a disposição fundamental da angústia como abertura privilegiada_ser e tempo

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Tamara Fracalanza Parágrafo 40 – A disposição fundamental da angústia como abertura privilegiada O descortinar do ente para explicar a própria presença como possibilidade ontológica acontece a partir da disposição e compreensão. A pergunta original feita por Heidegger para a reflexão de tal tema está às voltas do dispor-se angustiado. Será a angústia a disposição fundamental para o desvelar ôntico pela presença, ou pelo menos, como Heidegger coloca para “poder preparar adequadamente uma tal determinação?”. (É necessário, antes de mais nada, afirmar que todo o descortinar só é possível dentro da abertura constitutiva da presença, ou seja, do ser-no- mundo, do ser-aí, da circunvisão, das coisas que estão à mão e das outras presenças, o que significaria dizer basicamente que é necessário ser um humano). Para tal descortinar da disposição, Heidegger inicia retomando as análises sobre a decadência. Decadência é o estar imerso no impessoal e no mundo das ocupações, develando a fuga de si mesmo da presença. Estar imerso no mundo das ocupações de maneira impessoal é um modo de ser de uma presença que não tem de haver-se com a própria temática ontológica e, portanto, que não “se coloca diante de si mesma”. Por isso, a decadência parece não ser o ponto de partida mais indicado para compreender a disposição. Em outras palavras, uma presença em decadência é uma presença que não está preocupada com o próprio existir, que segue conforme aquilo que o domina, que está à mão, os outros, sem se dar conta. “O impessoal pertence aos outros e consolida o seu poder “(par. 27). A massa dos outros dissolve a própria presença neste modo de ser impessoal, assim “nos divertimos e entretemos como impessoalmente se faz, lemos, vemos e julgamos sobre literatura e arte como impessoalmente se vê e se julga, também nos retiramos das ‘grandes multidões’ como impessoalmente se retira, achamos ‘revoltante’ o que impessoalmente se considera revoltante” (par. 27). O impessoal não é determinado, mas prescreve o modo de ser da cotidianidade. No modo de ser decadente, a presença encontra-se obstruída e fechada. O fechamento é uma privação de uma abertura, já que na decadência a fuga da presença é a fuga de si mesma. É daquilo

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Resumos e Fichamentos de Ser e Tempo de Heidegger - aqui se trata de um fichamento inacabado

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Tamara FracalanzaPargrafo 40 A disposio fundamental da angstia como abertura privilegiadaO descortinar do ente para explicar a prpria presena como possibilidade ontolgica acontece a partir da disposio e compreenso. A pergunta original feita por Heidegger para a reflexo de tal tema est s voltas do dispor-se angustiado. Ser a angstia a disposio fundamental para o desvelar ntico pela presena, ou pelo menos, como Heidegger coloca para poder preparar adequadamente uma tal determinao?. ( necessrio, antes de mais nada, afirmar que todo o descortinar s possvel dentro da abertura constitutiva da presena, ou seja, do ser-no-mundo, do ser-a, da circunviso, das coisas que esto mo e das outras presenas, o que significaria dizer basicamente que necessrio ser um humano). Para tal descortinar da disposio, Heidegger inicia retomando as anlises sobre a decadncia. Decadncia o estar imerso no impessoal e no mundo das ocupaes, develando a fuga de si mesmo da presena. Estar imerso no mundo das ocupaes de maneira impessoal um modo de ser de uma presena que no tem de haver-se com a prpria temtica ontolgica e, portanto, que no se coloca diante de si mesma. Por isso, a decadncia parece no ser o ponto de partida mais indicado para compreender a disposio. Em outras palavras, uma presena em decadncia uma presena que no est preocupada com o prprio existir, que segue conforme aquilo que o domina, que est mo, os outros, sem se dar conta. O impessoal pertence aos outros e consolida o seu poder (par. 27). A massa dos outros dissolve a prpria presena neste modo de ser impessoal, assim nos divertimos e entretemos como impessoalmente se faz, lemos, vemos e julgamos sobre literatura e arte como impessoalmente se v e se julga, tambm nos retiramos das grandes multides como impessoalmente se retira, achamos revoltante o que impessoalmente se considera revoltante (par. 27). O impessoal no determinado, mas prescreve o modo de ser da cotidianidade. No modo de ser decadente, a presena encontra-se obstruda e fechada. O fechamento uma privao de uma abertura, j que na decadncia a fuga da presena a fuga de si mesma. daquilo que se foge que a presena corre atrs, ou seja, a presena foge do ter que se haver consigo prpria, o colocar-se diante de si mesma, e adota, sem se dar conta, o modo de ser impessoal como uma maneira de haver-se com o prprio existir. Por exemplo, as pessoas que buscam respostas para suas vidas nos dogmas religiosos esto na verdade, havendo-se com sua presena de modo impessoal, um modo de ser dos outros que cada vez mais, torna-se distante de sua prpria existncia e, tal circunstncia s possvel dada abertura constitutiva da presena. O desviar e o aviar-se (livrar-se) tpicos da decadncia representam a fuga da presena de si mesma que, por essa razo, no pode apreender-se. No entanto, no desvio de si mesma, descortina-se o pre da presena.