a ficÇÃo cientÍfica como ferramenta de … · a fim de facilitar o aprendizado, o ensino...

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1 PALAVRAS-CHAVE: 1984 –ficção científica - interdisciplinaridade. A FICÇÃO CIENTÍFICA COMO FERRAMENTA DE PROBLEMATIZAÇÃO NO ENSINO: MODELO COM O LIVRO 1984 Isabelle de Oliveira Moraes 1 Andrea Carla de Souza Góes 1 Rafaela Aires 1 1 Universidade do Estado do Rio de Jneiro RESUMO A discussão acerca de filmes ou livros de ficção científica permite que a interdisciplinaridade seja explorada, proporcionando a discussão da interação existente entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Em 1949, o autor George Orwell publicou um livro que apresenta certa atemporalidade: a distopia 1984. Discutindo o totalitarismo, onde há estímulo da alienação da sociedade, observa-se a conquista do poder a partir de três principais componentes: vigilância constante dos indivíduos, desestímulo a relações interpessoais, abolição da ciência e, consequentemente, do pensamento crítico. O objetivo deste trabalho é realizar uma análise da obra 1984 à luz dos mecanismos de controle desta sociedade fictícia e, em seguida, estimular discussões acerca da sociedade atual e promover o enriquecimento intelectual de alunos do ensino médio, a partir da discussão da obra literária. Para isto, foi elaborada uma prática pedagógica, de cunho interdisciplinar, na qual devem participar os professores de biologia, literatura, história e sociologia.

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PALAVRAS-CHAVE: 1984 –ficção científica - interdisciplinaridade.

A FICÇÃO CIENTÍFICA COMO FERRAMENTA DE PROBLEMATIZAÇÃO NO

ENSINO: MODELO COM O LIVRO 1984

Isabelle de Oliveira Moraes1

Andrea Carla de Souza Góes1

Rafaela Aires1 1Universidade do Estado do Rio de Jneiro

RESUMO

A discussão acerca de filmes ou livros de ficção científica permite que a interdisciplinaridade seja explorada,

proporcionando a discussão da interação existente entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Em 1949, o autor

George Orwell publicou um livro que apresenta certa atemporalidade: a distopia 1984. Discutindo o

totalitarismo, onde há estímulo da alienação da sociedade, observa-se a conquista do poder a partir de três

principais componentes: vigilância constante dos indivíduos, desestímulo a relações interpessoais, abolição da

ciência e, consequentemente, do pensamento crítico. O objetivo deste trabalho é realizar uma análise da obra

1984 à luz dos mecanismos de controle desta sociedade fictícia e, em seguida, estimular discussões acerca da

sociedade atual e promover o enriquecimento intelectual de alunos do ensino médio, a partir da discussão da

obra literária. Para isto, foi elaborada uma prática pedagógica, de cunho interdisciplinar, na qual devem

participar os professores de biologia, literatura, história e sociologia.

PALAVRAS-CHAVE: 1984 –ficção científica - interdisciplinaridade.

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INTRODUÇÃO

A relação da ciência com a sociedade: importância da interdisciplinaridade

A fim de facilitar o aprendizado, o ensino tradicional visa a compartimentalização dos

conteúdos em disciplinas, que são uma forma de estratégia organizacional. Infelizmente, a

fragmentação dos conteúdos dificulta o diálogo entre os mesmos, o que não estimula o

desenvolvimento de um aprendizado que permita a conexão entre os fatos (AUGUSTO et al,

2004).

Quando o saber é compartimentado em disciplinas, pode levar a conhecimentos

bastante específicos focalizados em uma só área. Essa compartimentalização está presente na

escola por meio das disciplinas específicas e, entre as temáticas da sala de aula e a realidade

vivida pelos estudantes, acaba por gerar a alienação e a irresponsabilidade dos aprendizes, que

não se sentem parte dos fenômenos e, portanto, capazes de mudá-los (AUGUSTO et al, 2004).

O ensino de ciências tem sido contemplado de forma a explorar a função de conceitos,

leis e fenômenos, assim como suas articulações lógicas, apresentando certa heterogeneidade

discursiva. Apesar de ocurrículo ter sido construído a partir da estrutura conceitual da ciência, a

educação não pode se restringir a essa esfera. Desta maneira, podemos observar que o ensino

de ciências e biologia não faz uso da pluralidade que envolve o discurso científico. Na prática da

educação em ciência, é comum que as metodologias de ensino se baseiem em textos curtos e

áridos, com o auxílio do livro didático e com poucas referências a elementos próximos do aluno

(FERREIRA, 2013).

Os temas envolvidos pela ciência não tangenciam apenas esta disciplina. Piassi (2013),

por exemplo, afirma que discutir o uso de armas nuclearessomente à luz das ciências naturais, é

uma forma de observar o problema de maneira fragmentada. A sociedade, sendo diretamente

afetada pela utilização de bombas atômicas, também deve ser estudada. Desta forma, a atuação

das ciências humanas neste tipo de discussão é essencial, sendo interessante haver uma

discussão interdisciplinar acerca do tema.

O uso da ficção científica no ensino de ciências

Piassi (2015) sugere que a utilização de histórias de ficção científica como ferramenta

para o ensino de ciências é viável e interessante, pois ela desenvolve quatro importantes fatores

no estudante: motivação, por despertar o interesse e curiosidade; atitudes, por estimular

positivamente a relação da cultura com o conhecimento científico; cognição, por auxiliar,

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indiretamente, o aprendizado científico; e, habilidades, pelo estímulo à criatividade e

pensamento crítico. Assim, o universo da ficção científica atuaria como um elemento

motivadorno ensino de ciências, que, com o auxílio de discussões e elaboração de projetos

pedagógicos, propiciariam questionamento a respeito de fenômenos e leis científicas e, da sua

relação com a sociedade, facilitando a assimilação de conceitos, de maneira mais natural,

desafiadora e divertida.

O uso da ficção científica é um meio de tratar de questões sociais e tecnológicas sem

ensinar tecnologia, sem converter o ensino de ciências em um curso de tecnologia, mas

enfocando-o como uma reflexão sobre o presente para um pensar agir no futuro. (PIASSI &

PIETROCOLA, 2007).

Apesar de conteúdos informativos, como notícias de jornais ou programas de

televisão, que retratam acontecimentos reais, também poderem levar o aluno a este raciocínio,

ao ler um livro ou assistir a um filme, o indivíduo apresenta uma tendência maior de

envolvimento na história.Desta forma, podecolocar-se na própria cena dos acontecimentos,

potencializando a experiência do indivíduo e sua capacidade de desenvolver os quatro fatores

citados anteriormente. Ao mesmo tempo que estes fatores são desenvolvidos, a cultura

também é estimulada (ARAÚJO, 2011).

A imaginação contribui significativamente para a compreensão e superação da

realidade. Além de permitir atingir o real, ela possibilita enxergar aquilo que ainda não se tornou

realidade. (ARAÚJO, 2011)

A exibição de um filme ou obra literária, com uma discussão posterior sobre seu

contexto, em oposição à abordagem tradicional da disciplina, tem uma potencial função de

aperfeiçoamento do entendimento da ciência, tanto como processo racional, quanto como um

processo de descoberta (PIASSI, 2013).

As histórias fictícias abrangem situações complexas, permitindo um enfoque

interdisciplinar. Analisar determinada obra sobre uma única dimensão é reduzir as

possibilidades, mas, a utilização da ficção científica permite uma análise de como as nossas

atitudes atuais poderiam afetar no futuro, envolvendo diversos fatores acerca da sociedade.

Tendo em vista a importância de um elemento motivador para o sucesso do

aprendizado, é de suma importância que a ferramenta facilitadora no processo de

aprendizagem seja de interesse do aluno. Se adotarmos uma postura elitista, só usaremos cult-

movies e romances ultraprofundos (que é o caso do romance 1984), que podem simplesmente

fazer os alunos se desinteressarem. Por outro lado, se formos condescendentes, corremos o

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risco de subestimar a capacidade dos estudantes de apreciar grandes obras. Temos de escolher

obras que digam coisas inovadoras e transformadoras, mas não de forma obscura demais aos

alunos, nem de forma tão evidente e óbvia que não exija qualquer esforço interpretativo por

parte deles.

Por esta razão, propomos a análise de Jogos Vorazes como elemento incentivador para

a obra 1984. Ao trazer as obras para o contexto da sala de aula, o professor pode também

incentivar os estudantes a procurarem seus próprios interesses dentro da ficção científica,

sugerindo obras e autores de seu interesse, e confrontando as visões de mundo e as técnicas

narrativas em sua relação com o conhecimento científico. Isso, certamente, ampliará o universo

de possibilidades, que podem, inclusive, envolver outras formas e suportes de expressão, como:

os quadrinhos, os videogames ou os jogos de interpretação de papéis (RPG), por exemplo

(PIASSI, 2013).

A história da ficção científica

Embora, atualmente, a ficção científica seja retratada em filmes, HQ’s e até mesmo

jogos, ela teve sua origem na literatura. O título da primeira obra de ficção científica - quase um

consenso entre autores, pesquisadores e leitores do gênero – cabe a Frankenstein (1818), de

Mary Shelley. Foi a primeira vez que um romance utilizou-se de procedimentos científicos em

seu enredo. Mas, o termo Science fictionfoi utilizado, pela primeira vez, em 1929, na primeira

edição da revista Science, Wonder Stories, a fim de definir o tipo de histórias futurísticas e

fantásticas que chamavam a atenção dos jovens, na época.

A definição do conceito de “ficção científica” é bastante complexa. Anteriormente, o

limiar entre ela e o gênero de horror não eram bem identificados, tornando a separação, uma

tarefa árdua. Atualmente, é possível estabelecer uma diferença entre a ficção científica e a

fantasia e o horror:ficção científica trabalha com um imaginário científico, enquanto a fantasia e

o horror têm como elementos dominantes a magia e o sobrenatural.

O livro 1984, de George Orwell (1949)

Sinopse

Publicado em 1949, sob autoria de George Orwell, o livro 1984é uma jóia literária

americana que, como descrito pelo Guia do Estudante, em 2012, denunciou as mazelas do

totalitarismo e tornou-se um dos mais influentes romances do século 20. De modo profético,

George Orwell abordou temas relevantes como a quebra da privacidade.

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Tendo como personagem principal o herói Winston Smith, o romance de Orwell

retrata uma sociedade dominada por um regime totalitário, onde tudo é feito coletivamente,

mas cada indivíduo vive sozinho. A sociedade é controlada e vigiada pelo poderoso Grande

Irmão (Big Brother), uma figura que é representada pelo Partido e, provoca o temor, respeito e

ordem dentro da sociedade, a partir da imposição de regras para o convívio e funcionamento do

sistema político – o Socing.

Ao longo do romance, podemos acompanhar a jornada não triunfal, de Winston, em

busca da retomada da humanidade. Em sua dramática e árdua aventura, Winston reconhece as

formas de controle do Partido e, atacado por uma paixão por Júlia e simpatizando-se com o

grandioso O’Brien, dá seus primeiros passos infrutíferos para pôr fim ao regime ditatorial.

A distopia de 1984

Apesar do controle opressivo, observa-se que nas obras distópicas, a massa da

sociedade não se apresenta de maneira insatisfeita, mas organizada e feliz. Esta realidade pode

ser claramente visualizada em 1984, quando apesar do personagem principal, Winston,

questionar sua companheira, Julia, sobre as atitudes do governo totalitário (Partido), ela ainda

demonstra não se importar.

Em1984, o Partido visa a um controle pleno dos indivíduos, mas, mascara a sua

opressão tentando convencer a população de que suas atitudes sãoum sacrifício em razão de

um bem comum. Assim, como descrito ao longo do livro, o Partido sempre apresentava falsas

recompensas para a população que, enganada, confiava e abria mais espaço para o totalitarismo

na Oceania.

O livro é uma reflexão crítica devastadora aos regimes ditatoriais, que demonstra as

diversas esferas pelas quais podemos ser controlados para que a ditadura permaneça. Ele é um

potencial recurso para a realização de atividades interdisciplinares, como será visto

posteriormente.

1984 como ferramenta paradidática no ensino

As diversas formas de controle do Partido na Oceânia são pontos interessantes para

serem estudados à luz da biologia. A Figura 1 ilustra uma síntese das formas de controle do

Partido, no romance de Orwell. A organização da sociedade era mantida segundo a vigilância

constante, através das teletelas e da Polícia das Ideias, assim como a partir do auxílio dos

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cidadãos. Esta vigilância ocorria a ponto de controlar as reações involuntárias dos indivíduos,

seja durante o sono, ou em qualquer movimento que fugisse do padrão, ao longo do dia.

As relações interpessoais também eram intimamente controladas, de forma a

desestimular a prática sexual e evitar que os indivíduos desenvolvessem pensamento crítico.

Para isso, o método empírico de pensamento estava sendo abolido, o passado era mudado e

houve a criação da Novafala. Desta forma, alguns questionamentos acerca desta obra

expressam-se como potenciais discussões nas aulas.

Figura 1:Síntese das formas de controle do Partido, expressas em 1984.

É inegável a riqueza de discussões que podem ser geradas a partir da leitura de 1984,

sendo elas relevantes para a atualidade. Apesar de ter sido publicado em 1949, a obra de Orwell

se revela, em várias passagens, como uma descrição da realidade em que o mundo está

inserido. Talvez, futuro distópico seja menos fictício do que o imaginado e, mais presente do que

desejado, conforme discutido abaixo.

“O que importa aqui não é a disposição das massas, cuja atitude não tem

importância desde que elas se mantenham estáveis, trabalhando, mas a

disposição do próprio Partido. Espera-se que mesmo o militante mais

humilde mostre-se competente, laborioso e até inteligente dentro de certos

limites, porém é necessário também que ele seja um fanático crédulo e

ignorante e que nele predominem sentimentos como o medo, o ódio, a

adulação e um triunfo orgiástico.” (ORWELL, 2009, p. 228)

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“O único propósito reconhecido do casamento era gerar filhos para

servir ao Partido. A relação sexual devia ser encarada como uma

operaçãozinha ligeiramente repulsiva, uma espécia de lavagem intestinal.

(...) Havia inclusive organizações que defendiam o celibato absoluto para

ambos os sexos. Todas as crianças seriam geradas por inseminação artificial

e criadas por instituições públicas” (ORWELL, 2009, p. 84)

Desta forma, acredita-se que a utilização da obra em questão como livro paraditático

em sala de aula seja um meio de estímulo de discussões acerca da sociedade atual, promovendo

enriquecimento intelectual aos alunos, a partir do desenvolvimento de um projeto

interdisciplinar.

OBJETIVOS

Elaborar uma proposta pedagógica para o ensino médio que privilegia a discussão de

temas de Ciência, Tecnologia & Sociedade (CTS), baseada na obra 1984, em contexto

interdisciplinar,envolvendo as disciplinas biologia, literatura, história e sociologia.

METODOLOGIA

Estudo acerca de 1984

Para a análise do livro 1984, de autoria de George Orwell (1949), utilizou-se a 1ª edição

(julho/2009), publicada pela editora Companhia das Letras, São Paulo e, traduzida por Heloísa

Jahn e Alexandre Hubner. A presente análise se concentra nas formas de controle do Partido,

sintetizadas na Figura 1.

Comparação entre 1984 e Jogos Vorazes

A trilogia Jogos Vorazes (Hunger Games, Suzane Collins, 2008-2010) foi utilizada como

base para apresentação do tema distopia e como elemento incentivador para o posterior

aprofundamento na obra 1984.

Desta forma, os livros Jogos Vorazes, Em Chamas e A Esperança foram lidos e

analisados, assim como as adaptações cinematográficas das obras, incluindo a de 1984: Jogos

Vorazes, 2012, dirigido por Gary Ross; Em Chamas, 2013, dirigido por Francis Lawrance; A

Esperança – parte 1, 2014, dirigido por Francis Lawrance; A Esperança – parte 2, 2015, dirigido

por Francis Lawrance; e, 1984, 1984, dirigido por Michael Radford.

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Elaboração do projeto pedagógico

O projeto pedagógico foi elaborado através da descrição sucinta das atividades a

serem realizadas,em turmas de ensino médio, em contexto interdisciplinar, envolvendo as

disciplinas de biologia, história, literatura e sociologia.

DISCUSSÃO TEÓRICA

Neste tópico, realizamos a discussão da distopia 1984, a luz das formas de controle

desta sociedade fíctícia. Ao mesmo tempo, refletimos sobre as implicações destes métodos na

manutenção de uma sociedade miserável e alienada. Estas reflexões são a base para a

elaboração da proposta de prática pedagógica.

Análise das formas de controle em1984

A atuação ditatorial do Partido inicia-se na alocação dos trabalhadores em Ministérios

– o Ministério da Paz, o Ministério do Amor, o Ministério da Verdade e o Ministério da Pujança –

Os indivíduos têm suas funções para com o Partido e, para que estas sejam realizadas, eles são

designados a estes Ministérios que, cada um à sua maneira, certifica a adoção da ideologia do

Partido. Apesar dos nomes dos ministérios referirem-se à paz, amor e verdade, suas funções são

descritas como o antônimo.

O Ministério da Paz garante que a população se mantenha ocupada com os

acontecimentos de guerra entre os três superestados – assim, ela não terá tempo para se

preocupar com outros acontecimentos. O Ministério do Amor é uma forma de policiamento:

caso alguém venha a cometer um crime, a Polícia das Ideias atua, de forma a prender e torturar

esse indivíduo, até que ele possa ser reintegrado na sociedade. O Ministério da Pujança cuida

das finanças e da produção em Oceânia, garantindo, assim, que a população acredite que a cada

dia as condições de vida evoluem, quando na verdade, apenas o Núcleo do Partido tem direito

aos privilégios, como, por exemplo, artigos de luxo disponíveis a qualquer momento. O

Ministério da Verdade cuida da história da sociedade, garantindo que, caso seja necessário, ela

possa ser alterada. Assim, documentos e notícias de jornais podem ser alterados

constantemente, mantendo a alienação da população.Orwell criou vários destes jogos de

antônimos nesta fantástica sátira. Aqui está outro exemplo: como ele escreveu o livro em 1948,

supõe-se que o título da obra se deva à inversão dos dois últimos números.

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De forma a aumentar o controle da sociedade, houve a criação de um novo idioma, a

Novafala. Unindo a invenção de novas palavras e a extinção de outras, este método

proporciona a limitação da amplitude do pensamento.Assim, são eliminados ou reduzidos

diversos adjetivos e substantivos. Mau, por exemplo, deixa de ser utilizado como antônimo de

bom e, em seu lugar, ganha espaço a palavra desbom. Em situação análoga, sinônimos como

excelente e esplêndido são descaracterizados e em seus lugares, como forma de dar peso a

algo que seja mais que bom, entram em uso as palavras maisbom e duplimaisbom. Ainda que

em nossa atual sociedade não exista uma regra taxativa como a do crimepensar, estamos

passando nos últimos anos por uma modificação da terminologia empregada no cotidiano.

Entramos em uma era do “politicamente correto”, onde termos como preto, favela, cego e

lepra deixaram de ser comumente empregados e deram lugar a outros como afrodescendente,

comunidade, deficiente visual e hanseníase. Assim, modifica-se o vocabulário em busca de

uma maior homogeneidade social que, infelizmente, só apresenta efeitos de semântica, e não

nas condições sócio-econômicas da sociedade.

A vigilância apresentada por Orwell baseia-se nas definições dos três princípios do

Socing – o nome do sistema sócio econômico da Oceânia: criminterrupção, duplipensamento e

mutabilidade do passado. A criminterrupção é a capacidade de acabar com quaisquer

pensamentos definidos como criminosos e perigosos pelo Partido. Torna-se uma forma de

autovigilância. O duplipensamento é uma forma de controle da realidade. Ao realizar esta ação,

o indivíduo é capaz de reconhecer duas crenças contraditórias em sua mente, mas acreditar em

ambas. Porém, o ato de acreditar irá variar de acordo com a situação: caso seja conveniente

acreditar em A, ele irá desacreditar de B.

Baseados nestes conceitos, o Partido estipula regras de convivência que geram o

controle da sociedade em diversas esferas, incluindo a esfera familiar. Para manter o ideal do

Grande Irmão (Big Brother), todos os indivíduos do Partido Externo são vigiados vinte e quatro

horas por dia. O único local em que eles estão livres da observação do Partido, é dentro da

própria cabeça.A forma principal pela qual o partido controla a sociedade e transmite notícias é

através das teletelas. Espalhadas nos lugares públicos e nos recantos mais íntimos dos lares, elas

são uma espécie de televisão capaz de monitorar, gravar e espionar os membros do Partido. Elas

nunca podem ser desligadas e transmitem e captam imagens e sons ao mesmo tempo. Não é

possível saber se a vigia está acontecendo durante todo o tempo, ainda que seja possível que

esteja; logo, os vigiados tendem a ser “treinados” a sempre apresentarem uma expressão

agradável em frente aos aparelhos para que, assim, não denunciem nenhuma inconformação

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para com as ideias do Partido. Esse conceito de controle e vigia exercido pelo Partido através de

teletelas, personificado na imagem do Grande Irmão, foi o modelo de inspiração para a

produtora Endemol na construção do reality show batizado de Big Brother.

O controle dos indivíduos ocorria a nível de suas expressões faciais e da manifestação

do seu subconsciente, quando dormindo. São manifestações que, por muitas vezes, ocorrem de

maneira involuntária, as pessoas não têm controle. Assim, seus atos involuntários também eram

passíveis de serem julgados e recriminados por todos os vigilantes da Polícia das Ideias.

Apesar de todo o controle de observação existente e as possíveis delações, o Partido

ainda precisava se preocupar com outras questões que poderiam gerar desordem. Os laços

afetivos entre as pessoas eram inimigos cruéis, já que permitiam uma maior interação que

gerava a troca de informações e, consequentemente, o ato de pensar. A criação dos Ministérios,

como falado anteriormente, já era uma forma de diminuir a afeição entre os membros do

Partido. A jornada de trabalho abrangia grande parte do dia e (Winston, por exemplo,

trabalhava 60 horas semanais; no Departamento de Registro, todos trabalhavam 18 horas por

dia, com dois intervalos de 3 horas para dormir), o horário livre era designado para a promoção

de ideais do sistema.

Para um melhor controle, também é necessário certo entusiasmo por parte daqueles

que são controlados. Mas, segundo o Partido, o instinto sexual cria um mundo próprio fora de

controle e, a privação sexual levava à histeria, que poderia ser utilizada em favor do sistema. As

atividades sexuais não poderiam estar aliadas a todas as outras atividades partidárias, como

marchas, saudações e cânticos que exaltem o Grande Irmão, sendo idealizado um puritanismo

sexual. A prática sexual passou a ser realizada, apenas, para fins de procriação.

Em Novafala, a palavra “Ciência” não mais existe. Como o objetivo principal do Partido

é a conquista do poder pelo poder, a existência do pensamento independente é um grande risco

à sua supremacia. Desta forma, pode-se verificar que há um retrocesso tecnológico na

Oceânia.Tal retrocesso é mantido através da existência da Guerra. Como diz o slogan do Partido,

“Guerra é Paz” mas, além disso, ela também é capaz de desvalorizar os grandes feitos da ciência.

Ao manter o mundo em estado de guerra, não é necessário o avanço tecnológico. O

foco da sociedade seria a sobrevivência, tornando a inovação tecnológica supérflua. A guerra

contínua funciona como um pacto velado, como já foi visto na Guerra Fria, que garante uma

espécie de segurança aos países – se um deles não avança tecnologicamente, o outro também

não precisa avançar. Sendo assim, a prática da ciência limita-se à busca por metodologias que

possam favorecer as formas de controle do Partido.

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“Das duas, uma: ou o cientista de hoje é uma mistura de psicólogo com inquisidor,

estudando com extraordinária minúcia o significado de expressões faciais, gestos e tons

de voz, e testando os efeitos de drogas, choques elétricos, hipnose e tortura física na

produção da verdade; ou é um químico, físico ou biólogo preocupado exclusivamente com

ramificações de suas áreas de estudo relevantes para a extinção da vida. Nos vastos

laboratórios do Ministério da Paz e nas estações experimentais ocultas nas florestas do

Brasil, ou no deserto australiano, ou em ilhas perdidas da Antártica, equipes de

especialistas trabalham, incansáveis. Alguns se preocupam unicamente como o

planejamento da logística de guerras futuras; outros criam bombas-foguetes cada vez

maiores, explosivos mais potentes e em maior quantidade, e blindagens cada vez mais

impenetráveis; outros estão atrás de gases novos e mais mortíferos, ou de venenos

solúveis que possam ser fabricados em quantidade suficiente para destruir a vegetação de

continentes inteiros, ou de linhagens de germes patogênicos imunizados contra todos os

anticorpos possíveis; outros fazem tudo para produzir um veículo que consiga abrir

caminho debaixo da terra como um submarino dentro d’água, ou um aeroplano tão

independente de sua base quanto um veleiro; outros exploram possibilidades ainda mais

remotas, como focalizar os raios do sol através de lentes suspensas a milhares de

quilômetros de distância no espaço, ou provocar terremotos artificiais e tsunamis

manipulando o calor do centro da Terra.” (ORWELL, 2009, p. 230)

O autor menciona, também, que essa derrubada da ciência se torna um processo

cíclico, uma vez que para que a ciência exista é necessário que haja uma sociedade habituada a

raciocinar. Logo, quando se reduz um desses fatores – a ciência ou a capacidade lógica da

população – o outro é diretamente afetado. Com isso, tudo que depende da ciência, não só o

processo crítico como também o desenvolvimento tecnológico da sociedade, é eliminado.

Torna-se cada vez mais claro, então, que para que os interesses do Partido fossem

estabelecidos e mantidos, a educação e a ciência deveriam ser extintas.Assim, o Partido atua de

forma a controlar a individualidade dos seres humanos, a fim de facilitar que sua ideologia seja

aceita e imposta na sociedade. Além das esferas citadas, é de extrema importância que o

Partido seja capaz de controlar a verdade e, para este fim, ele tenta controlar a memória dos

indivíduos. Alterando a história, controlando seus pensamentos e sentimentos, o Partido visa

uma sociedade idealizada, que é descrita no trecho a seguir:

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“Mas no futuro já não haverá esposas ou amigos, e as crianças serão separadas das mães

no momento do nascimento, assim como se tiram os ovos das galinhas. O instinto sexual

será erradicado. A procriação será uma formalidade anual, como a renovação do carnê de

racionamento. Aboliremos o orgasmo. Nossos neurologistas já estão trabalhando nisso. A

única lealdade será para com o Partido. O único amor será o amor ao Grande Irmão. O

único riso será o do triunfo sobre o inimigo derrotado. Não haverá arte, nem literatura,

nem ciência. Quando formos onipotentes, já não precisaremos da ciência. Não haverá

distinção entre beleza e feiura. Não haverá curiosidade, nem deleite com o processo da

vida. Todos os prazeres serão eliminados. Mas sempre – não se esqueça disto, Winston –

sempre haverá a embriaguez do poder, crescendo constantemente e se tornando cada vez

mais sutil. Sempre, a cada momento, haverá a excitação da vitória, a sensação de pisotear

o inimigo indefeso. Se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota

pisoteando um rosto humano – para sempre”(ORWELL, 2009, p. 100)

Comparação entre 1984e a série Jogos Vorazes

Visando o incentivo dos alunos para a participação no projeto e interesse na obra de

Orwell, será utilizado um dos bestseller mais recentes que retrata a distopia para fins de

comparação entre as obras literárias. A obra escolhida, por apresentar uma maior quantidade

de elementos similares a 1984, adaptação cinematográfica e, por ser uma das mais populares

entre os jovens atualmente, foi a trilogia de Suzanne Collins, Jogos Vorazes (Hunger Games,

2009-2011).

Jogos Vorazes é uma distopia que se passa onde hoje conhecemos como a América do

Norte. A narração em primeira pessoa pela personagem principal da obra, KatnissEverdeen, nos

leva até o continente Panem, que é dividido por uma Capital e 13 distritos. Devido a uma

rebelião fracassada, o décimo terceiro distrito foi aniquilado, há 74 anos, pela Capital e seu

governo totalitário. Após anos de guerra, a Capital criou os Jogos Vorazes, que ocorrem

anualmente e atuam como entretenimento para a população da Capital e, principalmente, para

subjugar os distritos. Na arena, os tributos dos distritos (jovens sorteados na população) entram

em combate, lutando até a morte, restando apenas um vencedor. É interessante destacar que

os Jogos Anuais são televisionados em forma de reality show para toda a Capital que se mobiliza

para assistir à mórbida programação.

Jogos Vorazes e 1984apresentam muitas características em comum. Ambos são

histórias que se passam em uma sociedade comandada por um governo totalitário que surgiu

através de um estado de guerra e com cidadãos que apresentam uma baixa qualidade de vida. O

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totalitarismo das obras apresenta figuras representativas. Em 1984, esta representação se dá na

forma do Partido e do Big Brother, enquanto que em Jogos Vorazes, tem-se o temido Presidente

Snow. Ambos transmitiam temor à população, sendo capazes de controlá-la.

Tal controle não está somente presente nas imagens do Big Brother e do Presidente

Snow, mas também na forma de monitoramento e constante vigilância da população através de

teletelas. A ciência e a tecnologia, em ambas as obras, são utilizadas com o intuito de melhorar a

forma de controle dos governos, sendo expressas, principalmente, na criação de teletelas – em,

1984, e seres geneticamente modificados para destruir os “maus cidadãos”– em Jogos Vorazes.

Ambas as obras são caracterizadas pela divisão da população entre os pobres, que

vivem em condições limitantes – se não, precárias -, e uma pequena parte que recebe regalias.

Em Jogos Vorazes, os distritos vivem em extrema pobreza, mas, a Capital é o lugar onde se vive

com muito conforto e alta tecnologia. Em 1984, os indivíduos somente viviam com o

racionamento de comida, tendo todas as suas atividades envolvidas com o fortalecimento do

Socing, enquanto que o Partido desfrutava de regalias.

Winston descreve em 1984 que o Partido precisava se demonstrar presente na

Oceânia e, para tal fim, as ruas eram recobertas pelas teletelas. Em Jogos Vorazes, o jogo é

transmitido com ares de reality show em aparelhos de projeção modernos distribuídos aos

distritos mais pobres durante a competição, de forma que possam acompanhar cada detalhe do

que acontece com seus tributos.

RESULTADOS

Elaboração da proposta pedagógica

Etapas

A proposta pedagógica é composta por seis principais etapas, iniciando-se com

elementos motivadores e culminando na promoção de discussões acerca do tema. Espera-se

favorecer o diálogo entre as disciplinas, permitindo a análise do livro à luz de diferentes pontos

de vista, sendo essencial que haja a interação entre os professores envolvidos.

Desta forma, a primeira parte desta proposta pedagógica envolve um clube de leitura

docente, visando a discussão de questões importantes sobre 1984, a qual seria relevante para a

sala de aula. Posteriormente, os alunos são apresentados à existência da distopia na literatura e

no cinema. Utilizando como elemento motivador a obra literária infantojuvenilJogos Vorazes,

um breve resumo sobre 1984 será discutido em sala de aula, com posterior apresentação da

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adaptação cinematográfica do mesmo. Ambientados no universo de Orwell, a análise

aprofundada da obra será realizada, com a discussão de seu contexto histórico, dos seus fatos

relevantes e de sua correlação com a atualidade.

Etapa 1: Clube docente do livro

Para o sucesso desta proposta, é essencial que os professores envolvidos estejam

engajados. Visando este fim, a primeira parte da proposta funciona como um elemento

motivador para os docentes, onde haverá a leitura do livro 1984.Sabendo-se que a intensa carga

horária docente dificulta reuniões semanais para a leitura do livro, sugere-se que cada professor

participante realize esta leitura em sua casa, em um prazo previamente estipulado.

Em seguida, são realizadas duas reuniões para a discussão da obra. O interessante da

interdisciplinaridade é que, como dito anteriormente, diferentes pontos de vista serão

colocados em pauta, ampliando a discussão e tornando-a mais enriquecedora. Além de ser

essencial que haja uma revisão sobre os personagens do livro e sobre como a sociedade estava

ambientada, algumas questões precisam ser, essencialmente, discutidas:

a. Como a organização da sociedade em ministérios poderia favorecer o rendimento do

Partido?

b. Os indivíduos poderiam controlar seus movimentos involuntários e seu sistema

nervoso, para que não pudessem ser recriminados pela Polícia das Ideias?

c. O controle da pulsão sexual poderia favorecer a atuação do Partido?

d. Qual a importância da metodologia científica para a formação de uma sociedade não

alienada?

e. Existe alguma relação entre 1984 e a atualidade?

f. Quais formas de controle utilizadas em 1984 também são observadas nos regimes

ditatoriais que ocorreram ao longo da história mundial?

Além da discussão sobre o livro, é necessário que seja realizado um estudo, conduzido

pelos professores de literatura e sociologia, sobre a relação da distopia e a atualidade. Os artigos

“Da utopia à distopia: política e liberdade”, de Figueiredo (2015) e “Teoria crítica e literatura: a

distopia como ferramenta de análise radical da modernidade”, de Hilário (2013), descrevem a

história e a definição da distopia, de maneira abrangente, sendo um material de apoio.

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Como citado anteriormente, o universo literário e cinematográfico infanto-juvenil tem

retratado os futuros distópicos com estrondoso sucesso. Como forma de preparar um elemento

motivador para os alunos e, posteriormente, a base para a discussão sobre 1984, os professores

devem também discutir obras distópicas infanto-juvenis recentes, principalmente a trilogia

Jogos Vorazes.

Etapa 2: A distopia na literatura e cinema

Observando-se que o pessimismo distópico é retratado em 1984, é importante que

seja apresentado aos alunos a definição de distopia. Ao compreender a base da obra literária

para o projeto, os alunos terão conhecimentos mais sólidos para o início da leitura e discussão

do livro. Desta forma, a interação entre os alunos e professores será iniciada na aula de

literatura, com a apresentação do tema “Distopia na Literatura e Cinema”, para a discussão dos

seguintes pontos:

a. Introduçãosobreficçãocientífica;

b. Definição de utopia e distopia;

c. Distopianaatualidade.

Em seguida, o professor de literatura poderá desenvolver o tópico motivador antes de

abordar a obra 1984 sobre a série literária e cinematográfica Jogos Vorazes, a qual certamente é

conhecida por quase todos os alunos. Neste momento, os alunos serão desafiados a citar os

momentos em que a série Jogos Vorazes apresenta momentos que caracterizariam uma

distopia.

Finalmente, o professor de literatura terá instigado os alunos a conhecerem a obra de

Orwell.

Etapa 3: Introdução à 1984

Na aula de literatura, são apresentadosaos alunos a importância do autor George

Orwell e de suas obras para a literatura mundial. Para isto, sugere-se que algumas obras do

autor sejam citadas, como A Revolução dos Bichos (Animal Farm, 1945), ilustrando-se a atuação

política de Orwell na literatura. Em seguida, alguns trechos marcantes da obra, previamente

selecionados pelo professor, podem ser lidos para a turma. Finalmente, será apresentado o

filme 1984, de 1984, dirigido por Michael Radford.

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Em aula posterior, os professores de história, sociologia e biologia se juntariam ao

professor de literatura para a discussão com os alunos sobre a obra

1984.Seriamabordadosprincipalmenteosseguintespontos:

a. Como a sociedade está estruturada?

b. Quais as características importantes do personagem principal da história?

c. De que forma o governo controlava a sociedade?

d. De que forma a extinção da ciência e do pensamento lógico propiciaram a manutenção

do poder autoritário de 1984?

e. Como era a ciência no Brasil nos períodos correspondentes à ditadura e a Guerra Fria?

Esta etapa é finalizada com a comparação entre 1984 e a série Jogos Vorazes.

Etapa 4: Contextualização histórica

Ao longo do tempo, a humanidade sofreu intervenções de governos autoritários, o que

deixou marcas profundas na História. Compreender como se dá a ascensão do autoritarismo

proporciona uma visão crítica acerca dos acontecimentos sócio-políticos e impede o

estabelecimento de novos regimes antidemocráticos. O livro 1984 foi publicado logo após a II

Guerra Mundial e, certamente, Orwell foi muito influenciado pelos acontecimentos daquela

época. Assim, faz-se necessário que os alunos entendam a contextualização histórica baseada

nas duas principais guerras mundiais. Da mesma forma, ao longo da história da humanidade,

deparamo-nos com diferentes regimes ditatoriais, inclusive no Brasil. Alguns deles, não são

conhecidos pelos alunos. A análise de 1984permite a sua comparação com a realidade mundial,

sendo interessante que os alunos tenham conhecimento sobre quais e como populações foram

controladas.

Sugere-se que, neste momento, os alunos atuem, com a orientação do professor de

história, e apresentem os regimes ditatoriais que ocorreram ao longo da história(nazismo,

fascimo, regimes ditatoriais na América Latina, Guerra Fria, etc), em forma de seminário.

Etapa 5: As formas de controle em regimes ditatoriais

Ao longo de 1984, pode-se observar diversas formas de controle, utilizadas pelo

Partido, para subjugar a sociedade. A principal delas é a manutenção da população alienada e

sem capacidade de raciocínio lógico, através da abolição da metodologia científica.

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A alienação e a metodologia científica são temas importantes na sociologia e biologia,

respectivamente. Desta forma, sugere-se que os professores ministrem uma aula em conjunto

que estimule os seguintes questionamentos:

a. O que é preciso fazer para que as pessoas possam ser controladas?

b. Por que controlar a sociedade?

c. Por que a sociedade se permitiu ser controlada?

d. Temos exemplo disso durante a história da humanidade?

e. Por que para a instalação de um regime ditatorial é necessária a extinção da razão e

pensamento lógico?

f. Qual a importância da televisão na nossa sociedade?

g. Qual a relação entre o Big Brother de 1984 e o famoso programa televisivo?

Etapa 6: Elaboração do trabalho final

A etapa final consistirá na elaboração de um trabalho em grupo. Este trabalho será

uma comparação entre 1984 e outras obras distópicas recentes, similar a comparação realizada

com Jogos Vorazes. Cada grupo poderia escolher uma obra, entre as listadas a seguir:

MazeRunner (Dashner, 2010);Divergente (Roth, 2011);A 5ª Onda (Yancey, 2013);Doador de

Memórias (Lowri, 2014);Matrix (Wachowski, 1999);V de Vingança (McTeigue, 2006);Wall-E

(Pixar, 2008);O Preço do Amanhã (Niccol, 2011).

CONCLUSÃO

A proposta sugerida apresenta potencial como ferramenta de estímulo ao pensamento

crítico, científico e social dos alunos.Esperamos, através desta prática pedagógica, trabalhar

importantes aspectos interdisciplinares relacionados à política, sociologia e bioética. Ao mesmo

tempo em que se divulga ciência através de literatura de ficção, destacamos, para a obra 1984,

temas relacionados à metodologia científica, ao comportamento humano e aos diversos

questionamentos que afligem a humanidade e que se fazem atuais na sociedade

contemporânea. Assim, esperamos oportunizar a reflexão e discussão sobre assuntos

concernentes a nossa sociedade, estimulando-se também, o prazer da leitura.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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área ciências da natureza em formação em serviço. Ciência & Educação (Bauru). Programa de

Pós-Graduação em Educação para a Ciência, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade

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<http://hdl.handle.net/11449/8326>.

FERREIRA, Júlio César David. Relações entre o discurso científico e o discurso ficcional no

ensino de ciências. Atas do IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2013.

ORWELL, George. 1984. Companhia das Letras, São Paulo, 1 ed, 2009.

PIASSI, Luiz Paulo. A ficção científica e o estranhamento cognitivo no ensino de ciências:

estudos críticos e propostas de sala de aula. Ciência & Educação, v. 19, n. 1, p. 151-168, 2013.

PIASSI, Luiz Paulo; PIETROCOLA, Maurício. De olho no futuro: ficção científica para debater

questões sociopolíticas de ciência e tecnologia em sala de aula.Ciência& Ensino, vol. 1, número

especial, 2007.