a importÂncia da leitura de imagens no ensino

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A IMPORTÂNCIA DA LEITURA DE IMAGENS NO ENSINO SANTAELLA, Lucia. Leitura de imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012. (Coleção Como eu ensino). Beatriz Gaydeczka* A obra Leitura de imagens, de Lucia Santaella, propõe-se a ensi- nar a leitura de elementos não verbais que constroem o todo em ima- gens visuais. A obra dedica-se às imagens bidimensionais e fixas, ou seja, peculiarmente, refere-se às imagens que podem ser representadas em superfícies planas e impressas. A publicação é organizada em cinco capítulos, cada um dedica- do a um tipo de imagem: imagem na arte, na fotografia, nos livros ilus- trados, na publicidade e no design. A progressão dos capítulos segue uma gradação e leva à identificação de traços que diferenciam os tipos de imagens. Embora as imagens possuam elementos comuns entre si, cada capítulo procura destacar categorias e tipologias de análise que predomi- nam em cada estética. A leitura do todo da obra contribui para o estu- do e a análise de enunciados em que textos e imagens se constituem soli- dariamente no todo. Esses enunciados (verbo-visuais, sincréticos ou multimodais, conforme cada teoria os designa) possuem complexidades técnicas e de sentidos que precisam ser lidas. Tal como a linguagem ver- bal, em que há sistemas e estratégias para realizar a leitura, na linguagem visual também há sistemas, técnicas e estratégias que ultrapassam o limi- te do visto, do óbvio. Educação em Revista | Belo Horizonte | v.29 | n.03 | p.335-344 | set. 2013 335 * Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP); Professora do Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas (ICTE) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). E-mail: [email protected]

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A obra Leitura de imagens propõe-se a ensinar a leitura de elementos não verbais que constroem o todo em imagens visuais.

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  • A IMPORTNCIA DA LEITURA DE IMAGENS NO ENSINO

    SANTAELLA, Lucia. Leitura de imagens. So Paulo: Melhoramentos, 2012.(Coleo Como eu ensino).

    Beatriz Gaydeczka*

    A obra Leitura de imagens, de Lucia Santaella, prope-se a ensi-

    nar a leitura de elementos no verbais que constroem o todo em ima-

    gens visuais. A obra dedica-se s imagens bidimensionais e fixas, ou seja,

    peculiarmente, refere-se s imagens que podem ser representadas em

    superfcies planas e impressas.

    A publicao organizada em cinco captulos, cada um dedica-

    do a um tipo de imagem: imagem na arte, na fotografia, nos livros ilus-

    trados, na publicidade e no design. A progresso dos captulos segue uma

    gradao e leva identificao de traos que diferenciam os tipos de

    imagens. Embora as imagens possuam elementos comuns entre si, cada

    captulo procura destacar categorias e tipologias de anlise que predomi-

    nam em cada esttica. A leitura do todo da obra contribui para o estu-

    do e a anlise de enunciados em que textos e imagens se constituem soli-

    dariamente no todo. Esses enunciados (verbo-visuais, sincrticos ou

    multimodais, conforme cada teoria os designa) possuem complexidades

    tcnicas e de sentidos que precisam ser lidas. Tal como a linguagem ver-

    bal, em que h sistemas e estratgias para realizar a leitura, na linguagem

    visual tambm h sistemas, tcnicas e estratgias que ultrapassam o limi-

    te do visto, do bvio.

    Educao em Revista | Belo Horizonte | v.29 | n.03 | p.335-344 | set. 2013

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    * Doutora em Letras pela Universidade de So Paulo (USP); Professora do Instituto de Cincias Tecnolgicas e Exatas (ICTE)da Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM). E-mail: [email protected]

  • Os captulos normalmente se iniciam com explicaes tericas,

    etimolgicas, histricas ou contextualizadoras acerca do tipo de imagem

    analisada; em seguida, so apresentadas categorias, tipologias, elementos

    caracterizadores da imagem em foco; na sequncia, so destacados rotei-

    ros de leitura em que as categorias trabalhadas no captulo so, coeren-

    temente, exploradas (anlise interpretativa); a seo Como eu ensino

    o espao em que a autora descreve um roteiro de aes que o profes-

    sor deve realizar para fazer a leitura de imagens com seus alunos, tal

    como o captulo sugere; e, por fim, os captulos sistematizam uma lista-

    gem de referncias para o professor pesquisar mais a respeito do con-

    tedo tratado. Dessa forma, o leitor pode dedicar-se ao estudo e ao tra-

    balho com cada tipo de imagem especificamente, dado o carter de

    autonomia entre os captulos, embora a leitura da totalidade da obra

    seja essencial para aqueles que pretendem analisar linguagens em que

    imagens e textos esto amalgamados em estticas distintas.

    Na Introduo, de modo precavido, a autora fala a respeito

    da necessidade de expandir o conceito de leitura, uma vez que ele no

    se restringe exclusivamente a elementos verbais. Cada vez mais, a escri-

    ta, unida imagem, ao som, ao movimento, afasta a viso purista de lei-

    tura restrita decifrao de letras (p.11) do enunciado verbal, criando

    um novo tipo de leitor, chamado, por Santaella, de leitor imersivo.

    Ao explicar o que entende por leitura de imagem, a autora reto-

    ma a expresso americana visual literacy (letramento visual ou alfabetiza-

    o visual). Em sua viso, para lermos uma imagem, deveramos ser

    capazes de desmembr-la parte por parte, como se fosse um escrito, de

    l-la em voz alta, de decodific-la, como se decifra um cdigo, e de tra-

    duzi-la, do mesmo modo que traduzimos textos de uma lngua para

    outra (p.12). Embora, modestamente, a semioticista admita que essas

    possam ser metforas equivocadas, h nelas um princpio unificador: o

    de transformar os efeitos de sentidos (ou interpretativos) percebidos em

    uma linguagem para outro tipo de linguagem. Isso nada mais do que a

    possibilidade de construo e de busca de sentido em outras linguagens,

    ou seja, a leitura efetivamente realizada.

    Para ler imagens ou alfabetizar-se visualmente, preciso desen-

    volver a observao de aspectos e de traos constitutivos presentes no

    interior da imagem, sem extrapolar para pensamentos que nada tm a

    ver com ela. Assim como um texto, uma imagem pode produzir vrias

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  • leituras, mas no qualquer leitura. Dessa forma, as questes-chave, base

    para a leitura de imagens, so:

    Como as imagens se apresentam?

    Como indicam o que querem indicar?

    Qual o seu contexto de referncia?

    Como e por que as imagens significam?

    Como as imagens so produzidas?

    Como elas pensam?

    Quais so seus modos especficos de representar a realidade

    que est fora dela?

    De que modo os elementos estticos, postos a servio da

    intensificao do efeito de sentido, provocam significados para o obser-

    vador?

    Esses questionamentos partem de um nvel mais elementar e

    fundamental de leitura e atingem um patamar mais abstrato, respons-

    vel pela compreenso da representao de valores sociais e estticos, de

    subjetividades, de identidades e de significados.

    Ainda na seo O que imagem?, Lucia Santaella inicia uma

    discusso acerca do conceito de imagem, partindo de um princpio de

    Plato: h imagens naturais, como as refletidas na gua, e h imagens

    artificiais, como as produzidas pelo homem. A partir dessa distino,

    instaura uma breve discusso entre os ideais naturalistas e os convencio-

    nalistas sobre imagem. Porm, ambos os ideais possuem o carter

    duplo (o outro refletido) inerente e decorrente da similaridade entre

    imagem e coisa representada. Como ressalva, a autora explica que nem

    sempre imagens reproduzem aspectos daquilo que naturalmente vis-

    vel. H imagens que apresentam formas puras, abstratas ou coloridas,

    outras figurativas de formas imaginrias, mitolgicas ou religiosas e,

    ainda, imagens simblicas que tm a funo de representar significados.

    Essas trs modalidades fundamentais da imagem e sua leitura so anali-

    sadas no primeiro captulo para o exerccio da leitura de imagens na arte.

    No captulo 1, Imagens na arte, so apresentadas sees que

    destacam aspectos relevantes de tendncias artsticas, como a renascentis-

    ta e as vanguardas estticas do modernismo (impressionistas, expressio-

    nistas, cubistas, surrealistas, construtivistas). Todas essas tendncias, ricas

    em variedades de estilos, formas e prticas, culminaram em uma diversi-

    dade de hibridismos e de pluralismos que caracterizam as produes da

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  • arte contempornea. Em seguida, so apresentados elementos visuais pri-

    mrios, como: o ponto, a linha, o contorno, a direo, o tom, a cor, a tex-

    tura, a dimenso, a escala e o movimento. Alm disso, sistematiza as prin-

    cipais tcnicas de desenho, pintura e gravura, descrevendo-as:

    Desenho: desenho a carvo, lpis grafite, sangunea, spia, pedranegra, giz de desenho, pastis secos, pastis de leo, tinta chinesa.

    Pintura: afresco, aquarela, guache, tmpera, pintura a leo, acr-lico, colagem, frottage.

    Gravura: gravura em metal, xilografia, litografia, linleo, seri-grafia.

    No fim do captulo, a autora destaca elementos fundamentais

    para fazer a leitura em cada modalidade de pintura. Na pintura renascen-

    tista, o destaque da perspectiva (viso atravs), tambm chamada de

    perspectiva monocular, elemento central da imagem na superfcie grfi-

    ca plana e bidimensional. A perspectiva segue uma uniformidade como

    espao matemtico puro, sendo levada a seu ponto mximo (p.52).

    A partir da anlise da pintura, leo sobre painel, O casamen-

    to da Virgem, de Rafael Sanzio (1483-1520), inicialmente, so descritas

    as caractersticas tcnicas da perspectiva (o centro, o paralelismo e a

    moldura), tcnica empregada na tela. Em seguida, focaliza o significado

    da representao dos personagens centrais e dos que acompanham a

    cena do casamento, bem como destaca as cores primrias presentes nas

    vestes dos personagens. A autora finaliza a anlise relacionando os ele-

    mentos estticos da Renascena obra: tudo perfeitamente ordenado e

    hierarquizado, simtrico, uniforme e lmpido, racional e equilibrado.

    Uma composio de formas arredondadas sugerindo a serenidade de

    um mundo em equilbrio (p.55).

    Na segunda anlise de imagens de pintura na arte, a autora

    explora elementos da tela Iate a aproximar-se da costa, de Joseph

    Mallord Willian Turner (1775-1851), precursor do impressionismo. O

    destaque dado modalidade de imagem que expressa formas puras.

    Nessa obra, a luminosidade a forma pura da criao dos efeitos de luz,

    que cria figuras, expressas por meio da ausncia de nitidez, da geometri-

    zao e das linhas imprecisas.

    Diferentemente da modalidade figurativa e da forma pura, a

    terceira anlise feita enfoca a pintura simblica, por intermdio da an-

    lise da tela de Jan van Eyck (1390-1441), O casamento de Arnolfini.

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  • Segundo Santaella, imagens se tornam smbolos quando o significado

    de seus elementos s pode ser entendido com a ajuda do cdigo de uma

    conveno cultural (p.58). Dessa forma, preciso investigar as conven-

    es sociais de poca para conhecer e interpretar o simbolismo das refe-

    rncias do real.

    Para tratar das Imagens na fotografia, no captulo 2, a autora

    discute que as imagens, na fotografia, cinema, televiso e vdeo, so, para

    ela, imagens tecnolgicas, e no imagens tcnicas. A justificativa do

    porqu de sua escolha recai no fato de tcnica ser concebida como um

    saber fazer de acordo com passos que se integram uns aos outros at a

    compleio de um todo, j a tecnologia tem a ver com o fato de uma

    mquina integrar a tcnica. Retomando aspectos histricos e etimolgicos

    desses termos, a semioticista afirma que a fotografia encapsulou, no seu

    funcionamento, todo o conhecimento tcnico da perspectiva monocular,

    alm disso, explica a origem e a produo da fotografia, tecendo reflexes

    crticas sobre o agente e o ato de fotografar.

    As sees de anlise retomam grandes nomes da fotografia,

    como Cartier-Bresson, Carol Guzy e Sebastio Salgado. De Cartier-

    Bresson, explora a esttica do gesto, em Carol Guzy, o valor documen-

    tal emergido de fatos histricos, e, de Sebastio Salgado, a denncia dos

    oprimidos e excludos que a sociedade negligencia, o que lido pelos

    crticos como esttica documental. Nessas anlises, h imagens fla-

    grantes e outras que o fotgrafo buscou, todas lidam com a conscienti-

    zao tica e com o apelo aos leitores. Em uma breve incurso da foto-

    grafia no cinema, Santaella defende que o cinema veio para registrar o

    carter dinmico da realidade visvel (p.94) que a fotografia no dava

    conta de representar. A fotografia contemplativa, enquanto o cinema

    movimento (mobilidade e velocidade) e mistura de linguagens (ima-

    gem, dilogo, msica e rudo).

    Nos captulos 3 e 4, a autora dedica o seu trabalho a textos que

    articulam e integram, em um mesmo enunciado, a palavra e a imagem e

    mostra que as relaes so de ordens diversas e no se restringem, mera-

    mente, ao carter ilustrativo, pois aquilo que, linguisticamente, muito

    difcil, complexo ou enfadonho de explicar, muitas vezes, pode ser

    representado por meio de uma imagem.

    Em Imagens nos livros ilustrados, a fim de explicar as rela-

    es entre imagem e texto, Santaella apresenta trs tipologias como pos-

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  • sibilidade de leitura de enunciados verbo-visuais: as relaes sintticas,

    semnticas e pragmticas.

    As relaes sintticas pressupem a existncia de objetos a serem

    combinados, no caso da relao texto e imagem, as relaes so espa-

    ciais de contiguidade (de interferncia, de correferencialidade e de ilus-

    trao) e de incluso (representao de textos em imagens, pictorializa-

    o de palavras e inscrio).

    As relaes semnticas subdividem-se em: a) dominncia (depen-dendo do tipo de enunciado, ora a imagem, ora o verbal domina no nvel

    informativo); b) redundncia ( a repetio no textual e na imagemdaquilo que visto e lido, o que contribui para a memorizao); c) com-plementaridade (d-se quando a imagem e o texto tm a mesma impor-

    tncia); d) discrepncia ou contradio (quando a combinao equivo-cada ou desviante, pois, muitas vezes, a disposio, lado a lado, da ima-

    gem e do texto, no significa que se trata de adio de informaes).

    As relaes pragmticas so: a) a ancoragem: funciona como diti-co na relao imagem e texto e b) a relao de relais. Alm dessas rela-es, a autora destaca os modos de referncia e os vnculos entre ima-

    gem e texto. As anlises concentram possibilidades de leituras de uma

    pgina do livro infanto-juvenil O pequeno prncipe, de Antoine de Saint-

    Exupry, e do livro O homem e seus smbolos, de Carl Jung, ambas seguem

    as tipologias apresentadas.

    Em Imagens na publicidade, Lucia Santaella discute a neces-

    sidade e a importncia da leitura de imagens na publicidade e afirma que

    o verbal, na publicidade, d o direcionamento da abertura da imagem.

    Ou seja, a imagem publicitria no possui a mesma independncia da

    pintura e da fotografia, o texto necessrio para integrar o significado e

    a identidade do produto ou ideia, nesse caso, se a imagem for lida isola-

    damente do texto, ela poder ter apenas apelo esttico. Por isso, para ler

    imagens, na publicidade, preciso enxergar nas entrelinhas e nos seus

    subtextos os mecanismos pelos quais ela fisga o nosso desejo (p.138).

    Dentre as diferentes estratgias e eficcias comunicativas da linguagem

    publicitria, a autora discute, sob princpios retricos, trs: as estratgias

    de sugesto, as de seduo e as de persuaso.

    Alm disso, apresenta um roteiro para a leitura de mensagens

    na publicidade, organizado por meio de trs pontos de vista: o ponto de

    vista das qualidades visuais, o dos ndices e o das convenes sociais. No

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  • primeiro, qualidades visveis, como cores, linhas, volume, dimenso, tex-

    tura, luminosidade, composio, forma, design, etc., sugerem qualidades

    abstratas, como leveza, sofisticao, fragilidade, pureza, nobreza, severi-

    dade, elegncia, delicadeza, fora, etc., ambas so responsveis pela

    associao comparativa de ideias que a primeira impresso desperta. No

    segundo, os ndices referem-se ao aspecto contextual e utilitrio a que o

    enunciado publicitrio pertence. No terceiro, as convenes culturais

    referem-se aos traos tpicos da linguagem publicitria, apresentada

    uma srie de questionamentos que contribuem para a leitura do hori-

    zonte cultural e que o usurio consumidor identifica na publicidade.

    Neste captulo, duas peas publicitrias (ambas da DM9, premiada agn-

    cia de publicidade de So Paulo) so ricamente analisadas, devido aos

    potenciais de leitura emanados.

    O captulo Imagens no design apresenta as definies e a rela-

    o entre alguns acontecimentos histricos que contriburam para o

    desenvolvimento da rea do design, bem como algumas categorias de

    anlise de elementos do design grfico. Design definido como conjun-

    to de tcnicas e de concepes estticas aplicado representao visual

    de uma ideia (p.165). Dessa forma, o conceito se aproxima mais da

    noo de projeto do que da de desenho, traduo frequentemente

    usada em lngua portuguesa. Com enfoque maior no design grfico, a

    autora explica que a finalidade do design planejar as caractersticas

    visuais de produtos ou publicaes. Por meio do design grfico, so cria-

    dos logotipos, marcas, sistemas de identidade visual, at projetos grfi-

    cos de publicaes impressas.

    De inspirao gestaltista, muitos elementos e categorias do

    design foram aprimorados a partir da teoria psicolgica da forma, a

    Gestalt (estrutura ou organizao). Dentre os princpios bsicos, esto os

    operadores-chave e as leis da forma. Os principais operadores-chave so: a com-

    posio (esquema estrutural, organizao); a direo do olhar (o centro

    ptico e geomtrico deve apresentar elementos de maior destaque e visi-

    bilidade); e o contraste (de tamanho, de cor e de peso tipogrfico). J as

    leis da forma so: proximidade, semelhana, fechamento, simetria, destino

    comum, boa continuidade, figura e fundo.

    Na seo A imagem no contexto da hipermdia, ainda do

    captulo 5, Santaella problematiza a necessidade de uma alfabetizao

    semitica, mesmo diante do esforo de designers e programadores para

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  • construrem caminhos de interao intuitivos, cuja finalidade serem

    facilmente compreendidos pelos usurios.

    A hipermdia uma nova configurao de linguagens humanas,

    constituda pela fuso do hipertexto com a multimdia. O hipertexto

    caracteriza-se por ns ou pontos de interseco que, ao serem clicados,

    remetem a conexes no lineares, compondo um percurso de leitura que

    salta de um ponto para outro de mensagens contidas em documentos

    distintos, mas interconectados (p.177). Ao conectar hipertextos com

    documentos multimiditicos (fotos, vdeos, msicas, etc.), inaugura-se

    uma nova maneira de formar, configurar e disseminar informaes: a

    hipermdia.

    Ao longo da obra, Santaella desconstri uma variedade de opi-

    nies, ideias e concepes que, muitas vezes, prevalecem e se impem

    como naturais, necessrias, consensuais, para a leitura de imagem. H

    importantes reflexes e crticas sobre ideias do senso comum. Embora

    restrinja tipologias e elementos de anlise s imagens bidimensionais e

    planas, a obra faz importantes incurses sobre as imagens em movimen-

    to, no cinema e nas variadas mdias da internet.

    Um dos valores do livro est na retomada de elementos cultu-

    rais, estticos, cientficos, tcnicos, artsticos, ou seja, para fazer uma lei-

    tura de imagem que no seja bvia, intuitiva ou ingnua, necessrio

    aprender a ler a relao estabelecida entre os elementos que formam o

    todo do enunciado.

    O livro segue um movimento coerente, buscando privilegiar os

    aspectos histrico-culturais, ressalta fatos importantes da biografia de

    alguns artistas e de tendncias do contexto da poca, identifica traos

    caracterizadores do estilo por meio do reconhecimento de determinadas

    propriedades e tcnicas empregadas, bem como aponta referencialidades

    e significados produzidos nas imagens. O livro Leitura de imagens desenvol-

    ve uma metodologia em que os elementos de anlise vo-se integrando

    sucessivamente. As descries tericas de categorias no so cansativas, e

    as anlises so sucintas. As atividades de leitura propostas no livro pos-

    suem forte valor interdisciplinar, uma vez que oferecem a possibilidade de

    integrar disciplinas que envolvam os conhecimentos imprescindveis da

    matemtica, das artes, da histria da arte, entre outros.

    Tudo isso leva o leitor a se sensibilizar e a se surpreender com

    a complexidade da leitura da imagem: aquilo que parece simples e bvio,

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  • em um olhar apressado, transforma-se rico em possibilidades, em um

    olhar mais detalhista e profundo.

    A leitura dessa obra uma tarefa importante para todos aque-

    les que tm interesse em aprender e ensinar a ler imagens.

    Recebido: 01/03/2013Aprovado: 10/06/2013

    Contato:

    Universidade Federal do Tringulo MineiroAvenida Frei Paulino, 30

    Bairro AbadiaCEP 38025-180

    Uberaba | MG | Brasil

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