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    jean piaget a epistemologia gentica traduo de nathanael c. caixeira paris.presses universitaires de france.. introduo aproveitei, com prazer, aoportunidade de escrever este pequeno livro sobre epistemologia gentica, de modoa poder insistir na noo bem pouco admitida correntemente, mas que parececonfirmada por nossos trabalhos coletivos neste domnio: o conhecimento nopoderia ser concebido como algo predeterminado nas estruturas internas doindivduo, pois que estas resultam de uma construo efetiva e contnua, nem noscaracteres preexistentes do objeto, pois que estes s so conhecidos graas mediao necessria dessas estruturas; e estas estruturas os enriquecem eenquadram (pelo menos situando-os no conjunto dos possveis). em outras palavras,todo conhecimento comporta um aspecto de elaborao nova, e o grande problema daepistemologia o de conciliar esta criao de novidades com o duplo fato de que,no terreno formal, elas se acompanham de necessidade to logo elaboradas e de que,no plano do real, elas permitem (e so mesmo as nicas a permitir) a conquista daobjetividade. este problema da construo de estruturas no pr-formadas , defato, j antigo, embora a maioria dos epistemologistas permaneam amarrados ahipteses, sejam aprioristas (at mesmo com certos recuos ao inatismo), sejamempiris tas, que subordinam o conhecimento a formas situadas de antemo noindivduo ou no objeto. todas as correntes dialticas insistem na idia denovidades e procuram o segredo delas em "ultrapassagens" que transcenderiamincessantemente o jogo das teses e das antteses. no domnio da histria do

    pensamento cientfico, o problema das mudanas de perspectiva e mesmo das"revolues" nos "paradigmas" (kuhn) se impe necessariamente, e l. brunschvicgextraiu dele uma epistemologia do vira-ser radical da razo. adstrito sfronteiras mais especificamente psicolgicas, j. m. baldwim forneceu, sob o nomede "lgica gentica", pareceres penetrantes sobre a elaborao das estruturascognitivas. poderiam ser citadas ainda diversas outras tentativas. mas, se aepistemologia gentica voltou de novo questo, com o duplo intuito deconstituir um mtodo capaz de oferecer os controles e, sobretudo, de retornar sfontes, portanto gnese mesma dos conhecimentos de que a episte mologiatradicional apenas conhece os estados superiores, isto , certas resultantes. oque se prope a epistemologia gentica pois pr a descoberto as razes dasdiversas variedades de conhecimento, desde as suas formas mais elementares, e seuir sua evoluo at os nveis seguintes, at, inclusive, o pensamento

    cientfico. 130 131 mas, se esse gnero de anlise comporta uma parte essencial deexperimentao psicolgica, de modo algum significa, por essa razo, um esforo depura psicologia. os prprios psiclogos no se enganaram a esse respeito, e numacitao que a .a nrerican psychological association teve a gentileza de enviar aoautor destas linhas depara-se com esta passagem significativa: "ele enfocouquestes at ento exclusivamente filosficas de um modo decididamente emprico, econstituiu a epistemologia como uma cincia separada da filosofa mas ligada atodas as cincias humanas", sem esquecer. naturalmente, a biologia. em outrostermos, a grande sociedade americana admitiu de bom grado que nossas trabalhosrevestiam-se de uma dimenso psicolgica, mas a ttulo de byproduct, como oesclarece ainda a citao, e reconhecendo que a inteno, no caso, eraessencialmente epistemolgica. quanto necessidade de recuar gnese, como oindica o prprio termo "epistemologia gentica", convm dissipar desde logo um

    possvel equvoco, que seria de certa gravidade se importasse em opor a gnese soutras fases da elabo rao contnua dos conhecimentos. a grande lio contida noestudo da gnese ou das gneses , pelo contrrio, mostrar que no existem jamaisconhecimentos absolutos. isto significa dizer, em outras palavras, seja que tudo gnese, inclusive a elaborao de uma teoria nova no estado atual das cincias,seja que a gnese recua indefinidamente, porque as fases psicogenticos maiselementares so, elas mesmas, precedidas de fases de algum modo organogenticas,etc. afirmar a necessidade de recuar gnese no significa de modo algum concederum privilgio a tal ou qual fase considerada primeira, absolutamente falando: ,pelo contrrio, lembrar a existncia de uma construo indefinida e, sobretudo,insistir no fato de que, para compreender suas razes e seu mecanismo, preciso

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    conhecer todas as suas fases, ou, pelo menos, o mximo possvel. se fomos levadosa insistir muito na questo dos comeos do conhecimento, nos domnios dapsicologia da criana e da biologia, tal no se deve a que atribuamos a eles umasignificao quase exclusiva:

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    deve-se simplesmente a que se trata de perspectivas em geral quase totalmentenegligenciadas pelos epistemologistas. todas as demais fontes cientficas deinformao permanecem pois necessrias, e o segundo aspecto da epistemologiagentica sobre o qual gostaramos de insistir sua natureza decididamenteinterdisciplinar. o problema especfico da epistemologia, expresso sob sua formageral, , com efeito, o do aumento dos conhecimentos, isto , da passagem de umconhecimento inferior ou mais pobre a um saber mais rico (em compreenso e emextenso). ora, como toda cincia est em permanente transformao e no considerajamais seu estado como definitivo (com exceo de certas iluses histricas, comoas do aristotelismo dos adversrios de galileu ou da fsica newtoniana para seuscontinuadores), este problema gentico, no sentido amplo, engloba tambm o doprogresso de todo conhecimento cientfico e apresenta duas dimenses: uma,respeitante s questes de fato (estado dos conhecimentos em um nvel determinadoe passagem de um nvel ao seguinte), e outra, acerca das questes de validade(avaliao dos conhecimentos em termos de aprimoramento ou de regresso, estruturaformal dos conhecimen tos). , portanto, evidente que, seja qual for a pesquisa emepistemologia gentica, seja que se trate da evoluo de tal setor do conhecimentona criana ( nmero, velocidade, causalidade fsica, etc.) ou de tal transformaonum dos ramos correspondentes do pensamento cientfico, tal pesquisa pressupe acolaborao de especialistas em epistemologia da cincia considerada, psiclogos,historiadores das cincias, lgicos, matemticos, cultores da ciberntica,

    lingstica, etc. este tem sido sempre o mtodo de nosso centro internacional deepistemologia gentica em genebra, cuja atividade integral tem consistido semprede um trabalho de equipe. a obra que se segue , portanto, sob muitos aspectos,coletiva! o objetivo deste opsculo no , todavia, contar a histria dessecentro, nem mesmo resumir os estudos de epistemologia gentica que surgiram graasa ele.' nesses estudos se encontram os trabalhos realizados, bem como o sumriodas discusses que tiveram lugar por ocasio de cada simpsio anual e que trataramdas pesquisas em curso. o que nos propomos aqui simplesmente pr em destaque astendncias gerais da epistemologia gentica e expor os principais fatos que asjustificam. o plano de trabalho portanto muito simples: anlise dos dadospsicogenticos, em seguida de seus antecedentes biolgicos e, finalmente, retornoaos problemas epistemolgicos clssicos. convm no entanto comentar este plano,pois os dois primeiros captulos poderiam parecer inteis. no que diz respeito em

    particular psicognese dos conhecimentos (cap. i), muitas vezes a descrevemos maneira dos psiclogos. mas os epistemologistas lem apenas uns poucos trabalhospsicolgicos, o que concebvel, desde que no se destinam explicitamente acorresponder s suas preocupaes. procuramos pois centrar nossa exposiounicamente nos fatos que se revestem de uma significao epistemolgica, einsistindo nesta ltima: trata-se, em conseqncia, de uma tentativa nova, emparte, tanto mais que ela toma em onsiderao um grande nmero de pesquisas aindano publicadas sobre a causa e. quanto s razes biolgicas do conhecimento (cap.ii), no modificamos muito nosso ponto de vista desde a publicao de biologia econhecimento (gallimard, 1967), mas, como pudemos substituir essas 430 pginas pormenos de uma vintena, estamos certos de ser perdoados por este novo apelo sfontes orgnicas, que era indispensvel para justificar a interpretao propostapela epistemologia gentica das relaes entre o sujeito e os objetos. em poucas

    palavras se encontrar nestas pginas a exposio de uma epistemologia que naturalista sem ser positivista, que pe em evidncia a atividade do sujeito semser idealista, que se apia tambm no objeto sem deixar de consider lo como umlimite (existente, portanto, independentemente de ns, mas jamais completamenteatingido) e que, sobretudo, v no conhecimento uma elaborao contnua: esteltimo aspecto da epistemologia gentica que suscita mais problemas e so estesque se pretende equacionar bem assim como discutir exaustivamente. ' esta obraser citada sob o ttulo geral tudes com o nmero do volume em questo. (n. doa.) 133 captulo i a formao dos conhecimentos (psicognese) a vantagem que umestudo da evoluo dos conhecimentos desde suas razes apresenta (embora, nomomento, sem referncias aos antecedentes biolgicos) oferecer uma resposta

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    questo mal solucionada do sentido das tentativas cogni tivas iniciais. a serestringir s posies clssicas do problema, no se pode, com efeito, senoindagar se toda informao cognitiva emana dos objetos e

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    vem de fora informar o sujeito, como o supunha o empirismo tradicional, ou, se,pelo contrrio, o sujeito est desde o incio munido de estruturas endgenas queele imporia aos objetos, conforme as diversas variedades de apriorismo ou deinatismo. no obstante, mesmo a multiplicar os matizes entre as posies extremas(e a histria das idias mostrou o nmero dessas combinaes possveis), opostulado comum das epistemologias conhecidas supor que existem em todos osnveis um sujeito conhecedor de seus poderes em graus diversos (mesmo que eles sereduzam mera percepo dos objetos), objetos existentes como tais aos olhos dosujeito (mesmo que eles se reduzam a "fenmenos"}, e, sobretudo, instrumentos demodificao ou de conquista (percepes ou conceitos), determinantes do trajetoque conduz do sujeito aos objetos ou o inverso. ora, as primeiras lies daanlise psicogentica parecem contradizer essas pressuposies. de uma parte, oconhecimento no procede, em suas origens, nem de um sujeito consciente de simesmo nem de objetos j constitudos (do ponto de vista do sujeito) que a ele seimporiam. o conhecimento resultaria de interaes que se produzem a meio caminhoentre os dois, dependendo, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em decorrnciade uma indiferenciao completa e no de intercmbio entre formas distintas. deoutro lado, e, por conseguinte, se no h, no incio, nem sujeito, no sentidoepistemolgico do termo, nem objetos concebidos como tais, nem, sobretudo,instrumentos invariantes de troca, o problema inicial do conhecimento ser pois ode elaborar tais mediadores. a partir da zona de contato entre o corpo prprio e

    as coisas eles se empenharo ento sempre mais adiante nas duas direescomplementares do exterior e do interior, e desta dupla construo progressivaque depende a elaborao solidria do sujeito e dos objetos. com efeito, oinstrumento de troca inicial no a percepo, como os racionalistas demasiadofacilmente admitiram do empirismo, mas, antes, a prpria ao em sua plasticidademuito maior. sem dvida, as percepes desempenham um papel essencial, mas elasdependem em parte da ao em seu conjunto, e certos mecanismos perceptivos que sepoderiam acreditar inatos ou muito primitivos (como o "efeito tnel" de michotte)s se constituem a certo nvel da construo dos objetos. de modo geral, todapercepo chega a conferir significaes relativas ao aos elementos percebidos(j. bruner fala, nesse sentido, de "identificaes", cf. estudos, vol. vi, cap. i)e pois da ao que convm partir. distinguiremos a este respeito dois perodossucessivos: o das aes sensrio-motoras anteriores a qualquer linguagem ou a toda

    conceptualizao representativa, e o das aes completadas por estas novaspropriedades, a propsito dos quais se coloca ento o problema da tomada deconscincia dos resultados, intenes e mecanismos dos atos, isto , de suatraduo em termos de pensamento conceptualizado. i. os nveis sensrio-motores noque diz respeito s aes sensrio-motrizes, j. m. baldwin mostrou, h muito, queo lactente no manifesta qualquer ndice de uma conscincia de seu eu, nem de umafronteira estvel entre dados do mundo interior e do universo externo, "adualismo"este que dura at o momento em que a construo desse eu se torna possvel emcorrespondncia e em oposio com o dos outros. de nossa parte, fizemos notar queo universo primitivo no comportaria objetos permanentes at uma poca coincidentecom o interesse pela pessoa dos outros, sendo os primeiros objetos dotados depermanncia constitudos precisamente dessas personagens (resultados verificadoscom mincia por th. gouindcarie, em um estudo sobre a permanncia dos objetos

    materiais e sobre seu sincronismo com as "relaes objetais", neste sentidofreudiano do interesse por outrem). em uma estrutura de realidade que no comportenem sujeitos nem objetos, evidentemente o nico liame possvel entre o que setornar mais tarde um sujeito e objetos constitudo por aes, mas aes de umtipo peculiar, cuja significao epistemolgica parece esclarecedora. com efeito,tanto no terreno do espao como no dos diversos feixes perceptivos em construo,o lactente tudo relaciona a seu corpo como se ele fosse o centro do mundo, mas umcentro que a si mesmo ignora. em outras palavras, a ao primitiva exibesimultaneamente uma indiferenciao completa entre o subjetivo e o objetivo e umacentrao fundamental, embora radicalmente inconsciente, em razo de achar-seligada a esta indiferenciao. qual poderia ser, no entanto, o lao entre esses

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    dois aspectos? se existe uma indiferenciao entre o sujeito e o objeto ao pontoque o primeiro no se conhece nem mesmo como fonte de suas aes, por que seriamelas centradas no corpo prprio ao passo que a ateno estaria fixada no exterior?o termo "egocentrismo radical" de que nos valemos para designar esta centraopode, ao invs (malgrado nossas precaues), parecer evocar um eu consciente (e ainda mais o caso do "narcisismo" freudiano ao passo que se trata de um narcisismosem narciso). de fato, a indiferenciao e a centrao das aes primitivasimportam ambas em um terceiro aspecto que lhes geral: elas ainda no estocoordenadas

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    entre si, e 134 135 constituem, cada uma, um pequeno todo isolvel que ligadiretamente o corpo objeto (sugar, olhar, segurar, etc.). da decorre uma falta dediferenciao, pois o sujeito no se afirmar em seguida a no ser coordenandolivremente suas aes, e o objeto no se constituir a no ser se sujeitando ouresistindo s coordenaes dos movimentos ou posies em um sistema coerente. poroutro lado, como cada ao forma ainda um todo isolvel, sua nica refernciacomum e constante s pode ser o corpo prprio, donde uma centrao automticasobre ele, embora no desejada nem consciente. para verificar esta conexo entre afalta de coordenao das aes, a indiferenciao do sujeito e dos objetos e acentrao sobre o corpq prprio, basta lembrar o que se passa entre esse estadoinicial e o nvel dos 18 aos 24 meses, incio da funo semitica e dainteligncia representativa. neste intervalo de um a dois anos realiza-se, defato, mas ainda apenas no plano dos atos materiais, uma espcie de revoluocoprniciana que consiste em descentralizar as aes em relao ao corpo prprio,em considerar este como objeto entre os demais num espao que a todos contm e emassociar as aes dos objetos sob o efeito das coordenaes de um sujeito quecomea a se conhecer como fonte ou mesmo senhor de seus movimentos. com efeito (e esta terceira novidade que acarreta as duas outras), presencia-se, em primeirolugar, nos nveis sucessivos do perodo sensrio-motor, uma coordenao gradualdas aes. em lugar de continuar cada uma a formar um pequeno todo encerrado em simesmo, elas chegam, mais ou menos rapidamente, pelo jogo fundamentl das

    assimilaes recprocas, a se coordenar entre si at constituir esta conexo entremeios e fins que caracteriza os atos da inteligncia propriamente dita. nestaocasio que se constitui o sujeito na medida em que fonte de aes e pois deconhecimentos, por isso que a coordenao de duas dessas aes supe umainiciativa que ultrapassa a interdependncia imediata a que se restringiam ascondutas primitivas entre uma coisa exterior e o corpo prprio. mas coordenaraes quer dizer deslocar objetos, e, na medida em que esses deslocamentos sosubmetidos a coordenaes, o "grupo de deslocamentos" que se elaboraprogressivamente a partir desse fato permite, em segundo lugar, atribuir aosobjetos posies sucessivas, tambm estas determinadas. o objeto adquire, porconseguinte, certa permanncia espaotemporal donde a espacializao e objetivaodas prprias relaes causais. tal diferenciao do sujeito e dos objetos queacarreta a substanciao progressiva destes explica em definitivo esta inverso

    total das perspectivas, inverso esta que leva o sujeito a considerar seu prpriocorpo como um objeto no seio dos demais, em um universo espao-temporal e causaldo qual ele vem a tornar-se parte integrante na medida em que aprende a atuareficazmente sobre ele. em resumo, a coordenao das aes do sujeito, inseparveldas coordenaes espao-temporais e causais que ele atribui ao real, ao mesmotempo fonte das diferenciaes entre este sujeito e os objetos, e destadescentralizao no plano dos atos materiais que vai tornar possvel com oconcurso da funo semitica a ocorrncia da representao ou do pensamento. masessa coordenao mesma acarreta um problema epistemolgico,emboro ainda limitada aesse plano de ao, e a assimilao recproca invocada para esse fim um primeiroexemplo dessas novidades, a um tempo no predeterminadas e vindo a ser,entretanto, "necessrias", e que caracterizam o desenvolvimento dos conhecimentos.importa pois insistir nisto um pouco mais a partir do incio. a noo fundamental

    peculiar psicologia de inspirao empirista a da associao que, assinalada jpor hume, permanece muito em voga nos meios considerados comportamentistas oureflexolgicos, contudo, esse conceito de associao refere-se to-somente a umliame exterior entre os elementos associados, ao passo que a noo de assimilam(eludes, vol. v, cap. iii) implica a de integrao dos dados a uma estruturaanterior ou mesmo a constituio de nova estrutura sob a forma elementar de umesquema. no que se refere a aes primitivas, no coordenadas entre si, dois casosso possveis; no primeiro a estrutura preexiste por ser hereditria (por exemplo,os reflexos de suco) e a assimilao consiste apenas em incorporar-lhe novosobjetos no previstos na programao orgnica. no segundo caso, a situao imprevista: por exemplo, o lactente procura apreender um objeto pendurado, mas, no

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    admitido isto, a coordenao das aes por assimilao recproca que se tratava deapreender representa ao mesmo tempo uma novidade em relao ao que precede e umdesenvolvimento do mesmo mecanismo. pode-se reconhecer a duas fases, a primeiradas quais , sobretudo, um desenvolvimento: ela consiste em assimilar um mesmoobjeto a dois esquemas ao mesmo tempo, o que representa um comeo de assimilaorecproca. por exemplo, se o objeto balanado ou sacudido produz um som, podetornar-se alternada ou simultaneamente uma coisa a contemplar ou algo a escutar,donde uma assimilao recproca que conduz entre outras coisas a agitar seja quebrinquedo for para se dar conta de rudos que possa emitir. num caso como este opropsito e os meios permanecem relativamente indiferenciados, mas numa segundafase em que ressalta a novidade, a criana atribuir um objetivo ao seu gestoantes de poder atingi-lo e utilizar diferentes esquemas de assimilao a ttulode meios para o conseguir; abalar por meio de sacudidelas, etc., etc.; o teto dobero para fazer balanar os brinquedos sonoros que ali se penduram e quecontinuam inacessveis mo, etc. por modestos que sejam esses comeos, pode-sever neles um processo em curso que se desenvolver cada vez mais depois: aelaborao de combinaes novas por meio de uma conjuno de abstraes obtidas apartir dos prprios objetos ou, e isto fundamental, dos esquemas de ao que seexercem sobre eles. desse modo que o fato de reconhecer em um objeto penduradouma coisa a balanar comporta antes de mais nada uma abstrao a partir dosobjetos. por 136 137 outro lado, coordenar meios e fins respeitando a ordem de

    sucesso dos movimentos a realizar constitui uma novidade em relao aos atosglobais no seio dos quais meios e fins permanecem indiferenciados, mas estanovidade adquirida de modo natural a partir de tais atos por um processo queconsiste em extrair deles as relaes de ordem, ajustamento, etc., necessrias aesta coordenao. nesse caso a abstrao j no mais do mesmo tipo e se orientana direo daquilo que chamaremos abstrao refletidora. v-se desse modo que apartir do nvel sensrio-motor a diferenciao nascente do sujeito e do objeto seassinala ao mesmo tempo pela formao de coordenaes e pela distino entre duasespcies entre elas: de uma parte, as que reli gam entre si as aes do sujeito e,de outra as que dizem respeito s aes dos objetos uns sobre os outros. asprimeiras consistem em reunir ou dissociar certas aes do sujeito ou seusesquemas, as ajustar ou ordenar, p-las em correspondncia umas com as outras,etc., em outras palavras: elas constituem as primeiras formas dessas coordenaes

    gerais que esto na base das estruturas lgico-matemticas cujo desenvolvimentoulterior ser to considervel. as segundas vm a conferir aos objetos umaorganizao espao-temporal, cinemtica ou dinmica anloga das aes, e seuconjunto fica no ponto de partida dessas estruturas causais cujas manifestaessensrio-motoras so j evidentes e cuja evoluo subseqente to importantecomo a dos primeiros tipos. quanto s aes particulares do sujeito sobre osobjetos, em oposio s coordenaes gerais de que acabamos de tratar, elasparticipam da causalidade na medida em que nodificam materialmente esses objetosou a disposio deles (as condutas instrumentais, por exemplo) e do esquematismopr-lgico na medida em que elas dependem das coordenaes gerais de carterformal (ordem, etc.). desde antes da formao da linguagem, da qual certasescolas, como o positivismo lgico, exageraram a importncia quanto estruturaodos conhecimentos, v-se pois que estes se constituem no plano da prpria ao com

    suas bipolaridades lgico-matemtica e fsica, logo que, graas s coordenaesnascentes entre as aes, o sujeito e os objetos comeam a se diferenciar aoafinar seus instrumentos de intercmbio. mas estes permanecem ainda de naturezamaterial, porque constitudos de aes, e uma longa evoluo ser necessria atsua subjetivao em operaes. ii. o primeiro nvel do pensamento pr-operatriodesde as aes elementares iniciais, no coordenadas entre si e no suficientespara assegurar uma diferenciao estvel entre sujeito e objetos, s coordenaescom diferenciaes, realizou-se um grande progresso que basta para garantir aexistncia dos primeiros instrumentos de interao cognitiva. mas estes estosituados ainda num nico e mesmo plano: o da ao efetiva e atual, isto , norefletida num sistema conceptualizado. os esquemas de inteligncia sensrio-motora

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    no so, com efeito, ainda concitos, pelo fato de que no podem ser manipuladospor um pensamento e que s entram em jogo no momento de sua utilizao prtica ematerial, sem qualquer conhecimento de sua existncia enquanto esquemas, faltade aparelhos semiticos para os designar e permitir sua tomada de conscincia. coma linguagem, o jogo simblico, a imagem mental, etc., a situao muda, por outrolado, de modo notvel: s aes simples que garantem as interdependncias diretasentre o sujeito e os

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    as representaes, as distncias aumentam entre elas e seu objeto, no tempo comono espao, isto , a srie das aes materiais sucessivas, mas cada qualmomentnea, completada por conjuntos representativos suscetveis de evocar numtodo quase simultneo aes ou acontecimentos passados ou futuros assim comopresentes e especialmente distanciados assim como prximos. disso resulta, de umaparte, que desde os comeos deste perodo do conhecimento representativo pr-

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    operatrio assinalam-se progressos considerveis no duplo sentido das coordenaesinternas do sujeito, logo, das futuras estruturas operatrias ou lgico-matemticas, e coordenaes externas entre objetos, logo, causalidade no sentidoamplo com suas estruturaes espaciais e cinemticas. em primeiro lugar, comefeito, o sujeito torna-se rapidamente capaz de inferncias elementares, declassificaes em configuraes espaciais, de correspondncias, etc. em segundolugar, a partir do aparecimento precoce dos "por qu?" assiste-se a um incio deexplicaes causais. h pois a um conjunto de novidades essenciais em relao aoperodo sensrio-motor e no se poderiam tornar responsveis por elas apenas astransmisses verbais, porque os surdos-mudos, embora em retarde em relao aosnormais falta de incitaes coletivas suficientes, delas no apresentam menosestruturaes cognitivas anlogas s dos normais: trata-se pois de funosemitica em geral, proveniente do progresso da imitao (conduta sensrio-motoramais prxima da representao, mas em atos), e no linguagem apenas se deveatribuir este giro fundamental na elaborao dos instrumentos de conhecimento. emoutros termos, a passagem das condutas sensrio-motoras s aes conceptualizadasno se deve apenas vida social, mas tambm ao progrsso da inteligncia pr-verbal em seu conjunto e interiorizao da imitao

    139 em representaes. sem esses fatores prvios em parte endgenos, nem aaquisio da linguagem nem as transmisses e interaes sociais seriam possveis,

    pois que constituem delas uma das condies necessrias. mas, por outra parte,importa insistir tambm na questo dos limites dessas inovaes nascentes porque

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    subclasse da classe, por falta de uma norma para o "todos" e "alguns". ainda mais,em numerosas situaes da vida corrente ela ter dificuldade em distinguir diantede um objeto ou pessoa x se se trata de um mesmo termo individual x que permaneceidntico a si mesmo ou dum representante qualquer de x ou x'da mesma classe x: oobjeto permanece assim a meio caminho do indivduo e da classe por uma espcie departicipao ou de exemplaridade. por exemplo, uma meninazinha, jaquelina, ao veruma fotografia sua quando era menor, dir que " jaquelina quando ela era luciana(= sua irm caula)", ou

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    ento uma sombra ou uma corrente de ar produzidas sobre a mesa de experinciapodem ser tambm "a sombra de debaixo das rvores" ou "o vento" de fora comoefeito individual decorrente da mesma classe. assim tambm, em nossos estudossobre a identidade (vol. xxiv dos etudes), isto procede, no presente nvel, porassimilaes semigenricas s aes possveis mais que em se fundando sobre oscaracteres dos objetos: as prolas dispersas dum colar desfeito so "o mesmocolar" porque se pode refaz-lo, etc. quanto s pr-relaes, podem ser observadasem profuso nesse nvel. por exemplo, o sujeito a tem um irmo b, mas contesta queeste irmo b tenha um irmo, pois so apenas "dois na famlia". um objeto a est esquerd de b, mas no pode estar direita de outra coisa, porque, se est esquerda, trata-se de um atributo absoluto incompatvel com qualquer posio direita. se numa seriao tem-se a

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    coordenaes), no comporta menos limitaes essenciais, que fazem dela um termode passagem entre as aes e as operaes e no absolutamente ainda um instrumentode conquista imediata destas ltimas. com efeito, a funo constituinte no reversvel como tal, mas orientada e como carente de reversibilidade nocomporta portanto ainda conservaes necessrias. no exemplo do fio disposto emngulo reto, o sujeito sabe bem que puxando um dos segmentos, digamos a, o outro(b) diminui, mas

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    conclui que a maior que c desde que no os perceba simultaneamente. ou ainda, selhe so mostrados trs vidros de formas diferentes, a contendo um lquidovermelho, c um lquido azul, e b vazio e depois, se por trs de uma tela seentorna a em c e reciprocamente por intermdio de b, ao ver o resultado o sujeitosupe ento que ao mesmo tempo se entornou a diretamente em c e c em a sem passarpor b e tenta at efetuar esse cruzamento antes de constatar sua impossibilidade.esta falta de transitividade se encontra, por outro lado, no domnio dacausalidade no que respeita aos processos de transmisso mediata. no caso de umaaleira de esferas imveis na qual se movimenta a primeira por uma outra de modoque a ltima se destaque sozinha, pelo

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    impacto, os sujeitos nesse nvel no compreendem, como ser o caso no estgioseguinte, que uma parte do impulso atravessou as esferas intermedirias: supem,pelo contrrio, uma sucesso de transmisses imediatas como se cada umaimpulsionasse a seguinte por um movimento, maneira de esferas separadas noespao. quanto s transmisses imediatas de carter corrente, como no caso dochoque de uma bola contra uma outra ou contra uma caixa, etc., a transmisso comotal naturalmente compreendida, mas as direes seguidas pelos objetos mveispassivo e ativo aps o impacto dificilmente so previstas e explicadas. 144 145 1~. o primeiro nvel do estgio das operaes "concretas " a idade de 7 a 8 anos emmdia assinala um fato decisivo na elaborao dos instrumentos de conhecimento: asaes interiorizadas ou conceptualizadas com as quais o sujeito tinha at aqui dese contentar adquirem o lugar de operaes enquanto transformaes reversveis quemodificam certas variveis e conservam as outras a ttulo de invariantes. estanovidade fundamental devida uma vez mais ao progresso das coordenaes, vindo asoperaes se constituir em sistemas de conjunto ou "estruturas", suscetveis de sefecharem e por este fato assegurando a necessidade das composies que elascomportam, graas ao jogo das transformaes diretas e inversas. o problema que seapresenta ento o de explicar esta novidade que, ao mesmo tempo que apresentauma alterao qualitativa essencial, portanto uma diferena de natureza em relaoao que precede, no pode constituir um comeo absoluto e deve resultar, alis, detransformaes mais ou menos contnuas. no se observam, com efeito, nunca,

    comeos absolutos no curso do desenvolvimento e o que novo procede ou dediferenciaes progressivas, ou de coordenaes graduais, ou ambas ao mesmo tempo,como nos foi dado observar at aqui. quanto s diferenas de natureza que separamas condutas de um estgio das que precedem, no se as pode ento conceber senocomo uma passagem limtrofe cujos caracteres se torna necessrio interpretar emcada caso. viu-se um exemplo disso na passagem do sucessivo ao simultneo quetorna possvel a representao ao ensejo dos comeos da funo semitica. no casodo conhecimento das operaes encontramo-nos diante de um processo temporalanlogo, mas que envolve a fuso em um nico ato das antecipaes e retroaes, oque constitui a reversibilidade operatria. o exemplo da seriao particularmente claro nesse sentido. quando se trata de ordenar uma dezena devaretas pouco diferentes entre si (de maneira a necessitar comparaes de duas aduas), os sujeitos do primeiro nvel pr-opera trio procedem por pares (uma

    pequena e uma grande, etc.) ou por trios (uma pequena, uma mdia e uma grande,etc.) mas sem poder em seguida coorden-las numa srie nica. os sujeitos dosegundo nvel chegam a uma srie correta, mas atravs de apalpadelas e correo deerros. no presente nvel, pelo contrrio, utilizam no raro um mtodo exaustivoque consiste em procurar em primeiro lugar o elemento menor, em seguida o menordos que restam, etc. ora, v-se que este mtodo significa admitir de antemo queum elemento qualquer e ser ao mesmo tempo maior que os bastezinhos j colocados,seja e menor que d, c, b, a, e menor que aqueles que ainda no esto, isto , emaior que f, g, h, etc. a novidade consiste pois em utilizar as relaes "menorque" e "maior que", no com a excluso de uma pela outra, ou por alternncias nosistemticas no curso dos tateios, mas simultaneamente. com efeito, at a osujeito orienta suas manipulaes num nico sentido de percurso ("menor que" ou"maior que") e se acha embaraado a partir do momento em que surjam questes

    relativas ao outro sentido possvel, da por diante, pelo contrrio, sua prpriaelaborao leva em conta dois sentidos ao mesmo tempo (porque o elemento procuradoe concebido como sendo ao mesmo tempo "menor que d" e "rhaior que f") e elapassa sem dificuldade de um a outro: pois lcito dizer-se que neste caso aantecipao (orientada em um dos sentidos) e a retroao tornam-se solidrias, oque assegura a reversibilidade do sistemaa de modo geral, (e, se este fato e bemvisvel no caso da seriao, pode-se dizer a mesma coisa no caso dasclassificaes), a passagem no limiar que caracteriza o aparecimento das operaesem oposio com as regulaes simples pr prias dos nveis anteriores que, emlugar de proceder por correo com o passar do tempo, isto , depois que a aotenha sido executada materialmente, as operaes consistem em uma pr-correo dos

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    erros, graas ao dplice concurso das operaes diretas e inversas, em outraspalavras, como acabamos de ver, de antecipaes e retroaes combinadas, ou maisprecisamente de uma antecipao possvel das retroaes mesmas. neste particular,a operao constitui o que se chama s vezes em ciberntica uma regulao"perfeita". outra passagem limtrofe, de resto solidria com a precedente, a queconstitui o fechamento dos

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    sistemas. antes da seriao operatria o sujeito chegava a seriaes empricasobtidas atravs de apalpadelas; antes das classificaes operatrias comquantificao da incluso (a maior que b) o sujeito chegava a elaborar coleesfigurais ou mesmo no figurais; antes da sntese do nmero ele sabe j contar atcertos dgitos mas sem conservao do todo quando de modificaes figurais, etc.neste sentido a estrutura operatria final aparece como o resultado de um processoconstrutivo contnuo, mas a fuso das antecipaes e das retroaes, que acabamosde discutir, acarreta ento um fechamento do sistema sobre si mesmo, o que setraduz por uma novidade essencial: suas ligaes internas tornam-se por isso mesmonecessrias e j no consistem mais em relaes elaboradas sucessivamente semconexo com as precedentes. esta necessidade proveniente assim duma realpassagem limtrofe, porque um fechamento pode ser mais ou menos completo e apenas no momento em que ele total que produz essa particularidade deinterdependncias necessrias. estas se manifestam ento sob a forma de duaspropriedades solidrias, de ora em diante gerais em todas as estruturasoperatrias deste nvel: a transitividade e as conservaes. desnecessrio dizerpor evidente que a transitividade dos encaixamentos ou das relaes (a_< c se a

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    realidade trs momentos solidrios. o primeiro o de uma abstrao refletidoraque extrai das estruturas inferiores aquilo com que elaborar as superiores: porexemplo, a ordenao que constitui a serrao obtida das ordenaes parciais queintervm j na elaborao de pares, trios ou sries empricas; as reunies quecaracterizam as classificaes operatrias so obtidas de reunies parciais emao a partir das colees figurais e a formao dos conceitos pr-operatrios,etc. o segundo momento o de uma coordenao que visa a abarcar a totalidade dosistema e tende deste modo ao seu fechamento,

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    ligando entre si estas diversas ordenaes ou reunies parciais, etc. o terceiromomento ento o da auto-regulao de tal processo coordenador, conducente aequilibrar as conexes segundo os dois sentidos direto e inverso da construo, desorte que a chegada ao equilbrio caracteriza esta passagem limtrofe que engendraas novidades peculiares a estes sistemas em relao aos precedentes, e sobretudosua reversibilidade operatria. essas diversas fases se encontram em particular nasntese do nmero inteiro a partir das incluses de classes e das relaes deordem. o peculiar de um conjunto numrico ou enumervel, para no dizer numervel,em oposio a colees simplesmente classificveis ou seriveis, em primeirolugar fazer abstrao das qualidades dos termos individuais de tal modo que elesse tornem todos equivalentes. feito isto poder-se-ia, entretanto, distribu-los emclasses encaixadas (~) < + ~) < ( i + i + i)

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    grego, europeu, etc., em contrapartida, o nariz de scrates, pelo fato de fazerparte dele, nem por isso ateniense, grego ou europeu. o isomorfismo dessasoperaes lgico-aritmticas e infralgicas ou espaciais particularmentesignificativo no caso da elaborao da medida, que se efetua de maneira muitoanloga do nmero, mas com uma pequena defasagem no tempo pelo fato de que aunidade no sugerida pelo carter

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    descontnuo dos elementos, mas deve ser constituda por parcelamento do contnuo eantecipada como podendo ser referida de novo s demais partes do objeto. a medidaaparece ento (e pode-se seguir passo a passo nas condutas sucessivas as etapaslaboriosas dessa elaborao) como uma sntese do parcelamento e dos deslocamentosordenados, em estreito paralelo com a sntese do encaixamento e das relaes deordem na elaborao do nmero. apenas ao termo dessa nova sntese que a medidapode ser simplificada sob a forma de uma aplicao direta do nmero ao contnuoespacial, mas (salvo naturalmente se se oferecem unidades inteiramente feitas aosujeito) preciso passar pelo atalho infralgico necessrio para se chegar l. aessas multiplas conquistas que assinalam o primeiro nvel do estgio das operaesconcretas tornase necessrio acrescentar as que dizem respeito causalidade. domesmo modo como nos nveis properatrios esta ltima consis tia em primeiro lugarem atribuir aos objetos os esquemas de ao prpria (sob uma forma primeiramentepsicomrfica, e depois decompondo esses esquemas em funes objetivveis), tambma causalidade consiste a partir dos 7 a 8 anos em uma espcie de atribuio dasoperaes em si mesmas a objetos assim promovidos posio de operadores cujasaes tornam-se componveis de maneira mais ou menos racional. assim que nasquestes de transmisso do movimento a transitividade operatria se traduz pelaformao de um conceito de transmisso mediata "semi-interna": na medida em queadmite, por exemplo, que o mvel ativo pe em movimento o ltimo dos passivos,porque os mveis intermedirios se deslocaram ligeiramente para impulsionarem uns

    aos outros, o sujeito supor entretanto que um "impulso", uma "corrente", etc.,atravessou esses mediadores. nos problemas de equilbrio entre pesos, o sujeitoinvocar compensafes e equivalncias atribuindo aos objetos composies ao mesmotempo aditivas e reversveis. em resumo, pode-se falar de um incio de causalidadeoperatria, sem que isto signifique, de resto, que as operaes precedentementedescritas se constituam completamente autnomas para serem em seguida apenasatribudas ao real: , freqentes vezes pelo contrrio, por ocasio de uma buscade explicao causal que se efetuam simultaneamente a sntese operatria e suaatribuio aos objetos, por interaes variadas entre as formas operatriasdevidas abstrao refletidora e contedos obtidos da experincia fsica porabstrao simples e que podem favorecer (ou inibir) as estruturaes lgicas eespaciais. esta ltima observao leva a insistir agora sobre a questo doslimites peculiares a este nvel ou que caracterizam as operaes concretas em

    geral. contrariamente, com efeito, s operaes que chamaremos de formais ao nveldos 11 a 12 anos, e que se caracterizam pela possibilidade de raciocinar sobrehipteses distinguindo a necessidade das conexes devidas forma e verdade doscontedos, as operaes "concretas" recaem diretamente sobre os objetos: istoequivale, pois, ainda a agir sobre eles, como nos nveis pr-operatrios, masconferindo a essas aes (ou quelas que lhes so atribudas quando soconsideradas como operaes causais) uma estrutura operatria, isto , componvelde maneira transitiva e reversvel. sendo assim, portanto claro que certosobjetos se prestaro mais ou menos facilmente a esta estruturao, ao passo queoutros oferecero resistncia a ela, o que significa que a forma no poderia serdissociada dos contedos, e que as mesmas operaes concretas no se aplicariam ano ser com decalagens cronolgicas a contedos diferentes: assim que aconservao das quantidades, a seriao, etc., e mesmo a transitividade das

    equivalncias s vm a ser dominadas no caso do peso por volta dos 9 a 10 anos eno aos 7 a 8 anos como para os contedos simples, porque o peso uma fora e seudinamismo causal cria obstculos a essas estruturaes operatrias; e, no entanto,uma vez efetuadas estas, com os mesmos mtodos e os mesmos argumentos com que sedo as conservaes, seriaes ou transitividade de 7 a 8 anos. uma outralimitao fundamental das estruturas de operaes concretas que suas composiesprocedem por aproximao sucessiva e no conforme combinaes de qualquer tipo.este o aspecto essencial das estruturas de "gru pamentos", dos quais um exemplosingelo o da classificao. se a, b, c, etc., so classes encaixadas e a', b' ec' seus complementares sob a classe seguinte tem-se: 3) a+o=a 5)(a+a')+b'=a+(a'+b') porm: (a + a) - a ~ a + (a - a) porque: a - a = o e a + o = a. neste caso

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    uma composio no contgua tal como a + f' no d uma classe simples, mas chega a(g - e' - d' - c' - b' - a'). ainda o caso no "grupamento" de uma classificaozoolgica em que "a ostra + o camelo" no pode compor-se de outro modo. ora, umadas particularidades deste primeiro nvel das operaes concretas que at asntese do nmero que parece dever escapar a essas limitaes (pois que osinteiros formam um grupo com o zero e os negativos e no um grupamento), sprocede por aproximao. p.. grco demonstrou, de fato, que a elaborao dosnmeros naturais s se efetua segundo o que se poderia chamar de uma aritmetizao

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    progressiva cujas fases seriam mais ou menos caracterizadas pelos nmeros 1 a 7; 8a i5; 16 a 30 e assim por diante. alm dessas fronteiras cujo deslocamento muitolento, os nmeros no comportariam ainda seno aspectos inclusivos (classes) ouseriais, antes que se conclua a sntese desses dois caracteres (tudes, vol.xiii). ~. o segundo nvel das operaes concretas neste substgio (cerca de 9 a10 anos) atinge-se o equilbrio geral das operaes "concretas" alm das formasparciais j equilibradas desde o primeiro nvel. de resto, o degrau onde aslacunas prprias natureza mesma das opera es concretas comeam a fazer sentirem certos setores, sobretudo no setor da causalidade, e onde estes novosdesequilbrios preparam de algum modo o reequilbrio do conjunto que caracterizaro estgio seguinte e do qual se apercebem s vezes alguns esboos intuitivos. anovidade deste subestgio se assinala em particular no domnio das operaesintralgicas ou espaciais. assim que a partir dos 7 a 8 anos se vem constituircertas operaes relativas s perspectivas e s mudanas de ponto de vista no querespeita a um mesmo objeto do qual se modifica a posio em relao ao sujeito. emcontrapartida, ser apenas prximo aos 9 entre 10 anos que se poder falar de umacoordenao dos pontos de vista em relao a um conjunto de objetos, por exemplo,trs montanhas ou edificios que sero observados em diferentes situaes.analogamente, neste nvel as medidas espaciais de uma, duas ou trs dimensesengendram a construo de coordenadas naturais que as englobam num sistema total: igualmente apenas cerca de 9 e 10 anos que sero previstas a horizontalidade do

    nvel da gua num recipiente que se inclina, ou a verticalidade de um fo deprumo, prximo a uma parede oblqua. de modo geral trata-se em todos esses casosda construo de ligaes interfgurais alm das conexes intrafigurais queintervinham ss no primeiro subestgio, ou, se se preferir, da elaborao de umespao por oposio s simples figuras. do ponto de vista das operaes lgicas,pode-se notar o seguinte: a partir dos 7 a 8 anos o sujeito capaz de elaborarestruturas multiplicativas to bem quanto aditivas, a saber, tabelas com registrosduplos (matrizes) comportando classificaes segundo dois critrios ao mesmotempo, correspondncias seriais ou seriaes duplas (por exemplo, folhas de rvoreseriadas na vertical conforme seu tamanho e na horizontal conforme seus matizesmais ou menos escuros). contudo, trata-se no caso mais de sucesso em relao questo proposta ("dispor as figuras o melhor possvel", sem sggesto sobre adisposio a encontrar) do que de uma utilizao espontnea da estrutura. ao nvel

    dos 9 a 10 anos, por outro lado, quando se tratar de separar as dependnciasfuncionais num problema de induo (por exemplo entre os ngulos de reflexo e deincidncia), observa-se uma capacidade geral de destacar covariaesquantitativas, sem ainda dissociar os fatores como ser o caso no estgioseguinte, mas pondo em correspondncia relaes seriadas ou classes. o mtodo dconta de uma estruturao operatria eficaz, por mais global que possa ficar oprocedimento enquanto as variveis permaneam insuficientemente distintas.analogamente, assiste-se a um progresso lquido na compreenso das intersees: aopasso que o produto cartesiano representado por matrizes de registro duplo facilmente apreendvel desde o nvel de 7 a 8 anos, na medida em que estruturamultiplicativa completa (e isto quase ao mesmo tempo que o manejo de classesdisjuntas em um grupamento aditivo), a interseo de duas ou muitas classes nodisjuntas s dominada no presente nvel assim como em muitos casos ainda a

    quantificao da incluso ab maior que b, no domnio causal, por outro lado, estenvel de 9 a 10 anos apresenta uma mistura bastante curiosa de progressos notveise de lacunas no menos signifcativas que se apresentam no raro at como espciesde regresses aparentes. a comear pelos progressos, as consideraes dinmicas ea cinemtica fcariam at ento indiferenciadas, pelo fato de que o prpriomovimento com sua velocidade era considerado como uma espcie de fora, muitasvezes chamada "impulso": no nvel de 9 a 10 anos, porm, assiste-se a umadissociao e a uma coordenao tais que os movimentos e sobretudo suas alteraesde velocidade exigem a interveno de uma causa exterior, o que se pode simbolizarcomo segue em termos de ao, isto , da fora f se exercendo durante um tempo t epor uma distncia e (isto : fte): fte = dp no sentido de fte -> dp, em que dp =

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    d(mv) e no m dv, ao passo que no nvel precedente tem-se simplesmente fte --_ dpou mesmo fte --_ p. s no estgio seguinte intervir a acelerao (cf. f = ma).por outro lado, a diferenciao da fora e do movimento conduz a certosprogressos, direcionais ou pr-vetoriais, dando conta ao mesmo tempo do sentidodas impulses ou traes do mvel ativo e da resistncia dos mveis passivos(concebida como uma freada sem ainda noes de reaes). no caso do peso esteprogresso

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    bem patente. por exemplo, uma haste em posio oblqua dever por essa razo cairno sentido da sua inclinao, ao passo que no presente nvel ela caiverticalmente. preciso doravante mais fora para fazer um vago subir num planoinclinado do que para o manter parado, ao passo que no nvel precedente era ocontrrio porque, retido, o vago tem tendncia a descer ao passo que se se fazcom que suba ele no desce mais! e sobretudo a horizontalidade da superficie dagua de ora em diante explicada pelo peso do lquido (at ento considerado levedevido a ser mvel) e por sua tendncia a descer, o que exclui as desigualdades dealtura: v-se neste ltimo caso a interdependncia estreita das construesespaciais interfigurais (coordenadas naturais) e do progresso causal que fazintervir foras e direes que no dependem mais como at ento das interaesapenas entre a gua e seu recipiente. mas o preo dessa evoluo da causalidade que o sujeito levanta uma srie de novos problemas dinmicos sem os poder dominar,donde, s vezes, uma aparncia de regresso. por exemplo, pelo fato de que o pesocai doravante vertical mente, o sujeito admitir de bom grado que ele pesa maisembaixo de um fio do que no alto (quando no o inverso em vista de sua quedaprxima. . .). ou, ainda, pensar que o peso de um corpo aumenta com sua impulsoe diminui com sua velocidade, como se, de p = mv, se tirasse m = p:v, etc. torna-se evidente ento que tais suposies causam obstculo s composies aditivas,etc., donde reaes parecerem regressivas. o sujeito sai-se airosamente aodistinguir dois aspectos ou domnios. de uma parte ele considera o peso enquanto

    propriedade invariante dos corpos: com efeito, a conservao do peso por ocasiodas mudanas de forma do objeto comea precisamente neste nvel, assim como asseriaes, transitividade e outras composies operatrias aplicadas a esta noo.mas, por outro lado, julga suas aes variveis, ao sustentar simplesmente que emcertos casos o peso "d" ou "pesa" (ou "puxa", etc.) mais que em outros, o que no falso, mas continua incompleto e arbitrrio, pois que no haver, como noestgio seguinte, composio do peso com as grandezas espaciais (comprimentos,superfcies ou volumes com as noes de momento, de presso, densidade ou pesorelativo, e sobretudo de trabalho). no todo, o segundo nvel do estgio dasoperaes concretas apresenta uma situao paradoxal. at aqui assistimos,partindo de um nvel inicial de indiferenciao entre sujeito e objeto, aprogressos complementares e relativamente equiva lentes nas duas direes dacoordenao interna das aes depois das operaes do sujeito, e a coordenao

    externa das aes primeiramente psicomrficas depois operatrias atribudas aosobjetos. em outros termos, observamos, nvel por nvel, duas espcies de evoluoestreitamente solidrias: a das operaes lgico-matemticas e a da causalidade,com influncia constante das primeiras sobre a segunda do ponto de vista dasabribuies de uma forma a um contedo e influncia recproca do ponto de vistadas facilidades ou resistncias que o contedo oferece ou ope forma. quant aoespao, participa desses dois movimentos ou naturezas, suscitando ao mesmo tempooperaes geomtricas ou infralgicas do sujeito e propriedades estticas,cinemticas e mesma dinmicas do objeto, donde seu papel constante de rgo deligao. ora, neste segundo subestgio do estgio das operaes concretasencontramo-nos diante de uma situao que, ao mesmo tempo prolongando asprecedentes, comporta a novidade que vem a seguir. de uma parte, as operaeslgico-matemticas, inclusive as espaciais, chegam por suas generalizaes e seu

    equilbrio a um estado de extenso e utilizao mximas, porm sob sua forma muitolimitada de operaes concretas com tudo o que comporta de restries asestruturas d "grupamentos" (quanto s classes e s relaes), escassamenteultrapassadas pelos incios da aritmetizao e da geometrizao mtrica. por outrolado, o desenvolvimento das pesquisas e mesmo explicaes causais, em patenteprogresso sobre as do primeiro estgio (de 7 a 8 anos), conduz o sujeito alevantar um conjunto de problemas de cinemtica e dinmica que ainda no est emcondies de resolver com os meios operatrios de que dis pe. segue-se ento, eeis o que novo, uma srie de desequilbrios fecundos, sem dvida anlogosfuncionalmente queles que intervm desde os incios do desenvolvimento, mas cujoalcance bem maior para as estruturaes ulteriores: eles conduziro, com efeito,

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    a completar estruturas operatrias j construdas e pela primeira vez estveis,construindo sobre sua base "concreta" essas "operaes sobre operaes" ouoperaes elevadas segunda potncia que constituiro as operaes proposicionaisou formais, com sua propriedade combinatria, seus grupos de quaternalidade, suasproporcionalidades e distributividades e tudo o mais que estas novidades tornampossvel no terreno da causalidade. vi. as operaes formais com as estruturasoperatrias "formais" que comeam a se constituir por volta dos 11 a 12 anos,chegamos terceira grande fase do processo que leva as operaes a se libertaremda durao, isto , do contexto psicolgico das aes do sujeito com aquelas quecomportam dimenses causais alm de

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    suas propriedades implicadoras ou lgicas, para atingir finalmente esse aspectoextemporneo que peculiar das ligaes lgico-matemticas depuradas. a primeirafase era a da funo semitica (cerca de 1 i/2 a 2 anos) que, com a subjetivizaoda imitao em imagens e a aquisio da linguagem, permite a condensao das aessucessivas em representaes simultneas. a segunda grande fase a do incio dasoperaes concretas que, ao coordenar as antecipaes e as retroaes, chegam a uma reversibilidade suscetvel de traar retrospectivamente o curso do tempo egarantir a conservao dos pontos de partida. mas se se pode, neste particular,falar j de uma mobilidade conquistada sobre a durao, ela permanece ligada aaes e manipulaes que em si so sucessivas, pois que se trata de fato deoperaes que continuam "concretas", isto , que recaem sobre os objetos e astransformaes reais. as operaes "formais" assinalam, por outro lado, umaterceira etapa em que o conhecimento ultrapassa o prprio real para inserir-se nopossvel e para relacionar diretamente o possvel ao necessrio sem a mediaoindispensvel do concreto: ora, o possvel cognitivo, tal como, por exemplo, aseqncia infinita de nmeros inteiros, a potncia do contnuo ou simplesmente asdezesseis operaes resultantes das combinaes de duas proposies p e q e desuas negaes, essencialmente extemporneo, em oposio ao virtual 6sico cujasrealizaes se deslocam no tempo. com efeito, a primeira caracterstica dasoperaes formais a de poder recair sobre hipteses e no mais apenas sobre osobjetos: esta novidade fundamental da qual todos os estudiosos do assunto

    notaram o aparecimento perto dos 11 anos. ela porm implica uma segunda, no menosessencial: como as hipteses no so objetos, so proposies, e seu contedoconsiste em operaes intraproposicionais de classes, relaes, etc., do que sepoderia oferecer a verificao direta; o mesmo se pode dizer das conseqnciastiradas delas pela via inferencial; por outro lado, a operao dedutiva que levadas hipteses s suas concluses no mais do mesmo tipo, mas interproposicional e consiste pois em uma operao 154 155 efetuada sobreoperaes, isto , uma operao elevada segunda potncia. ora, esta umacaracterstica muito geral das operaes que devem atingir este ltimo nvel parase constituir, desde que se trate de utilizar as implicaes, etc., a lgica dasproposies ou de elaborar relaes entre relaes (propores, distributividade,etc.), de coordenar dois sistemas de referncia, etc. este poder de formaroperaes sobre operaes que permite ao conhecimento ultrapassar o-real e que lhe

    abre a via indefinida dos possveis por meio da combinatria, libertando-se entodas elaboraes por aproximao s quais per manecem submetidas as operaesconcretas. com efeito, as combinaes n a n constituem de fato uma classificaode todas as classificaes possveis, e as operaes de permutao vm a ser umaseriao de todas as seriaes possveis, etc. uma das novidades essenciais dasoperaes formais consiste assim em enriquecer os conjuntos de partida, elaborando"conjuntos de partes" ou simplexos2 que repousam sobre uma combinatria. sabe-seem particular que as operaes proposicionais comportam esta estrutura, assim comoa lgica das classes em geral quando ela se liherta das limites peculiares aos"grupamentos" iniciais, donde a construo de "redes". v-se portanto a unidadeprofunda de algumas novidades indicadas at este ponto. existe porm uma outra que tambm fundamental e que a anlise dos fatos psicolgicos nos permitiu pr emevidncia nos anos 1948-1949 antes que os estudiosos da lgica por sua parte se

    interessassem por esta estrutura: a unio em um nico "grupo quaternrio" (grupode klein) das inverses e reciprocidades no seio das combinaes proposicionais~(ou de um "conjunto de partes" em geral), no seio das operaes concretas existemduas formas de reversibilidade: a inverso ou negao que chega a anular um termo,por exemplo, +a - a = o, e a reciprocidade (a = b e b = a, etc.) que chega aequivalncias, portanto a uma supresso de diferenas. mas, se a inversocaracteriza os grupamentos de classe e a reciprocidade caracteriza os grupamentosde relaes, no existe absolutamente ainda no nvel das operaes concretassistema de conjunto unindo essas transformaes em um nico todo. por outro lado,no nvel da combinao proposicional, toda operao como p ~ q comporta umainversa n, a saber p . q e uma recproca r, isto , p ~ q = q ~ p, assim como uma

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    correlativa c (isto , p. q por permutao das disjunes e conjunes na suaforma normal) que o inverso de sua recproca. tem-se ento um grupo comutativo,nr - c; cr = n; cn = r e nrc = i, cujas transformaes so operaes terceirapotncia pois as operaes que elas renem desse modo so j de segunda potncia.este grupo, do qual o sujeita no tem naturalmente conscincia alguma enquantoestrutura, exprime todavia aquilo que ele vem a ser capaz de fazer todas as vezesque distingue uma inverso e uma reciprocidade para as compor entre si. porexemplo, quando se trata de coordenar dois sistemas de referncia, no caso de um

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    mvel a se deslocando sobre um suporte b, o objeto a pode ficar no mesmo ponto emreferncia com o exterior seja por inverso ' neologismo cuja significao sedepreende do presente contexto. (n, do t.) de seu movimento, seja por compensaoentre seus deslocamentos e os do suporte: ora, tais composies no soantecipadas seno no presente nvel e implicam o grupo inrc. igualmente osproblemas de proporcionalidade, etc., partindo de propores lgicas inerentes aeste grupo(i: n:: c: r; etc.). o conjunto dessas novidades, que permitem enfimfalar-se de operaes lgico-matemticas autnomas e bem diferenciadas das aesmatemticas com sua dimenso causal, acompanha-se de um conjunto correlativotambm frtil no domnio da prpria causalidade, pois, na medida mesma destadiferenciao se estabelecem relaes de coordenao e mesmo de apoio mtuo sobredois degraus pelo menos e de um modo que se aproxima cada vez mais dosprocedimentos do prprio pensamento cientfico. o primeiro desses degraus o daprpria observao dos dados da experincia fisica (no sentido amplo), pois(voltaremos a isto no captulo iii) no existe experincia pura no sentido doempirismo e os fatos s so acessveis quando assimilados pelo sujeito, o quepressupe a interveno de instrumentos lgicomatemticos de assimilaoconstrutora das relaes que enquadram ou estruturam esses fatos e do mesmo modoos enriquecem. neste sentido, evidente que os instrumentos operatrioselaborados pelo pensamento formal permitem a observao de um grande nmero denovidades dadas pela experincia, quando no, pelo menos permitindo coordenar dois

    sistemas de referncia. mas no h, neste caso, processo em sentido nico, pois,se uma forma operatria sempre necessria para estruturar os contedos, estespor sua vez podem no raro favorecer a elaborao de novas estruturas adequadas. em particular o caso no domnio das leis de forma proporcional, ou dadistributividade, etc. se esse primeiro degrau pois o das operaes aplicadas aoobjeto e garante entre outras coisas a induo das leis fisicas elementares, osegundo degrau ser o da prpria explicao causal, isto , das operaesatribudas aos objetos. neste sentido observa-se no presente nvel o mesmoprogresso macio no domnio da causalidade que no das operaes lgico-matemticas. ao papel geral do possvel neste ltimo terreno corresponde >jo planofsico o do virtual, permitindo compreender que as foras continuam a intervir numestado imvel, ou que em um sistema de diversas foras cada uma conserve sua ao,ao mesmo tempo a compondo com a das demais; a esses conceitos que ultrapassam as

    fronteiras do observvel se liga at a noo de transmisses puramente "internas"sem deslocamento molar dos intermedirios. elaborao de operaes sobreoperaes ou de relaes de relaes correspondem entre outras as relaes novas,do segundo grau, entre um peso ou uma fora e grandezas espaciais: a densidade emgeral e as relaes entre peso e volume na flutuao, a presso quanto asuperficies, ou o momento e sobretudo o trabalho quanto ao que respeita a extensoou distncias percorridas. aos esquemas combinatrios e estrutura operatria doconjunto das partes corresponde, de uma parte, a noo espacial dum contnuo queocupa o interior das superfcies (at ento sobretudo concebidas em funo de seupermetro) e dos volumes: donde a importncia neste estgio da considerao dosvolumes (sua conservao ao ensejo das alteraes de forma s comea neste 156nvel), de suas relaes com o peso e modelos corpusculares que permitam equip-lode elementos inobservveis mais ou menos "apertados". por outro lado, a esses

    esquemas correspondem os incios da composio vetorial das direes, ao passo quea compreenso das imensidades garantida pelas transformaes da noo de foratornadas possveis, como acabamos de ver, pela interveno do virtual. ao grupoinrc corresponde finalmente a compreenso de um conjunto de estruturas fsicas,entre as quais as de ao e reao: por exemplo, o sujeito compreender, em umaprensa hidrulica, que o aumento de densidade do lquido escolhido se ope descida do pisto, em lugar de a facilitar como ele pensava at ento; ou ento seo experimentador e ele mesmo comprimem cada um uma moeda dos dois lados de umpedao de massa poder prever que as profundezas sero iguais porque a pressesno iguais entre si se opem resistncias sempre equivalentes. neste caso, tanto apreviso dos sentidos opostos (digcil no que diz respeito ao lquido) como a

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    estimativa das foras supem a diferenciao e a coordenao das reciprocidades edas inverses, portanto um grupo isomorfo ao inrc. em geral, este ltimo nvelapresenta um aspecto marcante em continuidade alis com o que nos ensina toda apsicognese dos conhecimentos a partir das indiferenciaes iniciais (descritas no i): na

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    medida em que se interiorizam as operaes lgico-matemticas do sujeito graas sabstraes refletidoras que elaboram operaes sobre outras operaes e na medidaem que finalmente atingida esta extemporaneidade que caracteriza os conjuntos detransformaes possveis e no mais apenas reais que o mundo fsico e seudinamismo espaotemporal, englobando o sujeito como uma parte nfima entre asdemais, comea a tornar-se acessvel a uma observao objetiva de certas de suasleis e sobretudo a explicaes causais que foram o esprito a uma constantedescentrao na sua conquista dos objetos. em outros termos, o dplice movimentode interiorizao e de exteriorizao que comea desde o nascimento vem a garantireste acordo paradoxal de um pensamento que se liberta enfim da ao material e deum universo que engloba esta ltima mas a ultrapassa de todas as partes. no hdvida de que a cincia nos colocou h muito diante dessas convergnciassurpreendentes entre a deduo matemtica e a experincia, mas impressionanteconstatar que em nveis bem inferiores do das tcnicas formalizantes eexperimentais uma inteligncia ainda muito qualitativa e mal aberta ao clculochegue a correspondncias anlogas entre essas tentativas de abstrao e seusesforos de observao embora pouco metdicas. sobretudo instrutivo constatarque este acorda fruto de longas sries correlativas de construes novas e nopredeterminadas, partindo de um estado de confuso indiferenciada de ande aospoucos se destacam as operaes do sujeito e a causalidade do objeto. , captuloii as condies orgnicas prvias biognese dos conhecimentos se nos restringimos

    s explicaes "genticas" sem recorrer ao transcendental, a situao que vimos dedescrever parece no poder comportar seno trs interpretaes. a primeiraconsistiria em admitir que, malgrado a oposo apa rente das direes seguidaspela evoluo das operaes lgico-matemticas, em sua interiorizao progressiva,e pela da experincia e da causalidade gsicas, em sua exteriorizao, seu acordocada vez mais estreito proviria todavia dos dados ecgenos fornecidos pelacoeres do real e do "meio". a segunda equivaleria a atribuir esta convergnciagradual a uma fonte comum que seria hereditria, e a procurar desse modo a soluono sentido de um compromisso entre o apriorismo e a gentica biolgica, maneirade k. lorenz, e considerando ento como ilusrios os aparecimentos de novidadesincessantemente elaboradas que o construtivismo adotado no captulo precedentesugere. a terceira aceitaria tambm a idia de uma fonte comum, considerando adplice construo dos conhecimentos lgico-matemticos e fsicos dos quais se

    trata de dar conta, e sobretudo a necessidade intrnseca atingida pelas primeiras,como relacionadas igualmente a mecanismos biolgicos prvios psicognese, massuscitando auto-regulaes mais gerais e mais fundamentais que as prpriastransmisses hereditrias, pois estas so sempre especializadas e sua sgniflcaopara os processos cognitivos se atenua com a evoluo dos organismos "superiores"em lugar de se reforar. nos trs casos, o problema epistemolgico deve pois sercolocado agora em tennos biolgicos, o que indispensvel na perspectiva de umaepistemologa gentica, visto que a psicognese permanece incompreensvel a menosque se recue s suas razes orgnicas. 1. o empirismo lamarckiano a primeira dastrs solues precedentes apresenta uma significao biolgica evidente. semdvida os psiclogos (comportamentistas e outros) que atribuem todos osconhecimentos a aprendizagens em funo da experincia, e os epistemologistas(positivismo lgic) que no vem nas operaes lgico-matemticas mais que

    simples linguagem destinada a traduzir os dados da experincia sob uma forma em simesma tautolgica, no se preocupam com as incidncias biolgicas que suasposies comportam. mas a primeira das questes que nos 158 159 necessriocolocar precisamente a de saber se eles esto certos, esta seria inatacvel se opostulado que eles admitem implicitamente fosse fundamentado: que o conhecimento,sendo de natureza "fenotpica", isto , relacionado ao desenvolvimento somticodos indivduos, no suscita mecanismos biogenticos, os quais diriam respeitoapenas ao genmio e s transmisses hereditrias. mas sabe-se hoje que taldistino nada tem de absoluto, e isto por inmeras razes das quais damos duasprincipais. a primeira que o fentipo o produto de uma interao contnuaentre a atividade sinttica do genmio no curso do crescimento e as influncias

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    exteriores. a segunda que, para cada influncia do meio suscetvel de serdiferenciada e mensurada, pode-se determinar em um gentipo dado sua "norma dereao" que fornece a amplitude e a distribuio das variaes individuaispossveis: ora, as aprendizagens cognitivas so, tambm elas, submetidas a taiscondies e d. bovet o provou com ratos

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    por uma dupla anlise de certas linhagens genticas e das possibilidades bemdiferentes de aquisies sensrio-motrizes correspondendo respectivamente a essasdiversas hereditariedades, isto posto, a hiptese que unificaria todo conhecimentoa apenas os efeitos da experincia corresponderia biologicamente a uma doutrinaabandonada h muito tempo neste terreno, no porque fosse falsa no que afirmava,mas porque desprezava o que veio a revelar-se essencial compreenso das relaesentre o organismo e o meio: trata-se da doutrina lamarckiana da variao e daevoluo. pouco depois que hume procurou a explicao dos fatos mentais nosmecanismos do hbito e da associao, lamarck via igualmente nos hbitoscontrados sob a influncia do meio ambiente o fator explicativo fundamental dasvariaes morfogenticas do organismo e da formao dos rgos. sem dvida falavaele tambm de um fator de organizao, mas no sentido de um poder de associao eno de composio e o essencial das aquisies atinha-se para ele maneira pelaqual os seres vivos recebiam, ao modificar seus hbitos, as marcas do meioexterior. certo que essas teses no eram erradas, e, no que respeita sinfluncias do meio, a moderna "gentica das populaes" no fez em definitivoseno substituir uma ao causal direta dos fatores externos sobre as unidadesgenticas indivi duais (hereditariedade do adquirido no sentido lamarckiano) pelanoo de aes probabilistas (seleo) de um conjunto de fatores externos sobresistemas de pluriunidades (coeficiente de sobrevivncia de reproduo, etc,, daunidade gentica ou dos gentipos diferenciados) dos quais esses fatores modificam

    as propores. mas o que faltava essencialmente a lamarck eram as noes de umpoder endgeno de mutao e de recombinao e sobretudo de um poder ativo deautoregulao. resulta disto que quando waddington ou dobzhansky e outros nosapresentam hoje o fentipo como uma "resposta" do genmio s incitaes do meio,esta resposta no significa que o organismo tenha simplesmente sofrido a marca deuma ao externa, mas que tenha havido interao no sentido pleno do termo, isto, que, em conseqncia de uma tenso ou de um desequilbrio provocados por umaalterao do meio, o organismo inventou por combinaes uma soluo originalconducente a um novo equilbrio. ora, a comparar esta noo de "resposta" quelade que por muito tempo se serviu o comportamentismo em seu famoso esquemaestmulo-reposta (s--,r), verifica-se com surpresa que os psiclogos dessa escolaconservaram um esprito estritamente lamarckiano e desdenharam a revoluobiolgica contempornea. resulta disto que as noes de estmulo e de resposta

    devem, mesmo se se conserva esta linguagem que cmoda, sofrer profundssimasreorganizaes que modificam totalmente sua interpretao, com efeito, para que oestmulo desencadeie certa resposta, necessrio que o sujeito e seu organismosejam capazes de a fornecer, da a questo prvia ser quanto a esta capacidade,que corresponde ao que waddington chamou "competncia" no terreno da embriognese(em que esta ~ompetncia se define pela sensibilidade aos "indutores"). noprincpio no est pois o estmulo, mas a sensibilidade ao estmulo e este dependenaturalmente da capacidade de dar uma resposta3, o esquema deve portanto serescrito no s--~r mas s = r ou mais rigorosamente s (a) r em que a representa aassimilao do estmulo a certo esquema de reao que fonte da resposta. estamodificao do esquema s-r no decorre absolutamente de simples questo de rigorou de conceptualizao terica; ela advm do que nos parece ser o problema centralda evoluo cognitiva. na perspectiva exclusivamente lamarckiano do

    comportamentismo, a resposta no passa de uma espcie de "cpia funcional" (hull)das seqncias peculiares aos estmulos, portanto simples rplica do estmulo, aconseqncia disto que o processo fundamental de aquisio a aprendizagemconcebida sobre o modo empirista de registro dos dados externos. se isto certo,seguir-se-ia ento que o desenvolvimento em seu conjunto deveria ser concebidocomo a resultante de uma seqncia ininterrupta de aprendizagens assiminterpretadas. se, pelo contrrio, o fato fundamental de partida a capacidade defornecer certas respostas, portanto a "competncia", resultaria inversamente que aaprendizagem no seria a mesma nos diferentes nveis do desenvolvimento (o queprovam j as experincias de b. inhelder, h. sinclair e m, bovet) e que eledependeria essencialmente da evoluo das "competncias". o verdadeiro problema

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    seria ento o de explicar este desenvolvimento, e a aprendizagem no sentidoclssico do termo no bastaria para isso, assim como o lamarckismo no conseguiudar conta da evoluo (cf, os vols. vii a x dos etudes). ii. o inatismo se ahiptese das aprendizagens exgenas dominou amplamente os trabalhos das geraesprecedentes, assiste-se hoje no raro a uma inverso das perspectivas, como se arejeio do empirismo de forma (lamarckiana ou o que os autores americanos chamamo "ambientalismo") conduzisse necessariamente ao inatismo

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    a mencionemos que k. h. pribram ps em evidncia a existncia de um contrulecortical (regircs associativas) dos inputs que "dspem previamente o mecanismoreceptor de tal sorte que certos inputs tornam-se estmulos e que outros passamser desprezados" (congresso inter. psicol. 1loscou, vol. xvlll, p. 1841. o prpriopretenso "arco" reflexo nu mais considerado um arco s ~r mas cunstiwi umservomecanismo, um "anel homeosttieo de feedback ". (n. do a.) 160 161 (ou ao"maturacionismo"), o que redunda em esquecer que entre os dois podem subsistirinterpretaes base de interaes e de auto-regulaes.' assim que o grandelingista n. chomsky prestou o servio psicologia de fornecer uma crticadecisiva das interpretaes de skinner e de mostrar a impossibilidade de um~aprendizado da linguagem por modelos comportamentistas e associacionistas. noentanto, concluiu ele que sob as transformaes de suas "gramticas geradoras"descobria-se finalmente um "ncleo fixo inato" que compreende certas estruturasnecessrias tais como a relao do sujeito com o predicado. ora, se isto suscitadesde j um problema, do ponto de vista biolgico, de explicar a formao decentros cerebrais que tornam simplesmente possvel a aquisio da linguagem, atarefa torna-se ainda bem mais rdua se se trata de centros que contenham deantemo as formas essenciais da lngua e da razo. do ponto de vista psicolgico,por outro lado, a hiptese intil, pois, se chomsky est certo em apoiar alinguagem sobre a inteligncia e no o inverso, basta nesse sentido recorrer inteligncia sensrio-motora cujas estruturaes, anteriores palavra, supem sem

    dvida um amadurecimento do sistema nervoso, porm bem mais ainda uma seqncia deequilbrios decorrentes de coordenaes progressivas e autoregulaes (captulo i, 1). com o clebre etologista k. lorenz, o inatismo das estruturas deconhecimento generalizado segundo um estilo que ele pretendia explicitamentekantiano: as "categorias" do saber seriam biologicamente prformadas a ttulo decon dies preliminares a toda experincia, maneira como as patas do cavalo e asnadadeiras dos peixes se desenvolvem na embriognese em virtude de uma programaohereditria e bem antes que o indivduo (ou o fentipo) possa fazer uso delas,mas, como a hereditariedade varia de uma espcie a outra, evidente que, se essesa priori conservam a noo kantiana de "condies prvias", sacrificam o essencialque a necessidade intrnseca de tais estruturas assim como sua unidade, e lorenzo reconhece honestamente, pois as reduz categoria de simples '`hipteses detrabalho inatas". v-se assim a oposio completa entre esta interpretaaa c n

    que ,ustent~tmus. .egun~lo a yual as estruturas de conhecimento tornam-senecessrias, porm ao cabo de seu desenvolvimento, sem o ser desde o incio, e nocomportam programao prvia. ora, se a hiptese de lorenz est em completo acordocom o neodarwinismo ortodoxo, ela fornece um argumenta a mais em favor dacondenao desta biologia demasiado estreita. esta , com efeito, amplamenteultrapassada pelas concep es atuais de ch. waddington sobre o "sistemaepigentico" ou aquilo que mayr chamou depois de "epigentico". as noes atuaissabre o fentipo no-lo apresentam de fato como o produto de uma interaoindissocivel, desde a embriog nese, entre os fatores hereditrios e a influnciado meio, de tal sorte que impossvel traar uma fronteira fixa (e ainda menos noplano dos comportamentos cognitivos) entre o que inato e o que adquirido,visto que entre os dois se acha a zona essencial das auto-regulaes peculiares aodesenvolvimento. de fato, no terreno dos esquemas cognitivos inclusive sensrio-

    motores (porm com exceo do instinto, sobre o que voltaremos a falar), ahereditariedade e a maturao se limitam a determinar as zonas dasimpossibilidades ou das possibilidades de aquisio. mas esta exige ento emacrscimo uma atualizao que em si mesma comporta contribuies externas devidasa experincias, portanto ao meia, e uma organizao progressiva e internasuscitando auto-regulao. de modo geral, se necessrio, para dar conta doscomportamentos cognitivos (como alis de toda modificao do organismo), apelarpara fatores endgenos, que o empirismo despreza, no se poderia concluir dissoque tudo o que endgeno decorre de uma programao hereditria, restam portantoa considerar os fatores de auto-regulaes, que so igualmente endgenos, mascujos efeitos no so inatos. h, porm, muito mais ainda, em realidade, as auto-

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    regulaes apresentam esses trs caracteres reunidos de constituir a condioprvia das transmisses hereditrias, de serem mais gerais que o contedo destasltimas e de chegar a uma necessidade de forma superior. convm observar, comefeito, que acham regulaes (com seus feedbacks, ete.) em todos os nveisorgnicos e desde o genmio, que compreende os genes reguladores como operantes, eque opera, como o disse dobzhansky,

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    movimentos correlativos, embora de direes distintas: um de interiorizao(correspondente a i) dirigido no sentido lgico-matemtico (e, se j falamos dalgica do instinto, sua geo metria no raro notvel). o outro de cxteriorizao,nu sentido das aprendizagens e das condutas orientadas no sentido da experinciaesse duplo processo, no obstante marcadamente anterior ao que

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    se observa na psicognese dos conhecimentos, lembra, entretanto, seus incios(captulo i, 1), o que natural aps o que vimos sobre reelaboraesconvergentes de degrau em degrau. quanto aos nveis filogenticos nos quais seproduzem essas transformaes, torna-se necessrio, sem dvida, coloc-los emrelao com o desenvolvimento das "vias associativas" do crebro (= que no soaferentes nem eferentes) e conveniente nesse sentido lembrar que rosenzweig ekrech demonstraram com seus colaboradores um crescimento efetivo do crtex (emsujeitos individuais) resultante da acumulao de conhecimentos adquiridos noentanto, se os instintos constituem assim uma espcie de pr-inteligncia orgnicae hereditariedade programada, resta lembrar que o recurso hereditariedade apenasrecua os problemas de gnese e no esclarece em coisa alguma, desde que asquestes sobre variao e evoluo no tenham sido suficientemente resolvidas pelabiologia acontece que nos encontramos ainda em plena crise a esse respeito. aopasso que lamarck acreditava na hereditariedade do adquirido e enxergava, pois, naao do meio a origem dos caracteres inatos, o neodarwinismo dos incios destesculo (ainda bem vivo entre grande nmero de autores e at mesmo no seio dateoria atual chamada "sinttica") considerava as variaes hereditrias como seproduzindo sem qualquer relao com o meio. este s interviria com o tempo naseleo dos mais favorveis para a sobrevivncia hoje, pelo contrrio, esseesquema de simples acasos e selees aparece cada vez mais como insuficiente etende a ser substitudo por esquemas circulares de um lado, como j disse, o

    fentipo aparece como uma "resposta" do genmio s aes do meio e l. l. whyte vaiat o ponto de atribuir clula um poder de regulao das mutaes de outro lado,a seleo s recai sobre os fentipos e emana de um meio em parte escolhido emodificado por eles. existiria, portanto, um conjunto de circuitos entre asvariaes internas (em particular as recombinaes) e o meio, o que permite awaddington invocar uma "assimilao gentica" e falar novamente de"hereditariedade do adquirido" sob essa forma no lamarckiana mas que ultrapassade resto os esquemas simplistas do neodarwinismo. percebe-se, assim, que, nodomnio da biognese das estruturas cognitivas, recurso hereditariedade importaem primeiro lugar em deslocar os problemas de gnese quanto s contribuiesrespectivas da organizao interna e do meio, mas parece de novo nos orientar nosentido das soluos de interao, iv. as auto-regulaes de um modo geral, asrazes biolgicas dessas estruturas e a explicao do fato de que elas se tornam

    necessrias no deveriam ser procuradas nem no sentido de uma ao exclusiva domeio, nem de uma pr-formao base de puro ina tismo, mas das auto-regulaescom seu funcionamento em circuitos e sua tendncia intrnseca ao equilbrio (cf.vols. xxii e ii dos etudes). a primeira razo positiva que justifica esta soluosem mencionar mais dificuldades inerentes s duas outras, que os sistemasreguladores so encontrados em todos os degraus do funcionamento do organismo,desde genmio e at o comportamento, e parecem, pois, relacionar-se aos caracteresmais gerais da organizao vital a autoregulao parece constituir ao mesmo tempoum dos caracteres mais universais da vida e o mecanismo mais geral comum sreaes orgnicas e cognitivas mesmo que se trate, com efeito, do que no plano dogenmio lerner (1955), depois de dobzhansky e wallace (1953), chama uma"homeostasia gentica", regulaes estruturais da blstula, deste equilbriodinmico pr164 165 prio das embriogneses denominada "homeoreses" por waddington,

    mu:~~plas homeostasias fisiolgicas que regulam o meio interior, no menosnumerosas regulaes do sistema nervoso (inclusive, como j mencionado, osfeedbaeks do prprio reflexo) e finalmente regulaes e equilbrios observveis emtodos os nveis de comportamentos cognitivos. em segundo lugar, a fecundidadeparticular das interpretaes fundadas na auto-regulao que se trata de umfuncionamento constitutivo de estuturas e no de estruturas j feitas no seio dasquais bastaria procurar aquelas que conteriam de antemo no estado pr-formado talou qual categoria de conhecimento. se, como k lorenz, quisssemos justificar pelahereditariedade o carter prvio das formas gerais da razo, isto equivaleria, porexemplo, a dizer que o nmero uma "idia nata". mas ento em que nos deter?teramos de admitir que os protozorios ou os espongirios contenham j o nmero

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    em seu patrimnio gentico? e, se eles possuem o nmero, ser que so nmeros"naturais" ou devemos pensar que "em potncia" haja neles o germe dascorrespondncias transfmitas, com os "alfas" e todos os "megas" de cantor?explicar a formao das operaes lgico-matemticas recuando at as auto-

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    regulaes orgnicas no equivale, pelo contrrio, seno a procurar como sepuderam formar os instrumentos elementares de elaborao que permitiram aconstituio das primeiras fases da inteligncia sensrio-motora, e como essesinstrumentos puderam modificar-se por novas regulaes at levar a etapasulteriores, etc. ora, as regulaes nos oferecem j a imagem de reelaboraesindefinidas, de degrau em degrau, sem que as formas superiores estejam contidas deantemo nas inferiores, e sua ligao consistindo num funcionamento anlogo quetornou possveis novas elaboraes. em outras palavras, a multiplicidade dasformas de regulaes juntamente com a existncia de certos funcionamentos comunsconstituem como uma prefigurao do que se observa no plano do comportamento ondese encontra esta sucesso de estruturas animadas por um funcionamentoautoregulador contnuo. a passagem fnal das regulaes no decorrer do tempo soperaes com suas regulaes antecipadas ou "perfeitas" vem a ser assim apenas umelo na cadeia ininterrupta de circuitos, que seria arbitrrio fazer comear comreflexo ou qualquer ponto de partida das condutas elementares, pois que seencontram outros elos em todas as fases do organismo. a tomar este processoseguindo-se a ardem inversa, parece, com efeito, incontestvel que as operaeslgico-matemticas so preparadas pelas tentativas e suas regulaes do nvel darepresentao properatria. prosseguindo-se a anlise regressiva parece evidenteque o ponto de partida dessas elaboraes, no plano do comportamento, no alinguagem, mas que nos nveis sensrio-motores encontrara-se as razes delas nas

    coordenaes gerais das aes (ordem, encaixamentos, correspondncias, etc.). claro, porm, que essas coordenaes no constituem um comeo absoluto e que elaspressupem as coordenaes nervosas. nesse plano, as clebres anlises demcculloch e pitts puseram, alis, em evidncia, um isomorfismo entre astransformaes inerentes s conexes sinpticas e os operadores lgicos. sem quenaturalmente esta "lgica dos neurnios" contenha previamente a das proposies noplano do pensamento, visto que necessrio de onze a doze anos de elaboraes porabstraes refletidoras para atingir esse degrau. quanto s coordenaes nervosascabe biologia mostrar suas relaes com as regulaea orgnicas de todos osnveis. resta o problema das relaes entre o sujeito e os objetos, assim como doacordo surpreendente das operaes lgico-matemticas e da experincia depois dacausalidade flsica. neste sentido a solidariedade da psicognese e da biognesedos instrumentos cognitivos parece fornecer uma soluo quase que forosa: se o

    organismo constitui o ponto de partida do sujeita com suas operaes elaborativas,nem por isso deixa de ser um objeto fsico-qumico entre os demais, e obediente ssuas leis mesmo se acrescenta a elas novas leis. , portanto, pelo interior mesmodo organismo e no (ou apenas) pelo canal das experincias externas que se faz ajuno entre as estruturas do sujeito e as da realidade material. isto nosignifica, de modo algum, que o sujeito tenha conscincia disso nem que elecompreenda a flsica quando age manualmente, quando come, respira, v ou escuta;mas isto equivale a dizer que seus instrumentos operatrios nascem, graas ao,no seio de um sistema material que determinou suas formas elementares. tambm nosignifica que estes instrumentos sejam limitados previamente e submetidos matria, visto que abrindo-se sobre o mundo intemporal dos possveis e doinobservvel eles a ultrapassam de todos os lados. mas isto traduz o fato de quel onde o apriorismo era obrigado a recorrer a uma harmonia "preestabelecida"

    entre o universo e o pensamento (esta afirmao encontra-se at em hilbert),trata-se em realidade de uma harmonia "estabelecida" e at muito progressivamentepor um processo que tem incio desde as razes orgnicas e se prolongaindefinidamente. 167 captulo iii retorno aos problemas epistemolgicos clssicosaps termos passado em revista a gnese dos conhecimentos, trata-se de investigarse os resultados dessa anlise comportam aplicao soluo das grandes questesda epistemologia geral, tal como o ambiciona a epistemologia gentica 1.epistemologa da lgica ficando entendido de uma vez por todas que a lgicaprocede por axiomatizao e deve assim evitar todo "psicologismo" ou passagem dofato norma (como foi o caso de diversas lgicas no formalizadas e que cavaillsdepois beth ainda censuraram na fenomenologa), restam ainda trs problemas

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    fundamentais que incumbe ao estudo gentico esclarecer: quais so as relaesentre os procedimentos mesmo da formalizao e os do pensamento "natural"? que que a lgica vem a formalizar? por que depara a lgica com limites, no sentido emque foi demonstrado por crdel? a) o matemtico pasch sustentou que os empenhos nosentido da formalizao se orientam em direo

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    contrria s tendncias espontneas do pensamento natural. se nos limitamos acaracterizar este pensamento pelo contedo da cons cincia dos sujeitos, evidente que ele tem razo, visto que o pensamento comum tende a seguir para afrente, ao passo que a formalizao consiste num esforo retroativo paradeterminar as condies necessrias e suficientes de todas as assertivas e paradestacar explicitamente todos os intermedirios e todas as conseqncias. poroutro lado, se nos colocarmos do ponto de vista do desenvolvimento e da elaboraoprogressiva das estruturas, independentemente da conscincia que o sujeito tomedelas, parece que esta elaborao consiste precisamente em dissociar as formas doscontedos e em elaborar novas formas p