a levitação (albert de rochas)

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1 A Levitação Albert De Rochas Prefácio do tradutor Entre os homens eminentes que buscam, pelo método ex¬perimental, aprofundar o estudo das causas dos fenômenos psíquicos, encontra-se o ilustre Rochas d'Aiglun (Eugène-Au¬guste-Albert, Conde de) pertencente a uma antiga família que possuiu o feudo d'Aiglun, perto de Digne, desde o meado do século XV até a época da Revolução em 1789. Depois de ter feito brilhantes estudos literários no Liceu de Grenoble, começou a estudar o Direito para entrar na ma¬gistratura, como seu pai e seu avo; porém, não sendo o estudo das leis suficiente para a sua atividade intelectual, ele passou a estudar outras ciências. Em 1836 obteve o prêmio de honra de matemáticas especiais e, no ano seguinte, foi recebido na Escola Politécnica de Paris. Em 1861 entrou para o Exército na qualidade de tenente de engenheiros, promo¬vido a capitão por merecimento em 1864, tomou parte na guerra de 1870-71, e foi nomeado comandante de batalhão em 1880. A fim de entregar-se com maior liberdade aos trabalhos cien¬tíficos a que era afeiçoado, deixou prematuramente em 1889 o serviço militar ativo, e entrou para a Escola Politécnica na qualidade de diretor civil, passando para a reserva com o posto de tenente-coronel. Os trabalhos militares e científicos do Coronel de Rochas são consideráveis; conhecendo a fundo tudo o que tem sido escrito sobre as ciências psíquicas, experimentador consumado, contribuiu em larga escala para fazer classificar o magnetismo entre as ciências puramente físicas. Estudou a polaridade, contribuiu para a classificação atual das fases do sonambu¬lismo, observou metodicamente os fenômenos espíritas, desco¬briu a exteriorização da sensibilidade que não era suspeitada e mostrou o mecanismo do desdobramento físico. Membro de várias sociedades sábias, oficial da Legião de Honra, da Instrução Pública, de São Salvador (Grécia), e das Ordens de São Maurício e São Lázaro (Itália); comendador das Ordens da Sant'Ana (Rússia), do Mérito Militar (Espanha), de Medjidié (Turquia), de Nicham (Túnis), do Dragão Verde (Anam), o Coronel de Rochas é um dos sábios a quem o Espi¬ritualismo e o Magnetismo contemporâneo mais devem. O presente volume, conquanto se subordine ao título geral da sua obra A Levitação, compreende não só alguns outros pequenos trabalhos do mesmo autor (Os Limites da Física, A Física da Magia, e parte da sua introdução ao livro Os Eflúvios Ódicos), mas ainda o trabalho do Sr. Dr. Carl du Prel sobre

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A Levitação

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    A Levitao

    Albert De Rochas Prefcio do tradutor Entre os homens eminentes que buscam, pelo mtodo experimental, aprofundar o estudo das causas dos fenmenos psquicos, encontra-se o ilustre Rochas d'Aiglun (Eugne-Auguste-Albert, Conde de) pertencente a uma antiga famlia que possuiu o feudo d'Aiglun, perto de Digne, desde o meado do sculo XV at a poca da Revoluo em 1789. Depois de ter feito brilhantes estudos literrios no Liceu de Grenoble, comeou a estudar o Direito para entrar na magistratura, como seu pai e seu avo; porm, no sendo o estudo das leis suficiente para a sua atividade intelectual, ele passou a estudar outras cincias. Em 1836 obteve o prmio de honra de matemticas especiais e, no ano seguinte, foi recebido na Escola Politcnica de Paris. Em 1861 entrou para o Exrcito na qualidade de tenente de engenheiros, promovido a capito por merecimento em 1864, tomou parte na guerra de 1870-71, e foi nomeado comandante de batalho em 1880. A fim de entregar-se com maior liberdade aos trabalhos cientficos a que era afeioado, deixou prematuramente em 1889 o servio militar ativo, e entrou para a Escola Politcnica na qualidade de diretor civil, passando para a reserva com o posto de tenente-coronel. Os trabalhos militares e cientficos do Coronel de Rochas so considerveis; conhecendo a fundo tudo o que tem sido escrito sobre as cincias psquicas, experimentador consumado, contribuiu em larga escala para fazer classificar o magnetismo entre as cincias puramente fsicas. Estudou a polaridade, contribuiu para a classificao atual das fases do sonambulismo, observou metodicamente os fenmenos espritas, descobriu a exteriorizao da sensibilidade que no era suspeitada e mostrou o mecanismo do desdobramento fsico. Membro de vrias sociedades sbias, oficial da Legio de Honra, da Instruo Pblica, de So Salvador (Grcia), e das Ordens de So Maurcio e So Lzaro (Itlia); comendador das Ordens da Sant'Ana (Rssia), do Mrito Militar (Espanha), de Medjidi (Turquia), de Nicham (Tnis), do Drago Verde (Anam), o Coronel de Rochas um dos sbios a quem o Espiritualismo e o Magnetismo contemporneo mais devem. O presente volume, conquanto se subordine ao ttulo geral da sua obra A Levitao, compreende no s alguns outros pequenos trabalhos do mesmo autor (Os Limites da Fsica, A Fsica da Magia, e parte da sua introduo ao livro Os Eflvios dicos), mas ainda o trabalho do Sr. Dr. Carl du Prel sobre

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    Gravitao e Levitao, tendo o Sr. de Rochas permitido e recomendado especialmente essa compilao, em carta que se dignou dirigir-nos. A levitao o erguimento espontneo dum corpo no espao. De todos os fenmenos psquicos no h certamente nenhum que parea mais em contradio com o que se chamam leis da Natureza, e, entretanto nenhum outro se presta menos fraude. Desde tempos imemoriais tem constatado fenmenos de levitao em todos os pases; as histrias religiosas de todos os pases assinalam numerosos casos de levitao de seus Santos, e hoje, s pessoas que gozam dessa faculdade, chamam-se mdiuns. Em apoio dessas linhas mencionaremos o que nos diz Apollonius de Tyana: Vi, diz ele, esses brmanes da ndia que habitam sobre a terra e que aqui no habitam que tm uma cidadela sem muralhas e que nada possuem, e, entretanto possuem tudo. Deve-se compreender por essas palavras: que habitam sobre a terra e que aqui no habitam, o fenmeno de levitao. A cincia dos brmanes lhe foi perfeitamente ministrada logo que estes conheceram o fim da sua visita. Assim que ele chegou sua presena, o chefe lhe disse: Os outros homens necessitam perguntar aos estranhos quem eles so, donde vm e o que desejam. Ns, pelo contrrio, como primeira prova da nossa cincia, j sabemos tudo isso; julgai-o por vs mesmo. O clarividente contou ento a Apollonius os principais acontecimentos da sua vida, falou-lhe da sua famlia, de seu pai, de sua me, do que ele tinha feito, etc., etc. Apollonius, cheio de admirao, suplicou ento aos brmanes que o iniciassem nessa cincia to profunda, to sobre-humana, o que lhe foi concedido. Depois de ter completado seus anos de provas, voltou Europa, onde sua clarividncia e as curas que fez maravilharam a todo o mundo. Eis agora uma tentativa de explicao dos fenmenos de levitao, segundo o Sr. Ernest Bosc, autor de diversas obras de cincia oculta: Sabe-se que a Terra um imenso m; diversos sbios o tem dito, entre outros, Paracelso. A Terra est portanto carregada duma eletricidade que denominaremos eletricidade positiva, gerada incessantemente no seu interior ou centro, que um centro de movimento. Tudo o que vive sobre a superfcie da Terra: animais, plantas, minerais, enfim, todos os corpos orgnicos, esto saturados de eletricidade negativa, isto , eles se carregam espontaneamente, constantemente e duma maneira automtica, por assim dizer, de eletricidade negativa, isto , da qualidade contrria da Terra. O peso ou a fora de gravidade no mais que o resultado da atrao terrestre; sem esta, no haveria peso, e o peso proporcional atrao, isto , se esta for duas, trs ou quatro vezes mais forte, o peso da Terra ser duas, trs ou quatro vezes maior. Portanto, se o homem chegasse a vencer essa fora atrativa, no haveria razo que o obstasse a se elevar ao ar, como o peixe o faz na gua. Por outro lado, sabemos que o nosso organismo fsico pode ser vivamente influenciado pela ao duma vontade enrgica; esta ao da vontade pode,

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    pois transformar o estado de eletricidade negativa do homem em eletricidade positiva; ento, sendo a Terra e o homem de eletricidade isnomas, se repelem; desaparecendo a lei de gravidade, fcil ao homem elevar-se no ar enquanto durar a fora repulsiva. O grau de levitao varia, pois, de acordo com a intensidade, a capacidade e a carga eltrica positiva que ele pode condensar no seu corpo. Desde que um homem pode vontade armazenar no seu corpo certa poro de eletricidade positiva, fcil lhe mudar de peso; executa esse ato to naturalmente como o da respirao. Ainda que essa explicao dada pelo Sr. Ernest Bosc possa tambm aplicar-se levitao de objetos e mveis, pois que neste caso igualmente necessrio o concurso dum mdium ou pessoa que fornea a necessria eletricidade positiva, parece-nos, entretanto que ela poder ficar mais completa e satisfatria se dissermos que, na maioria dos casos, indispensvel ao de Espritos ou almas que saibam inverter a polaridade do corpo humano. Compreende-se que uma simples prece, certo estado dalma, uma mudana de atmosfera ou de meio, a expectativa duma sesso ou um desejo manifestado por tais ou tais vibraes no ambiente fludico ou astral, tenham em alguns mdiuns a propriedade de inverter a polaridade de seu perisprito ou corpo fludico, de modo que o corpo fsico sofra igual ao. mesmo natural que isto se opere automaticamente, sem o mdium saber como, no obstante haver ai somente uma ao sua, mas cujas conseqncias sobre o mecanismo da Natureza ele no apreende completamente. Agora, j que nos referimos ao astral, permita-nos o leitor que entremos a esse respeito em algumas explicaes, visto que no as d aqui o Sr. de Rochas e elas so necessrias para a boa compreenso dos fenmenos por ele relatados. O astral , segundo Stanislas de Guata, o suporte hiperfsico do mundo sensvel; o virtual indefinido de que os seres corporais so, no plano inferior, as manifestaes objetivas. No nos deve surpreender se chamarem alma csmica a essa luz secreta que banha todos os mundos. Pode-se ainda legitimamente chamar-lhe esperma expansivo da vida e receptculo imantado da morte: pois tudo nasce dessa luz (pela materializao ou passagem de potncia em ato), e tudo deve ser nela reintegrado (pelo movimento inverso, ou retorno do objetivo concreto ao subjetivo potencial). Como a eletricidade, o calor, a claridade, o som, etc. (seus diversos modos de atividade fludica), ela ao mesmo tempo substncia e fora. Os que s vem nela o movimento laboram em grave erro: como imaginar um movimento efetivo, na falta de alguma coisa que seja movida? O nada no vibra. Conceber uma agitao qualquer ou alguma outra qualidade no vcuo absoluto manifestamente absurdo. E reduzir a luz astral ao abstrato do movimento, fazer dela um ser de razo, o que o mesmo que negar sua existncia, embora latente. Deve-se portanto defini-la: uma substancia que manifesta uma fora; ou, se prefere, uma fora que aciona uma substncia: as duas so inseparveis.

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    Como substncia, ns o dissemos, a luz astral deve ser considerada o substrato de toda a matria; o potencial de toda realizao fsica; a homogeneidade, raiz de toda diferenciao. a expresso temporal de Adamah -, esse elemento primordial donde, segundo Moiss, foi tirado o ser do universal Ado: ou, para nos servirmos da linguagem esotrica, essa terra de que o Altssimo fez o primeiro homem. Como fora, o Astral nos aparecer como virtuado pelo influxo e refluxo dessa essncia viva a que chamaremos, de acordo com Moiss, Nepheseh-ha-chaiah, o sopro da vida. Para motivar esse fluxo e refluxo da alma vivente, basta pint-la puxada, por assim dizer, entre dois ms: em cima, Roach Elohim, sopro vivificador da substncia coletiva, homognea, edenal; embaixo, Nahash, agente suscitador das existncias individuais, particulares, materializadas. o princpio da divisibilidade em face do princpio da integrao; o parcelamento do Eu nascente ou a nascer, que se ope unidade do Seu eterno. Dessa oposio resulta um duplo dinamismo de foras hostis, que convm ser ambas estudadas na sua prpria natureza e na lei do seu mtuo mecanismo. Voltando ento a Nahash, compreenderemos mais facilmente o mistrio do fluido luminoso de mesmo nome, com o contraste das suas correntes opostas e seu ponto central de equilbrio. A luz astral , enfim, a substncia universal animada, movida em dois sentidos inversos e complementares, pelo efeito duma polaridade dupla, do plo integrao ao plo dissoluo, e vice-versa. Ela sofre com efeito duas aes contrrias: o poder de expanso fecundo, a luminosa Jnah, efetiva das geraes e dispensados da vida, por um lado; e pelo outro, o poder de constrio destrutor das formas, o tenebroso Hereb, agente principal da morte, e por isso da reintegrao (retorno dos indivduos coletividade; da matria diferenada e transitria, substncia una permanente e no diferenada). Segundo outros autores, podemos tambm dizer que o astral o lao fsico, embora parcialmente imaterial, que liga o mundo material ou fsico ao mundo invisvel ou espiritual. O fluido astral, condensado em corpo astral, uma das grandes foras da Natureza. muito abundante, e de todos os corpos emana esse fluido sob a forma de aura ou eflvios dicos. O fluido astral que permite a materializao dos corpos de seres mortos ou vivos; produz ento o duplo humano. A fora que o pe em movimento e que lhe inerente, chama-se magnetismo; Allan Kardec chamou a isso princpio vital. No infinito, essa substncia nica o ter. Nos astros que ele imanta, torna-se luz astral. Nos seres organizados, luz ou fluido magntico. No homem, forma o corpo astral ou mediador plstico. A vontade dos seres inteligentes atua diretamente sobre esse fluido e, por seu intermdio, sobre toda a natureza submetida s modificaes da inteligncia. Esse fluido luminoso o espelho comum de todos os pensamentos e de todas

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    as formas; conserva as imagens de tudo o que existiu; os reflexos dos mundos passados e, por analogia, os esboos dos mundos futuros. Mesmer viu nessa matria elementar uma substncia indiferente ao movimento como ao repouso. Submetida ao movimento, ela voltil, cada no repouso fixa; mas ele no compreendeu que o movimento inerente substncia primordial; que esse movimento resulta no da sua indiferena, mas da sua aptido combinada a um movimento e a um repouso equilibrados um pelo outro; que o repouso absoluto no est em parte alguma da matria universalmente viva, mas que o fixo atrai o voltil para fix-lo, no entanto que o voltil atua sobre o fixo para volatiliz-lo. Que o pretendido repouso das partculas aparentemente fixadas no mais que uma luta formidvel e uma tenso maior das suas foras fludicas que se imobilizam, neutralizando-se. assim que, segundo Hermes, o que est em cima anlogo ao que est embaixo, a mesma fora que dilata o vapor, condensa e endurece o gelo; tudo obedece s leis da vida inerente substncia primitiva; esta substncia atrai, repele, coagula-se e dissolve-se com uma constante harmonia; dupla ou andrgina; abraa-se e fecunda-se; luta, triunfa, destri, renova-se, mas nunca se abandona inrcia, porque a inrcia seria a sua morte. Essa matria universal chamada ao movimento pela sua dupla imantao e procura fatalmente o equilbrio. A regularidade e a variedade do seu movimento resultam das combinaes diversas do equilbrio. Um ponto equilibrado de todos os lados fica imvel porque dotado de movimento. O fluido uma matria em grande movimento e sempre agitada pela variao dos equilbrios. O slido a mesma matria em pequeno movimento ou em repouso aparente, porque mais ou menos solidamente equilibrada. No h corpo slido que no possa imediatamente ser pulverizado, esvair-se em fumo e tornar-se invisvel, se o equilbrio das molculas cessarem de repente. No h corpo fluido que no possa no mesmo instante tornar-se mais duro que o diamante, se puderem equilibrar imediatamente suas molculas constitutivas. Dirigir os ms portanto destruir ou criar as formas, produzir em aparncia ou aniquilar os corpos, exercer a onipotncia da Natureza. Nosso mediador plstico (perisprito ou corpo astral) um im que atrai ou repele a luz astral sob a presso da vontade. E um corpo luminoso que reproduz com a maior facilidade as formas correspondentes s idias; o espelho da imaginao. Este corpo nutre-se da luz astral, exatamente como o corpo orgnico se nutre dos produtos da terra. Durante o sono, absorve a luz astral por imerso, e, durante a viglia, por uma espcie de respirao mais ou menos lenta. Para resumir, diremos que o corpo astral o duplo perfeito do nosso corpo fsico; contribui para moldar este no ato do nascimento e amoldado conforme o progresso que o Esprito tiver operado na vida. Aps a morte,

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    subsistem ainda, possuindo mesmo todas as sensaes, todos os apetites do corpo fsico, de acordo com a depurao do Esprito. O corpo astral durante a vida do homem est nele e fora dele; esta faculdade que fez dizer que o corpo astral era dotado da quarta dimenso. E por uma forte concentrao da vontade que o homem pode projetar fora de si o seu corpo astral, pelo menos em parte, pois que, se o projetasse inteiramente, seria isso a morte. O homem pode, portanto aparecer fluidicamente (em corpo astral) a uma grande distncia do seu corpo fsico. Pode mesmo materializar-se, isto , aparecer com o corpo fsico e, nestas condies, ele possui at certo ponto todas as propriedades do corpo terrestre. Muitas pessoas que em vida nunca projetaram seu corpo astral, projetam-no dum modo inconsciente no ato da morte; das, as aparies de finados aos seus parentes ou amigos, aparies freqentemente relatadas nas obras espritas. Um bom magnetizador tem o poder de exteriorizar o corpo astral do seu sonanbulismo. O hipnotizado torna-se desde ento uma coisa do magnetizador, que o faz agir vontade; pode mesmo, traando um crculo no cho, encerrar ai o carpo astral do sonmbulo. Enfim, picando esse corpo com um alfinete, maltratando-o, etc., pode fazer experimentar ao sonmbulo as mesmas sensaes, as mesmas dores, em uma palavra, os mesmos efeitos, como se tivesse operado diretamente no sonmbulo. O corpo astral a prpria vida do homem; ele que serve de blsamo s nossas feridas, s nossas cicatrizes, a toda espcie de feridas que o homem possa ter. o melhor reconstituinte das nossas foras fsicas; reconstitui e refaz qualquer parte do nosso organismo prejudicada por uma molstia qualquer. Toda ao boa ou m fica inscrita no astral; mas o corpo astral serve igualmente de receptculo aos micrbios morais, os quais se propagam por seu intermdio, e, sendo igualmente o registrador do bem, ele nota todas as idias ss que produzem o bem da Humanidade. Por a se v quanto progrediria a Humanidade, se todos os seres dum ciclo, sendo profundamente morais, s fizessem boas aes. Enfim, apresentando ao nosso pblico a narrao de variados fenmenos que se operou com o concurso desse mediador plstico, estimaremos que ela possa induzir a proveitosos estudos de psicologia.

    PITRIS Prefcio do autor O fenmeno da ascenso dos corpos humanos ou da levitao, para empregarmos o termo hoje consagrado, parece um dos mais extraordinrios entre os que so devidos fora psquica que a nossa gerao procura

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    definir. Poucos todavia h cuja realidade tenha sido demonstrada por um nmero mais imponente de testemunhos. Esses testemunhos agrupei-os aqui, em quatro captulos diferentes, para no ferir muito as suscetibilidades que se manifestaram a alguns anos, quando tratei deste assunto num artigo da Revue Scientifique, cingindo reproduo dos fatos por ordem de datas. De um lado, censuraram-me pela falta de respeito religio, visto confundir os milagres dos santos com as narrativas mais ou menos falsas da histria profana. Do outro, argiram por ter tomado a srio os absurdos relatados pelos hagigrafos. No me possvel discutir o valor das obras onde colhi esses fatos, pelo menos quanto aos que so antigos. Cada qual lhes atribuir o valor que quiser. Este livro uma simples compilao destinada a fornecer, queles a quem o assunto interessar uma coleo de documentos que, apesar de incompleta, evitar investigaes longas e fastidiosas,

    ALBERT DE ROCHAS Casos Passados No Oriente Filstrato, falando dos sbios da ndia, diz: Damis viu-os elevarem-se ao ar, na altura de dois cvados, no para causarem admirao (pois que eles se abstm desta pretenso), mas porque, em sua opinio, tudo o que fazem em honra do Sol, a alguma distncia da Terra, mais digno deste deus. A propriedade de ficar-se suspenso no ar era um doa caracteres distintivos dos deuses e dos heris ascetas. Na encantadora Histria de Nala, traduzida por Emlio Burnouf, a bela Damayanti, pretendida em casamento por trs deuses ao mesmo tempo em que pelo rei Nala, acha-se subitamente em presena de quatro Nalas indiscernveis. Muito embaraada, ela conjura os deuses a que tomem outra vez a sua forma divina, e ento que Damayanti os v com os seus atributos e sem tocarem no solo. Na introduo Histria do Budismo Indiano encontra-se a seguinte narrativa: Ento Bhagavat entrou em tal meditao que, apenas o seu esprito ai entregou a isso, ele desapareceu do lugar onde estava sentado e, arremessando-se ao ar do lado do Ocidente, a apareceu em quatro atitudes, isto , andou, ficou em p, sentou-se e deitou-se. Alcanou depois a regio da luz... O que ele fizera no Ocidente, operou igualmente no Seil. Repetiu-o em seguida nos quatro pontos do espao, e quando, com estes quatro milagres, fez testemunhar o seu poder sobrenatural, voltou a sentar-se no seu lugar. As anedotas deste gnero so assaz numerosas nos livros sagrados da ndia, mas apresentam-se geralmente sob uma forma mstica, que daria origem a

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    equvocos sobre o verdadeiro carter do fenmeno, se fatos contemporneos no viessem determinar-lhe com preciso a natureza. O Sr. Lus Jacolliot refere o seguinte, de que foi testemunha: O protagonista era um faquir chamado Covindassamy, que vinha de Frivanderam, perto do Cabo Comarim, no extremo sul do Indosto, e estava somente de passagem em Benars. Fora encarregado de trazer para ali os restos fnebres de um rico malabar, e habitava provisoriamente margem do Ganges, em lugar pouco distante da casa alugada pelo Sr. Jacolliot. Havia vinte dias que se entregava ao jejum e orao, quando se produziram, entre outras cenas prodigiosas, as duas seguintes, que copio textualmente da obra do magistrado francs: Tendo ele pegado numa bengala de pau-ferro que eu trouxera de Ceilo, apoiou a mo no casto e, com os olhos fixos no solo, puseram-se a pronunciar conjuraes mgicas e outras momices com que se esquecera de mimosear-me nos dias precedentes. Com uma das mos apoiada na bengala, o faquir elevou-se gradualmente cerca de dois ps acima do solo, com as pernas cruzadas moda oriental, e ficou numa posio assaz semelhante desses budas de bronze que todos os excursionistas trazem do Extremo Oriente. Procurei, durante mais de vinte minutos, compreender como podia Covindassamy derrogar assim as leis ordinrias do equilbrio... No o pude conseguir; apenas a palma da sua mo direita estava em contacto com a bengala. Nenhum outro apoio aparente havia para o seu corpo. Cumpre notar que a cena se passava no terrao superior da casa do Sr. Jacolliot, e que o faquir estava quase inteiramente nu. Da mesma maneira sucedeu com este outro fenmeno No momento em que ele me deixava para ir almoar e dormir a sesta durante algumas horas, o que era para ele da mais urgente necessidade, pois havia vinte e quatro horas que nada comera nem descanso algum tivera, o faquir parou no vo da porta que dava do terrao para a escada de sada, e, cruzando os braos no peito, elevou-se ou pareceu elevar-se pouco a pouco, sem apoio aparente, a uma altura de cerca de vinte e cinco ou trinta centmetros. Um ponto que, durante a rpida produo do fenmeno, eu marcara com segurana, fez que eu fixasse a distncia exata. Por detrs do faquir achava-se uma tapearia de seda que servia de reposteiro, com as cores vermelha ouro e branca, em tiras iguais. Notei que os ps do faquir estavam subindo e ao ver comear a ascenso, eu pegara no meu cronmetro. A produo completa do fenmeno, desde o momento em que o encantador comeou a elevar-se at a ocasio em que de novo tocou no solo, no durou mais de oito a dez minutos. Ficou cinco minutos pouco mais ou menos imvel na sua elevao. Hoje, que reflito nesta cena estranha, no posso explic-la de um modo diverso daquele pelo qual tenho interpretado todos os fenmenos que a minha razo j se recusava a admitir isto , por qualquer outra causa que no seja um

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    sono magntico, sono que me deixava lcido, permitindo-me ao mesmo tempo ver pelo pensamento do faquir tudo quanto lhe aprouvesse. No momento em que Covindassamy me dava a saudao da partida, perguntei-lhe se lhe seria possvel reproduzir vontade este ltimo fenmeno. O faquir, respondeu-me ele em tom enftico, poderia elevar-se at s nuvens. - Como o obtm esse poder? - perguntei eu. - necessrio que esteja em constante orao contemplativa, e que um Esprito superior desa do cu - foi a sua resposta. Eis agora dois fatos igualmente contemporneos, referidos por indgenas. Foi publicada, em 1880, no Theosophy, revista filosfica que se edita em Medras. O primeiro narrado por Jos Ootamram Doolabhram, diretor da Escola de Astronomia de Baroda. No ano de Samrut 1912 (1856), diz o sbio hindu, eu estava ocupado em fazer investigaes sobre a antiga qumica e andava a procura de um mestre competente que pudesse fornecer-me as informaes de que eu precisava. Depois de muitas indagaes, achei num templo de Mahader, na cidade de Brooch, situada nas margens do rio Narboda, um sangasi (asceta) que praticava a ioga (xtase), e fiquei sendo um dos seus discpulos. Era um homem de cerca de trinta e cinco anos, estatura um pouco acima da mediana, exterior muito belo, com uma expresso inteligente e faces de uma tez rsea particular, que nunca vi em rosto algum. Tinha a cabea rapada, e usava o vesturio cor de aafro dos sangasis. Nascera no Pendjah. Era conhecido pelo nome de Narazananaud. Como todos os homens da sua casta, ele era de difcil acesso e no quis aceitar-me como discpulo nem permitiu que eu entrasse em relaes familiares com ele sem se ter certificado, por um interrogatrio minucioso, da sinceridade das minhas intenes e da minha capacidade para o estudo da ioga. Omito particularidades e me contentarei em dizer que acabei por alcanar o que desejava. Narazananaud aceitou-me como discpulo. Recebi a sua bno, e servi-o por dois anos. Durante esse tempo, aprendi praticamente muitas coisas que s conhecia em teoria pela leitura dos nossos shastlras (tratados de Teologia) sagrados. Iniciei-me em muitos segredos da Natureza e pude convencer-me, com provas numerosas, do poder que o homem tem de dominar-lhe as foras, pois o meu mestre praticava, entre outras coisas, o pranayama ou suspenso do flego. No pretendo explicar, na linguagem da cincia ocidental, os efeitos produzidos no corpo humano por esse ramo do yog vidia (unio mstica da alma com Deus); mas, o que posso dizer que, enquanto o sangasi estava absorvido e em contemplao, cumprindo o seu pranayama, sentado na postura prescrita do padmazan, o seu corpo foi elevado acima do solo a uma altura de quatro ps, e ficou suspenso no ar durante quatro ou cinco minutos, ao mesmo tempo em que eu podia passar a mo por baixo dele, certificando-me assim de que a levitao era um fato bem real.

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    A segunda narrativa faz parte de um artigo assinado Bubu Khrisna: H cerca de trinta anos, quando eu era um rapazinho de dez anos, em Benars, vi um parente meu, chamado Amarchand Maitreyer, que era conhecido na cidade pela prtica do yoga dharma (lei de unio em Deus). Esse venervel velho podia elevar o corpo altura de um p e meio acima do solo, e ficar suspenso assim mais de um quarto de hora. Os seus dois netos e eu, que tnhamos quase a mesma idade, perguntamos-lhe, com infantil curiosidade, o segredo desse fenmeno. Recordo-me muito bem de que ele nos disse que, pelo kumbha yoga, o corpo humano se torna mais leve que o ar ambiente e pode flutuar acima do solo. Esta explicao pareceu-nos suficiente. Comunicaram-me a narrativa seguinte, assinada Bavadje D. Natts, e datada de novembro de 1885: H dez anos viajava eu com um biragi (asceta), quando chegamos perto do ashrma (loja) de uma confrariazinha de msticos no Sul da ndia. Pedi ao meu companheiro que me esperasse na aldeia prxima, acrescentando que tinha alguma coisa para fazer na loja, porm ele fez questo de acompanhar-me a fim de tomar conhecimento com os ocultistas. A loja cercada por duas colinas. No fundo do vale h um bosquezinho, e mais alm um rio. Pelo outro lado h um subterrneo que conduz a um templo muito conhecido sob o nome de Hanman e situado no alto da colina. Eu no sabia o que fazer do meu companheiro. Passamos a noite no bosquezinho, decididos a entrarmos no dia seguinte no vale. Logo que nos estendemos para dormir, cerca das 8 horas da noite, o meu companheiro recebeu psiquicamente um aviso para que deixasse desde logo o lugar. Ele acreditou que isso fosse um efeito da sua imaginao e, como tinha vontade forte, resolveu ficar, acontecesse o que acontecesse. No fim de alguns minutos sentiu-se agarrado por enorme e vigorosa mo. Em meio minuto foi transportado para fora do bosque, at margem oposta do rio, e atirado, sem sentidos, no cho. Atravessei o rio e, depois de t-lo magnetizado por algum tempo, ele voltou a si. No sofria; sentia-se, porm, muito fraco. Disse-me que s perdera os sentidos no momento em que foi atirado ao cho, e que sentira perfeitamente a mo enorme do elemental. Quis ento tentar a entrada no vale pelo outro lado. Dirigimo-nos para a colina onde estava edificado o templo. A, deparou-se-nos a entrada do subterrneo que conduzia loja. Ento ouvimos uma voz forte e clara que induzia o meu companheiro a no persistir no seu projeto. Dizia-lhe que as duas primeiras tentativas seriam perdoadas, porm que uma terceira poderia custar-lhe a razo. Entretanto, como homem resoluto, no deu ateno voz do Asarivi vak (voz do mundo sem forma). Mal tinha formulado essa resoluo em seu esprito, tornou-se inconsciente e foi transportado a alguma distncia para baixo at um lugar de descanso onde tnhamos parado ao subirmos. Uma vez ali, voltou a si.

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    As pessoas que estavam nesse lugar no podiam compreender como ele para ali voltara to depressa. No momento em que fora arrebatado, pus-me a descer a colina e gastei uma hora para ir ter com ele. Quando cheguei, os assistentes afirmaram que o meu amigo estava ali havia uma hora, e lamentavam sua sorte. Ele compreendeu ento o seu erro e consentiu em esperar por mim. Sem entrar em outras minuciosidades, direi que durante todo o tempo essa loja foi guardada por dois poderosos elementais, que vedavam a passagem a quem desejasse a penetrar sem o seu consentimento. Algum tempo depois dessa aventura, eu e um amigo (graduado da Universidade) relacionamo-nos com um iogue. Passvamos quase todo o nosso tempo em aprendizagem junto dele. O iogue tinha o costume de levantar-se s trs horas da manh e dirigir-se para o rio que ficava prximo de sua casa, voltando somente tarde. O meu amigo, impulsionado por viva curiosidade, props um dia que nos levantssemos antes do iogue, e fssemos esper-lo nas proximidades do rio para vermos o que ele fazia. Cedi, no sem alguma repugnncia. Nessa tarde, quando fomos a sua casa, o iogue sorriu e disse-nos - Quereis saber o que eu fao prximo do rio. Pois bem! No precisais de vos tornar espies. Irei buscar-vos de manh cedo e iremos juntos. Assim o fez. Todos trs, trepados em pedras que estavam no rio, lavamos as nossas roupas, segundo a moda hindu, antes de nos banharmos. Depois de o meu amigo e eu nos termos banhado e feito o nosso sandhzavandana (cerimnia), procuramos com a vista o iogue. Foi impossvel encontr-lo. Eram perto de quatro horas da manh e a Lua brilhava ainda. Chamamo-lo, porm isso foi igualmente em vo. Acreditamos ento que ele houvesse sido arrastado pela corrente e se afogasse, quando vimos aparecer, na superfcie da gua, a sombra da bela forma do mstico com os seus trajes amarelos. Levantamos os olhos, e avistamo-lo em pessoa deitado a todo o comprimento como se dormisse numa cama de ar a 30 ps por cima das nossas cabeas. Ao romper do dia, vimo-lo descer com lentido, at cair suavemente na gua. Banhou-se ento, e voltou para casa conosco. Desde esse dia, vimos o iogue todas as manhs, suspenso e flutuando na gua durante quase duas horas e meia. Esta experincia se repetiu durante um ms. O iogue chamava-se Ramagiri Swamy. Eis como o mesmo autor explica o fenmeno da levitao A levitao no ar, postergando a lei da gravitao afirmada pela cincia moderna, unicamente explicvel pela teoria da atrao e da repulso universal. Se os mdiuns so levantados, porque, temporariamente, so tornados positivos em relao ao magnetismo da Terra, a que se convencionou chamar positivo. Em cada organismo humano h, como no

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    resto da Natureza, os dois magnetismos, o positivo e o negativo. O que chamamos vida, no mais que o resultado da ao e da reao constante dessas foras positivas e negativas. A cessao ou o equilbrio dessas foras a morte. Esta observao, todavia, no se aplica aos Togues. Os ocultistas podem vontade produzir esse equilbrio em sua natureza fsica sem morrerem, fato este que se d com os faquires da ndia, pois podem ficar enterrados durante quarenta dias. Se fssemos de natureza inteiramente negativa, estaramos enraizados como rvores. Se fssemos completamente positivos, no poderamos estacionar um s momento no cho, e seramos sempre repelidos da sua superfcie, porque as foras positivas se repelem. Quando, por nossa vontade, saltamos momentaneamente, tornamo-nos positivos; quando ficamos ou nos sentamos no cho, tornamo-nos inteiramente negativos em relao a Terra. Como a nossa fora de vontade no desenvolvida e, por conseguinte, no to forte como a de um ocultista, no podemos ser levantados; e, se nos conservamos em p ou ficamos demasiado tempo sentados, sobrevm o cansao e somos obrigados a mudar de posio. Casos Tiraos Da Histria Profana Do Ocidente Se do Oriente passar ao Ocidente, encontraremos centenares de exemplos da levitao. As Constituies Apostlicas (1. VI), Arnbio (Tratado contra os Gentios, 1. II) e Sulpcio Severo (Histria Sacra, 1. II, cap. XXVIII) referiram a desventura de Simo, o Mago, que, depois de se ter elevado aos ares vista de Nero e do povo reunido, foi precipitado e quebrou a perna. Vi, diz noutro lugar Sulpcio Severo (Dial. 3, captulo VI), um possesso elevado ao ar, com os braos estendidos ante a aproximao das relquias de So Martinho. Durante a cerimnia de iniciao de Juliano, o Apstata, nos mistrios de Diana em feso, o iniciador, o filsofo Mximo, elevou-se ais ares com o iniciado. (Lamey, Vida de Juliano, o Apstata.). So Paulino, na Vida de So Flix de Nola, atesta ter visto um possesso caminhar contra a abbada de uma igreja, com a cabea para baixo, sem que a sua roupa se desarranjasse. Jmblico cita, entre os prodgios operados por certos homens, o transporte para lugares inacessveis e por cima dos rios. Nisto tambm quero indicar-te por que sinais se reconhecem aqueles que so verdadeiramente possudos pelos deuses. . . Aqui tens um dos principais: Muitos deles no so queimados pelo fogo, porque o fogo no lhes pode tocar, e muitos, se os queima, no o percebem, porque ento no vivem da vida animal. Outros, atravessados por pontas de ferro, no as sentem. Outros

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    recebem machadadas nas costas ou golpeiam os braos com punhais, sem que o sintam. Suas aes no tm carter algum humano. O transporte divino os faz passar por lugares inacessveis; eles se atiram ao fogo, andam no fogo, atravessa os rios, como a sacerdotisa Kastabaliana. . . H numerosas formas da possesso divina. . . Nesses diferentes casos, os sinais que apresentam os inspirados so diversos; algumas vezes parece que o corpo cresce, incha ou levado a uma grande altura nos ares... Cristina de Pisan, na sua Histria de Carlos V, falando de Guilhermina da Rochella, diz que ela era mulher muito amiga da solido e contemplao, pois pessoas fidedignas lhe afirmaram t-la visto em contemplao, suspensa a mais de dois ps de altura. Encontra-se no Mstico, por Gorres. O bispo de Pamplona, Fr. de Sandoval, na sua Histria de Carlos V, conta o fato seguinte ocorrido por ocasio de um processo de feiticeiras que foi apresentado ao Conselho do Estado de Navarra. Querendo convencer-se, por seus prprios olhos, da verdade dos fatos de que eram acusadas as feiticeiras, prometeu o seu perdo a uma, se ela quisesse exercer na sua presena, as artes mgicas. A feiticeira aceitou a proposta, e s pediu que lhe restitussem a caixa de ungento que lhe tinham tirado. Subiu a uma torre com o comissrio e muitas outras pessoas; depois, tendo-se posto em uma janela, esfregou com o ungento a palma da mo, os rins, as articulaes dos cotovelos, o antebrao, as espduas e o lado esquerdo. Gritou depois com voz forte: Ests a? E todos os assistentes ouviram no ar uma voz que respondeu: Sim, estou. A feiticeira ps-se ento a descer da torre, servindo-se dos ps e das mos como um esquilo. Quando chegou quase ao meio da torre, tomou o vo e os assistentes seguiram-na com a vista at que ela desaparecesse no horizonte. Estavam todos estupefatos, e o comissrio mandou anunciar publicamente que aquele que entregasse de novo essa mulher teria como recompensa, uma grossa quantia. Pastores, que a encontraram, trouxeram-na passados dois dias. Perguntou-lhe o comissrio por que no voara ela para mais longe, a fim de escapar aos que a buscavam. Respondeu que o seu senhor no quisera lev-la mais do que a trs lguas de distncia, deixando-a no campo onde a tinham encontrado os pastores. Calmeil (De la Folie, tomo I, pg. 244) narra aventura do doutor Forralba, sbio afamado que, em 1519, pretendeu ter vindo da Espanha a Roma atravs da atmosfera, a cavalo num pau, e que, em 1525, anunciara aos habitantes de Valladolid o saque de Roma no dia seguinte quele em que o fato se realizara, dizendo que acabava de presenci-lo do alto dos ares. Um respeitvel missionrio do fim do ltimo sculo, chamado Delacour, numa carta endereada ao Sr. Vinslow, refere um fato de que foi testemunha ocular e que Calmeil cita igualmente no seu livro De la Folie (tomo II, pg. 419).

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    Trata-se de um indgena, jovem de dezoito a dezenove anos, ao qual julgavam possesso do demnio e que lhe haviam trazido para que o curasse. Resolvi, num exorcismo, diz ele, ordenar ao demnio que o transportasse ao teto da igreja com os ps para cima e a cabea para baixo. Desde logo o seu corpo inteiriou-se, como se todos os membros o houvessem tolhido, ele foi arrastado do meio da igreja at uma coluna, e a, com os ps juntos, com as costas arrimadas coluna, sem o auxlio das mos, foi transportado, num abrir e fechar de olhos, ao teto como um peso que fosse atrado de cima com velocidade, sem parecer que da parte do mancebo houvesse ao. Suspenso do teto, com a cabea para baixo, fiz que o demnio confessasse como era meu propsito, a falsidade da religio pag. Mantive-o mais de meia hora no ar e, no tendo tido perseverana bastante para mant-lo a por mais tempo, tal susto eu tinha do que estava vendo, ordenei-lhe que o pusesse a meus ps, sem fazer-lhe mal... Imediatamente o jovem me foi atirado como uma trouxa de roupa suja, sem que ficasse molestado. Outro missionrio diz-nos Vi um ndio, a quem fui batizar, ser subitamente transportado, do caminho que o conduzia igreja, para outro lugar. Este padre, que habitava perto de Canto, acrescenta que esses fatos no eram raros nos pases idlatras, e que ele no fora a nica pessoa que os havia observado. L-se nas Mmoires, de Flchier, sobre os grandes dias de Clermont (pg. 69), a anedota seguinte: Quando chegamos, encontramos no albergue o Sr. Intendente, que voltava de Aurillac e tivera muita dificuldade para se livrar da neve. Mandara prender um presidente da eleio de Brioude, acusado de vrios crimes e mais particularmente de magia. Um dos seus criados afirmara que ele lhe dera sortilgios que o faziam algumas vezes levantar do cho, quando ia para a igreja, vista de toda a gente. Um sbio beneditino, D. La Faste, que foi testemunha ocular dos prodgios operados pelos convulsionrios de San-Mdard, diz, falando da senhorita Thnevet Ela se elevava de tempos a tempos a sete ou oito ps de altura, e at ao teto. Ao elevar-se, suspendia, at altura de trs ps, duas pessoas que puxavam por ela com todas as foras. Os fsicos vero nisto simplesmente a Natureza? Eis um fato ainda mais prodigioso: Enquanto a senhorita Thvenet se elevava com a cabea para cima, as saias e a camisa dobravam-se-lhe, como por si mesmas, sobre a sua cabea. Operou a Natureza alguma vez tais efeitos ou pode oper-los? Conheci, h alguns anos, em Ardche, uma estigmatizada a quem ordinariamente chamavam santa Coux. Era sujeita a freqentes arroubos, com relao aos quais a Sra. D... dignou-se dar-me as particularidades seguintes.

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    Com profunda admirao, eu a vi ficar com os olhos fixos, mas animados, elevar-se pouco a pouco acima da cadeira em que estava sentada, estender os braos para diante, tendo o corpo inclinado nessa mesma direo, e permanecer assim suspensa, com a perna direita dobrada por baixo dela, tocando a outra no cho apenas com o dedo do p. Foi nesta posio, impossvel a qualquer pessoa em estado natural, que eu sempre vi a senhora Vitria, nos seus arroubos extticos, quando eu tinha a felicidade de visit-la muito regularmente, duas vezes por semana. Na ocasio dessas visitas, ela tinha dois ou trs xtases, que duravam de dez a vinte e cinco minutos. Eu a vi nesse estado mais de mil vezes, sobretudo durante os primeiros anos das nossas relaes. O Sr. Brown-Squard conta que, em 1851, foi testemunha de um caso de xtase numa donzela que, todos os domingos, s oito horas da manh, subiam para a beira arredondada e lisa do seu leito e a ficava em linha vertical na ponta dos ps, at s oito horas da noite, em atitude de quem ora, com a cabea deitada para trs. Chardel diz ter ouvido, h alguns anos, em Paris, numa reunio mstica, uma sonmbula de catorze anos declararem, no meio de um salo, que o cu estava aberto aos seus olhos, e anunciar que, chegada a Pscoa, o fervor das suas oraes elev-la-ia e sustent-la-ia no ar, entre o soalho e o teto. Facilmente se conjetura, acrescenta ele, que o milagre no se realizou; mas pouco faltou para que a donzela, cuja f passava assim por uma decepo, enlouquecesse. O Sr. de Mirville vai mais longe e afirma terem visto, num sono magntico muito profundo, os sonmbulos voarem em volta dos lustres do salo. Eis enfim outros fatos que encontro em diversos livros, sem indicao suficiente de origens, porm que eu cito para mostrar que o fenmeno se reproduziu nas circunstncias mais diversas. So Paulino atesta ter visto, com seus olhos, um possesso caminhar de cabea para baixo contra a abbada de uma igreja. Moller refere que, em 1620, dois sacerdotes protestantes estavam junto de uma mulher doente deitada no seu leito, quando a viram pular, elevar-se at uma altura de 7 a 8 ps, e ficar no ar at que eles a obrigaram a voltar para o leito Horst conta um fato semelhante na sua Deuteroscopia. O Ritual dos Exorcismos classifica tambm, entre os sinais que so necessrios constatar para estabelecer a possesso, a suspenso area do corpo do possesso, durante um tempo considervel. O Sr. Leopoldo Delisle estudou recentemente um manuscrito da biblioteca do Vaticano, escrito em 1428 por um francs adido Corte Pontifical. Esse manuscrito uma crnica que tem por ttulo Breviarium historiale, e que termina por algumas particularidades sobre Joana d'Arc, que ento vivia e estava combatendo os ingleses. Se ela est, diz o cronista, isenta de supersties e de sacrilgios, o que ser fcil reconhecer por trs

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    caractersticos que obstam a que se confundam os milagres praticados pelos bons com os dos maus. Os primeiros opera-se em nome de Deus e tm sempre uma verdadeira utilidade, ao passo que os outros se resolvem em males ou futilidades, como quando se voa nos ares ou se provoca o entorpecimento dos membros humanos. No ano de 1612, em Beauvais, uma velha mendiga Dionsia Lacaille, foi tratada como possessa e exorcizada pelo padre Pot, religioso jacobino. De repente, ela elevou-se ao ar, dando berros horrveis. Eclesisticos e devotos, receando que a criatura agitada viesse a descobrir-se, seguravam-lhe os ps por caridade. (Garinet - Histoire de la Magie en France, pg. 191.). No ano de 1491, um convento inteiro de donzelas, em Cambrai, vtima dos Espritos malignos, que as atormentam durante quatro anos. Elas correm pelo campo, atiram-se ao ar, trepam nos telhados e nos troncos das rvores, como gatos. Algumas predisseram o futuro. (Del Rio - Disquisitiones magica e; Delancre - Da Incredulidade e Descrena.). Cahneil, no seu tratado De la Folie (tomo I, pg. 255), cita um convento em Uvertat, no Condado de Hoorn, onde, no meado do sculo XVI, depois de uma quaresma em que haviam sido submetidas a um jejum austero, as freiras caram em crises convulsivas. Algumas, sentindo dificuldade em se equilibrarem nas articulaes, caminhavam de joelhos, arrastando as pernas. Outras se entretinham em trepar ao cimo das rvores, donde desciam com os ps para o ar e a cabea para baixo. . . Por instantes, saltavam para o ar e tornavam a cair com fora no cho. Sentiam-se arrastadas para fora do leito e escorregavam sobre o soalho, como se as puxassem pelas pernas. Quase todas tinham, na planta dos ps, uma sensao de queimadura ou ccegas, que muitas vezes se acha mencionada na descrio das crises anlogas. Terminarei este captulo com uma citao da obra publicada recentemente pelo clebre naturalista Sr. Alfred Russell Wallace, intitulada: Les Miracles et le Moderne Spiritualisme. Lord Orrery e o Sr. Valentim Greatrak informaram ambos ao Dr. Henrique More e ao Sr. Glanvil que, na casa de Lord Convay, em Sagley, Irlanda, um despenseiro deste cavalheiro, na sua presena e em pleno dia, elevou-se ao ar e flutuou na atmosfera, em todo o quarto, por cima das suas cabeas. Isto relatado por Glanvil no seu Sadducismus Triumphatus. O Sr. Madden, na sua Biografia de Savonarola, depois de ter contado deste monge um caso semelhante, observa que tais fenmenos tm sido assinalados numerosas vezes, e que a evidncia, na qual se baseiam as narrativas que so feitas, merece tanto crdito quanto pode merecer um testemunho humano. Enfim, nenhum de ns ignora que se podem encontrar, em Londres, pelo menos cinqenta pessoas de elevado carter que certificaro terem constatado a mesma coisa a respeito do Sr. Home. (Pginas16e17.)

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    Casos Tirados Dos Hagigrafos No captulo XXXII do tomo II da Mstica Divina, o abade Ribot, professor de teologia moral no grande seminrio de Orlees, refere um grande nmero de casos de levitao atribudos a santos. Prefiro cifra-lo textualmente, limitando-me a suprimir os textos originais em latim, pelo autor, na parte inferior das pginas. Os seres corporais so ligados entre si, como os elos de uma longa cadeia, por aes e reaes que se prolongam e se repercutem at nos ltimos confins do mundo fsico. Em cada ponto do espao material inscrevem-se a resultante das aes recprocas que exercem, umas sobre as outras, as partes que o compem. Essa lei primordial da matria, que pe os seus elementos constitutivos em relao de dependncia, de ligao ou, como se exprimem os filsofos escolsticos, de continuidade, tem o nome de atrao quando considerada sob o ponto de vista geral. Aplicada, porm, razo, com a massa terrestre dos objetos que a cercam, o que chamamos a gravidade. Todos os corpos esto submetidos atrao imperiosa que os impele para o centro da Terra, at que o equilbrio se estabelea entre a ao e a resistncia. Os prprios corpos vivos a ela esto sujeitos. Todavia, a vida orgnica uma espcie de luta e reao contra essa escravizao da matria pela matria; e, quanto mais poderoso e livre o princpio da vida, tanto mais o corpo que ele anima e governa parece esquivar-se s servides exteriores. Uma alma valorosa comunica aos membros e aos rgos alguma coisa da presteza e da agilidade do esprito. Na vida mstica, essa espiritualizao muitas vezes levada at ao milagre. Deixando de lado os fenmenos ordinrios que resultam da simples influncia da alma sobre o corpo, como um andar fcil, ligeiro, precipitado, movimentos vivos e rpidos, sob o impulso de um transporte interior, fatos, alis, cujo carter maravilhoso assinala, falando do xtase e da jubilao -, queremos, presentemente, mencionar apenas as derrogaes da lei fsica de gravidade que a ao vital no basta para explicar. Produzem-se principalmente no xtase e em graus diversos. Poucos extticos h que no tenham sido vistos, uma ou outra vez, em seus arroubos, elevados acima do solo, suspensos no ar sem apoio, flutuando s vezes, e balanando-se menor aragem. Em arroubo, escreve de si mesma Santa Teresa, o meu corpo tornava-se to leve, perdendo de tal modo 0 peso que algumas vezes eu deixava de sentir os ps tocarem no cho. Quando Maria de Agreda ficava em xtase, seu corpo elevava-se igualmente, como se fora impondervel, e um sopro, mesmo de longe, o fazia oscilar e mover como uma leve pena. Poder-se-iam citar exemplos aos centos. Conta-se, em particular, que diversos santos padres, entre outro So Pedro de Alcntara, So Filipe de Nri, So Francisco Xavier,

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    So Jos de Cupertino e So Paulo da Cruz, tinham no altar esses xtases areos. s vezes no uma simples elevao acima do solo, mas sim uma verdadeira ascenso aos ares. Domingos de Jesus-Maria, religioso carmelita, to clebre pelos seus xtases, elevava-se a ponto de seus irmos mal poderem, estendendo os braos, tocar-lhe na planta dos ps. So Pedro de Alcntara chegava algumas vezes, em seus transportes, at ao teto do coro. Num dia da Ascenso, enquanto salmodiava no jardim entre duas das suas companheiras, a bem-aventurada Ins de Bomia, em sbito arroubo, elevou-se aos ares na presena delas at que no tardaram a perd-la de vista, e s tornou a aparecer no fim de uma hora, com o rosto radiante de graa e de alegria. Diversas vezes, durante as suas oraes contemplativas, Santa Coleta desaparecia inteiramente no espao, vista das suas irms. Certos xtases imprimem ao corpo um movimento rpido e impetuoso que, com justeza, se qualificou de vo. So Pedro de Alcntara, ouvindo cantar no jardim do convento, por um frade que se exercitavam no ofcio, as primeiras palavras do Evangelho segundo So Joo: In principio erat Verbum, foi subitamente arrebatado, dando ao corpo, por uma espcie de instinto irresistvel, a forma de uma bola; sem tocar no cho, arrojou-se, atravessou com incrvel celeridade, sem que mal algum lhe acontecesse, trs portas muito baixas que conduziam igreja e veio parar defronte do altar-mor, onde seus irmos, que corriam ao seu encalo, o foram encontrar abismado no xtase. Acontecia muitas vezes que ele se ajoelhasse ao p das rvores e a, em xtase, se elevasse, com a ligeireza de pssaro, at aos ramos mais altos. O bem-aventurado Filipino, tambm da Ordem de So Francisco, permanecia suspenso nos ares, por cima dos grandes carvalhos, como uma guia que paira em liberdade. Esses prodgios superabundam na vida do bem-aventurado Jos de Cupertino. Viam-no voar at s abbadas da igreja, sobre as bordas do plpito, ao longo das paredes donde pendia o crucifixo ou alguma imagem piedosa, em direo esttua da Santa Virgem e dos Santos, pairar sobre o altar e por cima do tabernculo, arremessar-se ao alto dos ares, agarrar-se e balanar-se nos menores ramos com a ligeireza de um pssaro, enfim, transpor de um pulo grandes distncias. Uma palavra, um olhar, o menor incidente que tivesse ligao com a piedade, produziam-lhe esses transportes. Quisramos descrever algumas dessas cenas que o mundo tacharia de estranhas e ridculas, e que achamos admirveis, visto atestarem o maravilhoso poder das almas santas sobre o corpo e a Natureza e, melhor ainda, sobre o corao de Deus, que as liberta a seu gosto das servides vulgares; mas essas descries prolongadas no entram no nosso programa. A agilidade sobrenatural manifesta-se tambm fora do xtase e sob as formas mltiplas que acabamos de descrever. Margarida do Santssimo Sacramento

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    passava quase instantaneamente de um ponto a outro. Encontravam-na no coro, na enfermaria, na sala dos exerccios, mesmo sem que as portas estivessem abertas, e, vrias vezes, suas irms a viram levantada acima do solo, como se o seu corpo tivesse perdido o peso. Um dia em que ela ia colher uvas para uma doente, avistaram-na elevando-se sem esforo at altura das uvas, despeg-las, e tornar a descer. Ana-Catarina Emmerich conta de si prpria que, desempenhando as funes de sacrist, trepava e demorava-se em p nas janelas, sobre as cornijas, sobre ornatos em relevo, fazendo toda a limpeza em lugares humanamente inacessveis, sem medo nem inquietao, acostumada como estava, desde a infncia, a ser assistida pelo seu bom anjo, e sentindo-se, alm disso, levada e sustentada no ar por uma invisvel virtude. No somente a agilidade e a simples ascenso se encontram fora do xtase, mas tambm o vo no que ele tem de mais maravilhoso. Santa Cristina, cognominada a Admirvel, oferece-nos um notvel exemplo. No temos que discutir aqui o carter histrico das excentricidades atribudas a essa santa, que os prprios bolandistas qualificam de paradoxal. Para ns, suficiente que esses doutos autores tenham aceitado as narrativas que lhe dizem respeito, declarando-as, pelo menos na parte que citamos dignas de crdito e considerao. Omitir tais narrativas por temor do escndalo que a incredulidade pode provocar, seria ceder a um respeito humano que h muito tempo nos deveria ter detido, e que nos parece to contrrio piedade como Cincia. Eis, em algumas palavras, o resumo dessa singular existncia. Cristina nasceu em San-Frond, na provncia de Lige, pelo meado do sculo XII rf em pouco tempo, ela ficou com duas irms mais velhas e ocupava-se em guardar os rebanhos nos campos. Ativados, porm, pela contemplao, os ardores da sua alma tornaram-se to intensos que o corpo no pde resistir. Ela caiu doente e morreu. No dia seguinte, levaram os seus despojos igreja para a cerimnia dos funerais. Na ocasio do Agnus Dei da missa que se celebrava por ela, vira-na de repente mexer-se, levantar-se no esquife e voar, como um pssaro, at abbada do templo. Os assistentes fugiram espantados, exceo da irm mais velha, que ficou imvel, mas no sem terror, at ao fim da missa. Atendendo ordem do sacerdote, Cristina desceu ilesa e voltou para casa, onde tomou a refeio com as suas irms. Contou depois aos amigos, que vieram para interrog-la, que, logo depois da sua morte, os anjos a tinham sucessivamente transportado ao purgatrio, ao inferno, ao paraso. A, fora-lhe dada escolha de ficar para sempre neste lugar ou de voltar a Terra para, com os seus sofrimentos, trabalhar no resgate das almas do purgatrio, o que ela aceitara sem hesitao. Pelo purgatrio tinha ela que passar, pois que desde ento comea para essa virgem admirvel a vida mais estranha. A presena e o contacto dos homens so-lhe insuportveis. Para evit-los, ela foge para os desertos, voa para cima

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    das rvores, para o alto das torres, para as empenas das igrejas, para todos os pontos elevados. Julgam-na possessa, perseguem-na, apanham-na com muita dificuldade, e prendem-na com cadeias de ferro. Ela, porm, se solta e continua as suas corrida areas, indo de uma para outra rvore, como faria um pssaro. A fome, todavia, aperta-a. Invoca ento o Senhor e, contra todas as leis da Natureza, os seios destilam-lhe um leite abundante com que ela se alimenta durante nove semanas. Cai segunda vez nas mos dos que a perseguiam, mas escapa-lhes novamente, e vai a Lige pedir a um sacerdote a divina Eucaristia. Munida desse alimento celeste, sai da cidade, levada pelo Esprito com a rapidez de um turbilho, atravessa o Meusa, ligeira como um fantasma, e torna a comear a sua vida errante, longe das moradas humanas, nos cimos das rvores e das torres, muitas vezes sobre as estacas que cercavam as sebes, nos ramos mais delgados, onde pousava e se balanava como um pardal. Envergonhados dessas aparentes extravagncias, que o pblico atribua a uma legio de demnios, as suas irms e os seus amigos pagaram a um malvado, homem de muita fora, para que a agarrasse. Tendo-se esse homem posto ao seu encalo e no conseguindo agarr-la, pde, contudo aproximar-se bastante para quebrar-lhe, com uma pancada de clava, o osso de uma perna, e foi nesse estado que a trouxe s irms. Por compaixo, elas mandaram lev-la num carro a um mdico de Lige, recomendando-lhe ao mesmo tempo em que a curasse e prendesse bem. Este a encerrou numa adega que tinha por nica abertura a entrada, atou-a com segurana a uma coluna, e tornou a fechar a porta, depois de ter aplicado ao membro fraturado as ligaduras convenientes. Logo que ele se retirou, Cristina atirou fora o aparelho, tendo como indigno recorrer a outro mdico que no fosse o Senhor Jesus. A sua esperana no foi iludida. Uma noite, o Esprito de Deus veio derramar-se sobre ela, quebrou suas cadeias, curou-a de sua fratura, e ela, livre, corria e pulava de alegria no seu crcere, louvando e bendizendo Aquele por quem resolvera viver e morrer. No tardou que, sentindo-se o seu esprito angustiado entre essas paredes, ela conseguisse, com a ajuda de uma grande pedra, abrir uma sada e, veloz como uma seta, arremessando-a para fora, reconquistar a sua liberdade. Apanhada terceira vez, apertaram-na de tal forma a um banco de pau, que as cadeias em breve penetraram-lhe nas carnes. Acabrunhada de sofrimentos, aos quais veio juntar-se o tormento da fome, recorreu de novo ao Senhor, e viu ento correr de seus peitos, assim como j referimos, um leo lmpido com o qual molhou o po e untou as chagas. Enternecidas com esse espetculo, as irms, at ento desumanas por incredulidade, tiraram-lhe as cadeias e permitiram-lhe que seguisse, em toda a liberdade, o Esprito que a animava. Continuou, com efeito, as suas santas loucuras durante longos anos, porque

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    decorreram quarenta e dois anos entre a sua ressurreio e a sua morte, que se efetuou no ano de 1224. Esse poder ascensional produz-se algumas vezes com tal energia que nenhum obstculo capaz de cont-lo. O que acabamos de narrar a respeito de Cristina, a Admirvel, bastaria como prova, mas no este o nico exemplo. Assinalemos tambm S. Jos de Cupertino, no qual pareciam reunir-se todas as maravilhas da vida exttica. Num dia da Imaculada Conceio, ele convidou o padre guardio repetir com ele: Pulchra Maria! (Maria bela!) E logo que repetiu estas palavras, o santo, entrando em xtase, passa o brao em volta da cintura do seu superior e leva-o consigo para os ares, repetindo juntos: Pulchra Maria! Pulchra Maria! Outra vez, trazem-lhe um cavalheiro, em estado de demncia, para que obtenha de Deus a sua cura. O santo manda-o ajoelhar e, pondo-lhe a mo na cabea, diz-lhe: Sr. Baltazar, no tenha receio. Recomendo-o a Deus e sua santssima Me. . . No mesmo instante, d o grito que habitualmente anuncia o xtase: Ah. Agarra o homem pelos cabelos, eleva-se com ele ao espao, onde o conserva suspenso por algum tempo, e, quando os seus ps de novo pousaram no cho, o doente estava curado. A ascenso area no a nica forma da agilidade sobrenatural; produz-se tambm no andar sobre as guas. Os primeiros exemplos so oferecidos pelo Evangelho. Sabe-se que o Salvador caminhou sobre as ondas como na terra firme, e permitiu ao prncipe dos apstolos que avanasse para ele sobre as vagas agitadas. O prodgio reproduziu-se mais de mil vezes no mar, nos lagos, nos rios e nos ribeiros, para atestar que Deus compraz-se em libertar os seus santos da escravido natural. O Brevirio romano assinala, entre os mais brilhantes milagres atribudos a S. Raimundo de Penaforte, a sua travessia da ilha Maiorca a Barcelona, isto , uma extenso de cento e sessenta milhas martimas, que ele e o seu companheiro transpuseram em seis horas, sem outra barquinha seno a sua capa. S. Jacinto, no encontrando barqueiro para atravessar o Vstula, armou-se com o sinal da cruz e entrou resolutamente no rio, cujas guas se tornaram firmes debaixo dos seus ps. Os seus companheiros, porm, menos confiantes, no ousavam segui-lo. Volta ento a eles e, estendendo a capa sobre as guas, os faz subir para cima e os conduz assim at outra margem, diante de numerosa multido. A Igreja imortalizou esse milagre, consignando-o na bula de canonizao e na legenda do Brevirio. Em outra conjuntura, o mesmo santo renova esse prodgio de um modo mais prodigioso ainda. Os trtaros acabavam de tomar de escalada a cidade de Kiev e entregavam j tudo pilhagem, quando avisaram o santo, que estava no altar, de que no havia um instante a perder se quisesse salvar-se com a comunidade. Ele submeteu-se a esse aviso e, sem deixar as vestes sagradas,

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    toma em suas mos o santo cibrio e dispe-se a sair. Chegado quase ao meio da igreja, ouviu uma voz forte e queixosa que saa de uma esttua da Virgem, de alabastro, pesando de oitocentas a novecentas libras: - Meu filho Jacinto, diz ela, abandonar-me-s s profanaes dos trtaros? Leva-me contigo. - Gloriosa Virgem, respondeu o devoto servo, essa imagem to pesada! Como poderei carreg-la? - Pega nela, meu filho; torn-la-s leve. O santo, tendo numa das mos a Santa Eucaristia, pega com a outra na esttua, que se tornara to leve como uma cana; e, carregando com esse duplo tesouro, passam so e salvo com os seus, atravs dos brbaros que j invadiam o mosteiro, e chega s margens do Dnieper. A ele faz do capote uma barca para seus irmos, e atravessa a p enxuto o rio em toda a sua largura, imprimindo nas guas as suas pegadas. Teramos muitos outros fatos semelhantes a contar, porque abundam nas vidas dos santos; mas devemos encerrar essas narrativas para procurarmos interpretao... (Tomo II, pgs. 588-600.) A independncia, em relao aos elementos exteriores, manifesta-se tambm pela resistncia s aes que eles exercem. , em alguns casos, uma imobilidade que torna vs todas as impulses e todos os esforos. Um dia em que o bem-aventurado Gil, dos frades pregadores, permanecia suspenso no ar pelo xtase, o seu companheiro e as pessoas da casa onde estavam tentaram fazer descer o seu corpo para o cho; porm nem mesmo conseguiram mud-lo de posio. Santa Luzia, a mrtir de Siracusa, ameaada com os lupanares, tornou-se to imvel que nem os algozes que tinham ordem de lev-la, nem vrias juntas de bois, s quais a amarraram com cordas, puderam faz-la mover. (Tomo II, pgs. 601-602.) S. Pascoal Railo manifestou algumas vezes a sua presena ou, antes, a sua virtude por meio de percusses (percussiones) nas imagens que o representam; mas principalmente nos relicrios, que contm as suas relquias, que esses rudos extraordinrios se fazem ouvir, ora suaves e harmoniosos, ora mais acentuados, ora retumbantes como um estourar de bomba. (Tomo II, pgina 229.) O abade Ribet diz, noutro lugar (II, 547), que Santa Ota era, duas vezes por dia, levantada e sustentada por anjos, enquanto orava. Alm dos santos mencionados por esse escritor como tendo tido levitaes, os bolandistas atribuem o mesmo milagre s personagens seguintes, classificadas por ordem de data, desde o sculo IX at o comeo do XVIII: Andr Salus, escravo cita (tomo VIII, pg. 16); Luca de Sotherium, monge grego (II 85); Estevo I, rei da Hungria (I 541); Ladislau I, rei da Hungria (V, 318); S. Domingos (I, 405, 573); Ludgard, freira belga (III, 238); Humiliana, de Florena (IV, 396) ; Juta, da Prssia, eremita (VII, 606) ; S. Boa ventura (III, 827) ; So Toms de Aquino (I, 670) ; Ambrsio Santednio, sacerdote

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    italiano (III, 192, 681) ; Pedro Armengal, sacerdote espanhol (I,334) SantoAlberto, sacerdote siciliano (II, 326) ; Margarida, princesa da Hungria (II, 904) ; Roberto de Solenthum, sacerdote italiano (III, 503) ; Ins de Montepoliciano, abadessa italiana (II, 794) ; Bartolo de Vado, eremita italiano (II, 1.007) ; Isabel, princesa da Hungria (II, 126) ; Catarina Columbina, abadessa espanhola (VII, 532) ; S. Vicente-Ferrer (I, 497) ; Coleta de Ghont, abadessa flamenga (I, 559, 576) ; Jeremias de Panormo, monge siciliano (I, 297) ; Santo Antnio, arcebispo de Florena (I, 335) ; S. Francisco de Paula (I, 117) ; Osana de Mntua, freira italiana (III, 703, 705) ; Bartolomeu de Anghiera, frade italiano (II, 665) ; Columba de Rieti, freira italiana (V, 332, 334, 360) ; Santo Incio de Loiola (VII, 432) ; Salvador de Horta, frade espanhol (II, 679, 680) ; S. Lus Bertrand, missionrio espanhol (V, 407, 483) ; Joo da Cruz, sacerdote espanhol (VII, 239) ; J. B. Piscator, professor romano (IV, 976) ; Boa ventura de Potenza, frade italiano (XII, 154, 157-9). Pode-se acrescentar a esses nomes os de alguns outros santos ou bem-aventurados, tirados de biografias particulares. Andr-Huberto Fournet, sacerdote francs, fundador da Ordem das Filhas da Cruz, 1752-1854. (O. R. P. Rigaud - Vida do bom padre Andr-Huberto Fournet, pg. 496. ) Cludio Dhire, diretor do grande seminrio de Grenoble, 1757-1820. (A.-M. de Franclieu - Vida do Sr. Cludio Dhire, pgs. 293-4.) O bem-aventurado Cura d'Ars, 1786-1859. (O abade Alfredo Monnin - Vida do Sr. Joo-Batista-Maria Vianney, pg. 159.) Encontrar-se-o tambm casos de levitaes, efetuadas por religiosos ou religiosas de menor notoriedade, nas obras do Dr. Calmet e nas cartas de Nicolina. Eis ainda alguns outros fatos: Na segunda parte do primeiro sculo da nossa era, o dicono Filipe era arrebatado por um Esprito ao voltar de Gaza, onde fora batizar Candcia, rainha da Etipia. Amlineau (Os Monges Egpcios, publicao do Museu Guimet) conta que, tendo os pagos de Antino acusado Schnoudi de haver quebrado os dolos, este foi soerguido, pelos anjos do Senhor, at uma altura donde podia ainda fazer-se ouvir. Ficou assim suspenso por cima do tribunal do governador durante bastante tempo ; depois, desceu pouco a pouco. A multido levou-o em triunfo. Em 1555, isto , no reinado de Carlos V, Toms, arcebispo de Valena, esteve suspenso no ar em xtase, que durou doze horas. Este fenmeno foi constatado no s pelos habitantes do seu palcio e do seu clero, mas tambm por grande nmero de cidados. Ao voltar a si, tinha ainda na mo o brevirio que estava lendo quando o xtase comeara, e contentou-se em dizer que no sabia em que ponto ficara da leitura. (Bolland., V, 332, 334, 360. )

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    O bem-aventurado Pedro Clavet, apstolo dos negros, passou uma noite ajoelhado no ar e com um crucifixo nas mos. Existem vrios quadros e gravuras representando casos de levitao. O mais conhecido O Milagre de S. Diogo, por Murilo (catalogado no Museu do Louvre sob o nmero 550 bis). Outro quadro, que se acha numa igreja de Viterbo, mostra um sacerdote elevando-se aos ares no momento em que consagra a hstia. Casos Contemporneos Do Ocidente A - Observaes do magnetizandr Lafontaine Lafontaine, em suas excurses atravs da Europa, teve ocasio de observar, entre os crisacos que lhe traziam para serem curados pelo magnetismo, alguns fenmenos que podem relacionar-se com aqueles que acabamos de mencionar. Assim, conta ele que uma donzela de famlia nobre, na Inglaterra, apresentava todos os sintomas da grande histeria descrita depois por Charcot, e essa agilidade extraordinria que mais raras vezes tem sido constatada. Quando chegou a casa dela, encontrou-a estendida sem movimento num leito, sem respirao aparente. A vida parecia t-la abandonada. O seu rosto, de palidez baa, estava coberto de suor frio. De repente, esse cadver animou-se. Com um pulo, a donzela foi ao meio do aposento, arregalados e fixos os olhos, gesticulando com os braos, elevando-se na ponta dos dedos dos ps e correndo, semivestida, pelo quarto; atirou-se ao cho, reboleou-se em convulses horrveis, chocando o corpo em todas as partes, dando gritos e batendo nas pessoas que procuravam ret-la para evitarem que ela se ferisse. Depois, endireitando-se de repente e pronunciando palavras entremeadas de sons inarticulados, caminhou direita e firme, saltou a alturas extraordinrias. Em seguida, torcendo-se em atitudes impossveis, ps a cabea entre os joelhos, levantou ao ar uma das pernas, e girou sobre a outra com rapidez espantosa, conservando ao mesmo tempo a cabea perto do soalho. Umas vezes endireitava-se, soltando gritos de terror como se visse um espetculo horrvel; outras abraava com amor fantasmas; depois, rolava exausta pelo tapete. Em seguida, pulava de novo e corria para um e outro lado do aposento, pondo os ps sobre os mveis, sobre os copos, as xcaras, o globo da pndula, sobre esses frgeis nadas que guarnecem as prateleiras, e isso sem quebrar, sem deitar coisa alguma ao cho. Depois, sentavam-se no tapete, conversando com um ser imaginrio, cujas respostas imaginrias ela escutava. As convulses apresentavam-se outra vez. . . Logo depois, os seus olhos exprimiam indizvel

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    arroubamento; ela caa de joelhos; os seus lbios murmuravam palavras melfluas como uma orao. Estava em xtase. A inspirao apossou-se dela; recitou versos; comps poesias; anunciou fatos, sucessos que haviam de suceder; elevou-se ao ar como para voar; depois, finalmente, tornou a cair em completa prostrao, inerte, sem movimento, sem respirao perceptvel. Estava terminada a crise, que durara duas horas. Depois desses terrveis abalos, a donzela caa num sono muito longo, durando algumas vezes dois dias, nos quais no tomava alimento algum. Lafontaine diz que empreendeu a cura dessa donzela e que, magnetizando-h durante trs meses, fez desaparecer as crises, que lhe haviam durado desde os 14 at os 18 anos. Em 1858, visitou a aldeia de Morzina, em Chablais, onde se declarara uma epidemia de convulsionarias entre as donzelas de 11 a 20 anos. (Das 23 pessoas atacadas, apenas uma era rapaz, com 13 anos de idade.). As possessas puseram-se a correr pelos bosques, a subir s rvores com extraordinria agilidade, e a balanar-se na parte mais alta dos grandes pinheiros; porm, se a crise cessa enquanto estavam em cima, nada era mais singular que o seu embarao para descerem. Alm disso, essas meninas no se recordavam, ao despertarem, do que se passara durante a crise. Uma delas, Vitria Vuillet, com dezesseis anos de idade, de um rosto simptico e gnio muito afvel, era a mais exaltada. No s corriam os campos durante horas inteiras sem ficar cansada, falando e gesticulando sempre, ou subia ao cimo das mais altas rvores e descia com extrema rapidez, mas tambm, quando estava no cimo dos mais altos pinheiros, atirava-se de um para outro, como faria um esquilo ou um macaco. . . Recorreram a Lafontaine para que tratasse dela, e levaram-na para a sua casa, em Genebra. Vimo-la pela primeira vez em nossa casa a 3 de abril de 1858. Estava em crise. Falava com voz cava e sepulcral, ela, que tinha a voz suave e clara. Dizia frases como esta: Sou um demnio do inferno donde sa para atormentar Vitria at acabar por lev-la comigo. Ouvis o tinir das cadeias? Ouvis o fogo a crepitar e os gritos dos condenados que esto a arder? Isto alegra o corao e d prazer. Depois, saltava a uma altura pasmosa, dava gritos roucos, retorcia o corpo a ponto de tocar com a cabea nos calcanhares. Em seguida, reboleava-se pelo cho. Num pulo ela ficava de p, girava com velocidade espantosa e parava instantaneamente. Fazia depois grandes gestos, articulava sons incompreensveis, e saltava sobre os braos de uma cadeira; pulando de repente, achava-se suspensa no espaldar desse mvel, em posio indescritvel. Em seguida, corria por cima de todos os mveis, pondo um p no encosto de uma poltrona, o outro no espaldar de uma cadeira; depois, atirava-se para cima

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    de outros mveis, dando assim, sem perder o equilbrio, volta ao nosso gabinete e nossa sala de visitas, falando sempre. Entretanto, depois de termos observado bem essa crise, quando pusemos uma das mos na cabea da donzela e a outra no seu estmago, todo esse maravilhoso desapareceu logo, e apenas ficou nossa frente uma doente que tinha estertores e se torcia em convulses que fizemos cessar quase instantaneamente. Depois de os termos magnetizado com grandes passes durante trinta minutos, e desembaraado, Vitria sentiu-se muito bem. Lafontaine acrescenta que, aps quinze dias de magnetizao, Vitria achou-se inteiramente curada das suas crises e das dores de cabea ou do estmago. Essa cura foi definitiva, como lhe certificou um tio da donzela que a levara e que com ela residia em Genebra. Eis outro caso referido pelo mesmo autor (tomo II, pg. 96) Uma doente minha, a Sra. de A..., que eu sonambulizara durante o seu tratamento, proporcionou-me ensejo para fazer vrias observaes curiosas. Um dia em que, mais doente, ela ficara no leito e tinha junto de si uma das suas parentas, cheguei para magnetiz-la. Adormeci-a prontamente, depois localizei a minha ao sobre o seu estmago e as suas pernas. Fiquei silencioso enquanto a magnetizava como sempre fao nos casos graves, o que deu motivo a que a jovem Laura, aborrecendo-se, passasse para a sala de visitas, cujas portas estavam abertas. Depois de ter lanado um olhar distrado pelos lbuns espalhados por cima de uma mesa, ela aproximou-se do piano, abriu-o, preludiou alguns acordes, e ficou algum tempo numa espcie de abstrao. s primeiras notas dos acordes, a minha doente experimentara, por todo o corpo, um ligeiro frmito que, pouco a pouco, se acalmara durante o tempo da pausa; porm, quando a jovem Laura principiou a tocar um trecho muito pattico, que ia direito alma, minha doente pareceu sair do estado de entorpecimento em que a imergira o sono. Animou-se-lhe o rosto, sentou-se no leito e, continuando a msica com o mesmo ritmo, achou-se, num pulo, em p e direita, por cima do leito, com os olhos arregalados e fixos. Seus ps deslizaram depois at beira do leito, sem haver movimento algum dos msculos. A, os ps passaram com suavidade para fora do leito e, vagarosamente, desceram ao mesmo tempo, sem ponto algum de apoio, at ao tapete, como se tivessem estado sobre um desses alapes de que se servem nos teatros para fazerem descer as divindades do meio das nuvens. Todo o corpo parecia sustentado no ar por um fio invisvel. Seus membros estavam inteiriados. Eu olhava com profunda estupefao, sem compreender coisa alguma, mas os meus olhos estavam bem abertos. A minha inteligncia e a minha razo velavam e estavam no seu posto. No me podia enganar. Os ps e as pernas

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    estavam nus. A prpria Sra. de A... Estava apenas coberta com uma camisa e uma mantilha leve. Entretanto, tendo descido at ao tapete, os seus ps continuaram a escorregar junto, sem o menor movimento, sem a menor contrao. Ela parecia uma esttua colocada numa prancha qual estivessem puxando e que resvalasse sem nenhum solavanco, como se houvesse sido posta num trilho. Eu, admirado, a seguia com os meus braos em volta do seu corpo, mas sem lhe tocar, a fim de poder sust-la, se sobreviesse um acidente. A Sra. de A... Chegou assim at s portas abertas da sala de visitas. A jovem Laura, ao v-la aparecer, plida, toda de branco, com os cabelos em desordem caindo-lhe pelas espduas, com os olhos fixos, baos e sem vida, como um fantasma, soltou um grito de pavor e deixou de tocar. Imediatamente alquebrou-se o corpo da Sra. de A . . . No pude ret-la. Movimentos convulsivos produziram-se nos seus membros; depois, ficou hirta, fria, o rosto lvido como a morte; era um cadver. A meu pedido, Laura, toda trmula, tocou algumas notas que pareciam ser percebidas pela doente e que, continuando, a fizeram voltar vida. No tardou que a msica operasse o seu efeito. A Sra. de A... Levantou-se, deitando a cabea para trs, abrindo os olhos que se tinham fechado. Estendendo os braos para um ser invisvel, caiu de joelhos. A sua cabea bateu no tapete com humildade; depois, com movimentos da mais suave volpia, contornou o corpo em atitudes cuja graa no se pode exprimir. Nunca vi nada to belo nem to gracioso. Parecia que tudo o que h de imortal em ns agia e se revelava em suas atitudes. Passado certo tempo, atra de novo a Sra. de A..., que deslizou para trs, sempre em xtase. Fiz cessar a msica quando ela estava perto do leito e, com um movimento brusco, deitei-a ao comprido. Ento, seu corpo tornou-se em pouco tempo to frio e to hirto como um verdadeiro cadver. Todo o movimento, toda a respirao desapareceu. O pulso, como o corao, no mais se fazia sentir. Parecia que sua alma se escapara e no me ficara seno o corpo da doente. Era para aterrar e para fazer-me perder a cabea, sobretudo ao ver a dor e o desespero de Laura, que acusava a si prpria de t-la matado e perdia os sentidos num desmaio que durou uma hora. Mandei que os criados a levantassem e conduzissem para outro quarto, e fiquei s com a doente, que no dava nenhum sinal de vida. A fora de insuflaes quentes sobre o corao, o estmago e o crebro, fiz que ela voltasse gradualmente vida. Isto durou meia hora. Fiz-lhe depois passes em todo o corpo, desde a cabea at os ps, durante duas horas, mantendo um sono benfico e restaurador. No fim desse tempo, arquejante, exausto, mas triunfante e contente comigo mesmo, acordei a doente e desembaracei-a inteiramente.

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    Ento, tive a felicidade de ouvir a Sra. de A... Dizer que jamais se sentira bem como nesse momento. Alm disso, a paralisia das pernas, de que essa senhora padecia, recebera um abalo que, produzindo-lhe to grande melhora no mesmo dia ela pde dar, completamente acordada, duas voltas pelo quarto, mal amparada, resultado este tanto mais maravilhoso quanto havia dois meses que ela no podia sustentar-se nas pernas. Depois do que sucedera, a melhora aumentou de tal modo que, trs semanas depois, a Sra. de A . . . Estava completamente curada. B - Caso do Dr. Cyriax O Dr. Cyriax, de Berlim, conta, numa brochura publicada h alguns anos com o ttulo Como me tornei esprita, uma aventura que lhe sucedeu em Baltimore, onde ele habitava em 1853. Achavam-se uma tarde reunidas no vasto atelier do pintor Lanning umas cem pessoas para ouvirem um discurso da Sra. French em estado de transe, quando, de repente, ela foi levantada do estrado, em cima do qual se achava, e levada para o fundo da sala, cuja volta deu completamente, pairando a uma altura de cerca de dois ps acima do soalho. Este fenmeno, constatado pelos meus olhos, como era no mesmo momento por uma centena de senhoras e cavalheiros, causou-me calafrios. Via diante de mim, na plenitude do meu conhecimento, uma pessoa que, sem fazer movimento algum, com os braos cruzados e os olhos fechados, pairava por cima do soalho, era transportada por entre duas filas de bancos, cada uma com cinqenta pessoas aproximadamente, voltava depois da mesma maneira do fundo da sala at ao estrado, e prosseguia o seu discurso como se nada se tivesse passado de extraordinrio! Via todas as outras pessoas constatarem este fenmeno e ficarem to aturdidas como eu. Os meus sentidos no me haviam, portanto, enganado. O que eu vira passara-se, pois em toda a realidade! Qual era ento a fora que fora posta em ao? Seria uma fora natural, cega, capaz de realizar resultados to admirveis sem ir de encontro a algum obstculo? Estando esta hiptese em oposio com a experincia, fui obrigado, aps srio exame, a chegar concluso de que, nestas circunstncias, parecendo suprimidas as leis da gravidade, ou encontrando pelo menos resistncia, era-me necessrio admitir a interveno de uma vontade inteligente, e que, em conseqncia de esta vontade dar prova de inteligncia, no podia emanar seno de uma personalidade, de um indivduo. Querer achar a explicao na manifestao inconsciente de um crebro no era admissvel nesta circunstncia. Este fenmeno impressionara-me de tal maneira que no dormi toda a noite. Achava-me constantemente em frente do que vira, e procurava em vo explic-lo pelas leis naturais conhecidas.

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    C - As levitaes do mdium Home Estas levitaes foram constatadas por grande nmero de testemunhas e notadamente pelo Sr. Crookes, que d a este respeito s particularidades seguintes nas suas Investigaes sobre o Espiritismo. Estes fatos produziram-se quatro vezes em minha presena, na obscuridade. As condies de verificao, em que se realizaram, foram inteiramente satisfatrias, tanto quanto se pode julgar; mas a verificao, pelos olhos, de semelhante fato to necessria para destruir as nossas idias preconcebidas sobre o que e no naturalmente possvel, que me limitarei a mencionar aqui unicamente os casos em que as dedues da razo foram confirmadas pelo sentido da vista. Houve uma ocasio em que vi uma cadeira, na qual estava sentada uma senhora, elevar-se a algumas polegadas do cho. Noutra ocasio, em que a mesma senhora se elevou cerca de trs polegadas, ficando suspensa durante dez segundos mais ou menos, e em seguida desceu vagarosamente, ela ajoelhou-se para afastar toda a suspeita de que a elevao fosse produzida por si em cima da cadeira, de tal maneira que lhe vamos os ps. Duas crianas tambm se elevaram do solo com as suas cadeiras, em duas ocasies diferentes, em pleno dia e nas condies mais satisfatrias para mim, porque eu estava de joelhos e no perdiam de vista os ps da cadeira, notando bem que ningum podia tocar-lhe. Os casos mais surpreendentes de levitao, dos quais fui testemunha, deram-se com o Sr. Home. Em trs circunstncias diferentes, eu o vi elevar-se completamente acima do soalho do aposento. Na primeira, estava sentado numa espreguiadeira; na segunda, estava de joelhos em cima da cadeira; na terceira, estava em p. Em cada uma dessas ocasies, tive todo o vagar possvel para observar o fato no momento em que se produziu. H pelo menos cem casos bem constatados da elevao do Sr. Home, os quais se produziram na presena de muitas pessoas diferentes, tendo eu ouvido da prpria boca de trs testemunhas, o Conde de Dunraven, Lord Lindsay e o Capito C. Wynne, a narrativa dos mais surpreendentes fatos deste gnero, acompanhada das menores particularidades do que se passou. Rejeitar a evidncia destas manifestaes equivale a rejeitar todo 0 testemunho humano, seja qual for; porque no h fato, na Histria sagrada ou na Histria profana, que esteja apoiado por provas mais imponentes. A acumulao dos testemunhos que estabelecem a realidade das elevaes do Sr. Home, enorme. Seria muito para desejar que algum, cujo testemunho fosse reconhecido como concludente pelo mundo cientfico (se porventura existe uma pessoa cujo testemunho em favor de semelhantes fenmenos possa

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    ser admitido), quisesse estudar pacientemente esta espcie de fatos. Muitas testemunhas oculares dessas elevaes vivem ainda, e certamente no recusariam dar o seu testemunho. Os melhores casos de levitao do Sr. Home deram-se na minha casa. Numa ocasio, ele colocou-se na parte mais visvel da sala e, passado um minuto, disse que se sentia levantar. Vi-o elevar-se vagarosamente, num movimento contnuo e oblquo, e ficar, durante alguns segundos, cerca de seis polegadas acima do solo; em seguida, desceu lentamente. Nenhum dos assistentes sara do seu lugar. O poder de se elevar quase nunca se tem comunicado s pessoas prximas do mdium; entretanto, uma vez minha mulher foi levantada com a cadeira em que estava sentada. Crookes escreveu ao Sr. Home a 12 de abril de 1871: Podeis, sem constrangimento, citar-me como um dos vossos mais firmes testemunhos. Meia dzia de sesses no gnero das de ontem noite, com alguns homens de cincia bem qualificados, bastariam para fazer admitir cientificamente essas verdades, que ento se tornariam to incontestveis como os fatos da eletricidade. A narrativa circunstanciada da levitao que se realizou a 16 de dezembro de 1868, em Londres, numa sesso obscura, em presena de Lord Lindsay, Lord Adare e do Capito Wynne, foi redigida por Lord Lindsay para a Sociedade Dialtica, nos termos seguintes: Honre, que estava em transe havia algum tempo, depois de ter passeado pelo quarto, dirigiu-se para a sala vizinha. Nesse momento, veio assustar-me uma comunicao. Ouvi uma voz murmurar-me ao ouvido: Ele vai sair por uma janela e entrar pela outra. Completamente aturdido com o pensamento de uma experincia to perigosa, dei parte aos meus amigos do que acabava de ouvir, e no era sem ansiedade que espervamos a sua volta. Percebemos ento que se levantava a vidraa da janela do outro quarto, e quase imediatamente vimos Honre flutuar no ar, por fora da nossa janela. A Lua dava em cheio no quarto e, como eu estava com as costas voltadas para a luz, o peitoril da janela projetava sombra na parede que me ficava fronteira. Vi ento os ps de Honre suspensos por cima, a uma distncia de cerca de seis polegadas. Depois de ter ficado nesta posio durante alguns segundos, levantou a vidraa, resvalou para o quarto com os ps para frente e veio sentar-se. Lord Adare passou ento para o outro aposento e, notando que a vidraa da janela, pela qual ele acabava de sair, estava erguida, to-somente at dezoito polegadas de altura, exprimiu a sua surpresa de que Honre tivesse podido passar por essa abertura. O mdium, sempre em transe, respondeu: Vou mostrar-vos. Voltando ento as costas para a janela, inclinou-se para trs e foi projetado para fora com a cabea para frente, o corpo inteiramente rgido; depois, voltou para o seu lugar. A janela estava a setenta polegadas do cho. A distncia

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    entre as duas janelas era de sete ps e seis polegadas, e cada uma tinha apenas um peitoril de doze polegadas que servia para receber vasos. Acrescentarei ainda alguns testemunhos recentemente publicados Honre foi levantado da cadeira, e peguei-lhe nos ps enquanto ele flutuava por cima das nossas cabeas. (Carta do Conde Tolstoi sua mulher, 17 de junho de 1866.). Depois, o prprio 5r. Honre anunciou que se sentia levantado. O seu corpo toma a posio horizontal e transportado, com os braos cruzados sobre o peito, at ao meio da sala. Depois de ter a ficado quatro ou cinco minutos, reconduzido ao seu lugar, transportado da mesma maneira. (Ata redigida pelo Dr. Karpovitch, acerca de uma sesso realizada em So Petersburgo, na casa da Baronesa Taoubi, em presena do General Philosophoff e da Princesa Havanschky.). Na mesma noite, tendo-se Honre sentado ao piano, comeou a tocar. Como houvesse convidado para que nos aproximssemos, fui colocar-me junto dele. Eu tinha uma das minhas mos na sua cadeira e a outra no piano. Enquanto tocava, a cadeira e o piano se elevaram a uma altura de trs polegadas; depois, voltaram para o seu lugar. (Atestado de Lord Crawford, depois Lord Lindsay, em 1869. ). Um clebre mdico ingls, o Dr. Hawksley, que tratava em 1862 a primeira mulher de Honre, refere que um dia Honre fez, na sua presena, subir consigo um visitante, que desejava ver algum fenmeno, numa forte e pesada mesa que se elevou imediatamente, com a sua carga, a oito polegadas pelo menos de altura. O Doutor Hawksley abaixou-se e passou facilmente a mo entre as pernas da mesa e o tapete; depois, terminado esse exame, a mesa desceu e o visitante abandonou-a. Eis como o prprio Dunglas Home descreve as suas impresses: Durante essas elevaes ou levitaes, nada sinto de particular em mim, exceto a sensao do costume, cuja causa atribuo a uma grande abundncia de eletricidade nos meus ps. No sinto mo alguma que me sustenha, e, desde a minha primeira ascenso citada mais adiante, deixei de ter receio, posto que, se eu tivesse cado de certos tetos, a cuja altura fora elevado, no teria podido evitar ferimentos graves. Sou em geral levantado perpendicularmente, hirtos os braos e erguidos por cima da cabea, como se quisesse agarrar o ser invisvel que me levanta suavemente do solo. Quando chego ao teto, os ps so levados at ao nvel da cabea e acho-me como que numa posio de descanso. Tenho ficado muitas vezes assim suspenso durante quatro ou cinco minutos. Encontrar-se- exemplo disso numa ata de sesses que se realizaram em 1857, num castelo perto de Bordus. Uma s vez a minha ascenso se fez em pleno dia. Era na Amrica. Fui levantado num aposento em Londres, Rua Sloane, no qual brilhavam quatro bicos de gs e em presena de cinco cavalheiros que esto

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    prontos a testemunhar o que viram, sem se contar grande nmero de testemunhos que posso publicar depois. Em algumas ocasies, tendo diminudo a rigidez dos meus braos, fiz com um lpis letras e sinais no teto, que pela maior parte ainda existem em Londres. Home atribua s levitaes e a maior parte dos outros fenmenos que produzia, a seres inteligentes e invisveis que se apoderavam da sua fora nervosa para se manifestarem. Tal era tambm a opinio do Dr. Hawksley, que assim se exprimia num relatrio pedido por uma sociedade sbia de Londres. Consentido em fazer este relatrio, reservei a liberdade de exprimir a minha opinio sobre a causa desses fenmenos. No a que tem curso geralmente. Depois de um exame srio, cheguei concluso de que essas manifestaes eram produzidas por um Esprito inteligente, que se apoderava do corpo do meu amigo e podia deix-lo para operar a distncia certos atos, por exemplo, tocar um instrumento, levantar e projetar objetos materiais, ler no pensamento ou responder com inteligncia por meio de percusses s perguntas que lhe eram feitas. Os casos de possesso, de que falam as Escrituras, do lugar a crer que esses fenmenos so idnticos aos que se passavam no tempo do Cristo. Essas possesses, segundo o Evangelho, no constituam punio nem prova de culpabilidade dos que eram suas vtimas. Cumpria antes ver nelas uma provao ou um infortnio que deve ter a sua razo de ser, porm que at agora tem ficado totalmente incompreensvel para ns. Quanto ao que diz respeito ao Sr. Home, ainda que eu seja levado a crer que ele estava possesso, deixa-me o que conheci da sua vida e das suas qualidades, absolutamente convencido da sua veracidade, da sua honestidade, da sua benevolncia e da nobreza do seu carter. (Gardy - Le Mdium D. D. Home, pg. 142.) D - As levitaes do Sr. Stainton Moles O Sr. Stainton Moses descreveu igualmente as impresses que sentiu na primeira das levitaes de que foi objeto, no decurso das sesses efetuadas com alguns amigos. Um dia (30 de junho de 1870) senti que a minha cadeira se afastava da mesa e virava-se no canto onde eu estava sentado, de modo que fiquei com as costas voltadas para o crculo e a frente para o ngulo da parede. Em seguida, a cadeira foi levantada do cho at uma altura que, segundo o que pude julgar, havia de ser de 30 a 40 centmetros. Os meus ps tocavam no plinto, que podia ter 30 centmetros de altura. A cadeira ficou suspensa alguns instantes e ento senti que a deixava e continuava a subir com um movimento muito suave e vagaroso. No tive nenhum receio e no senti mal-estar. Tinha perfeita conscincia do que se passava e descrevia a marcha do fenmeno aos que

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    estavam sentados mesa. O movimento era muito regular e pareceu-nos bastante duradouro antes de ter finalizado. Eu estava bem perto da parede, to perto que pude com um lpis, solidamente preso ao meu peito, marcar o canto oposto no papel da parede. Este sinal, tendo sido mais tarde medido, achava-se a pouco mais de 1,80m do soalho e, segundo a minha posio, a minha cabea devia estar no ngulo do quarto, a perto da distncia do teto. Estou longe de pensar que estivesse por qualquer forma adormecida. O meu esprito estava com toda a sua perspiccia, e eu tinha completa percepo desse curioso fenmeno. No senti no corpo nenhuma presso; tinha a sensao de estar num ascensor e de ver os objetos passar longe de mim. Recordo-me somente de uma leve dificuldade de respirar, com uma sensao de enchimento no peito e de ser mais leve que a atmosfera. Fui descido com muita suavidade e colocado na cadeira que voltara posio anterior. As medies foram feitas imediatamente, e registradas as marcas que eu fizera com o lpis. A minha voz, disseram-me, ressoava como se viesse do ngulo do teto. Esta experincia foi repetida nove vezes com maior ou menor xito. E - Observaes do Sr. Donald Mac-Nab O Sr. Donald Mac-Nab, engenheiro de artes e manufaturas, to notvel pela inteireza do seu corao como pela elevao de seu esprito, e que a morte roubou prematuramente Cincia, fez uma srie de experincias com dois amigos seus, o Sr. F..., compositor de msica, e o Sr. C..., escultor, vrias obras dos quais foram admitidas no Salo dos Campos Elsios. O Sr. Mac-Nab publicou, em 1888, o resultado dessas experincias no Lotus Rouge, dirigido ento pelo senhor Gaboriau. Eis o que se refere s levitaes: