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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A PRÉ- ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ROSANA DA VEIGA PEREIRA ORIENTADOR: Professor Mestre Robson Materko RIO DE JANEIRO – RJ AGOSTO DE 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A PRÉ- ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO

ROSANA DA VEIGA PEREIRA

ORIENTADOR: Professor Mestre Robson Materko

RIO DE JANEIRO – RJ AGOSTO DE 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A PRÉ- ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO

ROSANA DA VEIGA PEREIRA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO – RJ AGOSTO DE 2001

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Agradeço aos meus colegas e

professores do Curso de Psicopedagogia

da Universidade Cândido Mendes.

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Aos alunos da Casa da Criança Miguel Couto.

Aos educadores que corajosamente, vêm buscando uma

Pré-Escola que garanta as condições necessárias, para

que o atendimento das crianças seja cada vez mais

qualificado.

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“O período que a criança passa na pré-escola

é de extrema importância na construção dos alicerces de sua

afetividade, socialização e inteligência e, consequentemente,

em seu desenvolvimento integral e harmônico. Para que a

escola possa cumprir esse papel, é necessário conhecer as

características do desenvolvimento infantil até seis anos e

organizar o ambiente e as atividades, de modo a atender às

necessidades das crianças nessa etapa da vida.”

Maria Lucia Thiessen

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SUMÁRIO

Página

Resumo............................................................................................................ 6

Introdução........................................................................................................ 7

Capítulo I: A trajetória da Educação Infantil no Brasil...................................... 10

Capítulo II: O perfil da Pré-Escola .................................................................. 13

Capítulo III: Características à faixa etária que corresponde a Pré-Escola...... 16

Capítulo IV: Socialização Primária e Secundária............................................ 24

Capítulo V: Contribuição da Pré-Escola na formação da criança.................. 30

Conclusão....................................................................................................... 35

Referências Bibliográficas............................................................................... 36

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RESUMO

Esta produção acadêmica tem como objetivo contribuir para a

discussão sobre as práticas na pré-escola, no processo de socialização,

relacionando o trabalho de professores à formação de cidadãos participativos.

Abordando sinteticamente até que ponto a pré-escola contribui no processo de

socialização, fazendo uma retomada como elemento de crítica e construção de

caminhos que irão permitir uma prática pedagógica mais adequada.

O método utilizado foi o dedutivo, abordando de maneira descritiva e

apontando para uma pesquisa qualitativa. O levantamento de dados se deu

através de uma pesquisa bibliográfica onde pode-se encontrar respostas no que

já se produziu sobre o assunto.

Os precursores de idéias inovadoras na área de educação contribuíram

para que a pedagogia alcançasse uma base realmente científica. Essa base se

intensificou a partir de pesquisas contemporâneas, fundamentadas em conceitos

teóricos que explicam o desenvolvimento da criança, enfatizando as interações

sociais e a gênese da construção dos conhecimentos. A família e sua substituta, a

pré-escola, constituem o grupo de socialização primária para a criança. As teorias

estudadas concordam quanto à importância desse primeiro grupo na formação do

indivíduo. A socialização secundária ocorrerá em todos os outros grupos sociais

aos quais a criança pertencerá. O processo de socialização é assim, contínuo e

propicia a formação da criança.

O processo de socialização da criança pode se ampliar ou se restringir

pelo fato de a criança partilhar, mais ou menos, experiências com outras crianças,

tanto no âmbito familiar quanto na escola. Então cabe a instituição de educação

infantil tornar acessível a todas as crianças que a freqüentam,

indiscriminadamente, elementos da cultura que enriqueçam o seu

desenvolvimento e inserção social.

Urge realizar mais investigações, através de leituras, pesquisas e

discussões a respeito do processo de socialização da criança. Portanto caminhar

é preciso, lutar é preciso e isto é claramente verificável pela necessidade urgente

de mudança que contamine todas as instâncias do saber.

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INTRODUÇÃO

Creche, Escola Maternal, Sala de Asilo, Escola de Tricotar, Jardim de

Infância, Pré-Primário, Pré-Escola, Educação Infantil foram alguns nomes dados,

ao longo da História, à instituições de educação de crianças pequenas.

A educação e os cuidados coletivos de crianças de zero a seis anos

são uma função e uma prática recentes, principalmente no Brasil.

Atualmente, cunhou-se a expressão educação infantil, a partir dos

dispositivos da Constituição de 1988 e, mais recentemente, da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação de 1996 (Lei 9.394/96), para designar todas as instituições de

atendimento a essas crianças.

No título III, Do Direito à Educação e do Dever de Educar, art. 4º, IV, se

afirma que: “O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado

mediante a garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas às

crianças de zero a seis anos de idade”. Tanto as creches para as crianças de zero

a três anos como as pré-escolas, para as de quatro a seis anos, são consideradas

como instituições de Educação Infantil. A distinção entre ambas é feita apenas

pelo critério de faixa etária.

O número de pré-escolas é muito grande e há necessidade de oferecer

qualidade para as crianças que são atendidas, portanto o cuidado com a

Educação Infantil deve ser pensado como estratégia para oferecer a formação e o

desenvolvimento de nossas crianças.

Hoje, as instituições podem ser definidas como equipamentos

educativos com base nos seguintes pontos:

* devem desenvolver ações educativas que integrem os cuidados

essenciais e a ampliação dos múltiplos conhecimentos, linguagens e expressões

das crianças.

* devem respeitar a cultura de origem de cada criança.

* devem partilhar com as famílias e a comunidade os projetos educativos.

* devem ser um espaço de socialização, de vivências e de interações.

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* devem ver a brincadeira como uma atividade educativa fundamental da

infância.

* devem ter um ambiente cultural que propicie a leitura e a escrita.

* devem ver a organização do espaço e do tempo como elementos

importantes para a educação, interação e construção de conhecimentos.

A instituição de Educação Infantil deve tornar acessível a toda as

crianças que a freqüentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que

enriqueçam o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel

socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio

de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação.

A instituição de Educação Infantil, pode oferecer às crianças condições

para as aprendizagens que ocorram nas brincadeiras e aquelas advindas de

situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos. É

importante ressaltar, porém, que essas aprendizagens, de natureza diversa,

ocorram de maneira integrada no processo de desenvolvimento infantil.

A nascer, a criança entra num mundo de cuja construção não

participou e dá início a relações sociais com as pessoas que ali estão.

A primeira relação será no grupo familiar. Esse processo de

preparação para participar do grupo familiar, que posteriormente se estenderá a

outros grupos, nada mais é que a socialização.

O processo de internalização do mundo social, com suas normas,

valores, modos de representar os objetivos e situações que compõem a realidade

objetiva e que se inicia com o nascimento e só termina com a ausência definitiva

do indivíduo.

Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para o seu

desenvolvimento. Neste curtíssimo espaço de tempo, ela passa por diversas

etapas, tanto no espaço físico, como no mental, no social e no emocional. Esses

aspectos todos influenciam o desenvolvimento da personalidade, entrelaçando-se

e evoluindo, tornando cada indivíduo um ser único e diferentes dos demais.

É nos seis primeiros anos de vida que o indivíduo principia a socializar-

se, passando do egocentrismo próprio dessa fase para a vida em grupo, na qual

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aprende a interagir com adultos e, igualmente com outras crianças, chegando ao

conceito de cooperação.

Quando a criança entra na pré-escola, ela tem de ajustar-se a

determinadas regras diferentes das que estava habituada a atender, regras essas

impostas pela instituição, professor, colegas, entre outros. A criança se depara

com um grupo de pessoas bem maior que a sua família.

O que se refere às investigações realizadas, a pré-escola contribui de

maneira compensatória no processo de socialização. As experiências iniciais

estão relacionadas no desenvolvimento de habilidades sociais que facilitam a

integração posterior da criança na escola.

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CAPÍTULO I

A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL

A pré-escola vem se expandindo, no Brasil, com certa aceleração. Mais

rapidamente ela crescerá, nos próximos anos, entre outras razões porque a

demanda social está adquirindo uma capacidade de expressão politicamente

vigorosa. Embora essa expansão se dê por um argumento externo à criança

– a resposta a necessidades dos pais – os setores administrativos e técnicos têm

se esforçado por acompanhá-la com os conteúdos e métodos que lhe dêem

qualidade educativa.

A educação da criança pequena no Brasil é recente. Durante muito

tempo, as escolas que atendiam crianças de zero a seis anos assumiam uma

postura única de cuidado para que seus pais pudessem trabalhar. Hoje essas

concepção mudou. Cada vez mais procuram as escolas de educação infantil para

compartilharem do cuidado e educação de seus filhos. A criança, por sua vez, é

compreendida dentro se sua própria dinâmica, deixando de ser vista como um ser

carente e incapaz. Dentro de uma nova perspectiva, a prática pedagógica amplia-

se e a educação deixa de ser apenas uma aprendizagem. “Educação não é

ciência mas prática social.” (Kramer, 1994, 16-31). Adquirindo o título de cidadã a

criança é vista como um sujeito histórico, capaz de participar do processo de

criação cultural. O próprio conceito de infância foi criado a partir de relações

sociais estabelecidas no decorrer da história, sofrendo modificações decorrentes

da própria sociedade.

A sociedade, então, está mais consciente da importância das

experiências na primeira infância, o que motiva demandas por uma educação

institucional para crianças de zero a seis anos.

A concepção desses fatores ensejou um movimento da sociedade civil

e de órgãos governamentais para o atendimento às crianças de zero a seis anos

fosse reconhecido na Constituição Federal de 1988. A partir de então, a educação

infantil em creches e pré-escolas passou-se a ser, ao menos do ponto de vista

legal, um dever do Estado e um direito da criança (artigo 208, inciso IV), e mais

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recentemente, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (Lei 9.394/96),

para designar todas as instituições de atendimento a essas crianças. O Estatuto

da Criança e do Adolescente, de 1990, destaca também o direito da criança a

este atendimento.

A educação infantil, como nós a conhecemos hoje, realizada de forma

complementar à família, é um fato recente. Nem sempre ocorreu do mesmo

modo, tem, portanto, uma história.

Esta trajetória (esta história), por outro lado, só foi possível porque

também se modificaram na sociedade as maneiras de se pensar o que é ser

criança e a importância que foi dada ao momento específico da infância.

O surgimento das instituições de educação infantil esteve de certa

forma relacionada ao nascimento da escola e do pensamento pedagógico

moderno, que pode ser localizado entre os séculos XVI e XVII.

As creches e pré-escolas surgiram depois das escolas e seu

aparecimento tem sido muito associado com o trabalho materno fora do lar, a

partir da revolução industrial. Devemos lembrar, no entanto, que isso também

esteve relacionado a uma estrutura familiar, a conjugal, na qual pai/mãe/seus

filhos passaram a constituir uma nova norma, diferente daquelas famílias que se

organizavam de forma ampliada, com vários adultos convivendo num mesmo

espaço, possibilitando um cuidado que nem sempre estava centrado na figura

materna.

Durante muito tempo, as pré-escolas de todo o mundo, incluindo as

brasileiras, organizaram seu espaço e sua rotina diária em função de idéias do

que significava educar tais crianças. A assistência , a custódia e a higiene

constituíam o centro do processo educativo.

O aparecimento das primeiras formas de assistência à crianças, foi

uma iniciativa de alguns empregadores a partir do final do século XIX, com

objetivos puramente assistenciais e de atendimento médico.

Em 1932 se criou o primeiro instrumento jurídico regulando o trabalho

da mulher, determinando-se, entre outras providências, a obrigatoriedade do

oferecimento de creches pelos estabelecimentos onde trabalhassem pelo menos

30 mulheres, exigência essa quase nunca cumprida.

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O Ministério do Trabalho, em 1950, passou a desaconselhar a

instalação de creches pelas empresas, considerando inadequado o ambiente nas

indústrias e muito dispendiosa a sua instalação.

A orientação era, então, confiar a organizações como Sesi, Sesc e

especialmente LBA a implantação de creches distritais, deixando estas à alçada

da Previdência, que por elas até então se responsabilizava, e entrando para a

alçada da assistência.

Em termos legais, a primeira abordagem de programar assistência à

criança menor de sete anos, foi feita na Lei nº 4.024 de 1961, que dedicou dois

artigos nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

No início da década de 1970 era aprovada a lei nº 5.692/71, alterando

o nome da escola primária para escola de 1º grau, mas não definindo nenhum

termo para designar a educação que ocorreria na faixa de idade anterior aos sete

anos.

No Brasil, a década de 1980 passou por um momento de ampliação do

debate a respeito das funções das pré-escolas para a sociedade moderna, que

teve início com os movimentos populares dos anos 1970.

A partir desse período, as pré-escolas passaram a ser pensadas e

reivindicadas como o lugar de educação e cuidados coletivos das crianças de

zero a seis anos. E educar deixou de ser, apenas, cuidar, assistir e higienizar. A

abertura política permitiu o reconhecimento social desses direitos manifestados

pelos movimentos populares e por grupos organizados da sociedade civil.

O que se pode notar, é que as creches e pré-escolas surgiram a partir

de mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorreram na sociedade: pela

incorporação das mulheres à força de trabalho assalariado, na organização das

famílias, num novo papel da mulher e as reivindicações populares. Mas, também,

por razões que se identificam com um conjunto de idéias novas sobre a infância,

sobre o papel da criança na sociedade e de como torná-la, através da educação,

um indivíduo produtivo e ajustado às exigências desse conjunto social.

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CAPÍTULO II

O PERFIL DA PRÉ-ESCOLA

A pré-escola não deve ser considerada como um serviço simplesmente

assistencial nem limita a ser um estágio preparatório para a alfabetização, mas

tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos

físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da

comunidade. Sendo assim a educação infantil deve basear seu trabalho, segundo

o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (MEC/SEF, 1998, v.3),

em três eixos: as brincadeiras, a movimentação das crianças e as relações

afetivas.

“Essas são as formas que a criança tem de aprender.” (Wayskop,

1999, p.14)

Por meio dos três eixos, o educador deve transmitir, de maneira

integrada, informações das seguintes áreas: artes visuais, conhecimento de

mundo, língua escrita e oral, matemática e música.

A emergência de idéias pedagógicas acontecidas nas últimas décadas

tem mudado uma série de conceitos que tradicionalmente regeram as

concepções e ações na área da educação infantil.

No entanto, essas idéias demoram a chegar às escolas do país e ao

conhecimento dos professores que nelas atuam, modificando suas práticas.

Apoiada nessas modernas concepções, o trabalho pode ser auxiliado e

aperfeiçoado.

“De maneira geral a pré-escola, e também a escola, têm considerado que os conhecimentos que as crianças já trazem ao chegar, ajudam muito pouco uma criança a aprender os conhecimentos que a escola deve ensinar. No entanto, os novos estudos a respeito da educação dizem exatamente o inverso. Quanto mais próximas as práticas pedagógicas estiverem das práticas sociais, mais as crianças verão sentido no que estudam, poderão estabelecer relações, desenvolver sua imaginação e se tornarem, elas próprias, produtoras culturais.” (Id)

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A maioria das escolas brasileiras aproveita pouco a riqueza cultural

trazida por suas crianças, porque ainda é muito forte em seu interior a idéia de

que o importante é aprender o conteúdo determinado pelo professor, numa

progressão que vai do mais fácil para o mais difícil, segmentando o

conhecimento para “facilitá-lo” para as crianças. No entanto, elas mesmas,

quando falam, mostram que não é assim. Para elas, conhecer é algo que se faz

no geral, a partir de uma visão ampla das coisas como são e estão no mundo. As

crianças só irão particularizar seus conhecimentos à medida que crescerem e

acumularem mais informações.

Segundo (Boechat,1987, p.31), “há uma imensidade de professores de

todos os tipos”. Dentre eles, destacaremos o professor intelectual. Este é aquele

que “sabe tudo”, fala dificílimo, faz citações para impressionar. Faz planejamento,

contudo, não leva em consideração aspectos importantes que venham respeitar

as diferenças individuais. Desta forma, os alunos são agredidos no seu direito de

querer saber.

Menosprezar a bagagem cultural de uma criança quando ela chega à

escola é ridicularizar o seu comportamento, além de ser uma grande falta de

respeito é, exatamente o contrário aos objetivos da educação. Educar seria o

inverso: seria valorizar a sua cultura, dando-lhe os retoques naqueles costumes

que porventura viessem a agredir o grupo social. Afinal de contas afirma-se com

muita frequência que o educador é o lapidador de pedras brutas, até transformá-

las em pedras preciosas. Se ele fere as pedras, as invalida.

Nos primeiros anos de vida os indivíduos formam sua personalidade,

incorporando hábitos, valores, atitudes estruturam padrões de raciocínio. Dessa

forma, as atividades que a pré-escola oferece aos seus alunos, são diretamente

responsáveis pela qualidade do seu próprio futuro e do futuro da sociedade onde

ele vive.

Em novas buscas em educação é fundamental pensar no aluno vivo,

inquieto e participante; com o professor que não tema suas próprias dúvidas; e

com uma escola aberta, viva, posta no mundo e ciente de que estamos no século

XXI. É preciso preparar a pessoa para a vida e não para o mero acúmulo de

informações. É preciso trabalhar o aluno como uma pessoa inteira com sua

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afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentimentos, sua crítica e sua

criatividade.

A escola deve contribuir para a formação de cidadãos críticos e

atuantes. Para isso cabe a escola um envolvimento que perpassa o espírito com

que cada disciplina é abordada, tomando corpo à medida que os alunos vão

sendo cada vez mais envolvidos não apenas em discussões, mas também em

ações concretas.

Pois precisamos de uma escola dinâmica e democrática, que ofereça

ensino de qualidade, e que esteja antenada com os anseios que a comunidade

precisa e que tenha uma proposta pedagógica séria e de uma prática condizente

com a teoria.

Propostas, filosofias e objetivos claros, equipe preparada, olhares

individualizados e respeito ao ser humano com o qual estaremos interagindo

durante boa parte de suas vidas, estímulo as potencialidades de cada um, e

principalmente estruturar para uma autonomia plena e saudável, são pontos

importantes a serem observados sempre e com muita atenção.

“Temos que nos lembrar que educar é algo mais que fixar conteúdos sem significados que logo serão esquecidos; educar é contribuir para a formação de cidadãos felizes que consigam viver em harmonia, que saibam trabalhar em grupo, que respeitem as diferenças individuais, que ousem e criem.” (Ferreira, 2001, p.1)

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CAPÍTULO III

CARACTERÍSTICAS PECULIARES À FAIXA ETÁRIA

QUE CORRESPONDE A PRÉ-ESCOLA

É muito antiga a preocupação da humanidade com a natureza da

criança e com a marcha de seu desenvolvimento.

Foram precisos séculos para que a humanidade chegasse à conclusão

de que a criança é um ser em desenvolvimento e em muitos aspectos diferente do

adulto. Essa descoberta revolucionou os métodos da pedagogia infantil.

À medida que a criança se desenvolve, modificam-se também seu

organismo, suas proporções físicas, suas capacidades mentais, seus interesses,

seu comportamento motor, emocional, social etc. Pais e professores de hoje

concebem a criança assim, e procuram tratá-la de acordo com suas

peculiaridades, respeitando a fase de desenvolvimento em que ala se encontra.

“Os progressos da Biologia e da Psicologia experimentais trouxeram um fundamento científico à concepção atual da criança. A criança é considerada hoje, não como simples redução do adulto, mas como um ser que apresenta, em cada fase de sua evolução, caracteres próprios e reações específicas que lhe dão uma fisionomia psicológica particular.” (Santos, 1954, p.51)

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil adota a

mesma divisão por faixas etárias contemplada nas disposições da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

“A educação infantil será oferecida em: I – creches ou entidades

equivalentes para crianças de até três anos de idade; II – pré-escolas, para as

crianças de quatro a seis anos.” (LDB, 1996, art. 30, capítulo II, seção II)

Na pré-escola o professor deverá criar situações estimuladoras,

concreta e contextualizadas, a partir da leitura das características de seu estágio

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evolutivo, de seus interesses expontâneos, de seus valores culturais e de sua

realidade sócio-econômica.

Essas são as fases da evolução do ser humano:

* período pré- natal

* período do recém-nascido

* primeira infância

* segunda infância (pré-escola)

* meninice

* puberdade

* adolescência

* maturidade (vida adulta)

* senilidade ou velhice

A segunda infância tem início com a aquisição da linguagem e da

locomoção e com o aparecimento dos primeiros dentes; termina com o ingresso

na escola de Ensino Fundamental.

O conceito de infância como um período especial do desenvolvimento,

em que o indivíduo deve ser cuidado, protegido e supervisionado, é bastante

recente quando se considera a história da ciência.

Até o século XVII predominava o conceito da criança como um adulto

em miniatura, ou seja, acreditava-se que o raciocínio, os sentimentos e as ações

infantis possuíam os mesmos elementos básicos daqueles dos adultos.

Nas décadas de 1920 e 1930, os estudos limitaram-se à observação

das atividades de bebês em seus primeiros anos de vida. A maioria desses

estudos teve como objetivo a descrição da regularidade das mudanças do

comportamento de acordo com a idade, e a amplitude das variações existentes

entre crianças de mesma faixa etária. O propósito dos estudiosos era obter um

padrão normativo para o desenvolvimento físico, motor e social do ser humano

para fazer diagnósticos e prognósticos fidedignos.

As tabelas normativas resultantes desses estudos representaram uma

contribuição muito importante e até hoje proporcionam conhecimentos úteis para

pediatras, pais e educadores.

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É importante, fazer uma distinção entre crescimento e

desenvolvimento. Em termos bem gerais, o crescimento está ligado aos atributos

que podem ser medidos ou quantificados, como o peso ou a altura. O crescimento

é, em síntese, aquilo que se pode medir no desenvolvimento; em alguns casos, é

o meio que permite avaliação desse desenvolvimento.

Já o termo desenvolvimento é mais abrangente e se refere aos

avanços que o ser humano empreende ao passar por determinadas experiências,

reagindo a elas e consequentemente modificando-se. O processo de

desenvolvimento envolve, através de uma participação ativa do indivíduo, seu

crescimento, sua maturação e sua aprendizagem.

A seguir, algumas ações que são esperadas na faixa etária de quatro a

seis anos:

Quatro anos

* repete uma frase de 10 palavras

* desenha um homem em duas partes

* dobra um papel três vezes

* escova os dentes e lava as mãos sozinho

* veste-se e desveste-se

* conhece pelo menos uma cor

* monta um quebra-cabeça simples

Cinco anos

* sabe a idade

* define o uso para: garfo, faca, chave, lápis, etc.

* conta 12 objetos corretamente

* escreve algumas letras

* pergunta o significado das palavras

* brinca com equipamentos de colorir, monta quebra-cabeça, pula corda

Acima de cinco anos

* realiza atividades motoras mais especializadas

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Wallon, Vygotsky, Piaget e Bruner tentaram mostrar que a capacidade

de conhecer e aprender se constrói a partir das trocas estabelecidas entre o

sujeito e o meio.

Embora nem sempre concordantes em todos os aspectos, os estudos

desses teóricos têm possibilitado uma nova compreensão do desenvolvimento

infantil, influenciando de forma importante as ações em muitas das escolas

infantis brasileiras.

Aqui estão os principais pontos do pensamento de Wallon, Vygotsky,

Piaget e Bruner. (Barros, 2000, p.100-115)

Henri Wallon propôs o estudo integrado do desenvolvimento infantil,

contemplando os aspectos da afetividade, da motricidade e da inteligência. Para

ele, o desenvolvimento da inteligência depende das experiências oferecidas pelo

meio e do grau de apropriação que o sujeito faz delas. Neste sentido, os aspectos

físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem, bem como os

conhecimentos presentes na cultura contribuem efetivamente para formar o

contexto de desenvolvimento.

Wallon assinala que o desenvolvimento se dá de forma descontínua,

sendo marcado por rupturas e retrocessos. A cada estágio de desenvolvimento há

uma reformulação e não simplesmente uma adição ou reorganização dos

estágios anteriores, ocorrendo também um tipo particular de interação entre o

sujeito e o ambiente:

* Estágio impulsivo-emocional (1º ano de vida): nesta fase predominam

nas crianças as relações emocionais com o ambiente.

* Estágio sensório-motor (um a três anos, aproximadamente): ocorre

neste período uma intensa exploração do mundo físico, em que predominam as

relações cognitivas com o meio.

* Personalismo (três aos seis anos, aproximadamente): nesta fase

ocorre a construção da consciência de si, através das interações sociais, dirigindo

o interesse da criança para as pessoas, predominando assim as relações

afetivas. Há uma mistura afetiva e pessoal, que refaz, no plano do pensamento, a

indiferenciação inicial entre inteligência e afetividade.

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* Estágio categorial (seis anos): a criança dirige seu interesse para o

conhecimento e a conquista do mundo exterior, em função do progresso

intelectual que conseguiu conquistar até então. Desta forma, ela imprime às suas

relações com o meio uma maior visibilidade do aspecto cognitivo.

Para Lev Semenovich Vygotsky, o funcionamento psicológico

estrutura-se a partir das relações sociais estabelecidas entre o indivíduo e o

mundo exterior.

Ele afirma que a relação dos indivíduos com o mundo não é direta, mas

mediada por sistemas simbólicos, em que a linguagem ocupa um papel central,

pois além de possibilitar o intercâmbio entre os indivíduos, é através dela que o

sujeito consegue abstrair e generalizar o pensamento. Ou seja:

“A linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as instâncias do mundo real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sob uma mesma categoria conceitual cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem.” (Oliveira, 1993, p.27)

Para Vygotsky, primeiro a criança utiliza a fala socializada, para se

comunicar. Só mais tarde é que ela passará a usá-la como instrumento de

pensamento, com a função de adaptação social.

Ele observa que a criança apresenta em seu processo de

desenvolvimento um nível que ele chamou de real e outro potencial. O nível de

desenvolvimento real refere-se a etapas já alcançadas pela criança, isto é, a

coisas que ela já consegue fazer sozinha, sem ajuda de outras pessoas. Já o

nível de desenvolvimento potencial diz respeito à capacidade de desempenhar

tarefas com a ajuda de outros. Para este autor, a zona de desenvolvimento

proximal ou potencial consiste na distância entre o nível de desenvolvimento real

e o nível de desenvolvimento potencial. O papel do professor consiste em intervir

na zona de desenvolvimento proximal ou potencial dos alunos, provocando

avanços que não ocorreriam espontaneamente.

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Para Piaget a preocupação central era descobrir como se estruturava o

conhecimento. A teoria piagetiana afirma que conhecer significa inserir o objeto

do conhecimento em um determinado sistema de relações, partindo de uma ação

executada sobre o referido objeto. Tal processo envolve, portanto, a capacidade

de organizar, estruturar e posteriormente, com a aquisição da fala, explicar

pensamentos e ações. Desta forma, a inteligência vai-se aprimorando na medida

em que a criança estabelece contato com o mundo, experimentando-o

ativamente. Piaget observa que o desenvolvimento pode ser compreendido a

partir dos seguintes estágios:

* Estágio sensório-motor (zero a dois anos aproximadamente): neste

estágio inicial, a atividade intelectual é de natureza sensorial e motora. A criança

percebe o ambiente e age sobre ele.

* Estágio pré-operacional (por volta dos dois aos seis-sete anos): o

principal progresso desse período, em relação ao sensório-motor, é o

desenvolvimento da capacidade simbólica. A criança começa a usar símbolos

mentais – imagens ou palavras – que representam objetos que não estão

presentes.

Nesta época há uma verdadeira explosão lingüística.

Piaget notou várias características do pensamento infantil nesta fase:

Egocentrismo – É definido como a incapacidade de se colocar no ponto

de vista de outrem.

Centralização – Geralmente, a criança consegue perceber apenas um

dos aspectos de um objeto ou acontecimento. Isto é, focaliza apenas uma

dimensão do estímulo, centralizando-se e sendo incapaz de levar em conta mais

de uma dimensão ao mesmo tempo.

Animismo – A criança atribui vida aos objetos. Nesse estágio, as

crianças supõem que os objetos são vivos e capazes de sentir, que as pedras (e

mesmo as montanhas) crescem, que os animais entendem nossa fala e também

podem falar, e assim por diante.

Realismo nominal – É outro modo característico de a criança pequena

pensar. Ela pensa que o nome faz parte do objeto, que é uma propriedade do

objeto que ele representa.

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Classificação – Após os cinco anos de idade, as crianças conseguem

agrupar os objetos com base no tamanho, na forma ou na cor.

Inclusão de classe – Embora, após os cinco anos, a criança consiga

classificar os objetos, ela ainda não pode lidar com “inclusão de classe”. Piaget

nota que a criança tem dificuldade em entender que uma coisa possa pertencer,

ao mesmo tempo, a duas classes.

Seriação – Crianças de seis anos são capazes de lidar com problemas

de ordenação ou de seriação. Elas colocam objetos do menor para o maior.

* Nos estágios seguintes – operacional concreto ( dos sete aos onze

anos aproximadamente) e operacional abstrato ( doze anos em diante) – a

criança adquire a capacidade de pensar abstratamente, criando teorias e

concepções a respeito do mundo que a cerca.

Bruner acredita que haja três níveis de representação cognitiva do

mundo: enativa, icônica e simbólica.

* Representação enativa: nesse nível, a criança representa o mundo

pela ação. Comunicam-se melhor sobre o mundo por meio da ação e também

entendem melhor as coisas em termos de ação.

O reforço (ou recompensa) de um comportamento desejável a ser dado

a um aluno, neste nível, deverá ser de acariciar a cabeça, bater palmas, do que

dizer-lhe palavras de elogio.

* Representação icônica: a criança já possui a imagem ou

representação mental (ícone = imagem, figura) dos objetos, sem necessidade de

manipulá-los diretamente. Tal imagem existe independentemente da ação.

* Representação simbólica: neste nível a criança pode representar o

mundo por símbolos, abstratamente, sem necessidade do uso de ação de

imagens, e já está apta a traduzir a experiência em linguagem e a receber

mensagens verbais do adulto.

Bruner insiste em que uma variedade de estímulos e mudanças no

ambiente é necessária para um desenvolvimento cognitivo adequado. Ele acredita

que todas as crianças têm dentro de si um grande desejo de aprender. Elas são

naturalmente curiosas, e isso deve ser aproveitado em sua educação.

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“O papel do professor é o de acompanhar a criança na caminhada de

desvelamento do mundo.” (Rodrigues e Amodeu , 1997)

Afirmam elas, que cabe ao professor conhecer o sujeito ao qual vai

acompanhar.

Suas características individuais e gerais de desenvolvimento, como a

fala, a motricidade, o conhecimento lógico-matemático, a autonomia e o

desenvolvimento socioafetivo são importantes, pois determinam o ponto em que

essas crianças estão em seu desenvolvimento, quais as suas carências ou

dificuldades a serem trabalhadas e onde gostaríamos que elas chegassem.

Segundo as autoras citadas, é importante para o professor que lida

com alunos pequenos, ter conhecimentos do desenvolvimento dessa faixa etária

para que não venha atropelar a criança com proposições inadequadas e a

respeite como sujeito social, agente de seu conhecimento.

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CAPÍTULO IV

SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA

“O homem é por natureza um animal social.” (Aristóteles, 384-322 a.C.)

A vida em grupo é uma exigência da natureza humana. O homem

necessita de seus semelhantes para sobreviver, perpetuar a espécie e também

para se realizar plenamente como pessoa.

A sociabilidade – capacidade natural da espécie humana para viver em

sociedade – desenvolve-se pelo processo de socialização. Pela socialização o

indivíduo se integra ao grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos e

costumes característicos daquele grupo.

Participando da vida em sociedade, aprendendo suas normas, seus

valores e costumes, o indivíduo está se socializando. Quanto mais adequada a

socialização do indivíduo, mais sociável ele poderá se tornar.

O contato social é a base da vida social. É o primeiro passo para que

ocorra qualquer associação humana.

Podemos considerar que existem dois tipos de contatos sociais:

primários e secundários.

Contatos sociais primários: São os contatos pessoais, diretos e que

têm uma forte base emocional, pois as pessoas envolvidas compartilham suas

experiências individuais. São exemplos característicos de contatos sociais

primários: os familiares (que ocorrem entre pais e filhos, entre irmãos, entre

marido e mulher) ; os de vizinhança (entre amigos, grupos de brincadeiras e

lazer); as relações sociais na escola, no clube, etc. Assim, as primeiras

experiências do indivíduo se fazem com base em contatos primários.

Contatos sociais secundários: São os contatos impessoais,

calculados, formais. Trata-se mais de um meio para atingir determinado fim. Dois

exemplos: o contato do passageiro com o cobrador do ônibus, apenas para pagar

a passagem; o contato do cliente com o caixa do banco, para descontar um

cheque. São também considerados contatos secundários os contatos mantidos

através de carta, telefone, telegrama, e-mail, etc.

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É importante destacar que as pessoas que têm uma vida baseada mais

em contatos primários desenvolvem uma personalidade diferente daquelas que

têm uma vida com predominância de contatos secundários.

Com a industrialização e a conseqüente urbanização diminuíram os

grupos de contatos primários, pois a cidade é área em que há mais grupos nos

quais predominam os contatos secundários.

As relações humanas nas grandes cidades podem ser mais

fragmentadas e impessoais, caracterizando uma tendência aos contatos sociais

secundários e ao individualismo, pois a proximidade física não significa

necessariamente proximidade afetiva.

Um aspecto importante da interação social é que ela modifica o

comportamento dos indivíduos envolvidos, como resultado do contato e da

comunicação que se estabelece entre eles. O simples contato físico não é

suficiente para que haja uma interação social.

Os contatos sociais e a interação constituem, portanto, condições

indispensáveis à associação humana. Os indivíduos se socializam por meio dos

contatos e da interação social.

A interação social pode ocorrer entre uma pessoa e outra, entre uma

pessoa e um grupo ou entre um grupo e outro.

A interação assume formas diferentes. A forma que a interação social

assume chama-se relação social. As relações sociais podem ser pedagógicas,

econômicas, políticas, religiosas, culturais, familiares e etc.

A forma mais típica de interação social, é aquela em que há influência

recíproca entre os participantes.

No grupo social ou na sociedade como um todo, os indivíduos e os

grupos se reúnem e se separam, associam-se e dissociam-se. Assim, os

processos sociais podem ser associativos (cooperação, acomodação e

assimilação) e dissociativos (competição e conflito).

Processo social indica interação social, movimento, mudança. Os

processos sociais são as diversas maneiras pelas quais os indivíduos e os grupos

atuam uns com os outros, a forma como os indivíduos se relacionam e

estabelecem relações sociais.

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Para o sociólogo Karl Mannheim, os contatos e os processos sociais

que aproximam ou afastam os indivíduos provocam o surgimento de formas

diversas de agrupamentos sociais, de acordo com o nível de integração social.

Tais formas são os grupos sociais e os agregados sociais.

Para a sociologia, grupo social é toda reunião de duas ou mais

pessoas associadas para interação. Devido à interação social, os grupos mantêm

uma organização e são capazes de ações conjuntas para alcançar objetivos

comuns a todos os seus membros.

As pessoas, ao longo de sua vida, em geral participam de vários

grupos sociais, como:

* grupo familial – representado pela família.

* grupo vicinal – formado pela vizinhança.

* grupo educativo – desenvolvido na escola.

* grupo religioso – representados pelas instituições religiosas.

* grupo de lazer – que são clubes, as associações esportivas e outros tipos de

associações de lazer.

* grupo profissional – estabelecido pelas relações profissionais em empresas,

escritórios, lojas etc.

* grupo político – formado pelo Estado, pelos partidos políticos, pelas

agremiações políticas etc.

Principais características dos grupos sociais:

* pluralidade de indivíduos - há sempre mais de um indivíduo no grupo; grupo dá

idéia de algo coletivo;

* interação social – no grupo, os indivíduos comunicam-se uns com os outros;

* organização – todo grupo, para funcionar bem, precisa de uma certa ordem

interna;

* objetividade e exterioridade – os grupos sociais são superiores e exteriores ao

indivíduo, isto é, quando uma pessoa entra no grupo, ele já existe; quando sai, ele

continua a existir;

* conteúdo intencional ou objetivo comum – os membros de um grupo unem-se

em torno de certos princípios ou valores, para atingir um objetivo de todo o grupo;

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* consciência grupal ou sentimento de “nós” – são as maneiras de pensar, sentir e

agir próprias do grupo;

* continuidade – as interações passageiras não chegam a formar grupos sociais

organizados; para isso, é necessário que as interações tenham certa duração;

Tomando por base a classificação dos contatos sociais em primários e

secundários, os grupos sociais podem ser classificados em três tipos:

* grupos primários – são aqueles que predominam os contatos primários, isto é,

os contatos pessoais diretos; a família, os vizinhos, o grupo de brinquedos e lazer;

* grupos secundários – são os grupos sociais mais complexos, como as igrejas e

o Estado, em que predominam os contatos secundários; os contatos sociais,

nesse caso, realizam-se de maneira pessoal e direta, mas sem intimidade; ou de

maneira indireta, através de cartas, Internet, etc.;

* grupos intermediários – são aqueles que se alternam e se complementam as

duas formas de contatos sociais – primários e secundários;

Já o agregado social é uma reunião de pessoas com fraco sentimento

grupal e frouxamente aglomeradas. Mesmo assim, conseguem manter entre si um

mínimo de comunicação e de relações sociais.

O agregado social não é organizado e as pessoas que dele participam

são relativamente anônimas.

Tipos de agregados sociais: multidão, o público e a massa.

“A educação é uma das atividades básicas de todas as sociedades

humanas, que dependem, para sobreviver, da transmissão de sua herança

cultural aos mais jovens.” (Oliveira, 2001, p.212)

Assim os objetivos da educação: a transmissão da cultura, a adaptação

dos indivíduos à sociedade, o desenvolvimento de suas potencialidades e como

conseqüência o desenvolvimento da própria sociedade. A criança, por exemplo,

passa desde cedo pelo processo de socialização, na medida em que aprende as

regras de comportamento do grupo em que nasceu.

As formas de transmissão da educação pode ser informal ou formal.

A educação informal, assistemática ou difusa, é aquela que acontece

na vida diária pelo aprendizado das tarefas normais de cada grupo social, pela

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observação do comportamento dos mais velhos, pela convivência entre os

membros de uma sociedade.

A educação sistemática ou formal, tem seu objetivo básico na

transmissão de determinados legados culturais, isto é, de determinados

conhecimentos, técnicas ou modos de vida.

A educação formal é uma maneira seletiva de educação, já que, dentro

da cultura, os elementos considerados essenciais para serem transmitidos são

selecionados por pessoas especializadas.

“A educação brasileira não vai conseguir responder aos desafios do

terceiro milênio se não tiver clareza quanto aos objetivos e prioridades que

precisa alcançar.” ( Mello, 1993, p.5-16)

A escola tem que investir em vários meios para atingir seus objetivos

educacional. Vejam alguns:

* professores especializados

* local apropriado

* currículo planejado para cada etapa da educação

* métodos e materiais didáticos apropriados à transmissão dos vários conteúdos,

incluindo laboratório.

“A educação é para a vida social aquilo que a nutrição e a reprodução são para a vida fisiológica e que, embora toda organização social produza efeito educativo, à medida que a sociedade se torna mais complexa surge a necessidade do ensino e do aprendizado intencionais.” (Dewey, 1979)

Embora as instituições sociais – como a família, a Igreja e os meios de

comunicação de massa – exerçam grande influência na educação dos indivíduos,

a escola é a instituição especificamente organizada para transmitir seletivamente

às crianças a herança cultural da sociedade, tendo como um dos objetivos a

socialização.

Para que o educador tenha condições de criar situações adequadas de

trabalho, necessita obrigatoriamente não somente conhecer o universo infantil

com todas as etapas de desenvolvimento e noções de como a criança adquire o

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conhecimento, como também ser um pesquisador em constante processo de

atualização, “um pensador, pois a reflexão precede e acompanha a atuação

propriamente dita”, como afirma: (Machado, 1992)

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CAPÍTULO V

A CONTRIBUIÇÃO DA PRÉ- ESCOLA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA

Desde o nascimento, a criança é social. Além dos laços familiares que

a unem a determinadas pessoas, às atividades ligadas à sua sobrevivência são

realizadas por outrem. No decorrer de tais atividades, ela começa a desenvolver

sentimentos agradáveis e aprende a evitar estímulos desagradáveis.

Ela aprende a reagir de modo diferenciado àqueles que a cercam.

Essas pessoas satisfazem suas necessidades imediatas, brincam com

ela, aprendem a interpretar o seu comportamento.

“Uma das metas do desenvolvimento humano é conseguir a integração efetiva no mundo social no qual nos encontramos imersos desde o momento do nascimento. Ao longo do desenvolvimento, este mundo social vai sendo ampliado e diversificado, ou seja, vamos entrando em contato com diferentes realidades sociais que possuem códigos, normas e costumes, em muitos casos não explícitos, que temos que ir conhecendo e compreendendo e aos quais temos que adaptar nosso comportamento.” (Coll, 1995, p.198)

Embora a família constitua em um primeiro momento o meio de

desenvolvimento mais imediato para a criança, a escola transforma-se logo em

um importante contexto de socialização.

Quando a criança entra na pré-escola, ela tem que ajustar-se a

determinadas regras diferentes das que estava habituada a tender, regras essas

impostas pela instituição, professor, colegas, entre outros.

A educação pré-escolar, e a escola em geral, constituem contextos de

desenvolvimento diferenciados de família.

A família é, sem dúvida, um agente socializador da criança, enquanto

pequena.

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É dos pais a responsabilidade de ajudar os filhos a desenvolverem

comportamentos e características de personalidade aceitáveis aos grupos sociais

a que pertencem.

Mas é na escola que deverá existir a forte presença de atividades

contextualizadas, especificamente elaboradas e planejadas de acordo com uma

série de finalidades e objetivos educacionais.

No geral, as aprendizagens sociais evoluem em duas direções de

sentidos opostos e complementares, uma voltada para si e a outra voltada para o

próximo, ambas mutuamente dependentes.

A qualidade da socialização que a criança irá estabelecer dependerá

muito da atitude do professor, porque nesta idade há a formação de vínculos

afetivos em relação ao professor e entre os próprios colegas.

As oportunidades de relações com outras pessoas devem ser

priorizadas.

A criança ao interagir com o outro, descobre lentamente que sua

personalidade é distinta da do outro, que cada um tem um modo particular de ser,

sentir, pensar e assim por diante.

A partir do início da vida escolar, as conquistas sociais precisarão de

um certo tempo para ser assimiladas em relação às trocas entre criança e

professor e entre as próprias crianças.

A princípio, o intercâmbio criança-professor é uma fonte de

transmissões educativas de sentido único, prolongado, de certa maneira, o que

ocorre no meio familiar.

Mesmo que o professor exerça com “suavidade” sua ação educativa,

ainda assim cabe a ele decidir o que pode e o que não pode ser aceito como

comportamento, de acordo com os interesses da coletividade. À medida que as

crianças se desenvolvem, as discussões sobre as normas escolares deveriam ser

estabelecidas com a participação ativa delas. Mas, se de um lado não deveria

haver imposições, por outro, o professor continua sempre sendo o adulto que

cuida para que certos limites não sejam transpostos.

A criança ao entrar na pré-escola, seu mundo social se amplia em

complexidade e intensidade. Surge aí a importância da figura do professor como

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agente de socialização para ela. À medida que o professor estimula a criança,

amplia as possibilidades de socialização.

Já a relação criança-criança envolve um processo de socialização

diferenciado e, por isso mesmo, muito importante para a formação infantil, pois se

trata de um intercâmbio de igual para igual.

O processo de socialização da criança poderá se ampliar ou se

restringir pelo fato de a criança partilhar, mais ou menos, experiências com outras

crianças, tanto no âmbito familiar, na vizinhança, em outros grupos esporádicos

ou na pré-escola.

A pré-escola oferece às crianças possibilidades de estimulação e de

experimentação social e intelectual. O contato com os outros é fundamental para

o desenvolvimento infantil.

O ajustamento à escola não é difícil. Geralmente, apresentam boa

memória e concentração. Gostam de elogios e de aprovação. São carinhosas ou

rudes e agressivas, às vezes. Riem, choram com facilidade, amam e hostilizam.

Manifestam, nesta idade, sentimentos de ambivalência e indecisão. Apresentam,

nas brincadeiras, atitudes dominadoras e autoritárias. São generosas e boas

companheiras.

A área afetiva é ampliada. Fazem novas amizades, formam diferentes

grupos.

O professor pré-escolar, atento ao desenvolvimento social de suas

crianças, organiza jogos e atividades propícias para serem realizados em

pequenos grupos para que, aos poucos, a criança consiga basear suas relações

no respeito mútuo, na cooperação e na reciprocidade.

O trabalho em grupo favorece a interação com os companheiros e

possibilita à criança a descentralização do pensamento egocêntrico, condição

necessária para o alcance da objetividade.

* O comportamento da criança pré-escolar: A criança de quatro a seis

anos encontra-se no período da espontaneidade máxima, possui menos

limitações internas do que a criança de três anos ou menos e também conhece

menos restrições externas socialmente impostas do que conhecerá mais tarde.

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O comportamento social do pré-escolar concentra-se em suas

brincadeiras. É brincando que a criança vai, pouco a pouco, tomando contato com

a realidade; na brincadeira ela oscila entre o real e o simbólico e tenta descobrir

sua própria identidade e a dos outros. A brincadeira capacita a expressão de

sentimentos perturbadores, ajudando a criança a aprender a lidar com eles.

A criança de quatro anos ainda não entende exatamente o que é

participar, revezar e o que significam outros comportamentos que compreendem

vivência em grupo: ela brinca mais ao lado das outras do que com elas.

Por volta dos seis anos, a criança já consegue ver o mundo com mais

objetividade. Passa então a aceitar melhor as pessoas, pois nessa idade já existe

maior compreensão de suas características reais. Os amigos assumem grande

importância: são companheiros de brincadeiras e de lutas, ora são heróis, ora

rivais. Nessa idade forma-se grupos por sexo, e é mais fácil a menina entrar num

grupo de meninos do que o menino num de meninas.

Com cinco ou seis anos a criança se torna mais tranqüila, sua

identidade mais estabelecida e as bases do caráter e da personalidade já estão

assentadas. Aprende a colaborar e a competir ao mesmo tempo, a controlar sua

necessidade de auto-afirmação e a mobilizar seus recursos pessoais para ser

bem aceita no grupo. Começa a compreender o que é fracasso, o que os adultos

e companheiros esperam dela e quanto o sucesso depende de seus próprios

esforços.

* A vivência grupal da criança pré-escolar: Participar das brincadeiras

da turma e do jogo organizado exige muito da criança. É necessário que ela saiba

respeitar a si mesma e aos outros. O educador da pré-escola precisa ter claro que

são necessárias qualidades emocionais, sociais e intelectuais para que a criança

atinja esse estágio de desenvolvimento.

O aspecto social compreende o elemento mais marcante na atividade

lúdica da criança pré-escolar; nos anos seguintes, será sem dúvida um dos

componentes mais importantes do seu desenvolvimento. Deixando de lado o

egocentrismo, a criança passa a usar a linguagem para coordenar atividades de

grupo visando algum objetivo comum.

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O professor é um elemento facilitador, que estimula a experiência, a

exploração, a crítica, a expressão. Tendo assim, uma ação mais favorável no

processo educativo em diferentes áreas: cognitiva, afetivo-emocional, motora e

social.

O professor de educação infantil representa figura fundamental no

processo de desenvolvimento da criança. Presta-se como modelo de

identificação, dando continuidade a uma primeira relação de objeto que foi criada

com seus pais. Para que essa relação possa desenvolver-se de forma sadia, é

preciso acolher suas emoções e criar um espaço de confiabilidade. Viver,

aprender e conhecer o mundo não significa só prazer, ao contrário, diz respeito a

um enfrentamento constante com a frustração e com a falta. Com isso a

agressividade, a indisciplina, são aspectos inseparáveis desse processo. Se o

professor rejeita esse lado de seu aluno, rejeita-o enquanto ser humano e ajuda a

criar um ambiente onde essa mesma agressividade poderá tomar proporções

incontroláveis.

“Se quisermos considerar a escola como um lugar privilegiado para a formação de novas gerações, que continuarão a nossa busca de caminhos mais humanos para a felicidade, deveremos levar em conta estes aspectos de prazer e alegria que o ensino pode oferecer.” (Virgolim, 1994, p.20)

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CONCLUSÃO

Diante dos estudos realizados, verificou-se que não há como

desconsiderar a função social da pré-escola e suas relações com os aspectos

afetivos, cognitivos e sociais da criança.

Cabe a pré-escola ampliar a visão do educador, situando-o em relação

à socialização da criança frente ao grupo de colegas, frente aos adultos que

compõem o suposto cenário para a aprendizagem: a escola.

A escola é uma instituição social que proporciona a criança a se

humanizar através do contato humano, organizando, assim, seu pensamento e

sua ação individual e coletiva.

É no desenvolvimento das relações sociais, através das atividades

práticas realizadas, que a criança consegue pouco a pouco, construir e, ao

mesmo tempo, transformar seu mundo, para melhor atender as suas

necessidades.

Então conclui-se que a pré-escola contribui no processo de

socialização, pois ela cria situações educativas que permitem maiores

possibilidades de inserção e participação nas diversas práticas sociais, buscando

uma educação à altura das exigências da nova sociedade.

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