial secrete, uni-

dade da legisl~lo~ melbor recebimento de impastose garantia -da liberdade de pensamento e expressan,

,A parte mais original e de maior envergadura da

44 Luiz Roberto Salinas Forte» oRuminismo e os .Reis FilOsa/os

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obra "teeriea" de Voltaire, porem, e a relativa ahist6ria. E possivel afirmar que com ele se dAumaverdadelra inven~io da his-tUria como ciancia. SUBS

(on(!ep~Oes a respelto da investigacao historica SiD

ate hoie 0 ponte de partida para qualquer dSnciahisterfca. Nes t e sentido, Voltaire e um discipu 1 0 e

continuador de m,ayle. Sua grande preocupacao., nadescricao des fatos e levantamento das Iontes dopassado, e a "exatidao", Por outre lade, ele rompecom a hist6ria at6 entlo praticada, que e um amen-tosde de arvore.s genealogicas travestidaa de relatohist6rico. Os historiadores em geral preocupam-secom a evoluclo de uma familia, Dutro ponte de vistaque ele repudia e 0 exelusivamente militar: ehega dehisterias que sao simples atas eomemorativas dos fei-

los de alguns mllitares. Preocupa-se Voltaire com os"povos' , buscando determmar 0espirito do tempo eo "esplrito das .I,dl~Oesu. PropOe uma bist6ria queabranja 0 conjunto das atividades humanas, 0 movi-mente de preeos e silmos, ,lIS grandes inveo'COes(0mo.inho de vento, a lareira. os 6culo:&) .

No que diz respeito a eoneepeae do evolu:lrhist6-rico, Voltaire tern urn ponto de vista "evolucienis-ta". A natureza human a, que' uma so , vai se desen-volvendo gradativamente,passando da potencia ao

ato atrav~s de diferentes etapas e cammha na difec:lodo triunfo das luees, da super~io das 5upen:t if;Oes eda conquista da dviliz.aclo.

Depois de sua segunda ida a Berlim, Voltairevolta e se instala nos dommios de Femey • quase 08

fronteira com a 5ufc;a onde passara os Ultimos vinte

aDOS, de sua. vida. Ao mesmo tempo em que pros&egue

no sell trabalho fiecunoo, torna parte em numeroses

affaires au "casas" judiciirlos, des quais 0 maisfamoso e 0de Callas ..0 "petriarea d e : Femes", comopass-a a ser chamado, converts ..se em urn verdadeimId olo e su a propriedade e visit ada ineessantementeporviajante:s vindos detoda a.Eur-opa. Em 1718" poueo

antes de sua marie e com a ldade de ,84 anos,empreende uma ultima viagem a Paris onde e reee-bido triunfahnente e no dia 30 de marco, per ocaslaoda sexagesima r-epresentacl0 de sua p~a Irene" umbusto seu e ceroado sobre a cell I. £ 0 triunfo. Ao ,qual, alib" 0 proprio Voltaire sucumbira, morrendoa 30 de maio. A obra de Voltaire e completada porsua monumental Correspondincia ~ da qual nos res-

tam ceres de doze mil cartas diriKidas a seteeentoseorrespondentes,

45

o R wminism o e os R ' e i s . F i lOs a / o s 47

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A,uVANGUARDA" ILUMINADA

o principal centro das Lazes 'foi a Franca esua capital, Paris, Paris. alias, ~ a grande metropole

do seculo XV1Il • .010 apenas do ponto de v' ta cultu-ral. ~ c que exprime de maneira pitoresc 0 celebreMarivaux na sua famosa tirada: ..Plaris . .. .. ..diz ele -,o mundo: 0reste da terrae 0seu suburblo".

o que nao significe que as Luzes nlo tenhamse espalhado por tcda a Europa e Ilustrado outrascapitals como Londres e Berlim, prineipalmeare,alem de Viena, Roma, Madrit Lisboa ou Sao Peters-burgo. Mas ehegaram ate mesmo a atingir as Am.e-ricas, especialmente es Estados Unidos sabre cujaf o r.mae; io e independencia nacional influiram decisi ..vamente, Permaneeamos, por enquantov na "eapi-tal", para. em seguida aeempanhar a prop aga~lo dasLuzes atraves da "periferia" .

• • ••

Quando se fala na Filosofia das Luzes pensa-selogo na grande Enciclopedia. Iluministas e eneiclo-pedistas slo termos quase equivalentes, Encic1op,e~

dia: emblem a das Luzes, monumento que at humani-dade deve ill cultura do seculo XVIII. Tendo come-eado a ser public ada em Paris em l751~seu titulo

complete era 0 segulnte: Enciciopedia ON D,icionarioRaciocinado das CiincitlS. des Artes e das Oftcios.

POl' uma Soeiedade de Homens de Letras. Organi-%ada I!Publiead« por Diderot ... e qu,anto d Parte

Matematic(I po, d'Alembert:Nio era, uma "enciclopedia" como outra Qual-

quer, como se vi pelo titulo. Seus verbetes n.io sAosimples justaposi~lo de informBJ;Oes disparatadas.Dedica-se sebretudo a s c i ienc ia s , a s aries e aos oficios

e busea mostrar as, liga~Oesque se estabelecem entreseos diferentes setores ..Eo que nos explica d' Alembert no seu "Discurso

Prellimmarn I texto que serve de introducao ao pri-meiro volume e que fieou famoso: UA obra que come ..

r;amos - diz ele ~ (e que desejamos aeabar) temdois objetives: como Eneiciopedla, deve expor tantoquanta posslvel a ordem e 0 encadeamento dosconhecimentos; como dicionarlo raciocino.do das

dencias, das artes e dos oficios, deve eonter sobre

c a rla c ie n ci .a e sabre eada arte, quer seja liberal. querseja mecaniea, principles gerais que lhe sirvam debase e os pormenores mais essenciais que slo 0 seucorpo e substincia".

Para realizar esta tarefa monumental foramconvocados os espiritos mais brflhantes da epoca.

o liuminismo e os R'eis FilOsa/os 49

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alem de especialistas das, mais diversas materias eprofissionais Jiberais, como advogados e medicos. 0principal orga.nizador da Enr:icloped!~" , sua verda-deira Ualma" t que a ela dedicou a maior parte de sua

vida, foi Diderot. 0 conjunto da obra eompreendetrinta e cinco volumes. sendo 17 volumes de texto,m,ais 11 de :ilustra,~Oes, alem de 4 volumes suplemen-tares de texto e 11m de ilustraGi5es, eompletados POt

dois volumes de lndice getat Sua p'ubHca~io es-tende-se de 1751 a 1780. dividtndo-se em duas fases:

de 1751 a 1757 t itprimeira, e a. segu.nda de 1762 a1772 .

Entre os numerosos colaboradores figuram ospropriO! Montesquleu e Voltalre. 0 primejro redigiuapenas um verbete, sobre 0' Gost», Voltaire, em

compens~io, entusiasmando-se desde 0 inicio com 0

projeto ciaEnciciopedia, ' f o : i responsivel pela red~ao

de quarenta e tres artigos, principalmente de criticeliterana e histeria. Sio dele, por ,exemplo, 05 verbe-tes sobre El'egincia, E lo .q u e n cia'.'Esp,rito, ImQgi~R a , a o .

A Jean-Jacques Rousseau, outre grande nomedo secu[o XVUI ~ deve-se t ambem uma im.portantecolabo1rat ;ao . Antes da su a briga com os eneielope-

distas - este se caraeterizava porbrigar com todomundo ......redigiu Q verbete mtitulado "EconomiaPotitiean e todos os verbetes dedicados A musicQ.

Outros grandes cientistas, como Buffon eo pro-,prio Fontenelle, tambem eolaboram, 0 barlo d'Hol-bach encarrega-se dos temas da quimica e hist6,rianatural. Os .ufisiocrata:s'~ (ver mais adiante) Quesnay

e Turgot ......futuro ministro de Luis XVI - encar-regam-se de verbetes sobre ecoaomia, Mas 0 colabo-

rador mais asslduo e ecnstsnte, tipo de chete deredat;io, ou redator de plantao encarregado depreencher lacunas e que esereveu sobre tudo.foi 0

chevalier de Jaucourt ,(1704~1779). .Aotcdo, sio 142

os autores conhecidos que assinam verbetes,Quanta, a d'Alembert, a1em do "Discurso Preli-

minar" e numeresos artigos sobre .matem,atica e ' 6 . -

sica. redigiu tambem 0 verbete uColegio", no qualeritiea a educ~Ao da epoca, e 0 verbete "Genebra",q ue 5DS c ito u um a famosa polemica com Rousseau, 0briglU!nta.

Alem de sua colabora~io na Encl~cl(JpediQ; alias,Iean Lerond. d'Alembert (1717-1783) deixou outras

obras lmportantes, tendo tambem sido urn matema ..tieo de' prlmeira grandeza .. Seu "Discurso Prelimi-nar", atem de uma mtroduc;io l Enciclopedla, e umimpcrtante resume O'U sumula de todo 0 espiritn daFilosofia desse tempo. Depois de constata.r as gran~des, transformaoe6es que se verificam nos deminiosmais variados das dencias, d'Alembert observe:"Todas essas causas colaborara.m na produ~,10 deuma viva efervesc8ncia dos espiritos ... Tudo foi dis-cutide, analisado, remexide, de:s.deos principios dasc i enc i, a s, a t e os fundamentos da religilo revelada,desde os problemas da metafisica ate os do gosto,

desde a musica. ali a . moral, desde as questaes teol6gi~cas at,e as de eco no mia e eomercio, desde a pclitica ate

o direito das gentes e 0 civill. Fruto desta eferves-ceDc ia geral dos espiritos uma nOva luz sederrama

.50 L u i« R o b er to S r: Jin ru Fones o Ilum.inismo e os Rei« FillJsofos 5]

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sobre muites objetos e novas obscuridades es cobremcomo 0 fluxo e 0 refluxo da mare depeshasn nasmargens eoisas lnesperadas e arrastara oonsigo ou-

tras".

• II •

OWeil e dar uma ideia do coateudo do variadoeonjuntn de textos que compi!Jem a Enc;clopediQ, 0

que podemos dizer e que ai encontramos, sem duvida"

como expcstas em uma vitrina, as ideias principais da

burguesia do seculo XVIlI. Seo catelicismo teve a suaSuma Teal6g;ca com 51.0 Toma de Aquino, a bur-

guesia tambem teve na Enciclop~diQ a sua SumsFilos6fica. Nela podemos eontemplar as principals

ideias e teses politicas e filos6ficas pelas quais a

maioria dos livre -pens adore e homens de tetras do

seeulo se batem.Citemos alguns e empies, Em primeiro Iugar, 0

verbete uFilosofia", de um autor u6nimo. Depois de

definir a filosofia como endo ()ato de "dar a ruao dascoisas ou pelo menos procura-la, porque, enquanto

nos limitamos aver e a contar 0que vemos, n o salmosda historia" t 0 autor pressegue, apontando os daisgrandes obs acu]os aos progresses da filosofla, Sio

eles: a . autoridade e o esp(rito sistematico. Refernrdc-

se 30 primeiro, pedra DO caminho da file ofia, diz:HU m verda.deiro fil6sofo nao v e pelos olhes dos out rose 6 se rende a convic~io que nasee da evidencia'·.Quanta 1.0 £spirito sistemAtico, diz: "por espirlto

si tematieo nao en tendo aquele que lig verd des

entre si para firmar demonstracees, que e afinal 0

verdadeiro esplrite 'fi1os,6fico; mas refire-me aquelle

que constr6i planes e forma os sistemas do universe,aos quais quer seguidamente ajustar. bem cu mal, os

fenomenos I'•Outro verbete de 'maier importin:lcia e que bern

ilustra 0 ideariopolitico dos enciclopedistas e 0 que se

intitula "Representantes". Neste verbete, da autoriado ja referido baTao d "Halbach, esrao expostas ide!ias

semelhantes a s de Montesquieu sabre as qualidadesdo regime represenratjvo. Mostrando que as regimes

desp6ticos :nao neeessltam de representantes, diz 0

autor que urn governante so pede governar direito seexistirem entre de e os suditos representantes que

expliquem sem tumulto, 'QU seja, "cidadaos mais

esclareeidos que os outros, mais interessados no

assunto, euias posses os liguem a patria~ cuia posic;;.iio

o celoque em situa<;io de sentir as necessidades doE tado, os abuses que se introduzem e os remedies

adequades". Somente Rousseau. como verernos mais

adian e, fant uma eritica contundente e radica1 do

sistema representativo.

lilt .. •

A principal figura da Enciciopedia, como ja

observamcs, e Diderot. Nascido em Langres a 5 deoutubro de 1713 e tendo Ialecido em Paris em 1784,Denis Diderot e seguramente uma das per ona1idades

mais marcantes de seu tempo. Exuberante e infatiga-

vel, Diderot exerce grande inDuem:ia sobre seus con-temporaneos e e urn verdadeiro lider entre 05 enciclo-

5 2 Luiz Roberto Salin.as Fortes o flumini&mo e os Reis FilOso/os 53

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bijoux) das col'tesis de um imaginario reino africano

se poem a . falarob ,3 ~iD magiea de urn anel doSultso e eomecam a eontar com mimicias suas lntimi ..dades de alcova. A nlnguern escapou, evidentemente,que o modele retratade nao era. outre senio a propriacorte de Paris.

Sem deixar de trabalhar para a Encielopedia, 0

nosso personagem encentra ainda tempo para novas

lnvestidas contra os preconceitos vigentes. Em 1749publica sua famosa Carta sabre os Ceeas, que chocapela sua veemente profissio dele materialista. Nile ede se surpreender, portan to, que ele acahe igual-mente preso. S6 oio eonhecera a Bastilha porque

esta esta lotada nestes tempos ecnturbados. Seraentia trancafiado no castelo de Vmcennes, onde pas-sari tres me es. Periodo dificil mas n05SOberoi. nioperde o entusiasmo. Continua trabalhando para aEnciciopedia, Depois de algum tempo permitem Quereeeba visitas, as mais assiduos serio sua mulher ed'Alembert, Rousseau tam'bem 0 visita, Uma destasvisitas sera, alias. , imortaljzada em. ums pqina dasCvn/issoes, deste UJtimo. Rousseau eeneebe 0 projeto

do seu primeiro Diseurso e no deeorrer da visits

comunica-o a Diderot que 0 encoraja a realiza-lo. 0

eneoraiamento do entae amigo sera deeisive, como

conta 0 proprio Rousseau. A 3 de novembro de 1749Diderot e liberado, A te esta epoea tivera e perderahis filhos...

A 1~ de julho de 17'51 aparece, finalmen te t 0

primeiro volume da Enc;cl'opedia, contendo urn"Prospectus" de Diderot, alem do "Diseurse Preli-

pedistas,

Embora sua vida quase se confunda com a daEnciciopidia . Diderot deixou uma "bra, variada. Es-creveu peeas de teatro, coates, romances e ensaiosfilosoficcs,

Aos 36 anos de idade, Diderot e convidado pelos

livreiros Briassen.Laurent Durande David a traduziruma "enciclopedia' inglesa entio exisrente, conhe-eida como Encic/opedia Chambers, em cinco volu-

mes. Aceita. Mas 0 que deveria de inicio er apenasuma tradUl;ito va i se converter na m aier empreitadada sua vida. lnsatisfeito com as,limitaeees da encielo-

pedi .a inglesa, ccncebe a idela da grande Enciclope-

di«. Ganho pela entuslasmo, censesue v,ende-la aoseditores. Di inlcia entia a prodjgiosa mobllizat;'io de

talentos da qual brotara, cineo aDOS depois, 0 pri-meiro fruto. Dai em dianne dedicae-se-a quase exelusi-vamente a . prudur;ao para aEncidopedia.

Em 4 6 ' 1 ' premldo per necessidades fmanceiras e80 mesmo tempo em Que inieia 0 trabalho para aEnciclopedia t pubflca PellSd,Pnentos Filos6/ico.s, obraque e condenada pelo Parlamento de Paris, Bscreveainda La Promenade du Sceptique (0 Passeio doCetico). sebre a qual fa z revelaeoes em urn "cafc"para. "amigos", 0 que provoca grande fa]atorio e

desperta novamente em sua direc;-iio a a.tenclo dapolicia. E obrigado a mudar de residencia e ' a s e

manter algum tempo semi-elandestine. Publica a ter-rivel sitira L e s ,B iio ux Indiserets, cuja trarna "obs-cena" prevoea grande escandalo e [he traz multodinheiro, Tambem nao e para menos: as vaginas (os

54Lui» Roberto SalinoJ Fortes () Ruminismo e os Reis Fil6!iofos 5 S

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minar" de d'Alembert, 0 impacto e grande. Nnme-

rosos os entu.siastas, mas muitos ' S a o tambem os criti-cos, logo transformados em inimiaos impiacaveis sobo comando dos Jesuitas. Ate 175,9, apesar da ooosi ..1:;3\0 crescen te egraeas ip'rotec;ao velada e a toleran-cia do ministre Malhesherbes, dez volumes serao

publicados. Do ponte de vista financeiro 0 sucesso eabsoluto: durante 0 periodo a Enc~~clopediQtera 3 500

assinantes. 0 empreendlmento faz a fortuna. dos li-

vreiros, mas nao de Drderot, ""Nioe bem estranho -reclama ele no final da vida - que eu tenha traba-

Ihado trinta anos para es associados da Eneiclo-pedia, que minha vida. tenh a passado, que lhes res-tern 2 mjlhfies e Que eu nao tenha urn tostao?"

Em 17591 a publlcacao da Encidopediu ser,a

proibida, Mas ,0 trabaJho continna em surdina, em-bora em ritmo mais lento. Finalmente, em 1769 se-

rilo publieados de uma s6 vez oa seus ult imos 7 HVfOS'J

mas jii. desta vez muitns dos colaboradores inicials,

dentre os quails d'Alembert, abandonaram o barco.A partir desta data Diderot encontra tempo

ainda pa.ra escrever algumas de suas obras prin-

cipais. Volta-se primeiramentepera 0 teatro e e COD-~ -

sjderadc o criador do drama burgues com as pe,c.as0

Filb« Natural e Pai de Fam{fia. ,A . partir de 1759redige para a .Co,.,.eIPondincia Literaria IdiriSida. por

seu amigo Grimm, os famesos "Saloes' I resenha dos

aconteeimentos artistieos que inauguram a crltica de

arte. Escreve ainda urn romance, a Religioo(J, publi-

cado postumarnente, e duas obras tundamentais: 0

Sobrin./zo de Rameau e 0 Sonho de d'Alember,t. 0

Sobrinho de Ramf!tJu tambem sera publicado postu-mamente e assim mesmo em aJemio, em traduekl deGoethe.

Ao contrario de Voltaire, Diderot nunca se.ra

rico. Hi epocas em sua vida em que chega mesmo

quase a beira da miseria ..Em 116l a prote!;io de Cata-rina, lit imperatriz "eselarecida" d 3 1 Russia~ grande

admiradora de Diderot e des "encielopedistas", ga-

rantira a ele uma certa fO]Qa. ate 0 fim da vida. Que-

rendo eonstituir urn dote para 8 1 u n i c , 8 ! filha que Therestara, Marie~Anlelique~ Diderot anuncia sua , i n ten -cl0 de vender a biblioteca que acurmilara ao Iongo dos

anos, Catarina lit informada por seu embaixador em

Paris, 01.0 apenas compra a ,biblioteea como 0 nomeiaseu proprio biblioteaario, encarregado da eonserva-

f;io dapr-upria biblloteea. A convite de 'Ca ta r ina . II Di-d e ro t emp re e nd e ra tambem uma v i.a .g em d e e erc a d eumanc lRussia, de onde volta em 1774.

• • •

A parte filos6fica 010 e c erta m errte a principal,nem a mais original na obra de Dlderot. De todos osilumini:stas, porem, e urn desmais ousados filosofi-camente. Nlo hesita em romper definit iva e radi ..

calmente cam a Teologia e a F:il.mmfia tradieionais evai alem de Voltaire. por exemple, prolessando urn

re so lu te a te ism o e urn censeq fi en te m ateriaiiama-o homem, para Diderot, em nada difere dos

outros seres do universe: e urns. por~~.o de mat6riaeenstitulda de itomos e construida segundo as leis

56 Luiz Roberto Suiintu Fo'rl~ o Jl~rnin~mo e es Reis Fi16sofos 5 7

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universals que regem toda a Natureza. A le m ru sso ,

nio hi nenhum Deus.Suas ideias principals sin fixades nas §eguintes

obras propriamente filos6ficas: Carta sabre os CegQI"

Carta sabre as Surdus e Mudo,s, Entrev;stQ entred'Alembert eDide.rotJ 0 Sonha de d'Alemhed, a .

Continua¢a da Entrevisttlt e, fiaalmente, A Entre-vista de um F';16so/0com a Marechala de...

Nesta Ultima obra, Diderot assim resume 0 senmaterialismo: USe , e que podemes acreditar 'que vere-mas Quando oio tivermos mais olhos; que ouviremosquando nita tivermos mais ouvidos; que pensaremosquando nl0 tivermos mais c abe c a : que sentiremcsquando n1 10 tivermos mais o o ra~ ao ; q ue existiremosquando nlo estivermos em parte algoma; que sere-

mos alga sem extensao e sem lugar t entae consinto".

O u se ia , se e possivel acreditar em tamanhos absur -des, entia censinto em que hA algo alem da materia .Tudo e materia, pensa Diderot, e a materia e aessencia do real.

Na Carta sobre os CeR(J~aflrma, por exem:plo:"Como nunce duvidei de que 0 estade de nossos

Orllo& e de nossos aeutidos tenha rnuita infiu@ncia SO~

b re no ssa me ta fisic a e so b re no ssa mo ra l e que no ssa s

ideias as mais puramente Intelectuais, se asslm possofalar, prendem-se de muito perto , a confo ' rma~Ao de

nosso corpo, pus-me a questionar nosso cego sobre osvic io s e as virtudes", Toda a Carta e urn.a iJust:r~iodesta te5e. Diderot retoma o problem a tlo discu tideno seculo XVIII e que fieou conhecidc como 0 pro~

blema de MoJyneau.: se om cego de naseenea recu-

perar a risio atraves de uma oper~i.o, sua vista Ihe

Iomecera inform,~~Sl eonvergentes com as, dos ou-tros sentidos? Par exemplo; sabera distinguir umglabo de urn C~bD Que aprendeu a distinguir pelosentido do tate? Diderot mostrar' a profunda. de-pendenc i a das n.ossas i d e : i a . s , relat ivamente las nessos

sentidos, Alem dlisso~ engajar-se-a na via de umapsieologia experimental.

Aexperimenta~lo, a lia s. ta m b6 m para Did e r o te fundamental. Toda. ciencia nln pode se apoiar em

puras espeeu •.a~ Oes, m as, d eve estar exper imenta l -

mente fundamentada,Ao matematismo de D e sc arte s, p re ie re ,0 exper i -

mentallsmo de :Newton. Em uma de suas obras diz"per exempl0., 0 seguinte; "Temos tre:s meios princi-

pais, a obse rvaeao da natureza, a reflexio e_a expe-

rienda; a observ~ao recolhe os fatos; a r -eDex io oscombina; ,8 ,experienda verifiea 0 resultadn da com-binaeao . Epreciso q ue ' a observaeao da natureza sej.a

assidua. que a.reflexio sela profunda e que a expe-ri@ .n da .se ja e xa ta ". E m o utra ocuilo declara: "Uma

boa observ~lo vale mais do que cern. teorias" .Do ponte devista politi,co, sua posi~io moderada

contrasts com 0 radicalismo filos6fico e rel igiose eoseila entre a monarquia . a inslesa e 0 cbamado"despotismo esclarecldc" (ve.r mais adiante), De

qualquer mane ira, a.questao dosgovernos e das for-mas de governo e para ele, ao que parece. umaQuestio secund.ana. A poUtiea deve estar subordi-

nada a economla e, afinat 0grande p'£incipio a piaruma e a outra devera . ser 0 cia ,"filidade.

58 Luiz Roherto Salmas Fortes o llumini.smQ e os Reis Filosofos 59

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Tambem eerram filelras em torno do materia-lismo alguns outros pensadore muito ligados a Dide-rot e a obra da EllCiclopediu. a principal loi 0 baraod'Holbach (1723..1789), ao qua] j~ memos referen~cia.

Alem de se dedicar A s cienci.ms. d 'Holbach, ricoaristocr ta o e tambem uma especle de meeenas. E emseus saloes que S IC reunem os enciclopedistas para as

suas noitadas interminaveis. Escreveu varias obras,

entre as quais Cristianismo Desmascarado, Polltica

Natural, e prineipalmente Sistema da Natureza. Es-creve tambern uma Morul Universal que recebe gran-

des elegies de Diderot, Tal como, Helvetius, seu cola-borador e amigo (1715~17'O autor de uma obra

famosa e polemi a - D'o Esplrito ~, d'Helbaeh

professa urn materialismo decidido e r,adical Tam-bern La Mettrie (1709-1751) e outre lmportanteadep 0 do materiaHsmo. Sua obra 0 Hamem MII-quina tambem caUSOD sensacao na epoca. Mas estestres. pelos seus exageres mecanieistas, seriarn umacarieatura do "e plrito" das Luzes,

Naopodemos {alar do lIuminismo franc@ t con ..tudo, sem nos referirmos ao abade de Condillac.

A'l:1or de 'va rias ob ra s, ex erc eu gfande influenciasobre os contemporaneos. Foi um adept a do "sen-

sualismo • e sua obra principal e urn Ensaio sabre 11

OFigem dos Conhecimentos Humunos (1746). Se-

guem-se ainda Q Tratado dos Sistemas (1749) e 0

Tratado da s Sensa~,(jes (1754).

• *, •

a outre grande centro do Iluminismo na Europafoi a Ora- Bretanha, Seus Domes prineipais sio os deBerkeley, Hume e Bentham. Mas, antes de nos '101-

tarmos a eles, consideremcs 0 chamado "deismo"ingles.

Embora nio tenha produzido nenhuma obra degrande envergadura au de especial profundidade cuorlginalidade, 0 "deismo" ingles exerceu grande

influencia sobre toda a Europa. Seusprincipaisrepresentantes sao Toland, autor de urn Cristianismo

ni io Mi s t e rios ( J ! e Tindal, que escreveu em 1730 Cris-

tandade tao Velh(J qU'UJto a Crid,ao, Defendendouma religiio racional e uma ideia de divindade

apoiada exelusivamente na razao, eles dao grandeimpulso it : critica da religiio tradicional. Sio os pri ..

metros a introduzir a ideJa, de uma '~religiao natural"que fanl enorme mimero de seguidores em todos aspalses no seeulo XVIII. 0 proprio Bayle . alias, em

cuj.a obra se encontra uma veemente critica contra 0

fanatismo, pode ser cnnsiderado um deiste,Mas a grande presenca na Inglaterra das Luzes e

a de Locke. 0grande mestre Ingles do s~ulo anterior.Sua fHosofia empirista reinara soberana e lnflueneia-nl Berkeley (l685~]753) e Hume (1711-1776h os dois

grandes do seculo XVIH.

Oprimeiro parece, , 3 . primeira vista, dificilmenteenquadravel dentro do emancipacicnisrno iluminis-

t a o Sua obraapareee mais como uma tentativa de

restau ra.;Ao. Como um esforco ~polo8etmco.Pois olio

investe Berkeley veementemeate contra 0 "materia-Ilsmo"? A grande -preocupa;ilo deste missicnario que

60 Laiz Roberto SalinaJIFones 61

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nascide em Edinburgo. a capital daEsc6cia, com 0

nodeo central do Iluminismo, Tendo passado vArlos

anos no.Franca, Hume fr eq ue n'to u e tornou-se intimados prineipais encidopedista.s, dentre os quais d

i

A-lembert e Diderot. Iina Inglaterra, POI outre Iadc,deu abrigo durante algum tempo a Jeaa-Jacques

Rousseau que fugia da Franca, mas com 0 qualt ambem acabou se desen.tendendoinevitavelmente.

Pela originalidade de suasteses e p ela in flu@n c ia

que exerceu sobre a filosofia posterior, sua ohra tem,por~m urn lugar a parte na his:t6ria das ideias,. Dai

por q~e de aqui eomparece cia maneira a rna-is 81\1-.Siva.

Quanto a . influencia Q.ue ex e re eu basta lem.brar

o que Kant dizia dele. Que 0 despertara - a exp~s ..SiD era do proprio Kant - do seu sonho dogmabco.E . a sua recusa do dogmatismo e a sua. denuncia des

limites do en.tendlmento atraves de um aprofunda ..mente do empirismc lockiano que abre 0 caminho

para a. tarefa de critiea da Razio Que 0 iil6sofo

alemlo realizara nas tres ultimas decadas do seculo.Como mnciona:ria l, vende-e mals de perto, esse des -

pertador antidogmatico? _Aqu;i t amb em eis- nos dia.nte de um a obra va -

riada. Hume ~ urn fll6sofo precoce: por 'V o lta d os

vinte e cinco arms redige (II Tratado da NtJturezaHumana (publicado em 1739..1740). que depois rene ..

Rat dlsendo tratar-se de obra de~u .veD tu .d~ . Esc rev~ainda 0,5 seguintes easaios filDS6flcos: EnSOI03 MoralSe Po'uticOJ

t- /nvestiga,iio sabre 0Enten,dimento, 1 1 1 -

ve&tigaca o sabre os PriNcipio3 da Moral t Discurms

acabou blspo da Igreja anglican.a e em sua ultimaobra ~ Siris - mergulhou deeididameate n. O misti-eismo, e t com efeito, a de pre-servar, no esseneial, asteses tradicionais do espiritualismo reUgioso. Ado-tara para tanto, por-em, uma titica fnos6ftc:a on-

sinal.Servir-se-a do empiris,mo para atacar 0materia-

Usmo. Como? Dificile ,acompuhi-l0 em toda ,asuti-

leza de sua argumenta,elo. Resta-nos lembrar, ,a ti -

tulo de simples indic~io docnmentana, 0 seu temaprincipal. : e 0 fam.oso adagio use, e percebein, for-

mulado em latim ease est p'ercipi. Tude se reduz . apercep~Ao: 0 ser e ou 0 percipiente ou 0 pereebido,AJem disso, alem daqullo que pereebemos .•010existenenhuma "substflncia" materiaL 'Conigindo Descar-tes. que havia distinguido uma substincia extens« deuma substlncia pensante I Berke'ley 'fica apenas comt ' lti S' b .":1 E . . ds A uma.uas oeras pnnClp,ats SaO: ·lISQ'OS ·e

uma Nova Teon~QdQ Vi.nio e Di6logos de Hila.s ,e'

Pi/anaus. Esereveu ainda um Tratado dos Princlpiosdo Conhecimento HumallfJ, 0 Anlliista e Alci/rton.,

alem de Siris, ja.referida~Hat p o r,em, em Ber~eley,. um otimismo que est!

bern dentro do espirito, iluminista. Para ele s o h ae sp irito s Q ue p ere eb em e c oisa s p ere eb id as, Bstas sa o

apen.as signo s. a lingua gem atrave s. da q1!lal Deus seccmunlea com os espiritos humanos. 0 mundo efei 0 para os hom ens, e e aquila que, para utilidade

Rossa, Deus no s diz, como lembra urn. cementador. E

Deus encaminha tude para 0 DOno bem,

Mais estreitas sin as rel~s de David Hume I

62 Lui:z Roberto Salinas Fortes o IlfJmi~ismQ eosRei« FilOsa/os

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Potiticos. S o postumameate Seta publicada aquelaque IS por muitos considerada sua obra-prima: Did',-

logos sabre a Rel ig iaQ Nurtured. Depots dessa incur-s a o pela fllosofia., volta-se para a hist6ria e trans-forma-sf em urn dos primeiros grandes historiaderes

d a I ng la te rr a, redigindo n umero so s vOli om es de uma

Historia da inRlate,.,.a.,Assceieciomsmo e ceticismo: eis as etiquetas

que os manuals costumam grudar ao lado do nomedo escoces, Mas como nao estamos aqui lidando comurn rorul0 de ulsque, tentemcs expliear urn pouce

essas etiquetas, Trata-se de uma psicologia, de umateoria da alma humana e do seu funeienamento emque se fundamenta uma determinada id6ia sobre 0

que vern a se r 0 conhecimento humane,o ~'esplritc" humane e constisuido per atomos

de impressees OU sensa~ik ;s a que ehamamos comu-mente de "ideias". Ao Iado destes "atomos" hi asrelaebes entre eles, as quais na.o s a o dadas na expe-riencia. Como se dan? Fortalecida pelo "habito' eestabeleeida segundo urn certo "principle' lnserito

na "'na:f:u:reza human a ItI a relacao se fixa, Por exem-

plo: a . partir des sinais inseritos em um livre aeredito

que Ce:sar venceu: on ainda, an vero sol levantar-se,

digo que se Ievantara amanha, Estabeleco assim uma

relr«:io de "causalidade" entre uma idtHa e outra. Acausalidade, ao lade da "contiguidade" , da "seme-

Ihanca", slo os principios segundo os quais rela-Ch)[1O.

Ora, argumenta Hume, estes principios de rela-

~lonilo estao dados na experiencia. Por conseguinte,

gtra.,as ieausalidade ultrapas'so a expe:rienci.a. Infiro,creio que as coisas se passam de ta m ou tal modo.N.ito

se tra ta t al7 Por eonsegu inte t de uma certeza absolutae aqui estamos a lt~guas de distaDcia de Descartes.

que exigia como ponto de partida para 0 conheci-mente uma certezs aosoluta. Quimera. pensa Hume,

omaximo a que podemos chegar 6 a uma "crenca".Racional, sem duvida. Mas" crenea. Na 'base de todo

conhecimento aeha-se, pois, um.a crenea, Eis al arese pe~a qual Hume ganhou 0 epi tern de oetico, pai

do ceticismo moderno, etc. Niopodemos ter certeza

de que as relacoes que Hxamos s ejam e fe ti vament eexistentes na realidade, Eis ai aberto 0camjnho para

uma critica das representaeoes que levari ate a revo-

IU'i;ao kantiana inscrita na Critica da Raziio Pura,

Do ponte de vistapolitico a posicilo de Hume eliberal e conservadora. Hume n!o acredita no direitodivino 0," em leis naturais, eternas. a verdadeirofundamento do governo e 0 babita. HUm sovernoestabelecido tern uma van taaem infinitapela propriarazao de que esta estabeleeido, tt Ele poueo se preo-

cupa com oproblema da origem das instituicoes queem Rousseau, como veremos, ocupara 0 centro da

problernatica. Par outre lado, 0 princlpio supremo

da politlca e da arte de governar 0:\1 homens sera 0 de

utilidade.Quiros dois names importantes da epoca na

Gra-Bretanha sao as de Adam Smith (1723-1790) e 0de Bentham (l748-1f'32). Ao primeiro devernos 0

balbueiar de uma nova ciencia, a Economia Politica,

destinarla a causar uma grande revolucao tecriea

64 Lui~ Roberto Salinas Forte s

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oEVANGELHO DOS

N OV OS TEM PO S

Bem, ap6s esse 10ngo percurso, ehegames ao

mais dificil e cmnplicado dentre tedos os penon a-gens de prime ira, grandeza do seculo XVIII. Como

classin.ca.-Io? Camaleonicamente, Jean-Jacques Rous -seau esca:pa a todas as classific,wr~s. Iluminlsta ounl01 Como ehamar de "Iluminista" aiguem que pas-

sou boa parte da sua vida brigando ralvosamentecontra a pequena confraria dos entusiastas edifica-

dores da E'nciclopedia ?Em primeiro higar, Rousseau diz-se sempre e

repetidamente um "eristao". Nlo entra nessas histe-rias de "materialismo", "ateisme", Nlo, uada disso.Para ele, calvinist a . como e de formru;ao , hi mesmo111mDeus que rege 0 unlverso, senhor supremo talcomo ensinam as paginas desse livro imortal que , e a,

Biblia.

quando submetida a critica de Karl Marx no seculo

seguinte, Au segundo est' ligado 0 utilitarismo,Tanto um como 0 Dutro sloliberais.

lIE lIE I:

Nossa passeio pelo eontinente estaria ineom-pleto se naD menclonissemos as ramifica.eOes do Ilu-minismo na Alemanha. Sem aprofundarmos 0 pen-samento dos seus prfneipais repeesentantes, lind-temo-nos a evoci ..los, embora eorrendo 0 risco deIorneeer an leit~r alga 'como uma lista telef8nica, 00

seculo XVIn. Confiamos, porem I em que com ela

naa se contente e utilize-se, caso pretenda conhece-los

mais de perto, dos aparelhos mesmos de comuni-

ca~io~ no case os textos por' eles deixados.Embora a Alemanha seja 0 pais das "brumas",

tambem Ii hi alguns far6is. Os prlncipais sio Wolff,Reimarus, Lessing e Herder. 0 primeiro exerceumu.ita influ@ncia scbre Kant durante a primeira lase

de sua carreira e I e ' um fil6solo , ."cionai:lsta no estiloleibniziano, Reimarus e urn apologista de uma reli-giio ,.acional. Tambem Lessing Sf volta para a reli-gilo e e urn critico raeionalist« da Bibua, aI,em deincursionar profundamente pela esthie«, Herder,

POT sua vez, deixou obra. eensideravel como 'fiI6sofoda Hist6ria ..

66 , Luiz Roberto Salincu Fartes 67

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Nada de mals distante, pertanto, l primeiravista, da "vanguarda" iluminada. E, de fato. ROUS6

seau afastou-se tambem pessoaimente, isolando-secompletameate des circulos de eneiclopedistas que'freqiientara! quando jovem~ logo no :im1ciode suatumultuada earreira, quando mal deseobria amda ascomp[ic~oes da grande cidade, Paris, que dominavaentao culturelmente 0mundo inteiro,

Rousseau se interessou por mnita coisa, Sua

primeirae grande paixio, como, elemesmo relata em

vadas ocasiOes na sua vasts obra, fol a MrJsica~ tal

como ocorreu para muita sente neste s6culo de Bach

e d e M ozart. Ele p'r6prio to ca ve e eompunae m·usiea .Chegou ate mesmo ,8 mventar um novo sistema denotaeao musical que apresentou a. uma Academia de

Ciel1cias, uma das muitas in .s t -i tuiCOes que pululavam

na epoca., tendo sido ~jeitado por ser par demaiscompllcado, Dai tambem 0 porque do convite desencielopedistas par,a que 0jovem Jean-Jacques escre-vesse os verbetes sebre "Music a' , da Enciclopedia.

Gradativamente sua voc~io foi mudando e ele,pelaforca das circunstsacias, ioi se ccnvertendo emurn,eseritor, Eque escritcrll! Um escritor tlo. impor-tante que logo surpreendeu a todos da ger~ao com 0

seu prime-ito escrito, lntitulado: DiscUTSO sabre as

C i e n c l . · Q 1 i e as Artes, publicado em 1749. E a sua

primeira grande obra, na qualja se acham em germetodos os elementos da sua bela doutrina,

Com esta ob.ra"lanhou. 0primeiro pr,emio em umconeurso cia Academia de Dij on, na Franea, Nela

defendia 01 ponto de vista de que as grandes lnven-

f;Oes,as ciencias, as artes e as tetras, a cujo refloreseerse assistia DR 6poca~ ao inves de melihorarem 0

Homem; 0 baviam~na realidade, deteriorado, Teseehecante espeeialmeate para os enciciopedislas. queviam de repen t e esta ovelha de-sgan ada conver tee-se

, "tr ld nd .. mdem urn pen.goso 'at or a gran ~e cau sa.

Rousseau vcltou a carga, mais instrumentado emais abalizado, em umasegunda obra, de titulotambem famose: Discurso sabre a Origem dll Desi-

g-"uldude entre 08 Ho'men.,. E, afinal. pergunta ele,~ ,,_ . d U .t u-ob-res" como' el!·om o ! O i ' esse neg \iP l, ;l o . enco~ e P ' '. . , . " iii ;1' . . .. '

que ' e ? Esta udesigualdade""l para Rousseau, nao e"natura!' 'J' D,io deeorre da .N a tu re za - pois naquelaepoca se Ialava assim ~ do proprio Homem, Eladeeorre da histeria dos homens e das rela~Oes mult i&plas que entre eles se estabeJeceram e que provo-

caram, com.o produtos derivados, uma pon;i\o demales ta is c omo : a miseria e a opuU~ncia, 0 poder de

urn ladoe, de outro, os pobres desditados; os gover-nantes, de um lado, e, de outro, os pobres gover-nados. Tude isso, dizia Rousseau, tudo isse qu.e ve..mos hoie e m n 05 Sa .fre nte , 'e SS a5diferen~as todas entrenobres bursneses, c.ampones.es, etc., 010 s a o nadanaturals e precisam aeabar, Sim, precisam aeabar,pois e est a "deslgualdade" a fonte absoluta e unica .de todos os males soeiais des homens.

E como aeabar com ela.s?Rousseau tinha queprossegulr depois de ter Ievantado tA o esc,a.brosa:sinteITOs~'oes. Nos, dois Discusso s ataeava a udri-lizru;lo'l ~de um lado, e, de outre, a propria organl-

za~ilo da sociedade atual, Ambas,para Rousseau,

Llfiz Roberto Salinas Fones . o lluminismo e as Reis Filwofos

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degenerQti)1QS para 0homem,Ele tinha que prosseguir e esereveu entao duas

obras de dimensOes e inten~lies desiguaisl mas; abso-futamente complementares. Trata-se de 0 Do' Con-

tr-ato Sociul e de 0' Emilio, ambas pubticadas nomesmo ann de 1762. Data portanto, decisiva,

Nestas duas obras Rousseau nos dA 0 essencial c iasu a re sp osta a gu e_ as g ra nd es in te rro ga cC ie s re fe rid as.

Eo faz em dois planes: a ,nivel poUtico e, d iga rno .s , anivel "~pedag6gico'·. Como fazer para eliminar osmales da vida social e politic a dos homens dando-lhes uma nova base? A resposta e : "contrato soeial'

"Se, pais, - deelara Rousseau no famoso ,capi-tulo VI do Livro I do Du Con'tTat - afastamos do

!~,1 :t ,I d ..... tpac ta SOCliU 0 que nao e " a sua e ssene ia , eD CODra . .remos que se reduz aos termos seguintes, Cada um

de n6s coloca em tComum sua pessoa e toda suapotencia sob a supremQ dl"re,iio do Vf},nt"de ge,.,,,I; e

recebemos em eorpo cada membra como parte indi-visivel do todo.' A partir oeste instante, diz eleainde Uno lugar da pessoa particular de eada centra-tante, este ato de associa~io produz urn WI1l0 morale coletivo cemposto de tantos membros quantos aassernbleia tern de 'lotos, 0 qual recebe deste mesmoato sua unldade, seu e~ comum, sua vida. e sua

vontade. Esta pessoa publica que se forma assim pela

uniao de todas as outras tomava outrora 0 nome deCidade e toma agora 0 de Republica ou de ,corpo

pnlitice", Par outras palavras: s6 serio soberancs elivres e, portanto, felizes ----na medida em que issonos e posslvel nesta nossa condicao terrena ----os

homens que estabetecerem entre :siurn contra.to detall fo rma que as diferenil :es soberanias e liberdadesq ue se ju ntam p erm an ec ;a tn . indefinldamente :Livresesoberanas. Esta sera, a . regra suplIe.ma para, qualquerjulgamento, para qualquerjuizo sabre a poJJitica,

Em segundo lugar, no plano pedag6gioo. Mas

aqui as coisas se complieam consideravelmente. E eentia que Rousseau se p(5ea campo para redigir 0

seu lmense tratado sabre edueacao a que den 0 nomede Emilio, o nome do proprio personagem central,ou seia, 0 educando. Nesta obra unensa, que 0 p r o -prio Jean-Jacques considerava como seu feito maisnotivet 0 auter nos mostra que dife~entes etapasa educa~lo do Homem deve segulr para que os indi-riduos humanos se tornem cada vez mais llvres esoberanos

t, mais tlutintico8 e autonomos. A inspira-

c;ln" como e ficit perceber, II ! amesma que moveRousseau no plano da poHt ica .

Liberdade e Soberanla, mais do que "Liberdadee Igualdade", sio, entio., as duas gr ,andes nm;&e5,

centrals dessa filosofia incompreendida. Muito m -compreendida e ao mesmo tempo convertida, du-rante a Revolucio~ em verdadeiro evangellio des00V05 tempos. Eeste seria todo um entre capitulo aser redigido, fJ das mcompreeDs~s e, ao mesmo tem-po, do exito que eercaram a ligu:ra e a obra desteperson agem tiD extraordinario, Ele proprio tinhaconscrencia e soma amergamente com as Incom-'p re e n 's a es . E is 0 que dls, par exemplo: uEscrev~ so -b re d iv erso s a ssu nto s, m as se mp re n os mesmes prmd-pios: sempre a mesma moral, a mesma erenca, as

70 Luiz Roberto Salinas Fortes o I 'N minisma e os Reis FilOsa/os 7 1

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mesmas .mwmas e , se q uise re m, a s m esm as (Jpini~s.,

No entanto, foram formulados juizos opostcs sobremeus livres, ou antes, sobre 0autor de meus livros;porque me julgaram a p,artir das materiu, de Que

tratei bem mais do que a partir dos meus sentimen ..tDS. Depois do meu primeiro Discur . su , eu era um

homem de pua.doxost ''Iue fazia 11m j080t para si

mesmo 'em praV"f 0 que nla :pensava; depols deminha Carta sobre a MdsicQ Freneesa, eu era 0

inimigo deelarado daD~Io: pouco faltou para queme tratassem como conspirador; dir~se-ia que a sortedamonarquia estava lila.da ag16ria da Opera; depoisde meu Diseurso sabre a Desigualdade ~e u era ateu em.isantropo; depois da Carta Q d 'Alembert, en era 0

defenscr da m,oraJ cristi; depoi.s da Heloua. , eu eraterno e adocicad.o: agora sou urn, impio; L O , g o mais

serei urn devote" .Es,tas palavras Jean~Jacgues esereve em earta

dirlgida ao areebispo de Paris para protestar contra apr-aibi~io da impressao de SUfIS, obras no territ6rlofrances e Uvri-las das ,acusaeoos ,que se bre e la s p esa -y am n o se ntid o de Q ue p ro mo viam a irreligiosidade ea desereeea em t odos os govemos Institaldos, Sim, e 'isso mesmo. Rousseau foi considerado um perigososubversive eteve que passar a sua vida toda fugindo,

: e por isso tamb~m Qjue'faz~adatar c rnomento emque sua vida se transformara em urn verdadeiro pesa-delo e .u:dorillnio, da sua dedica.elo 1 espinhosa Cal"

:reira das letras que abraeara com tanto ardor etalento.

: e , alias, semente e .m n osso se cu lo q ue R ousse au

comeca a ser melhor compreendido, Foi somenteago.fa, eomo ele previa, disendo que escrcvia para. H I

posteridade, que este ddadlo nascido em Gen.ebraem 1712, mostrou-se em toda a,plenitude:: da suaimportincia em vanos dominios do saber e das artes,desde a literatura ate Apedagogia e apo1itica. Autor

de um romance intituladoA Nova BdoistJJ

ele ji.nzera 'furor :no seu proprio eculo XVIII junto is

m oe oila s rm nan titca s e gerou, com esta obra, tedauma sens ibilidade peculiar que ina mais tarde serbatizada de "romantismo" e que teria grande desen-volvlmento, depols do I lumiDismo, e 110 secu]o se -

guinte, principalment,e na Iiteratura alemi. Goetheera um fanatica admirador de Rousseau. Assimcomo tambem 0poeta Hoelderlm.o pr6prio Goethe, aliist resume em u:maf6r ..

mula Iamosa e lapidar ()Iugar de Rousseau n.05 tem-posmodernos. Cemparando os dais, grandes 'homes

do seculo, Voltaire, de urn lado, e, de Dut ro , Rous-seau, diz Goethe: "Com Voltaire ummundo aeaba;com 'Rousseau um mundo e ome ca ' '. Eis definida aide maneira exemplar 0 papeI e 0 sipHieado ultimodas obras destes dais uirmios-inimigos"', cuju cin-zas se eneentram deposUada : s no Panteoo de Paris.

Voltaire detestava Rousseau. Sempre foi um lei-

tor de m a vontade em relatClo b obras de Rousseau.Faria dele comentirios [ocosos e maldosos que ma o

goavam. profondamemte 0jovem Jean-Jacques, que 0

tivera, como todos os de sua , Re:rw;lo, cemo 0 < grande

guia espiritual. Referindo·,se ao D is CUT SO s ob re aDesigualdude", Voltaire dizia, par exemplo, mais ou

L u. .iz R 'o be rto S a/in tIS F o·F te J o lluminismo e as Reis ,FilOilofos 7 3

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menos 0 seguinte: esse "cidadao" al est'. quereadoque nbs todos, homens civilizados, voltemes a udal"

de Quatro patas, 0 que era sem d:uvida uma leituraurn tanto quante apressada desta gra.n.de obra, consi-derada pelo antrop61og,Q Uvi-StrauKS como a pri-

meira obra de "etnologia t. de que se tern noticia n;abist6ria. Pant voces verem como pode ser grande ainoompreensio ate mesmo entre dots nAo meROS

grandes e s pl ,. il o& .

Seria Rousseau iluminista, lluminado, i lumma-dor? Nao se sabe, 00que se sabe de efetivo ~ que suaobra e mesmo muite compUcad a , com mil meandrose aparentes contradieoes msuperaveis. Ele parecedesdizer em uma p,igina 0 Que disse DR.outra, Briga

com todo munde, como ji dissemos, com os de-rigos

caloliew de urn lado e, de outre, com 0 partidoadverso, 0 do! philosophes. Todo mundo 0 detesta,nio e sO Voltaire. Todos fazem dele uma imagemterrivel e 0 fan tasiam como a umverdadeiro monstrolnsociavel a escrever paradoxes inWtelisi·veis.

Se nlo , possivel dizer, assim, com seguranea,que Rousseau e urn lluminista, 0 que se pode dizer

com absoluta seguranc;a , e que ele e um verdadeir-o

desmancha-prazeres da festa dos ilumlnistas.

Seria om marxista-leninista "va"t I I I iettre?.Nlot em absolute ... Rousseau nada, nada 'lena a vel"com esta especie 'que lhe e bem posterior e tem umoutro feitio, multo diferente na hist6ria do pens8-Mento e da politiea. Rousseau e de outra esp~cie. £;urn fil6sofo cristae. NioJ diria melhor, um ,c :r istlosincere, Alguem que aeredlteva multo sinceramente I

~

'O.OS ensinsmentos do EVWllelba, rum vardadeire de-veto, na realidade. Portanto, ele oio eonseguia

acompanhar de jeito nenhum os seus confrades da

Enciciopedia porqne com eles nlo ceneordava basi-camente: eram todos ou qllla5e todos uns materia-

l is t· a s e t l' ,e 'Us . Tinha, pois.logicam.enie, Q.u'eJ."omper,emhora conservando com eles lon:ginquos lar;os eaereditando na sua.Raziio bist6rica.

Apaixonado pelo numinismo, mas cristlo sin-cera ..Contradiea.o insuperAvel? Nlo sei, nlo se sabe,ninguem sabe, Talvez 010 seia, Talvez seja .ate pos-

sivel conciliar as duas coisas. Mas se Rousseau 000-

seguiu ou nlo concilia-las e Dutra questi,o., 0 Iato eque esta (o:ntradi~io ele ,I viveu intensamente e 50-freu em. cons.equencia dela, E 0 0 que sua obra faznada m ais e d o q ue m osn-a r 0. 5 efeitos d e ste d ila c er a-mente, es sofrimentos POl' que passon um homemprofunda e realmenteperseguido em seu tempo eque, sob a ~io do seuproprio temperamento esqui-zofrenlzaate, foi realmente conduzido, no 'final davida. a uma proN.nda Hparan6ian• Em seus Ult imos

aDOS ele sai,. pelas 'ruas de Paris~ des,vairado. distri-buindo para pessoas indiferentes panfietos ende con-

tava a hist6ria de seus inforhinios. Rousseau andava

pelasruas de Paris, as pes 'Soas 0 olhasam, naq uelaaltura. ele e ra u rn p erso na ge m m ulto fa mo so ..Mas as pessoas niG liaBv.am muite e tedo mundo

ja com~av,a a consideca-lo assim meio Ioueo e ate sedivertia com lsto, 0que ainda mais mqoav.a a hiper-senslbilidade afetiva. deste grande' eseritor assimpressicnado peJas circunstlncias. Ele andava pelas

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ruas de Paris e ldistribu~!a pan.ftetos, DOS quais dizia:Olha, gen'te. Creiam em mim, Eu sou inocente. Eunio, sou n:Aoeste monstro de que 'YOS 'falam~Eo souum homem INOCENTE!

I

I

I

!

OS RE] S -F I'LOS,OFOS?I

f

I

"Tude >0 que desejo Ii : que aqueles que seguram > 0

leme do Estado seja:m urn p eu eo fi1 6 so fo s; tu de '0 quepease e que nlo saberla s e . .la demaslado." Nas duas

senteneas complemre.ntares ooatidas nestep,ar,agralode autorie do ja citado La Mettrle estoo expostos aomesmo tempo 111mdQS Il,andes senhos do seculo,c omo ji, v im os" e a c on sc iS nc ia a , a sua d ifleuld ad e d eeonerettzaeao .

Alguns monarcas eu:ropeus tentar aimenearnar 0 1

ldeal sonhado aessa frase, A lesta t en t aUva" node asboas , in te n~ li 5e s t al ve z t enham primado definit iva:-mente sobre as :rlea.1iz,acOes,ei'etivas, os historiadores

do seculo XIX batizaram com e nome de "despo-tismo esclareeidc". N,a a c a n poUtico~admmistrativ,a

destes Ude sp o ta s e s cl ar e ci d o s" seria possivel , ipri-meira vista, ver a apUc~lo pritic,a~ em termes poli-ticos, da. grande aspiracio pr6pria do Uumini:smo ede acerde com ,a qual a Razio humana, apoiSsando-

I:

76 a llumill.ismQ e os Reis Fillno/08 17

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se do poder politico, estaria em eondieoes de eondu-zir 0homem iplena rea.liz~io do seu destine.

De todos os Udespo t as esclareeldos" II c mais

representat ive f: t se m du,vida" 0 1 c lHeb1"e 'Frederico II(1712-1186) da prussia. Tambem conhecido como

Frederico, 0Grande. Expressao perfeita do rei ..fil6..

:!!iolo ta que , alem da su a at iv id.ade como governante ,

legou-aos uma curiosa e nlo destituida de impor-tin cia obra telJrico-/iiwo/ica. Se a sabedorie gover-

nou au nio efetivamente por seu intennedlo e 10 queainda ate hoje se discute. 0 que e :mega.vd e 0

eXb'aordinirio prestigio de Frederico junto aos f i l . o ' o osolos e homens de letras da epoca.

Exprimindo certamente umpcnto de 'Vistagerai,dele russel por exemplo, d'Alembert, uma vez: UOsfhlosofns e as homens de letras de todas as na(~s vos

consideram hi muito tempo, .M.ajestade~como Q senehefe e 0 sen modeld". Tambem Bmmanue] Kant,

em umtexto de 1789, GOS mais importantes p·~r,aa

cumpreenslo da e,poca, declare que 0 s6cu1o XVIII

poderia ser ehamado de S ec- uio da s Luxes au . seculo

de Frederico, assim como Voltaire designara 0 seeulo

anterior como 0 s e c w o de Luiz XIV. Qual a :razio ouas rUDeS de tAo grande admira~.ao?

Certo~frederico oao e um rei como outre Qual-quer, 2 urn re i q ue pensa .. Rei-fU6sojo' , jique e~urnrei que, alem de'rei~fi1o:'iof.ail case raro na hist,6ria ..Que se lnteressa pelo debate de ideias. Que ineentiva

e pfD~e8eas artes, Para . a sua, carte converGemfiJ6~sofos em desespero, Jiteratos caidos em desgraea eartistasmiseraveis.Ele 6 amigo pessoal e COITeS,pon~

dente de Voltaire. E amigemels ainda de d~.Alemberte tambem de Diderot, Pela sua obra escrlta, alias,apesar da modera~lo de sua visi.o politica, pede serperfeitamente enquadrado no ,espl,.ito do tempo.

Ale'm de uma volumosa correspond@ncia1 Frede-ric o e se re ve u e m Irances~ lin gu a, q ue e le dominava, asseguinies obras mais importantes: Anti-Machiavt! . l(1740). Como o pr-oprio titulo indica, eis..nos diantede umatentativa de refuta.;lo oosprincipio5 da rea'/-pDtUik expostes em 0 Principe t de M , a q 1 l 1 i ia v e l t al-

guns seeulcsantes. Urn rnonarca pondo-se a defen-

der a . Moral contra as imperatlvos da razlo deEstado? Eis ;iurn dos paratioxoJ da epocfJ' mais

paradoxal do que todos os paradoxes de Rousseau.

Out:ras obras:Hist6ria do Meu Tempo (1746),Testamen toPolitieo (1152) , Ensaio JobT<eas F01'mQ&

de Go"erno e sebre 05 Deveres Gas Sobe:ranV8 ( :1781) .Mas a a :s .p i ra t; lto do Uumimismo Pin e ta s im p le s-mente a de' que os reis e os monarcas se pus£ssem a

eserever tratadns de filosofia,. E sim que aprati~eassem, Que a sabedoria, a razlo govemassem defato per seu intermedio, ainda que durante toda a

sua vida nio escrevessem uma s6 llnhe defilosofia.Se Frederico e obieto de admiracio e pelo "atol de quedecide efetieamente, tcmando como m,odelD Lui!

XIV, POl '0 pode r de Estado a . service do bem..estar

g era l, Q ua is s10 .ISsuas principais roeal iza .~Oes?A1t!mdaprote-;ao e do meentivo que dediea 15

letras,as, artes e a s cikuiasl, mtemameate Frederico

e um Qsente "medernlsador" para as regi&es atra-sadas da Pnissia. Tendo r emaoo durante quarenta e

78 Lui%,Roberto S"t~·nQsFones o llu.rnin.ismo e os Reis Filosa/os 79

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seis anns 0 velho Fritz se pOs principalmen1le a ser-

vieo do desenvolvimente economico.Berlim, a capi-ta] do Estado prussiano, de quase vilarejo eonverte-seem grande cidade, A Alemanba naquele memento

hist6rico 'D a O e uma nacla unlficada e ,8 \ Prussia euma das suas regiOes principais e autO'Domas. Seuatraso, mesmo em termos do seculo XVUI, ecompa-rativamente I situa~lo Ida Franca e da Gri-Breta-nha, os dois grandes paises europeus que se aeham ,f t

frente de todo 0 processo, e · des maiores, 0 mesmo

aconteee com a Europa Central e Oriental. Ou seja, 0mesmo acontece com a Austria, n~ao pertencenteao entia inteiramente decadente Sacra Imperio Ro-mano-Germinico, que tambem se encontra em gran ..de atraso. 0 mesmo aeontece com a Russia de entao,o imenso imp~rio dos tzares perdido na longingua

periferia oriental do centro parisiense,Tanto na Austria como na Russia surgirio, , E I S -

s im , i en o lm e no s pareeldos e analogo5 ao fenomenoocorrido na prussia com 0 grande Frederico H. NaAu'stria veremos apareeer 0 Imperador . 1 0 5 6 ] , tam ..bem apaixonado cultor das ideias novas, ,admirador

dos f iJ6sofo5 parisienses e tambem insplrado nos

mesmo modelos que Frederico. lose I tambem fun..cionou na Austria como um agente "mcdemieader".Ou, pelo menos, tentou faze-lOt buscando intrcduzirno pais reformas que de' alguma manetra fi1odifi-cassem 0 exagerade estado de atraso "medieval" emque se encontravam as popula~Oes,sob 0 seu reinedo,Impcrtante, por ex,emplo" foi sua poUtica religiosa~

que se caraeterizou par uma .grande tolerlncia para

com todas as re1igirtes. Tratava-se de UO} monarcacatolico, veiam bern. Monarca catolico, pois, queaderiu com Iervorao grande dogma, da tolerinc.ia

para com todas asreligiOfi-5, to o apaixonadamente

defendido p er V , oJ ta ire nas suas f,amQsas C a r t , i , U In-glesas ji citadas.

Na Russia, regiio das mais atrasadas, imenscdominic feudal em . que D S servos sofriam ainda as

maiores vex~Oes por parte dos seus poderosos se-

nhores, registrou-se urn fen8meno anaJogo. Surge naRussia. uma grande imperatriz, Catarina n (reinou

de 1762 a 1796). EI.a e uma leitora apaixonada de Vel-

taire, de Montesquieu, dos enciclopedistas e, como ja

vimos, ajudou Diderot em urn dUicH memento de sua

vida. Conserve numerosos correspendentes em Parisespecialmente Madame de Geoffrin Voltaire e 0pr6~

prio Diderot.Catarina desempenhou tambem um papel a n a -

~ogo ao de Frederico .. Funcionou jgualmente comoagentemodernlaader, Nas "diretrizes" Que enviou a

uma Assembleia de deputados em 1761, eatarinacopiou em grande parte 0 £Spirito dtJs Leis de Mon-

tesquieu, A lnterveneao do Estado, presidldo porCatarina, produziu, por outre lado, grandes trans-formaeoes no pais, produzindo, pore emplo, a edifi

ca~io de urn grande paraue industrial de minas e

metalurgia de ferro e cobre na imensa re,gil.c desmontes Urals,

Tcdo este eompcrtamento politico proprio a es-tes monareas "llustrades" tinha, asslm, bons ele-mentos para. sednzir definitivam,e:ote os DOSSOS fil6-

Luu Roberto SalinllS Fones o numini~mo e 00 R 'eu Fildso/os 11

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sofos muitas vezes incompreendidos e ate persegui-des, como vimos, em seus pr6prios paises natais,Mas os fil6sofos e homens de tetras que mais se lute-ressaram em estuder e a . t e mesmo farjar II ideologiado ude5potismo esclarecido"f'oram, DO s6culo XVIII,o s p en sa do res d a co rre nte q ue :fic ou c on he eid a c om o ades "fisioeratas", Osprincipa.i!s representantes destacorrente slo:Quesnay, autar de om tratado Do Direi ..

to Natural ,que ,t ! publicado em 176S; 0 marques deMirabeau, autor de Filosofia Rural (17,63); Mer,cierde La Riviere. autor de O,r :dem Natural e EssencitJI

du Sociedades Pollticas; Le Tresne, autor de0 Inte-resse Social (1777).; Dupont de Nemours e Turgot,que foi. minisbn de Luis x v m e, como Ques:nay,

colaborou naEncicIDp~dia, co mo j,B lo i lembradoanteriormente, Os 6siocratas e elo ca va m c om o prin-

cipal fonte de r iqueza. e produ;ao a terra, A aBr i cu l . .tufa era, para eles, 0 grandeinstrumento civillza-

torio.'Mesmo para estes seus admiradores ,3 com-

p'reensao do f enomeno queposteriormente se des.is-nou por "despotismo esclarecldo" era", porem, bas-tante dific i1 . Qu,e dirapal '31 nos? ' A te b oje discute-se a

respeito das verdadeiras implic~Oes do fen&meno.POfeRmplo: pode-se perguntar se :h av en s m esmo ,afinal, uma diferen~a. assim t a o grande entre a atua ..

~Io dos chamados "despotas esclarecidos" e a desoutros mona.rcas - 0da Franeat por exemplo ....;.quepassaram para a hist6ria como representantes dovelha absolutismc. Quais seriam estas difereneas?

Teria side, POI" outre lade, tao madernizadora

&ssw a a~lo do pr6prio Frederico?' 0 'primeiro hlsto-riador a.questionar esta obra modemizadora foi Ale-Ids de Tocquev il le 00 seculo se gum te , e m seu livro 0AntigoR'egime e ,a Rervolucao. Nesta obra Tocque-ville mostra como 0 proprio C6digo de Frederico,p,reparldo por ele e promllisado por seu sncessor ~

eontinha dispositlvos inteiramente reu 'ogrados taiscomo" por exemplo, os de que os • servos' 010 pode..riam nem mudar Ideprof issao e nem easa r-se sem aanuencia de seu senhor. 0 pr6prio Frederico era,poist ambiguo e mnderado nas suas oPQ~s politicas

e seclais, 'Como julgar" afLnal~,8 obr,a de todas estescu.riososmonarcas'1

A s q _u este es permaneeem e pa,o estamos aquievidentemente par.a responde ..as. Qual teria sido 0

verdadeiro papei destes "seberanos", dos quais.

,allis, 0. represeatante em Portulal e 0 marques dePombal? 0 fato e que os soahos 'filo so fio o s, d e u mlade, e, de o,utro, as realidedes concreto do seeulo,XVIII eram tic distantes e dlspares que, alina!, aefetivaelo ainda que apiooxiJnada destes ideals e des-

tes sonhos ficariarejeitada iodefinidamente para ascalendas. Que di r iam.os. entao, se oo,nirollt issemos'ossoahcs destes STandes fiI6 so fo s c om a s duras realj-dades que se seguiram depois da Revolu~lo Fran-eesa, Que prometia. libertar a todos os homens de

todos as seus odiosos I~os de dependSn.cia?

o numinismo e 03Reis Fi lOsa/os

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A EMANC IPA '(;A .O DIFJCJL

Se c on fro nta sse mo s. c om e fe ito , o s grandes a n ..seios libertirios dos fi16sofos da "Lazes" com as COD-

seqiiencias da Revoluclo Franeesa e com 0 destine

que tomou D ,U mlos daqueles que se quiSleram, seusp6steros flcariamos estnpidamente decepcionados,

Urn novo reiao, uma nova ordern , ainda mais cruel

que a anterior, surgiu das entranhas desta Revo-Im;lo.

Uma nova classe, a burguesia, t omou 0 poder.Mas terA ell. side tiel ao e pUi.to do Iluminismo? ~eraela eompreendido bem os mOsoios que tanto deverlavenerar t pois afina~ tanto a, aiudaram na sua dificilgest~ao? Acreditamos que n a o .

Se Quisermos mats uma vez reeoloear nossasquestOes, par a melhor esclarecs- las, vamos reeorrerao If'ande 616sofo Emmanuel Kant. :Este estraerdi-nario fil6sofoJ, este pensadcr notivel. cuja obrarepre-senta uma verdadeira reviravolta fiJoso,fica., p'repa-

rada, aUis, pelo Uuminism.o" 'em nm texto absoluta-mente genial , intitulado uO que e a Auf/tlijrun,?"'~

p 'a lavra a lemi que , eomo ji d iss em o s, cO l" I" es po nd e a .

unumiai lsDlou - define mefhor do que oinguem .0

s ignif icado filos6fico, polit ico. espiritualt 'Rl igioSOt

cultural '8 hist6rico do lluminismo. Diz ele: a grande

divisa do Ilumlnisme e ; SAPERE A.UDE. Ou '~a,traduzinde do latim: Ousai saberl ~IIEste 'fil6sol0 qutultrapassll'u 0 Iiuminismoi lot

no entente, n e ste o p us cu !o , 0 me lb a r i ni er pr et e do

seu Mespir i to" . Vejam 56. a titulo de sim.ples exem-pic" 0 que ele DOS diz logo de cara: no que slo as

Luzes? A sa(da do homem de' sua minoridade pelfJ

qual ete proprio e respon.nivel. Minoridade, isto i,incapaeidade de Sf! se rv ir d e seu entendimeato sem adireclo de eutrem, .minoridade pela qual ele e res-

ponstJ Pel', uma v:ez 'que a causa reside n lo , em uti)defeito do entendimeato, mas Duma fa lta de ,decisloe co ra gem em se servir d ele sem a d i.fef;io de outrem,Sapere audel Tern a coragem de te servir de teup ro p:r io e nte nd im e nm . E 6, ,8 dima das L nze s' ~o que mats dDer depois disto?

A posi~io kantiana era bastante -"otimista".Pois Kant; afinal, e um "homem" do secul0 XVIII.Irresistivelsnente atraido pela Revoiuc;io Francesa,de um lade, mas tamliJem urn apa ixonado de Frede ..

rico, comnji dlssemcs, Vejamos , par exemp]o, 0 que1 diz· d t o .. .. • 0; I n toe e nos c am a neste m mve_ pa D ue .. :

USeagora perguntam~nos: ·V ivemos atualmente

em um si!rulQ esclar-ecido' (auf/darer)? eis a res-posta: ·Nio,. mas sim em um seculo em. mtJnha para

Luiz Robeno Salinw Fortes o Rum i"ismo e os R'e;s Fil/J'sofos 8S

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as Luzes', Muito ainda falta neste ponto .em queestlo as coisas, para que 0$, bum:anDSt eensideradosno sen eoniunte, estejamnes e esta~o. ou pos~am ai

ser colocados, de utiUzal"com mestrta e proveito seuproprio eniendimento, em 0 socorro de outrem, nas

coisas da religiio.

"Todavia, que tenbam agora 0campo Jlivre,paraa i, se exereer Uvremenie e que tornem-se lasensl ..~elmentemenosfiumerosO$ (ISobstic-los que se oPU-nham ao advento de uma era gera! das Luzes e ,isaidadeste estado de minoridade de que cs homeas sloeles proprios, responsaveis~ e pais, de que temos mdl-cios eertos. Deste po.nto de v i s t a _ , este seculo e 0

seado d a s L uz es , 00 :seculode Frederico. "Pois bem, este sCculo de Frederico, como assim

agora 0 batizaroos, nas pegadas do D.OiSSO mestre

Emmanuel Kant, lWba..se em "marchapara as Lu-usn. Ali, ao lade de Frederico e pouco depois, teraIngar um acontecimento de extraordinirias eonse-qtienclas, mas de ,cruentw caminhos, caminhos g,ueaterrorizariam Hegel PO :s6culoseguinte. A,conteeia,na altura em Que Kant escrevia (17891

)" a chamadaURevo)u,/; '1o Francese".

V m l O S , como as Lazes marcharam antes da

grande Revoluc:l.o. E~assim, talvez ,~samos apren-der urn poueo a re$pei.to deda gr,andlosa Revolu~loque abalou de maneira inapelavel e definitiva asestruturas do Antigo Regime.

Ou~am,os outros mestres mais competentes doque n6s. V,ejamos, pot ,~emplo, 0 que DOS diz Alexisde Tocqueville a. proposito do,Antigo Re,Rime e , par

eonseguinte, tambem do Iluminismo. Dtt, ele: u Amedida que progredia oeste estude, admirava-me aorever em todos os mementos da Franca dessa epoeamuitos dDS traces que impressionam na Franca dehoje~ R'eebcont rava um sem-numero de sentimentosque pensava Dsddos da Revol~Ao, urn sem-numero

de idiias que ,ate en.tlo pensa,v,a oriundas exc1usiva-mente dela, mil habitus que 5 6 a ela slo atribuidos epar todaa parte encoatrava asrabcs, do :sociedadeatual profundamente implan'tadas Besse velho 'solo.Quanto mais me aproximava de 1789, pereebiamaisdistintamente 00 espirito que' fez a Re'volu~ao Iormar-se, naseer e cre:scer. Via en poucn a pouec desvendar~se diante de mens olhos toda a fisionomia des saRevoluC'io. J ,a a:nuneiava seutemperamento, se u ge ~nio; era ela propria.". Bste autor Alexis de Toeque-ville; e realmen te um mestre a ser furtosamente devo-rado,

Mas, voltando a Kant. n a o e aqui 0 lu,gar paraproeedermos a uma analise detalhada desk pequenee fascinante opusculo "0 que slo as Lczes". Tent.mos apenas eonfrontar '0 sonho e a utopia que estaonelepresentes com a dura e triste realidade da suahist6ria posterior. A posif;i.o kantiana era bastanteotimista, como vimos, Temos n6s r,alOes para sermos

tic "otimistas" assirn?\ Dife~ente e a ~ela~'lo que. uma dasse_mantemcom 0 universe das ldthas e a vida quando se encon-

if' d U ," I..,!.n dtra no seu peno 0 revomcumano e quan 0 se en..

contra n.0p~de.r implantada. ~em difere~te torna-seentia seu discurso, sua fala."''Quando :00 poder, a

Lui» Robeno Slllinas Fortes oBumin is.mo e os Reo Fl16. sofos 17

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elasse burguesa tenta mudar de discurso, tenia mudar

de converse e bu sea. pOI' todos O 'S meios acebertar a

origem do seu poder.Serlam os iluministas, eles mesmos, fiiis ao

esplrito do Ilum:inism.o?Ouso» saber: parece urn milagre ,at6 Que essa rei-

vindic3f;io tenha apareeido na epoca IS tenha sidolevantada heroieamente por urn punhado de terrlveisliteratos politicos. Depois Q capitalismo quis se somara : seas SOMas e deles se apcderou, acabando porde~i-lo,~ de manelea iinpiedosa.

Todes n.6s sabemos desta realidade engendradapelo capitalismc ROSSO de cada dia, Miseria e opu ..

lencia , a i continuam lado a Iado, lgualzinho a epocado Rousseau. Nada mudou. Continua a haver pobresde um lade e deacos do Dutro. Os homens sin real-mente "livres" e "emaneipados" hoje? Qualquerbobo sabe 'que n,ao. 0 pobre do Jean-Jacques ne mpoderia imaginar como se ampUficariam de maneiratio extraordinaria as desiguaJdades, que ele denun-

cia:va jli na sua epoca. 0 pobre Voltaire, per outrolado, teria dificuldade em identificar lloje um "espi-

rito livre", se t S que efetivamente existe gente dessaespecie em alguma parte do mundo.

Considerando agora. s6 0 destine pessoal destes

nosses her6is, vemos f'acil.mente como f9ram injusti~cades pela posteridade, Durante sua vida feram ho-

mens, celebres, ricos e famesos. Volt.aire era um

homem riquissimo, urn grande e ahastado bursu~s.Rousseau era. urn homem celebf\e. Urn homem tlocelebf\e que numa certa altura era cere ado pela devo-

o pobre Voltaire. POl' outro lado, teri« dificuldade deidentificQr hoje um "espiruo i!'",re", se e que efetivamente'eXisle gent€. dessa especie em aiguma p.ane' do mundo.

Luiz Roberto Salinas Fones 89

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~ao e admirw;io geral, Porque ele esereveu no EmiUo

que as mies deviam amamentar os seus mhos comseu proprio Ieite, depois do g ra n de ' s ue e ss o do livre

virias mies saiam em publico amamentando, Ate a s ,

damas da corte iam com sees beb6s para os teatros,par,a at Opera e ternamente, durante 0 tntervalo doespetaenlo, punha.m seus seios para fora e amamen-ta vam o s se us Iin do s bebes.

Foram, posteriormente, glorificadQs" mas suautopia, que buscarnos traear e.m leves pio,celadas,anda cada vez mais lI.topica. Quem e que ousa saberh oje e m d ia ,? Hio re st a a meno r duvida,pois", de que 'os grandes sonhos destes homens - otimistas bur-gueses ou liberais aristocratas - sofreram £' conti ..nuam sofrendo brut;ds desmentidcs se eonsidera-

mos a atu~au daqueles que serlam os 5eU'S herdeirosoficiais ou a histtiria d 8 1 dominaeao de um a classe queeles ajudaram a parir. A posteridade se enearregoude derrubar este eastelo de cartas edificado commuito saor, labor e llgrimas pelos herois do seculoXVIII ..

Mas 010 importa, annal, que os nossos reis ev '~·rtude&·,como n o liv ro Alice no P ais das Maravilhas,continuem sendo hoje e tomem-se cada vez mais"reis" e "virtndes" apenas de baralhe. Contmuarao

sempre, ao menos, a t nossa dispositrlO como perenesfontes de ifispi]"a~ao.

Ou sera, como diria urn nouveau ph"'lo~ophe,desses do nosso seeulo mesmo, 'que nio estaria nossonhos de dmninat;ao raclonal dos homens do Ilumi-nismo ja presente 0 germe nefando do totalitarismo?

Talvez. Ou ainda: 010 seria a prop,ria rormu)!a.~lo

deste ideal emandpa. t6r ioJ) sob a egide de uma R.azlodominadora, uma nova mitologla ilns6ria e perigo,sa

trazende neeessariamente em seu bojo conseqO@ncias

desastrosas t

Seja como for",estas cartas de baralho mereeem·a J .de maneira absolute nossa atenc;io especu • POlScom elas forja~se a uei.vllizacaouden.tro da qual nosaehamos merguJihados" Dlstribulr e desembaralharum poucc essas cartas, Foi este 0 nesso prop6sito,unica e simplesmente, E nio e talvez inuli! que 0

leiter tenha estas cartas desembaralhadas, pais quelhe servirio certamente de multo, Tcdo este despre-t encioso percurso .h is t6 ri co te ra , s id o p ro v ei.to s o, nes-tas condi ,. .: o es , s e coaseguirmos aJudar um pOUCO 0

leiter na sua lura quotidiana atual e possamos vir aoriee tar me lhor as, nossas tomad as de posi tCiuo 'd i A , -.rtas,

Faeam os seus [ogos, senhoresl

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INDICA~OES ~ARALE'l.TURA

Alern dos udissicos" de cad a grande nome doseculo XVUI tornados separadamente eji eitados nocorpo do nosse trabalho, podemos forneeer 11 0 leiter

as seguintes indica.eOes sumirias de leitura que 0

ajudariam a me1horeompreender 0nesse terns.Ni<>podemos delxar de eitar em primeiro lugar

o H\'fO de Ernst Cassirer, FilwD/ia da I lu . s tr - lj 'Ci io , doqual aliasjii transcrevemes algumas passagens, Dutraobra interessante e urn pequeno livre intituladoO Ilu-

minismo, do qua~existe tradu~io para 0, portugu@s. 0nome doautcr e 0 seguinte: Norman Hampson. a 1i -vro foi editado pela.Editora lisboeta Ulisseia em 1973.Este au or retrata em algumas paginas 0 tema can-

dante do "despotismo esclarecido".Citemos ainda um outre tivrinho em portugues

da coieclo de uHist6ria. das Ideias Potiticas". Trata-se do volume dedicado 80 secuJo XVIII. Ai tamhem

encontraremos indic3Ciles sobre 0 tema do "despo-

tismo eselarecido".Sobre {1 1 movlmento geral das ideias no seeulo

XVIII exi!ite um imponante estudo de Roland Des-nel, tambem em t raducrao para '0 portugues. Fazparte do volume 4 da Icole~io de uHist6ria do. Filo-sofia" dlrigida por Francols Chatelet e intitulado 0

llu.minismo. 0 capitulo de Roland Desne intitula ..sehA Filosolia Franeesa no Seculo XVUI"". 0 Iivro foieditado po r Zahar Editores, Rio de Janeiro, em 1'914.

Existem ainda em portugues, na ,cole,lo "OsPensaderes' 't:l da Ed.itora Abrit boas edi~Oes de 0Espirita das Leis, de Montesquieu, alem de vadasobras de Voltaire, entre as quais as Canas lnlliesus etambem Q volume. dedicado a Jean-Jacques Rous-seau, eontende tradu~Oes do D» Contl'ato Social, doD is cu rs tJ s ab r e as CienciaJ e a s A r,te s e do Discurso

sobre a Origem e os F r J ."damen tos d a Desiguald(ldeentre as Hcmens,

Ii citarnos anteriormente e nlo podemos deixarde indlear como leitura obrigatoria 0 livro de Alexisde Toequeville intitulade 0 Antigo Regime e a Revo-

lu-ciio. Existe edi~ao em portugues da Editora da

Unive.rsidade de Bruilia, em tradm;ao delvonneJean da Fonseca; volume ]0 da col~io "Pensa-

mentes Poli t icos· 'r ; da Editora dillUniversidade de

Brasilia.

Gostariames tambem de citer um outr-o livroimportante do qual nio hi tradu.;rio em portugu,e s1mas que e hoje urn. verdadeiro udissico". Trata-sedo livre A Europa das Luzes de Pierre Chaunu.Editado em 1971 em Paris pela Editora A.rthaud.

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Lub Roberto S J1nas Fortes C prmes .5or de Hi:dbria dl FioStifiada USP.

D e fen deu tese sabre H I. :s on a P Q IU [ ea t£ 6 'L ra du .to r d e v iri as o bra s

entre as qL'l.3is d~~t!Leam·s .e : A . ima :g' ,i n tJ , io ', de Jean P au J S ar t[ \1 ! Ili . 4 . 1

FormtJS dilllislarirJ, de Claude n.ef('~t.Publieou 0 Uvw: Ro.lts'lJlJ. do Tmrifl a .Pr6tictJ, ,pl'Eparl OlJtfOS

dtulos par. ,illSCol~~s Primll.: :nls '\5:051 If: Tudoe Hist6ria d.a Bra~iJjell5e

e e llutor deb:m roma lle~ ~n 'liN " '" ilJ toCaJat/o.

Cero leirtOf:

As opini6es expresses neste livro sao as do cuter.podem nOo seras su es . C o 'SOvoce oche que va I,eapeno escrever um Dutro Ilivro sabre 0 rnesrno tema.nos estornos dispostos a estudor sua publ ica<;:,aocom 0mesrno tltulo como "segundo visQo".

Em porlugues eneontramos alnda urn bele 00-

mentluio em tome do tema, de Rubens RodriguesTorres Filho" lntitulado "Ciaismo Ilustrade" e publi-cado em Almanaque; 4, revista edit ada pela Brasi ..llense, em 1977.

Se a. leitor pretendesse aprofundar algum dia 0

assunta tornar-se ..Ia eridentemen,te obrigat6ria a 1ei-tura do pequenoopusculo kantiano,ii referido - noque sio as, Luzes?" - do ,quaJ,ainda, mio existeinfelizmente tradu\iao em portugues.

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- - ~ c t l o g i o d a F i l o s o f i a ) -

Di curso d_ ServidiIo Vo.~ugtiF.iaEUenne ; fA B'o'e.fie

Edicao b~li:ngiie, q,ue com~m auigo5J de Pien'>eClastres. Claude LJ-fort. e Marilena Chaut, 10 nu.d.eo

dle5te escrito fi]os6ficQ do siic. X VI 'esta na queSliQ

de. a pa rtir de !J.lln certo memento his~!6rico: (tiiS

homens desejarem volul!!tariameRilie 3. servidio.:R,enuo.dando a Uberdade, if) home:m perde suabumanidade, eoP,3,SS3 a desejara perpet,ua;;ao dessarenoncia.

Sobre 0 'Governo, daPolj,niaJ i I P f j ~ ~J a cques R,owseau

Um, ~exto c lass iooJ do sec. XVIII. marusaeual qu,enunca, Edi,ao bilinglie, ce m tra,dQ,~ao de LuizRoberto, S a lUn as ,Fortes, Comentalfius de Bento PradoJr. e do, tradumr. (::oordenatt;iG de MarUen,jj, ,Cbau£,

ASAIIR:

... IIIII.IMII "" d. I"wrd . . "'00111A Cl 'l lI !1 1 16 i 1l 1 DII ~

Fli1Inc lllO , ~i lju l S II II'I C o me ._. ....... daoI r~ Ai'it!ri!I.... ~ Jr. A ' II I~ ill! CutIMEUjl~"'lh ~tI, I Wn V.~.. I I -hi d" lJ lni . f erb ci d ~1i!",!&riI! .. , ! e . . . SIIlR" !,bil ....•

[11~ ,I~~'~ p,j'lJ. S I ; I -

D_f1 Jll,l 'OIJ kmllll' i !l I rtdImuc ...

' iI:Hi!;I!II I~ :In, tllUotlMa cu •l in thlVlqUII l ilwlda tf l J . . .. .. 11:.::_• ~1Id 'I: f'li'i~ ~llrnQfI!II!

,lftill J i O i I . I o i*I , ..Ill _lnP'LobIHaroi,;llll C l! fn il rg O . ,. 11lhf_ _~

Mli, ~i!rln M T~fII~gll 1lI~~l1lh _ 11iii'Ul1

M.r t. d. lo.Ird.1I- Manzlnl'Co_I~ • l:e.~ .,. ~clP'llIIll:Il MMJa 0 ~itl U!!I.

n." ~ • ~ NlLI'IIl Ir i i'((milt ,",glA II MClHldl no.... 1] Mlrl. I:l!n.llll!h IWC!I! 0

Cltl:l. -aatlm .l.lbtno A!illllolleIl. Ellllllie'''' Fii!pi I U..",Df!Hi'II f<!.j~ PtflII 1_~ golpli011 ...... ~, Ad Hilla ~ltl~IIIIII'" dI CnIJ,/C&rQI_ I'll-

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